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DIREITO PROCESSUAL PENAL UNIASSELVI-PÓS Autoria: Iverson Kech Ferreira Indaial - 2022 2ª Edição Impresso por: CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: : Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI. Copyright © UNIASSELVI 2022 F383d Ferreira, Iverson Kech Direito processual penal. / Iverson Kech Ferreira – Indaial: UNIAS- SELVI, 2022. 171 p.; il. ISBN Digital 978-65-5646-536-4 1. Processo penal. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 340 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Direito Processual Penal ............................................................7 CAPÍTULO 2 A Máquina da Persecução Penal ...............................................53 CAPÍTULO 3 Do Processo .............................................................................. 111 APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo, prezado pós-graduando, aos nossos estudos acerca do direito processual penal! Nessa aventura iremos estudar como o processo penal, através de suas regras e normas, consegue instrumentalizar os procedimentos e as persecuções penais, desde a investigação até a sentença final. As regras do processo penal demostram os passos a serem seguidos na persecução, conseguindo garantir a paridade e a igualdade entre as partes, algo muito obscuro e impraticável nas épocas em que somente clero ou monarquia manipulavam os procedimentos e o processo, muitas vezes, ao seu gosto e serventia. No entanto, após épocas difíceis, encontramos o processo penal escrito no Brasil em 1941 e recepcionado pela Constituição de 1988, trazendo o início de garantias a todas as partes, de que é fato que somente será levado ao processo aquele que infringiu a lei em alguma infração penal. Aqui iremos analisar, além de sua severa importância para a persecução penal, também a forma que o Brasil se utiliza desse sistema, em uma evolução história do método de fazer o processo penal. De outro modo, ele é capaz de garantir que os métodos e procedimentos sejam aplicados e seguidos por todos, inclusive pelo Estado Juiz. Essa garantia prevê que se entenda o processo a partir de suas próprias formas. No primeiro capítulo, além de analisarmos o breve histórico do processo das penas, devemos entender quem são os personagens dessa demanda jurídica. Para isso, todos os envolvidos devem estar garantidos através de princípios, alguns históricos desde os tempos em que gregos e romanos pensavam o direito; outros vieram destacados pela inteligência constitucional em 1988. De toda forma, sem esses princípios que iremos analisar, não haveria um processo de qualidade, respeito à dignidade da pessoa humana e aos outros direitos do homem apregoados em normas e decretos internacionais, muitos dos quais o Brasil é signatário. Veremos também como a norma processual se desencadeia no tempo e no espaço, aqui em âmbito nacional. Em um segundo momento, no Capítulo 2 apresentaremos análises acerca da instrumentalização dos procedimentos; como o inquérito policial. Importante mecanismo para o desenvolvimento das investigações diversas, o inquérito é a segurança que as pessoas têm, por intermédio do Estado, que ninguém será levado à juízo sem fundados indícios de que tenha cometido algum crime comprovado por provas licitas. Após o inquérito, temos, a continuação da persecução que se dará com a ação penal, propriamente dita. Aqui, a ação penal se inicia com a motivação ou provocação do juízo para assegurar a jurisdição e assim poder dizer do direito. Também iremos estudar as provas e qual a sua forma de entrada nos processos penais, bem como, as penas que circundam a sentença condenatória. Por fim, nossa aventura irá findar-se com a natureza jurídica de alguns mecanismos processuais, como a sentença e seus efeitos, as nulidades processuais e as normas mais atuais que vieram a alterar ou a somar-se com as regras previamente dispostas no Código de Processo Penal. Os recursos são importantes para as partes, pois servem como garantia, principalmente, para o acusado de algum crime, portanto, iremos averiguar os remédios e garantias fundamentais da liberdade, igualdade e do processo penal, que asseguram o desenvolvimento do sistema processual mais lidimo o possível, em tempos de modernidade, sempre em prol da segurança jurídica para os envolvidos. Isso é importante, uma vez que em se tratando de um ramo do direito público, toda a sociedade se encontra incluída em seus andamentos, inovações e procedimentos. Vamos lá? Iverson Kech Ferreira CAPÍTULO 1 DIREITO PROCESSUAL PENAL A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • conhecer o direito processual penal; • analisar os conceitos de processo e identifi car os sujeitos processuais; • identifi car o processo penal como autônomo; • entender os princípios que fundamentam o processo e sua lisura; • interpretar os sistemas processuais e identifi car o sistema utilizado no Brasil; • entender como age a norma processual no tempo e no espaço; • defi nir a importância do direito processual penal como uma garantia aos cidadãos e à sociedade; • analisar as funções do processo penal; • identifi car o funcionamento das normas processuais penais; • explicar a importância de um processo penal na persecução criminal. 8 Direito Processual Penal 9 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O Processo Penal pode ser entendido como um mecanismo, dotado de métodos e procedimentos técnicos, que possuem ampla fi nalidade de assegurar a legalidade da persecução penal. Veja a importância desse instrumento quando o objeto de análises e estudos aqui é a liberdade do indivíduo. Por esse prisma, tratamos de temas complexos no processo penal, tais quais o inquérito policial e extrapolicial, a prova no direito penal, as ações penais diversas, as prisões em fl agrante ou as novas normas que surgem para garantir um processo mais autônomo e conclusivo. Toda a parafernália utilizada pela persecução penal, desde instrumentais a partir das investigações criminais, através de seus peritos mais especializados até a investigação de campo dos agentes policiais, deve cumprir as regras e normas estipuladas pelo processo penal. Logo após a fase investigativa, que chamamos de inquérito policial, surge através das provas de autoria de algum crime cometido por algum autor, o dever do Estado de dizer o direito. Através da persecução penal, frente ao juiz competente, possuindo as provas que se formalizam no processo à sua frente, temos uma ordem rígida que é atribuída pela norma processual penal. Como um jogo que se joga necessita de regras para balizar seus competidores acerca das suas ações válidas dentro do certame, o processo penal garante normas para toda a persecução criminal. Isso assegura também os direitos e garantias de todos os envolvidos, desde acusados à juízes e acusadores. E porque não dizer também à própria persecução penal, não é mesmo? Se as regras estipuladas para ela forem seguidas, a chance de erros ou injustiças serem cometidos será pequena. Neste capítulo veremos como se forma o processo penal, historicamente. Entenderemos quem são os seus personagens mais ativos e por onde ele é desencadeado. Veremos os importantes princípios do direito processualpenal e quais as garantias que eles asseguram, da mesma forma que estudaremos como são formadas as competências penais dentro do processo. Entenderemos os sistemas penais e suas peculiaridades até chegarmos no nosso sistema usado atualmente. Tudo isso é direito processual penal e refere-se mais às garantias de um processo limpo, um jogo projetado de maneira responsável em que se lida com um dos bens mais importantes da humanidade, a liberdade. 10 Direito Processual Penal 2 O DIREITO PROCESSUAL PENAL: BREVES CONSIDERAÇÕES Ao elaborar leis penalizadoras através do Poder Legislativo, o Estado toma para si o direito de punir aqueles que infringiram essas normas. Isso signifi ca, prezado pós-graduando, que no momento em que alguém desenvolve alguma conduta delituosa, praticando o ato descrito como crime ou desvio, surge ao Estado o direito de punir de fato, ou o ius puniendi in concreto (LIMA, 2011). Como é o Estado que possui o monopólio do direito, é sua função e também dever julgar, punir e dizer o direito (TOURINHO FILHO, 2007). É nesse sentido que a importância das normas de processo surge com maior relevância, uma vez que o direito de punição do Estado deve estar envolvido em uma série de princípios, de regras e normas que chamamos de processuais penais. Como em um jogo que é jogado entre dois jogadores antagônicos, as regras servem para balizar o entendimento desses contendores naquilo que pode ou não ser feito durante o jogo. As suas atitudes, posturas e condutas realizadas dentro da contenda de uma partida jogada através de regras e princípios precisam ser por eles estabelecidos, assim deve ser para que exista a paridade ou igualdade entre as partes (ROSA, 2019). No direito penal, em sua fase processual, é a mesma coisa. A paridade entre as partes se dá pelo direito processual penal. Entretanto, sua importância vai mais além. Podemos afi rmar as normas processuais como balizadoras do poder do Estado em punir. A pretensão punitiva do Estado existe quando alguém pratica conduta delituosa trazendo à realidade o que está escrito no código de direito penal, como crime. O autor fi ca então sujeito às punições penais, sanções essas previstas em lei especial, que é o Código Penal. A partir daí o Estado somente poderá iniciar sua punição quando determinados requisitos estiverem presentes e o maior deles é o processo penal. Não há maneiras legais de infringir uma sanção penal sem o regular caminhar do processo. Nesse conceito, é correto afi rmar que o Estado sofre limitações no uso das penas, devendo harmonizar-se com as medidas legais incumbidas pelas regras do processo das penas, sendo a persecução penal dotada de autonomia e princípios que devem ser seguidos. Imagine que na época das monarquias europeias, no período conhecido como Medieval (século V ao século XV), as pessoas poderiam ir a um julgamento presidido pelo conselho do monarca, por algum ato desaprovado pelo soberano, 11 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 e assim julgados sem qualquer princípio ou regramento que possibilitasse a ampla defesa do indivíduo. Tanto que épocas como essas fi caram conhecidas como Idade das Trevas. Mas você sabia que foi justamente nesses períodos que um dos primeiros manuais de processo para a penalização foi desenvolvido? O manual inquisitivo de Kramler e Sprengler, em 1487, conhecido por Malleus Mallefi carum (Martelo das Bruxas); que identifi cava a bruxa existente nas sociedades medievais, ditando como processar essa personagem e qual seria a sua pena: purifi cada pelo fogo nas piras da idade das trevas (FERREIRA, 2020). O manual dos inquisidores foi inserido na bula papal Summis desiderantis affectibus, do Papa Inocêncio VIII, em 1484. Pouco antes disso, Nicolas Eymerich já havia criado um manual inquisidor, em provavelmente meados de 1376. O famoso Directorium Inquisitorium servia como base para os processos inquisitoriais da Igreja Católica, que detinha o poder de praticar a penalização de pessoas que não seguiam os propósitos da homogeneização do catolicismo. Esse passou a ser reconhecido como o primeiro manual de como conseguir, dentro da persecução penal, a confi ssão do acusado, que era realizada através de torturas agonizantes. Noutro sentido, levou a outras obras de direito canônico, como o Martelo das Bruxas, princípios de como reconhecer e processar aqueles que devem ser levados à julgamento. Direito canônico signifi ca as regras e legalizações realizadas pelos líderes da igreja católica e anglicana, que incluem em suas leis tanto as pessoas comuns como o Estado. Signifi ca a lei eclesiástica regida pela Igreja católica, que encontrou sua força no Período Medieval, formulando normas que serviam para a manutenção dos poderes do clero. Ainda que extremamente arcaicos e servindo a um propósito de manutenção dos poderes da sua época, essas duas obras podem ser consideradas as primeiras que traziam certas regras para o poder de penalizar do monarca e principalmente, do clero. Diversos outros estudos passaram a abrir a época do Iluminismo (Século XVII e XVIII), no tocante ao direito penal, que intentava outros caminhos que não a violência dos processos inquisitivos. Foi com Cesare Beccaria, com sua técnica humanista trazida no famoso Dos Delitos e das Penas, de 1764, que 12 Direito Processual Penal Você pode ler na integra o manual da inquisição de Kramler e Sprengler de 1487, o Malleus Mallefi carum, que servia para processar e punir pessoas que tinham ações destoantes das maiorias. Na época, os pais de família que deixavam suas famílias à força e partiam em lutas e guerras para defender os seus monarcas, reis e superiores geralmente não voltavam para casa, morrendo nessas guerras. Quem sustentaria as famílias seriam então as mulheres, que partiam para o trabalho, isso na época destoava da normalidade. Essas mulheres poderiam ser consideradas bruxas pela inquisição católica. Tanto é que foi escrito esse manual de identifi cação das feiticeiras. Veja no seguinte link: <https://www2. unifap.br/marcospaulo/fi les/2013/05/malleus-malefi carum-portugues. pdf>. Da mesma forma, pode estudar na integra o livro de Nicolas Eymerich, o Directorium Inquisitorum, que trata das formas de descobrir os hereges que deveriam ser purifi cados, seu interrogatório e como se dava a sentença: <http://www.dhnet.org.br/dados/livros/ memoria/mundo/inquisidor/index.html>. A obra Dos Delitos e das Penas, que trazia os conceitos e princípios iluministas para o processo penal, escrita por Cesare Beccaria, você pode encontrá-la no seguinte link: <http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/eb000015.pdf>. Todas as obras demonstram o histórico do direito processual penal, uma vez que o poder da época em que foram escritas se servia delas como inspiração para a persecução penal. Boa Leitura!! passou a se discutir um processo mais humanizado, harmonizado com a época histórica que começava a se desenhar. Aqui, o Marquês de Beccaria desenvolve estudos acerca unicamente do direito penal, enfatizando seu processo de julgamento e de sentenciamento, através de técnicas mais elaboradas como o próprio processo penal em si. Prezava pelo término das torturas e das práticas indigentes de confi ssão, marcando um processo abastecido por testemunhos e de leis que não sejam obscuras, do julgamento legitimo e público, inclusive trazendo o tempo válido para os processos, segundo a gravidade dos crimes. O mais importante, de fato, é que a obra abre um período de inspiração humana, através do iluminismo que consquistava a Europa. 13 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 No Brasil, após a vinda dos portugueses, por consequência as normas que aqui vigoravam eram as de conteúdo europeu, como as Ordenações Afonsinas, Filipinas e Manuelinas. Foi somente em 1930 que tivemos escrito em terras brasileiras o primeiro Código Criminal, que ainda trazia o pensamento europeuem seus regramentos, como as penas cruéis e formas de enxergar o processo através de um único prisma, não contendo os direitos de ampla defesa dos acusados na época. Ainda que determinasse a ilegalidade de algumas devassas violentas contra o acusado, ainda assim trazia o ímpeto português, europeu e bélico daquelas épocas (TORINHO FILHO, 2007). Ao substituir o livro V das Ordenações Filipinas, o Código Criminal basicamente ainda seguia seus mais basilares preceitos. Em grande salto histórico, o Código Penal Brasileiro foi escrito em 1940 e o Código de Processo Penal que usamos atualmente, em 1941. Com a Constituição Brasileira de 1988, tivemos um movimento de redemocratização no País, elevando os ideais democráticos e todos os princípios de direitos humanos e de dignidade da pessoa humana, apregoados por diversos pactos e tratados internacionais mundo afora. Essa fase abriu um período de humanização do direito, trazendo luzes ao processo penal e suas regras, que agora possuem na Constituição suprema um norte que deve ser seguido, através dos seus mandamentos e princípios basilares. Para Walfredo Cunha Campos, o direito processual penal é: Um complexo de princípios e normas que constituem o instrumento técnico necessário à aplicação do Direito Penal, regulamentando o exercício da jurisdição pelo Estado-juiz, por meio do processo, os institutos da ação e da defesa, além da investigação criminal pela polícia judiciária, através de inquérito policial, ou por outro órgão público, também legitimado em lei, a investigar através de procedimentos investigatórios diversos (CAMPOS, 2019, p. 41). Assim temos: o direito processual penal trata-se dos preceitos e normas que irão conduzir a persecução penal, envolvendo a paridade processual (igualdade entre as partes do processo), pois entendem quais os passos a serem dados, uma vez estarem todos contidos nas regras processuais. O Código de Processo Penal (CPP) trata-se de um instrumento para o percorrer do processo. 14 Direito Processual Penal 2.1 INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL Para que exista a serventia do processo penal, é necessário que as normas tidas como penalizadoras de alguma ação ilícita sejam efetivadas, por exemplo, trazemos o artigo 121 do Código Penal: Matar alguém. Agindo nesse sentido efetivando a norma, ou seja, matando alguém, haverá o direito de punir do Estado. Mas ainda assim esse direito somente poderá ser satisfeito através do processo penal. Signifi ca dizer que toda a persecução penal, desde investigações policiais até o processo judicial, que através do magistrado será exalada sentença condenatória ou mesmo absolutória, necessita do processo penal. É ele que irá ditar regras de direito para o bom andamento dos passos do procedimento penal (ROSA, 2019). Como é o Estado que julga, através do Poder Judiciário, o direito processual é um ramo do direito público. Cabe a ele disciplinar as regras tanto na fase investigativa, quanto no momento do julgamento até trânsito em julgado da sentença. É através dele que os recursos cabíveis em cada etapa do processo são utilizados, assim como, somente através do processo penal pode haver a satisfação da pretensão punitiva do Estado, no caso analisado por magistrado togado. O artigo 22 da Constituição Federal (CF/1988), em seu inciso I apresenta a competência exclusiva da União em legislar matéria de direito processual penal: “Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho” (BRASIL, 2002, p. 25). Dessa forma: o direito processual penal é considerado um ramo do direito público e a competência exclusiva de legislar em matéria processual penal é da União, segundo o artigo 22, inciso I da CF/1988. Assim, em 1941 pelo Decreto Lei nº 3689, o Código de Processo Penal (CPP) foi promulgado. Todas as normas e regras que constam sobre o assunto devem estar inseridas nesse códex de leis, mesmo aquelas que alteram, ou complementam, por ventura qualquer um dos seus artigos. Veremos que algumas alterações foram realizadas ao longo do tempo e algumas bem recentes. Isso ocorre pois pretende-se acompanhar a evolução humana ao longo da história, necessitando muitas vezes atualizar as normas e regras escritas tempos atrás. Veremos, em momento oportuno, algumas dessas complementações e alterações. 15 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 2.2 CONCEITO DE PROCESSO É através do processo que o poder judiciário é movimentado. Ele possui a capacidade tanto de estimular quanto de administrar a persecução judicial. Dentro de seus liames, existem os procedimentos diversos, que são entendidos como a própria manifestação do processo, através de seus requerimentos e ações tomadas durante o processo, perfazendo o seu aspecto formal. Na explicação a seguir, você pode perceber que além de existirem inúmeros processos com suas funções heterogêneas, o seu principal enfoque é dar o rumo certo para os julgamentos diversos e para as mais variadas persecuções judiciais: Processo é conceito que transcende ao direito processual. Sendo instrumento para o legítimo exercício do poder, ele está presente em todas as atividades estatais (processo administrativo, legislativo) e mesmo não-estatais (processos disciplinares dos partidos políticos ou associações, processos das sociedades mercantis para aumento de capital etc.) (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2005, p. 286). Dessa maneira, podemos afi rmar, prezado pós-graduando, que é por via do processo que o cidadão conseguirá levar ao Poder Judiciário o seu pedido. A ação penal passa a se confabular por intermédio dos mecanismos processuais que engendram toda a máquina judiciária, através de suas regras e normas. Portanto, cabe também ao processo, servir de caminho para que você possa fazer o seu pedido ao poder judiciário, sobre algum direito material seu que precise de reparação, preservação ou até mesmo, algum alinhamento que somente poderá ser dado pelo magistrado. Nesse sentido a relação processual, via de regra, está disposta a todos os cidadãos, bem como a todo o procedimento legal que se instaura no direito. Ele tem o poder de construir e legalizar todos os passos a passos que devemos seguir, para ter ao fi nal a tutela (proteção) do Estado à nossa pretensão. Também assegura que existam normas que devem ser seguidas, para que haja a paridade processual. Isso signifi ca que todos que estão envolvidos em algum processo, seja criminal, civil ou mesmo trabalhista, possam ter seus direitos de defesa, de contradizer e contar sua história dentro da persecução. Assim, os sujeitos no processo possuem todos os mesmos direitos, para que se encontre a justiça dentro do próprio processo (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2005). 16 Direito Processual Penal Você percebeu a diferença que há entre processo e procedimento? Então, você pode afi rmar que procedimentos são os acontecimentos e ações que existem dentro do processo! Mas qual a natureza jurídica do processo? Dentre as análises da maioria dos doutrinadores que estudam a natureza jurídica processual, em todas as áreas do direito, incluindo aqui o direito penal, a composição de uma relação jurídica processual, que se estabelece entre as partes de um processo, forma uma natureza triangular, defi nida como base para o processo. Mais à frente vamos voltar a esse assunto (processo e procedimento penal), mas por enquanto, é importante analisarmos antes os conceitos mais usuais do processo penal! 2.3 SUJEITOS PROCESSUAIS As partes do processo são conhecidas como sujeitos processuais, pois estão envolvidos em uma relação jurídica que possui natureza triangular: o juiz, que possui a autonomia para julgar conforme as provas que lhe são apresentadas no processo, a parte acusadora, que exprime seu direito através do pedido feito ao Poder Judiciário para que este contemple seu pedido, e, porfi m, aquele que está sendo acusado e que possui o direito de se defender das imputações que lhe são feitas. Portanto, temos os sujeitos principais, que compõe a relação jurídica processual. Sem esses não há processo, de forma alguma. São eles: o Estado, através do Juiz/Magistrado que preside o processo e soluciona os litígios através de uma sentença legal, o autor (seja ele acusador em sua própria pessoa ou o Estado através do Ministério Público, que acusa crimes diversos, ou na impossibilidade da presença da vítima do crime ocorrido) e por fi m, o autor ou réu, pessoa que se defende daquilo que lhe é imputado como ação criminal. Entretanto, no processo penal, temos alguns sujeitos processuais que vão além desses acima citados. Eles são considerados como sujeitos processuais secundários, ou mesmo, acessórios. Esses não são a essência do processo em si, mas tem a capacidade de intervir no processo em sua relação mais intrínseca, mas ainda sendo indispensáveis para seu perfeito e harmônico andamento. Os auxiliares de justiça, conhecidos como escrivães, escreventes, ofi ciais de justiça, distribuidores, são os sujeitos secundários que se envolvem no processo. Também existem aqueles reconhecidos como terceiros interessados e terceiros desinteressados. Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce 17 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Vamos colocar em prática o que foi aprendido? 1 O direito processual penal, assim como o direito penal, é um ramo do direito público. Assim, é necessária a atuação do Estado, que detém o monopólio do direito e o único que pode dizer o direito. Nesse sentido, assinale a seguir a alternativa verdadeira: a) ( ) O fato de todos os entes poderem legislar em matéria processual penal constitui em amplo princípio básico e garantidor da igualdade no processo. Terceiros interessados: o artigo 31 do CPP inclui como possuidores do direito de oferecer queixa criminal ou de prosseguir na ação, no caso da morte do ofendido ou vítima, a pessoa do cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Da mesma forma, o artigo 36 do CPP apresenta como terceiros interessados o representante legal e os herdeiros do ofendido. Já os terceiros desinteressados podem ser encontrados nas pessoas das testemunhas, chamadas ao processo para contar aquilo que presenciou, elucidando questões para o caso analisado pelo juiz. Peritos, interpretes e tradutores também podem ser considerados terceiros interessados, pois são auxiliares do juízo, não possuindo qualquer afeição à causa a ser julgada. QUADRO 1 – OS PERSONAGENS DO PROCESSO Parte principais do processo O acusador (Ministério Público ou o no- ticiante em caso de ação privada) o Es- tado juiz, julgador da causa, o acusado ou réu. Sujeitos processuais secundários Escrivães, auxiliares da justiça, distribui- dores, escreventes, ofi ciais de justiça. Terceiros interessados Art. 31 CPP: no caso de morte da vítima, o cônjuge, ascendente, descendente, irmão, herdeiros. Terceiros desinteressados Testemunhas, peritos, interpretes, tradu- tores. FONTE: O autor Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce Josevaldo Realce 18 Direito Processual Penal b) ( ) O processo serve para instrumentalizar a forma que o direito será assegurado; através de seus mecanismos ele cria métodos que devem ser seguidos por todos os personagens envolvidos. c) ( ) O processo penal age apenas na forma processual, mas não se envolve com o momento investigativo. d) ( ) Há uma relação triangular no processo penal, constituída pelo acusador, pelo réu e pelas testemunhas que colaboram para as provas processuais. 2 Existem personagens principais e secundários no processo penal, conforme você estudou. Nesse sentido, identifi que quais dos sujeitos a seguir fazem a parte principal do processo. a) ( ) O acusador ou o Ministério Público ou noticiante em caso de ação privada, as testemunhas, e o réu que se defende. b) ( ) A vítima e seu cônjuge, o Ministério Público que irá acusar e o juiz que deverá julgar o caso. c) ( ) O acusador (Ministério Público ou o noticiante em caso de ação privada) o Estado juiz, julgador da causa, o acusado ou réu. d) ( ) As testemunhas, peritos e a vítima. 3 Sabe-se que o processo penal é um instrumento capaz de, a partir de suas regras, condizer o bom andamento da persecução penal. Em suas palavras, qual a importância de se ter as regras do jogo evidenciadas? 3 PRINCÍPIOS E FONTES INTERPRETATIVAS DO PROCESSO PENAL Pela sua importância e incumbência na persecução penal, o processo possui seus princípios muito bem defi nidos, que legitimam todo o ordenamento através de seus basilares conceitos, e a defi nição do que é princípio é importante para que sigamos nossas análises do processo penal, tão carreados desses fundamentos. Segundo Melo (2009, p. 882), principio signifi ca: Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas Josevaldo Realce Josevaldo Realce 19 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 compondo-lhes o espírito e sentido servido de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por defi nir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. Pelo fato de o princípio ser o alicerce básico do entendimento sobre as normas jurídicas, ele possui também o poder de orientação e compreensão do ordenamento jurídico, tanto para o legislador que escreve as normas, quanto para o aplicador do direito. Assim, tanto um quanto o outro possuem nos princípios o norte para a criação e para a interpretação da norma no caso concreto. No direito, os princípios possuem força tal que passam a fazer parte da experiência jurídica, transformando-se em elementos que constituem o próprio direito, como seus componentes mais necessários (REALE, 2002). Já as fontes do direito demonstram o local de surgimento das leis, do próprio direito. Diz-se que sem sociedade não há direito ou conforme preza o adágio em latim ubi societas, ibi jus (onde há sociedade, há direito), sendo a coletividade e sua convivência social uma das fontes mais antigas do direito. A partir da ética, que somente pode ser exercida em coletivo, as normatividades se adequam à sociedade e passam a fazer parte do seu contexto de coexistência, na criação das normas de conduta e leis. Portanto, se a fonte constitui o lugar de onde nasce e surge o direito, podemos entender como seu ponto de partida a própria sociedade em si. Para Del Vecchio (1976, p. 142): Fonte de direito in genere é a natureza humana, ou seja, o espírito que reluz na consciência individual, tornando-se capaz de compreender a personalidade alheia, graças à própria. Desta fonte se deduzem os princípios imutáveis da justiça e do Direito Natural. Tendo a defi nição do que é princípio e o que é fonte, você vai analisar cada um desses institutos e vai ver que a sua importância não está em apenas assegurar a boa prática da persecução penal, que é realizada através das regras do direito processual. Ela também está intimamente interligada aos mais estruturais princípios do homem, como a dignidade da pessoa humana, em toda sua amplitude. 3.1 FONTES DAS NORMAS PROCESSUAIS Como cada povo possui seus próprios valores morais e culturais, de costumes e hábitos, esses passam a ser entendidos como fontes do direito, que se apropria dos trejeitos históricos evolutivos para assegurar a justiça através do espírito do povo (DEL VECHHIO, 1972). Josevaldo Realce 20 Direito Processual Penal No Brasil, o artigo 4° da Lei de Introdução ao Código Civil estabelece que “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso concreto de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. Esse entendimento cede à lei um sentidoamplo, quando a considera a primeira fonte de direito que deve ser analisada pelo magistrado. Em sua carência, os próximos passos conduzirão o juiz à analogia, aos costumes e aos princípios. Entende-se dessa forma que exista uma completa hierarquia entre as fontes uma vez que somente na omissão da lei, outras fontes serão utilizadas. O intuito desse instituto é dar segurança jurídica para os operadores do direito e para toda comunidade jurídica. Fontes do direito são, nesse sentido, “as formas pelas quais as regras jurídicas se exteriorizam, apresentam-se; e elas se dispõe como modos de expressão do direito” (TOURINHO FILHO, 2007, p. 159). Como você viu, somente é cedida à União a competência privativa de legislar sobre o direito processual. Sendo então o Estado a única nascente de produção do direito (fonte de produção), é certo que a lei é a forma pela qual ele exterioriza sua vontade num primeiro plano. Você já deve ter se deparado, em seus estudos, com o inciso XXXIX do famoso artigo 5° da nossa CF/1988, que trata dos direitos e das garantias individuais, não é mesmo? Ali você deve encontrar o seguinte: “Não há crime sem lei anterior que o defi na, nem pena sem previa cominação legal” (BRASIL, 2002, p. 35). Notou que o próprio texto constitucional, que é a norma maior do direito brasileiro, já defi ne a lei como a fonte inicial para o direito e para a sua aplicação? Dessa maneira, temos: as fontes que são consideradas imediatas e aquelas entendidas como fontes mediatas (TOURINHO FILHO, 2007). Fonte Imediata: conhecida também como fontes diretas ou primárias, essas são constituídas pelas leis em seu sentido amplo, “isto é, como todas disposição emanada de qualquer órgão estatal na esfera de sua própria competência” (TOURINHO FILHO, 2007, p. 160). Salienta-se aqui o princípio da legalidade, que intenta coibir descaminhos na interpretação das normas processuais que são as principais fontes e indicadora da direção correta. Assim, a lei é a fonte inicial ou imediata. Fonte mediatas ou indiretas: são a analogia, os costumes, jurisprudência, doutrina e os princípios gerais do direito. Os costumes são normas de condutas, que consideram comportamentos adequados e uniformes na convivência social, e auxiliam na interpretação das normas penais e processuais penais. Os princípios gerais do direito servem como norteadores do pensamento jurídico, através das premissas éticas gerais. Por fi m, tanto doutrina como jurisprudência servem como fontes indiretas, a primeira em seus estudos realizados por diversos 21 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Você sabe o que são as leis extravagantes? Elas são tidas como fontes secundárias do direito processual penal, pois não estão escritas ou compiladas dentro do Código de Processo Penal, que é considerado como a fonte primária e imediata do processo das penas. Signifi ca então que leis extravagantes possuem esse nome por serem reconhecidamente leis especiais, mas ainda separadas até mesmo do Código Penal. Exemplo disso é a importante Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) e a Lei dos crimes Hediondos (nº 8.072/1990). estudiosos da área do direito, a segunda, por balizar os julgamentos reiterados que se assemelham caso a caso, criando uma uniformidade que pode ser utilizada pelo magistrado, se possível. Podemos defi nir que o Estado se constitui então, na principal fonte material do direito processual penal, pois é ele quem tem a autonomia e competência para escrever as normas processuais, segundo o artigo 22, inciso I da nossa CF/1988, criando a matéria para o direito. Dessa forma, essa fonte criada pelo Estado é a Lei, que é considerada como a fonte imediata e direta. Sendo assim, o Código de Direito Processual Penal (Lei nº 2848/1940) é considerado a fonte primária, do processo penal, uma vez que é o principal códex de normas que trata especialmente desse assunto em particular. Já as leis extravagantes que versam sobre matéria processual penal, os tratados e as convenções de direito internacional em assuntos processuais penais são considerados fontes secundárias, por estarem em um segundo plano de análises, após a fonte primária. 3.2 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL Com a Constituição Federal promulgada em 1988, todas as outras normas existentes no país passaram por uma reformulação e é a partir da atribuição legal, realizada pela norma maior, que são determinados os valores que delineiam todos os outros regulamentos. As leis que você conhece como Código Civil, que 22 Direito Processual Penal Mas o que é um princípio afi nal de contas? Nas palavras de Luís Roberto Barroso “são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fi ns. Dito de forma sumária, os princípios constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualifi cações essenciais da ordem jurídica que institui” (BARROSO, 1999, p. 147). Celso Antônio Bandeira de Melo adverte que “violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específi co mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade...” (MELO, 2009, p. 747). estabelece os contratos entre os particulares, o Código Tributário, que controla os impostos cobrados e a forma de arrecadação diversa e o Direito Penal, por exemplo, são consideradas normas infraconstitucionais. Elas são reconhecidas assim por não estarem escritas no texto original da Constituição. Todas as leis escritas, após ou antes da CF, que não sejam parte de uma Emenda Constitucional, ou seja, que não se insiram no próprio texto constitucional, são leis infraconstitucionais. Mas, como você já percebeu, a Constituição possui uma força muito grande, trazendo o norteamento para toda a regulação nacional. Então, é importante entender, que uma vez sendo ela a norma fundamental, todas as outras normas devem seguir os seus preceitos basilares. Princípios constitucionais devem ser considerados por qualquer diretriz legal escrita, seja por Estados, Municípios, Câmara dos Deputados ou Senado Federal. Constitucionalização, então, signifi ca que todo o ordenamento jurídico nacional deve ser interpretado através do entendimento e da expectativa da Constituição. Isso ocorre para que novas normas não colidam aos princípios e aos valores reconhecidos como fundamentais. Até mesmo as leis infraconstitucionais que foram escritas antes da própria Constituição devem ser norteadas a partir dela. Veja que nosso Código Penal foi escrito em 1940. Se faz, dessa forma, uma reinterpretação das normas anteriores sob o crivo da Carta Magna. 23 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Vale ressaltar que dessa forma os princípios que irão reger todas as normas de direito, sejam processuais ou não, devem estar em uníssono com os ditames constitucionais. Se a CF/1988 defi ne determinado princípio como estrutural do direito, esse passa a ser entendido assim também pelas outras normas. Veja que muitos princípios do processo penal você encontra em outros temas do direito, como o princípio da legalidade e o princípio da adequação social. Isso ocorre devido à amplitude desses valores, inseridos pela importância da Carta Maior. Os princípios são extremamente importantes, pois servem de baliza e de comprometimento de que os direitos mais importantes para o homem, como o princípio da dignidade da pessoa humana, da liberdade e da igualdade estão carreando o processo e não serão desrespeitados. O processo precisa dos princípios, pois, sem um norte, qualquer ato contrário a eles realizados no processo são capazes de invalidar toda a persecução penal. Vamos aos princípios do direito processual penal? • Princípio do devido processo legal Para que alguém seja privado de qualquer um de seus direitos pelo Estado, deve haver odevido processo legal. Esse é um dos freios do processo penal à atuação estatal e a sua sanha punitiva, estabelecido no artigo 5° LIV da CF/1988. O acusado deve ser ouvido pelo juiz competente da causa, ter acesso aos fatos e à defesa patrocinada por profi ssional capacitado, direito de manifestação de seu pensamento no processo, direito de revisão das sentenças condenatórias e, principalmente, de ser considerado inocente até que que prove o contrário, em sentença penal condenatória transitada em julgado. • Princípio da presunção da inocência ou da não culpabilidade É da própria redação constitucional, em seu artigo 5°, inciso LVII, que traz o ensinamento de que ninguém poderá ser considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Signifi ca que se presume inocente o acusado, até que provado em contrário em juízo e confi rmado em sentença condenatória transitada em julgado. Assim, o tratamento ao réu não deve antecipar uma possível sentença que confi rme a sua culpabilidade, mas deve ser visto como parte do processo como qualquer outra. • Princípio da imparcialidade do Juiz Por certo, você já ouviu falar em juiz parcial ou imparcial, não é mesmo? Digamos que o juiz imparcial seria aquele que não segue, de fato, as regras do jogo. Imaginem dois times de futebol em campo disputando a fi nal de um 24 Direito Processual Penal campeonato, tendo o árbitro apitando em benefício de uma agremiação apenas. Não daria certo, não é mesmo? A imparcialidade é aplicada assim que o magistrado tem a causa nas mãos, através da peça inicial acusatória. Ele não deve tomar partido através do escrito inicial e não deve ser motivado apenas pelas provas levadas a ele pelo inquérito policial. Deve analisar o caso em meio ao contraditório que as partes apresentam no processo. O magistrado é alheio ao processo e à persecução criminal; e, como sabemos, todos devem ser considerados iguais perante a lei. • Princípio do In dúbio pro reo Considerado como um dos mais essenciais princípios fundamentais do direito penal, o in dubio pro reo adentra o processo penal quando há a sentença judicial, motivada por uma certeza evidenciada nas provas trazidas em contraditório. Não tendo essa certeza ou havendo uma dúvida razoável quanto à culpabilidade do acusado na persecução, há o favorecimento do réu a partir do que não se conseguiu provar. Para condenar, deve estar plenamente comprovada a participação do acusado no crime, detalhando sua culpabilidade. Se houve inépcia, ou mesmo, o acusador não foi sufi ciente para provar que o réu é de fato culpado de algum crime, então a dúvida que recai sobre o processo deve assegurar a sua liberdade. Na dúvida agracia-se o réu. • Princípio da obrigatoriedade de motivações das decisões judiciais Aqui temos dois sentidos que devem ser estudados. O primeiro diz respeito à liberdade que o magistrado possui de, ao analisar as provas em um processo carreado pela ampla defesa e pelo contraditório, sentenciar conforme acreditar que deva. O juiz é livre para sentenciar através das provas que lhe foram apresentadas. Em um segundo sentido, essa liberdade de sentença deve ser motivada pela sua conclusão, livre e técnica. Assim, há a grande importância de entender as motivações que o juiz teve para julgar o processo da forma como ele julgou. Por se tratar de um tema trazido na própria constituição, o magistrado deve justifi car todas as suas decisões passo a passo. Ao expor suas razões, as partes podem entender as suas causas e a racionalidade do juízo. Isso também engloba o princípio da publicidade dos atos, que deve ser transmitido às partes, ocorre que aqui a importância de entender as motivações do juiz para sua sentença também tem importância técnica, em qualquer recurso que se ache devido. 25 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 • Princípio do Juiz natural Acolhe-se nesse princípio o direito do acusado em ser julgado por juiz competente, conforme artigo 5°, inciso LII da CF/1988, que assegura o julgamento através de autoridade competente. Também faz alusão de que não deve haver juízos extraordinários ou tribunais de exceção, que são constituídos após os fatos criminosos para julgá-los. Esses devem ser apreciados então pelo juízo natural, ou seja, por aquele que tem competência fi xada em lei para processar e julgar a controvérsia em questão. • Princípio da Igualdade Processual ou Princípio da isonomia processual O Princípio da Igualdade Processual ou Princípio da isonomia processual, ou até mesmo conhecido como princípio da paridade de armas, demonstra que, para o saudável andamento do processo penal, deve existir a isonomia das partes. O artigo 5° da CF/1988 já traz em seu caput a igualdade de todos perante a lei. Assim, o mesmo tratamento e disposição cedida para uma parte devem ser dados também a outra. • Princípio da publicidade Aqui é dever do Estado em dotar todos os seus atos praticados de transparência, ao mesmo tempo que cabe a ele fornecer todas as informações acerca do processo que forem requeridas pelas partes. Ainda assim, existe o sigilo quando necessário, garantido também por lei, quando for possível que a publicidade traga inconveniente perturbação da ordem pública, como consta no artigo 792 do CPP. Existem casos em que o ofendido no processo precisa ser preservado, como em casos envolvendo menores ou violência doméstica contra a mulher, podendo a justiça restringir a publicidade dos atos, como forma de não expor a vítima. Isso ocorre em casos em que se considera o segredo de justiça e deve ser decretado pelo magistrado. • Princípio do contraditório Um dos mais essenciais postulados do sistema, o princípio do contraditório afi rma o direito das partes de estarem a par de todos os passos do processo e de se manifestar a respeito de qualquer situação ocorrida, apresentando as provas que acreditem serem necessárias. O contraditório normalmente está em união com a ampla defesa, pois sem um não existe o outro. Ocorre que aqui as duas 26 Direito Processual Penal Ampla defesa não pode ser confundida como Plenitude de defesa. No rito do Tribunal do Júri, a garantia de plenitude de defesa está vinculada ao uso de outros argumentos que não apenas os técnicos para convencer o conselho de sentença (jurados), mas também podem ser usados argumentos sentimentais, sociais, culturais, de política criminal e até mesmo de criminologia para o convencimento. partes do processo são alcançadas, tanto acusador quanto acusado; cada um pode contradizer as provas trazidas pelo outro, lá a defesa ampla será admitida a quem se defende de alguma acusação. Mas veja que o princípio do contraditório alcança apenas o processo penal, em fase de instrução e julgamento, presidido por juiz competente. Ele não alcança outros procedimentos, como o inquérito policial, uma vez que este se trata de um procedimento inquisitorial e de investigação, sem a presença do contraditório ou mesmo da ampla defesa. • Princípio da ampla defesa É através do artigo 5° da CF/1988 que a ampla defesa foi consagrada como um dos essenciais requisitos para que exista um processo penal. Sem ela, torna- se nulo qualquer persecução em sua fase processual. Interligado ao princípio do contraditório, a ampla defesa diz respeito à possibilidade do acusado de se defender de tudo o que está sendo acusado, por todas as provas admitidas em direito, em que ninguém será condenado sem antes ter sido ouvido. Ainda faz parte de seu instituto o dever do Estado da prestação da assistência jurídica integral realizada de maneira gratuita àqueles que não podem arcar com as despesas de advogados particulares, conforme artigo 5°, inciso LXXIV. A ampla defesa deve ser observada também em fase de audiência, em que o processo e suas regras devem ser respeitadas em todas as suas formas. Aqui ela possui um importante fator a desempenhar, quando garante à defesa a manifestaçãoapós a acusação, bem como que suas testemunhas sejam ouvidas da mesma forma, após as testemunhas de acusação. Isso intenta preservar a paridade processual, através da defesa ter se manifestado sobre todas as acusações feitas pelo acusador. 27 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 • Princípio do duplo grau de jurisdição Abre-se aqui a possibilidade da interposição de recursos diversos e de ter a sentença revista em um outro grau de jurisdição, sempre superior. Os órgãos julgadores do poder judiciário podem realizar a revisão de sentenças proferidas pelos magistrados ordinários no processo. O direito de revisão é adequado ao duplo grau de jurisdição, uma vez que por esse trâmite a sentença pode vir a ser alterada, ou mesmo, mantida. • Princípio da ofi cialidade O princípio da ofi cialidade determina que incumbe ao Ministério Público, a partir de sua estrutura e sua entidade autônoma e independente, a promoção do processo penal, através do impulsionamento da persecução penal. O Estado deve assegurar o andamento do processo criminal, através do Código Processual Penal. • Princípio da obrigatoriedade Signifi ca que todos os órgãos que têm sua atuação na persecução penal são obrigados a desenvolver sua atuação, quando necessário. Como a persecução criminal possui aspecto público, não cabe aos seus personagens impugnar a sua participação no processo. Seja em fase de procedimento administrativo, como no inquérito policial através do delegado de polícia, ou em fase de processo penal, tendo como dirigente o magistrado em qualquer dessas fases, é impossível negar a participação e atuação, isso se deve ao monopólio que o Estado detém em apreciar o direito de todos e julgar os casos concretos. Veja, prezado pós-graduando, que a Lei nº 9.099/1995, a Lei dos Juizados Especiais, trouxe consigo caracteres despenalizadores com as infrações consideradas de menor potencial ofensivo. Com isso, abriu-se a possibilidade da ação penal privada, em que a titularidade da ação cabe aos particulares. Aqui o que existe é o princípio da oportunidade, uma vez que cabe à vítima ou ao seu representante legal iniciar a persecução penal, mas não ao Estado, que fi ca desobrigado nos casos particulares de menor potencial ofensivo. 28 Direito Processual Penal • Princípio da indisponibilidade Decorrente do princípio da obrigatoriedade, signifi ca que os atos procedimentais ou processuais penais, sejam eles em fase de inquérito (procedimento administrativo, como veremos logo mais), ou de processo estabelecido no contraditório e na ampla defesa (fase jurisdicional), não podem ser cessados ou abandonados pelo Estado. O delegado não pode arquivar o inquérito, segundo artigo 17 do CPP; o promotor de justiça não deve desistir de uma ação sob seu controle, segundo o artigo 42 do CPP; e o magistrado não deve deixar de sentenciar. • Princípio do tempus regit actum A lei processual penal não retroage, diferentemente da lei penal que poderá retroagir em benefício do réu. No processo penal, o tempo irá reger o ato, o que signifi ca que assim que for utilizada a lei penal, será aquela que está válida no ordenamento naquele momento. Sua aplicação então é imediata. • Princípio do impulso ofi cial Quando o processo é instaurado e o juiz recebe a peça inicial de acusação, seu dever é fazer com que a persecução siga seu rito corretamente até o seu devido fi m. O ato do agendamento das audiências, dos prazos cedidos às partes (prazos esses que são encontrados no CPP) e as intimações diversas impulsionam e movimentam o processo em direção à sua conclusão. Não deve haver aqui a inércia do juiz. • Princípio da verdade real Nesse ensinamento, o princípio identifi ca como essenciais as provas do processo penal para que o juiz possa defi nir, através de sua análise, como irá dizer o direito. Assim, a verdade real recai em todos os atos e procedimentos, desde a investigação policial através de um inquérito competente, até as audiências realizadas em juízo. Para isso, as provas trazidas devem ser as mais completas possíveis, relatando os fatos criminosos pretéritos, de forma que possa existir a convicção do julgador através delas. 29 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Uma das obras mais proeminentes e importantes do mundo que versam sobre um processo criminal que ocorre de maneira obscura é, sem sombra de dúvidas, O Processo, do escritor tcheco Franz Kafka. Escrito em 1925, o romance detalha o que um processo às cegas é capaz de fazer com o seu personagem principal, que é o acusado. A distopia do processo narrado é evidenciada por uma persecução sem sentidos, regras confusas e, ainda, sem especifi car o crime pelo qual se está acusando. O livro ganhou notoriedade com o crescimento dos estudos do Processo Penal no mundo do direito e é hoje uma das obras mais importantes de Franz Kafka. FIGURA – CAPA DE O PROCESSO Um exemplo disso é que as provas ilícitas devem ser retiradas do processo, por limitarem o alcance da verdade real, que somente pode ser alcançada através do devido processo legal, que aceita apenas provas válidas e lícitas. FONTE: <https://www.lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_ produto.asp&CategoriaID=816351&ID=607064>. Acesso em: 15 out. 2021. 30 Direito Processual Penal 3.3 APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL Interpretar a norma processual penal pode ter sentidos diferentes, a partir do prisma que ela é enxergada. Veja que, quando o legislador a escreve, já possui a sua interpretação para a lei, realizada pelo fato da sua elaboração. Esse tipo de interpretar a lei é conhecido nos meios acadêmicos de direito como a interpretação autêntica ou legislativa. Também pode ser interpretada pelos estudiosos do direito, em uma interpretação doutrinária. No entanto a interpretação que estamos mais interessados é aquela que trará uma modifi cação do mundo dos fatos, conhecida por interpretação judicial, realizada pelas decisões dos magistrados em cada caso concreto. Ele pode decidir através da sua interpretação dos fatos levados ao processo e, como você sabe, deve fundamentar em sua sentença os motivos de ter escolhido a interpretação utilizada. Entretanto, pode-se interpretar a lei processual penal de variadas formas. A conhecida intepretação gramatical é assim chamada por trazer o signifi cado literal da norma, compreendendo a letra da lei em sua forma inicial, levando em conta o sentido real das palavras usadas pelo legislador. Nessa forma de interpretar, segue-se o texto sem interferência de outros postulados, pensamentos ou fi losofi as. No entanto, o artigo 3° do CPP apresenta que “a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito” (BRASIL, 2020, p. 21, grifo nosso). Você percebeu que a própria lei enfoca a interpretação extensiva e a analogia? Vamos tratar primeiro da extensão interpretativa. O intuito da lei nesse caso é estender a compreensão do intérprete, em razão da vontade da lei, ampliando o seu alcance. Há o entendimento aqui de que o legislador escreveu menos do que queria ter escrito e o interprete pode ampliar então o seu entendimento da norma. Um exemplo disso é evidenciado pelo artigo 34 do CPP que diz: “Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal” (BRASIL, 2020, p. 68). Aqui a norma processual penal nada diz sobre o caso de o ofendido menor de 18 anos não possuir representante legal algum, mas o juiz pode estender a sua interpretação, acreditando que o legislador queria ter dito que, no caso, o magistrado poderá nomear um curado especial, mas não disse. Nesse sentido, o juiz nomeará o curador especial, motivado por sua interpretação extensiva da norma. 31 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Como fi ca a questãoda analogia para o direito processual penal? Analogia signifi ca que quando não existe uma norma que trate do assunto em especifi co, o juiz pode utilizar de outra análoga, ou mesmo, de outros casos ou julgados que sejam semelhantes ao que está analisando. No direito penal é proibida a analogia, via de regra. Ocorre que há a exceção que diz ser permitida a analogia apenas quando ela é favorável ao réu, reconhecida como analogia in bonam partem. Assim, para o direito penal, qualquer outro tipo de analogia não será permitido, pois se trata de normas penalizadoras da conduta humana e, por consequência, da possível restrição de direitos diversos, entre eles a liberdade. Todavia no direito processual penal a analogia é admitida, tanto in bonam partem, quanto in malam partem, ou seja, tanto para o bem para o réu quanto para seu mal, pois não versamos aqui sobre normas penalizadoras, mas sim de regras processuais. Nucci (2014, p. 38) assevera que “no processo penal, a analogia pode ser usada contra ou a favor do réu, pois não se trata de norma penal incriminadora, protegida pelo princípio da reserva legal, que exige nítida defi nição do tipo prévio em lei”. Dessa forma, para o direito processual penal, a interpretação judicial das regras do processo pode ser extensiva e também pode ser utilizada a analogia pelo juiz da causa. 3.4 A NORMA PROCESSUAL PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO Um fato reconhecido pelo direito é que as normas jurídicas estão interligadas diretamente ao tempo e ao espaço, determinando-se através deles em cada uma de sua aplicação. Nesse sentido, elas agem em algum território e em determinado tempo. Dessa forma, vamos analisar a lei processual no tempo e no local de atuação (espaço). • Lei processual no tempo Um fato reconhecido pelo direito é que as normas jurídicas estão interligadas diretamente ao tempo e ao espaço, determinando-se através deles em cada uma de sua aplicação. Nesse sentido, elas agem em algum território e em determinado tempo. Da mesma forma, as normas processuais possuem 32 Direito Processual Penal efi cácia imediata, no tempo em que estão sendo utilizadas. Já no segundo artigo do nosso CPP podemos encontrar a seguinte redação: Art. 2. “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior” (BRASIL, 2020, p. 3). Signifi ca então que ela possui aplicabilidade imediata, da mesma forma que é considerada irretroativa. Nesse efeito, não há retroatividade na lei processual, o que nos leva direto ao famigerado jargão latim que identifi ca o princípio tempus regit actum, ou o tempo rege o ato, como vimos nos princípios anteriores. Lopes Jr. (2019, p. 63) explica de forma impecável: Assim, se no curso do processo penal, surgir uma nova lei exigindo que as perícias sejam feitas por três peritos ofi ciais, quando a lei anterior exigia apenas dois, deve-se questionar: a perícia já foi realizada? Se não foi, quando for levada a cabo, deverá sê-lo segundo a regra nova. Mas, se já foi praticada, vale a regra vigente no momento de sua realização. A lei nova não retroage. Normas que contenham conteúdo exclusivamente processual não são capazes de infl uenciar uma forma ou outra na análise do caso concreto, na liberdade do sujeito, ou mesmo, em benefi ciar de algum modo o acusado. Por esse motivo elas possuem efeitos imediatos quando entram em vigor. Um exemplo utilizado pela doutrina é no caso da alteração do número de testemunhas aceitas para o processo (processualmente cada parte pode arrolar somente oito testemunhas na instrução, segundo o artigo 401 do CPP), ou mesmo, alterar as formas de entrega da citação, desde que cumpra seu principal efeito que é chamar ao processo. Esses atos não intervêm de forma alguma no processo em si, portanto modifi cáveis a qualquer tempo, sem prejuízo de parte alguma constante no processo. Todavia, note que existem dentro do processo penal as normas mistas ou híbridas que tratam de conteúdo processual de fato, mas que também possuem liames penais, como a prisão em fl agrante, a liberdade provisória e a fi ança. Uma boa parte da doutrina entende-as como normas heterotópicas, pois tratam tanto de ordem material quanto processual, mistas portanto. Quanto a essas, caso surjam normas processuais mais benéfi cas, podem sim retroagir em benefício do réu, pois versam sobre sua liberdade. Entretanto, se uma alteração for realizada no CPP que seja prejudicial ao réu, ela deve ter seu efeito imediato, ainda assim, isso se deve, pois, o princípio da irretroatividade não rege o processo penal, apenas o direito penal. As normas do processo possuem então, aplicação imediata. 33 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Importante: a lei processual possui caráter de instrumentalização do processo apenas, ela é, portanto, um meio para o saudável caminhar processual. QUADRO 2 – PRINCIPAIS DESTAQUES Lei Penal Retroage em benefício do réu. Lei Processual Penal Não retroage. O tempo rege o ato. Exceção Retroage em normas que possuam refl exos penais, normas mistas como a prisão em fl a- grante, por exemplo. FONTE: O autor • Lei Processual no Espaço É justamente pelo princípio da territorialidade que abre o Código de Processo Penal. Veja: Art. 1°. O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, nº 17); V - os processos por crimes de imprensa. Vide ADPF nº 130. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos números IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso (BRASIL, 2020, p. 21). O artigo anterior determina que a regra para o direito processual penal é o princípio da territorialidade. Isso signifi ca que a norma vigente no território em que ela está sendo analisada deve ser aplicada. Quando o legislador entendeu que o processo penal rege-se em toda a extensão do Brasil, ele cria o princípio de que dentro de nossas fronteiras há a autoridade do processo penal e a consequente soberania do Estado. 34 Direito Processual Penal Assim, a aplicação do processo nacional em questão penal pode somente ser feita dentro do nosso território. Mas ainda assim existem algumas exceções, que determinam locais e situações em que a lei processual penal brasileira pode agir fora de suas fronteiras, são elas: • Quando há a aplicação processual penal em algum território considerado nullius, ou nulo, em que não há intervenção ou nenhum Estado considerado soberano (TOURINHO FILHO, 2007). • Quando o Estado estrangeiro explicitamente autorizar que lei processual penal nacional seja aplicada em seu território. • Em caso de guerra declarada, na ocupação de algum território que não pertença ao País. A territorialidade é ampla em seus aspectos e sentidos. Entretanto, quando determina que um ato criminal ocorrido fora do Brasil e o país através do processo penal solicite requerimentos à autoridade competente do país estrangeiro, tais quais, interrogatório, oitiva de testemunha, intimação ou citação, essas atividades serão exercidas conforme preza a lei processual local, mas não a brasileira. Da mesma forma, se um Estado estrangeiro solicitar que alguma demanda processual penal seja realizada no Brasil, serão as leis processuais penais nacionais as que irão reger o procedimento. Entretanto, conforme inciso I do artigo que você analisou acima, os tratados, convenções e regras de direito internacional são interpretadosconforme o artigo 5°, inciso 4 da CF/1988, que entende que o “Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão” (BRASIL. 2002, p. 35). Essa é uma das ações que fogem à regra de que “todo e qualquer processo que venha a surgir no território nacional deva ser solucionada consoante as regras do Código de Processo Penal” (LIMA, 2011, p. 91). Alguns personagens como chefes de governo estrangeiro ou Estado forasteiro, suas famílias e membros das comitivas, embaixadores, funcionários do corpo diplomático, funcionários pertencentes à Organização das Nações Unidas ou Organização dos Estados Americanos, que estejam realizando atividades em nosso território, caso cometam algum ilícito penal, podem responder em seu país de origem pelo crime praticado aqui. Isso ocorre, pois eles possuem imunidade diplomática, conferida pela Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, internalizada no direito nacional através do Decreto nº 56.435/1965 (LIMA, 2011). Os incisos IV e V do artigo 1, que estamos analisando, não foram recepcionados pela Constituição em 1988, mas continuam presentes no texto da lei, pois podem ser aplicados processos nos casos excepcionais através das 35 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 normas da legislação comum, como o Direito Penal, Civil ou outro que for chamado ao processo. É importante você saber que os crimes de imprensa através da Lei nº 5250, que foi escrita em 1967, não foi recepcionada pela CF/1988. No caso dos processos da competência do tribunal especial, que constam no inciso IV, estes não são aplicáveis uma vez que os Tribunais Especiais, como o antigo Tribunal de Segurança Nacional, criado pela CF de 1937, não mais existem e nem foram recepcionados pela nossa CF de 1988, da mesma forma. Restam as demais exceções, que são: • O inciso II indica as prerrogativas de função do chefe do poder executivo e dos ministros do STF, em que não são aplicadas as regras do CPP em caso de persecução penal, mas tratadas de maneira específi ca. Compete, segundo o artigo 52 da CF/1988, em seus incisos I e II, de forma privativa, ao Senado Federal, processar e julgar o Presidente da República, seu Vice-Presidente, os Ministros de Estado e Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Ministros do STF e Procuradores gerais da República também serão julgados pelo Senado Federal. • É pelo inciso III que fi ca declarada a exceção para os crimes cometidos por Militares, pois para eles existe o código próprio para esses julgamentos e processos, que é o Código Penal Militar, o que exclui a atuação do nosso Código de Processo Penal. No entanto, os crimes comuns do Presidente da República, seu vice presidente e os juízes membros do Supremos Tribunal Federal seriam processados pelo CPP? No caso do presidente da república e seu vice, em casos de infrações ou crimes penais comuns, esses que são tratados pelo Código Penal ou lei outra penalizadora, serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o artigo 86 da CF/1988. Nos outros casos, conhecidos como crimes de responsabilidade dentro da função de funcionário público, contra a administração pública, serão julgados pelo Senado Federal. Já os ministros do STF, em caso de infração penal comum, serão julgados pelos seus pares, conforme artigo 102, inciso I, alínea B da CF/1988. O Direito Penal adota a Teoria da Ubiquidade. Essa considera o lugar do crime tanto o lugar da ação ou da omissão quanto o lugar em que se produziu o resultado, segundo artigo 5° do CP. Todavia, por sua conta, o CPP, para resolver problemas de competência de investigação ou de processo dentro do Estado brasileiro, adotou em seu artigo 70 o seguinte: “A competência será, de regra, determinada pelo lugar em 36 Direito Processual Penal que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução” (BRASIL, 2020, p. 82). Signifi ca que o Código de Processo Penal atenta-se ao resultado da infração penal, para que naquele local em que ele ocorreu, passe a valer também a sua competência. Se o crime ocorreu na cidade A, será lá a competência para a fase investigatória e para o processo, através do julgamento. Como fi cam as embarcações, o CPP versa sobre crimes ocorridos em navios em alto mar ou em aviões planando em grandes altitudes? Se o crime ocorrer nesses locais, como ele avalia a competência para o processo e seus procedimentos? Veja, quando o legislador impôs todo o território brasileiro no artigo 1° do nosso CPP, quis também incluir aí as embarcações e aeronaves. Em uma interpretação extensiva, dizemos que navios que estiverem a serviço do governo brasileiro, que se encontrem em alto mar ou aviões em espaços aéreos internacionais, mas que pertençam às companhias aéreas brasileiras, será competente para julgar crimes nesses ambientes e processar através de suas regras o CPP. Mas ainda há a questão da competência, não é mesmo? Você pode se perguntar: qual juízo irá julgar, sendo que o Brasil possui 26 Estados e 1 Distrito Federal? Essa é fácil! Está descrito inclusive, nos artigos 89 e 90, veja: Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado (BRASIL, 2020, p. 89, grifo nosso). e Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e julgados pela justiça da comarca em cujo território se verifi car o pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a aeronave (BRASIL, 2020, p. 89, grifo nosso). Para a competência do Código de Processo Penal, então a regra é que esteja em território brasileiro, mas quais são as suas medidas para avaliar se compete ou não ao direito nacional? Nesse sentido, o território abrange: 37 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Vamos praticar um pouco o conhecimento adquirido? 1 Você analisou os princípios do direito processual penal e percebeu que através deles o processo intenta se tornar também mais humanizado, intervindo através de seus institutos de proteção, em casos de violação dos direitos da dignidade da pessoa. No caso dos princípios é correto afi rmar: a) ( ) A ampla defesa e o contraditório são princípios que diferem, mas que interpretam que réu acusado sem provas deve ser considerado inocente. b) ( ) É vedado ao juiz fundamentar sua decisão em provas levadas aos autos apenas pelo inquérito processual uma vez que esta não é a fase da produção do contraditório. c) ( ) Quando há dúvidas razoáveis, o processo deve retornar à fase inicial de inquérito, respeitando o princípio in dubio pro reo. d) ( ) A ampla defesa e o contraditório devem ocorrer desde o início, para serem consideradas, isso inclui tanto o processo penal em sua instrução e julgamento, quanto em investigação iniciada em inquérito policial. • Rios, lagos, baías e golfos, no instituto conhecido por águas interiores. • Mar territorial: o Artigo 1° da Lei nº 8.617/1993 dispõe que é a faixa ao longo da costa, que inclui o leito e o subsolo (plataforma continental) e que se refere a 12 milhas náuticas (correspondente a 22 Km) da costa. • Espaço aéreo: o Brasil exerce sua soberania de forma plena e exclusiva sobre o espaço aéreo acima do seu território e de seu mar territorial, visto anteriormente. O artigo 11 da Lei nº 7.565/1985, o Código Brasileiro da Aeronáutica, diz que a soberania nacional se estende ao mar territorial, ao espaço sobrejacente, da mesma forma que ao solo e aoseu subsolo. Você sabia que existe também o crime em trânsito? Diferentemente de crimes de trânsito (que ocorrem no trânsito das cidades e são regulados pelo Código de Trânsito Brasileiro), os crimes em trânsito são aqueles decorrentes da passagem do ato criminoso entre dois Estados soberanos. Digamos que o trafi cante traga seu produto ilícito da Argentina ao Brasil, mas com o intuito de levá-lo ao México. Nesse caso, a competência também será do CPP, para julgar o criminoso em caso de processo ou persecução penal instaurada. 38 Direito Processual Penal 2 Quanto ao tempo e espaço no crime, institutos importantes para defi nir competências e jurisdição no direito processual penal, responda V para as Verdadeiras e F para as questões que considere Falsas: a) ( ) A teoria da ubiquidade, pertencente ao processo penal, importa para defi nirmos que o local do crime determina a competência para os procedimentos penais. b) ( ) Crimes cometidos em embarcações nacionais em alto mar e em território internacional serão julgados e reconhecidos como estrangeiros pelo processo nacional por não estarem em terras brasileiras. c) ( ) Crimes comuns cometidos pelo Presidente da república e seu Vice deverão ser julgados pelo Supremos Tribunal Federal e os crimes de responsabilidade serão julgados pelo Senado Federal. d) ( ) Crimes comuns cometidos por juízes do STF serão julgados pelo Senado Federal, por ser uma casa autônoma e distante do STF. e) ( ) A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consuma a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução, pelo CPP. 3 Você percebeu quantos princípios temos no processo penal? Eles são muito importantes, como você pode perceber. Disserte sobre a importância dos princípios do direito processual penal, tanto para o processo quanto para seus personagens. 4 OS SISTEMAS DO PROCESSO PENAL Ao substituir a vingança privada ou a justiça com as próprias mãos, o Estado passou a aplicar as punições aos cidadãos que praticarem atos ilícitos. No entanto, ainda no início desse conceito, era possível encontrar estados que aplicavam normas penalizadoras apenas para a manutenção do poder do seu monarca, ditador, autocrata e até mesmo do clero (LÉVI-STRAUSS, 1999). O direito penal poderia servir aos gostos dos controladores estatais, para punição de seus opositores. Para o iluminismo que se abria no século XVIII, com o pretenso desejo de deixar as Idades Médias para trás, com ideias e princípios humanistas, 39 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 era preciso controlar esse poder do governante em penalizar e o mais importante: em saber quando se deve/precisa penalizar. Como você já estudou anteriormente, foi com Cesare Beccaria e sua obra Dos delitos e das Penas, de 1764, que se iniciam tratativas a um período balizado por estudos mais organizados acerca da penalização pelo Estado. A Escola Clássica da Criminologia, que nessa época se iniciava, trazia em seus conceitos as máximas dos revolucionários franceses, a partir do desenvolvimento de analises pautadas tanto na forma da penalização como dos métodos para se comprovar a possibilidade de realmente penalizar qualquer indivíduo. O Código de Processo Penal surgiu com o intuito de evitar a punição desenfreada, realizada de qualquer forma, pelo órgão julgador. Sem a infl uência e interferência de outros órgãos, pessoas e fi losofi as, o processo deveria ocorrer a partir de métodos e normas de conduta. No ordenamento jurídico nacional, nosso CPC surgiu em 1941 e até os dias de hoje vem sendo modifi cado naquilo que há a necessidade de ser alterado, haja vista a evolução das situações diversas que carreiam o mundo jurídico. Mas qual o sistema adotado pelo Código de Processo Penal, para que seus métodos surtam efeitos no mundo real dos procedimentos diversos? Antes de responder a essa questão, precisamos entender o processo como um conjunto de elementos organizados previamente. O dicionário Houiass desenvolve bem o conceito de sistema, que pode ser utilizado ao processo: Estrutura que se organiza com base em conjuntos de unidades interrelacionáveis por dois eixos básicos: o eixo das que podem ser agrupadas e classifi cadas pelas características semelhantes que possuem e o eixo das que se distribuem em dependência hierárquica ou arranjo funcional (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2585). Os elementos mais comuns utilizados pelo processo formam uma unidade que podemos considerar como sistemas, que defi ne através de métodos de uso formulados por regras básicas, os conceitos de cada tópico do processo. Rangel assegura que o sistema processual penal formaliza “o conjunto de regras” que a partir dos mandamentos e princípios constitucionais, “estabelece as diretrizes a serem seguidas à aplicação do direito penal a cada caso concreto” (RANGEL, 2010, p. 49). Na intepretação de Pontes de Miranda, insere-se ao conceito de sistema as normas processuais penais: Sistemas jurídicos são sistemas lógicos compostos de proposições. Essas proposições, as regras jurídicas, preveem que tais situações ocorrem e incidem sobre elas, como se 40 Direito Processual Penal as marcassem. De fato, para quem está no mundo em que operam essas proposições, as regras jurídicas fazem parte e marcam o que se considera jurídico, e por exclusão, o que não há de se considerar jurídico (PONTES DE MIRANDA, 1972, p. 58). Dessa maneira, surgido o sistema através de normas processuais, eles nem sempre foram similares na história, que através de sua passagem nos trouxe outras formas de enxergar e identifi car o processo penal. Existem três sistemas de atuação do processo penal. São eles: o sistema inquisitório, o sistema acusatório e o sistema misto. Vamos a eles? 4.1 SISTEMAS PROCESSUAIS Existem três sistemas de atuação do processo penal. São eles: o sistema inquisitório, o sistema acusatório e o sistema misto. Vamos a eles? • O Sistema Inquisitório A própria nomenclatura já demonstra sua origem. A inquisição foi composta a partir dos tribunais eclesiásticos e teve seu surgimento no período considerado da Baixa Idade Média, no início do século XII. A persecução criminal da época se concentrava na Santa Inquisição, que era movimentada através do direito canônico. Nesse período, como você viu, alguns manuais foram desenvolvidos por ordem do clero, que dessem a aparência de normas e métodos para identifi cação e julgamentos de pessoas consideradas risco para a sociedade, através dos olhos da igreja e do monarca, que passaram a ter o total poder nos processos de penalização. Rangel defi ne isso muito bem: Surgiu nos regimes monárquicos e se aperfeiçoou durante o direito canônico, passando a ser adotado em quase todas as legislações europeias dos séculos XVI, XVII e XVIII. Surgiu com sustento na afi rmativa de que não se poderia deixar que a defesa social dependesse da boa vontade dos particulares, já que eram estes que iniciavam a persecução penal no acusatório privado anterior. O cerne de tal sistema era a reivindicação que o Estado fazia para si do poder de reprimir a prática dos delitos, não sendo mais admissível que tal repressão fosse encomendada ou delegada aos particulares (RANGEL, 2010, p. 193). 41 DIREITO PROCESSUAL PENAL Capítulo 1 Ordálios eram os juízos de Deus. Eles se perfaziam em provas judiciárias utilizadas para provar a culpa ou inocência do acusado, utilizando elementos da natureza como o fogo ou a água para interpretar os resultados como sinais do divino. Surgida a partir dos tribunais eclesiásticos, inúmeros ordálios eram muito violentos e geralmente tinham a intenção de comprovar a culpa, pois seu uso somente daria respostas indutivas para uma determinada e já programada culpa do acusado. Dê uma olhada no texto a seguir para ver como funcionavam as ordálias. Com o fortalecimento das monarquias
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