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RELIGIÃO E SOCIEDADE Me. Rogério Santos Ferreira GUIA DA DISCIPLINA 1 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância SOCIEDADE E RELIGIÃO Objetivo Oferecer ampla visão do fenômeno religioso no contexto social e relacionar as múltiplas dimensões da vida em sociedade. Debatendo e aprofundando o fenômeno das Mídias Sociais e seus impactos no extremismo religioso. Refletindo sobre os paradigmas contemporâneos e relacionando com os conceitos de religiosidade e de religião. Estudando e problematizando o papel social e divino da religião na atualidade. Dimensionando e dialogando com a questão da desigualdade social e sua interface com a religião. Discutindo a religião e sua responsabilidade com o meio ambiente e a sustentabilidade das futuras gerações e da humanidade como criação de Deus que necessitar viver em harmonia planetária. Introdução O debate no ambiente acadêmico é fundamental na medida em que favorece o processo de construção de conhecimento num viés crítico da realidade favorecendo um processo reflexivo quanto aos dilemas inerentes a vida em sociedade neste momento histórico. Neste primeiro quarto do Século XXI os desafios que a religião enfrenta num mundo cada vez mais conectado e individualista no campo socioeconômico e relacional requer abertura e respeito quanto as diferenças, bem como, a compreensão das múltiplas visões de homem e de mundo que envolvem a crença religiosa. Para tanto, a compreensão e o debate quanto as responsabilidades sociais, institucionais e relacionais que as organizações religiosas devem partilhar na sociedade, envolvem o processo de construção da humanidade numa perspectica fraterna, solidária e ética. Fundamentalmente relacionado com os ensinamentos de seus fundadores “de caráter divino”, ou seus principais expoentes ao longo da história. 2 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Num contexto tão complexo relacionado com as transformações intensas e velozes que a sociedade vem realizando, a religião enquanto conexão da humanidade com o divino, necessita direcionar a sociedade para o entendimento e a concórdia sob o risco de contribuir num possível colapso civilizatório, tendo em vista o aumento exponencial da divisão e da segmentação da humanidade em extremos ideológicos e religiosos. Na atualidade, indubitavelmente, o extremismo religioso e ideológico é o principal desafio da humanidade relacionado com sua sobrevivência e bem-estar. O uso maciço das redes sociais para a disseminação de fake news e discursos de ódio devem ser objeto de enfrentamento da religião. Sendo um papel fundamental dos seus líderes na atualidade levar esclarecimento visando a união da humanidade e o respeito mútuo. Neste sentido, a disciplina irá dialogar com questões atuais e fundamentais no campo social e religioso favorecendo o amplo debate e o livre pensamento. Para tanto, apropriação de valores universais de paz, tolerância, solidariedade e respeito precisam ser difundidos nas instituições públicas e privadas. A educação é sem dúvida um ambiente fundamental neste processo, pois, contribui para que as futuras gerações aprendam a importância da união e do sentimento de pertencimento da mesma humanidade enquanto filhos de Deus. Antídoto para toda forma de violência social. Na disciplina, o discente terá oportunidade de aprofundar, debater e compreender as múltiplas questões envolvendo a sociedade contemporânea neste início do século XXI relacionando com o processo de desenvolvimento da religiosidade e sua responsabilidade perante a humanidade. Para tanto dividimos nossa disciplina em nove temas que seguem: 1. Questões contemporâneas no século XXI – religião e sociedade 2. A religiosidade da população brasileira – expressões de fé e da ética 3. Respeito a diversidade religiosa e os desafios no contexto da intolerância na atualidade - diálogo inter-religioso 4. O advento do papel da mulher no século XXI e o protagonismo nas religiões 5. O papel da religião na educação - formação de valores éticos para a convivência em sociedade e o respeito ao estado democrático de direito 3 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. A influência das novas tecnologias nas religiões – redes sociais; compromisso ético/moral e o fenômeno das fake news 7. Religião e pobreza – responsabilidade no enfrentamento da desigualdade social 8. Religião e meio ambiente - ethos ecológico e a dimensão divina planetária 9. Estado Brasileiro - fé como expressão da religiosidade brasileira e a laicidade como expressão e evolução civilizatória da humanidade Espero que todos aproveitem a disciplina numa perspectiva dialógica de construção de conhecimento na academia, espaço privilegiado de debate e do livre pensar. Prof. Me. Rogério Santos Ferreira 4 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS NO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E SOCIEDADE “A sociedade contemporânea, chamada sociedade do conhecimento e da comunicação, está criando, contraditoriamente, cada vez mais incomunicação e solidão entre as pessoas. A Internet pode conectar- nos com milhões de pessoas sem precisarmos encontrar alguém. Pode-se comprar, pagar as contas, trabalhar, pedir comida, assistir a um filme sem falar com ninguém. Para viajar, conhecer países, visitar pinacotecas, não precisamos sair de casa. Tudo vem à nossa casa via on line . A relação com a realidade concreta, com seus cheiros, cores, frios, calores, pesos, resistências e contradições é mediada pela imagem virtual que é somente imagem. O pé sente mais o macio da grama verde. A mão não pega mais um punhado de terra escura. O mundo virtual criou um habitat para o ser humano, caracterizado pelo encapsulamento sobre si mesmo e pela falta do toque, do tato e do contato humano.” (BOFF,1999. p 01) 1.1. Questões contemporâneas no século XXI – religião e sociedade As questões contemporâneas que enfrentamos no século XXI são complexas e desafiadoras. Emblemáticas e reveladoras da urgência em se debater o papel da religião e os desafios na sociedade contemporânea. Redes sociais, desigualdade social e pobreza, fake news e manipulação das massas, meio ambiente e sustentabilidade, consumismo e realidade líquida, democracia/autoritarismo, extremismo político e religioso, o papel da mulher na sociedade e nas religiões e os fluxos migratórios devido a questões geopolíticas ou ambientais compõem o quadro concreto da sociedade atual. Governos, sociedade civil, organismos internacionais, instituições religiosas e as universidades procuram debater a realidade que se impõe, identificando saídas para lidar com estas problemáticas que envolvem a humanidade. O enfrentamento passa necessariamente por todos e requer compreensão e identificação de caminhos e de estratégias. A religião, objeto de estudo do curso, tem um papel fundamental neste processo. Ao longo da história a religião cumpriu um papel fundamental no direcionamento dos caminhos e descaminhos da humanidade. Influindo em decisões que envolveram o surgimento e o declínio de reinos e países, bem como de guerras e de períodos de paz. 5 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Hobbes reflete que “só no homem encontramos sinais, ou frutos da religião, não há motivo para duvidar que a semente da religião se encontra também apenas no homem, e consiste em alguma qualidade peculiar(...)que não se encontra nas outras criaturas” (1974, p. 69) Sendo um atributo humano, a dimensão religiosa deve ser estudada e aprofundada para maior compreensão dos tempos no qual estamosvivenciando, pois, remete a humanidade ao espaço “divino” do ser que deve e pode despertar a dimensão solidária, de unidade, de partilha, de amor e de luz que envolve a fé e a religiosidade. As instituições religiosas permeiam todos os setores da sociedade e tem um grande desafio na atualidade, continuarem a guiar corações e almas olhando para um passado irreflexivo e estático ou para um futuro desafiador e em constante mudança, sugerindo e exemplificando, não ditando caminhos como outrora. Por um lado, a religião pode ajudar a promover a justiça social, ajudando a atenuar a desigualdade econômica e a oferecer uma perspectiva de esperança aos mais vulneráveis. Por outro lado, a religião pode incentivar a busca por soluções que sejam justas e equitativas, ajudando a promover a tolerância, o respeito entre as diferentes culturas e grupos sociais e o enfrentamento da concentração de renda estrutural e desumana. Pois, no contexto atual de complexidade social, política e econômica e de conexão extrema em tempo real, a religião pode despertar consciências para os desafios contemporâneos 6 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância (A Criação de Adão é um fresco de 280 cm x 570 cm,[1] pintado por Michelangelo Buonarotti por volta de 1511, que fica no teto da Capela Sistina. A cena representa um episódio do Livro do Gênesis no qual Deus cria o primeiro homem a partir do pó da terra) : https://www.romaperegrina.com/a-criacao-de-adao/ Boff (1999) percebe ainda na virada do século passado a urgência da reflexão quanto ao impacto das novas tecnologias nas relações humanas e consequentemente na dimensão religiosa individual e coletiva da vida em sociedade que tem tensionado as relações sociais e isolado a humanidade. Celeiro de extremismo político, social e religioso as redes sociais devem ter a atenção das instituições religiosas para a difusão de ideais de fortalecimento do senso de comunidade e segurança. Contribuindo em novas formas e diversas de se relacionar e estabelecer laços comunitários. https://www.romaperegrina.com/a-criacao-de-adao/ 7 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para compreender mais sobre secularismo : OLIVEIRA, Juliano Cordeiro da Costa - RECONHECIMENTO, RELIGIÃO E SECULARISMO EM CHARLES TAYLOR – Meritas – Porto Alegre – 2019 – v. 64 n. 1 (2019): Dossiê:Teorias da Justiça - Disponível em https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/30758 acessado em 19/02/2023. Os riscos que a sociedade enfrenta relacionado com as religiões são justamente a utilização destes recursos tecnológicos para a disseminação de desinformação, negação da realidade e de irracionalidade. Ampliando o sentimento de medo, ódio as diferenças e de radicalismo. Tais questões precisam ser debatidas na perspectiva da capacidade da religião em auxiliar ou mesmo dificultar os caminhos e descaminhos que a humanidade deverá percorrer para se adaptar a este novo mundo. Sendo assim, as mudanças sociais e econômicas num ritmo de alta velocidade proporcionado pela conexão via internet vem ocasionando repercussões no modo de vida em sociedade reverberando nas relações relacionais e familiares. Importante salientar o que Hobbes(1978) afirma quanto a religião que, enquanto para os animais a única felicidade é o gozo de seus alimentos, repouso e prazeres cotidianos, pois de pouca ou nenhuma previsão dos tempos vindouros são capazes, por falta de observação e de memória da ordem, consequência e dependência das coisas que vêem; enquanto isso, por seu lado o homem observa como um evento foi produzido por outro, e recorda seus antecedentes e consequências. E quando se vê na impossibilidade de descobrir as verdadeiras causas das coisas(...) dão origem a ansiedade. Pois quando se está certo de que existem causas para todas as coisas que aconteceram até agora ou no futuro virão a acontecer, é impossível a alguém que constantemente se esforça por se garantir contra os males que receia, e por obter o bem que deseja, não se encontrar em eterna preocupação com os tempos vindouros” (1978, p.69) A ansiedade do porvir imprevisível ao longo dos séculos desde tempos imemoriais da história, estruturou as crenças religiosas enquanto garantidora de proteção contra dificuldades e males futuros. https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/30758 8 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A Em suma, é evidente que a religião pode desempenhar um papel importante na abordagem dos maiores desafios contemporâneos do século XXI. Ao fornecer esperança, consolo e direção, a religião pode ajudar a promover a justiça social e a encontrar soluções equitativas para os problemas que enfrentamos. Bem como, pode fornecer um forte impulso para a criação de soluções eficazes para a crise climática, incentivando as pessoas a tomar medidas concretas para a preservação e a gestão sustentáveis do meio ambiente. Fica claro que as rápidas transformações que a tecnologia opera no mundo geram medo, ansiedade e temor pelo futuro. Cabendo aos expoentes e líderes religiosos auxiliar no processo de transição de uma sociedade analógica para digital e altamente conectada. Não espalhando medo, receio e ódio com as incertezas, mas afirmando que a fagulha divina em cada homem e mulher é capaz de lidar com os desafios e problemas que os tempos atuais ensejam. O processo de secularização, enquanto separação e questionamento da estrutura social tradicional influenciada pela religiosidade ao longo do século XX, tem sido objeto de estudo para a compreensão das mudanças que estão ocorrendo. Para muitos expoentes religiosos, os dilemas e problemáticas vem justificando movimentos de retomada da centralidade da religião na sociedade, retomando uma visão teocêntrica e fundamentalista da realidade. Neste sentido, Charles Taylor (2010) destaca a importância de preservar as crenças e as práticas religiosas. Ele argumenta que a ligação entre religião e sociedade não deve ser desprezada e que a secularização não deve significar a exclusão total da religião da vida pública. Pois, para Charles Taylor (...) enfatiza que a religião ainda se relaciona com a formação das diversas identidades, tal qual uma esfera essencial na constituição dos sujeitos, mesmo em sociedades secularizadas. Taylor destaca a existência de múltiplas modernidades, uma vez que culturas não ocidentais foram modernizadas à sua maneira, sem a necessária separação entre identidades secularizadas e religiosas. (OLIVEIRA,2019, p. 04) 9 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ora, a relevância da fé e da religiosidade da população não deve ser utilizada para justificar a intensificação do fenômeno do extremismo e do fundamentalismo religioso na sociedade. Desta forma, é fundamental refletir sobre transcendência e espiritualidade enquanto experiência individual e coletiva relacionado com o tensionamento de uma sociedade cada vez mais tecnológica, individualista e conectada. Santo Agostinho (2015) em seu livro Confissões aborda a questão do contato íntimo com Deus e o quanto é revelador da condição maior de vida, “Fazei que eu Vos conheça, ó Conhecedor de mim mesmo, sim, que Vos conheça como de Vós sou conhecido. (...) Ó virtude de minha alma, entrai nela, adaptai-a a Vós, para terdes e possuirdes sem macha nem ruga. É esta esperança com que falo, a esperança em que me alegro quando gozo duma alegria sã” (AGOSTINHO, 2015, pág. 231) Fica claro que a experiência transcendente é fundamental na vida e sua dimensão divina é única para cada ser. Santo Agostinho trabalha com um conceito muito peculiar de fé. Conhecera si para conhecer a Deus. Por isso, é relevante e necessário ampliar a compreensão da diferenciação do conceito de fé e de Crença. Sendo a crença um processo de construção histórico/cultural e a fé enquanto dimensão divina. Birchal (2005) debate a diferenciação entre Fé e Crença baseado em Michel de Montaigne (1533/1592), sendo que a crença resulta do domínio da experiência e constitui-se de convicções não fundadas racionalmente e que modelam a conduta cotidiana; já a fé é descrita como algo inspirado por Deus, uma infusão proveniente do alto. A fé tem origem divina, já os laços constituídos pelos meios humanos (discursos e costumes) seriam a crença (BIRCHAL, 2005, p. 48) Com isso, uma questão fundamental na atualidade seria o quanto as sociedades modernas contemporâneas, materialistas e individualistas, limitam e comprometem a transcendência balizada na fé e na experiência mística e como pode ser equacionada. 10 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sugerimos a leitura da nossa biblioteca virtual - • SANCHIS, Pierre - Religião, cultura e identidade – 2018 – Vozes – Disponível em https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/168216 Conceituando fé enquanto fenômeno intimamente divino e único não atrelado a costumes, a cultura e as estruturas sociais e econômicas. (BOFF, 2000) Importante salientar que o ser humano nas suas experiências individuais e coletivas no campo do exercício da espiritualidade encontra sentido e acolhimento. Sendo um traço de sua humanidade. (HOBBES,1978). A transcendência da fé vai além de muros e encontra guarida na mente e no coração da população fortalecendo suas vidas por vezes sofridas e miseráveis e despertando a coragem incauta de seguir em frente. Entrevista para o El País - Charles Taylor: “As pessoas hoje não têm claro o sentido da vida” - Charles Taylor (Montreal, 1931) é professor emérito de Filosofia na Universidade de McGill. Formado em Oxford, é um profundo conhecedor das correntes do pensamento contemporâneo. Em seu último livro, A Era Secular (dois volumes totalizando mais de 1.200 páginas) analisa o impacto da ciência, a reforma protestante e as melhorias socioeconômicas na transformação do sistema de crenças no Ocidente. Está convencido de que a convivência religiosa é possível e desejável, assim como de que a fé, hoje em recuo, não vai desaparecer. Afirma a conveniência de encontrar uma nova linguagem para explicar o presente, pelo esgotamento das velhas palavras. Entre suas obras se destacam As Fontes do Self e A Ética da Autenticidade. O Governo canadense encomendou, junto com o sociólogo Gérard Bouchard, um trabalho sobre as diferenças culturais e a acolhida de imigrantes, hoje conhecido como o relatório da comissão Bouchard-Taylor. Link: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_0889 26.html https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/168216 https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_088926.html https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_088926.html 11 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Fundamental nesta discussão quanto ao exercício da fé e da espiritualidade transcendente, não limitar esta vivência ao espaço institucional religioso, pois, reduzir uma dimensão tão profunda e primordial da humanidade num espaço geográfico pode contribuir para que parcela significativa da população venha a assumir a descrença e seu consequente afastamento. Tolerância e respeito a diversidade passam necessariamente pelas questões inerentes a religião na sociedade. John Rawls, professor de filosofia política – Havard, problematiza a temática do pluralismo religioso e defende a ideia de que as pessoas devem ter o direito de expressar sua religião ou sua falta dela em público. Ele argumenta que os princípios de liberdade religiosa devem ser respeitados e que a tolerância entre as diferentes religiões passa necessariamente pelo estado democrático. para Rawls – e mais uma vez citamos o prefácio do livro resenhado – a religião é “parte constitutiva da res publica liberal-democrática” (p. vii), a preservação dessa res publica depende de que a coerção coletiva não se baseie no que ele chama de doutrinas abrangentes. A conciliação entre razão e política fica a cargo da “razão pública”, isto é, o dever (moral, não legal) que cidadãos adeptos de doutrinas abrangentes têm de justificar suas posições políticas aos demais cidadãos apelando a razões que estes últimos não podem razoavelmente rejeitar. Assim, a razão pública é um ideal normativo que, em nome do “dever de civilidade” e do respeito mútuo, exige um pouco de autocontenção aos cidadãos quando agem politicamente no foro público (especialmente àqueles que ocupam cargos públicos). Em suma, a razão pública é um protocolo de justificação de nossas próprias posições políticas a nossos concidadãos quando o que está em jogo são questões constitucionais básicas (BARROSO, 2017, p. 02) O avanço do diálogo entre as diferentes religiões na sociedade contribui para a promoção de uma solução equilibrada que possa promover a convivência pacífica. O teólogo Jürgen Moltmann ( teólogo reformado alemão que é professor emérito de Teologia Sistemática na Universidade de Tübingen) em suas reflexões e publicações considera a ideia de que a religião deve ser usada como uma força para o bem, para ajudar as pessoas a encontrar sentido em suas vidas e a viver de forma mais solidária, e para que elas possam viver de acordo com os valores da compaixão e da solidariedade. Como exemplo cita o cristianismo e sua potência de contribuir para o enfrentamento de questões como a pobreza, a injustiça e a desigualdade. (MOLTMANN,2012) Em suma, é evidente que a religião pode desempenhar um papel importante na abordagem dos maiores desafios contemporâneos do século XXI. Ao fornecer esperança, 12 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância consolo e direção, a religião pode ajudar a promover a justiça social e a encontrar soluções equitativas para os problemas que enfrentamos. Bem como, pode fornecer um forte impulso para a criação de soluções eficazes para a crise climática, incentivando as pessoas a tomar medidas concretas para a preservação e a gestão sustentáveis do meio ambiente. Veremos nos próximos capítulos que o papel primordial da religião nos tempos atuais deve ser de iluminação do pensamento e do sentimento na direção da fraternidade e solidariedade universal. 13 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. A RELIGIOSIDADE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA – EXPRESSÕES DA FÉ E DA ÉTICA De fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança. E talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch: "onde está a esperança ali também está a religião". A visão é bela, mas não há certezas. Como o trapezista que tem de se lançar sobre o abismo, abandonando todos os pontos de apoio, a alma religiosa tem de se lançar também sobre o abismo, na direção das evidências do sentimento, da voz do amor, das sugestões da esperança. (ALVES, 2008, p. 216) 2.1. A religiosidade da população brasileira – expressões de fé e da ética A religiosidade da população brasileira se caracteriza pela sua diversidade. É um país com uma grande variedade de religiões, desde as mais tradicionais como o catolicismo e o protestantismo (tradicional/evangélica), o espiritismo, o candomblé, a umbanda, o budismo. Como fonte de pesquisa sugerimos o artigo O campo religioso brasileiro: historiografia e religiosidade - REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – Ano VI, 2007 / n.º 12 – 133-139 Link:https://recil.ensinolusofona.pt/bitstream/10437/4159/1/o_campo_religioso_b rasileiro.pdf De acordo com o último Censo Demográfico de 2010 (IBGE), mais da metade da população brasileira (54,7%) se declarou seguidora da fé católica. Outras religiões presentes no país são o protestantismo (22,2%), o espiritismo (1,2%), o candomblé (0,3%), o budismo (0,1%) e o sincretismo religioso (2,2%). (IBGE,2010) Outra pesquisa, mais recente realizada pelo Instituto Data Folha em 2020 aponta que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião. Ainda de acordo com o levantamento, as mulheres representam 58% dos evangélicos e são 51% entre os católicos. https://recil.ensinolusofona.pt/bitstream/10437/4159/1/o_campo_religioso_brasileiro.pdf https://recil.ensinolusofona.pt/bitstream/10437/4159/1/o_campo_religioso_brasileiro.pdf 14 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A pesquisa foi feita nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado, com 2.948 entrevistados em 176 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Religião dos brasileiros Católica: 50% Evangélica: 31% Não tem religião: 10% Espírita: 3% Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras: 2% Outra: 2% Ateu: 1% Judaica: 0,3% (https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao- catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml ) Os dados demonstram claramente que a imensa maioria da população brasileira crê em Deus, e, portanto, exerce sua religiosidade no contexto diário de suas vidas. A pesquisa indica que mais de 80.0% se declaram cristãos. Sugerimos a leitura do livro de Roberto DaMatta - O que faz o brasil, Brasil? Link: https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Da_Matta- O_que_faz_Brasil_Brasil.pdf No Brasil, é comum a mistura de rituais e crenças diferentes, o que torna a religiosidade da população brasileira ainda mais diversa e plural. Esta pluralidade de crenças permite que cada indivíduo encontre sua própria maneira de lidar com questões complexas do cotidiano através da fé e da vivência da espiritualidade íntima que repercute coletivamente. Neste sentido, a religião funciona como um componente agregador na comunidade no âmbito das relações humanas. As expressões na sociedade, no que tange a simbologia que a religiosidade suscita, mediante rituais carregados de significados que despertam identidade e unicidade. https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Da_Matta-O_que_faz_Brasil_Brasil.pdf https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Da_Matta-O_que_faz_Brasil_Brasil.pdf 15 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A religiosidade da população brasileira é amplamente discutida entre autores teóricos e acadêmicos na perspectiva de compreender seu alcance na vida em sociedade. Para Roberto da Matta (1986) que descreve a religiosidade brasileira como sendo uma mistura de elementos católicos, africanos e indígenas. A religiosidade brasileira é caracterizada por uma certa “fluidez”, que permite que diversas crenças e práticas sejam incorporadas de forma natural à cultura brasileira. Fonte: https://kn.org.br/wp-content/uploads/2021/03/WhatsApp-Image-2021-03-15-at-13.57.09.jpeg Com isso, a “fluidez” compõe a brasilidade religiosa marcada pela pluralidade e a diversidade de experiências e vivências do sagrado. Que estabelece a conexão entre os “dois mundos” mediante orações (preces, rezas), festividades religiosas, cultos, missas, trabalhos e a música. A comunicação entre o indivíduo e os seres que habitam este “outro mundo” se dá através de um forte “elo pessoal”. A relação com os espíritos, santos, orixás, e antepassados é descrita em termos de “intimidade” onde o sujeito religioso não é apenas um devoto, mas também, um veículo no qual estes seres se manifestam (sendo cavalos dos santos dos orixás no candomblé; na mediunidade dos espíritos desencarnados no espiritismo; no “estar cheio do espírito” em êxtase no pentecostalismo). Como afirma, esse elemento de pessoalidade da experiência com o “divino” é marcante na cultura religiosa brasileira e que “a relação pode ter forma diferenciada, mas a sua lógica estrutural é a mesma. Em todos os casos, a relação existe e é pessoal, isto é, fundada na simpatia e na lealdade dos representantes deste mundo e do outro”. O “milagre” é justamente entendido um dos grandes https://kn.org.br/wp-content/uploads/2021/03/WhatsApp-Image-2021-03-15-at-13.57.09.jpeg 16 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância exemplos dessa relação mais pessoal que envolve os indivíduos e os seres divinos.(BRENO, 2019 in https://revistasenso.com.br/senso-religioso/brasilidades- religiosas-notas-da-cultura-religiosa-nacional/ ) Com isso, a religiosidade brasileira é um traço profundo e místico que transita da experimentação individual para a coletiva e vice e versa. Intimidade, proteção e cuidado são as características marcantes deste processo. Debater sobre religiosidade no universo acadêmico requer revisitar as reflexões do relevante sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, que analisa a religiosidade brasileira como sendo uma fusão de elementos europeus, africanos e indígenas. Freyre (2003) destaca o papel da mística católica, assim como o uso de elementos do candomblé, umbanda e outras religiões afro-brasileiras. Segundo ele, a religiosidade brasileira caracteriza-se pela “sincretização” de elementos de diversas riquezas culturais. A religião tornou-se o ponto de encontro e de confraternização entre as duas culturas, a do senhor e a do negro; e nunca uma intransponível ou dura barreira. Os próprios padres proclamavam a vantagem de concederem-se aos negros seus folguedos africanos. Um deles, jesuíta, escrevendo no século XVIII, aconselha os senhores não só a permitirem, como a "acudirem com sua liberalidade" às festas dos pretos. "Portanto não lhe estranhem o criarem seus reis, cantar e bailar por algumas horas honestamente em alguns dias do ano, e o alegrarem-se honestamente à tarde depois de terem feito pela manhã suas festas de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedicto e do orago da capela do engenho (...). A liberdade do escravo de conservar e até de ostentar em festas públicas - a princípio na véspera de Reis, depois na noite de Natal, na de Ano-Bom, nos três dias de carnaval - formas e acessórios de sua mítica, de sua cultura fetichista e totêmica, dá bem a ideia do processo de aproximação das duas culturas no Brasil. Liberdade a que não deixou nunca de corresponder forte pressão moral e doutrinária da Igreja sobre os escravos. (FREIRE, 2003, p. 228) O sincretismo religioso é um fenômeno complexo que se manifesta no contexto do Brasil, resultante do encontro entre a religião católica, a religião indígena e a religião africana conforme reflete Freire (2003). O sincretismo religioso brasileiro é um dos mais ricos e variados no mundo. Leia a interessante reportagem do Jornal da Unesp - As religiosidades do Brasil: da Independência à pluriexistência Link: https://jornal.unesp.br/2022/07/05/as-religiosidades-do-brasil-da- independencia-a-pluriexistencia/ https://revistasenso.com.br/senso-religioso/brasilidades-religiosas-notas-da-cultura-religiosa-nacional/ https://revistasenso.com.br/senso-religioso/brasilidades-religiosas-notas-da-cultura-religiosa-nacional/ https://jornal.unesp.br/2022/07/05/as-religiosidades-do-brasil-da-independencia-a-pluriexistencia/https://jornal.unesp.br/2022/07/05/as-religiosidades-do-brasil-da-independencia-a-pluriexistencia/ 17 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Na música composta por Carlinhos Brown e Martinho da Vila chamada “Oração Alegre” percebemos claramente a questão do sincretismo religioso na cultura brasileira. “Creio em Deus Pai, todo Poderoso Criador do céu e da Terra Em Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor Que foi concebido pela graça do divino Espírito Santo E nasceu da Virgem Maria A Virgem Maria, no sincretismo religioso é Yemanjá” Que lá em Angola é a Kianda Ora, para compreender a amplidão da religiosidade da população brasileira é crucial o entendimento do seu processo de formação sociológico e antropológico ao longo da história. Pois, a religiosidade brasileira reflete a diversidade étnica da população, enfatizando a “fusão de crenças”. O Teólogo e Pastor Presbiteriano Rubem Alves destacou a importância da ética na religiosidade brasileira. Segundo Alves, a religiosidade brasileira reflete o seu caráter ético, em que o papel dos valores morais é destacado. Alves destaca a importância da justiça social e da tolerância na religiosidade brasileira, destacando que esta é um fator crucial para a compreensão da “identidade religiosa” da população brasileira. Debater sobre religiosidade no universo acadêmico requer revisitar as reflexões do relevante sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, que analisa a religiosidade brasileira como sendo uma fusão de elementos europeus, africanos e indígenas. Freyre (2003) destaca o papel da mística católica, assim como o uso de elementos do candomblé, umbanda e outras religiões afro- brasileiras. Segundo ele, a religiosidade brasileira caracteriza-se pela “sincretização” de elementos de diversas riquezas culturais 18 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Rubem Alves debate que a religiosidade no contexto da fé popular tem uma dimensão ética na medida em que estrutura comportamentos e hábitos que dialogam com as relações sociais e familiares. Pois, "Não existe religião alguma que seja falsa. Todas elas respondem, de formas diferentes, a condições dadas da existência humana." (E. Durkheim) apud Alves (2008, p. 52) Sendo assim, a religiosidade despertada no processo de contato com Deus é complexa e controversa. Para alguns, é uma forma de buscar o divino, enquanto outros acreditam que é uma forma de se conectar com o mundo emocional. Pois, religiosidade é mais do que um simples conjunto de crenças, é a busca pela conexão com o divino e o sagrado. 19 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. RESPEITO A DIVERSIDADE RELIGIOSA E OS DESAFIOS NO CONTEXTO DA INTOLERÂNCIA NA ATUALIDADE – DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO “O diálogo inter-religioso demonstra a possibilidade de uma nova perspectiva de atuação das religiões ao reconhecer que essas podem exercer um papel significativo na construção de uma ética da superação da violência; que podem igualmente dedicar-se à tarefa comum de salvaguardar a integridade dos seres humanos e da terra ameaçada. A verdadeira relação com o Absoluto é incompatível com toda e qualquer desumanização ou violência” (TEIXEIRA, 2003, p. 21) 3.1 Respeito a diversidade religiosa e os desafios no contexto da intolerância na atualidade - diálogo inter-religioso A diversidade religiosa na sociedade brasileira foi sendo construída ao longo dos últimos séculos. Por muito tempo, autores dialogam com a questão compreendendo este processo e identificando certo grau avançado de tolerância inter-religiosa. A autoimagem do povo brasileiro forjado no respeito as múltiplas expressões religiosas e no sincretismo supostamente “cordial” enquanto traço sociológico e cultural, precisa ser repensado e questionado criticamente. Um dos maiores expoentes da sociologia brasileira, Sergio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil cunha o conceito do “homem cordial” sendo uma das principais chaves interpretativas na constituição do país. Para compreender o conceito do homem cordial sugerimos a leitura da resenha do livro AS RAÍZES E O FUTURO DO “HOMEM CORDIAL” SEGUNDO SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA Link: https://www.scielo.br/j/ccrh/a/FBRYnzHxVHTzYxsMKK4r4tj/?format=pdf&la ng=pt https://www.scielo.br/j/ccrh/a/FBRYnzHxVHTzYxsMKK4r4tj/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/ccrh/a/FBRYnzHxVHTzYxsMKK4r4tj/?format=pdf&lang=pt 20 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para o autor o homem cordial é identificado na coletividade. O “homem cordial” é, portanto, um artifício, um ardil psicológico e comportamental, que está encrustado em nossa formação enquanto povo. Caracterizado pela gentileza, amizade, hospitalidade e a solidariedade. (HOLANDA,1995) O homem cordial é visto como alguém que tem um forte senso de responsabilidade com os outros, que se preocupa com as necessidades dos outros e faz o que pode para ajudar a melhorar a vida das pessoas ao seu redor. É um modelo de comportamento que tem o poder de unir as pessoas e promover o bem-estar coletivo. Portanto, é evidente que a intolerância religiosa ainda é um problema sério no Brasil que requer da sociedade e dos governos atenção e ações que minimizem seus efeitos deletérios na unidade nacional. Para lidar com essa questão, é necessário que sejam criadas políticas públicas para garantir a liberdade religiosa, bem como campanha de conscientização para promover o respeito à diversidade religiosa. Só dessa forma é possível garantir o direito de cada um de praticar a religião que desejar livremente. Ocorre que, esta suposta aceitação da diversidade “cordialmente” estruturada na formação do povo brasileiro, esconde um homem capaz de atos agressivos e violentos para defender sua forma de ver e interpretar o mundo que o circunda. O Teólogo Leonardo Boff numa entrevista concedida ao Portal uol em 2020 afirma que, "Quando dizem que o brasileiro é cordial, cordial não significa que é gentil, que é sentimental. Porque do coração vem a bondade, a gentileza, mas vem também o ódio e a vingança — e o brasileiro é as duas coisas", disse. "Isso está escondido dentro de nossa cultura: temos sombras terríveis, a sombra do colonialismo, do etnocídio indígena, da escravidão e da intolerância religiosa.( https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/16/como-o-mito-do-homem-cordial- embaca-a-percepcao-sobre-o-brasileiro.htm ) O mito deste “homem cordial” que foi constituído e estruturado pela influência das diversas religiões e do patriarcado escravocrata. Deve ser compreendido como um disparador do preconceito e de negação da diversidade. Pois, entendendo o “homem https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/16/como-o-mito-do-homem-cordial-embaca-a-percepcao-sobre-o-brasileiro.htm https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/16/como-o-mito-do-homem-cordial-embaca-a-percepcao-sobre-o-brasileiro.htm 21 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância cordial” como exacerbação de afeto — tanto para a formação de laços comunitários quanto para sua ruptura violenta”. (HOLANDA, 1995, p.02) Sendo assim, a questão da diversidade e da intolerância das religiões no contexto do primeiro quarto do século XXI, requer revisitar as origens da religiosidade na formação brasileira. O mesmo “homem cordial” capaz de atitudes profundamente inclusivas e de respeito a diversidade, tem a capacidade de ser profundamente preconceituoso, agressivo e violento quando confrontado pelo “diverso”. Fonte: Politize! Na atualidade, a questão da intolerância religiosa vem aumentando ao longo dosanos. De acordo com dados do Disque 100 no Brasil ocorreram registrou três queixas de intolerância religiosa por dia em 2022. Estado com mais registros é São Paulo, com 111 denúncias, seguido do Rio de Janeiro, com 97, Minas Gerais (51), Bahia (39), Rio Grande do Sul (26), Ceará (11) e Pernambuco (13). ( https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas- de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml ) Os dados demonstram que a questão da intolerância religiosa é grave e precisa ser enfrentada pela sociedade e pelo estado brasileiro. Sua manifestação multifacetada agrega a discriminação, a violência e o preconceito. https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml 22 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A problemática da violência religiosa contra os adeptos de religiões de matriz africana tem se intensificado nos últimos anos, com manifestações como invasões de templos, campanhas de desinformação e destruição de símbolos religiosos. Sugerimos a leitura da reportagem da BBC – Brasil - 'Liberdade religiosa ainda não é realidade': os duros relatos de ataques por intolerância no Brasil Link: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722 Contraditoriamente, os agressores contra as minorias religiosas geralmente são oriundos de indivíduos que se autodeclaram cristãos, encontrando justificativas para seus arbítrios numa visão fundamentalista e extremista. Os ensinamentos de Jesus Cristo estão estruturados no amor e na tolerância e são completamente antagônicos ao ódio e a violência, A opção da comunicação dialógica constitui hoje um desafio particular para o cristianismo. A experiência da alteridade toca o que há de mais profundo e específico na vocação original do cristianismo. Uma experiência que haure sua razão de ser na própria experiência do Deus de Jesus que é comunhão e não solidão, de um Deus que integra a diferença e convoca o cristianismo a dar direito à diferença. A dinâmica da alteridade está igualmente radicada na experiência histórica de Jesus de Nazaré, que de forma impressionante soube acolher com ternura e amor os excluídos e os diferentes. A capacidade de acolhida e hospitalidade foi traço essencial de seu testemunho histórico. Não há como entender a missão cristã senão na perspectiva dessa trajetória de hospitalidade apontada por Jesus. Essa missão não pode ser entendida restritivamente como difusão do império ou civilização cristã e de implantação da Igreja. Deve, antes, no seguimento de Jesus, ser entendida e vivida como um projeto de expansão da cultura da vida, capaz de transmitir um novo alento vital contra as afirmações do sofrimento e da morte, transformados em espetáculos rotineiros. Um projeto a ser exercido em comunhão fraterna com todas as outras tradições religiosas do planeta (TEIXEIRA, 2003, p.35) Neste grave quadro de violência e de intolerância, mediante dados do Disque 100 vem sendo observado um incremento destes episódios ao longo dos últimos três anos. Que tem intensificado a intolerância e a violência religiosa. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722 23 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Denúncias de intolerância religiosa pelo Disque 100 entre janeiro e junho • 2020 - 498 • 2021 - 466 • 2022 – 545 ( https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas- de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml ) Neste processo, o preconceito religioso pode estar relacionado com o advento das mídias sociais e o impacto da disseminação de fake news. Muitos pesquisadores no campo das ciências sociais vêm debatendo e estudando o nível de influência e responsabilidade. Sendo assim, o antídoto para esta grave realidade que vem aumentando na sociedade brasileira, seria justamente, o respeito à diversidade religiosa para a construção de uma sociedade pluralista, aberta e inclusiva. O fundamento de uma sociedade democrática favorece o enfrentamento da violência e do preconceito religioso. Isso significa que as pessoas devem ter o direito de praticar suas crenças e devem ser tratadas com dignidade e respeito, independentemente de sua religião ou crença. O DIREITO DE RELIGIÃO NO BRASIL - Link https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.ht m Mahatma Gandhi, grande líder espiritual da Índia, ao dialogar com outras religiões no contexto da libertação de sua nação da Inglaterra mediante a confrontação da “não- violência, refere que o ser humano deve respeitar todas as religiões como se elas fossem sua própria religião. Gandhi ( 2003). Trilhando o caminho para o respeito e para a evolução na direção da fraternidade humana. Pois, No universo dos buscadores do diálogo inter-religioso, Mahatma Gandhi representa mais um capítulo genial e magnífico da busca do ser humano pelo Mistério, ou, segundo ele mesmo, da busca pela Verdade. Ao reconhecer a vulnerabilidade e contingência do hinduísmo e, concomitante a isto, despertar em si a consciência da https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm 24 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância humildade necessária ao diálogo inter-religioso (...) Gandhi permitiu uma verdadeira abertura ao valor da alteridade cristã ao maravilhar-se com Jesus de Nazaré enquanto um verdadeiro príncipe do satyāgraha na medida em que isso consistisse numa exigência ética de existir para os outros, em estimular a fidelidade à própria tradição religiosa não só para si, mas também para fiéis de outros credos, pois na busca comum da Verdade junto de seus interlocutores dialogais, também se mostrou aberto à verdade que o envolvia e ultrapassava, pois desde que a procura da Verdade passou a ser seu único objetivo, começou a sentir seus horizontes se expandindo (MARCONDES at all, 2012, p. 122) Ora, a diversidade religiosa é importante para a promoção da tolerância e da inclusão e a população deve ser incentivada a aceitar e compreender as diferenças entre as religiões. O diálogo entre as comunidades religiosas é essencial para promover o entendimento e o respeito mútuo. Para o Dr. Faustino Teixeira, Pós-Doutor em Teologia – Gregoriana/Roma, O diálogo inter-religioso apresenta-se como um dos grandes desafios para o terceiro milênio. Num tempo marcado pelo recrudescimento da violência e da intolerância, o diálogo significa uma possibilidade alternativa. Não há outro caminho possível para a paz no mundo senão mediante o entendimento mútuo e a abertura para a alteridade. (TEIXEIRA, 2003, p. 19) No Brasil, o diálogo inter-religioso tornou-se uma importante discussão nos últimos anos. Devido à diversidade religiosa e cultural do país e o aumento do ódio religioso o diálogo inter-religioso tem se tornado cada vez mais necessário. Como resultado, as autoridades religiosas, governamentais e acadêmicas têm buscado formas de promover o diálogo e a tolerância entre diferentes grupos religiosos. Para o Teólogo Jürgen Moltmann, o diálogo inter-religioso é importantepara o desenvolvimento da democracia e para a promoção da paz e da convivência pacífica entre os diversos grupos religiosos. Afirma que o diálogo é importante para o desenvolvimento e para a promoção dos direitos humanos. Moltmann insere a questão do diálogo dentro da categoria da missão da igreja que visa a uma transformação qualitativa a respeito da humanidade, o qual chama de “contaminação” das pessoas, seja qual for sua religião, com o espírito da esperança, amor e da responsabilidade pelo mundo. Para nosso teólogo, essa missão qualitativa acontece no diálogo entre as religiões. Para ele, “o diálogo das religiões universais é um processo para o qual podemos nos abrir somente se nos tornamos vulneráveis na abertura e quando saímos dele transformados”. Chamamos a atenção para o fato de que, no pensamento de nosso teólogo, esse diálogo não implica uma perda da identidade cristã, antes ganhar mediante esse encontro com o outro um novo perfil que, de acordo com a esperança cristã, são volta dos para o bem dos seres humanos, para a vida e para a paz. Nesse sentido, Moltmann 25 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância propõe que o cristianismo desconstrua os preconceitos em relação a outras religiões (VELIQ, 2019, p. 492) Portanto, é evidente que a intolerância religiosa ainda é um problema sério no Brasil que requer da sociedade e dos governos atenção e ações que minimizem seus efeitos deletérios na unidade nacional. Para lidar com essa questão, é necessário que sejam criadas políticas públicas para garantir a liberdade religiosa, bem como campanha de conscientização para promover o respeito à diversidade religiosa. Só dessa forma é possível garantir o direito de cada um de praticar a religião que desejar livremente. O respeito à diversidade religiosa é essencial para a construção de uma sociedade mais inclusiva e harmoniosa. Ao incentivarmos o diálogo entre as comunidades religiosas, e a aceitar e compreender as diferenças, podemos contribuir para um país mais tolerante, unido e democrático. 26 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. O ADVENTO DO PAPEL DA MULHER NO SÉCULO XXI E O PROTAGONISMO NAS RELIGIÕES A história revela que as grandes causas, benéficas especialmente aos contingentes discriminados e a quase todos os demais, obtiveram sucesso, apesar de terem sido conduzidas por pequenas minorias. E as brasileiras têm razões de sobra para se opor ao machismo reinante em todas as instituições sociais, pois o patriarcado não abrange apenas a família, mas atravessa a sociedade como um todo.(SAFFIOTI, 2004, p. 49) 4.1 O advento do papel da mulher no século XXI e o protagonismo nas religiões O debate acerca do papel da mulher no século XXI reverbera nas múltiplas dimensões sociais e relacionais. Acarretando avanços na direção da igualdade de oportunidades na sociedade. Reivindicando os mesmos direitos que os homens têm. Elas têm maior acesso à educação, saúde, trabalho e direitos políticos. Ao longo das décadas, as mulheres conquistaram a liberdade de expressar suas opiniões e seus direitos de voto, que vem contribuindo para a consolidação de seu papel na sociedade. (SAFFIOTI, 2015) As desigualdades de gênero que perpassam a sociedade encontram-se ainda latentes em pleno século XXI, mesmo após as conquistas históricas do movimento pela igualdade. Tais desigualdades incidem sobre a totalidade da vida feminina, sendo a inserção do mercado de trabalho um dos ângulos prioritários de manifestação das discriminações sofridas pelas mulheres. (SILVEIRA&COSTA, 2019, p. 01) No que concerne ao enfrentamento da histórica e estrutural desigualdade de gênero estruturado pelo patriarcado e pelo machismo, o momento atual é crucial para o avanço na conquista de espaços de atuação e de protagonismo para as mulheres. Sugerimos a leitura da interessante reportagem : As religiões monoteístas excluíam as mulheres? Link: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/594546-as-religioes- monoteistas-excluiam-as-mulheres https://www.ihu.unisinos.br/categorias/594546-as-religioes-monoteistas-excluiam-as-mulheres https://www.ihu.unisinos.br/categorias/594546-as-religioes-monoteistas-excluiam-as-mulheres 27 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Para Saffioti (2015) a compreensão da questão da desigualdade de gênero no contexto do patriarcado secular implica em relações desiguais e hierárquicas. A lógica patriarcal de gênero aceita a dominação e exploração das mulheres pelos homens, dentro do binômio dominação-exploração da mulher. as mulheres têm enfrentado desafios significativos para exercer protagonismo nas religiões ao longo da história. Muitas religiões tradicionais, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, não dão às mulheres o mesmo status que aos homens. Isso significa que, em muitos casos, as mulheres não têm o mesmo direito de tomar decisões ou participar de atividades religiosas, como ler ou interpretar textos sagrados. Além disso, as mulheres também podem enfrentar preconceitos e discriminação dentro de suas próprias religiões, incluindo assédio, violência e ostracismo. Isso pode tornar difícil para as mulheres exercerem seu direito de participar e ter voz nas decisões religiosas. No campo religioso esta lógica se repete onde as mulheres tensionam para ganhar protagonismo e posições de liderança nas religiões brasileiras, realizando o embate com a “normalização” do papel milenar de liderança dos homens. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que as mulheres conquistem total igualdade de direitos e oportunidades. Elas ainda enfrentam discriminação no mercado de trabalho, violência doméstica, assédio sexual, feminicídio e no contexto religioso um papel secundário na estrutura hierárquica e administrativa. Para Rosado (2001), as críticas manifestadas aos conteúdos tradicionais da fé: o monoteísmo, a imagem masculina da divindade, a figura submissa e virginal de Maria; as interpretações sexistas dos textos sagrados – a Bíblia, o Talmude, o Alcorão, os escritos do Budismo (2001, p. 88) Dimensionam os conflitos que as mulheres têm enfrentado e os desafios significativos para exercer protagonismo nas religiões ao longo da história. Muitas religiões tradicionais, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, não dão às mulheres o mesmo status que aos homens. Isso significa que, em muitos casos, as mulheres não têm o mesmo direito de tomar decisões ou participar de atividades religiosas, como ler ou interpretar 28 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância textos sagrados. Além disso, as mulheres também podem enfrentar preconceitos e discriminação dentro de suas próprias religiões, incluindo assédio, violência e ostracismo. Isso pode tornar difícil para as mulheres exercerem seu direito de participar e ter voz nas decisões religiosas. As mulheres enfrentam ainda desigualdade de voz em muitos espaços religiosos, pois não são ouvidas e valorizadas na mediação entre a humanidade e o divino. Além disso, as mulheres também enfrentam discriminação por serem vistas como inferiores às vozes masculinas, e muitas vezes são relegadas a posições secundárias. Estudiosas das religiões mostraram a inadequação de se tratar as categorias utilizadas como supostamente neutras em termos de gênero. Tal tratamento impede a percepção de elementos fundamentais para a análise da realidade das religiões. No campo católico, por exemplo, o uso genérico de categorias como clero, hierarquia, sem referência ao fato de que se referem a um grupo exclusivamente masculino impede a análise das relações de poder que presidem a organizaçãodessa instituição religiosa. (ROSADO, 2001, p. 92) Neste sentido, as mulheres estão lutando para serem mais equiparadas em suas religiões, lutando por oportunidades iguais e por direitos iguais. Isso inclui o direito de serem líderes, o direito de serem ouvidas e o direito de serem tratadas igualmente. Além disso, as mulheres também estão lutando para ter maior protagonismo na tomada de decisões religiosas e para mudar as normas sociais que muitas vezes limitam seu papel na religião. Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/images/ihu/2019/11/22-11-mulhere-religiao-credito-medium.png O machismo e o patriarcado também podem ser vistos nos ensinamentos das religiões brasileiras, onde os homens são frequentemente vistos como superiores às mulheres e onde as mulheres são encorajadas a serem modestas, submissas e obedientes aos seus maridos. Os padrões de gênero definidos historicamente na sociedade brasileira são muito presentes na religião, que tende a reforçar os papéis tradicionais de homens e mulheres. https://www.ihu.unisinos.br/images/ihu/2019/11/22-11-mulhere-religiao-credito-medium.png 29 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Sugerimos como leitura a reportagem - O país em que a violência contra a mulher é justificada pela religião. Observatório do Terceiro Setor - Link: https://observatorio3setor.org.br/noticias/pais-violencia-contra- mulher-justificada-pela-religiao/ Ora, o papel da mulher na religião deve seguir os avanços da sociedade na atualidade e não manter uma realidade estruturada num passado no qual apenas os homens comandavam. Importante compreender que a centralidade da figura do homem na religião remonta tempos em que as sociedades humanas estavam se organizando e se constituindo. Onde as relações sociais eram pautadas pela força e pela violência. Neste contexto, o papel da mulher ficou em último plano e as religiões reproduziram ao longo dos séculos esta realidade. Com o desenvolvimento das sociedades modernas democráticas e a conquista de direitos das mulheres, esta visão ultrapassada precisa ser superada. Pois, a semente da fé e do divino em todos os seres humanos floresce independente do gênero. Conceber que Deus enquanto “criador dos céus e da terra” concorda e normaliza a necessidade da continuidade da subalternidade da mulher na sociedade e no universo religioso, denota claramente que esta visão particular não condiz com a dimensão do amor e da solidariedade presentes nos ensinamentos atribuídos a divindade. As mulheres desde a antiguidade exerceram um papel de destaque na religião e nas sociedades. Na religião e cultura judaica não foi diferente. A presença e atuação das mulheres em todas as fases de constituição do povo escolhido bem como durante a vida de Cristo e na formação da igreja primitiva não deixa dúvida de seu papel de protagonismo. Foi através de uma mulher que os homens vieram a existir (Gn 3.20) , foi através de quatro mulheres que surgiu o povo da promessa, e não fosse a desobediência das parteiras israelitas (Ex 1.15-20) não haveria nenhum povo para ser liberto no Êxodo de onde viria o Messias, nascido de uma mulher. Uma leitura da Bíblia sem preconceitos e sem direcionamentos ideológicos esclarece e desmente qualquer acusação de misoginia e deve iluminar o debate sobre a mulher na igreja ontem e hoje. O desafio pelo reconhecimento público da atuação da mulher na igreja e na sociedade ainda é grande. Mulheres cristãs (pastoras e religiosas) ainda são questionadas se de fato são capazes de assessorar uma comunidade, se são capazes de https://observatorio3setor.org.br/noticias/pais-violencia-contra-mulher-justificada-pela-religiao/ https://observatorio3setor.org.br/noticias/pais-violencia-contra-mulher-justificada-pela-religiao/ 30 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância pregar, de realizar enterros, batizar, dentre outras atividades. (RIBEIRO, 2020, p. 84) No caso do cristianismo, relembrando ser a maior parcela da população brasileira, a mediação entre o eterno e os homens se deu através de Jesus Cristo e seus ensinamentos de amor, respeito e tolerância são o alicerce da igualdade entre homens e mulheres. Apesar de Jesus ter nascido em um povo patriarcal, recebeu heranças masculinas e femininas que fizeram parte de sua história de moldaram seu lado humano. Jesus não era uma divindade alheia aos nossos problemas, mas pelo contrário, cresceu e viveu como um deus-homem, conhecedor da natureza humana em suas falhas e qualidades, que gostava de estar junto tanto de homens como de mulheres. (RIBEIRO, 2020, p. 80) Os evangelhos de (Lucas; Matheus; Marcos e João) relatam que no momento da crucificação apenas as mulheres o acompanhavam com exceção de João, pois seus discípulos e apoiadores fugiram com receio das retaliações do Império Romano. Algumas mulheres estavam observando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, o mais jovem, e de José. 41 Na Galiléia elas tinham seguido e servido a Jesus. Muitas outras mulheres que tinham subido com ele para Jerusalém também estavam ali. (Evangelho de Marcos 15:40) Claramente demonstrando que num dos momentos mais emblemáticos da história humana cristã o empoderamento e o protagonismo das mulheres esteve presente. Sugerimos a leitura da resenha do livro - BERTH, Joice. Empoderamento. São Paulo: Sueli Carneiro; Editora Pólen, 2019. Link: https://www2.unifap.br/neab/files/2021/01/Empoderamento- Feminismos-Plurais-Joice-Berth.pdf A religião tem um papel fundamental na sociedade brasileira. O Brasil é um país com grande diversidade religiosa, onde as principais religiões são o catolicismo, o protestantismo, o espiritismo, o candomblé e a umbanda. O papel das mulheres na religião no Brasil tem sido marcado por muitos avanços e conquistas, mas também por desigualdades e desafios. https://www2.unifap.br/neab/files/2021/01/Empoderamento-Feminismos-Plurais-Joice-Berth.pdf https://www2.unifap.br/neab/files/2021/01/Empoderamento-Feminismos-Plurais-Joice-Berth.pdf 31 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Iniciativas incipientes vêm ocorrendo no universo religioso brasileiro quanto ao empoderamento da mulher. Na Igreja Católica a figura central do sacerdócio masculino começa a ser questionado por setores mais progressistas e democráticos. Nas Igrejas protestantes e pentecostais o papel da mulher como líder vem ganhando espaço. Para mudar essa cultura, é necessário que as pessoas se conscientizem das formas como o machismo e o patriarcado estão presentes na religião brasileira. É necessário que haja uma abertura para o diálogo e o debate sobre esses assuntos, para que os padrões de gênero possam ser redefinidos e para que as mulheres possam ter seus direitos e deveres reconhecidos. Essa mudança não é fácil, mas é necessária para a melhoria da qualidade de vida das mulheres no Brasil e para que o princípio fundamental maior das religiões seja efetivamente realizado, comunhão com o divino religando a conexão entre a humanidade e o celestial. 32 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. O PAPEL DA RELIGIÃO NA EDUCAÇÃO – FORMAÇÃO DE VALORES ÉTICOS PARA A CONVIVÊNCIA EM SOCIEDADE “é inegável que a violência atinge a todos os segmentos populacionais, entretanto deve ser enfrentada por meio do diálogo e do conhecimento, entendendo que a realização plena da igualdade não é um problema somente dos excluídos, mas de toda sociedade, em que a escola tem um papel essencial no acesso aos bens culturais.O que inclui trazer à tona a discussão da diversidade religiosa com seu processo histórico da tolerância e da intolerância seja nos aspectos religiosos, antropológicos e sociais”. Eleoterio (2020, p. 76) 5.1 O papel da religião na educação - formação de valores éticos para a convivência em sociedade e o respeito ao estado democrático de direito No contexto das sociedades modernas democráticas do século XX a educação foi estruturada na ciência e na laicidade, enquanto direito universal para todos respeitando as escolhas religiosas individuais e familiares. A evolução da humanidade e a consequente evolução das instituições políticas caminham, como não poderia deixar de ser, em parelha com o aprimoramento das legislações dos países democráticos, sobretudo quanto aos temas que devem ter sede na Constituição Federal, baliza e norte de toda a organização de um Estado. (GANEN, 2015, p.01) Necessário debater que a educação pública ofertada pelo estado brasileiro é laica, e, portanto, acolhe a diversidade religiosa no contexto das instituições. Ao longo do século passado esta premissa foi sendo construída e respeitada. No Brasil, a escola como uma das instituições sociais mais importantes de formação e que por essa razão deveria primar pelos conhecimentos técnico-científicos, assegurando a igualdade, a livre a manifestação do pensamento e o livre exercício dos cultos religiosos como bem assegura a Constituição de 1988 (ROSÁRIO&ROSÁRIO, 2018, p. 117) O processo de laicidade na educação foi construído desde a Constituição de 1967, culminando com o advento da Constituição Federal de 1988 – Cidadã, garantindo direitos de igualdade. O caráter laico do Estado já vem consagrado em nossa tradição constitucional desde a Constituição Republicana, mas na Lei Maior de 1988 esse conceito 33 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância desponta de maneira mais evidente, tendo em vista as diversas questões que, cada vez mais, vêm à tona para discussão, engendradas pelo progresso da ciência e pela evolução do pensamento humano. Assim, pode se dizer que, na ordem constitucional vigente, o conceito de “Estado laico” está imantado de uma significação jamais vista em épocas anteriores. Ademais, a liberdade de expressão, agora, adquire uma dimensão maior do que nas constituições do passado. No Estatuto Magno de 1988 tal liberdade é garantida de forma mais plena e, dessa maneira, ao mesmo tempo em que a Lei Maior reafirma a tradição da laicidade de nosso Estado, veda com muito mais afinco qualquer tendência de restrição à manifestação do pensamento. (GANEN, 2015, p.03) A democracia requer que o estado seja laico e não seja capturado por concepções de homem e de mundo atreladas a uma única religião. A diversidade no contexto da sociedade brasileira concebe que a laicidade é um valor fundamental do estado de direito, inclusive para garantir o livre pensar e de manifestação do credo religioso. No artigo quinto a Constituição Cidadão versa o que segue: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; (BRASIL,1988) A igualdade e a liberdade são direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros e brasileiras, amparando legalmente a questão do credo religioso. Nos incisos VI; VII e VIII são detalhados pelo legislador constituinte as situações e condicionantes para a exigibilidade da garantia de liberdade e culto religioso. Pois, o contexto inviolável para o livre exercício da religião é a ausência de preconceitos e de concepções de homem e de sociedade centradas numa única escolha religiosa. A educação como direito social preconiza que todas as pessoas devem ter acesso à educação de qualidade, independentemente de seu gênero, raça, classe social ou credo religioso. É necessário que todos tenham acesso ao 34 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conhecimento e a informação para que possam desenvolver plenamente suas capacidades, exercer seus direitos e contribuir para o desenvolvimento econômico e social de uma sociedade mais justa, equitativa e igualitária. Com isso, fica claro que o direito ao exercício da fé religiosa é uma condição de cidadania, bem como, da laicidade do estado democrático. Quanto a educação na Constituição de 1988 foi considerada enquanto um direito social. No artigo sexto “ São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL,1988, p.03) A Fonte: https://www.cenpec.org.br/wp-content/uploads/2020/04/religiao_banner.png A educação é considerada um direito social fundamental para o desenvolvimento humano e para o avanço da sociedade. A educação desempenha um papel fundamental na formação de cidadãos conscientes e responsáveis. A educação como direito social preconiza que todas as pessoas devem ter acesso à educação de qualidade, independentemente de seu gênero, raça, classe social ou credo religioso. É necessário que todos tenham acesso ao conhecimento e a informação para que https://www.cenpec.org.br/wp-content/uploads/2020/04/religiao_banner.png 35 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância possam desenvolver plenamente suas capacidades, exercer seus direitos e contribuir para o desenvolvimento econômico e social de uma sociedade mais justa, equitativa e igualitária. Para compreender a questão do preconceito religioso no contexto escolar segue reportagem fundamental: Intolerância religiosa em ambiente escolar provoca silenciamento, exclusão e evasão de estudantes. Link: https://www.ufsm.br/midias/arco/intolerancia-religiosa-em-ambiente- escolar-provoca-silenciamento-exclusao-e-evasao-de-estudantes O contexto do espaço relacional das instituições educacionais reverbera todo o tensionamento e as contradições da sociedade na atualidade. Fome, pobreza, violência e desemprego desencadeiam conflitos familiares que repercutem nas escolas. Com a intensificação do extremismo ideológico e religioso neste primeiro quarto do século XXI, vem sendo observado episódios frequentes de preconceito e de violência religiosa entre alunos e alunas. Casos de intolerância religiosa nas escolas são subnotificados Professores estão na terceira posição de segmentos que mais cometem discriminação, perdendo para o ‘desconhecidos’ e ‘vizinhos’ Por Fernanda Baldioti | ODS 4 • Publicada em 10 de fevereiro de 2020 - 08:14 • Os sete casos de intolerância religiosa registrados em escolas do Rio de Janeiro em 2018, segundo dados da Secretaria de estado de Direitos Humanos, estão longe de refletir com exatidão o que se passa no dia a dia escolar. A subnotificação dos pais e das escolas ainda é um problema de acordo com a secretaria, que tem criado mecanismos para facilitar as denúncias, como o serviço Disque Cidadania e Direitos Humanos (0800 023 4567). Os dados de 2019 ainda não foram compilados, mas não devem ser muito diferentes. ( https://projetocolabora.com.br/ods4/casos-de-intolerancia-religiosa-nas-escolas-sao-subnotificados/ ) A problemática da intolerância no contexto escolar é um reflexo do momento de tensionamento e de extremismo que a sociedade brasileira passa na atualidade. Compreender sua gênese é fundamental para o seu enfrentamento. Segundo (ROSÁRIO&ROSÁRIO, 2018), a intolerância religiosa no contexto escolar é fruto da intolerância religiosa que grassa na sociedade brasileira e teve sua gênese no processo de colonização se espraiando para todos os tempos e atravessou a escola brasileira, sobretudo a pública onde o domínio das religiões cristãs, com destaque para católica constituiu- se em nó górdio a ser desatado, apesar da presença de instrumentos legais como https://www.ufsm.br/midias/arco/intolerancia-religiosa-em-ambiente-escolar-provoca-silenciamento-exclusao-e-evasao-de-estudantes https://www.ufsm.br/midias/arco/intolerancia-religiosa-em-ambiente-escolar-provoca-silenciamento-exclusao-e-evasao-de-estudantes https://projetocolabora.com.br/ods4/casos-de-intolerancia-religiosa-nas-escolas-sao-subnotificados/ https://projetocolabora.com.br/ods4/casos-de-intolerancia-religiosa-nas-escolas-sao-subnotificados/ 36 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância a Constituição, o Código penal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB se colocarem diametralmente contra essas práticas. (ROSÁRIO&ROSÁRIO, 2018, p. 131) Sendo assim, a violência gestada no preconceito, apesar dos pesos e contrapesos do estado democrático de direito, requer ações do Estado e da sociedade civil na perspectiva de garantir direitos dos alunos e alunas que sofrem com a intolerância no ambiente escolar. O agravante nesta questão são as repercussões emocionais e relacionais que crianças, adolescentes e jovens carregarão ao longo da vida. A Intolerância religiosa em ambiente escolar provoca silenciamento, exclusão e evasão de estudantes, bem como, atraso no desenvolvimento escolar. Outro fator relevante neste processo e que deve ser combatido é a violação de direitos. A violência é um fenômeno que envolve relações sociais, que afeta as pessoas de inúmeras formas, atingindo as liberdades e direitos fundamentais. Esse fenômeno está em todos os tempos e lugares da sociedade, seja no campo privado ou social, nas áreas rurais ou urbanas, inclusive em ambientes educacionais. Nessa perspectiva, a intolerância religiosa tem sido considerada uma violência no cotidiano escolar diante de práticas educacionais. O enfrentamento a esse tipo de intolerância requer um olhar voltado para a garantia do direito à manifestação religiosa de cada aluno/a e professor/a. (ELEOTERIO, 2020, p. 64) Na medida em que estes episódios de violência ocorrem, a resposta do conjunto da sociedade mediante os instrumentos que o Estado Democrático de Direito dispõe para coibir e garantir igualdade de direitos no aspecto das escolhas religiosas, deve ser imediata e enérgica. Neste contexto complexo e tensionado na atualidade a religião pode ser um caminho para o diálogo e para o fortalecimento da igualdade social no contexto democrático? A pergunta é pertinente e necessária em tempos de extremismo e intolerância. Sugerimos a leitura da reportagem do Politize! REFLEXÕES POLÍTICAS Intolerância Religiosa Link: https://www.politize.com.br/intolerancia-religiosa/ https://www.politize.com.br/intolerancia-religiosa/ 37 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No contexto escolar, o Brasil tem discutido de forma ampla a questão do ensino religioso. Discutisse sobre o ensino confessional para as famílias que desejam que seus filhos e filhas tenham uma educação pautada nos valores da religião que professam. Outro debate, está relacionado com a possibilidade da inclusão de disciplinas de ensino religioso confessional no contexto público e privado. Uma questão importante a ser debatida é a possibilidade da educação confessional no contexto do estado brasileiro. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1o Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2o Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. A LDB garante que o ensino religioso seja facultativo respeitando a diversidade cultural e religiosa, bem como, vedado qualquer forma de proselitismo. Recentemente em 2017 o STF – Superior Tribunal Federal decidiu, por 6 votos a 5, que o ensino religioso nas escolas públicas pode ter natureza confessional, isto é, que as aulas podem seguir os ensinamentos de uma religião específica. Leia o artigo : Liberdade religiosa ainda não é realidade': os duros relatos de ataques por intolerância no Brasil Link: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722 A grande questão neste processo que vem sendo motivo de críticas e de questionamentos quanto ao ensino religioso baseia no fato de que a dimensão confessional pode acarretar maior divisão e intolerância religiosa. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722 38 Religião e Sociedade Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Durkheim (1965) destaca o papel da educação na construção da sociedade, uma vez que é através dela que socializamos as novas gerações e transmitimos a cultura que se espera possa cooperar para a manutenção da ordem social. Para ele, a natureza social da educação impõe um prejuízo àquele que tenta educar de forma particular os seus. A educação fundamentalista, tal como exemplificado neste estudo, se encaixa bem em uma forma particular de educação. A particularidade não está em ensinar suas crenças religiosas, mas forçar uma leitura de todos os conteúdos e só permitir práticas que possam reforçar na mente do educando a superioridade do pensamento religioso na compreensão do mundo. Ele pretende desenvolver sujeitos afinados com seus valores e que rejeitem a sociedade em geral, vendo-a apenas como um campo missionário. Schunemann (2009, p. 91) Sendo assim, apesar da intencionalidade da lei em garantir que o ensino religioso seja pautado pela diversidade e pelo respeito as múltiplas expressões religiosas, o risco deve ser sempre calculado e objeto de monitoramento do estado no âmbito dos gestores educacionais. Para finalizar a reflexão é importante que a religião nos seus espaços próprios de expressão contribua para desenvolver a prática da diversidade e do respeito as múltiplas expressões religiosas. Contribuindo para a aceitação das diferentes culturas e crenças. Desempenhando um papel importante na educação e na formação de valores éticos de convivência em sociedade. Além disso, a religião também pode servir como um meio de dialogar sobre educação e direitos humanos, justiça e igualdade social. Numa perspectiva de comprometimento com o bem-estar de todos e de cidadania. Em suma, a religião desempenha um papel importante na educação e na formação de valores éticos de convivência em sociedade. A ética de convivência em sociedade é uma responsabilidade que as religiões e seus líderes e expoentes devem assumir promovendo princípios e atitudes que devem ser seguidos como: respeito; justiça; compaixão; responsabilidade; cooperação; honestidade e solidariedade. A ética de convivência em sociedade envolve o respeito mútuo, o apoio e o diálogo
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