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Direito Penal-teoria das Penas

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Aula 1
PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE E SEUS EFEITOS
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PENAS E SEUS CRITÉRIOS DE
APLICAÇÃO
141 minutos
Aula 1 - Penas privativas de liberdade e seus efeitos
Aula 2 - Penas restritivas de direito e seus efeitos
Aula 3 - Pena de multa e a forma de execução
Aula 4 - Aplicação das penas
Referências
INTRODUÇÃO
Ao tratarmos de pena, estamos nos referindo à consequência jurídica imposta pela prática de uma infração
penal. Após toda a análise dos elementos constitutivos do delito e uma vez caracterizada a infração penal,
passa-se, então, à discussão sobre as consequências jurídicas do delito.
Nessa linha de raciocínio, para alcançarmos uma compreensão completa da persecução penal, é
indispensável o estudo a respeito da teoria geral da pena, que permite entender o conceito jurídico de pena,
suas espécies e características, assim como as regras para sua aplicação e execução.
Um estudo complexo demanda constância na dedicação para alcançar os objetivos.
PENA PRIVATIVA
O texto constitucional (BRASIL, 1988) prevê em seu artigo 5º, em um rol não taxativo, as espécies de pena
existentes no país, ao passo que o Código Penal (BRASIL, 1940) e os demais diplomas penais esparsos
disciplinam no preceito secundário dos tipos penais a espécie de pena passível de aplicação para cada delito.
Assim, entre outras, serão as penas:
•  privativa de liberdade.
•  restritiva de direito.
•  multa.
A origem das penas privativas de liberdade remonta aos primórdios da execução e do próprio direito penal,
quando os criminosos e condenados aguardavam o cumprimento das penas — usualmente penas de caráter
corporal — com sua liberdade cerceada e sendo mantidos em condições desumanas sob a guarda do ente
estatal.
Sobre as penas privativas de liberdade, é cabível citar a observação realizada pelo saudoso mestre Julio
Fabrini Mirabete (2021, p. 254): 
As penas privativas de liberdade são as mais utilizadas nas legislações modernas,
apesar do consenso da falência do sistema prisional. Podem ser divididas em prisão
perpétua e prisão temporária, sendo a primeira vedada em dispositivo constitucional
brasileiro (art. 5º, XLVII, b). Originaram-se as penas privativas de liberdade de outras
penas: enquanto aguardavam a execução (pena de morte, desterro, galés etc.), os
sentenciados ficavam privados da liberdade de locomoção, passando a ser a prisão,
depois, a própria sanção penal.
Após toda a análise dos elementos constitutivos do delito e uma vez caracterizada a infração
penal, passa-se, então, à discussão sobre as consequências jurídicas do delito.
32 minutos
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As penas privativas de liberdade retiram do condenado seu direito de locomoção, e ele passa a ter sua
liberdade restrita e controlada pelo Estado, o que se exterioriza no cumprimento da pena por intermédio de
todo o seu aparato e agentes voltados à execução penal. 
São espécies de penas privativas de liberdade a reclusão, que se caracteriza pela maior severidade das regras
de cerceamento da liberdade do agente; a detenção, que atinge de modo menos gravoso a liberdade de
locomoção, permitindo experiências de liberdade controlada; e a prisão simples, com um modelo ainda
menos gravoso de cerceamento de liberdade.
O artigo 33 do Código Penal (BRASIL, 1940) traz previsão sobre o cumprimento das penas privativas de
liberdade:
As penas de reclusão e de detenção caracterizam-se por seus regimes de cumprimento de pena, partindo de
um regime mais severo, o fechado, que consiste na total reclusão do condenado na sede do estabelecimento
penal, hipótese em que a liberdade do indivíduo fica integralmente afastada. Já no semiaberto, um modelo
com menores restrições, há a permissão para que o detento saia para estudar e trabalhar em colônias
agrícolas e industriais ou estabelecimentos similares, dentro da proposta de ressocialização preconizada por
nosso ordenamento jurídico, e recolhendo-se ao cárcere no período noturno. Por fim, há o regime aberto, que
demanda a autodisciplina do condenado, visto que ele deve observar as restrições impostas pela sentença;
tem liberdade plena durante o período diurno, mas deve, à noite, recolher-se em estabelecimentos especiais,
as casas do albergado.
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE (REMIÇÃO, DETRAÇÃO E PROGRESSÃO DE
REGIME)
Depois de definido o conceito geral das penas privativas de liberdade, podemos progredir no estudo para
abordar aspectos mais avançados relativos a essa modalidade de sanção penal. 
Primeiramente, trataremos do instituto da remição. Pense que, depois do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória, você estará diante de uma pena objetiva, uma pena concreta. No que se refere à pena
privativa de liberdade, teremos uma quantidade de tempo certo que deverá ser cumprido, dentro da
modalidade e de acordo com o regime imposto na sentença. 
Art. 33 – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou
aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado. 
§ 1º - Considera-se: 
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou
média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.
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Contudo, apesar de haver uma pena concreta a ser cumprida dentro da execução penal, devemos ter em
mente que essa pena não pode nem deve ser encarada como algo inalterável, especialmente se
considerarmos a função ressocializadora da pena.
Se a ideia da pena é servir como reprimenda pela conduta ilícita praticada e, ao mesmo tempo, prevenir a
prática de novos delitos, na perspectiva da ressocialização a pena deve funcionar como um estímulo positivo
para que aquele que praticou o delito não volte à atividade ilícita.
Nessa linha de raciocínio, a Lei de Execução Penal — Lei nº 7.210 (BRASIL, 1984b) — reconheceu, enquanto
instrumento de ressocialização, o instituto da remição da pena, prevista em seu artigo 126 e seguintes. Assim,
o condenado à pena privativa de liberdade cumprida em regime fechado ou semiaberto pode abater (remir),
por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
Também é aspecto afeto ao objeto desses estudos o instituto da detração, prevista no artigo 42 do Código
Penal (BRASIL, 1940), segundo o qual o tempo de prisão provisória cumprido no Brasil ou no estrangeiro, o
tempo de prisão administrativa e o tempo de internação em hospital de custódia devem ser computados e
descontados do cumprimento da pena privativa de liberdade e da medida de segurança.
Nas palavras de Fernando Capez (2020, p. 533):
Já quanto à progressão de regime, pensando nas mesmas premissas que foram abordadas com relação à
remição da pena, devemos considerar que a pena imposta na sentença não pode ser considerada imutável
quando é aplicada dentro de um sistema que pretenda a ressocialização. 
Até por conta disso, nosso ordenamento jurídico adotou o sistema de progressão de regimes para o
cumprimento das penas. Nesse sistema, o condenado tem a possibilidade de progredir do regime imposto na
sentença condenatória para um regime menos gravoso, conforme atenda aos requisitos estabelecidos em lei,
visando justamente à reinserção do indivíduo no convívio social — funcionando como um dos mecanismos
no modelo ressocializador de execução penal. 
No que tange aos requisitos para a progressão de regime, o condenado deve cumprir aqueles de caráter
objetivos, previstos no artigo 112 da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984b), relacionados com o cumprimento
de determinada porcentagem da pena, levando em consideração a natureza do crime e a condição penal do
apenado — o que pode variar, a depender do caso, de 16% a 70% da pena imposta na sentença.
Além disso, devem ser cumpridos os requisitos de caráter subjetivo, nos termos do § 1º do artigo 112 da Lei de
Execução Penal (BRASIL, 1984b), que determina que em todos os casos o apenado somenteterá direito à
progressão de regime se demonstrar boa conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento,
respeitadas as normas que vedam a progressão. 
Trata-se de instituto jurídico que deve ser reconhecido pelo próprio juiz que sentencia
e condena o réu. A detração deve ser levada em consideração pelo juiz que proferir
sentença condenatória, para fins de fixação de regime inicial de cumprimento de
pena, e não mais pelo juiz da execução penal.
— Someone famous
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PENAS ALTERNATIVAS
Recentemente, um fenômeno legislativo que se verifica é a ampliação do campo de atuação do Direito Penal,
com a incriminação de diversas de condutas, sem que se observem de uma forma criteriosa os efeitos e as
consequências da imposição da atuação do Direito Penal ou a consequência da aplicação da pena aos autores
de determinadas condutas.
Nesse ponto, é pertinente uma consideração a respeito da efetividade do Direito Penal e da pena no contexto
das penas alternativas:
A palavra “alternativa”, no vernáculo, significa sucessão de coisas reciprocamente exclusivas que se repetem
com alternância. A alternativa, aqui ligada à noção de pena, demonstra que o instituto objetiva buscar
alternativas à privação de liberdade, procurando caminhos diversos à clássica utilização do cárcere como
medida principal na repressão aos ilícitos penais.
Podemos verificar que as linhas principais que guiam o estabelecimento e a aplicabilidade das penas
alternativas são o caráter educativo da medida penal, privilegiando a manutenção do convívio do agente com
seu meio social. 
Na legislação, encontramos na exposição de motivos da Lei nº 7.209 (BRASIL, 1984a) o item 27, que indica os
inconvenientes da manutenção da pena privativa de liberdade como principal meio de coerção:
Como se vê, mesmo antes de nossa atual Constituição, na reforma do Código Penal, já se denunciava a
defasagem do modelo clássico de aplicação da pena, apontando a necessidade da busca de alternativas à
aplicação da pena visando a uma humanização e a melhores resultados da aplicação da lei penal.
Seguindo essa tendência de humanização e buscando a efetividade das penas, o legislador constituinte
também introduziu as prestações sociais alternativas e a suspensão e a interdição de direitos como
possibilidades jurídicas de sanções penais. 
O que causa para a sociedade o descrédito e o desvalor do Direito Penal e da atuação
estatal na repressão aos delitos, não é tão somente a brandura ou a severidade das
penas, mas a sensação de desproporcionalidade em situações análogas e o sentimento
de impunidade às afrontas aos bens que são socialmente valiosos
— (ROSA, 2013, [s. p.]).
O tipo de tratamento penal freqüentemente inadequado e quase sempre pernicioso, a
inutilidade dos métodos até agora empregados no tratamento de delinqüentes
habituais e multi-reincidentes; os elevados custos na construção e manutenção dos
estabelecimentos penais; as consequências maléficas para os infratores primários,
ocasionais ou responsáveis por delitos de pequena significação, sujeitos, na
intimidade do cárcere, a sevícias, corrupção e perda paulatina da aptidão para o
trabalho.
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A Lei nº 9.099 (BRASIL, 1995), que dispôs sobre os Juizados Especiais Criminais, estabeleceu ainda o conceito
de infração penal de menor potencial ofensivo, caracterizando os delitos com pena máxima em abstrato não
superior a dois anos e todas as contravenções penais. 
O diploma previu a possibilidade de não se proceder à prisão do autor do fato, quando surpreendido em
situação flagrancial, quando este se comprometer a comparecer em juízo, elaborando-se então o termo
circunstanciado, o que por si só já representa uma alternativa legislativa à privação de liberdade, ao menos
na fase inicial da persecução penal.
Também previu a opção da transação penal, em que o titular da ação penal, verificando o preenchimento dos
requisitos, pode oferecer ao réu a possibilidade de prestar serviços sociais alternativos, extinguindo-se assim
o processo penal.
Em que pese não representar reconhecimento de culpa, a prestação social substitui a eventual pena que seria
imposta no caso de condenação penal.
VIDEOAULA
Na videoaula, trataremos dos assuntos referentes às penas privativas de liberdade, discorrendo sobre as
origens, as características e a definição, assim como sobre institutos relacionados e que impactam o
cumprimento da pena — como a remição, a detração e a progressão de regime — e a questão das penas
alternativas.
 Saiba mais
O estudo da teoria das penas é um assunto bastante complexo e ao mesmo tempo desafiador, permitindo
ao estudante aprofundar o conhecimento sobre o direito penal. Convido você à leitura da obra de André
Estefam (2022, p. 450–486).
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante! Seja bem vindo a aula de Penas restritivas de direito e seus efeitos!
Aula 2
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO E SEUS EFEITOS
Discutir a teoria das penas é pensar, em última análise, nas funções que o Direito Penal
pretende cumprir na sociedade, tendo em vista que as finalidades impressas nas penas acabam
por surtir os efeitos sociais da aplicação do Direito Penal.
30 minutos
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Discutir a teoria das penas é pensar, em última análise, nas funções que o Direito Penal pretende cumprir na
sociedade, tendo em vista que as finalidades impressas nas penas acabam por surtir os efeitos sociais da
aplicação do Direito Penal.
Seguindo a orientação da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e dando continuidade ao movimento iniciado
anos antes, no sentido de ampliar o caráter ressocializador das penas, a adoção de sanções restritivas de
direito surge como uma mudança no paradigma vigente, que vincula a pena à ideia de prisão. 
Nesta aula, trataremos das penas restritivas de direito e das respectivas características, modalidades, funções
e modo de cumprimento. 
Um estudo complexo demanda constância na dedicação para alcançar os objetivos.
PENA RESTRITIVA
Ao tratarem do conceito de Direito Penal, Gomes e Molina (2009) indicam duas óticas: do ponto de vista
dinâmico ou social, representa o conjunto de instrumentos formais de controle social à disposição do Estado
que, com base em um sistema normativo, castiga com sanções de particular gravidade aquelas condutas
nocivas à convivência social, pretendendo assim uma vida harmônica entre os membros da sociedade; e, de
um ponto de vista estático, formal, é “o conjunto de normas que definem certas condutas como infração,
associando-lhes penas ou medidas de segurança” (GOMES; MOLINA, 2009, p. 24).
Por seu turno, Jorge de Figueiredo Dias (2007, p. 3) conceitua o Direito Penal como “o conjunto de normas
jurídicas que ligam a certos comportamentos humanos, os crimes, determinadas consequências jurídicas
privativas deste ramo de direito”, destacando que “A mais importante destas consequências — tanto do ponto
de vista quantitativo, como qualitativo (social) — é a pena”.
Como podemos notar, o conceito parte de duas ideias básicas: a tipificação daquelas condutas socialmente
indesejáveis e a consequência jurídica, que é a imposição de penas. A essas são então agregadas a noção de
necessidade de limitação do poder punitivo do Estado, bem como a noção de que o Direito Penal, de fato, de
um ponto de vista social, representa uma forma de controle das condutas dos indivíduos, visando coibir
aquelas indesejáveis no contexto da sociedade.
Na linha de raciocínio adotada pelo Código Penal (BRASIL, 1940), a pena teria uma função mista, haja vista
que, de forma abstrata, apresenta um papel preventivo geral, inibindo a prática de crimes pelo receio de ter
sobre si as normas penais incriminadoras e suas consequências.
De igual sorte, uma vez cometida a conduta ilícita, a pena terá o caráter retributivo — mas não na noção de
vingança ou castigo. A pena será aplicada não por conta da lesão ao bem material atingido, mas como
consequência da lesão ao bem jurídico e do descumprimentoda norma penal. Daí a noção da
proporcionalidade da pena do ponto de vista jurídico — proporcional à culpabilidade —, e não material; caso
contrário, estaríamos diante de um novo talião.
Igualmente, a pena ainda terá um caráter preventivo específico, pretendendo, por sua força, evitar que
aquele indivíduo que incorreu na conduta criminosa volte a delinquir.
E, indo além, nossa legislação agrega a tais noções o caráter ressocializador da pena, devendo esta servir
como meio de ressocializar e reinserir o indivíduo na sociedade, para que, assim, não mais cometa condutas
ilícitas.
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Dessa maneira, sob a perspectiva desse Direito Penal que adota uma premissa de ressocialização como
finalidade almejada com a aplicação das penas, apenas o castigo não é suficiente. Isso demonstra, portanto, a
necessidade de outras modalidades de sanção penal que atinjam o acervo de direitos do condenado,
cumprido as missões retributiva e preventiva, mas sem o retirar do convívio e de suas relações em sociedade.
Nesse contexto, a liberdade de locomoção do indivíduo não é cerceada — ao menos em sua integralidade —,
substituindo-se o cárcere pela restrição de outros direitos, principalmente aqueles que guardem relação com
o ilícito penal praticado.
Cumprem-se as finalidades da pena atingindo os direitos do autor da conduta sem o privar da liberdade, de
modo que sofra as consequências da sanção penal, mas sem se ver extirpado do convívio da sociedade.
PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO
Com foco então na premissa da imposição de sanções que melhor atendam às finalidades da pena,
considerando, no caso concreto, a gravidade objetiva da conduta, suas consequências concretas e sociais, as
características do autor do fato e a repercussão social da conduta, bem como na esteira do texto
constitucional, o artigo 43 do Código Penal (BRASIL, 1940) apresenta o rol de penas restritivas de direito:
Assim, nos termos do disposto pelo artigo 44 do Código Penal (BRASIL, 1940), as penas restritivas de direito
são autônomas em relação às privativas de liberdade, podendo ser aplicadas de maneira isolada nas
hipóteses previstas em lei ou de forma substitutiva ao cerceamento da liberdade do condenado, hipótese em
que a privação de liberdade será substituída por certas restrições de direito ou pelo cumprimento de
obrigações aceitas pelo condenado quando preenchidos os requisitos exigidos pela lei.
As regras para a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito estão previstas no
artigo 44 do Código Penal (BRASIL, 1940):
Art. 43. As penas restritivas de direitos são: 
I – prestação pecuniária; 
II – perda de bens e valores; 
III – prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
IV – interdição temporária de direitos; 
V – limitação de fim de semana. 
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Nessa perspectiva, possuem caráter substitutivo, uma vez que não são previstas como penas diretas
constantes do preceito secundário de qualquer diploma legal, não podendo assim ser aplicadas de forma
direta. 
Apesar disso, podemos mencionar o que a atual lei que trata dos crimes de drogas prevê como pena principal
para o delito de porte ilegal de substância entorpecente:
É importante destacar a pena prevista para o delito mencionado, já que a opção do legislador em impor de
forma autônoma e independente uma pena restritiva de direito para o crime em tela suscitou verdadeira
discussão a respeito de eventual descriminalização da conduta de porte de entorpecentes para uso pessoal.
Sem deixar de reconhecer a lesividade social e jurídica da conduta, mantendo sua condição de crime e a
competência do Direito Penal para conhecê-la, o legislador igualmente reconheceu que a condição do usuário
não poderia merecer o mesmo tratamento que a dos autores de outros delitos.
Fugindo da fórmula clássica da pena privativa de liberdade, determina de forma direta a restrição de
direitos, com a imposição de obrigações ao autor do fato, em uma clara alternativa ao cárcere.
IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA RESTRITIVA DE
DIREITOS
Conforme nos foi possível delimitar, as penas restritivas de direitos, com fundamento constitucional e no
Código Penal (BRASIL, 1940), podem funcionar como sanção penal imposta de maneira direita e autônoma ou
em substituição da pena privativa de liberdade naquelas hipóteses autorizadas na legislação penal.
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso; 
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição
seja suficiente. 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
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Em um ou outro caso, levanta-se a discussão sobre a possibilidade ou não do cumprimento antecipado ou da
execução provisória da pena restritiva de direito, antes do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória.
A questão gira em torno da discussão da possibilidade da execução provisória das sanções penais, tema mais
amplo, que abarca as penas restritivas de direito. O questionamento, em uma perspectiva que pretenda dar
efetividade às decisões condenatórias, busca seu fundamento nas alegações de que, após a confirmação da
sentença penal condenatória em segunda instância, todas as questões sobre a existência e as circunstâncias
do fato teriam sido superadas, restando em sede de possível recurso apenas a discussão de aspectos jurídicos
perante as Cortes Superiores. 
Tal perspectiva fez fortalecer correntes que defendiam a possibilidade de se antecipar o cumprimento das
penas impostas em primeira instância e confirmadas em sede de recurso em segunda instância, mas que
ainda se encontrassem pendentes do julgamento de recurso junto aos Tribunais Superiores. Os contornos
tornaram-se ainda mais robustos diante das modificações de posicionamentos do Supremo Tribunal Federal
em relação a tal possibilidade de execução provisória das sanções penais.
Contudo, prevaleceu o entendimento de que a execução provisória da pena, antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, implicaria ofensa ao princípio constitucional da presunção de inocência
(BRASIL, 1988), de sorte que a fase executória somente poderia ser operada após o trânsito em julgado da
condenação.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula nº 643 (BRASIL, 2021), que determina que “A
execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado da condenação”.
Na verdade, a execução provisória das penas restritivas de direito já era vedada de maneira expressa pelo
artigo 147 da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984):
Nessa perspectiva, imagine que em primeira instância um indivíduo processado por crime contra o
patrimônio venha a ser condenado à detenção de dois anos e, atendendo aos requisitos legais, tenha a pena
privativa de liberdade convertida em restritiva de direito. Tendo apelado da decisão, o Tribunal de Justiça
confirma a condenação, e o réu interpõe recurso extraordinário. 
Nessa hipótese, ainda que a matéria a ser discutida seja estritamente jurídica, não é cabível o cumprimento
antecipado da pena, ficando vedada a execução provisória das penas restritivas de direitos, que somente
poderão ser cumpridas após o trânsito em julgado da condenação, nos termos do artigo 147 da Lei de
Execução Penal (BRASIL, 1984).
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de direitos, o
Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,promoverá a
execução, podendo, para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de
entidades públicas ou solicitá-la a particulares.
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VIDEOAULA
Continuando nossos estudos sobre a teoria das penas e as espécies de sanções penais, nesta videoaula
trataremos das penas restritivas de direito. Partindo de uma discussão acerca das finalidades e funções das
penas no universo do direito penal, será definida a pena restritiva de direito quanto a seus fundamentos e
suas funções, assim como suas características e hipóteses de aplicação, finalizando com a questão referente à
impossibilidade da execução provisória das penas restritivas de direito.
Siga firme e excelentes estudos!
 Saiba mais
No estudo da teoria geral das penas e das sanções penais em espécie, é sempre interessante ampliar os
conhecimentos dos aspectos relacionados à execução penal. Diante disso, fica o convite para que você
consulte o conteúdo apresentado por Guilherme de Souza Nucci em Curso de execução penal, sobre a Lei
de Execução Penal (NUCCI, 2021, p. 190–202).
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Entre as penas previstas em nosso ordenamento jurídico, com fundamento tanto no texto constitucional
(BRASIL, 1988) quanto no Código Penal (BRASIL, 1940) e na legislação penal extravagante, figura a pena de
multa, com origens que remontam à Antiguidade do Direito Penal e que ainda hoje reverberam entre nós.
Trata-se de uma possibilidade jurídica para imposição das consequências jurídicas e sociais da atuação do
direito penal, incidente de maneira suplementar ou substitutiva, ou mesmo independente, desvinculada de
necessária vinculação com a privação de liberdade. 
Dessa sorte, realizaremos o estudo dos conceitos e fundamentos da pena de multa, suas características e as
peculiaridades relacionadas com sua aplicação e execução.
MULTA
O que defini uma multa?
Depois de analisados os aspectos relacionados com as penas privativas de liberdade e as penas restritivas de
direito, resta-nos neste ponto o estudo da terceira modalidade de sanção penal prevista pelo artigo 39 do
Código Penal (BRASIL, 1940): a pena de multa.
Aula 3
PENA DE MULTA E A FORMA DE EXECUÇÃO
Realizaremos o estudo dos conceitos e fundamentos da pena de multa, suas características e as
peculiaridades relacionadas com sua aplicação e execução.
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Caso busquemos uma definição geral do termo, podemos estabelecer multa como qualquer sanção pecuniária
imposta em face do descumprimento de preceito legal de ordem civil, penal, administrativa ou tributária.
Podemos então estabelecer que se trata de penalidade, em sentido amplo, que implica o pagamento de valor
em favor de alguém como consequência do descumprimento de algum preceito legal.
Neste ponto, e até para deixar clara a natureza jurídica da multa que pretendemos abordar, é interessante
pensar na destinação do valor e da função que esse pagamento pretende cumprir, de modo a não confundir
conceitos que, por sua natureza, são bastante similares.
Pense que a conduta que causa danos — material ou moral — para outrem deve ser reparada e, quando não
for possível restituição do status quo anterior, essa reparação se faz, geralmente, em valor. Caso essa mesma
conduta infrinja normas de Direito Penal, dependendo da tipificação e do conteúdo do preceito secundário do
tipo penal, pode haver imposição de pena pecuniária.
Em todos esses contextos, estamos diante de penalidades, em sentido amplo, que se constituem no pagamento
de valor, logo multas. Contudo, devemos pensar na finalidade de cada uma dessa multas.
No primeiro caso, há uma multa com clara finalidade indenizatória e função reparatória, típica do Direito
Civil, na qual o valor pago se destina àquele que sofreu o dano decorrente da conduta.
Já na segunda hipótese, a finalidade não tem caráter reparatório, mas sim o de atender às funções retributiva
e preventiva, típicas do Direito Penal e decorrentes da responsabilidade penal. Não tem por objetivo reparar
o dano causado; funciona, de fato, como punição pela prática da conduta tipificada na lei penal. Por
consequência, o valor não é direcionado à vítima da conduta, mas ao poder público, nos termos da lei.
Pense no seguinte exemplo: um indivíduo, dirigindo veículo automotor, ingressa na contramão de direção em
via pública e colide acidentalmente com um veículo que estava estacionado, causando danos. Para fugir da
responsabilidade, evade-se do local com o veículo, mas toda a conduta foi registrada por câmeras de
monitoramento.
Na perspectiva penal, haverá o dever de indenizar o dono do carro danificado, nos termos do artigo 927 do
Código Civil. Estará sujeito também à imposição de multa administrativa nos termos do artigo 186 do Código
de Trânsito Brasileiro.
Além disso, estará sujeito à responsabilidade penal do artigo 305 da lei de trânsito, que pode resultar na
imposição de pena de multa:
Como se pode ver, em uma única conduta é possível extrair como resultado o dever jurídico de entregar
prestação pecuniária, inclusive com contornos e denominação da penalidade de multa. 
Avancemos, então, no estudo da multa enquanto sanção penal.
PENA DE MULTA
“Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à
responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de seis
meses a um ano, ou multa”.
— Someone famous
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Penalidade para multa
Se procurarmos traçar a origem histórica da pena de multa, podemos verificar que a imposição do
pagamento de valor como consequência do descumprimento de preceitos legais encontra previsão em
diversas legislações da Antiguidade.
Mesmo quando pensamos na etimologia da sanção pecuniária, encontramos o termo em latim pecus, que se
refere a gado, encontrado em diversos outros termos jurídicos, como pecúlio e peculato. Essa noção precede à
disseminação do uso de metais como moeda de troca, quando valores e riquezas eram mensurados em
cabeças de gado.
Nos termos do artigo 49 do Código Penal (BRASIL, 1940), pena de multa é definida como o pagamento, em
favor do fundo penitenciário, da quantia fixada na sentença e calculada utilizando a fórmula de dias-multa.
Conforme aponta Cezar Roberto Bitencourt (2021, p. 360):
Para fins da imposição da pena de multa, o valor de cada dia-multa será estabelecido na sentença
condenatória, não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário-mínimo mensal vigente ao tempo do
fato, nem superior a cinco vezes esse salário, passível de atualização, por ocasião da execução da pena, pelos
índices de correção monetária.
Podemos então definir a pena de multa como sendo a sanção de caráter penal, imposta de maneira isolada ou
cumulativamente com penas de outra natureza, conforme previsão do preceito secundário do tipo penal,
consistente no pagamento de valor que será destinado ao Fundo Penitenciário.
Como vemos, a pena de multa recai não sobre a liberdade ou o acervo de direitos do condenado, mas sobre o
patrimônio. Desse modo, não pode ser convertida em pena de outras naturezas (privativa de liberdade ou
restritiva de direito) quando não se verificar seu pagamento ou este for de qualquer forma frustrado pelo
condenado.
Além disso, e considerando a possibilidade de ser aplicada de maneira isolada, naqueles casos previstos em
lei, determina a Súmula nº 693 do Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2003): “Não cabe habeas corpus contra
decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada”. Quando aplicada de maneira isolada, concreta ou potencial, a pena de
multa não coloca em risco o direito de locomoção do indivíduo, portanto o habeas corpus não é um
instrumento jurídico cabível.
Outro aspecto que deve ser analisado quanto à pena de multa diz respeito a seu alcance, especialmente se
considerarmos o caráter personalíssimo e a intranscendência da sanção penal, conforme previsão do artigo 5,
inciso XLV daConstituição Federal (BRASIL, 1988):
“o sistema dias-multa é genuinamente brasileiro, criado pelo nosso Código Criminal
do Império e foi mantido em nosso primeiro Código Penal republicano de 1890, bem
como na Consolidação das leis Penais de 1932”.

Nessa perspectiva, ainda que a multa seja considerada e executada como dívida de valor, executável
conforme as regras de execução aplicáveis para a Fazenda Pública, essa execução, assim como na execução
de outras espécies de pena, não pode ultrapassar a pessoa do condenado. Isso significa que ela não deve
atingir, por exemplo, herdeiros e sucessores no caso da morte do condenado com pendência de pagamento da
pena de multa.
EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA
Aplicação da lei de execução penal
O Código Penal, no artigo 50 (BRASIL, 1940), determina que a multa seja paga dentro de dez dias depois de
transitada em julgado a sentença. De acordo com o caso, e a requerimento do condenado, o juiz pode permitir
que o pagamento se realize em parcelas mensais.
Na perspectiva da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), conforme prevê o artigo 164, uma vez extraída a
certidão de trânsito em julgado da sentença penal condenatória que impõe pena de multa, com natureza
jurídica de título executivo judicial, cabe ao Ministério Público requerer a citação do condenado para, no
prazo de dez dias, realizar o pagamento do valor ou indicar bens à penhora.
Caso o pagamento da multa não se realize no prazo de dez dias contados da citação, nos termos do artigo 50,
determina o § 1º do dispositivo que se deve proceder à penhora de bens do condenado para garantir a
execução da pena de multa, procedimento que deverá seguir as regras estabelecidas na legislação processual
civil sobre a penhora.
Sobre a competência para a execução da pena de multa, o artigo 51 determina que, transitada em julgado a
sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de
valor.
Por conta disso, para a execução da pena de multa, aplicam-se as normas relativas à dívida ativa da Fazenda
Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
LV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
A Lei n. 13.964, de 24 de dezembro de 2019, tem o mérito de, pelo menos, afastar a
dificuldade interpretativa de grande parte da doutrina e da jurisprudência sobre a
competência para a execução da pena de multa, ao definir, expressamente, que ela é
do juiz da vara de execução penal. Na nossa concepção, sempre foi do juízo da
execução penal e do correspondente representante do Ministério Público com
atribuição naquela vara criminal, mas esse nosso entendimento sempre foi
amplamente minoritário. Agora, com o texto da Lei n. 13.964/2019, não resta mais
qualquer dúvida sobre essa competência e respectiva atribuição do Parquet.
— (BITENCOURT, 2021, p. 562).

Assim, quanto à discussão sobre a legitimidade processual e a competência jurisdicional para a execução da
pena de multa, é atribuição do Ministério Público atuar como sujeito legítimo para promover a execução, que
se fará perante o Juízo das Execuções Penais. 
Podemos pensar na possibilidade do pagamento da pena de multa de maneira parcelada, na forma do artigo
169 da Lei nº 7.210 (BRASIL, 1984), ou mesmo que se proceda mediante desconto em folha de pagamento do
condenado, nos termos do artigo 168 da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984). Nesse cenário, o juiz poderá
determinar que a cobrança da multa se efetue mediante desconto no vencimento ou salário do condenado,
nas hipóteses do artigo 50, § 1º, do Código Penal (BRASIL, 1940), atendidos os seguintes requisitos:
•  o limite máximo do desconto mensal será o da quarta parte da remuneração e o mínimo, o de um décimo.
•  o desconto será feito mediante ordem do juiz a quem de direito.
•  o responsável pelo desconto será intimado a recolher mensalmente, até o dia fixado pelo juiz, a importância
determinada.
Por fim, cabe ressaltar a possibilidade de suspensão da execução da pena de multa, conforme previsão do
artigo 50 do Código Penal (BRASIL, 1940), reiterada no artigo 167 da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984),
quando sobrevier ao condenado doença mental.
VIDEOAULA
Neste vídeo, continuando nosso estudo sobre a teoria geral das sanções penais e as modalidades de penas
previstas em nosso ordenamento jurídico, abordaremos as penas de multa. Traçaremos uma perspectiva
geral com relação a essa modalidade de sanção, com suas especificidades e características típicas do Direito
Penal, dissecando conceito, definição, regras para aplicação e aspectos relacionados com a execução da pena. 
 Saiba mais
Para ampliar os conhecimentos com relação às penas e, em especial, à pena de multa, fica a indicação de
leitura do trabalho de Fernando Capez (CAPEZ, 2020, p. 577–583). 
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Aula 4
APLICAÇÃO DAS PENAS
Voltaremos nossos esforços para o estudo e a compreensão do sistema de aplicação das penas
adotado pela legislação penal.
34 minutos
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Depois de analisadas e compreendidas as espécies de sanções aplicáveis no ordenamento jurídico penal
brasileiro, voltaremos nossos esforços para o estudo e a compreensão do sistema de aplicação das penas
adotado pela legislação penal. 
Como bem sabemos, a pena representa a consequência jurídica da prática do ato definido por lei como ilícito
penal. Então, conforme garantido pela Constituição Federal (BRASIL, 1988), a pena não apenas deve se limitar
à pessoa do condenado, como também deve ser aplicada de maneira individualizada, observando as
garantias da dignidade da pessoa humana, assim como a exata medida das funções buscadas pela sanção
penal em nosso sistema jurídico, mas sem ficar à mercê de arbitrariedades ou, de outro lado, sujeita à
mecanização de uma prestação judicial autômato.
Vamos seguindo firme e avançando na construção do conhecimento.
DOSIMETRIA
Pena em abstrato
Uma vez que tratamos das modalidades de penas reguladas e aplicáveis no ordenamento jurídico, conforme a
previsão do Código Penal, podemos passar à análise das regras pertinentes à aplicação da pena.
Considerando-se a estrutura do tipo penal, há a divisão estrutural entre o preceito primário e o preceito
secundário.
No preceito primário do tipo penal incriminador, temos a descrição abstrata da conduta criminalizada, com
todas as características e circunstâncias, que atende ao elemento da tipicidade do ilícito penal. Já no preceito
secundário, encontramos a sanção penal em abstrato, aplicável àquela conduta.
Podemos então indicar que, no processo legislativo de definição do crime, quando o legislador especifica uma
conduta que a lei passará a considerar como ilícito penal, é realizado um juízo preliminar de reprovação da
conduta, que se expressa no preceito secundário do tipo penal.
É importante você fixar essa ideia para completa compreensão de nosso estudo. No preceito secundário do
tipo penal, é indicada a pena abstrata, produto de um juízo preliminar de reprovação da conduta realizada
pelo poder legislativo, quando a lei define a conduta que será considerada como crime.
Teremos então na pena em abstrata a espécie de pena aplicável àquela conduta, tanto em caráter principal
quanto em caráter acessório. Além disso, no preceito secundário encontraremos, no caso da aplicação de
pena privativa de liberdade, os parâmetros mínimos e máximos de aplicação da pena.
Lembre-se, estou falando com você aqui sobre a pena em abstrato.
Quando se estuda a aplicação da pena, o objetivo é analisar e compreender o procedimento e as regras a
serem observadas para determinar a espécie e a quantidade de pena que será efetivamente aplicada ao autor
de uma conduta penal, depois de superadas as discussõessobre a existência do crime, a autoria e a
culpabilidade. Trata-se, justamente, da realização do princípio constitucional da individualização da pena,
previsto pelo artigo 5º, incisos XLV e XLVI, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
Cuida então a dosimetria da pena do procedimento adotado pelo juiz, considerando os critérios estabelecidos
pela legislação penal, para determinar a pena em concreto a ser imposta ao autor da conduta em face da
condenação penal. Falamos na pena concreta referindo-nos à pena efetivamente aplicada ao autor do fato e
que deverá ser por ele cumprida na fase de execução penal (BRASIL, 1984).

Evidentemente, esse procedimento de individualização e especificação da pena, considerando todas as
características próprias da conduta, não se faz de maneira abstrata e, em nosso ordenamento jurídico, não
fica à mercê da arbitrariedade do magistrado, que deve observar as determinações da legislação.
Buscando os critérios possíveis para a individualização da penal e o estabelecimento da pena em concreto,
teremos notícia na doutrina de sistemas que vão desde o arbítrio judicial absoluto — modelo em que o
magistrado, em conformidade com seu juízo íntimo, determina a pena a ser aplicada — até um sistema de
determinação absoluta, quase que tarifário — no qual a individualização da pena é resultado de fórmulas
legais estritas e sem qualquer parâmetro de adequação (BITENCOURT, 2021, p. 388).
Na experiência prática, entre as mazelas verificadas na adoção de um ou outro modelo, chegou-se a um
terceiro sistema para a aplicação da pena, com o intuito de melhor atender às finalidades e funções da pena e
evitar os perigos da arbitrariedade e da mecanização na aplicação da pena.
DOSIMETRIA DA PENA)
Análise para definição da dosimetria da pena
Dosimetria da pena denomina o procedimento juridicamente vinculado destinado a determinar a pena em
concreto a ser cumprida em face da condenação pela prática de ilícito penal. Em nosso ordenamento jurídico,
adotamos o critério trifásico de dosimetria da pena, o que se pode extrair da leitura do artigo 68 do Código
Penal (BRASIL, 1940):
Guilherme de Souza Nucci (2021, p. 440), tratando da dosimetria da pena, informa:
Art. 68 – A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em
seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as
causas de diminuição e de aumento. 
Parágrafo único – No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na
parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição,
prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
Há dois sistemas principais para a aplicação do quantum da pena: a) critério trifásico,
preconizado por Nélson Hungria; b) critério bifásico, defendido por Roberto Lyra. O
Código Penal optou claramente pelo primeiro, conforme se vê do art. 68, caput: “A
pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida
serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas
de diminuição e de aumento”. Para Hungria, o juiz deve estabelecer a pena em três
fases distintas: a primeira leva em consideração a fixação da pena-base, tomando por
apoio as circunstâncias judiciais do art. 59; em seguida, o magistrado deve aplicar as
circunstâncias legais (atenuantes e agravantes, dos arts. 61 a 66), para então apor as
causas de diminuição e de aumento (previstas nas Partes Geral e Especial).

Dessa forma e de acordo com a disposição do artigo 68, após superada a discussão sobre a materialidade, a
autoria e a culpabilidade, deverá o juiz passar à dosimetria da pena, tratando, no primeiro momento, do
estabelecimento da pena, nos termos do artigo 59 do Código Penal (BRASIL, 1940). Em seguida, ele fará a
análise e a consideração das circunstâncias agravantes e atenuantes e, na terceira fase, aplicará as causas de
diminuição e de aumento de pena, chegando ao quantum de pena em concreto para, finalmente, e de acordo
com as regras do Código Penal (BRASIL, 1940), determinar o regime inicial de cumprimento de pena, a
possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito ou a hipótese de
suspensão condicional da pena.
Uma vez determinada a pena em abstrato cabível à conduta, passa-se à primeira fase da dosimetria da pena
— as circunstâncias judiciais — previstas no art. 59 do Código Penal (BRASIL, 1940).
Essa denominação é decorrente da discricionariedade concedida pela lei ao magistrado na análise dos
elementos previstos no artigo 59 para estabelecimento da pena-base. Ou seja, a legislação não estabelece um
critério objetivo ao qual o juiz fica restrito nessa fase para a imposição da pena-base.
Assim, consideram-se como circunstâncias judiciais, nos termos do Código Penal (BRASIL, 1940):
•  a culpabilidade do agente.
•  os antecedentes.
•  a conduta social do agente.
•  a personalidade do agente.
•  a motivação do crime.
•  as circunstâncias.
•  as consequências do crime.
•  o comportamento da vítima.
Depois de superada a primeira fase, passa-se à segunda fase da dosimetria da pena, que envolve a análise das
circunstâncias agravantes e atenuantes, segundo os artigos 61 a 67 do Código Penal (BRASIL, 1940).
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade
IV – a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena,
se cabível (BRASIL, 1940).

ATENUANTES E AGRAVANTES GENÉRICAS
Devemos entender que as circunstâncias analisadas na segunda fase da dosimetria da pena, as quais servem
de parâmetro de interpretação pelo juiz para individualizar a sanção penal, adequando-a ao autor do fato, ao
caso concreto e às finalidades e funções a serem cumpridas pelo Direito Penal, influenciam para agravar a
reprovabilidade da conduta (agravantes) ou a diminuir (atenuantes), conforme se verifique no caso concreto
a presença de tal ou qual circunstância.
É importante ter em conta que durante a segunda fase o julgador ainda permanece limitado aos limites
mínimos e máximo de pena estabelecidos no preceito secundário do tipo penal. 
Nos termos do artigo 61 do Código Penal (BRASIL, 1940), são circunstâncias que sempre agravam a pena na
segunda fase da dosimetria:
•  A reincidência.
•  As circunstâncias da prática do crime: 
-  Por motivo fútil ou torpe.
-  Para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.
-  À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a
defesa do ofendido.
-  Com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar
perigo comum.
-  Contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge.
-  Com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou
com violência contra a mulher na forma da lei específica. 
-  Com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão.
-  Contra criança, maior de sessenta anos, enfermo ou mulher grávida.
-  Quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade.
-  Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular
do ofendido.
-  Em estado de embriaguez preordenada.
Além dessas, o artigo 62 do Código Penal (BRASIL, 1940) apresenta agravantes a serem consideradas no caso
de concurso de pessoa que:
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Já com relação às circunstâncias atenuantes, que também devem ser levadas em consideração na segunda
fase dadosimetria da pena, indica-nos o artigo 65 do Código Penal (BRASIL, 1940) que são circunstâncias que
sempre devem ser levadas em consideração para atenuar a pena: 
O código penal ainda prevê no artigo 66 uma atenuante genérica inominada, determinando que a pena
poderá ser atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não
prevista expressamente em lei. 
Uma vez estabelecida a pena-base e aplicadas as circunstâncias agravantes e atenuantes, chegamos a uma
pena provisória. O magistrado deve, então, aplicar as causas de aumento e diminuição de pena para
finalmente chegar a uma pena definitiva a ser imposta ao réu.
Na terceira fase, a pena pode ser fixada abaixo ou acima dos limites em abstrato previstos no tipo penal. As
causas de aumento e diminuição de pena estão previstas tanto na parte geral quanto na parte especial do
Código Penal.
I – promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais
agentes.
II – coage ou induz outrem à execução material do crime.
III – instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-
punível em virtude de condição ou qualidade pessoal.
IV – executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.
I – ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta)
anos, na data da sentença; 
II - o desconhecimento da lei; 
III - ter o agente:
a)  cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b)  procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-
lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c)  cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de
autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato
injusto da vítima;
d)  confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e)  cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.

VIDEOAULA
Nesta aula, nosso foco será o estudo do procedimento de aplicação da pena, considerando desde os aspectos
antecedentes, da reprovabilidade em abstrato imposta pelo legislador ao criminalizar a conduta.
Analisaremos os critérios estabelecidos no ordenamento jurídico para, com a dosimetria da pena,
alcançarmos a pena que será concretamente cumprida na execução penal.
 Saiba mais
Para saber mais sobre o procedimento de dosimetria e aplicação da pena no ordenamento jurídico-penal
brasileiro, vale conferir a leitura do trabalho de André Estefam (2022, p. 518–562).
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
Aula 1
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código penal. Rio de Janeiro: Congresso Nacional,
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REFERÊNCIAS
15 minutos
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Aula 3
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Aula 4
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em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596540/. Acesso em: 21 mar. 2022.
NUCCI, G. de S. Manual de direito penal. São Paulo: Grupo GEN, 2021. Disponível
em:  https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530993566/. Acesso em: 11 abr. 2022.
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https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula693/false
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553619184/
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555590333/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555596540/
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530993566/
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Aula 1
CONCURSO MATERIAL DE CRIMES E SUAS IMPLICAÇÕES
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CONCURSO DE CRIMES E SISTEMA
DE APLICAÇÃO DE PENA 
124 minutos
Aula 1 - Concurso material de crimes e suas implicações
Aula 2 - Concurso formal próprio e suas delimitações
Aula 3 - Concurso formal impróprio
Aula 4 - Crime continuado e suas nuances
Referências
INTRODUÇÃO
Como bem sabemos, o estudo do Direito Penal deve se preocupar com a análise de todas as variáveis que
podem ser enfrentadas quando da aplicação da lei penal aos casos concretos. 
Dentro dessa linha de raciocínio, é importante pensar: como se deve realizar a aplicação do Direito Penal
quando um mesmo sujeito, em um mesmo contexto, praticar múltiplas ações ou der causa a múltiplos
resultados ilícitos?
Essa preocupação está no núcleo do estudo do concurso de crimes, com o objetivo de estabelecer as regras
aplicáveis nessas situações. 
Vamos analisar então a primeira modalidade de concurso de crimes: o concurso material, desde seu conceito
aos requisitos e reflexos na aplicação da pena.
Excelentes estudos!
CONCURSO MATERIAL
Conhecendo os tipos de concurso de crimes
Sabemos que o fato criminoso pode ser fruto da ação ou omissão de um único indivíduo ou de vários, agindo
isoladamente ou em conjunto.
Da mesma maneira, um único sujeito pode praticar mais de um crime, oportunidade em que falamos de
concurso de crimes, que pode ocorrer entre delitos da mesma espécie ou de espécies diferentes.
Podemos, pois, falar em concurso de crimes dolosos e culposos, consumados e tentados, comissivos e
omissivos, simples ou qualificados etc.
De qualquer forma, a reprovabilidade da conduta de quem realiza duas ou mais condutas ilícitas deve ser
mensurada de maneira diversa da daquele que realiza uma única conduta típica, até mesmo para atender à
culpabilidade do agente.
Já constatamos que o crime tanto pode ser obra de um como de vários sujeitos,
ocorrendo, nessa hipótese, o “concurso de pessoas”, mas pode, também, um único
sujeito praticar dois ou mais crimes. Quando um sujeito, mediante unidade ou
pluralidade de comportamentos, pratica dois ou mais delitos, surge o concurso de
crimes — concursus delictorum
— (BITENCOURT, 2021, p. 408).
Vamos analisar então a primeira modalidade de concurso de crimes: o concurso material,
desde seu conceito aos requisitos e reflexos na aplicação da pena.
27 minutos
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No entanto, para correta aplicação da lei penal e dosimetria da pena, devem ser consideradas as
circunstâncias da conduta que culminou com a realização de dois ou mais resultados ilícitos, de forma a
atender de maneira adequada aos critérios de culpabilidade e de individualização das penas.
Assim, e de acordo com a disciplina do Código Penal (BRASIL, 1940), podemos falar no concurso material de
crimes (também chamado de concurso real), na hipótese em que o agente, mediante a prática de mais de uma
conduta, prática dois ou mais crimes, idênticos ou não.
Existe, no caso do concurso material, pluralidade de condutas e pluralidade de resultados. Trata-se das
hipóteses previstas pelo artigo 69 do Código Penal (BRASIL, 1940):
De acordo com o mencionado, devemos levar em consideração que no concurso material de crimes o agente,
mediante a prática de duas ou mais condutas, dá causa a dois ou mais resultados ilícitos, de natureza idêntica
ou não, o que deverá impactar sua culpabilidade e a reprovabilidade da conduta. Ou seja, o concurso material
de crimes terá reflexo na dosimetria, na aplicação e no cumprimento da pena.
Dessa sorte, nos termos do disposto pelo artigo 69 do Código Penal (BRASIL, 1940), adota-se o sistema da
cumulação para aplicação das penas no concurso material de crimes. Assim, no caso do concurso material de
crimes, tanto no homogêneo quanto no heterogêneo, a aplicação das penas obedece à regra do sistema do
cúmulo material, segundo o qual é realizada a soma do montante de pena decorrente de cada delito. Ou seja,
para cada uma das condutas é realizada de maneira isolada a dosimetria da pena, somando-se as penas para
fins de execução penal.
REQUISITOS NECESSÁRIOS AO CONCURSO MATERIAL DE CRIMES
O que determina um concurso material de crimes?
Conforme delimitamos, ocorre o concurso material de crimes quando o agente, mediante a realização de duas
ou mais condutas, dá causa a dois ou mais resultados ilícitos, idênticos ou não.
Assim, pensando nos requisitos para caracterização do concurso material de crimes, destaca a doutrina o
assinalado pelo artigo 69 do Código Penal (BRASIL, 1940): pluralidade de condutas e pluralidade de crimes.
É da essência do concurso material de crimes para sua caracterização a ocorrência de pluralidade de
condutas praticadas por um único agente. Essas condutas podem ser dolosas ou culposas, comissivas ou
omissivas, desde que realizadas dentro de um mesmo contexto fático. Assim, pouco importa o elemento
subjetivo de cada uma das condutas, desde que se verifiquem dentro do mesmo contexto.
Imagine o seguinte exemplo: A é usuário de drogas e em um momento de desespero, para satisfazerseu vício,
aproveita que um veículo foi deixado aberto com a chave no contato e o subtrai com o objetivo de levá-lo até
o ponto de venda de droga. No trajeto, colide com outro veículo, provocando lesão corporal no condutor do
Art. 69 – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
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outro carro. No mesmo local, mediante violência e grave ameaça, subtrai uma motocicleta de um indivíduo
que parou para prestar socorro, sendo surpreendido e capturado pela polícia enquanto fugia. Temos então
diversas condutas praticadas em um mesmo contexto, cada qual dando causa a diversos delitos.
O segundo requisito apontado pela doutrina é a pluralidade de crimes, o que deve ser compreendido na
perspectiva dos resultados jurídicos na pluralidade de ofensas a bens jurídicos.
De acordo com a previsão do artigo 69 do Código Penal (BRASIL, 1940), ocorrerá o concurso material de
crimes quando duas ou mais condutas praticadas pelo agente der causa a duas ou mais lesões para bens
jurídicos protegidos pela lei penal, configurando multiplicidade de delitos.
Para a caracterização do concurso material de crimes, devemos pensar ainda em um terceiro requisito, pouco
destacado pela doutrina.
Assim, é possível defender como um terceiro requisito para caracterização do concurso material a existência
de um vínculo lógico e fático, uma relação de conexão entre as diversas condutas e os diversos resultados que
justifique a reunião das condutas em um único processo — o que determinaria então a aplicação das regras
inerentes ao concurso material de crimes.
CONCURSO MATERIAL DE CRIMES HOMOGÊNEO E CONCURSO MATERIAL DE
CRIMES HETEROGÊNEO
Quando o agente pratica dois ou mais crimes
De acordo com o que pudemos verificar, no concurso material o agente realiza duas ou mais condutas e, com
isso, dá causa a dois ou mais resultados ilícitos, devendo então a reprovabilidade de sua conduta ser
mensurada de acordo com as condutas e os resultados observados.
Nos termos do artigo 69 do Código Penal (BRASIL, 1940), o concurso material se verifica quando o agente
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não.
Só se pode cogitar de soma de penas na sentença se ambos os delitos estiverem sendo
apurados na mesma ação penal. Para tanto, é necessária a existência de alguma
forma de conexão entre eles, pois só assim se justifica a apuração no mesmo feito. É o
que acontece, por exemplo, se o agente mata o marido para estuprar a esposa, quando
se mostra presente a conexão teleológica. Em tal caso, os crimes são apurados em
conjunto e o juiz, ao sentenciar o acusado, deve somar as penas dos crimes de
homicídio qualificado e de estupro. Por sua vez, se os delitos não são conexos, cada
qual deve ser apurado em um processo distinto e receber pena isoladamente (uma
sentença para cada crime). A soma só acontecerá posteriormente, no juízo das
execuções criminais. Ex.: um criminoso que pratica crimes de estupro e homicídio
contra vítimas diversas e em locais distintos, não havendo qualquer ligação entre os
delitos
— delitos (ESTEFAM; GONÇALVES, 2022, p. 672).
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Nessa linha de raciocínio, podemos falar no concurso material homogêneo quando, em decorrência da
prática de uma ou mais condutas, o agente dá causa a dois ou mais crime idênticos, da mesma natureza.
Seria o exemplo do indivíduo que, desejando matar uma pessoa, adentra a casa para cometer o homicídio,
encontra a vítima acompanhada da família e mata todos. Teríamos nesse caso a hipótese de múltiplos
homicídios praticados em concurso material homogêneo.
Por outro lado, podemos falar em concurso material heterogêneo na hipótese em que o sujeito, mediante a
prática de duas ou mais condutas, dá causa a dois ou mais crimes de naturezas diversas.
Em quaisquer hipóteses, a verificação do concurso material de crimes — tanto homogêneo quanto
heterogêneo — implicará a aplicação de penas individualizadas com a cumulação das penas. Portanto,
devemos nos atentar às regras de aplicação das penas no concurso material de crimes.
De acordo com o artigo 69, parágrafo primeiro do Código Penal, uma vez verificado o concurso material de
crimes, na hipótese de aplicação de pena privativa de liberdade não suspensa para um dos delitos, não será
possível, para os demais, a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direito, nos termos do
artigo 44 do Código Penal (BRASIL, 1940).
Nesse contexto, é importante estar atento ao conteúdo da Súmula nº 243 do Superior Tribunal de Justiça
(BRASIL, 2001):
De outro lado, se para os crimes forem aplicadas penas restritivas de direito, não existe impedimento de que
sejam cumpridas de maneira simultânea, desde que compatíveis entre si. 
Já no caso de imposição de penas de naturezas diversas, primeiramente deverão ser cumpridas as privativas
de liberdade e, sucessivamente, as restritivas de direito.
O concurso material pode ser homogêneo, quando se trata de crimes idênticos (vários
homicídios, por exemplo), ou heterogêneo (como no exemplo supra), não importando
se os fatos ocorreram na mesma ocasião ou em dias diferentes. Podem os delitos ser
objeto de uma ação penal apenas, quando houver conexão, ou de várias, se não
houver entre eles o liame processual (arts. 76 ss do CPP). Nada impede o concurso
material entre crime doloso e crime culposo
— (MIRABETE, 2021, p. 332).
O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a
pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,
ultrapassar o limite de um (01) ano.
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VIDEOAULA
Nesta aula, abordaremos os aspectos relacionados com o concurso material de crimes. Nesse contexto,
trabalharemos com o conceito de concurso material de crime, tratando dos requisitos necessários ao
concurso material de crimes e da distinção entre o concurso material de crimes homogêneo e concurso
material de crimes heterogêneo.
Siga firme e excelentes estudos!
 Saiba mais
Para ampliar os estudos que estamos desenvolvendo e aprofundar os conhecimentos que estão sendo
construídos com relação ao concurso de crimes e ao concurso material, recomendamos a leitura da obra
de Damásio E. de Jesus e André Estefam (2020, p. 617–620).
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Em continuidade a nossos estudos e depois de devidamente firmadas as noções básicas sobre o concurso de
crimes e seus reflexos na aplicação da lei penal, além de superada a análise do concurso material de crimes,
podemos avançar para o estudo do concurso formal de delitos. 
É importante neste ponto estabelecer as distinções entre o concurso material e o concurso formal de crimes e,
em seguida, adentrar na análise das distinções internas do instituto.
Para tanto, ocupe-se do conceito do concurso formal próprio, bem como de suas características e seus
requisitos e, especialmente, das consequências de seu reconhecimento na aplicação e na dosimetria da pena. 
CONCURSO FORMAL PRÓPRIO
Conceito
Falamos em concurso formal quando o agente realiza uma única conduta e prática dois ou mais crimes,
idênticos ou não, configurando assim uma unidade de conduta com uma pluralidade de resultados.
Diz-se do concurso formal próprio ou perfeito quando a unidade de comportamento decorre de uma única
vontade do agente; ou seja, o agente quer realizar uma única conduta e dela decorrem os múltiplos
resultados. É a hipótese prevista na primeira parte do artigo 70 do Código Penal (BRASIL, 1940):
Aula 2
CONCURSO FORMAL PRÓPRIO E SUAS DELIMITAÇÕES
É importante neste ponto estabelecer as distinções entre o concurso material e o concurso
formal de crimes e, em seguida, adentrar na análise das distinções internas do instituto.25 minutos

Estamos diante da situação em que o agente, por meio da prática de apenas uma conduta, comissiva ou
omissiva, dá causa a dois ou mais resultados ilícitos, idênticos ou não.
No que diz respeito ao concurso formal próprio, o Código Penal (BRASIL, 1940) adota o critério da
exasperação das penas, ou seja, aplica-se a pena mais grave aumentada em virtude dos outros crimes
decorrentes da única conduta.
O que justifica a aplicação de uma pena menos gravosa no concurso formal próprio em relação ao concurso
material e ao concurso formal impróprio é a vontade do agente, que deseja um único resultado e pratica uma
única conduta que gera múltiplos resultados indesejados.
Temos então no concurso material próprio um elemento subjetivo único — uma única vontade a mover a
conduta do sujeito ativo — e que dá causa a múltiplos resultados, idênticos ou não, que fujam da vontade do
agente.
É mais fácil visualizar essa situação no exemplo de um acidente automobilístico. Imagine que o sujeito ativo,
por uma conduta culposa, dá causa a um acidente de trânsito e deste ficam vitimadas duas pessoas, sendo
que uma sofre lesões corporais grave e a outra morre como consequência do acidente.
Estamos diante do concurso formal próprio no qual o agente, com uma única conduta, movida por um único
elemento volitivo, provocou mais de um resultado, no caso uma lesão corporal culposa na direção de veículo
automotor (Art. 303, CTB) e um homicídio culposo na direção de veículo automotor (Art. 302, CTB).
Por força do critério da exasperação, adotado pelo artigo 70 do Código Penal (BRASIL, 1940) para o caso do
concurso formal próprio, somente uma pena será aplicada (em nosso exemplo, a do crime mais grave),
impondo-se a está um aumento de pena de 1/6 até metade.
Perceba que os elementos que caracterizam o concurso formal são a unidade de conduta e a multiplicidade
de condutas que se encontrem fora do alcance de vontade de previsibilidade do sujeito ativo.
Isso significa que o concurso formal próprio será caracterizado independentemente do elemento subjetivo da
conduta do agente, desde que os múltiplos resultados não estejam incluídos e no alcance da vontade do autor
da conduta.
Art. 70 – Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, prática dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicasse-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade […]
— Someone famous
Saliente-se que o concurso formal perfeito não é instituto exclusivo dos crimes
culposos […] aplica-se a regra do concurso formal perfeito, em todas as outras
hipóteses em que, com uma só ação ou omissão, o agente tenha cometido dois ou mais
crimes
— (ESTEFAM; GONÇALVES, 2022, p.54).
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REQUISITOS NECESSÁRIOS AO CONCURSO FORMAL PRÓPRIO
Unidade de conduta e pluralidade de resultados
Pense na seguinte hipótese: depois de uma briga com o vizinho, Abelardo decide se vingar e para isso,
durante a noite, quando acredita que todos estão dormindo, joga uma pedra na janela do vizinho, destruindo
a vidraça. Contudo, o que Abelardo não sabia é que, naquela noite, o vizinho ficou dormindo no sofá da sala e
foi atingido na cabeça pela pedra, sofrendo lesão corporal de natureza grave.
Note que nesse exemplo há apenas uma conduta — jogar a pedra da vidraça —, uma conduta dolosa, que
tinha por objetivo destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia, caracterizando o crime de dano. No entanto,
essa única conduta acabou gerando outro resultado, diverso daquele originariamente pretendido. É o caso
clássico do concurso formal próprio. Haverá então o crime de dano (doloso) e o crime de lesão corporal
(culposo).
Pensemos então nos requisitos necessários para a caracterização do concurso formal próprio.
O primeiro é a unidade de conduta. No concurso formal próprio, ocorre apenas uma conduta. Um único
elemento de vontade. Então, pouco importa se essa conduta é dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva, visto
que, conforme demonstrado, qualquer delas é suficiente para a caracterização do concurso formal próprio.
O segundo requisito a ser verificado para a caracterização do concurso formal próprio é a pluralidade de
resultados.
Da única conduta praticada pelo agente devem ser identificadas duas ou mais lesões a bens jurídicos
penalmente tutelados, ou seja, dois ou mais crimes, que podem ou não ser da mesma natureza, nos termos do
previsto pelo caput do artigo 70 do Código Penal (BRASIL, 1940).
Note que o elemento que caracterizará propriamente o concurso formal próprio, diferenciando-o do concurso
formal impróprio — que será objeto de estudo mais adiante —, é a unidade do elemento subjetivo. A conduta
única deve ser movida por um único elemento subjetivo, seja ele dolo ou culpa, voltado a uma única
finalidade e que dá causa aos múltiplos resultados.
Nesse caso, e conforme a previsão do artigo 70 do Código Penal (BRASIL, 1940), o legislador faz a
interpretação mais benéfica considerando o elemento volitivo do agente, adotando o critério da exasperação
para aplicação da pena. Então, mesmo com diversos os resultados, será imposta apenas uma pena, que será
submetida a uma exasperação, um aumento em razão da maior reprovabilidade decorrente dos diversos
resultados.
Nessa espécie de concurso há unidade de ação e pluralidade de crimes. Assim, para
que haja concurso formal é necessário que exista uma só conduta, embora possa
desdobrar-se em vários atos, que são os segmentos em que esta se divide. O concurso
formal pode ser próprio (perfeito), quando a unidade de comportamento
corresponder à unidade interna da vontade do agente, isto é, o agente deve querer
realizar apenas um crime, obter um único resultado danoso. Não devem existir — na
expressão do Código — desígnios autônomos 
— (BITENCOURT, 2021, p. 408).
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Sobre a aplicação da pena decorrente do concurso formal próprio, é necessário ter atenção ao conteúdo da
Súmula nº 243 do Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 2001), segundo a qual o benefício da suspensão
condicional do processo não será aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso formal
quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite
de um (01) ano, previsto no artigo 89 da Lei nº 9.099 (BRASIL, 1995).
CONCURSO FORMAL DE CRIMES HOMOGÊNEO E CONCURSO FORMAL DE
CRIMES HETEROGÊNEO
Reconhecendo o concurso formal
Como é possível extrair do conceito de concurso formal próprio (também chamado de concurso formal
perfeito) e da leitura da primeira parte do artigo 70 do Código Penal (BRASIL, 1940), este se verifica quando,
de uma mesma conduta (dolosa ou culposa) decorrem dois ou mais resultados ilícitos, idênticos ou não.
Falamos em concurso formal próprio homogêneo quando os diversos resultados obtidos são todos da mesma
espécie. Por exemplo, por negligência, o condutor de um veículo acaba perdendo o controle do automóvel e
subindo na calçada, atropelando diversas pessoas e lhes provocando lesão corporal.
Para cada vítima teremos um resultado ilícito autônomo — lesão corporal culposa na direção de veículo
automotor, na forma do previsto pelo artigo 303 do Código de Trânsito Brasileiro —. contudo, na análise do
fato, e verificando que os resultados decorreram de uma mesma conduta — direção de veículo automotor —
culposa (negligência), por ocasião da dosimetria da pena será aplicada apenas uma pena de lesão corporal,
impondo-se a esta a exasperação, na forma de aumento da pena. O concurso formal próprio será homogêneo
porque nos múltiplos resultados foi lesionado bem jurídico de mesma natureza.
Por outro lado, se os resultados diversos decorrentes da única conduta praticada pelo agente envolverem
lesão ou perigo de lesão a bens jurídicos diversos, teremos então a hipótese de concurso formal próprio
heterogêneo.
Pense no seguinte exemplo: um sujeito, querendo praticar um crime de roubo e precisando de auxílio na
execução do delito, convida para o

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