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EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE SAÚDE AO LONGO DA HISTÓRIA

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DESCRIÇÃO
A construção histórica do conceito de saúde, as diversas concepções atuais e a
importância do cuidado baseado na perspectiva ampliada da saúde.
PROPÓSITO
Compreender a evolução do conceito de saúde ao longo da história para a produção de
um cuidado baseado na concepção ampliada de saúde, proporcionando uma atuação
profissional pautada na prestação da assistência integral.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Descrever a evolução do conceito de saúde ao longo da história
MÓDULO 2
Identificar a importância da atuação profissional de acordo com a concepção ampliada da
saúde
INTRODUÇÃO
 
Fonte: Piyawat Nandeenopparit/Shutterstock.com
O que é saúde para você?
Se pensar de uma perspectiva unicamente física, pode ser que sua resposta tenha relação
com o funcionamento dos seus órgãos, pensando no corpo como algo meramente
biológico. Mas, se você parar para pensar um pouco mais, pode ser que sua concepção se
amplie, principalmente se associar sua resposta a essa pergunta: “O que me faz bem?”.
Possivelmente, com base nessa reflexão, o seu conceito de saúde vai sofrer modificações.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde não é apenas a ausência de
doenças ou enfermidades, mas um completo bem-estar físico, mental e social.
Será possível atingirmos essa plenitude?
Muitos autores criticam essa concepção de saúde que a OMS defende desde o final da
década de 1940, acreditando que é utópica (fantasiosa) e inatingível. Já outros
pesquisadores acreditam que é importante manter esse conceito, para que não cesse a
busca por melhores condições de vida. Discutiremos a questão ao longo deste módulo.
É muito importante estudar a história da saúde, pois assim entendemos como muitas
questões surgiram e ainda estão presentes na área, trazendo consequências para o
cuidado. E, nesse caminhar, podemos ainda ampliar o conceito de saúde e pensá-la sob
várias perspectivas: biológica, social, política, cultural, econômica, entre outras.
Um de nossos objetivos é que você possa futuramente produzir um cuidado integral ao
indivíduo e à coletividade.
MÓDULO 1
 Descrever a evolução do conceito de saúde ao longo da história
CONCEITOS
 
Fonte: Chinnapong/Shutterstock
Você se considera saudável?
Afinal, o que quer dizer saudável?
Para começar, vamos pensar em dois exemplos:
 EXEMPLO
Maria tem 34 anos, possui casa própria, carro, trabalha, é diabética e hipertensa; João tem
33 anos, está desempregado, mora numa casa de dois cômodos com sete familiares, o
seu quintal tem esgoto a céu aberto e a única alimentação diária, economicamente
possível, é macarrão.
Você consegue avaliar qual dos dois é mais saudável?
Essa resposta é difícil, precisaríamos de mais dados, mas podemos afirmar que, no caso
de João, mesmo sem doenças diagnosticadas, temos claramente uma família com a
cidadania afetada, sem acesso à saúde.
Podemos pensar em mais duas situações:
 EXEMPLO
Sérgio tem 40 anos, trabalha em um supermercado, possui casa, seus três filhos estão na
escola e, para dormir, toma duas taças de vinho todas as noites; já Rita, também com 40
anos, é professora, tem casa própria e usa duas medicações prescritas pelo médico para
tratar sua ansiedade exacerbada – sem a medicação, não consegue realizar as atividades
do cotidiano, como trabalhar e dormir.
Você consegue avaliar qual deles necessita de acompanhamento mais intenso dos
profissionais de saúde?
Outra resposta complexa, mas podemos perceber, de maneira mais clara, que Rita está
com maiores prejuízos em sua saúde.
Há muitas concepções culturais, históricas, sociais e políticas envolvidas nas discussões
sobre saúde e doença. Desde os primórdios da humanidade, as pessoas já realizavam
ações para proteção individual e do grupo de que faziam parte. Veremos aqui os períodos
históricos e a relação da população com a saúde e o adoecimento.
Precisamos compreender todo o processo de transformação do conceito de saúde ao
longo dos anos, para entender o que é um cuidado humanizado e integral. Tendo acesso
às questões históricas envolvidas no processo saúde-doença, podemos refletir sobre
ações e “não ações” que ainda acontecem no cotidiano dos serviços de saúde, tendo
como pano de fundo uma concepção reducionista sobre o que é saúde.
Você já passou por uma situação em que precisou procurar atendimento em algum
serviço de saúde e, ao estar diante do profissional, não se sentiu acolhido?
Possivelmente sim. É comum ouvirmos relatos de pessoas frustradas com o atendimento
recebido. Frases como “Ele nem me examinou”, “Ela disse que não tenho nada”, “Ela só
passou a receita e não me explicou nada infelizmente são frequentes. Entre os tantos
fatores que podem causar esse “descuido”, estão os históricos, sociais, culturais e políticos
relativos ao conceito de saúde e de adoecimento.
 
Fonte: Gorodenkoff/Shutterstock.com
PRÉ-HISTÓRIA (ATÉ CERCA DE 4000
A.C.)
Temos registros da arqueologia, da história e de outras áreas do conhecimento sobre a
organização e os hábitos na Pré-história.
Desde os primórdios da humanidade, a preocupação com a saúde existe. Homens e
mulheres preocupavam-se em comer, dormir, proteger-se do frio e do calor.

Aos poucos, aprenderam sobre o controle do fogo, o que, segundo estudos, ajudou
para que ocorresse alguma socialização entre os grupos.

Prioritariamente, os grupos viviam como nômades, ou seja, não tinham moradia fixa
por muitos anos.
O pensamento mágico-religioso predominava nesse período. O adoecimento, na maior
parte das vezes, era considerado castigo dos deuses ou maldição dos demônios.
Registros históricos mostram que, em determinados períodos da Pré-história, ocorreram
sepultamentos (com oferendas), o que leva à hipótese de que algumas civilizações
poderiam acreditar em vida após a morte.
 ATENÇÃO
Outro fato importante é que a “primeira forma de cuidado” já existia na Pré-história: o
instinto materno de proteção. Ou seja, as mães podem ser consideradas as primeiras
cuidadoras da história da humanidade.
 
Fonte: Chamille White/Shutterstock.com
Em muitas culturas, existiu uma figura responsável pela manutenção da ordem, da saúde,
do cuidado. Algumas contavam com benzedeiras e curandeiras, outras com xamãs ou
sacerdotes. Os recursos de assistência utilizados variavam desde rituais, rezas, chás de
ervas e plantas, oferendas e até sacrifícios.
Você acha que ainda hoje esses recursos são utilizados no cuidado? Será que o
pensamento mágico-religioso ainda atravessa a questão da saúde e do
adoecimento?
A resposta é sim! E é importante valorizarmos as diferenças culturais, com postura ética e
acolhedora. Os cuidados que envolvem sabedoria popular devem ser respeitados, eles
muitas vezes têm efeitos positivos naqueles que acreditam em práticas culturalmente
apreendidas e que avançam pelas gerações seguintes. É primordial reforçar a importância
do cuidado científico, porém ele não pode ser antagônico ao cuidado que advém da cultura
individual.
 EXEMPLO
Não devemos julgar ou desvalorizar a religião de uma paciente hipertensa, que faz uso
correto da medicação e tenta se adequar às mudanças de hábitos de vida propostas pela
equipe multiprofissional de saúde, se ela também gosta de ir semanalmente na sua igreja
(ou onde quer que seja) receber uma reza ou oração com o intuito de cuidar da saúde.
Não devemos emitir julgamentos, pois a paciente cumpre as propostas do seu
acompanhamento em saúde e complementa o próprio cuidado com aspectos que
considera importantes para viver.
IDADE ANTIGA (4000 A.C. A 476 D.C.)
Na Antiguidade, estudos históricos e arqueológicos mostram uma série de práticas de
cuidado e assistência à saúde em diversas civilizações. Ainda nesse período, a morte ou o
adoecimento eram vistos, na maior parte das vezes, como alguma maldição de demônios
ou castigo divino.
 
Fonte: Ammit Jack/Shutterstock.com
Sacerdotes, benzedeiras, curandeiras, xamãs, entre outros líderes, continuavam ocupando
papel central como responsáveis pelo cuidadoem saúde. Por um período significativo, o
cuidado prestado por essas referências religiosas e místicas era feito com chás, rituais,
massagens, substâncias para afastar maus espíritos (indutoras de vômito), banhos de
água fria e água quente, purgantes, entre outros.
 ATENÇÃO
É importante refletir o quanto muitas práticas e concepções permeiam a área da saúde até
os dias de hoje, mesmo depois de séculos.
A seguir, vamos comentar sobre algumas civilizações e pontos que se destacam segundo
relatos históricos da Idade Antiga.
 
Fonte: Olga Popova/Shutterstock.com
CHINA
Estudos mostram que, na China, já ocorria a classificação das doenças em benignas e
malignas e, a partir disso, os cuidadores se dividiam conforme suas habilidades para lidar
com situações específicas. Podemos associar isso ao que atualmente chamamos de
“classificação de risco” e à questão atual das diversas especializações entre os
profissionais de saúde.
 
Fonte: matrioshka/Shutterstock.com
EGITO ANTIGO
Muitos cuidados pessoais eram direcionados para cuidar da saúde, como o hábito de
raspar os cabelos e utilizar perucas para evitar piolhos. Alguns relatos mostram que
existiam práticas de hipnose e interpretação de sonhos. O destaque maior vai para a
mumificação, cujo intuito era manter a alma presa ao corpo, pois os egípcios acreditavam
em vida após a morte. Com isso, a habilidade de fazer ataduras e assepsia do corpo
tornou-se um cuidado complexo no Egito Antigo.
 
Fonte: Oliver Denker/Shutterstock.com
PALESTINA
Existem registros da preocupação das mulheres em trabalho de parto, no período
menstrual e durante a amamentação. Também é possível encontrar documentos que
demonstram que havia preocupação com o sono, o descanso e algumas patologias, como
a tuberculose. Moisés foi uma figura importante quando se pensa em saúde, pois, segundo
relatos, difundia a importância dos cuidados de higiene, como afastar objetos
contaminados e realizar exame físico nas pessoas consideradas doentes.
 
Fonte: structuresxx/Shutterstock.com
ÍNDIA
Há registros de realização de suturas, amputações e correções de fratura na Índia, assim
como a presença de hospitais com narradores de histórias e músicos para cuidar dos que
estavam adoecidos. É importante reforçar que tudo indica que somente na Índia existia
hospital nesse período da história.
 
Fonte: Naci Yavuz/Shutterstock.com
GRÉCIA
É importante destacar que Hipócrates, na Grécia, apresentou grandes avanços nos
estudos do corpo humano, criando a teoria dos quatro humores, referindo-se à importância
do equilíbrio interno do organismo, que também sofre influência do meio externo. Percebe
o avanço? A concepção mágico-religiosa começa a ceder espaço para um olhar mais
científico em relação à saúde e ao adoecimento.
Muitas outras civilizações na Antiguidade contribuíram para a história da construção das
políticas de saúde e, como já percebemos, nos deixaram práticas que ainda atravessam o
cotidiano da área da saúde.
IDADE MÉDIA (476 D.C. A 1453)
A Idade Média, também conhecida como “Período das Trevas”, durou cerca de mil anos.
Foi um período obscuro em muitos sentidos, com grandes retrocessos, epidemias,
perseguições.
Nesse período, o poder se centraliza nas mãos da Igreja Católica. Todos os campos eram
controlados pela Igreja: educação, cultura, economia, política e saúde. Os cuidados eram
direcionados aos mais pobres e doentes. Diante do temor do inferno, a maior parte da
população tinha grande dedicação à caridade. A elite abria seus palácios para cuidar dos
necessitados com o intuito de garantir um lugar no céu.
 SAIBA MAIS
Na Idade Média, as práticas de saúde que estavam apresentando algum desenvolvimento
foram interrompidas e direcionadas por um viés religioso. Os hospitais começaram a surgir
como verdadeiros campos de redenção. Não eram locais científicos e terapêuticos e sim
depósitos de pessoas para a produção de caridade e doutrinação religiosa.
Você percebeu que muitos hospitais ainda hoje possuem nomes religiosos?
É comum vermos capelas e altares com santos em hospitais. Isso se deve ao fato do
aparecimento significativo dessas instituições na Idade Média sob a direção da Igreja
Católica. Os considerados desviantes, aqueles não católicos que queriam estudar e cuidar
de pessoas doentes ou necessitadas, eram perseguidos. A tortura era autorizada e o
Tribunal da Santa Inquisição foi implantado para julgar atos hereges.
Já se perguntou por que desde criança ouvimos histórias sobre bruxas e
maldições?
Milhares de mulheres foram queimadas ou condenadas à morte nesse período por não se
submeterem à Igreja Católica e por produzirem cuidados com base em estudos ou outras
crenças. Por representar uma ameaça ao domínio da instituição vigente, essas mulheres
eram acusadas de bruxaria e responsabilizadas pelas grandes epidemias que dizimavam a
população naquele momento.
 
Fonte: matrioshka/Shutterstock.com
Finalizando, o que você percebe de herança do período medieval nas práticas atuais
de saúde?
Muitos pontos podem ser analisados, mas a questão da “caridade” ainda parece estar
atrelada equivocadamente ao cuidado e ao conceito de saúde. A ideia de que a atuação
na saúde é doação, sacerdócio, não pressupõe boa remuneração, bom salário. Esse
aspecto pode influenciar negativamente a valorização do profissional de saúde, e bem
sabemos que existe um grande investimento nessa formação.
IDADE MODERNA (1453 A 1789)
No período da Idade Moderna, as sociedades passaram por muitas mudanças, como a
Reforma Protestante, a transição do feudalismo para o capitalismo e as grandes
navegações pelo mundo. Mesmo sendo um momento histórico relativamente curto em
relação aos demais, essas transformações sociais trouxeram impactos em diversos
âmbitos, inclusive na saúde.
Na Europa, a Igreja Católica perde seu domínio e se iniciam os avanços na ciência, como
nos estudos da anatomia, por exemplo. As mulheres religiosas que cuidavam em nome da
Igreja foram retiradas dos espaços hospitalares e pessoas da sociedade deixaram de ter
interesse nesse cuidado, uma vez que a devoção à Igreja Católica não permeava tão
fortemente as relações sociais.
 
Fonte: santacasasp.
 Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, um dos primeiros hospitais do país.
Já, no Brasil, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia chegou no período colonial, em
1543, ainda com caráter de abrigo e de espaço para leigos exercerem caridade – portanto,
sem nenhum viés científico, que só iniciaria com a vinda da Corte portuguesa para a
Colônia e a criação das faculdades de Medicina e de Direito.
Podemos pensar a Idade Moderna como um momento importante para a transição na
concepção de saúde, que deixa de ser prioritariamente objeto de intervenção religiosa e
passa a se atrelar à ciência. Hoje tal fato ainda gera controvérsias na concepção de saúde
por profissionais que polarizam a discussão do cuidado, acreditando ser válida somente
uma intervenção biológica e desconsiderando demais aspectos que envolvem o sujeito
como um todo e que precisam ser incluídos na concepção de saúde.
IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 ATÉ OS
DIAS ATUAIS)

 
Fonte: Zoltan Tarlacz/Shuttertock.com
A PARTIR DE 1789
O mundo passa a ser influenciado pelas mudanças ocorridas na Europa e nos Estados
Unidos. A ciência passa a substituir com maior expressão os dogmas religiosos, o que
reforça a concepção de saúde que vinha ganhando força na Idade Moderna: um olhar
fortemente biológico sobre o que pode ser considerado saudável ou patológico. Todos
aprendemos na escola sobre a Revolução Francesa, que tinha como lema: “Liberdade,
igualdade e fraternidade”.
INÍCIO DO SÉCULO XVIII
Na França muitas mudanças importantes aconteceram em diversos âmbitos. Na saúde,
destacamos o surgimento da Psiquiatria com os estudos do médico Philippe Pinel, que
reformula os hospitais e rompe com a ideia de loucura como algo sobrenatural. Pinel aplica
o tratamento moral aos considerados loucos, tirandodeles as correntes e mordaças e
implantando o modo asilar de cuidado, que era pautado pelo isolamento até atingir a cura.
Atualmente, sabemos que muitos transtornos mentais não têm cura, mas podem ser
cuidados a partir de uma perspectiva integral do sujeito, dando-lhe uma vida mais digna e
em liberdade. Porém, no início da Idade Contemporânea, a visão biologicista da saúde
determinava tratamentos pautados na cura.
 
Fonte: Adam Durik/Shuttertock.com


 
Fonte: Everett Collection /Shuttertock.com
NO SÉCULO XIX
Uma mudança econômica e social tem grande impacto na saúde: a industrialização. O
perfil de adoecimento da população muda radicalmente. Muitas pessoas saem da zona
rural para buscar emprego nas cidades e, como não há oportunidade para todos ali e
tampouco moradia suficiente, o resultado disso é um aumento da população em situação
de rua ou vivendo em péssimas condições. O resultado foi um grave adoecimento físico e
mental da população.
Nas fábricas, a carga horária de trabalho ficava muito acima do considerado digno, o
ambiente muitas vezes era insalubre e os trabalhadores adoeciam com as péssimas
condições, os acidentes de trabalho aumentavam. Diante dessa conjuntura, foi preciso
criar legislações para proteger a saúde desses trabalhadores, surgindo a Medicina do
Trabalho.
Diante do crescimento do capitalismo, você acha que as mudanças para a proteção
da saúde do trabalhador tinham foco no bem-estar do trabalhador ou em não
prejudicar a produção nas indústrias?
 ATENÇÃO
É importante destacar também que, no século XIX, os hospitais começam a sofrer grandes
modificações na Europa, e posteriormente no Brasil, afirmando-se como espaços de
formação e ciência, movimento que começou na Idade Moderna. Os médicos passam a
fazer visitas regulares aos pacientes, a enfermagem surge aos poucos como prática
profissional e não leiga e outras profissões vão surgindo posteriormente. A Saúde Pública
configura um novo cenário na saúde.
 
Fonte: Everett Collection/Shutterstock.com
 Movimento feminista
Outra mudança importante na Idade Contemporânea tem relação com o lugar das
mulheres na sociedade. Nesse período, vemos o fortalecimento do movimento feminista, a
luta por direito ao voto, o direito aos estudos superiores e ao trabalho. Com isso, as
mulheres vão ocupando aos poucos diversos espaços, incluindo a atuação significativa na
área da saúde.
PERÍODOS HISTÓRICOS E CONCEPÇÃO
DE SAÚDE
A seguir, assista ao vídeo sobre as práticas de saúde na Pré-História, Idade Antiga, Idade
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.
AS CONCEPÇÕES ATUAIS DE SAÚDE
Como vimos no início deste módulo, atualmente a concepção de saúde vigente é a
descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948, que define saúde não
somente como ausência de doença, mas como um completo bem-estar físico, mental e
social.
 
Fonte: KadirKARA/Shutterstock.com
Será que conseguimos atingir essa totalidade?
Se você pensar na sua vida pessoal, quanto mais amplia os aspectos que inclui na sua
reflexão, possivelmente a chance de atingir essa completude fica mais distante. Perceba
que utilizamos o termo “possivelmente”, pois uma reflexão inclui diversas particularidades.
Se refletirmos sobre os indivíduos sem acesso a quase todos os seus direitos
básicos para sobrevivência, devido a faltas e barreiras, não é ainda mais estranho
imaginar indivíduos sem acesso à saúde?
Muitos pesquisadores criticam essa concepção de saúde ainda vigente, com a justificativa
de que é impossível atingir esse nível de perfeição, aliada ao fato de que a OMS separar
corpo, mente e social. Para muitos autores, esses três aspectos possuem inter-relação
contínua e de difícil divisão. Não é possível medir em que parte exatamente o físico afeta o
social e o psíquico e nem todas as combinações possíveis nessa fórmula.
Muitos falam também em “qualidade de vida”. Você já deve ter ouvido frases como estas:
“Aqui se tem qualidade de vida” ou “Hoje em dia não temos qualidade de vida”.
Afinal, o que é isso?
Assim como no processo saúde-doença, não temos uma resposta unânime. Para Segre e
Ferraz (1997):
NÃO É POSSÍVEL CLASSIFICAR QUALIDADE DE
VIDA COMO "BOA" OU "MÁ", MESMO QUE A
SAÚDE PÚBLICA, PARA A ELABORAÇÃO DE SUAS
POLÍTICAS, TENHA SEUS INDICADORES –
ESTATÍSTICA DE MORTALIDADE, POR EXEMPLO.
NÃO É POSSÍVEL ENTENDER A CONCEPÇÃO DE
DOENÇA COMO ALGO ESTÁTICO, COMO SE
FOSSEM DOENTES (FÍSICOS, MENTAIS OU
SOCIAIS) TODOS OS QUE SE SITUAREM FORA DO
QUE É DITO “NORMAL”.
Segre e Ferraz, 1997.
Como vimos anteriormente, muitos profissionais e pesquisadores atuam numa lógica
biologicista da saúde, o que fragiliza e minimiza as possibilidades de cuidado.
Em 1978, houve a Conferência Internacional de Atenção Primária à Saúde, na cidade de
Alma-Ata (onde hoje se localiza o Cazaquistão), conhecida como Conferência de Alma-
Ata que gerou direções importantes para muitos países de todo o mundo. Essas diretrizes,
voltadas para a valorização da Atenção Primária à Saúde, propôs sistemas de saúde
universais, ao alcance de todos, olhando cada pessoa em sua singularidade e em seu
coletivo, de maneira integral, buscando romper com a lógica curativista e hospitalocêntrica.
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Fonte: Wikipedia Commons/CC BY-SA 3.0
CONFERÊNCIA DE ALMA-ATA
Conferência de Alma-Ata: Declaração de Alma-Ata se compõe dez itens que
enfatizam a Atenção Primária à Saúde (Cuidados de Saúde Primários), salientando a
necessidade de atenção especial aos países em desenvolvimento. Exortando os
governos, a OMS, a UNICEF e as demais entidades e organizações, a declaração
defende a busca de uma solução urgente para estabelecer a promoção de saúde
como uma das prioridades da nova ordem econômica internacional.
No Brasil, o fortalecimento na Atenção Primária produziu muitos avanços na concepção de
cuidado e na concepção de saúde. Muitos agravos começam a diminuir, em função das
intervenções de prevenção e promoção de saúde, realizadas por equipes multiprofissionais
e interdisciplinares, ou seja, profissionais com diversas formações trabalhando em
conjunto para romper com a lógica médico-curativista.
Para finalizar o módulo 1 e pensar na concepção ampliada de saúde, deixamos o olhar
de Campos (2006):
 COMENTÁRIO
Ele aponta que a cultura e os valores têm grande impacto na saúde, afirma que os direitos
de cidadania das pessoas portadoras de deficiência, a própria concepção de saúde, a
sexualidade, a relação das pessoas com as diferenças de gênero, étnicas e econômicas
vão ampliar ou restringir as possibilidades de saúde da população.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ESTUDAMOS SOBRE DIVERSOS PERÍODOS HISTÓRICOS E A
EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE SAÚDE AO LONGO DO TEMPO.
PENSANDO NAS QUESTÕES ESTUDADAS, MARQUE A OPÇÃO
CORRETA:
A) Na Idade Média, a ciência ganhou força, com a queda da Igreja Católica e
fortalecimento dos ideais iluministas.
B) Na Idade Contemporânea, período que antecede a Idade Moderna, temos a valorização
significativa da religião nos cuidados em saúde.
C) Na Idade Moderna, Hipócrates, na Grécia, difundia a teoria dos quatro humores (fluidos)
corporais nos estudos sobre saúde.
D) Muitos ainda atrelam os cuidados em saúde à caridade, herança que carregamos do
período histórico denominado Idade Média.
E) A visão que reduz saúde a um aspecto biológico é herança do período denominado
Idade Antiga.
2. MARQUE A ALTERNATIVA QUE TRAZ UM CUIDADO PAUTADO NA
CONCEPÇÃO AMPLIADA DE SAÚDE:
A) Maria foi ao médico para cuidar do seu Diabetes. O profissional perguntou se Maria
também é hipertensa e prescreve exames para investigar a outra patologia.
B) Cláudia foi ao médico para cuidar do seu Diabetes, o profissional pediu que, antes de
falar sobre as questões de sua glicemia, Maria contasse sobre sua história pessoal desde
a infância até os dias atuais para conhecer todo o contexto.
C) Pedro é diabético e só pode comer macarrão, pois está desempregado e não consegue
se organizar financeiramente para compraroutros alimentos. O profissional de saúde
identifica tal questão e pede que Pedro procure uma assistente social.
D) Roberta tem 16 anos e está em sua terceira gestação. A enfermeira que a acompanha
diz que, após o parto, faz questão de aplicar anticoncepcional injetável em Roberta, pois
não é possível ter tantos filhos nessa idade.
E) Nilson apresenta queixas constantes de dor de cabeça na unidade de saúde que é
cadastrado, a cada semana leva uma nova medicação para tentar resolver seu incômodo.
GABARITO
1. Estudamos sobre diversos períodos históricos e a evolução do conceito de saúde
ao longo do tempo. Pensando nas questões estudadas, marque a opção correta:
A alternativa "D " está correta.
 
Durante a Idade Média, as práticas científicas foram desvalorizadas e todo saber e cuidado
em saúde estavam atrelados à Igreja Católica, instituição cosmopolita naquele momento e
responsável por cultura, saúde, lazer, educação, política, entre outros.
2. Marque a alternativa que traz um cuidado pautado na concepção ampliada de
saúde:
A alternativa "B " está correta.
 
O profissional ampliou o olhar ao atender Cláudia, pois compreende que o Diabetes faz
parte da vida da usuária, porém é apenas mais um aspecto entre tantos outros importantes
na história da paciente, inclusive podendo ser influenciado por questões econômicas,
psíquicas, sociais, culturais.
MÓDULO 2
 Identificar a importância da atuação profissional de acordo com a concepção
ampliada da saúde
O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA
 
Fonte: Monster Ztudio/Shutterstock.com
Como vimos no módulo anterior, saúde não pode ser entendida somente pelos aspectos
biológicos e fisiológicos.
O contexto social, econômico, político, cultural, entre outros, precisam ser considerados.
Da mesma forma, o olhar direcionado para a doença deve ultrapassar a concepção
fisiopatológica e incluir o sofrimento, a dor e tudo que envolve o processo de adoecimento.
Cada pessoa tem uma relação muito particular com o processo de saúde e adoecimento, o
profissional de saúde deve reconhecer que existe um corpo subjetivo que adoece. Imagine
dois casos distintos:
 EXEMPLO
Marcos e Vanessa possuem o diagnóstico de diabetes tipo 1. Quando perguntam a eles
sobre a doença, Marcos sempre diz que é doente, pois é diabético. Já Maria se diz
saudável, que o diabetes é apenas uma parte do que ela é e que cuida dessa questão.
Conseguem perceber nesse como cada um pode encarar o mesmo diagnóstico de
maneira diferente?
Muitos autores estudam a questão do conceito e da concepção de saúde. Para Narvai et
al (2008), a condição de saúde pode ser definida a partir da soma de três planos: o
subindividual, o individual e o coletivo.
Vamos ver as características de cada um desses planos.
PLANO SUBINDIVIDUAL
Corresponde ao aspecto orgânico, biológico. Divide as questões entre normalidade e
anormalidade, ou seja, caso o organismo esteja disfuncional, pode haver duas condições:
enfermidade ou doença. A enfermidade é percebida pelo paciente, como a dor, por
exemplo. A doença é percebida pelo profissional de saúde e dele ganha uma classificação
e um diagnóstico de acordo com o quadro clínico avaliado e definido.
PLANO INDIVIDUAL
Entende que as anormalidades acontecem em pessoas, que são seres sociais e biológicos
ao mesmo tempo. Para essa abordagem, saúde pode ir de um extremo bem-estar até o
extremo da morte, com questões e eventos intermediários, individuais e coletivos entre
esses extremos.
PLANO COLETIVO
Amplia mais ainda a questão do processo saúde-doença, entendendo que este vai além da
soma de aspectos biológicos e sociais. Há também outros fatores que determinam esse
processo: família, residência, bairro, cidade, região, país, continente. Tal abordagem
amplia a saúde e o adoecimento para esferas culturais, econômicas, políticas, entre
outras.
Se pensarmos especialmente nas questões do plano coletivo, percebemos que a saúde é
a porta de entrada para a cidadania e que para ter o direito à saúde, garantido pela
Constituição Federal de 1988, não basta ter acesso aos serviços de saúde e sim a todos
os aspectos que atravessam a condição humana. Diante da falta deles, o adoecimento
pode surgir.
 ATENÇÃO
Veja o que diz nossa Constituição de 1988: “Saúde é um direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação”. A Constituição confirma que os serviços e as
ações em saúde precisam ser guiados por um olhar ampliado para o sujeito e para as
coletividades.
ATENÇÃO À SAÚDE
Outro aspecto importante do processo saúde-doença reside no fato de que, nas questões
mais ligadas ao fator biológico, muitas vezes a saúde é “silenciosa”.
O que isso quer dizer? Você lembra da sua garganta quando ela está sadia, sem
inflamação? Você percebe sua respiração quando ela está num ritmo adequado ou
sem obstrução nasal?
Possivelmente sua resposta será negativa, pois a doença ou algo que interfira no bom
funcionamento dos nossos órgãos denuncia a existência de uma estrutura importante para
nossa existência e que precisa funcionar adequadamente.
 ATENÇÃO
É importante também que o sujeito conheça seu corpo e esteja ciente do contexto que o
rodeia. Nem sempre isso acontece. É importante que as pessoas sejam orientadas e
estimuladas pelos profissionais de saúde a ganhar autonomia, para que cada vez mais
possam reconhecer sinais de mudanças nos padrões que considera saudáveis para si
mesmos.
Estamos conversando sobre essa perspectiva ampliada da saúde, mas ainda carregamos
muitas consequências do que podemos chamar de concepção ontológica da saúde.
CONCEPÇÃO ONTOLÓGICA DA SAÚDE
Ontologia (do grego ontos "ente" e logoi, "ciência do ser") é a parte da metafísica que
trata da natureza, realidade e existência dos entes.[1][2] A ontologia trata do ser
enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é
inerente a todos e a cada um dos seres objeto de seu estudo. A aparição do termo
data do século XVII e corresponde à divisão que Christian Wolff realizou quanto à
metafísica, seccionando-a em metafísica geral (ontologia) e as especiais
(Cosmologia Racional, Psicologia Racional e Teologia Racional). Embora haja uma
especificação quanto ao uso do termo, a filosofia contemporânea entende que
metafísica e ontologia são, na maior parte das vezes, sinônimos. No entanto, a
metafísica estuda o ser e os seus princípios gerais e primeiros, sendo, portanto, mais
ampla que o escopo da ontologia
 SAIBA MAIS
Tal conceito ganha força com o surgimento da bacteriologia, quando Louis Pasteur, no
século XIX, identificou microorganismos causadores de doenças. Temos então um
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abandono dos aspectos sociais até então em voga, inspirados nas teorias de Hipócrates,
considerado o pai da Medicina.
A concepção ontológica apaga a existência da pessoa e realça a presença da doença.
Todo o procedimento é voltado para órgãos considerados “perturbados”, visando recuperar
um bom funcionamento e restaurar o equilíbrio do corpo. Mesmo com os avanços nas
políticas de saúde, ainda podemos ver muitos profissionais atuando com essa lógica.
Para Merhy et al (2014), os usuários possuem modos de vida que são frequentemente
julgados pelas equipes de saúde. Estas ficam restritas a um modo de saber tão
preponderante, que não abre possibilidades para que certas atitudes, comportamentos e
expressões diferentes possam aparecer.
No momento atual, predomina a ideia de que se deve superar essa concepção
reducionista e levar em consideração tanto as questões individuais quanto as coletivas
envolvidas no processo saúde-doença. E isso está diretamente ligado à mudança no
modelo de assistência à saúde, que aos poucos deixa de ser hospitalocêntrico e passa a
ser fortalecido no território com ações de promoção, prevenção e recuperação em saúde,
diminuindoos agravos que necessitam de hospitalização. Esse modelo é chamado de
Estratégia de Saúde da Família (ESF), que faz parte da Atenção Básica.
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem a Estratégia de Saúde da Família (ESF) como um
dos principais recursos para promover acesso a todos os usuários de maneira integral,
singular, acolhendo as diferenças e dificuldades. Em outras palavras, a ESF possui
profissionais que olham os usuários sob diversos aspectos, buscando fortalecimento de
vínculo e incluindo o cotidiano e a cultura de cada espaço e pessoa. A Atenção Básica se
fortalece a partir desse acolhimento.
 
Fonte: Autor/Shutterstock
A Atenção Básica cuida das famílias, incluindo as questões de trabalho, renda, educação,
acesso à lazer e cultura, transporte, saneamento básico.
 ATENÇÃO
É importante reforçar que nesse modelo de Atenção à Saúde ganham espaço diversas
profissões e formações na saúde, rompendo com a lógica centrada na figura do médico.
 
Fonte: M_Agency /Shutterstock.com
Nessa estrutura, médicos são essenciais nas equipes, assim como enfermeiros, técnicos
de enfermagem, agentes comunitários de saúde, psicólogos, dentistas, técnicos em saúde
bucal, entre outros. Essa é a perspectiva da interdisciplinaridade, com vários profissionais
atuando em conjunto.
Além da interdisciplinaridade, é importante focar na intersetorialidade. Ou seja, a área da
saúde não consegue dar conta isoladamente do cuidado, é preciso envolver diversos
segmentos da sociedade para que as pessoas possam ter suas particularidades e
necessidade atendidas.
Para Merhy et al (2014), o intuito é a produção de trocas e conexões, é poder conhecer o
usuário que está sendo atendido por um determinado profissional. E, a partir desse
encontro, entender que outros projetos fazem parte de sua existência, ultrapassando o
conhecimento dos profissionais de saúde.
Vamos analisar a seguinte situação para entender o que estamos falando:
 EXEMPLO
Vanessa é usuária da Clínica da Família de sua região, assim como todos seus familiares.
O principal acompanhamento de Vanessa é direcionado a suas questões psíquicas, pois a
usuária já passou por inúmeras tentativas de suicídio em função de um quadro de
depressão recorrente. A escola também acompanha de perto a situação da adolescente,
sempre em articulação com a Clínica da Família. Por mais que os serviços de saúde e
educação se coloquem à disposição com atendimento singular e entendam que Vanessa
tem um quadro psíquico grave e que todas suas atividades precisam ser monitoradas, é
preciso apostar e somar com outras possibilidades, que são igualmente potentes e trazem
vida para os usuários.
Ora, os profissionais de saúde precisam estar atentos: o balé é uma atividade que
Vanessa pratica três vezes durante a semana e produz uma sensação de alívio muito
grande, segundo seu relato. O balé e a academia de dança são, portanto, decisivos para a
recuperação de Vanessa e devem ser considerados pela equipe. Conclusão simples: é
possível produzir saúde em espaços que não são necessariamente serviços de saúde.
OS DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE
(DSS)
Vimos no módulo anterior que é extremamente importante analisar a situação em que as
pessoas vivem, trabalham, estudam para, a partir desses dados, fazer associações com
seu estado de saúde. Em 2006, foi criada a Comissão Nacional sobre os Determinantes
Sociais de Saúde (CNDSS) que estabeleceu que:
OS DSS SÃO FATORES SOCIAIS, ECONÔMICOS,
CULTURAIS, ÉTNICOS/RACIAIS, PSICOLÓGICOS E
COMPORTAMENTAIS QUE INFLUENCIAM A
OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS DE SAÚDE E SEUS
FATORES DE RISCO NA POPULAÇÃO
Buss; Pellegrini Filho, 2007.
A análise dos DSS tem a ver com a singularidade do cuidado e a necessidade de os
profissionais de saúde olharem o sujeito como um todo. Porém, precisamos pensar em
outras questões que são cruciais nesse processo.
 EXEMPLO
A construção de políticas públicas para amenizar as iniquidades tão grandes em nosso
país, buscando atingir a equidade.
Que palavras são essas? Políticas públicas, inequidade e equidade?
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
Quando falamos em políticas públicas de saúde, estamos falando de uma resposta que
o Estado precisa dar para solucionar determinado problema coletivo com ações e serviços,
ou seja, as políticas públicas não se baseiam em casos isolados, mas em situações que
expressam danos e fragilidades significativos em uma parcela população.
INIQUIDADES
Ao falarmos de iniquidades, estamos falando de diferenças que causam prejuízos e não
somente de diferenças injustas.
EQUIDADE
Equidade, por sua vez, é o respeito à igualdade de direito de cada um, mas também é
uma forma de localizar as iniquidades direcionando cuidados diferentes para cada
situação. Por exemplo, suponha que uma criança e um adulto queiram enxergar o que
existe atrás de um muro alto. Atente que a estatura da criança é significativamente menor
que a do adulto. Se fôssemos pensar na perspectiva da igualdade, daríamos um banco do
mesmo tamanho para dos dois e, então, o adulto conseguiria enxergar além do muro e a
criança não. Na perspectiva da equidade, teríamos de dar um banco mais alto para a
criança, assim os dois conseguiriam enxergar além do muro. Isso é equidade.
A Organização Mundial de Saúde define DSS como as condições sociais em que as
pessoas vivem, isso inclui todos os aspectos envolvidos que já apontamos: educação,
ambiente de trabalho, desemprego, água e esgoto, serviços sociais de saúde,
habitação, produção agrícola e de alimentos. Esses fatores sociais, econômicos,
psicológicos, étnicos/raciais, culturais e comportamentais serão incluídos em políticas
públicas que ultrapassem as políticas direcionadas à saúde e que abordem questões de
renda, lazer, mobilidade, entre tantas outras.
No módulo anterior, citamos a Conferência de Alma-Ata, que aconteceu no final da década
de 1970 e influenciou diversos países do mundo na questão do fortalecimento das ações
primárias em saúde, tendo como lema: “Saúde para todos nos anos 2000”. Nesse
sentido, os DSS ganham destaque na agenda de ações prioritárias.
Existe um modelo amplamente utilizado para explicar os DSS:
 
Fonte: Buss e Filho, 2007
 Figura 1. Determinantes Sociais: modelo de Dahlgren e Whitehead
Na base do modelo estão características como sexo, idade e fatores genéticos. Na
camada logo acima, aparecem o comportamento e o estilo de vida individuais. Depois,
percebemos as redes comunitárias e de apoio que também influenciam a saúde. Acima,
aparecem os fatores que têm ligação com vida e trabalho, como saúde e educação,
disponibilidade de alimentos e acessos a ambientes e serviços essenciais. No último nível,
estão localizados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais
e ambientais da sociedade, que influenciam de maneira significativa as demais camadas.
Segundo Buss e Filho (2007), o modelo trabalhado por Dahlgren e Whitehead divide os
DSS em camadas, começando por uma de determinantes individuais até chegar a uma
camada mais distante, onde encontram-se os macrodeterminantes. Como se vê na Figura
1, o modelo mostra claramente os DSS, porém não detalha as relações entre os níveis e a
origem das iniquidades.
Um caso para entender a integralidade do cuidado:
EXEMPLO
Carla, 34 anos, negra, desempregada, moradora de uma comunidade com grande
vulnerabilidade no estado do Rio de Janeiro, vive em uma casa de dois cômodos com seus
três filhos, a casa não tem esgoto nem água encanada. Para conseguir alimentar as
crianças, Carla organiza o trabalho: cada um vai para um ponto específico da cidade
vender doces. Alguns dias as vendas rendem para comprar pão, ovo e arroz. Em outros, o
dinheiro não dá para quase nada e então Carla conta com a caridade dos vizinhos.
As crianças não estão matriculadas na escola, pois precisam trabalhar e precisariam de
transporte público para estudar – o acesso ao ônibus é difícil. Carla e a família estão
cadastradas na Clínica da Família da região, porém, comomoram em uma parte mais
afastada da comunidade, precisam andar por caminhos perigosos, com grande presença
de violência, até chegarem aos profissionais de saúde.
Se pensarmos no trabalho da Estratégia de Saúde da Família, todos esses determinantes
sociais e todas as características da família de Carla precisarão ser incluídos no
acompanhamento da equipe de saúde. Do mesmo modo, a articulação intersetorial com
serviços de assistência social para pensar em um suporte financeiro a essa família. A
articulação com a escola seria fundamental para pensar na situação das crianças.
Esse caso hipotético deixa clara a importância de um trabalho que inclua os determinantes
sociais de saúde. Sem esse olhar ampliado, os profissionais não conseguem realizar um
acompanhamento pautado na integralidade do cuidado.
SAÚDE PÚBLICA E SAÚDE COLETIVA
Para finalizarmos este módulo, vamos tratar um pouco de conceitos importantes que
muitas vezes se misturam na prática cotidiana dos serviços e ações em saúde. Eles foram
e ainda são analisados por importantes pesquisadores e protagonistas do processo de
Reforma Sanitária no Brasil.
 
Fonte: Roung Chanthasiri/Shutterstock.com
SAÚDE PÚBLICA
Nasce semelhante ao modelo biomédico, no início do século XX, com campanhas
direcionadas à limpeza dos portos, à saúde materno-infantil e ao ambiente. É
tradicionalmente conhecida por ter um modelo campanhista de intervenção e o Estado
como protagonista das ações para a população.

 
Fonte: Chokniti Khongchum/Shutterstock.com
SAÚDE COLETIVA
Surge no Brasil no final da década de 1970, com um grupo de profissionais da Saúde
Pública e da medicina preventiva e social que desejava um campo científico que incluísse
a questão social. Foca em promoção da saúde, incluindo fortemente os Determinantes
Sociais da Saúde no cuidado, a partir de uma relação horizontal com o território.
 ATENÇÃO
Muitos estudiosos da Saúde Pública criticam a Saúde Coletiva por focar muito no social e
deixar de lado as questões biológicas e subjetivas. Por outro lado, os adeptos da Saúde
Coletiva apontam a maneira vertical e institucionalizada da atuação da Saúde Pública.
Saúde Pública
De um lado, a Saúde Pública diz respeito à conservação da vida, à realização de
diagnósticos e tratamentos necessários para doenças que possam prejudicar a
manutenção da saúde dos sujeitos, ou seja, ela trabalha mais com o conceito de “ausência
de doença”.

Saúde Coletiva
De outro lado, a Saúde Coletiva tem um viés político importante na história da Reforma
Sanitária no Brasil, ela defende conhecer e criar vínculos com os clientes no território, além
das ações de diagnóstico e tratamento – os profissionais que atuam na Saúde Coletiva
analisam questões históricas e culturais de determinada área para compreender o
processo de saúde-doença da coletividade.
 ATENÇÃO
Algo importante a se destacar é que as mudanças e ações necessárias no âmbito da
Saúde Pública dependem das possibilidades do Estado. Já na Saúde Coletiva as
mudanças e ações surgem a partir do território, o que pode gerar conflitos com as
possibilidades abertas pelo Estado.
A Saúde Pública e a Saúde Coletiva têm importância no Sistema Único de Saúde (SUS),
mas ainda há certa confusão quanto às suas práticas. Entenda:
Como exemplos de atuação da Saúde Pública, podemos citar o Programa Nacional
de Imunização (o calendário de vacinas), as campanhas e o Programa Materno-
Infantil.
Quanto à Saúde Coletiva, podemos referir as ações que visam a promoção à saúde,
como os grupos de acolhimento para pessoas com depressão ou as orientações
sobre alimentação saudável de acordo com a realidade de cada território. Como
exemplos de atuação, podemos citar as Unidades de Atenção Básica do SUS e em
Clínicas da Família.
DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE NO
PROCESSO SAÚDE DOENÇA
Assista ao vídeo a seguir em que vai ser apresentada a importância dos determinantes
sociais de saúde no processo saúde doença.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. EM 1948, A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS)
ESTABELECE UMA DEFINIÇÃO DE SAÚDE DE MANEIRA AMPLIADA,
QUE É VIGENTE ATÉ OS DIAS ATUAIS. MUITOS PESQUISADORES E
ESTUDIOSOS CRITICAM ESSA CONCEPÇÃO DE SAÚDE, ATRIBUINDO
A ELA UM CARÁTER DE ALGO EQUIVOCADO E INATINGÍVEL. SOBRE
TAL DEFINIÇÃO, MARQUE A OPÇÃO CORRETA:
A) Em alguns países considerados economicamente e socialmente mais desenvolvidos,
saúde pode ser vista como ausência de doença.
B) É consenso mundial que doença pode ser vista como ausência de saúde.
C) A definição da OMS de 1948 refere que é preciso bem-estar mental, social e físico para
se ter saúde.
D) Segundo a OMS, para se caracterizar como doença, os sintomas precisam ser
perceptíveis pelos profissionais de saúde.
E) Para a OMS, saúde e doença têm determinação biológica, sendo irrelevantes as
questões sociais.
2. SABEMOS QUE MUITOS FATORES PODEM INFLUENCIAR NO
PROCESSO DE SAÚDE E ADOECIMENTO DA POPULAÇÃO E QUE
POR ISSO PRECISAM SER ANALISADOS EM QUALQUER
CONJUNTURA PARA A REALIZAÇÃO DE AÇÕES E SERVIÇOS DE
SAÚDE. EM RELAÇÃO A ESSA REFLEXÃO, MARQUE A OPÇÃO
INCORRETA:
A) A falta de acesso à educação e às condições adequadas de moradia pode levar ao
adoecimento da população.
B) A dificuldade de acesso ao saneamento básico impacta diretamente a saúde das
pessoas.
C) Realizar atividades de lazer tem impacto sobre a saúde da população.
D) É consenso entre pesquisadores que saúde e adoecimento são vivenciados da mesma
maneira por toda a população.
E) É preciso valorizar a palavra do cliente, pois é muitas vezes a principal forma de
expressão dos sintomas vivenciados.
GABARITO
1. Em 1948, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece uma definição de
saúde de maneira ampliada, que é vigente até os dias atuais. Muitos pesquisadores
e estudiosos criticam essa concepção de saúde, atribuindo a ela um caráter de algo
equivocado e inatingível. Sobre tal definição, marque a opção correta:
A alternativa "C " está correta.
 
A OMS definiu, em 1948, que saúde não é somente ausência de doença e sim um estado
completo de bem-estar social, mental e físico.
2. Sabemos que muitos fatores podem influenciar no processo de saúde e
adoecimento da população e que por isso precisam ser analisados em qualquer
conjuntura para a realização de ações e serviços de saúde. Em relação a essa
reflexão, marque a opção incorreta:
A alternativa "D " está correta.
 
Os estudos dos determinantes sociais de saúde e do processo saúde-doença demonstram
que saúde e adoecimento são experiências subjetivas, mesmo com os pontos cruciais que
atingem as coletividades.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visitamos períodos históricos e vimos a evolução do conceito de saúde ao longo do tempo.
Estudamos também aspectos importantes como Determinantes Sociais de Saúde, Saúde
Coletiva e Saúde Pública.
Vimos como é importante que o profissional de saúde atue baseado numa concepção
ampla de seu campo de trabalho, rompendo com a lógica biologicista reducionista e
incluindo mais ingredientes em sua atuação: as questões sociais, econômicas, culturais,
políticas, entre outras.
Há muitos desafios para atingir a integralidade do cuidado. Por isso é tão necessário
abordar as questões tratadas neste estudo desde o início da formação dos futuros
profissionais de saúde, com foco na interdisciplinaridade e na intersetorialidade, para que
possamos nos aproximar de um modelo de saúde universal e acolhedor.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis,
Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.
CAMPOS, et al. (org.). Tratado de saúde coletiva. São Paulo, Rio de Janeiro: Hucitec.
MERHY, Emerson Elias et al. Redes Vivas: multiplicidades girando as existências, sinais
da rua. Implicações para a produção do cuidado e a produção do conhecimento em saúde.
Revista Divulgação em Saúde para Debate, n. 52, Centro Brasileiros de Estudos de Saúde
(CEBES). Rio de Janeiro, 2014.
NARVAI, P. C. etal. Práticas de saúde pública. In : Saúde pública: bases conceituais.
São Paulo: Atheneu, 2008, p. 269-297.
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PASSOS. A história das Santas Casas. Publicado
em: 02 fev. 2016.
SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saúde. Physis, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p.
29-41, abr. 2007. Consultado em meio eletrônico em: 23 nov. 2020.
SEGRE, Marco; FERRAZ, Flávio Carvalho. O conceito de saúde. Rev. Saúde Pública,
São Paulo, v. 31, n. 5, p. 538-542, out. 1997. Consultado em meio eletrônico em: 23 nov.
2020.
EXPLORE+
Leia o artigo Abordagens contemporâneas do conceito de saúde , de autoria de
Carlos Batistella, que trata das diversas abordagens adotadas atualmente para a
compreensão do conceito de saúde. Disponível no site do Departamento de Direitos
Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Fiocruz.
Leia o artigo Concepção de saúde-doença e o cuidado em saúde , de Marly
Marques da Cruz, publicado no site da Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz.
Ele apresenta conceitos sobre o processo saúde-doença e cuidado, relacionando as
características da população de determinado território.
Consulte no portal oficial da Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da
Saúde (CNDSS) o Observatório sobre Iniquidades em Saúde. Você vai encontrar
indicadores, análises e outras informações relevantes sobre os Determinantes
Sociais no Brasil e por região.
CONTEUDISTA
Alice Medeiros Lima
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