Buscar

Filosofia e Ética - ebook

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 140 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 140 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 140 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Responsável Técnico: Lorena de Fátima Vidal (CRB: 410/11-AM) 
Biblioteca CEUNI-FAMETRO
FAMETRO
Av. Djalma Batista, Nossa Sra. das Gracas. Manaus, AM
Ficha catalogada na Biblioteca CEUNI-Fametro
Todos os direitos reservados © FAMETRO
IME Instituto Metropolitano de Ensino Ltda
Wellington Lins de Albuquerque | Presidente - IME
Maria do Carmo Seffair Lins de Albuquerque | Reitora
Cinara da Silva Cardoso | Vice-Reitora
Iyad Amado Hajoj | Diretor de EaD e Expansão
Leonardo Florêncio da Silva | Diretor Editorial e Gestor de EaD
Luciana Braga | Projeto Gráfico e Direção de Arte
Amenayde Cristine Corrêa | Assistente Editorial
Ana Augusta de Oliveira Simas | Supervisora de Produção e Revisão
Leandro Carvalho | Revisor
Liene Costa | Revisora
Imagens | depositphotos.com
"Nos termos da Lei n.º 9.610/98, o autor desta obra é titular de todo o complexo de 
direitos autorais sobre a presente criação. Assim, é vedada a cópia, reprodução, 
edição ou distribuição desta obra sem autorização expressa do Autor ou da Editora e, 
ainda é vedado utilizar, citar, publicar esta obra integral ou parcialmente sem deixar 
de indicar ou anunciar o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor sob pena 
da aplicação das medidas previstas nos Art. 101 a 110 da Lei n.º 9.610/98."
 P117f Pacifico, Bruno Victor Brito. 
 Filosofia e ética / Bruno Victor Brito Pacifico. -- Manaus: CEUNI-
FAMETRO, 2021.
 p. 156
 ISBN: 978-85-64293-12-0
 1. Crítica da ideologia 2. Aristóteles 3. Epistemologia I. Título.
 CDU.:17 
Pa
la
vr
a 
da
 R
ei
to
ra
“É a educação que 
faz o futuro 
parecer um lugar 
de esperança e 
transformação”.
(Mariana Moreno)
“Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD 
do Centro Universitário Fametro”
O Centro Universitário Fametro acredita que o 
papel de uma instituição de ensino é formar não apenas 
profissionais, mas também formar profissionais no 
Ensino Superior, com valores éticos, humanísticos e 
com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir 
para o desenvolvimento da nossa Amazônia. 
A Fametro, portanto, tem premissas claras a 
cumprir como instituição de ensino de qualidade. 
Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal 
bandeira. 
A Fametro, ao longo das últimas duas décadas, 
vem se consolidando como a melhor instituição de 
ensino do Norte, um espaço democrático e docentes 
com variadas visões de mundo. Somos uma instituição 
de ensino plural que avança a cada ano em busca 
sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa 
estrutura é moderna, estamos em diversos municípios 
levando uma educação inclusiva e de qualidade.
Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a 
experiência em estudar numa instituição com o corpo 
docente com mestres e doutores e de qualidade de 
ensino comprovada pelo MEC. 
Maria do Carmo Seffair
Reitora
UNIDADE I - A IMPORTÂNCIA DA 
FILOSOFIA 
 
Cultura: conceitos
Distinção entre natureza e cultura: 
questões sobre o conceito de natureza
Filosofia: conceito e origem
O conhecimento: capacidade humana de 
entender, apreender e compreender
Teoria do conhecimento, ciência e técnica
Su
m
ár
io
16
17
21
24
25
UNIDADE II - A IMPORTÂNCIA DA 
FILOSOFIA NO MUNDO DE HOJE
A formação histórica da Filosofia
Os principais períodos e escolas 
filosóficas: dos pré-socráticos aos 
contemporâneos
Período do helenismo: 
a busca pela felicidade
Filosofia Medieval: as filosofias de Santo 
Agostinho e São Tomás de Aquino
O nascimento da Filosofia Moderna: 
o Período Renascentista
UNIDADE III - O PAPEL DOS 
VALORES DE NOSSA SOCIEDADE
A Ética e a Filosofia
Diferenças entre ética e moral
Do estabelecimento de valores e sua 
importância: um estudo axiológico
 A dimensão moral da 
vida social
A conduta humana
35
36
49
58
62
94
98
99
101
103
UNIDADE IV - REFLEXÕES SOBRE A 
ÉTICA NO TRABALHO E NA CIDADANIA
A ética e as empresas: 
uma relação histórica
Ética e responsabilidade social na 
contemporaneidade
A importância da ética no trabalho
As questões da atividade profissional 
a partir da ética 
A filosofia e a ética no campo profissional hoje
Referências 
Caderno de Exercícios
112
115
117
122
122
128
141
U
ni
da
de
 1
Videoaula 1
Videoaula 2
Videoaula 3
Videoaula 4
Videoaula 5
13
Mostrar a importância da 
Filosofia como área de conheci-
mento humano em nossos dias é 
uma tarefa complicada mediante 
o mundo em que vivemos. Depara-
mo-nos com a seguinte indagação: 
fazer Filosofia tem alguma utili-
dade nos dias de hoje? Este tipo 
de pergunta é recorrente e não 
ocorre em relação às demais áreas 
de investigação científica, como 
se fosse uma espécie de precon-
ceito a respeito da Filosofia, seja 
ela de humanas (como a Socio-
logia), de exatas (como a Física), 
A IMPORTÂNCIA 
DA FILOSOFIA
14
Anotações: seja da biológica (como a Medicina Veterinária). 
Não cabem, pois, os argumentos do senso co-
mum responder esta questão a respeito de sua 
possível utilidade. No entanto, faz-se necessário 
estar inserido na dinâmica de pensamentos e de 
teorias fundamentais da Filosofia para alcançar a 
compreensão de sua importância em nossas vidas.
Para muitos, pessoas que tomam o conceito 
contemporâneo de utilidade, como forma de medir 
seu tempo apreendido, seja pelo trabalho, seja pelo 
estudo, a Filosofia não poderia estar inserida na 
hierarquia de importância vital do conhecimento 
porque ela não teria o potencial de interferir, de 
forma imediata, no mundo que nos cerca. Assim, 
podemos pensar que a Filosofia estaria na categoria 
de forma de conhecimento sem valor de troca, isto 
é, que não gera lucro, pois a sua finalidade não 
está inserida somente nas relações de produção. 
Segundo Chauí (2011), a Filosofia não está limitada 
ao conjunto de ciências práticas que servem 
apenas de pontes para a evolução das técnicas de 
produção. 
A Filosofia pode ser compreendida como 
uma das formas de conhecimento que pensa e 
repensa a produção teórica de grandes filósofos e 
filósofas, desde o período clássico, isto é, desde a 
Grécia Antiga, trazendo uma luz sobre os paradoxos 
da vida contemporânea ou respondendo mesmo 
que, indiretamente aos problemas que circundam 
a humanidade e a sociedade desde a antiguidade. 
Vemos, por exemplo, a investigação filosófica em 
torno da cultura, da política e da arte como alguns 
dos campos de seu interesse.
Nos estudos filosóficos, convencionou-
se a ideia de que a filosofia está inteiramente 
15
Anotações:relacionada à busca da verdade universal. Apesar 
desta ideia de busca da verdade não ser mais um 
consenso entre nós, filósofos, há de se reconhecer 
que tal ideia é uma base muito importante para 
tratar de temas fundamentais da humanidade. 
Um dos filósofos mais importantes e conhecidos 
da história do pensamento, o alemão Arthur 
Schopenhauer (2014, p. 1380), escreveu em sua 
obra O mundo como vontade e como representação, 
Tomo de número II, que “o tema da Filosofia se limita 
ao mundo, à natureza, à essência do mundo, e que 
é o único resultado honesto que a Filosofia pode 
nos dar.” Assim, pensar sobre a essência das coisas 
que nos cercam é uma manifestação da reflexão 
pré-científica, capaz de entender o mundo em seu 
interior.
Os pensadores contemporâneos franceses, 
Guattari e Deleuze (2007) sugerem, na obra O que é 
a Filosofia?, escrita por eles, que a Filosofia é uma 
disciplina que, de forma rigorosa, cria conceitos. 
Os conceitos são formas abstratas construídas 
pelo pensamento humano. É a partir deles que 
se constitui a investigação filosófica. A exemplo 
do que são conceitos, podemos citar os termos 
mencionados: política, arte e cultura. Estes três 
substantivos femininos são formas conceituais 
do entendimento humano e que possuem funções 
distintas dentro da dinâmica social. Podemos, 
inclusive, compreender a política e a arte como 
manifestações derivadas do conceito de cultura.
Para iniciarmos nossos estudos, começare-
mos resumindo a investigação a respeito de um dos 
conceitosfundamentais do campo filosófico. A sa-
ber, trata-se da cultura.
16
Anotações:
CULTURA: CONCEITOS
Segundo Hale e Wright (1995), a cultura é tudo 
aquilo que está relacionado ao que se estabelece 
como conhecimento (ciência), costumes (moral e 
ética), religião (crença), jurisdição (lei e justiça), e 
arte (artesanato e técnica) criados pelo ser huma-
no, e que não pode ser é repassado geneticamente 
como conhecimento natural, inato. É a cultura, 
como veremos a seguir, que nos diferencia das de-
mais espécies animais. Antes de tudo, é preciso 
compreender como o conceito de cultura foi uti-
lizado ao longo da história do pensamento humano. 
O pesquisador Cuche (2002), de acordo 
com Godoy e Santos (2014), afirma que o termo 
“cultura”, no sentido figurado passa a ser usado 
com mais frequência no século XVIII, inicialmente, 
seguido de um complemento, “cultura das 
artes”, “cultura das letras”, “cultura das ciências”, 
como se fosse necessário que a coisa cultivada 
estivesse explicitada. Em seguida, para designar a 
“formação”, e a “educação” do espírito, Cuche (2002) 
comenta que em um dado momento posterior, num 
movimento contrário, aqueles termos perdem o 
seu significado de “cultura” como expressão de uma 
ação (a ação de instruir), passando a “cultura” como 
um estado, ou seja, um estado de espírito cultivado 
pela instrução, um estado em que o indivíduo 
possui cultura. O termo Cultura apareceu pela 
primeira vez na língua francesa, no século XVIII, só 
depois difundido em outras línguas, como a alemã 
e a inglesa.
Ainda, para Cuche (2002), a cultura é própria 
do ser humano, além de toda a distinção de povos 
17
Anotações:ou de classes. A palavra “cultura”, no século XVIII, é 
empregada no singular, refletindo o universalismo 
e o humanismo dos filósofos (GODOY; SANTOS, 
2014). Desse modo, pode-se dizer que “Cultura” se 
inscreve na ideologia do Iluminismo, na medida em 
que a palavra é associada às ideias de progresso, 
de evolução, de educação, e da razão que estão no 
centro do pensamento da época, conforme afirmam 
os autores.
A seguir, veremos a distinção entre os 
conceitos de cultura e de natureza dentro dos 
estudos da Filosofia, bem como de outras áreas de 
conhecimento.
DISTINÇÃO ENTRE NATUREZA E 
CULTURA: QUESTÕES SOBRE O 
CONCEITO DE NATUREZA
A filósofa Chauí (2011) afirma que distinguir o 
que é o natural e o cultural não é uma tarefa fácil, 
uma vez que criamos e transformamos nosso 
meio convertendo o natural em cultural, porém o 
contrário é impossível. Expõe ainda as questões 
da natureza e da cultura. Segundo ela, ser capaz de 
distinguir entre os conceitos de natureza e cultura 
é requisito fundamental para qualquer estudante de 
filosofia. Natureza é tudo aquilo que nos rodeia, que 
existe por si mesmo e que, portanto, não depende 
do ser humano. Por outro lado, entende-se por 
cultura tudo aquilo que é pensado e construído pelo 
ser humano. Assim, a cultura é uma característica 
exclusiva do ser humano, portanto, só existe 
porque nós existimos. O ser humano, por ser um 
ente da natureza, primordialmente, é também um 
18
Anotações: animal como tantos outros. No entanto, nós nos 
diferenciamos graças à aquisição da consciência, 
uma consequência do processo evolutivo de nossa 
espécie.
Ainda, segundo Chauí (2011), percebemos 
que são nossas ações que transformam o nosso 
meio. Ações essas designadas como trabalho, 
outro conceito fundamental para esse estudo. 
Temos noções sobre nós, as ideias de passado, 
presente e futuro. A autora enfatiza que adquirimos 
conhecimento, ou ao menos, algum entendimento 
sobre a realidade que nos cerca, ao intervir sobre 
ela. Isso tudo é permitido devido à consciência 
que possuímos dos fenômenos no mundo. Para a 
filósofa, significa o “saber de si”. Neste sentido, 
a natureza de alguma coisa é o conjunto de 
qualidades, propriedades e atributos que a definem, 
é seu caráter ou sua índole inata, espontânea. Aqui, 
Natureza se opõe às ideias do que seria acidental 
(o que pode ser ou deixar de ser) e do que pode 
ser adquirido por costume ou pela relação com as 
circunstâncias; organização universal e necessária 
dos seres segundo uma ordem regida por leis 
naturais (CHAUÍ, 2000).
Podemos pensar que a Natureza é caracteriza-
da da seguinte forma: há um ordenamento entre os 
seres, há um parâmetro que regula os fenômenos, 
ou as ocorrências naturais. Neste sentido, po-
demos dizer que se trata de uma regularidade, 
uma frequência, uma constância e uma repetição 
de encadeamentos das ocorrências e fenômenos 
naturais. Em alguns casos, são fixos, outros em 
transformação. Tudo isto pode ser observado pela 
ótica da relação de causalidade que há nas ocorrên-
19
Anotações:cias da Natureza. Em outros termos, a Natureza é 
a ordem e a conexão universal é necessária entre 
as coisas que nos cercam, e que se expressam em 
leis naturais, tudo o que existe no universo sem a 
intervenção da vontade e da ação humana (CHAUÍ, 
2000). 
Podemos definir o que é próprio à natureza 
da seguinte maneira: é tudo aquilo que não é 
produzido artificialmente pelas mãos do ser 
humano, a exemplo de um artefato de barro, um 
artifício mecânico, uma técnica de produção de 
cadeiras ou algo mais avançado, como a tecnologia 
da informação. Natural é tudo quanto se produz e 
se desenvolve sem qualquer interferência humana; 
um conjunto de tudo quanto existe e é percebido 
pelos humanos como o meio e o ambiente no qual 
estamos inseridos.
Para Descola (2005), a divisão entre nature-
za e cultura e a demarcação de fronteiras entre 
humanos e não humanos, como vimos, têm sido 
colocadas de forma recorrente no pensamen-
to antropológico contemporâneo. Essas grandes 
divisões são tematizadas atualmente por antro-
pólogos que têm buscado a revalorização do que 
é político-metafísica. Isto porque, deriva de um 
pensamento que pode ser classificado como “ani-
mista” ou “panpsiquista”, tendo como ponto de par-
tida as cosmologias indígenas da Amazônia. Assim, 
o antropólogo recuperou o termo “animismo” para 
designar uma ontologia particular que contrasta o 
“naturalismo” ocidental com outras ontologias pos-
síveis. Há muito tempo, sabe-se que existem povos 
que não concebem a natureza como um domínio 
exterior e manejável, que está disponível para os 
20
Anotações: seres humanos. Assim, fica claro que eles ofere-
cem imagens de outras relações possíveis com os 
seres não humanos e com os quais compartilhamos 
a nossa existência.
Claro, não se trata de idealizar o outro, 
a alteridade, mas, sim, de reconhecer que, ao 
estudar outras culturas, a antropologia apresenta 
ao campo de investigação filosófica outros mundos 
possíveis a partir dos quais poderíamos repensar 
os nossos modelos e valores, assim como, talvez, 
as dimensões da crise ambiental e civilizatória em 
que nos encontramos (DESCOLA, 2005).
Mas afinal, o que é a Cultura?
Segundo Laraia (2001), a primeira constatação 
formal sobre o conceito de cultura foi desenvolvida 
por Edward Tylor que a entendia de forma etnográ-
fica, como um complexo sistema social que abarca 
crença, conhecimento, moral, arte, costumes e leis. 
Portanto, é tudo aquilo que pode ser realizado pelo 
ser humano. A cultura é assim, o aprimoramento da 
espécie humana através da educação.
Uma outra compreensão de cultura é aquela 
formulada a partir do século XVIII, em que tem 
início a separação e, posteriormente, a oposição 
entre Natureza e Cultura. Pesquisadores da área 
filosófica consideram, sobretudo, que isto se deu 
a partir de Kant. Essa compreensão filosófica 
postula, que há uma diferença entre o homem e 
a natureza em suas essências: a natureza opera, 
mecanicamente, de acordo com leis necessárias 
de causa e efeito. Já o homem, enquanto espécie, 
é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, 
21
Anotações:de acordo com valores e fins. Desta forma, a cultura 
tornou-se sinônimo de História. Se, por um lado, 
a natureza é o reino da repetição, a cultura, por 
outro, é lugar da transformaçãoracional. Portanto, 
é a relação dos humanos com o tempo e no tempo 
(CHAUÍ, 2000).
A partir do que foi exposto, podemos agora 
falar mais sobre o que é a Filosofia em seu amplo 
aspecto. A seguir abordaremos sobre o conceito 
de filosofia e o método adotado por ela para 
compreender o mundo.
FILOSOFIA: CONCEITO E ORIGEM 
Em conformidade com Costa (2004), no 
manual de Filosofia, a palavra ‘Filosofia’ é composta 
por duas palavras gregas: Philos que, em grego, 
significa amor, e Sophia, que significa sabedoria. 
Assim, a Filosofia significa amor pela sabedoria. 
Marcondes (1997) afirma que a Filosofia é uma 
forma de pensamento que se originou na Grécia 
Antiga, numa data não específica, mas que tem 
por sugestão histórica o século VI a.C. A palavra, 
como a conhecemos, foi utilizada pela primeira 
vez por Pitágoras no século VI a.C., um filósofo e 
matemático bem conhecido. Já a palavra filósofo 
significa “aquele que ama a sabedoria” e tem 
amizade pelo saber, que deseja o saber. “Assim, a 
filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa 
que ama, isto é, deseja o conhecimento, a estima, a 
procura e o respeito” (CHAUÍ, 2000, p. 19).
Uma das bases fundamentais para o surgimen-
to da Filosofia, como área de conhecimento, advém 
do pensamento racional sobre a natureza. Isto quer 
22
Anotações: dizer que seu surgimento deriva justamente de uma 
oposição às explicações sobrenaturais ou míticas, 
que eram consideradas formas de conhecimento 
pré-filosóficas. Para Marcondes (1997), se hoje po-
demos pensar de forma racional e científica sobre 
as ocorrências do mundo, foi porque a emergência 
para o nascimento de um novo tipo de conhecimento 
sobre o mundo, revelou a necessidade de pensá-lo 
de forma reflexiva. Então, foi a partir dos primeiros 
filósofos, cuja necessidade de entender como o 
mundo funcionava sem explicações antinaturais, 
que se deu o início da filosofia. Logo, pode-se afir-
mar que as formas de entendimento sobre o mundo, 
anteriores à filosofia, foram caracterizadas como 
insuficiente para compreendê-lo. 
Podemos dizer dessa forma que, desde a 
antiguidade, a surpresa e o espanto perante o 
mundo levaram o homem a formular questões sobre 
a origem e a razão do universo e, a buscar o sentido 
da própria existência. Segundo a Filosofia, todos os 
aspectos da cultura humana podem ser objetos de 
reflexão.
Para Costa (2004), o homem, naquele período 
em que se convencionou chamar de primitivo, 
não filosofava. Os mitos foram inscritos na mente 
humana pela necessidade de explicar a natureza, que 
para o homem era completamente desconhecida. 
O salto evolutivo da biologia humana possibilitou 
ao ser humano pensar sobre essas questões que 
o cercavam. Se o mito serviu como uma forma de 
explicação do mundo, a Filosofia, enquanto uma 
forma de conhecimento não biológico da espécie 
humana, surgiu a partir da vontade e do desejo de 
saber (COSTA, 2004).
23
Anotações:Foi na própria natureza (na physis) que os 
primeiros filósofos encontraram uma explicação 
para o mundo. Isto significa dizer que as explicações 
sobre o seu funcionamento se concentraram nas 
causas naturais. É no próprio mundo que os homens 
podiam encontrar a sua própria compreensão, não 
em causas externas a ele. Deste modo, a Filosofia 
é uma forma de conhecimento para explicar a 
realidade. O seu surgimento representou, portanto, 
uma ruptura profunda em relação ao conhecimento 
mítico (MARCONDES, 1997).
O Método da Filosofia
A palavra método vem do grego "méthodos", 
sendo formada pelo prefixo metá, “além de”, “através 
de”, “para”, e pelo radical odós, “caminho”. Poder-se-
ia, então, traduzir o método por “caminho para” ou, 
então, “prosseguimento”, “pesquisa”. Método é um 
processo intelectual de abordagem de qualquer 
problema mediante a análise prévia e sistemática 
de todas as vias possíveis de acesso a uma solução. 
Opõe-se, portanto, a um modo de trabalho atrelado, 
exclusivamente, à improvisação ou à inspiração 
repentina.
Todo método, seja na Filosofia ou em qualquer 
outro campo de conhecimento, tem por finalidade 
formular ou buscar afirmações, previsões, expli-
cações, no caso específico da Filosofia, descobrir 
meios para chegar a uma reflexão mais precisa e 
eficaz sobre o eu, o outro e o mundo externo, isto 
é, entender a natureza. Entretanto, ainda segundo 
o autor, os métodos úteis para solucionar um certo 
conjunto de problemas podem ser totalmente inefi-
24
Anotações: cazes para resolver outros conjuntos de problemas. 
Pode-se, então, distinguir os métodos filosóficos 
do método puramente científico.
O CONHECIMENTO: CAPACIDADE 
HUMANA DE ENTENDER, APREENDER E 
COMPREENDER
Figura 1: O Pensador de Rodin
De acordo com Chauí (2013), conhecimento, 
oriundo do latim cognoscere, “ato de conhecer”, tal 
como a origem etimológica da palavra indica, é o 
ato ou efeito de conhecer. No conhecimento, temos 
dois elementos básicos: o sujeito (cognoscente) e 
o objeto (cognoscível). O cognoscente é o indivíduo 
capaz de adquirir conhecimento ou o indivíduo que 
possui a capacidade de conhecer. Já o cognoscível 
é o que se pode conhecer.
O tema “conhecimento” inclui descrições, hipó-
teses, conceitos, teorias, princípios e procedimen-
tos que são úteis ou verdadeiros. A ciência que es-
25
Anotações:tuda o conhecimento é a gnoseologia. Atualmente, 
existem vários conceitos para esta palavra, sendo de 
ampla compreensão que conhecimento é aquilo que 
se sabe sobre algo ou alguém. Dessa forma, o conhe-
cimento está associado com a pragmática, ou seja, 
relaciona-se com alguma coisa existente no “mundo 
real” do qual temos uma experiência direta.
Ainda em conformidade com Chauí (2013), o 
conhecimento pode ser também apreendido como 
um processo ou como um produto. Quando nos 
referimos a uma acumulação de teorias, ideias e 
conceitos, o conhecimento surge como um produto 
resultante dessas aprendizagens, mas como todo 
produto é indissociável de um processo, podemos, 
então, olhar o conhecimento como uma atividade 
intelectual por meio da qual é feita a apreensão de 
algo exterior à pessoa. 
TEORIA DO CONHECIMENTO, CIÊNCIA 
E TÉCNICA
Atualmente, discute-se sobre a relação entre 
ciência e conhecimento e seus aspectos históricos. 
A esse respeito, há várias teorias que descrevem a 
inter-relação entre o conhecimento científico no 
campo prático e teórico. Silva (2013) salienta que 
a ciência foi responsável por uma nova forma de 
pensar e agir do homem, trazendo um equilíbrio 
na resolução de problemas que antes eram 
inimagináveis e, isso, levou-o a olhar o problema 
com outros olhos e trilhar novos horizontes (CRUZ, 
2018).
Neste contexto, Silva (2013) afirma que a 
ciência possui sua origem no termo em latim 
26
Anotações: “scientia”, que significa conhecimento. É plausível 
destacar a estreita relação entre a ciência e o 
conhecimento, sendo este disponível a todo 
indivíduo em sociedade. No entanto, é importante 
ressaltar que a ciência, de modo geral, não se traduz 
em uma verdade total, em princípios imutáveis e ou 
intransigíveis (CRUZ, 2018).
Na ciência, convencionou-se fazer classifi-
cações a partir de duas áreas do conhecimento, 
sendo: 1) as ciências da natureza, que busca com-
preender os fenômenos da natureza; 2) aquela que 
se convencionou chamar de ciências humanas, que 
buscam entender os fenômenos sociais e culturais. 
Augusto Comte, filósofo francês e expoente da cor-
rente Positivista do século XIX, classificou as ciên-
cias do seguinte modo: as abstratas, que tratam das 
questões teóricas e universalistas; e as concretas, 
que tratam dos recortes particulares e específicos. 
Este ponto de vista de Comte contraria o ideal de 
Aristóteles, que dividia as ciências em teórica ou es-
peculativa (metafísica), o que, por sua vez, limitava o 
conhecimento à reprodução cognitiva da realidade 
(CRUZ, 2018). 
Para Tesser (1994), a Filosofia é uma exten-
sa área do saber humano que se divide em muitos 
campos de análise, e um deles é a teoria do conhec-imento. É claro que os gregos já pensavam e conhe-
ciam as coisas, mas foi apenas no período moderno 
que esse campo filosófico se consolidou. O princi-
pal fator que contribuiu para esse evento foi a bus-
ca pelas certezas de Descartes, que culminou em 
muitas críticas, de modo que as diferentes formas 
de conhecer o mundo ficaram mais evidentes.
Chama-se Teoria do Conhecimento tudo aquilo 
que se refere ao desenvolvimento do conhecimento 
27
Anotações:humano. Entre os assuntos mais tematizados, 
neste campo teórico, estão a distinção entre 
conhecimento e opinião, conhecimento científico 
e conhecimento comum, a observação dentro do 
conhecimento, conhecimento empírico, raciocínios 
indutivo e abdutivo, entre outras questões (UNESP, 
2013). Na verdade, o conhecimento passou por 
etapas evolutivas e a mais elevada, a última delas, 
é o conhecimento científico. Nele, verifica-se o real 
em sua abstração. Pensa-se sobre os conceitos e 
os princípios, sejam leis naturais ou da cosmologia 
(MARCONDES, 1997).
A teoria do conhecimento busca, portanto, 
compreender o modo pelo qual o homem conhece 
as coisas. Essa busca se dá, basicamente, através 
de duas perguntas: o que é o conhecimento? Como 
nos conhecemos? Muitos filósofos se dedicaram 
seriamente a essas questões, de modo que se 
tornaram grandes referências no assunto. Para 
Aranha (2012), o método adotado pela filosofia para 
resolver esse problema é a divisão do assunto em 
duas partes: fontes primárias e possibilidades de 
conhecimento.
Segundo Marcondes (1997), no período clássico 
havia uma distinção entre a teoria e a técnica. 
Sobre a teoria, Aristóteles indicava que, tal saber 
é definido pela observação das ocorrências no 
mundo e que não tem finalidade imediata ou prática 
na vida de quem reflete sobre o mundo. A teoria é 
um tipo de saber cuja finalidade está em si mesma 
porque traz satisfação ao descobrir a natureza do 
homem. Isto representa aquele mencionado desejo 
de conhecer, que falamos anteriormente. Este 
tipo de saber é gratuito, e a sua gratuidade quando 
28
Anotações: relacionada à abstração do pensamento é capaz de 
revelar o seu grau superior em relação à técnica. 
Contudo, a concepção grega clássica de que 
havia um distanciamento entre teoria e técnica, 
foi superada com os filósofos modernos Galileu 
Galilei e Francis Bacon. A partir de suas reflexões, 
a ciência e a técnica foram pensadas em conjunto. 
A técnica passou a ser uma forma de aplicação do 
conhecimento científico, que pode ser considerado 
como uma prática da teoria científica (MARCONDES, 
1997). De acordo com Soliveréz (1992), a ciência é 
comparada à mãe da técnica. Para ele, a técnica 
está intimamente ligada ao modo de “como se deve 
fazer”. Já a ciência, insere-se nos conhecimentos 
necessários para se pôr em prática a utilização da 
técnica (CRUZ, 2018).
Marcondes (1997) nos lembra que houve uma 
revolução científica a partir de 1543, com a obra 
de Nicolau Copérnico, intitulada Sobre a revolução 
dos orbes celestes. Os orbes celestes (planetas) 
passaram a ser compreendidos pelos cálculos 
matemáticos, trazendo um novo entendimento 
sobre o modelo cosmológico, logo: o Sol é o centro 
e a Terra apenas um astro que gira em torno do 
sistema heliocêntrico. Em outras palavras, a Terra 
gira em torno do Sol, e não o contrário, como 
se acreditava antes da teoria matemática de 
Copérnico ser publicada. Acreditava-se, desde a 
teoria formulada por Ptolomeu, no século II, que 
a Terra era o centro do universo, um astro imóvel. 
Este sistema ficou conhecido como geocêntrico.
Podemos, então, reconhecer que uma das 
principais mudanças que ocorreram ao longo da 
29
Anotações:história, no método científico, esteve ancorada 
numa inversão de ordem de prioridades. A ciência 
moderna traz como fundamento analisar os 
fenômenos e observá-los
 (MARCONDES, 1997). Como mostramos, 
paralelamente ao desenvolvimento da ciência, 
a técnica caminhou a passos largos para a 
situação de cientificação. Há um evidente 
desenvolvimento da técnica atrelado ao progresso 
das ciências modernas (SOLIVERÉZ, 1992). A seguir, 
mostraremos a História da Filosofia.
U
ni
da
de
 2
Videoaula 1
Videoaula 2
Videoaula 3
Videoaula 4
Videoaula 5
32
Anotações:
33
Pesquisadores renomados da 
área da Filosofia como Chauí (2000), 
Cotrim (2017), Cortella (2013) e ARA-
NHA (2003) afirmam que este cam-
po de conhecimento é uma forma 
de aprender a pensar e refletir, des-
pertando o nosso senso crítico, o que 
nos auxilia na construção de uma 
visão mais ampla do mundo. Por isso, 
a Filosofia ainda é de suma importân-
cia no mundo de hoje, mesmo que 
muitos não saibam o seu significado 
ou acreditem que ela possua serven-
tia utilitarista.
A IMPORTÂNCIA 
DA FILOSOFIA NO 
MUNDO DE HOJE
34
Anotações: Para Cortella (2013), é a filosofia que estimula 
a consciência e nos ajuda na formulação do nosso 
caráter moral. A verdadeira importância da filosofia 
está no efeito que ela causa sobre as pessoas, 
tornando-as mais livres para uma postura crítica 
e questionadora. Por esses e outros motivos, a 
Filosofia é tão importante no mundo atual, pois 
ajuda as pessoas a desenvolverem uma visão mais 
humanista.
Deste modo, a Filosofia possui um valor 
que transcende o seu significado conceitual, 
pois atravessa inteiramente o modo de vida do 
indivíduo. Podemos afirmar que alguns não são 
guiados por doutrinas ou crenças que os orientem 
e, nesse sentido, é que a Filosofia torna-se uma 
área de conhecimento que supera o seu significado 
científico, uma vez que é capaz de dar às pessoas 
uma forma de conhecimento racional, com o qual 
podem pensar. 
Vemos ao longo da sua história, pensadores 
passarem a seguir uma corrente filosófica. Isto 
significou que a espécie humana alcançou o 
interesse em buscar objetos e, ao mesmo tempo, 
dirigir o seu próprio comportamento. Observa-se 
isto na corrente conhecida como estoicismo, que 
busca dominar as emoções humanas. A epicurista 
que vai à procura da felicidade que é alcançada 
mediante o prazer. A cristã, que sai em busca da 
salvação através da graça e dos ensinamentos de 
Jesus Cristo. Cada uma dessas correntes levou 
o ser humano a uma forma de pensar a vida e o 
mundo, bem como a um tipo de comportamento 
(COSTA, 2004).
Assim, podemos dizer que a Filosofia traz a nos-
sa espécie o desejo do conhecimento de si próprio, 
35
Anotações:faz refletir sobre o nosso lugar no universo e na socie-
dade, sempre buscando a verdade. Dessa forma, ela 
está disponível à descoberta para todos nós. 
Veremos a seguir, a formação histórica da 
Filosofia e seus desdobramentos.
A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA FILOSOFIA
Spinelli (2003) diz que a fase de origem da 
Filosofia, entendida como uma maneira de pensar 
totalmente nova, originou-se na Grécia no final do 
século VII e início do século VI a.C (–para outros 
pesquisadores filósofos, o período que abarca o 
surgimento da Filosofia é de VI e V, a.C.–), ocor-
reu, a rigor, na região da Jônia (Grécia), onde as 
cidades eram movimentadas pelos mercantis do 
mar Mediterrâneo e, por isso, tinham grande con-
centração de intelectuais. O pesquisador ainda 
afirma que foi, precisamente, na cidade de Mileto 
onde surgiram os três primeiros filósofos (Tales, 
Anaximandro e Anaxímenes), que tinham ideias que 
rejeitavam as explicações tradicionais baseadas na 
religião e na mitologia e buscavam, assim, apresen-
tar uma teoria cosmológica baseada em fenômenos 
observáveis. Apresentamos essa questão na uni-
dade anterior.
Podemos observar, contudo, que as carac-
terísticas da Filosofia não são encontradas so-
mente na escola de Mileto, mas também em di-
versos pensadores daquele período, chamados de 
pensadores pré-socráticos, pois surgiram antes 
de Sócrates. Assim, os primeiros filósofos con-
tribuíram com o desenvolvimento filosófico e 
através deles, surgiram as primeiras noções que 
36
Anotações: buscavam compreender a realidade e que funda-
mentaram alguns dos conceitos e das teoriassobre 
a natureza (MARCONDES 1997). A seguir veremos os 
períodos de cada escola e corrente filosófica.
OS PRINCIPAIS PERÍODOS E ESCOLAS 
FILOSÓFICAS: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS 
AOS CONTEMPORÂNEOS
A partir deste tópico, veremos com mais 
aprofundamento que a Filosofia grega Pré-
Socrática foi a primeira corrente de pensamento, 
surgida por volta do século VI a.C., na Grécia Antiga. 
Belo (2015) afirma que os primeiros filósofos, 
aqueles antes de Sócrates, interessavam-se pelas 
questões do Universo e dos fenômenos naturais, 
buscando explicá-los por meio do conhecimento 
racional. Podemos afirmar que se trata de um 
conhecimento pré-científico. 
O período pré-socrático foi o ponto inicial das 
reflexões filosóficas. Suas discussões prendem-se 
a entender a Cosmologia, sendo a determinação da 
physis (princípio eterno e imutável que se encontra 
na origem da natureza e de suas transformações), 
ponto crucial de toda formulação filosófica. Pitágo-
ras, por exemplo, desenvolve seu pensamento de-
fendendo a ideia de que tudo preexiste a partir da 
alma, já que ela é imortal. Já Demócrito e Leucipo 
defendem a formação de todas as coisas a partir da 
existência dos átomos (BELO, 2015). Os primeiros 
traços da Filosofia grega pré-socrática surgem 
com Tales de Mileto, comerciante e estudioso, ha-
bitante da região da Jônia, conjunto de ilhas gre-
gas situadas no atual território turco. Segundo a 
37
Anotações:História, Tales era um exímio matemático, astrôno-
mo e estrategista que previu, no ano de 585 a.C., o 
acontecimento de um eclipse total do Sol, por meio 
de cálculos matemáticos e previsões astronômicas 
(BELO, 2015). 
As escolas jônica, eleática e pitagórica são 
consideradas as principais do período. Da Jônia, 
surgiram os físicos: Tales de Mileto (625-546 
a.C.), Anaximandro (611-547 a.C.), Anaxímenes 
(570-547 a.C.) e Heráclito (544-480 a.C.). Eles 
buscaram explicar o desenvolvimento da natureza 
em sua essência comum a todas as coisas, além 
de propagar a ideia do movimento contínuo 
(eterno). Foi Heráclito quem afirmou a contradição 
e a dinâmica no mundo. Segundo ele, quando 
entramos num rio, ele não é o mesmo, nem nós 
somos os mesmos ao sair dele. A sua frase mais 
conhecida é: “não nos banhamos duas vezes no 
mesmo rio” (COSTA, 2004). A escola jônica trouxe 
ao pensamento humano o caráter crítico, pois as 
teorias formuladas por seus pensadores não se 
fundamentavam pelo dogmatismo, isto é, as suas 
teorias não eram apresentadas como verdades 
absolutas. Através delas, poderia suscitar-se 
discussões que divergissem ou discordassem 
completamente delas, portanto, eram passíveis de 
crítica (MARCONDES, 1997).
Da escola de Eléa, surgiram filósofos como 
Empédocles (483-430 a.C.), Parmênides (530-
460) e Anaxágoras (499-428 a.C.). Para esses, 
não há mudanças nas coisas, já que a unidade e a 
imobilidade são elementos do ser (a essência do 
mundo). Zenon, outro pensador eleata, conceituou 
o paradoxo da lógica, que é quando uma conclusão, 
38
Anotações: cuja contradição interna de um enunciado é derivada 
de premissas válidas, no entanto, uma delas pode 
não ser verdadeira. Ele fundamentou a base para 
que os filósofos de épocas diferentes buscassem 
soluções para tal paradoxo. Podemos dizer que esta 
escola tinha, como um de seus interesses, questões 
em torno da coerência racional, possibilitando o 
surgimento da lógica como ciência (COSTA, 2004). 
Porém, o filósofo mais conhecido desta escola é 
Parmênides, que foi quem introduziu a distinção 
entre a realidade e a aparência. Segundo ele, a 
realidade é única, imóvel, eterna, imutável, por isso, 
o movimento seria, em sua superficialidade, algo 
aparente (MARCONDES, 1997).
A escola atomista, por sua vez, tem como 
característica afirmar que o Universo é constituí-
do de átomos que são indivisíveis, infinitos (logo 
eternos), que estão reunidos de modo aleatório. 
Seus representantes foram Leucipo e Demócrito 
(460-370 a.C.). Demócrito é o mais conhecido por ter 
sido o primeiro a traçar um esboço do materialismo 
determinista (COSTA, 2004).
O filósofo Pitágoras (582-500 a.C.) foi de Sa-
mos, na região da Jônia. Contudo, apesar de sua ori-
gem, ele foi para a Itália, onde fundou outra escola. 
Assim, foi o representante da escola italiana, onde 
deu início à transição do pensamento da Jônia para 
o pensamento mais mítico e semirreligioso dentro 
da filosofia (MARCONDES, 1997). Portanto, sua es-
cola tinha um caráter mais iniciático (para curiosos 
da vida esotérica). Segundo Costa (2004), Pitágo-
ras afirmava que a verdadeira substância é a alma, 
a qual existe antes mesmo do corpo, e encarna por 
consequência de um castigo de uma vida anterior. 
39
Anotações:Esse pensamento foi uma forma de compreender a 
essência das coisas e se mostrou uma teoria prévia 
ao mundo das ideias de Platão. O principal legado 
da escola pitagórica (ou pitagorismo) foi a teoria de 
que o número é o elemento que explica a harmonia 
e o equilíbrio do real, o que, consequentemente, 
ajudou a desenvolver a matemática e a geometria 
grega (MARCONDES, 1997).
Outro importante momento neste período 
considerado pré-socrático aconteceu no final do 
século V a.C., que foi o surgimento dos sofistas. 
Os nomes mais conhecidos são Protágoras (490-
410 a.C.) e Górgias (485-380). Os sofistas eram 
educadores pagos pelos alunos, eles pretendiam 
substituir a educação tradicional, que era destinada 
a preparar verdadeiros atletas e guerreiros das 
cidades-estado gregas, por uma forma pedagógica 
que se preocupava com a formação de cidadãos. Em 
sua pedagogia, os sofistas ensinavam a retórica, 
uma arte dedicada a ensinar a falar de maneira 
convincente a respeito de qualquer assunto (COSTA, 
2004). Assim, os sofistas, entre eles Górgias, 
Leontinos e Abdera, defendiam uma educação cujo 
objetivo máximo seria a formação de um cidadão 
pleno, preparado para atuar politicamente para 
o crescimento da cidade. Dentro dessa proposta 
pedagógica, os jovens deveriam estar preparados 
para falar bem, pensar e manifestar suas qualidades 
artísticas (BELO, 2015).
40
Anotações: O início do período Clássico Grego: 
a Filosofia socrática
Figura 2: Sócrates
Fonte: <https://arteeartistas.com.br/>.
Essa é considerada a melhor fase da civilização 
grega. Sócrates viveu no Período Clássico, no auge 
da civilização grega, e foi mestre de vários alunos, 
dentre os quais Platão foi o mais destacado. Além 
de ser conhecido por sua filosofia e seus diálogos 
filosóficos, seu método lhe rendeu muito destaque. 
Estima-se que ele tenha nascido em 470 a.C. na 
cidade de Alópece, em Atenas, Grécia. De acordo 
com Funari, (2002), Sócrates foi condenado à morte 
e sua sentença foi a de morte por envenenamento. 
Este fato aconteceu em 399 a.C. Seus pais eram 
Sophroniscus, um escultor, e Phaenarete, uma 
parteira. Durante sua juventude trabalhou no 
mesmo ofício que seu pai, o de artesão.
Na sua juvenilidade, Sócrates visitou o 
Oráculo de Delfos situado no templo dedicado ao 
deus Apolo, em Atenas. O primeiro impacto do 
41
Anotações:filósofo deu-se com a percepção da frase escrita 
na entrada do templo: “Conhece-te a ti mesmo e 
conhecerá o mundo e os deuses”. Segundo Chauí 
(2004), essa frase foi tomada como lema de vida 
para Sócrates, que buscou sempre se empenhar 
no autoconhecimento. O maior choque do filósofo 
ocorreu, no entanto, no momento de uma conversa 
com a sacerdotisa do oráculo que teria afirmado ao 
jovem filósofo que ele seria o mais sábio de todos 
os homens da Grécia.
Foi a afirmação “conhece-te a ti mesmo” que 
chocou o filósofo e o colocou em dúvida. Para Cotrim 
(2017), em uma atitude de colocar à prova o que lhe 
foi dito, o pensador passou a caminhar pelas ruas 
de Atenas conversando com interlocutores que se 
julgavam conhecedores de certos assuntos, como 
política e artes. Sócrates, no entanto, percebeu que, 
realmente, aquelas pessoas que julgavam conhecer 
sobre certos assuntos, na verdade não conheciam 
a fundo o que elas diziam saber.
Ele fundouo método chamado de Maiêutica, 
palavra que pode ser traduzida como obstetrícia, ou 
seja, a arte de realizar partos. No entanto, isso não 
basta para definir a maiêutica socrática. Como já foi 
mencionado, sua mãe era parteira. E metaforizando 
esse método, pode-se entender que, tal qual sua 
mãe, Sócrates dizia realizar partos, mas não partos 
de bebês, e sim de ideais. De acordo com Funari 
(2002), o filósofo acreditava que ele mesmo não 
detinha o seu conhecimento filosófico, mas teria 
uma habilidade de retirar esse conhecimento das 
outras pessoas.
Já para Aranha (2013), a Maiêutica era um 
diálogo focado em aflorar o conhecimento nas 
42
Anotações: pessoas de maneira paulatina, isto é, aos poucos 
fazer o indivíduo aproximar-se da verdade por meio 
de um diálogo lento e gradual. A autora supracitada 
esclarece que esse método se dava a partir de 
questões que tinham por finalidade ironizar e 
refutar conhecimentos dogmáticos. Em outras 
palavras, Sócrates queria acabar com as certezas 
que as pessoas de sua localidade tinham a respeito 
de diversos assuntos. Com isso, ele convencia, por 
meio da ironia, seus interlocutores de que eles não 
sabiam tanto quanto pensavam.
Para Sócrates, o exercício fundamental 
do filósofo não é informar ou transmitir saberes 
definidos (acabados, prontos). É, no entanto, fazer 
com que o interlocutor tenha ideias próprias, 
como se desse luz a elas. É através do diálogo 
que Sócrates opera a sua forma de compreensão 
dialética. Primeiramente, questiona as crenças 
preconcebidas do indivíduo que participa desse 
diálogo, com provocações sobre essas crenças que 
ele acredita ser uma verdade universal. A partir disto, 
o filósofo grego utilizava a ironia e problematizava 
tais crenças, o que consequentemente ia gerando 
contradições nas respostas do interlocutor, 
fazendo-o perceber as suas próprias contradições. 
Ao se dar conta delas, o indivíduo reconhecia a sua 
ignorância (MARCONDES, 1997).
Aquela famosa máxima “Conhece-te a ti 
mesmo” é oriunda da Grécia e está relacionada com 
a dialética socrática. Assim, para Cotrim (2017), 
Sócrates anunciava que a verdade estava dentro 
de nós, e por meio do questionamento das coisas 
ele conseguia chegar a verdades universais. Outra 
frase mais famosa de Sócrates, “Só sei que nada 
43
sei”, é derivada daquela ideia de reconhecimento 
de sua própria ignorância porque é o elemento 
fundamental para o saber (MARCONDES, 1997).
Costa (2004) diz que Sócrates não criou um 
sistema ou uma doutrina, mas a forma de viver 
a vida como um método de refl exão. É através da 
autorrefl exão sobre nossas crenças que podemos 
ser racionais e fazer problematizações críticas 
em torno da ética, assunto que trataremos mais 
adiante.
Platão e sua epistemologia
Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma 
família aristocrática de Atenas. Quando tinha 
cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, 
por quem tinha grande admiração. Como a 
maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na 
política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a 
Academia, um instituto de Educação e pesquisa 
fi losófi ca e científi ca que, rapidamente, 
ganhou prestígio. Platão morreu por 
volta de 347 a.C. e já era um homem 
admirado em toda Atenas (SARDI, 
2005).
De modo geral, a 
sua fi losofi a trouxe um 
esboço daquilo que viria 
a ser conhecido como 
sistematização do conhe-
cimento. A sua fi losofi a 
fundamenta-se pela te-
oria das ideias ou 
teoria das for-
adiante.
Platão e sua epistemologia
Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma 
família aristocrática de Atenas. Quando tinha 
cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, 
por quem tinha grande admiração. Como a 
maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na 
política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a 
Academia, um instituto de Educação e pesquisa 
fi losófi ca e científi ca que, rapidamente, 
ganhou prestígio. Platão morreu por 
volta de 347 a.C. e já era um homem 
admirado em toda Atenas (SARDI, 
De modo geral, a 
sua fi losofi a trouxe um 
esboço daquilo que viria 
a ser conhecido como 
sistematização do conhe-
cimento. A sua fi losofi a 
fundamenta-se pela te-
oria das ideias ou 
teoria das for-
44
Anotações: mas. A sua contribuição para o conceito de bem 
absoluto foi fundamental para teorias filosóficas 
posteriores (COSTA, 2004). Assim como Sócrates, 
Platão rejeitava a Educação que se praticava na Gré-
cia em sua época, por essa ficar a cargo dos sofistas, 
que eram incumbidos de transmitir conhecimentos 
técnicos - sobretudo a retórica - aos jovens que 
podiam pagar a eles para torná-los aptos a ocupar 
as funções públicas, como aponta Sardi (2005). 
Para Platão, toda virtude é conhecimento e, ao 
homem virtuoso, segundo ele, é dado a conhecer 
o bem e o belo. Para Chauí (2004), a busca da vir-
tude deve prosseguir pela vida inteira, portanto, 
a Educação não pode se restringir aos anos de 
juventude. Educar é muito importante para uma 
ordem política baseada na justiça, como Platão 
preconizava, que deveria ser tarefa de toda a socie-
dade.
É por conta da complexidade da teoria 
filosófica de Platão que a Filosofia Clássica virou 
um marco na história do pensamento humano. É 
possível caracterizar o pensamento de Platão por 
meio da problematização do conhecimento. Há 
algumas questões que ajudam a corroborar esta 
caracterização, são elas: 
1. Existe a possibilidade do conhecimento 
do mundo e da realidade, de vê-los como 
são em si? 
2. Existe um método capaz de conhecer este 
mundo? 
3. As questões dos sentidos e da razão são 
como instrumentos do conhecimento?
4. A questão da materialidade do mundo 
ou da realidade superior, cuja natureza 
é inteligível, e a realidade mutável e não 
45
Anotações:duradoura versus a essência imutável é 
infinita? 
Podemos afirmar que a faceta epistemológica 
do pensamento de Platão é muito importante para 
entender a sua filosofia. O problema fundamental 
para o seu pensamento é poder avaliar as formas de 
conhecimento para alcançar o nível mais profundo, 
que está além das coisas do mundo que nos cercam 
(MARCONDES, 1997).
O processo dialético platônico pelo qual, ao 
longo do debate de ideias, depuram-se o pensa-
mento e os dilemas morais, também se relaciona 
com a procura de respostas durante o aprendiza-
do. Platão é do mais alto interesse para todos que 
compreendem a Educação como uma exigência de 
que cada um, professor ou estudante, pense sobre 
o próprio pensar, como explica Sardi (2003). Neste 
sentido, podemos dizer que a obra de Platão é uma 
síntese que abarca o conhecimento verdadeiro, a 
moralidade e a política. Traz ao campo da Filoso-
fia preocupações em torno dos fatores pedagógi-
cos-políticos do conhecimento. Isto o leva à con-
clusão de que é o conhecimento em alto nível que 
leva o homem a fazer o Bem (MARCONDES, 1997).
Uma das alegorias mais conhecidas da história 
é A Alegoria da Caverna (conhecida popularmente 
como “Mito da Caverna”). Esta alegoria está inscrita 
na obra A República, no capítulo VII (514a-517d) e é 
contada através de um diálogo entre os personagens 
Sócrates e Glauco. Trata-se de uma metáfora de 
Platão sobre o nosso mundo, representado pela 
caverna. Nelas estão pessoas acorrentadas (como 
prisioneiros), desde crianças, sem se moverem, 
podendo somente observar o que está a frente, 
46
Anotações: onde elas veem apenas sombras. Estas pessoas 
aprisionadas são representações nossas, como se 
Platão descrevesse o ser humano inserido em um 
mundo ilusório, onde enxergássemos unicamente 
uma parte ínfima do mundo real. 
Do lado de fora da caverna há uma fogueira, 
cuja luz projeta as sombras, que são os homens 
que passam (como sombra) pelo lado de fora da 
caverna. Eles são representações dos sofistas 
que manipulam as opiniões dos homens e são 
parte da ilusão. Quando um dos prisioneiros se 
liberta e conhece o que há no exterior da caverna, 
ele consegue enxergar a realidade plenamente, 
compreendendo-a a tal ponto de não querer voltar 
para a caverna (MARCONDES, 1997).Aristóteles e a ética a Nicômaco
Aristóteles (384-322 a.C.), ao lado de Sócrates 
e Platão, é considerado um dos grandes filósofos 
do período clássico. Ele definiu os conceitos e 
princípios basilares de muitas teorias científicas. 
Fundamentou as teorias da lógica, da biologia, 
da física e também da psicologia. Na lógica, 
desenvolveu a teoria da inferência dedutiva, que 
são o silogismo e um conjunto de regras, que depois 
ajudaram a formar o método científico (COSTA, 
2004). 
Nascido na cidade de Estagira, na Macedônia, 
Aristóteles foi discípulo de Platão por muitos anos, 
rompendo com a filosofia do mestre após a morte 
dele. Então, fundou o seu próprio sistema filosófico, 
partindo da crítica à teoria das ideias. Assim, 
toda a sua filosofia funda-se sobre a crítica aos 
47
Anotações:fundamentos pré-socráticos e às teorias de Platão. 
O filósofo estagirita redefine a Filosofia, tanto no 
seu projeto quanto no seu sentido, para alcançar o 
seu objetivo de construir um sistema de saber, com 
a intenção de superar as limitações e as falhas de 
seus antecessores. Este projeto aristotélico pode 
ser observado na sua monumental obra intitulada 
Metafísica (MARCONDES, 1997).
Devemos mencionar outra obra de Aristóteles, 
muito importante na História da Filosofia, que é 
a Ética a Nicômaco. Nela, Aristóteles apresenta 
uma nova concepção de virtude, de uma razão 
voltada para questões práticas e do justo meio. A 
investigação de Aristóteles estreita os laços entre 
a ética e a política, como se uma dependesse da 
outra. Apesar do modelo ético apresentado por 
ele ser muito semelhante à maneira como Platão, 
seu mentor, apresentava, (ou seja, em forma de 
diálogos) ela é bem distinta das questões éticas 
que permeiam o pensamento platônico. 
O filósofo de Estagira mostra um modelo 
teleológico que tem por finalidade apresentar a 
imagem de um arqueiro que precisa atingir seu 
alvo após visualizá-lo, tal como um agente moral 
precisa ter como objetivo o fim prático (o Bem) para 
alcançá-lo. A visão de mundo de Aristóteles não se 
divide em dois, o sensível e o inteligível, como em 
Platão e, por isso, rejeita a ética platônica. O Bem 
precisa orientar as ações boas (uma forma moral) 
do agente (UNESP, 2013).
Já no início da Ética a Nicômaco, o filósofo 
estagirita parte em investigar o Bem, com intenção 
de alcançá-lo. Em meio à investigação do Bem, 
apresenta a ideia de que precisa haver uma boa 
48
Anotações: vida. Há a vida de prazer, a vida de honras, a vida 
virtuosa e a vida contemplativa. Destas quatro 
formas de viver a vida, somente a vida virtuosa 
e a vida contemplativa são consideradas em sua 
investigação como formas possíveis de alcançar a 
felicidade (UNESP, 2013). Para Aristóteles (1973, p. 
428-430), a felicidade: 
É atividade conforme à virtude, será 
razoável que ela esteja também em 
concordância com a mais alta virtude; 
e essa será a do que existe de melhor 
em nós. Quer seja a razão, quer 
alguma outra coisa esse elemento que 
julgamos ser o nosso dirigente e guia 
natural, tomando a seu cargo as coi-
sas nobres e divinas, e quer seja ele 
mesmo divino, quer apenas o elemento 
mais divino que existe em nós, sua 
atividade conforme à virtude que lhe é 
própria será a perfeita felicidade. Que 
essa atividade é contemplativa, já o 
dissemos anteriormente.
Para Aristóteles, devemos agir de maneira 
virtuosa e, para termos essa ação, podemos nos 
basear nos aspectos culturais de nossa sociedade. 
Não há um conjunto de regras que nós devemos 
seguir, o que torna o modelo ético aristotélico 
diferente dos demais apresentados ao longo da 
História da Filosofia. Desta forma, abre margem 
para a possibilidade de compreender que uma 
ação virtuosa, em determinado lugar, pode ser 
considerada não virtuosa em outro. Contudo, 
Aristóteles apresenta uma noção que media a ação 
49
Anotações:virtuosa de uma pessoa, impondo uma medida 
aritmética, trata-se do justo meio. 
Assim, ele exemplifica dizendo que o número 
três é o meio entre os números dois e quatro. 
Essa aritmética é um meio que pode ter variações 
devido aos casos singulares, em outras palavras, 
deve-se medir caso a caso. Algumas ações são 
consideradas covardes quando falta impulso, já o 
excesso de impulso pode ser considerado como 
temeridade, no entanto, ambas são manifestações 
de vício. Uma ação considerada corajosa é quando 
o impulso aparece de forma moderada, o que faz 
com que o indivíduo aja sem excesso e sem vício, 
portanto, virtuosamente. Isto quer dizer que uma 
ação só pode ser considerada virtuosa se aquela 
ação atender às “regras” do justo meio (UNESP, 
2013).
PERÍODO DO HELENISMO: A BUSCA 
PELA FELICIDADE
Após a conquista da Grécia pelos macedônios 
(322 a.C.), teve início o chamado período 
helenístico. Devido à expansão militar do império 
da Macedônia, efetuada por Alexandre Magno, 
o período helenístico caracterizou-se por um 
processo de interação entre a cultura grega clássica 
e a cultura dos povos orientais conquistados. E 
o mesmo processo ocorreu no campo filosófico. 
Para Goldschmidt (1953), filósofo francês, as 
escolas platônicas (Academia) e aristotélica (liceu) 
— dirigidas, respectivamente, pelos discípulos de 
Platão e Aristóteles — continuaram abertas e em 
plena atividade, mas os valores gregos começaram 
50
Anotações: a mesclar com as mais diversas tradições culturais. 
Este processo se deu através da cidade de 
Alexandria, capital do reino grego no Egito e centro 
cultural do helenismo. Pelo fato de a Alexandria 
ser cosmopolita, a cultura daquele local tornou-se 
sincrética (MARCONDES, 1997).
Helenismo é um termo retirado da obra de um 
importante historiador francês, que apresentava a 
tese de que havia uma influência da cultura grega em 
toda a região conquistada por Alexandre. Podemos 
compreender que a primeira tentativa de criar uma 
hegemonia da língua e da cultura nasceu com o 
império estabelecido por Alexandre (MARCONDES, 
1997). A seguir, veremos alguns filósofos e as 
escolas mais conhecidas deste período.
Os Estoicos
Este período foi marcado pela busca de um 
caminho para a felicidade, e sendo criada pelos 
estoicos, dando origem à corrente conhecida como 
estoicismo. De acordo com Marcondes (1997), o 
termo estoicismo deriva das palavras gregas stoa 
poikilé, que pode ser traduzido como “pórtico 
pintado”. A escola estoicista foi fundada em Atenas, 
em 300 a.C., e feita pelos discípulos que sucederam 
os pensadores Zenão, Cleantes e Crisipo.
A Filosofia, para a escola estoicista, é um 
sistema composto por três partes fundamentais 
e estão divididas em uma forma hierárquica: a 
física, a lógica e a ética. O sistema estoico parte 
da metáfora da árvore para ser explicado, de 
modo que a raiz da árvore corresponde à física, o 
tronco corresponde à lógica e os frutos podem ser 
51
Anotações:entendidos como a ética. Logo, a ética pode ser 
considerada a parte fundamental para tal escola, 
mas não deve estar separada da física porque há 
uma relação estreita entre as áreas. O homem é 
considerado uma parte do universo, pois ele é o 
microcosmo no macrocosmo (MARCONDES, 1997). 
Veremos, mais adiante, porque estas áreas estão 
conectadas.
As nossas ações éticas devem ter uma relação 
com os princípios naturais, que se harmonizam com 
o cosmo e traz equilíbrio ao universo e ao próprio 
homem, o que resulta em sua felicidade. Uma 
ação considerada boa deve estar de acordo com a 
natureza, isto é, precisa estar em consonância com 
a ética. A virtude no sistema estoico é composta 
por três elementos básicos: a do conhecimento do 
que é o bem e o mal, correspondendo à inteligência; 
a do conhecimento do que deve ou não ser temido, 
que corresponde à coragem e a do conhecimento 
que nos permite dar algo que é devido a quem 
merece, o que corresponde à justiça. Assim, a 
concepção de natureza, na ética do estoicismo, tem 
um forte teor fatalista, pois o destino (heimarmené) 
tem uma presença grande em sua constituição. O 
destino não é arbitrário e refletea racionalidade do 
mundo real, portanto devemos aceitá-lo, mesmo 
não compreendendo o que fazemos para termos 
um triste destino. Assim, a resignação em aceitar 
os acontecimentos como algo predeterminado é 
um elemento fundamental nesta ética. Devemos 
agir tendo como princípio a ética, mas aceitar as 
consequências de nossas ações e o desenrolar dos 
acontecimentos inevitáveis (MARCONDES, 1997). 
Em outras palavras, tudo o que existe e acontece 
52
Anotações: tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte 
da inteligência universal. Assim, tudo é necessário, 
ou seja, não pode ser diferente do que é, pois, no 
cosmos, todos os eventos estão organicamente 
predeterminados. Isso inclui a vida de cada um de 
nós, o que quer dizer que, na concepção estoica, 
cada pessoa nasce com um destino definido.
A eudaimonia, traduzida como felicidade, 
baseia-se na ataraxia, que se traduz por 
tranquilidade. O estado de tranquilidade consiste 
na ausência de perturbação. Aceitar o desenrolar 
dos acontecimentos, conviver com austeridade e 
manter o autocontrole é o que nos faz alcançar a 
ataraxia, ou melhor, a tranquilidade. O estoicismo, 
contudo, coloca-nos um desafio, pois para alcançar 
este estado, é preciso ser um completo sábio 
(MARCONDES, 1997).
Cotrim (2016) destaca que os estoicos 
procuraram orientar a conduta das pessoas 
estabelecendo a seguinte distinção entre as 
coisas: 1) boas, aquelas que dependem de nós e 
que devemos buscar durante a vida para sermos 
felizes, são virtudes (ser prudente, justo, corajoso); 
2) más, que são as coisas que dependem de nós, 
mas que, ao contrário, devemos evitar durante a 
vida se queremos ser felizes, são vícios advindos 
de algumas formas de paixões (ser imprudente, 
injusto, covarde, guloso, raivoso); 3) indiferentes, 
que são as que não dependem de nós e com as 
quais não devemos nos preocupar, sob pena de 
gerar infelicidade.
Antes de passarmos para a próxima escola 
helenista, é preciso ressaltar que, por conta das 
características de ser determinista, de buscar o 
53
Anotações:autocontrole, a submissão e a austeridade da vida 
financeira como valores centrais, a ética estoica foi 
uma grande influência para o desenvolvimento do 
cristianismo, assim explica Marcondes (1997).
Epicuro
Epicuro (341-271 a.C.) reunia-se, na cidade 
de Atenas, com os seus discípulos no jardim de 
sua escola, fundada em 306 a.C., ele retomou as 
teorias atomistas de Demócrito e Leucipo, e foi 
reconhecido pelo seu tratado sobre a natureza, 
intitulado Da Natureza. É importante observar que os 
epicuristas defendem a física materialista, atomista 
e mobilista. Assim, eles apresentam uma teoria do 
conhecimento que valoriza a experiência do que 
é imediato. Nesta teoria também é apresentado 
um conceito chamado de pré-noção, que consiste 
em conservar os elementos de uma experiência 
que servirá para alcançar objetivos e dar inícios 
teóricos (como ponto de partida) para a apreensão 
de conhecimentos posteriores (MARCONDES, 1997).
A sua ética, segundo Marcondes (1997), tem 
por princípio a felicidade (ou eudaimonia) que se 
obtém da ataraxia, que é traduzida como tranquili-
dade, como visto anteriormente. O que faz o homem 
alcançar a ataraxia é a sua forma de agir, que deve 
estar em acordo com a liberação de seus desejos 
e necessidades características de sua natureza. 
Essa liberação de impulsos naturais precisa ser 
equilibrada. Assim, na ética epicurista, o prazer (ou 
hedoné) é importante e considerado natural. É algo 
positivo quando realizamos nossos desejos de for-
ma espontânea, contudo, deve-se ter moderação, 
54
Anotações: mas nunca a sublimação do prazer (MARCONDES, 
1997). Podemos definir algumas distinções entre 
o que desejamos e que pode ser dividido em três 
grupos: 1) naturais e necessários, como os dese-
jos de comer, beber e dormir. 2) desejos naturais e 
desnecessários, como os desejos de comer alimen-
tos refinados, tomar bebidas especiais e caras,3) 
os não naturais e desnecessários, como os desejos 
de riqueza, fama e poder.
Contentar-se com pouco seria o segredo do 
prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida, 
não há decepção, e um grande prazer pode advir de 
um simples copo de água. Segundo Cotrim (2016, p. 
30), “gozar o prazer eventual de um banquete ou de 
um cargo elevado não é proibido, mas não deveria 
ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde, 
viriam a insatisfação, o desprazer, a infelicidade”. 
Deve-se agir com prudência racional, por isso, 
de acordo com Marcondes (1997), os epicuristas 
valorizavam a phronesis, que pode ser entendida 
como inteligência prática, pois quando há este tipo 
de inteligência, nem a razão, nem a paixão entram 
em conflito.
Outro ensinamento importante na filosofia 
epicurista, conforme Cotrim (2016), é que Epicu-
ro dizia que se devia eliminar algumas crenças, 
consideradas pelo filósofo como uma das princi-
pais causas de angústia e infelicidade. Elas são 
preocupações religiosas e superstições sobre-
naturais, o que manifesta em nós um temor im-
posto por tais crenças ou religiões, por exemplo, os 
gregos temiam muito ofender seus deuses e serem 
terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob 
o pavor de que forças divinas interferissem em suas 
55
Anotações:vidas, mudassem sua sorte ou tirassem-lhes os en-
tes queridos.
Mediante a compreensão materialista do 
universo e do ser humano, próprias à ética de 
Epicuro, ele sustentava que as pessoas também 
deveriam se livrar de outro grande fator de angústia 
e infelicidade: o medo da morte. A sua ideia é exposta 
em uma das cartas mais célebres da História da 
Filosofia, a saber, a Carta sobre a felicidade, desta 
forma ele escreve (1997, p. 27-28.) o seguinte:
Acostuma-te à ideia de que a morte 
para nós não é nada, visto que todo 
bem e todo mal residem nas sen-
sações, e a morte é justamente a 
privação das sensações. A consciên-
cia clara de que a morte não significa 
nada para nós proporciona a fruição 
da vida efêmera, sem querer acres-
centar-lhe tempo infinito e elimi-
nando o desejo de imortalidade. [...] 
quando estamos vivos, é a morte 
que não está presente; ao contrário, 
quando a morte está presente, nós é 
que não estamos. 
Em outras palavras, as sensações estão 
ligadas ao ato de temperança, ou seja, em virtude de 
quem é moderado e, assim, tendo esse pensamento, 
a morte não seria nada, mas a consciência de que 
se deve aproveitar a vida, mesmo porque ela é 
passageira e que se vive por um tempo determinado 
na terra. 
56
Anotações: O Ceticismo
A tradição cética, conforme Marcondes (1997) 
é formada por diversas concepções do ceticismo, 
pois não há um marco histórico que dê sinal de 
quando ela tenha começado, assim como não há 
um grande pensador inaugural. O que se conhece 
sobre o ceticismo antigo vem dos escritos de Sex-
to Empírico, mais especificamente no texto Hipo-
tiposes Pirrônicas. Uma das afirmações centrais 
presentes nesse texto é a diferença entre as aca-
demias (filosóficas), de pensadores como Clitôma-
co e de Carnéades, e o pensamento cético. 
As primeiras afirmavam ser impossível 
encontrar a verdade, enquanto os céticos, 
consideravam-se os verdadeiros mestres, pois 
continuavam as suas investigações sempre em 
busca da verdade. Em termos gerais, a afirmação de 
que seria impossível alcançar a verdade já era uma 
forma dogmática. Isto não caracteriza a posição 
cética pois o ceticismo tinha como proposta 
suspender o juízo quanto à possibilidade de algo 
ser verdadeiro ou falso. Sexto empírico afirma que 
a filosofia de Pirro de Élis pode ser considerada 
autenticamente cética. Assim, o pirronismo pode 
equivaler ao sentido de ceticismo.
Segundo Marcondes (1997), tudo aquilo que 
conhecemos de Pirro e do que ficou conhecido 
como ceticismo pirrônico, vem do seu discípulo, 
provavelmente o único, Tímon, e é dele que podemos 
encontrar alguns fragmentos. O próprio Pirro não 
escreveu uma obra expressando o seu pensamento. 
Ele está inserido no grupo de filósofos, comoSócrates, que não tinham um sistema ou doutrina, 
57
Anotações:mas acredita na Filosofia como uma atitude. Dele 
pode-se extrair algumas questões centrais, como: 
qual a natureza das coisas? Não podemos conhecer 
as coisas tais como elas são trazidas através dos 
sentidos e da razão, por meio delas fracassamos. 
Como agir em relação à realidade que nos cerca? 
Devemos evitar assumir alguma posição em 
relação ao conhecimento da natureza das coisas, 
justamente, porque não a conhecemos. Quais 
as consequências de tal atitude? O que nos traz 
tranquilidade é quando nos mantemos à distância 
de tais interesses. Assim como as escolas estoicas 
e epicuristas, Pirro buscava alcançar a felicidade, 
através da ataraxia que, como já vimos, trata-se da 
tranquilidade.
Marcondes (1997) afirma que o ceticismo pode 
ser definido por seu procedimento específico, em 
que o filósofo que busca a verdade, ao se frontar 
com diversas tendências dogmáticas, vê que não há 
um critério decisivo sobre aquelas que apresentam 
suas "verdades", como válidas porque dependem de 
sua própria teoria para sustentá-las, fazendo com 
que todas elas estejam no mesmo nível, o que leva o 
cético à constatação de que estão no mesmo grau 
de potência. Como essas tendências entram em 
conflito, excluindo-se, de maneira mútua, porque 
cada uma apresenta a sua verdade como única, 
impossibilita-se a decisão sobre aquela que seria a 
melhor tendência a ser seguida. O cético suspende 
o seu juízo e, quando o faz, sente-se em estado de 
tranquilidade.
58
Anotações: FILOSOFIA MEDIEVAL: AS FILOSOFIAS 
DE SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS 
DE AQUINO 
Segundo Costa (2004), no período em que a 
sociedade greco-romana passava por declínio, o 
pensamento filosófico do Ocidente passou a se 
preocupar com a salvação do ser humano, que se 
daria num mundo metafísico. Assim, acabaram 
por deixar de lado as investigações a respeito da 
natureza e sobre o caminho para a felicidade. O 
pensamento cristão se estendeu pelo império 
romano, entre a classe mais abastada, a partir do 
século III. 
Marcondes (1997) observa que, embora tenha 
havido um período de transição do pensamento 
helenista para o cristianismo, este surgiu no 
contexto do próprio helenismo. A cultura helenista, 
uma cultura propícia, foi fundamental para que 
houvesse uma aproximação entre a filosofia grega 
e a cultura do judaísmo. Isto quer dizer que, mesmo 
que o cristianismo tenha sido originado como 
vertente do judaísmo, desenvolveu-se mediante a 
cultura helenista, portanto, o pensamento cristão é 
uma síntese da religião judaica e da cultura grega 
(MARCONDES, 1997, p. 115-116). O autor ainda mostra 
que havia duas concepções que pensavam a relação 
entre a Filosofia grega e o cristianismo. 
Uma defendia a presença da Filosofia grega 
no pensamento cristão e aproximava algumas obras 
de Platão à narrativa bíblica, bem como o papel 
de ensinamento, que é próprio à Filosofia, com a 
intenção de preparar o espírito dos convertidos para 
as revelações do livro da Bíblia. Sócrates, Platão e os 
59
Anotações:filósofos estoicos eram vistos como os pensadores 
precursores do pensamento cristão, mesmo que 
não tenham conhecido os ensinamentos de Cristo 
porque nasceram muito tempo antes dele. A outra 
era dos teólogos que não viam a Filosofia como 
pensamento religioso e advertiam aos demais 
religiosos que a Filosofia grega estava distante da 
mensagem do cristianismo. Esses consideravam 
o método filosófico nocivo por se tratar de um 
método que traz a discussão como a forma, assim, 
a Filosofia grega era vista como prática pagã. 
Sendo assim, a posição dos defensores de uma 
teologia que se desenvolveu através da Filosofia só 
apareceu no período em que a Igreja passava por 
concílios, que eram reuniões onde os cargos mais 
altos da igreja, constituídos por bispos e líderes, 
deliberavam os dogmas a serem seguidos. Foi 
neste período que a Filosofia grega foi incorporada, 
definitivamente, ao pensamento cristão. 
A seguir, veremos alguns dos principais 
teólogos deste período, cuja linha religiosa 
apresenta uma enorme filiação com o método e o 
pensamento filosófico.
 
Santo Agostinho
Segundo Costa (2004), Agostinho de Hipona 
(354 – 430 d.C.) foi bispo e trouxe para a Igreja, junto 
a outros teólogos, a valorização da razão. Aliada à 
razão estava a emoção religiosa dos ensinamentos 
de Jesus Cristo e de seus apóstolos. Essa aliança 
formada entre a razão e a emoção, própria aos 
ensinamentos cristãos, fundou um sistema de 
pensamento, uma doutrina cristã. A Filosofia de 
60
Anotações: Platão se manteve presente na doutrina cristã até o 
século XIII por causa de sua influência na igreja e foi 
neste período que a Filosofia patrística originou-se.
A sua Filosofia se baseia no pensamento 
de Plotino, um neoplatonista (corrente derivada 
das teorias de Platão), Porfírio, nos ensinamentos 
de São Paulo e no Evangelho de São João. Assim, 
a partir de Agostinho, a Teologia passou a ser 
pensada como uma ciência e, a partir dela segundo 
seus dogmas, o homem precisa se dedicar para 
salvar a sua alma como uma forma de recompensa 
(MARCONDES, 1997).
Essa da aproximação feita por ele entre Platão 
e o cristianismo ficou conhecida como Platonismo 
Cristão, uma espécie de corrente interna da Igreja. 
Neste sentido, Agostinho formulou a primeira sín-
tese reconhecida historicamente entre a Filosofia 
grega e o cristianismo. As suas contribuições fun-
damentais para o desenvolvimento da Filosofia são 
três: a relação entre Teologia e Filosofia, portanto, 
entre a razão e fé; a questão da subjetividade e da 
interioridade como questões centrais da teoria do 
conhecimento e a obra Cidade de Deus, cuja a teoria 
da história foi fundamental naquele período. 
A originalidade de Agostinho está justamente 
em ter desenvolvido a noção de interioridade e 
o conceito de subjetividade. A posição interior é 
considerada o âmbito da verdade, fazendo uma 
oposição ao exterior. A sua famosa frase “No homem 
interior habita a verdade” deriva desta teoria que 
tem como princípio o olhar do homem para dentro 
de si, porque ao olhar para o interior é possível 
compreender a verdade divina. (MARCONDES, 1997)
Santo Agostinho não foi o primeiro a realizar 
uma teoria da história como, observa Marcondes 
61
Anotações:(1997), contudo, a sua noção é diferente das 
anteriores, porque havia a noção de tempo 
histórico, que se tornou uma grande influência no 
Ocidente. Ela foi inovadora por trazer a história 
como possuidora de um sentido, direcionada e 
marcada por um começo e um ponto final, que 
é o retorno ao lugar de origem. Isto significa que, 
para o filósofo de Hipona, a história não é cíclica no 
sentido de que não possua um começo e um fim, e 
os acontecimentos não são resultados fatalistas, 
de um destino implacável, como era na concepção 
dos gregos antigos, mas possuem sentido e podem 
ser interpretados como sinais da revelação divina.
Tomás de Aquino 
No período de Tomás de Aquino (1225-1274), 
a Europa passava por mudanças estruturais, 
e também de mentalidade. Em sua época 
havia universidades e ordens religiosas, como 
a dominicana e a franciscana que podem ser 
consideradas expressões dessas transformações. 
A ordem religiosa de Aquino era a dominicana, ele 
manteve vínculo com as universidades, sendo a 
universidade de Paris uma das que mais frequentou 
(MARCONDES, 1997). 
A sua originalidade está em ter desenvolvido 
um sistema filosófico que passava por todos 
os grandes temas, tanto da Filosofia quanto da 
Teologia. Supera, através da retomada da filosofia 
aristotélica, o platonismo de Santo Agostinho. 
Abriu, assim, uma nova perspectiva para a Filosofia 
Cristã (MARCONDES, 1997). A sua principal obra 
é a Summa Theologica (Suma Teológica) que foi 
62
Anotações: censurada por conter muitas questões tratadas por 
Aristóteles, que é a Filosofia do estagirita.
Uma das contribuições mais importantes 
de Aquino foi o argumento das “cinco vias da 
prova da existência deDeus”, presente em sua 
Suma Teológica, considerado uma das principais 
questões da Filosofia Medieval. Este argumento 
busca demonstrar através de cinco artigos, de 
forma filosófica e racional, a existência de Deus. 
Através destes argumentos, pretende-se entender 
como a fé e a razão se relacionam (MARCONDES, 
1997).
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
MODERNA: O PERÍODO RENASCENTISTA
O termo Renascimento, conforme observado 
por Marcondes (1997) foi utilizado por Giorgio Vasa-
ri, em 1550, na obra Vida dos mais excelentes pin-
tores, escultores e arquitetos. O historiador Jacob 
Burkhardt pegou o termo e o tornou um conceito 
histórico para determinar o período intermediário 
entre o medieval e o moderno, que vai do século 
XV ao XVI. Embora a História da Filosofia não tenha 
utilizado, tradicionalmente, o Renascimento como 
um momento específico de algum dado filosófico 
específico, tratando-o somente como um período 
de transição entre a Idade Média e a Modernidade, 
temos visto cada vez mais pesquisas que mostram 
que este período desenvolveu um pensamento 
característico. Isto ocasionou uma ruptura com a 
escolástica sem, no entanto, ainda ser considerado 
o período moderno. 
O humanismo é uma das principais característi-
cas deste período, e através dele foi possível romper 
63
Anotações:com a concepção teológica medieval, com o Teocen-
trismo e o papel central das ciências naturais após 
Aristóteles ser redescoberto no século XII. No perío-
do renascentista, passou-se a valorizar o interesse 
pelo homem em si, e assim, ele foi considerado um 
ser com dignidade, dotado de liberdade e criação, 
passando a ser visto com capacidade de reproduzir 
a harmonia do cosmo. Portanto, é um microcosmo 
em si mesmo. Neste sentido, o humanismo repre-
sentou um novo pensamento, um novo estilo nas 
artes e uma nova temática nas áreas do conheci-
mento (MARCONDES, 1997).
Segundo Marcondes (1997), os humanistas 
refletiram a necessidade de retomar os clássicos 
para trazer novidades, fosse na política ou na arte. 
Petrarca (1304-74), poeta italiano do período de 
transição, foi o primeiro pensador a rejeitar a teo-
logia medieval e as especulações metafísicas. Ele é 
considerado o primeiro humanista. Dante Alighieri 
(1265-1321) escreveu seu famoso poema A Divina 
Comédia e inaugurou este novo estilo de pensar a 
arte. Erasmo de Rotterdam (1466-1533), que es-
creveu a obra O elogio da loucura, e Thomas Morus 
(1478-1535), que escreveu a famosa obra Utopia, re-
tomaram os princípios da virtude moral estoica e 
epicurista para aplicá-las na política. O mais famo-
so dos teóricos políticos é Nicolau Maquiavel (1469-
1527), autor de uma das obras mais importantes da 
teoria política, O príncipe.
 Na obra, Maquiavel elabora uma análise de 
diferentes momentos históricos onde governantes 
que tiveram o poder, o perderam. A sua intenção 
era a de pensar questões pragmáticas e empíri-
cas do exercício de poder, separando a política das 
64
Anotações: questões morais. Traz nele uma nova qualidade de 
virtude, a “virtú”, que não carrega em si a virtude 
cristã. A “virtú” tem em si os elementos da coragem, 
habilidade e persistência, assim, contrariando a 
virtude cristã que pressupõe a piedade e a humil-
dade. Já na filosofia, o filósofo mais famoso deste 
período é Michel de Montaigne (1533-95), que es-
creveu os famosos Ensaios. Francês, representou 
o humanismo individualista, que é caracterizado 
pelo homem equilibrado, culto e sensível, cujo olhar 
crítico é lançado ao seu redor para refletir de for-
ma pessoal, o mundo que o cerca. Os pensamentos 
deste tipo de humanista advêm de sua experiência 
no mundo, contudo não há um sistema ou teoria a 
ser elaborado por ele.
A Modernidade
A Filosofia Moderna surgiu a partir do século 
XV. O pensamento moderno da filosofia fundamen-
tou a interpretação materialista e mecanicista do 
universo, relacionado ao pensamento humano 
como uma só realidade. As transformações políti-
cas e as descobertas da ciência refletiram na in-
teração entre aquelas formas de interpretar o 
mundo. A sua fundamentação está inteiramente 
baseada na razão e é crítica à religiosidade medie-
val. O homem moderno, para compreender o mun-
do e a si mesmo busca no conhecimento a capaci-
dade de compreendê-los, e que se dá a partir da 
teoria do conhecimento. Com ela, a investigação 
leva o homem às condições de conhecer o que é 
verdadeiro (COSTA, 2004).
65
Anotações:Segundo Cotrim (1996), o conhecimento existe 
pela relação entre dois elementos: sujeito e objeto. 
Só há conhecimento quando o sujeito apreende o 
objeto. Quanto à nossa mente, ela torna possível a 
imagem, a ideia e o conceito de um objeto nela mes-
ma sendo capaz de efetivar uma representação das 
coisas mentalmente. O sujeito é a nossa consciên-
cia, isto é, nossa mente, e cabe-lhe o papel de ser 
conhecedor, já o objeto é a realidade (o mundo) e os 
fenômenos. Por fim, o conhecimento surge quando 
nossa mente alcança a capacidade de representar 
o mundo. 
Afirma Costa (2004) que a concepção 
mecanicista do mundo, que o vê como uma 
máquina, derrubou, em certa medida, a concepção 
cosmológica medieval. A visão moderna do 
mundo é a de que ele é constituído por leis 
físicas, sem uma vontade ou finalidade. O homem 
é o centro do universo, portanto, inaugura-se o 
Antropocentrismo, superando a visão medieval 
(teocêntrica) e seu dogmatismo que define uma 
única verdade. Os únicos métodos de investigação 
filosóficos da modernidade são pelas vias da razão 
e da experiência.
Há dois caminhos para alcançar o caminho 
do conhecimento verdadeiro. Um é através do ra-
cionalismo, o outro é através do empirismo. Afir-
ma Chauí (2000) que no racionalismo, a razão é o 
caminho para o conhecimento porque operaria 
por si mesma, sem a necessidade da experiência 
sensível e que teria a capacidade de controlá-la. 
Já no empirismo, ao contrário, o caminho para o 
conhecimento é a experiência sensível, que seria 
a fornecedora das ideias racionais, e que teria a 
66
capacidade de controlar a razão. Porém, cabe res-
saltar que nenhum destes caminhos metodológicos 
anulam o ideal de tornar o entendimento do ser hu-
mano em um objeto da Filosofia, o que é consenso 
entre os filósofos modernos.
O pensamento de René Descartes
Figura 3: René Descartes
FONTES PRIMEIRAS
Racionalismo Empirismo
Dedinição
A palavra racionalismo vem 
do latim ratio que significa 
razão.
A palavra empirismo vem do 
grego emperia que significa 
experiência.
Origem do 
conhecimento
A razão é a origem do 
conhecimento.
A experiência é a origem do 
conheicmento.
Principais 
autores Descartes e Leibniz Locke e Hume
Palavras-chave
Razão, principais inatos e 
principais lógicos.
Experiência, tábua rasa e 
sentidos.
67
Anotações:René Descartes (1596-1650) é reconhecido por 
fundar o método cartesiano e inaugurar o pensa-
mento moderno na Filosofia. Ele se insere na história 
do pensamento como um dos representantes da 
vertente Racionalista. Esta doutrina se apoia na 
razão como fundamento de todo o conhecimento. 
O seu método cartesiano tinha como instrumento 
a matemática, tornando-a base para a ciência de 
modo geral. Uma das características centrais do 
cartesianismo é a dúvida metódica como princípio 
de investigação e é através dela que podemos pôr 
em questão todas as nossas certezas (COSTA, 
2004).
 Cotrim aponta (2017) que os passos da dúvi-
da metódica, constituem a parte mais conhecida 
de seu método. Contudo, ela não se resume a estes 
passos, pois corresponde (de forma mais ampla) a 
uma postura criteriosa de investigação filosófica. 
Os passos são: 1) Jamais aceitar como verdadeira 
coisa alguma que não estivesse tão clara na minha 
mente que não restasse dúvidas de sua verdade, 2) 
Dividir cada dificuldade em tantas partes quanto 
possível e necessário para resolvê-la, 3) Organizar 
os pensamentos, iniciando pelos assuntos mais fá-
ceis e simples e progredindo gradativamente para 
os mais complexos, 4) Fazer, para cada caso, enu-
merações

Outros materiais