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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ASSUNTO: PISO SALARIAL DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL SINDICATO ESTADUAL DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO – SEPE/RJ, entidade sindical sem fins lucrativos inscrita no CNPJ sob o nº 28.708.576/0001-27, com sede estabelecida na Rua Evaristo da Veiga, nº 55/ 8º andar, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20031040, por sua advogada adiante assinada, que receberá intimações no endereço mencionado e cujo endereço eletrônico é juridico@seperj.org.br, vem, com fulcro no art. 8º, inciso III da CF/88 e nos artigos 1º, inciso V; 3º e 12 da Lei 7.347/85, c/c art. 300 do NCPC, propor apresente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, pessoa jurídica de direito público, inscrito no CNPJ sob o nº 42.498.600/0001-71, a ser citado e intimado através de seu representante legal com endereço na Rua do Carmo, nº 27 - Centro - Rio de Janeiro/RJ, CEP 20011020, pelos motivos e fundamentos adiante expostos. I- A LEGITIMIDADE ATIVA O Sindicato Autor é a entidade representativa dos servidores públicos da Rede de Educação do Estado do Rio de Janeiro, bem como de todos os municípios de referido Estado, sindicalizados ou não, compreendidos os professores e o pessoal de apoio da educação, conforme demonstra o art. 2º de seu Estatuto, portador de personalidade jurídica própria, de natureza e fins não lucrativos e de autonomia política e sindical, conforme previsão estatutária, regularmente constituído, registrado e representado por diretores eleitos, tudo conforme documentação em anexo. Importante destacar que o Sindicato não atua somente em defesa dos profissionais de educação, mas igualmente em defesa da Educação Pública, Universal, Laica e de Qualidade como amparado pela Constituição Federal, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), pela Lei da Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), além de regularmente previsto em seu Estatuto. De fato, o Sindicato, na qualidade de entidade associativa, além de ser legitimado pela Lei Maior (art. 8º, inc. III, CRFB) para a defesa de interesses do grupo, classe ou categoria de pessoas que a componham, tanto associados ou não associados, também busca zelar por um ensino público de qualidade configurado como relevante interesse social, em cumprimento aos preceitos legais retro citados. Ademais, a legitimidade ativa para a Ação Civil Pública deve ser interpretada em consonância com o disposto no art. 5º, inciso V, da Lei nº 7.347/85 c/c o art. 8º, inciso III, da CRFB, cabendo, pois, ao sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais. Deste modo, a tutela pelo Sindicato através da presente Ação Civil Pública pode abarcar qualquer interesse coletivo que diga respeito à categoria que representa, principalmente quando o interesse do grupo é homogêneo e ligado à própria atividade essencial da entidade representativa, sob o munus de sua natureza jurídica de status constitucional. Assim, visa a presente demanda obter provimento jurisdicional de obrigação de fazer, consubstanciada no cumprimento pelo Estado do Piso Salarial Nacional Inicial para os profissionais do magistério público da educação básica, portanto, direitos individuais homogêneos, eis que de origem comum, direcionado a um grupo de pessoas com número significativo, ou seja, uma categoria que aborda a coletividade, o que vislumbra a relevância social da questão e legitima o Sindicato-Autor na qualidade de representante adequado. Neste aspecto já definira a jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça (STJ): “PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – LEGITIMIDADE ATIVA – SINDICATO. 1. Nas ações civis públicas pode o sindicato funcionar como substituto processual ou como representante de seus sindicalizados. 2. Como substituto processual não precisa de autorização, mas o interesse defendido deve ser não só do sindicalizado, mas também da própria entidade, se conectado for o interesse dela com o daquele. 3. Na hipótese de representação, há necessidade de autorização do sindicalizado, porque o interesse defendido é unicamente seu, sem conecção alguma com o interesse da entidade. 4. A autorização, seguindo posição jurisprudencial majoritária, pode ser considerada como formalizada pela juntada da ata de reunião do sindicato, onde constem os nomes dos presentes. 5. Recurso especial conhecido e provido.” (REsp 228.507/PR, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, Relator para acórdão Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DP 05.05.04,P.125). II- O ARTIGO 18 DA LEI FEDERAL Nº 7.347/85 Necessário destacar que nas Ações Civis Públicas não há que se falar em recolhimento antecipado de custas processuais conforme determina o artigo 18 da Lei da ACP (Lei Federal nº 7.347/85), verbis: “Art. 18 - Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.” Deste modo, não há recolhimento antecipado de custas ou emolumentos na presente. III- DOS FATOS E FUNDAMENTOS A Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o piso salarial inicial nacional para os profissionais do magistério público da educação básica, estabeleceu em seu art. 5º que referido piso salarial será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009 (vigência da norma). Com isto, o Ministério da Educação (MEC) define anualmente o valor atualizado a ser utilizado como piso salarial inicial da categoria, o qual para o ano de 2018 foi fixado em R$ 2.455,35 (dois mil quatrocentos e cinquenta e cinco reais e trinta e cinco centavos), conforme a Portaria nº 1.595 publicada pelo MEC em dezembro de 2017. Ocorre que o Estado/Réu vem descumprindo referidas disposições legais, haja vista que o piso salarial inicial dos profissionais do magistério estadual do Rio de Janeiro é o mesmo desde 2014, conforme demonstra a tabela de evolução salarial em anexo e, com isto, os valores ficaram defasados perante os reajustes advindos na forma prevista na Lei Federal nº 11.738/2008 desde janeiro de 2015. O direito ao piso salarial inicial para os profissionais da educação básica está amparado pela Constituição Federal de 1988 (artigo 60, III, 'e', do ADCT e 206, VIII) e regulamentado pela Lei Federal n.º 11.738/2008 que assim determina, verbis: "Art. 2º(...) § 1º O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais. § 2º Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, planejamento, inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional. Art. 5o O piso salarial profissional nacional do magistério público da educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do ano de 2009. Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual mínimo por aluno referente aos anos iniciais doensino fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007.” (grifos acrescidos). A Constituição Federal de 1988 elencou, dentre seus princípios fundamentais e como alicerce do Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana e a cidadania (art. 1º, incisos II e III), determinando, ainda, como um de seus objetivos fundamentais, a construção de uma sociedade justa, livre e solidária. E, com vistas ao pleno exercício da cidadania, a Carta Constitucional prevê, como seu instrumento fundamental, a universalização da educação básica. De fato, a instituição educativa, a serviço do bem estar social, complementa, ao lado da família, o desenvolvimento pessoal e social das crianças e dos adolescentes e contribui decisivamente para a melhoria de vida de cada cidadão. Como se vê, a Carta Magna deu um valor especial ao capítulo da educação, determinando que o ensino será ministrado com base em vários princípios constitucionais, dentre os quais se avançou com destaque a instituição do piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. A Constituição da República Federativa do Brasil prevê: Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (....) V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho (...)”. Por sua vez, o artigo 206, V, da Constituição Federal determina: “Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingressos exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas.” Destarte, após anos de luta, a Lei nº 11.738/08 determinou não apenas o valor inicial mínimo a ser pago aos professores, como estabeleceu a forma da composição de sua jornada de trabalho com a necessária reserva de período para planejamento e avaliação dentro da carga horária. Ato contínuo, no julgamento da ADI nº 4167, proposta pelos Governadores dos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará, questionando os artigos 2º, §§1º e 4º, 3º, caput, II e III e 8º, todos da Lei 11.738/2008, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade destes, pelo que o direito ao piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério está amparado pela Constituição Federal em definitivo. A Corte Constitucional entendeu pela ausência de plausibilidade da alegada violação da reserva de lei de iniciativa do Chefe do Executivo local (CF, art. 61, § 1º, II), do pacto federativo (CF, artigos 1º, caput, 25, caput e § 1º, e 60, § 4º, I) e da proibição de excesso (razoabilidade e proporcionalidade), no que se refere à fixação da jornada de trabalho de 40 horas semanais, esclarecendo que essa jornada tem por função compor o cálculo do valor devido a título de piso, juntamente com o parâmetro monetário, e que a inexistência de parâmetro de carga horária para condicionar a obrigatoriedade da adoção do valor do piso poderia levar a distorções regionais e potencializar o conflito judicial, na medida em que permitiria a escolha de cargas horárias desproporcionais ou inexequíveis. Cabe destacar que referido diploma legal estabelece como parâmetro para o piso nacional a jornada de, no máximo, 40 horas semanais, no entanto, os vencimentos referentes às demais jornadas de trabalho, conforme o § 3º do art. 2º da Lei, terão seus vencimentos pagos de forma correspondente na proporção. Assim, vindica a presente ação que o Estado/Réu cumpra a obrigação de implementar o piso salarial inicial do magistério público estadual, que para o ano de 2018 é de R$ 2.455,35 para o Professor de jornada de 40 horas semanais, que servirá como parâmetro às demais jornadas de forma proporcional, nos termos legais. Importante destacar que o Ministro Joaquim Barbosa, relator da ADI 4167, assim examinou o conceito de piso salarial: “(...) Ocorre que a lei não traz definição expressa para o que se deve entender por “piso”, considerada a diferença entre remuneração global (consideradas as gratificações e as vantagens) e vencimento básico (sem gratificações ou vantagens).(...) A expressão “piso” tem sido utilizada na Constituição e na legislação para indicar um limite mínimo que deve ser pago a um trabalhador pelaprestação de seus serviços. A ideia, de um modo geral, remete à “remuneração”, isto é, o valor global recebido pelo trabalhador, independentemente da caracterização ou da classificação de cada tipo de ingresso patrimonial. Nesta acepção, o estabelecimento de pisos salariais visa a garantir que não haja aviltamento do trabalho ou a exploração desumana da mão-de-obra. (…) Admito que a expressão “piso salarial” pode ser interpretada em consonância com a intenção de fortalecimento e aprimoramento dos serviços educacionais públicos. De fato, a Constituição toma a ampliação do acesso à educação como prioridade, como se depreende de uma série de dispositivos diversos (cf., e.g., os arts. 6º, caput, 7º, IV, 23, V, 150, VI, c, e 205). Remunerar adequadamente os professores e demais profissionais envolvidos no ensino é um dos mecanismos úteis à consecução de tal objetivo. (…) A existência de regime de transição implica reconhecer que o objetivo da norma é definir que o piso não compreende “vantagens pecuniárias, pagas a qualquer título”, isto é, refere-se apenas ao vencimento (valor diretamente relacionado ao serviço prestado). De outra forma, a distinção seria inócua e ociosa.”(grifos acrescidos) Evidente, portanto, que o piso é o vencimento, como tal entendido apenas o básico sem o acréscimo de outras vantagens (por tempo de serviço, por formação, etc.), tanto que o legislador bem definiu no contexto do §1º do art. 2º que o ente público não poderá fixar o “vencimento inicial” abaixo do piso. A decisão da ADI esclarece, portanto, a questão quando julga constitucional a norma que fixa o piso com base no vencimento e não na remuneração. Resta demonstrado ainda que a integralização do piso salarial nacional como vencimento inicial do magistério não poderá implicar em impacto orçamentário ao ente estatal, tendo em vista que a própria legislação definiu a resolução deste argumento, pelo simples cumprimento da Lei pelos Poderes Executivos das esferas Federal e Estadual que afasta “impacto sem precedentes” no orçamento do réu ao dispor sobre a possibilidade de solicitação fundamentada em eventual necessidade de complementação, verbis: Art. 4º A União deverá complementar, na forma e no limite do disposto no inciso VI do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e em regulamento, a integralização de que trata o art. 3º desta Lei, nos casos em que o ente federativo, a partir da consideração dos recursos constitucionalmente vinculados à educação, não tenha disponibilidade orçamentária para cumprir o valor fixado. §1º. O ente federativo deverá justificar sua necessidade e incapacidade, enviando ao Ministério da Educação solicitação fundamentada, acompanhada de planilha de custos comprovando a necessidade da complementação de que trata o caput deste artigo. §2º. A União será responsável por cooperar tecnicamente com o ente federativo que não conseguir assegurar o pagamento do piso, de forma a assessorá-lo no planejamento e aperfeiçoamento da aplicação de seus recursos. Há, portanto, previsão de complementação a fim de possibilitar a integralização do valor do piso de Estados e Municípios pela União, o que não justifica averificada supressão do direito dos professores, conforme demonstrado pela tabela de evolução dos vencimentos do Magistério anexa cujo valor básico inicial na jornada de 40 horas semanais, inclusive, é de R$ 1.880,32 (desde 2014), quando deveria ser de R$ 2.455,35 em 2018. De fato é possível identificar o descumprimento do piso nacional inicial do magistério desde 2015, na evolução do reajuste determinado pelo MEC (tabela anexa) desde então, já que em referido ano o valor inicial para professores com jornada de 40 horas semanais deveria ser de R$ 1.917,78 e o Estado do Rio de Janeiro pagava R$ 1.880,32 (conforme Anexo I da Lei 6.834/14 - em anexo), praticando a mesma redução proporcional e correspondente descumprimento ao Piso Nacional para as demais cargas horárias de 16, 22 e 30 horas semanais, sendo certo que nenhum profissional do magistério poderia ficar abaixo do piso inicial, seguindo a proporcionalidade em cada jornada, valendo destacar que o vencimento inicial do professor com jornada de 16 horas equivale ao vencimento referência nº 3 do professor com jornada de 22 horas, conforme plano de carreira c/c a Lei nº 6.834/14, notadamente em seu anexo I. Ato contínuo, nos anos de 2016, 2017 e 2018 seguiu defasado o valor inicial do Piso conforme se verifica da mesma confrontação da tabela do MEC com os valores pagos ao magistério estadual até a presente data, cuja referência para professores na jornada de 40 horas semanais segue sendo de R$ 1.880,32 (desde 2014), quando o MEC fixou os seguintes valores do piso nacional: 1- Ano de 2015 – R$ 1.917,78 2- Ano de 2016 – R$ 2.135,64 3- Ano de 2017 – R$ 2.298,80 4- Ano de 2018 – R$ 2.455,35 Cabe esclarecer que o Ministério da Educação aprovou resolução da Comissão Intergovernamental para Financiamento da Educação de Qualidade, que trata do uso de parcela dos recursos da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) para o pagamento integral do piso salarial dos profissionais da educação básica e definiu cinco critérios exigidos pelos Estados e Municípios para pedido de recursos federais (http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16401:portaria-define-criterios- para-que-secretarias-pecam-recursos&catid=211&Itemid=86): – aplicar 25% das receitas na manutenção e no desenvolvimento de ensino; – preencher o sistema de informações sobre orçamentos públicos em educação; – cumprir o regime de gestão plena dos recursos vinculados para manutenção e desenvolvimento do ensino; – dispor de plano de carreira para o magistério, em lei específica; – demonstrar cabalmente o impacto da lei do piso nos recursos do estado ou município. Nesse ponto, o voto do Ministro Joaquim Barbosa, na ADI 4167, é novamente esclarecedor: “(...) Por fim, abordo as aflições dos estados-autores quanto ao risco de desequilíbrio orçamentário. O exame da alegada falta de recursos para custeio do novo piso depende da coleta de dados específicos para cada ente federado, considerados os exercícios financeiros. Não é possível, em caráter geral e abstrato, presumir a falta de recursos. Em especial, eventuais insuficiências poderão ser supridas por recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação – Fundeb e pela União, cujas consideráveis receitas incluem recursos das contribuições sociais destinadas à educação (e.g., “salário-educação”). A questão federativa relevante é se o aumento do dispêndio com remuneração violaria a autonomia dos entes federados por vincular recursos e reduzir o campo de opções do administrador público (dinheiro que poderia ser gasto em outros pontos acabarão canalizados para a folha de salários). Mas relembro que os estados-membros e a população dos municípios fazem parte da vontade política da União, representados no Senado e na Câmara dos Deputados, respectivamente. Lícito pensar, portanto, que os demais entes federados convergiram suas vontades à aparente limitação prática de suas escolhas no campo dos serviços educacionais. (…).”(grifos acrescidos) Por fim, as palavras do Ministro Carlos Ayres Britto: “(...) É que o sistema, Excelência, é autofinanciado, transfederativamente. A própria Constituição fala da obrigação de os entes se socorrerem mutuamente financeiro, segundo a ordem federativa maior ou menor. Por exemplo, a previsão expressa de transferência de recursos da União para os Municípios, dos Estados para os Municípios, porque o sistema é autocusteado (…)”(grifos acrescidos) Destarte, resta previamente demonstrada a inexistência de impacto sobre as receitas públicas, considerando a existência de repasses anuais para satisfação da obrigação estatal, bem como a possibilidade legal do pedido de ajuda através de verbas federais, caso os valores atualmente repassados sejam insuficientes. Ademais, não há a necessidade de edição de lei estadual para implantação do piso salarial inicial nacional como vencimento básico do magistério, porquanto em se tratando de educação, tem-se a competência concorrente da União, nos termos do art. 24, IX, e parágrafos da Constituição Federal, razão pela qual não se justifica a manutenção deste prejuízo aos assistidos. O art. 6º da Lei 11.738/08, por sua vez, dispôs que a União, os Estados, o Distrito Federal e Municípios deveriam elaborar ou adequar seus Planos de Carreira e Remuneração do Magistério até 31 de dezembro de 2009, tendo em vista o cumprimento do piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica, de modo que a Lei concedeu aos entes prazo suficiente para adequar o Plano de Carreira do Magistério, não sendo possível que o Administrador opte por não atender ao comando legal, inclusive, para os anos vindouros. Merece destaque o voto do Ministro Ricardo Lewandowski, no julgamento da ADI 4167: “(...) Do âmbito da educação, o constituinte de 88 criou um determinado modelo muito claro: conferiu à União diversas competências para atuar, em âmbito nacional, em estreita cooperação com os demais entes federados, com os estados, com os municípios e com o próprio Distrito Federal, que é um ente híbrido, como todos nós sabemos, exatamente para dar efetividade, dentre outros preceitos ou mandamentos, àquele que consta no artigo 3º, III, logo no vestíbulo da nossa Carta Magna, que é, exatamente, aquele desiderato de reduzir as desigualdades sociais e regionais. E a educação é um instrumento, por excelência, para atingir esse objetivo. (…) Portanto, não é de se estranhar que exista uma lei federal que vá estabelecer o piso salarial. Não há nenhuma inconstitucionalidade nesse aspecto pelo fato de a União, por meio de um ato normativo próprio, estabelecer esse piso salarial. (…). Eu ousaria, acompanhando a divergência iniciada pelo Ministro Luiz Fux, entender que o §4º também não fere a Constituição pelos motivos que acabei de enunciar, pois a União tem uma competência bastante abrangente no que diz respeito à educação. (…). IV- DA TUTELA DE URGÊNCIA A questão em tela é meramente de direito, cabalmente demonstrado pelos fundamentos constitucionais e legais ora invocados, sendo certo que a falta de cumprimento ao piso salarial inicial do magistério do Estado viola normas federais e dispositivos e princípios constitucionais já mencionados. Ademais, o fumus boni iuris também se caracteriza pela certeza do direito dos Profissionais do Magistério ao reajuste do piso em conformidade com as normas vigentes, hierarquicamente superiores às normas estaduais, que violam até mesmo o federalismo, além, obviamente, de restarem violadas a legalidade, a moralidade, a eficiência, a dignidade da pessoa humana, através do descumprimento à lei do piso, à valorização do professor e à qualidade da educação. Portanto,presente a prova inequívoca, atendendo ao primeiro pressuposto para concessão da antecipação da tutela, qual seja, a probabilidade do direito, em conformidade com o art. 300, primeira parte do NCPC. Ademais, o perigo de dano irreparável ou o risco ao resultado útil do processo corresponde à natureza alimentar do salário do servidor público, de caráter indispensável para sua manutenção e de sua família, além da valorização destes profissionais da educação conforme determina o art. 206, V, CRFB, o que inclui uma remuneração equivalente à importância da profissão, cujo desfavor gera por conseqüência difícil reparação à condição salarial destes servidores que estão preteridos do valor ideal, bem como na violação ao correto reajuste do piso salarial e no mau uso das verbas do FUNDEB que são direcionadas à educação básica. O periculum in mora revela-se evidente, eis que ao servidor não pode ser imposto que aguarde pelo trânsito em julgado de uma decisão final no presente feito que lhe assegure o direito postulado - há muito previsto na Carta Maior e legislação correlata - cabendo ao Poder Judiciário efetivar o comando da norma há tanto tempo violada. Demonstrado o risco de lesão irreparável tanto aos profissionais, quanto à política educacional em busca de qualidade, resta ao Poder Judiciário - como último guardião do estado de direito e de materialização de cidadania - a atuação jurisdicional. Neste sentido, importante mencionar que em situação idêntica, em ação movida pelo SEPE/RJ contra o Município de Valença, o r. juízo da 1ª Vara da Comarca de Valença (0010981-66.2015.8.19.0064) reconheceu a presença dos requisitos para a concessão do pedido liminar, valendo sua transcrição: “Tendo em vista estarem presentes os requisitos ensejadores para concessão do pedido liminar. A verossimilhança das alegações autorais resta corroborada pelo documento de fls. 47, sendo a resposta do município, que inequivocadamente informa que o piso salarial dos professores não é cumprido. O fundado receio de dano de difícil reparação, resta consubstanciado pela natureza jurídica da verba pleiteada, qual seja, a de alimentos. Contudo, deve ser registrado que a lei n° 11.738/2008 instituiu o piso salarial nacional para os professores da rede pública da educação básica da União, Estados, Distrito Federal e Municípios que não podem fixar vencimento inicial das carreiras do magistério, para a jornada de 40 horas semanais, abaixo desse patamar. Pacificado, no bojo da ADI 4.167-3, que o piso salarial fixado nos termos do art. 2º, caput, da Lei Federal n° 11.738/08 relaciona-se com a jornada de trabalho de 40 horas semanais, tem-se que os profissionais com carga horária diferenciada, para mais ou para menos, por óbvio, terão valores proporcionais como limite mínimo de pagamento´, como bem advertiu o d. Relator, Ministro Joaquim Barbosa.´ (...) Assim, concedo a liminar para determinar que o município implante, no próximo exercício o piso salarial dos professores, nos termos da lei 11.738/2008,considerandoa carga horária efetivamente trabalhada, já que a criação de despesas deve estar previstas na lei orçamentária municipal, sob pena de multa mensal de R$ 1.000,00. Cite-se e intimem-se. Dê-se ciência ao Ministério Público.” Diante disto, foi interposto agravo de instrumento pelo Município/Réu contra a referida decisão concessiva, que se deu inaudita altera pars, reconhecendo o juízo a quo ser desnecessária a prévia oitiva do Município para concessão da liminar por se tratar de verba alimentar, verbis: (...)No que tange à necessidade de prévia oitiva da pessoa jurídica de direito público para fins de concessão da liminar (art. 2°, da Lei 8.437/92), tratando-se de verba alimentar resta caracterizada a relevância do direito em jogo, de tal modo que, presentes os requisitos para o deferimento da medida, tal exigência pode ser afastada. Nesse sentido, inclusive, se posiciona o E. Superior Tribunal de Justiça: ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. REATIVAÇÃO DE ESTÁGIO CURRICULAR EMESTABELECIMENTOS DE SAÚDE MUNICIPAIS. LIMINARCONCEDIDA, EXCEPCIONALMENTE, SEM OITIVA PRÉVIADA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO E AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO INTERESSE PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 2º DA LEI N. 8.437/1992. DESCUMPRIMENTO DO COMANDO DA SENTENÇA. MULTA COMINATÓRIA DIÁRIA. AFASTAMENTO. PRETENSÃO DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7/STJ. FIXAÇÃO DE ASTREINTES EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. POSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE, PARA EXECUÇÃO DA MULTA, DE DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO ART. 333, I, DO CPC. ÔNUS DA PROVA.DEFICIÊNCIA ARGUMENTATIVA. SÚMULA 284/STF.DECISÃO MANTIDA.1. Excepcionalmente, é possível conceder liminar sem prévia oitiva da pessoa jurídica de direito público, desde que não ocorra prejuízo a seus bens e interesses ou quando presentes os requisitos legais para a concessão de medida liminar em ação civil pública. Hipótese que não configura ofensa ao art. 2º da Lei n. 8.437/1992. Precedentes.(...) Por tais fundamentos, conhece-se do presente recurso para negar-lhe provimento, mantendo-se, na íntegra, a decisão agravada.” (Agravo de Instrumento nº 0006486-40.2016.8.19.0000, Desembargador Relator Fernando Fernandy Fernandes Data da Publicação: 24/06/2016). Desta forma, caracterizada a excepcionalidade do presente caso, bem como o preenchimento dos requisitos autorizadores para concessão da medida, requer o Sindicato- Autor seja concedida a tutela de urgência ordenando-se ao Estado que efetive a atualização dos valores dos pagamentos dos professores na próxima folha de pagamento, em cumprimento à Lei do Piso Nacional nº 11.738/2008 e às Portarias do MEC, sobretudo a atual de nº 1.595/2017, sob pena de multa diária em valor a ser arbitrado pelo juízo de modo coercitivo o suficiente para gerar o cumprimento da decisão judicial. V- DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer o Sindicato-Autor: 1. Considerando a fumaça do bom direito e o perigo na demora indicados, o deferimento de medida liminar em sede de tutela de urgência para que o Estado passe a cumprir a lei do piso inicial nacional nº 11.738/08, que determina a correção do vencimento básico inicial no valor atualizado, devendo: � Implementar na próxima folha de pagamento (ou, alternativamente, no próximo exercício financeiro), aos servidores do magistério (ativos e inativos - nos termos da Lei nº 11.738/08, em seu artigo 2º, § 5º) o piso salarial inicial para o Professor de nível básico, jornada semanal de 40 horas, que atualmente é de R$ 2.455,35 (dois mil quatrocentos e cinquenta e cinco reais e trinta e cinco centavos) conforme Portaria do MEC nº 1.595/2017, ajustando proporcionalmente os valores correspondentes às demais jornadas de trabalho (16, 22 e 30 horas semanais), bem como, em conformidade com a Lei nº 1.614/90 (plano de carreira), ajustando as diferenças correspondentes de uma classe para outra (graduados, especialistas, mestres, doutores) em suas respectivas jornadas; 2. Seja fixada multa diária em valor a ser arbitrado pelo juízo de modo coercitivo o suficiente para gerar o cumprimento da decisão judicial; 3. A citação do Estado-Réu para que se defenda, sob pena de decretação de sua revelia; 4. A intimação do Ministério Público para que, avaliando pertinente, se manifeste sobre o requerido com fiscal da lei, adotando as providências cabíveis quanto ao descumprimento à Lei 11.738/2008; 5. Sejam, ao final, julgados procedentes os pedidos da presente ação, confirmando-se a tutela e reconhecendo-se a ilegalidade do ato estatal de descumprir o piso nacional, determinando definitivamente: a) a implementação do piso salarial inicial para os cargos do magistério de nível básico (ativos e inativos - nos termos da Lei nº 11.738/08, em seu artigo 2º, § 5º), jornada semanal de 40 horas, que atualmenteé de R$ 2.455,35 (dois mil quatrocentos e cinquenta e cinco reais e trinta e cinco centavos) conforme Portaria do MEC nº 1.595/2017, ajustando proporcionalmente os valores correspondentes às demais jornadas de trabalho (16, 22 e 30 horas semanais), bem como, em conformidade com a Lei nº 1.614/90 (plano de carreira), ajustando as diferenças correspondentes de uma classe para outra (graduados, especialistas, mestres, doutores) em suas respectivas jornadas; a) Pagar a diferença entre o piso efetivamente pago e o piso correto devido de acordo com o reajuste conferido anualmente pelo MEC, retroativa a janeiro de 2015, com os créditos devidamente atualizados com juros e correção monetária, calculada ano a ano, bem como diferenças vincendas, quando da liquidação da sentença, caso não concedida a tutela de urgência; b) Pagar honorários advocatícios nos termos do art. 85, §3º do NCPC. Embora se trate de questão de direito já comprovado, protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial testemunhal e documental superveniente, bem como pericial, atribuindo-se à causa, para fins meramente fiscais e de fixação do rito processual, o valor de R$60.000,00 (sessenta mil reais). Requer, outrossim, sejam as publicações inerentes à presente demanda realizadas em nome da advogada ora subscritora, Juliana Rodrigues de Oliveira, OAB/RJ 106.674, que declara autenticidade dos documentos ora anexados eletronicamente. Nestes Termos, Pede Deferimento. Rio de Janeiro, 24 de setembro de 2018. JULIANA OLIVEIRA OAB/RJ 106.674 ELAINE APARECIDA ROLIM DE ALMEIDA OAB/RJ 111.585 Documentos anexos: • Procuração e atos constitutivos do Sindicato; • Lei nº 1.614/90 do Plano de Carreira do Magistério Público Estadual; • Lei nº 6.027/11 que cria o cargo de Professor Docente I, jornada de 30 horas semanais; • Lei nº 6.834/14 do último reajuste concedido ao magistério, com a tabela dos vencimentos que permanecem sendo pagos em descumprimento ao Piso Inicial Nacional; • Tabela com os valores do piso e reajustes determinados pelo MEC até 2018; • Tabela de evolução salarial do Magistério Estadual até 2014. 2018-09-24T19:20:21-0300
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