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Teoria
Microeconômica:
Mercados
Alexander Luis Montini
Regina Lúcia Sanches Malassise
Teoria Microeconômica:
Mercados
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Montini, Alexander Luis
ISBN 978-85-8482-287-4
1. Economia. 2. Microeconomia. I. Malassise, Regina
Lúcia Sanches. II.
Título.
CDD 339
Montini, Regina Lúcia Sanches Malassise. – Londrina :
Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2016.
176 p.
M791t Teoria microeconômica: mercados / Alexander Luis
© 2016 por Editora e Distribuidora Educacional S.A
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2016
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Sumário
Unidade 3 | Teoria dos jogos
Seção 1 - Jogos, estratégias dominantes e equilíbrio de Nash
1.1 | Jogo e seus componentes
1.2 | O dilema dos prisioneiros
1.3 | O equilíbrio de Nash
1.3.1 | O equilíbrio de Nash aplicado à taxa de juros Selic
Seção 2 - Jogos repetitivos e sequenciais: ameaça, compromisso e
credibilidade
2.1 | As implicações dos Jogos Repetitivos
2.2 | Jogos sequenciais
2.3 | Ameaças, compromisso e credibilidade
Unidade 2 | Concorrência monopolística e oligopólio
Seção 1 - Equilíbrio monopolístico no curto e no longo prazo
1.1 | A empresa monopolisticamente competitiva no curto prazo
1.2 | A empresa monopolisticamente competitiva no longo prazo
1.3 | Competição Monopolística, eficiência e bem-estar
Seção 2 - Mercados Oligopolistas
2.1 | Mercado com poucos vendedores
2.2 | Equilíbrio no mercado oligopolista
Seção 3 - Equilíbrio: Modelos de Cournot, de Stackelberg e de Bertrand
3.1 | Modelo de Cournot
3.2 | Modelo de Stackelberg
3.3 | Modelo de Bertand
Unidade 1 | Concorrência perfeita e Monopólio
Seção 1 - Análise de mercados competitivos
1.1 | Concorrência Perfeita
Seção 2 - Poder de mercado do monopólio e monopsônio
2.1 | Monopólio: conceito, características e atuação no mercado
7
11
11
21
22
51
55
56
57
59
67
67
70
81
81
84
86
93
97
97
101
103
104
123
123
125
126
Unidade 4 | Noções de equilíbrio Geral
Seção 1 - Análise do equilíbrio geral com dois mercados,
eficiência das trocas e o diagrama de Edgeworth
137
141
157
158
159
160
162
165
166
166
167
169
170
1.1 | Equilíbrio geral
1.2 | Diagrama de Edgeworth
Seção 2 - Falhas de Mercado e as Externalidades
2.1 | Externalidades
2.2 | Análise das Externalidades e o Mercado
2.2.1 | Externalidades Negativas
2.2.2 | Externalidades Positivas
2.3 | Análises das Políticas Públicas e as Externalidades
2.3.1 | Politicas de Comando e Controle: Regulamentação
2.3.2 | Política Baseada no Mercado: Taxas Corretivas e Subsídios
2.3.4 | Políticas Baseadas em Mercados: Licenças de Poluição Negociáveis
2.4 | Medidas Privadas para as Externalidades
2.5 | Outras falhas de mercado
141
147
Apresentação
Quando se fala em estruturas de mercado, vale lembrar que os mercados
são constituídos por vendedores e compradores e podem apresentar diversas
formas. Cada mercado possui características específicas em termos de produtos
e serviços oferecidos, condições tecnológicas, acesso, informação, tributação,
regulamentação, participantes, localização no espaço e no tempo que atribuem
aos mercados características distintas (PINHO; VASCONCELLOS, 2006).
De acordo com Pinho e Vasconcellos (2006), as principais estruturas clássicas
de mercado são as seguintes:
• MERCADOS COMPETITIVOS: neste caso há muitos compradores e muitos
vendedores, de modo que cada um deles exerce pouca (ou nenhuma) influência
sobre os preços de mercado.
• MONOPÓLIOS: em alguns mercados existe apenas um vendedor, e este
vendedor determina o preço de mercado.
• OLIGOPÓLIOS: é uma terceira estrutura de mercado, onde há poucos e
(na sua maioria) grandes vendedores.
Cada uma destas estruturas de mercado possui suas peculiaridades e deve
ser analisada à parte, isso vai ser feito ao longo do nosso estudo. Por ora, basta-nos
saber que, de acordo com o produto que se estuda e de acordo com a estrutura
de mercado à qual este produto pertence, nós respondemos diferentemente a
aumentos nos preços.
Dentro deste contexto, o objetivo da presente bibliografia vai desenvolver sua
linha de raciocínio em quatro unidades, apresentadas a seguir:
• Unidade 1 – Tratar sobre a concorrência perfeita e o Monopólio,
conhecendo o modelo básico de concorrência e o Monopólio; para isso será
necessário desenvolver uma análise sobre os mercados competitivos, discorrer
sobre o poder de mercado do monopólio e do monopsônio, e abordar a
determinação de preços e o poder de mercado de cada estrutura.
• Unidade 2 - Abordar a concorrência monopolística e o oligopólio,
entendendo as formas oligopólicas de mercado, o equilíbrio monopolístico no
curto e no longo prazo, os mercados oligopolistas e os equilíbrios de Cournot,
Stackelberg e Bertrand.
• Unidade 3 – Entender a Teoria dos Jogos, com o objetivo de analisar
estratégias concorrenciais em ambiente de jogos e as decisões estratégicas,
entender o conceito de estratégias dominantes, o equilíbrio de Nash, jogos
repetitivos e sequenciais e as ameaças, os compromissos e o pressuposto da
credibilidade.
• Unidade 4 - Compreender as noções de Equilíbrio Geral, entendendo a
análise do equilíbrio geral com dois mercados, a eficiência das trocas e o diagrama
de Edgeworth e as Falhas de mercado.
Os conteúdos apresentados na referida bibliografia são essenciais para a
compreensão da disciplina de Microeconomia e se complementam com outros
estudos microeconômicos, como no caso da teoria da produção, que aborda
conceitos sobre os custos de produção e a escala eficiente, e os conceitos de
elasticidade. Boa leitura!
Unidade 1
CONCORRÊNCIA PERFEITA E
MONOPÓLIO
Nos mercados competitivos, nós temos muitas empresas participando
do mercado, talvez seja a estrutura de mercado mais comum, mais presente
no nosso cotidiano. Alguns exemplos podem ser: postos de combustíveis,
açougues, mercearias, padarias etc. Vale lembrar que não existe uma regra,
eu posso ter alguns municípios onde existe apenas um posto de combustível,
ou apenas uma padaria, sendo assim, caracteriza-se um monopólio e não um
mercado competitivo.
Um monopolista é uma empresa que é a única vendedora em seu mercado. Por
sua vez, o monopólio apresenta características bem diferentes das características de
mercados competitivos, e traça estratégias específicas para a maximização do lucro.
Já o monopsônio é caraterizado pela existência de muitos vendedores, mas apenas
um comprador, o que confere à referida estrutura de mercado características únicas.
Tanto o monopólio quanto o monopsônio serão objetos de estudo da seção 1.2.
Seção 1 | Análise de mercados competitivos
Seção 2 | Poder de mercado do monopólio e monopsônio
Nesta unidade você será levado a conhecer o modelo básico das
estruturas de mercado, o qual é denominado de concorrência perfeita, que
é o modelo ideal de mercado e que serve de base para a construção de todas
as demais estruturas. Conhecerá, também, o Monopólio, que é o oposto da
estrutura de concorrência. Ao estudar estas estruturas,você poderá analisar e
comparar estas com a realidade de mercado e compreender as semelhanças
e diferenças entre elas.
Alexander Luis Montini
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
8
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
9
Introdução
Empresas diferentes possuem características diferentes, contudo, toda análise
de mercado pressupõe a existência de compradores e vendedores, ou seja,
oferta, representando o lado das empresas responsáveis pela oferta de produtos e
serviços no mercado, e demanda, representando os consumidores, responsáveis
pela demanda de bens e serviços no mercado. Não existe análise de mercado
sem oferta e demanda. Se fossem somente empresas, seriam firmas abarrotadas
de produtos, mas sem ter para quem vender. Se fossem somente consumidores,
seriam pessoas passando necessidades sem ter de quem comprar. De forma
resumida, para desenvolver uma análise de mercado devemos ter informações
sobre as empresas (ou empresa) presentes no mercado e informações sobre os
consumidores (público-alvo).
Dentro deste contexto podemos analisar o comportamento dos consumidores,
como no caso de alterações nas variáveis que afetam a demanda, e o
comportamento das empresas, principalmente no que se refere ao processo de
maximização de lucros.
Porém, nem todos os consumidores e nem todas as empresas respondem
em mesmo grau a alterações nos preços ou nas outras variáveis que afetam a
demanda e a oferta, isso vai depender do produto (ELASTICIDADE) e da estrutura
de mercado na qual a empresa analisada está inserida. Por isso a importância do
estudo das estruturas de mercado.
Você poderá compreender mais sobre o mercado e o foco dos estudos
da microeconomia lendo o Capítulo 1 - Aspectos Preliminares, do livro:
PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2013. Disponível na Biblioteca Digital.
Concorrência perfeita e Monopólio
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Concorrência perfeita e Monopólio
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11
Seção 1
Análise de mercados competitivos
Partindo da hipótese de que as empresas possuem custos - e sabemos que são
iguais tanto para empresas pequenas quantos grandes -, vamos começar a estudar o
comportamento das empresas em diferentes mercados, pois isso torna o faturamento
delas diferente.
Um exemplo simples para entender como as diferentes estruturas de mercado
definem os resultados das empresas pode ser dado através da seguinte comparação:
a) Numa feira livre podemos ter muitos vendedores de tomate. E assim, se no início
da feira um feirante aumentar o preço do tomate em 20%, pode notar uma redução na
quantidade vendida, porque as pessoas teriam a opção de comprar de outros feirantes
próximos a um preço menor;
b) Por outro lado, quando pensamos no item segurança nacional, podemos
verificar que constitucionalmente só a União pode ofertar este serviço no mercado,
que é custeado com os impostos. Caso fosse ser ofertado no mercado, teria um preço
muito alto para cada pessoa pagar e, ao mesmo tempo, é um item essencial, por isto
mesmo sendo caro e necessário, e muitas pessoas pagariam por ele. Na verdade,
todos nós pagamos, porém, por via de impostos.
A diferença entre os mercados de tomate e da segurança nacional é óbvia: existem
muitos ofertantes de tomate na feira, mas só um ofertante de segurança nacional. Esta
diferença na estrutura de mercado modela as decisões sobre os preços e a produção
das empresas que operam nestes mercados. Neste sentido, vamos conhecer duas
estruturas de mercado que envolvem as situações descritas. Nesta seção estudaremos
a concorrência perfeita e na seção 1.2 estudaremos o monopólio.
1.1 Concorrência Perfeita
Você, aluno, já teve um contato inicial com os conceitos que envolvem a
estrutura de concorrência perfeita, quando estudou, em Introdução à Economia,
oferta, demanda e equilíbrio de mercado.
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
12
Caro aluno, para revisar as noções básicas de oferta e demanda, você
deverá ler o Capítulo 2 - Fundamentos da Oferta e da Demanda, do livro:
PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2013. Disponível na Biblioteca Digital.
Partindo daqueles conhecimentos prévios de equilíbrio de mercado, podemos utilizar
os conhecimentos de Pindyck e Rubinfeld (2006), os quais destacam que o modelo de
concorrência perfeita (ou mercado competitivo) se baseia em três suposições básicas:
1. Aceitação de preços.
2. Homogeneidade de produtos.
3. Livre entrada e saída do mercado.
ACEITAÇÃO DE PREÇOS: Vale ressaltar que em mercados competitivos, usualmente,
encontramos um grande número de compradores e vendedores, sendo assim, qualquer
empresa que decida participar do mercado deve trabalhar seus preços dentro da média
do mercado, ou seja, dos seus concorrentes. Como veremos mais adiante, com um
número maior de concorrentes a tendência é que os preços sejam mais competitivos,
o que implica margens de lucro pequenas. Sendo assim, empresas que entram no
mercado com preços muito agressivos acabam contribuindo para a queda na margem
de lucro do mercado como um todo. Por outro lado, se a empresa praticar preços
mais elevados do que a média de mercado, deixará de vender seus produtos, pois os
consumidores irão buscar outras empresas para o fornecimento de produtos e serviços.
Por isso, as empresas que participam de mercados competitivos são chamadas de
tomadoras de preços, ou seja, devem aceitar os preços que são praticados no mercado.
HOMOGENEIDADE DE PRODUTOS: A referida condição ocorre quando os produtos
de todas as empresas são substitutos perfeitos entre si, ou seja, os bens oferecidos pelos
diversos vendedores são em grande escala os mesmos, podemos dizer que os bens são
homogêneos.
LIVRE ENTRADA E SAÍDA DO MERCADO: Esta terceira suposição implica que não
existem custos significativos que tornam difícil para uma nova empresa entrar ou sair de
um segmento.
Assim como qualquer empresa, organizações que participam de mercados
competitivos buscam a maximização do lucro, que é igual à receita total menos o custo
total. Sendo assim, podemos utilizar um modelo de maximização de lucro retirado do
livro de Mankiw (2009) para tentar entender como empresas competitivas maximizam
seu lucro. O exemplo em questão trata de um mercado específico: uma empresa de
Concorrência perfeita e Monopólio
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laticínios. A empresa (que por simplificação também será chamada de firma) produz
uma quantidade de leite Q e vende cada unidade no mercado ao preço P. A tabela 1.1
mostra a receita total, média e marginal de uma empresa competitiva:
Através da análise da tabela 1.1 é possível compreender mais algumas características
da empresa competitiva. Em primeiro lugar, mesmo que a empresa modifique seu
volume de produção, os preços permanecerão constantes (segunda coluna). A
quarta e a quinta coluna representam, respectivamente, a receita média e a receita
marginal da empresa. Fica evidente que para empresas competitivas o preço é igual
à receita média, que por sua vez é igual à receita marginal (P=RM=RMg). Como não
há variação na Receita Marginal da empresa, a representação gráfica dos valores da
RMg resulta em uma reta, conforme o gráfico 1.1:
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 279).
Tabela 1.1 - Receita da empresa competitiva
Quantidade
(Q)
Preço
(R$)
(P)
Receita
Total
(RT=PxQ)
Receita
Média
(RM=RT/Q)
Receita
Marginal
(RMg=ΔRT/ΔQ)
0 6 0 - 6
1 6 6 6 6
2 6 12 6 6
3 6 18 6 6
4 6 24 6 6
5 6 30 6 6
6 6 36 6 6
7 6 42 6 6
8 6 48 6 -
Gráfico 1.1 - Receita Marginal da empresa competitiva
Fonte: O autor (2015).
Concorrência perfeita e Monopólio
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14
Partindo da suposição de que a empresa em questão possui custo fixo de R$ 3,00
e custos variáveis, a tabela 1.2 apresenta os dados referentes à maximização do lucro
da empresa competitiva.
Na tabela 1.2, fica evidente a inserção das colunas de custo total, lucro e custo
marginal, e por simplificação retiramosa coluna de preços (até mesmo pela redundância
dos valores apresentados). Se observarmos a coluna do lucro, podemos perceber que
no estágio 0, ou seja, quando a empresa não está produzindo nenhuma unidade, ela
fecha suas contas com prejuízo. Isso ocorre porque a empresa (e as empresas em
geral) apresenta custos fixos, que independem do volume de produção. À medida
que a empresa vai produzindo (e vendendo) mais unidades, seu lucro vai aumentando
até chegar a um ponto de maximização, ou seja, onde o lucro é o maior possível, no
exemplo trabalhado isto ocorre entre os estágios 4 e 5 (lucro de R$7,00). A partir deste
ponto os custos passam a aumentar, e com isso os lucros decrescem. A pergunta
é a seguinte: “A empresa maximiza seu lucro no estágio 4 ou 5?”. Para responder a
esta pergunta é necessário visualizarmos as duas últimas colunas. A RMg da empresa
competitiva é constante, contudo, os Custos Marginais são crescentes, assim, sob a
ótica do lucro máximo, conclui-se que:
Tabela 1.2 - Maximização do lucro da empresa competitiva
Caro aluno, você pode compreender melhor os custos de produção
lendo o Capítulo 7 - Custos de Produção, do livro: PINDYCK, Robert;
RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson Education
do Brasil, 2013. Disponível na Biblioteca Digital.
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 279).
Quantidade
(Q)
Receita
Total
(RT=PxQ)
Custo
Total
(CT)
Lucro
(RT-CT)
Receita
Marginal
(RMg=ΔRT/
ΔQ)
Custo
Marginal
(RCg=ΔCT/
ΔQ)
0 0 3 -3 6 2
1 6 5 1 6 3
2 12 8 4 6 4
3 18 12 6 6 5
4 24 17 7 6 6
5 30 23 7 6 7
6 36 30 6 6 8
7 42 38 4 6 9
8 48 47 1
Concorrência perfeita e Monopólio
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Gráfico 1.2 - Maximização do lucro da empresa competitiva
Fonte: O autor (2015).
• Se A RMg for maior que o CMg, a empresa deve aumentar sua produção.
• Se o CMg for maior que a RMg, a empresa deve diminuir a produção.
Portanto, o ponto de maximização do lucro da empresa competitiva ocorre onde
RMg se iguala ao CMg, no que chamamos ponto ótimo.
O gráfico 1.2 mostra o ponto ótimo do exemplo trabalhado. Percebe-se que as
curvas de RMg e CMg se encontram no estágio de produção 4, ou seja, no estágio
4 a RMg e o CMg são exatamente iguais. No nosso exemplo seria possível visualizar
o ponto ótimo na tabela, sem a necessidade da representação gráfica. Contudo, às
vezes, o ponto ótimo pode não estar ocorrendo em um ponto específico, ele pode
ocorrer entre estágios de produção. Assim, a única forma de encontrarmos o ponto
ótimo é representando os valores na forma gráfica.
EXEMPLO DE EXERCÍCIO DE MAXIMIZAÇÃO DE LUCRO DA EMPRESA COMPETITIVA
RESOLVIDO E COMENTADO
A seguir será demonstrada a resolução de um exercício de maximização de lucro de
uma empresa competitiva típica, passo a passo. O exercício em questão foi adaptado
a partir de Salvatore (1996):
Imagine que uma empresa competitiva pratique o preço P= 4 e apresente a
seguinte estrutura de custos totais:
Concorrência perfeita e Monopólio
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Calculando a receita marginal e o custo marginal, conseguimos preencher a tabela
por completo:
Calculando a receita total e o lucro, temos:
Tabela 1.3 - Custo total de uma empresa competitiva típica
Tabela 1.4 - Maximização do lucro de uma empresa competitiva típica
Fonte: Adaptado de Salvatore (1996, p. 271).
Fonte: Adaptado de Salvatore (1996, p. 271).
Quantidade
(Q)
Receita
Total
(RT=PxQ)
Custo
Total
(CT)
Lucro
(RT-CT)
Receita
Marginal
(RMg=ΔRT/
ΔQ)
Custo
Marginal
(RCg=ΔCT/
ΔQ)
0 4
1 10
2 13
3 15
4 16
5 17
6 18.5
7 21
8 25
9 36
Quantidade
(Q)
Receita
Total
(RT=PxQ)
Custo
Total
(CT)
Lucro
(RT-CT)
Receita
Marginal
(RMg=ΔRT/
ΔQ)
Custo
Marginal
(RCg=ΔCT/
ΔQ)
0 0 4 -4
1 4 10 -6
2 8 13 -5
3 12 15 -3
4 16 16 0
5 20 17 3
6 24 18.5 5,5
7 28 21 7
8 32 25 7
9 36 36 0
Concorrência perfeita e Monopólio
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17
Novamente, podemos perceber que o ponto de maximização de lucros ocorre
no estágio de produção 7, onde temos o lucro máximo (7) e a RMg e o CMg são
exatamente iguais. Para facilitar a visualização, podemos representar as colunas de
RMg e de CMg na forma gráfica:
Tabela 1.5 - Receita marginal e custo marginal de uma empresa competitiva típica
Gráfico 1.3 - Maximização do lucro da empresa competitiva típica
Fonte: Adaptado de Salvatore (1996, p. 271).
Fonte: O autor (2015).
Quantidade
(Q)
Receita
Total
(RT=PxQ)
Custo
Total
(CT)
Lucro
(RT-CT)
Receita
Marginal
(RMg=ΔRT/
ΔQ)
Custo
Marginal
(RCg=ΔCT/
ΔQ)
0 0 4 -4 4 6
1 4 10 -6 4 3
2 8 13 -5 4 2
3 12 15 -3 4 1
4 16 16 0 4 1
5 20 17 3 4 4
6 24 18.5 5,5 4 1,5
7 28 21 7 4 2,5
8 32 25 7 4 4
9 36 36 0 11
Concorrência perfeita e Monopólio
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18
O gráfico evidencia o ponto ótimo no estágio de produção 7, e vai de acordo com
a respectiva tabela (tabela 1.5).
Várias considerações importantes podem dar sequência ao estudo. Muitos autores,
inclusive, apontam características interessantes sobre a maximização do lucro da
empresa competitiva no curto e no longo prazo, incluindo nas análises as curvas de
lucro, de custos médios e de oferta da empresa. É uma ótima dica se aprofundar mais
nos aspectos de curto e de longo prazo para quem tem o interesse de buscar uma
visão mais ampla sobre o processo de maximização de lucros da empresa competitiva.
Caro aluno, você pode reforçar seus estudos sobre este tema lendo
o Capítulo 8 - Maximização de lucro em oferta competitiva, do livro:
PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2013. Disponível na Biblioteca Digital.
Quantidade
(Q)
Receita
Total
(RT=PxQ)
Custo
Total
(CT)
Lucro
(RT-CT)
Receita
Marginal
(RMg=ΔRT/
ΔQ)
Custo
Marginal
(CMg=ΔCT-
ΔQ)
0 0 8
1 4 9
2 8 10
3 12 11
4 16 13
5 20 19
6 24 27
7 28 37
1. Quais são as principais características de um mercado competitivo?
2. Considere o custo total e a receita total de uma empresa
competitiva, dados na tabela a seguir (adaptado de MANKIW, 2009,
p. 295):
Concorrência perfeita e Monopólio
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a) Qual é o preço praticado pela empresa?
b) Qual é o lucro para cada estágio de produção? Qual é a quantidade
produzida que maximiza o lucro?
c) Calcule a receita marginal e o custo marginal para as respectivas
quantidades. Represente o gráfico do ponto ótimo. Em qual quantidade essas
curvas se cruzam?
Agora, daremos continuidade ao nosso estudo procurando entender
o funcionamento de outra estrutura de mercado: o monopólio, que será
apresentado na seção 1.2 da unidade em questão.
Durante a seção 1 tratamos sobre a estrutura de mercado,
conhecida como mercado competitivo. Percebe-se que a
grande concorrência entre as empresas participantes do
mercado é sua principal característica. Tente refletir sobre os
benefícios para os consumidores, advindos da concorrência.
E para as empresas participantes, a concorrência também
pode vir a ser benéfica?
Concorrência perfeita e Monopólio
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20
Concorrência perfeita e Monopólio
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Seção 2
Poder de mercado do monopólio e monopsônio
Na maioria das cidades do Brasil, a distribuição de água de torneira é um monopólio,
ou seja, apenas uma empresa pode oferecer tal serviço. Sendo assim, não temos opção
de escolha, somos obrigados a aceitar os preços que a empresa pratica e consumir
o produto que ela oferece. Quando isso acontece, dizemos que o mercado é um
monopólio. O nome diz tudo: mono = um, apenas uma empresa no mercado. Outro
exemplo clássico de monopólio é o caso da Microsoft, detentora dos direitos autorais
do programa operacional Windows. Mesmo sem que você saiba, está adquirindo um
produto de um dos maiores monopólios do mundo.
De fato, quando você compra o computador com o Windows, recebe o
programa instalado, mas não recebe o código da programação (o código-fonte), e é
automaticamente obrigado a adquirir o pacote Office, pois outros programas não são
compatíveis com o Windows. Você é obrigado a adquirir o Word, o Excel etc. Assim,
se torna ummonopólio. Há um bom tempo se questiona a liberação de parte do
código-fonte do Windows para que outras empresas possam desenvolver programas
que sejam compatíveis, mas a Microsoft reluta, encarando, até mesmo, pesadas
multas para manter seu domínio sobre o mercado. Acabamos de apresentar dois
bons exemplos de monopólios: água de torneira e Microsoft, grandes monopólios. Só
que monopólios também podem ser encontrados em escalas menores. Querem um
exemplo? Em muitos municípios, alguns serviços são terceirizados, como o transporte
coletivo e a coleta de lixo, e, na maioria das vezes, apenas uma empresa é responsável
pelo serviço. Conclusão: monopólio. Neste sentido, vamos prosseguir estudando
mais detalhes sobre a estrutura de monopólio.
Você deve estar se perguntando: qual é o monopólio? Será
que é porque todos (ou quase todos) temos um computador
com o Windows em casa?
Concorrência perfeita e Monopólio
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2.1 Monopólio: conceito, características e atuação no mercado
Os monopólios apresentam características únicas, existem por motivos
particulares e desenvolvem estratégias específicas para a maximização do lucro.
Todos estes assuntos serão abordados nesta seção, bem como, alternativas para os
governos lidarem com os problemas do monopólio. E outra estrutura de mercado,
conhecida como monopsônio. Bom estudo!
De acordo com Pinho e Vasconcelos (2006), as hipóteses para a configuração de
um monopólio são as seguintes:
• O setor é constituído de uma única firma.
• A firma produz um produto para o qual não existe substituto próximo.
• Existe concorrência entre os consumidores.
• A curva da receita média é a curva de demanda do mercado.
Quando pensamos em mercado sem concorrência, logo associamos a estrutura
de mercado a dois fatores: preços altos e baixa qualidade dos produtos e serviços.
Como apenas uma empresa participa do mercado, ela é responsável pela definição
dos preços que serão praticados. Assim, as empresas monopolistas são chamadas de
formadoras de preços (diferentemente de mercados competitivos onde as empresas
eram tomadoras de preços). Se os monopolistas são formadores de preços, será
que podem praticar o preço que querem? Não existe um limite para isso, limite
que vocês irão compreender melhor durante a continuidade da leitura da seção.
Vamos dar um exemplo simples: imaginem que uma cópia licenciada do sistema
operacional Windows custe US$ 100, 00; agora, imaginem que a mesma cópia
custe US$ 1.000,00! Qual é o espanto? A Microsoft é a única a oferecer tal produto,
deve poder cobrar o quanto deseja, não é? Não. Se fosse o caso do exemplo acima,
quais seriam as principais implicações? Seriam as seguintes:
1. O computador se tornaria algo mais elitizado, ou seja, nem todos teriam
condições de acesso para adquirir um computador para as suas residências;
2. Isso incentivaria as pessoas a buscarem alternativas, como a aquisição de
outros programas operacionais, disponíveis no mercado, como é o caso do Linux,
por exemplo;
3. Haveria um grande estímulo à pirataria.
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
23
De forma resumida, os monopolistas não podem cobrar o quanto desejam,
existem limites para isso, e vocês verão que o governo exerce um papel importante
no controle de preços deles.
Outro grande questionamento acerca dos monopólios é sobre sua existência. Já
que podem ser ruins do ponto de vista da equidade e da eficiência, por que existem?
Antes de responder a tal questão, vale um breve comentário sobre a consolidação
dos primeiros grandes monopólios no nosso país. No Brasil, nós podemos dizer
que o processo de industrialização não se deu pelas vias normais. Quais são as vias
normais para o desenvolvimento industrial? Surgem rotas de comércio, as rotas de
comércio se consolidam e viram cidades, nas cidades desenvolve-se o comércio, o
comércio se fortalece e serve de base para o surgimento da indústria que virá. Foi
assim que aconteceu com a maioria dos países desenvolvidos. No Brasil, não. Já
no início da sua colonização, a distribuição de terras se deu com base em grandes
propriedades (latifúndios). Os latifúndios, por sua vez, desestimulam a diversificação
de culturas, e automaticamente favorecem a monocultura. A monocultura não
estimula o comércio, ou seja, as trocas. Sem um comércio forte, ocorre um atraso no
processo de industrialização (sem falarmos no grande favorecimento da importação
de produtos acabados, que ocorreu no século XVIII e no início do século XIX), ou
seja, uma industrialização tardia.
As poucas indústrias que estavam surgindo (principalmente após o fim do ciclo
do café, na década de 30) necessitavam de recursos:
• Sistema de transporte adequado.
• Sistema de distribuição de combustíveis.
• Oferta de energia elétrica.
• Fomento de recursos financeiros.
• Construção de rodovias.
• Mão de obra qualificada.
• Indústrias de base (siderurgia, química, metalurgia pesada, etc., indústrias
que favoreçam o desenvolvimento de novas indústrias).
Como não existiam indústrias de ponta em setores de infraestrutura (estratégicos),
o próprio governo se encarregou de constituir os primeiros grandes monopólios no
Brasil. Assim, no final da primeira metade do século XIX, e principalmente no início
da segunda metade do mesmo século, surgiram os primeiros grandes monopólios
no Brasil (Eletrobrás, Petrobrás, Telebrás, Sidebrás etc.), que eram todos do Estado
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
24
(estatais). Hoje, muitas destas empresas mudaram suas funções (como reguladoras
dos mercados), ou foram privatizadas.
Hoje, a existência dos monopólios se embasa principalmente devido à instituição
de algumas barreiras, barreiras estas que impedem a entrada de outras empresas no
mercado, consolidando assim um mercado monopolista. Existem basicamente três
grandes barreiras, são elas:
1. Um recurso-chave é propriedade, exclusividade de uma única empresa. Um
exemplo bem simples ocorre em uma situação onde temos várias propriedades
em uma mesma área rural. Se nesta área apenas uma propriedade tiver um poço
artesiano para a retirada de água, podemos dizer que existe um monopólio, pois o
recurso-chave (no caso, o poço artesiano) é propriedade de uma única empresa.
Um exemplo interessante que pode ser encontrado no livro do Mankiw (2009) é
o caso da DeBeers. A DeBeers é uma empresa de diamantes da África do Sul, que
controla cerca de 80% da produção mundial de diamantes. Mesmo não sendo um
monopólio pleno (pois não detém 100% do mercado), a DeBeers exerce grande
poder de mercado. A empresa em questão extrai, lapida e vende os diamantes.
Assim, qualquer outra empresa que deseja entrar no mercado para comercializar
diamantes, automaticamente (por suposição), terá que comprar a pedra bruta da
DeBeers. E a DeBeers não vai repassar a pedra bruta a preço de custo, vai cobrar
uma margem; assim, o preço final da empresa entrante vai acabar sendo maior do
que o praticado pela DeBeers, o que implicará na sua saída do mercado. Outro
exemplo já tratado durante o início da seção é o caso da Microsoft, ela detém um
recurso-chave, o código-fonte do Windows.
2. O governo concede a uma única empresa o direito de explorar/comercializar
um dado bem ou serviço: é muito comum no caso de licitações públicas, como no
caso das concessionárias de pedágios. Várias empresas se inscrevem na licitação, e
de acordo com os parâmetros estabelecidos pelo contratante, apenas uma ganha
o direito de prestar o serviço: transporte público, coleta de lixo e muitos outros
serviços terceirizados podem se enquadrar nesta barreira. Outro exemplo relevante
é no caso das leis de patentes e de direitos autorais. No caso das leis de patentes,
caso o governo conclua que um medicamento é realmente original, ou seja, a
empresa investiu muitos recursos para o desenvolvimento de uma formulação nova,
a empresa que é detentora da patente tem assegurado o direto exclusivo de produzir
o medicamento por cerca de 20 anos. É algo muitoquestionável, pois temos que
o monopólio da produção de determinados medicamentos priva muitos países do
tratamento de inúmeras doenças, como é o caso do tratamento da AIDS em países
do terceiro mundo. No caso dos direitos autorais ocorre uma garantia do governo
de que ninguém poderá imprimir e vender cópias de um livro, por exemplo, sem a
permissão do autor.
Concorrência perfeita e Monopólio
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25
3. Os custos de produção tornam um único produtor mais eficiente do
que um grande número de produtores (Monopólio Natural): é muito comum em
mercados onde os custos para implantação das plantas industriais, ou os custos de
comercialização de determinados bens/serviços são muito altos. O monopolista,
no caso, é detentor das instalações, das linhas de distribuição, dos encanamentos
(dependendo do setor) etc. Caso outra empresa decida entrar no mercado, vai ter
que realizar novos investimentos, ou até mesmo alugar as instalações que já estão
em funcionamento. Assim, os custos totais médios tendem a aumentar. A tabela a
seguir ilustra um exemplo simples de cálculo de custos:
A primeira coluna apresenta os níveis de produção da empresa. Na segunda
coluna temos os custos variáveis dela. A terceira coluna demonstra o custo total,
que trata da soma dos custos fixos e dos custos variáveis.
A fórmula seria a seguinte:
CT= CF+CV
Os custos médios são apresentados nas próximas três colunas. Lembrando que
os custos médios tratam da divisão do custo pelo número de unidades produzidas.
Assim, o Custo variável médio pode ser encontrado através da seguinte equação:
CVMe= CV / Qde.
O Custo fixo médio é encontrado usando a seguinte fórmula:
CFMe= CF / Qde.
e o Custo total médio através da fórmula abaixo:
CTMe= CT / Qde., ou CTMe= CFEe + CVMe.
A última coluna representa o Custo Marginal, ou seja:
CMg=CMg=ΔCT-ΔQ
Representando a coluna de Custo total médio, temos o seguinte gráfico:
Fonte: O autor (2015).
Tabela 1.6 - Cálculo das várias medidas de custos
Produção CF CV CT Cvme Cfme CTme Cmg
0 40 0 40 0,0 0,0 0,0 0
1 40 25 65 25,0 40,0 65,0 25
2 40 28 68 14,0 20,0 34,0 3
3 40 33 73 11,0 13,3 24,3 5
4 40 36 76 9,0 10,0 19,0 3
5 40 40 80 8,0 8,0 16,0 4
6 40 54 94 9,0 6,7 15,7 14
Concorrência perfeita e Monopólio
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26
EXEMPLO DE EXERCÍCIO DE CÁLCULO DE CUSTOS DE UMA
EMPRESA TIPICA, RESOLVIDO E COMENTADO
De acordo com Mankiw (2009), quando a curva de custo total médio de
uma empresa declina continuamente, nós temos um monopólio natural. Caso a
produção se divida em um número maior de empresas, cada uma delas produz
menos e o custo total médio aumenta. Assim, somente com uma empresa temos
uma quantidade produzida maior com custos totais médios menores.
Para facilitar o desenvolvimento, e antes de continuar, vamos apresentar um
exercício resolvido passo a passo. O exemplo pode ser encontrado no livro de
Mankiw (2009, p. 264). Na tabela 1.7 temos a quantidade produzida, os custos fixos
e os custos variáveis da empresa:
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 1.4 - Custo Total Médio
Tabela 1.7 - Várias medidas de custo de uma empresa típica – parte 1
Produção CF CV CT Cvme Cfme CTme Cmg
0 3,00 0,00
1 3,00 0,30
2 3,00 0,80
3 3,00 1,50
4 3,00 2,40
5 3,00 3,50
Concorrência perfeita e Monopólio
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27
Somando o custo fixo com o custo variável da empresa, temos:
Calculando os custos variáveis médios e os custos fixos médios, temos:
Fonte: Mankiw (2009, p. 264).
Fonte: Mankiw (2009, p. 264).
Tabela 1.8 - Várias medidas de custo de uma empresa típica – parte 2
Tabela 1.9 - Várias medidas de custo de uma empresa típica – parte 3
6 3,00 4,80
7 3,00 6,30
8 3,00 8,00
9 3,00 9,90
10 3,00 12,00
Produção CF CV CT Cvme Cfme CTme Cmg
0 3,00 0,00 3,00
1 3,00 0,30 3,30
2 3,00 0,80 3,80
3 3,00 1,50 4,50
4 3,00 2,40 5,40
5 3,00 3,50 6,50
6 3,00 4,80 7,80
7 3,00 6,30 9,30
8 3,00 8,00 11,00
9 3,00 9,90 12,90
10 3,00 12,00 15,00
Produção CF CV CT Cvme Cfme CTme Cmg
0 3,00 0,00 3,00 0,00 0,00
1 3,00 0,30 3,30 0,30 3,00
2 3,00 0,80 3,80 0,40 1,50
3 3,00 1,50 4,50 0,50 1,00
4 3,00 2,40 5,40 0,60 0,75
5 3,00 3,50 6,50 0,70 0,60
Concorrência perfeita e Monopólio
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6 3,00 4,80 7,80 0,80 0,50
7 3,00 6,30 9,30 0,90 0,43
8 3,00 8,00 11,00 1,00 0,38
9 3,00 9,90 12,90 1,10 0,33
10 3,00 12,00 15,00 1,20 0,30
Fonte: Mankiw (2009, p. 264).
E, por fim, calculando as duas últimas colunas, do custo total médio e do custo
marginal, temos:
Representando o gráfico do custo total médio, temos:
Fonte: Mankiw (2009, p. 264).
Tabela 1.10 - Várias medidas de custo de uma empresa típica – parte 4
Produção CF CV CT Cvme Cfme CTme Cmg
0 3,00 0,00 3,00 0,00 0,00 0,00 0,30
1 3,00 0,30 3,30 0,30 3,00 3,30 0,50
2 3,00 0,80 3,80 0,40 1,50 1,90 0,70
3 3,00 1,50 4,50 0,50 1,00 1,50 0,90
4 3,00 2,40 5,40 0,60 0,75 1,35 1,10
5 3,00 3,50 6,50 0,70 0,60 1,30 1,30
6 3,00 4,80 7,80 0,80 0,50 1,30 1,50
7 3,00 6,30 9,30 0,90 0,43 1,33 1,70
8 3,00 8,00 11,00 1,00 0,38 1,38 1,90
9 3,00 9,90 12,90 1,10 0,33 1,43 2,10
10 3,00 12,00 15,00 1,20 0,30 1,50
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
29
Fonte: O autor (2015)
Fonte: O autor (2015).
Diferentemente do gráfico 1.5, temos que os custos totais médios voltam a subir
nos últimos estágios de produção, assim, não se trata de um monopólio natural.
Uma consideração importante, se compararmos as características de uma
empresa competitiva com um monopólio, é no que se refere à curva de demanda.
O gráfico 1.6 demonstra a curva de demanda de uma empresa competitiva:
O que se nota é que a curva de demanda de uma empresa competitiva é uma reta,
isso acontece porque em mercados competitivos os preços são estáveis no curto
prazo. Lembrando-se da seção da presente unidade, as empresas são tomadoras
de preços, assim, os consumidores podem demandar diferentes quantidades,
independente do preço.
Gráfico 1.5 - Custo total médio de uma empresa típica
Gráfico 1.6 - Curva de demanda da empresa competitiva
R$
0 Qtde.
Demanda
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
30
Já no monopólio, a curva de demanda apresenta um formato diferente, conforme
mostra o gráfico 1.7:
Observando o gráfico 1.7, podemos retirar duas conclusões: primeiro, em
mercados monopolistas os preços não serão constantes; e segundo, para vender
quantidades maiores o monopolista vai ter que se sujeitar a preços menores.
As fórmulas para o cálculo das receitas e dos custos das empresas competitivas e
as do monopólio são idênticas. A tabela 10 ilustra o cálculo da receita total, da receita
média e da receita marginal do monopolista:
Fonte: O autor (2015).
Fonte: Mankiw (2009, p. 305).
Gráfico 1.7 - Curva de demanda do monopolista
Tabela 1.11 - Receita do monopolista
R$
0 Qtde.
Demanda
Quantidade (Q) Preço (R$) Receita Total Receita Média Receita Marginal
(P) (RT=PxQ) (RM=RT/Q) (RMg=ΔRT/ΔQ)
0 11 0 - 10
1 10 10 10 8
2 9 18 9 6
3 8 24 8 4
4 7 28 7 2
5 6 30 6 0
6 5 30 5 -2
7 4 28 4 -4
8 3 24 3
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
31
Se observarmos a tabela 1.11 com cuidado, podemos perceber que, à medida
que os preços vão diminuindo, a receita total também se altera. Até o estágio de
produção 5, nós temos uma receita total crescente, no estágio 6 ela se estabiliza, e
a partir daí novas reduções de preços resultam em receitas menores. A visualização
se torna mais fácil quando representamos o gráfico da receita total do monopólio:
Da mesma forma que acontecia com o mercado competitivo, no monopólio
o preço é igual à receita média, a diferença surge quando analisamos a receita
marginal. Para os mercados competitivos, no ponto de maximização do lucro o
preço era igual à receita média, que, por sua vez, era igual à receita marginal, ou seja:
P=RM=RMg
Como no ponto ótimo a RMG=CMg, podemos concluir que, para as empresas
competitivas, no ponto de maximização de lucros:
P=CMg
No caso do monopólio, e de acordo com a tabela, podemos perceber que o
preço é maior que a Receita Marginal (P>RMg). O gráfico 1.9 demonstratal relação:
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 1.8 - Receita do monopólio
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
32
E, como veremos a seguir, o monopolista inicia o processo de maximização de
lucros do mesmo modo que a empresa competitiva, escolhendo a quantidade, onde
a RMg=CMg. Sendo assim, no ponto de maximização do lucro do monopolista o
preço será maior que o Custo Marginal (P>CMg), o que nos dá indicativos de que o
monopolista maximiza seus lucros cobrando preços maiores do que se no mercado
existisse concorrência.
Igualando a receita marginal com o custo marginal, o monopolista inicia seu
processo de maximização de lucros, como pode ser visto no gráfico 1.10:
Fonte: O autor (2015).
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 1.9 - Preço e Receita Marginal do monopólio
Gráfico 1.10 - Definição da quantidade ofertada do monopolista
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
33
De acordo com o gráfico 1.10, se o mercado fosse competitivo, a empresa
maximizaria seu lucro escolhendo a quantidade Q1, e praticando o preço P1 (onde a
RMg=CMg). Mas como o monopolista é único no mercado, ele faz uso da curva de
demanda para definir os preços que irá praticar, isso pode ser visto no gráfico 1.11:
O gráfico 1.11 ilustra que, ao utilizar a curva de demanda de mercado, o monopolista
pode praticar um preço mais alto (P2), o que fará com que os consumidores
continuem comprando a mesma quantidade (Q1). O gráfico 1.12 mostra o lucro a
mais que o monopolista consegue auferir ao praticar preços maiores.
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 1.11- Definição de preços do monopolista
Gráfico 1.12 - Maximização do lucro do monopolista
Fonte: O autor (2015).
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
34
O retângulo que surge no eixo da quantidade representando a diferença entre
CMe e P2 denota o lucro do monopolista. Partindo de princípios lógicos, ao praticar
preços maiores, automaticamente, o monopolista deveria ofertar uma quantidade
maior no mercado, como indica o gráfico 1.13:
O triângulo superior, resultante da diferença, no eixo da quantidade, entre Q1 e
Q2, demonstra a ineficiência do monopólio. De acordo com Pindyck e Rubinfeld
(2006), é o que pode ser chamado de peso morto, ou seja, é aquele benefício a
mais que o monopolista deveria ofertar (por praticar preços maiores) e não o faz.
Pode ser expresso não só apenas em quantidades, mas também na forma de um
atendimento diferenciado, uma embalagem melhor etc.
A discriminação de preços é percebível em vários segmentos nos quais uma
única empresa é detentora de grande parte do mercado. Mankiw (2009) versa sobre
algumas situações que ilustram a discriminação de preços. O autor em questão
comenta sobre os ingressos de cinema, citando que, em alguns casos, alguns
cinemas oferecem preços menores para aposentados e estudantes, algo difícil
de explicar sob a ótica do mercado competitivo, pois o preço seria igual ao custo
marginal, mas facilmente compreendido quando partimos da suposição de que os
cinemas possuem poder de monopólio local, e os idosos e estudantes, uma menor
disposição para comprar os ingressos. Entra em cena a discriminação de preços
para aumentar o lucro dos monopólios, no caso dos cinemas. Outros exemplos
podem ser:
Gráfico 1.13 - Problemas do monopólio
Fonte: O autor (2015).
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
35
Tabela 1.12 - Receita do monopolista típico – parte 1
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 326-327).
• Preços de passagens aéreas.
• Cupons de desconto.
• Ajuda financeira.
• Descontos por quantidade, etc.
Em todos os casos, os monopolistas (se for o caso) podem praticar a discriminação
de preços para aumentar seus lucros.
Caro aluno, para revisar as noções básicas de oferta e demanda, você
deverá ler o Capítulo 10 - Poder de Mercado: Monopólio e Monopsônio,
do livro: PINDYCK, Robert; RUBINFELD, Daniel. Microeconomia. 8. ed.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013 p. 351-374. Disponível na
Biblioteca Digital.
EXEMPLO DE EXERCÍCIO DE MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS DE UMA
EMPRESA MONOPOLISTA TÍPICA, RESOLVIDO E COMENTADO
Imagine uma determinada empresa que possua a seguinte relação entre os
preços de seus produtos e dada quantidade demandada:
Calculando a receita total do monopolista, temos:
Qde. preço RT Cf Cv CT CTMe CMg RMg
10000 24
20000 22
30000 20
40000 18
50000 16
60000 14
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
36
Tabela 1.13 - Receita do monopolista típico – parte 2
Tabela 1.14 - Receita do monopolista típico – parte 3
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 326-327).
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, pg. 326-327).
Qde. preço RT Cf Cv CT CTMe CMg RMg
10000 24 VC
20000 22 440000
30000 20 600000
40000 18 720000
50000 16 800000
60000 14 840000
Qde. preço RT Cf Cv CT CTMe CMg RMg
10000 24 240000 0 50000 50000 5000 5000 20000
20000 22 440000 0 100000 100000 5000 5000 16000
30000 20 600000 0 150000 150000 5000 5000 12000
40000 18 720000 0 200000 200000 5000 5000 8000
50000 16 800000 0 250000 250000 5000 5000 4000
60000 14 840000 0 300000 300000 5000 5000
Agora, imagine que a empresa possa elaborar seus produtos sem custos e com
um custo variável de 5 (CV=5) para cada unidade produzida: a partir daí podemos
completar todas as colunas da tabela.
A tabela indica que as curvas de RMG e CMG se encontrariam na quantidade
5.000, que ocorreria quando a demanda se encontra entre 50.000 e 60.000
unidades.
Um grande questionamento que normalmente surge quando estudamos
os monopólios é: já que podem cobrar preços maiores, e são (na sua maioria)
ineficientes, como lidar com os problemas dos monopólios? Pindyck e Rubinfeld
(2006) tecem vários comentários sobre a regulamentação de preços que pode ser
exercida pelo governo. Já Mankiw (2009) explica que as políticas públicas podem ser
mais amplas, e que os governos podem reagir ao poder dos monopólios de quatro
formas:
1. Tornando os monopólios em mercados mais competitivos: o raciocínio
é óbvio: deixando os mercados mais competitivos, a tendência é que os preços
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
37
Aindade acordo com Reis et al. (2010, p. 20-22):
praticados sejam menores e que a qualidade dos produtos/serviços possa ser melhor.
Mas como fazer isso? De uma só forma: usando a legislação, principalmente a lei
antitruste, uma lei que impede a união/fusão de empresas caso a empresa resultante
apresente excessivo poder de mercado. Aqui no Brasil existem alguns casos clássicos,
um deles se deu a partir do final da década de 90: a fusão entre duas empresas do
setor alimentício, do segmento de chocolates, a Garoto e a Nestlé. De acordo com
Reis et al. (2010, p.18-19):
Tais investigações e análises são conduzidas através da
instauração de processo administrativo, que posteriormente é
remetido ao CADE para julgamento. No âmbito da proteção ao
consumidor, a SDE é o órgão responsável pela coordenação
da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
e tem suas competências estabelecidas pela Lei nº 8.078,
de 11 de setembro de 1990, cabendo-lhe planejar, elaborar,
propor, coordenar e executar a política nacional de proteção
ao consumidor. O CADE foi criado em 1962, como órgão do
Ministério da Justiça, tendo sido transformado em autarquia
federal em 1994, conforme Lei nº. 8.884/94, que também
estabeleceu suas atribuições. Dentre suas funções, o CADE
tem a finalidade de orientar, fiscalizar e apurar abusos de
poder econômico, exercendo papel tutelador na prevenção
e repressão dos abusos cometidos por empresas com poder
de mercado. Assim, na estrutura do Sistema Brasileiro de
Defesa da Concorrência, o CADE é o órgão responsável pelo
julgamento dos processos e, com base na instrução realizada
pela SDE e na análise dos pareceres, não vinculativos,
emitidos tanto por esta quanto pela SEAE, decide se houve
ou não infração à livre concorrência por parte de empresas
ou seus administradores nos casos deconduta, e também,
aprecia os atos de concentração submetidos à sua aprovação.
O CADE é formado por um Plenário composto por um
presidente e seis conselheiros, indicados pelo Presidente da
República, sabatinados e aprovados pelo Senado Federal, para
um mandato de dois anos (havendo a possibilidade de uma
única recondução, por igual período) e, portanto, só podem
ser destituídos em condições muito especiais. Esta regra
confere autonomia aos membros do Plenário do CADE, o que
é fundamental para assegurar a tutela dos direitos difusos da
concorrência de forma técnica e imparcial.
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
38
Em 15 de março de 2002, a empresa Nestlé Brasil Ltda.,
subsidiária brasileira do grupo suíço Nestlé, submeteu à
apreciação do CADE a aquisição da empresa Chocolates
Garoto S/A. A operação se formalizou, após processo de disputa
entre diversas empresas interessadas, com a celebração pelas
Requerentes do Contrato de Subscrição, datado de 22 de
fevereiro de 2002. Depois do fechamento do negócio, que
ocorreu em 28 de fevereiro de 2002, conforme previsto na
cláusula 3ª do Contrato de Subscrição, a Nestlé Brasil Ltda.
passou a deter a totalidade do capital social da Chocolates
Garoto S/A. Para resguardar as condições do mercado
relevante, de forma a evitar a ocorrência de danos irreversíveis
até a decisão final do Plenário do CADE, foi adotada uma
Medida Cautelar, com a celebração do Acordo de Preservação
da Reversibilidade da Operação (APRO), nos termos da
Resolução CADE nº 28, de 24 de julho de 2002. A aquisição
aumentava significativamente a concentração horizontal
no mercado de chocolates em geral. Outras questões foram
analisadas, incluindo a estimativa das barreiras à entrada e
as perspectivas de expansão de marcas rivais como Mars e
Hershey, que formavam uma franja competitiva constituída
por grandes empresas multinacionais. Foi apresentado
estudo detalhado das eficiências esperadas da concentração,
elaborado por auditoria independente. O CADE concluiu que
as importações não eram fator significativo no mercado e que
havia barreiras a novas entradas em razão das dificuldades para
garantir a distribuição por atacado e devido à diferenciação
do produto sustentada por elevados gastos em propaganda.
Além disso, foram descartadas as eficiências apresentadas
pelas empresas, uma vez que, ou não seriam específicas à
operação e poderiam ser obtidas de outras formas menos
lesivas à concorrência, ou porque as eficiências decorriam
de transferências financeiras. Assim, o Plenário concluiu que
a transação deveria ser rejeitada, porque (1) nem a esperada
redução nos custos variáveis (eficiências), nem o grau de
rivalidade remanescente no mercado seriam suficientes para
evitar os aumentos de preço ao consumidor de chocolate, e
(2) não havia qualquer remédio estrutural capaz de reduzir os
efeitos negativos da elevação da concentração.
Quando as empresas anunciaram a possibilidade de fusão, o governo entrou
na justiça alegando truste e impediu (pelo menos temporariamente) a união entre
as empresas. O governo alegou que a junção entre as empresas representaria em
Concorrência perfeita e Monopólio
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39
uma gigante no mercado de chocolates, que poderia exercer fortes influências nos
resultados de mercado. A título de ilustração, tivemos outros dois exemplos que
fogem à regra. O primeiro exemplo trata da criação da Ambev, a gigante cervejeira do
Brasil. Quando a Brahma, a Antarctica e a Skol anunciaram a fusão, todos os analistas
de mercado acreditavam que o governo faria uso da lei antitruste, pois visivelmente ela
poderia exercer grandes influências no mercado. Contrariando todas as expectativas,
o governo aprovou a fusão. De acordo com Quintella (2013, p. 21):
Ainda de acordo com Quintella (2013, p. 23):
A fusão entre a Companhia Cervejaria Brahma e a Companhia
Antarctica Paulista, resultando na Companhia de Bebidas das
Américas – AmBev, foi feita com o objetivo de obter ganho de
escala, aumentar a competitividade e poder atingir o mercado
internacional, exaltando a bandeira nacionalista com o slogan
de ser a primeira “multinacional verde-e-amarela”. Com isso,
foi apresentada a ideia de distribuição internacional do Guaraná
Antarctica, carro-chefe da Companhia Antarctica Paulista,
usufruindo da estrutura da Pepsi Co. Após o anúncio da fusão,
inúmeras cervejarias se apresentaram contra, sob a alegação de
que tal fusão iria gerar monopólio. A Kaiser foi a principal opositora
e até apresentou previsões que envolviam milhares de demissões.
Sobre o grande poder de barganha obtido por essa fusão,
a Companhia de Bebidas das Américas - AmBev ficou
proibida de exigir venda exclusiva em qualquer ponto de
venda. E para garantir as suas propostas de melhoria de
eficiência e redução de custos, a Companhia de Bebidas
das Américas - AmBev assinou um termo de cumprimento
de metas de duração de cinco anos, sob penalidade de
multa em caso de descumprimento. O objetivo do CADE
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica) com essas
restrições era garantir a entrada de um novo concorrente
no mercado à cervejaria Bavária, que já tinha aceitação dos
consumidores. Como a distribuição causa muitos custos
e pode ser um problema para uma nova cervejaria, o CADE
(Conselho Administrativo de Defesa Econômica) procurou
obrigar a Companhia de Bebidas das Américas - AmBev a
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
40
oferecer ajuda nesse ramo à Cervejaria Bavária, garantindo a
sua continuidade. Apesar das precauções do CADE (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica), muitas pessoas
ficaram insatisfeitas com esse veredito, principalmente os
representantes da Cervejaria Kaiser e da Schincariol, que, além
de acreditarem que a formação da Companhia de Bebidas das
Américas - AmBev iria conceder a esta enormes vantagens
competitivas, também estavam excluídas da compra de ações
da nova companhia devido a restrições estabelecidas pelo
CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), visto
que possuíam mais de 5% do mercado.
No dia 19 de maio de 2009 foi anunciada oficialmente a criação
de uma das maiores empresas do ramo de alimentos do Brasil
e do mundo, denominada Brasil Foods S.A. - BRF, originada da
fusão entre a Sadia e a Perdigão. Essa fusão trouxe à tona uma
série de questões, especialmente em relação à preservação da
concorrência nesse mercado e o significado estratégico para
o Brasil ao ter uma das maiores multinacionais de alimentos. A
ameaça à concorrência é afirmada pelo fato das duas companhias
estarem juntas na liderança do mercado em vários segmentos de
produtos, constituindo a capacidade de impor preços. Assim, essa
visão apoia o argumento dos especialistas e órgãos de defesa do
consumidor de que a Brasil Foods iria reduzir a competição no
mercado e elevaria os preços de alimentos.
Qual era a intenção do governo brasileiro ao aprovar a criação da Ambev? A intenção
do governo era aumentar o gênero e o volume das exportações brasileiras, ou seja,
entrar no mercado externo. O mercado cervejeiro internacional é extremamente
conservador, com marcas com muitos séculos de existência, com grandes premiações
internacionais. Uma marca de cerveja brasileira, por si só, teria dificuldade em entrar
no mercado externo, e com a criação da Ambev isso agora é possível. O segundo
exemplo é parecido, e também se refere ao mercado alimentício: a fusão entre a Sadia
e a Perdigão, criando a gigante BRfoods. De acordo com Sarassa e Vonia (2010, p. 3-4):
Ainda de acordo com Sarassa e Vonia (2010, p. 6):
Concorrência perfeita e Monopólio
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41
Quando da criação da BRfoods, os questionamentos foram os mesmos citados no
caso da Ambev, e a resposta do governo, embora não explícita, também foi parecida:
aumentar as exportações.
2. Regulamentando o comportamento dos monopólios: a regulamentação dos
monopólios pode ser exercida pelas agências reguladoras. Como no caso da Anatel, ela
regula o mercado de telefoniano Brasil. As principais atribuições da Anatel são: assegurar
preços justos ao consumidor, ou seja, nenhuma operadora de telefonia pode aumentar
seus preços sem autorização da Anatel, e controlar a qualidade dos serviços ofertados
para o consumidor. Preço e qualidade, justamente os dois principais problemas que
existem quando pensamos nos monopólios.
3. Estatizando alguns monopólios: em muitos casos, o governo pode comprar
a empresa monopolista. Em um primeiro momento, pouca coisa muda, o monopólio
simplesmente deixa de ser privado e passa a ser estatal. Então, qual é a intenção do
governo? Na maioria dos casos, o que pode ocorrer é que o governo compra a empresa
com a intenção de vendê-la, mas vendê-la em partes, cada parte para um grupo diferente.
Vou dar um exemplo bem simples. Vamos imaginar uma determinada região onde
apenas uma empresa possui a concessão para explorar o transporte público. Como na
figura 1.1:
Podemos dividir o impacto sobre a concorrência em duas
linhas: os contrários, que temem que a BRF utilize o seu poder
de mercado para elevar o preço dos alimentos; os favoráveis,
que incluem na formação da BRF uma sinergia de operações
que reduzirá custos e permitirá alimentos a menores preços
e maior qualidade para os consumidores, como também a
impossibilidade de impor preços ao mercado, visto sua natureza
e a dos demais competidores. Os contrários à BRF afirmam que
o domínio de mercado exercido pela empresa pode dar-lhe o
poder de impor preços e deixar os alimentos mais caros e com
menor qualidade, e que a redução de custos pela fusão não é
repassada para o consumidor. Ainda nessa linha, podemos dizer
que os casos de fusão no Brasil não resultaram em menores
preços, mas em menos opções para o consumidor.
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
42
Figura 1.1 - Exemplo de quebra de monopólio no transporte urbano – parte 1
Figura 1.2 - Exemplo de quebra de monopólio no transporte urbano – parte 2
Fonte: O autor (2015)
Fonte: O autor (2015)
Empresa dominante
Lote A Lote B
Lote C Lode D
O governo compra a empresa a coloca a mesma à venda em quatro lotes:
Depois de os lotes serem negociados, cada empresa passa a operar em um
quadrante. Aos poucos, o governo vai concedendo o direito de uma empresa explorar
o lote de outra empresa, e vice-versa, a abertura pode inicialmente ser na horizontal,
como ilustra a figura 1.3:
Figura 1.3 - Exemplo de quebra de monopólio no transporte urbano – parte 3
Fonte: O autor (2015)
Lote A Lote B
Lote C Lode D
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
43
Posteriormente, o governo pode propiciar a abertura na vertical, como na figura 1.4:
Ou seja, em uma área onde existia apenas uma empresa, agora temos quatro
empresas operando.
4. Não fazer nada: por incrível que pareça, é uma opção. Primeiro, porque o
governo pode deixar o mercado livre para que outras empresas (às vezes menores)
possam se unir e decidir disputar o mercado; segundo, porque todas as outras três
alternativas anteriores apresentam problemas. Qual é o problema da alternativa 1: utilizar
a lei antitruste para impedir a criação de monopólios? Sob os olhos da legislação, a
referida alternativa fere o direito de propriedade dos proprietários das empresas. Qual
é o problema da alternativa 2: criar agências reguladoras? As agências fiscalizam as
empresas, mas existe certa dificuldade em se fiscalizar/acompanhar a atuação das
agências reguladoras. E na alternativa 3? Qual é o problema? Por mais louvável que
seja a intenção do governo, não há aceitação pública. Em um país como o Brasil, com
sérios problemas (principalmente de ordem social) a serem resolvidos, retirar dinheiro do
orçamento federal para “comprar” empresas não seria bem visto aos olhos da sociedade.
Como visto, os monopólios são estruturas de mercado fantásticas, cheias de
particularidades, e que merecem muito estudo e seriedade na sua compreensão.
Antes de fechar a seção 1.2, vale ressaltar a existência de uma variação do monopólio,
que é o Monopsônio. De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006), o monopsônio refere-
se a um mercado onde existe apenas um único comprador. Pinho e Vasconcellos
(2006) acrescentam que o monopsônio pode prevalecer, principalmente, no mercado
de trabalho, como no caso de uma empresa que se instala em uma determinada região
do país e passa a ser a única demandante de mão de obra. Ainda de acordo com Pindyck
e Rubinfeld (2006), as fontes de poder do monopsônio são as seguintes:
Figura 1.4 - Exemplo de quebra de monopólio no transporte urbano – parte 4
Fonte: O autor (2015)
Lote A Lote B
Lote C Lode D
Concorrência perfeita e Monopólio
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44
• Elasticidade da oferta do mercado.
• Número de compradores.
• Interação entre compradores.
A seguir temos algumas atividades para fixar o conteúdo da seção. Boa sorte!
Na próxima unidade, vamos tratar sobre outras duas estruturas de mercado, a
concorrência monopolista e o oligopólio. Até breve!
Durante a seção 2 tratamos sobre a estrutura de mercado
conhecida como monopólio. Gostaria que vocês refletissem
sobre as principais diferenças entre mercados competitivos
e monopólios. Também, apresentamos, na referida seção,
que os monopólios podem apresentar problemas para os
consumidores. Assim, é possível um monopólio ser eficiente
do ponto de vista da equidade e da eficiência? Você é capaz
de citar algum exemplo?
1. Explique quais são as principais características do monopólio.
Quais são as características que o diferem do mercado
competitivo?
2. Explique, na forma de texto, como ocorre o processo de
maximização do lucro do monopolista.
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
45
Caro aluno, você deve ter em mente que tanto a concorrência
perfeita quanto o monopólio são estruturas de mercado que
pressupõem que estamos analisando a situação da oferta de
uma firma num contexto de indústria. Assim, a empresa está
classificada dentro de uma estrutura dependendo das outras
firmas concorrentes para um mesmo produto ou serviço, que
estão atuando no mercado. Assim, você pode aprofundar seus
estudos pesquisando sobre os custos sociais do monopólio. Em
tais estudos sempre há uma comparação entre a concorrência
perfeita e o monopólio em termos de bem-estar social. No link
há um texto que versa sobre este tema e você pode estudá-lo.
Disponível em: <http://www.ufpi.br/subsiteFiles/economia/
arquivos/files/texto11.pdf>.
Nesta unidade você estudou duas importantes estruturas de
mercado, a concorrência perfeita e o monopólio. Pôde verificar
que a concorrência perfeita se trata de um modelo básico
que descreve o funcionamento do mercado de maneira ideal,
com um grande número de empresas ofertando um produto
homogêneo, o que garantiria um lucro normal (mínimo) para
as empresas participantes do mercado. Porém, ao estudar o
monopóltio, verificou que esta estrutura é diametralmente oposta
à concorrência e que o lucro é máximo, pois, através do controle
da oferta, a empresa tem plenas condições de maximizar seu
lucro devido ao seu poder de monopólio.
Concorrência perfeita e Monopólio
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46
1. Recentemente, divulgou-se na mídia o seguinte destaque:
“Organização alerta CADE sobre suposto monopólio do
Google”. Tal preocupação foi motivada pelo argumento de que
o buscador Google elenca oferta de produtos e serviços com
maior destaque para seus contratantes e, no caso, empresas que
não são listadas na primeira página não existem (Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,organizacao-
independente-alerta-cade-sobre-suposto-monopolio-do-
google,125814>. Com base nesta informação, classifique o
suposto monopólio do Google em termos de qual seria sua fonte
de monopólio, ou seja, a barreira que limitaria a concorrência de
outra empresa com o Google.
2. Oberve a figura:
Tendo em vista que a concorrência monopolística e o
monopólio se iniciam no ponto em que P=RMg, a figura
ilustra a diferença da forma como o preço e a receita
marginal caminham a partir doponto inicial. Neste sentido,
explique como inicia o processo e como elas se diferenciam.
Concorrência perfeita e Monopólio
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3. (FMP-RS - 2011 - TCE-RS - Auditor Público Externo - Economia)
É CORRETO afirmar que o mercado apresenta uma estrutura em
concorrência perfeita quando:
a) Existe um grande número de produtores e compradores; cada um
dos produtores e compradores é pequeno em relação à dimensão do
mercado; os produtos elaborados são homogêneos, sendo substitutos
perfeitos entre si; existe completa informação e conhecimento sobre
o preço do produto por parte dos produtores e dos consumidores;
não existe habilidade das firmas para influenciar a procura de mercado
mediante mecanismos extrapreços, como propaganda, melhoria de
qualidade, mecanismos de comercialização; existem barreiras à entrada
de novas firmas no mercado.
b) Existe um grande número de produtores e compradores; cada um
dos produtores e compradores é pequeno em relação à dimensão do
mercado; os produtos elaborados são homogêneos, sendo substitutos
perfeitos entre si; existe assimetria de informação e conhecimento sobre
o preço do produto por parte dos produtores e dos consumidores;
não existe habilidade das firmas para influenciar a procura de mercado
mediante mecanismos extrapreços, como propaganda, melhoria de
qualidade, mecanismos de comercialização; existem barreiras à entrada
de novas firmas no mercado.
c) Existe um grande número de produtores e compradores; cada um
dos produtores e compradores é pequeno em relação à dimensão do
mercado; os produtos elaborados são homogêneos, sendo substitutos
perfeitos entre si; existe assimetria de informação e conhecimento sobre
o preço do produto por parte dos produtores e dos consumidores; as
firmas poderão influenciar a procura de mercado mediante mecanismos
extrapreços, como propaganda, melhoria de qualidade, mecanismos
de comercialização; não existem barreiras à entrada de novas firmas no
mercado.
d) Existe um grande número de produtores e compradores; cada um
dos produtores e compradores é pequeno em relação à dimensão do
mercado; os produtos elaborados são homogêneos, sendo substitutos
perfeitos entre si; existe completa informação e conhecimento sobre
o preço do produto por parte dos produtores e dos consumidores;
não existe habilidade das firmas para influenciar a procura de mercado
mediante mecanismos extrapreços, como propaganda, melhoria de
qualidade, mecanismos de comercialização; não existem barreiras à
entrada de novas firmas no mercado.
Concorrência perfeita e Monopólio
U1
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4. (Eletronorte/Economista/2006). Qual, dos seguintes pares de
expressões, é incompatível?
a) Perfeita competição – muitos vendedores.
b) Monopsônio – um único comprador.
c) Monopólio – um único vendedor de um bem substituto próximo.
d) Oligopólio – poucas firmas vendendo produtos que são substitutos
próximos.
e) Cartel – combinação formal de produtores.
5. Companhia de Gás da Bahia - BA (BAHIAGÁS/BA) 2006. Cada estrutura
de mercado no mundo econômico apresenta características bem
definidas a partir do número dos que exercem as atividades de oferta e
de procura. Sobre a estrutura de mercado monopolista, é correto afirmar
que:
a) No mercado monopolista ocorre uma concorrência duplamente
imperfeita.
b) No mercado monopolista ocorre um grande número de vendedores
e apenas um comprador.
c) Trata-se de um mercado de concorrência perfeita, caracterizado pelo
grande número de participantes, nos dois lados considerados.
d) Não há alternativas possíveis para os compradores, estes ou comprarão
do único produtor existente ou deixarão de consumir o produto.
e) Devido ao pequeno número de empresas dominantes, o controle
sobre os preços favorece a ocorrência de práticas conspirativas, conluios
e acordos que prejudicam o consumidor.
e) Existe um grande número de produtores; cada um dos produtores é
pequeno em relação à dimensão do mercado; os produtos elaborados
são homogêneos, sendo substitutos perfeitos entre si; existe um pequeno
número de compradores que poderão afetar o preço do mercado; existe
completa informação e conhecimento sobre o preço do produto por parte
dos produtores e dos consumidores; não existe habilidade das firmas para
influenciar a procura de mercado mediante mecanismos extrapreços, como
propaganda, melhoria de qualidade, mecanismos de comercialização; não
existem barreiras à entrada de novas firmas no mercado
U1
49Concorrência perfeita e Monopólio
Referências
BAER, W. A Economia brasileira. São Paulo: Nobel, 1996.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 32. ed. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2005.
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2006.
PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. 5. ed. São Paulo, 2006.
QUINTELLA, P., F. Análise econômica da criação da Ambev. 2013. Monografia
(Graduação em Ciências Econômicas) – PUC: Pontifícia Universidade Católica, Rio de
Janeiro, 2013.
REIS, Ana Clláudia et al. Fusão Nestlé e Garoto. Belo Horizonte, 2010. Disponível
em: <http://www.sinescontabil.com.br/monografias/trab_profissionais/flaviane.pdf>.
Acesso em: 30 jul. 2015.
SALVATORE, D. Microeconomia. 3. ed. São Paulo: Makron, 1996.
SARASSA, S. M.; VONIA, E. Fusão da Perdigão Sadia. IV JOPEC: Jornada de
Pesquisas Econômicas, 2013. Disponível em <http://www.fahor.com.br/publicações/
JOPEC/2013/Fusao_daPerdigao.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2015.
Unidade 2
CONCORRÊNCIA
MONOPOLÍSTICA E
OLIGOPÓLIO
A competição monopolística é uma estrutura de mercado que não é
perfeitamente competitiva. Como vocês verão durante a seção 2.1, possui
aspectos semelhantes e aspectos divergentes dos mercados competitivos e dos
mercados monopolizados. Em se tratando do mercado monopolístico, nosso
foco será na determinação de preços e quantidades no curto e no longo prazo.
O oligopólio, uma estrutura de mercado em que poucos vendedores ofertam
produtos similares ou idênticos, pode ser considerado como sendo uma estrutura
de mercado intermediária, ou seja, não existe tamanha concorrência como
acontece no mercado competitivo, mas também não é composto por apenas
uma empresa, como no caso do monopólio. Assim, na seção 2.2, dedicaremos
nossos esforços para tentar compreender como a pouca concorrência é vista aos
olhos dos consumidores, e como a decisão estratégica de um oligopolista afeta o
equilíbrio do mercado em geral.
Seção 1 | Equilíbrio monopolístico no curto e no longo prazo
Seção 2 | Os mercados oligopolistas
Avançando na nossa proposta, que visa à compreensão do funcionamento
dos mercados, temos como objetivo principal, inicialmente, entender a
estrutura de mercado conhecida como competição (ou concorrência)
monopolística. Em um segundo momento, voltaremos nossa atenção
para uma estrutura de mercado conhecida como oligopólio; e, por final,
estudaremos três modelos de equilíbrio de mercado: o modelo de Cournot, o
modelo de Stackelberg e o modelo proposto por Bertrand.
Alexander Luis Montini
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
52
As decisões estratégicas (em termos de preços praticados e quantidades
produzidas) que conduzem ao equilíbrio de mercado são objetos de estudo de vários
pesquisadores. Augustin Cournot, Stackelberg e Joseph Bertrand partem do modelo
mais simples de oligopólio, que é quando temos apenas duas empresas dividindo o
mercado (conhecido como duopólio), para tentar entender o comportamento da
firma na busca pela maximização do lucro. Sendo assim, na seção 2.3, dedicaremos
nosso tempo para apresentar aspectos relacionados aos três modelos propostos.
Seção 3 | Equilíbrio: Modelos de Cournot, de Stackelberg e
de Bertrand
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
53
Introdução
Durante a Unidade 1 procuramos compreenderos mercados competitivos e
os mercados monopolistas, vimos como a concorrência existente no mercado
competitivo leva a um equilíbrio que pode ser visualizado a partir do momento em
que a curva de receita marginal (RMg) da empresa se iguala ao seu custo marginal
(CMg). No caso do monopólio, também podemos visualizar que o processo de
maximização de lucro se inicia da mesma forma que ocorre no mercado competitivo,
só que o monopolista faz uso da curva de demanda para estabelecer seus preços
(que são maiores do que os preços praticados em mercados com concorrência).
Pindyck e Rubinfeld (2006) afirmam que empresas com poder de monopólio não
exigem que a empresa seja monopolista pura, e que em muitos segmentos, ainda
que diversas empresas estejam competindo entre si, cada uma tem pelo menos
algum poder de monopólio; podem possuir controle sobre os preços, e podem
cobrar valores superiores ao custo marginal. Nesta unidade estudaremos estruturas
de mercado que, mesmo não sendo monopólio puro, podem fazer surgir o poder
de monopólio. Vamos começar com a competição monopolística, no caso em
questão a quantidade de poder de monopólio que a empresa exerce depende
da diferenciação de seu produto em relação aos demais concorrentes. Pinho e
Vasconcellos (2006) afirmam que a diferenciação dos produtos pode ocorrer por
características físicas, pela embalagem, ou pelo esquema de promoção de vendas
(como campanhas promocionais e fixação da marca na mente dos consumidores).
A segunda estrutura de mercado que vai ser abordada na presente unidade é o
oligopólio, um mercado onde apenas algumas empresas competem entre si e
a entrada de novas empresas é dificultada. A mercadoria que produzem pode
ser diferenciada, como no caso de automóveis e motocicletas; o mesmo ocorre
com o setor de serviços, como no caso da telefonia móvel. Em alguns setores
oligopolistas ocorre a cooperação, em outros casos ocorre a competição (que
em algumas vezes tende a ser bem agressiva). De acordo com a interação entre
as empresas concorrentes surgem o poder de monopólio e a lucratividade das
respectivas empresas (PINDYCK RUBINFELD, 2006, p. 373).
Ao final da unidade serão apresentados três modelos de equilíbrio de mercado
que podem ocorrer em oligopólios: o de Cournot, o de Stackelberg e o de
Bertrand. Os modelos em questão são úteis, pois desenvolvem hipóteses para o
desenrolar do raciocínio e podem facilitar a compreensão do comportamento
das empresas diante da concorrência. Assim, vamos dar início à seção 2.2, onde
trataremos da estrutura de mercado conhecida como competição monopolística.
Bom aprendizado!
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
54
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
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Seção 1
Equilíbrio monopolístico no curto e no longo prazo
Como vocês verão, a competição monopolística apresenta algumas características
que remetem aos mercados competitivos, e outras características que se assemelham ao
monopólio, contudo, indústrias monopolisticamente competitivas não se encaixam, em
sua plenitude, no modelo competitivo e nem no de monopólio. Mankiw (2009, p. 331) cita
o mercado de livros: quando você vai até uma livraria, pode encontrar uma infinidade de
títulos e autores, o que o faz parecer competitivo, e como qualquer autor pode entrar no
segmento, bastando escrever um livro, não se trata de um mercado altamente lucrativo.
Por outro lado, cada livro é único, e as editoras têm alguma liberdade de escolha quanto ao
preço que cobram, parecendo assim um mercado monopolístico. O exemplo apresentado
pelos autores trata do mercado de livros, mas também pode ser aplicado a inúmeros
outros mercados, como é o caso de artigos de luxo. No mercado de acessórios de luxo,
nós podemos encontrar vários produtos semelhantes à nossa disposição, só que alguns
dos acessórios disponíveis no mercado pertencem a marcas renomadas, e com isso
(massificação da marca na mente dos consumidores), os clientes não conseguem enxergar
uma concorrência, e passam a ver aquele produto como único, sem concorrência.
De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 374), um mercado monopolisticamente
competitivo possui duas características-chave:
Sobre elasticidade cruzada da demanda, você pode consultar o livro de
Pindyck e Rubinfeld (2006, p.126).
1. As empresas competem vendendo produtos diferenciados,
altamente substituíveis uns pelos outros, mas que não são,
entretanto, substitutos perfeitos. Em outras palavras, as elasticidades
cruzadas de suas demandas são grandes, mas não finitas.
2. Há livre entrada e livre saída: é relativamente fácil a entrada de
novas empresas com suas próprias marcas e a saída de empresas que
já atuam no mercado, caso seus produtos deixem de ser lucrativos.
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
56
Assim como ocorre no monopólio, na competição monopolística as empresas
apresentam curvas de demanda decrescentes. Por isso elas possuem poder de
monopólio, mas isso não implica lucros extremamente altos, isso ocorre porque
existe a livre entrada e saída do mercado, o que faz com que a possibilidade de obter
lucro estimule outras empresas a participarem do mercado, o que reduzirá os lucros
econômicos. A seguir, voltaremos nossa atenção para a maximização do lucro da
empresa competitivamente monopolística, e seu equilíbrio no curto e no longo prazo.
1.1 A empresa monopolisticamente competitiva no curto prazo
Conforme já dito, a empresa competitivamente monopolística se assemelha, em
muitos aspectos, ao monopólio. O processo de maximização de lucros tem início a
partir do momento em que a curva de custo marginal (RMg) se iguala à curva de receita
marginal (CMg), e, com base na curva de demanda (como comentado no parágrafo
anterior, é decrescente), ocorre a definição dos preços que serão praticados.
No caso do gráfico 2.1 temos as curvas de Custo Marginal, Custo total médio,
Demanda e Receita marginal. No exemplo em questão, percebe-se que o preço
supera o custo total médio, de modo que a empresa obtém lucro.
Agora, vamos apresentar o gráfico 2.2, que mostra o equilíbrio da empresa
competitivamente monopolista em uma situação de prejuízo:
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 2.1 – Empresa monopolisticamente competitiva em situação de lucro
Sobre o equilíbrio da empresa competitivamente monopolística, no curto
prazo, e em situação de obtenção de lucro, consultar o livro: Mankiw
(2009, p. 335).
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
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57
1.2 A empresa monopolisticamente competitiva no longo prazo
Uma situação como a que foi representada nos gráficos 2.1 e 2.2 pode não durar
muito tempo, principalmente o que foi descrito no gráfico 2.1, isso porque, quando
empresas apresentam lucros, existe um incentivo para que novas empresas entrem
no mercado para ofertarem seus produtos
No gráfico 2.2, o preço é inferior ao custo total médio, assim, a empresa não é
capaz de obter lucro, o máximo que ela pode fazer é tentar reduzir os prejuízos. De
acordo com Mankiw (2009, p. 334): “Uma empresa monopolisticamente competitiva
escolhe sua quantidade e seu preço da mesma maneira que o monopólio. No curto
prazo, esses dois tipos de estrutura de mercado são semelhantes”.
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 2.2 – Empresa monopolisticamente competitiva em situação de prejuízo
Sobre o equilíbrio da empresa competitivamente monopolística, no
curto prazo e em situação de prejuízo, favor consultar o livro: Mankiw
(2009, p. 335).
Essa entrada aumenta o número de produtos dentre os quais
os clientes podem escolher e, com isso, reduz a demanda
da empresa para cada empresa já presente no mercado. Em
outras palavras, o lucro incentiva a entrada, a qual desloca
Concorrência monopolística e oligopólio
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58
para a esquerda as curvas de demanda com que deparam as
empresas já existentes. À medida que cai a demanda pelos
produtos dessas empresas, seus lucros diminuem (MANKIW,2009, p. 334).
De forma contrária, quando as empresas apresentam prejuízos, como no gráfico
2.2, muitas empresas que estão no mercado sofrem um incentivo para sair. De
acordo com Mankiw (2009, p. 334):
O processo de entrada e de saída das empresas no mercado continua até que
as empresas tenham lucro econômico igual a zero. Voltando à hipótese de existir a
possibilidade da entrada de novas empresas no mercado, temos o gráfico 2.3, que
ilustra o equilíbrio dos competidores monopolísticos no longo prazo:
Com a saída de empresas, os clientes têm menos produtos
para escolher. Essa queda do número de empresas aumenta
a demanda para as empresas que continuam no mercado. Em
outras palavras, os prejuízos incentivam a saída e esta desloca
as curvas de demanda das empresas remanescentes para
a direita. Com o aumento na demanda pelos produtos das
empresas remanescentes, estas passam a ter lucros crescentes
(isto é, prejuízos decrescentes).
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 2.3 – Competição monopolística no longo prazo
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
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59
No gráfico 2.3, fica evidente que a curva de demanda e a curva de custo total
médio são tangentes, isso leva a um lucro econômico igual a zero. Também fica
evidente que esse ponto de tangência se dá na mesma quantidade em que a receita
marginal se iguala ao custo marginal, uma análise mais aprofundada implica que
o alinhamento desses pontos se torna necessário, pois a quantidade (no gráfico
representada pela letra Q) é a quantidade que maximiza o lucro, e o lucro é igual
a zero no longo prazo. Contudo, vale ressaltar que, como as empresas podem ter
custos diferentes, e algumas marcas podem se sobressair em relação a outras, elas
podem cobrar preços diferenciados pelos seus serviços e produtos, e com isso
(em alguns casos) obter lucros.
De forma resumida, são duas as características que descrevem o mercado
monopolisticamente competitivo em seu equilíbrio de longo prazo:
Sobre o equilíbrio de longo prazo da empresa monopolisticamente
competitiva, você pode consultar o livro: Pindyck e Rubinfeld (2006, p.
375-376).
• Como no mercado monopolista, o preço é superior ao
custo marginal. Essa conclusão surge porque a maximização
do lucro requer que a receita marginal seja igual ao custo
marginal e porque a curva de demanda de inclinação
descendente faz com que a receita marginal seja inferior ao
preço.
• Como no mercado competitivo, o preço é igual
ao custo total médio. Essa conclusão sugere que as livres
entradas e saídas levam o lucro econômico a zero (MANKIW,
2009, p. 335).
1.3 Competição Monopolística, eficiência e bem-estar
Do ponto de vista do bem-estar, a concorrência perfeita é mais desejável, dada
a sua eficiência. Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 376) ressaltam que “[...] desde que
não haja externalidades e nada impeça o funcionamento do mercado, a soma
total do excedente do consumidor e do produtor será a maior possível”. Sendo
assim, podemos considerar a competição monopolística igualmente eficiente? Para
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
60
responder a esta pergunta é necessário comparar a competição monopolística
com o mercado competitivo. O gráfico 2.4 ilustra uma representação simples do
equilíbrio no mercado competitivo:
Conforme já comentado na Unidade 1, a empresa perfeitamente competitiva
possui uma curva de receita marginal igual à curva de demanda, e pelo fato dos
preços serem constantes, a representação gráfica resulta em uma reta horizontal.
A empresa em questão produz na escala eficiente, na qual o custo total médio
é minimizado, e o preço é igual ao Custo Marginal. Agora, vamos voltar nossa
atenção para o gráfico 2.5, que ilustra o equilíbrio na competição monopolística.
Fonte: O autor (2015).
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 2.4 – Equilíbrio no mercado competitivo
Gráfico 2.5 – Equilíbrio na competição monopolística
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
61
De acordo com o gráfico 2.5, o preço ultrapassa o custo marginal, assim é
possível concluir que a empresa monopolisticamente competitiva produz abaixo
da escala eficiente. Essas ineficiências acabam não sendo benéficas do ponto de
vista dos consumidores, assim, do ponto de vista do bem-estar, a competição
monopolística não seria uma estrutura de mercado desejável. Sendo assim, é
inevitável perguntar se não seria necessária uma intervenção (regulamentação)
por parte dos governos. De acordo com os autores Pindick e Rubinfeld (2006), a
reposta é: não. Os autores justificam seu posicionamento devido a dois motivos. O
primeiro motivo apresentado defende e ressalta a seguinte situação:
Quando os autores comentam sobre a elasticidade da demanda não ser tão
pequena, eles querem dizer que pequenas variações de preços podem resultar
em mudanças significativas na demanda pelo produto. A justificativa para a não
regulamentação de mercados competitivamente monopolísticos afirma o seguinte:
Mankiw (2009) se posiciona de maneira parecida. O autor afirma que não existe
uma maneira simples para os formuladores de políticas públicas solucionarem
1. Na maioria dos mercados monopolísticos, o
poder de mercado é pequeno. Geralmente há um número
satisfatoriamente grande de empresas concorrendo, cada
qual detentora de marcas satisfatoriamente substituíveis entre
si, de tal modo que nenhuma das empresas tenha substancial
poder de monopólio. Sendo assim, qualquer peso morto
resultante será pequeno. Como as curvas da demanda são
razoavelmente elásticas, seu excesso de capacidade deverá
ser também pequeno (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 377).
2. Qualquer ineficiência deve ser confrontada com um
importante benefício que a competição monopolística oferece:
a diversidade de produtos. A maioria dos consumidores
valoriza o fato de poder escolher entre uma ampla variedade
de produtos concorrentes e marcas que diferem de várias
formas entre si. Os ganhos decorrentes da diversidade de
produtos podem ser grandes, podendo facilmente superar
os custos da ineficiência resultantes de curvas de demanda
descendentes (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 377).
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
62
os problemas relacionados à ineficiência da competição monopolística, e que os
formuladores precisariam regulamentar todas as empresas que produzem bens,
ou ofertam serviços diferenciados, e como esses produtos e serviços são comuns
na economia, o ônus administrativo seria muito alto.
Ainda em se tratando da ineficiência da competição monopolística, podemos
partir do princípio de que o número de empresas no mercado pode não ser
considerado ideal, ou seja, pode haver excesso ou insuficiência de entradas no
mercado. Ainda de acordo com Mankiw (2009, p. 340): “Sempre que uma nova
empresa pensa em entrar no mercado com um novo produto, leva em consideração
apenas o lucro que poderá ter”. Contudo, vale lembrar que a entrada, ainda, poderia
gerar dois efeitos externos, ou seja, duas modalidades de externalidades:
Pertinente à diferenciação dos produtos, é muito comum que as empresas
façam uso de estratégias de marketing para conquistar seus clientes. Uma das
estratégias mais utilizadas é a propaganda. Um grande questionamento que surge
para os gestores das empresas é quanto gastar em propaganda. A propaganda,
como qualquer investimento, deve gerar um retorno, e esse retorno pode ser
medido, principalmente, das seguintes formas:
• Aumento de receita, através do aumento no volume de vendas.
• Reposicionamento de mercado.
• Fixação da marca na mente dos consumidores.
• A externalidade da variedade de produto: como os
consumidores obtêm algum excedente do consumidor a partir
da introdução de um novo produto, a entrada de uma nova
empresa transfere a eles uma externalidade positiva.
• A externalidade do roubo de negócios: como outras
empresas perdem clientes e lucros com a entrada de um novo
concorrente, a entradade uma nova empresa impõe às existentes
uma externalidade positiva (MANKIW, 2009, p. 340).
Sobre externalidade, você pode consultar os livros: Pindyck e Rubinfeld
(2006, p. 555-557) e Mankiw (2009, p. 196-199).
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
63
Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 357) fazem a seguinte afirmação:
Os mesmos autores ainda afirmam que:
A quantidade de gastos com propaganda pode variar de forma substancial, de
acordo com as características do mercado e, consequentemente, dos produtos
ofertados. De acordo com Mankiw (2009, p. 340):
A propaganda é muito importante para os fabricantes de jeans de
marca, que têm razões entre gasto em propaganda e receita em
vendas de até 10% ou 20%. A propaganda é importante para que os
consumidores tomem conhecimento de uma marca, e dá a ela certa
aura e imagem. Dissemos que as elasticidades de preço da demanda
em uma faixa de -3 a -4 são típicas para as principais marcas, e suas
elasticidades da demanda à propaganda podem variar de 0,3 a 1.
Portanto, tais níveis de propaganda parecem fazer sentido.
Os sabões em pó possuem as mais altas taxas de gastos em
propaganda e receita de vendas, por vezes chegando a ultrapassar
30%, mesmo quando a demanda de qualquer uma das marcas é
quase tão elástica quanto a demanda por jeans. O que seria capaz
de justificar tanta propaganda? Uma elevadíssima elasticidade
dos sabões em pó à propaganda. A demanda de qualquer marca
depende crucialmente da propaganda; sem ela, os consumidores
disporiam de pouca base para poder escolher entre os fabricantes
disponíveis (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 357).
Empresas que vendem bens de consumo altamente
diferenciados, como remédios que podem ser vendidos sem
receita, perfumes, refrigerantes, lâminas de barbear, cereais
matinais e ração para cães, costumam gastar ente 10% e 20% de
suas receitas com publicidade. Empresas que vendem produtos
industriais, como prensas e satélites de telecomunicação,
costumam gastar muito pouco em publicidade. E empresas
que vende produtos homogêneos, como trigo, amendoim ou
petróleo cru, não gastam nada.
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
64
O mesmo autor ainda complementa que:
Contudo, existe uma grande discussão sobre os efeitos resultantes das
propagandas realizadas pelas empresas. A discussão sobre os efeitos da propaganda
nos resultados de mercado é longa. Alguns analistas de mercado acreditam que
a propaganda é benéfica para os resultados de mercado, outros não concordam
com tal posicionamento. Vale ressaltar, antes de continuar o debate, que o que
estamos buscando é avaliar os efeitos da propaganda nos resultados de mercado,
e não se somos contrários ou favoráveis à propaganda em si.
Os analistas de mercado que acreditam que a propaganda é nociva para os
resultados de mercado justificam seu posicionamento afirmando que, na maioria,
as propagandas são mais psicológicas do que informativas, ou seja, ao invés de
mostrar os atributos do produto, utilizam estratégias, na maioria das vezes criativas,
como acontece com a participação de celebridades em comerciais de TV, ou
músicas populares, para desviar a atenção dos consumidores, massificando suas
mentes para a diferenciação de seus produtos, e, quando o consumidor não
consegue enxergar direito a real concorrência, ele passa a acreditar que aquele
produto é único. Quando isso acontece, cria-se certa diferenciação em relação
aos demais produtos, o que facilita as empresas a praticarem preços mais altos do
que os preços praticados pela concorrência.
Os analistas de mercado que são favoráveis à propagada acreditam que
através dela os consumidores podem dispor de mais informações para tomar suas
decisões. Um exemplo simples é quando você se depara com um cartaz que traz
o preço sugerido do produto, ou até mesmo os pontos de venda onde o produto
pode ser encontrado.
Embora ainda exista este debate, na atualidade, os formuladores de políticas
públicas passaram a aceitar a propaganda como um mecanismo para tornar os
mercados mais competitivos. De acordo com Mankiw (2009, p. 341):
Para a economia como um todo, o gasto em publicidade
representa cerca de 2% da receita total das empresas. Essa
despesa tem várias formas, incluindo comerciais para rádio e
televisão, espaço em jornais e revistas, mala direta, anúncios nas
páginas amarelas, outdoors e internet (MANKIW, 2009, p. 340).
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
65
Assim, depois de analisar algumas características dos mercados
monopolisticamente competitivos, podemos concluir que eles não apresentam
todas as características desejáveis em termos de eficiência e bem-estar. Finalizando
com as palavras de Mankiw (2009, p. 340):
De forma geral, e de acordo com o conteúdo apresentado na seção 2.1, ficou
claro que a competição monopolística se encontra (em termos de características)
entre o monopólio e a concorrência perfeita, e que as empresas na competição
monopolística fazem uso principalmente da propaganda, para diferenciar seus
produtos dos outros produtos com características similares que estão sendo
ofertados, e embora não seja um mercado perfeito, são poucas as ações que
os formuladores de políticas públicas podem desenvolver em prol de melhores
resultados de mercado, principalmente do ponto de vista do bem-estar econômico.
Um exemplo importante é o da desregulamentação da publicida-
de de determinadas profissões, como advogado, médico e farma-
cêutico. No passado, esses grupos conseguiram que os governos
estaduais proibissem a publicidade em suas áreas com base no ar-
gumento de que anunciar era “pouco profissional”. Há alguns anos,
contudo, os tribunais concluíram que o principal efeito dessas limi-
tações à publicidade era dificultar a competição. Por isso, reverte-
ram muitas das leis que proibiam esses profissionais de anunciar.
Após a leitura da seção 2.1 da Unidade 2, reflita um pouco
sobre os efeitos das propagandas nas decisões de compra
dos consumidores.
Ou seja, a mão invisível não garante que o excedente total
seja maximizado sob a condição monopolística. Mas, como as
ineficiências são sutis, difíceis de medir e difíceis de solucionar,
não há caminho fácil para as políticas públicas melhorarem os
resultados de mercado.
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
66
1. Explique como que os resultados do equilíbrio no curto
prazo de empresas monopolisticamente competitivas podem
influenciar seu equilíbrio de longo prazo.
2. Comente sobre as estratégias de diferenciação que podem
ser usadas pelas empresas monopolisticamente competitivas
para destacar seus produtos dos demais concorrentes.
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
67
Seção 2
Mercados Oligopolistas
No mundo todo, existem muitos mercados onde temos um número muito
reduzido de empresas ofertando produtos e serviços similares. Pense na seguinte
hipótese: um consumidor aqui no Brasil (nos dias atuais) deseja escolher uma
empresa para fornecer serviços de telefonia fixa para a sua residência, ele vai ter sua
decisão direcionada para poucas empresas que dominam o mercado, sua opção
de escolha é muito pequena, não existem muitas empresas ofertando o referido
serviço, como no caso dos mercados competitivos, mas também não existe
apenas uma, como no caso dos monopólios, por isso o oligopólio é um mercado
intermediário entre os outros dois mercados que foram trabalhados na Unidade 1.
Nos oligopólios, os produtos ou os serviços podem ou não ser diferenciados, o que
reduz suas semelhanças com a competição monopolística (assunto estudado na
primeira seção da presente unidade).
Durante a seção 2 vamos apresentar as principais características dos oligopólios,
vamos falar das barreiras para a entrada no respectivo mercado e, por fim, vamos
demonstrar o equilíbrio no mercado oligopolista e as políticas públicas para os
oligopólios.Como o oligopólio é uma estrutura de mercado que prevalece (se
comparado às outras estruturas de mercado, e considerando os vários serviços e
produtos que são ofertados), vale a pena dispor de algumas páginas para tratar sobre
o assunto. Bom aprendizado!
2.1 Mercado com poucos vendedores
São várias as características que definem um oligopólio, mas acredito que a
principal delas é que é um mercado onde um número reduzido de vendedores são
os principais responsáveis pela maior parte ou por toda oferta de um determinado
produto/serviços ofertado. De acordo com Pinho e Vasconcellos (2006, p. 197):
O oligopólio é uma estrutura de mercado que, hoje, prevalece no
mundo ocidental (inclusive no Brasil), na indústria e no transporte
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
68
De forma parecida, Salvatore (1996, p. 328) afirma que: “Oligopólio é uma
organização de mercado em que existem poucos vendedores de um produto”.
Como vocês verão mais à frente, as empresas oligopolistas poderiam se beneficiar
caso houvesse cooperação entre elas, o que implicaria um resultado de mercado
igual ao do monopólio (preços maiores que o custo marginal e uma pequena
quantidade de produto/serviço sendo ofertada). Contudo, Mankiw (2009, p. 350)
afirma: “Mas, como cada oligopolista se preocupa somente com seu próprio lucro,
há fortes incentivos em ação que impedem que um grupo de empresas mantenha
os resultados de um monopólio”.
Em muitos casos, é comum observar que os oligopolistas podem obter elevadas
margens de lucro, isso ocorre porque (da mesma forma que nos monopólios) existem
barreiras que dificultam a entrada de novas empresas no mercado, principalmente
barreiras naturais. De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 378):
Também existe a possibilidade de que as empresas que estão participando do
mercado adotem estratégias para dificultar a entrada de novas empresas. Um bom
exemplo é adotar uma estratégia de exclusão de mercado, onde a empresa líder
aumenta a oferta de seus produtos/serviços, com preços menores (por um dado
período de tempo), o que dificultaria a permanência de outras empresas no referido
mercado. Assim é posto que as decisões quanto à gestão de empresas em mercados
oligopolistas não são tão simples, e podem envolver questões relacionadas com:
• A política de preços a ser praticada.
• O nível de produção efetivo.
• Gastos com publicidade.
aéreo e rodoviário, nos setores químicos e siderúrgicos e outros.
Essa estrutura de mercado caracteriza-se pela existência de
reduzido número de produtores e vendedores fabricando bens
que são substitutos próximos entre si.
As economias de escala podem tornar o mercado não lucrativo, a
não ser para algumas empresas; as patentes ou o acesso à tecnologia
podem servir para excluir potenciais concorrentes; e a necessidade
de novas empresas. Essas são barreiras ‘naturais’ à entrada – elas são
básicas para a estrutura de mercado em particular.
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
69
• Investimentos de uma forma geral.
O item investimentos de uma forma geral pode ser executado nas seguintes formas:
• Na renovação dos produtos da linha de produção.
• No lançamento de novos produtos.
• No reposicionamento de mercado.
• Na diversificação da produção.
• Na expansão das instalações, etc.
Conforme Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 379):
Para entendermos melhor como funciona a interação entre as diversas empresas
que participam do mercado, vamos partir da mais simples possibilidade de oligopólio
possível, que é o caso do duopólio, onde duas empresas dividem o mercado. Vamos
utilizar o exemplo do duopólio para tentar compreender como se dá o equilíbrio
no oligopólio, em termos de preços e quantidades praticadas. Vale lembrar, antes
de prosseguir, que uma das características do oligopólio é a da interdependência
econômica. Conforme Pinho e Vasconcellos (2006, p. 198):
Essas considerações estratégicas podem ser complexas. Durante
o processo de decisões, cada empresa deve considerar as
reações dos concorrentes, ciente do fato de que estes também
considerariam suas reações em relação às decisões deles. Além
disso, as decisões, as reações, as reações às reações e assim por
diante, são dinâmicas, evoluem ao longo do tempo. Ao avaliar as
potenciais consequências de suas decisões, os administradores
de uma empresa devem supor que seus concorrentes são
igualmente racionais e inteligentes. Dessa maneira, poderão
colocar-se na posição dos concorrentes e ponderar sobre as
possíveis reações que eles poderiam ter.
Se todos os produtores são importantes, ou possuem uma faixa
significativa do mercado, as decisões sobre o preço e a produção
de equilíbrio são interdependentes, porque a decisão de um
vendedor influi no comportamento dos outros vendedores.
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
70
2.2 Equilíbrio no mercado oligopolista
Conforme já dito, vamos partir da hipótese do duopólio para tentar entender
o equilíbrio do oligopólio. As situações-problema enfrentadas pelos membros do
duopólio são as mesmas do oligopólio composto por poucas empresas. A utilização
do duopólio com exemplo é mais uma hipótese simplificadora. O exemplo que vai
ser utilizado foi baseado no modelo proposto por Mankiw (2009, p. 350-353), e para
facilitar a compreensão foram feitas algumas adaptações para o padrão brasileiro.
Imaginem, inicialmente, uma situação onde, em uma área rural afastada do
centro, como no caso de uma vila rural, existam apenas dois moradores, a partir
de agora serão denominados de morador A e morador B. Tanto o morador A
quanto o morador B possuem poço artesiano em sua residência. Todos os dias eles
bombeiam água do subsolo, armazenam e ofertam os galões de água para a venda
para os outros moradores. Novamente, por simplificação, vamos imaginar que os
moradores possam bombear toda água que desejarem, sem custos. Na realidade
existe um custo, que seria, principalmente, o custo da energia elétrica necessária
para que uma bomba de água possa direcionar a água do solo para a superfície.
Como os custos são muito pequenos, e recorrendo novamente a uma hipótese
simplificadora, vamos ignorá-los. Isso é importante para futuras análises, porque se o
custo total para bombear um galão (20 litros) do subsolo é igual a zero, e se o custo
para bombear dois galões também é zero, e daí por diante, significa que o custo
marginal é zero, ou seja:
CMg= 0
A tabela que segue apresenta as possíveis quantidades de água e os respectivos
preços que seriam praticados.
Tabela 2.1 - Escala de demanda de água
Quantidade (galões) Preço (R$)
0 120
10 110
20 100
30 90
40 80
50 70
60 60
70 50
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
71
Percebam que os preços não são estáveis (como na concorrência perfeita), e que
crescem à medida que a quantidade fornecida de água aumenta. É um entendimento
simples do funcionamento da oferta e da demanda. Multiplicando a quantidade pelo
preço nós encontramos a Receita Total da empresa, que pode ser visualizada na
tabela 2.2:
De acordo com a tabela 2.2, se a empresa (ou empresas) praticar o maior preço
possível (no nosso exemplo, R$ 120), sua receita seria igual a zero (RT=0). A receita
total vai aumentando até que a quantidade de galões atinja a quantidade de 60
unidades, que conta com um preço respectivo de R$ 60, o que geraria uma receita
total de R$ 3.600. A partir deste momento a receita total passa a diminuir devido ao
fato dos preços diminuírem demais, fruto de uma maior oferta de água.
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 351).
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 351).
Tabela 2.2 - Receita total da demanda de água
Quantidade (galões) Preço (R$) Receita Total (RT)
0 120 0
10 110 1100
20 100 2000
30 90 2700
40 80 3200
50 70 3500
60 60 3600
70 50 3500
80 40 3200
90 30 2700
100 20 2000
110 10 1100
120 0 0
80 40
90 30
100 20
110 10
120 0
Concorrênciamonopolística e oligopólio
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Agora, vamos voltar ao início do nosso exemplo, onde partimos da suposição de
que os moradores não têm custos, e se:
Lucro= RT – CT
Caso o custo total seja igual a zero (CT=0), então temos que:
Lucro= RT
Assim a nossa tabela poderia ser apresentada da seguinte forma:
Agora podemos desenvolver nossa análise em busca do equilíbrio do oligopólio.
Para facilitar o desenvolvimento do raciocínio, vamos inicialmente analisar o
mercado como se ele fosse competitivo, depois vamos analisá-lo como se fosse um
monopólio, para, por fim, analisar o mercado sob a ótica do oligopólio (no nosso
exemplo, um duopólio).
Se o mercado fosse competitivo, qual seria a quantidade de água vendida? Qual
seria o preço praticado? Se vocês se lembrarem da Unidade 1, vão recordar que a
empresa competitiva maximiza seu lucro quando:
RMg= CMg
E para a empresa competitiva:
P = RMg
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 351).
Tabela 2.3 - Lucro resultante da demanda por água
Quantidade (galões) Preço (R$) Lucro (RT=CT)
0 120 0
10 110 1100
20 100 2000
30 90 2700
40 80 3200
50 70 3500
60 60 3600
70 50 3500
80 40 3200
90 30 2700
100 20 2000
110 10 1100
120 0 0
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
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73
Então, para a empresa competitiva:
P = CMg no ponto de maximização de lucro
Como no nosso exemplo o custo marginal é zero, então o equilíbrio aconteceria
na última linha da nossa tabela, a quantidade oferecida seria a maior possível (120
galões), o preço seria o menor possível (0) e o lucro seria igual a zero. Fora as
várias implicações teóricas sobre o equilíbrio no mercado competitivo, o resultado
encontrado no nosso exemplo apresenta certa lógica. A hipótese da concorrência
perfeita implica que a maioria dos habitantes da vila rural teria poços artesianos em
suas residências, assim, se você possui um poço artesiano em sua residência, quanto
pagaria pela água do seu vizinho? Nada.
E se o mercado fosse um monopólio? Qual seria a quantidade de água vendida?
Qual seria o preço praticado? Ora, partindo da hipótese do mercado monopolista,
a implicação seria que apenas um dos moradores teria poço artesiano em sua
residência (somente o morador A ou somente o morador B), e cientes de que o
monopolista utiliza informações sobre a demanda para estipular seus preços,
entenderíamos que o monopolista praticaria o preço que maximizaria seu lucro. No
nosso exemplo, quando o preço é de R$ 60, e a quantidade é de 60 galões, o lucro
é maximizado, de acordo com os dados da tabela, estes resultados implicariam um
lucro de R$ 3.600 para o monopolista.
Até agora, nada de novo! Os resultados na situação de monopólio e de mercado
competitivo já foram discutidos na Unidade 1. Finalmente, podemos tentar encontrar
o equilíbrio do oligopólio, assim, voltando ao início do nosso exemplo, temos que
existem dois moradores (A e B) dividindo o mercado. Os moradores em questão
possuem duas possibilidades:
• A cooperação (união) entre eles para dividir o mercado em partes iguais.
• A competição (concorrência) entre eles buscando um lucro individual maior.
A primeira possibilidade implicaria uma situação que chamamos de conluio. De
acordo com Mankiw (2009, p. 351), o conluio é: “um acordo entre as empresas de
um mercado a respeito das quantidades a serem produzidas ou dos preços a serem
praticados”. Ainda de acordo com os autores, a referida situação implicaria um cartel,
situação onde várias empresas que pertencem a um determinado mercado agem
conforme um determinado acordo.
No caso de um cartel, qual seria a quantidade ofertada de água? Qual seria o preço
praticado e qual seria o lucro de cada um dos duopolistas? Quando as empresas
formam cartel para definir preços e/ou quantidades, é como se no mercado
existisse apenas uma empresa, situação que se assemelha ao monopólio, então os
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
74
resultados seriam os mesmos resultados que seriam obtidos em uma situação de
monopólio. O preço praticado seria de R$ 60, assim, um total de 60 galões de água
seria ofertado no mercado, 30 galões pelo morador A e 30 galões pelo morador B.
O lucro de cada um deles seria de R$ 1.800, ou seja, dividiriam os lucros resultantes
da venda de água no mercado. Vale ressaltar que quando empresas oligopolistas (ou
até mesmo competitivas) formam cartel, elas não se transformam em monopólio,
elas ASSUMEM características de monopólio, assim a ineficiência passa a prevalecer.
Cada empresa continua sendo o seu proprietário, sua marca, seu modo de gestão, o
que ocorre é que os preços serão semelhantes, e isso gera um peso morto. Quem
mais é prejudicado diante de uma situação de cartel é o consumidor, que será
obrigado a pagar preços maiores e contar com produtos/serviços (na maioria das
vezes) com qualidade inferior. Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 374) afirmam:
Outro aspecto importante em relação aos cartéis é que extrapolam a fronteira da
regulamentação, e tornam-se um crime. De acordo com artigo eletrônico do autor
Taufick (2007):
Ainda de acordo com o mesmo autor:
À primeira vista, um cartel pode se assemelhar ao monopólio
puro. Afinal, as empresas parecem operar como se fizessem parte
de uma grande companhia. Entretanto, um cartel difere de um
monopólio em dois importantes aspectos. O primeiro é que, como
os cartéis raramente controlam todo o mercado, eles necessitam
considerar de que maneira suas decisões de preço afetarão os
níveis de produção fora deles. O segundo aspecto é que, como os
membros de um cartel não fazem realmente parte de uma grande
empresa, eles podem ficar tentados a ‘enganar’ seus parceiros,
fazendo reduções de preço e apoderando-se de fatias maiores do
mercado. Desse modo, muitos cartéis tendem a ser instáveis e de
curta duração.
O cartel é crime contra a ordem econômica, previsto no art. 4º da
Lei n.º 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Trata-se da formação
de acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando à
fixação de preços ou quantidades vendidas ou produzidas, prevista
no inciso II, "a" do dispositivo em questão. Falamos de crime pessoal,
cuja sanção consiste em pena de reclusão ou multa.
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
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75
Assim, caso haja a comprovada formação de cartel, cabe ao Ministério Público
apurar e intervir para assegurar a legítima concorrência nos mercados.
Agora, voltando ao nosso exemplo, e após termos analisado o comportamento
dos duopolistas em situação de cooperação, vamos analisá-los a partir do princípio
da competição, ou seja, os moradores A e B vão competir entre si para buscar uma
maior maximização de lucros individual. Vamos partir da situação de equilíbrio do
cartel para desenrolar nosso raciocínio. Assim, em um primeiro momento, um total
de 60 galões de água é ofertado no mercado, o preço é de R$ 60 e o lucro dos
moradores (A e B) é de R$ 1800 para cada um. Imaginem a seguinte situação: o
morador A (que agora oferta uma quantidade de 30 galões para o mercado) decide
aumentar sua produção para 40 galões, assim um total de 70 galões seria ofertado
no mercado; quando isso acontece, o preço de mercado diminui para R$ 50, assim,
o morador A, que aumentou sua produção para 40 galões, passa a obter um lucro
de R$ 2.000 (40 galões x R$ 50), um lucro maior, só que, como consequência da sua
decisão, o lucro do morador B vai diminuir, agora ele continua vendendo 30 galões
ao preço de R$ 50 e seu lucro despenca de R$ 1.800 para R$ 1.500. É posto que
o morador B não ficou satisfeito com a decisão do morador A, que aumentou sua
produção e, consequentemente, seus lucros. Como pessoas racionais pensam na
margem, o morador B vai ter que adotar uma estratégia para recuperar suas perdas,
diante da atual situação o morador B também aumenta sua produção para 40 galões,
O cartel é, também, crime concorrencial e, portanto, infração
econômico-penal.Nos termos do art. 21 da Lei n.º 8.884, de
11 de junho de 1.994, trata-se de fixação de preço e condições
de venda de bens e prestação de serviços em acordo com
concorrente; obtenção de conduta comercial uniforme ou
concertada entre concorrentes; divisão de mercados de serviços
ou produtos; combinar previamente preços ou vantagens em
concorrência pública. Os crimes concorrenciais, equiparados
ao tort anglo-saxão, ao serem enquadrados como infrações de
cunho econômico-penal, ensejam penalização essencialmente
econômica (TAUFICK, 2007).
Sobre cartel, você pode consultar o livro: Pindyck e Rubinfeld (2006, p.
397-401).
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
76
assim, um total de 80 galões será ofertado no mercado, só que com isso os preços
caem para R$ 40 o galão, o morador B fica satisfeito, pois seu lucro aumenta dos
atuais R$ 1.500 para R$ 1.600, só que o morador A pode ficar descontente, pois seu
lucro cai de R$ 2.000 para R$ 1.600.
Na situação proposta, fica claro como que em uma situação de oligopólio a
decisão de um vendedor afetará os outros vendedores. De acordo com Salvatore
(1996, p. 328):
Acerca de hipóteses sobre o comportamento duopolista, vale adiantar que na
seção 2.3 da presente unidade serão apresentados três modelos de equilíbrio em
mercados com características oligopolistas, o modelo de Cournot, o modelo de
Stackelberg e o modelo de Bertand.
Voltando ao nosso exemplo, partiremos da última situação proposta, onde cada
um dos moradores está ofertando 40 galões no mercado, ao preço de R$ 40, e o
lucro de cada um é de R$ 1.600. Caso o morador B (que teve seu lucro diminuído de
R$ 2.000 para R$ 1600) fique descontente, e decida aumentar sua produção de 40
galões para 50 galões, um total de 90 galões seria ofertado no mercado, com isso,
os preços despencariam para R$ 30 o galão, e o lucro do morador B cairia para R$
1.500 (50 galões x R$30), e isso faz com que o morador B decida manter a produção
ao invés de aumentar. Os resultados apontam para um equilíbrio, no nosso caso 40
galões ofertados por cada morador, ao preço de R$ 40; a partir deste momento,
qualquer aumento na quantidade vendida representaria uma queda nos lucros das
empresas participantes do mercado. Esse equilíbrio recebe o nome de equilíbrio
de Nash. De acordo com Mankiw (2009, p. 352): “De fato, esse tipo de resultado é
chamado de equilíbrio de Nash (em homenagem ao economista John Nash, cuja vida
foi retratada no livro e no filme Uma mente brilhante)”. Pindyck e Rubinfeld (2006, p.
379) complementam: “Equilíbrio de Nash: Conjunto de estratégias ou ações em que
cada empresa faz o melhor que pode em função do que suas concorrentes estão
fazendo”. O Equilíbrio de Nash vai ser apresentado de uma forma mais completa na
Unidade 3, na qual estudaremos a teoria dos jogos.
O resultado disso é que, a menos que se faça alguma hipótese
específica sobre as reações de outras firmas com relação às ações
da firma em estudo, não se pode construir uma curva de demanda
específica para aquele oligopolista, e a solução será indeterminada.
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
77
Para fixarmos o processo de interação dos agentes dupolistas na busca pela
maximização do lucro (que leva ao equilíbrio de mercado), vamos apresentar um
exercício resolvido e comentado, o qual é baseado no modelo apresentado no livro
do Mankiw (2009, p. 369).
Imaginem a seguinte situação: dois países (país A e país B) são os responsáveis
por grande parte da oferta mundial de diamantes. Suponha que o custo total da
produção de diamantes seja constante, de R$ 1.000 por diamante. A demanda
mundial de diamantes pode ser representada conforme os dados da tabela 2.4:
a) Analise os dados da tabela. Caso no mercado houvesse muitos fornecedores
de diamantes, quais seriam o preço e a quantidade?
b) Se só houvesse um fornecedor de diamantes, quais seriam o preço e a
quantidade?
c) Se o país A e o país B formassem um cartel, quais seriam o preço e a
quantidade? Se os países dividissem o mercado por igual, quais seriam a produção
EXEMPLO DE EXERCÍCIO RESOLVIDO E COMENTADO
Na prática de mercado, as empresas optam pelo clima de
competição ao invés da cooperação, tente imaginar por que
isso acontece!
Fonte: Adaptado de Mankiw (2009, p. 369).
Tabela 2.4 - Demanda mundial por diamantes
Preço (R$) Quantidade (unid.)
8.000 5.000
7.000 6.000
6.000 7.000
5.000 8.000
4.000 9.000
3.000 10.000
2.000 11.000
1.000 12.000
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
78
e o lucro do país A? O que aconteceria com o lucro do país A se ele aumentasse
sua produção em mil unidades, enquanto o país B se mantivesse fiel ao acordo de
cartel?
RESPOSTA:
a) Para dar início à linha de raciocínio que leva à obtenção da resposta é
necessário calcular a Receita Total proveniente da venda dos diamantes, assim,
devemos incluir uma nova coluna na tabela 2.4, a coluna da Receita Total, que pode
ser obtida através da multiplicação da quantidade ofertada pelo preço de mercado
(RT = P x Q.), com isso temos a tabela 2.5:
Depois do Cálculo da Receita Total é necessário o cálculo do Custo Total das
várias unidades que estão sendo ofertadas (CT unit. X Q), assim, temos os dados que
são apresentados na Tabela 2.6:
Fonte: O autor (2015).
Fonte: O autor (2015).
Tabela 2.5 - Receita total por diamantes
Tabela 2.6 - Receita total e custo total dos diamantes
Preço (R$) Quantidade (unid.) Receita Total
8.000 5.000 40000000
7.000 6.000 42000000
6.000 7.000 42000000
5.000 8.000 40000000
4.000 9.000 36000000
3.000 10.000 30000000
2.000 11.000 22000000
1.000 12.000 12000000
Preço (R$) Quantidade (unid.) Receita Total Receita Total
8.000 5.000 40000000 40000000
7.000 6.000 42000000 42000000
6.000 7.000 42000000 42000000
5.000 8.000 40000000 40000000
4.000 9.000 36000000 36000000
3.000 10.000 30000000 30000000
2.000 11.000 22000000 22000000
1.000 12.000 12000000 12000000
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
79
E, finalmente, a última informação que precisamos para completar os dados
necessários para a resolução dos exercícios é o lucro dos países, que pode ser
obtido através da subtração simples entre a Receita Total e Custo Total (Lucro = RT
– CT). Assim temos a tabela 2.7;
Com os valores calculados, e relembrando o processo de maximização de lucro da
empresa competitiva, que ocorre a partir do momento em que:
RMg= CMg
E, para a empresa competitiva:
P = RMg
Então, para a empresa competitiva:
P = CMg no ponto de maximização de lucro
Como no nosso exemplo o custo marginal é R$ 1.000 por diamante, então, e
respondendo à pergunta, o equilíbrio aconteceria na última linha da nossa tabela, a
quantidade oferecida seria a maior possível (12.000 diamantes), o preço seria o menor
possível (1.000) e o lucro econômico seria igual a zero (Lucro = 0).
b) Se só houvesse um fornecedor de diamantes, o mercado assumiria
características de monopólio. O monopolista, na busca pela maximização do lucro,
praticaria um preço de R$ 7.000, e ofertaria 6.000 unidades do produto no mercado.
c) Se o país A e o país B formassem um cartel, a quantidade e o preço seriam o
mesmo do monopólio, ou seja, um preço de R$ 7.000, e uma quantidade de 6.000
unidades. Assim, o país A teria uma produção de 3.000 unidades (6.000 / 2) ao preço de
R$ 7.000, e seu lucro seria de R$ 18.000.000, resultado do seguinte cálculo:
Fonte: O autor (2015).
Tabela 2.6 - Receita total e custo total dos diamantes
Preço (R$) Quantidade
(unid.)
Receita Total Custo Total Lucro
8.000 5.000 40000000 5000000 35000000
7.000 6.000 42000000 6000000 36000000
6.000 7.000 42000000 7000000 35000000
5.000 8.000 40000000 8000000 32000000
4.000 9.000 36000000 9000000 27000000
3.000 10.000 30000000 10000000 20000000
2.000 11.000 22000000 11000000 11000000
1.000 12.000 12000000 12000000 0
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
801. Em um mercado oligopolista, se um grupo de vendedores
pudesse formar um cartel, qual seria a quantidade que eles
tentariam vender? Como se daria a escolha do preço que seria
praticado pelas empresas?
2. Faça um comparativo entre os preços praticados por uma
empresa oligopolista com os preços praticados por uma
empresa monopolista.
(1) R$ 21.000.000 (RT) – R$ 3.000.000 (CT)
(2) = R$ 18.000.000.000 (Lucro)
Caso o país aumentasse sua produção em 1.000 unidades, um total de 7.000
unidades seria ofertado no mercado, o lucro do país A aumentaria de R$ 18.000.000
(36.000.000 / 2) para R$ 20.000.000, resultado da seguinte conta:
(1) 4.000 (unid.) x R$ 6.000 = R$ 24.000.000 (RT)
(2) 4. 000 (unid.) x R$ 1.000 (CT) = R$ 4.000.000 (CT)
(3) R$ 24.000.000 (RT) – R$ 4.000.000 (CT)
(4) = R$ 20.000.000 (Lucro).
Após a resolução do exercício, fica mais fácil compreender por que os acordos de
cartel frequentemente são malsucedidos. Como não existe confiança entre as empresas
oligopolistas, o resultado de mercado acaba sendo inferior ao resultado de mercado
do monopólio (o que ocorreria no caso da formação de um cartel). Na próxima seção,
vamos nos aprofundar um pouco mais no equilíbrio de mercado do oligopólio.
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
81
3.1 Modelo de Cournot
Para explicar o modelo desenvolvido por Cournot (1938), vamos partir de um
modelo simples de duopólio. A figura a seguir apresenta um retrato de Cournot:
Seção 3
Equilíbrio: Modelos de Cournot,
de Stackelberg e de Bertrand
Na seção 2 da presente unidade, ficou claro que o oligopólio é uma estrutura de
mercado em que existem poucos vendedores e muitos compradores, e as empresas
que participam do mercado possuem certo poder de decisão para fixarem seus preços.
Partindo dos princípios marginalistas, espera-se que os oligopolistas maximizem seus
lucros no ponto onde a curva de custo marginal se iguala à curva de receita marginal.
De acordo com Pinho e Vasconcellos (2006, p. 198):
A seguir serão apresentados três modelos que buscam explicar o equilíbrio dos
oligopolistas: o equilíbrio de Cournot, de Von Stackelberg e de Bertrand.
Além das estruturas já descritas, consideradas como as
estruturas mais importantes do núcleo da microeconomia,
existe uma série de outras abordagens para o estudo do
comportamento dos mercados. A preocupação central
de todas as abordagens é, de alguma forma, explicar seu
funcionamento e, principalmente, mostrar a natureza da
interdependência entre os oligopolistas.
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
82
Fonte disponível em: <http://cache.bzi.ro/cache/3/240/s560x316_Antoine_Augustin_Cournot.jpg>. Acesso em: 1º out. 2015.
Figura 2.1 - Antoine-Augustin Cournot
Cournot foi um matemático, filósofo e economista francês.
Cournot foi um dos pioneiros em demonstrar como as empresas são dependentes da
ação de outras empresas no mercado oligopolista. Segundo Pindyck e Rubinfeld (2006, p.
380): “A essência do modelo de Counot é que, ao decidir quanto produzir, cada empresa
considera fixo o nível de produção de sua concorrente“.
Para compreendermos o modelo de Cournot, vamos supor que em um determinado
mercado existam apenas duas empresas fornecedoras de um determinado produto. Por
simplificação, vamos imaginar que só existem custos fixos, assim, os custos variáveis e o
custo marginal são iguais a zero:
CV = CMg = 0
Assim, e dada a hipótese simplificadora colocada acima, a maximização do lucro para
cada uma das empresas aconteceria no ponto onde a receita marginal seria igual a zero:
Ele deu uma formulação algébrica às teorias de David
Ricardo sobre a mudança em seu tratado, a pesquisa sobre
os princípios matemáticos da teoria da Riqueza (1838). Seu
principal trabalho refere-se ao cálculo de probabilidades.
Ele também escreveu sobre o materialismo, racionalismo e
vitalismo em 1875. (BIOGRAFIAS Y VIDA, 2015).
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
83
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 2.6 – Equilíbrio de Cournot
RMg = 0
O modelo pressupõe que cada uma das empresas parte do pressuposto de que
seu concorrente, em suas decisões, não altere seus preços, função da atitude que
seu concorrente tomaria. Conforme Pinho e Vasconcellos (2006, p. 199): “Em outras
palavras, a característica básica desse modelo é que os empresários não reconhecem a
interdependência entre si”. Representando o modelo através do gráfico 2.6 temos:
Partindo do pressuposto de que a demanda é linear, e se uma das empresas decidir
começar a produção primeiro, o preço de equilíbrio será P*, que representa o ponto onde:
CMg = RMg = 0
E a quantidade produzida será metade de OQ. Segundo Pinho e Vasconcellos (2006,
p. 199):
Ainda de acordo com os autores:
O segundo empresário, observando o mercado, considera
sua demanda como a demanda total menos a quantidade
atendida pelo primeiro. Dessa forma, estabelece o preço
correspondente a P*/2 e a quantidade correspondente a OQ/4
– metade do mercado não tomado pelo primeiro. A atitude do
segundo força o primeiro a diminuir seu preço para continuar
maximizando lucro.
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
84
Cournot foi um matemático, filósofo e economista francês.
Pindyck e Rubinfeld (2006) vão mais a fundo na compreensão do modelo de
Cournot e avaliam as reações das empresas quando enquadradas no referido
modelo. Eles afirmam que: “Em equilíbrio, cada empresa determina seu nível de
produção conforme sua própria curva de reação; os níveis de produção são, por
isso, encontrados no ponto de intersecção entre as curvas de reação” (PINDYCK;
RUBINFELD, 2006, p. 382).
As ações e reações continuam indefinidamente, uma vez que
ambos os empresários não reconhecem sua interdependência.
No limite, a quantidade de equilíbrio será 2/3 do segmento
OQ e o preço de equilíbrio será de 2/3 de P*. Se ao modelo
adicionarmos mais firmas, o preço de equilíbrio final será
menor (PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 199).
sobre modelo de cournot, você pode consultar o livro: Pindyck e
Rubinfeld (2006, p. 380-382).
Sobre curvas de reação, você pode consultar o livro: Pindyck e Rubinfeld
(2006, p. 380-384).
3.2 Modelo de Stackelberg
Heinrich von Stackerberg interessou-se particularmente pelo problema de poucos
vendedores no mercado, parte da suposição de que a empresa que decide assumir a
liderança pode obter vantagens. A figura 2.2 apresenta uma ilustração de Stacklberg:
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
85
Stackelberg foi um economista neoclássico alemão que contribuiu para muitos
campos econômicos, tais como o estudo das estruturas de mercado e a teoria dos
jogos (a teoria dos jogos vai ser objeto de estudo da próxima unidade).
O modelo parte do princípio de uma empresa pode determinar seu nível de
produção antes que os outros concorrentes o façam. “O modelo de Stackelberg de
duopólio difere do modelo de Cournot, no qual nenhuma empresa tem oportunidade
de reagir” (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 384).
Segundo Stackelberg, quando uma empresa adota uma estratégia antes de seus
concorrentes, ela toma uma decisão sem volta no que tange à sua produção, que
vai ser maior que a de seus concorrentes. De acordo com Rima (1990, p. 412): “No
caso dos dois vendedores, von Stackelberg concebeu cada um como confrontado
com a alternativa de liderar ou seguir a liderança de seu rival”. Ainda de acordo com
a autora:
Fonte disponível em: <www.policonomics.com>. Acesso em: 1º de out. 2015.
Figura 2.2 - Heinrich von Stackelberg
Em sua "Estrutura de mercado e Equilibrium", de 1934, Stackelberg
formulou um modelo simples sobre situações de duopólio (um
caso especial de oligopólios), conhecidos como Stackelberg
duopólio assimétrica ou, mais frequentemente, simplesmente
"modelo de Stackelberg" (POLICONOMICS, 2015).
Concorrência monopolística e oligopólio
U286
A solução de equilíbrio no caso do duopólio sob a suposição
de von Stackelberg é possível se um vendedor desejar
assumir a posição de liderança enquanto o outro desejar
ser seguidor e ambos agirem de modo correspondente.
Mas se ambos desejarem serem seguidores e se conduzirem
como se o rival fosse líder, nenhum poderia realizar suas
expectativas. Igualmente, se ambos decidirem que só pode
ser realizado o lucro máximo pela assunção do papel de líder,
haverá desequilíbrio. Um dos dois tem que modificar seu
comportamento e agir como seguidor antes que o equilíbrio
possa ser alcançado (RIMA, 1990, p. 413).
De acordo com o modelo proposto por Stackelberg, você
acredita que o resultado mais provável em situação de
oligopólio seria o equilíbrio ou o desequilíbrio?
Sobre o modelo de Stackelberg, você pode consultar o livro: Pindyck e
Rubinfeld (2006, p. 384-385).
3.3 Modelo de Bertand
Joseph Louis François Bertrand foi um matemático e economista francês,
membro do Collège de France. A figura 2.3 apresenta uma ilustração de Bertrand:
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
87
Assim como no modelo de Cournot, o modelo de Bertrand se aplica a empresas
que tomam decisões ao mesmo tempo, e produzem bens homogêneos. Contudo,
ele inseriu algumas críticas ao modelo de Cournot.
O foco na questão do preço ao invés do nível de produção pode afetar o resultado
de mercado. O que aconteceria se cada empresa pudesse escolher o preço ao invés
da quantidade? Como elas fariam essa escolha de preços? De acordo com Pindyck
e Rubinfeld (2006, p. 385-386):
Fonte disponível em: <www.policonomics.com>. Acesso em: 1º de out. 2015.
Figura 2.3 - Joseph Louis François Bertrand
A crítica de Cournot teve maior valor para a economia, tal como
se desenvolveu, ainda mais tanto a teoria dos jogos e a teoria
do oligopólio, criando outro modelo para duopólios, conhecido
como o modelo duopólio Bertrand. A principal diferença entre a
visão de Cournot em duopólios e Bertrand é que para o último
há a certeza de que nos duopólios a concorrência seria ligada
aos preços e não à sua quantidade de produção, tal como foi
proposto por Cournot (POLICONOMICS, 2015).
Para responder a essas questões, observem que, como a
mercadoria é homogênea, os consumidores vão adquiri-la
apenas do vendedor com menor preço. Dessa maneira, se as
Concorrência monopolística e oligopólio
U2
88
duas empresas cobrarem preços diferentes, a empresa com preço
menor abastecerá todo o mercado e aquela com preços mais altos
nada venderá. Se as duas empresas cobrarem o mesmo preço,
para os consumidores será indiferente adquirir a mercadoria de
uma ou de outra, e cada uma abastecerá metade do mercado.
Pindyck e Rubinfeld (2006) afirmam que o modelo de Bertrand vem sofrendo
várias críticas, principalmente devido a dois aspectos:
1. Se os produtos são homogêneos, é mais provável que a concorrência se dê
via determinação de níveis de quantidades a serem produzidas, ao invés de preços, e;
2. Mesmo que as empresas estabeleçam seus preços em um mesmo patamar,
como determinar a quantidade que cada empresa vai vender? (a suposição é de que
dividem o mercado, mas é apenas uma suposição).
De forma geral, o modelo de Bertrand é útil à medida que nos mostra como a
escolha das variáveis estratégias pode influenciar nos resultados de mercado.
Sobre o modelo de Bertrand, você pode consultar o livro: Pindyck e
Rubinfeld (2006, p. 385-386).
1. Elenque as principais diferenças entre os três modelos
apresentados na seção.
2. Explique a importância da variável “preço” para o modelo de
Bertrand.
Concorrência monopolística e oligopólio Concorrência monopolística e oligopólio
U2
89
Iniciamos o estudo da Unidade 2 aprendendo um pouco
mais sobre a competição monopolística, mostrando que a
diferenciação do produto pode afetar os resultados de mercado,
e que a referida estrutura possui algumas características do
mercado competitivo e algumas características do monopólio.
Em um segundo momento, apresentamos uma estrutura de
mercado ímpar: o oligopólio, no qual ficou evidente que a ação
adotada por uma das empresas que participam do mercado
afeta os resultados de todas as outras empresas concorrentes;
e finalizamos a unidade apresentando alguns modelos, que
trabalham hipóteses específicas para buscar a compreensão do
equilíbrio de mercado.
Podemos destacar a questão da marca e a influência da
publicidade nos resultados de mercado em mercados onde existe
uma competição monopolística. Em se tratando dos oligopólios,
o que mais se evidencia é a questão das estratégias, tanto nos
exemplos simples apresentados na Unidade 2 quanto em modelos
mais específicos (apresentados na seção 3). É por isso que o
oligopólio passa a ser o conteúdo mais apropriado para adentrarmos
na Unidade 3 do nosso estudo, onde vamos tratar sobre a teoria dos
jogos e estratégias empresariais. Espero que tenham aproveitado os
conteúdos que foram disponibilizados. Bom estudo!
Teoria dos jogosConcorrência monopolística e oligopólio
U2
90
4. Explique por que os acordos de cartéis tendem a não
prevalecer por longos períodos.
5. Nos três modelos apresentados na seção 2.3 existem
hipóteses específicas. Elenque a hipótese fundamental para
cada um dos modelos apresentados.
1. Explique características que diferem a competição
monopolística do mercado competitivo.
2. Explique as semelhanças entre o monopólio e mercados
com competição monopolística.
3. Qual a importância da publicidade para empresas que
participam de mercados competitivamente monopolísticos?
U2
91Teoria dos jogos Teoria dos jogosConcorrência monopolística e oligopólio
Referências
BIOGRAFÍAS Y VIDAS. Antoine-Augustin Cournot. Disponível em: <www.
biografiasyvidas.com/biografia/c/cournot.htm>. Acesso em: 1º out. 2015.
MANKIW, N. G. Introdução à economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2006.
PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. 5. ed. São Paulo, 2006.
POLICONOMICS. Heinrich von Stackelberg. Disponível em:<www.policonomics.
com/heinrich-stackelberg/> Acesso em: 24 ago. 2015.
POLICOMICS. Joseph Bertrand. Disponível em: <http://www.policonomics.com/
joseph-bertrand/>. Acesso em: 24 ago. 2015.
RIMA, I. H. História do pensamento econômico. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1990.
SALVATORE, D. Microeconomia. 3. ed. São Paulo: Makron, 1996.
TAUFICK, Roberto Domingos. Do momento de configuração do cartel. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1508, 18 ago. 2007. Disponível em: <http://jus.com.br/
artigos/10300>. Acesso em: 23 ago. 2015.
Unidade 3
TEORIA DOS JOGOS
Jogos ocorrem, dentro do âmbito da economia, quando os agentes
econômicos (empresas, países e até mesmo indivíduos) se encontram em
situações estratégicas, ou seja, em situações nas quais existem opções de
escolha das ações a serem adotadas, e o impacto das ações adotadas por
um dos participantes acaba influenciando no resultado do jogo. Em uma
situação estratégica, e quando existe uma estratégia que é melhor para
um dos participantes do jogo, nós dizemos que se trata de uma estratégia
dominante. Quando os participantes de um escolhem a melhor estratégia
para si, com base nas estratégias adotadas pelos outros participantes, nós
dizemos que encontramos um equilíbrio, chamado de equilíbrio de Nash.
Tanto o conceito sobre os jogos quanto as estratégias dominantes e o
equilíbrio de Nash serão objeto de estudo da seção 1 da presente unidade.
Seção 1 | Jogos, estratégias dominantes e equilíbrio de Nash
Objetivos de aprendizagem:
Os objetivos da presente seção visam analisar estratégias concorrenciais em
ambiente de jogos, para isso torna-se necessário trabalhar o conceito em torno
dos jogos, e como decisões estratégicas são tomadas na busca por resultados mais
favoráveis para o jogador. Durante a Unidade 3 também será trabalhadoo conceito
das estratégias dominantes e o equilíbrio de Nash, e, por fim, serão apresentados
conceitos sobre jogos repetitivos e jogos sequenciais, bem como a presença da
ameaça e o compromisso e a credibilidade dos participantes dos jogos.
Alexander Luis Montini
Regina Lúcia Sanches Malassise
Como foi visto na Unidade 2, as empresas oligopolistas
costumeiramente se encontram em situações estratégicas,
principalmente acerca de decisões sobre os níveis de produção e a
política de preços. Quando essas decisões são tomadas de forma
constante, nós dizemos que se trata de um jogo repetitivo. Saindo
Seção 2 | Jogos repetitivos e sequenciais: ameaça,
compromisso e credibilidade
Teoria dos jogos
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do campo teórico e entrando no campo da realidade das empresas,
podemos perceber que usualmente as empresas se encontram frente
a situações que se encaixam no conceito de jogos repetitivos, ou
seja, constantemente as empresas são obrigadas a tomar decisões
e, consequentemente, se deparam com um conjunto de resultados
possíveis (payoff). Os jogos sequenciais implicam que um jogador
toma a decisão após o outro jogador, como se o jogo se desse na
forma de uma sequência. Um jogo aplicado ao campo da economia
parte do mesmo princípio que os chamados jogos de azar. Sendo
assim, aspectos como as ameaças impostas pelos participantes,
o compromisso que os jogadores podem assumir (ou até mesmo
deixar de assumir) e a credibilidade dos agentes que participam do
jogo devem ser levados em consideração. Todos estes assuntos serão
estudados na seção 2
Teoria dos jogos
U3
95
Introdução
É fácil perceber a ligação existente entre os indivíduos e os jogos, sejam eles
jogos esportivos ou jogos de azar. Contudo, Pinho e Vasconcellos (2006, pg. 244)
ressaltam que:
Existem várias situações no campo da economia que podem ser classificadas
como um jogo. Uma empresa, por exemplo, pode se deparar com os seguintes
questionamentos:
• É viável investir em P&D (pesquisa e desenvolvimento) para o lançamento
de um novo produto no mercado?
• Qual é o melhor período do ano para lançar o produto?
• Devo fazer um pré-teste antes do lançamento do produto em grande
escala?
Contudo, uma decisão que frequentemente as empresas têm que enfrentar é
acerca da política de preços. Qual é a melhor estratégia de preços para a empresa
aumentar sua participação de mercado?
A todo instante somos obrigados a tomar decisões, e no cenário empresarial não
é diferente, assim, podemos fazer uso da teoria dos jogos para tentar compreender
as várias possibilidades que pairam sobre os tomadores de decisões. A teoria dos
O termo jogo, no entanto, pode deixar de ser apenas uma
palavra relacionada com lazer para ter importância fundamental
como instrumento de análise econômica. Por exemplo, uma
firma oligopolista, tal como num jogo de xadrez, deve estar
atenta às possíveis estratégias de seus concorrentes, para não
acabar em posição difícil ou em xeque. Deve também decidir
se adota estratégia mais agressiva, qual o ataque mais ofensivo
no futebol, ou se mantém comportamento mais moderado
ou de espera em relação aos adversários, o que poderia ser
comparado com a estratégia defensiva de um time, esperando
as oportunidades proporcionadas pelos contra-ataques.
Teoria dos jogos
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96
jogos visa ao estudo das decisões em situação interativa. Durante a Unidade 3
vamos abordar a teoria dos jogos, e com base na referida teoria vamos tentar
entender várias situações dentro do contexto econômico, assim como o exemplo
da política de preços das empresas, citado no parágrafo anterior.
Também, durante a presente unidade, você poderá compreender o conceito
de jogos cooperativos e não cooperativos. À medida que os jogos forem sendo
colocados ao longo da unidade, também entenderá o significado do equilíbrio de
Nash, oriundo das pesquisas do matemático John Nash, que no início da década
de 50 acrescentou várias contribuições para a teoria dos jogos. Outro ponto de
destaque são as características específicas dos jogos repetitivos e jogos sequenciais.
Vale lembrar que, como em qualquer jogo, as características dos jogadores são
importantes para compreender seu comportamento, e este aspecto também será
tratado ao longo da unidade. A teoria dos jogos, ao mesmo tempo em que pode
ser vista como algo extremamente complexo, é igualmente fascinante. Espero que
vocês desfrutem do conteúdo que será apresentado. Boa leitura!
Os jogos, que são objeto de análise econômica, por
constituírem método de investigação científica, têm
conotação específica e tratamento formal, que é fornecido
pela teoria dos jogos. Esta tem como objetivo a análise de
problemas por meio da interação entre os agentes, na qual
as decisões de um indivíduo, firma ou governo afetam as
decisões dos demais agentes ou jogadores ou vice-versa.
(PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 244).
Teoria dos jogos
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Seção 1
Jogos, estratégias dominantes
e equilíbrio de Nash
O jogo é uma atividade que faz parte do cotiadiano das pessoas tanto quanto das
empresas. Se nos concentrarmos no significado teórico do termo, podemos dizer
que um jogo é uma situação em que os participantes se encontram em posições
estratégicas, sendo assim, são obrigados a tomar decisões estratégicas. As decisões
estratégicas, por sua vez, geram resultados (payoffs), que podem ser positivos ou
negativos.
1.1 Jogo e seus componentes
Os jogos se caracterizam pela interação entre indivíduos com fins de atingir um
determinado objetivo. Segundo Mas-Colell, Whinston, Green (1995, p. 219), “Um jogo
é uma representação formal de uma situação em que certo número de indivíduos
interagem em um cenário de interdependência estratégica”. Estes autores destacam
que para definir um jogo é necessário que haja: jogadores, regras, resultados e
retorno. Os jogadores são os participantes do jogo; as regras definem o que os
jogadores podem fazer; os resultados são expressos em termos de ações possíveis
para cada conjunto de informações; e o retorno depende da utilidade esperada de
cada jogador para os resultados possíveis do jogo.
Os jogadores ou participantes de um jogo são aqueles que estão envolvidos no
processo e que tanto atuam quanto sentem os reflexos das estratégias do jogo.
O conjunto das ações possíveis está disponível aos jogadores e é apresentado
respeitando as regras previamente esteblecidas antes do início da rodada de
negociação. As informações disponíveis podem ser simétricas ou assimétricas,
inclusive os desenvolvimentos dos jogos aplicados a casos de agente principal, leilão
e eleição são exemplos de casos nos quais as informações são assimétricas. E todos
os possíveis resultados do jogo são expressos na matriz de payoff, sendo que estes
Teoria dos jogos
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resultam de funções matemáticas previamente estabelecidas.
Os jogos são estruturados de acordo com alguns critérios. De acordo com a
atuação dos participantes, eles podem ser cooperativos, quando os participantes
podem negociar contratos de cumprimento obrigatório que lhes permitam planejar
estratégia em conjunto; ou não cooperativos, quando não é possível a negociação
de contratos vinculativos de cumprimento obrigatório entre os participantes. Pindyck
e Rubinfeld (2002, p. 463) afirmam que:
O jogador pode optar pela cooperação ou pela competição. Um exemplo de
jogo cooperativo pode ser no caso de duas empresas que assinam um contrato para
um novo investimento com a finalidade de divisão de lucros.
Como vimos na Unidade 2, os oligopólios gostariam de alcançar os resultados
de monopólio, mas isso exige cooperação, e como cada oligopolista pensava em
si e não no grupo, partiam para a competição. Como vocês vão perceber, a falta de
confiança e a não existência de contratos vinculativos farão com que os resultados
de monopólios se tornem cada vez mais improváveis. Assim, vamos nos concentrar
principalmente em jogos não cooperativos para tentar compreender a teoria dos
jogos .
Emrelação ao tempo em que as ações dos agentes ocorrem, os jogos podem
ser simultâneos, quando os jogadores se movimentam ao mesmo tempo e nenhum
dos jogadores sabe o que o outro escolheu até que ambos tenham feito seu
movimento (BIERMAN; FERNANDEZ, 2011, p. 8); ou podem ser sequenciais, quando
os jogadores se alternam um após o outro nas rodadas como resposta às ações e
reações de seu oponente no jogo.
Em relação à forma de apresentação dos possíveis resultados, os jogos podem
ser descritos na forma normal, como uma matriz de payoffs, ou na forma extensiva,
em que seu desenho imita os ramos de uma árvore, também chamada de árvore de
decisão, conforme podemos ver na Figura 3.1.
Um jogo cooperativo ocorre quando seus participantes podem
negociar contratos vinculativos entre si, o que lhes permite
planejar estratégias em conjunto. Um jogo não cooperativo
ocorre quando não é possível a negociação de tais contratos
entre participantes.
Teoria dos jogos
U3
99
De acordo com o acesso à informação, os jogos podem ser de informação
perfeita, que “significa que um jogador conhece o jogo e as informações passadas
do jogo” (MAS-COLELL; WHINSTON; GREEN, 1995, p. 224), ou imperfeita, quando
desconhece a informação anterior.
Encontrar ou definir um resultado possível para um jogo implica encontrar uma
situação de equilíbrio possível. Desta forma, de acordo com o poder de barganha dos
participantes, um jogo pode ser com estratégias dominantes, no qual um jogador
adota a melhor estratégia independente dos demais, ou com equilíbrio de Nash, no
qual um jogador adota a melhor estratégia tendo em vista o que estão fazendo seus
rivais.
A interação estratégica entre os indivíduos do jogo pressupõe a racionalidade
deles, isto é, “a ação escolhida por um decisor é pelo menos tão boa, segundo suas
preferências, como qualquer outra ação disponível” (OSBORNE, 2004, p. 6). Ou,
em outros termos, significa dizer que os indivíduos têm “completo conhecimento
de seus próprios interesses e cada jogador consegue calcular perfeitamente quais
ações servem melhor aos seus respectivos interesses” (MARGARIDO; TUROLLA;
MACHADO, 2009. p. 6).
Fonte: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 470)
1 A analogia entre as competições nos jogos e na economia foi desenvolvida por Johannes von Neumann e Oskar Morgenstern
em seu livro Teoria dos Jogos e do Comportamento Econômico (1944)
Fígura 3.1 – Formas de representação do jogo
Matriz de payoffs Àrvore de decisão
Teoria dos jogos
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100
Portanto, uma definição importante deste jogo é a de estratégia, a qual
corresponde a um plano contingencial que especifica, para um determinado
jogador, quais as ações possíveis de tomar em todos os momentos em que ele for
convidado a jogar (MAS-COLELL; WHINSTON; GREEN, 1995, p. 228). Neste sentido,
cada jogador tem disponível um conjunto de estratégias. Matematicamente, esse
conjunto de estratégias pode ser representado da seguinte maneira:
Si = {s1, s2,.., sI}
Em que Si representa o conjunto de estratégias do jogador i, sendo o conjunto
de estratégias dado por S = (s1, ..., sI), o perfil de estratégia do jogador I definido
por um vetor s = (si,..,sn) e si é estratégia escolhida pelo jogador i, dado o nível de
utilidade esperada ui associado a cada resultado possível. Assim, um jogo na sua
forma normal é descrito como:
Onde ГN é a representação de um jogo na sua forma normal, na qual estão
contemplados os jogadores I, o conjunto de estratégias possíveis Si e uma função
payoff ui(s1,...,sn) que fornece níveis de utilidade von Neumann-Morgenstern
associados com resultados (possivelmente aleatórios) das estratégias (s1,...,sn) (MAS-
COLELL; WHINSTON;GREEN, 1995, p. 230).
Jogo é uma situação na qual os participantes tomam decisões
considerando as possíveis respostas uns dos outros. O payoff é o
benefício que o jogador obtém para cada resultado do jogo. Estratégia é
a regra para participar de um jogo. Estratégia ótima é a que maximiza o
payoff de um jogador.
Como em qualquer jogo, o objetivo da teoria dos jogos é buscar maximizar
os resultados, para isso os jogadores devem procurar desenvolver uma
estratégia ótima. “A estratégia ótima é aquela que maximiza seu payoff
esperado” (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 408).
Embora o foco da presente seção seja entender a aplicabilidade da teoria
dos jogos nas ciências econômicas, é importante ressaltar que a teoria
dos jogos também pode ser aplicada a outras áreas. Segundo Pinho e
Vasconcellos (2006, p. 244): “A teoria dos jogos, definida como o estudo
das decisões em situação interativa, não se restringe à economia, sendo
também bastante utilizada em Ciência Política, Sociologia, estratégia
militar, entre outras”.
N
=[I ,{S
i
} , {U
i
(+)}]
Teoria dos jogos
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101
1.2 O dilema dos prisioneiros
Um dos problemas clássicos analisados na teoria econômica dos jogos é o
conhecido caso do dilema do prisioneiro. Em especial, o dilema se expressa porque
um dos prisioneiros (jogadores/participantes) age de maneira independente, visando
aumentar sua própria vantagem, sem se importar com a ação do outro. É um jogo
que envolve ações simultâneas, sem possibilidade de cooperação. O dilema do
prisioneiro (DP) dito clássico funciona da seguinte forma:
Dois ladrões que cometeram um crime em comum são presos por um policial.
Para cada ladrão, o policial propôs que confesse o crime e sirva de testemunha de
acusação. Se um dos ladrões confessa o crime e outro não, aquele que confessou
será posto em liberdade, o que não confessou cumprirá pena de 10 anos na prisão.
Se os dois confessarem, ambos ficarão presos por três anos. Se nenhum dos dois
confessar, a penalidade será de apenas um ano para cada um. Ambos os prisioneiros
conhecem estas condições (VASCONCELLOS, 2000, p. 210).
A partir desta descrição pode-se desenhar uma matriz de payoff, conforme
verifica-se na Figura 3.2. Os números negativos indicam anos de prisão de cada
ladrão.
A representação do jogo na matriz de payoff da Figura 3.2 requer certo cuidado
na leitura dos resultados. Para toda leitura de matriz, o primeiro número em cada
vetor (linha) da matriz é o payoff do participante que aparece na linha. Na Figura 3.2, o
participante que aparece na linha é o Prisioneiro A e o primeiro número de cada vetor
(quadrante) é -3, 0, -10 e -1, que são os possíveis reultados que o Prisioneiro A terá
dependendo de sua ação e da do Prisioneiro B. O segundo número de cada vetor é do
participante que aparece na coluna, no nosso exemplo é o Prisioneiro B e os números
referentes aos payoffs dele são -3, -1-, 0 e -1, que são os possíveis reultados que o
Prisioneiro B terá dependendo de sua ação e da do Prisioneiro A.
Fonte: Vasconcellos (2000, p. 210).
Figura 3.2 – Representação do dilema dos prisioneiros
Teoria dos jogos
U3
102
Assim, a leitura dos payoffs do dilema dos prisioneiros, conforme destaca a Figura
3.3, seria: Parte a) primeiro quadrante superior payoffs para estratégia Prisioneiro A
confessa e Prisioneiro B confessa, neste caso ambos ficarão presos por 3 anos; Parte b)
segundo quadrante superior payoffs para estratégia Prisioneiro A confessa e Prisioneiro
B não confessa, neste caso A ficará livre e B ficará preso por 10 anos; Parte c) primeiro
quadrante inferior payoffs para estratégia Prisioneiro A não confessa e Prisioneiro B
confessa, neste caso o prisioneiro A fica preso 10 anos e o prisioneiro B fica livre; Parte
d) segundo quadrante inferior payoffs para estratégia Prisioneiro A e Prisioneiro B não
confessam, neste caso ambos os prisioneiros ficarão detidos por 1 ano.
Percebe-se que existe uma estratégia dominante para cada um dos prisioneiros.
Para A confessar é melhor estratégia, B confessando ou não, porque em qualquer caso
ele poderia receber uma pena menor (3 anos se B confessar e 0 se B não confessar).
Para Prisioneiro B confessar também é a melhor estratégia independente de A (3 anos
se A confessar e 0 se A não confessar). Isto ocorre porqueeles não podem conversar,
e mesmo que pudessem ainda assim não conseguiriam confiar um no outro, dado
que, de acordo com as regras do jogo repassadas pela polícia, cada um só consegue
uma pena menor caso o seu oponente adote uma estratégia de maior pena para ele
(não confessando).
Fonte: Adaptado de Vasconcellos (2000, p. 210).
Figura 3.3 – Esquema e leitura da matriz de payoff
Não confessar é a melhor estratégia para cada um dos
prisioneiros. Neste caso, qual será o resultado final do jogo?
Teoria dos jogos
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103
Percebe-se que a estratégia que minimiza o tempo de prisão é a representada na
parte D, ou seja, ambos não confessam. Esta seria a estratégia ótima. Porém, como
estão presos separados, não podem confiar um no outro, e têm que tomar a decisão
ao mesmo tempo; os prisioneiros são levados, de acordo com a estratégia dominante
de cada um deles, a decidir pelo que é melhor para si sem observar a ação do outro,
ou seja, cada qual deve tomar sua decisão independente do que o outro vai fazer e
pensando somente no que é melhor para ele próprio.
Neste caso, os quadrantes da parte B e C mostram que não confessar aumenta a
pena daquele que não confessou, ou seja, quem não confessar ficará preso 10 anos,
seja ele o prisioneiro A ou B.
Desta forma, a estratégia dominante de cada um leva-os a não obter o melhor
payoff, que seria não confessar e cada um deles ficaria preso um ano apenas. A
solução do jogo leva para um equilíbrio não eficiente para os prisioneiros, pois eles
acabam confessando e ficando presos, cada um, 3 anos.
Estratégia ótima: estratégia que maximiza o payoff esperado do jogador
(em cooperação).
Estratégia dominante: estratégia ótima sem cooperação. Ocorre quando
um jogador faz o melhor que pode independente do que seus oponentes
estão fazendo.
2.3 O equilíbrio de Nash
Ainda dentro da teoria de jogos, um avanço foi promovido por John Nash tomando
por base o ponto-chave e subentendido dentro da teoria que deixa transparecer que
os jogos sempre eram algo de soma zero, ou seja, o que um ganhava era exatamente
o que o outro perdia.
Neste sentido, para superar o problema relacionado com a tomada de
decisões antagônicas entre dois jogadores e levá-los a uma situação de equilíbrio
cooperativo e que poderia levar a uma situação melhor.
Para isto era necessário conseguir um acordo de tal forma que os jogadores
deveriam abandonar suas posições antagônicas e trabalhar num sentido cooperativo,
ou pelo menos neutro, de tal forma a que um não atrapalhe o outro. Quando tal
acontece, a nova situação denomina-se Solução de Nash.
Neste contexto, o conceito de equilíbrio de Nash para o jogo pode ser descrito
Teoria dos jogos
U3
104
como: “um perfil estratégia s = (si, ..., sn) constitui um equilíbrio de Nash para o jogo
se para cada
para todos (MAS-COLELL; WHINSTON; GREEN, 1995, p. 246). Então, no equilíbrio
de Nash a estratégia escolhida de um jogador (si) é a melhor resposta às estratégias
realmente jogadas pelos seus rivais (s - 1).
Neste ponto a principal afirmação que se tem é que pelo equilíbrio de Nash cada
jogador está fazendo o melhor que pode em função do que seus concorrentes estão
fazendo e vice-versa. Considerando o fato importante de que numa situação desta
um jogador não possui estímulo para se desviar da conduta, logo, um equilíbrio de
Nash se apresenta como mais estável. Para melhor compreensão, podemos recorrer
a um exemplo comentado, é o que veremos no próximo item.
Este exercício explora a estratégia de determinação da taxa básica de juros Selic
tomando por base a expectativa de inflação projetada pelo mercado financeiro e
divulgada pelo Relatório Focus. Explora-se a ideia de que o governo fixa a taxa Selic
considerando as expectativas de inflação, desta forma simulamos um jogo não
cooperativo, sequencial e busca-se identificar qual seria o equilíbrio de Nash.
Os participantes deste jogo são: o Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central do Brasil (Bacen) e os bancos. Uma regra do jogo é que o Copom é
órgão decisório de política monetária e define a meta para a taxa de juros básica da
economia brasileira (Selic) . Esta taxa é o principal instrumento para o cumprimento
das metas de inflação que vigoram no país desde 1999.
Relatório Focus é uma publicação do Banco Central na qual é divulgado
um resumo das expectativas de mercado a respeito de alguns indicadores
da economia brasileira, realizado consultando a opinião de cerca de 120
bancos, gestores de recursos e demais instituições. O governo se utiliza
do cálculo da mediana das expectativas para monitorar a evolução das
expectativas de mercado para as principais variáveis macroeconômicas,
de forma a gerar subsídios para o processo decisório da política monetária.
Assim, a decisão sobre a taxa básica de juros Selic é fixada tomando por
base este relatório.
1.3.1 O equilíbrio de Nash aplicado à taxa de juros Selic
N
=[I ,{S
i
} , {U
i
(+)}] i=1. . . . . l .
U
i
(S
i
,S- i) >_ Ui( S̀ i,S- i)
Teoria dos jogos
U3
105
Uma ameaça vazia é assim denominada porque aquele que a faz teria
pouco interesse em executá-la.
Outra regra é que, para determinar a Selic, o Bacen utilize as expectativas de
inflação que é calculada por ele tomando por base as informações dos estudos
do Relatório Focus. Admite-se que, ao utilizar a expectativa de inflação para
calibrar a taxa de juros, o Bacen pode ser influenciado por expectativas altistas do
mercado financeiro, que lucra com a elevação das taxas de juros. Isto porque são as
instituições deste mercado os principais compradores dos títulos da dívida pública,
em sua maioria remunerados pela taxa Selic.
É possível modelar, na forma de um jogo, essa situação, cujos participantes são o
Banco Central do Brasil e os bancos, em que a estratégia destes últimos é influenciar
o nível da taxa de juros básica conforme seus interesses, através da expectativa
de inflação. Caso não consigam, os bancos podem direcionar seus recursos
para o público emprestando o dinheiro, o que pode estimular muito a atividade
econômica e comprometer os objetivos de política monetária no que diz respeito
ao cumprimento da meta de inflação.
De outro lado, esta pode ser uma ameaça vazia, pois pode ser muito mais
seguro para os bancos emprestarem para o governo (mesmo que a taxa de juros
seja reduzida), via compra de títulos, do que emprestar para o público, devido aos
problemas relativos de assimetria de informações (devido à inadimplência).
Assim, neste exercício, busca-se apresentar a estratégia de determinação da
taxa Selic, utilizando o instrumental da Teoria dos Jogos, destacando a influência
dos bancos, via projeção da expectativa de inflação, sobre a determinação da taxa
Selic. Utiliza-se de um jogo não cooperativo, sequencial finito, na forma normal e de
informação perfeita. Então, aqui será trabalhada a ideia de que tanto o Bacen quanto
o mercado financeiro atuam estrategicamente buscando fazer o melhor que podem,
tendo em vista o comportamento um do outro, buscam um equilíbrio de Nash.
A relação entre a taxa de juros e a expectativa de inflação no Brasil
Desde a implantação do Plano Real, e atualmente sob o regime monetário de metas
para a inflação, a taxa de juros tem sido um importante instrumento para combater
2 É a taxa apurada no Selic, obtida mediante o cálculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por
um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de
ativos, na forma de operações compromissadas (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2011).
Teoria dos jogos
U3
106
as pressões inflacionárias. Cabe ao BCB cumprir as metas de inflação, e para isso o
Copom determina a meta para a taxa básica de juros da economia, isto é, a meta para
a taxa Selic.
Muitos bancos centrais determinam a meta para a taxa de juros através da chamada
“regra de Taylor”. ConformeCarvalho et al. (2007), a regra de Taylor relaciona a taxa
de juros básica da economia a três elementos: a) aos desvios da inflação presente em
relação à meta de inflação, a qual foi previamente estabelecida; b) ao hiato do produto
(ou seja, o desvio do produto efetivo de um país com relação ao produto potencial );
e c) à taxa de juros real de equilibrio. A formulação da regra de política monetária a la
Taylor pode ser assim expressa:
it = Пt + g(yt – y*) + h(Пt – П*) + rf
it = taxa de juros nominal de curto prazo
Пt = taxa de inflação
(yt – y*) = é o hiato do produto, ou seja, é a diferença entre o produto efetivo e o
produto potencial.
(Пt – П*) = desvio da taxa de inflação (Пt) com relação à meta inflacionária (П*).
rf = estimativa da taxa de juros real de equilíbrio.
g e h são parâmetros que medem a sensibilidade da taxa de juros, respectivamente, ao
desvio do produto em relação ao seu produto potencial e ao desvio da taxa de inflação
em relação à meta inflacionária.
De acordo com Minella et al. (2003), o BCB estima a regra de Taylor relacionando a
taxa de juros básica a desvios da inflação esperada em relação à meta inflacionária, ao hiato
do produto e às variações na taxa de câmbio. Por esta regra, quanto maior a expectativa de
inflação, maior tende a ser a meta para a taxa de juros de curto prazo.
As fontes utilizadas para estimar as expectativas inflacionárias são as estimativas do
próprio BCB e da pesquisa diária que ele faz em mais de 100 instituições financeiras sobre
as expectativas quanto às alterações nas principais variáveis macroeconômicas, incluindo-
se aí as expectativas para a inflação.
Segundo o Infomoney (2006), o BCB criou, em 1999, a Pesquisa de Expectativas de
Mercado tendo em vista que uma parte significativa do comportamento dos preços no
tempo se refere às expectativas que os agentes têm em relação à inflação no futuro. Então,
a pesquisa intitulada Relatório Focus:
3 As metas de inflação são definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que utiliza o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo – IPCA como indicador.
4 O produto potencial é uma medida da capacidade de crescimento da economia estimada pelo Banco Central e refere-se à
capacidade produtiva máxima que não acelera a inflação.
Teoria dos jogos
U3
107
O Sistema de Expectativas de Mercado calcula estatísticas da amostra diariamente,
permitindo a geração de relatórios diários aos membros do Copom. Então, semanalmente,
às segundas-feiras, é divulgado para o mercado um relatório com a apresentação dos
resultados da pesquisa com base no levantamento das previsões das instituições, o
Relatório Focus. Este relatório é uma das principais fontes que o BCB utiliza para determinar
a meta para a taxa Selic.
As críticas à estratégia do Copom na definição da taxa Selic via expectativas de inflação
Vários autores criticam a relação entre o BCB e o mercado financeiro. Conforme Farhi
(2004, p. 86), “(...) a autoridade monetária ainda escolheu apurar as expectativas de inflação
justamente entre os que mais têm a lucrar com a elevação das taxas de juros”. O consultor
Amir Khair também critica a forma de captação de dados para projetar as expectativas
inflacionárias e diz que o Banco Central deveria captar dados de quem está na economia
real e não no mercado financeiro (KHAIR apud LAVAROTTI, 2010, p. 26). Reforçando a
posição de Khair, vale transcrever a seguinte passagem:
Ainda sobre este assunto, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, em matéria
intitulada “Banco ganha com previsão errada de inflação”, informa que os bancos,
através de suas expectativas sobre a taxa de inflação, e que são utilizadas pelo BCB,
influenciam na determinação da taxa Selic. Ao projetar taxas de inflação maiores no
futuro, os bancos podem induzir o Banco Central a elevar os juros básicos, favorecendo
Resta que o Banco Central poderia, como já foi inclusive
sugerido publicamente, apurar as ‘expectativas de inflação
dos agentes privados’ consultando um universo mais amplo de
agentes que incluísse segmentos organizados da sociedade,
como entidades patronais da indústria e comércio e sindicatos
de trabalhadores, de forma a contrabalançar o viés altista e
exclusivamente financeiro na pesquisa que incorpora em seu
modelo (FARHI, 2004, p. 87).
“tem o objetivo de monitorar a evolução do consenso de
mercado para as principais variáveis macroeconômicas brasileiras,
dentre elas, a inflação /.../ desta maneira o Copom consegue mais
subsídios para o processo decisório de política monetária, de
maneira que as decisões tendem a ser mais precisas à medida que
o colegiado faz uso de mais informações” (p.1).
Teoria dos jogos
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108
seu próprio lucro com os títulos públicos. Assim, os juros altos acabam beneficiando
os rentistas e prejudicando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além de
concentrar renda no setor mais rico da sociedade: “Os dados computados pelo Focus
têm forte influência sobre as taxas futuras no mercado financeiro. A elevação dessas
taxas pressiona os juros pagos pelos títulos públicos, além de terem peso na decisão
do Copom sobre o rumo da Selic” (FOLHA DE S. PAULO, 2004, p. B-5).
Altas taxas de juros básicas trazem consequências negativas para o país, tais como
desestímulo ao investimento produtivo por parte dos empresários e aumento dos gastos
com o pagamento de juros da dívida pública mobiliária federal. No Brasil, ocorre o que se
chama de “dominância monetária”, quando a política monetária exerce forte influência
“negativa” sobre as contas públicas. A dominância monetária se deve a uma anomalia
da economia brasileira: uma boa parte dos títulos emitidos para o pagamento da dívida
pública é indexada à taxa básica de juros. A participação da dívida pública mobiliária
federal interna indexada à taxa Selic ainda é muito elevada (cerca de um terço em 2010),
apesar do movimento de declínio ocorrido nos anos mais recentes.
Com as altas taxas de juros praticadas pela autoridade monetária brasileira somada
à necessidade de financiamento do governo, os bancos brasileiros encontram um
ambiente favorável para a aplicação dos seus recursos livres, caracterizado pelo baixo
risco e alto rendimento. É preferível para os bancos emprestar dinheiro ao governo (via
compra de títulos), reduzindo assim a disponibilidade de recursos para empréstimos
ao público em geral, mesmo sabendo-se que as taxas de juros praticadas pelos bancos
são muito superiores à taxa Selic. Porém, a efetividade dos ganhos proporcionados
pelas altas taxas de juros do mercado, em média 40% a.m., dependem da existência
de demanda por crédito e da evolução da inadimplência.
Emprestar dinheiro ao público é uma atividade arriscada para os bancos devido aos
problemas de assimetria de informação (seleção adversa e risco moral), que dificultam
que os bancos cumpram adequadamente uma das suas funções, que é o financiamento
da economia, especialmente das famílias e pequenas e médias empresas. No Brasil,
é comum a afirmação de que a taxa de inadimplência dos empréstimos bancários é
elevada, o que reforça o racionamento de crédito pelos bancos e a preferência deles em
financiar o governo (menor risco), e por isso mesmo, como principais compradores dos
títulos públicos, os bancos querem as maiores taxas possíveis.
Neste trabalho, enfatiza-se a influência do sistema financeiro na determinação da
taxa de juros básica5 , ou seja, acredita-se na tese de que há, junto com outros fatores,
uma “convenção a favor do conservadorismo na política monetária”, conforme
ressaltado por Modenesi (2008).
5 No entanto, há outras explicações: a reduzida eficácia da política monetária, a convenção a favor do conservadorismo
na política monetária, a hipótese Bresser-Nakano, a fragilidade das contas públicas e a incerteza jurisdicional. Para maiores
detalhes, ver Modenesi (2008).
Teoria dos jogos
U3
109
Há autores que defendem a ideia de que o BCB adotou uma convenção de que
há um piso (elevado)para a taxa de juros no Brasil: “Depois da persistente manutenção
da taxa de juros em nível muito elevado é natural que surja o medo de redução, e
que esse nível se torne uma convenção” (BRESSER; NAKANO, 20026 , p. 169 apud
MODENESI, 2008, p. 15).
Quando se faz uma retrospectiva da política monetária brasileira recente, depara-
se com diversos momentos em que o BCB agiu de modo muito conservador e lento
no processo de redução da taxa Selic. Por exemplo, em outubro de 2008, quando a
crise financeira internacional chegou ao seu ápice, com a quebra do Banco Lehman
Brothers, enquanto bancos centrais de diversos países reduziram suas taxas, o BCB
manteve a meta da taxa Selic em 13,75% ao ano.
Modenesi (2008) cita afirmações de Erber (2008)7 que reforçam a ideia de que o
excesso de conservadorismo e rigidez monetária (diga-se, prática de elevadas taxas
de juros) pode ser explicado pela ótica da economia política. Erber (op. cit.) defende
que as altas taxas de juros praticadas no país não são um problema de natureza
exclusivamente macroeconômica: elas resultam de uma coalizão de interesses entre
o BCB e os rentistas. De um lado, o agente (BCB) é capturado pelo principal (rentistas).
Mas não são apenas os bancos que ganham “capturando” o BCB. O BCB também é
favorecido, visto que quanto mais a política monetária executada tem êxito no alcance
de seus objetivos, maior a reputação conquistada pela autoridade monetária. Forma-
se uma coalizão de interesses, em que:
5 BRESSER-PEREIRA, L. C. e NAKANO, Y. Uma estratégia de desenvolvimento com estabilidade. Revista de Economia Política,
v. 22 (3), 2002, p. 146-180.
7 ERBER, F. (2008), “Development projects and growth under finance domination – the case of Brazil during the Lula years
(2003-2007)”. Reviue Tiers Monde, 194, 2008.
O Banco Central é um membro necessário desta coalizão –
é a instituição que concebe e executa a política monetária
– sem que isto implique, necessariamente, numa ‘captura’
no sentido da ‘escolha pública’. Para o estabelecimento da
coalizão, basta que o Banco Central e os membros privados
derivem benefícios conjuntos da mesma política – no caso,
o prestígio de cumprir as metas e os lucros derivados dos
altos juros e do câmbio valorizado (ERBER, 2008, p. 15 apud
MODENESI, 2008, p. 16).
Teoria dos jogos
U3
110
No Brasil a taxa Selic, definida pelo Copom, para combater a inflação, é a mesma
taxa que, além de refletir o custo das reservas bancárias, também é utilizada para
remunerar parte significativa dos títulos da dívida pública. Este fato é uma anomalia da
economia brasileira, em que o Banco Central determina diretamente as taxas de juros
que remuneram a dívida pública (seu custo) e esta mesma taxa é utilizada para fins de
política monetária (seu benefício), o que se deve ao passado de inflação alta no país
(BRESSER-PEREIRA; GOMES, 2009; ARESTIS; PAULA; FERRARI-FILHO, 2009).
Caracterização do jogo
Aqui são destacados alguns pressupostos a respeito do ambiente e do
comportamento dos indivíduos envolvidos no jogo.
Parte-se do pressuposto de que o principal objetivo da política monetária é cumprir
a meta de inflação, que é alcançada por meio da determinação da taxa Selic. Esta, por
sua vez, é transmitida à economia por meio de vários canais8 . Neste trabalho será
considerado apenas o canal do crédito. Este canal tem aumentado sua relevância na
economia. Por exemplo, em dezembro de 2000, o crédito representava 28,3% do PIB
brasileiro. Já em dezembro de 2010, sua participação aumentou para 46,4%.
De modo simplificado, o canal do crédito operacionaliza a transmissão da taxa
Selic para a economia do seguinte modo: supondo que ocorra uma redução da
taxa Selic, isto eleva a quantidade de recursos para crédito. Se houver demanda por
crédito, o sistema bancário expande os empréstimos. Como resultado, espera-se que
os itens da demanda agregada mais dependentes de financiamento, como os gastos
com investimento e com bens duráveis de consumo, favoreçam o nível de atividade
econômica, o que poderá impactar o nível geral de preços, elevando a inflação.
No jogo da política monetária, isto é, na determinação da taxa Selic, outro objetivo
importante perseguido pelo Bacen é a credibilidade. Conforme Mendonça (2002), o
conceito de credibilidade refere-se ao grau de confiança que os agentes possuem
na autoridade monetária, ou seja, no seu compromisso em executar uma política
conforme anunciada e esperada. Uma política será crível quando consegue sinalizar
aos agentes que a chance de a autoridade monetária se desviar dos seus objetivos é
reduzida. Neste caso, a chance de o Bacen não elevar a Selic com a expectativa de
inflação em alta seria mínima.
Considera-se que os bancos possuem preferência pela liquidez. Eles estão sujeitos
a riscos e incertezas inerentes à economia e seus incentivos em relação à oferta de
crédito dependem da situação conjuntural, das expectativas quanto ao futuro e da
remuneração dos títulos públicos.
8 Os outros canais de transmissão da política monetária são: taxa de câmbio, estrutura a termo da taxa de juros, preço dos ativos
(q de Tobin) e expectativas. Para maiores detalhes ver Mishkin (2000); Carvalho et al. (2007); BANCO CENTRAL DO BRASIL (1999).
Teoria dos jogos
U3
111
Fonte: Adaptado de BANCO CENTRAL DO BRASIL (2011).
Assim, temos como jogadores o Bacen e o mercado financeiro. Um payoff esperado
para o Bacen é conseguir cumprir a meta de inflação e manter sua credibilidade,
através de determinação da Selic, e para os bancos é garantir retorno para seus ativos.
A ideia de que os interesses entre o Bacen e os bancos estão alinhados em relação
à projeção da expectativa de inflação e influência desta sobre a determinação da
taxa Selic pode ser constatada através do Gráfico 3.1. Existe uma estreita relação
entre a evolução da taxa Selic (anunciada pelo Bacen) e a expectativa de inflação
(projetada pelo mercado financeiro via Relatório Focus). Realmente, o Bacen reage
imediatamente às projeções de elevação na inflação com variações de, em média,
0,25% no período 2005-2010.
OBS.: Os dados das expectativas de inflação diárias foram transformados para
mensais.
O resultado da interação estratégica entre o Bacen e os bancos pode ser visualizado
a partir da construção de uma árvore do jogo ou de uma matriz de payoff, conforme
ilustrações a seguir.
Apresentação do Jogo
Na ilustração da árvore do jogo, a Figura 3.4 expressa os valores fictícios a partir de
um cenário base, os valores destes payoffs têm sentido simbólico e servem apenas
para ilustrar os possíveis resultados em função da combinação de estratégias adotadas
pelos participantes do jogo9.
Gráfico 3.1 - Evolução das expectativas de inflação para o IPCA e da taxa Selic – 2005-2010.
9 Conforme realizado por Margarido, et al. (2009).
Teoria dos jogos
U3
112
Como se trata de um jogo sequencial na forma extensiva, ele começa com o nó
inicial no qual o Bacen toma sua decisão, tendo em vista seu conjunto de informações
ele utiliza um conjunto Si de estratégias possíveis para o jogo. Para este jogo as
estratégias do Bacen são “eleva a Selic” ou “não eleva a Selic”.
Na sequência, os bancos tomam suas decisões e, num jogo com informação
perfeita, o segundo jogador tem a possibilidade de tomar sua decisão observando as
ações do primeiro jogador e reagir a ela. Então, tendo em seu conjunto de informações
a taxa Selic anunciada pelo Bacen e com base em seu conjunto de informações, os
bancos escolhem entre duas estratégias possíveis: “emprestar” ou “não emprestar” os
recursos a crédito.
A ideia por trás da decisão entre emprestar ou não leva em conta a estratégia dos
bancos que procuram influenciar a decisão do Bacen (Copom) no que diz respeito
à determinação da taxa de juros para o próximo período. Se os bancos optam por
não emprestar, então é porque a taxa Selic atendeu aos interesses dos bancos e eles
preferem comprar títulos públicos. Se, ao contrário, optampor emprestar, considerando
a possibilidade de expansão do crédito, é porque a taxa Selic não atendeu à expectativa
dos bancos, e eles optam por emprestar os recursos e expandir o crédito. Assim, para
os bancos, duas estratégias possíveis seriam “emprestar” a crédito, caso o Bacen fixe
uma taxa de juros menor que a esperada, ou “não emprestar” a crédito, caso o Bacen
fixe uma taxa de juros compatível10 com a expectativa de inflação projetada pelos
bancos.
Desta maneira, supõe-se que os agentes participantes do jogo sejam racionais.
Fonte: O autor (2015).
Figura 3.4 - Representação do jogo na forma extensiva.
Teoria dos jogos
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113
Fonte: O autor (2015).
10 O termo compatível significa que se houver expectativa de alta da inflação, projetando-a acima da meta estabelecida pelo
BCB, o BCB deveria aumentar a taxa Selic.
Quadro 3.1 - Jogo sequencial na forma estratégica
Quando os bancos formam suas expectativas de inflação, eles sabem que o Bacen
leva em conta tais expectativas. Os bancos, por sua vez, levam em conta as ações do
Bacen para tomarem suas decisões no que diz respeito à concessão de empréstimos.
Da mesma forma, o Bacen considera as reações dos bancos quando ele altera o nível
da taxa Selic. Conforme Kydland e Prescott “(...) a condução da política econômica não
é um jogo contra a natureza, mas sim, um jogo em que participam agentes racionais”
(apud MODENESI, 2005, p. 165).
Outra forma de representar esse jogo é através da construção de uma matriz de
payoffs. Neste caso, o primeiro número em cada vetor da matriz é o payoff do Bacen
e o segundo, o dos bancos. O Quadro 3.1 representa o jogo na forma de matriz. A
análise deste primeiro quadro leva em conta a reação dos bancos quando o Bacen
eleva a taxa Selic, os possíveis payoffs para os bancos aparecem em negrito. Quando
o Bacen aumenta a taxa Selic, a melhor resposta para os bancos é não emprestar, o
que lhes dá um payoff de 30 ao invés de 2 caso emprestassem.
Justifica-se este resultado porque, quando a taxa Selic é elevada, aumenta a
remuneração dos títulos públicos indexados a essa taxa e os bancos são os mais
importantes compradores destes títulos. Para os bancos, é preferível aplicar em títulos
porque é uma aplicação mais segura.
Se os bancos respondessem emprestando, o payoff atribuído de 2 seria em razão
de que, nos momentos em que o Bacen aumenta a taxa de juros, este aumento se
propaga para as taxas de juros de mercado, visto que tais taxas dependem da taxa
Selic, que também é a taxa que reflete o custo das reservas bancárias. Assim, quando
a Selic aumenta, as taxas de juros das operações de crédito também aumentam. O
problema para os bancos é que, como a elevação da taxa de juros tem o objetivo de
restringir a demanda agregada, desaquecendo a economia, o risco de aumento da
Não emprestar Emprestar
Eleva a Selic (30,30) (3,2)
Não eleva a Selic (15,5) (2,10)
Bancos
Banco
Central
Teoria dos jogos
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114
inadimplência aumenta e, consequentemente, os ganhos dos bancos são menores.
Cabe também ressaltar que a elevação das taxas de juros bancárias em razão do
aumento da taxa Selic traz problemas para os bancos: geralmente, nesta situação,
os mais propensos tomadores de crédito são aqueles que possuem maior risco de
default (risco de calote). Assim, os bancos ficam muito expostos aos problemas de
seleção adversa e risco moral e, por isso mesmo, podem preferir fazer o racionamento
de crédito.
O Quadro 3.2 leva em conta a reação dos bancos quando o Bacen não eleva a taxa
Selic. Os possíveis payoffs para os bancos aparecem em negrito. Se o Bacen reduz a
taxa de juros, a melhor resposta dos bancos é emprestar, pois eles têm um payoff de
10 contra um payoff de 5, caso não emprestem. Isso porque quando a taxa Selic não
aumenta, para os bancos pode ser mais vantajoso emprestar para o público, pois as
taxas de juros do mercado para os empréstimos a crédito são maiores e permitem
ganhos maiores aos bancos.
Além disso, caso o Bacen opte por reduzir a taxa Selic, o custo das reservas bancárias
diminui, o que tende a se propagar para as taxas de juros praticadas no mercado
bancário. A queda nas taxas de juros incentiva os tomadores de crédito, estimulando
o consumo. Com taxas de juros de mercado mais baixas, o risco de inadimplência
tende a reduzir-se. Por isso, o ganho dos bancos pode ser maior quando estes reagem
emprestando.
No quadro 3.3 analisa-se a reação do Bacen no caso em que os bancos optem
por não emprestar. Os possíveis payoffs para os bancos aparecem em negrito. O
resultado para o Bacen é 30 caso os bancos não emprestem. Essa situação pode ser
assim justificada: quando os bancos projetam uma expectativa de alta da inflação e o
Bacen acata elevando a taxa Selic, os bancos não emprestam. O Bacen tem o melhor
resultado, pois se sabe que com taxas de juros mais altas e restrição do crédito, a
autoridade monetária tem maiores possibilidades de alcançar seu principal objetivo
em termos de política monetária, que é o cumprimento da meta de inflação.
Fonte: O autor (2015).
Quadro 3.2 - Jogo sequencial na forma estratégica.
Não emprestar Emprestar
Eleva a Selic (30,30) (3,2)
Não eleva a Selic (15,5) (2,10)
Bancos
Banco
Central
Teoria dos jogos
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115
Fonte: O autor (2015).
Quadro 3.3 - Jogo sequencial na forma estratégica.
Não emprestar Emprestar
Eleva a Selic (30,30) (3,2)
Não eleva a Selic (15,5) (2,10)
Bancos
Banco
Central
Caso os bancos optassem por emprestar, a recompensa do Bacen seria 15. Esse
resultado é coerente, pois se Bacen mantivesse/reduzisse a taxa Selic e os bancos
reagissem não emprestando, para um Bacen preocupado com a inflação este
seria um cenário interessante, pois a combinação de não elevação da taxa básica e
contração no crédito tem efeito benéfico, no sentido de conter a inflação (via restrição
da demanda agregada). Por outro lado, o Bacen sabe que, se optasse por não elevar
a taxa Selic, os bancos fariam melhor emprestando a crédito. Se os bancos agissem
assim, o aumento do crédito traria pressões sobre a demanda, elevando a inflação e
afetando a credibilidade do Bacen quanto à sua capacidade de colocar a economia no
curso de modo a cumprir a meta inflacionária.
No quadro 3.4, analisa-se a reação do Bacen no caso em que os bancos optem
por emprestar. Os possíveis payoffs para os bancos aparecem em negrito. Essa é
uma possibilidade que o Bacen teme, pois isso pode contribuir para o descontrole da
inflação. Como os bancos ganham menos quando a taxa Selic não é elevada, então
eles podem pressionar o Bacen emprestando a uma taxa de juros de mercado menor
do que as habitualmente praticadas; os bancos podem expandir os empréstimos,
aumentando o crédito na economia, o que pode ir contra os interesses da política
monetária. Então, uma estratégia para o Bacen seria elevar a taxa de juros, pois assim
os bancos, ao perceberem que seus ganhos seriam maiores, optariam por não
emprestar e assim direcionariam os recursos para aquisição de títulos da dívida. Com
um montante menor de recursos no mercado, o Bacen conseguiria manter a meta
inflacionária e sua reputação.
Teoria dos jogos
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116
Fonte: O autor (2015).
Fonte: O autor (2015).
Quadro 3.4 - Jogo sequencial na forma estratégica
Quadro 3.5 - Jogo sequencial na forma estratégica
Não emprestar Emprestar
Eleva a Selic (30,30) (3,2)
Não eleva a Selic (15,5) (2,10)
Não emprestar Emprestar
Eleva a Selic (30,30) (3,2)
Não eleva a Selic (15,5) (2,10)
No quadro 3.5, após a análise de todas as interações estratégicas possíveis para os
jogadores, chega-se à conclusão de que só existe um equilíbrio de Nash em estratégias
puras para o jogo, dado pelo par de estratégias “elevar a Selic, não emprestar”, cujos
resultados de payoff são (30,30). Este resultado é condizente com as utilidades
esperadas do jogo para o Bacen, que consegue manter a meta inflacionária e sua
credibilidade junto ao mercado, e para os bancos, que conseguem maximizarsua
rentabilidade.
Assim, olhando apenas do ponto de vista do controle da inflação e das interações
estratégicas entre o Bacen e o setor bancário, o Brasil é um país que tem conseguido
êxito no cumprimento das metas de inflação à custa de altas taxas de juros, estratégia
que favorece os bancos, que são os mais importantes compradores dos títulos
públicos. Os bancos são instituições muito expostas ao risco e eles procuram manter
parte importante dos seus ativos em opções líquidas e seguras, como os títulos. Por
isso mesmo, acredita-se que exercem grande influência na determinação da taxa
básica.
Teoria dos jogos
U3
117
Podemos ainda diferenciar o Equilíbrio de Nash de um jogo de estratégia
dominante. Enquanto no primeiro o equilíbrio ocorre quando ambos os jogadores
escolhem uma estratégia procurando fazer o melhor que podem, tendo em vista as
possíveis ações de seus oponentes, no segundo cada qual adota a melhor estratégia
para ele independente do que seus oponentes estão fazendo.
Ainda dentro deste contexto, o equilíbrio de Nash permite ter um jogo de equilíbrio
estável, isto significa que não há estímulo para que qualquer um de seus participantes
mude suas escolhas, a menos que algum tome a iniciativa primeiro. Desta forma,
podemos concluir que:
Destaca-se ainda que pode ocorrer de, em um jogo, verificar-se que os jogadores
estão utilizando uma estratégia maximin. Uma estratégia deste tipo é resultado de uma
análise feita pelos participantes de um jogo não cooperativo e simultâneo no qual os
participantes procuram maximizar o mínimo ganho possível. Imaginemos uma situação
conforme descrito por Pyndyck e Rubinfeld (2002) e apresentada na Figura 3.5.
Após ler o estudo sobre a determinação da taxa de juros,
você concorda que este jogo ainda sirva para explicar a
determinação da taxa Selic hoje?
A principal característica que diferencia um equilíbrio de Nash
de um equilíbrio em estratégias dominantes é a dependência
do comportamento do oponente. Um equilíbrio em estratégias
dominantes ocorre quando cada jogador faz sua melhor
escolha, independente da escolha do outro jogador. Todo
equilíbrio em estratégias dominantes é um equilíbrio de Nash,
porém, o contrário não é verdadeiro (PINDYCK; RUBINFELD,
2002, p. 460).
Teoria dos jogos
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118
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 469).
Figura 3.5 – Estratégia Maximin
No exemplo, duas empresas competem no mercado de softwares de criptografia
e ambas possuem o mesmo padrão de criptografia, de tal forma que os softwares
desenvolvidos por qualquer uma das empresas pode ser lido pela outra. Assim, para o
consumidor seria indiferente comprar de uma ou de outra.
Ainda como informação adicional, a parcela de mercado da Empresa 1 é muito
maior que a da Empresa 2, e ambas as empresas estão considerando a possibilidade
de adotar este novo padrão de criptografia. Assim, de acordo com a Figura 3.5, numa
escolha racional, com cooperação e com decisões simultâneas, ambas as empresas
deveriam investir, porque a Empresa 1 ganharia 20 e a Empresa 2 ganharia 10.
Ocorre que, como a Empresa 2 é menor e sua escolha pode não ser muito racional,
caso ela não invista o prejuízo da Empresa 1 será de -100, enquanto a Empresa 2 não
perderia nada.
Por outro lado, se optar por investir, a Empresa 2 ganha 10 independente do que
a Empresa 1 faça. Desta forma, a Empresa 2 tem um estímulo para investir e esta seria
sua estratégia maximin, enquanto que a Empresa 1 será muito prejudicada caso isto
não ocorra, logo ela opta por não investir e seu prejuízo será de apenas -10, sendo esta
sua estratégia maximin.
Conforme podemos ver a partir da análise dos resultados do jogo representado na
Figura 3.5, a adoção da estratégia maximn implica a não existência de um equilíbrio,
pois, mesmo ao observar as estratégias possíveis de seu oponente, a empresa escolhe
uma estratégia que é pior para ela, dadas as estratégias disponíveis para seu oponente.
Desta forma, numa estratégia maximin o jogador procura maximizar o ganho mínimo,
Teoria dos jogos
U3
119
isto é, evitar maior prejuízo, devido às possíveis ações de seus oponentes. Podemos
ver mais um exercício extraído de Pindyck e Rubinfeld (2002), conforme segue.
a) Se ambas as empresas tomarem suas decisões simultaneamente e
empregarem estratégias maximin (de baixo risco), qual deverá ser o resultado?
Com uma estratégia maximin, uma empresa determina o pior resultado para cada
escolha, depois escolhe a opção que:
Duas empresas fabricantes de computadores, A e B,
estão planejando comercializar sistemas de rede para o
gerenciamento de informações corporativas. Cada empresa
pode desenvolver tanto um sistema rápido de alta qualidade
(A) como um sistema mais lento e de baixa qualidade (B). Uma
pesquisa de mercado indicou que os lucros de cada empresa
resultantes de cada estratégia alternativa são aqueles que se
encontram na seguinte matriz de payoff:
Com uma estratégia maximin, uma empresa determina o pior
resultado para cada escolha, depois escolhe a opção que
maximiza o payoff dentre os piores resultados. Se a empresa A
escolher H, o pior payoff ocorreria se a empresa B escolhesse
H: O payoff de A seria 30. Se a empresa A escolhesse L, o pior
payoff ocorreria se a empresa B escolhesse L: O payoff de A
seria 20. Com uma estratégia maximin, A, então, escolhe H. Se
a empresa B escolhesse L, o pior payoff ocorreria se a empresa
A escolhesse L: o payoff seria 20. Se a empresa B escolhesse H,
o pior payoff, 30, ocorreria se a empresa A escolhesse L. Com
uma estratégia maximin, B, então, escolhe H. Logo, sob uma
estratégia maximin, tanto A quanto B produzem um sistema
de alta qualidade (PINDYCK; RUBINFELD, 2002a, p. 199).
30,30 50,35
40,60 20,20
EMPRESA B
H L
H
L
EMPRESA A
Teoria dos jogos
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120
Uma conclusão importante sobre a estratégia maximin é que ela não necessita que um
jogador reaja à estratégia de seu oponente e, quando não há uma estratégia dominante,
os jogadores conseguem reduzir a incerteza em relação à reação de seu oponente, sendo
conservador e adotando uma estratégia maximin. Neste caso, a solução maximin ocorre
com mais frequência quando há uma probabilidade grande de que haja no mercado um
oponente de porte considerável e que tenha uma conduta irracional.
Ainda podemos considerar os jogos para os quais não haja equilíbrio em estratégias
puras, mas sim em estratégia mista. Um exemplo típico é o jogo de moedas no qual os
jogadores podem escolher entre cara ou coroa. Suponha que os jogadores anunciem
suas estratégias no momento em que a moeda é lançada. Desta forma, cada jogador
pode obter diferentes resultados desta partida, porém, conforme verifica-se na Figura
3.6, não há um equilíbrio de Nash em estratégia pura.
Isto ocorre porque cada conjunto de payoff permite diferentes resultados que
ocorrem independente da estratatégia de cada jogador, porque cada um joga para
ganhar 1, mas quando não ocorre perde -1.
Assim, não existe um equilíbrio em estratégia pura (coroa, coroa ou cara, cara). Isto ocorre
porque se o jogador 1 escolher coroa, o jogador 2 oferecerá cara, então o jogador 1 perderá,
o inverso também é verdadeiro. Desta forma, não haveria combinação de cara ou coroa que
pudesse satisfazer cada um dos jogadores em estratégia pura (quando ele tem que escolher
ou só cara ou só coroa), um deles sempre estará disposto a alterar sua estratégia.
Os jogos estudados até aqui são jogos para os quais os participantes
utilizam-se de estratégia pura, isto é, eles fazem uma única escolha
específica na matriz de payoff e decidem agir para obtê-la. Existem
outros jogos para os quais adota-se estratégia mista, na qual os
participantes podem escolher duas ou mais possibilidades a partir do uso
de probabilidade para cada uma.
Fonte: Adaptado de Pindyck; Rubinfeld (2002, p. 470).
Figura 3.6 – Jogo de moedas
Teoria dos jogos
U3
121
Assim, cada uma das opções (cara ou coroa) tem probabilidade de ½ de ocorrer,desta
forma teremos um equilbrio de Nash em estratégias mistas. Sabendo desta probabilidade
dos payoffs após jogar a moeda, nenhum dos dois jogadores tem estímulo para alterar sua
estratégia.
Neste contexto, Equilíbrio de Nash Misto envolve um par de estratégias (considerando
suas probabilidades de ocorrência) de modo que cada estratégia é uma melhor resposta
em relação à outra. E um jogo para o qual nenhuma estratégia pura pode ser um equilíbrio
de Nash.
Nesta seção estudamos situações que envolviam jogos não cooperativos, simultâneos e
de apenas uma rodada. Na seção 3.2 estudaremos mais possibilidades de um jogo.
1. Leia a citação a seguir:
Dois ladrões que cometeram um crime em comum são presos
por um policial. Para cada ladrão, o policial propôs que confesse
o crime e sirva de testemunha de acusação. Se um dos ladrões
confessa o crime e outro não, aquele que confessou será posto
em liberdade, o que não confessou cumprirá pena de 10 anos
na prisão. Se os dois confessarem, ambos ficarão presos por três
anos. Se nenhum dos dois confessar, a penalidade será de apenas
um ano para cada um. Ambos os prisioneiros conhecem estas
condições (VASCONCELLOS, 2000, p. 210).
A partir desta citação, explique: por que o jogo do dilema dos
prisioneiros apresenta uma estratégia dominante? Qual é ela?
Gabarito: Percebe-se que existe uma estratégia dominante para
cada um dos prisioneiros. Para A confessar é melhor estratégia,
B confessando ou não, porque em qualquer caso ele poderia
receber uma pena menor (3 anos se B confessar e 0 se B não
confessar). Para Prisioneiro B confessar também é a melhor
estratégia independente de A (3 anos se A confessar e 0 se A
não confessar). Isto ocorre porque eles não podem conversar, e
mesmo que pudessem, ainda assim não conseguiriam confiar um
no outro, dado que, de acordo com as regras do jogo repassadas
pelo policial, cada um só consegue uma pena menor caso o
seu oponente adote uma estratégia de maior pena para ele (não
confessando) (PINDYCK; RUBINFELD, 2002a, p. 205).
Teoria dos jogos
U3
122
2. Para a questão a seguir, adaptada do Exame Nacional de Cursos de
Pós-graduação em Economia (ANPEC), marque V para verdadeiro e F
para falso.
Com relação à teoria dos jogos, é correto afirmar que:
1) Um equilíbrio de Nash ocorre somente com estratégias puras. ( )
2) Um equilíbrio com estratégias dominantes é necessariamente um
equilíbrio de Nash. ( )
3) Um equilíbrio de Nash é necessariamente um equilíbrio com
estratégias dominantes. ( )
4) Um equilíbrio de Nash em estratégias mistas é sempre uma
combinação de dois ou mais equilíbrios de Nash em estratégia pura. ( )
Gabarito: 1) (F) O equilíbrio de Nash, dependendo da situação, não
ocorre com estratégias puras, mas pode ocorrer em estratégias mistas.
Ou seja, o equilíbrio de Nash envolve como no caso do jogo de moeda,
porque nele com Equilíbrio de Nash nenhum jogador tem incentivo de
desviar da estratégia e não existe estratégia pura; 2) (V) Lembrando dos
conceitos de estratégia dominante, em que a estratégia que maximiza
o payoff do jogador é a que ele adota independente do seu oponente
e que Equilíbrio de Nash é estável e nenhum jogador tem estímulo
para mudar; 3) (F) Um equilíbrio de Nash é o melhor que um jogador
faz tendo em vista o que seu oponente faz e a estratégia dominante é
tomada independente do que faz seu oponente; 4) (F) Um equilíbrio
em estratégia mista só ocorre quando não há um equilíbrio possível
em estratégias puras.
Teoria dos jogos
U3
123
Seção 2
Jogos repetitivos e sequenciais: ameaça,
compromisso e credibilidade
Na seção anterior discutimos jogos nos quais havia a pressuposição de que eles se
encerravam com apenas uma rodada, não sendo possível aos jogadores mudarem
suas estratégias. Ocorre que em muitos casos da realidade os participantes tomam
decisões em um momento, e com o passar do tempo, numa nova rodada, o jogo se
repete e eles têm então a oportunidade de rever sua decisão.
Assim, num jogo repetitivo, os jogadores recebem seus payoffs várias vezes
e as estratégias podem se tornar mais complexas. Se imaginarmos o dilema dos
prisioneiros como um exemplo de jogo de oligopólio no qual as empresas estão
decidindo sobre o aumento de preços, se este jogo torna-se repetitivo, cada
organização desenvolve uma reputação a respeito de seu comportamento e
também tem a possibilidade de estudar o comportamento de seu oponente.
Neste sentido, nesta seção, você conhecerá um pouco mais sobre jogos dinâmicos
ou repetitivos e as consequências deste tipo de jogo para seus participantes.
2.1 As implicações dos Jogos Repetitivos
Os jogos repetitivos ocorrem porque a cada ação tomada e uma nova rodada
os decorrentes payoffs são recebidos várias vezes pelos participantes de maneira
sucessiva.
A maior implicação desta repetição é que o resultado do jogo pode mudar.
Em termos gerais, os pesquisadores procuraram desenvolver simulações nas
quais buscou-se identificar se haveria um padrão de estratégia adotada a partir do
momento em que o jogo se repete.
Em um estudo destes, o pesquisador Robert Axerold verificou em seu experimento
que uma determinada estratégia específica funcionava melhor quando utilizada
contra outra determinada do que contra outras, isto é, a adoção de uma estratégia
Teoria dos jogos
U3
124
por um participante tendia a ser seguida pelo outro, num esquema de cooperação
condicionada à estratégia de seu oponente.
A esta forma de cooperação estratégica chamou-se estratégia tit-for-tat que
pode ser entendida como estratégia de repetição, na qual o jogador responde de
forma similar às jogadas de seu oponente e ambos tendem a cooperar retaliando os
que não o fazem (PYNDYCK; RUBINFELD, 2002). A Figura 3.7 permite visualizar um
payoff de exemplo desta questão.
Na figura, o exemplo começa com a ideia de que o jogador que inicia o jogo (no
caso, a Empresa 1) opta por começar com um preço alto, neste caso a Empresa 2
também fará a mesma opção (50;50), lembrando que neste caso de oligopólio os
dois terão vantagem de aumento de lucro com preço maior e que se trata de um
jogo silmultâneo no qual as decisões de uma rodada são tomadas ao mesmo tempo
e só podem ser alteradas na próxima.
Assim, o jogador inicial Empresa 1 manterá seu preço alto enquanto a Empresa
2 seguir a mesma ação estratégica, porém, no momento em que a cooperação
cessar, a Empresa 2 baixar seu preço, a Empresa 1 terá um prejuízo nesta rodada
de (-50), mas na próxima rodada ela reduzirá seu preço e ambas as empresas agora
terão lucro menor (10;10).
Num jogo repetido infinitas vezes, um jogador pode perceber ou não que
seu oponente está utilizando uma estratégia tit-for-tat. Porém, a conclusão mais
importante disto é que eles irão perceber que, ao longo do tempo, a cooperação
proporciona que o ganho esperado da cooperação será muito maior do que o que
obteriam caso optassem por uma guerra de preços.
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 473).
Figura 3.7 – Simulação payoff problema de determinação de preço
Teoria dos jogos
U3
125
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 477- 478).
Figura 3.8 – Simulação payoff de jogo sequencial
Por outro lado, caso o jogo seja finito, ou seja, determinado por um número
específico de repetições, pode ocorrer de a Empresa 2, sabendo que a Empresa 1
está adotando uma estratégia tit-for-tat, pode optar por manter a cooperação até a
última rodada e aí baixar seu preço. Como também não há certeza de que a Empresa
1 adote a mesma estratégia.
Porém, de certa forma, a estratégia tit-for-tat em cooperação é preferível por
dois motivos: porque os ganhos serão maiores do que agindo individualmente e, no
caso de alguém não utilizá-la em jogos repetitivos, há a possibilidade de mudar sua
estratégia numa próxima rodada, o que reduziria as perdas a apenas uma rodada.
Por fim, admite-se que, caso haja muitas empresas num setor, a cooperação
não se estabelece devido a problemas associados aos custos e às necessidadesde
readequação constante das estratégias de mercado.
2.2 Jogos sequenciais
A exemplo do modelo de oligopólio de Stackelberg, nos jogos sequenciais os
jogadores fazem seus movimentos um após o outro em resposta às ações e reações
de seus oponentes. Num jogo como este os participantes necessitam estar atentos
às ações e reações racionais dos jogadores. Vejamos o exemplo da Figura 3.8.
Teoria dos jogos
U3
126
Em relação à figura, na parte a) verificamos a matriz de payoff do jogo para ambos
os participantes. Na parte b apresentamos a forma extensiva do jogo na qual parte-se da
suposição de que no lançamento de uma campanha de produção de biscoitos crocantes
ou açucarados para um mesmo mercado, a Empresa 1 tenha decidido primeiro.
Então, se ela optar por produzir o açucarado, a escolha racional para a Empresa 2 é
produzir o crocante. O payoff seria lucro de 20 para a Empresa 1 e 10 para a Empresa
2. Lembrando que optar por concorrer no mesmo mercado com o mesmo produto
levaria a prejuízos para ambas as empresas, desta forma, a escolha racional da Empresa
2 a partir do anúncio da Empresa 1 é o caminho. Aqui, percebe-se que existe vantagem
para a Empresa 1 ser a primeira, pois, ao criar um fato consumado sobre sua decisão
de produção, deixa à Empresa 2 como única alternativa produzir o biscoito crocante.
Podemos acrescentar ainda que:
No caso, a vantagem de ser o primeiro num jogo em que pode
ocorrer um payoff mais elevado para o primeiro jogador a se
mover. Então, quando o primeiro jogador se move sinalizando sua
escolha para seu oponente, este deve escolher uma resposta, de
acordo com esse sinal. O primeiro a se mover age ofensivamente
e o segundo responde defensivamente. A primeira empresa a
lançar um produto pode determinar o padrão a ser seguido pelos
concorrentes.
Em alguns casos, ser o primeiro concede o poder de determinar o
padrão de mercado, que se torna tão difuso que a marca do produto
vira sinônimo do nome do produto. No Brasil, marcas como Toddy,
Nescau, Omo, Bombril, etc. são utilizadas como sinônimo dos
produtos que representam (PINDYCK; RUBINFELD, 2002a, p. 203).
2.3 Ameaças, compromisso e credibilidade
Num jogo sequencial como o descrito na Figura 3.8, no qual supôs-se que a
Empresa 1 tomou a decisão inicial e optou por produzir o biscoito açucarado porque
este traria para ela maior lucro, o que leva a Empresa 2 a aceitar tal situação?
Você concorda que a Empresa 2 irá realmente acatar o
resultado do payoff e produzir o biscoito crocante? Por quê?
Teoria dos jogos
U3
127
Em especial, uma empresa como a Empresa 1 tem uma certa vantagem no
mercado. Mas esta vantagem deve ser suficiente para induzir o comportamento de seus
oponentes. Desta forma, a Empresa 1 fez um movimento estratégico.
Este pode ser entendido como uma ação que influencia outra pessoa a tomar uma
decisão favorável ao agente que iniciou o movimento. No caso, a Empresa 1 conseguiu
com sua estratégia levar a Empresa 2 a optar por produzir o biscoito crocante. De certa
forma, este movimento estratégico é uma ação que dá vantagem de ser o primeiro
aquele que limitou seu comportamento. Destaca-se que:
Mas tal situação somente se estabelece porque a garantia de que o movimento
estratégico será cumprido vem do compromisso que a Empresa 1 deve assumir, enviando
sinais para que sua ação seja respaldada por atividades que indiquem que ela irá cumprir
o que está anunciando. Desta forma, ao firmar contratos de compras de insumos, realizar
investimentos significativos em marketing para difundir sua marca e este produto etc.
Em um jogo também poderíamos perguntar se a Empresa 1 poderia apenas ameaçar,
isto é, anunciar, mas não sinalizar que irá realmente fazer isto. A Empresa 2 saber que ela
não agiria assim devido aos riscos envolvidos de prejuízo para ambas casos, a Empresa 2
também optasse por produzir o biscoito açucarado. Neste caso, a ameaça seria vazia. Uma
ameaça vazia é aquela que tem pouca possibilidade de ser colocada em prática num caso
em que os partipantes do jogo são racionais. Como você pôde estudar nesta seção, os
jogos repetitivos e jogos sequenciais constituem em itens diferenciados e importantes nos
desenvolvimentos dos estudos com Teoria dos Jogos. Pois bem, vamos agora exercitar
um pouco do que aprendemos.
Um movimento estratégico influencia o comportamento
condicional do oponente. Se o jogo for bem compreendido,
e a reação do oponente puder ser prevista, um movimento
estratégico deixará o jogador em melhor situação. Transações
econômicas envolvem barganha, implícita ou explícita.
Em toda barganha, supomos que ambas as partes tentem
maximizar seus próprios ganhos. Movimentos estratégicos de
um jogador proporcionam sinais aos quais o outro jogador reage.
Quando um jogo de barganha é jogado apenas uma vez (de
modo que não há incentivo para criar reputações), os jogadores
podem atuar estrategicamente visando maximizar seus payoffs.
Quando um jogo de barganha é repetido, os jogadores podem
atuar estrategicamente visando estabelecer reputações que
favoreçam suas negociações no futuro (PINDYCK; RUBINFELD,
2002, p. 204).
Teoria dos jogos
U3
128
1. Em alguns casos, o poder de determinar o padrão de
mercado se torna tão difuso no mercado que a marca do
produto vira sinônimo do nome do produto; por exemplo,
no Brasil, as pessoas associam sabão em pó a OMO, amido
de milho a Maisena. Sendo as marcas utilizadas pelos
consumidores para se referir ao produto, tiveram vantagem de
serem marcas pioneiras no mercado. Neste sentido, explique
qual o significado do termo “vantagem de ser o primeiro”. Dê
um exemplo de um jogo em que tal vantagem exista.
2. Em um jogo sequencial, no qual uma empresa se posicione
como primeira, sua estratégia é caracterizada como um
movimento estratégico. Porém, o movimento estratégico limita
a flexibilidade do jogador e, mesmo assim, lhe confere uma
vantagem. Por quê? De que forma um movimento estratégico
pode dar a um jogador uma vantagem durante as negociações?
Pois bem, a Teoria dos Jogos é ampla e constitui-se em ferramenta que propicia muitos
estudos e pesquisas em Economia. Desta forma, continuar estudando é o caminho para
o aluno que queira entender mais profundamente esta teoria.
Nesta seção vimos que jogos ocorrem, dentro do âmbito da
economia, quando os agentes econômicos (empresas, países e
até mesmo indivíduos) se encontram em situações estratégicas
que podem ser classificadas como dominantes ou equilíbrio de
Nash. Por outro lado, os jogos podem assumir forma de uma
rodada, serem repetitivos ou ainda serem sequenciais. E que
as estratégias são descritas em termos de se apresentarem
críveis a fim de evitar a ameaça vazia. Desta forma, um jogador
deve ter ações que inspirem compromisso e, assim, conquistar
credibilidade junto aos demais jogadores.
Teoria dos jogos
U3
129
Você poderá encontrar na realidade brasileira muitos casos e
situações que se encaixam em jogos, pois a diversidade de situações em
que esta teoria se aplica abre possibilidades de ampla aplicação desta.
Você pode compreender e estudar um pouco mais sobre este assunto
lendo o Capítulo 13 – Teoria dos Jogos e Estratégia Competitiva, do livro
Microeconomia, dos autores Robert S. Pindyck e Daniel L. Rubinfeld,
publicado em 2002 e disponível na Biblioteca Digital. Bons estudos!
1. Observe a figura:
Figura: Representação do dilema dos prisioneiros
Tendo em vista os pressupostos da Teoria dos Jogos, descreva
como se dá a resolução do Dilema dos Prisioneiros.
Teoria dos jogos
U3
130
3. Observe a figura:
Partindo da interpretação possível para este jogo, explique o que é
uma estratégia maximin.
Partindo da figura, explique que tipo de equilíbrio podemos ter neste
caso? Por quê?
30,30 50,35
40,60 20,20
EMPRESA B
H L
H
L
EMPRESA A
2. Observe o payoff de um jogo de moedas:
Figura: payoff do jogo de cara ou coroa
4. Observe o quadro:
Quadro: Jogo sequencial na forma estratégica.Este quadro é uma referência à aplicação da Teoria dos Jogos ao
caso da determinação da taxa Selic no Brasil. Neste sentido, explique
qual a conclusão final deste jogo. Por quê?
Não emprestar Emprestar
Eleva a Selic (30,30) (3,2)
Não eleva a Selic (15,5) (2,10)
Bancos
Banco
Central
Teoria dos jogos
U3
131
5. Leia a descrição de um jogo no estilo do dilema dos prisioneiros.
Dois suspeitos de cometerem um crime em comum são presos
por um policial. Para cada suspeito, o policial propôs que confesse
o crime e sirva de testemunha de acusação. Se um dos suspeitos
confessar o crime e outro não, aquele que confessou será posto em
liberdade, o que não confessou cumprirá pena de 20 anos na prisão.
Se os dois confessarem, ambos ficarão presos por 2 anos. Se nenhum
dos dois confessar, a penalidade será de apenas um ano para cada
um. Ambos os prisioneiros conhecem estas condições.
Tomando por base esta descrição, desenhe a matriz de payoff para
este caso.
Teoria dos jogos
U3
133
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NOÇÕES DE
EQUILÍBRIO GERAL
Na maior parte do nosso estudo tratamos de mercados isoladamente,
contudo, os mercados são frequentemente interdependentes, ou seja,
mudanças em um mercado podem influenciar os resultados de outro
mercado, tanto pelo fato de uma mercadoria ser insumo de outra mercadoria,
como pelo fato de mercadorias serem substitutas ou complementares. Assim,
a análise do equilíbrio geral pode auxiliar na compreensão de tais inter-relações.
Nas relações expostas nas primeiras unidades do livro partimos do princípio
da eficiência dos resultados, que é alcançada através da maximização do
excedente do produtor e do excedente do consumidor, assim vamos partir da
economia das trocas para poder entender a relação entre dois consumidores,
e para isso vamos utilizar o diagrama de Edgeworth.
Todas as análises anteriores partiam de hipóteses simplificadoras que limitavam
os resultados de mercados e que pressupunham determinados comportamentos.
Mas, o que aconteceria se os mercados não se comportassem da forma esperada,
ou seja, e se eles apresentassem falhas? Assim, vamos tratar sobre as principais
falhas de mercado: informações assimétricas, bens públicos e externalidades.
Seção 1 | Análise do equilíbrio geral com dois mercados,
eficiência das trocas e o diagrama de Edgeworth
Seção 2 | Falhas de mercado
Objetivos de aprendizagem:
Durante a seção 4.1 vamos procurar compreender o equilíbrio geral de
mercado, partindo de hipóteses que permeiam mercados competitivos e
análises que envolvem dois produtos. Para a análise da troca de dois produtos,
entre duas pessoas, será utilizada uma ferramenta conhecida como caixa (ou
diagrama) de Edgeworth. Já na seção 4.2, trataremos de situações específicas
no que tange à análise de mercado: as falhas nos mercados.
Alexander Luis Montini
Unidade 4
Noções de equilíbrio geral
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138
Noções de equilíbrio geral
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139
Introdução
Na grandemaioria dos conteúdos apresentados nas três primeiras seções,
o enfoque, quase que na sua totalidade, era positivista, ou seja, era como se o
comportamento da oferta e da demanda determinasse os resultados, em diferentes
estruturas de mercado. Na Unidade 4 do presente livro, a abordagem será mais
normativa, ou seja, buscaremos demonstrar os objetivos da eficiência econômica,
que é a propriedade que a sociedade tem de obter o máximo possível de eficiência,
a partir de recursos escassos, mostrando quando os mercados geram resultados
positivos, ou quando eles falham e, consequentemente, necessitam da intervenção
governamental. A seção 1 trata da análise do equilíbrio geral, a interação entre
dois mercados é levada em consideração, mostrando quando e por que um
mercado competitivo é eficiente do ponto de vista econômico. Na seção 2, vamos
tratar sobre uma importante falha de mercado, que aparece quando dispomos
de informações erradas ou incompletas (as chamadas informações assimétricas).
Quando acontecem essas falhas de informações, objetivamos mostrar que, quando
alguns agentes econômicos dispõem de melhores informações do que os demais,
os mercados podem não alocar os recursos de forma eficiente. Ainda em relação
às falhas de mercado, vamos abordar outras duas situações: as externalidades e os
bens públicos. Mostraremos que, embora essas falhas possam ser sanadas, muitas
vezes torna-se necessária a intervenção do governo para melhorar os resultados
do mercado. Desde os mercados competitivos, estudados na Unidade 1, até as
falhas de mercado, objeto da presente unidade, procuramos mostrar aos leitores
uma parte importante da microeconomia que estuda os mercados. Boa leitura!
Noções de equilíbrio geral
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140
Noções de equilíbrio geral
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Seção 1
Análise do equilíbrio geral com dois mercados,
eficiência das trocas e o diagrama de Edgeworth
Nesta seção você compreenderá que a interdependência entre os mercados
pode influenciar nos preços e nos níveis de produção, seja pela condição de bem
substituto ou complementar. Neste sentido, veremos como o equilíbrio geral trata tal
interdependência entre os mercados.
1.1 Equilíbrio geral
A análise de equilíbrio geral determina os preços e as quantidades em todos os
mercados, concomitantemente, e considera o resultado do feedback, que se refere
ao ajuste de preços ou quantidades em determinado mercado, em comparação
com tais ajustes em mercados relacionados. Normalmente, uma análise de
equilíbrio parcial, como foi visto nas unidades 1 e 2, é suficiente para entendermos
o comportamento dos mercados, contudo, as inter-relações entre os mercados
devem ser consideradas. De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 500):
Vamos imaginar uma situação hipotética em que o governo da Venezuela
resolva cobrar um imposto sobre todas as importações de petróleo no país, o que
incorreria em aumento no preço, deslocando a curva da oferta para a esquerda, e
esta elevação de preço faria com que aumentasse a demanda por gás natural, e,
como consequência, o seu preço. Mas com os preços do gás natural em ascensão,
haveria aumento na demanda por petróleo, deslocando a curva de demanda para a
direita e, por consequência, o preço aumentaria ainda mais. Logo, os dois mercados
continuariam a interação no sentido de igualar oferta e demanda.
Diferentemente do que ocorre com a análise de equilíbrio
parcial, a análise de equilíbrio geral determina os preços e
as quantidades em todos os mercados simultaneamente;
além disso, ela explicitamente leva em conta os efeitos de
feedback. Um efeito de feedback é um ajuste de preços ou de
quantidade em determinado mercado causado pelos ajustes
de preços ou de quantidades em mercados correlatos.
Noções de equilíbrio geral
U4
142
Na prática, não é viável desenvolver uma análise completa de
equilíbrio geral que leve em consideração os efeitos de uma
mudança ocorrida em determinado mercado sobre todos os
demais mercados. Em vez disso, vamos nos restringir a alguns
mercados bastante relacionados entre si. Por exemplo, quando
estivermos examinando o efeito de um eventual imposto sobre o
petróleo, vamos também examinar os mercados de gás natural,
carvão e eletricidade (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 500).
As hipóteses simplificadoras, ao mesmo tempo em que facilitam a compreensão
de um determinado problema, acabam limitando a análise de uma dada situação. Se
formos pensar de uma forma mais abrangente, a economia é muito mais complexa,
e embora isso seja posto, é possível tentar entendê-la através de um raciocínio
não tão complexo. De uma forma simplificada, nós temos que o fluxo circular da
renda é composto por famílias que demandam bens e serviços, e ofertam fatores
de produção (trabalho, capital e terra), e por empresas que demandam os fatores de
produção e ofertam bens e serviços, conforme a Figura 4.1:
Fonte: Disponível em: <http://www.mises.org.br/images/articles/2008/Novembro%2008/figure1.jpg>. Acesso em: 04 nov.
2015.
Figura 4.1 - Fluxo circular da atividade econômica
Noções de equilíbrio geral
U4
143
A Figura 4.1 mostra que existe um fluxo real de bens e serviços das empresas
para as famílias, e um fluxo real de serviços produtivos das famílias para as firmas. De
acordo com Ferguson (2003, p. 500):
A citação acima vai de encontro com Salvatore (1996, p. 414), que afirma que: “a
análise do equilíbrio geral, por outro lado, estuda o comportamento de todas as unidades
individuais com poder de decisão e de todos os mercados, simultaneamente”.
É muito importante, ao tratarmos de mercados interdependentes, identificarmos
os bens ou serviços como substitutos ou complementares. Para a demonstração dos
bens substitutos, utilizaremos na nossa série de análises um exemplo encontrado no
livro de Pindyck e Rubinfeld (2006): ingressos de cinema e aluguel de DVDs. A Figura
4.2 mostra as curvas de oferta e de demanda de ingressos de cinema, e de aluguel de
DVDs. O preço inicial dos ingressos de cinema, mensurado em unidades, é de R$ 6,00,
e o equilíbrio só ocorre na intersecção entre as curvas de Demanda (Dm) e Oferta (Sm)
(parte A). Por outro lado, o mercado de DVDs encontra-se em equilíbrio ao preço de
R$ 3,00 (parte B). Porém, vamos supor que haja uma elevação nos impostos cobrados
sobre os ingressos de cinema. O efeito dessa elevação deslocará a curva de oferta dos
ingressos de cinema para cima (esquerda), portanto observamos na Figura 4.2 que a
curva de desloca de Sm para S*m, o que eleva o preço de R$ 6,00 para R$ 6,35, fazendo
com que haja redução na quantidade vendida Qm para Q’m.
Até aqui tratamos o equilíbrio parcial. Porém, podemos trabalhar com o equilíbrio
geral, ao examinarmos os efeitos da elevação dos impostos nos ingressos de cinema
sobre o mercado de DVDs, bem como a ocorrência de efeitos eventuais de feedback no
mercado de DVDs sobre o mercado de ingressos de cinema. É importante ressaltar que
a elevação dos impostos sobre os ingressos de cinema afeta o mercado de DVDs, por se
tratarem de bens substitutos. Portanto, um preço mais elevado nos ingressos de cinema
vai deslocar a demanda de DVDs para a direita, de Dv para D’v, o que aumentará o preço
do aluguel dos DVDs de R$ 3,00 para R$ 3,50, como pode ser visto na Figura 4.2:
Em vez de trocar a produção pelos insumos, as firmas
devem pagar às famílias uma renda monetária pelos serviços
produtivos ofertados. Em sua condição de consumidoras,
as famílias criam um fluxo de sentido inverso de gastos de
consumo para as firmas, trocando sua renda monetária por
bens e serviços a elas ofertados. Assim há um fluxo monetário
numa direção para compensar cada fluxo real na direção
oposta. O problema da análise do equilíbrio geral é determinar
o processo pelo qual os vários fluxos se equilibram.
Noções de equilíbrio geral
U4
144
Fonte: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 501).
Figura 4.2 - Dois mercados independentes
Nestas condições, como ficará o mercado de ingressosde cinema? A curva
original da demanda de ingressos de cinema indicava que o preço dos DVDs não havia
se alterado, permanecendo em R$ R$ 3,00. Mas, como agora o preço do aluguel do
DVD subiu para R$ 3,50, a curva de demanda de ingressos de cinema desloca-se para
cima (direita), de Dm para D’m (Figura 4.3). Assim, o preço mais alto dos DVDs acaba
refletindo no mercado de ingressos de cinema, e assim, com o deslocamento da curva
da Demanda para a direita (Dm para D’m), o preço dos ingressos de cinema aumentam
de R$ 6,35 para R$ 6,75. E os movimentos vão continuando até se alcançar um equilíbrio
geral, como pode ser visto na Figura 4.3:
Noções de equilíbrio geral
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145
FONTE: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 501).
Figura 4.3 - Interação entre dois mercados independentes
Podemos concluir que, se tratássemos de um equilíbrio parcial, a elevação do preço
do cinema não teria impactado o mercado de aluguel de DVDs, o que não traria novos
reflexos para o mercado de ingressos de cinema. No entanto, devido ao fato de serem
substitutos próximos, para analisarmos o efeito da elevação de um imposto sobre uma
mercadoria, é necessária a análise do equilíbrio geral. No nosso exemplo, de acordo
com a Figura 4.3, o preço de equilíbrio para os ingressos de cinema é de R$ 6,82, que
pode ser visto no ponto de intersecção (equilíbrio) entre as curvas de demanda (D*m) e
de oferta (S*m). O preço de equilíbrio de DVDs é de R$ 3,58, e pode ser visualizado no
ponto de intersecção (equilíbrio) entre as curvas de demanda (D*v) e de oferta (Sv).
Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 501) acrescentam:
Em outras palavras, ambos os conjuntos de curvas são
coerentes com os preços dos mercados correlatos, e não
temos razões para esperar que as curvas da oferta e da
demanda possam ainda sofrer outros deslocamentos.
Noções de equilíbrio geral
U4
146
Ainda de acordo com os autores:
Para concluirmos nossa análise, é importante relembrarmos que ingressos de cinema
e quantidade de DVDs alugados são bens substitutos. No entanto, se analisássemos
bens complementares (pão e manteiga, por exemplo), um imposto sobre o pão elevará
o seu preço, e reduzirá a demanda por manteiga, o que provocará redução na demanda
por pão. A seguir será apresentado um texto que ilustra como os mercados estão
interligados, e como mudanças em um determinado mercado podem afetar outros
mercados.
Na prática, para determinarmos os preços (e as quantidades)
de equilíbrio geral, devemos determinar simultaneamente dois
preços que sejam capazes de igualar as quantidades demandadas
e as quantidades ofertadas em todos os mercados relacionados.
Para nossos dois mercados, isso significaria encontrar a solução
para quatro equações, a oferta de ingressos de cinema, demanda
de ingressos de cinema, oferta de DVDs e demanda de DVDs
(PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 501).
A INTERDEPENDÊNCIA DOS MERCADOS INTERNACIONAIS
Como o Brasil e os Estados Unidos são concorrentes no
mercado mundial de soja, as regulamentações brasileiras
em seu próprio mercado podem afetar significativamente o
mercado norte-americano, o que por sua vez teria efeitos de
retroalimentação no mercado brasileiro. Isso levou a resultados
inesperados quando o Brasil passou a adotar uma política de
regulamentação objetivando uma elevação da oferta de soja no
mercado interno no curto prazo, assim como uma elevação das
exportações do produto no longo prazo.
No final da década de 1960 e princípio de 1970, o governo
brasileiro limitou as exportações de soja, fazendo com
que seus preços caíssem no mercado interno. O governo
esperava que, ao tornar a soja mais barata no mercado
brasileiro, estivesse estimulando um aumento das vendas e
incentivando a demanda interna por produtos à base de soja.
Os controles de exportação iam acabar sendo retirados, e
Noções de equilíbrio geral
U4
147
Para conseguirmos entender melhor o conceito de eficiência econômica, temos
que buscar compreender a eficiência das trocas, ou seja, a economia das trocas, cuja
compreensão é facilitada através do entendimento do diagrama de Edgeworth, assunto
que será tratado a seguir.
imaginava-se que as exportações brasileiras aumentariam.
Essa expectativa baseava-se em uma análise de equilíbrio parcial do
mercado brasileiro de soja. Na realidade, a redução das exportações
brasileiras fez com que fossem elevados os preços e a produção dos
Estados Unidos, aumentando também as exportações norte-americanas.
Isso tornou mais difícil a exportação de soja pelo Brasil - um problema que
persistiu mesmo depois dos controles. No fim, os preços, a produção e as
exportações domésticas não cresceram o suficiente para contrabalançar
os danos causados pela intervenção. Portanto, a política brasileira de soja
foi mal orientada e isso prejudicou o Brasil no longo prazo. Os responsáveis
por tal programa erraram ao não levar em consideração o efeito de seus
atos sobre a produção e exportação de soja dos Estados Unidos.
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 502).
1.2 Diagrama de Edgeworth
Na prática, e como vimos no item 1.1, os preços dos demais bens podem afetar
as demandas e as ofertas dos indivíduos por um bem em particular. Neste sentido,
entender a eficiência das trocas que ocorrem entre os indivíduos é fundamental
para a análise do equilíbrio geral. Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 502) ilustram tal
importância:
Suponhamos que duas mercadorias estejam inicialmente
alocadas de tal forma que ambos os consumidores possam ter
aumento de bem-estar se fizerem trocas entre si. Isso significa
que a distribuição inicial das mercadorias é economicamente
ineficiente. Em uma distribuição eficiente de mercadorias,
ninguém consegue aumentar seu próprio bem-estar sem
reduzir o bem-estar de alguma outra pessoa. Usa-se às
vezes como sinônimo a expressão eficiência de Pareto, em
homenagem ao economista italiano Vilfredo Pareto, que
desenvolveu o conceito da eficiência nas trocas.
Noções de equilíbrio geral
U4
148
Sobre o conjunto de Pareto, você pode consultar o livro: Varian (2000,
p. 548-549).
O comércio, ou a troca entre os agentes, embora em alguns casos não pareça
ser vantajoso para um dos agentes, é interessante do ponto de vista da eficiência.
“Como regra, trocas voluntárias entre duas pessoas ou dois países são mutualmente
benéficas” (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 503). Segundo Mankiw (2009, p. 8):
Existe uma ferramenta muito útil para analisar a troca de dois bens entre duas
pessoas, que é o diagrama (ou caixa) de Edgeworth, assim denominada em
homenagem a Francis Ysidro Edgeworth (1845-1926), economista inglês que foi
pioneiro no uso do referido instrumento.
Para entendermos o funcionamento da caixa de Edgeworth, vamos utilizar um
exemplo simples que pode ser encontrado no livro de Pindyck e Rubinfeld (2006).
No exemplo em questão, os autores trabalham com a suposição de que existem dois
indivíduos, James e Karen. E que juntos tenham 10 unidades de alimentos e seis unidades
de vestuários. A dotação inicial dos dois indivíduos pode ser visualizada na Tabela 4.1:
O comércio permite que as pessoas se especializem na atividade
em que são melhores, como agricultura, costura ou construção.
Ao comerciarem com os outros, as pessoas podem comprar
uma maior variedade de bens e serviços a um custo menor.
Assim como as famílias, os países beneficiam-se da possibilidade
de comerciar uns com os outros. O comércio permite que se
especializem naquilo que fazem de melhor e desfrutem de uma
maior variedade de bens e serviços.
A caixa de Edgeworth permite representar as dotações e
preferências de duas pessoas num único e conveniente
diagrama, o que pode ser utilizado para analisar vários resultados
do processo de trocas. Para entender a construção de uma caixa
de Edgeworth é preciso examinar as curvas de indiferença e as
dotações das pessoas envolvidas (VARIAN, 2000, p. 545).
Noções de equilíbrio geral
U4
149
A Tabela 4.1 mostra que, inicialmente, James contacom sete unidades de
alimento e uma unidade de vestuário. Já Karen dispõe de três unidades de alimento
e cinco unidades de vestuário. Vamos partir do pressuposto de que Karen tem
uma dotação maior de vestuário do que de alimento, e que sua taxa marginal de
substituição (TMSs) de vestuário por alimento seja de três (ou seja, para obter uma
unidade de alimento ela abriria mão de três unidades de vestuário). Já para James a
TMSs de vestuário por alimento é bem menor (1,5), isso implica que James dá mais
valor a vestuário do que Karen (enquanto que Karen dá mais valor a alimento do
que James). Portanto, há condições para que ocorra uma troca que seja benéfica
para ambos, mas é claro que os termos finais da troca dependeriam do processo de
negociação. De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 504):
A Figura 4.4 mostra uma caixa de Edgeworth. O eixo vertical mostra o número de
unidades de vestuário e o eixo horizontal mostra o número de unidades de alimento.
INDIVÍDUO ALOCAÇÃO INICIAL TROCA ALOCAÇÃO FINAL
James 7A, 1V -1A, +1V 6A, 2V
Karen 3A, 5V +1A, -1V 4A, 4V
Fonte: Adaptado de Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 503).
Tabela 4.1 - Vantagens do comércio
Sempre que TMSs de dois consumidores forem diferentes, há
possibilidade de comércio mutuamente benéfico, pois elas
mostram que a distribuição dos recursos é ineficiente – assim,
o comércio fará com que ambos os consumidores melhorem
seu bem-estar. Por outro lado, para que possa ser alcançada
a eficiência, é necessário que haja igualdade entre a TMSs dos
dois consumidores.
Noções de equilíbrio geral
U4
150
Figura 4.4 - Diagrama de Edgeworth
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 504).
Seguindo o exemplo apresentado no início da seção, o comprimento da caixa é de
10 unidades de alimento (quantidade total de alimento disponível); já a altura da caixa
é de seis unidades de vestuário. Cada ponto dentro da caixa representa uma possível
combinação de cestas de mercado para os dois indivíduos. No ponto A, por exemplo,
James tem sete unidades de alimento (A) e uma unidade de vestuário (V); assim, para
James o ponto A representa 7A e 1V, neste caso sobrariam para Karen 3A e 5V.
Podemos, também, ver o efeito da troca efetuada por Karen e James. James abre
mão de 1A em troca de 1V, passando do ponto A para o ponto B (6A e 2V). Karen abre
mão de 1V em troca de 1A, deslocando-se também do ponto A para o ponto B (4A
e 4 V). Portanto, o ponto B passa a representar as cestas de mercado de James e de
Karen depois de ter sido efetuada uma troca mutuamente benéfica. Só que para que se
conclua que a passagem do ponto A para o ponto B representa uma alocação eficiente
é necessário saber se as TMSs de James e Karen são exatamente iguais no ponto B, e
para isso é necessário conhecer o formato das curvas de indiferença de ambos. A Figura
4.5 mostra diversas curvas de indiferença tanto para James quanto para Karen.
Noções de equilíbrio geral
U4
151
Figura 4.5 - Eficiência nas trocas
FONTE: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 505).
A Figura 4.5 mostra as possibilidades de ambos os consumidores aumentarem sua
satisfação por meio das trocas. Sendo A a alocação inicial dos recursos, a área sombreada
descreve todas as trocas que seriam vantajosas para ambos.
Caso ocorra uma nova troca a partir do ponto B, James abriria mão de mais uma
unidade de alimento em troca de uma unidade adicional de vestuário, já Karen abriria
mão uma unidade de vestuário em troca de uma unidade adicional de alimento,
que poderia ser representada, no nosso exemplo, pelo ponto C, pois no ponto C a
satisfação de Karen aumentou sem diminuir a satisfação de James, fazendo com que
essa combinação seja mais eficiente do que a do ponto B. Assim, é correto afirmar que
a partir de uma alocação inicial, muitas alocações eficientes podem ser encontradas.
“Para descobrir todas as possíveis alocações eficientes de alimento e vestuário entre
Karen e James, teríamos que procurar todos os pontos de tangência entre cada uma
de suas respectivas curvas de indiferença” (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 506).
Se representássemos uma curva que passasse por todos os pontos de alocação de
eficiência, teríamos o que chamamos de curva de contrato. A Figura 4.6 representa a
curva de contrato do nosso exemplo:
Noções de equilíbrio geral
U4
152
Figura 4.6 - Curva de contrato
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 507).
Cada ponto sobre a curva de contrato é eficiente, porque uma pessoa não pode
aumentar seu bem-estar sem que, para isso, houvesse uma redução no bem-estar de
outra pessoa. Contudo, é válido ressaltar a observação feita por Pindyck e Rubinfeld
(2006, p. 507):
É o que ocorreria no caso de o governo diminuir uma tarifa de importação, ao passo
que os consumidores teriam mais produtos à sua disposição a preços menores, o que
poderia levar alguns trabalhadores da economia doméstica a perderem seus empregos,
por conta da diminuição da produção interna. Neste caso seria necessária uma segunda
intervenção no mercado (que poderia ser feita com uma alocação dos trabalhadores
em novas funções) para que fosse alcançado um resultado eficiente, ou seja, a situação
dos consumidores melhoraria e as condições dos trabalhadores não pioraria, o que
representaria um aumento na eficiência.
Frequentemente conseguimos elevar a eficiência, mesmo
quando algum efeito de uma mudança proposta diminui o
bem-estar de alguém. É preciso apenas que consideremos uma
segunda modificação, de tal forma que o conjunto combinado
das alterações seja capaz de aumentar o bem-estar de todos,
sem piorar o de ninguém.
Noções de equilíbrio geral
U4
153
Figura 4.7 - Equilíbrio competitivo
Fonte: Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 507).
Ainda tratando do equilíbrio geral, temos que considerar que em mercados competitivos
existem muitos compradores e vendedores, e que o processo de troca pode ser mais
complexo do que o que fora exposto até então. A Figura 4.7 ilustra as oportunidades de
trocas entre vestuário e alimentos quando os preços de ambos são iguais:
É importante ressaltar que os preços reais não importam, e o que realmente interessa
é o preço de um bem em relação ao outro. A partir desse momento, cada unidade do
primeiro bem pode ser trocada por uma unidade do segundo bem. De acordo com
Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 507):
Em um mercado competitivo, os preços dos dois bens
determinam os termos de troca entre os consumidores. Se A é
a alocação inicial dos bens e a linha de preço PP’ representa a
razão dos preços, o mercado competitivo levará a um equilíbrio
em C, o ponto de tangência entre as curvas de indiferença.
Como resultado, o equilíbrio competitivo é eficiente.
Noções de equilíbrio geral
U4
154
Durante a presente seção, buscamos subsídios para demonstrar uma alocação
eficiente nas trocas entre duas mercadorias. Sob uma ótica similar, poderíamos considerar
na nossa análise o uso eficiente dos insumos no processo produtivo, o que nos faria tratar
sobre o equilíbrio geral na produção; assim, ao invés de duas pessoas, estaríamos supondo
que muitos consumidores possuam insumos de produção, inclusive trabalho, e recebam
rendimentos ao vendê-los. Essa análise também seria feita com a caixa de Edgeworth,
onde a única diferença é que, ao invés de medir as mercadorias em cada um dos eixos,
estaríamos medindo os insumos do processo produtivo. Segundo Ferguson (2003, p. 521):
A análise do equilíbrio geral da produção é exatamente a mesma
que a do equilíbrio geral de troca. A única diferença está na
terminologia (jargão econômico). As dotações fixas de insumos
K e L determinariam as dimensões do diagrama de Edgeworth.
Sobre a eficiência na produção, você pode consultar o livro: Pindyck e
Rubinfeld (2006, p. 512-520).
Durante o estudo do equilíbrio geral, tratamos de exemplos
simples e utilizamos uma série de hipóteses simplificadoras.
Procure se colocar no papel dos agentes econômicos
decidindo sobre a escolha entre vários bens, e busque
elencar outraspossíveis variáveis que poderiam influenciar
suas decisões de escolha.
Durante a seção 1 tratamos sobre a análise do equilíbrio geral,
e procuramos mostrar que para qualquer alocação inicial de
recursos (tanto para trocas entre indivíduos, quanto para o
mercado de insumos), um sistema competitivo levará a um
resultado, economicamente, eficiente. Na próxima seção
buscaremos compreender por que os mercados falham e o
que os governos podem fazer a respeito disso.
Noções de equilíbrio geral
U4
155
1. Em um equilíbrio, nem todos os preços são iguais. Por exemplo:
se o preço do alimento for R$ 1,00 e o do vestuário for R$ 3,00, o
segundo bem teria que ser trocado por três unidades do primeiro
bem. Assim, se a TMSs de alimento por vestuário for maior do que
3, James não estaria disposto a abrir mão de nenhuma quantidade
de alimento para obter vestuário, já Karen estaria disposta a vender
vestuário para obter mais alimento, mas teria dificuldade em achar
alguém para negociar. Com isso, podemos supor que o mercado
em questão se encontraria em desequilíbrio. Dessa forma, como
que, em um mercado competitivo, o equilíbrio pode ser alcançado?
2. Durante a seção focamos nas trocas que podem ocorrer entre
dois indivíduos. Procure explicar o que acontece quando os países
fazem comércio.
Noções de equilíbrio geral
U4
156
Noções de equilíbrio geral
U4
157
Seção 2
Falhas de Mercado e as Externalidades
As produções de bens e serviços estão cada vez mais globalizadas, ou seja, uma
produção nacional rompe barreiras em aspectos operacionais (produção e vendas),
e este fato faz com que o padrão de produção siga para as chamadas economias
de escala (produção em massa). Esta característica de produção já é vista em muitos
países, como o Brasil e outras nações dos continentes americano, europeu, asiático
etc.
O processo de globalização pode ser visto com bons olhos por aqueles que
detêm o capital e pela população em geral, que passa a ter maiores possibilidades
de consumo, emprego, renda e riquezas. Estes resultados podem trazer benefícios
econômicos e sociais para um país, porém é preciso analisar todos os impactos de um
processo produtivo sobre o bem-estar social de uma população.
A indústria têxtil, por exemplo, é secular na economia mundial e, em alguns países,
tem uma representação econômica muito forte. Todavia, a produção têxtil gera
poluição hídrica e da atmosfera, assim sendo, esta produção terá efeitos negativos
sobre o bem-estar de uma sociedade (devemos ressaltar que não são todas as indústrias
do setor têxtil que geram poluição para o meio ambiente). Quando a ação de um
agente econômico influencia na vida de outro agente econômico, entendemos isso
como uma “externalidade”. Para o caso da indústria têxtil temos a chama externalidade
negativa, uma vez que a produção desta indústria influenciou de forma negativa a
qualidade da água e do ar que estão disponíveis à população.
No entanto, podemos ter na economia as chamadas externalidades positivas, isto
é, situações em que a ação de um agente econômico tem reflexos positivos para
toda a coletividade. Imagine, por exemplo, que um grupo de moradores restaure uma
praça do bairro onde residem; esta ação pode ser entendida como uma externalidade
positiva, pois a restauração da praça poderá gerar um benefício para todos os
moradores daquele e de outros bairros. Para as externalidades positivas ainda podemos
citar os investimentos que um determinado setor industrial faz para o surgimento de
uma nova tecnologia. Este investimento poderá ter um reflexo positivo em todas as
áreas da indústria, bem como em outros setores de atividade. Basta lembrar-se do
advento da telecomunicação, internet, transporte, medicamentos etc. Deste modo,
nesta seção iremos estudar as falhas de mercado por meio das externalidades.
Noções de equilíbrio geral
U4
158
2.1 Externalidades
As externalidades podem ser de cunho negativo ou positivo, conforme já vimos
na introdução desta seção. Sendo assim, iremos verificar como as ações de mercado
geram externalidades negativas e, com isso, entender quais mecanismos existem
para minimizar ou acabar com estas externalidades, bem como iremos estudar as
políticas publicas e os meios privados que existem para estes casos.
Segundo Mankiw (2009), podemos ter distintas externalidades e, para cada uma
delas, há uma resposta do setor público na tentativa de minimizá-las (no caso da
externalidade ser negativa) ou maximizá-las (no caso da externalidade ser positiva)
por meio da equalização dessas situações. Assim sendo, temos alguns exemplos
citados por este autor:
o A fumaça emitida pelos escapamentos dos carros gera externalidades
negativas porque outras pessoas são obrigadas a respirar o ar poluído. Como
resultado dessa externalidade, os motoristas tendem a se tornar grandes poluidores.
O governo federal procura resolver esse problema estabelecendo padrões de
emissão para os carros. Além disso, tributa a gasolina para diminuir o tempo que as
pessoas passam dirigindo, reduzindo, assim, o uso do carro.
o A restauração de imóveis antigos produz uma externalidade positiva,
porque as pessoas que passam por eles podem desfrutar de beleza e do senso
histórico que essas construções propiciam. Os proprietários dos imóveis não obtêm
nenhum benefício na sua restauração e, por isso, tendem a demolir rapidamente as
construções históricas. Dessa forma, o governo pode incentivar tais restaurações
oferecendo isenções fiscais aos proprietários que as restaurarem.
o O latido dos cachorros cria uma externalidade negativa, porque os vizinhos
são perturbados pelo barulho. Os donos não arcam com o custo total do barulho
e, por isso, tendem a tomar poucas precauções para impedir que seus cães latam.
Os governos municipais lidam com esse problema tornando ilegal a “perturbação da
paz”.
o A pesquisa de novas tecnologias oferece uma externalidade positiva,
porque cria conhecimento que outras pessoas podem usar. Como os inventores
não conseguem receber os benefícios totais de suas invenções, tendem a dedicar
menos recursos à pesquisa. O governo federal aborda parcialmente esse problema,
por meio do sistema de patentes, que confere aos inventores uso exclusivo de seus
inventos por um período limitado (MANKIW, 2009, p. 196).
Com os casos apresentados, podemos notar como a ação de um agente
econômico passou a gerar uma externalidade, e como os governos podem reagir,
por meio de suas políticas públicas, para resolver estas situações.
Noções de equilíbrio geral
U4
159
2.2 Análise das Externalidades e o Mercado
Podemos retomar o caso já citado da indústria têxtil para compreender as
externalidades e o mercado, em uma economia. Por isso, vamos analisar por meio
do Gráfico 4.1 como seria uma situação ótima entre a produção (oferta) e consumo
(demanda) por itens têxteis em um mercado qualquer.
No Gráfico 4.1 podemos notar como o mercado têxtil poderia estar em equilíbrio
(demanda e oferta). Portanto, neste gráfico temos que a curva da demanda reflete
o valor privado para os compradores, enquanto a curva da oferta reflete o custo
privado para os vendedores. A quantidade de equilíbrio maximiza o valor total para os
compradores menos os custos totais dos vendedores. Na ausência de externalidades,
no ponto de equilíbrio, o mercado é eficiente.
Fonte: O autor (2015).
Gáfico 4.1 | Pessoas em ambientes diversos realizando atividades diversas
Quando há externalidades, o interesse da sociedade em um resultado
de mercado vai além do bem-estar dos compradores e dos vendedores
que participam do mercado; pois passa a incluir também o bem-estar
de terceiros que são indiretamente afetados. Como os compradores e
vendedores desconsideram os efeitos externos de suas ações quando
decidem quanto demandar ou ofertar, o equilíbrio de mercado não é
eficiente quando há externalidades (MANKIW, 2009, p. 196).
Noções de equilíbrio geral
U4
160
2.2.1 Externalidades NegativasCom o estudo introdutório das externalidades já entendemos que a ação de um
indivíduo poderá influenciar de forma positiva ou negativa a vida econômica e social
de um terceiro. Sendo assim, vamos supor que a indústria têxtil emita determinada
quantidade de poluição no seu meio ambiente, para cada unidade produzida. Para o
caso da indústria têxtil, podemos citar a emissão de gases na atmosfera; e resíduos
líquidos em córregos, rios ou lagos, sem o devido tratamento, por exemplo. Este é
um caso de “externalidade negativa”, visto que a poluição gerada por esta indústria irá
gerar malefícios para toda a sociedade, ou seja, custos sociais. Deste modo, como
uma externalidade negativa pode afetar o desempenho do mercado?
Em função da externalidade, podemos entender que o custo da produção na
indústria têxtil é maior para sociedade do que para os próprios industriais do setor.
Logo, devemos entender que o custo social desta produção será o somatório dos
custos privados e dos custos para a população (custos externos) que é afetada com
a poluição.
Para entender um pouco destas questões ligadas a custos de produção, vamos
entender como podemos classificar os principais tipos de custos, segundo Cardoso
Júnior et al. (2015):
• Custos Externos: toda atividade econômica requer fatores de produção, e
sendo estes limitados no meio ambiente, seu preço é formado pela sua escassez
e as expectativas dos agentes econômicos. Como estes fatores são limitados na
natureza, qualquer retirada irá gerar momentaneamente um déficit para o meio
onde estava colocado este fator, por isso em processos industriais modernos há a
contabilidade do custo externo, isto é, como as empresas irão recompor os fatores
de produção retirados do meio ambiente. Por exemplo, uma empresa de celulose
que retira da natureza árvores para seu processo industrial deverá ter um passivo
ambiental para replantio destas árvores e ter sustentabilidade no longo prazo. Desta
forma, além dos custos privados de produção, deveremos contabilizar os custos
externos.
• Custos Privados: os custos privados são os custos de produção para
se produzir certa quantidade de mercadoria ou serviço, assim este custo está
relacionado ao processo interno de produção.
• Custo Social: refere-se aos custos de produção de mercadorias e serviços
mais os custos externos que o processo de produção gera ao longo do tempo.
Assim sendo, o custo social é o somatório de todos os custos. É importante que as
empresas saibam como contabilizar os custos externos, visto que as leis ambientais
estão cada vez mais rígidas e o mais relevante é que o processo industrial ineficiente
tem um maior custo externo e interno. Deste modo, ter uma boa gestão ambiental
Noções de equilíbrio geral
U4
161
na empresa é crucial para a minimização dos custos externos (Custos Sociais =
Custos Privados + Custos Externos).
Com o entendimento dos principais custos de produção ligados ao nosso estudo
das falhas de mercado e externalidades, podemos prosseguir com a nossa análise
para as chamadas externalidades negativas. Considerando ainda o caso da indústria
têxtil podemos notar, no Gráfico 4.2, que a curva do custo social está acima da curva
da oferta, pois a curva do custo social é composta pelo custo privado e externo.
Com o Gráfico 4.2 podemos observar que a quantidade de equilíbrio (E) supera
a quantidade ótima no mercado (Q0). Esta situação ocorre, pois, no equilíbrio de
mercado, os consumidores e produtores não consideram os custos externos de
produção para a formação dos seus preços no mercado. Com isso, o preço de
mercado não é composto dos custos externos, mas apenas pelos custos privados.
Assim, para obter uma situação ótima, seria necessário que a produção desta indústria
embutisse no preço dos seus produtos os custos externos da produção. Fazendo
isso, os preços aumentariam e, consequentemente, haveria queda na produção
e consumo por itens têxteis. Deste modo, o mercado tomaria ações econômicas
pensando nos efeitos que a produção pode gerar no seu meio ambiente, de forma
a minimizar essa produção para que houvesse redução na emissão de poluentes.
Porém, o mercado normalmente não toma ação de formar seus preços
considerando os chamados custos externos (isto é uma falha de mercado). Diante
Fonte: O autor (2015).
Gráfico 4.2 - Externalidade negativa
Noções de equilíbrio geral
U4
162
deste contexto, o setor público (governo) poderia garantir o bem-estar social e
econômico com a incidência tributária sobre a poluição emitida pela indústria têxtil.
Deste modo, esta ação deslocaria a curva da oferta para a esquerda, caso o imposto
refletisse exatamente o custo externo da poluição emitida para o meio ambiente.
Com a nova curva da oferta teríamos um novo ponto de equilíbrio, visto que o
deslocamento na curva da oferta iria coincidir com o ponto ótimo (Q_o), na curva do
custo social. Por esta razão, no ponto ótimo teríamos preços de mercado mais altos,
formados com o custo externo e, além disso, poderá se ter uma conscientização na
produção e no consumo para os produtos e derivados da indústria têxtil.
O imposto que é utilizado para corrigir uma externalidade negativa consegue
internalizar uma externalidade, uma vez que dá aos consumidores e produtores
de um mercado um incentivo para analisarem suas ações em função dos efeitos
externos que a produção pode gerar para a sociedade.
A tributação ambiental pode ser entendida como alternativa às chamadas
políticas repressivas, uma vez que esta pode inibir os danos ambientais.
Na tributação ambiental temos o princípio do poluidor–pagador, que tem
por objetivo internalizar o valor do custo externo, ou seja, as chamadas
externalidades negativas.
2.2.2 Externalidades Positivas
As externalidades positivas podem ser entendidas como o efeito positivo da
ação de um indivíduo sobre terceiros. Assim sendo, suponha que um estudante
de Economia, no primeiro ano do seu curso de graduação, compre um livro de
estudos para economia e o empreste para seus colegas. Esta é uma externalidade
que podemos entender como positiva.
Um caso bastante claro é o efeito que investimentos em educação podem
gerar para uma economia. Uma população com mais anos de estudos tem maiores
condições de promover, de forma progressiva e equilibrada, o crescimento e
desenvolvimento econômico de uma nação.
Na Figura 4.8 podemos analisar o investimento em educação de alguns países
para o ano de 2010, para que seja possível compreendermos na prática as chamadas
externalidades positivas na economia.
Noções de equilíbrio geral
U4
163
Com a Figura 4.8 podemos entender a relação, diretamente proporcional,
entre os gastos com educação por aluno e o desenvolvimento econômico (países
como Suíça, Dinamarca e os EUA estão no topo da lista para o ranking do Índice
de Desenvolvimento Humano). Por exemplo, na Suíça, em 2010, o gasto do setor
público com educação foi de US$ 14.922 por estudante, enquanto que no Brasil
esse gasto foi de US$ 3.067 para o mesmo período, segundo dados da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2015). Por uma análise
simples e isolada, entendemos uma relação de externalidade positiva que existe entre
investimentos em educação e crescimento e desenvolvimento econômico, visto
que países ricos investem muito mais do que países pobres. É importante também
Fonte: OCDE. Disponível em: <http://achadoseconomicos.blogosfera.uol.com.br/2013/06/>. Acesso: 1º out. 2015
Figura 4.8 - Investimentos em educação
Noções de equilíbrio geral
U4
164
observar que países pobres, por suas limitações econômicas, não têm as mesmas
condições financeiras de outros países e, por isso, os investimentos são menores
em educação.
Deste modo, entendemos que os aumentos dos investimentos com educação
têm reflexos positivos em toda a sociedade. Com um nível melhor de escolaridade
é possível que se tenha também:
• Avanços tecnológicos.
• Diminuição da criminalidade.• Aumento da produtividade em todos os setores de atividade econômica.
• Quantidade menor de doenças.
• Melhor distribuição de renda.
Para análise gráfica das externalidades positivas podemos seguir os mesmos
princípios das externalidades negativas. Com o Gráfico 4.3 (exemplo com o setor de
educação), temos condição de verificar que, devido ao fato da geração de benefício
social, o valor (preço) social está acima do valor (preço) privado e, por isso, são
necessárias adoções de medidas que possam potencializar as externalidades positivas.
Fonte: O autor (2015)
Gráfico 4.3 - Setor educacional
Noções de equilíbrio geral
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No Gráfico 4.3 entende-se que, com o aumento da quantidade de educação,
haverá um benefício externo (social) para toda a população. Deste modo, o governo
poderia conceder subsídios ao setor, para estimular a oferta e a demanda por
serviços de educação na economia. O resultado seria uma progressão econômica e
social, isto é, uma externalidade positiva.
Em resumo, temos, segundo Wessels (2010), que as externalidades negativas
aparecem quando uma atividade impõe custos não indenizados às pessoas.
Neste caso, o custo social de um bem excede o custo privado. Por outro lado, as
externalidades positivas surgem quando uma atividade cria benefícios para pessoas,
sem que essas precisem pagar por eles (o benefício social supera o benefício
privado). No caso da patente, ela protegeria o investidor, estimulando as empresas a
continuarem investindo, sem medo de terem suas invenções copiadas.
Como que um sistema de patentes poderia solucionar um
problema de externalidades, em um mercado qualquer?
Segundo Varian (2000, p. 613), dizemos que uma situação envolve
uma externalidade de consumo se um consumidor se preocupar
diretamente com a produção ou consumo de outro agente. Do mesmo
modo, uma externalidade da produção surge quando as possibilidades
de produção de uma empresa são influenciadas pelas escolhas de outra
empresa ou consumidor.
2.3 Análises das Políticas Públicas e as Externalidades
Os mercados alocam de forma ineficiente alguns recursos de produção. Sendo
assim, temos as chamadas externalidades positivas e negativas nos mercados. Por
isso, o objetivo, a partir de agora, está em entender como o setor público pode
auxiliar na solução para alocação eficiente dos recursos e, com isso, alcançar um
ponto ótimo ou o chamado “ótimo social”.
Noções de equilíbrio geral
U4
166
2.3.1 Politicas de Comando e Controle: Regulamentação
2.3.2 Política Baseada no Mercado: Taxas Corretivas e Subsídios
É possível que o governo tome uma medida que venha proibir um determinado
tipo de ação por parte de um ou vários agentes econômicos, para reduzir ou
eliminar a poluição do meio ambiente. Todavia, nem sempre é possível proibir
todas as atividades que emitem algum tipo poluição. Por exemplo, os sistemas de
transporte, de toda natureza, podem emitir algum tipo de poluição no ar, agua ou
terra. Deste modo, é preciso que o governo analise a questão custo-retorno para
tomar a melhor decisão para toda a sociedade, uma vez que é preciso manter o
progresso econômico e social (não deixamos a questão ambiental de lado nesta
análise, mas é preciso saber analisar o custo e retorno). Com a regulamentação
ambiental o governo poderá determinar o nível de poluição que as indústrias
poderão emitir no meio ambiente. Logo, uma regulamentação poderá determinar o
nível máximo aceitável de poluição para garantir o bem-estar social. Ainda é possível
que o governo exija que as indústrias empreguem determinada tecnologia para que
a produção seja mais limpa e sustentável.
Na teoria econômica, temos que o uso de tributos para corrigir as externalidades
foi originado nos estudos de Pigou (Economista Arthur Pigou), que sugeriu a
cobrança de impostos para solucionar problemas ambientais, por exemplo. Assim
sendo, este economista, propos a utilização de impostos (imposto corretivo) para
corrigir externalidades negativas, bem como o pagamento de subsídios (subsidio
corretivo) para efeitos externos positivos.
A cobrança de impostos, como meio para redução da poluição, é defendida
por muitos economistas, pois as organizações são sensíveis à incidência tributária.
Assim sendo, um imposto corretivo irá reduzir a produção e, consequentemente,
a poluição, o que levaria a sociedade a um estado de ótimo social, desde que o
imposto fosse na proporção do custo externo.
Para alcançar este ótimo social iremos estudar as políticas públicas que podem
minimizar as externalidades negativas ou potencializar as externalidades positivas.
Por isso, iremos examinar as reações de um governo para as externalidades por
meio de “políticas de comando e controle” e “políticas baseadas no mercado”.
os impostos corretivos são entendidos na teoria econômica como
“imposto de Pigou”.
Noções de equilíbrio geral
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167
2.3.3 Políticas Baseadas em Mercados: Licenças de Poluição
Negociáveis
As licenças para poluição são utilizadas, em muitas economias, como forma de reduzir a
poluição emitida pelas indústrias e outros setores de atividades econômicas. Nos mercados,
sabemos que há empresas eficientes e ineficientes e, com isso, é possível também
compreender que as eficientes teriam melhores condições de reduzir a poluição a custos
menores do que as ineficientes.
Vamos supor que o governo estabeleça que cada indústria (mesmo porte) do setor
de celulose e papel possa despejar “apenas” 100 toneladas de resíduos líquidos no meio
ambiente. Deste modo, suponha que a empresa “A” tenha condições de emitir 60 toneladas
de resíduos e a indústria “B” despeja normalmente 140 toneladas de resíduos. Assim, a
empresa A poderia vender o direito de emitir 40 toneladas para a indústria “B”, fazendo com
que a indústria B conseguisse continuar produzindo no mesmo padrão que vinha fazendo
(140 toneladas), mantendo aquilo que o governo estipulou para o mercado.
A comercialização destes direitos (licenças) no mercado é regulamentada pelo governo
e por um órgão competente, pois, assim como há muitas empresas que desejam vender
seus direitos, também há muitas outras com o objetivo de comprá-los (para continuarem
com seu padrão de produção e poluição).
O comércio para direito de poluição deve ser um mercado de livre concorrência, em
que os preços sejam regulados pela lei da oferta e procura. Nas economias de mercado e
globalizadas temos, por exemplo, o chamado mercado de carbono, que negocia cotas para
emissão de carbono no meio ambiente.
Na economia brasileira, a negociação de créditos de carbono ocorre na BM&FBOVESPA,
que é a principal Bolsa de Valores do país. Segundo a BM&FBOVESPA (2015), o mercado de
carbono (da Bolsa de Valores) tem como objetivo fomentar a negociação de créditos de
carbono no Brasil, além de disponibilizar uma alternativa para que as companhias brasileiras
possam realizar a venda dos seus projetos de redução de emissão de gases do efeito estufa.
Portanto, a Bolsa disponibiliza um canal de negociação seguro e transparente para garantir o
fechamento de negócios competitivos.
Quando comparamos as licenças (direitos de poluir) aos impostos corretivos, podemos
notar que há diferenças entre eles, porém há um ponto comum entre licenças e impostos
corretivos. Tanto para as licenças quanto para os impostos corretivos é preciso pagar para
poluir. Para compreender melhor as diferenças básicas entre as licenças e os impostos
corretivos, vamos analisar os gráficos 4.4 e 4.5.
Sob este prisma, entende-se que um imposto corretivo poderá reduzir a poluição
emitida a um custo menor para a sociedade. Além disso, a cobrança de um imposto
corretivo representaria uma declaração pública para que as empresas não emitissem
poluentes. Esta é uma ideia difundida por muitos economistas, mas não unânime.
Noções de equilíbrio geral
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168
Com o Gráfico 4.4, verificamos que as quantidades produzidas são determinadas em
função do preço pago para se poluir. Dessaforma, o empresário irá analisar o custo de
oportunidade entre poluir e pagar o imposto, pois em alguns casos é preferível poluir e
pagar o imposto, visto que o retorno financeiro com produção e poluição serão maiores
do que pagar o imposto. Deste modo, as quantidades produzidas e a “poluição” podem
se moldar ao preço de se poluir, ou seja, ao imposto corretivo.
No Gráfico 4.5 iremos verificar que as licenças de poluição (direito de poluir) irão
fixar as quantidades de poluição no meio ambiente, fazendo com que o governo possa
estabelecer um limite aceitável para emissão de poluição (por esta razão a quantidade
de poluição fica fixa).
Fonte: O autor (2015)
Gráfico 4.4 - Imposto Corretivo
Gráfico 4.5 - Licença de poluição
Fonte: O autor (2015)
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Com a análise gráfica do imposto corretivo e das licenças para poluir, podemos notar
que existe uma diferença básica entre estas duas medidas. O imposto corretivo não tem
condições de fixar a quantidade de poluição que pode ser emitida, porém as licenças
conseguem limitar e fixar a quantidade de poluição que pode ser emitida.
Com o estudo desta seção já entendemos como as políticas públicas podem ser
aplicadas para resolver problemas de externalidade. Porém, como medidas ou políticas
privadas poderiam solucionar as externalidades apresentadas? A forma privada de se
resolver as externalidades pode ser entendida por meio do “teorema de Coase”. Esta
teoria foi desenvolvida pelo economista Ronald Coase, com a proposta de demonstrar
como é possível se chegar a uma solução privada ótima para as externalidades do
mercado. Na teoria de Coase fica claro que é possível se chegar a uma solução privada
para uma externalidade, quando os agentes econômicos afetados por ela tenham
condições de negociar, sem custo de transação (alocação), o direito da propriedade de
um bem e, com isso, internalizar o acordo alcançado para manter o bem-estar social.
Segundo Mankiw (2009, p. 207):
Podemos citar como exemplo a seguinte situação hipotética: um indivíduo A
possui um cachorro que late e incomoda o indivíduo B. Ao latir, o cachorro gera uma
externalidade negativa para o indivíduo B. De acordo com o teorema de Coase, o
indivíduo B poderia oferecer um pagamento para que o indivíduo A se desfizesse do cão.
O indivíduo A aceitará o acordo se a quantia oferecida por B for maior que o benefício
de ficar com o cachorro (MANKIW, 2009).
2.4 Medidas Privadas para as Externalidades
O teorema de Coase diz que os agentes econômicos privados
podem solucionar o problema das externalidades entre si.
Qualquer que seja a distribuição inicial dos direitos, as partes
interessadas sempre podem chegar a um acordo no qual todos
fiquem numa situação melhor e o resultado seja eficiente.
Noções de equilíbrio geral
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Como os bens públicos, geralmente, são ofertados a custos baixos para muitos
compradores, torna-se muito difícil evitar que eles sejam demandados por muitos.
Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 524-525) ressaltam que, “portanto, os mercados ofertam
quantidades insuficientes de bens públicos”. Assim, uma forma de corrigir a falha de
mercado gerada pelos bens públicos seria o governo intervir, seja ofertando mais
daquele bem para a população, ou até mesmo gerando incentivos para que o setor
privado oferte tal produto/serviço.
Finalmente, podemos abordar outra falha de mercado que é quando possuímos
informações assimétricas. Se o consumidor não tiver infomações corretas acerca dos
preços de mercado ou da qualidade do produto, os resultados de mercado podem não
ser eficientes. Segundo Pindyck e Rubinfeld (2006, p. 524):
Os bens gratuitos proporcionam um especial desafio para a
análise econômica. A maioria dos bens em nossa economia
é alocada em mercados onde os compradores pagam pelo
que recebem e os vendedores são pagos pelo que fornecem.
Para esses bens, os preços são sinais que orientam as decisões
de compradores e vendedores, e dessas decisões resulta
a alocação eficiente dos recursos. Quando os bens estão
disponíveis gratuitamente, contudo, as forças de mercado
que normalmente alocam os recursos em nossa economia
não existem.
A falta de informações pode estimular os produtores a
ofertarem quantidades excessivas de determinados produtos
e quantiadades insuficientes de outros. Em outros casos,
embora alguns consumidores possam não adquirir um
produto em especial, mesmo que se beneficiassem de sua
compra, outros consumidores vão adquirir produtos que lhes
causam prejuízos.
2.5 Outras falhas de mercado
Existe outro problema relacionado com as informações assimétricas, que é o custo
da informação. Varian (2000, p. 36) ressalta que:
Noções de equilíbrio geral
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Se não custar caro saber quais bens são de alta qualidade e
quais são de baixa qualidade, os preços dos bens simplesmente
se ajustarão para refletir as diferenças de qualidade. Mas,
se a informação sobre a qualidade tiver um alto custo para
ser obtida, então não será mais plausível que compradores
e vendedores tenham as mesmas informações sobre os
bens comercializados. Existem certamente vários mercados
no mundo real nos quais pode ser muito caro, ou mesmo
impossível, obter informações precisas sobre a qualidade dos
bens vendidos.
Uma babá deixa que as crianças assistam à televisão muito mais
tempo do que os pais das crianças desejam. O motivo é que
atividades mais educativas exigem mais energia da babá, mesmo
sendo benéficas para as crianças (MANKIW, 2009, p. 585).
Ainda em se tratando de informação assimétrica, existe a questão da ocorrência
do risco moral. Risco moral, de acordo com Mankiw (2009, p. 468), é “a tendência de
alguém inadequadamente monitorado de apresentar comportamento desonesto ou
indesejável”.
Um exemplo de risco moral pode ser o seguinte:
A seleção adversa é outro assunto que pode ser tratado dentro do contexto das
informações assimétricas. Ela pode ser visualizada quando um agente conhece mais
acerca dos atributos de um bem ou serviço do que outro agente e, consequentemente,
a pessoa que possui menos informação corre o risco de pagar mais caro por um bem
de qualidade inferior. Mankiw (2009, p. 585) apresenta um exemplo de seleção adversa:
Sobre risco moral vocês podem consultar o livro de Pindyck e Rubinfeld
(2006, p. 539-541).
Noções de equilíbrio geral
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Portanto, podemos concluir que a existência de informação assimétrica e imperfeita,
as externalidades, bem como análises envolvendo bens públicos, podem levar a
diferenças drásticas na natureza do equilíbrio de mercado.
Vendedores de carros usados conhecem os defeitos dos
carros, enquanto os compradores em geral ignoram. Como
os proprietários dos piores automóveis estão mais propensos
a vendê-los do que os donos dos melhores carros, os
compradores ficam, com toda razão, receosos de comprar um
“abacaxi”. E o resultado é que muitas pessoas evitam comprar
carros usados.
Sobre seleção adversa vocês podem consultar o livro de Mankiw (2009,
p. 585).
1. No estudo das falhas de mercado, podemos notar que a
alocação ineficiente dos recursos de produção gera as chamadas
externalidades, isto é, quando a ação de um indivíduo tem influência
em um terceiro. Sendo assim, podemos entender que:
a) O mercado sempre estará em equilíbrio no curto prazo.
b) O preço de mercado sempre reflete todos os custos de
produção.
c) No custo social temos os custos privados e externos para
uma produção.
d) O valor social de um bem é sempre inferior ao valor privado.
e) Nas externalidades positivas, a medida adequada é reprimir
a oferta.
Noções de equilíbrio geral
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2. Um dos principais estudos sobre externalidades é a aplicação de
politicas públicas que têm por missão a garantia do bem-estar social
de toda a população. Deste modo, o governo, por meio da sua política
pública, poderá solucionar uma externalidade negativa. Deste modo:
a) Um imposto corretivo (que é conhecido como imposto de
Pigou) poderáinibir a emissão de poluição no meio ambiente.
b) As licenças para poluição (direito de poluir) não têm capacidade
de fixar as quantidades para emitir poluentes.
c) No caso do imposto de Pigou, os agentes econômicos não
têm condição de aplicar a ideia de custo de oportunidade nas suas
decisões;
d) As licenças de poluição podem ser negociadas apenas via
sistema público, ou seja, pelo governo.
e) O uso de medidas tributárias sempre será mais eficiente do que
medidas como regulamentações e licenças.
Ao longo da nossa bibliografia procuramos abordar conceitos
relacionados especificamente às estruturas de mercado.
Inicialmente, tratamos das principais estruturas de mercado
em separado, são elas: mercado competitivo, monopólio,
concorrência monopolística e oligopólio. Ficou claro que,
embora existam algumas características em comum entre os
mercados, cada um deles deve ser tratado de forma específica,
dadas as são particularidades. Partindo do Oligopólio, entramos
na Teoria dos Jogos, onde buscamos mostrar como as ações
de um agente econômico podem afetar o resultado dos outros
agentes econômicos, e às vezes do mercado como um todo. Já na
presente unidade (Unidade 4) abordamos noções sobre o equilíbrio
geral. Para facilitar a compreensão, utilizamos exemplos simples
envolvendo duas pessoas e suas decisões de compra acerca de
dois bens. Por fim, mostramos como que, às vezes, os mercados,
por vários motivos, podem apresentar falhas, e como os governos
podem interferir nisso, visando ao bem-estar da sociedade.
Noções de equilíbrio geral
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3. Cite pelo menos dois exemplos de bens públicos.
5. : Dê um exemplo de um risco moral.
O equilíbrio geral é uma matéria complexa, e pode ser estudada
com base em inúmeras hipóteses. Cabe ao leitor decidir encarar
a empreitada de se aprofundar cada vez mais nas especificidades
do equilíbrio e das falhas dos mercados. Ele pode tentar entender
as estruturas de mercado, através de uma visão mais ampla,
buscando correlacionar os conteúdos teóricos com situações
reais, para somente assim atingir um grande objetivo da ciência,
que é o de levar os estudos e as discussões dos livros e das salas
de aula para a vida real das pessoas.
1. Falso ou verdadeiro? O delineamento explícito dos
direitos de propriedade normalmente elimina o problema de
externalidade?
2. É possível ter uma alocação eficiente de Pareto numa
situação em que alguém esteja pior do que estaria numa
alocação que não fosse eficiente de Pareto?
4. Verdadeiro ou falso? Risco moral refere-se a uma situação
em que um lado do mercado não tem capacidade de analisar
as ações do outro.
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Referências
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U
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RO
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Teoria
Microeconômica:
Mercados