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Fogo e Sangue: Volume 1

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Volume 1
tradução 
Leonardo Alves e Regiane Winarski
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Copyright © 2018 by George R.R. Martin 
Copyright das ilustrações © 2018 by Doug Wheatley
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, 
que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Partes deste livro foram publicadas anteriormente, algumas em versões abreviadas, em: 
“A conquista”, publicado em O mundo de gelo e fogo de George R.R. Martin, 
Elio M. García, Jr. e Linda Antonssen, copyright © 2014 by George R.R. Martin;
“Os filhos do Dragão”, publicado em Crônicas de espada e feitiçaria 
(editado por Gardner Dozois), copyright © 2017 by George R.R. Martin; 
“A princesa e a rainha”, publicado em Mulheres perigosas (editado por George R.R. Martin 
e Gardner Dozois), copyright © 2013 by George R.R. Martin e Gardner Dozois;
“O príncipe de Westeros”, publicado em O príncipe de Westeros 
e outras histórias (editado por George R.R. Martin e Gardner Dozois), 
copyright © 2014 by George R.R. Martin e Gardner Dozois.
Fogo e sangue é uma obra de ficção. Nomes, lugares e acontecimentos são produtos 
da imaginação do autor ou usados aqui de maneira fictícia. Qualquer semelhança 
com locais, eventos ou pessoas reais, vivas ou mortas, é pura coincidência. 
Título original 
Fire and Blood
Capa 
Julio Mariutti
Ilustração de capa 
Jean-Michel Trauscht
Preparação 
Raphani Margiotta
Revisão 
Márcia Moura 
Dan Duplat
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) 
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)
Martin, George R.R.
Fogo e sangue, vol. 1 / George R.R. Martin ; tradução 
Leonardo Alves e Regiane Winarski. – 1ª ed. – Rio de 
Janeiro : Suma, 2018.
Título original: Fire and Blood. 
isbn 978-85-5651-076-1
1. Ficção fantástica norte-americana i. Título. 
ii. Série
18-20091 cdd-813
Índice para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura norte-americana 813
Iolanda Rodrigues Biode — Bibliotecária — crb-8/10014
[2018] 
Todos os direitos desta edição reservados à 
editora schwarcz s.a. 
Praça Floriano, 19, sala 3001 — Cinelândia 
20031-050 — Rio de Janeiro — rj 
Telefone: (21) 3993-7510 
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Para Lenore, Elias, Andrea e Sid, os Mountain Minions
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Sumário 
A Conquista de Aegon ................................................................................................... 11
Reinado do Dragão: As guerras do rei Aegon i .................................................... 31
Três cabeças tinha o dragão: O governo do rei Aegon i ....................................... 42
Os filhos do dragão ........................................................................................................ 51
De príncipe a rei: A ascensão de Jaehaerys i ...................................................... 97
O ano das três noivas: 49 dc ............................................................................... 111
Uma abundância de governantes ................................................................................ 128
Um tempo de testes: Um reino refeito ......................................................................... 153
Nascimento, morte e traição sob o governo do rei Jaehaerys i ............................ 169
Jaehaerys e Alysanne: Triunfos e tragédias ................................................................ 197
O longo reinado Jaehaerys e Alysanne: Política, progênie e provação ................... 234
Herdeiros do dragão: Uma questão de sucessão ......................................................... 289
A morte dos dragões: Os pretos e os verdes ................................................................ 331
A morte dos dragões: Um filho por um filho ............................................................... 349
A morte dos dragões: O dragão vermelho e o dourado ............................................. 361
A morte dos dragões: Rhaenyra triunfante ................................................................. 388
A morte dos dragões: Rhaenyra destituída ................................................................. 427
A morte dos dragões: O breve e triste reinado de Aegon ii .................................. 464
O momento posterior: A hora do lobo ......................................................................... 480
Sob os regentes: A Mão encapuzada ............................................................................. 499
Sob os regentes: Guerra e paz e exposição de gado .................................................... 521
Sob os regentes: A viagem de Alyn Punho de Carvalho ............................................ 546
A Primavera Lysena e o fim da regência ..................................................................... 561
A sucessão Targaryen: Datada dos anos após a Conquista de Aegon ...................... 594
Linhagem Targaryen ...................................................................................................... 596
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Fogo & Sangue
Uma história dos reis 
Targaryen de Westeros
r
Volume 1
Desde Aegon I (o Conquistador) 
até a regência de 
Aegon I I I ( Desgraça dos Dragões)
Por arquimeistre Gyldayn, 
da Cidadela de Vilavelha
(transcrito aqui por George R.R. Martin)
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A Conquista de Aegon 
Os meistres da Cidadela que registram as histórias de Westeros usaram a Conquista 
de Aegon como marco de toque ao longo dos últimos trezentos anos. As datas de nas-
cimentos, mortes, batalhas e outras ocasiões são classificadas ora como dc (Depois 
da Conquista), ora como ac (Antes da Conquista).
Eruditos genuínos sabem que essa datação está longe de ser precisa. A conquista 
dos sete reinos por Aegon Targaryen não ocorreu em um único dia. Passaram-se mais 
de dois anos entre o desembarque de Aegon e sua coroação em Vilavelha... e mesmo 
nesse momento a Conquista continuava incompleta, visto que Dorne permaneceu 
insubmissa. Tentativas esporádicas de trazer os dorneses ao domínio persistiram 
durante todo o reinado de Aegon e por boa parte do reinado de seus filhos, de modo 
que é impossível determinar uma data exata para o fim das Guerras da Conquista.
Até mesmo a data de início é alvo de equívocos. Muitos presumem, erroneamen-
te, que o reinado de Aegon i Targaryen começou no dia em que ele desembarcou na 
foz da Torrente da Água Negra, sob as três colinas que viriam a se tornar a cidade de 
Porto Real. Não é verdade. O dia do Desembarque de Aegon foi celebrado pelo rei e 
por seus descendentes, porém, na realidade, o Conquistador considerava o início de 
seu reinado o dia em que ele foi coroado e ungido no Septo Estrelado de Vilavelha 
pelo Alto Septão da Fé. Essa coroação ocorreu dois anos após o Desembarque de Ae-
gon, muito depois de todas as três maiores batalhas das Guerras da Conquista terem 
sido travadas e vencidas. Assim, pode-se considerar que a maior parte da verdadeira 
conquista de Aegon aconteceu entre 2 e 1 ac, Antes da Conquista.
Os Targaryen tinham puro sangue valiriano, eram senhores de dragões de linha-
gem ancestral. Doze anos antes da Destruição de Valíria (114 ac), Aenar Targaryen 
vendeu suas propriedades na Cidade Franca e nas Terras do Longo Verão e se mudou, 
com suas esposas, sua fortuna, seus escravos, dragões, irmãos, parentes e filhos para 
Pedra do Dragão, uma cidadela insular desolada sob uma montanha fumegante no 
mar estreito.
Em seu auge, Valíria foi a maior cidade do mundo conhecido, o centro da civili-
zação. Atrás de seus muros reluzentes, dezenas de casas rivais disputavam o poder e 
a glória na corte e no conselho, ascendendo e caindo em uma luta interminável, sutil 
e muitas vezes selvagempela dominação. Os Targaryen estavam longe de ser os mais 
poderosos dentre os senhores dos dragões, e seus rivais encararam a fuga deles para 
Pedra do Dragão como um ato de rendição e de covardia. Mas Daenys, a filha donzela 
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do lorde Aenar que para sempre viria a ser conhecida como Daenys, a Sonhadora, 
havia antevisto a ruína de Valíria pelo fogo. E, com o advento da Destruição, doze 
anos depois, os Targaryen foram os únicos senhores dos dragões a sobreviver.
Pedra do Dragão fora durante dois séculos o posto avançado mais ocidental do 
domínio valiriano. Sua localização, defronte a Goela, proporcionava aos senhores o 
controle da Baía da Água Negra e permitia que tanto os Targaryen quanto seus aliados 
próximos, os Velaryon de Derivamarca (uma casa menor de ascendência valiriana), 
enchessem seus cofres com o comércio que passava por ali. Os navios dos Velaryon, 
assim como os de outra casa valiriana aliada, os Celtigar de Ilha da Garra, dominavam 
extensões a médio alcance do mar estreito, enquanto os Targaryen governavam os 
céus com seus dragões.
Contudo, ainda assim, durante quase cem anos após a Destruição de Valíria (que 
receberia a pertinente alcunha Século do Sangue), a Casa Targaryen manteve os olhos 
no leste, não no oeste, e pouco se interessou pelos assuntos de Westeros. Gaemon 
Targaryen, irmão e marido de Daenys, a Sonhadora, sucedeu Aenar, o Exilado como 
Senhor de Pedra do Dragão e se tornou conhecido como Gaemon, o Glorioso. Seu 
filho Aegon e sua filha Elaena governaram juntos após sua morte. Depois, o título foi 
passado ao filho deles, Maegon, ao irmão dele, Aerys, e aos filhos de Aerys: Aelyx, 
Baelon e Daemion. O último dos três irmãos era Daemion, cujo filho, Aerion, então 
os sucedeu em Pedra do Dragão.
O Aegon que entraria para a história como Aegon, o Conquistador, e Aegon, o 
Dragão, nasceu em Pedra do Dragão em 27 ac. Foi o segundo filho, e único menino, de 
Aerion, Senhor de Pedra do Dragão, e da senhora Valaena, que era também Targaryen 
pelo lado da mãe. Aegon teve duas irmãs legítimas: uma mais velha, Visenya, e uma 
mais nova, Rhaenys. Era um antigo costume entre os senhores dos dragões de Valíria 
o casamento entre irmão e irmã, para preservar a pureza da linhagem, mas Aegon 
desposou suas duas irmãs. Pela tradição, teria sido de esperar que ele se casasse apenas 
com a irmã mais velha, Visenya; a inclusão de Rhaenys como sua segunda esposa era 
incomum, ainda que não sem precedentes. Houve quem dissesse que Aegon desposou 
Visenya por dever e Rhaenys por desejo.
Todos os três irmãos tinham se revelado senhores dos dragões antes de se casa-
rem. Dos cinco dragões que haviam voado com Aenar, o Exilado, a partir de Valíria, 
apenas um ainda vivia na época de Aegon: o grande animal chamado Balerion, o 
Terror Negro. Os dragões Vhagar e Meraxes eram mais jovens, nascidos na própria 
Pedra do Dragão.
Um mito comum, muito frequente entre os ignorantes, afirma que Aegon Targa-
ryen jamais havia posto os pés no solo de Westeros antes do dia em que zarpou para 
conquistar o continente, mas isso não pode ser verdade. Anos antes dessa viagem, a 
Mesa Pintada fora esculpida e decorada por ordem do lorde Aegon: uma placa colos-
sal de madeira, com cerca de quinze metros de comprimento, esculpida no formato 
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de Westeros e pintada para representar todas as florestas e cidades, todos os rios e 
castelos dos Sete Reinos. Claramente, o interesse de Aegon por Westeros era muito 
anterior aos acontecimentos que o levaram à guerra. Ademais, existem registros con-
fiáveis de que Aegon e a irmã Visenya visitaram a Cidadela de Vilavelha na juventude 
e falcoaram na Árvore a convite do lorde Redwyne. É possível que ele também tenha 
visitado Lannisporto; os registros divergem.
A Westeros da juventude de Aegon estava dividida entre sete reinos conflituosos, 
e raros foram os momentos em que não havia alguma guerra entre dois ou três desses 
reinos. O vasto, frio e pedregoso Norte era governado pelos Stark de Winterfell. Nos 
desertos de Dorne, o domínio pertencia aos príncipes Martell. As terras ocidentais 
ricas em ouro eram regidas pelos Lannister de Rochedo Casterly, e a fértil Campina, 
pelos Gardener de Jardim de Cima. O Vale, os Dedos e as Montanhas da Lua per-
tenciam à Casa Arryn... mas os reis mais beligerantes na época de Aegon eram os 
dois cujos domínios ficavam mais próximos de Pedra do Dragão: Harren, o Negro, e 
Argilac, o Arrogante.
No passado, de sua grande cidadela em Ponta Tempestade, os Reis da Tempes-
tade da Casa Durrandon haviam governado a metade oriental de Westeros, desde o 
Cabo da Fúria até a Baía dos Caranguejos, mas seus poderes minguaram ao longo 
dos séculos. Os reis da Campina abocanharam porções de seus domínios a oeste, 
os dorneses os acossaram pelo sul, e Harren, o Negro, e seus homens de ferro os 
expulsaram do Tridente e das terras ao norte da Torrente da Água Negra. O rei 
Argilac, o último Durrandon, havia interrompido esse declínio por algum tempo, 
rechaçando uma invasão dornesa quando ainda era menino, atravessando o mar 
estreito para se unir à grande aliança contra os “tigres” imperialistas de Volantis, 
e matando Garse vii Gardener, rei da Campina, na Batalha de Campo Estival vinte 
anos depois. Mas Argilac envelhecera; sua famosa cabeleira negra ficara grisalha, 
e sua habilidade com as armas minguara.
Ao norte da Água Negra, as terras fluviais eram governadas pela mão brutal de 
Harren, o Negro, da Casa Hoare, Rei das Ilhas e dos Rios. Harwyn Mão-Dura, o avô de 
ferro de Harren, tomara o tridente do avô de Argilac, Arrec, cujos antepassados haviam 
derrubado o último dos reis fluviais séculos antes. O pai de Harren estendera seus 
domínios para o leste de Valdocaso e Rosby. O próprio Harren dedicara a maior parte 
de seu longo reinado, quase quarenta anos, à construção de um castelo gigantesco ao 
lado do Olho de Deus, mas, como Harrenhal finalmente se aproximava da conclusão, 
os homens de ferro logo estariam livres para partir em busca de novas conquistas.
Nenhum rei de Westeros era mais temido do que Harren Negro, cuja crueldade 
se tornara lendária por todos os Sete Reinos. E nenhum rei de Westeros se sentia mais 
ameaçado que Argilac, o Rei da Tempestade, último Durrandon, um guerreiro idoso 
cuja única herdeira era uma filha donzela. Foram essas as circunstâncias que fizeram 
o rei Argilac buscar os Targaryen em Pedra do Dragão e oferecer ao lorde Aegon sua 
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filha em casamento, com todas as terras ao leste do Olho de Deus, desde o Tridente 
até a Torrente da Água Negra, como dote.
Aegon Targaryen rejeitou a proposta do Rei da Tempestade. Ele ressaltou que tinha 
duas esposas; não precisava de uma terceira. E as terras ofertadas como dote haviam 
pertencido a Harrenhal por mais de uma geração. Argilac não tinha o direito de dá-las. 
Na realidade, o idoso Rei da Tempestade pretendia estabelecer os Targaryen ao longo 
da Água Negra como um escudo entre suas próprias terras e as de Harren, o Negro.
O Senhor de Pedra do Dragão fez uma contraproposta. Ele aceitaria as terras 
oferecidas como dote se Argilac também cedesse o Gancho de Massey e as florestas 
e planícies desde o sul da Água Negra até o rio Guaquevai e a nascente do Vago. O 
pacto seria selado pelo casamento da filha de Argilac com Orys Baratheon, amigo de 
infância do lorde Aegon e seu campeão.
Argilac, o Arrogante, recusou com raiva esses termos. Dizia-se à boca pequena 
que Orys Baratheon era um indigno meio-irmão do lorde Aegon, e o Rei da Tem-
pestade não comprometeria a honra da filha ao dar sua mão a um bastardo. A mera 
sugestão o enfurecera. Argilac deu ordem para que as mãos do emissário de Aegon 
fossem decepadas e enviadas de volta em uma caixa. “Estas são as únicas mãos que 
seu bastardo receberá de mim”, escreveu ele.
Aegon não respondeu. Apenas convocou seus amigos, vassalos e principais aliados 
a Pedra doDragão. Seus contingentes eram pequenos. Os Velaryon de Derivamarca 
eram juramentados à Casa Targaryen, assim como os Celtigar de Ilha da Garra. Do 
Gancho de Massey vieram o lorde Bar Emmon de Ponta Afiada e o lorde Massey de 
Bailepedra, ambos juramentados à Ponta Tempestade, mas com vínculo mais forte 
com Pedra do Dragão. O lorde Aegon e suas irmãs os consultaram e também visitaram 
o septo do castelo para rezar aos Sete de Westeros, embora ele nunca antes tivesse 
sido visto como um homem de fé.
No sétimo dia, uma nuvem de corvos alçou voo das torres de Pedra do Dragão 
para levar a palavra do lorde Aegon aos Sete Reinos de Westeros. Aos sete reis eles 
voaram, à Cidadela de Vilavelha, a senhores grandes e pequenos. Todos levavam a 
mesma mensagem: a partir daquele dia, haveria apenas um rei em Westeros. Aque-
les que dobrassem o joelho para Aegon da Casa Targaryen preservariam terras e 
títulos. Aqueles que pegassem em armas contra ele seriam derrocados, humilhados 
e destruídos.
Os registros diferem quanto à quantidade de espadas que zarparam de Pedra 
do Dragão com Aegon e suas irmãs. Alguns dizem três mil; outros, que eram meras 
centenas. Essa modesta hoste Targaryen aportou na foz da Torrente da Água Negra, 
na margem norte onde três colinas cobertas de florestas se elevavam acima de um 
pequeno vilarejo de pescadores.
Nos tempos dos Cem Reinos, muitos reis mesquinhos haviam declarado do-
mínio sobre a foz do rio, incluindo os reis Darklyn de Valdocaso, os Massey de 
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Bailepedra e os antigos reis fluviais, fossem eles os Mudd, os Fisher, os Bracken, os 
Blackwood ou os Hook. Em diversas ocasiões, as três colinas tinham sido coroadas 
com torres e fortes, que sempre acabavam por ser derrubados em uma ou outra 
guerra. Agora, restavam apenas pedras quebradas e ruínas cobertas pela vegetação 
para receber os Targaryen. Embora fosse disputada tanto por Ponta Tempestade 
quanto por Harrenhal, a foz do rio não tinha defesas, e os castelos mais próximos 
eram mantidos por senhores menores, desprovidos de muito poder ou competência 
militar, e senhores que tinham poucos motivos para amar seu suserano oficial, 
Harren, o Negro.
Aegon Targaryen logo erigiu uma paliçada com estacas e barro em torno da 
maior das três colinas e enviou suas irmãs para garantir a submissão dos castelos 
mais próximos. Rosby se rendeu a Rhaenys e aos olhos dourados de Meraxes sem 
lutar. Em Stokeworth, alguns homens armados com bestas dispararam setas contra 
Visenya, até as chamas de Vhagar incendiarem os telhados do castelo. E assim tam-
bém eles se renderam.
O primeiro teste genuíno dos Conquistadores veio com o lorde Darklyn de Val-
docaso e o lorde Mooton de Lagoa da Donzela, que uniram forças e marcharam ao sul 
com três mil homens a fim de expulsar os invasores de volta para o mar. Aegon enviou 
Orys Baratheon para atacá-los durante a marcha, enquanto ele próprio descia dos 
céus com o Terror Negro. Os dois senhores foram mortos na batalha unilateral que 
se seguiu; o filho de Darklyn e o irmão de Mooton depois ofereceram seus castelos 
e juraram lealdade à Casa Targaryen. Na época, Valdocaso era o principal porto de 
Westeros no mar estreito e se tornara uma cidade vasta e abastada graças ao comér-
cio que passava por seus cais. Visenya Targaryen não permitiu que a cidade fosse 
saqueada, mas não hesitou em clamar para si suas riquezas, inflando em muito os 
cofres dos Conquistadores.
Aqui talvez seja um ponto apropriado para tratar das diferenças de caráter entre 
Aegon Targaryen e suas irmãs e rainhas.
Visenya, a mais velha dos três irmãos, era tão guerreira quanto o próprio Aegon 
e se sentia tão à vontade com uma cota de malha quanto com um vestido de seda. Ela 
portava a espada longa valiriana Irmã Sombria e a usava com habilidade, tendo treina-
do junto do irmão desde a infância. Embora fosse dotada dos cabelos loiro-prateados 
e dos olhos violeta de Valíria, sua beleza era ríspida, austera. Mesmo as pessoas que 
mais a amavam consideravam Visenya uma pessoa rígida, séria e impiedosa; havia 
quem dissesse que ela brincava com venenos e se envolvia com feitiçarias sinistras.
Rhaenys, a mais jovem dos três Targaryen, era tudo o que a irmã não era: brinca-
lhona, curiosa, impulsiva, dada a arroubos de fantasia. Rhaenys não era uma guerreira 
genuína, amava música, dança e poesia, e apoiava muitos cantores, saltimbancos e 
marioneteiros. Contudo, dizia-se que Rhaenys passava mais tempo sobre um dragão 
do que o irmão e a irmã juntos, pois voar era o que ela amava acima de tudo. Certa 
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vez ela teria dito que antes de morrer queria voar com Meraxes sobre o Mar do Poente, 
para ver o que havia na margem ocidental. Enquanto ninguém jamais questionava a 
fidelidade de Visenya ao irmão-marido, Rhaenys se cercava de homens jovens e belos 
e — corriam os boatos — até recebia alguns em seus aposentos nas noites em que 
Aegon estava com a irmã mais velha. No entanto, apesar desses boatos, não passava 
despercebido aos olhos da corte que o rei se encontrava dez noites com Rhaenys para 
cada noite com Visenya.
O próprio Aegon Targaryen, estranhamente, era tão enigmático para seus contem-
porâneos quanto o é para nós. Armado com a espada Fogonegro, de aço valiriano, ele 
era considerado um dos maiores guerreiros de sua era, mas não sentia prazer com feitos 
bélicos nem jamais tomava parte em torneios de justa ou corpo a corpo. Sua montaria 
era Balerion, o Terror Negro, mas ele voava apenas para as batalhas, ou para viajar 
rapidamente sobre terra e mar. Sua presença imponente atraía a lealdade dos homens, 
mas ele não possuía nenhum amigo próximo, salvo Orys Baratheon, seu companheiro 
da juventude. As mulheres o procuravam, mas Aegon permanecia fiel às irmãs. Como 
rei, depositava grande confiança nelas e em seu pequeno conselho, deixando a eles 
grande parte das atividades cotidianas da administração do reino… No entanto, não 
hesitava em assumir o controle quando julgava necessário. Embora fosse implacável ao 
lidar com rebeldes e traidores, era generoso com ex-inimigos que dobravam o joelho.
Isso ele demonstrou pela primeira vez no Aegonforte, o tosco castelo de madeira 
e barro que erigira sobre o que desde então e por todo o sempre viria a ser conhecido 
como Colina de Aegon. Após conquistar uma dúzia de castelos e assegurar o domínio 
nos dois lados da foz da Torrente da Água Negra, ele ordenou que os senhores der-
rotados fossem vê-lo. Lá, eles depositaram as espadas aos seus pés, e Aegon mandou 
que se erguessem e ratificou seus direitos sobre terras e títulos. A seus aliados mais 
antigos, ele concedeu novas honras. Daemon Velaryon, Senhor das Marés, tornou-
-se mestre dos navios e recebeu o comando da frota real. Triston Massey, Senhor de 
 Bailepedra, foi intitulado mestre das leis, e Crispian Celtigar, mestre da moeda. E Orys 
Baratheon foi proclamado “meu escudo, meu defensor, minha forte mão direita”. E, 
assim, Baratheon é considerado pelos meistres a primeira Mão do Rei.
Símbolos heráldicos eram uma tradição de longa data entre os senhores de Wes-
teros, mas nunca haviam sido usados pelos senhores dos dragões da antiga Valíria. 
Quando os cavaleiros de Aegon desfraldaram seu grande estandarte de batalha de 
seda, com um dragão vermelho de três cabeças cuspindo fogo sobre um campo negro, 
os senhores viram ali um sinal de que ele se tornara genuinamente um deles, um rei 
supremo digno de Westeros. Quando a rainha Visenya depositou um diadema de 
aço valiriano cravejado de rubis na cabeça do irmão e a rainha Rhaenys o declarou 
“Aegon, primeiro do seu nome, rei de Westeros inteira e escudo do povo”, os dragões 
rugiram e os senhores e cavaleiros gritaram vivas… Mas foi o povo comum, pescadores 
e lavradores e plebeias, quem gritou mais alto.
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Entretanto, os sete reis que Aegon, o Dragão, pretendia destronar não celebraram. 
Em Harrenhal e em Ponta Tempestade,Harren, o Negro, e Argilac, o Arrogante, já 
haviam convocado seus vassalos. No oeste, o rei Mern da Campina cavalgou para o 
norte pela estrada do mar rumo a Rochedo Casterly, a fim de conferenciar com o rei 
Loren da Casa Lannister. A princesa de Dorne enviou um corvo a Pedra do Dragão, 
oferecendo-se para se unir a Aegon contra Argilac, o Rei da Tempestade… mas como 
aliada em condições de igualdade, não como súdita. Outra proposta de aliança veio 
de Ronnel Arryn, o rei menino do Ninho da Águia, cuja mãe pedia todas as terras ao 
leste do Ramo Verde do Tridente em troca do apoio do Vale contra Harren Negro. Até 
mesmo no Norte, o rei Torrhen Stark de Winterfell conferenciou com seus vassalos e 
conselheiros até tarde da noite, debatendo o que fazer a respeito desse pretendente 
a conquistador. Todo o território aguardava ansiosamente para ver aonde Aegon 
iria primeiro.
Dias depois de sua coroação, Aegon pôs novamente seus exércitos em marcha. 
A maior parte de suas forças cruzou a Torrente da Água Negra, seguindo rumo ao 
sul, para Ponta Tempestade, sob o comando de Orys Baratheon. A rainha Rhaenys o 
acompanhava, montada em Meraxes dos olhos dourados e das escamas de prata. A 
frota Targaryen, com Daemon Velaryon, saiu da Baía da Água Negra e virou para o 
norte, em direção a Vila Gaivota e ao Vale. Com eles foram a rainha Visenya e Vhagar. 
E o rei marchou ao noroeste, para Olho de Deus e Harrenhal, a colossal fortaleza que 
era objeto de orgulho e obsessão do rei Harren, o Negro.
As três investidas dos Targaryen enfrentaram ferrenha oposição. Os lordes Errol, 
Fell e Buckler, vassalos de Ponta Tempestade, surpreenderam as unidades avançadas 
da hoste de Orys Baratheon durante a travessia do Guaquevai, abatendo mais de mil 
homens antes de recuarem para dentro da floresta. Uma frota Arryn reunida às pres-
sas, auxiliada por uma dúzia de navios de guerra braavosis, interceptou e derrotou 
a frota Targaryen no litoral de Vila Gaivota. Entre os mortos se encontrava Daemon 
Velaryon, o almirante de Aegon. E o próprio Aegon também foi atacado na margem 
sul do Olho de Deus, não só uma como duas vezes. A Batalha dos Caniços foi uma 
vitória para os Targaryen, mas eles sofreram pesadas baixas na Batalha dos Salgueiros 
Lamentosos, quando dois dos filhos do rei Harren usaram batéis para cruzar o lago 
e atacar sua retaguarda.
Porém, no fim, os inimigos de Aegon não tinham como escapar aos dragões. Os 
homens do Vale afundaram um terço da frota Targaryen e capturaram quase outro 
terço, mas, quando a rainha Visenya desceu do céu, também os navios deles queima-
ram. Os lordes Errol, Fell e Buckler se esconderam em suas florestas, até que a rainha 
Rhaenys soltou Meraxes e uma muralha de fogo varreu a mata, transformando as 
árvores em tochas. E os vitoriosos na Batalha dos Salgueiros Lamentosos, durante a 
travessia de volta no lago rumo a Harrenhal, estavam despreparados quando Balerion 
desceu do céu matinal sobre eles. Os batéis de Harren arderam. Assim como seus filhos.
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Os inimigos de Aegon também se viram afligidos por outros adversários. Enquanto 
Argilac, o Arrogante, reunia suas tropas em Ponta Tempestade, piratas dos Degraus 
desembarcaram nas areias de Cabo da Fúria para tirar proveito da ausência dos 
senhores, e saqueadores dorneses avançaram desde as Montanhas Vermelhas para 
assolar as marcas. No Vale, o jovem rei Ronnel teve que lidar com uma revolta nas Três 
Irmãs, quando os ilhéus renegaram a autoridade do Ninho da Águia e proclamaram 
a senhora Marla Sunderland como rainha.
No entanto, esses foram apenas pequenos inconvenientes em comparação 
com o que recaiu sobre Harren, o Negro. Embora a Casa Hoare tivesse governado 
as terras fluviais por três gerações, os homens do Tridente não cultivavam amor 
algum por seus suseranos de ferro. Harren, o Negro, havia levado milhares de pes-
soas à morte durante a construção de seu grande castelo de Harrenhal, pilhando 
as terras fluviais em busca de materiais e empobrecendo senhores e plebeus com 
seu apetite por ouro. Então as terras fluviais se voltaram contra ele, lideradas pelo 
lorde Edmyn Tully de Correrrio. Chamado à defesa de Harrenhal, Tully decidiu 
se declarar a favor da Casa Targaryen, ergueu o estandarte do dragão sobre seu 
castelo e foi a campo com seus cavaleiros e arqueiros para unir forças com Aegon. 
Seu ato de rebeldia inspirou os outros senhores fluviais. Um a um, os senhores do 
Tridente rejeitaram Harren e se declararam a favor de Aegon, o Dragão. Blackwood, 
Mallister, Vance, Bracken, Piper, Frey, Strong... todos convocaram suas tropas e 
avançaram contra Harrenhal.
Ao se encontrar de repente em menor número, o rei Harren refugiou-se na forta-
leza supostamente inexpugnável. Maior castelo jamais construído em Westeros, Har-
renhal ostentava cinco torres colossais, uma fonte inesgotável de água doce, imensas 
cavernas subterrâneas bem abastecidas de suprimentos e gigantescas muralhas de 
pedra negra mais altas que qualquer escada e grossas demais para serem penetradas 
por qualquer aríete ou destruídas por catapultas. Harren trancou os portões e se 
abrigou com os filhos e aliados que lhe restavam para resistir a um cerco.
Aegon de Pedra do Dragão tinha outros planos. Após unir forças com Edmyn 
Tully e os outros senhores fluviais para cercar o castelo, ele enviou um meistre aos 
portões com uma bandeira de paz, para dialogar. Harren saiu para recebê-lo; um 
homem velho e grisalho, mas ainda imponente em sua armadura negra. Cada rei es-
tava acompanhado de seu porta-estandarte e seu meistre, então as palavras trocadas 
ainda são lembradas.
— Renda-se agora — começou Aegon —, e você ainda poderá ser senhor das 
Ilhas de Ferro. Renda-se agora, e seus filhos viverão para governar depois de você. 
Tenho oito mil homens em volta de suas muralhas.
— O que está em volta das minhas muralhas não me interessa — disse Harren. 
— Essas muralhas são fortes e grossas.
— Mas não tão altas que impeçam a entrada de dragões. Dragões voam.
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— Construí com pedras — disse Harren. — Pedras não queimam.
A isso, Aegon respondeu:
— Ao pôr do sol, sua linhagem chegará ao fim.
Dizem que Harren cuspiu em desprezo e voltou para seu castelo. Depois de entrar, 
ele enviou cada homem sob seu comando aos parapeitos, armados com lanças, arcos 
e bestas, e prometeu terras e riquezas a quem conseguisse abater o dragão.
— Se eu tivesse uma filha, aquele que matar o dragão conquistaria também sua 
mão — proclamou Harren, o Negro. — Mas eu lhe darei uma das filhas de Tully, ou 
todas três, se quiser. Ou pode escolher uma das crias de Blackwood, ou de Strong, 
ou qualquer menina gerada por esses traidores do Tridente, esses senhores de lama 
amarela. — Harren então se recolheu à sua torre e se cercou de sua guarda pessoal 
para cear com os filhos que lhe restavam.
Quando os últimos resquícios de luz do sol desapareceram, os homens de Harren 
Negro observaram fixamente a escuridão que se adensava, agarrados a suas lanças 
e bestas. Ao verem que não aparecia nenhum dragão, alguns talvez tenham pensado 
que as ameaças de Aegon eram vazias. Mas Aegon Targaryen levou Balerion até as 
alturas, através das nuvens, para cima, para cima, até o dragão ficar pequeno como 
uma mosca diante da lua. Só então ele desceu, direto dentro das muralhas do castelo. 
Com asas negras feito breu, Balerion mergulhou na noite e, quando as grandes torres 
de Harrenhal apareceram debaixo dele, rugiu com sua fúria e as cobriu de chamas 
negras, entremeadas de labaredas vermelhas.
Pedras não queimam, alardeara Harren, mas seu castelo não era feito apenas 
de pedra. Madeira e lã, cânhamo e palha, pão e carne salgada e grãos, tudo pegou 
fogo. E tampouco os homens de ferro de Harren eram feitos de pedra. Fumegantes, 
aos gritos, cobertos de chamas, eles correram pelos pátios e caíram dos adarves para 
morrer no chão abaixo. E até pedras rachame fundem sob um fogo quente o bastan-
te. Os senhores fluviais em torno das muralhas do castelo disseram depois que as 
torres de Harrenhal brilharam vermelhas sob a noite, como cinco grandes velas... e, 
como tais, começaram a se retorcer e derreter, conforme regatos de pedra liquefeita 
corriam pelas laterais.
Harren e seus últimos filhos morreram nas chamas que engoliram sua mons-
truosa fortaleza naquela noite. A Casa Hoare morreu com ele, assim como o con-
trole das Ilhas de Ferro sobre as terras fluviais. No dia seguinte, diante das ruínas 
fumegantes de Harrenhal, o rei Aegon aceitou o juramento de lealdade de Edmyn 
Tully, Senhor de Correrrio, e o nomeou senhor supremo do Tridente. Os outros 
senhores fluviais também prestaram juramento; a Aegon, o rei, e a Edmyn Tully, 
seu suserano. Quando as cinzas resfriaram o bastante para que os homens pudes-
sem entrar em segurança no castelo, as espadas dos mortos, muitas destruídas ou 
retorcidas em tripas de aço pelo fogo de dragão, foram recolhidas e enviadas em 
carroças de volta ao Aegonforte.
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Ao sul e ao leste, os vassalos do Rei da Tempestade se mostraram conside-
ravelmente mais leais do que os do rei Harren. Argilac, o Arrogante, reuniu um 
grande exército à sua volta em Ponta Tempestade. A sede dos Durrandon era uma 
fortaleza poderosa, com uma vasta muralha mais grossa ainda do que os muros 
de Harrenhal. Também se considerava que fosse inexpugnável contra ataques. No 
entanto, notícias do fim do rei Harren logo chegaram aos ouvidos de seu antigo 
inimigo, o rei Argilac. Os lordes Fell e Buckler, em recuada do exército que se 
aproximava (o lorde Errol havia morrido), enviaram notícias da rainha Rhaenys e 
seu dragão. O velho rei guerreiro bradou que não pretendia morrer como Harren, 
cozido dentro do próprio castelo feito um leitão com uma maçã na boca. Veterano 
de batalhas, ele decidiria seu próprio destino de espada em punho. Então Argilac, 
o Arrogante, saiu de Ponta Tempestade cavalgando uma última vez, para enfrentar 
seus adversários em um descampado.
A aproximação do Rei da Tempestade não foi nenhuma surpresa para Orys Bara-
theon e seus homens; a rainha Rhaenys, voando com Meraxes, vira a saída de Argilac 
de Ponta Tempestade e pôde transmitir à Mão um relato completo do tamanho e da 
posição das forças inimigas. Orys assumiu uma posição forte nas colinas ao sul de 
Portabronze e aguardou ali, em terreno elevado, a chegada dos homens da tempestade.
Quando os exércitos se encontraram, as terras da tempestade fizeram jus ao 
nome. Uma chuva constante começou a cair naquela manhã e, ao meio-dia, era já 
uma tormenta feroz. Os vassalos do rei Argilac o instaram a adiar o ataque para o dia 
seguinte, na esperança de que a chuva parasse, mas as forças do Rei da Tempestade 
eram quase duas vezes maiores que as dos Conquistadores, e ele tinha quase quatro 
vezes mais cavaleiros e cavalos pesados. A visão dos estandartes Targaryen encharcados 
tremulando em suas próprias colinas o enfureceu, e o velho e experiente guerreiro 
não deixou passar despercebido o fato de que o vento soprava a chuva a partir do 
sul, contra o rosto dos homens Targaryen nas colinas. Então Argilac, o Arrogante, 
deu a ordem de ataque, e assim começou a batalha que entrou para a história como 
Tempestade Final.
O combate se estendeu noite adentro; um banho de sangue, e muito menos uni-
lateral do que a conquista de Harrenhal por Aegon. Três vezes Argilac, o Arrogante, 
liderou seus cavaleiros contra as posições de Baratheon, mas o aclive era íngreme e 
a chuva deixara o solo mole e lamacento, então os cavalos de batalha se debatiam e 
atolavam, e as investidas perdiam toda a coesão e o ímpeto. Os homens da tempesta-
de se saíram melhor quando mandaram os lanceiros subir a pé. Cegados pela chuva, 
os invasores só os viram se aproximando quando já era tarde demais, e as cordas 
molhadas dos arcos tornaram os arqueiros inúteis. Uma colina caiu, e outra, e então 
a quarta e última investida do Rei da Tempestade e seus cavaleiros rompeu o centro 
de Baratheon... para se verem diante da rainha Rhaenys e de Meraxes. Mesmo em 
solo, o dragão se mostrou formidável. Dickon Morrigen e o Bastardo de Portonegro, 
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no comando da vanguarda, foram engolidos pelo fogo de dragão, assim como os ca-
valeiros da guarda pessoal do rei Argilac. Os cavalos de batalha entraram em pânico 
e fugiram apavorados, atropelando os cavaleiros que estavam atrás e transformando 
a investida em caos. O próprio Rei da Tempestade foi derrubado da sela.
Porém, ainda assim Argilac continuou a lutar. Quando Orys Baratheon desceu 
pela encosta lamacenta com os próprios homens, viu o velho rei enfrentando meia 
dúzia de homens, com outros tantos cadáveres aos seus pés.
— Afastem-se — exigiu Baratheon.
Ele desmontou, e ficou diante de Argilac em igualdade de condições, e ofereceu 
ao Rei da Tempestade uma última chance de se render. Argilac preferiu insultá-lo. 
Então eles lutaram, o velho rei guerreiro de fartos cabelos brancos e a feroz Mão de 
barba negra de Aegon. Dizem que cada homem infligiu um ferimento no outro, mas, 
no fim, o último Durrandon conseguiu seu desejo e morreu com uma espada na mão 
e uma praga nos lábios. A morte do rei eliminou toda a disposição dos homens da 
tempestade, e, conforme a notícia da queda de Argilac se espalhava, os senhores e 
cavaleiros da tempestade largaram suas espadas e fugiram.
Durante alguns dias, temeu-se que Ponta Tempestade pudesse sofrer o mesmo 
destino de Harrenhal, pois Argella, a filha de Argilac, trancou os portões diante da 
vinda da hoste de Baratheon e Targaryen e se declarou Rainha da Tempestade. Em 
vez de se renderem, os defensores de Ponta Tempestade morreriam até o último 
homem, prometeu ela quando a rainha Rhaenys voou com Meraxes para dentro do 
castelo a fim de dialogar.
— Você pode tomar meu castelo, mas ganhará apenas ossos e sangue e cinzas 
— anunciou ela. Porém os soldados da guarnição não se mostraram tão interessados 
em morrer. 
Naquela noite, eles içaram uma bandeira de paz, abriram o portão do castelo e 
entregaram a senhora Argella amordaçada, acorrentada e nua ao acampamento de 
Orys Baratheon.
Diz-se que Baratheon soltou suas correntes com as próprias mãos, envolveu o 
corpo dela com seu manto, serviu-lhe vinho e conversou com ela delicadamente, 
contando-lhe da coragem de seu pai e da forma como ele morrera. E, depois, para 
honrar o rei derrubado, ele assumiu para si as armas e o lema de Durrandon. O 
veado coroado se tornou seu símbolo, Ponta Tempestade, sua sede, e a senhora 
Argella, sua esposa.
Agora que tanto as terras fluviais quanto as terras da tempestade estavam sob o 
controle de Aegon, o Dragão, e seus aliados, os outros reis de Westeros perceberam 
claramente que a vez deles chegaria. Em Winterfell, o rei Torrhen convocou seus 
vassalos; devido às imensas distâncias no Norte, ele sabia que levaria tempo até 
conseguir formar um exército. A rainha Sharra do Vale, regente em nome do filho 
Ronnel, refugiou-se no Ninho da Águia, reforçou suas defesas e enviou um exército ao 
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Portão Sangrento, que dava acesso ao Vale de Arryn. Na juventude, a rainha Sharra 
fora aclamada como a “Flor da Montanha”, a donzela mais formosa de todos os Sete 
Reinos. Talvez com a esperança de usar sua beleza para influenciar Aegon, ela lhe 
enviou um retrato e se ofereceu em casamento, desde que ele declarasse Ronnel seu 
herdeiro. Embora o retrato tenha alcançado Aegon Targaryen, não se sabe se ele 
chegou a responder à proposta; ele já tinha duas rainhas, e Sharra Arryn se tornara 
uma flor murcha, dez anos mais velha que ele.
Enquanto isso, os dois grandes reis ocidentais haviam se aliado e reunido for-
ças, determinados a pôr um fim a Aegon de uma vez por todas. De Jardim de Cima, 
marchou Mern ix da Casa Gardener, rei da Campina, com um poderosoexército. Sob 
as muralhas do Castelo de Bosquedouro, sede da Casa Rowan, ele encontrou Loren i 
Lannister, rei do Rochedo, à frente de sua própria hoste das terras ocidentais. Juntos, 
os dois reis comandavam o exército mais extraordinário jamais visto em Westeros: 
cinquenta mil homens, incluindo cerca de seiscentos senhores grandes e pequenos e 
mais de cinco mil cavaleiros montados.
— Nosso punho de ferro — alardeou o rei Mern. 
Seus quatro filhos o acompanhavam, e seus dois jovens netos estavam a seu 
serviço como escudeiros.
Os dois reis não se demoraram em Bosquedouro; uma hoste daquele tamanho 
precisava permanecer em marcha, para não esgotar as reservas do campo à sua volta. 
Os aliados partiram imediatamente, seguindo rumo nor-nordeste através de capim 
alto e dourados trigais.
Avisado da vinda deles em seu acampamento à margem do Olho de Deus, Aegon 
reuniu as próprias forças e avançou para enfrentar os novos inimigos. Seu exército 
tinha apenas um quinto do tamanho das tropas dos dois reis, e grande parte desses 
homens havia sido juramentada aos senhores fluviais, cuja lealdade à Casa Targaryen 
era recente e nunca fora posta à prova. No entanto, com um exército menor, Aegon 
podia se deslocar com muito mais rapidez que seus inimigos. Na cidade de Septo de 
Pedra, ele reencontrou suas duas rainhas e seus dragões — Rhaenys, vinda de Ponta 
Tempestade, e Visenya, de Ponta da Garra Rachada, onde ela aceitara muitos juramen-
tos fervorosos de lealdade dos senhores locais. Juntos, os três Targaryen observaram 
do céu conforme o exército de Aegon atravessava a nascente da Torrente da Água 
Negra e corria para o sul.
Os dois exércitos se encontraram em meio à ampla planície ao sul da Água Negra, 
perto de onde um dia viria a ser a Estrada do Ouro. Os dois reis celebraram quando os 
batedores voltaram com as informações a respeito do tamanho e do posicionamento 
das forças Targaryen. Aparentemente, eles tinham cinco homens para cada um de 
Aegon, e a disparidade de senhores e cavaleiros era maior ainda. E o terreno ainda 
era amplo e aberto, capim e trigo até onde a vista alcançava, ideal para cavalos pe-
sados. Aegon Targaryen não teria a vantagem do terreno mais alto, como acontecera 
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com Orys Baratheon na Tempestade Final; o solo era firme, não lamacento. E eles 
tampouco seriam perturbados pela chuva. Não havia nuvens, embora ventasse. Fazia 
mais de uma quinzena que não chovia.
O rei Mern havia contribuído com mais da metade das forças totais, então exigiu 
que o rei Loren lhe concedesse a honra de comandar o centro. Edmund, seu filho e 
herdeiro, recebeu o comando da vanguarda. O rei Loren e seus cavaleiros formariam 
o flanco direito, e o lorde Oakheart, o esquerdo. Como não havia barreiras naturais 
para firmar a hoste Targaryen, os dois reis pretendiam contornar Aegon pelos flan-
cos e atacá-lo pela retaguarda, enquanto seu “punho de ferro”, uma grande cunha de 
cavaleiros de armadura e grandes senhores, esmagava o centro de Aegon.
Aegon Targaryen organizou seus homens em uma formação vaga crescente, 
eriçada com lanças e piques, com arqueiros e besteiros logo atrás e a cavalaria leve 
nos flancos. Entregou o comando de suas forças a Jon Mooton, Senhor de Lagoa da 
Donzela, um dos primeiros adversários a se unir à sua causa. O próprio rei pretendia 
combater do céu, junto de suas rainhas. Aegon também havia percebido a falta de 
chuva; o capim e o trigo que cercavam os exércitos estavam altos e prontos para a 
colheita… e muito secos.
Os Targaryen esperaram até que os dois reis fizessem soar as trombetas e 
começassem a avançar sob um mar de estandartes. O próprio rei Mern, em seu 
garanhão dourado, liderou o ataque contra o centro, com o filho Gawen a seu lado 
trazendo o estandarte deles, uma grande mão verde sobre um campo branco. Com 
urros e gritos, instigados por cornetas e tambores, os Gardener e os Lannister 
avançaram por uma tempestade de flechas até os inimigos, afastando os lanceiros 
Targaryen e desintegrando as fileiras deles. Mas, àquela altura, Aegon e as irmãs 
já estavam no ar.
Aegon voou com Balerion por cima das fileiras de seus inimigos, através de uma 
tormenta de lanças, pedras e flechas, e desceu repetidas vezes para banhá-los em cha-
mas. Rhaenys e Visenya lançaram fogo de encontro aos inimigos e em sua retaguarda. 
O capim e o trigo seco se inflamaram imediatamente. O vento espalhou as chamas 
e soprou a fumaça no rosto dos homens dos dois reis, que avançavam. O cheiro de 
queimado levou as montarias ao pânico, e, quando a fumaça se adensou, cavalos e 
cavaleiros perderam toda a visão. As fileiras começaram a se desfazer à medida que as 
muralhas de fogo se erguiam por todos os lados. Os homens do lorde Mooton, a favor 
do vento e protegidos da conflagração, esperaram com arcos e lanças e se apressaram 
a matar os homens queimados ou em chamas que saíam aos tropeços do incêndio.
Mais tarde, a batalha receberia o nome de Campo de Fogo.
Mais de quatro mil homens morreram nas chamas. Outros mil pereceram na 
ponta de espadas, lanças e flechas. Dezenas de milhares sofreram queimaduras, 
algumas tão graves que deixariam marcas para o resto da vida. O rei Mern ix foi 
um dos mortos, junto com seus filhos, netos, irmãos, primos e demais parentes. Um 
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sobrinho sobreviveu por três dias. Quando ele morreu em decorrência das queima-
duras, a Casa Gardener se foi também. O rei Loren do Rochedo sobreviveu, tendo 
cavalgado através de uma parede de fogo e fumaça até um lugar seguro quando viu 
que a batalha estava perdida.
Os Targaryen perderam menos de cem homens. A rainha Visenya foi atingida 
com uma flecha no ombro, mas não demorou a se recuperar. Enquanto os dragões se 
esbaldavam com os mortos, Aegon determinou que as espadas dos derrotados fossem 
reunidas e enviadas rio abaixo.
Loren Lannister foi capturado no dia seguinte. O rei do Rochedo depositou sua 
espada e sua coroa aos pés de Aegon, dobrou o joelho e lhe prestou juramento. E 
Aegon, fiel às suas promessas, fez o inimigo derrotado se levantar e ratificou seus 
direitos sobre terras e títulos, nomeando-o Senhor de Rochedo Casterly e Guardião 
do Oeste. Os vassalos do lorde Loren seguiram seu exemplo, assim como muitos dos 
senhores da Campina, os que haviam sobrevivido ao fogo de dragão.
No entanto, a conquista do oeste ainda não estava completa, então o rei Aegon se 
despediu das irmãs e marchou imediatamente para Jardim de Cima, na esperança de 
garantir a rendição antes que algum outro pretendente tomasse posse. Ele encontrou 
o castelo nas mãos de Harlan Tyrell, o intendente, cujos antepassados serviam os 
Gardener havia séculos. Tyrell entregou as chaves do castelo sem luta e jurou lealdade 
ao rei conquistador. Como recompensa, Aegon lhe deu Jardim de Cima e todos os 
domínios, nomeando-o Guardião do Sul e senhor supremo do Vago, além de conferir-
-lhe autoridade sobre todos os antigos vassalos da Casa Gardener.
A intenção do rei Aegon era seguir marcha rumo ao sul e decretar a submissão 
de Vilavelha, da Árvore e de Dorne, mas, enquanto se encontrava em Jardim de Cima, 
chegaram-lhe notícias de um novo desafio. Torrhen Stark, rei do Norte, havia atra-
vessado o Gargalo e entrado nas terras fluviais, à frente de um exército de trinta mil 
bárbaros do Norte. Aegon partiu imediatamente ao norte para enfrentá-lo, voando à 
frente de seu exército nas asas de Balerion, o Terror Negro. E mandou que avisassem 
também suas duas rainhas, e todos os senhores e cavaleiros que haviam se submetido 
a ele após Harrenhal e o Campo de Fogo.
Quando Torrhen Stark chegou às margens do Tridente, encontrou uma hoste 
uma vez e meia maior que a sua à espera ao sul do rio. Senhores fluviais, homens das 
terras ocidentais, das terras da tempestade, da Campina... todos haviam compareci-
do. E, acima do acampamento deles, Balerion, Meraxes e Vhagar pairavam no ar em 
círculos cada vez mais largos.
Os batedores de Torrhenhaviam visto as ruínas de Harrenhal, onde lentas cha-
mas vermelhas ainda ardiam sob os destroços. O rei do Norte também havia escutado 
muitos relatos sobre o Campo de Fogo. Sabia que poderia sofrer o mesmo destino se 
tentasse atravessar o rio à força. Alguns de seus vassalos o instaram a atacar mesmo 
assim, insistindo que a bravura do Norte ganharia o dia. Outros o instaram a recuar 
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para Fosso Cailin e concentrar a resistência ali em solo do Norte. Brandon Snow, o 
irmão bastardo do rei, se ofereceu para atravessar o Tridente sozinho sob a proteção 
da noite, para matar os dragões enquanto dormissem.
O rei Torrhen de fato mandou Brandon Snow atravessar o Tridente. Mas ele foi 
acompanhado de três meistres, não para matar, mas para negociar. Por toda a noite 
mensagens foram trocadas. Na manhã seguinte, o próprio Torrhen Stark atravessou 
o Tridente. Na margem sul do rio, ele se ajoelhou, depositou a antiga coroa dos reis 
do inverno aos pés de Aegon e lhe jurou lealdade. Ele se ergueu como Senhor de 
Winterfell e Guardião do Norte, e não mais um rei. Desde então e até hoje, Torrhen 
Stark é lembrado como o Rei que Ajoelhou... mas nenhum homem do Norte deixou 
ossos queimados junto ao Tridente, e as espadas que Aegon reuniu do lorde Stark e 
de seus vassalos não estavam retorcidas, derretidas nem tortas.
E então Aegon Targaryen e suas rainhas se separaram. Aegon voltou a se dirigir 
ao sul, marchando rumo a Vilavelha, enquanto suas irmãs montaram seus dragões — 
Visenya, para o Vale de Arryn, e Rhaenys, para Lançassolar e os desertos de Dorne.
Sharra Arryn havia reforçado as defesas de Vila Gaivota, levado um exército 
poderoso ao Portão Sangrento e triplicado as guarnições de Pedra, Neve e Céu, os 
castelos intermédios que protegiam o acesso ao Ninho da Águia. Todas essas defesas 
se mostraram inúteis contra Visenya Targaryen, que sobrevoou tudo nas asas finas de 
Vhagar e pousou no pátio interno do Ninho da Águia. Quando a regente do Vale saiu 
para confrontá-la, com uma dúzia de guardas sob suas ordens, ela viu Ronnel Arryn 
sentado no joelho de Visenya, olhando fascinado para o dragão.
— Mãe, posso voar com a moça? — perguntou o rei menino.
Não houve ameaças nem palavras exaltadas. As duas rainhas sorriram uma 
para a outra e trocaram apenas gentilezas. E então a senhora Sharra mandou que 
buscassem as três coroas (sua própria tiara de regente, a pequena coroa de seu filho e 
a Coroa Falcão da Montanha e do Vale que os reis Arryn haviam usado por mil anos) 
e as entregou à rainha Visenya, junto com as espadas de sua guarnição. E dizem que 
depois o pequeno rei voou três voltas em torno do cume da Lança do Gigante e, quando 
pousou, era um pequeno senhor. E foi assim que Visenya Targaryen trouxe o Vale de 
Arryn para o reino de seu irmão.
Rhaenys Targaryen não obteve uma conquista tão fácil. Um contingente de lan-
ceiros dorneses guardava o Passo do Príncipe, a via de acesso através das Montanhas 
Vermelhas, mas Rhaenys não travou combate. Ela voou por cima do passo, por cima 
das areias vermelhas e brancas, e desceu em Vaith para exigir sua submissão, só que 
o castelo estava vazio e abandonado. Na cidade sob suas muralhas, restavam apenas 
mulheres, crianças e velhos. Quando ela perguntou aonde haviam ido os senhores, a 
única resposta foi “Embora”. Rhaenys seguiu o curso do rio até Graçadivina, sede da 
Casa Allyrion, mas o local também estava deserto. De novo ela voou. Onde o Sangue-
verde encontrava o mar, Rhaenys chegou a Vila Tabueira, e ali centenas de jangadas, 
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pesqueiros, balsas, botes e cascos jaziam ao sol, amarrados com cordas e correntes e 
tábuas, formando uma cidade flutuante, e no entanto apenas algumas idosas e crianças 
pequenas apareceram para lançar olhares ao alto enquanto Meraxes circulava no céu.
Por fim, a rainha voou até Lançassolar, a sede ancestral da Casa Martell, e no 
castelo abandonado ela encontrou a Princesa de Dorne à sua espera. Meria Martell 
tinha oitenta anos, segundo os meistres, e governara os dorneses durante sessenta. 
Era muito gorda, cega e quase careca, e sua pele era pálida e flácida. Argilac, o Arro-
gante, a chamara de “Rã Amarela de Dorne”, mas nem a idade nem a cegueira haviam 
embotado sua inteligência.
— Não lutarei com você — anunciou a princesa Meria a Rhaenys —, nem me 
ajoelharei. Dorne não tem rei. Diga isso ao seu irmão.
— Direi — respondeu Rhaenys —, mas nós voltaremos, princesa, e da próxima 
vez traremos fogo e sangue.
— Esse é o seu lema — disse a princesa Meria. — O nosso é Insubmissos, im-
batíveis, inquebráveis. Vocês podem nos queimar, senhora… mas não nos curvarão, 
não nos quebrarão, não nos submeterão. Aqui é Dorne. Vocês não são bem-vindos. 
Voltem por sua conta e risco.
E assim a rainha e a princesa se despediram, e Dorne permaneceu inconquistada.
No oeste, Aegon Targaryen teve uma recepção mais agradável. Maior cidade de 
toda Westeros, Vilavelha era cercada de imensas muralhas e governada pelos Hightower 
da Torralta, a mais antiga, rica e poderosa das casas nobres da Campina. Vilavelha 
era também o centro da Fé. Ali residia o alto septão, Pai dos Fiéis, a voz dos novos 
deuses na terra, que gozava da obediência de milhões de devotos em todos os reinos 
(exceto no Norte, onde os velhos deuses ainda tinham adoradores), e as espadas da 
Fé Militante, a ordem guerreira que o povo comum chamava de Estrelas e Espadas.
No entanto, quando Aegon Targaryen e seu exército se aproximaram de Vilave-
lha, encontraram os portões da cidade abertos e o lorde Hightower aguardando para 
se submeter. Na realidade, quando as primeiras notícias do desembarque de Aegon 
chegaram a Vilavelha, o alto septão se trancara no Septo Estrelado durante sete dias 
e sete noites, para pedir orientação aos deuses. Ele não se alimentou de nada além de 
pão e água e passou cada segundo acordado em orações, indo de um altar para outro. 
No sétimo dia, a Velha erguera sua lâmpada dourada para lhe mostrar o caminho. 
Sua Alta Santidade viu que, se Vilavelha pegasse em armas para combater Aegon, 
o Dragão, a cidade certamente arderia, e a Torralta e a Cidadela e o Septo Estrelado 
seriam derrubados e destruídos.
Manfred Hightower, Senhor de Vilavelha, era cauteloso — e pio. Um de seus 
filhos mais novos servia junto aos Filhos do Guerreiro e outro havia acabado de se 
sacramentar septão. Quando o alto septão contou da visão que a Velha lhe revela-
ra, o lorde Hightower determinou que não faria oposição armada ao conquistador. 
Foi assim que nenhum homem de Vilavelha ardeu no Campo de Fogo, embora os 
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 Hightower fossem vassalos dos Gardener de Jardim de Cima. E foi assim que o lorde 
Manfred saiu para receber Aegon, o Dragão, e lhe oferecer sua espada, sua cidade 
e seu juramento. (Dizem que lorde Hightower ofereceu também a mão de sua filha 
mais nova, que Aegon recusou educadamente, para não ofender suas duas rainhas.)
Três dias depois, no Septo Estrelado, Sua Alta Santidade em pessoa ungiu Aegon 
com os sete óleos, depositou uma coroa em sua cabeça e o proclamou Aegon da Casa 
Targaryen, Primeiro de Seu Nome, Rei dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros 
Homens, Senhor dos Sete Reinos e Protetor do Território. (“Sete Reinos” foi o termo 
usado, embora Dorne não tivesse se submetido. E não se submeteria por mais de um 
século.)
Apenas alguns senhores estiveram presentes na primeira coroação de Aegon à 
foz da Água Negra, mas centenas puderam testemunhar a segunda, e dezenas de mi-
lhares o celebraram depois nas ruas de Vilavelha, enquanto ele atravessava a cidade 
no dorso de Balerion. Entre os presentes na segunda coroação de Aegon estavam os 
meistres e arquimeistres da Cidadela. Talvez seja esse o motivo por que essa coroação, 
e não a do Aegonforte no dia do desembarque de Aegon, foi considerada o início do 
reinado de Aegon.
E assim os Sete Reinos deWesteros foram forjados em um único e grande domínio 
pela determinação de Aegon, o Conquistador, e suas irmãs.
Muitos acreditavam que o rei Aegon estabeleceria sua sede real em Vilavelha 
após o fim das guerras, enquanto outros imaginaram que ele governaria de Pedra do 
Dragão, a antiga cidadela insular da Casa Targaryen. O rei surpreendeu a todos ao 
proclamar sua intenção de instalar a corte na nova cidade que já se erguia sobre as 
três colinas à foz da Torrente da Água Negra, onde ele e suas irmãs haviam pisado 
pela primeira vez no solo de Westeros. Porto Real, assim se chamaria a nova cidade. 
Dali, Aegon, o Dragão, governaria seu reino, sobre um grande trono de metal feito com 
as espadas derretidas, retorcidas, amassadas e quebradas de todos os seus inimigos 
derrotados, um assento perigoso que logo viria a ser conhecido por todo o mundo 
como o Trono de Ferro de Westeros.
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