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METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 1 Alexandre Alves CONSIDERAÇÕES INICIAIS Na última aula estudamos os tipos de conhecimento, sendo eles: o conhecimento popular, filosófico, religioso e científico. Sobre esse último, vale destacar suas características. Conhecimento científico é aquele saber considerado real (factual), contingente, sistemático, verificável, falível e aproximadamente exato (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 77). Em outras palavras, vimos que o conhecimento científico é aquele produzido seguindo um método rigoroso e específico que garante credibilidade a esse tipo de saber, ou seja, o método científico. Sendo este, pois, o assunto da segunda aula. Contudo, antes de falar especificamente sobre o método, vamos analisar um caso importante para a história da ciência, de forma a ilustrar o conteúdo: O Caso Ignaz Semmelweis no Hospital Maternidade Geral de Viena. Esse caso tem íntima relação com o método científico e a produção de conhecimento. Ignaz Semmelweis1 foi um importante médico húngaro, nomeado assistente do diretor e residente-chefe da Clínica de Maternidade do Hospital Geral de Viena, um hospital-escola, em 1846. Semmelweis percebeu que na clínica onde os partos eram realizados pelos médicos professores, a taxa de mortalidade devido a febre puerperal (febre pós-parto) era muito maior que na clínica onde o parto era feito por enfermeiras-parteiras. Intrigado com essa 1 A esse respeito vale ler o artigo “Ignaz Semmelweis: as lições que a história da lavagem das mãos ensina. Disponível em: https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771- ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html 02 O Método Científico https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 2 Alexandre Alves questão, o médico passou então a formular hipóteses que pudessem de alguma forma explicar por que isso ocorria. A partir das observações, Semmelweis formulou algumas hipóteses para explicar o fato. Inicialmente ele considerou que as mortes eram maiores na ala dos médicos por conta da contaminação do ar pelos miasmas, também considerou a superlotação como causa das mortes, a posição nas quais as mulheres eram colocadas para fazer o parto e o medo devido à presença de um padre que dava extrema unção na ala. Todas as hipóteses foram postas a prova através de experimentos. Ignaz percebeu que tanto a ala onde o parto era realizado por enfermeiras, como a ala onde o parto era realizado pelos médicos possuíam ventilação adequada, por conta disso, descartou a contaminação do ar como possibilidade de explicação para a diferença de mortes. A segunda hipótese, superlotação, também foi descartada. Isso porque, a ala de enfermeiras recebia mais mulheres que a ala dos médicos. Já que muitas temiam enormemente serem atendidas pelos segundos e imploravam para serem atendidas pelas parteiras. Semmelweis pediu que os médicos realizassem o parto na mesma posição que comumente as enfermeiras faziam, o que não alterou o número de mortes. O mesmo aconteceu depois que o padre deixou de andar pelos corredores dando a extrema unção, a diferença permanecia. Nada explicava a discrepância entre o número de mortes na ala das enfermeiras em relação a ala dos médicos- professores. (BOECHAT e GOMES, 2020) A ala dos médicos-professores, além dos partos, realizava aulas utilizando cadáveres, comum no ensino de medicina, diferente da ala das enfermeiras- parteiras, onde isso não acontecia. Foi um acidente, no entanto, na ala dos médicos que levou Semmelweis a resolver a questão. Seu colega, Jacob Kolletschka, acabou ferido pelo bisturi de um estudante e apresentou os mesmos sintomas que as parturientes na ala dos médicos. A autópsia de seu corpo indicava o mesmo, seus órgãos possuíam as mesmas características das mulheres que morriam de febre puerperal. Ignaz então, considerou que a causa da discrepância no número de mortes tinha alguma relação com as aulas realizadas com cadáveres. Semmelweis considerou que alguma coisa saia dos corpos e eram levados até as parturientes pelas mãos dos médicos. Essa “coisa”, ele chamou de partículas cadavéricas2. Como na ala das enfermeiras, não havia estudos com cadáveres, a hipótese fazia sentido. Para evitar as mortes, Ignaz propôs então que os médicos lavassem as mãos e os instrumentos em uma solução de cal clorado antes de realizar exames ou partos em mulheres. A solução clorada, segundo ele, seria suficiente para eliminar as partículas cadavéricas e evitar a altíssima taxa de mortalidade. Em seu primeiro estudo envolvendo o experimento, em poucos meses, a taxa de mortes caiu drasticamente, de 12,24% a 3,04%, ao fim do primeiro ano, e a 2 Vale destacar que na época, 1846, vigorava a teoria miasmática, só depois superada pela teoria dos germes (ou teoria microbiana). Fato que gerou estranheza e controversa na teoria de Semmelweis. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 3 Alexandre Alves 1,27% ao término do segundo. (BOECHAT e GOMES, 2020) Apesar do sucesso na clínica médica e a redução das mortes, sua teoria enfrentou forte oposição, uma vez que confrontava a teoria miasmática vigente, que as doenças eram transmitidas pelos miasmas, uma forma nociva de "ar ruim" que emana de matéria orgânica podre. No entanto, apesar das discussões e controversas envolvendo Semmelweis, esse caso serve para ilustrar a questão do método e produção de conhecimento. Perceba que, nesse caso do Hospital Geral de Viena, um novo conhecimento foi produzido. Ou seja, uma nova forma de explicar um fenômeno. Esse conhecimento pode ser considerado como real (factual), contingente, sistemático, verificável, falível e aproximadamente exato. Isto é, possui todas as características do saber de tipo científico. Para isso, ele foi produzido através de um método. É sobre esse método que vamos nos ater agora. O MÉTODO CIENTÍFICO Podemos afirmar categoricamente que não há ciência sem emprego de método científico, apesar de seu uso não ser algo exclusivo das ciências. Em outras palavras, a própria ciência se caracteriza pelo emprego do método. Nesse caso, se faz necessário conceituar método científico antes de prosseguir nessa questão. “O método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.” (LAKATOS e MARCONI, 2003, p. 83) Para Karl Popper3 o método científico e a ciência começam e termina com problemas. Para ele, o método científico consistia em três etapas: A identificação do problema, a solução proposta em uma conjectura e o falseamento. É a partir da identificação de um problema existente e observável que é levantada uma nova conjectura, isto é, uma nova teoria-tentativa capaz de explicar o problema. Essa teoria-tentativa é posta a prova através da observação e experimentação com o intuito de refutar ou corroborar a explicação levantada. Dessa equação, podemos ter dois resultados: ou as hipóteses levantadas não superam os testes ou superam. No caso da não-superação, a hipótese estará refutada e seu conteúdo não é mais tido como verdadeiro. No entanto, no caso desta hipótese superar os testes e experimentos, estará corroborada. Pelo menos por enquanto, até que outra teoria possa superar a vigente. No primeiro caso, será necessário a elaboração de uma nova teoria-tentativa e novos testes. No segundo caso, se corroborada, surgem novas questões e problemas e o ciclo se reinicia. 3 Sir Karl Raimund Popper (1902-1994)foi um filósofo austríaco-britânico conhecido por suas contribuições em filosofia da ciência, epistemologia e política. Ele é considerado um dos mais influentes filósofos do século XX. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 4 Alexandre Alves Para Mário Bunge, no entanto, o método científico pode ser dividido em cinco fases: colocação do problema, construção de um modelo teórico, dedução de consequências particulares, teste de hipóteses e adição ou introdução das conclusões na teoria. A tabela abaixo relaciona cada uma das fases acima citadas com sua respectiva definição. Etapa do Método Características / Descrição 1 – Colocação do Problema Observação e classificação inicial de fatos que são relevantes sob algum aspecto. Após esse reconhecimento dos fatos, se procede ao encontro de alguma lacuna no saber vigente que pode ser preenchida. Bem como alguma inconsistência ou incoerência nesse conhecimento. Partindo da análise dos fatos e do encontro de uma lacuna de saber ou incoerência na teoria, formula-se um problema. Isto é, uma redução da questão a um núcleo significativo. 2 – Construção de um Modelo Teórico Invenção de suposições plausíveis que se relacionem a variáveis supostamente pertinentes. Levantamento de hipóteses centrais capazes de explicar o fato observado, bem como, elaboração de suposições auxiliares. 3 – Dedução de Consequências Particulares Procura de suportes racionais (dedução de consequências particulares que possam ter sido verificadas) e empíricos (levantamento de verificações disponíveis e/ou concebíveis). 4 – Teste de Hipóteses Planejamento dos meios, instrumentos e operações para colocar à prova as hipóteses levantadas. Realização das operações planejadas e coleta de dados. Classificação e análise dos dados levantados, bem como sua interpretação à luz do modelo teórico. 5 – Adição ou Introdução das Conclusões na Teoria Confrontamento entre os dados obtidos e as hipóteses levantadas, confirmando-as ou refutando-as. Caso tenha sido refutada, elabora-se uma nova hipótese, caso tenha sido confirmada, verifica-se possíveis implicações e/ou extensões. (Adaptado de Lakatos e Marconi, 2003, p. 99 e 100) METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 5 Alexandre Alves Perceba que o Método Científico possui uma série de etapas e, em cada uma delas, é necessário seguir um procedimento e executar ações especificas. É esse processo que garante credibilidade ao saber científico. Diferentemente do conhecimento popular que simplesmente se conforma como aquilo que se observa ou com o “ouvi dizer”. Perceba, assim, que observar é apenas a primeira etapa do método, muito mais profundo que o senso comum. Cabe destacar, no entanto, que são tipos de conhecimentos diferentes, não sendo um superior ao outro. Cada tipo assume características próprias que permite sua aplicação em distintas situações. Retomando a frase de Karl Popper de que a ciência começa e termina em problemas, podemos notar o sentido de tal afirmação. Inicialmente, pode-se notar que a observação/colocação do problema é a primeira fase do método. Da mesma forma, na última etapa, mesmo quando a hipótese é corroborada, surgem novas implicações e novos problemas que podem ser observados, incluindo em outras áreas do saber, correlatas ou não. O método se configura assim como algo cíclico. Feita a explicação acerca do método científico, cabe agora relacionar o conceito apresentado com o caso Ignaz Semmelweis, de forma a ilustrar com um exemplo real, o que estudamos até aqui. SEMMELWEIS E O MÉTODO CIENTÍFICO Apesar das críticas existentes tanto à época como em artigos recentes sobre a falta de um método mais preciso, com testes experimentais controlados e generalização da hipótese, a exemplo do que ocorre normalmente nas construções científicas, o caso Semmelweis serve de forma ilustrativa para entender o conceito de método científico. Além disso, esse caso nos ajuda a diferenciar o saber científico, dos demais tipos, a partir da compreensão do método, como processo de geração de conhecimento. Feita essa ressalva, podemos partir para análise do caso Semmelweis, associando sua pesquisa com cada uma das fases do método científico. Vimos que no caso do Hospital Geral de Viena, Ignaz, observando a realidade e os fatos, identificou um problema e uma lacuna na teoria que não era capaz de explicar o porquê do alta taxa de mortes nos partos realizados pelos médicos-professores. Sendo este, pois, a questão fundamental, ou problema de pesquisa, que deveria ser respondida de alguma forma. Esta é a primeira fase do método científico, a colocação do problema. A partir das observações, Semmelweis formulou algumas hipóteses para explicar o fato, construindo assim o modelo teórico para o problema inicialmente levantado. Conforme estudados ele considerou que as mortes eram maiores na ala dos médicos por conta da contaminação do ar pelos miasmas, também considerou a superlotação como causa das mortes, a posição nas quais as mulheres eram colocadas para fazer o parto e o medo devido à presença de METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 6 Alexandre Alves um padre que dava extrema unção na ala. Partindo dessas hipóteses levantadas, Ignaz passou então a dedução de consequências particulares, relacionando cada uma dessas hipóteses com alguma consequência real para o caso. Em seguida, Semmelweis testou, dentro das condições possíveis para a época, cada uma de suas hipóteses, eliminando aquelas que não poderiam se sustentar a rigorosidades dos testes de hipóteses. Assim, percebeu que nenhuma das suposições inicialmente levantadas poderiam explicar o problema de pesquisa. Concluídos os testes, independente do resultado, segue-se para última etapa do método, Adição ou Introdução das Conclusões na Teoria. No caso de o resultado corroborar a hipótese, busca-se as possíveis implicações desses resultados. No caso de nenhuma das suposições serem válidas, volta- se a segunda fase do método, elaborando novas hipóteses que possam explicar o problema levantado. Perceba que todas as hipóteses que Semmelweis levantou em um primeiro momento não puderam se sustentar. Dessa forma, após o acidente com seu colega, Semmelweis cogitou ser a causa da contaminação das mulheres algo levado dos cadáveres para as parturientes através das mãos dos médicos. Perceba que ele voltou as fases 2 e 3 do método, ou seja, construção de um modelo teórico e dedução de consequências particulares. Feito isso, suas hipóteses deveriam ser sustentadas através de testes e foi o que aconteceu. Após os médicos lavarem as mãos em uma solução clorada, a taxa de mortes caiu drasticamente. No que tange aos testes de hipóteses, cabe uma ressalva sobre os grupos de testagem, ponto onde o método de Semmelweis recebe críticas. Estudos científicos, sobretudo os que verificam a viabilidade de tratamentos, são aplicados em dois grupos, o experimental e o controle. Segundo a Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas, em seu glossário de termos, podemos considerar as seguintes definições para esses conceitos: “Grupo controle – é um grupo de sujeitos designados para o tratamento controle. Serve como base de comparação para o grupo que recebe o tratamento em teste. Grupo experimental – é o grupo de sujeitos designados ao tratamento em teste. É contrastado com o grupo controle para chegar a uma conclusão sobre um fator, condição ou tratamento.” (FMT-HVD, 2022) Na prática, o grupo experimental é aquele que recebe o tratamento proposto e é verificado pelos pesquisadores. O grupo controle, por sua vez, também é observado, contudo, sem receber o tratamento. Caso a profilaxia sugerida seja verdadeira, precisamos observar os resultados esperados no grupo experimental e não no grupo controle. Caso ambos apresentem resultados similares, o estudo não permite concluir a eficáciado tratamento. Aplicando essa definição ao caso Semmelweis, o grupo experimental, parturientes atendidas por médicos que lavaram a mão em solução clorada, devem apresentar menor porcentagem de febre puerperal que as mulheres atendidas por médicos que não lavaram a mão na solução. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 7 Alexandre Alves Feita essa explicação, podemos concluir que o método científico é por excelência, o processo de criação de conhecimento científico. Diferente dos demais conhecimentos, o saber científico é gerado por um processo rigoroso que atesta sua validade, bem como a credibilidade de suas informações. Diferentemente dos demais tipos de conhecimento, o saber científico passa por testes de hipóteses que podem ser replicados novamente gerando sempre resultados muitos similares. Caso o teste de Semmelweis fosse realizado em outro hospital sob as mesmas circunstâncias, os resultados não poderiam ser diferentes. Por fim, vale destacar que o método que estudamos aqui é chamado de hipotético-dedutivo, não sendo este, o único método existente. Existem outros procedimentos de geração de saber científico, cada qual, aplicado em uma determinada situação. Alguns métodos são por excelência aplicados nas ciências sociais, enquanto outros nas ciências exatas ou biológicas. Assim sendo, iremos tratar muito brevemente dos métodos indutivo e dedutivo, comumente ensinados em cursos de metodologia de pesquisa. MÉTODO INDUTIVO O método indutivo se caracteriza pela aferição de uma conclusão provavelmente verdadeira, partindo de premissas suficientemente verificadas. Nos dizeres de Marconi e Lakatos (2003, p. 86): “Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam.” Resumidamente, o método indutivo se baseia em premissas particulares, específicas e com informações limitadas a uma observação ou testagem. Partindo de tais premissas, é possível fazer uma aferição ou conclusão ampla e geral. Percebe-se, assim, que a conclusão é provavelmente verdadeira. Contudo, essa certeza não é possível pelo método indutivo, pois a conclusão vai muito além das premissas testadas. Vamos analisar um exemplo. Premissa 1 – Cobre conduz energia, Premissa 2 – Prata conduz energia, Premissa 3 – Alumínio conduz energia, Conclusão – Ora, cobre, prata e alumínio são metais, Logo, todo metal conduz energia. Perceba que as três premissas apresentadas, são os casos particulares e específicos suficientemente testados. A conclusão, no entanto, é muito mais ampla e não necessariamente verdadeira. No caso apresentado, nem todo metal é bom condutor de energia, o mercúrio é um metal e é mau condutor. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 8 Alexandre Alves Por fim, vale destacar que o método indutivo ou indução ocorre em três fases específicas: Primeiro, a observação dos fenômenos. Nesse ponto, casos particulares são testados e verificados experimentalmente. Segundo, descoberta da relação entre eles. Nesta etapa, através da comparação, buscamos alguma relação particular entre os objetos/fenômenos observados, buscando alguma relação e similaridade entre eles. Terceiro, generalização da relação. Encontrada uma similaridade entre os casos observados, aplica-se a descoberta a todos os casos similares, mesmo que não testado e/ou observados. MÉTODO DEDUTIVO O método dedutivo, diferentemente do indutivo, parte de uma premissa geral verdadeira para a análise de uma premissa menor e particular. Dessa relação, obtém-se uma conclusão que, por definição, deve ser verdadeira. Ou seja, não é possível que a conclusão seja falsa e as premissas verdadeiras, como ocorre com argumentos indutivos. Vamos analisar um exemplo. Premissa 1 – Se todas as aves possuem penas, Premissa 2 – O pardal é uma ave, Conclusão – O pardal possui penas. Perceba que a primeira premissa é muito mais geral e ampla que a premissa 2 e a própria conclusão. Isso ocorre porque, em argumentos dedutivos, a premissa 1 é aquela que contém uma informação já ampla e verdadeira. E, partindo desta, se faz uma constatação menor e particular. Nesse caso, não é possível que a premissa 1 seja verdadeira e a premissa 2 ou a conclusão sejam falsas, como ocorre no método indutivo. Isso porque, se o pardal não tiver penas, então temos duas opções: ou o pardal não é uma ave ou nem todas as aves possuem penas. Outra característica do método indutivo é que o conteúdo da conclusão da já estava implícito nas premissas anteriores. Se toda ave possui penas, então, como eu sei que o pardal é uma ave, logo, sei que ele tem penas. Apesar de não estar explícito, essa informação já estava contida nas premissas. Vale destacar, por fim, que o raciocínio dedutivo, bem como o indutivo, possui aplicações para além das ciências exatas e biológicas. Não são exclusivos de tais ciências, sendo métodos aplicáveis nas mais diversas situações científicas. Perceba, por exemplo, como o raciocínio dedutivo seria facilmente empregado em uma situação das ciências sociais. Premissa 1 – Se, em uma sociedade, os líderes políticos são também líderes religiosos, e a lei é baseada em princípios religiosos. Sendo a autoridade política vista como derivada de uma divindade, então essa sociedade viva uma forma de governo chamada “teocracia”. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 9 Alexandre Alves Premissa 2 – A forma de governo do Irã possui essas características. Conclusão – Logo, o Irã é uma teocracia. Argumentos dedutivos, geralmente vêm escritos na forma condicional “se p, então q – ora, p – então q”. Contudo, existem outras formas de escrever raciocínio dedutivos. Contudo, por este ser um curso introdutório, não iremos nos aprofundar nesse tema. Os dois métodos foram apresentados apenas em caráter inicial para o aluno se familiarizar com o tema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOECHAT, Jacqueline. GOMES, Haendel. Ignaz Semmelweis: as lições que a história da lavagem das mãos ensina. FIOCRUZ, 2020. Disponível em: https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as- licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html Acesso em 20 de abril de 2023. Comitê de Ética e Pesquisa – Glossário. FMT-HVD, 2022. Disponível em: http://www.fmt.am.gov.br/cep/glossario.asp#:~:text=Grupo%20controle%20– %20é%20um%20grupo,designados%20ao%20tratamento%20em%20teste. Acesso em 21 de abril de 2023. MARCONI, Marina de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Cientifica. 5ª Edição. São Paulo: Atlas, 2003. GOLSALVES, Elisa Pereira. Conversas Sobre Iniciação à Pesquisa Científica. 5ª Edição. São Paulo: Alínea, 2011. RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica: Guia para eficiências nos estudos. 5ª Edição. São Paulo: Atlas, 2002. https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html https://coc.fiocruz.br/index.php/pt/todas-as-noticias/1771-ignaz-semmelweis-as-licoes-que-a-historia-da-lavagem-das-maos-ensina.html http://www.fmt.am.gov.br/cep/glossario.asp#:~:text=Grupo%20controle%20–%20é%20um%20grupo,designados%20ao%20tratamento%20em%20teste http://www.fmt.am.gov.br/cep/glossario.asp#:~:text=Grupo%20controle%20–%20é%20um%20grupo,designados%20ao%20tratamento%20em%20teste METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 10 Alexandre Alves QUESTÃO DE FIXAÇÃO Ano: 2015 Banca: IF-SP Órgão: IF-SP Prova: IF-SP - 2015 - IF-SP - Professor - Pedagogia De acordo com Lakatos (Fundamentos de Metodologia Científica) todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida,nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos. Assinale a alternativa que define corretamente o que é método científico, de acordo com o autor acima citado. A. O método é a base para o desenvolvimento de uma pesquisa estritamente científica com maior segurança e economia. É por meio da escolha e utilização de métodos que o pesquisador alcança os objetivos e comprova de forma imutável e infalível suas hipóteses. B. O método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. C. O método é o conjunto das atividades assistemáticas desenvolvidas pelo pesquisador, para que por meio do seu problema de pesquisa possa alcançar o objetivo - conhecimentos válidos, verdadeiros e infalíveis -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. D. O método é o conjunto das atividades que buscam viabilizar a organização do trabalho do pesquisador, para que assim encontrar as respostas para seu problema de pesquisa, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos, verdadeiros e infalíveis -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. E. O método é o conjunto das atividades definidas pelo pesquisador para que suas hipóteses possam ser verificadas e nunca negadas e para que, com maior segurança e economia, permita alcançar o objetivo do problema de pesquisa - conhecimentos válidos, verdadeiros e imutáveis - , traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Resposta correta letra “B”. Conforme estudamos, o conceito de método científico, segundo Marconi e Lakatos, se encontra na assertiva “B”. A opção “A” erra ao mencionar que o pesquisador, através do método, comprova suas hipóteses de forma infalível e imutável. Como se sabe, o conhecimento científico pode METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 02 – O MÉTODO CIENTÍFICO 11 Alexandre Alves ser substituído por outro, também científico, já que a tecnologia sempre avança junto com novas formas de testagem e pesquisa. A assertiva “C” também está incorreta, uma vez que menciona que o método é um conjunto de procedimentos assistemáticos. Como estudamos na aula 01, o conhecimento científico é sistemático. Dessa forma, em nenhuma hipótese, o processo de geração desse tipo de saber seria assistemático. Além disso, como vimos, o método é um processo sistemático e organizado e com regras, havendo uma série de fases/etapas que se sucedem de forma a obter resultados satisfatórios. A afirmação contida em “D” também é falsa. O conhecimento científico não é infalível, muito pelo contrário. Esse tipo de saber pode ser superado. Por fim, a assertiva “E” erra em dois momentos. Primeiro quando afirma que o método leva a conhecimentos que nunca são negados. Já sabemos que o saber de tipo científico pode ser superado, sendo uma das suas características ser falível. No segundo momento, o erro está na palavra “imutável”, já que esse conhecimento pode ser substituído por outro também científico.
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