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gente criando o futuro SEMIÓTICA Organizador Franksnilson Ramos Santana SEMIÓTICA E SEMÂNTICA DO PORTUGÊS Organizadores: Franksnilson Ramos Santana; Elaine Christine Pessoa Delgado; Silvia Cristina da Silva. Sem iótica GRUPO SER EDUCACIONAL C M Y CM MY CY CMY K 20/11/2019 17:26:50eBook Completo para Impressao - Fundamentos da Educacao - Aberto.indd 1 LIVRO 1 SEMIÓTICA LIVRO 2 SEMÂNTICA DO PORTUGUÊS Semiótica (Livro 1) ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 1ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 1 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 © by Editora Telesapiens Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora Telesapiens. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626 S232s Santana, Franksnilson Ramos Semiótica [recurso eletrônico] / Franksnilson Ramos Santana; coordenação de David Lira Stephen Barros; organização de Cristiane Silveira Cesar de Oliveira - Recife: Telesapiens, 2021. 184p.: il.; 23cm ISBN 978-65-5873-195-5 1. Semiótica. 2. Linguística. I. Barros, David Lira Stephen (coord.). II. Oliveira, Cristiane Silveira Cesar de (org.). III. Título. CDD 401.41 (22.ed) CDU 801 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 2ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 2 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Semiótica Fundador e Presidente do Conselho de Administração: Janguê Diniz Diretor-Presidente: Jânyo Diniz Diretor de Inovação e Serviços: Joaldo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira Créditos Institucionais Todos os direitos reservados 2020 by Telesapiens ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 3ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 3 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Olá. Meu nome é Franksnilson Ramos Santana. Sou formada em Letras com Habilitação em Língua Espanhola, pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Possuo Mestrado em Literatura e Interculturalidade e atualmente faço Doutorado em Literatura e Interculturalidade, ambos pela mesma instituição. Tenho experiência docente no Ensino Superior, por meio das disciplinas de Semântica e Pragmática, Análise do Discurso, Fonética da Língua Espanhola, Literatura Hispano-americana, dentre outras. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! O AUTOR Franksnilson Ramos Santana ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 4ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 4 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 ICONOGRÁFICOS Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem significam: OBJETIVO Breve descrição do objetivo de aprendizagem; + OBSERVAÇÃO Uma nota explicativa sobre o que acaba de ser dito; CITAÇÃO Parte retirada de um texto; RESUMINDO Uma síntese das últimas abordagens; TESTANDO Sugestão de práticas ou exercícios para fixação do conteúdo; DEFINIÇÃO Definição de um conceito; IMPORTANTE O conteúdo em destaque precisa ser priorizado; ACESSE Links úteis para fixação do conteúdo; DICA Um atalho para resolver algo que foi introduzido no conteúdo; SAIBA MAIS Informações adicionais sobre o conteúdo e temas afins; +++ EXPLICANDO DIFERENTE Um jeito diferente e mais simples de explicar o que acaba de ser explicado; SOLUÇÃO Resolução passo a passo de um problema ou exercício; EXEMPLO Explicação do conteúdo ou conceito partindo de um caso prático; CURIOSIDADE Indicação de curiosidades e fatos para reflexão sobre o tema em estudo; PALAVRA DO AUTOR Uma opinião pessoal e particular do autor da obra; REFLITA O texto destacado deve ser alvo de reflexão. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 5ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 5 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 SUMÁRIO UNIDADE 01 Semiótica - Linguagem e Signo 12 Linguagem 12 Semiótica: a Ciência dos Signos 16 A Semiótica e os signos segundo Charles Sanders Peirce 21 Gramática especulativa 21 O signo: Saussure vs. Peirce 23 Modelo triádico do signo: representamen, objeto e interpretante 30 As tricotomias e classes de signo, com base no signo para com seu representamen, objeto e interpretante 39 Tricotomia 1 40 Tricotomia 2 41 Tricotomia 3 43 As 10 classes de signos 46 UNIDADE 02 Fenomenologia e Semiótica Peirceana 54 Caminho até a Fenomenologia, e os conceitos deste ramo filosófico 55 Sobre como fazer análise semiótica com base na Fenomenologia 60 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 6ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 6 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Os três graus fenomenológicos do signo: primeiridade, secundidade e terceiridade 64 Primeiridade 65 Secundidade 67 Terceiridade 68 O signo em relação ao objeto: ícone, índice e símbolo 73 Ícone 74 Índice 77 Símbolo 80 Sobre o procedimento de análise semiótica dos ícones, índices e símbolos 83 UNIDADE 03 A Ideologia na perspectiva teórica marxista e a Semiótica 96 Ideologia, Signos e Semiótica 105 O signo entendido como produto 115 Introdução às três dimensões de um produto 124 UNIDADE 04 Dimensão sintática 138 Dimensão Semântica 146 Dimensão pragmática 154 Relação entre as dimensões semióticas: revisão e análises sígnicas 163 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 7ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 7 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 8ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 8 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Semiótica 9 UNIDADE 01 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 9ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 9 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Semiótica10 A Semiótica é uma das disciplinas mais importantes do curso de Letras. Não se trata de um dos componentes basilares. Mas ela é daquelas que acusam o grau de complexidade das linguagens. Sua importância começa no fato de nos fazer imergir em um universo repleto de signos não obrigatoriamente representados pelas letras, pelas palavras. Nos quatro capítulos desta unidade primeira, conheceremos conceitos e teorizações do signo a partir da perspectiva semiótica de Charles Sanders Peirce, buscando entender seus métodos peculiares de abordagem da linguagem e dos signos. Para isso, colocaremos a Semiótica em outro território, afastada das reivindicações teóricas pensadas pelos linguistas, sobretudo Saussure. Neste intento, discutiremos o signo atrelado ao seu funcionamento triádico, em função de seu representamen, seu objeto e interpretante, mais as tricotomias abertas por cada disposição do signo, as quais fazem eclodir 10 classes de signos, as quais também conheceremos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você mergulhará neste universo! INTRODUÇÃO ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 10ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 10 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Semiótica 11 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade I. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS 1 Compreender como funcionam critérios introdutórios de Linguagem,Signo e Semiótica; 2 Entender a dinâmica das significações e dos sentidos suscitada pelos signos, a partir da perspectiva peirceana, isto é, de Charles Sanders Peirce (1839-1914), principal expoente da ciência denominada Semiótica; 3 Conceber o modelo triádico do signo, a saber: o representamen, o objeto e o interpretante; 4 Conhecer as subdivisões de cada parte do signo. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 11ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 11 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Semiótica12 Semiótica - Linguagem e Signo Caro (a) aluno (a), ao término deste capítulo você será capaz de assimilar as concepções básicas em torno da Semiótica, bem como de conhecer suas particularidades que destoam dos propósitos de outras ciências, ou disciplinas, cujo objeto de estudo também sejam a linguagem e o signo. Isto será fundamental para um desempenho adequado em uma futura prática docente que requeira conhecimento basilar do componente. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! OBJETIVO Linguagem Talvez alguém lhe tenha comentado da dificuldade que é compreender Semiótica. De fato, não a devemos subestimar. Mas nada como algumas reflexões e entendimentos introdutórios, somados à dedicação na sequência das leituras e estudos, para vencermos os medos e os obstáculos que surjam pelo caminho da aprendizagem. Para começar, gostaria de convidá-lo (la), neste momento, a olhar para tudo o que está em sua volta. Não importa onde você esteja, se no seu quarto, se dentro de um transporte coletivo, ou numa praça de alimentação. Olhe, repare bem, quantas palavras, pessoas, gestos, objetos, cores, sons, cheiros, lhe dizem ou parecem querer lhe dizer algo. Percebeu? Pois bem, saiba que estamos falando de uma ciência que considera o que você acabou de presenciar, ou tudo aquilo que os nossos sentidos podem captar, como algo potencialmente significativo. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 12ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 12 18/10/2021 15:55:2718/10/2021 15:55:27 Semiótica 13 Isto mesmo! Para um entendimento mais sólido de Semiótica, é necessário, introdutoriamente, que enxerguemos esse modo especial de como ela explora a linguagem, que difere, antes de tudo, dos desígnios da própria Linguística. Chegamos, então, a uma primeira particularidade, uma distinção necessária, como bem expressa Lúcia Santaella : “o século XX viu nascer e está testemunhando o crescimento de duas ciências da linguagem. Uma delas é a Linguística, ciência da linguagem verbal. A outra é a Semiótica, ciência de toda e qualquer linguagem.” (SANTAELLA, 1983, p.7) Que quer dizer? Que a Linguística tem um limite, ao passo que o objeto de estudo da Semiótica é incontrolável. Se a Linguística nos direciona apenas a estudos da linguagem verbalizada, seja ela escrita ou oral, a Semiótica, por sua vez, inferirá que o mesmo poder significativo, significante, sígnico, das palavras, nutrirá também todo um universo de coisas e fenômenos não-verbais. Pensemos, juntos, nos casos ilustrativos abaixo: Figura 1 Figura 2 Fonte: Freepik Fonte: Freepik ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 13ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 13 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica14 Temos duas imagens acima: na primeira, vemos uma placa com o informativo “pare” ou “parar” (em língua inglesa), enquanto na segunda uma mulher esticando seu braço direito, exibindo a palma da mão com aspecto firme, e olhar compenetrando o nosso. Chamo sua atenção para o fato de os dois fenômenos, a placa e a mulher, possuírem poder significativo em um nível totalmente igual. Não é porque, no primeiro caso, a placa, por conter palavras, ela nos comunicará mais, nos transmitirá maior mensagem. Não! Em ambas as situações nos convencemos de que “devemos parar”. As primeiras formas de linguagem não-verbal são associadas aos primórdios das civilizações. Mas só com os estudos de Semiótica, que datam desde o início do século XX, as palavras e as coisas passam a ter tal tratamento nivelado, e científico. É isso que Venise Paschoal de Melo nos esclarecem na seguinte passagem: “A partir da necessidade de divulgar, afirmar e perpetuar as suas faculdades imaginativas e experiências, desde a época em que habitava as cavernas, o ser humano vem desenvolvendo diferentes processos de manipulação dos elementos visuais, sonoros e espaciais (tais como a manipulação de cores e formas, de sons, de gestos, de expressões, de cheiros, dos movimentos, das luzes, etc.) na intenção de estabelecer um sistema de comunicação entre seus semelhantes, conforme as possibilidades técnicas disponíveis em cada momento histórico (...) A forma pela qual se estrutura a comunicação, dada a sua elaboração na utilização dos diversos elementos visuais, sonoros e espaciais, configura uma linguagem.” (MELO, 2015, p.11) ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 14ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 14 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 15 Quer saber mais sobre como a Semiótica aborda a linguagem, por meio de vídeo, e de forma lúdica. Acesse o link https://bit.ly/2YaYYam. Acesso em: 22 de fevereiro de 2020. Disponível em: Youtube. SAIBA MAIS Raciocinemos juntos. Se para a Semiótica a oposição “linguagem verbal versus linguagem não-verbal” não é levada em conta, deve haver, então, uma expressão única que reporte às duas modalidades. Este termo, e você já deve suspeitar, a Semiótica denominará “signo”. O objeto de estudo da Semiótica serão todas as formas possíveis de linguagem, porque estas são, no fim das contas, apreendidas enquanto “signos”. Daí, torna-se lúcido o entendimento de Melo e Melo (2015), em outro momento, acerca da linguagem, a qual, segundo as autoras, não é mais que “todo sistema formado por um conjunto de signos que serve de meio de comunicação entre indivíduos e pode ser percebido pelos diversos órgãos dos sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato)” . No mesmo sentido percorre Santaella, para que: “todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de linguagem e de sentido (SANTAELLA, 1983, p. 8-9). ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 15ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 15 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica16 Até agora não há complicação: todas as linguagens produzem sentidos porque possuem potência de signos. Lembre- se do importante verbo “poder”: tudo pode ser linguagem, tudo pode ser processado como signo, porque em todos os tempos, em quaisquer espaços, a vida, por assim dizer, quer nos comunicar algo, pois, fatalmente, “aquilo que chamamos de vida não é senão uma espécie de linguagem” (SANTAELLA, 1983, p. 9). Semiótica: a Ciência dos Signos Caro (a) aluno (a), provavelmente cause estranheza o fato de nas páginas iniciais não lhe ter sido apresentada a definição de Semiótica. É que na concepção desta ciência estão presentes termos já conhecidos, desde o primeiro período de curso, que poderiam ser abordados, precipitadamente, de acordo com um viés alheio: sintático, semântico, enfim, linguístico. Agora, já sabendo que existe uma ideia específica de linguagem, que será quaisquer veiculações de comunicação possíveis, tudo se facilita, de modo a entendermos, finalmente, as definições desta ciência com mais clareza, como a que nos dá, a seguir,Santaella: Primeiro, conheçamos o sentido da palavra signo na origem, e na sequência a definição da Semiótica já apreendida como ciência: � Pelo menos hipoteticamente, a palavra signo, através do latim “signum”, vem do étimo grego secnom, raiz do verbo “cortar”, “extrair uma parte de” (naquele idioma) e que deu, em português, por exemplo, secção, seccionar, sectário, seita e, possivelmente, século (em espanhol, “siglo”) e sigla. Do derivado latino são numerosas, e expressivas, as palavras que se compuseram em nossa língua: sinal, sina, sino, senha, sineta, insígnia, insigne, desígnio, desenho, aceno, significar etc. (PIGNATARI, 1977). ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 16ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 16 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 17 � “A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido.” (SANTAELLA, 1983). Logo, as formas de linguagens virão em forma de signos; as formas de linguagem significam. Peço sua atenção para a entrega etimológica do vocábulo “signo”. As formas de linguagem são signos porque significam algo, são significantes, possuem significado. Esta relação sinônima entre “linguagem” e “signo” fundamentam a seguinte certeza: ao falarmos de signos, não falamos unicamente das letras, das palavras, senão de “toda forma de linguagem”, de “todos os signos possíveis”. IMPORTANTE Exemplo: O exemplo, em negrito abaixo, servirá para mostrar as diferentes abordagens do signo segundo outros ramos alheios à Semiótica: Chove muito em São Paulo. 1. Abordagem sintática �Aqui me ocuparia na identificação de cada elemento da frase verbal: existência de um sujeito, posição do predicado, tipo de objeto, transitividade do verbo ou não, etc. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 17ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 17 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica18 Figura 3 Fonte: Freepik 2. Abordagem semântica �Trataria de buscar as repostas para: quais são os significados ou sentido dos termos expressos na frase (os sinônimos e antônimos, a polissemia, a conotação ou denotação, etc.). Em São Paulo, ou seja, no Brasil, na maior cidade da América Latina, chove em demasia, em grande volume. 3. Análise do Discurso �Questionaria a respeito do sujeito que enunciou a frase, seu lugar, sua posição, sua história, suas ideologias, os discursos encobertos neste enunciado. Um turista e um paulista sentem tal frase de modos particulares, por exemplo. No entanto, se me coloco na posição do passageiro dentro de um carro, sob chuva forte, conforme a ilustração abaixo, a mesma comunicação da frase acima pode chegar até mim: ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 18ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 18 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 19 Não me remeto a foto em si, mas a situação hipotética de que sou o passageiro neste carro. Não preciso estar na cidade de São Paulo: pode acontecer, para mim, de a força dos pingos de chuva caindo no para-brisa me comunicar a mesma coisa. Falarei ao motorista do meu lado: “Aqui está chovendo forte esses dias, mas nada comparado a São Paulo. Chove muito em São Paulo”. A chuva batendo e se escorrendo no vidro eu acabei de processá- la cognitivamente enquanto signo, enquanto linguagem. Do mesmo modo, em que o engarrafamento poderia me apontar o despreparo de governantes, a cor do carro à minha direita me fazer lembrar de um ocorrido que se deu na infância. + OBSERVAÇÃO Pensemos mais. Desde o início do capítulo, temos apoiado a tese de que tudo pode se tornar linguagem, signo. De fato. Mas perceba, de acordo com a explicação da situação ilustrada há pouco, que houve um processo para eu receber o fenômeno da chuva no para-brisa como linguagem. Que quer dizer? Que a outra pessoa (o motorista do meu lado) pôde não ter processado o mesmo fenômeno como um signo, assim como me ocorreu. A chuva no vidro do carro ainda não lhe disse, não lhe comunicou nada, mas isso não a impede de ter este poder comunicador, significativo, que pode ser processado por ele a qualquer momento. As vinte e quatro páginas iniciais do livro Uma introdução à Semiótica Peirceana, de Desirée e Venise Paschoal de Melo (2015), serão de grande apoio para a compreensão de tudo o que foi discutido até aqui. Acesse o ebook. Disponível em: https://bit.ly/2zxdQW1. Acesso em 22 de fevereiro de 2020. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 19ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 19 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica20 O signo só pode assim ser chamado em virtude de: seus poderes de referência, pela informação que transmitem, por se estruturarem em sistemas, pelo seu específico funcionamento, emissão, produção e utilização, e pelos tipos de efeitos que são capazes de provocar no receptor (MELO e MELO, 2015, p. 20). Tenhamos em mente esta afeição do signo em aludir a algo que está fora dele próprio, apontando para algo mais além dele mesmo. A imagem da chuva em um para-brisa era muito mais do que um líquido se espalhando sobre o cristal. O signo é um fenômeno captado a partir de nossos sentidos: pela visão (coisa, cor, ação), audição (sons, vozes, melodias), sensação (odores, perfumes), toque (pancada, arranhão), paladar (gostos, o azedo, o aguado); ele tem uma atribuição especial, a de representar ou significar aquilo que não está presente, seja algo concreto ou abstrato. Resumindo: O valor deste capítulo está mais em seu intento de prevenir que o (a) aluno (a) avance nos estudos de Semiótica amparados por perspectivas equivocadas, alheias, escorregadias. Vimos que a Semiótica é uma ciência que considera os fenômenos e a totalidade de elementos da vida, do universo, como potenciais sígnicos, independentemente se mediante linguagem verbalizada ou não. Tudo pode significar, ou aquilo que nossos sentidos captam sempre possuirá aptidão para nos dizer algo, referenciando um elemento externo, que pode ser interpretado, descrito. Mas, que fique claro, assim como a linguagem, obviamente, não é uma descoberta da Semiótica, os “signos” têm existência anterior ao surgimento desta ciência. Porém, apenas após os estudos do estadunidense Charles Sanders Peirce (1839-1914), principal expoente e, assim difundido, pai da Semiótica, é que teremos estudos mais completos acerca dos signos. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 20ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 20 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 21 A Semiótica e os signos segundo Charles Sanders Peirce Caro (a) aluno (a), ao término deste capítulo você será capaz de entender a dinâmica das significações e dos sentidos suscitada pelos signos, a partir da perspectiva peirceana, isto é, de Charles Sanders Peirce (1839-1914), bem como de compreender como ele chega até suas teses, que destoam das levantadas por pesquisadores de seu tempo. Pensou que acabou? Venha comigo mais uma vez nessa! OBJETIVO Gramática especulativa Devemos frisar, antes de tudo, que a semiótica possui três ramos, conforme as teorias peirceanas: a gramática especulativa, a lógica crítica e a retórica especulativa (SANTAELLA, 2002). No primeiro ramo, são estudados os diversos tipos de signo; no segundo, os tipos de inferências, raciocínios ou argumentos; no terceiro, a abdução, indução e dedução (MELO e MELO, 2015). Ao longo desta unidade, nossa atenção recairá somente em torno da gramática especulativa, definida por Peirce como “a doutrina das condições gerais dos símbolos e outros signos que têm o caráter significante” (PEIRCE, 2005, p. 29). A gramática especulativaseria uma espécie de fuga da própria gramática, das palavras em si, o que deve ocorrer sempre na Linguística. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 21ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 21 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica22 A gramática especulativa nos fornece as definições e classificações para a análise de todos os tipos de signos e de tudo que está implicado nele: 1) o signo em si mesmo; no modo que constitui suas propriedades internas; 2) o signo na sua referência àquilo que ele indica, se refere ou representa; 3) o signo nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários (MELO e MELO, 2015, p. 20). Em outras palavras, o signo existe por estar provido desses três atributos, três classes, mais exploradas nos capítulos posteriores. Importa, neste momento, que você preste uma atenção especial para este poder trino, triádico, dos signos. Todas as teorias de Peirce estarão baseadas em triângulos. +++ EXPLICANDO DIFERENTE Exemplo: Analisemos a imagem abaixo, na intenção de identificarmos as três potencialidades sígnicas, pensadas por Peirce (2005), no interior do que ele chama gramática especulativa: Figura 4 Fonte: Freepik ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 22ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 22 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 23 O que vimos? Um processo sígnico se dá nesta sequência: 1. tragédia, acidente - primeira impressão, aquilo que vemos ou captamos imediatamente; 2. carro batido, não obrigatoriamente este, mas os casos universais de carro totalmente quebrado - o objeto, aquilo que é referenciado, representado; 3. caso de imprudência no volante, lataria frágil dos carros modernos - o efeito que este carro batido produz em mim, especificamente, ou a forma como interpreto o que vejo, ou, ainda mais, a descrição do interpretável que é o fenômeno que acabo de olhar. Que tal pesquisar os assuntos relativos à Semiótica ministrados através de slides? Acesse o endereço a seguir, e conheça este material, por exemplo, muito positivo para fixação do tema: https://bit.ly/3cQ4ItZ Acesso em 22 de fevereiro de 2020. SAIBA MAIS O signo: Saussure vs. Peirce O francês Ferdinand de Saussure (1857-1913), um dos principais nomes da Linguística, e expoentes do estruturalismo, desenvolveu um trabalho quase paralelo ao de Charles Sanders Peirce, ainda que os dois nunca tivessem se contactado. Diferentemente do norte-americano, Saussure voltou os seus olhos muito mais para a linguística verbal, ou para as formas verbalizadas de linguagem. Enquanto aquele considerou as três potencialidades do signo, este formulou uma concepção dual do ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 23ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 23 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica24 mesmo. Para Saussure, a capacidade do signo como referente escapa dos desígnios semióticos, entrando em uma área muito mais ontológica. Nas palavras de Santaella, “a preocupação explícita desse pensador era a de fundar uma ciência da linguagem verbal. Em nenhum momento foi por ele demonstrada qualquer iniciativa no sentido de formular conceitos mais gerais que pudessem servir de base para uma ciência mais ampla do que a Linguística.” (SANTAELLA, 1983, p. 49). Saussure esteve ciente da infinitude de signos contidos nas línguas, nas coisas, nas culturas, no mundo, mas se preservou em observá-los segundo a ótica linguística. Concluiu que o conjunto imensurável de signos, que extrapolava as linguagens verbais, merecia a atenção de uma “ciência mais vasta que ele batizou de Semiologia” (SANTAELLA, 1983, p. 49). A Linguística seria, então, componente da Semiologia, porém preocupada no estudo dos signos nas formas de palavras, escritas ou faladas. Portanto, que fiquem claras as diferenças entre Semiologia e Semiótica: � “Para Saussure, a Semiologia teria por objeto o estudo de todos os sistemas de signos na vida social. Nessa medida, a Linguística, ou seja, a ciência que ele tinha por propósito desenvolver, seria uma parte da Semiologia que, por sua vez, seria uma parte da Psicologia Social.” (SANTAELLA, 1983, p. 49). � “A Semiótica é a ciência que se dedica ao estudo de todos os signos, nos processos de significação na natureza e na cultura. (...) diferentemente da Linguística, que se dedica ao estudo do sistema sígnico da linguagem verbal, a Semiótica considera qualquer fenômeno como um sistema sígnico de produção de sentido.” (BARROS e CAFÉ, 2012, p. 20). ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 24ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 24 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 25 A natureza dual do signo se chama pelos nomes de significante e significado. O significante remete a uma imagem acústica do signo, enquanto o significado seria seu conceito. Vejamos no esquema abaixo: Figura 5 Fonte: O autor Signo Imagem Acústica Conceito Significado Significante Árvore A referência ao objeto é excluída conforme a percepção de Saussure, já que entende que o conceito do signo (o significado, o som da palavra ‘árvore’) o conectamos imediatamente a sua imagem acústica, o significante, a “imagem da escrita” da palavra que projetamos em nossa mente (SALATIEL, 2008, p. 2) (NÖTH, 1996, p. 28) (NOVAK e BRANDT, 2017, p. 8). Já segundo a semiótica peirceana, o elemento da realidade ao qual o signo se refere, que é externo a ele, deve ser considerado como parte do signo. Simplificando, uma árvore que vemos nos conduz a muito mais do que a imagem da palavra “árvore” em um papel: ela pode fazer referência a uma realidade ausente, a das muitas árvores que, como esta em específico, suponha-se, “são bonitas, mas não dão frutos”. Lembre-se, o signo nunca apontará para algo fechado em si mesmo. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 25ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 25 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica26 Ao “processo de significação” dá-se o nome de semiose, do qual a Semiótica se ocupará de modo satisfatório, completo (NÖTH, 2003). + OBSERVAÇÃO Em virtude de aproximações etimológicas, a expressão “semiótica” às vezes é encarada por primeira vez com estranheza pelos alunos, reivindicando, assim, um domínio basilar do assunto por parte do professor. É sobre esse caso que Lúcia Santaella, um dos principais nomes divulgadores da teoria semiótica peirceana no Brasil, inicia seu livro O que é semiótica? Ao mesmo tempo que nos auxiliando a não cairmos em prováveis armadilhas concernentes ao tema: “Semiótica — ótica pela metade? ou Simiótica — estudo dos símios? Essas são, via de regra, as primeiras traduções, a nível de brincadeira, que sempre surgem na abordagem da Semiótica. Aí, a gente tenta ser sério e diz: — “O nome Semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência dos signos.”. Contudo, pensando esclarecer, confundimos mais as coisas, pois nosso interlocutor, com olhar de surpresa, compreende que se está querendo apenas dar um novo nome para a Astrologia. Confusão instalada, tentamos desenredar, dizendo: — “Não são os signos do zodíaco, mas signo, linguagem. A Semiótica é a ciência geral de todas as linguagens”. (SANTAELLA, 1983, p. 5). ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 26ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 26 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 27 Quem sabe você já não se sinta familiarizado lendo as páginas iniciais do livro Semiótica, do próprio Charles Sanders Peirce? É sempre recomendável a leitura paralela dos autores discutidos aqui. Faça uma busca nas bibliotecas físicas, digitais, ou adquira a obra. Seráde grande valia! Garanto! SAIBA MAIS É de suma importância fixarmos em nossa mente que o signo para Saussure tem caráter dual, enquanto segundo Peirce, o signo tem três facetas. Solidificada tal premissa, podemos fazer muitos exercícios diariamente, buscando identificar e analisar o modo de significação dos signos (MELO e MELO, 2015, p 21), ao passo que naturalmente desassociarmos as abordagens peirceanas das saussurianas. Não esquecer também que, para Saussure, os signos não são processados pelos cinco sentidos humanos, mas sim por dois apenas: a visão e a audição. Exemplo: Pensemos como se resolveria esse impasse com a observação da imagem na sequência: Figura 6 Fonte: Freepik ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 27ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 27 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica28 Seguindo o pensamento de Peirce, o som das gotas da chuva batendo no nosso telhado o assimilamos como signo; o som representa algo que ainda não precisamos captar pela visão, o objeto, a própria chuva, que na minha mente possui uma imagem pessoal, particular; para fechar, o acontecimento do som, o qual nos dá indícios da chuva, faz sabermos que devemos correr e apanhar as roupas estendidas no varal. Por isso Peirce chamará a primeira particularidade do signo de representamen (ou simplesmente signo, a primeira impressão que dele temos), a segunda de objeto (representado, referenciado, apontado), e a terceira de interpretante (por meio do qual passamos a ter uma ideia final sobre o signo). Não poderíamos avançar mais sem que esta primeira tríade semiótica peirceana fosse ao menos referida, já que seu estudo se realizará com mais afinco nos capítulos posteriores. IMPORTANTE Ainda com relação ao último exemplo apresentado, sob perspectiva saussuriana, é possível acrescentarmos uma situação em que uma pessoa nos grite: “- A roupa!”, que seria o significante, e a própria expressão escrita primeiramente viria à nossa mente como imagem acústica, para que depois processássemos o conceito, a “imagem real”, as roupas estendidas no varal, a ponto de se encharcarem - o significado! Resumindo: Caro (a) aluno (a), neste capítulo foram apresentadas algumas explanações a respeito da Semiótica enquanto ciência dos signos, com base em Charles Sander Peirce, e também introduzida sua primeira tríade, de muitas, que consiste em tripartir o signo. Suas teorias se afastam, portanto, de outras cujo objeto de estudo de igual modo são os signos, ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 28ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 28 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 29 como, por exemplo, as de Ferdinand Saussure, quem preferiu sustentar sobre uma natureza dual do signo, e prestar mais atenção ao modo verbal de linguagem, sob a crença de que todo signo se verbaliza com o processo e formação mental de uma imagem acústica. O que você percebe, classifica e interpreta diariamente? Como aconselham Melo e Melo (2015, p. 24): “Pense em sua rotina, desde o “bip” do despertador, o som emitido é um signo que representa a hora de levantar. Ao dirigirmos, precisamos constantemente ler e analisar os signos apresentados pelas placas de trânsito, pelas luzes do semáforo, pelas reações dos veículos, como o uso de luz alta, de buzina, das setas, etc. O ser humano não vive sem o signo, precisa dele para entender o mundo, a si mesmo e às pessoas com as quais mantém relações humanas.” (MELO e MELO, 2015, p.24) Enfim, sinta-se convidado, em seu dia-a-dia, a perceber a variedade de signos que você produz enquanto linguagem: os gestos, os sons, as cores, os gostos, dentre outras sensações. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 29ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 29 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica30 Modelo triádico do signo: representamen, objeto e interpretante. Caro (a) aluno (a), neste capítulo você conhecerá o modelo triádico de signo segundo a gramática especulativa de Peirce, que diz respeito ao processo significativo que existe na relação de um signo com aquele que o sente, o capta e o interpreta. Espero que você esteja animado! Por gentileza, acompanhe-me! OBJETIVO Você aprendeu que a Semiótica se dirige a todas as formas de linguagem, verbalizadas ou não, humanas ou não, que são todas sígnicas em potencial. Esta ideia de Signo afastou Peirce da Linguística e o alocou no território da Gramática Especulativa, onde apenas aí uma Semiótica pode ser desenvolvida, e não uma Semiologia. Além disso, refresque a memória: �A ideia de signo para Peirce não coincide com a de Saussure, já que aquele tomou como objeto de estudo, ou os objetos passíveis de serem chamados signos, elementos extralinguísticos; � Saussure privilegiou dois dos sentidos humanos, isto é: somos comunicados de algo quando vemos ou ouvimos o signo; �Em Saussure, o signo é dual (significante + significado). Para Peirce, o signo tem três naturezas ou potencialidades: primeiro informa, impacta, avisa, provoca sensação/sentimento; depois ele aponta o objeto; por último, possibilita que tenhamos uma ideia, uma interpretação da relação anterior. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 30ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 30 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 31 Em que momento aquilo que nossos sentidos recebem pode ser chamado de “signo”? Lembremos: tudo tem potencial para ser signo, ainda que não consigamos processá-lo enquanto tal, pois são muitas as coisas em nossa volta, sobre as quais nunca demos atenção, ou seja, que ainda não as assimilamos como signos. Por que certa forma de linguagem, certo fenômeno, é de fato um signo? Pensemos, inicialmente, nessa equação: representamen + objeto + interpretante = signo. Agora, incluindo explicitamente a tripartição do signo em nossa discussão, é possível pensarmos na definição de “signo” inserindo nela suas três facetas. Um signo intenta representar (representamen), em parte pelo menos, um objeto que é, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar, referência, apontar, seu objeto falsamente. Mas, dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de tal maneira que, de certo modo, determine naquela mente algo que é mediatamente devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo, e da qual a causa mediata é o objeto, pode ser chamada o interpretante (SANTAELLA, 1983, p. 35). Percebeu as expressões em itálico? DEFINIÇÃO Talvez sintamos a dificuldade no tocante ao entendimento do objeto que o signo representa porque, é importante dizer, este objeto não é exatamente aquele apontado. O signo, em seu nível de representamen, alude a algo externo. O objeto é outro. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 31ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 31 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica32 Nas palavras de Santaella (1983, p. 35): “o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade. Por exemplo: a palavra casa, a pintura de uma casa, o desenho de uma casa, a fotografia de uma casa, o esboço de uma casa, um filme de uma casa, a planta baixa de uma casa, a maquete de uma casa, ou mesmo o seu olhar para uma casa, são todos signos do objeto casa. Não são a própria casa, nem a ideia geral que temos de casa. Substituem-na, apenas, cada um deles de um certo modo que depende da natureza do próprio signo. (SANTAELLA,1983, p. 35) Assim, na “Figura 4”, no capítuloanterior, a imagem do carro batido só foi, suponha-se, para mim um signo, porque sua potência de me impressionar me avisou dos muitos casos de carro envolvidos em acidentes. A visão do carro batido é representamen que me conduz a um objeto fora dele (os muitos carros batidos). A pergunta agora é: Por que acabei de sair do signo em si, o representamen, para um objeto externo, representado? Por que daquilo que acabei de presenciar sou capaz de me posicionar, comentar: estou diante de um signo interpretante, que me dá margem para isso! Consequentemente, explica-se o fato de eu entender aquilo como “imprudência na estrada” ou julgar que os carros de hoje “não têm boa lataria”. Um parêntese se faz necessário aqui para avisá-lo (a) que acontece, nos estudos tanto de Peirce como de seus seguidores, de o representamen ser simples chamado de signo (signo em si). Então, cuidado! Certifique-se se os autores estão tratando do signo com natureza triádica (completo), ou especificamente do representamen, primeira face da tríade. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 32ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 32 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 33 “A imagem do carro batido significou para mim imprudência”. Pensemos juntos! “Imprudência”: resumimos aquilo que vemos com esta palavra. Hipoteticamente, uma partida de futebol na televisão significa “alegria” para nosso pai; a hora do culto em uma igreja significa “postura decente” conforme os fiéis; a frase “te amo” no meu caderno significa “descaramento” por parte da pessoa que me escreveu. Percebeu que os signos fizeram surgir outros signos? Esta é a potência final de um signo! As palavras de Santaella abaixo são novamente auxiliadoras: “A partir da relação de representação que o signo mantém com seu objeto, produz-se na mente interpretadora um outro signo que traduz o significado do primeiro (é o interpretante do primeiro). Portanto, o significado de um signo é outro signo — seja este uma imagem mental ou palpável, uma ação ou mera reação gestual, uma palavra ou um mero sentimento de alegria, raiva... uma ideia, ou seja lá o que for — porque esse seja lá o que for, que é criado na mente pelo signo, é um outro signo (tradução do primeiro)” (SANTAELLA, 1983, p. 36). Dessa forma, obviamente, os signos comunicam sentidos distintos para pessoas distintas. Lembremos do significante saussuriano: a imagem acústica, que é a imagem das letras que formam a palavra árvore, é uma imagem universal. Em Peirce, o sentido de signo parece ser mais completo, além de partir da premissa de que os signos suscitam significados incontroláveis, para um número imensurável de pessoas. Em um esquema de três pontos, o interpretante ficaria no cume, justamente por conta de seu poder de nos dirigir a um outro signo, conforme se vê abaixo: ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 33ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 33 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica34 Figura 7 - Modelo Y de Peirce sobre a tripartição do signo Fonte: O autor Interpretante Representamen Objeto É importante ratificar, sob o apoio do esquema acima, que o signo, como fundamento, não remete diretamente a um objeto representado: precisa, na verdade, da mediação do signo do pensamento, o interpretante (MELO e MELO, 2015, p. 32). É o que Santaella explica, tomando como exemplo, o acontecimento de um “grito”: “Tomemos um grito, por exemplo, devido a propriedades ou qualidades que lhe são próprias [seu fundamento/ momento primeiro] (um grito não é um murmúrio) ele representa algo que não é o próprio grito, isto é, indica que aquele que grita está, naquele exato momento, em apuros ou sofre alguma dor ou regozija-se na alegria (essas diferenças dependem da qualidade específica do grito). Isso que é representado pelo signo, quer dizer, ao que ele se refere é chamado de seu objeto [momento segundo]. Ora, dependendo do tipo de referência do signo, se ele se refere ao apuro, ou ao sofrimento ou à alegria de alguém, provocará em um receptor um certo efeito interpretativo: correr para ajudar, ignorar, gritar junto, etc. Esse efeito é o interpretante [momento terceiro]. (SANTAELLA, 2002, p. 9). ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 34ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 34 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 35 Figura 8 Fonte: Freepik Exemplo: Para que o assunto se torne mais lúcido, analisemos a imagem abaixo: Segundo se observa na ilustração, é possível concluirmos: a imagem, a foto, o design, é o signo (representamen) que desperta sensação, deixa impressão, pelo trabalho com a cor, a forma do desenho - o espelho de Vênus; o gênero feminino referenciado é o objeto; “união das mulheres”, “empoderamento”, “feminismo” são efeitos interpretativos suscitados pelo desenho: é o nível interpretante do signo. Sentiu o momento de mudar de mídia, sair do texto para o audiovisual? Acesse o link: https://bit.ly/35bA6QV, e assista uma explicação de Semiótica que toca no tema da tríade sígnica. Acesso em 23 de fevereiro de 2020. Também estude mediante slides. Consulte o endereço https://bit.ly/2W6uenY, e conheça um ótimo material para auxiliá-lo (a) na aprendizagem do assunto. Acesso em: 23 de fevereiro de 2020. SAIBA MAIS ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 35ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 35 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica36 Retomando, o representamen é o fundamento, particularidade, que permite o signo funcionar como signo; o objeto é algo que está fora, ausente, imediatamente trazido a mente; o interpretante, finalmente, é um signo adicional, a consequente reação ao efeito que o signo produz. Isso quer dizer que podemos perceber uma pluralidade de elementos que compõem o signo em si, o objeto e o interpretante. Observemos outra imagem para ver como isso ocorre. Figura 9 Fonte: Freepik �O que é o representamen? O signo em si, aquilo que captamos; o conjunto de elementos que instigam emoção, sensação, sentimento, observadas nas simples qualidades, ou não, dos elementos compositivos em si mesmos (cor, cheiro, sabor) de modo puro, sem precisar que tenhamos contato direto com o objeto a que se refere, saber se ele é real ou irreal. Aqui não há julgamento, apenas a revelação das qualidades puras (MELO e MELO, 2015, p. 34). Assim, podemos já indicar elementos do fundamento do signo presente na ilustração: • Um fundo de cor neutra, um rosa quase sumindo; • Um gesto; • O sorriso. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 36ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 36 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 37 São esses três elementos de destaque (podem haver outros), de modo que não seja necessário o objeto ser jugado. Mas, “a partir das informações coletadas do fundamento do signo, [podemos] identificar as associações/relações realizadas com as experiências anteriores” (MELO e MELO, 2015, p. 34). � Já os elementos identificados na relação que percebemos entre o fundamento do signo (representamen) e seu objeto serão, por exemplo: • Um homem elegante e atraente sorrindo, fazendo um gesto de convite; • Sua compostura, gesto e aparência, de alguém nos chamando para adentrarmos em alguma instituição, negócio, comércio - uma publicidade. �Em um terceiro momento, resta identificarmos as conceituações e aprendizagem sugerida pelo signo, com base no que ele já nos entregou na relação entre representamen e objeto: • O convite não pode ser recusado; • Hipoteticamente, no lugar para onde nos chama, as pessoas se vestem bem, ou teremos um dia as mesmas condições de expor a mesma elegância, etc. Caro (a) aluno (a), esteja atento ao detalhe de apenas haver signo quando o processo de significação seexecutar: quando houver semiose. Fiquemos atentos, por sinal, às próprias palavras de Peirce, ao tocar neste ponto de sua teoria: o signo é algo alheio, distinto de seu objeto. Assim, “deve haver, no pensamento ou na expressão, alguma explicação, argumento ou outro contexto que mostre como, segundo que sistema ou por qual razão, o Signo representa o Objeto ou conjunto de Objetos que representa. Ora, o Signo e a Explicação em conjunto formam outro Signo, e dado que a explicação será um Signo, ela provavelmente ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 37ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 37 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica38 exigirá uma explicação adicional que, em conjunto com o já ampliado Signo, formará um Signo ainda mais amplo (...) (PEIRCE, 2005, p. 47). Logo, não devemos jamais pensar na estaticidade do signo, mas sim na sua volatilidade, na sua capacidade de explodir, se multifacetar, segundo o contato que trava com os diversos povos, tempos e espaços. Por isso as mudanças culturais são fatos incontestáveis, por mais que haja resistência: coisas que já significam o mesmo em nossos dias; gestos nem sempre se reproduzem em determinadas localidades; assim consecutivamente. A explicação que executamos do signo, em virtude de seu poder interpretante, nos leva a signos outros, termos isolados, depois expressões, frases, que farão outros signos surgirem em textos cada vez maiores, os quais suscitarão fatalmente mais e mais signos. Trata-se de um caminho sem volta, na visão peirceana: uma semiose ilimitada. “Um entendimento de significação que está sempre em expansão, em que o significado de um pensamento ou signo é reconhecido por outro pensamento ou signo, em um processo de semiose infinita” (BARROS e CAFÉ, 2012). Resumindo: Neste Capítulo, compreendemos muito melhor no que consiste o signo triádico formulado por Peirce. Segundo o estadunidense, o signo é composto por três facetas, as quais existem obrigatoriamente: 1) representamen, o signo em si, que reúne as primeiras informações possíveis, o impacto, o som, a visão, a dor, interjeição... 2) o objeto representado pelo representamen, que é externo a este; 3) o interpretante, as conceituações e aprendizagem sugerida pelo signo, com base no que ele veicula na relação tida entre representamen e objeto. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 38ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 38 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica 39 As tricotomias e classes de signo, com base no signo para com seu representamen, objeto e interpretante Neste último capítulo, importa conhecermos as subdivisões triádicas para cada parte do signo. Serão apresentadas as três tricotomias peirceanas para o signo, sem que nos prendamos às suas complexidades. Um capítulo em que privilegiaremos as definições, as exposições teóricas, enfim, uma preparação para a imersão em uma Unidade mais complexa, posteriormente. Preparado para encerrar esta unidade, então? Avante! OBJETIVO O signo não simplesmente é um elemento trino, composto por representamen, objeto e interpretante. Na verdade, os signos em si possuem fundamento, o que faz toda a diferença. Na teoria de Peirce (2005), eles passam a ser divisíveis mediante três tricotomias: “a primeira, conforme a relação entre o signo e seu fundamento; a segunda, conforme a relação entre o fundamento do signo e seu objeto; a terceira, conforme a relação entre o fundamento do signo e seu interpretante.” (MELO e MELO, 2015, p. 36). O esquema abaixo ilustra como se dá a evolução desta tese desenvolvida por Peirce sobre os signos: ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 39ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 39 18/10/2021 15:55:2818/10/2021 15:55:28 Semiótica40 Tabela 1 Fonte: O autor Fonte: Freepik Signo em relação a si mesmo Signo em relação ao objeto Signo em relação ao interpretante Quali-signo Ícone Rema Sin-signo Índice Dicente Legi-signo Símbolo Argumento Na tabela acima, cada coluna corresponde a uma tricotomia: 1ª) tricotomia - signo em relação a si mesmo, representamen (quali-signo, sin-signo e legi-signo); 2ª) signo em relação ao objeto (ícone, índice e símbolo); 3ª) signo em relação ao interpretante (rema, dicente e argumento). Convém agora saber, como definimos a cada elemento dessas novas tríades, ainda seguindo o raciocínio de Santaella (1983), com base, claro, na teorização peirceana, mas partindo da observação, antes de tudo, da imagem abaixo. Tricotomia 1 Chegaremos a concepções a respeito da primeira tricotomia (do signo em relação a si mesmo), com o auxílio da análise prévia da imagem abaixo. Figura 11 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 40ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 40 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 41 �Quali-signo: qualidade sígnica imediata - as impressões, como, por exemplo, a impressão que causa a cor ou um ruído; algo que pode ser pensado como pré-signo. • Na imagem acima, a cor azul da camisa do homem causa imediatamente uma impressão, que ainda não se verbaliza; é uma mera sensação, um quali-signo. � Sin-signo: resultado da singularização do quali-signo - a ideia universalizada, por assim dizer. • No exemplo da foto, pode ocorrer de pensarmos a cor azul como representação da seriedade, maturidade. �Legi-signo: resultado de uma impressão mediada por leis gerais, enraizadas socialmente. • O azul evoca à ideia estereotipada de que “é a cor masculina, da maturidade, decorosa”. Tricotomia 2 Na segunda tricotomia, temos o signo em relação ao objeto dinâmico: organiza os signos de acordo com a relação entre ele, o signo em si, e o objeto que ele substitui. Pensemos agora este novo elemento, de acordo com uma ilustração para cada componente da tríade (ícone, índice e símbolo). � Ícone: resultado da paridade, semelhança, analogia, entre o signo e o objeto que ele substitui. Observemos a imagem abaixo: • No exemplo acima, temos um desenho, caricatura, enfim, o retrato, a relação mais próximos entre o signo, o desenho, e quem, neste caso, ele substitui, o personagem Seu Madruga, do seriado Chaves. � Índice: tem relação com o sin-signo, pois resulta de uma singularização; resultado de uma relação por associação ou referência (vestígios, alusões, indícios). Pensemos a partir da imagem a seguir: ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 41ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 41 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica42 Figura 12 Figura 13 Fonte: Freepik Fonte: Freepik • As marcas de pneus em uma BR fazem referência ao objeto ausente: carros que frearam, ou manobraram repetidamente ali. Trata-se de um exemplo de signo inicial. � Símbolo: assim como acontece com o legi-signo, o símbolo resulta da convenção; a relação entre o signo e o objeto que ele representa é mediada por regras. Percebamos na informação da foto a seguir: • A pomba branca, conforme imagem acima, é socialmente difundida como símbolo de paz; no Pentateuco judaico, é símbolo da aliança entre Deus e os homens; no Novo Testamento dos cristãos, é símbolo do Espírito Santo. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 42ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 42 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 43 Tricotomia 3 Na terceira tricotomia, que consiste da relação entre o signo e o interpretante, sabemos da organização dos signos a partir da sua relação com as significações desse signo. Definamos os três componentes desta última tricotomia (rema, dicente e argumento) com base na observação da ilustração abaixo. Figura 14 Fonte: Freepik �Rema: efeito primeiro que um signo está apto a provocar em um intérprete (MELO e MELO, 2015, p. 49). Simples qualidade de sentimento(interpretante emocional); enunciado impassível de averiguação de verdade; qualidades que se apresentam ao interpretante como simples hipótese; aquilo que está sempre no nível do parecer, que só aparece, e parece (SANTAELLA, 1983, p. 40). Por isso, os ícones estão mais propensos a instigar essa reação interpretadora. • Na imagem em questão, o rema se tratará da primeira “informação”, o que “de cara” nos entrega o que vemos: um desenho. �Dicente: segundo efeito significado de um signo; efeito energético, que diz respeito a uma ação física, mental. Índices produzem, com mais frequência, esse tipo de interpretante (chamam nossa atenção; nos indicam algo) (MELO e MELO, 2015, p. 49-50). ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 43ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 43 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica44 • No desenho acima, temos indício de um astronauta, com calor. �Argumento: terceiro efeito; interpretante lógico. O signo é interpretado por meio de leis interpretativas internalizadas (MELO e MELO, 2015, p. 50); signo de lei (PEIRCE, 2005, p. 25). • Se relacionamos com a imagem reproduzida, o argumento nos leva a concluir que “o astronauta sentiria calor, entendendo a linguagem fantasiosa do desenho, pedalando próximo ao sol”. Começou a ficar complexo? Calma. Mude de mídia. Acesse os slides indicados a seguir e busque os momentos em que a autora toca no ponto exposto acima. Disponível em: https://bit.ly/2W0EmyJ. Acesso em: 24 de fevereiro de 2020. SAIBA MAIS Vimos a tricotomia do signo de acordo com sua natureza de representamen, objeto e interpretante. De acordo com o representamen: quali-signo, sin-signo e legi-signo; com o objeto: ícone, índice e símbolo; com o interpretante: rema, discente e argumento. Em uma tabela, suas posições se adequam a uma verticalidade. Por outro lado, é importante frisarmos suas relações segundo uma horizontalidade, isto é, os signos enquanto fenômenos, ou suas categorias, segundo Peirce (1995), nomeadas da seguinte maneira: primeiridade, secundidade e terceiridade. É o que percebemos na mesma tabela que já reproduzimos acima, mas agora sem adaptá-la: ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 44ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 44 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 45 Signo em relação a si mesmo Signo em relação ao objeto Signo em relação ao interpretante 1° Quali-signo Ícone Rema 2° Sin-signo Índice Dicente 3° Legi-signo Símbolo Argumento Tabela 2 Fonte: O autor Analisando o que propõe Santaella, com base em Peirce (1995), a linha descrita como “1º” diz que o quali-signo, o ícone e o rema têm uma relação fenomenológica de primeiridade; no número 2, sin-signo, índice e dicente, de secundidade; na 3, legi- signo, símbolo e argumento, de terceiridade. Voltaremos a este tema das categorias fenomenológicas chamadas de primeiridade, secundidade e terceiridade, assim como aos elementos ícone, índice e símbolo, na próxima unidade, por serem os assuntos mais estudados e discutidos de Peirce. A chamada de atenção para a observação de uma relação de significações de acordo com níveis de primeiridade, secundidade e terceiridade, tem sua importância pelo motivo de encaminhar o (a) aluno (a) para algo mais complexo da teorização de Peirce. É que, atenção, não obrigatoriamente o quali-signo nos leva a um ícone, e este a um rema, ou um sin-signo a um índice, e este a um dicente, ou um legi-signo a um símbolo, e este a um argumento. Suas relações se desprendem, às vezes, das fronteiras horizontais conferidas na tabela acima. Por esta razão é que Peirce chegará ao que denominou “10 classes de signos” (PEIRCE, 2005, p. 55) IMPORTANTE ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 45ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 45 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica46 As 10 classes de signos Peirce estabeleceu 10 classes (principais) de signos, que correspondem à mistura entre signos que são logicamente possíveis: “na produção e utilização prática dos signos, estes se apresentam amalgamados, misturados, interconectados” (SANTAELLA, 1983,). Nossa compreensão do envolvimento dos tipos de signos, seus significados, aumenta bastante com a explicação concedida por Santaella: todas as linguagens da imagem, produzidos através de máquinas (fotografia, cinema, televisão...), são signos híbridos: trata-se de hipoícones (imagens) e de índices. Não é necessário explicar por que são imagens, pois isso é evidente. São, contudo, também índices porque essas máquinas são capazes de registrar o objeto do signo por conexão física. A respeito da fotografia, Peirce esclarece: “O fato de sabermos que a fotografia é o efeito de radiações partidas do objeto, torna-a um índice e altamente informativo”. Embora o processo de captação da imagem televisiva seja diferente da fotografia, o caráter inicial de conexão física, existencial e factual nele se mantém. (SANTAELLA, 1983, p. 43) Em uma linguagem simplificada, a veiculação da imagem através da máquina nos apresenta duas fatalidades: a imagem em si (ícone), mais o indicativo lógico de que ela, a máquina, produz a imagem (índice). Esta é uma ilustração descomplicada a respeito destas mesclas. Elas se fazem, porém, de outras maneiras, de modo a se formarem as 10 classes de signos às quais Peirce se refere, conforme se observa no triângulo a seguir que ele próprio formulou: ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 46ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 46 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 47 (I) Remático Icônico Qualissigno (III) Remático Indicial Sinsigno (VII) Dicente Indicial Legiassigno (IV) Dicente Indicial Sinsigno (V) Remático Icônico Legissigno (VIII) Homático Símbolo Legissigno (X) Argumento Simbólico Legissigno Figura 17 Fonte: O autor (II) Remático Icônico Sinaigno (VI) Hemático Indicial Logissigno (IX) Dicente Símbolo Legissigno Segundo as definições já apresentadas dos componentes das três tricotomias, resta associarmos cada classe a exemplo(s) prático(s), conforme Peirce (2005). Exemplo: � 1ª Classe - Quali-signo Icônico Remático: sensação (cores, luminosidades, texturas); o que não pode ser ainda interpretado. � 2ª Classe - Sin-signo Icônico Remático: “todo objeto de experiência na medida em que alguma de suas qualidades faça-o determinar a ideia de um objeto” (PEIRCE, 2005, p. 55). Exemplo: um diagrama pessoal. � 3ª Classe - Sin-signo Indicativo Remático: “todo objeto de experiência direta na medida em que dirige a atenção para um Objeto pelo qual sua presença determinada” (PEIRCE, 2005, p. 55). Exemplo: um susto, vergonha de levar uma bronca, riso de um bebê. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 47ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 47 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica48 � 4ª Classe - Sin-signo Indicativo Dicente: “todo objeto da experiência direta na medida em que é um signo e, como tal, propicia informação a respeito de seu Objeto, isto só ele pode fazer por ser realmente afetado por seu Objeto, de tal forma que é necessariamente um Índice” (PEIRCE, 2005, p. 55). Exemplo: um cata-vento. � 5ª Classe - Legi-signo Icônico Remático: “todo tipo ou lei geral, na medida em que exige que cada um de seus casos corporifique uma qualidade definida que o torna adequado para trazer à mente a ideia de um objeto semelhante” (PEIRCE, 2005, p. 55). Exemplo: um gráfico que represente o crescimento da exportação na região Sul; um diagrama, em geral, que não esteja vinculado a algo particular. � 6ª Classe - Legi-signo Indicativo Remático: “todo tipo ou lei geral, qualquer que seja o modo pelo qual foi estabelecido, que requer que cada um de seus casos seja realmente afetadopor seu Objeto de tal modo que simplesmente atraia a atenção para esse objeto” (PEIRCE, 2005, p. 56). Exemplo: um pronome demonstrativo, sirene de uma ambulância. � 7ª Classe - Legi-signo Indicativo Dicente: “todo tipo ou lei geral, qualquer que seja o modo pelo qual foi estabelecido, que requer que cada um de seus casos seja realmente afetado por seu Objeto de tal modo que forneça uma informação definida a respeito desse Objeto” (PEIRCE, 2005, p. 56). Exemplo: um pregão de um mascate, uma placa indicando que o estacionamento é exclusivo para idosos, um aviso de proibição do fumo (sem verbalização). � 8ª Classe - Símbolo Remático ou Rema Simbólico: “Signo ligado a seu Objeto através de uma associação de ideias gerais de tal modo que sua Réplica traz à mente uma imagem a qual, devido a certos hábitos ou disposições dessa mente, tende a produzir um conceito geral, e a Réplica é interpretada como um Signo de um Objeto que é um caso desse conceito” (PEIRCE, ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 48ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 48 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 49 2005, p. 56). Exemplo: substantivos comuns (os que resguardam ideia geral) - leão, bandeira branca. � 9ª Classe - Símbolo Dicente ou Proposição Ordinária: “signo ligado a seu objeto através de uma associação de ideias gerais e que atua como um Símbolo Remático, exceto pelo fato de que seu pretendido interpretante representa o Símbolo Dicente como, sendo, com respeito ao que significa, realmente afetado por seu Objeto, de tal modo que a existência ou a lei que ele traz à mente deve ser realmente ligada com o Objeto indicado” (PEIRCE, 2005, p. 57). Exemplo: afirmações, proposições do tipo ‘A é B’ - “Nenhum cisne é negro”. � 10ª Classe - Argumento: “signo cujo interpretante representa seu objeto como sendo um signo ulterior através de uma lei, a saber, a lei segundo a qual a passagem dessas premissas para essas conclusões tende a ser verdadeira” (PEIRCE, 2005, p 57). Exemplo: formas poéticas, letras de canções. Resumindo: Caro (a) aluno (a), neste capítulo nós conhecemos as três tricotomias dos signos, isto é, as relações triádicas de Comparação, de natureza lógica (signo em relação ao representamen), relações triádicas de desempenho, natureza dos fatos reais (signo em relação ao objeto), e as relações triádicas de pensamento, da natureza das leis (signo em relação ao interpretante). Suas significações se dão em níveis, os níveis dos fenômenos, de primeiridade, secundidade e terceiridade. Sendo 9 componentes de significação, eles às vezes se relacionam por mesclagem, de modo a fazerem culminar 10 classes de signos, cada qual com sua particularidade, conforme exposto anteriormente. A leitura do artigo de Priscila Monteiro Borges é de grande auxílio a fim que alguns pontos sejam mais esclarecidos e revisados. Disponível em: https://bit.ly/3eSYPhv. Acesso em: 25 de fevereiro de 2020. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 49ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 49 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 50ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 50 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 51 UNIDADE 02 ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 51ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 51 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica52 Você já pensou na Semiótica como disciplina auxiliadora nos muitos exercícios interpretativos exigidos na atividade docente, ou na área da pesquisa em Letras como um todo? A Unidade I foi de grande valia neste intento, apresentando a ciência, conceituando-a, e discutindo alguns de seus estruturantes. Nos capítulos desta Unidade II, aprofundaremos dois conteúdos já introduzidos na unidade anterior, que são os mais discutidos no interior da disciplina, ainda conforme teorizações de Charles Sanders Peirce: os graus de fenômenos do signo, os quais são de primeiridade, secundidade e terceiridade, e a natureza do signo em relação ao seu objeto, isto é, o ícone, o índice e o símbolo, que correspondem à segunda tricotomia peirceana. Tudo certo? Venha comigo neste intuito de solidificar a matéria! INTRODUÇÃO ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 52ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 52 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica 53 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: OBJETIVOS 1 Compreender a Fenomenologia como ponto de partida para Peirce chegar aos três graus de fenômenos dos signos; 2 Entender os três graus de fenômenos dos signos: primeiridade, secundidade e terceiridade; 3 Conceber os componentes da segunda tricotomia, a saber, ícone, índice e símbolo, relacionando-os, respectivamente, aos seus graus fenomenológicos; 4 Conhecer o passo-a-passo prático de análise de um signo, a partir da observação de seus graus fenomenológicos e fundamentos. Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 53ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 53 18/10/2021 15:55:2918/10/2021 15:55:29 Semiótica54 Fenomenologia e Semiótica Peirceana Caro (a) aluno (a), ao término deste capítulo você será capaz de compreender a contribuição da Fenomenologia para o estudo dos signos na Semiótica teorizada por Peirce. Isto será fundamental para que você comece a estruturar um modelo semiótico de interpretação dos signos. Então? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá! OBJETIVO Olá, aluno (a)! Os estudos na primeira unidade foram de grande valia para que um novo modo de percepção da linguagem fosse fixado. Vamos acender a memória? Alguns pontos ficaram claros. Reiteremos, antes que passemos à Fenomenologia propriamente dita: �Vimos que o poder de comunicação não significa uma virtude das línguas, das letras, do texto; �Tudo o que os nossos sentidos apreendem é signo (ao menos) em potencial; �A Semiótica se torna a ciência dos signos, com uma abordagem completa, isto é, se dirigindo a todas as espécies de linguagem possíveis, verbais ou não-verbais, as palavras e a totalidade de elementos do universo; � Falar de Semiótica não é o mesmo que falar de Semiologia, a qual se submete aos objetivos teóricos da Linguística, de modo a ser privilegiado o estudo das potencialidades sígnicas verbais, ou dos signos que se verbalizam; �O signo tem um modelo triádico: o signo em si mesmo (representâmen), o objeto e o interpretante; ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 54ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 54 18/10/2021 15:55:3018/10/2021 15:55:30 Semiótica 55 �O signo tem fundamento. O fundamento específico do signo em relação a cada componente da tríade dá origem a três tricotomias; cada componente das tricotomias se enquadra em um grau fenomenológico, de primeiridade, secundidade e terceiridade; �Nem sempre a ordem dos fundamentos do signo (1º aspectos qualitativos, 2º aspectos singulares, 3º aspectos gerais), coincide com os respectivos graus de primeiridade, secundidade e terceiridade, o que ocasiona a eclosão de uma variedade de classes de signos; �Destacam-se 10 classes de signos, com características específicas e que ocasionam interpretações específicas. O sucinto repasso acima nos permite que avancemos nesta unidade, por meio da qual alguns pontos já tocados serão aprofundados. Um desses pontos seria, justamente, a fenomenologia, ou a abordagem desta para o estudo do signo. Caminho até a Fenomenologia, e os conceitos deste ramo filosófico Evidentemente, a contemplação da linguagem além das fronteiras da verbalização,das línguas humanas, reivindica do estudioso um movimento interdisciplinar. Charles Sanders Peirce (1839-1914), foi um teórico que se destacou neste quesito, explorando diferentes campos científicos, além do semiótico. O estadunidense foi um químico, matemático, físico, astrônomo, além de ter estudado também Psicologia, Geodésia e Biologia (NOVAK e BRANDT, 2017) (SANTAELLA, 1987). REFLITA ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 55ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 55 18/10/2021 15:55:3018/10/2021 15:55:30 Semiótica56 Mas havia um ponto de partida, para que Peirce se movesse nos átrios das diferentes ciências, já que o próprio revelou que não estudaria coisa alguma que há no mundo se não fosse pela perspectiva da Semiótica: estamos falando da Filosofia, mais especificamente, da Lógica. Conforme Santaella para Peirce: “o caminho para a Filosofia tinha de se dar através da Lógica, mais particularmente, através da Lógica da ciência. Este caminho, por seu turno, se bifurcava: de um lado, através da prática das diversas ciências, de outro, através da História da ciência.” (SANTAELLA,1983, p. 13) Peirce percebeu uma relação indissociável entre as ciências e a Filosofia, ao ponto de levar para a Filosofia o espírito da investigação científica, e crer que as disciplinas filosóficas também poderiam se tornar ciências. Por essa razão, intentou aplicar em sua Filosofia os métodos de percepção, hipóteses e experimentos científicos (SANTAELLA, 1983). +++ EXPLICANDO DIFERENTE Originalmente, as muitas ciências se encontravam divididas em três grandes classes: ciências da descoberta, ciências da digestão e ciências aplicadas. A Filosofia, de acordo com Peirce, é uma das ciências da descoberta, junto à Matemática e Ciências Especiais. Além disso, ela se abre a três ramificações: 1) Fenomenologia, 2) Ciências Normativas, 3) Metafísica. As ciências normativas se chamarão Estética, Ética e Semiótica (ou Lógica) (NOVAK e BRANDT, 2017). A Fenomenologia servirá como espécie de base filosófica para o estudo dos signos. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 56ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 56 18/10/2021 15:55:3018/10/2021 15:55:30 Semiótica 57 Uma sólida noção de Fenomenologia, segundo Peirce, nos entregará Santaella : A Fenomenologia, como base fundamental para qualquer ciência, meramente observa os fenômenos e, através da análise, postula as formas ou propriedades universais desses fenômenos. Devem nascer daí as categorias universais de toda e qualquer experiência e pensamento. Numa recusa cabal a qualquer julgamento avaliativo a priori, a Fenomenologia é totalmente independente das ciências normativas. (SANTAELLA, 1983, p. 19) Não somente a Fenomenologia é uma base filosófica para a Semiótica, mas para a Estética e para a Ética. Ela está para apontar os fenômenos, e suas particularidades. É possível defini- la como uma “quase-ciência”, que investiga os modos como apreendemos qualquer coisa que aparece a nossa mente, seja um odor, um ruído, um sabor, isto é, tudo o que vai à mente e é processado a fim de significar algo. IMPORTANTE A comunicação que ocorre só pode ser consciente, por conseguinte lógica. Logo, chega-se à seguinte conclusão: a estética acusa os ideais que direcionam nossos sentimentos; a ética aponta os ideais que regem nossa conduta; a lógica nos leva às normas que conduzem nosso pensamento. Por isso, lógica e semiótica se tratam, no fim das contas, da mesma ciência. A esta conclusão chegou o próprio Peirce, muito embora no início de seus estudos ele tivesse colocado a ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 57ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 57 18/10/2021 15:55:3018/10/2021 15:55:30 Semiótica58 Lógica como um ramo da Semiótica (SANTAELLA, 1983, p. 14). São tidas, no entanto, como equivalentes totais, quando o estadunidense passa a ver, do interior da Lógica, uma teoria despontar, a saber, uma teoria geral de todos os tipos possíveis de signos. Para uma imersão mais profunda no assunto dos três graus fenomenológicos do signo, é imprescindível que você esteja previamente ciente da sequência abaixo: Ciência (da descoberta) > Filosofia > Fenomenologia > Ciência Normativa > Lógica (Semiótica) Acesse o link a seguir, e confira o vídeo a respeito dos assuntos tratados até aqui. Disponível em: https://bit.ly/2YaYYam. Acesso em: 29 de fevereiro de 2020. SAIBA MAIS Nos estudos peirceanos de Lúcia Santaella (1983), a brasileira explica que Charles Sanders Peirce, em seu exercício de leitor, não estava satisfeito com as categorias filosóficas aristotélicas, pois lhe pareciam mais linguísticas do que lógicas (p. 18). Sua filosofia, portanto, recebe maior influência da filosofia de Kant, buscando elaborar, aperfeiçoar e ampliar o campo de aplicação das categorias universais, as quais não brotavam nem dos pressupostos lógicos, nem da língua, e sim da experiência tal qual. Em outros termos, experenciamos, a todo tempo, e seja em que espaço for, os milhares de fenômenos que irrompem no universo. Santaella (1983, p. 21) diria: “não há nada, para nós, mais aberto à observação do que os fenômenos”. ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 58ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 58 18/10/2021 15:55:3018/10/2021 15:55:30 Semiótica 59 A ideia de fenômeno já foi praticamente apresentada, tanto na Unidade anterior, quanto nestas páginas iniciais. Mas, a fim de ratificação do conceito, que fique claro o fenômeno como, “qualquer coisa que esteja de algum modo e em qualquer sentido presente à mente, isto é, qualquer coisa que apareça, seja ela externa (uma batida na porta, um raio de luz, um cheiro de jasmim), seja ela interna ou visceral (uma dor no estômago, uma lembrança ou reminiscência, uma expectativa ou desejo), quer pertença a um sonho, ou uma ideia geral e abstrata da ciência [...]” (SANTAELLA, 1983, p. 21). Consequentemente, a fenomenologia peirceana resulta na análise das experiências que se abrem às percepções do homem, a cada instante, em todos os lugares do seu cotidiano. Não importa se os fenômenos acusam a realidade ou a ilusão, o falso ou o verdadeiro, o correto ou o errado. São fenômenos! São palavras do próprio Peirce : “A fenomenologia ou doutrina das categorias tem por função desenredar a emaranhada meada daquilo que, em qualquer sentido, aparece, ou seja, fazer a análise de todas as experiências é a primeira tarefa a que a filosofia tem de se submeter. Ela é a mais difícil de suas tarefas, exigindo poderes de pensamento muito peculiares, a habilidade de agarrar nuvens, vastas e intangíveis, organizá- las em disposição ordenada, recolocá-las em processo.” (apud SANTAELLA, 1983, p. 21) ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 59ebook completo impressão - Semiótica - Aberto - SER.indb 59 18/10/2021 15:55:3018/10/2021 15:55:30 Semiótica60 Sobre como fazer análise semiótica com base na Fenomenologia Partir da fenomenologia para a análise dos signos não é mais que generalizar observações, sinalizar algumas classes de caracteres muito vastas, e as mais universais. Neste trabalho de observação do signo pela perspectiva fenome- nológica, são desenvolvidas três faculdades (SANTAELLA, 1983): 1. o exercício contemplativo; 2. o exercício da distinção, discriminação, singularização; 3. capacidade de generalizar. +++ EXPLICANDO DIFERENTE A primeira tarefa remete ao olhar contemplativo, ao ver (MELO e MELO, 2015). Trata-se de nossa primeira leitura semiótica das coisas; reivindica uma postura aberta de nossa parte diante dos fenômenos, isto é, nos colocarmos disponíveis àquilo que está se apresentando aos nossos sentidos, sem ainda articular julgamentos ou interpretar. Este exercício requer que nós nos satisfaçamos com os elementos que os signos nos entregam
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