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Curitiba 2022 Elementos de Máquinas Ana Rita Villela Costa _Livro_Elementos de Máquinas.indb 1_Livro_Elementos de Máquinas.indb 1 20/05/2022 14:08:1620/05/2022 14:08:16 Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. C837e Costa, Ana Rita Villela Elementos de Máquinas / Ana Rita Villela Costa. – Curitiba: Fael, 2022. 296 p. ISBN 978-65-990685-2-2 1. Máquinas - Projetos I. Título CDD 621.816 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Valmera Fatima Simoni Ciampi Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Ser Educacional Arte-Final Hélida Garcia Fraga 00_Element_Maq.indd 200_Element_Maq.indd 2 20/05/2022 14:38:3020/05/2022 14:38:30 Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução aos elementos de máquinas | 7 2. Elementos de transmissão de potência | 31 3. Transmissão por correias | 55 4. Transmissão, eixos e árvores | 81 5. Transmissão por engrenagens cilíndricas | 107 6. Transmissão por engrenagens cônicas e coroa sem-fim | 135 7. Elementos elásticos: molas | 159 8. Embreagens, freios e acoplamentos | 187 9. Elementos de fixação | 213 10. Elementos de apoio | 237 Gabarito | 263 Referências | 293 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 3_Livro_Elementos de Máquinas.indb 3 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 4_Livro_Elementos de Máquinas.indb 4 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 Prezado(a) aluno(a), Cada página desse livro foi pensada para que você, estu- dante, possa compreender melhor os conceitos de elementos de máquinas. Esses elementos são amplamente utilizados em boa parte das máquinas e equipamentos que utilizamos na indústria e em nosso dia a dia. Podemos dividi-los em “famílias”, sendo elas: a de elemen- tos de transmissão de potência, a de elementos elásticos, a de elementos de fixação e a de elementos de apoio. Começamos a nossa jornada conhecendo melhor os componentes de cada famí- lia, com suas peculiaridades e suas principais aplicações e carac- terísticas. Partimos então para os conceitos de cargas variáveis, Carta ao Aluno _Livro_Elementos de Máquinas.indb 5_Livro_Elementos de Máquinas.indb 5 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 – 6 – Elementos de Máquinas fadiga e concentração de tensão. Esses conceitos são importantes para compreendermos melhor o dimensionamento dos componentes. Os elementos de transmissão de potência podem ser de dois tipos: flexíveis e rígidos, sendo que nos flexíveis estão as correias e nos rígidos estão os eixos, as engrenagens, os freios, as embreagens e os acoplamen- tos. Todos eles foram explorados em suas aplicações e no seu dimensio- namento e seleção. As molas são consideradas elementos elásticos e têm ampla aplica- ção na indústria e no nosso dia a dia. Para se ter uma ideia, utilizamos as molas desde camas elásticas até válvulas de segurança. Elas podem ser de compressão, de tração ou de torção e há diversos tipos no mercado. Nesse livro você vai conhecer diversas delas. Os elementos de fixação são aqueles responsáveis por unir duas ou mais peças, e podem ser de fixação permanente ou de fixação móvel. Os mais conhecidos são os parafusos, as porcas, os rebites e as soldas. Por fim, vamos tratar dos elementos que têm a função de apoio, sendo os mais conhecidos os mancais de rolamento e os mancais de desliza- mento, mas há também as buchas e guias. É com essa proposta que convido você a conhecer mais a fundo os elementos de máquinas, que estão presentes em muitas máquinas, equipa- mentos e ao nosso redor. A autora. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 6_Livro_Elementos de Máquinas.indb 6 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 1 Introdução aos elementos de máquinas Alguma vez você já planejou fazer uma viagem ou comprar um carro? Se ainda não, em breve poderá precisar pensar em algo assim. No desenvolvimento de um novo produto, tudo começa com o projeto. Mas o que é projeto? É aquilo que tem início, meio e fim. Os projetos podem ser bem definidos no início ou podem ter algumas incertezas a serem definidas durante o desen- volvimento, mas um fato é certo: um bom projetista deve ter a capacidade de tomar decisões. Neste capítulo, vamos conhecer um pouco mais de projeto de máquinas e tratar de fatores de segurança e critérios de resistência. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 7_Livro_Elementos de Máquinas.indb 7 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 Elementos de Máquinas – 8 – 1.1 Introdução ao projeto de máquinas O PMBOK é considerado a “Bíblia do conhecimento em gerencia- mento de projetos”, sendo a base de conhecimento do Project Manage- ment Institute (PMI), que tem mais de 500 mil associados em mais de 180 países. A primeira versão oficial do PMBOK foi lançada em 1987, estando atualmente na sexta versão (2017). Esse material define projeto como um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único. O término do projeto pode ser determinado quando os objetivos forem alcançados, quando não for mais possível alcançá-los ou, ainda, quando o projeto não tiver mais serventia. Os projetos de engenharia envolvem, basicamente, todas as discipli- nas vistas no curso. Por exemplo, o projeto de um mancal de rolamento envolve fenômenos de transporte, atrito, seleção de materiais, processos de fabricação, lubrificação, cálculos numéricos, entre outros. Cada com- ponente a ser projetado envolve um vasto conhecimento de várias áreas, mas o projeto é elaborado em etapas até se chegar a um projeto pronto. Pode-se dizer que as etapas acontecem conforme a Figura 1.1. Figura 1.1 – Etapas do projeto Fonte: elaborada pela autora. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 8_Livro_Elementos de Máquinas.indb 8 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 – 9 – Introdução aos elementos de máquinas Começamos com a identificação de uma necessidade, que pode ser um problema em uma máquina existente ou a criação de uma nova máquina ou de um sistema. Com a necessidade identificada, partimos para a definição do problema, em que devem ser definidas as características do projeto, as entradas, as saídas, o espaço que irá ocupar etc. Com isso, inicia-se a sín- tese, que é também chamada de projeto conceitual, em que são definidos os conceitos fundamentais, como as principais dimensões, o material e o pro- cesso de fabricação. Nessa etapa, várias possibilidades podem ser testadas, modificadas, descartadas e refeitas, sendo muito importante no projeto, pois é como se fosse a concepção dele. A fase de análise e otimização, apesar de se mostrar linear na figura, está intimamente ligada à etapa de síntese, pois pode se repetir diversas vezes até se chegar a um conceito ideal. Chegando ao conceito, a próxima fase é fazer uma avaliação em que protótipos e modelos devem ser testados e analisados para garantir a quali- dade do projeto. Deseja-se responder às perguntas: o produto é confiável? É viável economicamente? A manutenção é possível? Entre outros ques- tionamentos (BUDYNAS, 2011). Após todas essas etapas, chega a hora de “vender o peixe”, ou seja, fazer a apresentação do projeto ao cliente (podendo ser externo ou interno). Essa etapa é muito importante, pois se o projeto não for aprovado todo o trabalho terá sido em vão. 1.1.1 Considerações de projeto Os elementos mecânicos têm algumas características que devem ser levadas em consideração na elaboração do projeto. A resistência mecâ- nica, por exemplo, pode afetar o elemento e até mesmo todo o conjunto. O Quadro 1.1 apresenta algumas dessas considerações de projeto (que não estão em ordem de importância). Quadro 1.1 – Considerações de projeto Funcionalidade Confiabilidade Vida útil Lubrificação Resistência/ tensão Fabricabilidade Ruído Manutenção Distorção/ rigidez Utilidade Estilo Volume _Livro_Elementosde Máquinas.indb 9_Livro_Elementos de Máquinas.indb 9 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 Elementos de Máquinas – 10 – Funcionalidade Confiabilidade Vida útil Lubrificação Desgaste Custo Forma Propriedade térmicas Corrosão Atrito Tamanho Reciclável Segurança Peso Controle Reuso Fonte: elaborado pela autora. Outras considerações podem ser identificadas no decorrer do desen- volvimento do projeto. 1.1.2 Elaboração do projeto Nos anos 1990, os desenhos técnicos eram elaborados manualmente, com o uso de lápis, papel e uma mesa especial chamada de prancheta. Atu- almente, os desenhos de projeto são elaborados com o uso de ferramentas computacionais. 1.1.2.1 Ferramentas computacionais Computed Aided Design (CAD) nada mais é que desenho assistido por computador. Mas o que é isso? É uma forma de realizar um desenho técnico com a ajuda de um computador, que surgiu lá pelos anos 1960 com o editor gráfico chamado Sketchpad, criado pelo cientista Ivan Suther- land, funcionando com um tipo de caneta que desenhava direto na tela da máquina. Os programas evoluíram, e hoje há alguns exemplos mais utilizados: AutoCAD, SolidWorks e Catia. Além do desenho assistido por computador, há a possibilidade de realizar simulações e testes em modelos por meio de Computer Aided Engineering (CAE), sendo o CAD considerado um subcon- junto do CAE. Alguns tipos de programa aptos a fazer simulações são análise por elementos finitos (FEA), que são capazes de realizar análises de tensão e deflexão, programas de dinâmica dos fluidos (CFD++, FIDAP e Fluent), programas para análise de transferência de calor (ANSYS) e para simulações de forças dinâmicas e movi- mento de mecanismos (ADAMS). _Livro_Elementos de Máquinas.indb 10_Livro_Elementos de Máquinas.indb 10 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 – 11 – Introdução aos elementos de máquinas Cabe ressaltar que o computador é apenas uma ferramenta para auxi- liar no “trabalho pesado”, mas não substitui o raciocínio humano, por isso precisamos conhecer os conceitos por trás dos programas e dos aplicativos disponíveis para podermos elaborar os projetos de engenharia. 1.1.3 Processamento de soluções Quando for necessária a apresentação de uma solução para um pro- blema, Budynas (2011) recomenda as etapas mostradas na Figura 1.2. Figura 1.2 – Processamento de soluções Fonte: elaborada pela autora. Na primeira etapa (entenda o problema), deve-se compreender per- feitamente o enunciado do problema. Na próxima etapa (identifique o conhecido), listar as informações conhecidas e relevantes. Na terceira fase (identifique o desconhecido), enumerar o que precisa ser determinado para se chegar a uma solução, elaborando um planejamento. Na fase seguinte (enuncie as hipóteses e decisões), levantar as hipóteses possíveis para solucionar o problema. Na quinta fase (analise o problema), utilizar o pla- nejamento e as hipóteses levantadas, pesquisando tabelas, equações e rea- lizando os cálculos necessários, atestando a credibilidade da solução. Por fim (apresente sua solução), ter habilidade para apresentar a solução de forma que os interlocutores fiquem interessados em colocá-la em prática. Caso os resultados tenham sido insatisfatórios algumas etapas, estas podem ser repetidas mais de uma vez, já que os processos são interativos e iterativos. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 11_Livro_Elementos de Máquinas.indb 11 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 Elementos de Máquinas – 12 – 1.1.4 Fontes de pesquisa Para a realização dos cálculos e das definições das considerações de projetos, certos dados precisam ser consultados. Na Engenharia, algumas informações são normalizadas, definidas por normas técnicas nacionais ou internacionais. A família de normas nacionais mais conhecida é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); já as normas internacionais são diversas, e as instituições mais relevantes que as defi- nem estão listadas no Quadro 1.2. Quadro 1.2 – Associações internacionais de normas técnicas Sigla Descrição AA Aluminunn Association AGMA American Gear Manufacterers Association AISC American Institute of Steel Construction AISI American Iron and Steel Institute ANSI American National Standard Institute ASME American Society of Mechanical Engineers ASTM American Society of Testing and Materials AWS American Welding Society ISO International Standards Organization SAE Society of Automotive Engineers Fonte: elaborado pela autora. Alguns exemplos de normas são: API – 610 – Centrifugal Pumps for Petroleum, Petrochemical, and Natural Gas Industries, que regulamenta o dimensionamento e a seleção de bombas centrífugas para a área de Petró- leo e Gás; ASME Boiler and Pressure Vessel Code, Section VIII, Division 1, para a construção de vasos de pressão; e ASTM A36 (SS400, S275) Structural Carbon Steel, para aço carbono estrutural. Em algum momento você vai se deparar com uma dessas siglas e já vai saber que se trata de uma padronização de dados ou considerações de projeto. Então fique atento. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 12_Livro_Elementos de Máquinas.indb 12 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 – 13 – Introdução aos elementos de máquinas 1.1.5 Custos Os custos em um projeto são muito importantes, pois podem ser fato- res decisivos para continuá-lo ou pará-lo. Os valores de mão de obra e matérias-primas sofrem grandes variações ao longo do tempo, e quando um projeto se estende os custos que foram estimados no início podem ter tido fortes alterações quando ele for, finalmente, colocado em prática. Uma maneira inteligente de manter os custos sob controle é pro- curar otimizar a matéria-prima, selecionando materiais com tamanhos padronizados. Por exemplo, caso um engenheiro que escolheu uma barra de aço AISI 1020 laminada a quente, de seção transversal qua- drada, com 52 milímetros de lado (fora de padrão), queira reduzir os custos, pode trocá-la por uma barra padronizada de 50 milímetros ou 60 milímetros. Caso ele insista na barra de 52 milímetros, precisará laminá-la e usiná-la a partir de uma barra de 60 milímetros, o que aumentará o preço do produto. 1.2 Fatores de segurança e análise de esforços Ao desenvolver um projeto, é preciso definir os materiais que serão utilizados. As características dos materiais são encontradas em ensaios destrutivos de amostras sob condições controladas cujos resultados são valores aproximados e relativos às amostras. Dos resultados, faz-se uma inferência estatística para se chegar aos números encontrados nas tabelas de materiais. Esses valores devem ser utilizados com cuidado, pois o material real pode não ter exatamente as mesmas característi- cas encontradas nas amostras, portanto devem ser considerados como valores mínimos. Em casos específicos, como no projeto de veículos, aeronaves e outras obras de engenharia que exigem maior segurança, os ensaios são realiza- dos em modelos reais ou em protótipos, para que os resultados tenham maior confiabilidade. Existem alguns ensaios que levantam as caracterís- ticas de resistência dos materiais; um dos mais conhecidos e utilizados é o ensaio de tração (NORTON, 2013). _Livro_Elementos de Máquinas.indb 13_Livro_Elementos de Máquinas.indb 13 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 Elementos de Máquinas – 14 – 1.2.1 Ensaio de tração A American Society of Testing and Materials (ASTM) define normas e procedimentos para testar amostras para uma variedade de medidas de propriedades de materiais. O ensaio de tração é um dos mais utilizados e consiste, basicamente, em exercer uma força de tração em um corpo de prova padrão e por meio dos resultados determinar a tensão e a deforma- ção do material. Os corpos de prova são fabricados do mesmo material para o qual se deseja obter os valores de referência e têm as extremidades com diâmetro maior (onde são fixados à máquina de tração) e centro com diâmetro menor padronizado, conforme a Figura 1.3. Figura 1.3 – Corpode prova do ensaio de tração Fonte: elaborada pela autora. No corpo de prova, o diâmetro (do) é padronizado. Os dois pontos azuis marcam um comprimento abstrato (lo) que vai servir de referência para que o alongamento possa ser medido durante o teste. O corpo de prova é fixado à máquina e estendido até o completo rompimento. Durante o teste, a força e a distância entre as marcas são constantemente medidas, e no fim a máquina gera um gráfico de tensão e deformação A tensão específica, ou simplesmente tensão, é definida pela força por unidade de área, e para o corpo de prova sob tensão é dada por: _Livro_Elementos de Máquinas.indb 14_Livro_Elementos de Máquinas.indb 14 20/05/2022 14:08:1720/05/2022 14:08:17 – 15 – Introdução aos elementos de máquinas � � � P Ao Onde: σ = tensão [MPa] P = força [N] Ao = área [mm2] A deformação específica, ou simplesmente deformação, é a razão entre a mudança de comprimento e o comprimento inicial; ou seja: � � � � �l l l o o Onde: lo = comprimento inicial l = comprimento sob a força P Note que a deformação será adimensional, já que divide uma medida de comprimento por outra. O módulo de elasticidade, ou módulo de Young, é a relação entre a tensão e a deformação, representado por: E � �� � Essa medida tem a mesma unidade da tensão e representa a rigidez do material em sua região elástica. Onde: E = módulo de elasticidade σ = tensão ε = deformação O limite elástico separa a região elástica e plástica do material. Des- tacamos que na região elástica o material volta à condição inicial após a retirada da força, e na região plástica o material adquire uma nova condi- ção mesmo após a retirada da força. A Figura 1.4 apresenta os dados encontrados nas curvas de tensão- -deformação do limite elástico (A), que é o ponto em que termina a fase elástica; o limite de proporcionalidade (A’), que é a região onde ocorre o _Livro_Elementos de Máquinas.indb 15_Livro_Elementos de Máquinas.indb 15 20/05/2022 14:08:1920/05/2022 14:08:19 Elementos de Máquinas – 16 – escoamento; o limite de resistência à tração (B), que é o limite máximo que o material suporta antes da ruptura; e o limite de ruptura (C), que é o ponto onde o material se rompe no ensaio de tração. Observe que o limite de ruptura, aparentemente, é menor que o limite de tração, mas isso ocorre porque a área do corpo de prova é reduzida à medida que o material é tracionado. Na “vida real”, o limite de ruptura é maior do que o de tração, após a correção da tensão, considerando a área reduzida. Figura 1.4 – Gráfico de tensão-deformação Fonte: Atlan Coelho. 1.2.2 Ductilidade e fragilidade Você sabe quando um material é dúctil? Vamos fazer um teste? Pegue um clipe de papel e o desdobre. Ele toma a forma que foi dada sem que- brar, certo? Veja a Figura 1.5. Figura 1.5 – Clipe antes e depois de ser dobrado Fonte: elaborada pela autora. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 16_Livro_Elementos de Máquinas.indb 16 20/05/2022 14:08:2020/05/2022 14:08:20 – 17 – Introdução aos elementos de máquinas Essa é uma característica que determina que o clipe é fabricado de um material dúctil, que tem capacidade de grandes deformações antes de se romper. O que você acha que aconteceria com um lápis de madeira ao tentarmos dobrá-lo? Ele se quebraria e não ficaria dobrado. Nesse caso, o material é frágil e não aceita grandes deformações antes de se romper. Os metais podem ser dúcteis ou frágeis, dependendo do processo de fabricação pelo qual passaram. Por exemplo, a conformação a frio pode aumentar a fragilidade e reduzir a ductilidade de um metal. Outras análi- ses possíveis são por meio de ensaios de flexão e de torção. 1.2.2.1 Ensaio de flexão A Figura 1.6 apresenta os efeitos de um ensaio de flexão em que uma força é aplicada no centro de um corpo de prova. Em (a) está apresentado o efeito em um material dúctil, em que o metal é flexionado para depois se romper. Já em (b), após a aplicação da força o material se rompe antes mesmo de sofrer uma flexão. Figura 1.6 – Ensaio de flexão Fonte: elaborada pela autora. Vimos até aqui que podemos encontrar os valores de tensão e resis- tência dos materiais por meio de ensaios mecânicos destrutivos realizados em corpos de prova, mas, ao extrapolarmos esses dados para os materiais reais, podem surgir algumas incertezas. Segundo Budynas (2011) as incer- tezas podem ser listadas como: 2 composição do material e efeito da variação em propriedades; _Livro_Elementos de Máquinas.indb 17_Livro_Elementos de Máquinas.indb 17 20/05/2022 14:08:2020/05/2022 14:08:20 Elementos de Máquinas – 18 – 2 variações nas propriedades de ponto a ponto no interior de uma barra de metal em estoque; 2 efeitos sobre as propriedades de processar o material no local ou nas proximidades; 2 efeito de tratamento térmico sobre as propriedades; 2 intensidade e distribuição do carregamento; 2 intensidade de concentração de tensão; 2 efeito da corrosão; 2 efeito do desgaste; 2 quanto ao número de fatores que causam incertezas. Engenheiros precisam lidar com essas incertezas, mas há métodos matemáticos para isso. Segundo Budynas (2011), o método determinístico estabelece um fator de projeto e depois o aplica para determinar o novo parâmetro de projeto. Nesse caso, o fator de projeto (nd) é determinado por: n parâme de de função parâme máximo admissível d � Se o parâmetro for a carga máxima admissível, temos que: carga máxima admissível carga de de função nd � 1.2.3 Fator de projeto e fator de segurança Após a finalização do projeto, pode acontecer alguma aproximação do material utilizado, afetando o fator de projeto, que passa a ser chamado de fator de segurança e tem a mesma definição do fator de projeto, mas difere em termos numéricos. Vimos o fator de projeto relacionado à perda de função, mas quando se trata de tensão não há variação linear, então pode-se reescrever a equa- ção do fator de projeto em relação à tensão: n resistência de perda de função tensãoadmssível S oud � � � � � � � � � �� � �� _Livro_Elementos de Máquinas.indb 18_Livro_Elementos de Máquinas.indb 18 20/05/2022 14:08:2020/05/2022 14:08:20 – 19 – Introdução aos elementos de máquinas A resistência (S) e a tensão devem ter a mesma unidade, assim como devem se referir ao mesmo ponto da peça. Exemplo 1 Considere que a carga máxima em uma estrutura seja conhecida com uma incerteza de 15% e que a carga que provoca falha seja conhecida com uma incerteza de 20%. Se a carga nominal que causa falha é igual a 10 kN, determine o fator de projeto e a carga máxima admissível que compensará as incertezas absolutas. Solução: Utilizaremos a equação n parâmetrode perdade função parâmetromáximoadmissíveld = � � � � � � , em que a carga máxima admissível deve ser acrescida de 100 20 80 0 8 para aumentar, fazemos 1 0 8, . Já a carga máxima admissí- vel deve ser reduzida de 100 15 115 1 15, ; para redu- zir, fazemos 1 1 15, . Substituindo esses valores na equação, temos nd = = 1 0 80 1 1 15 1 4 / , / , , , então calculamos a redução da carga máxima, onde: kN� �cargamáximaadmissível tensãonominal n N d , ,�10 000 1 4 7 1 . Observe que a carga máxima admissível é menor (7,14 kN) que a carga conhecida nominalmente (10 kN), presente nas tabelas. Com esse cálculo, tem-se maior segurança no dimensionamento do projeto. Exemplo 2 Uma barra com seção transversal circular é carregada sob tração com uma força de 10 kN e está submetida a uma tensão. Considerando que o material tem resistência de 168 N/mm² e fator de projeto igual a 3, deter- mine o diâmetro mínimo de uma barra circular maciça. Determine tam- bém o fator de segurança para uma barra de diâmetro comercial1. 1 Alguns diâmetros comerciais em milímetros: … 5,0; 5,5; 6,0; 6,5; 7,0; 8,0; 9,0; 10,0; 11,0; 12,0; 14,0; 16,0; 18,0; 20,0… _Livro_Elementos de Máquinas.indb 19_Livro_Elementos de Máquinas.indb 19 20/05/2022 14:08:2320/05/202214:08:23 Elementos de Máquinas – 20 – Solução: Para a seção circular, a área é calculada por A d� � . 2 4 . Para o fator de segurança, temos n S d � � . Colocando a tensão em evidência, temos � � � S nd . Temos também que a equação da tensão é dada por � � � F A . Então, jun- tando as equações, temos: N . S n F A dd 168 3 10 000 4 2 Utilizando as partes da equação que contém números, temos 168 3 4 10 000 2 � � �x d . .� . Fazendo a multiplicação cruzada, temos � . . .168 3 4 10 0002d x x� � � . Isolando o diâmetro, temos d x2 12 10 000 168. . Tirando a raiz, temos d . . 120 000 168 . E então d = 15,07 mm. Escolhemos um diâmetro comercial de 16 mm, imediatamente superior, e com esse valor recalculamos o fator de segurança, sendo: n S d Fd � � . . . 2 4 Substituindo os valores, temos: nd � � � � � � � . . . . , 168 16 4 10 000 3 37 2 Observe que após a escolha do diâmetro da barra (com valor acima do que foi calculado) o fator de projeto real (fator de segurança) ficou maior (3,37) do que o fator de projeto inicial (3). 1.3 Critérios de resistência A situação ideal é que as máquinas, os componentes e os elementos não falhem, mas sabemos que em algum momento eles falharam ou irão falhar. Cabe ao projetista ou ao engenheiro garantir que o projeto não falhe ou que, se ocorrer uma falha, seja previsível em seus estudos e cálculos. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 20_Livro_Elementos de Máquinas.indb 20 20/05/2022 14:08:3020/05/2022 14:08:30 – 21 – Introdução aos elementos de máquinas Você se lembra de alguma máquina ou componente que tenha sofrido alguma falha? Se sofreu, estava sujeito a qual tipo de carrega- mento? Tração? Compressão? Flexão? Torção? Será que a falha foi por conta do projeto ou devido a problemas na fabricação? São tantas per- guntas e tantos questionamentos, mas vamos com calma e conseguire- mos entender os critérios de resistência. Trataremos aqui de três tipos de tensão: tração direta, compressão direta e cisalhamento puro (MOTT, 2015). A Figura 1.7 apresenta a repre- sentação, no plano cartesiano, de tensões desses tipos aplicadas a cubos. Figura 1.7 – Elementos de tensão para três tipos de tensão Fonte: elaborada pela autora. As tensões de tração e compressão são aplicadas perpendicular- mente às faces dos cubos, sendo que a tração tende a “esticar” o elemento, enquanto a compressão tende a esmagá-lo. Já a tensão de cisalhamento tende a rasgar ou girar o elemento, então para que fique em equilíbrio as tensões devem estar em binários. O sentido e o sinal do giro provocado pela tensão de cisalhamento são uma convenção, e não uma regra. Aqui convencionaremos da seguinte maneira: 2 tensões de cisalhamento positivas tendem a girar o elemento no sentido horário; 2 tensões de cisalhamento negativas tendem a girar o elemento no sentido anti-horário. Na Figura 1.7 temos que τxy é positiva, pois tende a girar o ele- mento no sentido horário, e τyx é negativa, pois tende a girar o elemento no sentido anti-horário. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 21_Livro_Elementos de Máquinas.indb 21 20/05/2022 14:08:3020/05/2022 14:08:30 Elementos de Máquinas – 22 – 1.3.1 Tensões diretas: tração e compressão “Tensão pode ser definida como a resistência interna oferecida por uma unidade de área de um material a uma carga aplicada externamente. As tensões normais (σ) são tanto de tração (positivas) quanto de compres- são (negativas)” (MOTT, 2015, p. 106). 1.3.1.1 Tensão direta de tração ou compressão A tensão direta é a resistência pela área; logo, temos que: � � F A Onde: σ = tensão direta de tração F = força A = área A unidade da tensão é a unidade de força por área. Essas unidades variam de acordo com o sistema de unidades utilizado, como o sistema internacional e o sistema norte-americano. Tabela 1.1 – Unidades de tensão Sistema norte-americano Sistema internacional Unidade Nome Unidade Nome lb/pol2 Psi N/m2 Pa (Pascal) Kips/pol2 Ksi N/mm2 MPa (MegaPascal) Conversões Conversões 1,0 kip = 1000 lb 1 MPa = 106 Pa 1,0 ksi = 1000 psi Fonte: elaborada pela autora. Para a utilização da equação, existem algumas condições (MOTT, 2015): 2 o elemento sob carregamento deve ser reto; 2 a linha de atuação da carga deve passar através do centroide da seção transversal do elemento; _Livro_Elementos de Máquinas.indb 22_Livro_Elementos de Máquinas.indb 22 20/05/2022 14:08:3020/05/2022 14:08:30 – 23 – Introdução aos elementos de máquinas 2 o elemento deve ter uma seção transversal uniforme próximo de onde a tensão está sendo calculada; 2 o material deve ser homogêneo e isotrópico. Exemplo 3 Uma força de tração de 9.000 N é aplicada a uma barra redonda de 10 mm de diâmetro, como mostra a Figura 1.8. Calcule as tensões de tração diretas na barra. Figura 1.8 – Barra redonda sob tração Fonte: elaborada pela autora. Solução: Dados: 2 Força (F = 9.000 N) 2 Diâmetro da seção (d = 10 mm) A tensão de tração deve ser calculada pela equação: � � F A A área do cilindro deve ser calculada por: A d mm. . 2 2 2 4 10 4 78 5 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 23_Livro_Elementos de Máquinas.indb 23 20/05/2022 14:08:3120/05/2022 14:08:31 Elementos de Máquinas – 24 – Substituindo ambos os valores na equação da tensão, temos: F A N mm .9 000 78 5 2 MP114 6 a A tensão no ponto A foi de 114,6 MPa, mas pode estar em qualquer lugar da barra, visto que idealmente a tensão é uniforme. O resultado é mostrado na Figura 1.9. Figura 1.9 – Elemento com tensão de tração direta Fonte: elaborada pela autora. 1.3.2 Deformação sob carregamento axial direto O alongamento decorrente da carga de tração axial direta ou da carga de compressão axial direta pode ser calculado pela equação: . . .F L E A L E Onde: F = carga axial direta L = comprimento original do elemento E = módulo de elasticidade do material A = área da seção transversal do elemento σ = tensão de tração Exemplo 4 Para a barra redonda da Figura 1.10, calcule a deformação total, con- siderando que o comprimento original da barra é de 3.500 mm, ela é feita de aço e tem módulo de elasticidade de 207 GPa. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 24_Livro_Elementos de Máquinas.indb 24 20/05/2022 14:08:3120/05/2022 14:08:31 – 25 – Introdução aos elementos de máquinas Solução: Dados: 2 F = 9.000 N 2 d = 10 mm 2 comprimento inicial (L = 3.500 mm); 2 módulo de elasticidade (E = 207 GPa) Utilizando a equação da deformação e o valor da tensão calculada no exemplo 3 (σ = 114.6 MPa), temos: m mx N6 10 3 mm x N . / . / L E m m 114 500 207 10 1 93 6 2 9 2 A barra sofreu deformação de 1,93 mm. 1.3.3 Tensão de cisalhamento direta Quando uma tesoura corta um papel, ela faz uma força de baixo para cima e de cima para baixo. A tensão de cisalhamento direta ocorre quando há a tendência de cortar o elemento. O método para calcular a tensão de cisalhamento é semelhante ao de cálculo das tensões diretas de tração e compressão, porém o tipo de tensão é de cisalhamento, e não normal. A tensão de cisalhamento é representada pela letra grega Tau (τ), e a equação de cálculo é: � � � F A Onde: τ = tensão de cisalhamento F = força de cisalhamento A = área no cisalhamento Presumiremos que essa tensão de cisalhamento seja distribuída de maneira uniforme transversalmente à área de cisalhamento, mas o nome mais adequado dela é cisalhamento médio. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 25_Livro_Elementos de Máquinas.indb 25 20/05/2022 14:08:3220/05/2022 14:08:32 Elementos de Máquinas – 26 – Exemplo 5 Um eixo está fixado por uma chaveta em um cubo de uma roldana que está ligada a outra semelhante por uma correia. Na Figura 1.10, (a) mostra a vista da roldana, enquanto (b) mostra a vista ampliada do cubo e do eixo. A força F é transmitida do eixo para o cubo da roldana através de uma chaveta quadrada. O eixo tem diâmetro de 3 polegadas e transmite um torque de 15.000lb.pol. A chaveta tem lado de 0,5 polegada e com- primento de 1,75 polegada. Calcule a força sobre a chaveta e a tensão de cisalhamento causada por essa força. Figura 1.10 – Roldana, eixo, cubo e chaveta Fonte: elaborada pela autora. Solução: Dados: 2 torque (T = 15.000 lb.pol) 2 dimensões da chaveta (0,5 x 0,5 x 1,75 pol) 2 diâmetro do eixo (D = 3 pol) 2 raio do eixo (r = D/2 = 3/2 = 1,5 pol) O torque é T = F x r, então: F T r lb pol pol lb� � �.15 000 1 5 10 000 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 26_Livro_Elementos de Máquinas.indb 26 20/05/2022 14:08:3220/05/2022 14:08:32 – 27 – Introdução aos elementos de máquinas A área da chaveta é o lado vezes o comprimento; logo: A x pol� �0 5 1 75 0 875 2, , Com os dados da força e da área, temos como calcular a tensão de cisalhamento, dada por: lblb . ,F A pol pol10 000 0 875 11 428 52 2 Essa tensão de cisalhamento ( 5 �� lb. ,11 428 pol ) será uniforme em todas as partes da secção transversal da chaveta. 1.3.4 Tensões normais para vigas em flexão A viga é um elemento que carrega cargas transversais a seu eixo. Para o cálculo de tensões normais em vigas, devemos considerar as seguintes hipóteses: 2 a viga está submetida à flexão pura; 2 o material é homogêneo e isotrópico; 2 o material obedece à lei de Hooke; 2 a viga é reta e tem seção transversal constante ao longo do comprimento; 2 a viga tem um eixo de simetria no plano de flexão; 2 seções planas da viga permanecem planas durante a flexão. A flexão máxima na viga ocorrerá no ponto mais distante do eixo neutro da seção. Para o cálculo dessa flexão máxima, utilizamos a seguinte equação: �máx Mc I � Onde: M = momento fletor na secção c = distância do eixo central da extremidade do elemento I = momento de inércia da seção transversal em relação ao eixo neutro Para um projeto, é conveniente encontrar o módulo da secção (em alguns livros chamado de Z e em outros, de S), onde: _Livro_Elementos de Máquinas.indb 27_Livro_Elementos de Máquinas.indb 27 20/05/2022 14:08:3320/05/2022 14:08:33 Elementos de Máquinas – 28 – S ou Z I c � � �= A equação da flexão máxima pode ser escrita como: �máx M S ou Z � � � Em muitos casos, é dada a flexão máxima e solicitado o módulo da secção; dessa forma, temos: S ou Z M máx � � �� � Exemplo 6 A Figura 1.11 apresenta uma viga com um tubo no centro. A carga decorrente do tubo é de 54 kN. As distâncias a e b são 1,2 e 1,5 metro, res- pectivamente. Determine o módulo da seção exigida para a viga, sabendo que a tensão decorrente da flexão é de 200 MPa. Figura 1.11 – Viga com tubo Fonte: elaborada pela autora. Solução: Dados: 2 F = 54 kN = 54.000 N 2 a = 1,2 m = 1.200 mm 2 b = 1,5 m = 1.500 mm _Livro_Elementos de Máquinas.indb 28_Livro_Elementos de Máquinas.indb 28 20/05/2022 14:08:3520/05/2022 14:08:35 – 29 – Introdução aos elementos de máquinas 2 σmáx = 200 2 MPa = 200 N/mm2 O momento fletor máximo é definido por: N mM R a Fba a b N mm mm máx . . 1 54 000 1200 1500 1200 1500 336 000 000. . m Com esse valor, calculamos o módulo da secção, onde: S M N mm N mm mm m36 000 000 200 180 000 0 182 3 2. . Caso seja necessário especificar a viga, devemos procurar em tabelas que apresentem o módulo da secção e escolher o valor mais próximo, para maior. O vídeo “Tensão Admissível e Fator de Segurança | Resistência dos Materiais | Aula 10” mostra como utilizar o coeficiente de segurança em projetos relativos à resistência dos materiais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=aIjjWlSyeu4>. Acesso em: 18 nov. 2021. Atividades 1. Por que a etapa de apresentação é tão importante no desenvolvi- mento de um projeto? 2. Uma barra redonda com 15 mm de diâmetro está sujeita a uma força de tração de 15.000 N. Calcule as tensões de tração diretas na barra. 3. Um material pode ser dúctil ou frágil. No ensaio de tração, como podemos reconhecer que um material é dúctil ou frágil apenas visualmente? 4. Uma barra redonda com 12 mm de diâmetro e 3.200 mm de comprimento está sujeita a uma força de tração de 14.000 N. A barra é feita de aço e tem módulo de elasticidade de 207 GPa. Nessas condições, calcule a deformação total. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 29_Livro_Elementos de Máquinas.indb 29 20/05/2022 14:08:3620/05/2022 14:08:36 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 30_Livro_Elementos de Máquinas.indb 30 20/05/2022 14:08:3620/05/2022 14:08:36 2 Elementos de transmissão de potência Você já percebeu que praticamente todas as máquinas e os equipamentos apresentam diversos elementos que compõem sua estrutura e ajudam em seu funcionamento? Os elementos de transmissão de potência são de grande importância nessa ques- tão. De alguma forma, todos os elementos de máquinas devem estar sincronizados entre si, pois o funcionamento de um ele- mento influencia, direta ou indiretamente, o de outro. Por exem- plo, um equipamento movido por um motor elétrico ou por um motor de combustão interna que gera potência em forma de tor- que motriz de rotação de um eixo, que vem acompanhado de outros elementos, como mancais, engrenagens, polias de correias e rodas dentadas de corrente. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 31_Livro_Elementos de Máquinas.indb 31 20/05/2022 14:08:3620/05/2022 14:08:36 Elementos de Máquinas – 32 – 2.1 O que são os elementos de transmissão de potência São os grandes elementos que formam as máquinas e podem ser de diversos tipos, como acoplamentos, freios, embreagens, redutores e motorredutores de velocidade, correias, polias, correntes, eixos, engrena- gens e rolamentos. 2.1.1 Acoplamentos, freios e embreagens Como o próprio nome diz, o acoplamento serve para acoplar ou unir diferentes elementos e é usualmente utilizado para conectar duas máqui- nas. Sua funcionalidade está relacionada com a transmissão de energia/ movimento de uma máquina para outra, e a utilização desse elemento apresenta diversas vantagens, como redução de vibrações, de desalinha- mentos e de choques (NORTON, 2013). Nessa mesma categoria estão os freios e as embreagens, que, por terem similaridades, são tratados no mesmo grupo. A principal diferença dos freios e das embreagens para o acoplamento é que naqueles há a jun- ção das partes apenas quando acionados e os acoplamentos, em sua maio- ria, mantêm-se unidos às partes durante todo o funcionamento. A Figura 2.1 mostra um acoplamento realizando a ligação entre diferentes sistemas. Figura 2.1 – Acoplamento de uma bomba centrífuga Fonte: Stock.adobe.com/alexlmx _Livro_Elementos de Máquinas.indb 32_Livro_Elementos de Máquinas.indb 32 20/05/2022 14:08:3820/05/2022 14:08:38 – 33 – Elementos de transmissão de potência 2.1.2 Redutores e motorredutores de velocidade Redutores são responsáveis por reduzir a velocidade de um ele- mento acionador; dessa forma, a saída final (torque) é aumentada para que a potência seja transmitida. Além disso, os redutores de velocidade têm influência na modificação da força da máquina. Em contrapartida, os motorredutores são sistemas mecânicos com uma engrenagem para reali- zar a redução de potência. Uma grande aplicação dos motorredutores é em sistemas que necessitam de movimentação rotativa com elevado torque (COLLINS; BUSBY; STAAB, 2019). A Figura 2.2 apresenta um motorre- dutor para conhecimento visual. Figura 2.2 – Redutor de velocidade Fonte: Stock.adobe.com/westermak15 2.1.3 Polias e correias As polias assumem o formato circular e se acoplam aos eixos moto- res, movidas por máquinas e normalmente utilizadas para transferir ener- gia de movimento. Outro ponto importante a se destacar é que as polias vêm acompanhadas de outro elemento essencial para seu funcionamento: as correias (MOTT, 2015). Uma das principais funções das correias é realizar a estabilização de sistemas mecânicos, ajudando a manter o sincronismo de rotação das diferentes peças envolvidas (MOTT, 2015). Uma importante função das correias éa transmissão de força entre engrenagens ou entre polias. Uma _Livro_Elementos de Máquinas.indb 33_Livro_Elementos de Máquinas.indb 33 20/05/2022 14:08:3820/05/2022 14:08:38 Elementos de Máquinas – 34 – das aplicações mais conhecidas de polias e correias é no motor de veículos (Figura 2.3). Figura 2.3 – Motor veicular com polia e correia Fonte: Stock.adobe.com/goce risteski 2.1.4 Correntes As correntes se assemelham às correias em relação à funcionalidade e ao encaixe, contudo apresentam maior precisão e são mais adequadas/ recomendadas quando se trabalha com engrenagens ou rodas dentadas. Sua transmissão pode ser realizada tanto em sentido horário quanto anti- -horário (COLLINS; BUSBY; STAAB, 2019). Um bom exemplo de apli- cação de correntes é em bicicletas (Figura 2.4). Figura 2.4 – Aplicação de corrente Fonte: Stock.adobe.com/Nomad_Soul _Livro_Elementos de Máquinas.indb 34_Livro_Elementos de Máquinas.indb 34 20/05/2022 14:08:4020/05/2022 14:08:40 – 35 – Elementos de transmissão de potência 2.1.5 Eixos Eixos mecânicos são fundamentais para a rotação e a transmissão de movimento entre diferentes elementos, sendo normalmente fabricados de ferro fundido maciço no formato de cilindro. Sua principal função é atuar na passagem de energia rotativa entre máquinas. Alguns elementos, como rolamentos e acoplamentos, devem ser adquiridos com base no diâmetro do eixo, por isso é importante conhecer todos os elementos de máquinas envolvidos no projeto (NORTON, 2013). 2.1.6 Engrenagens Esse elemento de máquina é provavelmente um dos mais conhecidos. São componentes rígidos que transmitem energia de forma contínua, uti- lizados na geração e no controle de potência em um sistema de máquinas. Diversos são os tipos de engrenagem existentes, podendo variar em tama- nho, número e formato de dentes (NORTON, 2013); os mais conhecidos são cilíndricos de dentes retos, cilíndricos de dentes helicoidais e cônicos. As engrenagens podem ser encontradas de grandes máquinas até peque- nos mecanismos, como o de um relógio (Figura 2.5). Figura 2.5 – Engrenagens de um relógio Fonte: Stock.adobe.com/Denis Tabler _Livro_Elementos de Máquinas.indb 35_Livro_Elementos de Máquinas.indb 35 20/05/2022 14:08:4120/05/2022 14:08:41 Elementos de Máquinas – 36 – 2.1.7 Rolamentos Esse elemento apresenta como principais funcionalidades o apoio ao movimento e o suporte de carga, fazendo parte dos chamados elementos de apoio. Seu encaixe acontece no eixo do motor, mas existem diferentes tipos de rolamento que devem ser aplicados de acordo com as condições de trabalho. Várias são as classificações de rolamento para as mais diver- sas aplicações, podendo atuar em ambientes severos (MOTT, 2015). Além disso, sua forma construtiva pode assumir diferentes formas, como rola- mentos de esfera, de rolo e de agulha. Figura 2.6 – Rolamentos Fonte: Stock.adobe.com/blacklionder Além dos elementos de potência, existem os elásticos (molas), os de fixação (parafusos, rebites e soldas) e os de apoio (rolamentos e mancais de deslizamento). Os elásticos são representados pelas molas, que têm a função de armazenar energia e absorver ou amortecer choques e vibrações (DE FRANCESCHI; ANTONELLO, 2014). Sabe aquele brinquedo com um palhaço que pula de dentro de uma caixa? Quando se comprime a mola e se coloca o palhaço na caixa, é exercida uma força sobre a mola, fornecendo potência para ela. Quando a tampa é aberta, a força da mola faz o palhaço ser lançado para fora da caixa, e é nisso que está a graça da brincadeira (MOTT, 2015). _Livro_Elementos de Máquinas.indb 36_Livro_Elementos de Máquinas.indb 36 20/05/2022 14:08:4320/05/2022 14:08:43 – 37 – Elementos de transmissão de potência As molas podem ser de compressão, de tração ou de torção. As de compressão têm espiras que, quando comprimidas, deixam o espaço entre elas reduzido. As de tração, além das espiras, têm olhais para que possam exercer sua função, ou seja, para que possam ser esticadas (tracionadas). Já as de torção, além das espiras, têm braços de alavanca, pois é por meio deles que é possível a aplicação da torção. Quando falamos de fixação, precisamos pensar: o que vai ser fixado precisa ser solto em algum momento? A fixação deve ser permanente ou móvel? Mas o que é uma fixação permanente? Estamos falando de soldas e rebites onde dois metais são unidos de forma permanente. A eliminação da fixação causa a destruição da peça ou da união (DE FRANCESCHI; ANTONELLO, 2014). Em algumas aplicações, isso é até interessante, mas, em outros tipos, é preciso pensar em separar os componentes sem destruir as peças. Para isso existe a fixação móvel com parafusos e porcas. Outro ponto que deve ser observado é que “No projeto de máquinas, a maioria dos elementos de fixação é feita de aço por causa da alta resis- tência, da rigidez elevada e da boa ductilidade, usinabilidade e maleabili- dade.” (MOTT, 2015, p. 732). Os elementos de apoio são mancais, buchas e guias. Os mancais podem ser de deslizamento ou de rolamento. Nos de deslizamento, as partes envolvidas estão em contato direto uma com a outra, então, para reduzir o atrito entre elas, a lubrificação é fundamental. O estudo da lubrificação abrange conhecimentos de química, termodinâmica, transferência de calor e mecânica dos fluidos (BUDY- NAS; NISBETT, 2016). Já os mancais de rolamento são utilizados para permitir o movimento relativo entre dois elementos, além de sustentar uma carga. Seus elementos rolantes podem ser esferas, cilindros ou roletes cônicos (MOTT, 2015). 2.2 Cargas variáveis e fadiga Um dos grandes desafios do projeto de máquinas, equipamentos e componentes é realizar o correto dimensionamento para que suportem todas as cargas aplicadas. As cargas consideradas nos ensaios de tração _Livro_Elementos de Máquinas.indb 37_Livro_Elementos de Máquinas.indb 37 20/05/2022 14:08:4320/05/2022 14:08:43 Elementos de Máquinas – 38 – e compressão são chamadas de cargas estáticas, mas, na maioria das vezes, as máquinas e os componentes estão sujeitos a cargas dinâmicas, que vão e vem durante um intervalo de tempo e são chamadas de cargas variáveis ou de fadiga. Você já deve ter ouvido falar em fadiga relacionada ao cansaço. Pode- mos fazer uma analogia quanto às cargas variáveis, como se o componente ficasse “cansado” de tanto sofrer os efeitos de vai e vem, mas é claro que os conceitos vão bem além disso. Por volta de 1800, os eixos de um vagão ferroviário começaram a falhar após um pequeno período em serviço. Apesar de serem feitos de aço dúctil, eles exibiam características de fraturas frágeis e repentinas. William John Macquorn Rankine (1820-1872) publicou um artigo em 1843 chamado “As causas da ruptura inesperada de munhões de eixos ferroviários” no qual afirmava que o material havia “cristalizado” e se tornado frágil devido às tensões flutuantes. Os eixos haviam sido bem projetados para a época, o que gerou um grande mistério. Cargas dinâ- micas eram, portanto, um fenômeno novo, resultantes da introdução das máquinas movidas a vapor (ABRAHÃO, 2008). A primeira investigação científica foi realizada pelo engenheiro August Wöhler (1819-1914) com testes feitos por 12 anos em laboratório com eixos até a falha sob carregamento alternado. Em 1870, ele publicou as descobertas que identificavam o número de ciclos de tensão variando no tempo como os causadores da falha e a existência de uma tensão limite de resistência à fadiga para aços. Dessa forma, a chamada curva de Wöhler é um gráfico log-log que rela- ciona o ciclo de vida (N) com a resistência à fadiga (S). Esses dados foram obtidos de forma experimental, indicando que alguns metais ferrosos têm um limite de resistência à fadiga enquanto outros materiais não têm limite. 2.2.1 Fases da falha por fadiga A fadiga ocorre, basicamente, em três fases: 1. nucleação da trinca; 2. formação de linhas de praia; _Livro_Elementos de Máquinas.indb 38_Livro_Elementosde Máquinas.indb 38 20/05/2022 14:08:4320/05/2022 14:08:43 – 39 – Elementos de transmissão de potência 3. ruptura frágil e brusca. Inicialmente, é formada uma pequena fissura na peça, a qual nem sempre é detectada a olho nu. Com o aumento da concentração de tensão, vão se formando linhas concêntricas em torno da fissura inicial, e por fim a peça não resiste e sofre uma fratura frágil e repentina que a faz se partir. A Figura 2.7 é uma representação esquemática de um eixo em corte com as fases da fadiga. Figura 2.7 – Fases da falha por fadiga Fonte: elaborada pela autora. 2.2.2 Critérios de projeto para fadiga O projeto, quando leva em conta a fadiga, tem alguns métodos de cálculo para determinar a vida do material (ROSA, 2002): 2 projeto para vida infinita – é o enfoque mais clássico da análise de fadiga e deve ser usado quando as tensões atuantes estiverem suficientemente abaixo da tensão limite de fadiga (exemplos: eixos de motores, molas de válvulas de motor de combustão e engrenagens industriais); 2 projeto para vida finita – quando o carregamento cíclico é imprevisível ou inconstante, o uso de cargas máximas faz o _Livro_Elementos de Máquinas.indb 39_Livro_Elementos de Máquinas.indb 39 20/05/2022 14:08:4320/05/2022 14:08:43 Elementos de Máquinas – 40 – elemento ficar superdimensionado, então, nesses casos, uti- liza-se o projeto de vida finita por meio dos métodos tensão- -vida (σ-N) ou deformação-vida (ε-N) (exemplos: mancais de rolamento, reservatórios pressurizados, componentes automo- bilísticos e motores a reação); 2 projeto para falha em segurança – foi desenvolvido pela indústria aeronáutica porque a falha em uma aeronave pode ser catastró- fica, então o projeto não tolera altos coeficientes de segurança, o que poderia aumentar o peso do material, por isso é preciso prever bloqueadores de propagação das trincas para que o ele- mento não chegue ao rompimento (exemplos: fuselagens e asas de avião, pontes e cascos de navio); 2 projeto com tolerância ao dano – melhoria do projeto para falha em segurança, que, por meio da engenharia da fratura, analisa o material para que a fissura não cresça e não ocorra a falha por fadiga; é utilizado em materiais com baixa velocidade de propa- gação de trinca e com alta tenacidade (exemplos: fuselagens e asas de avião, reservatórios, tubulações e oleodutos). 2.2.3 Cálculo para vida finita No cálculo para vida finita, considera-se que os valores da ten- são alternante aplicada contra o número de ciclos da vida podem ser tão curtos como 10 ciclos ou tão longos como 109 ciclos, e a escala usada é normalmente logarítmica, ao menos no eixo horizontal. Os resultados mostram que uma estimativa bastante razoável da curva σ-N para os aços forjados sob flexão rotativa é considerar uma reta em coordenadas logarítmicas, ligando os pontos 0 8, .σ R em 103 ciclos e 0 5, .σ R em 106 ciclos. Isso implica uma tensão limite de fadiga (σF) de 0 5, .σ R , obtida a partir de 106 ciclos, o que é uma aproximação con- servativa, considerando que a faixa de pontos experimentais se situa acima da curva assim prevista. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 40_Livro_Elementos de Máquinas.indb 40 20/05/2022 14:08:4520/05/2022 14:08:45 – 41 – Elementos de transmissão de potência Figura 2.8 – Gráfico de vida finita (log-log) Fonte: elaborada pela autora. As curvas σN citadas são tratadas como lineares quando em coorde- nadas logarítmicas. Esse fato leva à possibilidade de se obter uma equação que represente exatamente a estimativa da curva σN considerada, que será, no caso, a equação de uma reta em coordenadas logarítmicas. Esta pode ser posta sempre na forma da equação, sendo, no entanto, válida apenas dentro do intervalo de 103 a 106 ciclos, que é o campo de validade da apro- ximação da curva σN que corresponde ao intervalo de vida finita: � F c mxN�10 c log N F � � �� � 2 m log N F 1 3 Onde: σN = tensão alternante σF = tensão limite de fadiga de um corpo de prova N = número de ciclos _Livro_Elementos de Máquinas.indb 41_Livro_Elementos de Máquinas.indb 41 20/05/2022 14:08:4720/05/2022 14:08:47 Elementos de Máquinas – 42 – c = constante dependente de σN e σF m = constante dependente de σN e σF Vamos ver alguns exemplos de aplicação? Exemplo 1 Estime a curva σ-N para a flexão rotativa do aço SAE-4340, cuja resistência à tração é de 1200 MPa. Solução: Para flexão a rotativa, fazemos: � �N R� 0 8, . Onde: σR = 1200 MPa Então a tensão alternante é dada por: N x MPa0 8 1200 960 E a tensão limite da fadiga é encontrada por: F R x MPa0 5 0 5 1200 600, . Para construirmos o gráfico (Figura 2.9), temos os pontos (103; 960 MPa) e (106; 600 MPa). Figura 2.9 – Gráfico do exemplo 1 Fonte: elaborada pela autora. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 42_Livro_Elementos de Máquinas.indb 42 20/05/2022 14:08:4820/05/2022 14:08:48 – 43 – Elementos de transmissão de potência Exemplo 2 Para o aço SAE-4340, determine a resistência à fadiga de um corpo de prova correspondente a uma vida de 50 x 103 ciclos de tensões alternadas. Solução: Dados: σN = 960 MPa σF = 600 MPa N = 50 x 103 ciclos Para determinar o limite de tensão de fadiga de um corpo de prova, utilizamos a equação: � F c mxN�10 E precisamos encontrar os valores de C e m: c log N F � � �� � 2 c log� � � � 960 600 3 186 2 , m log N F 1 3 m log1 3 960 600 0 068 Substituindo na equação, temos: � F x� � 10 50 000 3 186 0 068, , ( . ) F x1534 6 0 479 MPaF � 735 3, Exemplo 3 Qual é a resistência à fadiga de um corpo de prova rotativo feito de aço (σR = 520 MPa) correspondente a uma vida de 75 x 104 ciclos de tensões alternadas? _Livro_Elementos de Máquinas.indb 43_Livro_Elementos de Máquinas.indb 43 20/05/2022 14:08:5220/05/2022 14:08:52 Elementos de Máquinas – 44 – Solução: σR = 520 MPa é a resistência à tração. A partir desse valor, encontra- mos a tensão alternante e a tensão de limite à fadiga, onde: � �N R� 0 8, . E: N x MPa MPa0 8 520 416 E a tensão de limite à fadiga por: F R x MPa0 5 0 5 520 260, . Com esses valores, encontramos a resistência à fadiga de um corpo de prova a uma vida de 750.000 ciclos: � F c mxN�10 E precisamos encontrar os valores de C e m: c log N F � � �� � 2 c log� � � � 416 260 2 82 2 , m log N F 1 3 m log1 3 416 260 0 068 Substituindo na equação, temos: � F x� � 10 750 000 2 82 0 068, , ( . ) F x660 69 0 598 MPaF � 263 3, _Livro_Elementos de Máquinas.indb 44_Livro_Elementos de Máquinas.indb 44 20/05/2022 14:08:5720/05/2022 14:08:57 – 45 – Elementos de transmissão de potência Esses cálculos são válidos apenas para corpos de prova que estão sujeitos a cargas cíclicas com amplitudes constantes. Para peças mecâni- cas reais, existem vários aspectos que influenciam os resultados obtidos com os corpos de prova, como: 2 acabamento superficial; 2 tamanho; 2 confiabilidade; 2 temperatura; 2 geometria; 2 carga. Para cada um desses parâmetros existem tabelas e gráficos que devem ser consultados para a determinação do fator de modificação. Esses fatores são nomeados por k e um coeficiente. O limite de resistência à fadiga da peça será: � �F i Fk k k k k' . . . .� �1 2 3 4 Onde: k1,k2 … ki são os fatores de correção do limite de fadiga σF’ = tensão limite de fadiga da peça σF = tensão limite de fadiga do corpo de prova Não veremos com detalhes todos os fatores de correção, pois envol- vem muitas tabelas e gráficos. 2.3 Concentração de tensões Vimos que a geometria das peças altera a resistência à fadiga, mas você sabe por quê? Os corpos de prova são peças com geometria simétrica e sem mudanças de dimensão. As peças reais têm rasgos, rebaixos e ele- vados, e todas essas mudanças de geometria são necessárias para o correto funcionamento do elemento. Imagine um eixo árvore em que são conecta- das engrenagens de vários tamanhos. Imagine também uma corrente den-tada conectada a várias rodas dentadas, e assim por diante (MOTT, 2015). _Livro_Elementos de Máquinas.indb 45_Livro_Elementos de Máquinas.indb 45 20/05/2022 14:08:5820/05/2022 14:08:58 Elementos de Máquinas – 46 – Qualquer descontinuidade na peça altera a distribuição de tensão em volta dela. A essas descontinuidades é dado o nome de concentração de tensões (BUDYNAS; NISBETT, 2016), as quais causam a tensão verda- deira na peça, que será superior aos valores encontrados com as equações simples. Para definir quais desses valores são verdadeiros, são utilizados fatores de concentração de tensão, chamados de ki: � �máx nomki� . e � �máx nomki� . O valor de ki vai depender da geometria, do tipo da descontinuidade e do tipo de tensão. A aplicação da concentração de tensões é recomendada nos seguintes casos (MOTT, 2015): 2 materiais frágeis, pois tensões elevadas podem levar à fratura; 2 a flexão de um elemento sujeito à tração tende a provocar tensões locais muito altas, o que pode provocar aumento de trincas e des- continuidades superficiais, levando o elemento à ruptura por fadiga; 2 a concentração de tensão é mais elevada nas regiões em que há mudança abrupta de geometria, por isso os projetistas buscam evitar cantos vivos, por exemplo. Os fatores de concentração de tensões são apresentados, geralmente, em forma de gráficos que levam em consideração alguns parâmetros de geometria, como as relações entre diâmetros, larguras e raios de filete. O fator ki está representado no eixo vertical enquanto o outro parâmetro está representado no eixo horizontal. Segundo Mott (2015), há quatro tipos gerais de gráficos de concen- tração de tensões, e algumas considerações devem ser feitas a respeito de cada um deles: 1. placa plana em degraus em tensão – leva em consideração a lar- gura maior (w), a largura menor (t) e o raio do filete. É apresen- tada como uma família de curvas que relaciona as razões ( t w ) com ( r t ), conforme mostra a Figura 2.10. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 46_Livro_Elementos de Máquinas.indb 46 20/05/2022 14:09:0020/05/2022 14:09:00 – 47 – Elementos de transmissão de potência Figura 2.10 – Gráfico de placa plana em degraus em tensão Fonte: Atlan Coelho. 2. barra circular em flexão – leva em consideração o diâmetro maio maior (D), o diâmetro menor (d) e o raio do filete. É apresentada como uma família de curvas que relaciona as razões ( D d ) com ( r d ), conforme mostra a Figura 2.11. Figura 2.11 – Gráfico da barra circular em flexão Fonte: Atlan Coelho. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 47_Livro_Elementos de Máquinas.indb 47 20/05/2022 14:09:0120/05/2022 14:09:01 Elementos de Máquinas – 48 – 3. barra circular em torção com um orifício central – o eixo horizon- tal é a razão entre o diâmetro do orifício (d) e o diâmetro da barra (D) e o eixo vertical do fator ki, como mostra a Figura 2.12. Figura 2.12 – Gráfico da barra circular em torção com um orifício central Fonte: Atlan Coelho. 1. placa plana em tensão com um orifício central – o eixo horizontal é a razão entre o diâmetro do orifício (d) e a largura da placa (w). A espessura da placa é chamada de (t) e a área da rede é dada por: A w d t– A Figura 2.13 mostra o gráfico dessa condição. Figura 2.13 – Gráfico da placa plana em tensão com um orifício central Fonte: Atlan Coelho. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 48_Livro_Elementos de Máquinas.indb 48 20/05/2022 14:09:0120/05/2022 14:09:01 – 49 – Elementos de transmissão de potência Os dados apresentados nos gráficos são aproximados, e o uso para projetos finais não é aconselhável, mas podem ser aplicados para cálculos teóricos aproximados, que são nosso objetivo. Exemplo 4 Calcule a tensão máxima em uma placa plana em tensão submetida à tração axial de 9000 N cujas dimensões estão apresentadas na Figura 2.14. Figura 2.14 – Placa plana sob tensão de tração axial Fonte: Atlan Coelho. Solução: O primeiro passo é achar o valor do fator de concentração de tensão. A condição dada é de placa plana em degraus em tensão. Dados: w = 10,0 mm t = 8,0 mm r = 1,5 mm b = 6,0 mm Para encontrarmos o valor, utilizaremos o gráfico da Figura 2.10, no qual na lateral direita está a família de curvas com as relações ( t w ) e no eixo horizontal a relação ( r t ), então calculamos: t w = = 8 0 10 0 0 8 , , , r t = = 1 5 8 0 0 187 , , , _Livro_Elementos de Máquinas.indb 49_Livro_Elementos de Máquinas.indb 49 20/05/2022 14:09:0420/05/2022 14:09:04 Elementos de Máquinas – 50 – Entramos com esses valores no gráfico, conforme a Figura 2.15. Observe que o valor t w = 0 8, não faz parte do gráfico, então fazemos uma interpolação. Com esse valor e o valor r t , encontramos o valor aproxi- mado de k =1 85, . Figura 2.15 – Gráfico com resolução do exemplo 1 Fonte: Atlan Coelho. Agora calculamos a área para a seção pequena, cuja largura é de 8,0 mm: A t b mm mm mm. ,8 0 6 0 48 Calculamos a tensão nominal por: nom F A N mm N mm MPa9000 48 187 5 187 52 2, , Para acharmos a tensão máxima, multiplicamos a tensão nominal pelo coeficiente de concentração de tensão: máx nomki MPa MPa. , . ,1 85 187 5 346 8 A máxima tensão ocorre justamente no filete, tanto na parte supe- rior quanto na inferior. Quanto menor for o raio do filete, maior será a concentração de tensão. Exemplo 5 Uma barra tem espessura de 2 mm, largura maior de 40 mm, largura menor de 34 mm e raio de filete entre as larguras de 1 mm. Essa barra _Livro_Elementos de Máquinas.indb 50_Livro_Elementos de Máquinas.indb 50 20/05/2022 14:09:0720/05/2022 14:09:07 – 51 – Elementos de transmissão de potência está carregada axialmente com uma força constante de 10 kN. Deseja-se executar um furo de 4 mm no centro da área de largura maior para passar um cabo, porém há disponível uma broca de 8 mm. Uma fissura é mais provável no orifício menor ou maior? Solução: Como a barra tem espessura de 2 mm, consideraremos como uma placa e utilizaremos a condição de placa plana em tensão com um orifício central. Usaremos as duas situações: furo com d = 4,0 mm e d = 8,0 mm. Começamos encontrando os fatores de concentração de tensão de ambos os furos. O gráfico da Figura 2.16 apresenta o fator para o furo de 4,0 mm em azul e o fator para o furo de 8,0 mm em vermelho. Para furo de 4,0 mm: d w � � ,4 40 0 1 Para furo de 8,0 mm: d w = = 8 40 0 2, Figura 2.16 – Gráfico com resolução do exemplo 2 Fonte: Atlan Coelho. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 51_Livro_Elementos de Máquinas.indb 51 20/05/2022 14:09:0820/05/2022 14:09:08 Elementos de Máquinas – 52 – Agora calculamos a tensão nominal para os diâmetros de 4,0 e 8,0 mm, onde: Para 4,0 mm: A w d t� �� �. A mm40 4 2 36 2 72 2. . o F A N mm N mm 10 000 72 138 888 1392 2 Para 8,0 mm: � �� �w d t. A mm40 8 2 32 2 64 2. . o F A N mm N mm10 000 64 156 252 2/ Utilizando os valores dos fatores de concentração de tensão e das tensões nominais, encontramos a tensão máxima: Para 4,0 mm: máx oki x N mm. , /2 5 139 347 5 2 Para 8,0 mm: máx oki x N mm. , , ,2 3 156 25 359 375 2 Isso indica que uma fissura provável ocorrerá no furo com 8,0 mm de diâ- metro, apesar de a concentração de tensões ser maior quando o furo tem 4,0 mm de diâmetro. A tensão nominal cresce quando o furo tem 8,0 mm de diâmetro. Atividades 1. Quais são as principais diferenças e semelhanças entre acopla- mentos, freios e embreagens? _Livro_Elementos de Máquinas.indb 52_Livro_Elementos de Máquinas.indb 52 20/05/2022 14:09:1020/05/2022 14:09:10 – 53 – Elementos de transmissão de potência 2. Qual é a resistência à fadiga de um corpo de prova rotativo feito de aço (σR = 760 MPa) correspondente a uma vida de 60 x 104 ciclos de tensões alternadas? 3. Explique, com suas palavras, as fases da falha por fadiga: 4. Calcule a tensão máxima em uma placa plana em tensão subme- tida à tração axial de 8500 N cujas dimensões são:2 espessura da placa = 5 mm 2 largura maior = 15 mm 2 largura menor = 11,4 mm 2 raio do filete = 1,4 mm _Livro_Elementos de Máquinas.indb 53_Livro_Elementos de Máquinas.indb 53 20/05/2022 14:09:1020/05/2022 14:09:10 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 54_Livro_Elementos de Máquinas.indb 54 20/05/2022 14:09:1020/05/2022 14:09:10 3 Transmissão por correias Certo dia, alguém estava circulando tranquilamente com seu carro quando ele subitamente parou. A pessoa abriu o capô do veí- culo e se deu conta de que a correia do motor estava solta. Essa é uma história fictícia, mas, se a manutenção adequada não for feita, as correias podem se romper e causar grandes prejuízos. Neste capítulo, conheceremos um pouco mais do elemento de máquina correia, mas antes veremos alguns conceitos importantes. Para dimensionar as correias, é preciso fazer alguns cálculos, porém, para chegar aos cálculos específicos para cada tipo de ele- mento de máquina é necessário entender alguns conceitos funda- mentais, como o movimento circular e a torção, pois quase todas as máquinas e equipamentos sofrem uma ou ambas as solicitações. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 55_Livro_Elementos de Máquinas.indb 55 20/05/2022 14:09:1020/05/2022 14:09:10 Elementos de Máquinas – 56 – 3.1 Movimento circular O movimento circular é aquele em que uma partícula executa uma trajetória circular de raio r e tem determinado deslocamento angular em determinado tempo. Os parâmetros a serem considerados no movimento circular são: velocidade angular, período, frequência, rotação e velocidade tangencial (MELCONIAN, 2019). Vejamos cada um deles. Consideremos uma partícula P que se desloca do ponto P1 em um tempo t1 para o ponto P2 em um tempo t2, conforme a Figura 3.1. Figura 3.1 – Movimento circular Fonte: adaptada de Melconian (2019, p. 11). a) A velocidade angular é dada pela relação entre a variação angu- lar e a variação do tempo: � � � � �t Onde: 𝜔 = velocidade angular (rad/s) 𝛥𝛗 = variação angular (rad) 𝛥t = variação do tempo (s) b) O período é o tempo necessário para que a partícula complete uma volta no movimento circular. Sabe-se que o círculo tem perímetro de 2𝜋 rad, então o período é dado por: T 2 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 56_Livro_Elementos de Máquinas.indb 56 20/05/2022 14:09:1120/05/2022 14:09:11 – 57 – Transmissão por correias Onde: T = período (segundos) 𝜋 = constante trigonométrica (3,1415…) 𝜔 = velocidade angular (rad/s) c) A frequência é o inverso do período e representa o número de ciclos que a partícula descreve em um movimento circular durante 1 segundo e é dada por: f T � � 1 2 � � Onde: f = frequência (Hz) T = período (s) 𝜔 = velocidade angular (rad/s) 𝜋 = constante trigonométrica (3,1415…) d) a rotação é o número de ciclos que uma partícula em movimento circular faz em 1 minuto. Como a frequência é em segundos e a rotação em minutos, temos que: 60n f.� Como: f � � �2 Então: n .60 2 Reduzindo, temos: n .30 Onde: n = rotações (rpm) 𝜔 = velocidade angular (rad/s) 𝜋 = constante trigonométrica (3,1415…) _Livro_Elementos de Máquinas.indb 57_Livro_Elementos de Máquinas.indb 57 20/05/2022 14:09:1320/05/2022 14:09:13 Elementos de Máquinas – 58 – e) A velocidade tangencial é sempre tangente ao movimento; ela muda de direção a cada instante, mas seu módulo é constante. A Figura 3.2 apresenta a representação de velocidades tangenciais. Figura 3.2 – Velocidade tangencial Fonte: adaptada de Melconian (2019, p. 12). A relação entre a velocidade tangencial e a velocidade angular está no raio do movimento circular: v r � � v r. Isolando a velocidade angular: .n 30 Substituindo a equação anterior: v n r. . 30 Onde: v = velocidade tangencial (m/s) r = raio (m) n = rotação (rpm) 𝜋 = constante trigonométrica (3,1415…) _Livro_Elementos de Máquinas.indb 58_Livro_Elementos de Máquinas.indb 58 20/05/2022 14:09:1420/05/2022 14:09:14 – 59 – Transmissão por correias Exemplo 1 Um motor elétrico tem rotação de 1800 rpm. Determine as seguintes características do motor (MELCONIAN, 2019): a) velocidade angular b) período c) frequência Solução: a) velocidade angular (𝜔) Dado: n = 1.800 rpm Para acharmos a velocidade angular, usaremos a equação da rotação: n .30 Substituindo os valores: 1800 30. Isolando a velocidade angular: � � � 1800 30 . � � rad s60 / b) período (T) O período é definido por: T 2 Substituindo a velocidade angular: T . . 2 60 Que resulta em: T 1 30 � _Livro_Elementos de Máquinas.indb 59_Livro_Elementos de Máquinas.indb 59 20/05/2022 14:09:1520/05/2022 14:09:15 Elementos de Máquinas – 60 – 0� s0334, c) frequência (f) A frequência é o inverso do período, então: f 11 30 � 30� Hz Conhecendo as relações entre frequência, período, rotação e veloci- dade angular, saberemos as relações de transmissão de correias. Na Figura 3.3 são dadas as duas condições de transmissão por correia: redutora de velocidade e ampliadora de velocidade. Figura 3.3 – Relação de transmissão por correias Fonte: Atlan Coelho. A relação de transmissão é dada por: i d d f f n n M M T T 2 1 1 2 1 2 1 2 1 2 Onde: i = relação de transmissão (adimensional) As demais relações estão representadas na Tabela 3.1 Tabela 3.1 – Características das polias Diâmetro (m) Velocidade angular (rad/s) Frequência (Hz) Rotação (rpm) Torque (N.m) Polia 1 d1 (menor) 𝜔1 f1 n1 MT1 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 60_Livro_Elementos de Máquinas.indb 60 20/05/2022 14:09:1520/05/2022 14:09:15 – 61 – Transmissão por correias Diâmetro (m) Velocidade angular (rad/s) Frequência (Hz) Rotação (rpm) Torque (N.m) Polia 2 d2 (maior) 𝜔2 f2 n2 MT2 Fonte: elaborada pela autora. 3.2 Torção Você sabe quando uma peça está sob torção? O esforço de torção ocorre quando uma peça sofre um torque em uma extremidade e um con- tratorque na extremidade oposta, como mostrado na Figura 3.4. Figura 3.4 – Peça sob a ação de torção simples Fonte: Atlan Coelho. Para as transmissões mecânicas, algumas relações devem ser defini- das, entre elas o torque (MT), a potência (P), a relação torque x potência e a força tangencial (FT). A Tabela 3.2 apresenta as referidas equações: o raio é representado por (r), a velocidade angular por (𝜔), a rotação por (n) e a velocidade tangencial por (vp). Tabela 3.2 – Relações de torque, potência e força tangencial Parâmetro Torque (MT) Potência (P) Torque x potência Força tangencial (FT) Equação M F rT T= . P F vT P.� M P nT � 30 � . F M r P v P rT T p � � � �. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 61_Livro_Elementos de Máquinas.indb 61 20/05/2022 14:09:1820/05/2022 14:09:18 Elementos de Máquinas – 62 – Parâmetro Torque (MT) Potência (P) Torque x potência Força tangencial (FT) Símbolo da unidade N.m Nm/s = J/s = W N.m N Unidade Newton-metro Watts Newton-metro Newton Fonte: elaborada pela autora. Exemplo 2 A transmissão por correia representada na Figura 3.5 é acionada por um motor elétrico com potência P = 4,5 kW com rotação de 1.750 rpm. Sabendo-se que a polia 1 é a polia motora do sistema, que a polia 1 tem 100 mm de diâmetro e a polia 2 tem 250 mm de diâmetro, des- prezando as perdas calcule o torque da polia 1 e a velocidade angular da polia 2 (MELCONIAN 2019). Figura 3.5 – Transmissão por correia com polia motora e movida Fonte: Atlan Coelho. Solução: O torque da polia 1 é calculado por: M PT � �1 Onde: P = potência (4.500 W) ω1 = velocidade angular da polia 1 (ω1 = 1.750 rpm) _Livro_Elementos de Máquinas.indb 62_Livro_Elementos de Máquinas.indb 62 20/05/2022 14:09:1820/05/2022 14:09:18 – 63 – Transmissão por correias Transformando em rad/s: w 1750 60 2 58 33. , Substituindo os valores: MT , . ,4500 58 33 24 55� N.m Para a velocidade angular da polia 2: d1 = 100 mm d2 = 250 mm 2 1 2 1 100 250 58 33 23 33d d rads. . , . / Respostas: MT1 = 24,55 N.m e ω2 = 23,33π rad/s 3.3 Conceitos de correias Quando falamos de transmissão por correia, qual é a aplicação que vem primeiro à mente? Eu penso logo no motor do carro. Mas por quê? Ele tem um sistema de transmissão por correia que interliga o motor, o alternador e a bomba d’água (Figura 3.6). Figura 3.6 – Motor e correias a) Foto do motor b) Sistema de transmissão Fonte: Stock.adobe.com/THINK; Atlan Coelho. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 63_Livro_Elementos de Máquinas.indb 63 20/05/2022 14:09:2120/05/2022 14:09:21 Elementos de Máquinas – 64 – 3.3.1 Principais tipos de correia e aplicações Quando se compara a transmissão por correia com as transmissões por corrente ou por engrenagens, pode-se elencar algumas vantagens e desvantagens, como mostrado no Quadro 3.1. Quadro 3.1 – Vantagens e desvantagens das correias Vantagens Desvantagens 1 Pouco ruído 1 Maiores dimensões e maior força axial 2 Absorção e amortecimento de choques 2 Maior escorregamento na transmissão de força 3 Disposição simples 3 Alongamento da correia que aumenta com o tempo de uso 4 Utilização múltipla (cruzada, inclinada, vários eixos etc.) 4 Variação do alongamento com temperatura e umidade 5 Mais economia por conta da simplicidade 5 Variação do coeficiente de atrito com poeira, detritos, óleo e umidade 6 Desacoplamento fácil 7 Simples variação da relação de multiplicação Fonte: elaborado pela autora. Existem vários tipos de correia, como planas, em V, em duplo V, com ranhuras e dentadas (Figura 3.7). Figura 3.7 – Tipos de correia _Livro_Elementos de Máquinas.indb 64_Livro_Elementos de Máquinas.indb 64 20/05/2022 14:09:2120/05/2022 14:09:21 – 65 – Transmissão por correias Fonte: Atlan Coelho. As correias tipo dentadas e síncronas são utilizadas em polias com ranhu- ras em V padrão. As correias em V industrial e a correia em V múltipla têm perfil em V, o que faz que a correia fique bem apertada dentro da ranhura da polia e que torques elevados sejam transmitidos sem a correia deslizar. Vejamos algumas utilizações práticas: 2 correia dentada – é muito utilizada nas transmissões veiculares, e sua grande vantagem é não ter deslizamento. Como desvantagem dessa aplicação está o fato de que a correia, por ser fabricada em borracha, está sujeita a perder a eficiência devido ao aquecimento; Figura 3.8 – Aplicação de correia dentada Fonte: Stock.adobe.com/Evgeny Korshenkov _Livro_Elementos de Máquinas.indb 65_Livro_Elementos de Máquinas.indb 65 20/05/2022 14:09:2220/05/2022 14:09:22 Elementos de Máquinas – 66 – 2 correia plana – tem ampla utilização, podendo ser usada também para transporte de cargas e esteiras de exercícios. A versatilidade desse tipo de correia está na possibilidade de emendá-la, o que torna possível seu uso em distâncias relati- vamente longas. Outra vantagem é o uso como embreagem, já que permite deslizamento. Figura 3.9 – Aplicação da correia plana Fonte: Stock.adobe.com/olly As correias trabalham em conjunto com as polias, que devem acompa- nhar a geometria das correias. Por exemplo, a correia em V é muito utilizada na indústria e em aplicações veiculares, sendo padronizadas (Tabela 3.3). Tabela 3.3 – Tipos padronizados de correia em V Geometria da correia em V Seção de correia Largura (mm) Espessura (mm) Diâmetro mínimo de roldana (mm) Intervalo de kW, uma ou mais correias A 12 8,5 75 0,2 - 7,5 B 16 11 135 0,7 - 18,5 C 22 13 230 11 - 75 D 30 19 325 37 - 186 E 38 25 540 75 e acima Fonte: adaptada de Budynas (2016). _Livro_Elementos de Máquinas.indb 66_Livro_Elementos de Máquinas.indb 66 20/05/2022 14:09:2420/05/2022 14:09:24 – 67 – Transmissão por correias Atualmente, as correias planas são fabricadas com um núcleo elás- tico impregnado com borracha e apresentam algumas vantagens sobre as transmissões por engrenagens ou por correias em V. Uma trans- missão por correia em V pode chegar a 98% de eficiência, enquanto as transmissões por correia plana têm eficiência entre 70% e 96%. Outra vantagem das correias planas são o baixo ruído e a alta absorção das vibrações torcionais, sendo, nesse aspecto, mais eficientes que as transmissões por correia em V (MOTT, 2015). Em geral, diferentes máquinas e elementos apresentam diferen- tes valores de eficiência. Contudo, é possível generalizar a eficiência mecânica dos elementos de acordo com sua categoria, para poupar tempo e facilitar os cálculos. Tabela 3.4 – Relação de rendimento com tipo de elemento de máquina Elemento de máquina Rendimento Correias Correia plana 0,96 a 0,97 Correia em V 0,97 a 0,98 Engrenagens Engrenagens fundidas 0,92 a 0,93 Engrenagens usinadas 0,96 a 0,98 Polias e correias 0,95 a 0,98 Mancais Rolamento 0,98 a 0,99 Deslizamento 0,96 a 0,98 Corrente de rolo 0,97 a 0,98 Fonte: adaptada de Ceará (2011). As informações apresentadas na Tabela 3.4 não são uma regra, então é possível realizar cálculos para determinar a eficiência mecânica de acordo com o sistema específico. _Livro_Elementos de Máquinas.indb 67_Livro_Elementos de Máquinas.indb 67 20/05/2022 14:09:2420/05/2022 14:09:24 Elementos de Máquinas – 68 – 3.4 Dimensionamento de transmissão por correias As transmissões por correia mais utilizadas podem ser de correias planas ou em V. O dimensionamento da correia plana é um pouco mais simples que o da correia em V, como veremos. 3.4.1 Dimensionamento de correias planas As correias planas podem trabalhar abertas ou cruzadas, e o dimen- sionamento abrange os cálculos do ângulo de contato ou abraçamento (𝜃) e o comprimento total da correia (L). A Figura 3.10 apresenta as configu- rações aberta e cruzada. Figura 3.10 – Configurações das correias planas abertas e cruzadas Fonte: Atlan Coelho. Primeiro, analisaremos a configuração das correias abertas. Uma cor- reia faz a ligação entre duas polias, uma de menor diâmetro (𝐷) e outra de maior diâmetro; além disso, cada polia apresenta uma velocidade tangen- cial (v) e um número de rotações (N). A relação que podemos realizar é: v v v 1 2 = = � � 1 1 2 2 . .r r� _Livro_Elementos de Máquinas.indb 68_Livro_Elementos de Máquinas.indb 68 20/05/2022 14:09:2520/05/2022 14:09:25 – 69 – Transmissão por correias Sendo que ω é a velocidade angular e r é o raio das polias. Sabemos que a velocidade angular pode ser obtida pela equação: � � � � � � 2 2 1 2 2 1 1 2 . . N N D D N N Dessa forma e de acordo o princípio da conservação de energia: P P P 1 2 = = P N T N T� �2 2 1 1 2 2 . . . . . .� � N N T T D D 1 2 2 1 2 1 = = Chegamos à equação de transmissão do mecanismo, também cha- mada de relação de transmissão: i N N D D = =1 2 2 1 Além desses cálculos básicos, há os ângulos 𝜃D, 𝜃d, dados por: D sen D d C 2 2 1. d sen D d C 2 2 1. Onde: D = diâmetro da polia maior d = diâmetro da polia menor C = distância entre centros 𝜃 = ângulo de contato O comprimento da correia é dado pela soma dos dois arcos mais duas vezes a distância entre centros (C): L C D d D dD d. .4 1 2 2 2 1 2 _Livro_Elementos de Máquinas.indb 69_Livro_Elementos de Máquinas.indb 69 20/05/2022 14:09:3020/05/2022 14:09:30 Elementos de Máquinas – 70 – Onde: 𝜃D= ângulo de contato da polia maior 𝜃d = ângulo de contato da polia menor Caso os ângulos de contato não sejam conhecidos, outra forma de calcular o comprimento da correia é pela equação: L l D D D D l 2 1 57 41 2 1 2 2 Onde: L = comprimento da correia (mm) D1 = diâmetro da polia maior (mm) D2 = diâmetro da polia menor (mm) l = distância entre centros das polias (mm) Vamos a um exemplo? Exemplo 3 Devemos determinar o comprimento de uma correia com base em duas polias predeterminadas por seu sistema, com distância entre centros igual a 600 mm. Para realizar essa tarefa, temos os seguintes dados: o diâmetro da polia menor é igual a 30 mm e o diâmetro da polia maior é igual a 60 mm. A rotação
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