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Valores Culturais da Natureza

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Meio Ambiente
Valores Culturais 
da Natureza
Enap, 2022
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
Conteudista/s 
Erika Fernandes Pinto (Conteudista, 2022).
Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO
3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Sumário
Módulo 1 – Relação sociedade e natureza e os valores culturais da 
natureza
Unidade 1 – A interdependência entre cultura e natureza e 
os desafios da conservação .................................................................................... 6
1.1. Relações pessoas, lugares e natureza .................................................................... 7
1.2. Desafios da Conservação da natureza.................................................................... 8
Unidade 2 – Conceito e Tipologias de valores culturais da natureza ..............11
2.1 Um conceito em construção ................................................................................... 11
2.2 Tipologias de Valores Culturais da Natureza ........................................................ 13
Módulo 2 – A evolução do tema no cenário internacional
Unidade 1 – Os valores culturais da natureza nos fóruns mundiais 
de conservação ...................................................................................................... 27
1.1 Do reconhecimento do conflito à proposição de soluções ................................ 27
Unidade 2 – Políticas públicas globais que embasam o reconhecimento 
de valores culturais da natureza ......................................................................... 37
2.2 Valores culturais da natureza nas políticas de proteção do 
patrimônio mundial ........................................................................................................ 39
Unidade 1 – Sociobiodiversidade brasileira ........................................................ 43
1.1 Reconhecimento dos povos e comunidades tradicionais do Brasil ................... 43
Módulo 3 – Valores culturais da natureza no contexto brasileiro
Unidade 2 – Interfaces com as políticas públicas nacionais .............................50
2.1 Do reconhecimento constitucional ........................................................................ 50
2.2 Políticas de conservação da natureza .................................................................... 52
2.3 Políticas de patrimônio cultural .............................................................................. 55
Unidade 3 – Caminhos para integrar valores culturais da natureza 
nas estratégias de conservação ........................................................................... 62
3.1 Primeiros debates nacionais .................................................................................. 62
4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
3.2 Por uma conservação com coração ....................................................................... 65
Referências ............................................................................................................. 68
GLOSSÁRIO .............................................................................................................. 70
5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Olá!
Desejamos boas-vindas ao curso Valores Culturais da Natureza.
Este curso tem o objetivo habilitar o participante a compreender a intrínseca relação 
entre cultura e natureza, identificar as diversas tipologias de valores culturais da 
natureza e perceber a importância de promover estratégias de conservação da 
natureza integrando essas dimensões.
Apresentação do curso 
Desejamos um excelente estudo!
https://youtu.be/PeddlWTu9ZQ
6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 Módulo
Relação sociedade e natureza e os 
valores culturais da natureza1
Neste módulo, aprenderemos que diferentes motivações levam as pessoas a se 
importarem com a manutenção de áreas naturais bem conservadas. Entenderemos 
o porquê essa temática vem sendo destacada como uma abordagem fundamental 
para ampliar a efetividade das estratégias de conservação. Conheceremos o conceito 
de VCN e as principais tipologias que vêm sendo caracterizadas nos documentos de 
referência sobre o assunto, com exemplos ligados à nossa realidade brasileira.
Unidade 1 – A interdependência entre cultura e 
natureza e os desafios da conservação
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender que a importância da 
natureza para as pessoas inclui aspectos materiais e imateriais que configura 
vínculos de pertencimento com lugares e que eles são essenciais para as estratégias 
de conservação da natureza.
1 – Boas vindas aos alunos do curso
2 – Conheça um pouco da história e da trajetória da autora do 
curso – parte 1: infância e juventude
3 – Conheça um pouco da história e da trajetória da autora do 
curso – parte 2: cultura e natureza juntos? A descoberta da 
etnobiologia
4 – Conheça um pouco da história e da trajetória da autora do 
curso – parte 3: atuação na gestão pública
5 – Conheça um pouco da história e da trajetória da autora do 
curso – parte 4: doutorado e missão de vida
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Boas-vindas-aos-alunos-e1rvfck
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---infncia-e-juventude-e1rvg3s
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---infncia-e-juventude-e1rvg3s
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---cultura-e-natureza-e1rvg77
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---cultura-e-natureza-e1rvg77
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---cultura-e-natureza-e1rvg77
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente-e1rvgak
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente-e1rvgak
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---misso-de-vida-e1rvgf2
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Apresentao-da-docente---misso-de-vida-e1rvgf2
7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1. Relações pessoas, lugares e natureza
Já parou para refletir por que você gosta da natureza?
Foto: Eric Rudolph via Wikipedia – https://images.app.goo.gl/6wxiERiuTtGwwYUV6)
Embora existam diversas possibilidades de respostas para essa pergunta, estudos 
têm mostrado que a importância da natureza para as pessoas vai além de aspectos 
materiais, utilitários ou econômicos. Pode incluir também significados simbólicos e 
relações de afeto que são difíceis de descrever e mensurar.
Eles estão relacionados com a história, a memória e a identidade de diversos grupos 
sociais, envolvendo saberes e práticas que conformam ligações culturais tanto 
materiais como imateriais.
De forma geral, cultura material e imaterial expressam características dos habitantes 
de uma região ou de um determinado grupo social. Embora indissociáveis, essas 
dimensões são diferenciadas em função das estratégias de proteção adotadas nas 
políticas patrimoniais.
 + Cultura material: relaciona-se a elementos concretos ou tangíveis, como 
construções, objetos e instrumentos.
 + Cultura imaterial: relaciona-se a elementos mais abstratos ou intangíveis, 
como conhecimentos, hábitos, tradições, celebrações e rituais.
https://images.app.goo.gl/6wxiERiuTtGwwYUV6
8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Longe de serem secundários, esses fatores comumente configuram vínculos de 
pertencimento e noções de respeito e cuidado das populações humanas com os 
espaçosnaturais, sendo determinantes na sua forma de ver e se relacionar com a 
natureza.
Sentimento de pertencimento: envolve relações que 
determinados grupos sociais estabelecem com um lugar, que 
vão além do mero estabelecimento de moradia ou exercício de 
práticas produtivas. Inclui aspectos afetivos, vínculos espirituais, 
valores materiais e imateriais que constroem uma identidade 
cultural associada a um território específico.
Dada a sua relevância social, não é estranho que esses aspectos sejam pouco 
compreendidos e levados em consideração no campo das pesquisas e da formulação 
de políticas públicas, notadamente nas estratégias de conservação da natureza?
Ao negligenciar essa importante dimensão da relação sociedade e natureza, muitos 
conflitos vêm sendo gerados, enquanto oportunidades são perdidas, e potenciais 
parcerias subestimadas.
Por que isso acontece?
1.2. Desafios da Conservação da natureza
Na maior parte do mundo, as políticas de conservação são baseadas em uma divisão 
conceitual e instrumental onde natureza e cultura são vistas como elementos 
distintos e dissociados.
De forma semelhante, a noção de biodiversidade também nasceu de uma ideologia 
histórica dominante que vê os seres humanos como elementos separados e 
potencialmente prejudiciais a ela.
Nesse contexto, as estratégias de conservação da natureza, em geral, vêm sendo 
pautadas em argumentações técnico-científicas, a partir principalmente das 
denominadas Ciências Naturais, nas quais apenas evidências objetivas dos sistemas 
naturais são avaliadas e consideradas (HARMON; PUTNEY, 2003; VERSCHUUREN et 
al., 2010)
Isso contribui para a disseminação de uma visão de natureza desumanizada e 
biologizada, além de desencantada de seus significados simbólicos (FERNANDES-
PINTO, 2017).
9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Mas isso tem gerado vários problemas e desafios, desde o acirramento de 
conflitos socioambientais até a perda de oportunidades de cooperação em prol da 
conservação.
Sensibilizar a sociedade e obter o seu apoio na implementação de estratégias de 
conservação da natureza ainda está entre os maiores desafios enfrentados pelas 
políticas públicas. Isso envolve tanto comunidades locais que habitam determinadas 
áreas ambientalmente importantes como a sociedade em geral.
No cenário internacional, essa problemática vem ganhando uma importância 
crescente nas últimas décadas. Por um lado, pela necessidade de tornar as estratégias 
de conservação da natureza mais inclusivas, eficazes e socialmente justas; por 
outro, pela urgência de angariar apoio social, envolvendo e ampliando o escopo de 
potenciais parceiros da conservação.
Vem se fortalecendo o entendimento de que conservar a natureza é algo que não 
depende apenas de informações científicas, da atuação de gestores públicos e 
de investimentos governamentais. Depende também de apoio da sociedade, que 
precisa encampar iniciativas nessa direção!
No meio ambientalista, fomos acostumados a ressaltar os aspectos negativos 
da interação entre sociedade e natureza. Índices de desmatamento, queimadas, 
poluição, extinção de espécies, perda de ecossistemas únicos, mudanças climáticas, 
entre muitos outros. 
Esses são assuntos importantes que não podem ser desconsiderados, porque a 
degradação ambiental atingiu uma escala planetária. E afeta a todos!
Chegamos a um momento da história em que, especialmente nas sociedades 
urbanas, o ser humano passou a se considerar como algo à parte da natureza, 
tomando a natureza como algo separado dos seres humanos - como mera matéria-
prima e fonte de recursos a serem explorados.
As estratégias de “desenvolvimento sustentável” e “comércio verde” não parecem 
estar resolvendo a situação. Precisamos de novas soluções para velhos problemas!
Mas a conexão entre cultura e natureza é muito profunda. Ela se manifesta de 
diversas formas. Também existem aspectos positivos nessa interação, e nem 
todas as ações humanas no ambiente são destrutivas! 
Tais ações criam relações de afeto, de pertencimento e de cuidado por parte dos 
seres humanos para com as paisagens e outros elementos da natureza.
10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Fonte:  Jacobs Stock Photography Ltd / Getty Images
Diante desse cenário, compreender os laços que conectam positivamente pessoas, 
lugares e natureza tem sido reafirmado como fundamental para superar obstáculos 
e aumentar a efetividade das estratégias de conservação (FERNANDES-PINTO, 2017).
Para alguns autores, como Verschuuren e Brown (2018), laços culturais e espirituais 
estão entre os mais fortes impulsionadores e motivadores para a manutenção de 
áreas naturais.
É na conexão entre conhecimentos com as artes e as emoções que se conforma o 
que Alexander Von Humboldt (1769 – 1859) chamou de vínculo profundamente 
arraigado que impulsiona o sentimento de admiração e respeito pelo mundo 
natural (WULF, 2016).
Mas afinal, o que são valores culturais da natureza? O que eles incluem?
É o que veremos na próxima unidade.
11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 2 – Conceito e Tipologias de valores 
culturais da natureza
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender o conceito 
de valores culturais da natureza, suas premissas e limitações e 
identificar suas principais tipologias.
2.1 Um conceito em construção
Como vimos na unidade anterior, as motivações humanas para a conservação de 
áreas naturais envolvem não apenas aspectos econômicos, utilitários e econômicos. 
Elas estão associadas também a valores culturais materiais e imateriais que 
conformam vínculos de pertencimento.
Ainda assim, esses aspectos são pouco considerados e compreendidos na formulação 
de políticas públicas, gerando vários problemas.
Para alterar esse cenário, é fundamental ampliar a compreensão sobre os laços que 
conectam positivamente pessoas, lugares e natureza.
Dessa problemática, nasceu a noção de Valores Culturais da Natureza (VCN), 
conceito este que vem sendo utilizado na literatura especializada nas últimas 
décadas e que pode ser adaptado a diversos contextos.
Apresentamos aqui a definição que vem sendo utilizada no âmbito do Programa do 
ICMBio sobre integração de valores culturais na gestão das unidades de conservação, 
proposta por Fernandes-Pinto (2021).
Valores culturais da natureza envolvem significados simbólicos, 
vínculos históricos e ancestrais, bens, saberes, tradições 
e práticas de diferentes grupos sociais (antigos ou atuais) 
associados a paisagens, fenômenos ou elementos específicos da 
fauna, flora e geologia que contribuem direta ou indiretamente 
para a conservação.
Como os debates sobre essa temática ainda são recentes no Brasil, esse é considerado 
um conceito em construção, passível de ajustes e complementações.
12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Chama-se a atenção para o fato dele não se referir a todos os aspectos culturais, 
e sim destacar aqueles que promovem ou resultam na manutenção de áreas 
naturais bem conservadas.
Assim como nas diretrizes internacionais da IUCN sobre a temática (VERSCHUUREN 
et al., 2021), enfatiza-se que o conceito não se aplica a práticas culturais que 
prejudicam os ambientes ou que não favorecem uma conexão positiva entre 
sociedade e natureza.
Entenda melhor o que são contribuições diretas e indiretas para a conservação da 
natureza:
 + Como contribuições diretas para a conservação da natureza, trata-se de ações 
que promovem a manutenção in situ da biodiversidade, estratégias de 
diversificação das espécies nativas, de restauração ambiental ou florestal e a 
proteção direta de áreas, entre outras.
 + Como contribuições indiretas, destacam-se aquelas que estimulam o senso de 
pertencimento, afeto, carinho, cuidado e respeito com as áreas naturais; que 
enaltecem sua beleza, ampliam o conhecimento sobre as paisagens, sensibilizam 
para a importância da conservação e favorecem uma conexão positiva mais 
aprofundada entre pessoas e lugares.Isso envolve um rico, complexo e heterogêneo universo de possibilidades que 
refletem a diversidade de modos de vida, visões de mundo e percepções de 
natureza que perpassam o contexto de diferentes grupos sociais.
Reforça-se, assim, no escopo desse trabalho, o compromisso de reconhecimento 
dos direitos dos povos e comunidades tradicionais que vivem em estreita relação e 
dependência com os ecossistemas naturais, além da necessidade de fortalecimento 
da colaboração com esses grupos sociais para a conservação da natureza e 
implementação de áreas protegidas.
Cabe lembrar, no entanto, que os aspectos que compõem valores culturais da natureza 
são altamente dependentes do contexto e podem mudar ao longo do tempo. Pode 
haver divergências de entendimentos entre grupos – ou entre um mesmo grupo –, 
fazendo emergir questões complexas que desafiam ainda mais a gestão.
Busca-se, nessa direção, registrar valores relacionados à memória coletiva dos 
diferentes grupos sociais que habitam ou habitaram um território. Por diferentes 
razões, no entanto, determinados conhecimentos podem subsistir apenas na 
lembrança de poucos indivíduos (em geral, idosos), tornando-os os últimos guardiões 
de referências culturais vulneráveis ou ameaçadas de extinção.
13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Vamos conhecer as categorias mais comuns de valores culturais da natureza? 
Vamos conhecer os valores culturais da natureza?
2.2 Tipologias de Valores Culturais da Natureza
Apresenta-se, nesta unidade, as tipologias mais comuns de Valores Culturais da 
Natureza (VCN), agrupadas em dez categorias. Elas foram propostas tendo por base 
documentos internacionais de referência sobre a temática, especialmente HARMON; 
PUTNEY (2003) e VERSCHUUREN et al. (2021) e a experiência sobre o assunto no 
contexto brasileiro.
São elas:
1. Valores cênicos e perceptivos
2. Oportunidades de lazer e recreação
3. Valores históricos e arqueológicos
4. Importância para o conhecimento científico e a educação
5. Contribuições para o bem-estar e a saúde humana
6. Fonte de inspiração artística
7. Valores etnológicos e identitários
8. Formas diferenciadas de manejo e produtos da sociobiodiversidade
9. Elementos orais e linguísticos relacionados à natureza
10. Fonte de experiências religiosas e espirituais
Essas categorias não esgotam as possibilidades, de forma que não se deve deixar de 
considerar outras tipologias que podem surgir em contextos específicos.
Vamos conhecer um pouco cada uma delas?
• Valores cênicos e perceptivos: aspectos qualitativos da experiência de 
contato com a natureza e seus elementos.
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza-e1rvgiv
14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Essa tipologia inclui valores subjetivos como:
• A apreciação estética da beleza visual das paisagens;
• Experiências sensoriais (ex.: toque do vento, da água, da bruma da 
cachoeira, sombra das árvores);
• Auditivas (ex.: canto dos pássaros, som das águas, o farfalhar do vento 
na vegetação, a percepção do silêncio);
• Olfativas (ex.: cheiro do mato, do mar, das flores);
• Despertar de sentimentos como tranquilidade, paz, harmonia, bem-
estar e comunhão com a natureza.
Cataratas do Iguaçu, na divisa do Brasil com a Argentina – Foto de André Dib – Acervo ICMBio
Oportunidades de lazer e recreação: a experiência e o prazer de estar em contato 
com áreas naturais bem conservadas.
Representam o valor cultural mais conhecido e divulgado da natureza, com destaque 
para aquelas atividades associadas ao ecoturismo, como caminhadas em trilhas, 
banhos de rio e cachoeiras, observação da fauna e da flora, contemplação das 
paisagens, entre outras.
Essas são práticas que, em geral, incluem benefícios para aqueles que visitam 
as áreas, os prestadores de serviços e as comunidades locais. Dependendo do 
contexto, também contribuem para estimular a reflexão e a conscientização sobre a 
importância da conservação da natureza.
15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Cachoeira na RPPN Serra dos Topázios, Cristalina/GO – Foto 
Érika Fernandes Pinto – Acervo SNS Brasil 
Além das atividades mais comuns associadas ao ecoturismo, estão representadas 
nessa categoria iniciativas de: turismo de aventura, práticas de esportes ao ar livre, 
turismo de base comunitária e etnoturismo.
Podem ter relação com roteiros turísticos temáticos, caminhos históricos e trilhas 
de grandes travessias.
Atividades consideradas não convencionais também podem fazer parte do rol de 
interesses sociais na interação com áreas naturais, como a observação astrológica 
e a astrofotografia, a observação de OVNIS e fenômenos ufológicos, a promoção de 
práticas terapêuticas e uma série de interações envolvendo o campo da religiosidade 
e da espiritualidade.
16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Conheça algumas experiências de 
turismo de base comunitária – TBC 
em unidades de conservação 
brasileiras que criam oportunidades 
de vivências com comunidades locais 
(ICMBio, 2019).
Iniciativas que, além de trazerem 
benefícios econômicos para as 
comunidades, contribuem para a 
valorização de suas culturas, tradições 
e modos de vida.
http://www.each.usp.br/turismo/livros/turismo_de_base_
comunitaria_em_ucs.pdf
• Valores históricos e arqueológicos: a natureza associada a aspectos 
da história e da memória nacional, regional ou local.
Essa categoria inclui elementos das paisagens associados a fatos e eventos que:
• Marcaram a memória nacional ou regional (como locais onde ocorreram 
batalhas e massacres, que serviram como esconderijo e rotas de fuga);
• Lugares de referência na topografia (marcos geográficos significativos);
• Registros materiais de ocupações humanas ancestrais (sítios 
arqueológicos, sambaquis, pinturas rupestres, geoglifos, entre outros). 
Apesar da diversidade de aspectos que essa categoria de valor cultural da natureza 
pode conter, o reconhecimento formal de valores históricos tem, em geral, focado 
mais no patrimônio arquitetônico construído e, em alguns casos, no arqueológico, 
sujeitos a legislações especiais para sua proteção.
http://www.each.usp.br/turismo/livros/turismo_de_base_comunitaria_em_ucs.pdf
http://www.each.usp.br/turismo/livros/turismo_de_base_comunitaria_em_ucs.pdf
17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Ciudad Perdida no Parque Nacional Sierra Nevada de Santa Marta na Colômbia, 
um sítio arqueológico de valor cultural e espiritual para os povos indígenas que 
habitam o território (Foto Érika Fernandes Pinto- Acervo SNS Brasil) 
• Importância para o conhecimento científico e a educação: retrata o 
valor de áreas naturais como fonte de descobertas científicas relevantes, 
como o registro de novas espécies biológicas, a presença de espécies 
raras e ameaçadas de extinção, a ocorrência de fenômenos naturais 
singulares, entre outros.
Nesse contexto, consideram-se as práticas e experiências educacionais promovidas 
em áreas naturais e a importância do contato com a natureza no desenvolvimento 
cognitivo das pessoas.
Pesquisa do Centro Brasileiro de Primatas (CBP) - Acervo ICMBio 
18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
• Contribuições para o bem-estar e a saúde humana: a importância do 
contato com a natureza para manutenção da saúde física e psicológica e 
como fonte de bem-estar.
Frequentemente são atribuídos efeitos curadores e restauradores à experiência 
de estar em contato direto com ambientes conservados a partir de experiências 
que vão desde a simples contemplação e meditação na natureza, caminhadas e 
banhos de mar, em rios, cachoeiras ou águas termais, até diversas práticas de valor 
terapêutico realizadas na natureza, como os chamados banhos de floresta.
Foto: Jose Antona 
O Shinrin-yoku ou “banho de floresta”, como se tornou conhecido no Brasil, consiste 
em visitar florestas saudáveis com finalidades terapêuticas. Tornou-se prática em 
alguns países, espalhando-seinicialmente do Japão e da Coreia do Sul para muitos 
outros (Fonte: https://ecopsicologiabrasil.com/banho-de-floresta/).
https://ecopsicologiabrasil.com/banho-de-floresta/
19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
• Fonte de inspiração artística: a apreciação das paisagens, dos 
elementos da flora e da fauna e dos ciclos da natureza como fonte de 
inspiração e expressão para as artes em suas múltiplas formas de 
manifestação, tanto tradicionais como contemporâneas (pinturas, 
esculturas, gravuras, literatura, poesia, contos, artes cênicas, música, 
danças, entre outras).
Obra de OtonTiel Fernandes representando a Chapada dos Veadeiros. Fonte: https://www.
guiaaltoparaiso.com.br/altoparaiso?pgid=j7wmgll8-c816603c-9e67-40e9-ae4d-adc429068f90
Segundo Verschuuren et al. (2021), nessa categoria, são incluídas as expressões 
culturais que comunicam o sentido de beleza, mistério e harmonia encontrados na 
natureza e que influenciaram o valor social de certos lugares naturais ou paisagens 
em favor de sua conservação.
Inclui as artes decorativas que expressam a natureza em itens feitos para uso 
cotidiano ou cerimonial, como roupas, biojoias, cerâmicas, arranjos florais, entre 
outros.
Também considera o valor das paisagens como cenário de ensaios fotográficos e de 
produções audiovisuais. 
https://www.guiaaltoparaiso.com.br/altoparaiso?pgid=j7wmgll8-c816603c-9e67-40e9-ae4d-adc429068f90
https://www.guiaaltoparaiso.com.br/altoparaiso?pgid=j7wmgll8-c816603c-9e67-40e9-ae4d-adc429068f90
20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Você conhece artistas e obras que retratam as belezas da nossa 
natureza?
• Valores etnológicos e identitários: sentimento de pertencimento 
relacionado a paisagens ou elementos da natureza e sua importância na 
conformação da identidade de determinados grupos sociais, seus 
territórios e conhecimentos.
Considera a diversidade cultural associada à natureza, representada por modos de 
vida, saberes e costumes que refletem diferentes visões de mundo, destacando-se 
a existência de povos e comunidades tradicionais.
Essa relação humana com as áreas pode ser atual ou ancestral, devendo-se respeitar 
o direito à memória e à verdade dos grupos sociais sobre os fatos históricos ocorridos 
nos territórios, que podem ter levado ao extermínio ou à expulsão de parte deles.
Cabe lembrar que o valor identitário da natureza se expressa de diversas formas, 
não só em comunidades rurais, mas também urbanas, onde as áreas naturais 
podem ter diferentes significados para a população.
Encaixa-se também nessa tipologia a indicação de elementos da flora e da fauna 
como símbolos representativos de grupos, municípios, regiões, estados e países.
Monte Roraima na divisa do Brasil com a Guiana e Venezuela – lugar sagrado e de referência 
para os povos indígenas - foto: Yosemite / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0
21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
• Formas diferenciadas de manejo e produtos da sociobiodiversidade: 
consideram as práticas tradicionais que moldam paisagens e meios de 
subsistência que têm na natureza a base para a sua manutenção, 
produção e uso sustentável.
Exemplos disso são:
• Extrativismo não madeireiro; 
• Pesca artesanal;
• Apicultura de abelhas nativas;
• Confecção de artesanato a partir de plantas nativas;
• Sistemas agroflorestais e permaculturais;
• Agricultura familiar e a agrobiodiversidade associada;
• Pastoreio extensivo em campos nativos;
• Tecnologias tradicionais de uso seletivo do fogo;
• Outras práticas de manejo comum.
São embasados em conhecimentos tradicionais e envolvem técnicas especiais de 
manejar determinados ambientes que mantêm e/ou promovem a riqueza biológica 
(incluindo a agrobiodiversidade), mantendo a qualidade ambiental.
Morador tradicional carregando cacho de açaí na RESEX Cajari – Acervo ICMBio
Podem incluir várias categorias de uso da biodiversidade, como:
• Medicina tradicional;
• Agrobiodiversidade;
• Formas de conservação, processamento e preparação de alimentos;
• Gastronomia e culinária típica;
• Artesanato e produção de artefatos, objetos utilitários e decorativos;
• Arquitetura vernacular;
• Festividades relacionadas a épocas de colheitas e safras de coleta de 
produtos;
• Entre outros.
22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Catálogo de Produtos da 
Sociobiodiversidade do Brasil 
(ICMBio, 2019)
https://www.gov.br/ icmbio/
p t - b r / a s s u n t o s / n o t i c i a s /
ultimas-noticias/icmbio-lanca-
c a t a l o g o - d e - p r o d u t o s - d a -
sociobiodiversidade
• Elementos orais e linguísticos relacionados à natureza: vocabulários 
relacionados à elementos da natureza, aostermos e expressões locais 
utilizados para caracterizar e nomear lugares particulares das paisagens, 
à flora e fauna, aos tipos de vegetação e solo, às condições climáticas e 
aos fenômenos da natureza.
Inclui a existência de línguas e dialetos singulares relacionados a grupos culturais 
que habitam áreas geográficas específicas e estudos das toponímias (investigação 
da etimologia, dos significados, da história da nomeação de lugares geográficos 
relevantes e suas variações).
Consideram-se também contos folclóricos, lendas, enigmas, provérbios, ditados 
populares ligados aos territórios, que podem transmitir conhecimentos sobre a 
natureza, derivados da sabedoria popular desenvolvida ao longo de gerações em 
coevolução com determinadas paisagens.
Pedra de Xangô – lugar de referências para os povos de santo de Salvador/BA, cujo nome está 
relacionado com a representação de uma divindade (Foto: Mônica Silveira – Acervo SNS Brasil). 
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/noticias/ultimas-noticias/icmbio-lanca-catalogo-de-produtos-da-sociobiodiversidade
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/noticias/ultimas-noticias/icmbio-lanca-catalogo-de-produtos-da-sociobiodiversidade
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/noticias/ultimas-noticias/icmbio-lanca-catalogo-de-produtos-da-sociobiodiversidade
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/noticias/ultimas-noticias/icmbio-lanca-catalogo-de-produtos-da-sociobiodiversidade
https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/noticias/ultimas-noticias/icmbio-lanca-catalogo-de-produtos-da-sociobiodiversidade
23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Para Verschuuren et al. (2021), a riqueza lexical fornece uma descrição detalhada 
de elementos ou aspectos particulares da natureza que são mais relevantes para 
determinados grupos sociais. A linguagem pode revelar muitos conhecimentos sobre 
a natureza e a história das paisagens, além de ajudar a recuperar conhecimentos 
antigos ou quase desaparecidos, incluindo relações particulares com áreas naturais.
• Fonte de experiências religiosas e espirituais: a natureza como fonte 
de experiências místicas, religiosas ou espirituais como um elemento 
comum na maioria das tradições e associada a sentimentos de comunhão, 
paz e conexão com algo maior.
Inclui uma ampla variedade de práticas realizadas nos ambientes naturais em 
rituais e cerimônias que celebram a qualidade espiritual da natureza ou onde a 
natureza dá significado à experiência religiosa, no que vem sendo denominado de 
espiritualidade ecológica.
Pedra Chapéu do Sol, Cristalina/GO. Foto: Collemes - Domínio público
Vão desde atividades individuais ou realizadas em pequenos grupos até grandes 
celebrações coletivas que podem envolver centenas ou milhares de pessoas, como: 
rezas, orações, leituras de textos sagrados, oferendas, batismos, missas, vias sacras, 
rituais diversos, representações teatrais de passagens bíblicas, festejos religiosos, 
peregrinações, entre outras.
24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Considera a existência de elementos específicos das paisagens aos quais são 
atribuídos significados espirituais especiais e que podem ser considerados sítios 
naturais sagrados (Fernandes-Pinto, 2017).
Pode envolver a presença de estruturas construídas em consagração de espaçosnaturais significativos, desde pequenas imagens sacras e altares até grandes 
monumentos.
Contudo, é importante considerar que áreas importantes em termos de aspectos 
culturais podem não estar associadas a evidências materiais notáveis nas paisagens, 
especialmente quando se trata de povos indígenas.
Essa tipologia inclui também espécies da flora e da fauna consideradas sagradas, 
vinculadas a lendas e mistérios ou associadas a usos ritualístico e cerimoniais. Inclui-
se também crenças sobre seres do mundo imaginal associados às paisagens, como 
os personagens encantados e seres míticos, mitológicos ou fantásticos das matas, 
campos, mangues, rios e mares, que podem influenciar nas regras de acesso e uso 
dos recursos naturais.
Imagem do Curupira, personagem fantástico das matas brasileiras, reconhecido 
como protetor da natureza. Foto: Celso Costa/Rede Amazônica
Entidades Ecologicamente Corretas
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Entidades-ecologicamente-corretas-e1rvgnh
25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Para saber mais sobre as diversas formas de relações 
espiritual ou religiosa com áreas naturais, leia o artigo “Entre 
Santos, Encantados e Orixás: uma jornada pela diversidade 
de sítios naturais sagrados do Brasil” (FERNANDES-PINTO; 
IRVING, 2018). https://www.academia.edu/37340574/ENTRE_
SANTOS_ENCANTADOS_E_ORIX%C3%81S_UMA_JORNADA_PELA_
DIVERSIDADE_DOS_S%C3%8DTIOS_NATURAIS_SAGRADOS_NO_
BRASIL
Diversas histórias sobre as paisagens brasileiras vêm sendo compiladas e divulgadas 
pela Iniciativa Sítios Naturais Sagrados do Brasil. https://sitiosnaturaissagrados.
org/
Logo da Iniciativa sítios naturais sagrados do Brasil. Imagem: acervo pessoal: Érika Fernandes Pinto
O que você achou dessa diversidade de tipologias de valores 
culturais da natureza?
Ainda que possa causar um certo estranhamento inicial pensar nos valores culturais 
da natureza como objeto de políticas públicas, diversos estudos têm destacado 
que esses aspectos estão entre as principais razões que levam as pessoas a se 
importarem com a conservação.
Quando compreendemos que existe uma intrínseca relação entre cultura e 
natureza, percebemos que não é possível tratar do ambiental sem considerar o 
social de forma integrada, tampouco olhar para aspectos biológicos ou ecológicos 
sem considerar as influências culturais.
Isso pode parecer óbvio, mas nem sempre foi assim.
https://www.academia.edu/37340574/ENTRE_SANTOS_ENCANTADOS_E_ORIX%C3%81S_UMA_JORNADA_PELA_DIVERSIDADE_DOS_S%C3%8DTIOS_NATURAIS_SAGRADOS_NO_BRASIL
https://www.academia.edu/37340574/ENTRE_SANTOS_ENCANTADOS_E_ORIX%C3%81S_UMA_JORNADA_PELA_DIVERSIDADE_DOS_S%C3%8DTIOS_NATURAIS_SAGRADOS_NO_BRASIL
https://www.academia.edu/37340574/ENTRE_SANTOS_ENCANTADOS_E_ORIX%C3%81S_UMA_JORNADA_PELA_DIVERSIDADE_DOS_S%C3%8DTIOS_NATURAIS_SAGRADOS_NO_BRASIL
https://www.academia.edu/37340574/ENTRE_SANTOS_ENCANTADOS_E_ORIX%C3%81S_UMA_JORNADA_PELA_DIVERSIDADE_DOS_S%C3%8DTIOS_NATURAIS_SAGRADOS_NO_BRASIL
https://sitiosnaturaissagrados.org/
https://sitiosnaturaissagrados.org/
26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Por muito tempo, as políticas públicas de conservação da natureza foram construídas 
e implementadas sem levar em conta os aspectos culturais que permeiam essa 
relação.
Até mesmo nas ciências essas dimensões foram separadas (Ciências Naturais x 
Ciências Humanas ou Sociais), reforçando-se muitas vezes uma dicotomia entre 
elas. 
Foi nesse contexto que o debate sobre Valores Culturais da Natureza surgiu nos 
fóruns mundiais. Vamos conhecer um pouco dessa história? Esse é o tema do 
próximo módulo.
Vídeo Organacast Valores 
Culturais da Natureza (Episódio 
4, Parte 1) https://www.youtube.
com/watch?v=op4zSeJYn2A e 
(Episódio 4, Parte 2) https://
w w w . y o u t u b e . c o m /
watch?v=da69lS_8GTA
https://www.youtube.com/watch?v=op4zSeJYn2A
https://www.youtube.com/watch?v=op4zSeJYn2A
https://www.youtube.com/watch?v=da69lS_8GTA
https://www.youtube.com/watch?v=da69lS_8GTA
https://www.youtube.com/watch?v=da69lS_8GTA
27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Neste módulo, veremos como o tema dos valores culturais da natureza surgiu 
nos fóruns mundiais sobre políticas públicas de conservação. Conheceremos os 
principais marcos e tendências do debate internacional. Além disso, vamos nos 
familiarizar com o arcabouço jurídico que fundamenta essa temática globalmente 
a partir de políticas que buscam valorizar uma leitura integrada da diversidade 
biológica e cultural.
Unidade 1 – Os valores culturais da natureza 
nos fóruns mundiais de conservação 
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender a 
evolução e as tendências das discussões sobre a temática dos 
valores culturais da natureza nos fóruns mundiais de conservação. 
Conhecerá as principais iniciativas e programas internacionais 
sobre o assunto e as publicações de referência.
1.1 Do reconhecimento do conflito à proposição de 
soluções 
Como vimos no Módulo 1, os Valores Culturais da Natureza, relevantes para boa 
parte da sociedade, ainda são pouco compreendidos e considerados nas estratégias 
de gestão ambiental.
Apenas nas últimas décadas, esse cenário começou a mudar, com a ampliação 
progressiva do reconhecimento dos múltiplos valores da natureza e das suas 
contribuições diretas ou indiretas para o bem-estar e a qualidade de vida humana 
nos fóruns mundiais sobre políticas públicas - incluindo aqueles sobre conservação 
da natureza.
 Módulo
A evolução do tema no 
cenário internacional2
28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Essas temáticas ainda não convencionais na gestão pública vêm sendo promovidas, 
nas últimas décadas, em eventos realizados por instituições e coligações globais 
com a publicação de diversas obras de referência.
Essa é uma discussão internacionalmente crescente, mas ainda incipiente no 
contexto brasileiro. Que precisamos conhecer e integrar nas nossas iniciativas em 
prol da conservação.
Vamos dar uma olhada nela?
1.1.1 A emergência do debate mundial sobre a temática
No cenário internacional, a temática dos valores culturais da natureza começou a 
despertar interesse a partir do final da década de 1990, quando coligações globais 
começaram a promover eventos com esse enfoque e a publicar as primeiras obras 
de referência.
Entre elas, destaca-se a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência 
e a Cultura (UNESCO), a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) 
e a Convenção da Diversidade Biológica (CDB).
A primeira publicação de alcance mais amplo sobre a temática foi lançada pelo 
United Nations Environment Programme (UNEP), em 1999.
Intitulada Cultural and Spiritual Values of 
Biodiversity, essa publicação entrelaça pontos 
de vista filosóficos, históricos, jurídicos, 
científicos e pessoais, oferecendo uma rica 
amostra da rede de conexões que interligam 
diversidade biológica e cultural (POSEY, 1999).
Link para download https://www.unep.org/
resources/publication/cultural-and-spiritual-
values-biodiversity
Esse tema ganha verdadeiramente impulso quando passa a ser pauta dos congressos 
mundiais sobre conservação da natureza organizados pela União Internacional 
para a Conservação da Natureza (IUCN).
 
https://www.unep.org/resources/publication/cultural-and-spiritual-values-biodiversity
https://www.unep.org/resources/publication/cultural-and-spiritual-values-biodiversity
https://www.unep.org/resources/publication/cultural-and-spiritual-values-biodiversity
29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 A IUCN, fundada em 1948, é considerada a 
maior e mais antiga organização ambientalista 
mundial.
Consiste em uma rede global que congrega 
mais de 200 agências governamentais e 1200 
organizações de cerca de 160 países, com a 
missão de encontrar soluções para a conservação ambiental e o 
desenvolvimento sustentável, em uma parceria mundial única.
Promove bianualmente os Congressos Mundiais de Conservaçãoda Natureza e, a cada década, eventos similares sobre parques e 
outras áreas protegidas.
Essa organização tem um papel central na definição das bases, 
diretrizes e tendências mundiais para as políticas e estratégias 
de conservação.
Isso acontece de forma mais incisiva no V World Parks Congress, promovido pela 
IUCN em Durban/África do Sul, em 2003. Esse congresso, que teve como tema 
“Áreas Protegidas: benefícios além das fronteiras”, foi o primeiro evento do gênero a 
contar com uma participação expressiva de lideranças indígenas de diversas partes 
do mundo.
Duras críticas foram feitas por eles ao modelo de conservação do patrimônio 
natural em vigência, ressaltando-se injustiças sofridas pelos grupos sociais como 
consequência da forma de implementação dessas estratégias sem considerar 
aspectos culturais.
Além de denunciar práticas colonialistas de conservação, os indígenas criticaram a 
falta de envolvimento dos órgãos gestores de áreas protegidas com as populações 
locais. Reforçaram que muitas delas incidem não apenas sobre seus territórios 
de moradia e uso tradicional, mas também sobre lugares de importância cultural, 
incluindo aqueles considerados sagrados.
Também desafiaram a IUCN a exigir que os diversos países reconheçam e 
respeitem os direitos, responsabilidades e contribuições dos povos indígenas para 
a conservação da natureza (BROSIUS, 2004; STEVENS, 2014).
Isso desencadeou uma série de debates que iniciam um processo de mudança 
de paradigma nas estratégias de conservação da natureza, que vão fortalecendo, 
30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
paulatinamente, o reconhecimento da relevância dos povos indígenas e tradicionais 
para manutenção da diversidade natural, bem como a legitimidade de seus 
conhecimentos e práticas de manejo para a manutenção da biodiversidade.
 Em 2003, foi também lançado o livro intitulado The 
Full Values of Parks: from economics to the intangible 
(HARMON; PUTNEY, 2003).
A obra é considerada pioneira a trazer uma visão 
abrangente dos valores culturais associados às 
áreas protegidas, incluindo aspectos materiais e 
imateriais.
1.1.2 Um grupo de especialistas para aprofundar a temática
Para dar encaminhamento a essas diretivas, foi formado, no âmbito da Comissão 
Mundial sobre Áreas Protegidas (World Commission on Protected Areas - WCPA/IUCN), 
o Cultural and Spiritual Values of Protected Areas Specialist Group – CSVPA.
Esta é uma das seis comissões voluntárias 
da IUCN, formada por administradores 
de AP e especialistas. Conta com mais de 
dois mil membros de pelo menos 140 
países. Tem por objetivo promover o estabelecimento e a 
administração efetiva de uma rede de trabalho mundial sobre o 
tema.
Reconhecer a importância dos valores culturais e espirituais da natureza se tornou 
o mote principal de trabalho do CSVPA.
Congregando especialistas de diversos países, esse grupo tem sido responsável 
por formular abordagens teórico-conceituais sobre a temática, organizar acervos 
de informações e publicações, realizar estudos de caso e propor diretrizes e 
recomendações para integração de valores culturais e espirituais da natureza na 
gestão das áreas protegidas e nas estratégias de conservação, de forma mais ampla.
31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 
Grupo de Trabalho Especial sobre Valores Culturais e Espirituais 
das Áreas Protegidas - essa iniciativa teve início em 1998, como uma 
força-tarefa. Tornou-se um grupo permanente de especialistas 
da IUCN em 2009. Do foco inicial nos sítios naturais sagrados, a 
abordagem foi ampliada a partir de 2012 para abranger múltiplos 
significados da natureza para diferentes grupos sociais (Fonte: 
csvpa.org).
A partir do trabalho desse grupo, diversas iniciativas para a investigação e promoção 
da importância dos valores culturais da natureza vêm sendo realizadas em diversas 
regiões do planeta. Elas vêm contribuindo para a ampliação do conhecimento sobre 
o tema e para avanços no debate sobre estratégias para o seu reconhecimento e 
promoção. 
Um desdobramento importante dessa iniciativa foi 
a elaboração de um documento de referência para 
o manejo de sítios naturais sagrados (SNS) em áreas 
protegidas (WILD; MCLEOD, 2008), lançado no World 
Conservation Congress de 2008 (Barcelona, Espanha).
Essa publicação oferece um panorama geral sobre o estado da arte da gestão 
dos SNS em diferentes partes do mundo e apresenta uma gama de exemplos 
de boas práticas que estão sendo desenvolvidas em alguns casos emblemáticos, 
exemplificados a seguir:
http://csvpa.org
32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Reconhecimento de valor cultural e 
espiritual do Parque Nacional do 
Tongariro, na Nova Zelândia, para o 
Povo Maori, a primeira área 
reconhecida como paisagem 
cultural na Conveção do Patrimônio 
Mundial.
Gestão do uso público no 
Monumento Nacional Devils Tower, 
nos Estados Unidos da América, 
ajustada em conformidade com os 
usos religiosos indígenas.
Adaptações da gestão da área 
protegida que inclui o Pico Sri Pada-
Adams no Sri Lanka, para acomodar 
interesses multirreligiosos 
Fonte: Parque Nacional do Tongariro - Foto: Blueromulan - CC BY-
SA 3.0; Monumento Nacional Devils Tower - Foto: powerofforever/
iStock; Pico Sri Pada-Adams - Foto: Bourgeois - CC BY-SA 3.0
Com tais iniciativas, essa problemática vem ganhando visibilidade crescente como tema-
chave nos debates internacionais, inspirando e renovando a perspectiva da aliança 
com a sociedade como uma premissa para promover a conservação da natureza.
A promoção da participação e inclusão dos atores sociais envolvidos, a partir da 
construção de um processo de colaboração respeitosa, é uma das orientações 
centrais reforçadas nessas diretivas, reafirmando a importância da participação 
social para a implementação de estratégias de conservação da natureza.
1.1.3 Inspirando soluções para despertar a consciência ecológica
Entre os grandes eventos mundiais que se configuram como marcos referenciais 
para esse debate, cabe destacar também o VI Congresso Mundial de Parques, realizado 
em 2014, em Sidney/Austrália.
33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Essa edição, realizada 11 
anos depois do 
emblemático congresso 
anterior de Durban/2003, 
avançou nas propostas de 
inserção social na gestão 
de áreas protegidas.
Além disso, demonstrou que os casos mais bem-sucedidos de 
conservação no mundo são aqueles que promovem parcerias 
com diversos setores da sociedade.
Com o tema Parques, Pessoas, Planeta: inspirando soluções, o 
evento teve como propósito estimular a concepção de formas 
inovadoras de inspirar as pessoas a buscarem uma conexão mais 
profunda com a natureza, envolvendo seus corações e mentes 
para gerar bem-estar físico, psicológico e espiritual.
O documento final desse evento – intitulado A Promessa de Sidney – foi proposto 
como referência na adoção de uma nova ética na conservação, fundamentada na 
integração entre diversidade biológica e cultural e em noções de justiça, equidade e 
respeito para com os diversos grupos sociais (IUCN, 2014).
Depois de Sidney, o Congresso Mundial de Conservação da Natureza seguinte foi 
realizado em Honolulu, no Havaí/EUA, em 2016, com o tema O Planeta na Encruzilhada.
O evento fez um alerta para a 
gravidade da situação 
planetária com o iminente 
risco de colapso dos 
ecossistemas, a ampliação dos 
efeitos das mudanças 
climáticas e as taxas cada vez 
mais elevadas de extinção da biodiversidade.
Além disso, conclamou os participantes de todo o mundo para 
a urgência na implementação de mecanismos que permitam 
transformar esse cenário, onde conservação da natureza e o 
progresso humano não sejam excludentes.
34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
As recomendações aprovadas no evento ressaltam que tal empreitada implica em 
um grande desafio coletivo de mudança de paradigmas civilizatórios e de adoção 
de novas práticas que somente obterão êxito com a construçãode parcerias com os 
mais diversos setores da sociedade.
Nesse contexto, os valores culturais da natureza emergiram novamente como um 
tema-chave para o debate, inspirando e renovando a perspectiva de reconexão 
dessas dimensões como uma premissa para a conservação.
As conexões entre espiritualidade e conservação, particularmente, tiveram destaque, 
reconhecendo essa ligação como uma das mais poderosas forças de transformação 
das consciências humanas em prol de uma relação mais harmônica e cuidadosa 
com a natureza.
Esse foi o tema de um dos cinco eventos principais na programação do congresso – 
denominados de High Level Dialogues – “Conexões entre espiritualidade e conservação”, 
que contou com a participação de líderes espirituais de diversas tradições religiosas. 
Algo inédito também nos debates sobre conservação da natureza, considerando 
que convencionalmente não costumavam dialogar com esses grupos.
Acesse o registro desse evento no Youtube em: https://www.
youtube.com/watch?v=UtsbVKqB_3k, acesso em: out./2020. 
Duração: 1h52min.
Uma das recomendações aprovadas no evento reforça a importância de se construir 
capacidades para promover o reconhecimento da dimensão cultural associada ao 
patrimônio natural a partir da formação de pessoas que atuam nessa área.
Este curso que você está realizando dialoga diretamente com essas diretivas e 
representa uma importante iniciativa que vem para colaborar com a integração 
dessa temática nas estratégias de conservação.
Mas como fazer isso?
https://www.youtube.com/watch?v=UtsbVKqB_3k
https://www.youtube.com/watch?v=UtsbVKqB_3k
35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
1.1.4 Diretrizes para integrar a significância cultural e espiritual da 
natureza nas estratégias de conservação
No último congresso mundial 
da IUCN, realizado em 2021 
(Marseille, França), foi 
apresentada a publicação 
Cultural and Spiritual Significance 
of Nature in Protected and 
Conserved Areas (VERSCHUUREN 
et al., 2021).
Organizada por alguns especialistas no 
tema – inspirados por discussões em 
eventos em diferentes partes do 
mundo –, a obra apresenta seis 
princípios abrangentes que são base 
para 41 diretrizes, ilustradas com 
exemplos de aplicação em diversos 
contextos.
Complementarmente, são apresentados dez estudos de caso de 
diversas regiões geográficas, grupos sociais e tipos de governança, 
que ajudam a demonstrar como valores culturais podem ser 
integrados na gestão de diferentes categorias de APs e as lições 
aprendidas.
https://csvpa.org/best-practice-guidelines/cultural-and-
spiritual-significance-of-nature/
A obra, a qual integra a série de boas práticas da IUCN, instiga os órgãos 
governamentais a aprofundar o conhecimento sobre a temática e incorporá-la na 
gestão das APs de formas inovadoras, a fim de torná-las mais integradas, holísticas, 
justas, inclusivas e eficazes.
Vamos conhecer alguns dos princípios que embasam essa discussão?
https://csvpa.org/best-practice-guidelines/cultural-and-spiritual-significance-of-nature/
https://csvpa.org/best-practice-guidelines/cultural-and-spiritual-significance-of-nature/
36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Com base nessas premissas, diversas iniciativas de reconhecimento dos valores 
culturais da natureza e de integração desses aspectos em estratégias de conservação 
têm surgido em diferentes regiões do mundo.
Elas vêm sendo respaldadas por algumas políticas globais que buscam fazer uma 
leitura integrada entre cultura e natureza. Vamos conhecê-las?
Esse é o tema da próxima unidade.
Áreas Protegidas e Valores Culturais da Natureza
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---reas-protegidas-e-valores-culturais-da-natureza-e1rvgqj
37Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 2 – Políticas públicas globais que 
embasam o reconhecimento de valores 
culturais da natureza
Ao final desta unidade, você terá conhecimento sobre as 
políticas mundiais que embasam inciativas de reconhecimento e 
promoção de valores culturais da natureza.
2.1 Contribuições dos povos tradicionais para a conservação da natureza
Como vimos na unidade anterior, faz algumas décadas que o tema dos valores 
culturais da natureza vem sendo debatido nos fóruns internacionais sobre políticas 
públicas de conservação da natureza.
Tem-se deflagrado iniciativas em todo o mundo, refletindo avanços no reconhecimento 
dos direitos dos povos originários e na proposição de políticas públicas que buscam 
valorizar uma leitura integrada da diversidade biológica e cultural. Vamos conhecer 
as principais?
Ainda no início da década de 1990, a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB, 
1992) representa um marco para o reconhecimento da importância dos povos 
tradicionais e de seus saberes para a proteção da natureza, reafirmando que valores 
culturais intrínsecos também estão associados à biodiversidade.
A CDB foi aprovada no âmbito da 
Conferência das Nações Unidas sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento 
(CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro/
Brasil, em 1992.
Adotada por mais de 190 países, essa 
convenção vem se consolidando como 
a principal referência mundial sobre 
questões relacionadas à proteção da 
natureza.
38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Nessa perspectiva, o mais marcante dispositivo da CDB é o seu artigo 8j, que, entre 
outros aspectos, solicita aos países membros da Organização das Nações Unidas 
(ONU) que
respeitem, preservem e mantenham o conhecimento, 
as inovações e as práticas das comunidades indígenas 
e locais que incorporam estilos de vida tradicionais 
relevantes para a conservação e o uso sustentado da 
diversidade biológica. (CDB, 2004)
O artigo 10c, por sua vez, estimula a 
proteger e encorajar a utilização costumeira de 
recursos biológicos de acordo com práticas culturais 
compatíveis com as exigências de conservação ou 
utilização sustentável. (CDB, 2004)
Esses dispositivos oferecem uma abertura para o reconhecimento de diversas 
formas de conservação de áreas e dos valores culturais da natureza.
Dois documentos em particular se sobressaem no debate sobre valores culturais da 
natureza:
Diretrizes Voluntárias Akwé:Kon para avaliação 
das repercussões sociais e culturais, além das 
ambientais, de projetos de desenvolvimento 
que possam afetar lugares sagrados ou terras 
ocupadas e utilizadas tradicionalmente por 
povos indígenas (CDB, 2004).
https://iucn.oscar.ncsu.edu/mediawiki/
images/c/c1/Akwe-brochure-en.pdf
https://iucn.oscar.ncsu.edu/mediawiki/images/c/c1/Akwe-brochure-en.pdf
https://iucn.oscar.ncsu.edu/mediawiki/images/c/c1/Akwe-brochure-en.pdf
39Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Código de Conduta Ética Tkarihwaié:ri para 
garantir o respeito ao patrimônio cultural e 
intelectual das comunidades indígenas e 
locais relevantes para a conservação e 
utilização sustentável da diversidade 
biológica (CDB, 2011)
https://www.cbd.int/traditional/code/
ethicalconduct-brochure-en.pdf
Apesar de ainda pouco aplicadas nos países signatários da CDB, essas diretrizes 
exemplificam como os aspectos culturais devem ser considerados em intervenções 
ambientais, em diálogo com os grupos sociais, internalizando em seus textos a 
compreensão da relação intrínseca entre diversidade cultural e biológica.
Essas recomendações da CDB encontram respaldo também na Convenção no. 169 
da Organização Internacional do Trabalho sobre povos indígenas e tribais (OIT, 
1989) e na Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos Indígenas 
(ONU, 2007). 
A primeira traz como aspectos mais relevantes o princípio da autoidentificação 
como critério de determinação da condição de povos indígenas e tribais e a garantia 
ao direito à consulta prévia, livre e informada a esses grupos sociais sobre 
iniciativas e projetos que afetem seus territórios.
A segunda resulta de um processo de construção associado a 25 anos de debates 
e controvérsias. Representa uma conquista primordial paraa consolidação dos 
direitos dos povos indígenas à nível mundial e vem inspirando o estabelecimento de 
diretrizes para políticas e legislações nacionais que reforçam o papel desses grupos 
sociais para a manutenção da diversidade natural.
2.2 Valores culturais da natureza nas políticas de 
proteção do patrimônio mundial
No campo das políticas de proteção do patrimônio mundial, promovidas pela 
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 
também existem diplomas legais que embasam o reconhecimento e a proteção de 
valores culturais da natureza.
https://www.cbd.int/traditional/code/ethicalconduct-brochure-en.pdf
https://www.cbd.int/traditional/code/ethicalconduct-brochure-en.pdf
40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
A UNESCO, fundada em 1945, é uma 
organização internacional que tem por 
missão contribuir para a paz mundial, a 
erradicação da pobreza, o desenvolvimento 
sustentável e o diálogo intercultural por 
intermédio da educação, da ciência, da 
cultura, da comunicação e da informação.
Responde pela implementação da Convenção do Patrimônio 
Mundial e do Programa Homem e Biosfera (MAB).
Cabe destacar a Convenção do Patrimônio Mundial, aprovada em 1972, considerada 
o primeiro instrumento global a abordar natureza e cultura conjuntamente.
Entretanto, as práticas de registro e tombamento dos bens assim reconhecidos 
ainda são operadas sob a égide da divisão entre as dimensões natural e cultural. 
Esse representa um desafio a ser enfrentado na revisão dessa política.
Além disso, predominou durante décadas o entendimento de que patrimônio 
cultural era, fundamentalmente, composto por bens materiais com características de 
grandeza e excepcionalidade (SANT´ANNA, 2009), o que limitava o reconhecimento 
de elementos relacionados a povos nativos.
Diante disso, alguns países – especialmente aqueles de tradição não europeia – 
passaram a demandar estudos para a formulação de instrumentos de proteção e 
reconhecimento de manifestações culturais populares.
Uma primeira resposta a essa reivindicação foi dada a partir da Recomendação 
sobre a Salvaguarda das Culturas Tradicionais e Populares, lançada em 
1989 pela UNESCO (link: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/
Recomendacao%20Paris%201989.pdf), considerada o marco impulsionador das 
discussões acerca da proteção dos bens de natureza imaterial no mundo ocidental 
que influenciou diretamente a valorização da cultura dos povos originário e 
tradicionais nas políticas patrimoniais.
A partir de então, uma perspectiva mais integrada de natureza e cultura nas 
suas dimensões materiais e imateriais vem sendo reafirmada em normativas 
subsequentes como:
 + Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2001) http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000115.pdf.
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20Paris%201989.pdf
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Recomendacao%20Paris%201989.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000115.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000115.pdf
41Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
 + Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (UNESCO, 
2003) http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ConvencaoSalvaguar 
da.pdf.
 + Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões 
Culturais (UNESCO, 2005) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/decreto/d6177.htm.
 
O que você acha de conhecer melhor esses documentos para uma compreensão 
mais aprofundada de como eles podem ser integrados a estratégias de conservação?
Essas normativas internacionais vêm se constituindo em dispositivos fundamentais 
para o reconhecimento das dimensões simbólicas e dos valores culturais associados 
ao patrimônio natural. Vêm também ajudando a fortalecer o debate sobre a 
importância desses aspectos nas iniciativas de conservação da natureza.
Se reconhece que, por um lado, há diversas práticas culturais que dependem dos 
elementos naturais para serem expressadas. Por outro, que muitos grupos sociais 
também são responsáveis por manter, manejar e promover a biodiversidade, como 
ilustrado na figura a seguir:
Fonte: https://www.cbd.int/lbcd/about – adaptado para o português pelo ICMBio).
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ConvencaoSalvaguarda.pdf
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ConvencaoSalvaguarda.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6177.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6177.htm
https://www.cbd.int/lbcd/about
42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Essas iniciativas mostram que, no plano internacional, a leitura integrada das 
políticas ambientais e culturais não é apenas uma tendência, mas uma realidade e 
uma necessidade que vem sendo enfatizada pelas principais organizações mundiais 
que têm interface com a promoção de estratégias de conservação.
As recomendações internacionais formuladas sobre o tema alertam para a urgência 
de ações concretas de proteção dos significados culturais da natureza em seus 
contextos locais.
Esse é campo de interesse crescente e cada vez mais proeminente entre profissionais 
de conservação e acadêmicos.
Entretanto, em grande parte dos países, o conhecimento sobre essa problemática é 
limitado e as iniciativas de promoção desses valores em políticas públicas nacionais 
são ainda incipientes (WILD; MCLEOD, 2008; FERNANDES-PINTO; IRVING, 2017, 
VERSCHUUREN; BROWN, 2018).
Esse parece ser o caso do Brasil, um país que conjuga uma das maiores diversidades 
biológicas do mundo a uma expressiva diversidade cultural.
Assim, apesar do amplo debate internacional sobre esses temas, ainda há muito 
a trilhar para que as recomendações envolvendo os valores culturais da natureza 
sejam internalizadas nas políticas nacionais.
Como esse debate se relaciona com o contexto brasileiro?
É o que veremos no próximo módulo.
43Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Neste módulo, veremos como o debate sobre reconhecimento de valores culturais 
da natureza se relaciona com o contexto brasileiro, a expressiva sociobiodiversidade 
do país e as políticas públicas nacionais. Vamos conhecer também iniciativas em 
curso que vem trilhando caminhos para promover a integração dos valores culturais 
da natureza nas estratégias de conservação.
Unidade 1 – Sociobiodiversidade brasileira
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender por 
que o Brasil é um país multicultural e os direitos que devem ser 
harmonizados e levados em consideração nas estratégias de 
conservação.
1.1 Reconhecimento dos povos e comunidades 
tradicionais do Brasil
Fonte: http://concursobrasileirodeenredos.blogspot.com/2015/07/
 Módulo
Valores culturais da natureza 
no contexto brasileiro3
http://concursobrasileirodeenredos.blogspot.com/2015/07/
44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Com sua vasta dimensão territorial (8,5 milhões km² de terras e 3,5 milhões km² 
de costa marinha) e variedade de ambientes, o Brasil conjuga uma das maiores 
riquezas biológicas do mundo a uma expressiva pluralidade sociocultural.
Aliada à exuberância natural, o país abriga uma rica diversidade cultural, formada 
por mais de 300 povos indígenas, comunidades remanescentes de quilombos e 
populações tradicionais, representadas por um diversificado conjunto de grupos 
sociais de múltiplas origens. 
Comunidades remanescentes de quilombos – grupos étnico-
raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória 
histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, 
com presunção de ancestralidade negra relacionada com a 
resistência à opressão histórica sofrida (de acordo com artigo 2o 
do Decreto nº 4887/2003).
Populações tradicionais – são grupos culturalmente diferenciados 
e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias 
de organizaçãosocial, que ocupam e usam territórios e recursos 
naturais como condição para sua reprodução cultural, social, 
religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, 
inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (de 
acordo com a definição de Povos e comunidades tradicionais do 
inciso I, artigo 3º do Decreto Federal nº 6.040 de 2007).
Fonte: http://www.megatimes.com.br/2013/12/indio-brasileiro-historia-e.html
http://www.megatimes.com.br/2013/12/indio-brasileiro-historia-e.html
45Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Além disso, o Brasil recebeu, ao longo de sua história, fluxos de imigrantes oriundos 
de diversos países, favorecendo a formação de uma nação verdadeiramente 
multicultural.
Os diversos grupos sociais presentes no território nacional possuem modos de vida 
adaptados a determinados ambientes e uma profunda sabedoria sobre as espécies 
da fauna e da flora, bem como dos ciclos naturais, traduzidos em complexos sistemas 
chamados de conhecimentos ecológicos tradicionais.
Eles compõem o que é chamado de sociobiodiversidade 
brasileira.
Vamos conhecer alguns dos grupos sociais que compõem 
essa nação multicultural chamada Brasil?
Seringueiros Ribeirinhos Castanheiros Extrativistas 
Quebradeiras de 
coco babaçu Andirobeiros Vazanteiros Geraizeiros 
Caatingueiros Retireiros Veredeiros 
Pantaneiros 
do Pantanal 
Matogrossense 
46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Catadoras de 
mangaba 
Pomeranos dos 
Pontões Capixaba 
Fundo e Fecho de 
Pasto Morroquianos 
Cipozeiros da 
Mata Atlântica 
Apanhadores de 
Flores Sempre 
Vivas 
Faxinalenses dos 
Campos Sulinos Piaçaveiros 
Ciganos Caiçaras Pescadores artesanais Ilhéus 
Isqueiros Povos de Terreiro Quilombolas Indígenas 
Fonte: http://portalypade.mma.gov.br/
http://portalypade.mma.gov.br/
47Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Para saber mais, acesse o Portal Ypadê/MMA: http://portalypade.
mma.gov.br/.
Sociobiodiversidade Brasileira
Quanta diversidade, não?
Você conhecia esses grupos ou eles representam uma novidade?
Boa parte desses grupos sociais enfrentaram, ao longo da história, diversas lutas 
para que seus direitos territoriais e culturais começassem a ser reconhecidos no 
país e para que políticas públicas direcionadas a eles fossem instituídas.
A Constituição Federal de 1988 foi um grande marco nesse debate, ao reconhecer 
o Brasil como uma nação multicultural e estabelecer dispositivos legais específicos 
sobre os direitos de povos indígenas e comunidades remanescentes de quilombos, 
como detalhado nos quadros a seguir: 
 + DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS
O artigo 231 da Constituição Federal de 1988 reconhece aos índios 
direitos originários sobre as terras por eles ocupadas tradicionalmente.
Elas são entendidas, de acordo com parágrafo 1º, como “as por eles 
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades 
produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais 
necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e 
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.
Ao estabelecer esses direitos como originários, entende-se que a 
demarcação das terras indígenas (TI) tem um caráter meramente 
declaratório – um ato de reconhecimento de uma situação preexistente 
–, sendo um dever da União promover a demarcação da área e garantir a 
sua proteção (SANTILLI, 2005).
O processo de reconhecimento tem início na Funai, mas as Terras 
Indígenas são declaradas por ato do Ministério da Justiça e homologadas 
por decreto presidencial. Os ritos de demarcação encontram-se 
regulamentados no Decreto Federal nº 1.775 de 1996 (Link: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1775.htm).
http://portalypade.mma.gov.br/
http://portalypade.mma.gov.br/
https://anchor.fm/enap/episodes/EV-G---Valores-Culturais-da-Natureza---Sociobiodiversidade-e1rvgs6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1775.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D1775.htm
48Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
As terras indígenas somam, na atualidade, aproximadamente 700 
áreas – em diferentes estágios do seu processo de reconhecimento – e 
representam cerca de 12% do território nacional.
 + DIREITOS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS
O artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitória da 
Constituição Federal de 1988 reconhece aos remanescentes das 
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras a 
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir os títulos respectivos.
A formação dos quilombos guarda uma história de resistência e de 
luta dos negros escravizados no período colonial por reconhecimento 
e direito à sua cultura e dignidade. Os quilombos representavam uma 
forma de organização social alternativa à ordem escravista, e essas 
comunidades estavam, em sua maior parte, invisibilizadas até o advento 
da Constituição de 1988.
O procedimento de identificação, reconhecimento, delimitação, 
demarcação e titulação de territórios quilombolas é regulamentado pelo 
Decreto Federal nº. 4.887 de 2003 (Link: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm), e o Incra é o órgão competente para 
tal na esfera federal.
Estima a existência de cerca de 5 mil comunidades quilombolas no país, 
das quais aproximadamente 3.500 foram mapeadas pela Fundação 
Palmares (Fonte: http://www.palmares.gov.br/?p=3041).
Entretanto, há um grande passivo na aplicação das políticas públicas 
referentes a esses grupos sociais, e apenas 5% dos territórios encontram-
se titulados (Fonte: CONAQ) http://conaq.org.br/noticias/so-cerca-de-
5-das-32-mil-comunidades-quilombolas-reconhecidas-no-brasil-sao-
demarcadas/.
Mas ainda há muitos desafios para que essas políticas sejam de fato implementadas 
e respeitadas.
Com relação a outros grupos sociais considerados povos e comunidades tradicionais 
não elencados diretamente na Constituição Federal, seus direitos vêm sendo 
reconhecidos por diferentes instrumentos jurídicos, como a Política Nacional de 
Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), 
instituída em 2007 por meio do Decreto nº 6.040.
Muitos deles vem se mobilizando em organizações e articulações próprias, espalhadas 
por todo o país. O Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, por 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm
http://www.palmares.gov.br/?p=3041
http://conaq.org.br/noticias/so-cerca-de-5-das-32-mil-comunidades-quilombolas-reconhecidas-no-brasil-sao-demarcadas/
http://conaq.org.br/noticias/so-cerca-de-5-das-32-mil-comunidades-quilombolas-reconhecidas-no-brasil-sao-demarcadas/
http://conaq.org.br/noticias/so-cerca-de-5-das-32-mil-comunidades-quilombolas-reconhecidas-no-brasil-sao-demarcadas/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm
49Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
exemplo, conta com quase 30 representações desses segmentos. Mas há muitos 
outros ainda a serem considerados.
A formulação da PNPCT deflagrou um processo de emergência do autoreconhecimento 
de comunidades tradicionais que se afirmam através de uma identidade coletiva e 
pela manutenção de territórios de uso comum. “Vozes e rostos que emergem da 
invisibilidade histórica mostrando que os vazios demográficos têm gente” (SIQUEIRA; 
FERNANDES-PINTO, 2007, p.8)
Nesse contexto, ressurgem grupos sociais que, apesar de novos para a sociedade 
brasileira em geral, sempre estiveram presentes em diversos recantos do país. 
Um processo que contribui para trazer para o campo das relações políticas a 
complexidade identitária da diversidade de grupos sociais formadores da sociedade 
nacional.
Você já parou para pensar na importância dessa sociobiodiversidade 
e como ela se relaciona com as estratégias de conservação da 
natureza?
Vamos refletir sobre isso começando por entender as interfaces desse tema com 
algumas legislações brasileiras.Esse é o tema da próxima unidade.
50Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Unidade 2 – Interfaces com as políticas públicas 
nacionais
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender as 
legislações nacionais que são relevantes no debate sobre 
reconhecimento de valores culturais da natureza e reconhecer 
possibilidades de articulação entre políticas ambientais e 
culturais.
2.1 Do reconhecimento constitucional
A Constituição Federal, em seu artigo 225, ao estabelecer o “meio ambiente 
ecologicamente equilibrado” como direito dos brasileiros, “bem de uso comum e 
essencial à sadia qualidade de vida”, atribui ao “Poder Público e à coletividade o dever 
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988).
Para tanto, o Poder Público dispõe de uma série de instrumentos de gestão, tais 
como o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, a fiscalização ambiental, 
a realização de estudos prévios de impacto ambiental, programas de Educação 
Ambiental e a criação de espaços territoriais especialmente protegidos.
Esses instrumentos visam à concretização de um direito fundamental – um 
meio ambiente sadio e equilibrado - em uma perspectiva de solidariedade 
intergeracional, o que deve ser dar em constante diálogo com a sociedade.
Entendendo sociedade como algo não homogêneo, e sim o reflexo de um conjunto 
variado de grupos sociais agregados de forma desigual, é necessária atenção para 
essas múltiplas perspectivas a fim de garantir equidade na condução de políticas 
públicas e na implementação dos instrumentos de gestão ambiental.
Quando os valores culturais da natureza e as múltiplas formas de interação com 
o ambiente não são considerados, pode-se incorrer em decisões equivocadas que 
resultarão em conflitos com grupos que poderiam ser aliados da conservação, 
“criminalizando” suas práticas culturais.
Assim, um meio ambiente sadio e equilibrado não pode ser entendido somente 
como busca por um status aceitável quanto à integridade do meio físico. Deve ser 
considerada a integridade do conjunto de significados que a natureza representa 
para os diversos grupos formadores da sociedade nacional.
51Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Fonte: https://gestaodesegurancaprivada.com.br/constituicao-o-que-
e-para-que-serve-tipos-constituicao-brasileira-1988/
No contexto das políticas públicas brasileiras, a perspectiva de reconhecimento de 
valores culturais da natureza é amparada principalmente pelos artigos 215 e 216 da 
Constituição Federal de 1988.
Considera-se como patrimônio cultural brasileiro “os bens de natureza material 
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência 
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade 
brasileira”. Incluindo-se, entre outros aspectos, “as formas de expressão e os modos 
de criar, fazer e viver” (BRASIL, 1988).
Estes incluem: 
I – as formas de expressão; 
II – os modos de criar, fazer e viver; 
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
manifestações artístico-culturais; 
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, 
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988)
Esse mesmo dispositivo constitucional determina que é dever do poder público 
promover e proteger, de múltiplas formas. o patrimônio cultural brasileiro. Note 
https://gestaodesegurancaprivada.com.br/constituicao-o-que-e-para-que-serve-tipos-constituicao-brasileira-1988/
https://gestaodesegurancaprivada.com.br/constituicao-o-que-e-para-que-serve-tipos-constituicao-brasileira-1988/
52Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
que essa não é uma atribuição específica de um único setor governamental, e sim 
do poder público em geral. O que inclui também os órgãos executores das políticas 
ambientais.
Ao introduzir as noções de direitos socioculturais e de patrimônio cultural material e 
imaterial, eles inovaram no reconhecimento do caráter multicultural da sociedade 
brasileira.
Durante algum tempo, a noção de patrimônio cultural esteve voltada principalmente 
para a preservação de edifícios, monumentos históricos e obras de arte dos povos 
colonizadores. 
Diante desse contexto, o artigo 216 da Constituição Federal representou uma grande 
conquista de movimentos sociais e intelectuais brasileiros que lutavam para que 
a perspectiva de outros grupos formadores da sociedade nacional também fosse 
considerada nas políticas patrimoniais.
Isso levou à ampliação da noção de patrimônio cultural para incluir também bens 
intangíveis ou imateriais. Além disso, influenciou as políticas ambientais, dando 
maior visibilidade à cultura dos povos tradicionais.
2.2 Políticas de conservação da natureza
Fonte: https://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao
No âmbito das políticas nacionais de áreas protegidas, o Sistema Nacional de 
Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (Lei Federal nº 9.985 de 2000), apesar 
https://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao
53Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
de abordar de forma incipiente o tema, expressa algumas referências a direitos de 
populações locais e à perspectiva da sua integração nas estratégias de conservação 
da biodiversidade.
Seus objetivos incluem “proteger as características relevantes de natureza cultural” 
e “os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais”, 
respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura, promovendo-as social e 
economicamente (BRASIL, 2000, artigo 4).
SAIBA MAIS sobre o SNUC
A criação de Unidades de Conservação (UC) tem sido a principal 
estratégia utilizada no país para a proteção do patrimônio 
natural.
Desde a instituição do primeiro parque nacional (o PARNA 
do Itatiaia), na década de 1930, mais de duas mil UC já foram 
criadas no território brasileiro – entre áreas federais, estaduais, 
municipais e particulares.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) no 
Brasil é regido pela Lei Federal nº 9.985 de 2000 (Link: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm), regulamentada 
pelo Decreto nº 4.340 de 2002 (Link: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/2002/d4340.htm). 
O sistema é composto por 12 categorias de UC, cujos objetivos 
específicos se diferenciam quanto à forma de proteção e usos 
permitidos em UC de proteção integral e UC de usos sustentável.
Unidades de Conservação de Proteção Integral: têm por objetivo 
preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos 
seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nessa 
Lei. Grupo composto pelas categorias: Estação Ecológica (ESEC); 
Reserva Biológica (REBIO); Parque Nacional (PARNA); Monumento 
Natural (MONA) e Refúgio de Vida Silvestre (RVS).
Unidades de Conservação de Uso Sustentável: têm por objetivo 
compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável 
de parcela dos seus recursos naturais. Constituem esse grupo 
as categorias: Área de Proteção Ambiental (APA); Área de 
Relevante Interesse Ecológico (ARIE); Floresta Nacional (FLONA); 
Reserva Extrativista (RESEX); Reserva de Fauna (REFAU); Reserva 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4340.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4340.htm
54Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública
de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Particular do 
Patrimônio Natural (RPPN).
Na atualidade, as UC estão presentes em todas as regiões do país 
e abrangem cerca de 15% do território nacional (CNUC/MMA, 
2020) (Link: https://www.mma.gov.br/images/arquivo/80229/
CNUC_FEV20%20-%20B_Cat.pdf). As UC federais administradas 
especificamente pelo ICMBio somam 334 áreas e preservam 
importantes ecossistemas naturais nos diversos

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