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SIMULADO4 Língua Portuguesa para Analista Judiciário (TJ BA) 2023

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Língua Portuguesa para Analista Judiciário (TJ BA) 2023 (
https://www.tecconcursos.com.br/s/Q2enFK )
Ordenação: Por Matéria
Português
Questão 801: FCC - AFRE (SEF SC)/SEF SC/Auditoria e Fiscalização/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Existe uma estreita relação entre nutrição, saúde e educação, de um lado, e capacidade de trabalho e
iniciativa de outro. A incompetência econômica do indivíduo resulta em privação material: sua demanda
por bens não corresponde a uma demanda recíproca, no mercado, por aquilo que ele é capaz de
oferecer. Ao mesmo tempo, a pobreza de uma geração se torna o berço da incompetência da geração
seguinte: o ambiente de privação material e ignorância em que nasce (e se forma) o indivíduo impede
que ele desenvolva todas as qualidades físicas, morais e intelectuais das quais dependerá sua
competência na vida prática e sua sobrevivência no mercado. Fecha-se assim o elo entre pobreza e
improficiência.
Entre os economistas do século XIX, foi Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da
formação de capital humano − do investimento na qualidade da força de trabalho − para um programa
de reforma social eficaz, voltado para a erradicação da pobreza e a promoção da riqueza e do
desenvolvimento sociais. Na Inglaterra oitocentista de Marshall, existia um vasto contingente de
indivíduos trabalhando com um nível baixíssimo de produtividade, semiocupados ou até incapacitados de
exercer qualquer tipo de atividade no mercado que lhes garantisse o mínimo necessário para um padrão
de vida tolerável.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada e pelo menos parcialmente provida pelo
Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um
exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação seria uma resposta mais eficaz do que
a Poor Law (sistema de assistência social aos pobres) no combate ao pauperismo.
O ponto crucial, contudo, é que os economistas clássicos ainda tendiam a abordar a questão da
educação mais sob o ângulo do bem-estar social, da mudança de atitudes e valores que acarretava, do
que sob o ângulo do capital humano, isto é, como parte do esforço de investimento e formação de
capital produtivo de uma nação.
Foi apenas com os “Princípios de economia” de Marshall que os economistas passaram a tratar a
educação, além da saúde, alimentação etc. − o investimento em seres humanos em suma −, não mais
como uma questão simplesmente humanitária (embora, é claro, também o seja), mas como parte do
esforço de acumulação de capital: como investimento na capacidade produtiva da população, entendida
como resultante de sua saúde e educação básica, bem como de seu grau de competência profissional.
O núcleo do argumento marshalliano é a noção de que o verdadeiro gargalo com que se defrontam as
economias menos desenvolvidas não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital
humano. É a falta de capacitação da comunidade para integrar-se de forma dinâmica à economia
mundial que compromete o esforço de crescimento numa economia atrasada.
Mas o que é, afinal, o capital humano? O capital humano representa a capacitação do indivíduo para o
trabalho qualificado. Ele é constituído não somente pelo resultado do investimento da família e da
sociedade na competência produtiva das pessoas, mas também por elementos de natureza ética como,
por exemplo, a capacidade dos indivíduos de agir com base nos interesses comuns. Com isso, aumenta o
poder de ganho dos indivíduos no mercado e eles aprendem que é do seu próprio interesse respeitar
regras gerais de conduta das quais todos os participantes da sociedade se beneficiam, embora para isso
precisem restringir alguns de seus interesses pessoais mais imediatos.
É importante frisar que Marshall sustentou um argumento de caráter econômico quando defendeu a
distribuição menos desigual da riqueza e da renda, de modo a promover a formação de capital humano.
Seu argumento chama a atenção para os ganhos obtidos a partir da melhora na educação da população:
“nenhuma mudança favoreceria tanto um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma
melhoria das nossas escolas [...], desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de
estudo, o que permitirá ao filho do trabalhador mais simples a obtenção da melhor educação teórica e
prática que nossa época é capaz de oferecer a ele.”
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo.
O elogio do vira-lata e outros ensaios. Companhia das Letras, 2018, edição digital.)
 
Considerado o contexto, está correto o que consta de:
 a) O sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso se substitua “economia mundial” por “uma
economia globalizada” no segmento integrar-se de forma dinâmica à economia mundial
 b) O segmento não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital humano exprime
noção de finalidade.
 c) Sem prejuízo da correção gramatical, o segmento impede que ele desenvolva pode ser reescrito do
seguinte modo: impede-lhe de desenvolver.
 d) Os verbos do segmento Malthus [...] sugeria que o investimento público maciço em educação seria
uma resposta mais eficaz estão flexionados nos mesmos tempo e modo.
 e) O segmento sublinhado em desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de
estudo pode ser substituído por “uma vez que”, sem que nenhuma outra modificação seja feita na frase.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/718909
Questão 802: FCC - Con Tec Leg (CL DF)/CL DF/Taquígrafo Especialista/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
No belíssimo ensaio em que trata das representações utópicas no século XVIII, Bronislaw Baczko1
assinala que a vontade de redimir a civilização moderna dos males que a afligem e de erguer uma ‘boa
vida’ coletiva está presente nas mais variadas formas do imaginário social, constituindo um marco do
‘espírito do tempo’. A busca de um modelo ideal de convivência humana evidencia-se não só na
proliferação de textos redigidos nos moldes tradicionais da literatura utópica, narrando viagens a um país
feliz e/ou elaborando projetos para um governo justo, mas, também, na abundância de imagens e ideias
para a reforma social em uma imensa quantidade de escritos e documentos pertencentes seja à cultura
douta, seja à popular (cf. Baczko, 1979, passim).
A esse respeito, lembra o comentador, a bibliografia especializada no assunto registra cerca de 80 relatos
de viagens imaginárias, publicados na França entre 1676 e 1789, número que apresenta um crescimento
impressionante, chegando a mais de 2 mil textos, se forem consideradas as múltiplas e diferentes
projeções utópicas presentes na literatura da época
A imagem de homens livres e iguais que vivem fraternalmente em comunhão de bens, sem leis nem
governos, representa, em geral, o ideal de sociedade entre as correntes progressistas da época,
fascinando inclusive escritores políticos como Voltaire, Montesquieu e Diderot, que nunca defenderam a
abolição da propriedade e do Estado, circunscrevendo suas propostas de reforma do poder ao âmbito de
um despotismo esclarecido, fiscalizado por uma opinião pública letrada, ou de uma monarquia
constitucional inspirada no modelo vigente na Inglaterra após a Revolução Gloriosa2.
De modo análogo, Charles Rihs3, em seu livro sobre os utopistas do século XVIII, chama a atenção para
essas ‘antinomias’, lembrando, por exemplo, o descompasso entre o ideário social elitista de Voltaire e
suas observações, feitas ao historiar os costumes, a respeito da felicidade dos povos do Novo Mundo e
das tribos africanas que ignoram “o meu e o teu” (cf. Rihs, 1970, p. 14). Na mesma linha, Montesquieu,
rígido defensor do ‘espírito das leis’ em sua obra principal, retrata com entusiasmo, nas Cartas persas, a
organização social do pequeno reino árabe dos Trogloditas, onde todos trabalham jocosa e
espontaneamente pelo bemcomum. Além das divagações utópicas suscitadas pela investigação
geográfica e histórica de culturas não-europeias, os homens das Luzes empreendem também a aventura
filosófica, suspensa entre o real e o imaginário, como o Suplemento à Viagem de Bougainville, de
Diderot, ou o Eldorado, em Cândido, de Voltaire, visões de paraísos onde os homens vivem felizes, sem
brigas pela riqueza e pelo poder.
(Adaptado de PIOZZI, Patrizia. Os arquitetos da ordem anárquica: de Rousseau a Proudhon e Bakunin. São Paulo:
Editora UNESP, 2006, p.73-74)
Obs.: 1Bronislaw Baczko (1924-2016), filósofo e historiador de ideias polonês.
2Revolução Gloriosa ou Segunda Revolução Inglesa: movimento revolucionário de caráter pacífico, ocorrido na Inglaterra
entre os anos de 1688 e 1689, que gerou a troca do absolutismo monárquico pela monarquia parlamentar.
3Charles Rihs, autor de obra sobre os filósofos utopistas.
 
 
Segmentos do texto vêm, abaixo, seguidos de observação quanto ao mecanismo de coesão textual de
que fazem parte. A alter nativa que apresenta correto reconhecimento do fenômeno de coesão é:
 a) No belíssimo ensaio em que trata das representações utópicas no século XVIII, Bronislaw Baczko
assinala / duas coesões por retomada de termo.
 b) Bronislaw Baczko assinala a vontade de redimir a civilização moderna dos males que a afligem /
um único elo coesivo, o pronome pessoal oblíquo.
 c) lembrando, por exemplo, o descompasso entre o ideário social elitista de Voltaire e suas
observações, feitas ao historiar os costumes / o último segmento estabelece coesão com o anterior
somente por justaposição, sem articuladores subentendidos.
 d) Montesquieu, rígido defensor do ‘espírito das leis’ em sua obra principal, retrata / um único
elemento coesivo, o pronome possessivo.
 e) os homens das Luzes empreendem também a aventura filosófica / retomada por antonomásia.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/751891
Questão 803: FCC - Ana Prev (SEGEP MA)/SEGEP MA/Administrativa Previdenciária/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
O equilíbrio entre desafio e frustração é crucial no ensino. O problema é que estudantes têm talentos
variados e diferentes. A mesma aula pode ser fácil demais e entediar certos alunos e, ao mesmo tempo,
parecer intransponível a outros.
É óbvio que não somos todos iguais, mas custamos a admitir isso. Uma consequência da ideia de que
somos todos iguais é que a diferença entre os alunos que terão sucesso na escola e os que não terão
não pode ser questão de mais ou menos inteligência, predisposição ou preguiça.
A diferença entre os que conseguem e os que não, para muitos, reside apenas na capacidade de resistir
à frustração.
Ou seja, os que conseguem são os que não desistem, e não desistem porque não se deixam derrubar
pela frustração. Os que não conseguem têm as mesmas habilidades, mas perdem coragem quando
frustrados. Consequência: o que é preciso ensinar às crianças é resistência à frustração, que os estudos e
a vida em geral necessariamente lhes prometem.
Não deixa de ser paradoxal: nossa cultura pensa que a chave do sucesso está na capacidade de se
frustrar. Sempre tem alguém para se indignar porque seríamos hedonistas e imediatistas. Na verdade,
somos uma das culturas menos hedonistas da história do Ocidente: somos apologistas da frustração,
que, aliás, tornou-se mérito.
É raro encontrar pais que não estejam convencidos de que não é bom dar a uma criança o que ela quer.
É claro que, se faz manhas para obter algo que está fora do orçamento familiar, é preciso dizer não. E
talvez seja bom que ela aprenda, assim, que a realidade resiste ao desejo.
Mas nossa pedagogia frustradora não depende do orçamento: uma criança de classe média, nem obesa
nem pré-diabética, pede um sorvete (valor insignificante). Em regra, a resposta será negativa: agora é
tarde ou cedo demais, é muito doce, e por aí vai... Produzir uma frustração é considerado um ato
pedagógico, que ajudará a criança a crescer.
Amadurecer, na nossa cultura, significa aprender a renunciar. Por isso, presume-se que o idoso seja mais
sábio que o jovem, porque saberia "naturalmente" que a vida é renúncia.
Mas e se o essencial da vida forem os sorvetes que não tomamos, todos os pequenos (grandes) prazeres
aos quais renunciamos em nome de uma propedêutica à suposta grande frustração da vida? Pior: e se
estivermos educando as crianças para que queiram desde pequenas renunciar aos prazeres da vida?
Obviamente, não é preciso dar à criança tudo o que pede. Mas também não é preciso lhe negar o que
ela pede sob pretexto de que estaríamos treinando-a para alguma preciosa sabedoria.
(Adaptado de: CALLIGARIS, Contardo. Disponível em: folha.uol.com.br, 21/12/2017)
 
Expressa ideia de finalidade, no contexto, o que se encontra sublinhado em:
 a) E talvez seja bom que ela aprenda, assim, que a realidade resiste ao desejo.
 b) É óbvio que não somos todos iguais, mas custamos a admitir isso.
 c) ... e não desistem porque não se deixam derrubar pela frustração.
 d) ... se faz manhas para obter algo que está fora do orçamento...
 e) A diferença entre os que conseguem e os que não, para muitos, reside apenas na capacidade...
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/655868
Questão 804: FCC - Ana Exec (SEGEP MA)/SEGEP MA/Programador de Sistemas/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
A voz das celebridades
A propósito dos modismos jornalísticos: na ânsia de surpreender o leitor, houve a voga de colher opiniões
de figuras públicas sobre assuntos que fugiam às suas especialidades. Botar o cirurgião célebre, por
exemplo, para falar de arte cinematográfica, ou o jogador de futebol para comentar uma portaria do
Banco Central. Quem vamos ouvir sobre este assunto? − perguntava-se nas redações, em sôfrega
procura pelo enfoque “original”. Logo se destacaram, no picadeiro midiático, umas tantas figuras sempre
prontas a deitar falação sobre o que quer que fosse. A tal ponto que um dia, na revista em que
trabalhava, resolveu-se juntar os falastrões numa só matéria, onde se expusessem ao ridículo. O que se
viu foi um economista palpitando sobre balé e um bailarino a discursar sobre finanças. Deu a maior
confusão, naturalmente. Mas a matéria deixou exposto um modismo jornalístico inaceitável.
(Adaptado de: WERNECK, Humberto. Esse inferno vai acabar. Porto Alegre, Arquipélago Editorial, 2011, p. 102-103)
 
A transformação de um segmento do texto trouxe consigo uma ideia de finalidade em:
 a) na ânsia de surpreender o leitor = tão logo surpreendesse o leitor.
 b) Logo se destacaram... umas tantas figuras = caso se destacassem umas tantas figuras.
 c) sempre prontas a deitar falação = já que se mostravam prontas a deitar falação.
 d) onde se expusessem ao ridículo = para que se exibissem ridiculamente.
 e) a matéria deixou exposto um modismo... inaceitável = embora a matéria expusesse um modismo
inaceitável.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/655355
Questão 805: FCC - AFRE (SEF SC)/SEF SC/Auditoria e Fiscalização/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Existe uma estreita relação entre nutrição, saúde e educação, de um lado, e capacidade de trabalho e
iniciativa de outro. A incompetência econômica do indivíduo resulta em privação material: sua demanda
por bens não corresponde a uma demanda recíproca, no mercado, por aquilo que ele é capaz de
oferecer. Ao mesmo tempo, a pobreza de uma geração se torna o berço da incompetência da geração
seguinte: o ambiente de privação material e ignorância em que nasce (e se forma) o indivíduo impede
que ele desenvolva todas as qualidades físicas, morais e intelectuais das quais dependerá sua
competência na vida prática e sua sobrevivência no mercado. Fecha-se assim o eloentre pobreza e
improficiência.
Entre os economistas do século XIX, foi Marshall aquele que melhor compreendeu a importância da
formação de capital humano − do investimento na qualidade da força de trabalho − para um programa
de reforma social eficaz, voltado para a erradicação da pobreza e a promoção da riqueza e do
desenvolvimento sociais. Na Inglaterra oitocentista de Marshall, existia um vasto contingente de
indivíduos trabalhando com um nível baixíssimo de produtividade, semiocupados ou até incapacitados de
exercer qualquer tipo de atividade no mercado que lhes garantisse o mínimo necessário para um padrão
de vida tolerável.
A bandeira da educação compulsória e universal, financiada e pelo menos parcialmente provida pelo
Estado, é uma tônica constante da economia clássica desde Adam Smith. Malthus, para citar apenas um
exemplo, sugeria que o investimento público maciço em educação seria uma resposta mais eficaz do que
a Poor Law (sistema de assistência social aos pobres) no combate ao pauperismo.
O ponto crucial, contudo, é que os economistas clássicos ainda tendiam a abordar a questão da
educação mais sob o ângulo do bem-estar social, da mudança de atitudes e valores que acarretava, do
que sob o ângulo do capital humano, isto é, como parte do esforço de investimento e formação de
capital produtivo de uma nação.
Foi apenas com os “Princípios de economia” de Marshall que os economistas passaram a tratar a
educação, além da saúde, alimentação etc. − o investimento em seres humanos em suma −, não mais
como uma questão simplesmente humanitária (embora, é claro, também o seja), mas como parte do
esforço de acumulação de capital: como investimento na capacidade produtiva da população, entendida
como resultante de sua saúde e educação básica, bem como de seu grau de competência profissional.
O núcleo do argumento marshalliano é a noção de que o verdadeiro gargalo com que se defrontam as
economias menos desenvolvidas não é a escassez de capital financeiro, mas a escassez de capital
humano. É a falta de capacitação da comunidade para integrar-se de forma dinâmica à economia
mundial que compromete o esforço de crescimento numa economia atrasada.
Mas o que é, afinal, o capital humano? O capital humano representa a capacitação do indivíduo para o
trabalho qualificado. Ele é constituído não somente pelo resultado do investimento da família e da
sociedade na competência produtiva das pessoas, mas também por elementos de natureza ética como,
por exemplo, a capacidade dos indivíduos de agir com base nos interesses comuns. Com isso, aumenta o
poder de ganho dos indivíduos no mercado e eles aprendem que é do seu próprio interesse respeitar
regras gerais de conduta das quais todos os participantes da sociedade se beneficiam, embora para isso
precisem restringir alguns de seus interesses pessoais mais imediatos.
É importante frisar que Marshall sustentou um argumento de caráter econômico quando defendeu a
distribuição menos desigual da riqueza e da renda, de modo a promover a formação de capital humano.
Seu argumento chama a atenção para os ganhos obtidos a partir da melhora na educação da população:
“nenhuma mudança favoreceria tanto um crescimento mais rápido da riqueza material quanto uma
melhoria das nossas escolas [...], desde que possa ser combinada com um amplo sistema de bolsas de
estudo, o que permitirá ao filho do trabalhador mais simples a obtenção da melhor educação teórica e
prática que nossa época é capaz de oferecer a ele.”
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo.
O elogio do vira-lata e outros ensaios. Companhia das Letras, 2018, edição digital.)
 
Fecha-se assim o elo entre pobreza e improficiência.
Em relação aos argumentos que a antecedem, a frase acima exprime noção de
 a) conclusão.
 b) causa.
 c) concessão.
 d) finalidade.
 e) oposição
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/718905
Questão 806: FCC - DP RS/DPE RS/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
 
Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há
alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de
interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a
partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada
dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal
gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.
 
Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los
muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma,
deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania
esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.
 
Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem,
os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes
a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em
preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles
provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles
que o escutam.
 
A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do
esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu
senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas
confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.
 
Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem
conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir
realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito
nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas
gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.
 
(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017)
 
Caso a oração sublinhada no segmento ... nos levar a tomá-los muito “a sério” desta vez e [...] a avaliar
mal sua dimensão de pensamento... (2º parágrafo) seja subordinada à anterior, atribui-se um sentido
adequado ao contexto em:
 a) nos levar a tomá-los mais “a sério”, do que a avaliar mal sua dimensão de pensamento
 b) nos levar a tomá-los tão “a sério”, quanto a avaliar mal sua dimensão de pensamento
 c) nos levar a tomá-los “a sério” desta vez a tal ponto que avaliemos mal sua dimensão de
pensamento
 d) nos levar a tomá-los demasiadamente “a sério”; portanto, a avaliar mal sua dimensão de
pensamento
 e) nos levar a tomá-los muito “a sério”, para que se avalie mal sua dimensão de pensamento
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/659886
Questão 807: FCC - Nutri (Pref Macapá)/Pref Macapá/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
 
De uma entrevista
 
Respondendo à pergunta “Acha bom viver?”, “Essa é a impressão que você dá”, respondeu o escritor e
psicanalista Hélio Pellegrino:
 
“Viver − essa difícil alegria. Viver é jogo, é risco. Quem joga pode ganhar ou perder. O começo da
sabedoria consiste em aceitarmos que perder também faz parte do jogo. Quando isso acontece,
ganhamos alguma coisa de extremamente precioso: ganhamos nossa possibilidade de ganhar. Se sei
perder, sei ganhar. Se não sei perder,não ganho nada, e terei sempre as mãos vazias. Quem não sabe
perder acumula ferrugem nos olhos e se torna cego − cego de rancor. Quando a gente chega a aceitar,
com verdadeira e profunda humildade, as regras do jogo existencial, viver se torna mais que bom −
torna-se fascinante.
 
Viver bem é consumir-se, é queimar os carvões do tempo que nos constitui. Somos feitos de tempo, e
isto significa: somos passagem, movimento sem trégua, finitude. A cota de eternidade que nos cabe está
encravada no tempo. É preciso garimpá-lo com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa
fulgir em nosso lábio. Se assim acontecer, somos alegres e bons, e a vida tem sentido.”
 
(Adaptado de: PELLEGRINO, Hélio. Lucidez embriagada. São Paulo: Planeta, 2004, p. 45)
 
É preciso garimpá-lo com incessante coragem, para que o gosto do seu ouro possa fulgir em nosso lábio.
Ao se reescrever a frase acima com correção e atenção ao contexto, iniciando-a por Para que possa
fulgir em nosso lábio ..., pode seguir-se o coerente complemento:
 a) o ouro com seu gosto garimpado, aonde houver coragem sem medida.
 b) o gosto de ouro do tempo, será necessário garimpá-lo com persistente bravura.
 c) este gosto do tempo, de cujo ouro nossa coragem garimpou sem complascência.
 d) o ouro do tempo, com seu gosto garimpado, graças a tenacidade de nosso empenho.
 e) garimpado como o ouro do tempo, será seu gosto tributário de nossa persistente coragem.
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/713928
Questão 808: FCC - Con Tec Leg (CL DF)/CL DF/Revisor de Texto/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
O termo em destaque está empregado corretamente em:
 a) É o que percebemos em certos realizadores como Jean Rouch ou MacDougall, para quem a
câmera é provocadora, incitativa.
 b) ... as diversas realizações documentais exploram de um certo modo aquilo que nos preocupamos
aqui
 c) O debate engajado entre cinematógrafo e cinema será aquele no interior do que se encontrará a
antropologia...
 d) Na impressionante paisagem do altiplano, esse homem, em que desaparece antes do fim do
filme, fala de um outro mundo...
 e) ... uma África aonde não se excluíam as representações da mudança e da diversidade
contemporânea...
Esta questão possui comentário do professor no site. www.tecconcursos.com.br/questoes/750801
Questão 809: FCC - DP RS/DPE RS/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
 
Tomando resolutamente a sério as narrativas dos “selvagens”, a análise estrutural nos ensina, já há
alguns anos, que tais narrativas são precisamente muito sérias e que nelas se articula um sistema de
interrogações que elevam o pensamento mítico ao plano do pensamento propriamente dito. Sabendo a
partir de agora, graças às Mitológicas, de Claude Lévi-Strauss, que os mitos não falam para nada
dizerem, eles adquirem a nossos olhos um novo prestígio; e, certamente, investi-los assim de tal
gravidade não é atribuir-lhes demasiada honra.
 
Talvez, entretanto, o interesse muito recente que suscitam os mitos corra o risco de nos levar a tomá-los
muito “a sério” desta vez e, por assim dizer, a avaliar mal sua dimensão de pensamento. Se, em suma,
deixássemos na sombra seus aspectos mais acentuados, veríamos difundir-se uma espécie de mitomania
esquecida de um traço todavia comum a muitos mitos, e não exclusivo de sua gravidade: o seu humor.
 
Não menos sérios para os que narram (os índios, por exemplo) do que para os que os recolhem ou leem,
os mitos podem, entretanto, desenvolver uma intensa impressão de cômico; eles desempenham às vezes
a função explícita de divertir os ouvintes, de desencadear sua hilaridade. Se estamos preocupados em
preservar integralmente a verdade dos mitos, não devemos subestimar o alcance real do riso que eles
provocam e considerar que um mito pode ao mesmo tempo falar de coisas solenes e fazer rir aqueles
que o escutam.
 
A vida cotidiana dos “primitivos”, apesar de sua dureza, não se desenvolve sempre sob o signo do
esforço ou da inquietude; também eles sabem propiciar-se verdadeiros momentos de distensão, e seu
senso agudo do ridículo os faz várias vezes caçoar de seus próprios temores. Ora, não raro essas culturas
confiam a seus mitos a tarefa de distrair os homens, desdramatizando, de certa forma, sua existência.
 
Essas narrativas, ora burlescas, ora libertinas, mas nem por isso desprovidas de alguma poesia, são bem
conhecidas de todos os membros da tribo, jovens e velhos; mas, quando eles têm vontade de rir
realmente, pedem a algum velho versado no saber tradicional para contá-las mais uma vez. O efeito
nunca se desmente: os sorrisos do início passam a cacarejos mal reprimidos, o riso explode em francas
gargalhadas que acabam transformando-se em uivos de alegria.
 
(Adaptado de: CLASTRES, Pierre. A Sociedade contra o Estado. São Paulo, Ubu, 2017)
 
Quanto à coesão do texto, é correto afirmar que
 a) é dada pela repetição do termo “mito”, seus derivados e sinônimos, como “mitomania”,
“hilaridade”, “cacarejos” e “narrativas”.
 b) se estabelece sobretudo pelo uso de pronomes e de termos que, embora de sentido diverso, têm
uma mesma referência, como “selvagem”, “índio”, “primitivo”, “membro da tribo”.
 c) é estruturada na oposição entre pensamento mítico e humor, por um lado, e na referenciação
entre os segmentos textuais estabelecida principalmente pelos pronomes.
 d) se articula a partir do uso de expressões adverbiais, como “certamente”, “mais uma vez”, “às
vezes”, “a sério”, “talvez”, que ligam as estruturas sintáticas, intensificando seu sentido.
 e) é construída mediante a pontuação expressiva e o uso dos verbos ora no pretérito, ora no
presente do indicativo, a fim de indicar um percurso temporal no desenvolvimento da argumentação.
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Questão 810: FCC - Adm (Pref Macapá)/Pref Macapá/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Considere o texto a seguir para responder à questão.
Panorama do falar amapaense
Um atlas linguístico tem por finalidade registrar a diversidade na forma de falar do povo de uma região
geograficamente definida. No Brasil, a língua portuguesa apresenta diversidades que estão relacionadas,
entre outros aspectos, às diferentes formas de colonização das regiões. Não há uma língua portuguesa
padronizada, única, falada do Oiapoque ao Chuí.
O primeiro atlas linguístico brasileiro – Atlas prévio dos falares baianos – foi publicado em 1963, por
Nelson Rossi. Nem mesmo dentro dos limites de cada região há uma uniformidade de falares. A partir de
1996, com o lançamento do projeto “Atlas Linguístico do Brasil”, houve um aumento significativo de
publicações de atlas regionais e estaduais por todo o país. Na Região Norte, aos dois primeiros atlas
publicados, do Pará e do Amazonas, veio somar-se o Atlas linguístico do Amapá, lançado em 2017
pela editora Labrador, fruto do trabalho conjunto desenvolvido pelo pós-doutor em linguística pela
Université de Toulouse e pesquisador da UFPA, Abdelhak Razky, pela docente da UNIFAP, Celeste Maria
da Rocha Ribeiro, e pelo doutorando pela UFPA, Romário Duarte Sanches.
O atlas possibilita vislumbrar o panorama da realidade linguística do Amapá, buscando contribuir para o
entendimento mais coerente da língua e de suas variantes e preocupando-se também em eliminar a
visão distorcida que tende a privilegiar uma variante, geralmente a mais culta, e estigmatizar as demais.
(Adaptado de: PINTO, Walter. Disponível em: www.beiradorio.ufpa.br)
Considere o trecho do primeiro parágrafo:
No Brasil, a língua portuguesa apresenta diversidades que estão relacionadas, entre outros aspectos, às
diferentes formas de colonização das regiões. Não há uma língua portuguesa padronizada,única, falada
do Oiapoque ao Chuí.
O segundo período, sublinhado no trecho, apresenta uma afirmação que
 a) relativiza o expresso no período anterior.
 b) refuta o expresso no período anterior.
 c) restringe o expresso no período anterior.
 d) corrobora o expresso no período anterior.
 e) contesta o expresso no período anterior.
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Questão 811: FCC - Educ Soc (FCRIA)/FCRIA (AP)/Nível Superior/Arte Educador/2018
Assunto: Coerência. Coesão (Anáfora, Catáfora, Uso dos Conectores - Pronomes relativos,
Conjunções etc)
Atenção: Leia o texto abaixo para responder à questão.
1. A crônica no Brasil teve alguns autores de grande qualidade literária que também chegaram ao
sucesso popular. João do Rio, Rubem Braga e Nelso Rodrigues logo vêm à mente. Depois deles, o grande
cronista famoso do país é, claro, Luis Fernando Verissimo. Ele tem grande percepção para o
comportamento social e suas mudanças e semelhanças no passar do tempo, revelando mais sobre a
atual classe média brasileira em seus textos do que todos os ficcionistas vivos do país, somados. Seu
intimismo não é nostálgico, é reflexivo; ele não precisa rir para que se perceba que está contando uma
piada; e jamais deixa de dar sua opinião. Sobre suas influências, métodos e assuntos, ele fala na
entrevista a seguir.
2. Ivan Lessa diz que a crônica no Brasil tem uma tradição rica porque “somos bons no
pinguepongue”. Você concorda? E por que somos bons no pinguepongue? Lessa diz que é
porque “gostamos de falar de nós mesmos, contar a vida (íntima) para os outros... – Acho que
a crônica pegou no Brasil pelo acidente de aparecerem bons cronistas, como o Rubem Braga, que
conquistaram o público. Não existem tantos cronistas porque existia uma misteriosa predisposição no
público pela crônica, acho que foram os bons cronistas que criaram o mercado.
3. Você, na verdade, talvez seja o menos “confessional” dos cronistas brasileiros. Difícil vê-lo
relatar que foi a tal lugar, com tal pessoa, num dia chuvoso etc. e tal. Por quê? – De certa
maneira, o cronista é sempre seu assunto. A crônica não é lugar para objetividade, todos escrevem de
acordo com seus preconceitos. Ser mais pessoal, mais coloquial, depende do estilo de cada um. Mas a
gente está se confessando sempre.
4. Há uma mescla de artigo e crônica nos seus textos, como se você estivesse interessado
nas ideias, na reflexão sobre o comportamento humano, e ao mesmo tempo desconfiasse
profundamente de generalizações e filosofices. Você é um pensador que “croniqueia” ou um
cronista que filosofa? – Prefiro pensar que sou um cronista que às vezes tem teses, mas nunca vai
buscá-las muito fundo. O negócio é pensar sobre as coisas, e tentar pensar bem, mas nunca esquecer
que nada vai ficar gravado em pedra, ou fazer muita diferença.
5. Você diz que o século XX foi o das “boas intenções derrotadas”. Também foi o século de
Frank Sinatra, de Pelé... E o século das listas de melhores do século. Você faria uma lista das
dez boas intenções vencedoras? – Este foi o século em que as melhores ideias foram derrotadas. Eu
só livraria a escada rolante e o controle remoto.
(Adaptado de: PIZA, Daniel. Entrevista com Luís Fernando Verissimo. São Paulo: Contexto, São Paulo, 2004,
ed. digital.)
 
A crônica no Brasil teve alguns autores de grande qualidade literária que também chegaram ao sucesso
popular.
... pelo acidente de aparecerem bons cronistas, como o Rubem Braga, que conquistaram o público.
Este foi o século em que as melhores ideias foram derrotadas.
Os termos sublinhados acima referem-se respectivamente a:
 a) alguns autores − Rubem Braga − século
 b) crônica − Rubem Braga − melhores ideias
 c) qualidade literária − Rubem Braga − século
 d) alguns autores − bons cronistas − século
 e) qualidade literária − Bons cronistas − melhores ideias
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Questão 812: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Apoio Especializado/Enfermagem do Trabalho/2023
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.
 
Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-
se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos.
Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à
banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de
sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do
vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados.
Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
 
− Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
 
− A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
 
− Coitada... Vocação de viúva.
 
− Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
 
Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou
nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que
formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si
mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na
aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez,
recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita.
Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que
denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem
agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
 
Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa,
exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os
vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do
apartamento.
 
A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar
bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes
agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em
frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de
olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se
percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus
doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.
 
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)
 
Perguntei ao vendedor: − Essa senhora tem vocação de viúva?
 
Ao ser transposto para o discurso indireto, o texto acima assume a seguinte redação:
 a) Perguntei ao vendedor se aquela senhora tivera vocação de viúva.
 b) Perguntei ao vendedor: − Aquela senhora tinha vocação de viúva?
 c) Perguntei ao vendedor se aquela senhora tem vocação de viúva.
 d) Perguntei ao vendedor: − Aquela senhora teria vocação de viúva?
 e) Perguntei ao vendedor se aquela senhora tinha vocação de viúva.
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Questão 813: FCC - TJ TRT18/TRT 18/Administrativa/Agente de Policia Judicial/2023
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Leia a crônica “Pai de família sem plantação”, de Paulo Mendes Campos, para responder à
questão.
 
Sempre me lembro da história exemplar de um mineiro que veio até a capital, zanzoupor aqui, e voltou
para contar em casa os assombros da cidade. Seu velho pai balançou a cabeça; fazendo da própria
dúvida a sua sabedoria: “É, meu filho, tudo isso pode ser muito bonito, mas pai de família que não tem
plantação, não sei não...”
 
Às vezes morro de nostalgia. São momentos de sinceridade, nos quais todo o meu ser denuncia minha
falsa condição de morador do Rio de Janeiro. A trepidação desta cidade não é minha. Sou mais, muito
mais, querendo ou não querendo, de uma indolência de sol parado e gerânios. Minha terra é outra,
minha gente não é esta, meu tempo é mais pausado, meus assuntos são mais humildes, minha fala,
mais arrastada. O milho pendoou? Vamos ao pasto dos Macacos matar codorna? A vaca do coronel já
deu cria? Desta literatura rural é que preciso.
 
Eis em torno de mim, a cingir-me como um anel, o Rio de Janeiro. Velozes automóveis me perseguem
na rua, novos edifícios crescem fazendo barulho em meus ouvidos, a guerra comercial não me dá
tréguas, o clamor do telefone me põe a funcionar sem querer, a vaga se espraia e repercute no meu
peito, minha inocência não percebe o negócio de milhões articulado com um sorriso e um aperto de
mão. Pois eu não sou daqui.
 
Vivo em apartamento só por ter cedido a uma perversão coletiva; nasci em casa de dois planos, o de
cima, da família, sobre tábuas lavadas, claro e sem segredos, e o de baixo, das crianças, o porão escuro,
onde a vida se tece de nada, de pressentimentos, de imaginação, do estofo dos sonhos. A maciez das
mãos que me cumprimentam na cidade tem qualquer coisa de peixe e mentira; não sou desta viração
mesclada de maresia; não sei comer este prato vermelho e argênteo de crustáceos; não entendo os
sinais que os navios trocam na cerração além da minha janela. Confio mais em mãos calosas, meus
sentidos querem uma brisa à boca da noite cheirando a capim-gordura; um prato de tutu e torresmos
para minha fome; e quando o trem distante apitasse na calada, pelo menos eu saberia em que
sentimentos desfalecer.
 
Ando bem sem automóvel, mas sinto falta de uma charrete. Com um matungo que me criasse amizade,
eu visitaria o vigário, o médico, o turco, o promotor que lê Victor Hugo, o italiano que tem uma horta, o
ateu local, o criminoso da cadeia, todos eles muitos meus amigos. Se aqui não vou à igreja, lá pelo
menos frequentaria a doçura do adro, olhando o cemitério em aclive sobre a encosta, emoldurado em
muros brancos. Aqui jaz Paulo Mendes Campos. Por favor, engavetem-me com simplicidade do lado da
sombra. É tudo o que peço. E não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato. São Paulo: Ática, 2012)
 
O cronista disse: − Não é preciso rezar por minha alma desgovernada.
 
Ao ser transposto para o discurso indireto, o texto acima assume a seguinte redação:
 a) O cronista disse: − Não precisava rezar por sua alma desgovernada.
 b) O cronista disse: − Não precisaria rezar por minha alma desgovernada.
 c) O cronista disse que não fora preciso rezar por minha alma desgovernada.
 d) O cronista disse que não era preciso rezar por sua alma desgovernada.
 e) O cronista disse que não é preciso rezar por sua alma desgovernada.
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Questão 814: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador Federal/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Não me correu tranquilo o S. João de 185...
 
Duas semanas antes do dia em que a Igreja celebra o evangelista, recebi pelo correio o seguinte bilhete,
sem assinatura e de letra desconhecida:
 
“O Dr. *** é convidado a ir à vila de... tomar conta de um processo. O objeto é digno do talento e das
habilitações do advogado. Despesas e honorários ser-lhe-ão satisfeitos antecipadamente, mal puser pé
no estribo. O réu está na cadeia da mesma vila e chamase Julião. Note que o Dr. é convidado a ir
defender o réu.”
 
Li e reli este bilhete; voltei-o em todos os sentidos; comparei a letra com todas as letras dos meus
amigos e conhecidos... Nada pude descobrir.
 
Entretanto, picava-me a curiosidade. Luzia-me um romance através daquele misterioso e anônimo
bilhete. Tomei uma resolução definitiva. Ultimei uns negócios, dei de mão outros, e oito dias depois de
receber o bilhete tinha à porta um cavalo e um camarada para seguir viagem. No momento em que me
dispunha a sair, entrou-me em casa um sujeito desconhecido, e entregou-me um rolo de papel contendo
uma avultada soma, importância aproximada das despesas e dos honorários. Recusei apesar das
instâncias, montei a cavalo e parti.
 
Só depois de ter feito algumas léguas é que me lembrei de que justamente na vila a que eu ia morava
um amigo meu, antigo companheiro da academia.
 
Poucos dias depois apeava eu à porta do referido amigo. Depois de entregar o cavalo aos cuidados do
camarada, entrei para abraçar o meu antigo companheiro de estudos, que me recebeu alvoroçado e
admirado.
 
− A que vens, meu amigo? A que vens? perguntava-me ele.
 
− Vais sabê-lo. Creio que há um romance para deslindar. Há quinze dias recebi no meu escritório, na
corte, um bilhete anônimo em que se me convidava com instância a vir a esta vila para tomar conta de
uma defesa. Não pude conhecer a letra; era desigual e trêmula, como escrita por mão cansada...
 
− Tens o bilhete contigo?
 
− Tenho.
 
Tirei do bolso o misterioso bilhete e entreguei-o aberto ao meu amigo. Ele, depois de lê-lo, disse:
 
− É a letra de Pai de todos.
 
− Quem é Pai de todos?
 
− É um fazendeiro destas paragens, o velho Pio. O povo dá-lhe o nome de Pai de todos, porque o velho
Pio o é na verdade.
 
− Bem dizia eu que há romance no fundo!... Que faz esse velho para que lhe deem semelhante título?
 
− Pouca coisa. Pio é, por assim dizer, a justiça e a caridade fundidas em uma só pessoa. Só as grandes
causas vão ter às autoridades judiciárias, policiais ou municipais; mas tudo o que não sai de certa ordem
é decidido na fazenda de Pio, cuja sentença todos acatam e cumprem. Seja ela contra Pedro ou contra
Paulo, Paulo e Pedro submetem-se, como se fora uma decisão divina.
 
Quando dois contendores saem da fazenda de Pio, saem amigos. É caso de consciência aderir ao
julgamento de Pai de todos.
 
O meu amigo continuou a desfiar as virtudes do fazendeiro. Meu espírito apreendia-se cada vez mais de
que eu ia entrar em um romance. Finalmente o meu amigo dispunha-se a contar-me a história do crime
em cujo conhecimento devia eu entrar daí a poucas horas. Detive-o.
 
− Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu. Depois compararei com o que me
contarás.
 
− É melhor. Julião é inocente...
 
(Adaptado de: ASSIS, Machado de. Obra Completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994)
 
“– Não, disse-lhe, deixa-me saber de tudo por boca do próprio réu.”
 
Ao se transpor o trecho acima para o discurso indireto, o verbo sublinhado assume a seguinte forma:
 a) deixou.
 b) deixaria.
 c) deixe.
 d) deixava.
 e) deixasse.
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Questão 815: FCC - AFTE (SEFAZ PE)/SEFAZ PE/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Para responder a questão a seguir, baseie-se no texto abaixo, um excerto do Tratado sobre a
tolerância, publicado em 1763, pelo filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778).
 
[A voz da natureza]
 
A natureza diz a todos os homens: fiz todos vós fracos e ignorantes, para vegetarem alguns minutos na
terra e para adubaremna com vossos cadáveres. Como sois fracos, socorrei-vos; como sois ignorantes,
esclarecei-vos e tolerai-vos. Quando tiverdes todos a mesma opinião, o que certamente não acontecerá
jamais, quando houver um único homem de opinião contrária, deveríeis perdoálo: afinal sou eu que o
faço pensar como ele pensa.
 
Eu vos dei braços para cultivar a terra e uma pequena luz de razão para vos conduzir; coloquei em
vossos corações um germede compaixão para que uns ajudem os outros a suportar a vida. Não abafeis
esse germe, não o corrompais, aprendei que ele é divino, e não substituais a voz da natureza pelos
miseráveis furores da escola.
 
Sou apenas eu que ainda vos une, sem que o desconfieis, por vossas necessidades mútuas, mesmo em
vossas guerras cruéis tão ligeiramente empreendidas, teatro eterno dos erros, dos acasos e das
infelicidades. Sou apenas eu que, em uma nação, impede as sequências funestas da divisão interminável
entre a nobreza e a magistratura, entre esses dois corpos e o do clero, entre o burguês e o cultivador.
(...) Parai, afastai esses destroços funestos que são vossa obra e continuai comigo em paz no edifício
inabalável que é o meu.
(Adaptado de: VOLTAIRE, op. cit. Trad. Ana Luiza Reis Bedê. São Paulo: Martin Claret, 2017, p. 98-99)
 
Transpondo-se para o discurso indireto o primeiro período do texto e observando-se rigorosamente as
normas da língua culta, obtém-se a seguinte sequência: A natureza diz a todos os homens que
 a) fizemo-nos fracos e ignorantes, para vegetarmos alguns minutos na terra e para a adubarmos com
nossos cadáveres.
 b) ela fez de nós fracos e ignorantes, para que vegetemos alguns minutos na terra para que lhe
adubássemos com nossos cadáveres.
 c) fez-lhes fracos e ignorantes, para vegetar alguns minutos na terra e adubar-lhe, com seus
cadáveres.
 d) os fizera fracos e ignorantes, para que vegetassem alguns minutos na terra, que adubariam-na
com seus cadáveres.
 e) os fez fracos e ignorantes para que vegetem alguns minutos na terra e a adubem com seus
cadáveres.
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Questão 816: FCC - AJ (TJ CE)/TJ CE/Ciência da Computação/Infraestrutura de TI/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder à questão, leia o início do conto “Missa do Galo”, de Machado de Assis.
 
Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete,
ela, trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não
dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
 
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias,
com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem quando
vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranquilo, naquela
casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família
era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite
toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de
uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões,
a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na
manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia
amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição
padecera, a princípio, com a existência da comborça*; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e
acabou achando que era muito direito.
 
Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os
esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes
lágrimas, nem grandes risos. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem
bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo.
Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.
 
Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em
Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver “a missa do galo na Corte”. A família recolheu-se
à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada
e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a
terceira ficava em casa.
 
− Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.
 
− Leio, D. Inácia.
 
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-
me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa
dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D'Artagnan e fui-me às aventuras. Os minutos
voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase
sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura.
 
(Adaptado de: Machado de Assis. Contos: uma antologia. São Paulo: Companhia das Letras, 1988)
 
*comborça: qualificação humilhante da amante de homem casado
 
pedi-lhe que me levasse consigo (2o parágrafo)
 
Ao se transpor esse trecho para o discurso direto, o verbo sublinhado assume a seguinte forma:
 a) levava
 b) levai
 c) levou
 d) leve
 e) levaria
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Questão 817: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder a questão, considere o texto de Mario Quintana.
 
Velha história
 
Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era
tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com
pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-
o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram
inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava a trote, que nem um cachorrinho. Pelas
calçadas. Pelos elevadores. Pelo café. Como era tocante vê-los no "17"! – o homem, grave, de preto,
com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra
fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava
laranjada por um canudinho especial...
 
Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado.
E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:
 
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do
teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua
família. E viva eu cá na terra sempre triste!...”
 
Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez
redemoinho, que foi depois serenando, serenando até que o peixinho morreu afogado...
 
(Mario Quintana. Eu passarinho. São Paulo: Ática, 2014)
 
“Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do
teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua
família. E viva eu cá na terra sempre triste!...” (3º parágrafo)
 
Ao se transpor o trecho acima para o discurso indireto, os termos sublinhados assumem as seguintes
formas:
 a) assistira e voltara.
 b) assistiria e voltasse.
 c) assistia e voltava.
 d) assistiria e voltaria.
 e) assistia e voltasse.
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Questão 818: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Administrativa/Contabilidade/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Depois que vê a garota ele corre se olhar no espelho: não pode negar, meio feio? quase feio? Numa
palavra, feio. Dia seguinte desiste do bigode ralo. Quem sabe costeleta ou cavanhaque? A menina o
enfeitiça. Possuído, sim. Febrícula, sonho delirante, falta de ar, sede masnão de água. Ela surge
enrolada no garfo do suculento espaguete à bolonhesa. De sainha xadrez na primeira tarde, ó deliciosa
bolacha Maria com geleia de uva. Formigas de fogo mordem sob a camisa quando ela vem na rua,
brincando com o arco-íris na ponta dos dedos.
 
Consegue afinal apertar-lhe a mãozinha na luva de crochê, ri (descuidoso de ser feio) dentro de seus
olhos glaucos. Discutem o narizinho, quem sabe arrebitado, segundo ela. E para ele, nada mais bonito
que tal narizinho. Meio do sono acorda, olho arregalado no escuro. A sua imagem o percorre, impetuoso
vento por uma casa de portas abertas. Ninguém por perto, fala sozinho. A mãe o acha mais magro.
Quem dera ser o terceiro motociclista do Globo da Morte.
 
Em guarda no portão, as mãos suadas, fumando. Ela aparece: um caramanchão florido de glicínia azul.
Olhinho esquivo que fixa e foge. O sorriso (uma virgem fatal?) na pequena boca fresca. Um dentinho
ectópico no lado esquerdo, onde a palavra tiau esbarra quando sai. Ah, se ela deixar, passa o resto da
vida adorando esse dentinho. Espera outras vezes, fumando aflito, um cigarro aceso no outro. Ele
mesmo um cigarro em chamas. A mocinha não quer lhe dar a mão. Como pode, uma santinha
disfarçada na terra? Depois, deu.
 
Brava, ainda mais linda. Toda rosa, o lenço no pescoço, gatinha na janela depois do banho. A curva
altaneira da testa, os cachos loiros arrepiados ao vento. Ai, não, uma pérola na orelha. A pérola da
orelha. Uma divina orelhinha esquerda, sabe o que é? A voz meio rouca: Adivinhe o que eu tenho na
mão? “Bem, pode ser tanta coisa.” Bala de mel, seu bobo. Pra você que não merece. Já esquecido de
timidez e feiura: “Sabe o que eu mais quero? É embalar você no colo.” Pronto, ofendida, lhe negaceou o
rosto. De mal, até amanhã. Amanhã nosso herói vai cultivar uma barbicha.
 
(TREVISAN, Dalton. Namorada. Adaptado de: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Namorada)
 
Já esquecido de timidez e feiura: “Sabe o que eu mais quero? É embalar você no colo.”
 
O período acima poderia ser reescrito em discurso indireto da seguinte forma:
 
Já esquecido de timidez e feiura, ele perguntou para ela
 a) para que soubesse o que ele mais queria. E respondeu que era embalá-la no colo.
 b) se soube o que ele mais quis. E respondeu que seria embalar você no colo.
 c) se sabia o que ele mais queria. E respondeu que era embalá-la no colo.
 d) para que soubera o que ele mais quis. E respondeu que poderia ser embalar você no colo.
 e) se soubesse o que ele mais queria. E respondeu que é embalá-la no colo.
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Questão 819: FCC - AJ TRT14/TRT 14/Administrativa/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Leia o texto para responder à questão.
 
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio
que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas
cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande
salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro- te.
 
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-
hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então
redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei
aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e
tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que
me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e
enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a
paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio,
porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como
as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado,
sede de nomeada. Digamos: − amor da glória.
 
Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição
das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos
terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem,
e, conseguintemente, a sua mais genuína feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao
emplasto.
 
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas)
 
Um tio meu [...] costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas (3º parágrafo)
 
Transposto para o discurso direto, a fala inserida no trecho acima assume a seguinte redação:
 a) – O amor da glória temporal é a perdição das almas.
 b) – No amor da glória temporal perderam-se as almas.
 c) pensava que o amor da glória temporal seria a perdição das almas.
 d) se não fosse o amor da glória temporal a perdição das almas.
 e) – O amor da glória temporal fora a perdição das almas.
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Questão 820: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Apoio Especializado/Engenharia Civil/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder a questão, considere um trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis.
 
Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no
cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço
de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o
presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas
chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a
enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma
sensação de propriedade.
 
– Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com
Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está
tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
 
Que abismo que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele
pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém,
deixou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião
acompanham, arregalados? Ele, coração, vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer,
foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... – Bonita canoa! – Antes assim! – Como
obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles estão no Céu!
 
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par
de figuras que aqui está na sala, um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a
bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada.
 
(Machado de Assis. Quincas Borba. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
 
Verifica-se a ocorrência de discurso indireto livre no seguinte trecho:
 a) – Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. (2º parágrafo)
 b) Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. (1º parágrafo)
 c) Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. (1º
parágrafo)
 d) Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. (2º
parágrafo)
 e) – Bonita canoa! – Antes assim!– Como obedece bem aos remos do homem! – O certo é que eles
estão no Céu! (3º parágrafo)
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Questão 821: FCC - AJ TRT9/TRT 9/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Vocação e ambição
 
Machado de Assis tem um conto admirável – “Um homem célebre” – que narra a história de um famoso
e prestigiado compositor popular do Rio do século XIX, um tal de Pestana, que em vez de gozar o
sucesso de cada uma de suas composições ligeiras e dançantes, vivia atormentado por não compor
nada à altura de um Mozart, de um Beethoven. Cada vez que uma composição sua atingia em cheio o
gosto popular, o maestro oculto que havia nele sofria o sucesso fácil como uma sentença de morte.
 
Machado resumiu assim a vida dramática desse músico ao mesmo tempo celebrado e infeliz: “Eterna
peteca entre a ambição e a vocação”.
 
A frase é forte: o jogo da peteca realiza o sofrido movimento de pêndulo de cada divisão nossa, que
nunca encontra um ponto de equilíbrio. Ser jogado eternamente de um lado para outro, sem repouso, é
de enlouquecer. É a oposição contínua entre duas forças que nos dividem e fazem sofrer: a força que
está na inclinação natural para atender a uma vocação já instalada em nós e a força pela qual
pretendemos atingir uma altura que está longe dos nossos recursos. No caso de Pestana, a aclamação
pública que cada música sua atingia não compensava de modo algum a falta de realização de seus mais
altos projetos pessoais.
 
Com esse conto, Machado lembra que há quem não se contente em ser uma celebridade, sobretudo
quando julga vazia essa celebração; há ainda quem busque alcançar a aprovação pública pelo valor
efetivo de uma mais alta realização criativa. Essa busca, para desgraça nossa, é sofrida, e pode nos
levar a dançar de um lado para outro. A saída estaria em identificarmos precisamente qual é a nossa
vocação, para estabelecermos a partir dela os contornos da nossa ambição.
 
(TOLEDO, Cristiano. A publicar)
 
Alguém deveria dizer ao Pestana: – Deixa de lamentar essa tua viva produção popular, goza o prestígio
que já alcançaste!
 
Ao transpor a frase acima para o discurso indireto, ela deverá ficar: Alguém deveria dizer ao Pestana
 a) que deixasse de lamentar aquela sua viva produção popular, que gozasse o prestígio já alcançado.
 b) porque não deixasse de lamentar a produção popular, para assim gozar teu prestígio já alcançado!
 c) se ele não deveria deixar de lamentar essa sua produção popular em vez de gozar o prestígio que
já se alcançara.
 d) para que ele deixe de lamentar esta produção popular, gozando esse prestígio já alcançado.
 e) para não lamentar tua viva produção popular, porque não gozava do prestígio que ela já alcançou.
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Questão 822: FCC - AJ TRT4/TRT 4/Judiciária/"Sem Especialidade"/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Para responder a questão, baseie-se no texto abaixo.
 
[Ritmos da civilização]
 
Se um camponês espanhol tivesse adormecido no ano 1.000 e despertado quinhentos anos depois, ao
som dos marinheiros de Colombo a bordo das caravelas Nina, Pinta e Santa Maria, o mundo lhe
pareceria bastante familiar. Esse viajante da Idade Média ainda teria se sentido em casa. Mas se um dos
marinheiros de Colombo tivesse caído em letargia similar e despertado ao toque de um iPhone do século
XXI, se encontraria num mundo estranho, para além de sua compreensão. “Estou no Céu?”, ele poderia
muito bem se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
 
Os últimos quinhentos anos testemunharam um crescimento fenomenal e sem precedentes no poderio
humano. Suponha que um navio de batalha moderno fosse transportado de volta à época de Colombo.
Em questão de segundos, poderia destruir as três caravelas e em seguida afundar as esquadras de cada
uma das grandes potências mundiais. Cinco navios de carga modernos poderiam levar a bordo o
carregamento das frotas mercantes do mundo inteiro. Um computador moderno poderia facilmente
armazenar cada palavra e número de todos os documentos de todas as bibliotecas medievais, com
espaço de sobra. Qualquer grande banco de hoje tem mais dinheiro do que todos os reinos do mundo
pré-moderno reunidos.
 
Durante a maior parte da sua história, os humanos não sabiam nada sobre 99,99% dos organismos do
planeta – em especial, os micro-organismos. Foi só em 1674 que um olho humano viu um micro-
organismo pela primeira vez, quando Anton van Leeuwenhock deu uma espiada através de seu
microscópio caseiro e ficou impressionado ao ver um mundo inteiro de criaturas minúsculas dando volta
em uma gota d’água. Hoje, projetamos bactérias para produzir medicamentos, fabricar biocombustível e
matar parasitas.
 
Mas o momento mais notável e definidor dos últimos 500 anos ocorreu às 5h29m45s da manhã de 16
de julho de 1945. Naquele segundo exato, cientistas norte-americanos detonaram a primeira bomba
atômica em Alamogordo, Novo México. Daquele ponto em diante, a humanidade teve a capacidade não
só de mudar o curso da história como também de colocar um fim nela. O processo histórico que levou a
Alamogordo e à Lua é conhecido como Revolução Científica. Ao longo dos últimos cinco séculos, os
humanos passaram a acreditar que poderiam aumentar suas capacidades se investissem em pesquisa
científica. O que ninguém poderia imaginar era em que aceleração frenética tudo se daria.
 
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Uma breve história da humanidade. Trad. Janaína Marcoantonio. Porto Alegre:
L&PM, 2018, p. 257-259, passim)
 
“Estou no Céu?”, ele poderia muito bem se perguntar, “Ou, talvez, no Inferno?”
 
Caso o autor do texto optasse por usar o discurso indireto, o segmento acima deveria apresentar a
seguinte construção: Ele poderia muito bem se perguntar
 a) se estou no Céu, ou no Inferno, quem sabe?
 b) aonde estaria eu, se no Céu, talvez, ou no Inferno.
 c) onde estaria, se no Céu, ou se no Inferno.
 d) onde haverá de estar: no Céu ou no Inferno?
 e) consigo mesmo: onde estou, este é o Céu ou o Inferno?
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Questão 823: FCC - ACE (TCE-GO)/TCE GO/Contabilidade/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
A nuvem
 
− “Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem
reclamar, sem protestar, sem espinafrar!”
 
E meu amigo falou de água, telefone, conta de luz, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na
rua etc. etc. etc.
 
Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que
tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu for ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é
que vai aguentar me ler? Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
 
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos da rua e outras mazelas. Não é verdade que as
amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas voando no ar? E ficaria
demasiado feio eu confessar que há uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses
encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que
importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terna e gravemente; sem melancolia, porque sem
ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as
cinzas do meu crepúsculo.
 
E olhem só que tipo estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão –
e seus tradicionais buracos.
 
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana! Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960, pp. 179-180)
 
Atente para esta passagem em discurso direto:
 
– Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever sem reclamar – disse meuamigo,
 
Transpondo a passagem acima para o discurso indireto, ela deverá ficar:
 
Meu amigo me disse que
 a) ficaria admirado de mim, morando nesta cidade, conseguindo escrever sem reclamar.
 b) me admirava por eu morar nesta cidade escrevendo sem lhe reclamar.
 c) admiro muito que você more nesta cidade e consiga escrever sem reclamar.
 d) eu era de admirar, uma vez que morando nesta cidade, como é que alguém fica sem reclamar?
 e) se admirava pelo modo como eu, morando nesta cidade, conseguia escrever sem reclamar.
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Questão 824: FCC - AJ TRT22/TRT 22/Área Judiciária/Oficial de Justiça Avaliador
Federal/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.
Lembram-se da história de Tristão e Isolda? O enredo gira em torno da transformação da relação entre
os dois protagonistas. Isolda pede à criada, Brangena, que lhe prepare uma poção letal, mas, em vez
disso, ela prepara-lhe um “filtro de amor”, que tanto Tristão como Isolda bebem sem saber o efeito que
irá produzir. A misteriosa bebida desperta neles a mais profunda das paixões e arrasta-os para um
êxtase que nada consegue dissipar − nem sequer o fato de ambos estarem traindo infamemente o
bondoso rei Mark. Na ópera Tristão e Isolda, Richard Wagner captou a força da ligação entre os amantes
numa das passagens mais exaltadas da história da música. Devemos interrogar-nos sobre o que o atraiu
para essa história e por que motivo milhões de pessoas, durante mais de um século, têm partilhado o
fascínio de Wagner por ela.
 
A resposta à primeira pergunta é que a composição celebrava uma paixão semelhante e muito real da
vida de Wagner. Wagner e Mathilde Wesendonck tinham se apaixonado de forma não menos insensata,
se considerarmos que Mathilde era a mulher do generoso benfeitor de Wagner e que Wagner era um
homem casado. Wagner tinha sentido as forças ocultas e indomáveis que por vezes conseguem se
sobrepor à vontade própria e que, na ausência de explicações mais adequadas, têm sido atribuídas à
magia ou ao destino. A resposta à segunda questão é um desafio ainda mais atraente.
 
Existem, com efeito, poções em nossos organismos e cérebros capazes de impor comportamentos que
podemos ser capazes ou não de eliminar por meio da chamada força de vontade. Um exemplo
elementar é a substância química oxitocina. No caso dos mamíferos, incluindo os seres humanos, essa
substância é produzida tanto no cérebro como no corpo. De modo geral, influencia toda uma série de
comportamentos, facilita as interações sociais e induz a ligação entre os parceiros amorosos.
 
Não há dúvida de que os seres humanos estão constantemente usando muitos dos efeitos da oxitocina,
conquanto tenham aprendido a evitar, em determinadas circunstâncias, os efeitos que podem vir a não
ser bons. Não se deve esquecer que o filtro de amor não trouxe bons resultados para o Tristão e Isolda
de Wagner. Ao fim de três horas de espetáculo, eles encontram uma morte desoladora.
 
(Adaptado de: DAMÁSIO, António. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital)
 
Lembram-se da história de Tristão e Isolda?
 
Transposto para o discurso indireto, o trecho acima assume a seguinte redação:
 a) Ele perguntou: vocês se lembram da história de Tristão e Isolda?
 b) Ele perguntou se nós nos lembrávamos da história de Tristão e Isolda.
 c) Ele perguntou-nos se acaso lembráramos da história de Tristão e Isolda.
 d) Ele pergunta a vocês se lembram da história de Tristão e Isolda.
 e) Ele pergunta se se lembraram da história de Tristão e Isolda.
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Questão 825: FCC - TNS (SEMPLAN)/Pref Teresina/Fiscal de Serviços Públicos/2022
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Texto
 
Memória de longe
 
Ao longo da vida, nossas lembranças não apenas se renovam, segundo os fatos que vão acontecendo. A
faculdade da memória, em seu misterioso processo, muda de natureza. Na velhice, a memória costuma
priorizar as lembranças mais antigas segundo necessidades novas. É o que confirma o caso seguinte.
 
Meu muito velho vizinho estava morrendo. Ciente de seu estado, pediu que chamassem o filho
longínquo, que há tanto tempo estava sem ver, já perdera a conta dos anos. Chamaram, e o filho José
se pôs a caminho, ele mesmo, seu filho predileto, o filho Zezito. E o José enfim chegou de sua longa
viagem de avião, respondendo contristado ao apelo paterno. Surgiu no quarto penumbroso, achegou-se
ao leito, os cabelos e os bigodes já grisalhando contra a luz do abajur.
 
A filha alertou o velho:
 
– Olha, aí, pai, o Zezito chegou. Pertinho de você.
 
O velho entreabriu os olhos turvos e já ia estendendo um braço, quando então o recolheu, murmurando
num tom irritado:
 
– Esse aí não é o Zezito, não! Cadê o Zezito?
 
Horas depois o velho vizinho partiu. Sem se despedir de ninguém, nem mesmo do menino que há tanto,
tanto tempo perdera de vista.
 
(Jesualdo Calixto, inédito)
 
Atente para esta construção:
 
A filha alertou o velho:
 
– Olha aí, pai, o Zezito chegou. Pertinho de você.
 
Transpondo-se para o discurso indireto, esta passagem deverá ficar: A filha alertou o pai que
 a) olhe para o Zezito que chegou, pertinho de você.
 b) ali chegara o Zezito, que olhe ele pertinho de você.
 c) o Zezito chegou, pai, aí pertinho de você.
 d) olhasse o Zezito, que chegara e estava pertinho dele.
 e) chegara o Zezito, que o olhasse pertinho, pai.
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Questão 826: FCC - Cons Tec (CM Fortal)/CM Fortaleza/Jurídico/2019
Assunto: Tipos de discurso (Direto, Indireto e Indireto Livre)
Falso mar, falso mundo
O mundo anda cada vez mais complicado, o que não é bom. O frágil corpo humano não foi feito para
competir com a máquina, conviver com a máquina e explorá-la. A cada adiantamento técnico-científico, o
conflito fica mais duro para o nosso lado.
Mas nesta semana vi na TV uma reportagem que me horrorizou como prova de que, a cada dia, mais
renunciamos às nossas prerrogativas de seres vivos e nos tornamos robotizados. Foi a “praia artificial” no
Japão (logo no Japão, arquipélago penetrado e cercado de mar por todos os lados!).
É um galpão imenso, maior que qualquer aeroporto, coberto por uma espécie de cúpula oblonga, de
plástico. E filas à entrada, lá dentro um guichê, o pessoal paga a entrada, que é cara, e some. Deve
entrar no vestiário, ou antes, no despiário, pois surgem já convenientemente seminus, como se faz na
praia. Pois que debaixo daquele imenso teto de plástico está um mar, com a sua praia. Mar que, na tela,
aparece bem azul com ondas de verdade, coroadas de espuma branca; ondas tão fortes que chegam a
derrubar as pessoas e sobre as quais jovens atletas surfam e rebolam. E um falso sol, de luz e calor
graduáveis; e a praia é de areia composta por pedrinhas de mármore.
Não sei se pelo comportamento dos figurantes, a gente tinha a impressão absoluta de que assistia a uma
cena de animação figurada em computador. A única presença viva, destacando-se no elenco de bonecos,
era a repórter, apresentadora do espetáculo. Já se viu! Se fosse uma honesta piscina de água morna,
tudo bem. Mas fingir as ondas, falsificar um sol bronzeando, de trinta e cinco graus, e toda aquela gente
se deitando com a simulação e depois voltando para a rua vestida nos seus casacos! Me deu pena,
horror, sei lá. Aquilo não pode deixar de ser pecado. Falsificar com tanta impudência as criações da
natureza, e pra quê!
(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel. Melhores crônicas. São Paulo: Global Editora, 1994, edição digital)
 
vi na TV uma reportagem que me horrorizou
O sentido do trecho acima está mantido, em discurso indireto, do seguinte modo:
A escritora
 a) disse que lhe horrorizava uma reportagem que viram na TV.
 b)

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