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POLÍTICAS PÚBLICAS
NO
SISTEMA PRISIONAL
CLÁUDIO DO PRADO AMARAL
LUIZ FABRICIO VIEIRA NETO
POLÍTICAS PÚBLICAS
NO SISTEMA PRISIONAL
CAED - U FMG
Belo Horizonte, MG
2014
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidenta da República Federativa do Brasil
Dilma Vana Rousseff
MINISTRIO DA JUSTIÇA
Ministro de Estado da Justiça
José Eduardo Cardozo
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL
Diretor-Geral do Departamento Penitenciário
Nacional
Augusto Eduardo de Souza Rossini
DIRETORIA DE POLÍTICAS PENITENCIÁRIAS
Diretor de Políticas Penitenciárias
Luiz Fabrício Vieira Neto
ESCOLA NACIONAL DE SERVIÇOS PENAIS
Diretora da Escola Nacional de Serviços Penais
Mara Fregapani Barreto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Jaime Arturo Ramirez Vice-Reitoria
Prof. Sandra Regina Goulart Almeida
Pró Reitor de Graduação
Prof. Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi
Pró Reitor Adjunto de Graduação
Prof. Walmir Matos Caminhas
Pró-Reitora de Extensão
Prof. Benigna Maria de Oliveira
Pró-Reitora Adjunta de Extensão
Prof. Cláudia Andrea Mayorga Borges
EQUIPE CASSP / UFMG
Coordenação geral
Prof. Fernando Selmar Rocha Fidalgo
Coordenação pedagóg ica
Prof. Eucidio Pimenta Arruda
Coordenação tecnológica
Prof. Wagner José Corradi Barbosa
Coordenação de produção audiovisual
Prof. Evandro José Lemos da Cunha
Coordenação administrativa
Thatiana Marques dos Santos
CENTRO DE APOIO DE EDUCAÇÃO A
DISTÂNCIA
Diretor de Educação a Distância
Prof. Wagner José Corradi Barbosa
Coordenador da Universidade Aberta do Brasil-
UAB/UFMG
Prof. Eucídio Pimenta Arruda
EDITORA CAED - UFMG
Editor
Prof. Fernando Seimar Rocha Fidalgo Produção
Editorial
Marcos Vinícius Tarquínio
Autoria
Cláudio do Prado Amaral
Colaboração
Eucídio Arruda
Gisela Colaço Geraldi
Patrícia Sommer
Sara Coutinho
Design Educacional
Durcelina Ereni Pimenta Arruda
Revisão de Texto
Jussara Frizzera
Projeto Gráfico
Departamento de Design/Caed
Formatação
Pedro Peixoto
CONSELHO EDITORIAL
Prof. André Márcio Picanço Favacho
Prof. Ângela Imaculada Loureiro de Freitas
Dalben Prof. Dan Avritzer
Prof. Eliane Novato Silva
Prof. Eucídio Pimenta Arruda
Prof. Hormindo Pereira de Souza
Prof. Paulina Maria Maia Barbosa
Prof. Simone de Fátima Barbosa Tófani
Prof. Vilma Lúcia Macagnan Carvalho
Prof. Vito Modesto de Bellis
Prof. Wagner José Corradi Barbosa
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NOTA DO EDITOR
A Universidade Federal de Minas Gerais atua em diversos projetos
de Educação a Distância que incluem atividades de ensino, pesquisa e
extensão. Dentre elas, destacam-se as ações vinculadas ao Centro de Apoio
à Educação a Distância -CAED -, que iniciou suas atividades em 2003,
credenciando a UFMG junto ao Ministério da Educação para a oferta de
cursos à distância.
O CAED-UFMG, Unidade Administrativa da Pró-Reitoria de
Graduação, tem por objetivo administrar, coordenar e assessorar o
desenvolvimento de cursos de graduação, de pós-graduação e de extensão
na modalidade a distância, desenvolver estudos e pesquisas sobre
educação a distância, promover a articulação da UFMG com os polos de
apoio presencial, como também produzir e editar livros acadêmicos e/ou
didáticos, impressos e digitais, bem como a produção de outros materiais
pedagógicos sobre Educação a Distância - EAD.
A Editora CAED-UFMG tem a honra de publicar esta obra que foi
demandada pela Escola de Serviços Penais do DEPEN-MJ que será
utilizada para a Capacitação de Servidores do Sistema Prisional. Esperamos
que todos possam aproveitar bastante o que, neste momento, tornamos
disponível para sua leitura, comentários e sugestões.
Fernando Se/mar Rocha Fidalgo
Editor
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SOBRE OS AUTORES
CLÁUDIO DO PRADO AMARAL
Professor associado da Faculdade de Direito de
Ribeirão Preto-USP. Coordenador do Grupo de Estudos
Carcerários Aplicados da USP. Pesquisador e membro
da equipe institucional do Observatório Nacional do
Sistema Prisional - Departamento Penitenciário Nacional
do Ministério da Justiça/UFMG. Graduado em direito pela
USP, especialista em direito penal pela USP, mestre em
direito penal pela USP, doutor em direito penal pela USP
e Livre Docente em direito processual penal pela USP.
Juiz de direito desde janeiro de 1991. Juiz corregedor da
polícia judiciária e Juiz corregedor dos Presídios de
Piracicaba - SP de março/1995 a novembro/2003. Juiz
corregedor dos Presídios de São Paulo- SP e dos
Presídios de Segurança Máxima do Estado de São Paulo
de abril/2007 a março/2009. Juiz da 2!! Câmara Criminal
Extraordinária - "D», do Tribunal de Justiça de São Paulo
de fevereiro de 2008 a agosto de 2009.
LUIZ FABRICIO VIEIRA NETO
Advogado. Atuou como Diretor de Políticas
Penitenciárias do Ministério da Justiça, Secretário Adjunto
de Justiça da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos
(Sejudh) de Mato Grosso e Assessor Técnico de Gabinete
do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da
Justiça. Especialista em Direito Civil e Processo Civil -
Instituto Processus.
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LISTA DE ABREVIATUR AS E SIGLAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACUDA -Associação Cultural de Desenvolvimento do Apenado e Egresso
ADPF - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
CAHMP - Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa
CF - Constituição Federal
CIMI - Conselho indigenista Missionário
CNCD/LGBT - Conselho Nacional de Combate à Discriminação
CNJ - Conselho Nacional de Justiça
CNPCP - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
CREAS - Centros de Referência Especializados de Assistência Social
DEPEN - Departamento Penitenciário Nacional
DST - Doenças Sexualmente Transmitidas
FUNAI - Fundação Nacional do Índio
HIV/AIDS -Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
lnfoPen -Sistema de Informações Penitenciárias
LEP - Lei de Execução Penal
LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros
LGBTTI - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Travestis e Transgêneros
NBR - Normas Brasileiras de Normatização
OEA - Organização dos Estados Americanos
OIT -Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial de Saúde
ONU - Organização das Nações Unidas
PNAISP - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade
no Sistema Prisional
PNAMPE - Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional
PNGATI - Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas
RAPS - Rede de Atenção Psicossocial
SIC - Serviço de Informação ao Cidadão
SPI - Serviço de Proteção aos Índios S
US -Sistema Único de Saúde
USP - Universidade de São Paulo
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Sumário
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................... 14
OBJETIVOS .......................................................................................................... 14
MÓDULO 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL ..................................... 17
Aula 1 - POLÍTICA: FINS E SISTEMA ............................................................... 19
Aula 2 - POLÍTICA CRIMINAL E POLÍTICA PENITENCIÁRIA ....................................... 19
Aula 3 - SUJEITOS DA POLÍTICA PENITENCIÁRIA ..................................................... 23
Aula 4 - FINALIDADES DO SISTEMA E FINALIDADES DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE ............................................................................................................ 24
4.1. A pena como castigo ..................................................................................... 25
4.2. A pena como prevenção geral ....................................................................25
4.3. A pena como prevenção especial ............................................................ 26
4.4. A ressocialização como política penitenciária de sobreposição ............. 27
Aula 5 - PRÁTICAS DE ALTERNATIVAS PENAIS ...................................................... 29
5.1 As penas restritivas de direitos .................................................................. 29
5.2 As práticas de justiça restaurativa ............................................................. 31
5.3 A reparação do dano antes do oferecimento da denúncia ...................... 34
5.4 Os mecanismos de suspensão condicional do processo penal ................ 35
5.5 O abreviamento do tempo de pena privativa de liberdade ...................... 36
5.6 As medidas cautelares penais de natureza pessoal .................................... 38
5.7 A transação penal ........................................................................................ 39
5.8 A suspensão condicional da pena ................................................................ 41
Aula 6 - ARQUITETURA PRISIONAL - A EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA PRISIONAL ... 44
6.1.A unidade prisional como estrutura complexa .......................................... 46
6.2. A Resolução nº 09/2011do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP) .................................................................................... 49
Aula 7 - ARQUITETURA PRISIONAL NO BRASIL ........................................ 55
Aula 8 - MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL .............................................. 64
Aula 9 - MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA - RECURSOS ........................................... 69
9.1 Sistema De Informações Penitenciárias .......................................................... 70
9.2 Financiamento E Repasse De Recursos ............................................................ 72
MÓDULO 2 - ASSISTÊNCIA E GÊNERO NO SISTEMA PRISIONAL ...................... 79
Aula 1 - O GÊNERO NO SISTEMA PRISIONAL .................................................... 80
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Aula 2 - O GÊNERO FEMININO .............................................................................. 81
Aula 3 - O GÊNERO CONFORME A OPÇÃO AFETIVA ............................................ 82
Aula 4 - SEPARAÇÃO ETÁRIA ..................................................................................... 84
Aula 5 - SEPARAÇÃO CONFORME A SITUAÇÃO JURÍDICA ............................................ 86
Aula 6 - SEPARAÇÃO CONFORME A NATUREZA DO CRIME ..................................... 87
Aula 7 - ASSISTÊNCIA SOCIAL E APOIO AO EGRESSO ................................................ 88
Aula 8 - GÊNERO NO SISTEMA PRISIONAL ............................................................... 93
Aula 9 - PRÁTICAS DE ALTERNATIVAS PENAIS E MONITORAÇÃO ELETRÔNICA ...... 103
MÓDULO 3 - A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL ........................................ 114
Aula 1 - EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE PESSOAS PRESAS . 116
1. A educação formal ................................................................................. 116
2. Educação formal nas prisões ................................................................. 117
3. A obrigatoriedade da educação para a população prisional ............................ 118
4. A especificidade do processo educacional destinado aos detentos ... 119
5. Educação e remição de pena ................................................................ 123
6. A educação profissionalizante .............................................................. 125
7. As diretrizes da política nacional de educação destinada à população
prisional ........................................................................................................... 127
Aula 2 - FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE SERVIDORES DO SISTEMA
PRISIONAL ........................................................................................................... 130
1. A formação institucional ........................................................................ 130
Aula 3 - EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE
PESSOAS PRESAS ............................................................................................... 138
Aula 4 - FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE SERVIDORES .......... 145
1. Introdução .............................................................................................. 145
2. Educação coorporativa .......................................................................... 146
3. Capacitação do servidor público .......................................................... 147
4. Políticas para o sistema prisional ......................................................... 148
5. Matriz curricular ..................................................................................... 150
6. Escolas de gestão penitenciária ........................................................... 151
Aula 5 - QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E TRABALHO E RENDA DE PESSOAS
PRESAS ............................................................................................................... 152
Módulo 4 - SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA ......................................................... 159
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Aula 1 – SAÚDE NO CONTEXTO CARCERÁRIO .............................................. 160
1. A saúde prisional e o direito ................................................................ 160
2. Aspectos saúde prisional ........................................................................ 162
3. O modelo de saúde prisional ................................................................ 164
4. A Portaria lnterministerial nº 01/2014 ................................................. 165
Aula 2 - QUALIDADE DE VIDA DO SERVIDOR PENITENCIÁRIO ........................... 167
1. Qualidade de vida no trabalho ........................................................... 168
2. A valorização do trabalho do servidor penitenciário .......................... 170
3. A saúde do servidor prisional ................................................................ 173
4. A remuneração ...................................................................................... 175
5. A segurança no trabalho do servidor.................................................... 176
6. Aspectos particulares ............................................................................ 177
Aula 3 - ASSISTÊNCIA EM SAÚDE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ... 178
1. Breve relato sobre o Sistema Prisional Brasileiro ................................ 178
2. Assistência em saúde no sistema prisional .......................................... 179
3. Legislação pertinente .............................................................................. 184
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APRESENTAÇÃO
Olá, seja bem-vindo ao curso Políticas Públicas no Sistema Prisional!
Saiba que políticas públicas são ações e programas realizados,
desenvolvidos e mantidos direta ou indiretamente pelo Estado, com a participação
de entes públicos ou privados; é assegurar um ou alguns direitos de cidadania, de
forma ampla ou especificamente direcionada, para determinado seguimento
social, cultural, étnico ou econômico.
Nesse sentido, a realização deste curso tem o intuito de apresentar e
provocar uma ampla discussão a respeito das políticas públicas no sistema
prisional.
OBJETIVOS
Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de:
• Reconhecer a organização das políticas públicas no sistema prisional;
• Identificar os sujeitos da política penitenciária;
• Compreender as finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de
liberdade;
• Compreender a organização do sistema prisional;
• Identificar a questão do gênero no sistema prisional;
• Considerar a educação e qualificaçãoprofissional de pessoas presas;
• Recomendar a formação e qualificação profissional de servidores do
sistema;
• Analisar a saúde no contexto carcerário;
• Discutir a situação da saúde dos envolvidos no sistema prisional.
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O material didático do curso Políticas Públicas no Sistema Prisional está
estruturado em quatro módulos, de modo a possibilitar a você oportunidade de
debater e construir embasamento teórico e prático a respeito das políticas
públicas no sistema prisional.
Módulo 1- A Política Pública no Sistema Prisional
Consiste em apresentar o conceito de política, seus fins e sistema; a política
criminal e a política penitenciária; os sujeitos da política penitenciária e as
finalidades do sistema e da pena privativa de liberdade; a evolução da arquitetura
prisional desde o início até os dias de hoje, bem como a unidade prisional como
estrutura complexa; e a Resolução nº 09/2011do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária - CNPCP - que regulamenta como devem ser erguidas as
novas unidades prisionais.
Módulo 2 -A Questão do Gênero no Sistema Prisional
É apresentado neste Módulo o Artigo 5º da Constituição Federal, o qual
versa sobre as garantias em favor da presa de maneira mais digna: "A pena será
cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo da pessoa presa". O tratamento penal que é dado a uma pessoa
do sexo feminino não pode ser igual a uma pessoa do sexo masculino.
Em todos os aspectos deve ser adequado ao gênero feminino. Também
será debatido o aumento da prisionalização de mulheres, hoje
desproporcionalmente maior em relação ao dos homens.
Módulo 3 - A Educação no Sistema Prisional
Assim como em qualquer outro ambiente, surge com o objetivo de ofertar
os processos educativos promotores da vida humana, que são elementares para
o desenvolvimento político e econômico e para o alcance da democracia e da
igualdade social. Constitui-se ainda em importante recurso para a ressocialização
de pessoas em privação de liberdade, da mesma forma que o trabalho. O
exercício de qualquer profissão requer, ao menos, o aprendizado fundamental e
o aprendizado profissionalizante. Essa exigência pode aumentar conforme o grau
de especialização da profissão, isto é, conforme suas particularidades. Por isso,
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em muitos casos, exige-se a educação formal em nível médio, em outros tantos o
ensino técnico e, afinal, para muitas profissões exige-se o ensino superior.
Módulo 4- Saúde e Qualidade de Vida no Sistema Prisional
Quatro fatores se associam e afetam a saúde do servidor:
• precárias condições de trabalho;
• insuficiência do quadro funcional;
• turno de 24 horas de trabalho por 72 de descanso; e
• baixo reconhecimento social do valor do trabalho do servidor.
Com isso, o prazer de trabalhar diminui e a tensão laboral aumenta. A sensação
de bem-estar no trabalho é baixa e não raro a sensação é de sofrimento. Em razão
disso, as enfermidades psicológicas afetam expressiva porção dos servidores do
sistema. Por vezes, o grau de infelicidade é tão grande que leva ao suicídio.
Concentramos, portanto, nossas observações nesse tema: a questão da saúde
psicológica do servidor. Os quatro elementos acima contribuem para a depressão,
a angústia ou a ansiedade do preso.
TEMPO DE DEDICAÇÃO AO CURSO
O curso Políticas Públicas no Sistema Prisional, com carga horária prevista
de 40 (quarenta) horas, dessa forma recomendamos que você dedique 02 (uma)
hora por dia de estudo.
AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO
Ao final de cada módulo, você terá questões auto avaliativas, que não são
contabilizadas para a nota final. A nota mínima para aprovação do curso é 70. A
única atividade que vale pontos no curso é a AVALIAÇÃO FINAL. Você terá até 3
tentativas para ser aprovado. Cada tentativa da avaliação possui um tempo
máximo de 02 (duas) horas para ser concluída.
Bom estudo!
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MÓDULO 1 - POLÍTICAS PÚBLICAS NO SISTEMA PRISIONAL
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
Caro Aluno,
As políticas públicas correspondem a um direito que está positivado e
assegurado na Constituição Federal. O conteúdo da nossa Constituição Federal
(CF/1988), assim como em outros países, é o produto de conquistas históricas do
homem. São conquistas que asseguram ao ser humano ou a um grupo de
pessoas contra a ingerência do Estado.
A origem remota dessas conquistas está na primeira democracia de que se
tem notícia: a democracia ateniense, que é a matriz da democracia moderna.
Muitos saberes da Antiguidade também serviram de matriz ou protótipo daquilo
que viriam a ser direitos fundamentais.
Um expressivo marco dos direitos fundamentais é o princípio da legalidade,
cuja origem apontada com a promulgação da Magna Carta, de João Sem Terra,
no ano de 1215, na Inglaterra. Pela primeira vez firmou-se um documento em que
o Estado era obrigado a reconhecer direitos em favor de seus governados.
São exemplos de políticas públicas a educação, a saúde e a habitação,
todos reconhecidos na Constituição Federal. Existem, hoje, muitos direitos novos
inseridos nas constituições das nações ao redor do mundo. Os juristas costumam
classificar estes novos direitos conforme seu surgimento em gerações. Estamos
na quarta geração de direitos fundamentais e é aqui que encontramos uma série
de novas garantias de todo e cada cidadão contra o Estado, as quais devem ser
efetivadas através das políticas públicas.
Não estamos nos referindo à política no sentido de "politicagem", que é uma
prática antiética e desviada do bem público, pouco preocupada com o bem-estar
da sociedade. Tratamos, aqui, da política no seu sentido original, que deriva da
antiga polis grega, onde o trato da coisa pública era uma atividade muito ética e
respeitosa.
Vamos ao conteúdo!
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OBJETIVOS
Esperamos que você, ao final do estudo deste módulo, seja capaz de:
• Reconhecer a organização das políticas públicas no sistema prisional;
• Identificar os sujeitos da política penitenciária;
• Compreender as finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de
liberdade;
• Compreender a organização do sistema prisional.
ESTRUTURA DO MÓDULO
Na tentativa de organizar a discussão, este Módulo está dividido em nove itens:
Aula 1 - Política: fins e sistema;
Aula 2 - Política criminal e política penitenciária;
Aula 3 - Sujeitos da política penitenciária;
Aula 4 - Finalidades do sistema e finalidades da pena privativa de liberdade;
Aula 5 - Práticas de alternativas penais;
Aula 6 - Arquitetura prisional - a evolução da arquitetura prisional;
Aula 7 – Arquitetura prisonal no Brasil;
Aula 8 - Modernização do Sistema Prisional;
Aula 9 - Modernização do Sistema – Recursos.
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Aula 1 - POLÍTICA: FINS E SISTEMA
Em sua dinâmica, a política é um processo de diálogo. Por meio de
sucessivos tratos éticos em busca do bem comum, escolhem-se quais são as
ações e processos que melhorarão a vida em sociedade, garantindo um direito
constitucionalmente reconhecido.
A finalidade da política pública é melhorar a vida da
sociedade como um todo. Uma política pública não deve ser
contraproducente, isto é, não pode ter mais resultados negativos
que positivos, sendo que estes devem superar em larga margem
a quantidade de resultados negativos.
Nesse sentido, a finalidade das políticas públicas de educação consiste em
melhorar a qualidade e a quantidade de aquisição de conhecimentos das pessoas
para a vida em comum através da educação formal, informal e profissionalizante.
Se isso não ocorrer, isto é, se o sistema de educação forma pessoas sem os
conhecimentos suficientes e adequados será contraproducente.
Já a finalidade das políticas públicas de saúde tem comoobjetivo melhorar
as condições de vida das pessoas por meio da prevenção de enfermidades, bem
como curar os cidadãos que vierem a ser acometidos por doenças.
Aula 2 - POLÍTICA CRIMINAL E POLÍTICA PENITENCIÁRIA
A segurança é um dos direitos que o Estado assegura a todos nós, cidadãos
brasileiros. Esta garantia está inscrita numa posição tópica da nossa Constituição
Federal de 1988, no Art. 52, caput. Isso significa que ocupa uma posição muito
importante dentre tantos direitos que constam na nossa Carta Maior. Veja o que
ela diz:
''Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...)".
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O significado da expressão segurança é muito amplo, é interpretado com
maior ou menor amplitude, mas sempre de modo amplo. Todavia, existe um
significado que está fora de dúvidas: o direito à segurança se expressa no direito
que todos têm de viver em sociedade sem perturbações severas ou violentas em
sociedade. Claro que conviver em sociedade é sempre complicado e exige
concessões de todos para que haja paz. Referimo-nos, aqui, àquelas
perturbações graves da vida em comunidade, como insurreições, violência e
crime.
A nós nos interessa, o direito à segurança como expressão
de combate à criminalidade. Todos nós temos o direito de exigir do
Estado ações voltadas ao combate contra a criminalidade. As
estratégias e ações que o Estado usa para afrontar a criminalidade
são chamadas de políticas criminais e estas se desenvolvem nos
mais diversos âmbitos e graus de atuação.
Podemos, por exemplo, falar em políticas criminais que são aplicadas já no
âmbito da escola e da assistência social, sempre as mais eficientes de todas. Ou
ainda, podemos ter políticas criminais realizadas através da promulgação de leis,
das decisões do poder judiciário interpretando a lei penal, de ações
administrativas dos Estados etc.
O combate contra o crime ocorre de duas formas: por meio de ações
preventivas ou por meio de ações repressivas.
Ações Preventivas
As ações preventivas tentam evitar que um crime venha a ser praticado
e estas devem ser sempre prioritárias. Portanto, em termo de política criminal,
o ideal é que os crimes não sejam cometidos. Se houve crime, isso significa que
o Estado falhou na etapa mais importante da política criminal, que é a
preventiva.
Ações Repressivas
As ações de políticas criminais repressivas, atuam depois que o crime
é praticado e têm por finalidade:
• Identificar o autor do delito;
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• Encontrar o corpo do delito, isto é, os vestígios materiais que um
crime pode deixar;
• Obter uma condenação criminal; e
• Executar esta condenação, ou seja, dar cumprimento à sentença
penal condenatória.
Na ponta final dessa política criminal, portanto, existe uma condenação que
se deseja ser alcançada e executada. Para que isso seja possível, é preciso que
a polícia que investiga o crime seja eficiente, bem como que o Ministério Público
esteja munido de provas incontestáveis.
Na condenação criminal, através da aplicação de uma pena privativa de
liberdade, surge um desmembramento da política criminal, que tem praticamente
um significado próprio. Trata-se da política penitenciária, que são as ações e os
processos realizados para que o encarceramento seja realizado de acordo com
os fins socialmente úteis perseguidos pela CF/1988.
Note que a política penitenciária também pode ser necessária antes da
sentença penal condenatória. Isso ocorre, com frequência, nas chamadas prisões
provisórias ou cautelares.
Vejamos:
A regra é que alguém somente seja preso criminalmente após ser
considerado culpado por um crime, através de uma sentença penal
condenatória com trânsito em julgado. Mas muitos presos não
possuem condenação. Eles estão aguardando o seu julgamento,
ou seja, são inocentes, pois não foram condenados e estão à
espera de sua sentença, que pode ser, inclusive, de absolvição.
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Esse tipo de prisão é denominado:
Figura 1 - Tipos de Prisão sem Trânsito em Julgado
Fonte: SCD/EaD/Segen
A população carcerária com prisão sem trânsito em
julgado, corresponde aproximadamente 40% dos presos no
Brasil e está sujeita às políticas penitenciárias.
Assim, as políticas penitenciárias aplicam-se tanto aos presos que já
possuem condenação definitiva e contra a qual não cabe mais recurso, como
também aos presos provisórios.
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Figura 2 - Para Refletir
Fonte: SCD/EaD/Segen
Aula 3 - SUJEITOS DA POLÍTICA PENITENCIÁRIA
Devido à insuficiente profissionalização e produção de conhecimento sobre
as questões criminais no Brasil, existe tendência a acreditar que a política
penitenciária é voltada apenas aos presos, definitivos ou cautelares.
Não o é, aplica-se igualmente aos trabalhadores de todo o sistema:
Figura 3 – Profissionais Fonte: SCD/EaD/Segen
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Assim, por exemplo, quando a administração penitenciária adquire
materiais ou equipamentos para que os funcionários do sistema trabalhem em
melhores condições, isso também é uma política pública.
Mas não podemos esquecer que toda política pública tem por meta
melhorar a vida em sociedade. Por isso, embora a política penitenciária seja
aplicada sobre a população prisional e os trabalhadores do sistema, todos nós
somos diretamente afetados por tais políticas. Sendo assim, toda a sociedade é
afetada pelas políticas penitenciárias, todos nós sentimos os bons e os maus
resultados do que é feito na condução das questões carcerárias.
Figura 4 - Para Refletir
Fonte: SCD/EaD/Segen
Aula 4 - FINALIDADES DO SISTEMA E FINALIDADES DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
Para que você possa entender melhor o que se passa em termos de política
penitenciária no Brasil, é preciso que nós façamos uma breve excursão sobre as
finalidades da pena, isto é, precisamos nos perguntar: Para que serve a pena?
Por que se pune alguém?
Dizer que se pune para fazer justiça é uma resposta muito simplista e não
permite compreender a dignidade do problema prisional. Então vejamos a seguir:
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4.1. A pena como castigo
Desde a Revolução Francesa o sistema penal passou a ser amplamente
criticado, pois até então o sistema era cruel, arbitrário e pouco racional. Após a
Revolução, estabeleceram-se as bases que permitiram evoluir em direção a um
sistema mais coerente e humano.
Até meados do século XIX, defendia-se que a pena não
tinha finalidade alguma. Era um castigo, uma retribuição, uma
expiação. A pena significava um mal, que era aplicado ao
delinquente como retribuição a outro mal, que era o crime
praticado por este infrator. Usava-se a expressão "pagar um mal
(o crime) com outro mal (a pena)".
Nós chamamos estas teorias de absolutas ou retributivas.
Esse pensamento está superado há muito tempo e está superação ocorreu
por uma razão simples: a pena criminal representa o uso legítimo da violência.
Ademais, a pena é monopólio do Estado, isto é, uma pessoa em particular não
pode aplicar uma pena à outra pessoa. Isso seria vingança privada e não pena.
Algo tão importante como a pena criminal não poderia ser destituído de finalidades
práticas.
4.2. A pena como prevenção geral
A natural reação foi o surgimento de correntes de pensamento que
vislumbraram na pena criminal algo que deveria ter uma finalidade útil. Esta
finalidade nada mais é que prevenir crimes futuros. Surgem então as teorias
relativas da pena. Desde então, estabeleceu-se que a missão da pena é evitar a
prática de crimes futuros.
No entanto, isso pode ser feito de diversas maneiras.
IntimidaçãoA primeira delas seria através da intimidação. Ou seja, a pena existe porque
os cidadãos, sabendo de sua existência, iriam se sentir intimidados e deixariam
de praticar delitos. A isso chamamos de "coação psicológica" do potencial
delinquente. Todavia, este pensamento durou muito pouco. Ninguém é tão
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calculista a ponto de, no momento em que decide praticar um crime, pensar na
pena que está prevista em um código ou uma lei penal a qual poderia lhe ser
aplicada.
Aplicação
A segunda forma de prevenir o crime através da pena seria por meio da sua
aplicação, isto é, por sua inflição pelo juiz, no momento da sentença penal
condenatória, reforçando em todos os demais cidadãos o sentimento de confiança
no ordenamento jurídico que fora violado pelo infrator com sua conduta. A pena
serviria para prevenir delitos futuros através da mensagem que passa para toda a
sociedade, dizendo-lhe que a norma que foi violada pelo criminoso, naquele caso
concreto, é válida e deve ser respeitada por todos.
Essa é uma teoria muito aceita, mas serve muito mais para o momento da
aplicação da pena que para o de sua execução.
4.3. A pena como prevenção especial
Algumas teorias afirmaram que a pena é dirigida ao infrator que cometeu o
delito no sentido de impedi-lo de voltar a delinquir, isto é, evitar a reincidência.
Aqui, a pena não seria mais atuante sobre a sociedade como um todo, mas
restringe-se a atuar sobre o autor do crime.
O precedente deste pensamento está em Franz
Von Liszt e seu famoso Programa de Marburgo (1883).
Todavia, somente retomou vigor após a Segunda Guerra
Mundial, quando então nasce o ideal de ressocialização
através da execução da pena.
A ressocialização poderia ser feita de duas formas. Uma,
obrigando o condenado ao tratamento penitenciário,
dispensando-se, portanto, o seu consentimento para ser
tratado. Medidas extremas, inclusive, defendiam a ideia
de intervenções cirúrgicas no delinquente, a fim de
extirpar as tendências criminosas, como lobotomia,
castração de criminosos sexuais etc.
Figura 5 - Franz Von Liszt
Fonte: Wikipédia
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Já promover a ressocialização através da pena é o modo
atualmente mais aceito. Isso ocorre por meio de um processo
dialógico com o condenado, dirigido a convencê-lo a agir conforme
o direito, isto é, estimulando no condenado as condições para que
ele entenda, por suas próprias conclusões, que existem mais
vantagens em retornar à sociedade e conviver sem cometer delitos
que voltar a praticá-los.
4.4. A ressocialização como política penitenciária de sobreposição
Essa é a finalidade da execução da pena: a ressocialização do
condenado, alcançada de modo não impositivo. Todo o sistema e todas as
políticas penitenciárias devem estar voltados a esse fim:
“Ressocializar o condenado para que retorne à
sociedade em condições de conviver sem praticar
novos delitos”.
Por isso a ressocialização é política penitenciária que orienta todas as
demais em tema carcerário.
Vamos entender bem isso: não será obrigatoriamente a privação de
liberdade que irá convencer o delinquente de que não deve cometer crimes
novamente. Pode até ser que isso seja alcançado através da privação de
liberdade. Mas o que de fato convence o condenado a agir conforme o direito são
os estímulos e proposições que o incitam a refletir sobre sua conduta passada e
seus prognósticos futuros de comportamento.
O mais importante é que o tempo de privação de liberdade seja utilizado
para que se estabeleça um diálogo funcional com o preso, seja ele condenado ou
provisório. No caso do primeiro, essa funcionalidade está nas tentativas de
convencê-lo a não agir contra o direito e a ordem. Sendo preso provisório, esse
diálogo deverá estimulá-lo a não se deixar contaminar pelo ambiente de privação
de liberdade, dando continuidade a todas as atividades que não foram
objetivamente limitadas pela decisão judicial que reduziu sua liberdade.
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O processo de convencimento não é necessariamente realizado
verbalmente. Isto é, não se trata apenas de uma conversa entre um psicólogo ou
pedagogo e o preso, na qual os primeiros tentam convencer o segundo. Esta é
uma visão apequenada da ressocialização.
A dialética de ressocialização de convencimento é realizada por meio das
mais variadas formas, por exemplo:
Figura 6 – Ressocialização
Fonte: SCD/EaD/Segen
Todos esses recursos acabam por "dialogar" com o preso e são sempre
capazes de demonstrar a ele o quão saudável é a sociabilidade e como ela pode
ser bem realizada.
Na Prática....
Você já pensou na seguinte situação: Um conhecido seu lhe
diz que "o preso que cometeu tráfico tem mais é que ficar 50 anos
na cadeia!". Como ele está pensado em relação ao tema prisional?
Você lhe diria algo nesse momento? O quê?
Temos outra situação: Alguém faz algo contra a sua vontade
por muito tempo se não estiver bem convencido de que o melhor
a ser feito é agir deste modo? Como isso se aplica a
ressocialização prisional?
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Algumas teorias dizem que a pena é castigo e também
prevenção. São chamadas teorias ecléticas ou mistas da pena. A
crítica que tais teorias sofrem é que algo não poderia, ao mesmo
tempo, não ter uma finalidade útil (retribuição do mal com um mal)
e ter uma finalidade útil (prevenção). Esta, aliás, é a teoria que o
código penal brasileiro adotou. O que você acha?
Aula 5 - PRÁTICAS DE ALTERNATIVAS PENAIS
Quando falamos em práticas de alternativas penais, trazemos para o nosso
curso uma questão mais ampla, pois não se resume à utilização de penas
restritivas de direitos em substituição às penas privativas de liberdade.
O que precisamos ter em conta nessa parte do nosso curso, isso é da maior
relevância, é o fato de que existem diversas práticas, chamadas alternativas
penais, que podem ser tanto quanto ou mais eficientes e úteis que as penas
restritivas de direitos.
Portanto, o correto é dizer que as penas restritivas de direitos são penas
alternativas, mas as penas alternativas não são todas as práticas alternativas de
que se dispõe.
Veremos adiante as práticas penais alternativas de que o mundo já dispõe,
as quais podem ser aplicadas a todos os momentos do sistema de justiça (pré-
processual, processual e executiva), começando pela pena restritiva de direito.
5.1 As penas restritivas de direitos
Está absolutamente fora de dúvida que a utilização de penas não privativas
de liberdade é um recurso fundamental para a melhoria do sistema de justiça
penal e, consequentemente, para a vida em sociedade.
Tratados internacionais, diversas leis, obras jurídicas,
orientações jurisprudenciais já afirmaram por diversas vezes a
utilidade e os benefícios da utilização das penas restritivas de
direitos ou como costumam ser também chamadas penas
alternativas.
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A utilidade de sua aplicação é resultado da comprovação científica de que
toda forma de encarceramento dessocializa o indivíduo em algum grau. Por isso,
especialmente para criminosos primários autores de delitos praticados sem
violência ou grave ameaça, a medida correta a ser tomada é a aplicação de penas
alternativas.
Figura 7- Vantagens da Pena Alternativa
Fonte: SCD/EaD/Segen
O que se exige hoje do legislador brasileiro é o aumento das hipóteses de
aplicação das penas restritivas de direitos, alargando o espectro de situações em
que seja permitida a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva
de direitos, ou aumentando o grau de discricionariedade judicial na aplicação da
pena. Veja, por exemplo: foi graças ao engessamento da legislação que o
Supremo Tribunal Federal afirmou a possibilidade de aplicação de penas
restritivas de direitos para alguns casos de tráfico de drogas (parapequenos
traficantes, em casos de tráfico eventual e não habitual).
As penas restritivas de direitos não se resumem a prestação de serviços à
comunidade. Podem ser diversas outras e até mesmo a multa (com a
particularidade de que esta não se converte em pena privativa de liberdade se for
P á g i n a 31 | 189
descumprida). Podem ser de prestação pecuniária à vítima ou entidade pública
ou particular de fins sociais, perda de bens e valores, interdição temporária de
direitos e limitação de fim de semana.
A interdição temporária de direitos consiste na proibição do
exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de
mandato eletivo, proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou
autorização do poder público, suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo e proibição de frequentar
determinados lugares.
E a limitação de fim de semana consiste na obrigação de
permanecer, aos sábados e domingos, por 05 (cinco) horas
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento
adequado. Aqui, embora tecnicamente seja um modo de privação
de liberdade, não tem o mesmo grau impactante das penas de
reclusão ou detenção.
5.2 As práticas de justiça restaurativa
Já está cientificamente comprovado que existem outras formas de
pacificação social, sem que seja necessário recorrer à pena clássica ou ao
processo penal clássico. São práticas muito pouco utilizadas no Brasil, ou melhor,
quase nada usadas.
A escassa utilização de meios alternativos ocorre, principalmente, devido à
cultura jurídica nacional. Toda vez que ocorre um delito, a sociedade se vê
abalada em algum grau. A cultura jurídica nacional dominante não arreda pé da
posição de que a paz social abalada pela prática do delito somente pode ser
alcançada através do processo penal clássico e da pena executada em sua
inteireza. Contudo, essa é uma visão míope.
A justiça restaurativa, que também teve sua utilidade cientificamente comprovada,
colabora para:
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Figura 8 - Justiça Restaurativa
Fonte: SCD/EaD/Segen
Os procedimentos da justiça restaurativa partem do pressuposto
conceituais de que o delito é uma ofensa não somente contra o Estado, mas
também contra a vítima individual, concretamente prejudicada pelo ato criminoso.
A satisfação em sentido amplo da vítima ajudará a alcançar a paz jurídica afetada
pela prática do delito. Não basta a reparação do dano para o restabelecimento da
paz jurídica, é preciso também que autor e vítima neutralizem suas animosidades.
As situações em que as vítimas de crimes (principalmente
de crimes patrimoniais e crimes de menor gravidade) desejam
encontrar-se com seus ofensores em presença de um mediador
treinado têm aumentado sensivelmente nos Estados Unidos desde
1970, quando foram criados os primeiros programas de mediação
vítima/delinquente. Hoje, milhares de vítimas em quase 300
comunidades espalhadas por todos os Estados Unidos utilizam-se
dos referidos programas.
Em tais encontros não somente se tem conseguido com algum sucesso que
os ofensores saibam de que forma o crime afetou as vítimas e respondam a
algumas questões formuladas pelas vítimas, mas também se tem conseguido
desenvolver um plano de restituição, onde o autor do fato assume
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responsabilidade na reparação dos danos causados à vítima. No caso em que
autor do fato não cumprir o acordo de restituição, sofrerá consequências mais
gravosas no âmbito penal e processual penal.
Sendo um programa de diversion, se é obtido um acordo satisfatório não se
inicia o processo, ou este é encerrado caso já tenha sido iniciado. Se o autor do
fato vier a descumprir o acordo, o processo judicial retomará o seu curso normal.
Tudo impulsiona o autor do fato a assumir a responsabilidade pelo fato
praticado, com benefícios diversos à vítima, sem que recorra ao caro e moroso
processo criminal. A mediação vítima/delinquente é uma das expressões mais
claras da justiça restaurativa.
Para o sucesso de tais programas exige-se, contudo, que haja:
I. Voluntariedade de participação no procedimento conciliatório;
II. Garantia de sigilo sobre as negociações;
III. Intermediação feita por um terceiro imparcial;
IV. Seleção dos casos passíveis de serem submetidos ao programa; e
V. Obrigatoriedade de cumprimento do acordo que vier a ser
homologado.
Normalmente, o objeto do acordo obtido nos programas é uma soma em
dinheiro. Mas pode ser também uma prestação à vítima de caráter diverso ou uma
prestação de serviços à comunidade, é possível, até mesmo, que o acordo
consista no mero pedido de desculpas.
Pode ocorrer que a vítima não seja um sujeito individual, uma pessoa física
determinada. Assim, por exemplo, nos casos de tráfico de drogas não existe um
indivíduo especificamente afetado pelo crime, mas, sim, toda a comunidade. Mas,
mesmo nesses casos, a justiça restaurativa se aplica. O procedimento consiste
no confronto do infrator com as consequências de seu fato, seguindo-se a
prestação de serviços à comunidade por parte do traficante.
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Na Prática....
Veja-se, por exemplo, o caso de um indivíduo detido por tráfico
de drogas, sendo classificado como pequeno traficante e que realizou
o tráfico de modo não habitual e eventual. Em procedimento de justiça
restaurativa, ele frequentará continuamente instituições para tratamento
e recuperação de dependentes, verá as consequências da venda e uso
de drogas, seguindo-se da prestação de serviços à comunidade,
preferencialmente em tais instituições ou congêneres.
Alguém duvidaria que em tais casos o recurso ao sistema de
justiça formal seria desnecessário? Que a aplicação de uma pena
privativa de liberdade seria desnecessária e contraproducente? A
literatura registra casos de pessoas nessas condições que se tornaram
dirigentes de missões religiosas ou instituições dedicadas ao
tratamento e recuperação de drogados.
5.3 A reparação do dano antes do oferecimento da denúncia
O Código Penal Brasileiro, em seu Artigo 16, dispõe que:
"nos crimes cometidos sem violência ou grave
ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa,
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços".
Ou seja, mesmo reparando o dano, o agente é processado e condenado, e
sua pena é apenas reduzida. Todavia, a sociedade já está madura o suficiente
para reconhecer que em tais casos é possível a extinção da punibilidade do
infrator, impedindo-se o início do processo penal. Isto é, o agente sequer é
processado.
Em crimes tributários, mesmo que iniciado o processo, ou
durante o processo, ou ainda, no momento em que o processo esteja
em grau de recurso (já havendo condenação em primeiro grau),
extingue a punibilidade do agente caso seja realizado o pagamento do
P á g i n a 35 | 189
tributo pelo infrator. Basta pagar o tributo, que o processo criminal se
encerra.
Essa mesma lógica, a reparação do dano em casos de delitos não violentos
e de modo voluntário, não necessariamente espontâneo, deve ser levada em
conta pelo legislador como prática alternativa ao processo penal e à pena clássica.
5.4 Os mecanismos de suspensão condicional do processo penal
Outra prática penal alternativa que é eficiente consiste em suspender o
andamento do processo penal já iniciado, por determinado período de tempo,
durante o qual o réu fica sujeito a determinadas condições. O período é chamado
de “período de prova’. Caso as condições sejam cumpridas até o final do “período
de prova”, extingue-se a punibilidade do acusado e, consequentemente, extingue-
se também o processo. A suspensão condicional do processo é também chamada
de “sursis processual’.
As condições a seremestabelecidas durante o “período de prova” devem
ser as mais aptas possíveis para restabelecimento da paz social e, ao mesmo
tempo, verificar a seriedade do acusado em manter-se dentro da ordem jurídica.
No Brasil essa possibilidade existe. Todavia, da mesma forma
que na pena restritiva de direito, as hipóteses de suspensão condicional
do processo já poderiam ser ampliadas.
Atualmente, o sursis processual está regrado pelo Artigo 89 da
Lei nº 9.099/95. Lá está disposto que nos crimes cuja pena mínima
prevista for igual ou inferior a um ano, o promotor de justiça poderá
propor a suspensão do processo, pelo período de dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado por outro delito ou
não tenha sido condenado por outro crime. Ademais, devem estar
presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (sursis).
P á g i n a 36 | 189
É preciso que a proposta seja aceita pelo acusado e seu defensor na
presença do juiz. E este, ao receber a denúncia, suspende o andamento do
processo pelo período estabelecido.
Durante este período, o acusado ficará submetido às seguintes condições,
sob pena de revogação do sursis processual e retomada do curso do processo:
Figura 9 - Condições Sursis Processual
Fonte: SCD/EaD/Segen
O juiz também poderá determinar outras condições desde que sejam
adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. Ao final do período de prova,
sem revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade do acusado.
5.5 O abreviamento do tempo de pena privativa de liberdade
A lei penal prevê diversas hipóteses em que há o abreviamento do tempo
de prisão durante o cumprimento de pena. Assim, a pena pode ser reduzida
através da remissão pelo trabalho, pelo estudo, através do livramento condicional
etc.
Contudo, as medidas de abreviação do tempo de pena privativa de
liberdade não deve ser monopólio da lei. Para isso existe um juiz presidindo o
processo de execução penal. Ele está presente na execução justamente para
evitar as disfunções de ressocialização. Faria sentido que o juiz da execução
P á g i n a 37 | 189
tivesse sua função limitada a ser mero repetidor das disposições legais da
execução? Não. As inusitadas e corriqueiras situações da execução da pena de
prisão exigem da criatividade humana do juiz que sejam encontradas soluções
que atendam ao ideal de ressocialização, sem denegrir a confiança na integridade
do sistema de justiça penal.
São inúmeras e imponderáveis as situações não previstas em lei que
poderão exigir uma decisão judicial de encurtamento da pena privativa de
liberdade, abreviamento do tempo de encarceramento, sua suspensão ou até
mesmo sua extinção.
Reflita!!!
Assim, seria desarrazoado declarar extinta a pena privativa de
liberdade de uma presa condenada que sofreu aborto porque, durante
a gestação, houve falta de exames pré-natais de responsabilidade da
administração penitenciária? Não teria ela sofrido uma pena muitíssimo
mais grave que aquela traçada no título penal condenatório?
Certamente.
E quanto à suspensão da pena privativa de liberdade por motivo de
hiperlotação do estabelecimento penal? O correto não seria suspendê-
la até que a administração penitenciária ofertasse condições de
cumprimento de pena em conformidade com a lei?
No direito italiano, por exemplo, existem dois tipos de suspensão da pena:
obrigatório e facultativo. Em ambos os casos, dentre as excepcionais razões que
autorizam tal medida, estão as questões graves de saúde do condenado. As
hipóteses de suspensão obrigatória são divididas em dois grupos: questões de
maternidade e graves condições de saúde. As situações que autorizam a
suspensão obrigatória são três: pendência de pedido de graça; grave enfermidade
física; e mãe com filhos de idade inferior a três anos.
Essas soluções não devem causar espanto. Está na consciência da
sociedade que a prisão a ninguém ressocializa, e que o sistema de justiça penal
tem sua confiabilidade mais comprometida com a ultradesconformidade da
P á g i n a 38 | 189
execução da pena de prisão que com sua suspensão por motivos de iniquidade
ou intensa disfunção da pena.
Nos casos em que o cumprimento da pena desde logo se apresente
intoleravelmente contraproducente ou desumano, deverá ser feita a substituição
por formas não reclusivas de seu cumprimento. Caberá ao julgador a espinhosa
missão de encontrar uma forma para que o condenado cumpra a pena em meio
aberto, sem que a sociedade perca a confiança na capacidade do sistema de
justiça penal.
5.6 As medidas cautelares penais de natureza pessoal
Como já dissemos, a prisão de alguém pode ocorrer no curso do processo,
ou mesmo antes dele. São os casos de prisão preventiva e temporária. Vamos
nos deter na prisão preventiva, cuja duração é muitíssimo superior à da
temporária. Enquanto a temporária dura em regra de cinco a dez dias (em casos
excepcionalíssimos, 60 dias), a preventiva pode durar mais de um ano. E se já
houver sentença condenatória pode chegar a dois anos ou mais.
As prisões preventivas são decretadas sempre que necessárias para o
resguardo da ordem pública, da ordem econômica, da instrução criminal e da
aplicação da lei penal. São motivos cautelares, portanto.
Entretanto, a prisão preventiva não pode ser o único remédio para as
situações que exigem da justiça a aplicação de uma cautela sobre o indiciado ou
réu. Tampouco deve ser o principal. Antes, deve ser o último recurso de que o
magistrado lança mão para assegurar a instrução criminal. É o que determina
expressamente o Artigo 282, Parágrafo 6º, do Código de Processo Penal.
Justamente por isso, o CPP prevê diversas alternativas à prisão preventiva,
às quais o juiz deve recorrer, somente aplicando a prisão preventiva caso
nenhuma das alternativas seja adequada e suficiente.
Essas alternativas são:
I. Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo
juiz, para informar e justificar atividades.
P á g i n a 39 | 189
II. Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações.
III. Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante.
IV. Proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução.
V. Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos.
VI. Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para
a prática de infrações penais.
VII. Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável
ou semi-imputável (Art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração.
VIII. Fiança nas infrações que a admitem para assegurar o comparecimento a
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou,em caso de
resistência injustificada, a ordem judicial.
IX. Obrigação de comparecimento a todos os atos do processo.
X. Proibição de mudar de endereço.
A todas essas alternativas à prisão preventiva pode ser combinada, tanto
monitoração eletrônica como mecanismo de controle. Note-se, portanto, que a
monitoração eletrônica em si considerada não é uma alternativa penal, mas sim,
um mecanismo de controle destas alternativas.
5.7 A transação penal
No ano de 1995 foi promulgada a Lei nº 9.099, de 26 de setembro
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm), que deu disciplina àquilo que a
Constituição Federal chamou de“delitos de menor potencial ofensivo”. Tais
delitos possuem menor lesividade social, menor impacto sobre a sociedade. Por
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm
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isso, podem ser objeto de transação. Trata-se de um acordo penal e por isso é
chamada de transação penal.
Atualmente, estão definidos como delitos de menor potencial
ofensivo os crimes cuja pena máxima prevista é de dois anos de pena
privativa de liberdade (cumulada ou não com multa) e todas as
contravenções, independentemente da pena máxima prevista.
Nesses casos, o promotor de justiça propõe a aplicação de uma pena não
privativa de liberdade ao autor do fato, que poderá aceitá-la ou não. A vantagem
é que, caso seja aceita, o processo penal não poderá iniciar-se.
Ademais, é uma pena especial, pois não induz em reincidência, não implica
no reconhecimento do fato pelo suposto autor, não constará nos bancos de dados
da polícia para fins de antecedentes e, em caso de descumprimento, não poderá
ser convertida em pena privativa de liberdade, tendo como consequência a
retomada do curso do processo.
O representante do Ministério Público não poderá oferecer
proposta de transação penal caso o autor da infração houver sido
condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade por
sentença definitiva, ou tenha sido beneficiado nos cinco anos
antecedentes, pela transação penal. Também deverá ser indicado os
antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como
os motivos e as circunstâncias necessárias e suficientes para a adoção
da medida.
A crítica que se faz é que já poderiam ter sido ampliadas, e muito, as
hipóteses de transação penal, alcançando crimes não violentos, cuja pena
máxima prevista é maior que dois anos; por exemplo, o furto.
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5.8 A suspensão condicional da pena
Afinal, vejamos a mais clássica forma de alternativa penal, que é a
suspensão condicional da pena, conhecida como sursis.
No sursis, o juiz aplica uma pena privativa de liberdade, através de sentença
penal condenatória. Todavia, a execução desta pena fica suspensa por um
determinado período chamado de “período de prova”. Ao final deste período, caso
o condenado tenha cumprido determinadas condições, a pena será considerada
extinta, sem que o condenado fosse recolhido à prisão.
No direito brasileiro, a execução da pena privativa de liberdade pode ser
suspensa quando não for superior a dois anos. O “período de prova” é de dois a
quatro anos.
São requisitos para a concessão do sursis:
• O condenado não ser reincidente em crime doloso;
• A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão
do benefício;
• Não seja indicada ou cabível a substituição da pena privativa de liberdade
por penas restritivas de direitos, conforme prevista no Artigo 44 do Código
Penal.
A condenação anterior à pena de multa não impede a concessão do
benefício.
Há também a previsão no direito brasileiro do sursis etário. Nessa hipótese,
desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade ou razões de saúde
justifiquem, permite-se a suspensão da execução da pena privativa de liberdade
de até quatro anos, a qual poderá ser suspensa por quatro a seis anos.
No “período de prova” o condenado ficará sujeito às
condições estabelecidas pelo Juiz. No primeiro ano do prazo,
deverá o condenado prestar serviços à comunidade ou submeter-
se à limitação de fim de semana.
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Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo,
e se as circunstâncias do crime lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá
substituir a exigência acima pelas seguintes condições, aplicadas
cumulativamente:
Figura 10 - Substituição Sursis
Fonte: SCD/EaD/Segen
O juiz poderá especificar outras condições, desde que adequadas ao fato e
à situação pessoal do condenado. O sursis não se aplica às penas restritivas
de direitos nem às multas.
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Vejamos os casos de revogação obrigatória do sursis, no período de prova:
Figura 11 - Revogação Obrigatória do Sursis
Fonte: SCD/EaD/Segen
Ocorre revogação facultativa, isto é, a critério do juiz, se o
condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é
irrecorrivelmente condenado por crime culposo ou por
contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de
direitos.
Ao fim do período de prova, sem que tenha havido revogação, considera-
se extinta a pena privativa de liberdade.
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Aula 6 - ARQUITETURA PRISIONAL - A EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA PRISIONAL
Na Antiguidade, a prisão servia para aguardar o julgamento. Não existia,
propriamente, a noção de prisão como pena privativa de liberdade, salvo raras
exceções. As penas eram, em geral, cruéis ou de morte. Logo, a ideia de
ressocialização não existia. Assim, os espaços destinados ao aprisionamento não
necessitavam de uma estrutura maior ou melhor que uma cela, com pequena
abertura para o lado externo, a qual permitisse a passagem de ar e um pouco de
luz.
A primeira arquitetura prisional pensada com cientificidade
somente ocorreu no século XVIII. Isso se deveu à importante figura de
Jeremias Bentham (1748-1832), filósofo e jurisconsulto inglês, que criou
o utilitarismo. Bentham afirmava que o objetivo existencial era alcançar
"a maior felicidade possível para o maior número de pessoas". Logo,
este era também o objetivo de toda legislação. A transposição dessa
lição para a área penal assumiu relevante aspecto, qual seja, o de que
os presos deveriam cumprir a pena em condições dignas e favoráveis
à sua recuperação, o que também traria diversos benefícios à
sociedade.
Bentham preocupou-se com a arquitetura penitenciária. Afirmava que eram
necessários dois fatores para uma boa arquitetura prisional: a estrutura e o
governo interior, isto é, o regime. Estas duas ideias conjugadas produziram o
modelo panóptico de prisão (1789), cujo projeto permite que um só vigilante possa
observar todos os detentos sem que estes saibam. Tratava- se de um modelo
mais econômico que o das prisões da época, uma vez que demandava menos
empregados. O modelo panóptico também se aplica a outros locais de detenção,
como manicômios e locais de estudo ou trabalho com rigidez de regras
comportamentais, por exemplo: escolas, hospitais e fábricas.
Uma importante característica desse modelo é a existência de uma torre de
observação localizada no pátio central, capaz de permitir a observação de tudo.
Os ambientes sujeitos à vigilância situam-se em um edifício anelar, ao redor do
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posto de observação. Os locais vigiados deste entorno são divididos em celas,
cujo tamanho permita duas janelas, sendo uma para a entrada de luz externa e
outra voltada para a torre de vigilância, permitindo a visualização do que se passa
no seu interior. Bentham também previa o isolamento celular dos presos.
A planta abaixo corresponde ao modelo panóptico clássico:
Figura 12 - Planta Modelo Panóptico Clássico
Fonte: FOUCAULT,Michel.Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1996. P. 32
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A imagem a seguir apresenta um presídio modelo:
Figura 13 - Presídio Modelo
Fonte: Wikipedia: panopticon
Nessa mesma época ingressam na ciência penal os fins preventivos da
pena. Desde então, aqueles que pensaram seriamente sobre arquitetura prisional,
não puderam ignorar o fim útil da pena, o que deveria se refletir na arquitetura.
No decorrer dos anos, as técnicas de arquitetura prisional evoluíram
significativamente. Diversos modelos foram aplicados ao redor do mundo, cada
qual atendendo às peculiaridades do cumprimentode pena e da geografia. Até
hoje, muitos aspectos do modelo panóptico são utilizados.
6.1.A unidade prisional como estrutura complexa
Uma constante se faz presente em toda a arquitetura prisional desde mais
de um século: o estabelecimento penal é uma unidade estrutural complexa. Isso
significa que um prédio destinado a ser estabelecimento penal não é usado
apenas para o encarceramento. Ele serve também aos funcionários que lá
trabalham, pois é o próprio ambiente de trabalho destes profissionais. A mesma
estrutura que serve para o cumprimento de pena de detenção para uns, é o
P á g i n a 47 | 189
ambiente de trabalho para outros. Isso, por si só, já é uma complexidade. O
mesmo conceito se aplica a hospitais e manicômios, por exemplo.
A ambiência profissional exige instalações próprias para os
profissionais, as quais assegurem o exercício pleno da profissão. São
necessários todos os espaços específicos e indispensáveis para tal
atividade, como banheiros (com chuveiros), vestiário, refeitório etc.
Também são necessários ambientes para as atividades administrativas,
guarda de materiais de escritório, armazenamento de materiais de
limpeza, de armamentos etc.
Ainda, é preciso que existam espaços específicos para a prestação das
assistências asseguradas pela LEP. Assim, exige-se que o estabelecimento penal
esteja provido de ambientes para serviços de assistência social, psicológica,
jurídica, médica etc.
Mas a complexidade da estrutura prisional não se limita a dualidade
detento-profissional. Além dela, a unidade prisional deve estar aparelhada para
receber os visitantes dos presos. Isso implica na existência de sala de espera,
local adequado para anotações e controle típicos de portaria, ambiente para
revistas pessoais etc. São espaços destinados à instrumentalização dos contatos
externos que a sociedade, familiares e amigos estabelecem com a população
prisional.
Desse modo, podemos resumir que existem três dimensões funcionais
dentro de um prédio destinado ao encarceramento de pessoas, ou dito de outro
modo: a estrutura de um estabelecimento penal deve possuir ao menos três
subsistemas internos:
P á g i n a 48 | 189
Figura 14- As 3 dimensões Funcionais dentro de um Prédio Prisional
Fonte: SCD/EaD/Segen
Essa perspectiva da unidade prisional é, portanto, de ordem funcional. E
conforme exposto, é tridimensional. Certamente, existem outros aspectos que
devem estar presentes numa unidade prisional, mas que, bem observados, irão
necessariamente se encaixar em um dos três subsistemas funcionais acima
referidos. Assim, por exemplo, se afirmarmos que todo estabelecimento penal
deve ter uma copa, este ambiente será respectivo à segunda funcionalidade do
prédio, isto é, o exercício adequado das atividades profissionais.
Alguns ambientes podem ser elegíveis ou não obrigatórios, dependendo da
política penitenciária adotada pela unidade prisional. Um exemplo, é o da cozinha
para preparo das refeições dos presos, a existência desta instalação dependerá
da opção de assistência material de alimentação dada ao preso, isto é, se haverá
manuseio e preparo de toda a alimentação na própria unidade, ou se ocorrerá
fornecimento terceirizado de alimentos.
A questão da segurança da unidade prisional é inerente à sua
arquitetura. Não deve permitir fugas. As soluções encontradas são as
mais diversas, cada uma com as suas vantagens e desvantagens.
P á g i n a 49 | 189
O que um profissional do sistema precisa ter sempre em mente é que não
existe arquitetura prisional a prova de fugas e/ou resgates. Existe, estruturas que
dificultam muito estas ações. Todavia, não há unidade prisional 100% segura. Isso
deve servir, também, para que o profissional esteja sempre atento aos
procedimentos de segurança, que devem ser respeitados de modo inexorável.
Figura 15 - Para Refletir
Fonte: SCD/EaD/Segen
6.2. A Resolução nº 09/2011do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP)
Atualmente, no Brasil, existe normativa que regula de modo bastante
detalhado como devem ser erguidas as novas unidades prisionais. Trata-se de
Resolução nº 09/2011 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
(CNPCP).
A referida norma dispõe sobre orientações gerais para a construção,
ampliação e reforma de estabelecimentos penais em parceria com o governo
federal, normas para a apresentação de projetos de construção, ampliação e
reforma de estabelecimentos penais e para a celebração de convênios com a
União, conceituação e classificação de estabelecimentos penais, elaboração de
P á g i n a 50 | 189
projetos arquitetônicos e projetos específicos, tipologia arquitetônica, programas
para estabelecimentos penais, critérios gerais de medição para a elaboração do
orçamento, e conceituação dos projetos de arquitetura e engenharia para
estabelecimentos penais.
A atual normativa agregou novos e importantes elementos às normas
arquitetônicas anteriores (Resoluções de 1994 e 2005) e aperfeiçoou a forma de
dimensionamento usando o critério de proporcionalidade do uso. Além disso,
inseriu novos conceitos como acessibilidade, permeabilidade do solo, conforto
bioclimático e impacto ambiental. Também considerou recomendações de outros
órgãos governamentais e ministérios, em especial da saúde e da educação, bem
como da sociedade que se manifestou por meio de uma consulta pública.
A Resolução nº 09/2011 do CNPCP prevê as lotações máximas para as
unidades prisionais, isto é, o máximo de vagas que uma unidade prisional deve
ter para que seja mantida sua funcionalidade. Ficou assim estabelecido o número
máximo de pessoas presas conforme a unidade:
Figura 16 - Lotação nos Presídios
Fonte: SCD/EaD/Segen
P á g i n a 51 | 189
Ademais, ficou estabelecido que "em nenhuma hipótese um módulo de
celas poderá ultrapassar a capacidade de 200 pessoas presas". Isso significa
que aquilo que se convencionou chamar de raio, pavilhão ou ala de celas não
pode ter capacidade superior a 200 pessoas presas.
Também estão previstas situações especiais. Consta na norma que:
"em todas as penitenciárias e cadeias públicas que
possuam celas coletivas, deverá ser previsto um mínimo de
celas individuais (2% da capacidade total), para o caso de
necessidade de separação da pessoa presa que apresente
problemas de convívio com os demais por período
determinado (Portaria Ministério da Justiça/DEPEN nº 01, de
27.01.2004) e pelo menos uma cela com instalação sanitária,
por módulo, obedecendo aos parâmetros de acessibilidade
(NBR 9050/2004)".
No tocante à localização, uma unidade prisional deve estar situada em local
que não restrinja a visitação. Isso ocorre porque a pessoa presa deve ser
estimulada os contatos não apenas com a família e amigos, mas também com a
própria sociedade. Os estabelecimentos penais também devem estar situados em
locais funcionais, isto é, não afastado do cotidiano, de maneira que estejam
"asseguradas a presteza das comunicações e a conveniência
socioeconômica", isto é, que possam ser aproveitados os serviços básicos e de
comunicação existentes (meios de transportes, rede de distribuição de água, de
energia e serviço de esgoto etc.), bem como possam ser aproveitadas as reservas
disponíveis (hídricas, vegetais, minerais etc.) e as peculiaridades do entorno.
De maneira geral, os complexos ou estabelecimentos penais não
devem situar-se em zona central da cidade ou em bairro
predominantemente residencial. Ao mesmo tempo, os
estabelecimentos penais "deverão estar localizados de modo a
facilitar o acesso e a apresentação das pessoas presas e
processadas em juízo".
A normativa em referência se preocupa com a disposição das muralhas e
respectivos recuos, vagas de estacionamento para servidores e autoridades,
P á g i n a 52 | 189segurança contra incêndios, conforto ambiental projetado conforme a zona
bioclimática brasileira, iluminação artificial, instalações sanitárias e elétricas,
material para o revestimento de paredes e pisos etc.
Ressalvadas as características e fins de cada estabelecimento penal,
atualmente está, portanto, estabelecido de modo detalhado como devem ser
projetadas as estruturas funcionais inerentes à nova arquitetura prisional, no
tocante às instalações administrativas, de almoxarifado, de atuação de
estagiários, de serviços (alimentação, lavanderia, manutenção - observando-se
que podem ser terceirizados), de convivência, de solário, de refeição, de visitas
às pessoas, de visita íntima, de atendimento médico, de atendimento
odontológico, de atendimento psicológico, de atendimento do serviço social, de
atendimento jurídico, de comunicação reservada entre a pessoa presa e seu
advogado, de enfermaria, de alojamento para agentes ou monitores, de
alojamento para guarda externa, de berçário e/ou creche, além de instalações
religiosas, educativas, laborais e esportivas e de lazer.
São consideradas parte das instalações da administração, ainda que não
localizados no módulo específico, o alojamento e as demais dependências para
profissionais que pernoitam no estabelecimento. O alojamento dos agentes
penitenciários situa-se junto à entrada do estabelecimento ou do edifício. O
alojamento dos vigilantes externos deverá "estar situado de modo a impedir
trânsito de seus componentes dentro do recinto do estabelecimento, ou seu
contato com as pessoas presas".
A LEP não traz metragem mínima para celas coletivas. O Artigo
88 da referida lei limita-se a dizer qual é a metragem mínima para celas
individuais (6,00 m2). A explicação provável para isso é o fato de que
comissão que a redigiu, em 1984, era composta exclusivamente por
juristas. Havia um só membro não jurista, um religioso. A comissão de
1984 acabou trabalhando apenas sobre uma planta baixa para celas.
P á g i n a 53 | 189
A Resolução nº 09/2011, por sua vez, dispõe metragens mínimas para as
celas coletivas:
CAPACIDADE TIPO DE CELA ÁREA MÍNIMA (m²) CUBAGEM MÍNIMA
01 Individual 6,00 15,00
02 Coletiva 7,00 15,00
03 Coletiva 7,70 19,25
04 Coletiva 8,40 21,00
05 Coletiva 12,75 31,88
06 Coletiva 13,85 34,60
07¹ Coletiva 13,85 34,60
08² Coletiva 13,85 34,60
(1) Capacidade válida até que o Sistema Nacional de Informações Penitenciárias do
Departamento Penitenciário Nacional comprove a extinção do contingente de presos em
Delegacias de Polícias por período superior ao necessário para a conclusão dos procedimentos
investigatórios policiais, ou até 5 de maio de 2015 (cf. Resolução CNPCP Nº 2/2011).
(2) Capacidade válida até que o Sistema Nacional de Informações Penitenciárias do
Departamento Penitenciário Nacional comprove a extinção do contingente de presos em
Delegacias de Polícias por período superior ao necessário para a conclusão dos procedimentos
investigatórios policiais, ou até 5 de maio de 2015 (cf. Resolução CNPCP Nº 2/2011).
Quanto ao local destinado ao banho de sol, deve ser um pátio com diâmetro
mínimo de 10,00 m e com área de 6,00m², acrescidos de 1,50 m² por pessoa
presa. O pátio de sol poderá ser utilizado em forma de rodízio pelas diversas
pessoas presas dos módulos.
Veja alguns dos espaços que está normatizado e previsto na Resolução nº
09/2011 do CNPCP:
• comando de guarda;
• guarita com instalação sanitária;
• sala de armas;
• copa;
• dormitório da guarda (masculino e feminino);
• acesso único para a passarela localizado nos muros de segurança de
P á g i n a 54 | 189
guaritas de proteção;
• dormitórios dos agentes penitenciários;
• vestiários;
• sala de espera da portaria (externa e com bancos);
• sala de administração e controle;
• sanitários para visitantes (masculino e feminino);
• sala de pertences;
• depósito de materiais de limpeza;
• portaria de acesso e recepção;
• vestiário para presos com armários (no caso de presos que realizam
trabalho externo);
• salas de atendimento familiar;
• central de monitoramento e apoio administrativo;
• sala para o diretor;sala de reuniões;
• instalação sanitária do diretor;
• sala do secretário ou da recepção;
• sala para o vice-diretor;
• sala para o prontuário;
• sala para apoio administrativo;
• sala administrativa da equipe técnica;
• almoxarifado central;
• oficina de reparos e manutenção;
• eclusa para desembarque de veículos;
• sala da chefia dos agentes;
• sala de identificação e biometria;
• sala de pertences pessoais das pessoas presas;
• sala de recepção e espera;
• sala de acolhimento multiprofissional;
• sala de atendimento clínico multiprofissional;
• consultório de atendimento ginecológico com sanitário;
• estoque;
• dispensação de medicamentos e estoque;
• cela enfermaria;
P á g i n a 55 | 189
• sanitário para pacientes;
• solário para pacientes;
• consultório de atendimento odontológico;
• sala multiuso;
• sala de procedimentos;
• laboratório de diagnóstico;
• sala de coleta de material para laboratório;
• sala de raio x;
• cela de espera;
• consultório médico;
• sala de curativos, suturas e posto de enfermagem;
• cela de observação; central de material esterilizado/expurgo;
• rouparia;
• depósito de material de limpeza;
• sanitários para equipe de saúde etc.
A Resolução CNPCP nº 06/2017 atualizou a Resolução nº
09/2011, acesse o link e leia na íntegra as Diretrizes Básicas para
arquitetura penal.
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/resolucoes/2011/RESOLUCAON92011
ATUALIZADADEZEMBRO.2017.pdf
Aula 7 - ARQUITETURA PRISIONAL NO BRASIL
A arquitetura prisional no Brasil é fundamentada nos direitos dos indivíduos
encarcerados e nas regras de execução penal em vigor, as quais são:
• Constituição Federal de 1988;
• Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil;
• Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal);
• Lei Complementar nº 79/1994; e
• Resolução CNPCP nº 09/2011 (Diretrizes Básicas para Arquitetura Penal).
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/resolucoes/2011/RESOLUCAON92011ATUALIZADADEZEMBRO.2017.pdf
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/resolucoes/2011/RESOLUCAON92011ATUALIZADADEZEMBRO.2017.pdf
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Vejamos uma a uma:
Constituição Federal de 1988
A Constituição Federal de 1988 dispõe em seu Art. 5º:
IlI- Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
XLVIII - A pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a
natureza do delito, a idade e o sexo da pessoa presa;
XLIX - É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L- Às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer
com seus filhos durante o período de amamentação.
Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil
As Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil, recomendada
pela Organização das Nações Unidas, é regulamentada pela Resolução nº 14, de
11 de novembro de 1994, do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária - CNPCP - e aborda em seu Capítulo IV - Dos Locais Destinados
aos Presos - questões imperiosas à execução penal:
Art. 8º -Salvo razões especiais, os presos deverão ser alojados individualmente.
§ 1º - Quando da utilização de dormitórios coletivos, estes deverão ser ocupados
por presos cuidadosamente selecionados e reconhecidos como aptos a serem
alojados nessas condições.
§ 2º - O preso disporá de cama individual provida de roupas, mantidas e mudadas
correta e regularmente, a fim de assegurar condições básicas de limpeza e
conforto.
Art. 9º - Os locais destinados aos presos deverão satisfazer as exigências de
higiene, de acordo com o clima, particularmente no que ser refere à superfície
mínima, volume de ar, calefação e ventilação.Art. 10º - O local onde os presos desenvolvam suas atividades deverá apresentar:
I - janelas amplas, dispostas de maneira a possibilitar circulação de ar fresco, haja
ou não ventilação artificial, para que o preso possa ler e trabalhar com luz natural;
II - quando necessário, luz artificial suficiente, para que o preso possa trabalhar
sem prejuízo da sua visão;
P á g i n a 57 | 189
IlI - instalações sanitárias adequadas, para que o preso possa satisfazer suas
necessidades naturais de forma higiênica e decente, preservada a sua
privacidade.
IV - instalações condizentes, para que o preso possa tomar banho à temperatura
adequada ao clima e com a frequência que exigem os princípios básicos de
higiene.
Art. 11- Aos menores de O a 6 anos, filhos de preso, será garantido o atendimento
em creches e em pré-escola.
Art. 12 - As roupas fornecidas pelos estabelecimentos prisionais devem ser
apropriadas às condições climáticas.
§ 1º - As roupas não deverão afetar a dignidade do preso.
§ 2º -Todas as roupas deverão estar limpas e mantidas em bom estado.
§ 3º - Em circunstâncias especiais, quando o preso se afastar do estabelecimento
para fins autorizados, ser-lhe-á permitido usar suas próprias roupas.
Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal)
Por outro lado, a Lei nº 7.210/1984, conhecida como a Lei de Execução
Penal, estabelece no inciso VI, Art. 64, que cabe ao Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária estabelecer regras sobre arquitetura e construção de
estabelecimentos penais e casas de albergados.
Nesse contexto, vale ressaltar que os Artigos 71e 72 da Lei nº 7.210/1984,
aduz que o Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN - apoiará,
administrativa e financeiramente, o Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, tendo como atribuições:
I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo o Território
Nacional;
lI - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e serviços penais;
III – assistir tecnicamente as Unidades Federativas na implementação dos
princípios e regras estabelecidas nesta Lei;
IV - colaborar com as Unidades Federativas, mediante convênios, na implantação
de estabelecimentos e serviços penais;
V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização de cursos de
formação de pessoal penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado e
do internado;
P á g i n a 58 | 189
VI - estabelecer, mediante convênios com as Unidades Federativas, o cadastro
nacional das vagas existentes em estabelecimentos locais destinadas ao
cumprimento de penas privativas de liberdade aplicadas pela justiça de outra
Unidade Federativa, em especial para presos sujeitos a regime disciplinar.
(Incluído pela Lei nº 10.792, de 2003)
Parágrafo único - Incumbem também ao Departamento a coordenação e
supervisão dos estabelecimentos penais e de internamento federais.
Lei Complementar nº 79/1994
A Lei Complementar nº 79/1994, que cria o Fundo Penitenciário Nacional
(FUNPEN), reza que os recursos serão aplicados, dentre outros, na construção,
reforma, ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais, conforme
inciso I, Art. 3º.
Diretrizes Básicas para Arquitetura Prisional no Brasil
É importante asseverar que as Diretrizes Básicas para Arquitetura Prisional
no Brasil estão regulamentadas por meio da Resolução nº 09, de 18 de novembro
de 2011, editadas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,
cujos pontos relevantes encontram-se descritos abaixo.
Em que pese à classificação contida na Lei 7.210/84, em seu Título IV,
quando da abordagem sobre classificação dos estabelecimentos prisionais,
convém comentar sobre a classificação constante na Resolução, os quais são:
a) cadeias públicas ou estabelecimentos congêneres: estabelecimentos
penais destinados ao recolhimento de pessoas presas em caráter
provisório;
b) penitenciárias: estabelecimentos penais destinados ao recolhimento de
pessoas presas com condenação à pena privativa de liberdade em regime
fechado, dotadas de celas individuais e coletivas;
c) colônias agrícolas, industriais ou similares: estabelecimentos penais
destinados a abrigar pessoas presas que cumprem pena em regime
semiaberto;
d) casas do albergado: estabelecimentos penais destinados a abrigar
pessoas presas que cumprem pena privativa de liberdade em regime
aberto, ou pena de limitação de fins de semana;
e) centros de observação criminológica: estabelecimentos penais de
P á g i n a 59 | 189
regime fechado e de segurança máxima onde devem ser realizados os
exames cujos resultados serão encaminhados às Comissões Técnicas de
Classificação, as quais indicarão o tipo de estabelecimento e o tratamento
adequado para cada pessoa presa;
f) hospitais de custódia e tratamento, aqui denominados serviço de
atenção ao paciente judiciário: estabelecimentos penais destinados a
atender pessoas submetidas à medida de segurança;
g) complexos ou conjuntos penais: conjunto arquitetônico de unidades
penais compartilhadas pelas unidades que o constituem;
h) centrais de penas e medidas alternativas: estabelecimentos destinados
a atender pessoas que cumprem penas e medidas alternativas.
Conforme já citado anteriormente, o Regulamento estabelece a capacidade
máxima dos estabelecimentos penais. Contudo, o Conjunto Penal tem capacidade
ilimitada, desde que os diversos estabelecimentos que o compõem respeitem as
capacidades para eles ficadas anteriormente e sejam independentes entre si ou
estanques.
É importante problematizar a realidade brasileira. Apesar dos documentos
citados, é bastante comum o déficit de vagas nos presídios, os espaços serem
superlotados e insalubres e que podem gerar e reproduzir as diversas formas de
violência. Salienta-se ainda a negligência estatal histórica nessa área, que, do
ponto de vista sociológico, envolve um entendimento de que o presídio e as
pessoas presas sobrevivem à margem; dessa forma, não são reconhecidas como
cidadãos dotados de direitos, mas que se encontram em uma situação de
cumprimento de penas por deveres legais não cumpridos.
O grande risco observado nesse tipo de interpretação é o não
reconhecimento destes grupos e sua posterior exclusão social, gerando, dessa
forma, intensificação da violência e manutenção do ciclo vicioso da criminalidade
e da demanda sempre crescente por vagas no sistema prisional.
A Resolução nº 09/2011 também estabelece parâmetros arquitetônicos
para acomodação de pessoas presas, tendo as seguintes definições para:
P á g i n a 60 | 189
Cela individual
É a menor célula possível de um estabelecimento penal, devendo ser
previstos cama e área de higienização pessoal com pelo menos lavatório e
aparelho sanitário, além da circulação. O chuveiro pode ser localizado fora da cela
em local determinado.
Cela coletiva
É qualquer cômodo com a mesma função de uma cela individual, porém
com capacidade para abrigar mais de uma pessoa presa simultaneamente.
Estabelece, ainda, que os projetos para estabelecimentos penais devam
prever módulos, de acordo com o caso e o uso a que se destina o
estabelecimento, conforme quadro abaixo, contendo o programa de necessidades
por estabelecimento penal.
Estabelecimento
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Guarda Externa
Agente
Penitenciário
/Monitor
Administração
Recepção/Revista
Centro
observação/
Triagem/Inclusão
Tratamento PenalVivência Coletiva
Vivência individual
Serviços
Saúde
P á g i n a 61 | 189
Tratamento para
dependentes
químicos
Oficina de trabalho
Educativo
Polivalente
Creche
Berçário
Visita Íntima
Esporte
LEGENDA:
Diante do exposto, durante a elaboração do projeto de estabelecimento
prisional, o profissional deverá observar os seguintes aspectos: conforto
ambiental (ventilação e iluminação natural), segurança, bem como garantir a
dignidade da pessoa encarcerada nas unidades prisionais.
Com o objetivo de suprir as dificuldades apresentadas pelas Unidades
Federativas na elaboração de projetos de arquitetura e engenharia, o
Departamento Penitenciário Nacional elaborou 06 (seis) tipologias de projetos de
Cadeia Pública, masculino (03 projetos) e feminino (03 projetos), concebido a
partir das 08 (oito) zonas bioclimáticas existentes no país, agrupadas em 03 (três)
grandes grupos segundo suas características construtivas, obedecendo a
Resolução em comento.
A concepção do aludido projeto arquitetônico da Cadeia Pública contou com
a colaboração de especialistas com larga experiência em estabelecimentos
prisionais, divididos em cinco áreas temáticas de atuação:
Existência obrigatória
Existência facultativa
Não é necessário
P á g i n a 62 | 189
Figura 17 - Áreas Temáticas de Atuação
Fonte: SCD/EaD/Segen
Assim, o DEPEN/MJ disponibilizou aos Estados as seguintes peças
técnicas: projeto arquitetônico; cabeamento estruturado; climatização;
sistema de prevenção e combate a incêndio; instalações de gás liquefeito de
petróleo (GLP); sistema de detecção e alarme de incêndio (SDAI);
instalações hidráulicas; instalações pluviais; instalações sanitárias;
instalações elétricas; sistema de intrusão e controle de acesso (SICA);
sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA); especificação,
memorial descritivo, memorial de cálculo e orçamento.
Entretanto, caberá ao Estado a realização do estudo de sondagem
geológica; levantamento planialtimétrico do terreno; projeto de terraplenagem;
projeto de implantação; projeto de fundação; adequação dos projetos que
dependam das particularidades e peculiaridades do terreno (instalações pluviais,
instalações elétricas e outros) e da legislação local (sistema de prevenção e
combate a incêndio); do estudo de adequação do orçamento para inclusão dos
serviços de administração local; terraplanagem; fundação; destino final do esgoto;
e atendimento às exigências dos técnicos da Caixa Econômica Federal.
Outrossim, objetivando a melhoria de projetos e obras das Unidades
Prisionais, o DEPEN/MJ, por meio do Termo de Cooperação Técnica com a
Universidade Federal de Santa Catarina, realizou estudos para definição dos
P á g i n a 63 | 189
parâmetros de desempenho das celas prisionais em contratações pelo Regime
Diferenciado de Contratações - RDC - por contratação integrada.
Por fim, cabe esclarecer que o Departamento Penitenciário
Nacional somente realiza o repasse de recursos federais mediante
aprovação de projetos de estabelecimentos prisionais apresentadas
pelas Unidades Federativas que estão de acordo com as Diretrizes
Básicas para Arquitetura Prisional no Brasil, emanadas pelo Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
Todos os projetos aprovados e financiados pelo DEPEN/MJ são
concebidos de acordo com a Resolução CNPCP nº 09/2011, que versa
sobre as diretrizes para arquitetura prisional, contemplando aspectos
relacionados com a dignidade da pessoa humana.
Em linhas gerais, essas diretrizes aperfeiçoaram a forma de
dimensionamento construtivo, usando o critério de proporcionalidade do uso e
inseriu novos conceitos como acessibilidade, permeabilidade do solo, redução do
impacto ambiental, conforto bioclimático (ventilação cruzada e iluminação natural
proporcionando salubridade aos ambientes), locais adequados para refeição,
banho de sol, visitantes, saúde e educação.
Esta Resolução é referência para todas as obras nacionais com
fins penais, representando o acúmulo político e social do Estado
Democrático de Direito. Noutro giro, o DEPEN/MJ também participou
da formulação do Manual de Intervenções Ambientais, para o controle
da tuberculose nas prisões a cargo do Fundo Global. Este manual traça
as diretrizes e orientações para uma arquitetura favorável a não
proliferação da doença e a sua respectiva prevenção no contexto
prisional.
Assim, o cumprimento da pena privativa de liberdade será executado de
forma a obedecer aos princípios basilares da lei de execução penal e aos tratados
internacionais, as quais o Brasil é signatário, mormente a Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), normatizado pelo
P á g i n a 64 | 189
Decreto Federal nº 678, de 06 de novembro de 1992.
Para a obtenção de maiores informações, a Coordenação de Engenharia e
Arquitetura, subordinada à Coordenação Geral de Política, Pesquisa e Análise da
Informação da Diretoria de Políticas Penitenciárias do Departamento Penitenciário
Nacional, está à disposição por meio do e-mail coena.depen@mj.gov.br.
Aula 8 - MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL
Após o advento da Revolução Industrial, a humanidade ingressou numa via
de desenvolvimento vertiginosa. Muitos estudiosos dizem que não estamos mais
na era moderna, mas, sim, na pós-modernidade ou na modernidade madura.
De todo modo, o que importa frisar é que na atualidade, e já faz algum
tempo, a sociedade é altamente heterogênea, os valores são constante e
velozmente relativizados, a contracultura é inexorável, o desenvolvimento e o
conhecimento tecnológico são objetivos eminentes e perenes, as fronteiras
geográficas romperam-se, a lei de mercado se sobrepõe às regras jurídicas, o
clássico eixo tempo-espaço rompeu-se etc.
Nessa surpreendente sociedade pós-moderna, o dinheiro não é mais
sinônimo de riqueza, tampouco a posse de bens imóveis, carros luxuosos etc.
Informação é riqueza. Mas não um tipo qualquer de informação: a informação
capaz de ser rapidamente transferida e informação de boa qualidade, isto é, que
encontra lastro na realidade.
Portanto, qualquer sistema que se pretenda moderno deve obedecer a essa
lógica. O sistema prisional não foge à regra.
A modernização do sistema prisional passa, necessariamente,
pelo uso maciço da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Isso implica na informatização de todo o sistema prisional e das
instituições com as quais ele se relaciona. Isto é, é preciso também a
informatização dos demais sistemas relacionados ao prisional, como o
de justiça penal, segurança pública, Ministério Público, OAB,
Secretarias de Estado etc.
mailto:coena.depen@mj.gov.br
P á g i n a 65 | 189
A implementação das medidas necessárias para a completa informatização
do sistema prisional exige conhecimentos, procedimentos e tecnologia que não
representam novidade, tampouco são especiais obstáculos.
Isso não significa que não existiriam dificuldades. Estas existiriam,
certamente. Por exemplo, a migração de dados de outros sistemas eventualmente
já existentes. Mas mesmo isso não poderia ser seriamente considerado como
óbice intransponível.
Não há desafio excessivamente desconhecido ou de difícil superação, pois
a efetivação da aplicação de TIC ao sistema prisional brasileiro demandará tarefas
comuns à implementação de qualquer novo sistema de grande porte. Ou seja, um
projeto trabalhoso, mas nada difícil.
Figura 18 - Comunicação no Sistema Prisional
Fonte: SCD/EaD/Segen
Embora volumosos, os tipos de informações a serem trocados entre essas
instituições têm formato simples. Os agentes que atuam nos sistemas devem,
basicamente, trocar documentos, a fim de que o sistema seja alimentado com as
manifestaçõespertinentes, por exemplo: pedidos de benefícios, incidentes
processuais, remoções, andamento de processos criminais, inquéritos policiais,
P á g i n a 66 | 189
comportamento carcerário do detento, informações sobre a conclusão de
sindicâncias que apuram faltas de presos, exame criminológico (quando exigido)
etc.
Impressiona que o Brasil ainda não tenha um cadastro único de
pessoas presas, com seus respectivos históricos criminais e prisionais.
A remoção de presos entre unidades prisionais e o acesso ao histórico
poderia ser feito por simples leitura biométrica. Bastaria que o preso
colocasse seu dedo no leitor para que se tenha acesso a uma
enormidade de funcionalidades aplicáveis ao seu encarceramento.
Note-se que até não muito tempo atrás não havia controle informatizado do
número de presos no Brasil, conforme sexo e situação processual.
O lnfopen ainda é uma ferramenta relativamente
recente. Nele você encontrará dados ainda parciais, mas
vale a pena conhecer. Visite a página
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen e
faça pesquisas e conheça a ferramenta de informações!
Seria o adeus a morosidade que a troca de papéis e documentos provoca.
Como consequência da aplicação de TIC, o próprio processo de execução de
penas seria todo informatizado. Os benefícios para o sistema seriam expressivos,
a começar pela redução do número de rebeliões.
Como sabemos, com a forma física de tramitação de autos de execução
penal, tudo conspira para que, na data do vencimento do benefício do
sentenciado, inicie-se demorado processamento físico para a verificação dos
requisitos necessários para a prestação jurisdicional. Toda esta demora intrínseca
ao formato clássico da tramitação dos autos de execução gera tempo suficiente
para o recluso revoltar-se ou insurgir-se contra o sistema penitenciário.
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen
P á g i n a 67 | 189
Não é demais lembrar o que a experiência ensina. Reflita!
Figura 19 - Para Relfetir
Fonte: SCD/EaD/Segen
Vejamos, agora, aquele que talvez seja o argumento mais forte.
Fundamentalmente, o crime organizado pelas facções criminosas, que atuam
dentro e fora das unidades prisionais, teria minada uma de suas bases de
sustentação.
É voz unânime na doutrina e na experiência mundial que a criminogênese
específica do crime organizado é a ausência do Estado.
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Figura 20 - Omissão do Estado
Fonte: SCD/EaD/Segen
No Brasil, os líderes de facções presos se utilizam da falta de informações
dos demais detentos sobre suas respectivas situações processuais. Dito de outro
modo: a desinformação dos demais presos é fator de fragilização dos mesmos, a
qual é usada como alavanca pelos líderes de facção, que, por sua vez, utilizam
argumentos de presença e força para suprir o discurso de segurança ontológica
(conhecimento no mundo) que o Estado deveria dar ao condenado que, afinal, é
seu custodiado.
Ora, a partir do instante que o detento comum tem no líder de facção o seu
único referencial de segurança e expectativas, a este dará obediência. Ao Estado,
não.
A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) aplicada maciçamente
ao sistema prisional surge como poderosa ferramenta que possibilita ao Estado
se fazer efetivamente presente no cumprimento da pena em seus aspectos
principais previstos na LEP. A possibilidade de o preso ter conhecimento de sua
efetiva situação processual é aspecto fundamental para diminuir sua
susceptibilidade aos líderes das unidades prisionais.
Do ponto de vista econômico, a redução do tempo para apreciação de
benefícios provocaria sensível diminuição de gastos para o Estado, posto que o
sentenciado deixaria o cárcere meses antes do que isso normalmente ocorreria.
P á g i n a 69 | 189
Pesquisas recentes informam que a economia anual seria da ordem de bilhões de
reais.
A certificação digital será necessária. Aconselha-se a criação de uma
Secretaria de Fiscalização da TI para o sistema. Não custa lembrar que a atual
movimentação física de papéis é mais susceptível a fraudes e falsificações, como
nos revela a experiência. O passado recente registra a falsificação de assinaturas
de magistrados em alvarás de soltura de presos.
A criação e implementação de TIC ao sistema também exige,
como ponto fundamental para o sucesso, uma equipe de trabalho de
caráter multidisciplinar, formada por profissionais técnicos,
administradores e representantes de todas as instituições que operam
no ou junto ao sistema prisional.
Em 2014, o DEPEN reformulou a metodologia utilizada, com vistas
a modernizar o instrumento de coleta e ampliar o leque de informações
coletadas. Pela primeira vez, o levantamento recebeu o formato de um
relatório detalhado. O tratamento dos dados permitiu amplo diagnóstico
da realidade estudada, mas que não esgotam, de forma alguma, todas
as possibilidades de análise. Assim, convidamos todos os interessados
a criticar e debater os resultados, com vistas à melhoria da gestão da
informação e da política penal brasileira.
Acesse a base de dados e o painel interativo com os dados do lnfopen.
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen
Aula 9 - MODERNIZAÇÃO DO SISTEMA - RECURSOS
A modernização do sistema prisional é realizada por meio de convênios e
doações que fornecem equipamentos e veículos para os sistemas prisionais dos
Estados e do Distrito Federal. No DEPEN, a coordenação que trabalha com tais
projetos é a Coordenação de Estatística e Análise de Informação (COESA).
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen
P á g i n a 70 | 189
A COESA faz parte da estrutura administrativa da
CGPAI/DIRPP/DEPEN/MJ e foi inicialmente idealizada para promover
a consolidação e depuração das informações coletadas pelo sistema
INFOPEN, com o intuito de desenvolver pesquisas sobre o Sistema
Penitenciário e subsidiar informações para a celebração de convênios
e contratos na área de atuação do DEPEN.
Com o passar dos anos, a COESA passou a atuar também nas ações de
modernização, aparelhamento e reaparelhamento de estabelecimentos penais
em todo o país, por meio de formalização e controle de convênios. Recentemente,
o aparelhamento também está sendo feito por meio de processos de aquisições
diretas de equipamentos, para posterior doação a todos os Estados e ao Distrito
Federal
Com relação aos convênios, foram formalizados, entre 2006 e 2011, cerca
de 80 instrumentos com várias Unidades Federativas. Neste período, foi
repassado mais de 70 milhões de reais para compra de computadores, mobiliário,
sistemas de CFTV, coletes balísticos, equipamentos táticos, armamentos letais e
não letais, bloqueadores de celular, aparelhos de revista eletrônica (Raio-X e
detectores de metais), algemas, rádios, dentre outros. Como exemplo de ações
de aquisição direta, podemos citar os veículos furgão-cela e as ambulâncias.
9.1 Sistema De Informações Penitenciárias
A Coordenação do Sistema Nacional de Informações Penitenciadas
(COPINF), desde a sua criação em 2006, vem desenvolvendo relevante papel na
consolidação em meio informatizado das informações prisionais do país. Desde
então, o Departamento Penitenciário Nacional vem realizando a coleta de
informações penitenciárias por meio da ferramenta lnfoPen, desenvolvida pelo
DEPEN/MJ. A mesma ferramenta, na versão denominada lnfopen Gestão,
possibilita a gestão de estabelecimentos prisionais em algumas unidades da
federação.
P á g i n a 71 | 189
Com o advento da Lei nº 12.714/2012
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12714.htm) , surgiu para o Ministério da Justiça o desafio
de desenvolver um sistema informatizado destinado à integração dos
órgãos de Segurança Pública (Delegacias de Polícia), da Magistratura,
das funções essenciaisà Justiça (Ministério Público e Defensoria
Pública) e dos órgãos da execução penal (unidades penais,
hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico, cadeias públicas,
conselhos penitenciários estaduais e distritais e conselhos da
comunidade), o que possibilitará a gestão unificada dos dados
referentes à prisão cautelar, execução das penas e da medida de
segurança.
Referido sistema deverá informar o Magistrado, o membro do Ministério
Público e o Defensor quanto aos prazos para conclusão do inquérito, oferecimento
da denúncia, obtenção da progressão do regime, concessão do livramento
condicional, realização de exames de periculosidade e enquadramento nas
hipóteses de indulto e comutação da pena, dentre outros benefícios, além de
possibilitar que a pessoa presa acompanhe suas informações processuais, fato
que representará grande avanço e modernização no acesso à Justiça.
Diante de tal quadro, estima-se que o referido sistema informatizado
permitirá mapear descumprimentos de prazo como o citado e, dessa forma,
possibilitar o desenvolvimento de ações voltadas à defesa dos direitos e da
dignidade da pessoa encarcerada.
Em apertada síntese, o sistema preconiza a estratégia de junção em uma
única ferramenta dos dados oriundos das Secretarias de Segurança Pública,
Sistemas de Justiça e Poder Judiciário. Atualmente, apenas os sistemas de justiça
possuem as informações, disponíveis do ponto de vista técnico para pronto
emprego. Portanto, de início, o Sistema de Acompanhamento de Execução da
Pena utilizará as informações dos Sistemas de Justiça, por meio da Base lnfoPen
Gestão, e por meio de interoperabilidade (no caso de outras soluções).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12714.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12714.htm
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Por meio de determinação do Ministro da Justiça, o DEPEN/MJ
foi incumbido de coordenar a implementação do Sistema de
Acompanhamento da Execução da Pena, proposto na Lei nº
12.714/2012. Para tanto, considerando o prazo estabelecido na vacatio
legis de 365 dias, foi adotada como estratégia que tal ferramenta,
inicialmente, seria elaborada a partir da base de dados do lnfoPen
Gestão.
Diante disso, foi iniciado no primeiro semestre de 2013 um trabalho de
remasterização e correção de erros no sistema lnfoPen Gestão com o intuito de
estabilizá-lo diante da sua relevância para a implementação da Lei nº
12.714/2012. A primeira versão do sistema foi finalizada e está sendo apresentada
para as Unidades da Federação, sendo o Estado do Maranhão o primeiro ente
piloto.
Outros onze Estados aguardam a implementação até agosto de 2014
(Alagoas, Tocantins, Paraíba, Rondônia, Amazonas, Amapá, Acre, Roraima,
Goiás e Mato Grosso). As demais Unidades da Federação permanecerão com
ferramentas próprias e encaminharão as informações por meio de
interoperabilidade.
A estratégia, denominada SISDEPEN, contempla ainda o envio de
computadores para os estabelecimentos prisionais do país, os quais serão
adquiridos e, posteriormente, doados ainda no ano de 2014.
9.2 Financiamento E Repasse De Recursos
O Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), criado pela Lei Complementar
nº 79 de 07 de janeiro de 1994 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp79.htm),
tem por finalidade proporcionar recursos e meios para financiar e apoiar atividades
e programas de modernização e aprimoramento do sistema penitenciário
brasileiro. Para tanto, o Departamento Penitenciário Nacional realiza suas
transferências de recursos aos entes federados, responsáveis pelo Sistema
Penitenciário Estadual, através da celebração de instrumentos de repasse.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp79.htm
P á g i n a 73 | 189
As formas de repasse do Departamento Penitenciário Nacional se darão
pela celebração de instrumentos de transferências voluntárias, as quais estão
amparadas precipuamente na Lei de Responsabilidade Fiscal, Decreto Lei nº 200,
de 25 de fevereiro de 1967, na Lei de Licitações e Contratos, bem como na Lei
de Diretrizes Orçamentárias, nas Leis Orçamentárias Estaduais, nos decretos
e portarias instituídos pelos órgãos de gestão e controle federais.
Os recursos do FUNPEN são repassados mediante a
descentralização orçamentária, por meio de instrumentos de repasse
de transferências voluntárias denominados contratos de repasse,
convênios, termos de parceria, termo de execução descentralizada e
demais instrumentos congêneres, os quais são aplicados e geridos em
diversas áreas de atuação, das quais destacamos: construção, reforma,
ampliação e aprimoramento de estabelecimentos penais; manutenção
dos serviços penitenciários; formação, aperfeiçoamento e
especialização do serviço penitenciário; e aquisição de material
permanente, equipamentos e veículos especializados, imprescindíveis
ao funcionamento dos estabelecimentos penais.
Baseado nos princípios constitucionais, o advento do Decreto nº 6.170, de
25 de julho de 2007, instituiu as normas relativas às transferências voluntárias, o
qual estabelece as diretrizes para a fiel execução dos recursos, por meio do qual
estabeleceu a edição de ato conjunto com os Ministérios da Fazenda, do
Planejamento, Orçamento e Gestão e do Controle e da Transparência.
A criação desse ato conjunto culminou na instituição da Portaria
Interministerial nº 127, de 29 de maio de 2008, revogada pela Portaria
Interministerial nº 507, de 24 de novembro de 2011, a qual dita todas as regras
relativas à gestão dos recursos públicos repassados por meio de instrumentos de
repasse, conforme dispõe o artigo primeiro da referida norma, a qual regula os
convênios, os contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados pelos
órgãos e entidades da Administração Pública Federal com órgãos ou entidades
públicas ou privadas sem fins lucrativos, para a execução de programas, projetos
e atividades de interesse recíproco, que envolvam a transferência de recursos
financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União.
P á g i n a 74 | 189
Trazendo à baila os tipos de repasse instituídos na Portaria nº
507/2011, conceituam-se os instrumentos de repasse da seguinte forma:
Convênio
Acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que discipline a transferência
de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou
entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado,
órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta
ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando a execução
de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço,
aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua
cooperação.
Contrato de Repasse
Instrumento administrativo, de interesse recíproco, por meio do qual a
transferência dos recursos financeiros se processa por intermédio de instituição
ou agente financeiro público federal, que atua como mandatário da União.
Termo de Parceria
Instrumento jurídico previsto na Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, para
transferência de recursos para organizações sociais de interesse público.
Termo de Execução Descentralizada
Instrumento por meio do qual é ajustada a descentralização de crédito entre
órgãos e/ou entidades integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social
da União, para execução de ações de interesse da unidade orçamentária
descentralizadora e consecução do objeto previsto no programa de trabalho,
respeitada fielmente a classificação funcional programática.
O Termo Execução descentralizada, anteriormente denominado Termo de
Cooperação, instrumento de repasse descentralizado derecursos a órgãos de
mesma esfera, foi recentemente instituído pelo Decreto nº 8.180, de 30 de
dezembro de 2013 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/D8180.htm),
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/D8180.htm
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em alteração ao Decreto nº 6.170/2007, o qual possui as seguintes finalidades:
• Os programas, projetos e atividades sejam de interesse recíproco entre
as partes em regime de mútua colaboração;
• As atividades específicas pela unidade descentralizada sejam em
benefício da unidade descentralizadora dos recursos;
• As execuções de ações que se encontram organizadas em sistema sejam
coordenadas e supervisionadas por um órgão central; e
• O ressarcimento de despesas seja feito.
Os recursos são descentralizados de forma detalhada, com a classificação
das naturezas das despesas, as quais determinam a forma como será aplicado
de modo a garantir a fiel execução das contas estabelecidas na Lei de
Responsabilidade Fiscal.
De acordo com a Portaria nº 448, de 13 de setembro de 2002, entende
como material de consumo e permanente da seguinte forma:
Material de Consumo
Aquele que, em razão de seu uso corrente e da definição da Lei nº
4.320/64, perde normalmente sua identidade física e/ou tem sua utilização
limitada a dois anos; e
Material permanente
Aquele que, em razão de seu uso corrente, não perde a sua identidade
física e/ou tem uma durabilidade superior a dois anos.
Todos os recursos repassados em cumprimento às já citadas normas
deverão ser aplicados em caderneta de poupança quando não utilizados, ou
aplicados em fundos de aplicação financeira de curto praz, ou operação de
mercado aberto lastreada em títulos da dívida pública, quando a utilização desses
recursos se verificar em prazos menores que um mês.
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A norma traz ainda para os instrumentos celebrados por meio de
convênios que, quando da conclusão, denúncia, rescisão ou extinção
do convênio, os saldos financeiros remanescentes, inclusive os
provenientes das receitas obtidas das aplicações financeiras
realizadas, serão devolvidos à entidade ou órgão repassador dos
recursos, no prazo improrrogável de trinta dias do evento sob pena da
imediata instauração de tomada de contas especial do responsável,
providenciada pela autoridade competente do órgão ou entidade titular
dos recursos.
Primando pela transparência na execução dos recursos descentralizados,
o Decreto nº 6.170/2007, por meio da Portaria lnterministerial nº 127/2008,
revogada pela Portaria nº 507/2011, instituiu o Sistema de Gestão de Convênios
e Contratos de Repasse (SICONY), o qual é acessado e operacionalizado via rede
mundial dos computadores, a Internet.
Desse modo, a celebração, a liberação de recursos, o acompanhamento da
execução e a prestação de contas de convênios, contratos de repasse e termos
de parceria serão registrados no SICONY.
P á g i n a 77 | 189
Finalizando....
Neste módulo aprendemos que:
• A finalidade da política pública é melhorar a vida da sociedade como um
todo. Uma política pública não deve ser contraproducente, isto é, não pode
ter mais resultados negativos que positivos, sendo que estes devem
superar em larga margem a quantidade de resultados negativos.
• A finalidade das políticas públicas de educação consiste em melhorar a
qualidade e a quantidade de aquisição de conhecimentos das pessoas para
a vida em comum através da educação formal, informal e profissionalizante.
• Já a finalidade das políticas públicas de saúde tem como objetivo melhorar
as condições de vida das pessoas por meio da prevenção de enfermidades,
bem como curar os cidadãos que vierem a ser acometidos por doenças.
• A regra é que alguém somente seja preso criminalmente após ser
considerado culpado por um crime, através de uma sentença penal
condenatória com trânsito em julgado. Mas muitos presos não possuem
condenação. Eles estão aguardando o seu julgamento, ou seja, são
inocentes, pois não foram condenados e estão à espera de sua sentença,
que pode ser, inclusive, de absolvição.
• A população carcerária com prisão sem trânsito em julgado, corresponde
aproximadamente 40% dos presos no Brasil e está sujeita às políticas
penitenciárias.
• Todo o sistema e todas as políticas penitenciárias devem estar voltados a
esse fim: Ressocializar o condenado para que retorne à sociedade em
condições de conviver sem praticar novos delitos.
• O correto é dizer que as penas restritivas de direitos são penas alternativas,
mas as penas alternativas não são todas as práticas alternativas de que se
dispõe. As penas restritivas de direitos não se resumem a prestação de
serviços à comunidade. Podem ser diversas outras e até mesmo a multa
(com a particularidade de que esta não se converte em pena privativa de
liberdade se for descumprida). Podem ser de prestação pecuniária à vítima
ou entidade pública ou particular de fins sociais, perda de bens e valores,
interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana.
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• A justiça restaurativa, que também teve sua utilidade cientificamente
comprovada, colabora para: Redução do número de sentenças e custos
nos tribunais; Facilitação do acesso à justiça; Aumento da qualidade da
justiça; e Pacificação Social.
• Mesmo reparando o dano, o agente é processado e condenado, e sua pena
é apenas reduzida. Todavia, a sociedade já está madura o suficiente para
reconhecer que em tais casos é possível a extinção da punibilidade do
infrator, impedindo-se o início do processo penal
• O “período de prova” consiste em suspender o andamento do processo
penal já iniciado, por um determinado período, durante o qual o réu fica
sujeito a determinadas condições, caso as condições sejam cumpridas até
o final do “período de prova”, extingue-se a punibilidade do acusado e
extingue-se o processo, essa suspensão condicional é também chamada
de “sursis processual”.
• A todas essas alternativas à prisão preventiva pode ser combinada, tanto
monitoração eletrônica como mecanismo de controle.
• A ambiência profissional exige instalações próprias para os profissionais,
as quais assegurem o exercício pleno da profissão. São necessários todos
os espaços específicos e indispensáveis para tal atividade.
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MÓDULO 2 - ASSISTÊNCIA E GÊNERO NO SISTEMA
PRISIONAL
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
A prisão é um espaço de angústia e paixões. É também uma instituição
totalizante e despersonalizadora. Aqueles que estão dentro de uma unidade
prisional tendem a ceder parte de sua individualidade para o todo. Costuma-se
dizer que há perda da personalidade do detento ou de parte dela.
Isso ocorre porque a convivência forçosa num mesmo ambiente com
diversas pessoas, diferentes entre si e cada qual com sua individualidade será
conflituosa caso todos mantenham certos comportamentos. Isso significa que os
presos precisam renunciar uma parcela de sua individualidade, em maior ou
menor grau, a fim de que o convívio dentro da prisão seja menos violento.
OBJETIVOS
Esperamos que você, ao final do estudo deste Módulo, seja capaz de:
• Identificar a questão do gênero no sistema;
• Compreender as relações entre gênero, natureza do crime e condições da
pessoa presa.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Na tentativa de organizar a discussão, este Módulo está dividido em nove itens:
Aula 1 - O gênero no sistema prisional
Aula 2 - O gênero feminino
Aula 3 - O gênero conforme a opção afetiva
Aula 4 - Separação etária
Aula 5 - Separação conforme a situação jurídica
Aula 6 - Separação conforme a natureza do crime
Aula 7 - Assistência Social e Apoio ao Egresso
Aula 8 - Gênero no Sistema Prisional
Aula 9 - Práticas Alternativas Penais e Monitoração Eletrônica
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Aula 1 - O GÊNERO NO SISTEMAPRISIONAL
O perfil da personalidade da pessoa presa em geral é o de um indivíduo
que dificilmente cede. Logo, o convívio entre pessoas presas gerará violência,
conflitos e violações.
Uma medida que tende a diminuir a violência e a alienação
pessoal de si mesmo, isto é, que ajuda a diminuir os conflitos e a perda
de individualidade, é o agrupamento de pessoas presas com
características semelhantes ou comuns. Estas características podem
ser físicas, étnicas, psicológicas, sexuais, etárias etc.
As pessoas com as mesmas características formam grupos que podem
representar um gênero. A expressão gênero é vaga. Ademais, é uma noção
tridimensional, pois emerge do conceito de gênero, das relações de gênero e do
sistema de gênero. Trata-se de um conceito nada simples.
Não vamos ingressar na tormentosa questão do que significa gênero.
Interessa a nós, aqui, sublinhar que o gênero representa a forma e o modo de ser
de algo. A transposição dessa ideia para o meio carcerário ensina que os grupos
de detentos devem ser separados conforme suas características comuns, pois
isso assegurará maior ressocialização, graças à menor violência interna e menor
perda da individualidade de cada pessoa presa. Certamente, trará maior
segurança à unidade prisional e um ambiente de trabalho menos tenso.
Costuma-se identificar a questão de gênero no sistema prisional com a
problemática sexista, isto é, relacioná-la à problemática do encarceramento
feminino. Embora a prisionalização de mulheres seja um grave e grande problema
do sistema prisional, é apenas um dos problemas de gênero.
Vejamos, assim, primeiramente a questão de gênero feminino e, a seguir,
outras.
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Aula 2 - O GÊNERO FEMININO
A Constituição Federal, já em seu Artigo 5º, positiva garantias em favor da
presa. Consta no inciso XLVIII que:
"a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,
de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo da
pessoa presa".
As garantias inscritas no Artigo 5º da Constituição Federal revelam também
a relevância do tratamento de gênero adequado no sistema prisional, que assumiu
nível e dignidade constitucional.
O aumento de prisões de mulheres é desproporcionalmente maior em
relação a dos homens. O motivo é, principalmente, a prática de tráfico de drogas
por mulheres. As pesquisas são unânimes ao concluir que os motivos que têm
levado ao aumento da criminalidade entre mulheres é a pobreza.
O tratamento penal que é dado a uma pessoa do sexo feminino não pode
ser igual a uma pessoa do sexo masculino. Em todos os aspectos deve ser
adequado ao gênero feminino. Assim, os profissionais da unidade prisional devem
ser, em sua grande maioria, do sexo feminino. Os homens eventualmente
trabalhando em uma unidade prisional feminina deverão estar lotados em
atividades que exijam menor contato com as detentas. O ideal é que todos os
profissionais que trabalham diretamente no trato penitenciário sejam femininos.
Em tema de atenção à saúde, não basta um médico clínico geral atuando
em uma unidade prisional feminina. É preciso um profissional ginecologista e
exames de rotina específicos devem ser realizados periodicamente.
Questões como visita íntima e preservação dos laços de família
são especialmente importantes durante o aprisionamento feminino. Não
podem ser esquecidos os papéis importantes e de referência que uma
mãe ou dona de casa exercem na dinâmica familiar.
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O Artigo 5º, inciso L da Constituição Federal consigna que "às presidiárias
serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período de amamentação". Logo, deve haver espaço apropriado para
que as mães presas possam estar com os filhos até os seis meses de vida.
É de especial relevância a necessidade de educação,
profissionalização e trabalho dispensados à população carcerária
feminina. Tais tratamentos aumentarão a probabilidade de emprego
para as egressas, reduzirão os níveis de reincidência e melhorarão a
sociabilidade. O trabalho realizado já dentro da unidade prisional
permitirá ganhos financeiros e remição.
As atividades de educação, profissionalização e trabalho tem o
poder de, principalmente, conferir maior independência à egressa, a fim
de que consiga livrar-se da dependência ou submissão ao gênero
masculino.
Podemos resumir o tratamento penal para o gênero feminino com a
conclusão de que se trata de processo diferenciado, com especial atenção à
saúde, à manutenção dos laços de família e ao asseguramento de meios que
possibilitem à egressa alcançar independência.
Aula 3 - O GÊNERO CONFORME A OPÇÃO AFETIVA
Ainda em tema de questões de gênero de ordem sexista, outro aspecto
importante está no aprisionamento de pessoas com opções sexuais
quantitativamente minoritárias, que designaremos por LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais e transexuais). Trata-se de grupo que frequentemente é vitimizado
quando inseridos nas celas com presos de gênero masculino ou feminino. Por
isso, é preciso que a população LGBT tenha o seu encarceramento realizado em
ala ou celas separadas das demais.
Mas não é só, o tratamento respectivo também deve ser adequado à opção
afetiva desses indivíduos. Caso uma dessas pessoas seja inserida em cela
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comum, isto é, juntamente com os demais encarcerados de opões
heterossexuais, surge alta probabilidade de que sejam praticados crimes sexuais
contra os primeiros, além de tumultos e violências de toda ordem.
Não se esqueça de que a dominação sexista entre os seres humanos é tão
antiga quanto a história do homem. Especialmente no ambiente carcerário,
qualquer forma de dominação entre detentos deve ser evitada, a fim de se
assegurar melhor convivência, maiores condições de ressocialização e menor
violência.
Atualmente, existe norma que regulamenta o tratamento que
deve ser dado à comunidade LGBT nas prisões. Trata- se de Resolução
conjunta nº 01, de 15 de abril de 2014, do Conselho Nacional de
Combate à Discriminação (CNCD/LGBT) e pelo Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). A referida norma assegura,
entre outros direitos, que os presos de opção LGBT tenham
"oferecidos espaços de vivência específicos" para a garantia das
suas integridades físicas e psicológicas, sendo que a transferência da
pessoa presa para o espaço de vivência apropriado fica condicionada à
expressa manifestação de vontade do interessado.
Também as pessoas transexuais masculinas e femininas devem ser
encaminhadas para as unidades prisionais femininas. O Estado deverá assegurar
às mulheres transexuais tratamento igual ao das demais mulheres em privação
de liberdade.
Ainda conforme a Resolução, a pessoa travestis ou transexual em privação
de liberdade tem direito de ser chamada pelo seu nome social, de acordo com a
sua identidade de gênero.
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Figura 21 - 16ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Brasil, 2012
Fonte: www.wikipedia.org.br
Aula 4 - SEPARAÇÃO ETÁRIA
A Constituição Federal de 1988, a Convenção Americana de Direitos
Humanos e a Lei de Execução Penal determinam que os presos sejam separados
conforme: o sexo; a idade; a situação jurídica (definitivos e provisórios); e a
natureza do delito.
Da primeira (separação conforme o sexo) já tratamos. As demais
separações obrigatórias são, também, ditadas em razão do gênero. Como já
dissemos acima: a questão de gênero em tema prisional é mais conhecida como
aquela respectiva ao encarceramento feminino. Todavia, existem outras muito
importantes. Vejamos:
A separação dos presos conforme a idade é obrigatória e está prevista na
Constituição Federal em seu Artigo 5º, inciso XLVIII, acima citado. A razão de ser
deste dispositivo está na tendência natural que o ser humano tem para agrupar-
se em razão da faixaetária.
É da natureza do homem formar grupos de pessoas cujas idades dos
integrantes sejam mais próximas entre si. Estes grupamentos convivem de modo
mais pacífico e ao mesmo tempo constituem um meio no qual as individualidades
http://www.wikipedia.org.br/
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são mais preservadas, pois entre os seus membros as preferências costumam ser
semelhantes, assim como as abjeções, os costumes, os valores etc.
Ademais, grupos mais jovens, fortes e impulsivos, serão mais
violentos e tentarão dominar os demais pela força, enquanto grupos de
idade mais avançada tentarão subjugar os demais grupos usando a
força da argumentação, isto é, a experiência de vida. Uma vez que deve
ser evitada toda forma de dominação entre detentos em uma unidade
prisional, a separação dos detentos conforme a idade é medida
fundamental.
Recomenda-se que sejam separados os grupos conforme a faixa etária:
• dos 18 aos 21 anos;
• dos 22 aos 30 anos;
• dos 31 aos 40 anos;
• dos 41 aos 55 anos;
• dos 55 aos 69 anos; e
• dos 70 anos em diante.
Essa é uma recomendação conforme fases de maturidade psicológica e
capacidade de interações e contatos sociais. Veja bem, é uma recomendação e
nada impede que outros modelos sejam adotados, desde que preservem as
semelhanças comportamentais dos grupos etários. Por exemplo, existem
classificações de apenas três níveis:
• dos 18 aos 21anos;
• dos 22 anos aos 69 anos; e
• dos 70 anos em diante.
Nota-se que, no caso da separação obrigatória da mulher e do preso maior
de 70 anos, a LEP dá providência específica:
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"Artigo 82, § 1º - A mulher e o maior de sessenta anos,
separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio
e adequado à sua condição pessoal".
Aula 5 - SEPARAÇÃO CONFORME A SITUAÇÃO JURÍDICA
A separação conforme a situação jurídica (presos provisórios e presos
definitivos) decorre da Lei de Execução Penal (Artigo 84) e, antes dela, da
Convenção Americana de Direitos Humanos (Artigo 5°, nº 4).
A razão desta separação reside no fato de que o preso provisório é um
inocente, isto é, é uma pessoa que está respondendo a um processo criminal no
qual sofre uma acusação e onde está se defendendo. Logo, não é uma pessoa
condenada e pode ser que não o seja, isto é, pode ser que venha a ser absolvida
no julgamento ao fim do processo.
A separação entre tais pessoas presas não devem ser apenas físicas. O
tratamento penal também deve ser diferenciado. O indivíduo em relação a quem
se tem a certeza de ter praticado um delito deve receber um tratamento de
ressocialização que objetive sua melhoria pessoal em relação ao injusto praticado.
Diversamente, o indivíduo que aguarda julgamento não pode ser
apontado como alguém que praticou um delito. Logo, o respectivo trato
deve objetivar uma ressocialização voltada à política de redução de
danos. Uma vez que toda forma de encarceramento provoca algum
grau de dessocialização, o preso provisório tem que ser alvo de ações
que impeçam sua dessocialização ou que somente a permitam no
menor grau.
Enquanto o preso definitivo tem que ser tratado como delinquente autor de
ato infracional, o preso provisório tem que ser tratado como inocente. Isso é um
desafio para todos que atuam junto ao sistema prisional. Não deve ser permitida
convivência intracarcerária entre pessoas que comprovadamente praticaram
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delitos e pessoas que não foram condenadas e devem ser tratadas do modo
respectivo. Isso exige especial esforço do gestor e dos profissionais do sistema
prisional.
O contato entre ambos os grupos significa a mistura indevida de gêneros,
com todas as mazelas que este tipo de contato gera, conforme acima exposto:
dominação, violência, prejuízos de ressocialização etc.
Aula 6 - SEPARAÇÃO CONFORME A NATUREZA DO CRIME
Afinal, o último aspecto da questão de gênero que trataremos diz respeito
à natureza do crime praticado. Os presos devem ser separados conforme a
natureza do delito praticado.
A expressão mais correta é conforme o tipo de delitos praticados, pois a
natureza de todos os delitos é a mesma: são todos ilícitos penais.
Essa separação também de gênero objetiva que os presos que praticaram
um determinado tipo de crime não aprendam, nem ensinem práticas ilícitas a
outros. A finalidade é, também, que estes presos não absorvam comportamentos
criminosos ou culturas de outros grupos.
Igualmente favorece a manutenção da ordem na unidade
prisional. Um exemplo bem conhecido ajudará você a compreender
melhor. O que acontece se misturarmos presos condenados ou
acusados por crimes de estupro com detentos encarcerados por outros
tipos de crimes? Os presos que respondem por crimes sexuais serão
agredidos ou mortos pelos demais.
Quando se fala em separação de presos conforme a natureza do delito
nada mais se faz que determinar uma boa prática ensinada pela criminologia, que
é evitar a escolarização do criminoso, ao mesmo tempo que dar maior segurança
à unidade prisional.
O melhor a fazer é classificar o preso no momento de seu ingresso na
unidade prisional, a fim de se traçar o perfil criminológico deste indivíduo. Esta
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classificação permitirá agrupar os presos conforme suas características
desviantes e conforme suas respectivas personalidades. Trata-se de um exame
inicial, realizado por uma equipe multidisciplinar, que muito ajudará para que se
conheça melhor o detento e situá-lo no universo dos demais detentos consoantes
suas características pessoais.
Aula 7 - ASSISTÊNCIA SOCIAL E APOIO AO EGRESSO
A prisão prevista no Art. nº 32, inc. I, do Código Penal, como pena “privativa
de liberdade”, além de seu caráter punitivo, é colocada pelo discurso jurídico como
necessária para que haja a ressocialização do cidadão que praticou uma conduta
previamente definida como criminosa. Cabe às instituições penais e penitenciárias
a aplicação de políticas que promovam este ideal ressocializador inicialmente
proposto. Assim, a reinserção social de um condenado só poderá ocorrer a partir
do momento em que ele passar por este processo de reeducação e reintegração
na sociedade.
Essas ações de reintegração social de presos podem ser
definidas como um conjunto de intervenções técnicas, políticas e
gerenciais executadas durante e após o cumprimento das penas ou
medidas de segurança, no intuito de criar uma aproximação entre
Estado, comunidade e os presos, como forma de lhes reduzir a
vulnerabilidade frente ao sistema penal.
Partindo-se desse entendimento, vê-se que um bom tratamento penal não
pode residir apenas na abstenção da violência física ou na garantia de boas
condições para a custódia do indivíduo, em se tratando de pena privativa de
liberdade. Deve-se, antes disso, consistir em um processo de superação de uma
história de conflitos, por meio da promoção dos seus direitos e da recomposição
dos seus vínculos com a sociedade, visando criar condições para a sua
autodeterminação responsável.
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Nas palavras do ilustre doutrinador René Ariel Dotti:
“O sentido imanente de reinserção social deve ser
compreendido como ajuda ou apoio a fim de que o
condenado possa, livremente, eleger seus caminhos futuros.
O fim da reinserção social deve ser entendido como
possibilidade de participação nos sistemas sociais e não
como reforma ou metamorfose da personalidade”. (DOTTI,
René Ariel. Execução Penal no Brasil: aspectos
constitucionais e legais. ln: ARAUJO JUNIOR, João Marcello
(Org.). Sistema penal para o terceiro milênio. 2. ed. Rio de
Janeiro: Revan, 1991, p. 80-101.)
Dentre as políticas de reintegração social previstas na Lei nº 7.210/84 - Lei
de Execução Penal -, destaca-se a assistência ao egresso expressa nos artigos
25, 26 e 27, que dispõem:
“Art. 25 - A assistência ao egresso consiste:
I- na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;
lI - na concessão, se necessário, de alojamento e
alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de
02 (dois) meses.
Parágrafo único - O prazo estabelecido no inciso lI poderá ser
prorrogado uma única vez, comprovado, por declaração do
assistente social, o empenho na obtenção de emprego.
Art. 26 - Considera-se egresso para os efeitos desta Lei:
I - o liberado definitivo, pelo prazo de 01(um) ano a contar da
saída do estabelecimento;
lI - o liberado condicional, durante o período de prova.
Art. 27 - o serviço de assistência social colaborará com o
egresso para a obtenção de trabalho”.
Nota-se que a primeira etapa desta política é a orientação e apoio para
reintegrar o egresso à vida em liberdade. Esta assistência deve abranger aspectos
de auxílio material, moral, psicológico e jurídico, visando à reintegração social do
egresso e, principalmente, a prevenção contra a reincidência criminal.
O diploma legal ainda prevê a concessão, se necessária, de alojamento e
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alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo máximo de 02 (dois)
meses. Tais casos são permitidos em caráter emergencial, quando o egresso não
possui vínculos familiares ou lugar para se abrigar.
Tais prioridades encontram correspondência na Teoria da Hierarquia de
Necessidades de Maslow, criada pelo psicólogo americano Abraham Maslow,
que enuncia que o ser humano possui uma hierarquia de necessidades, descritas
em um gráfico piramidal, onde a base é composta das necessidades primárias/
fisiológicas, como respiração, alimentação, água e sono, e o ápice da pirâmide
enuncia a realização pessoal como ser humano, conforme demonstrado a seguir:
Figura 22 - Pirâmide da Hierarquia de necessidades deMaslow
Fonte: SDC/EaD/Segen
Obviamente, não se busca a realização pessoal do egresso como ser
humano, mas percebe-se que a assistência destinada ao recém libertado engloba
as necessidades básicas descritas por Maslow, como alimentação, abrigo e
principalmente a segurança do emprego.
No tocante ao emprego, nota-se que no contexto social atual uma das
maiores dificuldades vivenciadas pelo egresso é a reinserção no mercado de
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trabalho. Além da baixa escolarização e da inadequada, e até inexistente,
capacitação profissional, o egresso do sistema prisional precisa lidar com alta
carga de preconceito da sociedade em razão de seu passado delituoso. Tal
cenário dificulta e até impossibilita a completa reintegração social do liberto,
aumentando consideravelmente o risco de reincidência criminal.
A Lei de Execução Penal prevê ainda alguns órgãos que colaboram neste
processo de reintegração social do egresso, como o Conselho Penitenciário, cujas
incumbências previstas no Art. nº 70 da Lei de Execução Penal contemplam a
supervisão da assistência aos egressos, e os Patronatos, cujo objetivo de prestar
assistência aos albergados e egressos encontra-se expresso no Art. Nº 78 do
referido diploma legal.
O patronato é um órgão público ou particular de assistência ao
condenado em regime aberto (albergado) e ao liberado definitivo, pelo
prazo de 1 ano a contar da saída do estabelecimento, e ao liberado
condicional, durante o período de prova. Sua missão está
umbilicalmente ligada à minimização da marginalização social do preso,
em especial após a sua saída do estabelecimento prisional. Afora a
função de assistência aos albergados e aos egressos, o patronato tem
incumbências sociais e fiscalizadoras, destacando-se: orientar os
condenados à pena restritiva de direitos; fiscalizar o cumprimento das
penas de prestação de serviço à comunidade e de limitação de fim de
semana; colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da
suspensão e do livramento condicional.
Fonte: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/09/21/qual-
finalidade-patronato-na-execucao-penal/
Especificamente sobre os Patronatos, Márcia Vasconcellos esclarece:
Uma das instituições mais adequadas para o processo
de recuperação dos condenados é o Patronato. O
Patronato faz parte do processo de reintegração social
do condenado, principalmente no momento em que
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/09/21/qual-finalidade-patronato-na-execucao-penal/
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/09/21/qual-finalidade-patronato-na-execucao-penal/
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deixa o estabelecimento penal. Tem como finalidade
precípua o auxílio ao egresso, no seu novo caminho,
para que possa superar as dificuldades iniciais de
caráter econômico, familiar ou de trabalho que
normalmente surgem nessa fase. (VASCONCELLOS,
Márcia. A Lei de Execução Penal e a questão da
assistência ao egresso. Âmbito Jurídico, Rio Grande
do Sul, VI, n.12, fev. 2003.)
Ao analisar as principais demandas relativas à assistência aos egressos -
abrigo, alimentação, assistência social, jurídica e psicológica, bem como
reinserção no mercado de trabalho, conclui-se pela urgente necessidade que os
servidores públicos se conscientizem da existência destas necessidades e,
principalmente, dos desafios advindos do processo de reintegração social de
egressos do sistema prisional. Mais ainda, é preciso preparar e capacitar estes
operadores públicos para que eles possam realmente contribuir, de forma
eficiente, para a efetivação de tal processo, visando à completa ressocialização
do liberto, a não reincidência criminal e, em última instância, a formação de uma
sociedade mais segura e pacífica, com um menor índice de criminalidade.
Por fim, é importante compreender a necessidade de articulação da política
penitenciária com o Sistema Único de Assistência Social. A atribuição dos
profissionais, que atuam no âmbito penitenciário e nas políticas de assistência
social, tem como desafio a não dicotomia entre atenção individual X atenção
coletiva, entre saberes X práticas profissionais, enfretamento as diversas
demandas individuais, familiares e sociais que envolvem o encarceramento.
Os profissionais técnicos, que atuam em unidades prisionais, assim como
aqueles que trabalham nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS)
e nos Centros de Referências Especializadas de Assistência Social (CREAS),
devem realizar protocolos de fluxos de trabalhos conjuntos para atender diversas
situações, como, por exemplo:
• Inserção nos programas e benefícios socioassistenciais, de
qualificação profissional e de inclusão produtiva para a população
carcerária, egressos do sistema prisional e/ou suas famílias - as
equipes devem mapear, sensibilizar, mobilizar, encaminhar e acompanhar
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este público, com vistas a facilitar o acesso aos programas, cursos,
atividades produtivas, entre outros direitos.
• Preparação da família extensa que irá receber a criança, durante o
período de afastamento da mãe que permanece em situação de
privação de liberdade - as equipes devem atuar de forma conjunta para
que haja identificação e acompanhamento prévio da família extensa
enquanto a criança está inserida, temporariamente, no ambiente
prisional,com vistas ao fortalecimento do vínculo familiar;faz-se necessário,
ainda, haver um acompanhamento técnico para, quando possível,
fortalecer o vínculo da criança com a mãe,por meio de visitas agendadas
na unidade prisional.
Para a obtenção de maiores informações, a Coordenação de Apoio à
Assistência Jurídica, Social e à Saúde, subordinada à Coordenação-Geral de
Reintegração Social e Ensino da Diretoria de Políticas Penitenciárias do
Departamento Penitenciário Nacional, está à disposição por meio do e-mail:
coars@mj.gov.br.
Aula 8 - GÊNERO NO SISTEMA PRISIONAL
Ao longo do último século, a criminalidade feminina tem se mostrado mais
nítida e aparente, o que vem despertando a preocupação de vários setores e
atoresda sociedade. Porém, os estudos sobre o assunto ainda são restritos e
pontuais, considerando que o quantitativo de mulheres presas, em números
absolutos, é significativamente menor que a quantidade de homens presos. As
causas mais apontadas para o aumento da criminalidade feminina no Brasil, entre
várias outras, têm íntima relação com a pobreza, marginalização e o tráfico de
drogas.
mailto:coars@mj.gov.br
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Figura 23 - Fragilidade Feminina
Fonte: SCD/EaD/Segen
À medida que a mulher se desenvolve socialmente, politicamente e
economicamente, ocupando posições anteriormente consideradas masculinas, na
busca pela igualdade e independência, a proporção de seu envolvimento com a
criminalidade se eleva, o que potencializa o agravamento da prisão de mulheres,
sobretudo por tráficos não vinculados às maiores redes de organização criminosa.
Conforme você já viu, a Portaria lnterministerial nº 210 de 2014 procura
instituir políticas específicas para o gênero feminino. Entretanto, há de se salientar
que as mulheres possuem necessidades, demandas e peculiaridades que são
específicas ao gênero, que podem ser agravadas pelo seu histórico de violência
familiar, abuso de drogas, entre outros aspectos.
Apesar de o número de mulheres presas ser relativamente baixo,
há um crescimento acentuado desta população. Dados do INFOPEN
revelam que, nos últimos treze anos, o crescimento carcerário feminino
foi de 257%, enquanto o crescimento carcerário masculino, no mesmo
período, foi de 141%.
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Em geral, as mulheres presas são negras, jovens, mães, chefes de família,
provenientes de extratos sociais desfavoráveis economicamente, possuem baixa
escolaridade, normalmente se vinculam ao tráfico de drogas e ocupavam trabalho
informal antes da prisão.
Por fim, a prisão potencializa vulnerabilidades físicas, psíquicas, sociais ou
econômicas desta população. Assim, percebe-se a urgência da atuação integrada
entre os diversos atores envolvidos com a execução da pena, visando a melhoria
do tratamento penal, com base nos direitos humanos, para garantir os direitos das
mulheres encarceradas.
a) Histórico: Projeto Efetivação dos Direitos das Mulheres no Sistema Penal
Preocupado com a realidade das mulheres presas no Brasil, o
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) criou, em 2012, o Projeto
Efetivação dos Direitos das Mulheres no Sistema Penal e, em seguida, instituiu
uma comissão específica para tratar do assunto, além de ter fomentado a criação
de um grupo de trabalho interministerial, composto por 11 ministérios e várias
secretarias nacionais, visando a transversalidade e assunção de
responsabilidades entre os órgãos.
As atribuições primordiais da Comissão do Projeto Efetivação dos Direitos
das Mulheres no Sistema Penal são:
I - aperfeiçoamento permanente e modernização da política de garantia dos
direitos das mulheres encarceradas;
lI - realização de pesquisas, estudos e estatísticas voltadas ao encarceramento
feminino;
IlI - construção, adequação e reforma de unidades prisionais femininas;
IV - fortalecimento e ampliação de políticas de acesso aos direitos das mulheres
presas;
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V - estruturação de rede social do encarceramento feminino, formada por
entidades governamentais e não governamentais; e
VI - articular ações com vistas ao intercâmbio de boas práticas na seara do
encarceramento feminino.
As principais entregas do Grupo de Trabalho lnterministerial são:
I - avaliar e propor atualizações, ações integradas, estratégias de implementação
e de monitoramento das políticas públicas destinadas às mulheres em situação
de privação de liberdade, restrição de direitos, tomando por base o relatório
intitulado "Reorganização e Reformulação do Sistema Prisional Feminino",
elaborado pelo Grupo de Trabalho lnterministerial instituído pelo Decreto de 25 de
maio de 2007; e
II - efetuar a análise técnico-administrativa dos atos normativos e das propostas
legislativas relacionadas às políticas públicas a que se refere o inciso I.
Objetivando o aprimoramento do sistema penal feminino, o DEPEN, com
apoio dos ministérios envolvidos e unidades federativas, elaborou a Política
Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional, instituída por meio da Portaria lnterministerial
MJ/SPM nº 210/14, de 16 de janeiro.
b) Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional
A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional incorpora os desafios da integralidade
da política criminal e penitenciária, associada com as políticas sociais de proteção
à mulher e aos seus filhos, agregando, assim, um conjunto de ações dos diversos
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órgãos, em prol da melhoria do encarceramento de mulheres, bem como do
processo de reformulação do sistema penal.
A política define, ainda, os princípios, as diretrizes, os objetivos e as
propostas consensuadas, de corresponsabilidade de gestão entre diversos
órgãos, voltadas à melhoria da situação do sistema criminal e penitenciário, com
base nos normativos afetos às mulheres presas, egressas e seus filhos, em
âmbito nacional e internacional.
Essa política nacional, elaborada democraticamente com a
participação de órgãos do governo federal, representantes das
secretarias estaduais de administração prisional e da sociedade civil, foi
publicada em janeiro de 2014, funcionará como base para a elaboração,
pelos Estados, das políticas estaduais para as mulheres presas e
egressas.
Dentre as metas da Política Nacional, destacam-se:
Bancos de dados nacional e estaduais
Há a necessidade de aprimoramento dos bancos de dados nacional e
estaduais, no que concerne à questão de gênero, com vistas à identificação da
presa, sua localização, bem como conhecimento do perfil, para o desenvolvimento
de políticas e ações específicas.
Direitos fundamentais
O DEPEN incentiva os órgãos estaduais de administração prisional para
que promovam a efetivação dos direitos fundamentais no âmbito dos
estabelecimentos prisionais, levando em conta as peculiaridades relacionadas a
gênero, cor ou etnia, orientação sexual, idade, maternidade, nacionalidade,
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religiosidade e deficiências física e mental, bem como aos filhos inseridos no
contexto prisional.
Veja alguns exemplos de Direitos fundamentais:
I. Assistência material, alimentação e vestuário adequados.
II. Acesso à saúde, inclusive a saúde mental, em consonância com as políticas
públicas de saúde.
III. Acesso à educação, associado a ações complementares de cultura,
esporte, inclusão digital, educação profissional, fomento à leitura e a
programas de implantação, recuperação e manutenção de bibliotecas.
IV. Acesso à assistência jurídica integral para garantir a ampla defesa e o
contraditório.
V. Acesso a atendimento psicossocial desenvolvido no interior das unidades
prisionais.
VI. Assistência religiosa com respeito à liberdade de culto e de crença.
VII. Acesso à atividade laboral com desenvolvimento de ações que incluam,
entre outras, a formação de redes cooperativas e a economia solidária.
VIII. Atenção à gestação, à maternidade e à infância na prisão, com respeito e
atenção aos normativos afetos a essa população.
IX. Direitos das presas estrangeiras, por serem são titulares de diretos e
deveres comuns às presas nacionais.
X. Direitos das presas provisórias, a partir da adoção de medidas adequadas,
de caráter normativo ou prático, para garantir sua segurança e integridade
física, além da garantia da custódia em local adequado e do direito ao voto.
c) Melhoria da estrutura física e aparelhamento
Diversosestabelecimentos penais que custodiam mulheres levam uma
herança histórica por serem, na grande maioria dos casos, adaptações de
presídios masculinos ou adaptações de prédios que antes eram utilizados para
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outra finalidade, com total ausência de planejamento, seja no âmbito arquitetônico
ou no campo dos serviços penais.
Atualmente, grande maioria dos 80 estabelecimentos prisionais
exclusivos femininos é adaptada e não possui a estrutura condizente
com as necessidades da mulher presa, dos filhos que se encontram em
ambientes intramuros e dos visitantes.
Na perspectiva desta Política, os estabelecimentos prisionais femininos
devem ser dotados de planejamento que indique os níveis reais de segurança,
com base na sua categoria, tipo e regime prisional, além de ações voltadas ao
aparelhamento.
Diante dessa necessidade e visando a construção e adaptação com
qualidade dessas estruturas, o DEPEN lançou o Programa Nacional de Apoio ao
Sistema Prisional, que tem como um de seus objetivos primordiais a eliminação
do déficit carcerário feminino, a partir da construção de vagas em penitenciárias e
cadeias públicas para mulheres, de acordo com a Resolução CNPCP nº 09/2011,
que edita as Diretrizes Básicas para a Arquitetura Penal.
d) Segurança e gestão
Há a necessidade do aprimoramento das práticas de segurança e gestão
em unidades prisionais femininas, mais precisamente nos seguintes casos:
• que as normas e procedimentos de segurança sejam diferenciados para as
mulheres, de acordo com seu perfil (a exemplo de idade, deficiência,
nacionalidade, entre outros), bem como às gestantes, lactantes e mãe com
filhos;
• que o procedimento de revista não seja vexatório, conforme os preceitos do
Anteprojeto de Lei sobre revista em estabelecimentos prisionais;
• que o transporte (escolta) seja diferenciado para mulheres idosas, com
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deficiência, mães com filhos de colo e gestantes;
• que os agentes prisionais que mantenham contato direto com as presas
sejam do gênero feminino;
• que os procedimentos internos humanizem as ações de visita social e
íntima, contribuindo para o fortalecimento do vínculofamiliar.
e) Capacitação dos profissionais prisionais
Em razão das peculiaridades do encarceramento de mulheres, torna-se
imprescindível a ação de capacitação dos servidores voltada à prática profissional
comprometida com a promoção da dignidade da pessoa humana, em suas mais
variadas dimensões, sejam éticas, familiares, sociais, culturais e políticas.
Todos os servidores que forem designados para trabalhar em
estabelecimentos prisionais femininos devem receber capacitação
específica continuada, abrangendo informações sobre os cuidados e
necessidades especiais das mulheres presas e seus filhos, a exemplo
de: prevenção da violência contra a mulher, orientação sexual, direitos
sexuais e reprodutivos, abordagem étnico-racial, saúde da mulher,
inclusive mental, e dos filhos inseridos no contexto prisional,
acessibilidade, especificidades da presa estrangeira, dependência
química, maternidade, desenvolvimento infantil e convivência familiar,
arquitetura prisional, direitos e políticas sociais e outras.
f) Apoio social às pré-egressas e egressas do sistema prisional
A população pré-egressa e egressa é ainda mais invisível, no que concerne
às assistências e apoio estatais. Para as pré-egressas e egressas, há de serem
oferecidas assistências, como a preparação para a saída, orientações e formas
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de acesso às políticas públicas e de proteção social, retirada de documentos e
outros.
Mais ações do DEPEN sobre o encarceramento feminino:
Programa Nacional de Apoio ao Sistema Prisional
O Programa tem como objetivo zerar o déficit carcerário feminino, a partir
da geração de vagas para presas provisórias e condenadas, e atenuar o déficit
masculino, a partir da geração de vagas em cadeias públicas. O Programa possui
um aporte financeiro de 1,1 bilhão de reais e construirá aproximadamente 42 mil
vagas entre femininas e masculinas. Até o final de 2014, cerca de 8.100 vagas
femininas serão geradas a partir de recursos federais.
Doação de máquinas de fraldas e absorventes femininos
Visando a capacitação de mulheres presas, a oferta de mão de obra e o
apoio na assistência material, o DEPEN está adquirindo 44 máquinas para a
produção de fraldas e absorventes femininos, a serem doadas às unidades
federativas.
Ações voltadas para o incentivo à amamentação saudável
Em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Ministério
da Saúde, o DEPEN está elaborando um projeto que visa o incentivo à
amamentação saudável em unidades prisionais femininas. O projeto conta com a
participação da Embaixadora da Rede de Bancos de Leite no Brasil e propõe a
realização de palestras às presas gestantes e parturientes, publicação de material
informativo, como cartilhas e folders, além do aparelhamento de duas salas de
amamentação em estabelecimentos prisionais femininos previamente escolhidos.
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Centros de Referência à Saúde Materno-Infantil
Estão sendo conveniados centros de referência materno-infantis a serem
instalados em unidades prisionais femininas de vários estados. Até o fim de 2013,
quarenta centros haviam sido conveniados com vinte unidades federativas.
Pronatec
O Programa Nacional de Ensino Técnico e Emprego do Ministério da
Educação, em parceria com o DEPEN, está oferecendo, no ano de 2014, 90 mil
vagas para presos e presas.
Procap
Projeto do DEPEN que visa o desenvolvimento de oficinas para a
capacitação de presos e presas. Em 2014, as oficinas em andamento são: costura
industrial, construção e panificação. A partir do Procap, cerca de 400 mulheres
presas serão beneficiadas diretamente com os cursos.
Pós-Graduação em Saúde Prisional
Fruto de parceria entre o DEPEN e a Fiocruz, quase 300 profissionais do
gênero feminino do sistema prisional foram indicadas para a realização do curso
de pós-graduação em saúde prisional.
Projeto Referência de Cadeia Pública Feminina
O DEPEN elaborou o projeto referência para a construção de cadeias
públicas femininas, a ser doado aos Estados interessados. A partir do modelo
referência, os trâmites relativos à análise dos projetos serão bastante reduzidos,
o que impulsiona as unidades da federação na busca pela diminuição do déficit
carcerário feminino.
P á g i n a 103 | 189
Para a obtenção de maiores informações, o Projeto Mulheres da
Diretoria de Políticas Penitenciárias do Departamento Penitenciário
Nacional, está à disposição por meio dos contatos abaixo: E-mail:
projetomulheres@m j.gov.br
Aula 9 - PRÁTICAS DE ALTERNATIVAS PENAIS E MONITORAÇÃO ELETRÔNICA
Para entendermos as práticas atuais de alternativas penais e monitoração
eletrônica em nosso país, torna-se necessário entendermos o histórico da
aplicação das penas e medidas alternativas, assim como a origem da monitoração
eletrônica no Ordenamento Jurídico Pátrio.
a) Histórico das penas e medidas alternativas
O que seriam penas alternativas?
Pena alternativa é a forma como ficaram conhecidas as penas Restritivas
de Direito, cuja sanção imposta substitui penas de curta duração até quatro anos
para crimes praticados sem violência e sem grave ameaça, como: uso de drogas,
violência doméstica, abuso de autoridade, lesão corporal leve, furto simples,
injúria, calúnia, difamação e outros.
Embora previstas na Lei de Execução Penal (Lei nº 7.910 de 1984), as
penas alternativas eram raramente aplicadas pelo Poder Judiciário, devido às
dificuldades de acompanhamento e fiscalização de seu cumprimento, aliado à
sensação de impunidade por parte da sociedade.
Mas qual seria a principal função da pena e da medida alternativa?Muitos entendem que diz respeito ao caráter pedagógico da pena ou
medida alternativa, caráter pedagógico que pode ter conteúdo retributivo (quando
o indivíduo deve entender que seu ato foi um erro e a pena ou medida alternativa
é uma punição) ou conteúdo preventivo (quando o indivíduo é encaminhado para
mailto:projetomulheres@mj.gov.br
P á g i n a 104 | 189
fazer cursos de alfabetização, capacitação profissional e inserção em redes
sociais que visem uma melhor integração junto à sociedade).
Segundo Hebe Teixeira Romano Pereira da Silva, coordenadora-geral de
reintegração social do Departamento Penitenciário Nacional, no período de 2005
a 2007,
"a pena alternativa tem que ser educativa, pedagógica,
pois o sujeito deve saber que o que cometeu foi um erro".
A aplicação das penas e medidas alternativas volta à pauta de discussões
com a elaboração das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de
Medidas Não-Privativas de Liberdade, as chamadas Regras de Tóquio,
recomendadas pela ONU a partir 1990, com a finalidade de se instituírem meios
mais eficazes de melhoria na prevenção da criminalidade e no tratamento dos
delinquentes.
Posteriormente, a Lei nº 9.099 de 1995 e a Lei nº 10.259 de 2001, que
criaram os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Estadual e
Federal, respectivamente, abriram importante via alternativa de reparação
consensual dos danos resultantes da infração. Da mesma forma a Lei nº 9.714,
de 1998 que ampliou consideravelmente o âmbito de aplicação das penas
alternativas, alcançando até mesmo os condenados até quatro anos de prisão
(excluídos os condenados por crimes violentos) e instituindo dez sanções
restritivas em substituição à pena de prisão.
Até início dos anos 2000, os juízes de execução ou os juizados especiais
criminais deparavam com a realidade de ter de dar sentenças que tinham
dificuldades para viabilizar. Poucos eram os locais para onde se podiam
encaminhar prestadores de serviços à comunidade ou em que a limitação de fim
de semana estava implementada e, quando existiam, não havia como monitorar
e fiscalizar o seu cumprimento.
P á g i n a 105 | 189
Por consequência, havia a resistência de juízes na substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos dada a certeza
de que elas não poderiam ser executadas e, por outro, a banalização
da aplicação de doação de cestas básicas. Para enfrentar esta
resistência por parte de muitos magistrados, as unidades da federação,
por iniciativa própria ou com o apoio do Governo Federal, iniciaram
tratativas para fomentar a aplicação das penas e medidas alternativas
e, principalmente, para expandir a capacidade do Estado no
acompanhamento de fiscalização do cumprimento de tais
determinações judiciais.
Nesse sentido, o Governo Federal celebrou convênios com Secretarias de
Estado, Tribunais de Justiça, Defensorias Públicas, Ministérios Públicos e outros
órgãos envolvidos na Execução Penal, para o estabelecimento de Centrais de
Apoio. Os recursos fornecidos pelo Ministério da Justiça, por meio desses
convênios, permitiram a constituição, nos vários Estados, de estrutura física
mínima, bem como a contratação de pessoal técnico especializado para o
monitoramento do cumprimento da execução das penas e medidas alternativas.
Em dezembro de 2003, nova alteração legislativa ampliou o rol das
possibilidades de substituição penal, com a criação da Lei nº 10.826/2003, que
trata sobre o desarmamento. Posteriormente, em agosto de 2006 com a Lei nº
11.343/06, foram criadas e ampliadas as possibilidades da substituição penal, ao
tempo em que sofisticou o processo de monitoramento da resposta penal do
Estado, ao estabelecer a previsão legal da figura jurídica das equipes
interdisciplinares e dos centros de reabilitação no processo de execução das
alternativas penais.
No período compreendido entre os anos de 2007 e 2012 houve uma
enorme variedade de eventos sobre o tema, promovidos pelos Órgãos atores da
Execução Penal em âmbito estadual e federal.
Há de se destacar a importante inclusão da temática das penas e medidas
alternativas na 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG),
realizada em Brasília no ano de 2009, onde o tema foi amplamente debatido e
P á g i n a 106 | 189
alcançou lugar de destaque entre as diretrizes aprovadas na Conferência.
Vejamos:
6.52. A –“ Priorizar na agenda política, administrativa e
financeira dos governos para a estruturação de um Sistema
Nacional de Penas e Medidas Alternativas, criando estruturas
e mecanismos nos Estados e no Distrito Federal, no âmbito
do Executivo, estruturando e aparelhando os órgãos da
Justiça Criminal e priorizando as penas e medidas
alternativas, a justiça restaurativa e a mediação de conflitos.
(293 VOTOS)”.
b) Histórico da monitoração eletrônica
Paralelamente às iniciativas de fomento às penas e medidas alternativas
surgiram outros instrumentos jurídicos cujo foco se apresentava de maneira
semelhante, qual seja: evitar que pessoas ingressassem ou permanecessem
no sistema prisional sem condenação ou necessidade conforme o caso.
Nessa esteira, o instituto da Monitoração Eletrônica de Presos surgiu no país.
O marco regulatório inicial da monitoração eletrônica foi
estabelecido pela Lei nº 12.258/2010, que alterou a Lei de Execução
Penal (Lei n.º 7.210/84) (LEP), de forma a permitir o emprego desta
tecnologia na fiscalização de benefícios penais, como a saída
temporária (Artigo nº 122, Parágrafo Único), além de estabelecer os
regramentos mínimos para a aplicação da tecnologia em prisão
domiciliar (Artigos 146-A a 146-D).
No ano de 2011, com o advento da Lei nº 12.403/11
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm), o Código
de Processo Penal (CPP) acompanhou tal evolução, passando a admitir a
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm
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monitoração eletrônica como medida cautelar diversa da prisão (Artigo nº 319,
inciso IX).
“Art. 319 -São medidas cautelares diversas da prisão:
IX- monitoração eletrônica. (incluído pela Lei nº 12.403, de
2011)”.
A regulamentação desse ditame legal foi estabelecida pelo Decreto nº
7.627/11, que inseriu em nosso Ordenamento Jurídico a definição legal de
monitoração eletrônica, qual seja:
“Art. 22 - Considera-se monitoração eletrônica a vigilância
telemática posicional à distância de pessoas presas sob
medida cautelar ou condenadas por sentença transitada em
julgado, executada por meios técnicos que permitam indicar
a sua localização”.
A Monitoração Eletrônica de Presos, realizada através de equipamentos de
georreferenciamento e radiofrequência, implicou em verdadeira revolução nos
sistemas processuais penais enquanto solução a várias mazelas que até hoje
afligem grande parte das unidades prisionais brasileiras, como superpopulação
carcerária, alto custo per capita da pessoa encarcerada e a invencível
insuficiência de vagas, quando o encarceramento a única medida possível para a
administração da Justiça, num círculo vicioso até então insuperável (constroem-
se presídios, criam-se vagas, mas a oferta nunca acompanha a demanda, porque
a geração de vagas em unidades prisionais é naturalmente a última opção para o
administrador, quando comparada com a necessidade de ampliação das redes
escolar e hospitalar, apenas a título de exemplo).
P á g i n a 108 | 189
A monitoração eletrônica objetiva quebrar essa cadeia de
causalidades, estabelecendo uma nova realidade através da
manutenção in cárcere apenas quem lá deva permanecer por força de
sentença penal condenatória transitada em julgado, corroborando o
primado do princípio da não culpabilidade, alicerce do Estado
Democrático de Direito.
Sempre permeada por uma discussão doutrinária sobreuma possível
expansão do controle punitivo estatal e a perda da intimidade e dignidade da
pessoa monitorada, a monitoração eletrônica, para fugir desta polêmica, começou
a ocupar espaços que não estavam diretamente relacionados às penas e medidas
alternativas. Mas, sim, no sentido de reduzir a aplicação ou o tempo da prisão,
além de instrumento utilizado como pena ou medida cautelar, justamente por ser
uma violação da dignidade humana menor que a prisão e por não ocupar um
espaço onde não existia sanção.
Após mais de uma década de debates, sensibilização e fomento de uma
política pública voltada às penas e medidas alternativas, os gestores e órgãos
envolvidos na temática passaram a identificar que as penas e medidas
alternativas, outrora com suas bases no princípio da intervenção mínima, com o
passar dos anos e o desenvolvimento das políticas públicas não privativas de
liberdade, poderiam passar a contribuir com a redução do encarceramento frente
à situação sem precedentes em que se encontra o sistema prisional brasileiro.
No mesmo sentido, a contribuição da monitoração eletrônica e das outras
medidas cautelares previstas atualmente na legislação em vigor também se
posicionam, se não como uma alternativa penal, mas principalmente como uma
alternativa à prisão.
Sendo assim, com um escopo semelhante e guardada as especificidades
de cada instrumento jurídico, é comum nomear este conjunto de possibilidades
jurídicas que impedem uma condenação à pena privativa de liberdade, que
impedem cautelarmente que o indivíduo responda pelo delito aprisionado e que
retirem presos provisórios do cárcere ou mesmo diminua o tempo de segregação
em estabelecimento prisional, como alternativas penais.
P á g i n a 109 | 189
Corroborando com esse entendimento e tendo a necessidade de se nortear
as ações realizadas no país, o Ministério da Justiça editou a Portaria nº 2.594, de
24/11/2011, criando a Estratégia Nacional de Alternativas Penais, coordenada
pelo Departamento Penitenciário Nacional, com objetivos claros e, principalmente,
trazendo a abrangência das alternativas penais:
“Art. 3º - Para os fins desta Portaria, as alternativas penais
abrangem:
I - transação penal;
lI - suspensão condicional do processo;
IlI - suspensão condicional da pena privativa de liberdade;
IV - penas restritivas de direitos;
V - conciliação, mediação, programas de justiça restaurativa
realizados por meio dos órgãos do sistema de justiça e por
outros mecanismos extrajudiciais de intervenção;
VI - medidas cautelares pessoais diversas da prisão;
VII - medidas protetivas de urgência”.
Atualmente, com a autonomia constitucional concedida às unidades da
federação para a Gestão e Administração de Políticas Públicas de Segurança
Pública e do Sistema Prisional, se podem elencar quatro tipos de gestão e
acompanhamento das alternativas penais no Brasil.
Tipo 1 - Acompanhamento por parte do Poder Judiciário:
Onde o próprio Poder Judiciário aplica as alternativas penais e acompanha seu
cumprimento (salvo monitoração eletrônica, que é realizada pelo Poder
Executivo).
Tipo 2 - Acompanhamento por parte do Ministério Público:
Onde o Ministério Público cria mecanismos para o cumprimento e fiscalização das
alternativas penais aplicadas pelo Poder Judiciário (salvo monitoração eletrônica
que é realizada pelo Poder Executivo).
P á g i n a 110 | 189
Tipo 3 - Acompanhamento por parte da Defensoria Pública:
Onde a Defensoria Pública cria mecanismos para o cumprimento e fiscalização
das alternativas penais aplicadas pelo Poder Judiciário (salvo monitoração
eletrônica que é realizada pelo Poder Executivo).
Tipo 4 - Acompanhamento por parte do Poder Executivo:
Onde o acompanhamento e fiscalização do cumprimento de todas as alternativas
penais, inclusive a monitoração eletrônica, é realizado pelo Órgão Gestor da
Política Prisional do Estado.
O último modelo acima (Tipo 4) foi o recomendado pelo CONSEG em 2009
e é atualmente apoiado pelo Governo Federal em seus financiamentos. Hoje, para
a unidade da federação obter recursos federais do Fundo Penitenciário Nacional
(FUNPEN), voltado a projetos de alternativas penais, todas as ações previstas e
a gestão da política estadual de alternativas penais devem ser de
responsabilidade do Poder Executivo Estadual ou Distrital.
Ainda sob essa ótica, o Governo Federal disponibiliza, desde o ano de
2013, duas linhas de financiamento:
Implantação de Centrais Integradas de Alternativas Penais
Além de fiscalizar cumprimento das alternativas penais, busca-se com a
implantação das Centrais obter a integração do cumpridor nas políticas públicas
existentes, observando-se o princípio da prevenção e da retribuição da pena,
através de um monitoramento racional e eficaz, de acordo com as circunstâncias
individuais apresentadas pelo cumpridor. As centrais acompanham a execução
das alternativas penais aplicadas aos crimes de menor potencial ofensivo. A
proposta é que seja exercido pela central um controle penal das alternativas à
prisão, garantindo a segurança jurídica necessária, evitando assim uma possível
sensação de impunidade na aplicação das penalidades diversas da prisão. Um
dos objetivos do trabalho da Central Integrada de Acompanhamento das
Alternativas Penais é promover a cidadania de seus usuários, e começa quando
a pessoa deixa de ser um sujeito criminoso e se torna uma cumpridora, evitando,
P á g i n a 111 | 189
desta forma, sua entrada no sistema prisional e contribuindo com a redução do
déficit carcerário.
Implantação de Centros de Monitoração Eletrônica de Presos Provisórios
A implantação de Centros de Monitoramento Eletrônica de Presos Provisórios,
Cumpridores de Medidas Cautelares Diversas da Prisão, População Carcerária
Vulnerável e Cumpridores de Medidas Protetivas de Urgência. O Centro de
Monitoração Eletrônica é um equipamento público destinado a gerenciar a
monitoração eletrônica de pessoas, de acordo com as determinações judiciais,
por meio de acompanhamento de dispositivo com GPS (tornozeleira) que é fixado
junto ao corpo do monitorado e permite o acompanhamento em tempo real da
localização deste.
Os projetos financiados pelo Governo Federal destinam-se a contratação
de empresas especializadas para desenvolver com os Estados selecionados
atividades de monitoração para um público-alvo específico: presos provisórios,
cumpridores de medida cautelar diversa da prisão (Art. nº 319, IX); e presos
domiciliares para população carcerária vulnerável (idosos, gestantes,
parturientes, lactantes, portadores de doenças infectocontagiosas graves, dentre
outros). É ainda possível aplicar a monitoração eletrônica em casos de medidas
protetivas de urgência (Lei Maria da Penha) para evitar que o agressor se
aproxime da vítima. É importante destacar que os centros de monitoração
financiados, também contarão com um núcleo psicossocial que poderá avaliar os
possíveis monitorados, analisar o perfil dos beneficiários e facilitar o
encaminhamento para os aparelhos públicos de assistência social e para a central
de alternativas penais, se necessário.
c) O que se pode esperar das alternativas penais em um futuro
Próximo?
Com as recentes inovações legislativas e, principalmente, com muitas
propostas de alterações apresentadas nos últimos anos, as alternativas penais se
apresentam como um solo fértil para inovações.
Ainda se tornam necessárias ações de fomento à aplicação das alternativas
P á g i n a 112 | 189
penais, haja vista ainda existir rejeição por parte de alguns magistrados em sua
aplicação, assim como ainda se apresente necessário um aporte financeiro do
Governo Federal para que as ações realizadas nos Estados tenham efeitos mais
imediatos.
É necessário destacar que se apresentam, como urgente, as inovações
legislativas significativas aindaa serem realizadas. Servem de exemplo: a
apreciação por parte do Poder Legislativo do Anteprojeto de Lei que cria o Sistema
Nacional de Alternativas Penais (SINAPE), bem como o anteprojeto de alteração
da Lei de Execução Penal (LEP) formulado por uma comissão de juristas
nomeados pelo Senado Federal.
A proposta de alteração da LEP propõe a inserção das Centrais
de Alternativas Penais e dos Centros de Monitoração Eletrônica como
órgãos essenciais à execução penal, o que garantirá aos gestores
estaduais linhas orçamentárias para investir e manter esses aparelhos
públicos, a longo prazo, fortalecendo toda a política até então
implementada e evitando, como em alguns casos, a descontinuidade
de ações eficazes por falta de recursos.
Para a obtenção de maiores informações, a Coordenação
do Programa de Fomento às Penas e Medidas Alternativas da
Diretoria de Políticas Penitenciárias do Departamento
Penitenciário Nacional, está à disposição por meio do e-mail:
cgpma@mj.gov.br.
mailto:cgpma@mj.gov.br
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Finalizando....
Neste módulo aprendemos que:
• Uma medida que tende a diminuir a violência e a alienação pessoal de si
mesmo, e que ajuda a diminuir os conflitos e a perda de individualidade, é
o agrupamento de pessoas presas com características semelhantes ou
comuns. Estas características podem ser físicas, étnicas, psicológicas,
sexuais, etárias etc.
• O aumento de prisões de mulheres é desproporcionalmente maior em
relação a dos homens. O motivo é, principalmente, a prática de tráfico de
drogas por mulheres.
• Questões como visita íntima e preservação dos laços de família são
especialmente importantes durante o aprisionamento feminino.
• Em tema de questões de gênero de ordem sexista, outro aspecto
importante está no aprisionamento de pessoas com opções sexuais
quantitativamente minoritárias, que designaremos por LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais e transexuais). Trata-se de grupo que frequentemente é
vitimizado quando inseridos nas celas com presos de gênero masculino ou
feminino. Por isso, é preciso que a população LGBT tenha o seu
encarceramento realizado em ala ou celas separadas das demais.
• Atualmente, existe norma que regulamenta o tratamento que deve ser dado
à comunidade LGBT nas prisões. Trata- se de Resolução conjunta nº 01,
de 15 de abril de 2014, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação
(CNCD/LGBT) e pelo Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP).
• A Constituição Federal de 1988, a Convenção Americana de Direitos
Humanos e a Lei de Execução Penal determinam que os presos sejam
separados conforme: o sexo; a idade; a situação jurídica (definitivos e
provisórios); e a natureza do delito.
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MÓDULO 3 - A EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
Caro aluno,
A educação destinada a presos é tão importante quanto o trabalho prisional.
Constitui-se em importante recurso para a ressocialização de pessoas em
privação de liberdade da mesma forma que o trabalho.
Existem três tipos de educação: a formal, a informal e a profissionalizante.
A educação informal é aquela que representa o processo de construção de
saberes éticos, morais e comportamentais através dos contatos sociais,
familiares, comunitários, religiosos etc., e que permitem a troca de comunicações
entre os participantes sobre os valores para a convivência saudável em
sociedade. A educação informal é capaz de desenvolver hábitos, modos de
pensar e agir em sociedade diante dos obstáculos da vida. No sistema prisional,
a educação informal pode ocorrer através da prática de projetos de incentivo à
leitura e às atividades culturais e esportivas, e das visitas que os presos recebem
por parte da comunidade, de religiosos, de familiares e amigos.
Falaremos mais da educação formal, uma vez que a educação informal,
como você pode perceber, diz respeito mais às atividades de ressocialização e de
interação sociedade-cárcere, previstas no Artigo 42 da LEP: "O Estado deverá
recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da
medida de segurança".
Apesar da educação informal não se apresentar em seu caráter jurídico de
organização e titulação que incorporam saberes e práticas às pessoas presas, é
importante analisar, ainda que de forma rápida, o seu papel no sistema prisional.
De acordo com a Recomendação nº 44 de 26 de novembro de 2013, as
atividades educacionais complementares, tais como atividades culturais,
esportivas, de saúde ou de leitura, podem servir para remissão da pena das
pessoas presas. Cabe salientar sobre a necessidade de projeto pedagógico da
unidade ou do sistema prisional local para que a remissão seja válida.
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OBJETIVOS DO MÓDULO
Esperamos que você, ao final do estudo deste Módulo, seja capaz de:
• Considerar a educação e a qualificação profissional de pessoas presas;
• Recomendar a formação e qualificação profissional de servidores do
sistema prisional.
ESTRUTURA DO MÓDULO
Na tentativa de organizar a discussão, este Módulo está dividido em cinco aulas:
Aula 1 - Educação e qualificação profissional de pessoas presas;
Aula 2 - Formação e qualificação profissional de servidores do sistema prisional;
Aula 3 - Educação no Sistema Prisional e Qualificação Profissional de pessoas
presas;
Aula 4 - Formação e Qualificação Profissional de Servidores;
Aula 5 - Qualificação Profissional e Trabalho e Renda de Pessoas Presas.
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Aula 1 - EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE PESSOAS PRESAS
Nesta aula veremos o papel da educação e qualificação de pessoas presas.
1. A educação formal
Começaremos nossos estudos pela educação formal. Esta é aquela que
acontece na escola ou instituições de ensino formalmente constituídas por meio
da atuação do professor e tem como objetivos o ensino e a aprendizagem de
conteúdos historicamente sistematizados e regulados por leis. Na educação
formal existe um conteúdo cujo aprendizado é apresentado pelo professor aos
alunos para que estes o compreendam, raciocinem e desenvolvam suas próprias
conclusões sobre essas informações.
O aluno não somente se apropria do conhecimento que lhe é transmitido,
mas também pensa esse conteúdo, de modo a alcançar por si mesmo suas
próprias conclusões. Essa é a educação que confere ao aluno a independência
para a vida, pois forma o indivíduo, torna-o capaz de pensar sozinho, de
vislumbrar as opções e selecioná-las.
Figura 24 - Educação Formal
Fonte: SCD/EaD/Segen
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2. Educação formal nas prisões
Vamos ver a importância da educação formal destinada aos presos. Temos
que partir de um pressuposto estatisticamente comprovado.
A imensa maioria da população carcerária possui precária escolarização
formal no momento de seu ingresso no cárcere.
Ademais, é também uma população que é designada por vulnerável.
Populações vulneráveis são aqueles grupos que não possuem condições
eficientes de responder às ameaças externas ou minimizá-las usando seus
próprios recursos. Isso significa que são pessoas que, mesmo agrupadas, não
conseguem evitar a submissão a eventos ameaçadores externos. Assim, por
exemplo, um grupo de pessoas que mora em encostas de morros sujeitas a
deslizamentos é uma população vulnerável.
A essa altura você deve estar se perguntando:
Figura 25 - Presos Vulneráveis
Fonte: SCD/Ead/Segen
Ou seja, os detentos estão à mercê do que decidem os gestores, sujeitos
às rígidas regras de disciplina de um estabelecimento penal. E assim sendo, não
possuem mecanismos eficientes e lícitos para repelir quaisquer eventos que
possam lhes ser desagradáveis, não necessariamente ameaçadores, mas
P á g i n a 118 | 189
desagradáveis ou obrigatórios.
Agora, junte essas duas características: populaçãovulnerável + precária
escolarização e você tem um barril de pólvora que pode explodir a qualquer
momento. Um indivíduo com tais elementos débeis em sua vida e formação não
tem perspectivas futuras, senão recorrer a práticas ilícitas e criminosas.
Por isso, a educação formal é o primeiro e mais importante passo em direção à
ressocialização do preso.
3. A obrigatoriedade da educação para a população prisional
A LEP tem especial preocupação com o estudo destinado aos presos. A
educação é uma assistência obrigatória, lealmente assegurada e que deveria
estar entre as metas prioritárias da administração penitenciária, no sentido de
assegurar efetividade de acesso à educação formal para 100% da população
prisional.
Conforme determinado pela LEP, o ensino de 1º grau (atualmente chamado
de Educação de Jovens e Adultos - EJA) será obrigatório, integrando-se no
sistema escolar da unidade federativa em que o detento está inserido legalmente.
O fato de estar preso não o deixa de fora do sistema de ensino público estadual.
Mas a LEP nem precisaria dizer isso. A educação está inserida com
eminência entre os direitos humanos. assegurada por diversas normas jurídicas.
Na Constituição Federal, o Art. 205 afirma que
"a educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será. promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e a sua
qualificação para o trabalho”.
O Artigo 208 da Constituição Federal, por sua vez, determina o dever do
Estado em garantir o ensino fundamental gratuito, inclusive, para todos os que a
P á g i n a 119 | 189
ele não tiveram acesso na idade própria". Os presos não estão excluídos e devem
ter acesso a esse direito humano que é a educação.
E não se faz distinção entre os presos: em regime fechado, semiaberto,
aberto, presos provisórios ou àqueles inimputáveis e semi-impututáveis, todos
têm direito à educação.
Figura 26 - Biblioteca Obrigatória
Fonte: SCD/EaD/Segen
4. A especificidade do processo educacional destinado aos detentos
Todavia, é possível (e até provável) que o preso não tenha a percepção da
importância que a educação tem para sua vida e para seu bem-estar futuro. Em
muitos casos é preciso explicar ao detento o poder que a educação tem em sua
vida.
A falta de percepção da importância da educação pode requerer um
processo de explicitação e convencimento direcionado ao preso capaz de dialogar
com seus valores até então construídos, pois não se pode obrigar o detento a
frequentar a educação formal. Ele tem que ser convencido sobre os ganhos que
terá ao realizar o esforço para formalmente educar-se.
P á g i n a 120 | 189
Lembre-se:
Por mais óbvio que seja aqui não estamos tratando com crianças
ou adolescentes, mas com pessoas adultas, com valores já formados e
cujo interesse sobre a relevância da educação formal já pode ter se
perdido.
Em razão disso, o diálogo com o detento deve ter sempre em conta essas
importantes particularidades de seu desenvolvimento, para estimulá-lo a
frequentar o ensino formal. Uma vez obtido o consentimento do preso para a
atividade educacional formal, essa escolarização não será qualquer uma, mas
será uma compatível com as necessidades educacionais de que é portador, bem
como correspondente às deficiências que traz do sistema educacional que
frequentou quando se encontrava livre.
Exatamente por isso já existem políticas públicas especificamente
delineadas para o processo de aprendizagem da população carcerária.
Atualmente, esta política está orientada pelo Decreto nº 7.626, de 24 de novembro
de 2011, que institui o "Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema
Prisional (PEESP), com a finalidade de ampliar e qualificar a oferta de educação
nos estabelecimentos penais".
A referida norma dispõe que o PEESP:
"contemplará a educação básica na modalidade de
educação de jovens e adultos, a educação profissional e
tecnológica, e a educação superior''.
Todavia, maior detalhamento da política para educação nas prisões será
encontrado nas "Diretrizes Nacionais para a Oferta de Educação para Jovens
e Adultos em Situação de Privação de Liberdade nos Estabelecimentos
Penais", conforme parecer homologado pelo Ministério da Educação, em
7/5/2010 (Parecer CNE/CEB nº 04/2010).
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O histórico de construção de o referido parecer revela que todos os atores
envolvidos no tema prisional participaram dessa política:
A partir 2005
Após um amplo diálogo realizado pelo Governo Federal desde 2005, por
meio dos Ministérios da Educação e da Justiça, com o apoio da UNESCO e da
Organização dos Estados lberoamericanos, com as Unidades da Federação, por
intermédio das Secretarias de Educação, com os órgãos responsáveis pela
administração penitenciária e com a expressiva participação da sociedade civil
organizada, dos Fóruns de EJA, Pastoral Carcerária, Organizações
não-Governamentais, egressos e até mesmo internos de estabelecimentos penais
do regime semiaberto e aberto, além de pesquisadores mediante Seminários
Regionais e dois Seminários Nacionais pela Educação nas Prisões (2006 e 2007),
foi possível produzir um conjunto de sugestões para que o Conselho Nacional de
Políticas Criminais e Penitenciárias (CNPCP), vinculado ao Ministério da Justiça,
e este Conselho Nacional de Educação elaborassem Diretrizes Nacionais para a
oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade
nos estabelecimentos penais.
Maio/2009
Em 19 de maio de 2009, foi protocolado no Conselho Nacional de Educação
(CNE) o Processo nº 23000.019917/2008-49, pelo qual o Senhor Secretário de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação,
encaminhou pedido para que este colegiado estabelecesse um marco normativo,
mediante elaboração e aprovação de Diretrizes Nacionais para a oferta de
educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais brasileiros. Anexou, como subsídio para apreciação do
CNE uma proposta de Minuta de Resolução, na qual buscou agregar as sugestões
dos diferentes atores até então acumuladas como resultado de debates em
diversas reuniões e seminários realizados sobre o assunto no país.
Novembro/2009
Em sessão ordinária de 11 de novembro de 2009, a Câmara de Educação
Básica (CEB) do CNE deliberou favoravelmente sobre o pedido, indicando para
relator do processo o conselheiro Adeum Hilário Sauer.
P á g i n a 122 | 189
Dezembro/2009
Em 7 de dezembro de 2009, a CEB realizou uma reunião de trabalho e, em
8 de fevereiro de 2010, uma audiência pública, em Brasília, com a participação de
representantes governamentais e da sociedade civil, com o objetivo de aprofundar
a discussão em torno do Parecer e das diversas sugestões de Resolução
apresentadas pelas entidades envolvidas no assunto para aprovação do CNE.
O mesmo parecer consigna que a educação nas prisões tem,
principalmente, três objetivos:
Figura 27- Os 3 Objetivos Consignado pelo Parecer Sugerido pelo Parecer CNE nº 04/2010
Fonte: SCD/EaD/Segen
As diretrizes traçadas pelo parecer CNE nº 04/2010 também dão atenção
ao fato de que as políticas de educação nas prisões devem levar em conta o
público alvo, isto é, se presos provisórios ou em regimes fechado, semiaberto e
aberto, aqueles que cumprem medidas de segurança e egressos do sistema
prisional.
P á g i n a 123 | 189
Ainda se devem levar em consideração as características do espaço físico
de cada unidade. As estruturas para ensino nas prisões são geralmente
improvisadas e fruto de tentativas domésticas de dar cumprimento à Constituição
Federal e à LEP.
Não se pode, tampouco, realizar a atividade educacional no cárcere sem
um projeto político-pedagógico coerentecom a realidade prisional devidamente
inserido dentro de uma proposta político-institucional e, por sua vez, condizentes
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n.º 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm), e demais
dispositivos legais aplicáveis para a modalidade de educação de jovens e adultos
(EJA).
Figura 28 - Educação Formal
Fonte: SCD/EaD/Segen
5. Educação e remição de pena
Justamente em razão de sua relevância, a educação nas prisões foi
promovida a causa de remissão. Seu potencial para modelar o espírito humano
para melhor, para uma vida melhor, se refletiu na legislação penal com tal força
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
P á g i n a 124 | 189
que, se realizada, acarretará diminuição do tempo de pena a ser cumprido pelo
condenado.
A mudança na legislação veio tardiamente, apenas em 2011, através da Lei
nº 12.433, de 29 de junho (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2011/lei/l12433.htm). Os juízes de varas de execução penal, muito tempo
antes da lei, já vinham admitindo a remição através do estudo.
Atualmente, a LEP assegura em seu Artigo 126 que um dia de
pena será descontado para cada doze horas de frequência escolar,
assim considerada a atividade de ensino fundamental, médio, inclusive
profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional
divididas, no mínimo, em 03 (três) dias.
Caso o detento conclua o ensino fundamental, médio ou superior durante o
cumprimento da pena, isso é encarado como mérito e assegura que o tempo a
ser descontado da pena seja aumentado de um terço.
Os condenados em cumprimento de pena nos regimes aberto, semiaberto
e o que estiver em liberdade condicional também poderão ter a pena remida pela
frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional.
Glossário:
Remida: Que está desobrigado do pagamento de uma dívida ou do cumprimento de uma obrigação.
Que se libertou da culpa; que recebeu o perdão.
Curiosidade sobre a remição de pena: apesar de não estarmos
abordando a prática da educação informal, todo o contexto de educação
nas prisões tem sido amplamente discutido, incluindo-se, portanto, as
atividades de cunho não formal.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm
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Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a Recomendação
nº 44, dispondo sobre as atividades educacionais complementares para fins de
remição da pena pelo estudo e estabelecendo critérios para a admissão pela
leitura. A Recomendação é baseada em normativos já existentes, como a Lei nº
12.433/2011, bem como na Nota Técnica nº 125/2012, elaborada pelos
Ministérios da Justiça e Educação acerca do tema.
Muito projetos de remição (pela leitura ou outras atividades que não a
educação formal) são desenvolvidos em várias unidades prisionais e, com a
edição da recomendação, os juízes poderão considerar também estas práticas no
momento de calcular o tempo de remição de cada indivíduo. Mas vale informar
que essas atividades deverão estar inseridas no Plano Político Pedagógico do
Sistema Prisional local.
6. A educação profissionalizante
A educação profissionalizante, por sua vez, é um tipo de educação que
prepara o aluno para o exercício de uma profissão. Tem um objetivo prático,
consistente na rápida empregabilidade após a finalização de um determinado
curso. Os cursos dessa espécie de educação são voltados para o acesso ao
mercado de trabalho.
A perspectiva concreta de o encarcerado iniciar uma atividade
profissional, tão logo obtenha sua liberdade, renova suas esperanças
para a vida, lhe dá horizontes novos, além de contribuir para a evolução
de todo o sistema prisional, conferir maior estabilidade às unidades
prisionais e diminuir a reincidência.
Mas, como já dito acima, essa atividade deve ser adequada ao universo
prisional. A grande maioria da população prisional possui baixa escolaridade,
como já dito. Assim, por exemplo, um curso profissionalizante para programador
de computadores seria pouco aproveitado, isto é, atingiria um número pequeno
de presos. Seria mais indicado um curso de inclusão digital.
P á g i n a 126 | 189
Se atentarmos para as profissões que têm alta demanda de mercado,
vamos encontrar algumas que podem ser muito bem aproveitadas. Pensemos
num curso de pedreiro. Veja bem:
O pedreiro é um profissional atualmente disputado pela
construção civil. Não se trata do ajudante de pedreiro. O profissional
pedreiro, bem preparado, está em falta. É profissional que sabe
assentar azulejos, dar acabamentos que requerem maior habilidade,
erigir formas incomuns, como tetos abobadados etc.
Isso significa que apesar da baixa escolaridade, o egresso encontrará
empregabilidade com relativa facilidade. Aliás, grande parte das pequenas obras
públicas é contratada pelo Estado junto a firmas individuais, ou seja, são
pedreiros, individualmente e sem intermediários, que prestam esse tipo de
serviço. É ganho certo e lícito. Mas também é um ganho compensador e
pessoalmente satisfatório, porque o manuseio de materiais de construção é uma
prática que possui também efeitos terapêuticos positivos, pois o resultado surge
logo. Especialmente em criminosos de perfil patrimonial há necessidade de
experimentação de trabalho com o tato e a percepção de resultados rápidos. E
desse modo, importante satisfação pessoal atinge o egresso, bem como o detento
que frequenta um curso desta espécie.
Mas não nos iludamos que o curso profissionalizante dispense a educação
formal. Deve estar par e passo com esta. No exemplo da escola de pedreiro, o
obreiro deve saber trabalhar com as quatro operações matemáticas básicas e
saber escrever, ler e interpretar o que leu. Do contrário, como elaborará um
orçamento? Precisa, também, ser orientado sobre como constituir uma firma
individual em seu nome etc.
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7. As diretrizes da política nacional de educação destinada à população
prisional
Vejamos, afinal, como são as diretrizes nacionais para a oferta de educação
para jovens e adultos privados de liberdade em estabelecimentos penais.
A educação no cárcere deve ser executada pelas Secretarias de Educação
dos Estados e do Distrito Federal em articulação com os órgãos responsáveis pela
sua Administração Penitenciária, exceto nas penitenciárias federais, uma vez que
os programas educacionais são da responsabilidade do Ministério da Educação
em articulação com o Ministério da Justiça.
O financiamento será feito com as fontes de recursos públicos vinculados à
manutenção e desenvolvimento do ensino, entre as quais o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (FUNDEB), destinados à modalidade de Educação de Jovens e
Adultos, sem prejuízo de outras formas complementares de fontes estaduais e
federais.
A educação nas prisões deve promover o envolvimento da
comunidade e dos familiares dos indivíduos em situação de privação de
liberdade e preverá atendimento diferenciado de acordo com as
especificidades de cada medida e/ou regime prisional, considerando as
necessidades de inclusão e acessibilidade, bem como as
peculiaridades de gênero, raça e etnia, credo, idade e condição social
da população atendida.
Também poderá ser realizada mediante vinculação a unidades
educacionais e a programas que funcionam fora dos estabelecimentos penais.
Deve atender a todos, em todos os turnos e de modo a atender às
peculiaridades de tempo, espaço e rotatividade da população carcerária.
A política de educação prisional determina aos Estados, ao Distrito Federal
e à União incentivar a promoção de novas estratégiaspedagógicas, a produção
de materiais didáticos e a implementação de novas metodologias e tecnologias
P á g i n a 128 | 189
educacionais, assim como de programas educativos na modalidade educação a
distância.
Determina-se, ainda, que a gestão da educação no contexto prisional
promova parcerias, em caráter complementar à política educacional, com várias
áreas do governo, com universidades, instituições de educação profissional e
organizações da sociedade civil, visando formular, executar, monitorar e avaliar
as políticas públicas de educação de jovens e adultos em situação de privação de
liberdade.
Importante destacar que cabe às autoridades responsáveis pela
política de execução penal nos Estados e Distrito Federal obter
efetivamente espaços físicos adequados às atividades educacionais,
esportivas, culturais, de formação profissional e de lazer, integrando-as
às rotinas dos estabelecimentos penais.
As ações, projetos e programas governamentais destinados à
educação de jovens e adultos, incluindo o provimento de materiais
didáticos e escolares, apoio pedagógico, alimentação e saúde dos
estudantes, devem incluir também as instituições e programas
educacionais dos estabelecimentos penais.
A oferta de educação profissional nos estabelecimentos penais deverá
seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de
Educação, inclusive com relação ao estágio profissional supervisionado
concebido como ato educativo.
Os educadores, gestores e técnicos que atuam nos estabelecimentos
penais deverão ter acesso a programas de formação inicial e continuada que
levem em consideração as especificidades da política de execução penal.
P á g i n a 129 | 189
Figura 29 - Remuneração dos Docentes
Fonte: SCD/EaD/Segen
Permite-se que a pessoa presa também poderá atuar em apoio ao
profissional da educação, auxiliando-o no processo educativo, mas não em sua
substituição, e desde que seja preso com perfil adequado e que receba
preparação especial.
Os planos de educação da União, dos Estados, do Distrito
Federal e Municípios deverão incluir objetivos e metas de educação em
espaços de privação de liberdade que atendam as especificidades dos
regimes penais previstos no Plano Nacional de Educação.
Caberá aos Conselhos de Educação dos Estados e do Distrito Federal atuar
na implementação e fiscalização dessas diretrizes, articulando-se, para isso, com
os Conselhos Penitenciários Estaduais e do Distrito Federal ou seus congêneres.
Nas penitenciárias federais, essa atuação compete ao Conselho Nacional de
Educação ou, mediante acordo e delegação, aos Conselhos de Educação dos
Estados onde se localizam os estabelecimentos penais.
P á g i n a 130 | 189
Aula 2 - FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE SERVIDORES DO SISTEMA PRISIONAL
O exercício de qualquer profissão requer, ao menos, o aprendizado
fundamental e o aprendizado profissionalizante. Essa exigência pode aumentar
conforme o grau de especialização da profissão, isto é, conforme suas
particularidades.
Por isso, em muitos casos, exige-se a educação formal em nível médio; em
outros tantos, o ensino técnico; e afinal, para muitas profissões, exige-se o ensino
superior.
1. A formação institucional
Existem diversas profissões que, além de todo o aprendizado formal, possui
necessidade de um curso institucional, isto é, o aprendizado de teorias e práticas
próprias de uma instituição onde o profissional se situa. Isso se deve ao nível
especialíssimo da atividade desenvolvida naquela instituição.
Nesses casos, a instituição provê um curso teórico e prático.
Teórico
Quanto à parte teórica do curso, não se trata de teorias novas, propriamente,
aquelas que serão apresentadas aos alunos, profissionais admitidos. Mas, sim,
trata-se da construção de saberes com base nas teorias que já foram
apresentadas aos alunos no ensino formal e que, frequentemente, não o foram de
modo que se pudesse percebê-las unidas ou ligadas por elementos comuns, ou
ainda, de conexões de sentido teórico, com aptidão para resolver diversos
problemas práticos institucionais. Assim, o que a parte teórica de um curso
institucional acaba fazendo é a construção de saberes em rede, promovendo a
união de aprendizados que até então haviam sido apresentados de maneira
esparsa ou não conectada.
Prática
Quanto ao aprendizado da prática pode ser feito por três modos. Vejamos:
No primeiro modo, EMPIRICAMENTE, o profissional inicia suas atividades
sem escolarização prática e tenta solucionar as situações diárias com base no
P á g i n a 131 | 189
que os demais profissionais mais antigos e experientes fazem, isto é, copia a
conduta dos mais antigos. Talvez esta seja a pior forma de aprendizado
profissional.
No segundo modelo, NA ESCOLA, o profissional cursa uma escola em que
situações práticas são simuladas. Por meio da projeção dos desafios mais
comuns no cotidiano da profissão, o profissional experimenta o que
provavelmente vivenciará no dia-a-dia. É um modelo bom, mas incompleto.
No terceiro, ESCOLA E EMPIRICAMENTE, que é o melhor modelo de
aprendizagem profissional, o aluno-profissional admitido passa, na escola, por
simulações de situações comuns, sendo que também é inserido em ambientes
reais de trabalho, sempre com a supervisão de professores, durante certo período.
É a melhor forma de aprendizado prático-institucional.
O profissional do sistema prisional está inserido numa dessas instituições
especialíssimas, que exigem instrução e aprendizado institucional.
Como já dito, as prisões são chamadas instituições totais. Mais que isso:
as instituições totais são diversas unidades prisionais que estão ligadas em forma
de sistema, tanto que formam o sistema prisional. Por isso, na formação do
profissional do sistema prisional, além da educação formal, é preciso a formação
institucional, a fim de que possa atender às especificidades e singularidades da
atividade sistêmica.
Vamos estudar um pouco mais a seguir!
a) A formação institucional do profissional do sistema prisional
Justamente por isso, todo sistema prisional deve ter uma escola específica
para o aprendizado, desenvolvimento, aprimoramento e reciclagem de
conhecimentos respectivos atividade-fim, que é a ressocialização. Nota-se que a
expressão ressocialização é aqui aplicada em seu sentido mais amplo, isto é, tudo
que se passa no estabelecimento penal gira em torno da ressocialização. Assim,
por exemplo, se houver falha na vigilância da muralha, além da questão da
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segurança, isso irá se refletir de alguma forma na atividade de ressocialização,
como, por exemplo, na condição psicológica ou no humor dos demais
funcionários.
Por isso, é grande o leque de temas que devem ser ensinados e praticados
numa escola penitenciária. Vamos chamá-la de Escola de Administração
Penitenciária (EAP).
Basicamente, existem dois tipos de funções profissionais que atuam no
sistema. Uma realizada por agentes penitenciários, que, por sua vez, se
subdividem em cinco. Outra, realizada por profissionais especificamente
encarregados de um tipo de assistência assegurado pela LEP, que se
subdividem em cinco. Veremos adiante suas características. O que nos interessa
pontuar, nesse momento, é que a EAP deve prover a todos esses profissionais
diversos conhecimentos e atividades, formando-os e capacitando-os
continuamente para o serviço penitenciário.
b) O agente penitenciário e sua formação
Precisa e tecnicamente, o agente penitenciário não é uma profissão com
uma função simples. Não se confunde tampouco com a vetusta profissão de
carcereiro, de raiz medieval. Trata-se de profissão que, na atualidade, designa
uma pluralidade de funções. Resumidamente e guardadas as características de
cada sistema (por exemplo, o nível de automaçãoda unidade prisional), podemos
dizer que o agente penitenciário tem, basicamente, cinco funções, as quais serão
aplicadas e desenvolvidas conforme as aptidões de cada um. Confira!
A função burocrática
Comecemos pela função burocrática. Cabe ao agente dar andamento aos
documentos e papéis nos quais estão ordenadas as situações relevantes para o
funcionamento da unidade prisional. Assim, são documentos relativos a despesas
diversas, ofícios expedidos, ofícios recebidos, autuação de prontuários de
detentos, prontuários dos demais funcionários da unidade, inventário de objetos
trazidos pelo preso no momento do ingresso e de restituição no momento da
saída, troca de e-mails etc.
P á g i n a 133 | 189
Cada um desses documentos detém uma particularidade: deverá atender à
organicidade de uma instituição que tem por objetivo assegurar ao preso a sua
ressocialização. Logo, o agente responsável pela atividade burocrática deve
conhecer, e bem, as atividades realizadas na unidade prisional, seu
funcionamento, enfim, seu cotidiano. Do contrário,torna-se um burocrata atrás de
uma escrivaninha.
É preciso que este agente tenha a consciência de que, se houver demora
no reparo de uma máquina de Raio X, toda a unidade prisional terá sua segurança
comprometida; ou ainda, se o almoxarifado não estiver corretamente abastecido,
haverá insalubridade e deficiência nas condições sanitárias, ou, pelo contrário, se
houver excesso de materiais perecíveis, ocorrerá desperdício de dinheiro público.
Nessas hipóteses, para além da afetação da organicidade da unidade, será
também afetada, em algum grau, a finalidade de ressocialização prisional.
A função de vigilância de muralhas
Outra função realizada pelo agente penitenciário é a de vigilância de
muralhas. Aqui é necessário o manejo de armamentos e equipamentos de
segurança, desenvoltura no uso dos meios de comunicação, elevado nível de
atenção e conhecimento da rotina da unidade prisional.
O agente nesse posto deve receber informes do setor de inteligência, a fim
de que seja alertado de eventuais notícias sobre tentativas de resgate. Também
deve estar atento ao arremesso de objetos por cima das muralhas, uso de drones
ou aves (por exemplo, pombo-correio) para inserir objetos ou armas no pátio da
unidade.
A função de portaria
A terceira função do agente penitenciário é a que atua junto às portarias.
As unidades prisionais possuem, em geral, duas grandes portarias. Uma externa
(entre a via pública e a área cercada externa da unidade prisional) e outra interna
(entre a área cercada externa da unidade prisional e o prédio com as celas). Cada
uma destas portarias deve obedecer a procedimentos de segurança próprios, com
anotação de todos os aspectos relevantes sobre o que ingressa e o que sai da
unidade prisional, aí estão incluídas as anotações sobre quem entra e quem sai
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da unidade prisional e para qual finalidade.
Nessa função são realizados os procedimentos de revistas. A fim de se
evitar a vexatória revista íntima, na qual se procuram objetos ou armas nos
orifícios da pessoa-visitante, toda portaria deve estar aparelhada com eletrônicos,
que permitam saber se o visitante está ocultando algum objeto em seu corpo.
As anotações nesses postos são importantes ferramentas de controle para
a unidade prisional.
A função de gerenciamento de crises e intervenção
A quarta função exercida pelo agente penitenciário é relativa ao
gerenciamento de crises e intervenção. Desde o evento violento conhecido como
Massacre do Carandiru, em São Paulo/SP, no qual diversos presos foram mortos
quando policiais militares invadiram a unidade prisional do Carandiru e
dispararam, o sistema prisional brasileiro tem se aprimorado para evitar que
lamentáveis fatos como este voltem a ocorrer.
Primeiramente, investiu-se nas chamadas técnicas de gerenciamento de
crises. São procedimentos altamente especializados em que um negociador trata
com os rebelados ou amotinados, a fim de pacificar o contexto, seja ele com
reféns, sem reféns, com armamentos em poder dos presos ou sem armamentos.
Normalmente essas negociações são feitas por um oficial da polícia militar.
Todavia, é importante que esta negociação seja feita por quem mais conhece o
sistema prisional, ou seja, o agente penitenciário. Por isso, lenta e
gradativamente, essa atividade vem sendo aprendida pelos profissionais do
sistema.
Mas e se as negociações falharem? Então, não restará alternativa senão
invadir a unidade prisional. A isso se denomina intervenção.
A simples existência de um grupo de intervenção é uma segurança para
todos. Os detentos refletirão mais antes de assumirem qualquer conduta violenta,
pois sabem da rapidez eficiência da intervenção. Os agentes que trabalham na
unidade prisional sentir-se-ão seguros sabendo da existência de um recurso
eficiente de pacificação
P á g i n a 135 | 189
A função de agente penitenciário interno
Essa é a função que requer o maior talento profissional entre as cinco.
Trata-se da função do agente penitenciário que atua dentro das alas, pavilhões
ou raios, junto às celas, diretamente em contato com os presos. É responsável
pela movimentação interna, conferência do número de detentos, abertura e
trancamento de grades, sendo enfim a personificação do Estado que está mais
presente na vida do encarcerado. Este agente deve ser a referência diária do
prisioneiro.
Por isso, sua função é de altíssima relevância. Sua profissionalização deve
ser diferenciada. Deve ter noções seguras sobre pedagogia, psicologia, serviço
social, direito, defesa pessoal, criminologia, saúde pública, entre tantos outros
saberes.
O tato com o ser humano preso e a sensibilidade são requisitos
indispensáveis. A capacidade de decidir rapidamente, também. Decidir de modo
rápido, nessa função, muitas vezes implicará na paz ou na rebeldia dentro da
unidade prisional. Esse é o profissional que merece os maiores investimentos do
Estado em preparo e reciclagem.
c) Os profissionais da assistência
Aqui trataremos dos profissionais que realizam as assistências à saúde, à
educação, ao psiquismo, bem como às assistências sociais e jurídica. Cada um
desses profissionais deve ter sempre em mente que está trabalhando diante de
um ser humano, que nesse momento de sua vida está preso, mas que um dia
retornará ao meio aberto.
Qualquer sentimento de vingança social ou de revolta por motivos de
criminalidade na sociedade devem ser repelidos por parte destes profissionais. E
se não conseguirem fazê-lo, devem afastar-se do serviço na unidade prisional.
Assistência à Saúde
Na assistência à saúde atuam na unidade prisional os seguintes
profissionais: médico, dentista, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e
farmacêutico, ao menos.
P á g i n a 136 | 189
Embora já possuam formação específica para suas respectivas profissões,
existem aspectos particulares ao ambiente carcerário a serem observados. Por
exemplo, devem ter em conta as ocorrências e agravos com maior incidência,
como a tuberculose, e para tais situações devem estar mais bem instruídos e
preparados.
Assistência Jurídica
A assistência jurídica deve ser rápida, de modo a permitir que os chamados
benefícios (direitos do preso) como progressões de regime prisional, livramento
condicional, remição de pena etc., sejam instruídos e encaminhados rapidamente
para apreciação judicial.
Assistência Social
O assistente social, por sua vez, não pode desprezar em momento algum
que o preso vem de uma situação de vulnerabilidade anterior ao seu ingresso no
sistema. Mais ainda que isso também deva ter em conta que a família deste preso
provavelmente está em condições de vulnerabilidade.
A atuação do assistente social se dá em duas direções: uma interna (ao
preso) e outra externa (à sua família). É preciso preparar o terrenopara que o
preso encontre acolhida e estrutura social no momento em que deixar o cárcere.
Também cabe ao assistente social a atividade de aproximação entre a sociedade
e o cárcere. Esta é uma atividade que não se ensina nos cursos de graduação de
serviço social (por esquecimento), mas que é da maior relevância para o fim de
ressocialização.
Assistência Psicológica
A assistência psicológica deve ser frequente. A condição de encarcerado
incute no indivíduo incontáveis fragilidades psíquicas. Assim, o preso pode
recorrer a comportamentos violentos como forma de autoafirmação no meio
fechado ou, no extremo oposto, regredir tanto em sua autoestima a ponto de
suicidar-se. Medo, raiva, não aceitação, revolta, ansiedade, depressão, ódio - são
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estados emocionais comuns na população prisional. Cabe à assistência
psicológica minimizar ao máximo esses sentimentos.
Todos esses profissionais devem ter noções sobre as particularidades do
sistema prisional, conforme acima exposto. Isto é, também devem ter bom
conhecimento sobre pedagogia, psicologia, serviço social, direito, defesa pessoal,
criminologia, saúde pública, entre tantos outros saberes.
O Manual de Rotinas Operacionais Padrão das Assistências do
Sistema Penitenciário Federal é um produto resultante do trabalho dos
servidores Especialistas Federais em Assistência à Execução Penal e
Técnicos Federais de Apoio à Execução Penal que compõem o
tratamento penitenciário nas Penitenciárias Federais, na busca pela
simplificação e aprimoramento dos processos organizacionais, como
forma de promover a permanente busca da melhoria no desempenho e
garantia dos ditames da Lei de Execução Penal e das diretrizes da
Política Penitenciária Nacional.
A Rotina Operacional Padrão (ROP) é um instrumento de padronização de
processos e rotinas para o alcance dos resultados esperados pelas áreas tendo
como objetivo a minimização de desvios na execução da atividade de forma a
assegurar que as ações implementadas sejam padronizadas e executadas
conforme o planejado, imprimindo, assim, maior segurança nos procedimentos.
Dessa forma, o Manual de Rotinas Operacionais Padrão do Sistema
Penitenciário Federal é considerado um importante instrumento que agrupa, de
forma sistematizada, as normas e descreve os procedimentos que devem ser
executados nas atividades de tratamento penitenciário no âmbito das
penitenciárias federais, estando alinhado com o objetivo estratégico do
Departamento Penitenciário Nacional, responsável pelo Sistema Penitenciário
Federal, quanto ao aperfeiçoamento da gestão dos sistema prisional.
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Aula 3 - EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE PESSOAS PRESAS
A escola é o ambiente fundamental para se ofertar e adquirir cidadania. Por
possuir uma importância cívica fundamental permite-se ali dar os primeiros passos
rumo a uma sociedade justa e igualitária. É no ambiente escolar que são
apresentados horizontes e perspectivas aos indivíduos, pontos de vistas que os
acompanharão por toda sua vida e que possivelmente serão repassados, como
valores, às próximas gerações. Neste cenário, surge a importância de uma oferta
de educação com comprometimento e responsabilidade de todos os envolvidos
no processo.
A educação na sociedade tem o propósito de desenvolver
iniciativas que contribuam para o desenvolvimento humano, na medida
em que vá ao encontro às necessidades e interesses daqueles em
questão. Contudo, a escola precisará propor ações e condições
educativas que envolvam todos, Estado, sociedade, professor, aluno e
família.
A realidade do Brasil tem mostrado que o acesso à educação em idade
própria tem sido proporcionado pelo cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação. Entretanto, a permanência e a continuidade dos jovens nos estudos
até o final da educação básica têm sido difíceis de ser cumprido. Haja vista que o
novo Plano Nacional da Educação (Lei nº 13.005 de junho de 2014) estabelece
metas para universalização tanto no ensino fundamental quanto médio.
Além disso, as desigualdades sociais refletem-se nas condições de
acesso à escola, incluindo também a extensão escolar, ou seja, sua continuidade.
Crianças e jovens pertencentes às famílias de baixa renda têm necessidade de
trabalhar desde cedo para manter-se ou contribuir para a renda familiar, o que
dificulta, quando não impede, seu acesso, permanência e progresso na escola.
Ainda que haja programas sociais, como o Bolsa Família, que criam
condicionalidades para a manutenção da criança na escola, observa-se níveis de
pobreza extremamente altos e que podem refletir na forma como está criança é
inserido na sociedade.
P á g i n a 139 | 189
No que diz respeito ao sistema prisional, ali estão concentrados
o resultado da realidade mencionada, ou seja, pessoas com nível de
escolaridade baixo, inclusive abaixo da média nacional. Logo, é
possível conjecturar-se uma relação causal entre a falta de acesso às
assistências básicas previstas na legislação vigente e o cometimento
de atos ilícitos.
Em geral, são pessoas que não tiveram acesso principalmente à
educação em idade apropriada e que estavam sem perspectiva de vida,
em alguns casos vivendo com o mínimo necessário. Pode-se inferir que,
em algum momento de suas vidas, houve falhas e ausências de origem
compartilhada, tanto do Estado como da família, sociedade, religião etc.
Diante desse contexto, encontra-se uma série de barreiras para enfrentar o
baixo nível de escolaridade no interior das unidades prisionais do país. O olhar da
sociedade ainda reflete uma visão antiga, excludente e de caráter punitivo, onde
aquelas pessoas privadas de liberdade não merecem ser inseridas nas políticas
públicas desenvolvidas pelos governos. Entretanto, tal visão está equivocada,
tendo em vista que o objetivo do encarceramento no Brasil não é simplesmente a
exclusão social, mas fundamentalmente a recuperação desse indivíduo,
oportunizando uma reflexão sobre seus atos.
Segundo Foucault (1987), a escola no interior da unidade prisional deve ser
um espaço de produção de conhecimento, de estudo, de estabelecimento de
vínculos, de relações éticas, de questionamento e de participação.
Elenice Onofre, em seu artigo "Educação Escolar na Prisão: controvérsias
e caminhos de enfrentamento e superação da cilada", aponta que:
“impossível separar o processo educativo do contexto em
que ele tem seu lugar. O espaço prisional é um marco
especialmente difícil para os processos educativos, cuja
finalidade, entre outras, é permitir que as pessoas tomem
suas próprias decisões e, em consequência, assumam
controle de suas próprias vidas e possam inserir-se na
sociedade, de maneira autossuficiente. Nesse sentido, no
contexto prisional a educação é uma ferramenta adequada
P á g i n a 140 | 189
para o processo formativo, no sentido de produzir mudanças
de atitudes e contribuir para a integração social. Cabe ao
educador papel relevante nesta tarefa, pois enfrentar os
problemas quando em liberdade, significa administrar
conflitos, analisar contradições, conduzir tensões e dilemas
da vida diária”.
Diante ao panorama exposto, pode-se afirmar que a lógica cruel e
excludente do sistema prisional brasileiro tem sido alterada diante das ações dos
Governos Federal e Estaduais. Nesse novo contexto, a imagem do preso passa a
ser de uma pessoa capaz de se recuperar e retornar ao convívio em sociedade.
Essas ações estão cada vez mais sendo intensificadas, levando em consideração
os preceitos legais vigentes, e ainda em virtude das políticas públicas necessárias
ao enfrentamento da criminalidade e violência no país.
A garantia da oferta das assistências previstas na Lei de
Execução Penal nº 7.210, de 11 de julho de 1984, demandam uma
articulação institucionalcom coordenação e execução de atividades
intra e intergovernamental. A cooperação para a oferta de educação
nas prisões ganhou novos contornos a partir de 2005 com a criação do
Projeto Educando para a Liberdade, que contou com a parceria da
UNESCO e da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para
Educação, Ciência e Cultura).
Essa iniciativa permitiu pôr na agenda das políticas públicas um tema
periférico e invisível para parte considerável da população brasileira. O projeto
promoveu um maior conhecimento sobre o desafio da oferta de educação nas
prisões e mobilizou gestores, professores, agentes penitenciários, sociedade civil
em torno do tema, o que foi fundamental para a aprovação de Diretrizes do
Conselho Nacional de Educação, do Conselho Nacional de Políticas Criminais e
Penitenciárias e da Lei nº 12.433, de 29 de julho de 2011
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm),que prevê
a remição da pena pelo estudo.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12433.htm
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Por entender que essa alteração na Lei de Execução Penal (LEP) teria forte
impacto na demanda por educação nas prisões, o Governo Federal publicou o
Decreto nº 7.626, de 24 de novembro de 2011
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7626.htm), que
instituiu o Plano Estratégico de Educação no Âmbito do Sistema Prisional
(PEESP), prevendo o apoio técnico e financeiro da União aos Estados e ao Distrito
Federal.
Segundo o Decreto, compete ao Ministério da Educação o apoio financeiro
para equipar e aparelhar os espaços, distribuir material didático, compor os
acervos das bibliotecas, fomentar programas de alfabetização e de educação de
jovens e adultos, e de capacitação dos profissionais; ao Ministério da Justiça, o
apoio financeiro para construção, ampliação e reforma dos espaços destinados à
educação nos estabelecimentos penais.
Para acessar os recursos do orçamento federal, os Estados e o Distrito
Federal devem apresentar plano de ação contendo:
Figura 30 - Plano de Ação
Fonte: SCD/EaD/Segen
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7626.htm
P á g i n a 142 | 189
PEESP promove um alinhamento estratégico entre o planejamento dos
Estados e as políticas implementadas pelo Governo Federal. Este alinhamento
permite dimensionar os recursos a serem transferidos no âmbito do Plano de
Ações Articuladas (PAR), a distribuição do material didático e a política de
formação continuada para os servidores que atuam na oferta de educação em
prisões.
Os Ministérios da Educação e da Justiça compreenderam o plano
de ação previsto no Decreto nº 7.626/2011 como parte de um esforço
maior de organização da oferta de educação nas prisões e, nesse
sentido, fomentaram a elaboração de Planos Estaduais de Educação
nas prisões. Essa estratégia foi pactuada no IlI Seminário Nacional de
Educação nas Prisões, realizado no primeiro semestre de 2012.
Para subsidiar a elaboração dos planos, o Governo Federal apresentou um
Guia de Orientações sugerindo que os planos contivessem informações sobre a
gestão e organização da oferta de educação, a formação continuada dos
profissionais, exames de certificação e estratégias de acompanhamento das
ações. Todos os itens que compõem este guia estão vinculados aos normativos
legais que definem como deve ser a oferta de educação.
Além disso, é preciso que no planejamento da ação seja observada a
compatibilidade de horários entre educação e trabalho para que não haja
priorização deste último, em função do retorno imediato pelo dinheiro. A educação
é entendida como formação que acompanha a pessoa presa por toda a vida e
relaciona-se com a formação do cidadão, que ultrapassa o trabalho e envolve a
dimensão da família, da sociedade e do convívio social.
Contudo, é preciso ressaltar que, ao se abordar a educação
voltada ao sistema prisional, é importante ter claro que os reclusos,
embora privados de liberdade, mantêm a titularidade dos demais
direitos fundamentais, como é o caso da integridade física, psicológica
P á g i n a 143 | 189
e moral, portanto, o acesso ao direito à educação deve ser assegurado
universalmente, inclusive relacionado a outras ações complementares
como o acesso à leitura, cultura, esporte e inclusão digital, que
garantem a remição da pena.
Diversos instrumentos legais asseguram que a educação é um direito
humano subjetivo e, é claro, deve ser estendido à população carcerária. Dentre
eles é possível citar:
Constituição Federal de 1988
A CF afirma, no Artigo 205, que a educação, direito de todos e dever do
Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho. Estabelece, no Artigo
208, o dever do Estado na garantia do ensino fundamental obrigatório e gratuito,
assegurando, inclusive, "sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram
acesso na idade própria".
Lei de Execução Penal nº 7.210/1984
A Lei de Execução Penal define, em seu Artigo 1º, que o objetivo da
execução penal é efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado. Define, ainda no Artigo 10, que a assistência ao preso e ao internado
(no qual se inclui a assistência educacional) é dever do Estado e objetiva prevenir
o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.
Resolução CNPCP nº 03/2009
A Resolução dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a oferta de
educação nos estabelecimentos penais, editada pelo Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária.
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Resolução CNE/CEB nº 02/2010
A Resolução estabelece as Diretrizes Nacionais para a oferta de Educação
para Jovens e Adultos em Situação de Privação de Liberdade nos
Estabelecimentos Penais, editada pelo Conselho Nacional de Educação.
Lei nº 12.433/2011
A Lei trata da remição da pena pelo estudo, assegurando a redução de "01
(um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de
ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de
requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 03 (três) dias".
Decreto nº 7.626/2011
Instituiu o Plano Estratégico de Educação no Âmbito do Sistema Prisional
(PEESP), definindo as atribuições dos Ministérios da Educação e da Justiça para
o financiamento das ações, bem como dos sistemas de ensino para efetivação da
oferta educacional nos estabelecimentos penais. Na perspectiva da ampliação e
qualificação da oferta de educação em prisões o Decreto visa fundamentalmente
à oferta de educação básica, na modalidade de educação de jovens e adultos
(EJA), à educação profissional e tecnológica e à educação superior às pessoas
custodiadas pelo sistema prisional.
Recomendação CNJ nº 44/2013 –
Dispõe sobre as atividades educacionais complementares para fins de
remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão pela leitura.
A Recomendação é baseada em normativos já existentes, como a Lei nº 12.433
de 2011, bem como na Nota Técnica nº 125/2012 elaborada pelos Ministérios da
Justiça e Educação acerca do tema. Muitos projetos de remição pela leitura ou
outras atividades, que não a educação formal, são desenvolvidos em várias
unidades prisionais, e com a edição da recomendação, os juízes poderão
considerar também essas práticas no momento de calcular o tempo de remição
de cada indivíduo. Mas vale lembrar que essas atividades deverão estar inseridas
no Plano Político Pedagógico do sistema prisional local.
P á g i n a 145 | 189
Para a obtenção de maiores informações, a Coordenação de
Apoioao Ensino, subordinada à Coordenação-Geral de Reintegração
Social e Ensino da Diretoria de Políticas Penitenciárias do
Departamento Penitenciário Nacional, está à disposição por meio dos
contatos eletrônico coape@mj.gov.br.
Aula 4 - FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DE SERVIDORES
O objetivo desse módulo é apresentar como são pautadas as ações de
capacitação no serviço público e as especificidades do Sistema Prisional.
1. Introdução
Vivemos na Era da Informação e cada vez mais temos que aprender a
transformar dados em conhecimento. Não existe falta de dados: hoje eles podem
ser acessados a qualquer instante a partir de vários dispositivos. Cabe a nós
conseguirmos sintetizar esse volume de informação, adestrando-o em
conhecimento que pode ser utilizado na nossa rotina. Vivemos cada vez mais o
enigma da esfinge "decifra-me ou te devoro", e isso afeta rotineiramente as
nossas diversas relações, sejam familiares, amigos, viagens e profissionais.
O nosso país vem buscando atingir altos níveis de produtividade.
Analisando o último relatório do Fórum Econômico Mundial de 2013, que aponta
o impacto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) no
desenvolvimento e competitividade dos países, vemos que ainda temos bastante
espaço para crescimento, pois estamos na 60ª posição entre 144 países e
subimos cinco posições desde a última análise. A capacitação profissional
permitiu esse crescimento e será fundamental para que possamos fazer maiores
avanços.
P á g i n a 146 | 189
2. Educação coorporativa
As empresas já sabem que esse processo de conversão de dados para
conhecimento é um processo fundamental para conseguirem atender as
expectativas do público, e quem está à frente dele são os funcionários. Os
cenários estão em constante transformação e consequentemente as pessoas que
estão envolvidas com os processos precisam se atualizar com novas
competências.
Os setores responsáveis pelos recursos humanos e gestão de pessoas
passaram a ter maior importância para garantir a efetividade das instituições. Para
tanto, eles devem perceber, inicialmente, as competências necessárias para os
processos da instituição e trabalhar para que essas lacunas sejam preenchidas.
As universidades corporativas são criadas por uma série de razões, mas
em uma análise geral podemos destacar:
I. Desenvolver o acolhimento, promovendo os valores da empresa e o
sentimento de grupo.
II. Potencializar os investimentos em educação.
III. Organizar as ações educacionais.
IV. Manter a competitividade da empresa.
V. Reter funcionários.
VI. Iniciar e apoiar as mudanças na organização.
Existem diversos modelos educacionais para diferentes necessidades.
Podemos citar entre os principais:
Cursos de Formação
Prepara o indivíduo que irá integrar os quadros da instituição. Utilizamos cada
vez menos a expressão "saiu pronto da faculdade". As instituições universitárias
dotam os alunos de uma carga de conhecimento suficiente para conhecer a
profissão, mas a rotina laboral, o recorte profissional, os valores, a missão e a
postura da instituição serão transmitidas na formação inicial. É a modalidade que
P á g i n a 147 | 189
geralmente oferece melhores resultados, pois a dedicação e a atenção dos
participantes superam a média das outras ações; portanto, deve-se organizá-la
no sentido de promover o máximo aproveitamento.
Cursos de Capacitação
Tem como principal objetivo introduzir novas competências aos funcionários.
Isso pode se dar por alterações de setor, novos problemas que surgem e novos
desafios da instituição. E, além do custo financeiro, há o custo laboral, que é a
ausência temporária dos funcionários de seu posto de trabalho; portanto, se deve
evitar grandes ações, transformando-as em várias pequenas.
Treinamento
Promove a reciclagem de conhecimentos que já foram transmitidos em algum
momento. Também envolve o custo laboral e deve acontecer regularmente para
garantir a correta execução dos serviços.
3. Capacitação do servidor público
A Administração Pública compreende e incorporou a necessidade de
capacitação em suas ações. Concursos de seleção, cursos de formação e outras
ações de capacitação já fazem parte da rotina do servidor há algumas décadas.
A Constituição de 1988, em seu Artigo nº 39, § 2º, determinou a
instituição de escolas de governo, nos três níveis federativos, "para a
formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a
participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira". A
capacitação de servidores públicos, no entanto, não é uma preocupação
inaugurada pela legislação de 1988, pois a criação do Departamento
Administrativo do Serviço Público (DASP), na década de 1930, já é um
marco no processo de profissionalização e qualificação do serviço público.
P á g i n a 148 | 189
O Instituto Rio Branco (lRB), em 1945, a Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (ENCE), em 1953, e a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), em
1954, foram as primeiras instituições públicas criadas para a qualificação profissional
de segmentos do funcionalismo públicos. Em 2014, existem mais de duzentas Escolas
de Governo registradas junto à Escola Nacional de Administração Pública (ENAP),
que atendem as diversas particularidades que cercam a capacitação do servidor
público nas diversas esferas e espaços de atuação.
Em 2006, a Presidência da República, por meio do Decreto nº 5.707/06,
revogada pelo Decreto nº 9.991, de 28 de agosto de 2019
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D9991.htm#art35),
instituiu a Política e as Diretrizes para o Desenvolvimento de Pessoal da
Administração Pública Federal, direta, autárquica e fundacional, e regulamentou
dispositivos da Lei nº 8.112. Como as ações educacionais já ocorriam de diversas
formas nos diversos órgãos, este documento foi fundamental para que houvesse uma
padronização desses conceitos, além de trazer as diretrizes e instrumentos da Política
Nacional de Desenvolvimento de Pessoal.
Em 2007, surgiu o Decreto nº 6.114, de 15 de maio
(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6114.htm) que
regulamenta o pagamento da Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso de que
trata o Art. nº 76-A da Lei nº 8.112, fundamental para que as ações educacionais
possam ocorrer com a qualidade devida e garanta a remuneração aos profissionais
envolvidos. A partir dela, cada instituição pode desenvolver o seu modelo de
remuneração, desde que respeitando os parâmetros definidos.
4. Políticas para o sistema prisional
A preocupação com a capacitação dos servidores envolvidos com a execução
penal transcende a interesses nacionais. As regras mínimas estabelecidas pelas
Nações Unidas, Resolução adotada em 31 de agosto de 1955
(https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D9991.htm#art35
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6114.htm
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/RegMinTratRec.html
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brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/RegMinTratRec.html), em Genebra, no item 47
traz que:
“1 - Os funcionários devem possuir um padrão adequado de
educação e inteligência.
2 - Antes de tomar posse, os funcionários devem fazer um
treinamento em tarefas gerais e específicas e passar por
testes teóricos e práticos.
3- Depois de tomarem posse e durante a carreira, os
funcionários devem manter e aperfeiçoar seus
conhecimentos e capacidade profissional fazendo
treinamentos em serviço, que devem ser organizados a
intervalos apropriados”.
A nossa legislação levaem consideração essas necessidades e a LEP traz, em
seu artigo 77 que:
“Art. 77 - A escolha do pessoal administrativo, especializado,
de instrução técnica e de vigilância atenderá a vocação,
preparação profissional e antecedentes pessoais do
candidato.
§ 1º - O ingresso do pessoal penitenciário, bem como a
progressão ou a ascensão funcional dependerão de cursos
específicos de formação, procedendo-se à reciclagem
periódica dos servidores em exercício”.
Além disso, a Lei de Execuções Penais, em seu artigo 72 destaca, em seu
inciso V, como atribuição do Departamento Penitenciário Nacional, “colaborar com as
Unidades Federativas para a realização de cursos de formação de pessoal
penitenciário e de ensino profissionalizante do condenado e do internado”.
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/comite-brasileiro-de-direitos-humanos-e-politica-externa/RegMinTratRec.html
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Portanto, o processo de formação dos servidores que atuam no sistema
prisional é responsabilidade das Unidades Federativas e cabe ao DEPEN colaborar
para que isso aconteça. Nesse sentido, vários convênios já existiram para que as
unidades pudessem viabilizar essa formação.
5. Matriz curricular
Em 2006, foi publicado a Matriz Curricular Nacional para a Educação em
Serviços Penitenciários que "pretende ser um documento referencial, que descreve o
elenco das principais competências, habilidades, saberes e atitudes que devem ser
desenvolvidos junto a todos os que desempenham suas funções no sistema
penitenciário.". Nele foram definidos quatro eixos articuladores com os seus
respectivos conteúdo. São eles:
Figura 31 - Eixos Articuladores da Matriz Curricular
Fonte: SCS/EaD/Segen
Essa matriz tem servido como base para a elaboração dos cursos de formação
e capacitação dos servidores. Cabe destacar que ela apresenta os eixos de forma
ampla e isso permite que as unidades possam adequar às suas necessidades e
construir suas matrizes e grades horárias específicas.
P á g i n a 151 | 189
Além disso, cabe salientar que essa matriz curricular procura desconstruir
possíveis posturas e práticas que reforçam estigmas e preconceitos contra a
população penitenciária. O eixo “Relações humanas e reinserção social”, por exemplo,
ao incluir discussões sobre relações humanas e reinserção social, procura
problematizar questões como a tortura, a violação de direitos e o entendimento de que
o preso no sistema prisional precisa ter a garantia de um atendimento que permita a
sua reinserção social.
6. Escolas de gestão penitenciária
Em 2005, foi lançado o documento "Educação em Serviços Penais:
Fundamentos de Política e Diretrizes de Financiamento", elaborado e discutido entre
o DEPEN e as Unidades da Federação. Ele trouxe as diretrizes para a implementação
das Escolas de Gestão nos Estados e Distrito Federal, pois na época só existia em
20% das unidades (hoje, já temos em 100%).
Isso quer dizer que, a partir de agora, as ações educativas assim conduzidas
não tendem mais apenas a atualizar tecnicamente os (as) profissionais, ou a aumentá-
los o grau de conhecimento a respeito deste ou daquele tema na execução penal, mas
antes de tudo a desenvolver as suas subjetividades de operadores (as) de um sistema
social repleto de complexidades. As demandas por cursos deixam, assim, de serem
definidas a partir de necessidades tomadas a priori ou definidas verticalmente, mas
devem decorrer, prioritariamente, dos problemas práticos aferidos da organização do
trabalho. Tanto num caso como no outro, enfim, não se tem mais em vista que as
atividades voltadas à capacitação possam continuar representadas por um "menu de
cursos" postos à disposição dos (as) servidores (as), sem uma necessária relação
com as realidades e os dilemas que decorrem das suas atuações concretas.
A partir de 2006, visando garantir às Unidades Federativas as condições
necessárias para que pudessem desenvolver as ações formativas da forma proposta,
foram celebrados convênios com as mesmas no sentido de aparelhar as Escolas de
Gestão Penitenciárias, de forma a atender as especificidades do documento onde já
existiam instituições e criar devidamente aparelhada, onde não existiam.
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Em 2012, os últimos convênios foram celebrados, possibilitando existência de
Escolas aparelhadas e instituídas em todos os Estados e no Distrito Federal. Cada
unidade definiu qual estrutura seria necessária para atender suas demandas e, a partir
daí, os projetos foram financiados e o organograma foi definido.
Paralelamente ao processo de aparelhamento das Escolas
estaduais e do Distrito Federal, o DEPEN financiava projetos de
capacitação que eram executados nessas Unidades Federativas, indo
desde cursos rápidos (até 20h) até pós-graduações. Essa necessidade
apresentava muitas demandas semelhantes, que eram executadas de
formas distintas. Isso fez que o DEPEN encerrasse essa colaboração direta
com os Estados e passasse a centralizar as demandas.
A Escola Nacional de Serviços Penais (ESPEN) foi criada pela Portaria do
Ministério da Justiça nº 3.123, de 03 de dezembro de 2012, e, com isso, pode-se
agrupar toda demanda nacional de capacitação com um número maior de alunos, e
conseguir cursos de qualidade superior a melhores preços. Isso faz com que
possamos consolidar a cultura da capacitação nas unidades. As Escolas das unidades
definem as demandas e são responsáveis pela gestão das vagas. Isso permite que
se possa funcionar em rede, construindo soluções e atendendo um número maior de
servidores.
Para a obtenção de maiores informações, a Escola de Serviços
Penais do Departamento Penitenciário Nacional coloca-se à disposição por
meio do contato eletrônico espen.DEPEN@mj.gov.br.
Aula 5 - QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E TRABALHO E RENDA DE PESSOAS PRESAS
O trabalho desempenha um papel importante no senso de identidade,
autoestima e bem-estar psicológico de uma pessoa, portanto, ele é a característica
central e definidora da vida da maioria dos indivíduos. Pode-se atribuir ao trabalho
como a ferramenta principal para a formação cidadã de todos na sociedade.
mailto:espen.DEPEN@mj.gov.br
P á g i n a 153 | 189
Figura 32 – Trabalho
Fonte: SCD/EaD/Segen
Assim, encontrar uma forma de produzir seu próprio sustento é uma das etapas
fundamentais para possibilitar que o preso se reintegre novamente à sociedade. É
preciso considerar que a ausência de um emprego, formal ou informal, pode ter
contribuído para que o indivíduo cometesse o delito. Entretanto, não se pode admitir
tal fato como justificativa e, portanto, não ponderá-lo.
Elionaldo Julião, analisa que com a revolução tecnológica e a aceleração do
processo de globalização transformou o mercado de trabalho, logo, ainda há muito
que ser feito em matéria de fortalecimento de políticas públicas de emprego e
promoção de uma maior integração da qualificação profissional com os serviços de
colocação de mão de obra no mercado de trabalho.
Segundo o sindicalista e ex-presidente do Conselho Deliberativo do
Fundo de Amparo ao Trabalhador (CONDEFAT), Canindé Pegado, alguns
dos principais obstáculos enfrentados pelo Brasil, assim como pelos
principais países em desenvolvimento, e que agravam tal situação, é o
constante surgimento de novas ocupações e a criação de novos mercados
e grandes polos produtores, com o nascimento dos blocos econômicos
globais.
P á g i n a 154 | 189
Para superá-los, sugere a aplicação de ações integradas que possam
simultaneamente promover a qualificação dos trabalhadores, disponibilizar crédito,
sobretudo para os pequenos e médios empreendedores, e garantir a seguridade.
Pode-se observar nas legislações e costumes passados que os castigos e a
pena de morte sempre foram adotados como técnicas de puniçãoaplicadas aos
detentos e condenados em todo o mundo. O caráter reeducacional da prisão só foi
inserido no modelo prisional com a criação de casas correcionais para homens e
mulheres na cidade de Amsterdã (Holanda), no final do século XVI. Essas prisões
destinavam-se, a princípio, a recolher pessoas com desvios de conduta (vadios,
mendigos, prostitutas).
Posteriormente, surgiram em outros países da Europa, no século XVII,
penitenciárias com a mesma finalidade. Apenas no século XIX a finalidade da pena
privativa de liberdade passa a ter a obtenção de vários objetivos, incluindo a
reabilitação do indivíduo.
Convertida no centro irradiador do sistema penitenciário, na
própria medida em que a pena privativa de liberdade constitui o
essencial, a prisão assume uma tripla função: punir, defender a
sociedade isolando o malfeitor para evitar o contágio do mal e
inspirando o temor ao seu destino, corrigir o culpado para
reintegrá-lo à sociedade no nível social que lhe é próprio.
(PERROT, 1988 apud BREITMAN,1989).
No Brasil, o trabalho nas prisões foi introduzido pelo Estado Imperial, mediante
uma mudança no conceito de prisão, que passou a ter o objetivo de reprimir e
reabilitar, apostando na reforma moral do criminoso. Naquela época, esse modelo de
punição que aliava a pena ao trabalho, era tido como moderno, atendendo à máxima
de que somente por meio da disciplina do trabalho seria possível a recuperação do
delinquente.
Atualmente, o trabalho prisional está previsto na Lei de Execução Penal (Lei n.º
7.210, de 11 de julho de 1984), garantindo ao detento uma remuneração mínima de
75% do salário mínimo vigente no país, a redução da pena e um depósito em
caderneta de poupança individual retirado de parte do salário. Dessa forma, o trabalho
prisional nos dias de hoje passou a representar uma possibilidade para a reintegração
P á g i n a 155 | 189
do preso à sociedade no momento em que ele reconquistar a liberdade.
Corroborando as garantias previstas em lei, existe o consenso entre os gestores
e agentes operadores da execução penal (e medidas socioeducativas) de que
somente pela ocupação profissional e educacional é que se conseguirá
verdadeiramente a recuperação social do preso, Lemgruber cita que:
[...] o trabalho prisional passa a ser considerado meio de gerar
riqueza, diminuindo os custos operacionais do sistema
penitenciário. Espera-se que sirva, também, para manter o preso
ocupado, evitando ócio, desviando da prática de atividades
ilícitas: funcionando neste caso como uma espécie de "terapia
ocupacional". Mais recentemente, passou a ser julgado parte
dos chamados "programas de tratamento", visando preparar
o preso para o retorno à vida livre. (LEMGRUBER, 1999).
Seguindo nessa direção, as políticas públicas desenvolvidas pelo Governo
Federal, visando o fomento à capacitação profissional do preso e ainda a oferta de
trabalho intra e extramuros, têm sido intensificadas e fortalecidas. Aos entes
federados cabe a gestão de suas unidades prisionais, contudo, projetos e ações estão
sendo ofertados pela União a fim de que se concretizem os preceitos estabelecidos
em Lei.
Diversos instrumentos legais asseguram que o trabalho é um direito social e, é
claro, deve ser estendido à população prisional, dentre eles podem ser destacados:
• Constituição Federal de 1988, Art. 6º, Art. 203;
• Lei de Execução Penal n.º 7.210/1984, Art. 1º, Art. 28 à 37, e Art. 126.
Acredita-se, portanto, que o trabalho desenvolvido pelo indivíduo em
cumprimento de pena privativa de liberdade irá propiciar sua (re)educação, e assim,
oferecer a possibilidade de retornar à sociedade de forma não mais segregada. É
preciso crer que o ser humano vive em um constante processo de socialização, por
isso a importância dos processos de ressocialização.
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Como afirma Baratta (2004),
“reintegrar o condenado significa promover a modificação de seu
mundo de isolamento, assim como a transformação da
sociedade que precisa reassumir sua parte de responsabilidade
nos problemas e conflitos que são segregados nas prisões. Criar
novas condições intelectuais, sociais e culturais que facilitem o
desenvolvimento individual e aumentem as competências
profissionais e pessoais para se chegar à autonomia de
subsistência, de movimento, de pensamento e de relações,
significa igualmente a promoção de mudanças na sociedade,
nas instituições, nas políticas públicas”.
Ao se analisar os desdobramentos reais do trabalho - transformação,
autoconstrução, realização, sociabilidade, independência - poderá ser constatado e
reconhecido seu importante espaço no contexto do desenvolvimento pessoal. Esses
pontos são potencializados quando se trata de egressos do sistema prisional, pois
aquele que outrora esteve marginalizado, agora está inserido de maneira igual e justa
no seio da sociedade.
O trabalho tem indubitavelmente um papel importante no âmbito do sistema
prisional, mas é preciso conjugá-lo à formação profissional, às reais condições de
inserção no mercado de trabalho formal (ou até mesmo informal). No final, ele
proporcionar valorização, reconhecimento, possibilidades de crescimento e
desenvolvimento pessoal, garantindo, assim, condições decentes de sobrevivência.
Nada diferente do que almeja qualquer trabalhador.
São exemplos de financiamento da Política Pública de Qualificação
Profissional e Geração de Trabalho e Renda o Programa de Capacitação
Profissional e Implementação de Oficinas Permanentes em
Estabelecimentos Penais (PROCAP) e o Programa Nacional de Acesso
ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), que têm por objetivo
garantir maior ampliação de acesso ao trabalho e renda das pessoas
privadas de liberdade e egressos do sistema prisional.
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Para a obtenção de maiores informações, a Coordenação de Apoio
ao Trabalho e Renda, subordinada à Coordenação-Geral de Reintegração
Social e Ensino da Diretoria de Políticas Penitenciárias do Departamento
Penitenciário Nacional, está à disposição por meio dos contatos eletrônico
coatr@mj.gov.br.
mailto:coatr@mj.gov.br
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Finalizando....
Neste módulo aprendemos que:
• A imensa maioria da população carcerária possui precária escolarização
formal no momento de seu ingresso no cárcere.
• Populações vulneráveis são aqueles grupos que não possuem condições
eficientes de responder às ameaças externas ou minimizá-las usando seus
próprios recursos. Isso significa que são pessoas que, mesmo agrupadas,
não conseguem evitar a submissão a eventos ameaçadores externos.
• A LEP permite que as atividades educacionais possam ser realizadas por
meio de convênio com entidades públicas ou particulares. Também
determina que todo estabelecimento penal deve possuir uma biblioteca que
sirva todos os presos indistintamente.
• Não se pode realizar a atividade educacional no cárcere sem um projeto
político-pedagógico coerente com a realidade prisional devidamente
inserido dentro de uma proposta político-institucional e, por sua vez,
condizentes com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei n.º
9.394, de 20 de dezembro de 1996, e demais dispositivos legais aplicáveis
para a modalidade de educação de jovens e adultos - EJA.
• A educação no cárcere deve ser executada pelas Secretarias de Educação
dos Estados e do Distrito Federal em articulação com os órgãos
responsáveis pela sua Administração Penitenciária, exceto nas
penitenciárias federais, uma vez que os programas educacionais são da
responsabilidade do Ministério da Educação em articulação com o
Ministério da Justiça.
• Os docentes que atuam nos espaços penais deverão ser profissionais do
magistério devidamente habilitados e com remuneração condizente com as
especificidades da função.
• Todos esses profissionais devem ter noções sobre as particularidadesdo
sistema prisional. Também devem ter bom conhecimento sobre pedagogia,
psicologia, serviço social, direito, defesa pessoal, criminologia, saúde
pública, entre tantos outros saberes.
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Módulo 4 - SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO
Caro Aluno,
A saúde no contexto prisional é, talvez, o tema mais delicado e pulsante da
atualidade, pois são inúmeras e graves as situações relacionadas. Para se ter uma
boa noção sobre a dimensão do problema, basta lembrarmos que, até pouco tempo
atrás, a população prisional era a única sem acesso formal ao Sistema Único de
Saúde (SUS).
OBJETIVOS DO MÓDULO
Esperamos que você, ao final do estudo deste Módulo, seja capaz de:
• Analisar a saúde no contexto carcerário;
• Discutir a situação de saúde dos envolvidos no sistema prisional.
ESTRUTURA DO MÓDULO
Na tentativa de organizar a discussão, este Módulo está dividido em três aulas:
Aula 1 – Saúde no contexto carcerário;
Aula 2 – Qualidade de vida do servidor penitenciário;
Aula 3 – Assistência em Saúde no Sistema Prisional Brasileiro.
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Aula 1 – SAÚDE NO CONTEXTO CARCERÁRIO
Nesta aula vamos analisar e discutir a questão da saúde no sistema prisional
e a qualidade de vida dos envolvidos neste setor.
Vamos lá!
1. A saúde prisional e o direito
Todo indivíduo preso tem garantida a assistência à saúde. Todavia, isso está
disposto de modo muito sucinto na LEP, em seu Artigo 14, onde está afirmado que
"a assistência à saúde do preso e do internado de caráter
preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico,
farmacêutico e odontológico".
Também consta da LEP que, caso o estabelecimento penal não esteja
aparelhado para dar assistência médica, esta será prestada em outro local, mediante
autorização da direção do estabelecimento.
Quanto à saúde da mulher presa, a LEP apenas diz que "será assegurado
acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto,
extensivo ao recém-nascido".
Podemos ver bem que as disposições da LEP em termo de saúde prisional são
tímidas, vagas e genéricas. Isso, contudo, não significa que não exista proteção
jurídica para a saúde do indivíduo encarcerado.
Veja onde está amparado tais direitos:
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Figura 33 - Amparo Legal
Fonte: SCD/EaD/Segen
O Artigo 196 da Constituição Federal, por sua vez, de modo indistinto
universaliza o direito à saúde, ao dispor que,
"a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”.
Logo, indiscutível e óbvio que a população prisional tem o direito à saúde,
garantido tanto quanto o é para as pessoas em liberdade.
Mas a preocupante realidade da saúde prisional no Brasil não foi acompanhada
de maior regulamentação jurídica e os diplomas legais foram insuficientes. Embora,
como demonstrado acima, já existem normas jurídicas, o tema prisional perece
necessitar sempre de um reforço semântico, isto é, a questão prisional no Brasil tende
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a precisar sempre que se reafirme o óbvio através de leis: o preso está protegido pelo
SUS.
Muito tardiamente surgiu disciplina normativa que formalmente reconheceu o
indivíduo preso como abarcado pelo SUS, qual fosse, a Portaria lnterministerial dos
Ministérios da Justiça e da Saúde nº 01, de 2 de janeiro de 2014.
A referida Portaria reafirma que o Brasil reconhece em favor do indivíduo preso
todos os direitos universais, desde que compatíveis com a situação de quem está
privado de liberdade.
2. Aspectos saúde prisional
As questões de saúde que merecem atenção em tema prisional são
decorrentes de duas situações já conhecidas. Então vejamos, primeiramente, aquela
que decorre de enfermidades preexistentes. São casos em que o preso já possuía
uma doença ou debilidade ou necessidade especial (por exemplo, um cadeirante)
anteriormente ao seu ingresso na prisão. Nesses casos, cabe à administração
penitenciária tratar o preso, não permitir que sua situação se agrave e, mais que isso,
esgotar as possibilidades para que o quadro seja melhorado ou sanado. Assim, ao
Estado cabe não apenas evitar os agravos, mas também tratar a pessoa presa.
Uma vez que o preso se encontra sob a custódia do Estado, o dever
de prover e dar efetividade a assistência à saúde é do Estado, tal qual se
esse indivíduo estivesse em liberdade. O fato de ser portador de
enfermidade ou necessidades preexistente não isenta o Estado de dar
factibilidade a assistência à saúde.
Situação semelhante pode ocorrer também quando o indivíduo ingressa no
sistema ferido devido ao confronto com a polícia, por exemplo, por ter sido alvejado.
Da mesma forma, cabe ao Estado dar efetividade a assistência à saúde.
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A segunda situação é aquela em que o preso adquire e desenvolve a doença
ou debilidade ou a necessidade especial após ingressar no ambiente carcerário.
Essa situação não se confunde com o agravo acima citado em que o preso já
possui uma enfermidade preexistente, que pode estar controlada ou tratada ou em
tratamento. Caso esteja tratada ou controlada e vier a ressurgir, não se trata de
doença produzida pelo encarceramento, mas, sim, favorecida por ele.
A diferença entre a primeira situação e a segunda, portanto, é que na primeira
a doença ou debilidade ou necessidade especial do preso se agrava, enquanto na
segunda ela é adquirida ou desenvolvida após o encarceramento.
Figura 34 - Sistema Carcerário X Doenças
Fonte: SCD/EaD/Segen – Arte: Fernando Bola
É assim, devido ao convívio em estruturas fechadas. Justamente em razão da
ambiência, são altos os índices de tuberculose, enfermidades psiquiátricas e
dermatológicas. O segundo fator de maior peso é a má gestão prisional.
A relevância da saúde prisional vai além da infelicidade pessoal e da
desumanidade. Compromete a própria segurança da unidade prisional. Diversas
foram as rebeliões que se iniciaram em razão de solicitações de tratamento à saúde
não atendidas.
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Imagine diversos indivíduos num mesmo ambiente, em meio a
madrugada, sendo que uma destas pessoas agoniza dentro da cela, sem
socorro. Fácil perceber que a situação transborda a questão pessoal e
humana, podendo (e é provável que assim seja) gerar motins.
Assim, também tente imaginar as consequências da convivência de
um preso portador de doença mental (por exemplo, esquizofrenia) em meio
aos demais.
3. O modelo de saúde prisional
As soluções encontradas pela administração penitenciária para desincumbir-se
das questões de saúde são as mais variadas e não seguem um padrão. Todavia, já
existem soluções modelares que podem ser aplicadas a todas as unidades prisionais
de médio e grande porte.
Propõe-se, assim, que todo estabelecimento penal tenha em sua estrutura
predial uma Unidade Básica de Saúde (UBS) com equipe completa, a fim de que a
atenção básica seja dispensada já na própria unidade prisional.
Deixam-se, assim, as intervenções de média e alta complexidade para serem
resolvidas nos equipamentos de saúde existentes no município. Por isso, é essencial
que a unidade prisional tenha uma unidade de saúde com maior capacidade resolutiva
como referência. Uma vez referenciada, a unidade prisional poderá contar com os
serviços prestados pelo respectivo hospital ou equipamento.
Existe também a possibilidade de a administração penitenciária utilizar um
hospital penitenciário. É o que o Estado de São Paulo faz. As questões de segurança
ganham com essa opção, pois a escolta que é necessária sempre que um preso é
encaminhado para uma unidade referenciada é dispensada no hospitalpenitenciário,
que tem a segurança inerente à sua estrutura. Todavia, essa opção deve levar em
conta todos os elementos de administração de saúde pública, a fim de que sejam
estudadas as questões de demanda, serviço e logística.
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4. A Portaria lnterministerial nº 01/2014
Vejamos, agora, para além do modelo, como está disposta a política pública de
saúde prisional no Brasil, nos termos da recente Portaria lnterministerial nº 01/2014.
A referida Portaria instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), a qual está
formalmente situada no âmbito do (SUS).
Assim, a atenção básica será ofertada pelas equipes de atenção básica das
UBSs do território ou através das Equipes de Saúde no Sistema Prisional (ESP),
conforme pactuação estabelecida. As demais ações e serviços de saúde devem ser
previstas e pactuadas na Rede de Atenção à Saúde.
Os serviços de saúde nas unidades prisionais também devem ser
estruturados como pontos de atenção da Rede de Atenção à Saúde, bem
como cadastrados no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos
de Saúde (SCNES).
Ainda devem ser disciplinadas por meio de atos específicos do Ministro de
Estado da Saúde:
Figura 35 - Questões disciplinadas pelos Ministério de Estado da Saúde
Fonte: SCD/EaD/Segen
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Para que a PNAISP seja concretizada é necessária a pactuação do Estado e
do Distrito Federal com a União, através da assinatura de Termo de Adesão. Após,
deve haver a elaboração de Plano de Ação Estadual para Atenção à Saúde da Pessoa
Privada de Liberdade, encaminhando-se a respectiva documentação ao Ministério da
Saúde para aprovação.
O Estado que aderir à PNAISP, bem como o Distrito Federal, terá
garantido a seu favor a aplicação de um índice para complementação dos
valores a serem repassados pela União a título de incentivo, o qual ainda
será objeto de ato específico do Ministro de Estado da Saúde.
A adesão municipal à PNAISP é facultativa. Todavia, depende que o Estado,
cuja adesão também é facultativa, tenha aderido à PNAISP. No território do município
deve haver população privada de liberdade. Do contrário, obviamente, não pode haver
adesão do município. Então, pode ser assinado o Termo de Adesão Municipal e, uma
vez assinado, é dever de o município elaborar o Plano de Ação Municipal para
Atenção à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade.
A adesão municipal, uma vez aprovada pelo Ministério da Saúde,
garantirá a aplicação de um índice para complementação dos valores a
serem repassados pela União a título de incentivo financeiro, que ainda
será objeto de ato específico do Ministro de Estado da Saúde.
As competências da PNAISP estão divididas entre União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, de modo a dar efetividade a assistência à saúde da população
prisional. Basta que cada um destes entes cumpra com suas atribuições, conforme
estabelecidas no PNAISP.
Os trabalhadores do sistema prisional também são alcançados pelas ações de
saúde previstas no PNAISP. Não se trata de uma política que se restringe à população
prisional, mas também atende aos profissionais do sistema.
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Aula 2 - QUALIDADE DE VIDA DO SERVIDOR PENITENCIÁRIO
Normalmente fala-se em qualidade de vida para designar o nível de satisfação,
felicidade ou infelicidade do ser humano no meio em que vive. Este nível é
correspondente às condições de vida do ser humano.
Entretanto, qualidade de vida é um método que mede este nível. Existe uma
ferramenta (um questionário) elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
para essa medição.
O Grupo de Qualidade de Vida da divisão de Saúde Mental da OMS definiu
qualidade de vida como,
"a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto
da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação
aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".
São objetos de análise os aspectos espiritual, físico, mental, psicológico e
emocional, bem como as relações sociais e familiares, a atenção à saúde e à
educação. Também são analisados o poder de compra, oferta e qualidade de
habitação, existência e grau de abrangência e qualidade do saneamento básico etc.
Portanto, qualidade de vida não é o mesmo que padrão de vida.
Figura 36 - Qualidade de Vida
Fonte: SCD/EaD/Segen
P á g i n a 168 | 189
Aqui, trataremos de um conceito mais específico da qualidade de vida: a
qualidade de vida no trabalho. Basicamente, são examinados os mesmos aspectos
da qualidade de vida, todavia com foco nas condições de trabalho.
Vemos, assim, que a qualidade de vida é o resultado de diversos fatores. Ao
menos as necessidades básicas devem ser supridas para que o indivíduo tenha um
nível razoável de qualidade de vida. As pessoas precisam estar saudáveis, terem o
suficiente para alimentar-se, terem acesso à educação formal e o necessário para a
moradia.
Desde que essas necessidades básicas sejam atendidas, a
qualidade de vida de uma pessoa passa a ser determinada pela sua própria
personalidade, e mais precisamente, suas ambições e capacidade de
conformar-se com sua realidade. Nesse aspecto, levam-se em
consideração os desejos e o nível de realização pessoal do indivíduo.
Portanto, a qualidade de vida de uma pessoa é determinada por elementos
objetivos e subjetivos. O indivíduo cuja qualidade de vida é alta sente-se realizado na
vida, como se todos os seus desejos e necessidades tivessem sido realizados. São
pessoas felizes e consideram-se donos de uma vida boa.
Alguém cuja qualidade de vida é ruim possui déficits em alguns aspectos
básicos de sua vida. Podem ser considerados também com baixa qualidade de vida
os indivíduos que, embora possuam supridas as suas necessidades básicas, não
valoraram seus estados objetivos como positivos.
1. Qualidade de vida no trabalho
A qualidade de vida no trabalho representa o grau de satisfação ou insatisfação
que um indivíduo tem em relação à sua própria atividade profissional. Assim, as
pessoas que estimam suas atividades profissionais no dia-a-dia são identificadas
como pessoas que possuem alta qualidade de vida no trabalho. Aquelas que se
sentem desagradadas ou infelizes no desempenho de sua profissão são agrupadas
P á g i n a 169 | 189
como portadoras de baixa qualidade de vida no trabalho.
Normalmente, são analisados ou medidos seis aspectos para aferição da
qualidade de vida no trabalho:
Figura 37- Aspectos de Qualidade de Vida
Fonte: SCD/EaD/Segen
As necessidades de cada indivíduo são diferentes em suas respectivas
atividades profissionais. O nível da qualidade de vida no trabalho é determinado
conforme estas necessidades sejam ou não satisfeitas.
Lembre-se, que conforme dissemos acima, existe um aspecto
subjetivo importante na determinação da qualidade de vida que se aplica
também à qualidade de vida no trabalho. Por exemplo, existem pessoas
que se sentem felizes e satisfeitas por terem um emprego remunerado com
salário mínimo desde que esta atividade as ajude a pagar as contas, outras
pessoas, por sua vez, encaram essa mesma atividade profissional como
indigna, tediosa, braçal etc., e se sentem insatisfeitas nesta atividade.
P á g i n a 170 | 189
Portanto, o que se compreende por alta qualidade de vida no trabalho varia
conforme o indivíduo.
Apesar da alta variação decorrente do fator subjetivo, existem fatores objetivos
mínimos para que todos possam ter alta qualidade de vida no trabalho, conforme a
Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), esses fatores mínimos são:
"O equivalente à saúde, alimentação e abrigo para a qualidade
de vida padrão, no entanto, eles são mais específicos para
carreiras ou empregos. Por exemplo, para ter uma elevada
qualidade de vida no trabalho,uma pessoa tem de ser
respeitada. Colegas e funcionários de alto nível devem tratá-la
de forma justa e educada. O trabalho não deve causar qualquer
desconforto físico ou angústia mental ao empregado. Ele deve
sentir-se como se estivesse fazendo algo agradável ou pelo
menos não desagradável. O trabalhador deve sentir que o
salário pago é suficiente para o trabalho que ele está fazendo.
Finalmente, ele deve se sentir valorizado ou apreciado, como se
estivesse fazendo algo de importância para a empresa".
Vejamos, então, cada um desses aspectos objetivos aplicados ao servidor
penitenciário.
2. A valorização do trabalho do servidor penitenciário
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a atuação do
servidor prisional como uma das profissões mais vulneráveis ao estresse
ocupacional. Estes trabalhadores atuam, em sua maioria, em ambientes
com condições insalubres, submetidos aos efeitos da "prisionização”. A
exposição ao ambiente carcerário durante a vida funcional pode acarretar
a deterioração das relações sociais e familiares.
P á g i n a 171 | 189
Para a sociedade, o trabalho do servidor penitenciário é invisível. Não porque
a sociedade é ruim ou porque despreza o servidor. É que seu trabalho simplesmente
não aparece. E quando aparece (mais precisamente, o que aparece é a sua falta)
dificilmente a sociedade associa a falta do trabalho do servidor às consequências.
Vejamos o que isso significa.
O primeiro dado a ser levado em consideração é que o próprio sistema prisional
tem pouquíssima visibilidade social. É quase invisível. Para a maior parte da
sociedade, o preso deve ser punido do modo mais severo e exemplar possível. Os
homens lamentam que não haja pena de morte, prisão perpétua ou penas cruéis,
como amputação de membros para criminosos patrimoniais e castração para
criminosos sexuais. De modo geral, para a sociedade, o que se passa dentro de uma
penitenciária não lhe diz respeito e é melhor que fique lá e não saia de lá.
É desagradável para a sociedade ter que olhar para aqueles seus
integrantes que erraram, assim como é também desagradável tratá-los com
humanidade e ajudá-los durante e após o cumprimento de pena, a fim de
que retornem ao meio aberto em condições de conviverem em paz.
Isso por si só já revela que o sistema prisional é algo que não se quer ver. Por
isso, dizemos que é um sistema quase invisível. Assim, também, ocorre com o
servidor deste sistema.
Ademais, em razão do baixo nível de educação da população brasileira,
raramente o trabalho do servidor do sistema carcerário é visto como algo produtivo.
Por isso, a sociedade somente consegue perceber a existência e a relevância
desse serviço quando ele falta. Por exemplo, quando um egresso que cumpriu sua
pena reincide e comete novo crime, a sociedade compreende que isso não deveria ter
ocorrido, pois se o criminoso já esteve preso, antes, em tese não deveria praticar
novos delitos, presumindo-se que passou por um tratamento ressocializador.
Mesmo nesses casos a percepção social é limitada. Dificilmente a reincidência
enquanto subproduto do sistema é vista como ligada à escassez de servidores do
sistema, precária assistência social, débil assistência psicológica, ausência ou
insuficiência de treinamento para agentes penitenciários etc.
P á g i n a 172 | 189
Estudos recentes apontam que a valorização do trabalho do servidor
do sistema prisional partirá não da sociedade, mas, sim, justamente
daquele com quem o servidor trata diretamente: o encarcerado. Assim, será
graças ao tratamento humano que o servidor realiza junto ao preso que seu
trabalho será valorizado, pois um dia o preso ganhará a liberdade e, quando
isso ocorrer, trará consigo a relevância do trabalho do servidor (agentes,
assistentes sociais, pedagogos etc.), desde que este preso tenha recebido
tratamento prisional adequado, respeitoso e digno por parte do servidor.
No momento, o trabalho do servidor ainda é pouco valorizado pela sociedade.
Isso não é uma característica do nosso momento na história do homem, uma situação
que vem ocorrendo há muitos séculos, mas que agora começa a mudar.
Outra coisa é o valor objetivo desse trabalho, do maior grau, pois são os
servidores do sistema os grandes atores do processo de ressocialização do detento.
Dependem de seu bom trabalho o sucesso da ressocialização, que evitará a
reincidência e trará a adequação social do egresso à sociedade.
Cabe ao Estado, que é o empregador do servidor, valorizá-lo, pois,
diferentemente da sociedade, o Estado não pode ignorar a relevância do trabalho do
servidor. Essa valorização deve ser feita através de mecanismo de compensação do
desprestígio social, por exemplo, com boa assistência à saúde, cursos profissionais
periódicos para o servidor, proventos compatíveis com a dignidade da função,
equipamentos modernos e adequados, quantidade de servidores compatíveis com as
necessidades do posto de lotação ou da unidade prisional, locais apropriados para
refeição, banho e troca de roupas etc.
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3. A saúde do servidor prisional
Esse tema é também muito delicado. Quatro fatores se associam
e afetam a saúde do servidor:
Figura 38 - Fatores que afetam a Saúde do Servidor
Fonte: SCD/EaD/Segen
Com isso, o prazer de trabalhar diminui. A tensão laboral aumenta. A sensação
de bem-estar no trabalho é baixa e não raro a sensação é de sofrimento. Em razão
disso, as enfermidades psicológicas afetam expressiva porção dos servidores do
sistema. Por vezes, o grau de infelicidade é tão grande que leva ao suicídio.
Concentramos, portanto, nossas observações nesse tema, isto é, na questão
da saúde psicológica do servidor. Os quatro elementos acima mencionados formam
um caldo que leva facilmente à depressão, angústia ou ansiedade.
Se existe algo de que o servidor do sistema deve realmente se
ocupar é de manter a sua própria saúde mental. Não existe segredo para
isso: práticas esportivas regulares, vida comunitária produtiva, ambiente
P á g i n a 174 | 189
familiar sereno, saúde física e alimentação adequada são os eixos de
sustentação. A diferença é que, ao sinal de menor desequilíbrio, o servidor
deve agir a seu favor, isto é, investigar se há algo mais sério. Não pode
acomodar-se como se o alerta de desequilíbrio emocional fosse algo
passageiro que por si só desaparecerá, pois não é. Deve estar atento a si
mesmo e não descuidar de si.
Do mesmo modo, cabe ao Estado dar todo o suporte para que a saúde
psicológica do servidor seja boa. E aqui também não existem segredos. Cabe ao
Estado prover um ambiente de trabalho adequado ao servidor, prover número
suficiente de servidores para o posto ou estabelecimento penal, prover cursos
regulares através de uma EAP e dar assistência à saúde do servidor com especial
preocupação à saúde mental.
Um dos fenômenos que pode ocorrer com o servidor é a sua institucionalização.
Em instituições totais (como é o caso da prisão, de manicômios e de conventos),
aqueles que são responsáveis pela administração em geral tendem a absorver
comportamentos dos internos daquela instituição.
Por isso, frequentemente, vemos servidores expressando-se com a linguagem
e as gírias usadas pelos presos. O fenômeno quase sempre revela algum tipo de
desequilíbrio em algum grau, que pode ser muito leve ou altamente comprometedor.
Outras doenças podem ser adquiridas pelo servidor durante o seu trabalho.
São, em geral, doenças decorrentes de contatos com os presos, ou decorrentes de
ambientes insalubres. Pode ocorrer que o servidor venha a contrair tuberculose ou
doenças de pele, pois estas são enfermidades mais frequentes entre os presos. Pode
ser também que o servidor adquira doenças decorrentes das precárias condições
higiênicas da unidade prisional. Embora sejam raros que taiscontaminações ocorram,
não são ocorrências desprezíveis.
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4. A remuneração
Toda remuneração laboral deve atender a dois requisitos:
Figura 39 - Requisitos da Remuneração Laboral
Fonte: SCD/EaD/Segen
No serviço público, o segundo aspecto frequentemente não é observado, de
modo que funções de grande relevância social são remuneradas com valores e
benefícios muito aquém da contribuição social que prestam.
O servidor do sistema prisional não foge à regra. Essa postura do Estado pode
ser amenizada através da oferta de benefícios, como auxílio-alimentação, auxílio-
saúde, cestas básicas, convênios com instituições financeiras para habitação e
estudo, financiamentos com juros subsidiados etc.
Existe variação entre Estados na remuneração dos servidores. Uma vez que
os sistemas prisionais têm sua administração sob a regência de cada Estado,
logicamente existe variação, também, na política de remuneração e concessão de
benefícios. Essa variação é alta. E mais alta ainda costuma ser essa variação quando
comparada com o que ganham os servidores federais.
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5. A segurança no trabalho do servidor
O tema segurança no trabalho é provavelmente o mais importante. O ambiente
de trabalho do servidor do sistema prisional é eminentemente uma unidade de
segurança. A possibilidade de um servidor ser feito refém, com o início de uma
rebelião, é uma situação onipresente na psique do servidor, que o torna tenso no
trabalho para se dizer o mínimo. Todo objeto pode ser transformado em arma e toda
situação requer cuidado por mais rotineira que seja.
Entretanto, existem fatores que podem elevar em muito a sensação de
segurança (segurança subjetiva) e as condições objetivas de segurança (segurança
objetiva). Vejamos:
Independentemente do nível de segurança da unidade prisional
(mínima, média ou máxima), todas elas devem ter automação, mecânicas
ou eletrônicas. Esse nível deve ser maior tanto quanto for maior o nível de
segurança da unidade. Por exemplo, uma unidade prisional de segurança
máxima deve ter fartura de equipamentos de segurança: monitoração
eletrônica de todos os ambientes, mecanismos de separação física entre
detentos e agentes penitenciários (por exemplo, abertura na porta da cela
para colocar e retirar algemas), máquinas para detectar objetos ocultos em
pessoas e correspondências, mecanismos (manuais ou eletrônicos) de
abertura de celas sem proximidade física do servidor etc.
Também é essencial que a unidade prisional esteja provida de quantidade
suficiente de servidores. Por exemplo, se existem agentes penitenciários suficientes
significa que cada agente terá responsabilidade por um número menor de presos, com
nível de tensão mais baixo.
A existência de um grupo de intervenção especializado em combate e resgate
em ambientes fechados com armas não letais, capaz de chegar rapidamente ao
estabelecimento penal, também é uma garantia de que o detento pensará duas vezes
antes de tentar algo violento.
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Finamente, a observância de protocolos de segurança é da natureza do próprio
serviço e não pode ser relegada em segundo plano. Tais protocolos são frutos de
estudos e experiências em segurança em unidades prisionais. Sempre que se deixa
de observar qualquer desses procedimentos, abre-se uma possibilidade de resgate,
formação de refém ou motim. E toda vez que esse protocolo é observado, essa
possibilidade é fechada.
6. Aspectos particulares
O turno de 24 horas por 72 de descanso é uma jornada difícil. O funcionário do
sistema segue praticamente institucionalizado nesse período. Deve dispor de
ambientes apropriados para pequenos descansos, troca de roupa, banho, guarda de
seus objetos pessoais e alimentação.
Outro aspecto que torna o trabalho do servidor uma atividade ímpar é a
atividade à qual se destina: a ressocialização, como já dissemos. Mais que isso:
deverá a todo tempo evitar a dessocialização do preso, isto é, evitar que no dia em
que o preso ganhe liberdade o faça em condições piores daquelas em que ingressou.
A insuficiência de recursos humanos e materiais para o trabalho
certamente irá gerar angústia no servidor. E ele precisa estar preparado
para essa realidade inexorável.
Em alguns casos, o aprisionamento objetiva apenas uma etapa da
ressocialização consistente com a remoção de presos de uma unidade prisional para
outra, a fim de conter lideranças negativas ou rebeliões na unidade de origem. Aqui o
tratamento de ressocialização é de contenção, para que se possa, mais adiante,
retomar-se o curso normal.
Isso também revela a diversidade de pessoas presas com que trata o servidor,
algo que é produto da própria singularidade entre seres humanos. Cada preso tem
uma personalidade única. Sua personalidade se extravasa e se expressa no meio em
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que vive, qual seja, os ambientes da unidade prisional. Assim, o servidor terá que
saber dialogar, e mais que isso, conviver profissionalmente com os mais diversos tipos
criminológicos, cada um portador de uma sociopatia em graus leve, médio ou grave.
São delinquentes violentos, líderes de facções criminosas, "soldados" dessas facções,
criminosos não violentos, criminosos ocasionais, delinquentes habituais, traficantes
habituais, traficantes eventuais, roubadores eventuais, roubadores em associação e
formação de quadrilha, furtadores, criminosos sexuais etc.
O ideal é que esses indivíduos sejam agrupados em unidades prisionais ou alas
separadas de uma mesma unidade, conforme seu perfil criminológico. Por isso, é
importante que, no ingresso no sistema, seja feita triagem que permita a classificação
do detento. Isso certamente trará melhor condição de trabalho para o servidor.
Importante são as situações de trato com indivíduos presos que não
foram considerados culpados por um crime (logo, são inocentes) e
aguardam julgamento. Nessas situações exige-se do servidor especial
atenção para a condição de inocente-preso deste indivíduo. Para esse
trabalho, o servidor deverá estar altamente capacitado.
Aula 3 - ASSISTÊNCIA EM SAÚDE NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
1. Breve relato sobre o Sistema Prisional Brasileiro
Antes de discorrer acerca da assistência prisional no país é necessário que se
faça uma reflexão acerca do contexto em que se encontram as políticas públicas de
saúde.
Primeiramente, destaca-se que o Brasil possui milhares de pessoas
custodiadas distribuídos de forma não igualitária entre os Estados, uma vez que cada
unidade federada possui números diferentes de pessoas sob custódia.
Alguns Estados possuem grandes números de pessoas presas, até mesmo
porque a população também é maior, como é o caso de Estados como São Paulo,
Minas Gerais e Rio de Janeiro. O custo com cada pessoa presa também varia muito
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de Estado para Estado, retratando realidades distintas de formas de confinamento e
custódia, bem como diversas formas de assistência à população carcerária.
A população carcerária brasileira é predominantemente jovem,
sendo que a maioria se encontra na faixa etária de até 29 anos de idade, e
com baixa escolaridade. O fato principal é que a população carcerária no
país vem crescendo nos últimos anos de forma assustadora e, com isso,
vem crescendo também as demandas de assistência ao preso,
especialmente demandas de assistência social, educação, trabalho, renda
e saúde.
Ressalta-se que as assistências referidas representam direitos de qualquer
pessoa, independentemente de estarem ou não sob a custódia do Estado, garantidas
legalmente pela Constituição Federal de 1988.
2. Assistência em saúde no sistema prisional
A população prisional brasileira vem crescendo nos últimos anos e vários
fatores contribuem para o agravamento das condições geraisde saúde dentro das
unidades prisionais, uma vez que as condições de encarceramento agravam a
situação dos encarcerados, que, muitas vezes já chegam aos estabelecimentos
com a saúde debilitada.
Alguns presos nunca tiveram acesso aos serviços básicos de
saúde, nem aos tratamentos preventivos ofertados à população, o que
piora muito a condição geral após o confinamento. Além disso, existem
ainda as questões de condições sanitárias muitas vezes precárias que
são encontradas dentro dos estabelecimentos prisionais, com celas
superlotadas e sem ventilação, sem água tratada e sem condições de
higiene.
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Aliado a esses fatores, cabe ainda considerar que na maioria das unidades
prisionais o uso de drogas como cigarro e álcool ocorrem de forma abusiva, o que
diminui ainda mais a imunidade dos encarcerados frente aos agravos.
Essas condições são os principais fatores que agravam doenças como
hepatite B, hepatite C, tuberculose, HIV/AIDS, pneumonias, dermatoses,
infecções, transtornos mentais e outras doenças, que são transmitidas aos
agentes penitenciários e funcionários da unidade prisional, e aos familiares que
mantém contato regular com os presos.
Desde a instituição do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário
(PNSSP), no ano de 2003, o acesso da população privada de liberdade à
assistência em saúde vem crescendo dentro dos estabelecimentos, porém, não
foi suficiente para atender toda a demanda carcerária, uma vez que existem
algumas limitações no número de equipes habilitadas e até mesmo no repasse
dos recursos aos Estados.
Até o ano de 2013 todos os Estados e o Distrito Federal foram
habilitados ao PNSSP e todos receberam recursos para pagamento das
equipes e repasses para aparelhamento de Unidades Básicas de
Saúde. O PNSSP foi considerado um marco para o tratamento penal
ofertado à população carcerária, uma vez que antes de sua instituição
não havia nenhuma política de atenção voltada à saúde prisional no
país.
O PNSSP possui como principais diretrizes, pautadas sempre na ética,
justiça, cidadania, direitos humanos, participação e qualidade (BRASIL, 2005):
I. Prestar assistência integral resolutiva, contínua e de boa qualidade às
necessidades de saúde da população penitenciária.
II. Contribuir para o controle e/ou redução dos agravos mais frequentes que
acometem a população penitenciária.
III. Definir e implementar ações e serviços consoantes com os princípios e
diretrizes do SUS.
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IV. Proporcionar o estabelecimento de parcerias por meio do
desenvolvimento de ações intersetoriais.
V. Contribuir para a democratização do conhecimento do processo
saúde/doença, da organização dos serviços e da produção social da
saúde.
VI. Provocar o reconhecimento da saúde como um direito de cidadania.
VII. Estimular o efetivo exercício do controle social.
Todavia, no ano de 2014, após quase dois anos de negociações e
articulações em todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal), foi
instituída a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Privada
de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP).
A nova política veio para modificar todo o fluxo de atendimento da
população carcerária, com novas formas de adesão, que agora atingem tanto os
Estados como os Municípios, e com novas operacionalizações das equipes de
atendimento prisional. Foi ampliado tanto o número de equipes por unidade, bem
como o repasse a cada uma delas, o que dimensiona os incentivos de forma a
ampliar a rede e o fluxo assistencial.
Outro importante progresso foi o estabelecimento de que a assistência será
garantida pelos órgãos ligados à saúde nas esferas correspondentes, como
Secretarias de Saúde. Com isso, tenta-se garantir a universalidade da rede de
assistência do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que os encarcerados
foram, de fato, a última população a ser inserida em sua totalidade na rede SUS.
Ainda, todos os locais de encarceramento serão atendidos pelas ações de saúde
previstas na PNAISP, o que não ocorria antes, onde apenas as penitenciárias
eram contempladas. Dessa forma, espera-se que a quantidade e a qualidade do
atendimento em saúde nos ambientes prisionais brasileiros, sejam, de fato,
modificadas para melhor.
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É importante salientar que o PNSSP considera a saúde mental
como garantia de atendimento à pessoa presa, com ações de
prevenção dos agravos psicossociais decorrentes do confinamento e
atenção às situações de grave prejuízo à saúde decorrente do uso de
álcool e drogas. Salientamos também os progressos quanto às
necessidades específicas das mulheres presas, por meio da Portaria
lnterministerial nº 210, de 16 de janeiro de 2014, que institui a Política
Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE).
São diretrizes da PNAMPE, conforme seu Art. 2º:
I. Prevenção de todos os tipos de violência contra mulheres em situação de
privação de liberdade, em cumprimento aos instrumentos nacionais e
internacionais ratificados pelo Estado Brasileiro relativos ao tema.
II. Fortalecimento da atuação conjunta e articulada de todas as esferas de
governo na implementação da Política Nacional de Atenção às Mulheres
em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional.
III. Fomento à participação das organizações da sociedade civil no controle
social desta política, bem como nos diversos planos, programas, projetos e
atividades dela decorrentes.
IV. Humanização das condições do cumprimento da pena, garantindo o direito
à saúde, educação, alimentação, trabalho, segurança, proteção à
maternidade e à infância, lazer, esportes, assistência jurídica, atendimento
psicossocial e demais direitos humanos.
V. Fomento à adoção de normas e procedimentos adequados às
especificidades das mulheres no que tange a gênero, idade, etnia, cor ou
raça, sexualidade, orientação sexual, nacionalidade, escolaridade,
maternidade, religiosidade, deficiências física e mental e outros aspectos
relevantes.
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VI. Fomento à elaboração de estudos, organização e divulgação de dados,
visando à consolidação de informações penitenciárias sob a perspectiva de
gênero.
VII. Incentivo à formação e capacitação de profissionais vinculados à justiça
criminal e ao sistema prisional, por meio da inclusão da temática de gênero
e encarceramento feminino na matriz curricular e cursos periódicos.
VIII. Incentivo à construção e adaptação de unidades prisionais para o público
feminino, exclusivas, regionalizadas, e que observem o disposto na
Resolução nº 9, de 18 de novembro de 2011, do Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária (CNPCP).
IX. Fomento à identificação e monitoramento da condição de presas
provisórias, com a implementação de medidas que priorizem seu
atendimento jurídico e tramitação processual;
X. Fomento ao desenvolvimento de ações que visem a assistência às pré-
egressas e egressas do sistema prisional, por meio da divulgação,
orientação ao acesso às políticas públicas de proteção social, trabalho e
renda.
XI. Parágrafo único - Nos termos do inciso VIII, entende -se por regionalização
a distribuição de unidades prisionais no interior dos estados, visando o
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Para receber recursos no âmbito do PNSSP e PNAISP é necessário que os
Estados e o Distrito Federal incluam ações, planejamento e metas no Plano
Operativo Estadual (POE). Também é necessário que a população prisional seja
inserida no plano e que, além disso, sejam traçadas expectativas de atingimento
deste público com ações específicas.
Há que se ressaltar a recente publicação das Portarias MS 94/2014 e
95/2014, ambas publicadas em 14 de janeiro de 2014, que tratam sobre a
instituição do serviçode avaliação e acompanhamento de medidas terapêuticas
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aplicáveis à pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS) e a operacionalização e financiamento dos
serviços.
As citadas portarias foram exaustivamente discutidas no âmbito dos
Ministérios da Saúde e da Justiça, com acompanhamento e participação do
DEPEN em todas as etapas de trabalho e discussões. Representam uma nova
ótica para o tratamento dos pacientes judiciários em privação de liberdade, bem
como redefinem todo o fluxo de atendimento e porta de entrada aos pacientes
judiciários em conflito com a lei.
São exemplos de financiamento da Política Pública de Saúde Prisional o
aparelhamento de Unidades Básicas de Saúde e Centros de Referência à Saúde
Materno-Infantil, que tem por objetivo garantir maior resolutividade da assistência
à saúde e ampliar os atendimentos à saúde nos contextos das unidades penais,
reduzindo o número de saídas e movimentações para a rede assistencial local,
melhorando as condições e favorecendo a instrumentalização das equipes de
assistência.
3. Legislação pertinente
Nesse contexto, destaca-se que o acesso à assistência em saúde é
garantido às pessoas privadas de liberdade por diversos instrumentos legais, de
forma que fica claro que se trata de um direito social. Dentre eles podemos citar:
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição;
Art. 196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.
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LEI Nº 8.080/1990
Dispõe sobre os princípios e diretrizes do SUS. Em seu detalhamento traz
a "universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência" e a "igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou
privilégios de qualquer espécie".
LEI DE EXECUÇÃO PENAL (N.º 7.210 DE 1984)
Criada com a finalidade de proporcionar condições para a harmônica
integração social da pessoa sentenciada e da internada, apontando como base
do cumprimento das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos um
programa individualizador da pena, cita em seu artigo 14, seção IlI o que deverá
ser ofertado às pessoas em cumprimento de pena: "A assistência à saúde do (a)
preso (a) e do (a) internado (a) de caráter preventivo e curativo, compreenderá
atendimento médico, farmacêutico e odontológico".
PLANO NACIONAL DE SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO (PNSSP)
Instituído pela Portaria lnterministerial MJ/MS nº 1.777 de 2003, veio
sedimentar um compromisso assumido pelo SUS frente à população brasileira,
isto é, a universalidade e a equidade da assistência em saúde, para todos (as),
inclusive aqueles (as) mais vulneráveis aos agravos em saúde. As ações voltadas
para a atenção em saúde nos estabelecimentos prisionais chegaram ao índice de
cobertura de 30% em âmbito nacional.
POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DAS PESSOAS
PRIVADAS DE LIBERDADE NO SISTEMA PRISIONAL (PNAISP)
Instituída pela Portaria lnterministerial MS e MJ nº 01/2014, inclui
definitivamente a população carcerária no SUS, respeitando os preceitos dos
direitos humanos e de cidadania, fortalecendo ainda mais as ações já
desenvolvidas.
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PORTARIA DE OPERACIONALIZAÇÃO DA (PNAISP)
Portaria 482 de 1º de abril de 2014, onde estão determinados os
regramentos quanto à adesão dos Estados e Municípios à PNAISP, bem como a
operacionalização para formação e pagamento das equipes de saúde no âmbito
da PNAISP.
PORTARIAS MS Nº 94/2014 E 95/2014
Instituem e operacionalizam, respectivamente, o Serviço de Avaliação e
Acompanhamento de Medidas Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com Transtorno
Mental em Conflito com a Lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). As
Portarias representam uma nova ótica para o tratamento dos cumpridores de
medida de segurança, bem como redefinem todo o fluxo de atendimento e porta
de entrada aos pacientes judiciários em conflito com a lei.
Para a obtenção de maiores informações, a
Coordenação de Apoio à Assistência Jurídica, Social e à
Saúde, subordinada à Coordenação-Geral de Reintegração
Social e Ensino da Diretoria de Políticas Penitenciárias do
Departamento Penitenciário Nacional, está à disposição
por meio do contato eletrônico: e-mail: coars@mj.gov.br.
mailto:coars@mj.gov.br
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Finalizando....
Neste módulo aprendemos que:
• Todo indivíduo preso tem garantida a assistência à saúde. A LEP, em seu artigo
14 afirma que: "a assistência à saúde do preso e do internado de caráter
preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e
odontológico".
• Quanto à saúde da mulher presa, a LEP diz que "será assegurado
acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto,
extensivo ao recém-nascido".
• Uma vez que o preso se encontra sob a custódia do Estado, o dever de prover
e dar efetividade a assistência à saúde é do Estado, tal qual se esse indivíduo
estivesse em liberdade. O fato de ser portador de enfermidade ou
necessidades preexistente não isenta o Estado de dar factibilidade a
assistência à saúde.
• O ambiente carcerário é a principal causa para o surgimento, promoção e
desenvolvimento de doenças e agravos.
• As competências da PNAISP estão divididas entre União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, de modo a dar efetividade a assistência à saúde da
população prisional.
• São objetos de análise os aspectos espiritual, físico, mental, psicológico e
emocional, bem como as relações sociais e familiares, a atenção à saúde e à
educação. Também são analisados o poder de compra, oferta e qualidade de
habitação, existência e grau de abrangência e qualidade do saneamento básico
etc.
• Independentemente do nível de segurança da unidade prisional (mínima, média
ou máxima), todas elas devem ter automação, mecânicas ou eletrônicas. Esse
nível deve ser maior tanto quanto for maior o nível de segurança da unidade.
• O ideal é que esses indivíduos sejam agrupados em unidades prisionais ou
alas separadas de uma mesma unidade, conforme seu perfil criminológico.
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ONOFRE, Elenice Maria Cammarosano. Educação escolar na prisão. Para
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