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RELIGIÃO E SOCIEDADE 
Me. Rogério Santos Ferreira 
 
 
 
 
 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 
 
 
1 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
SOCIEDADE E RELIGIÃO 
 
Objetivo 
 
 Oferecer ampla visão do fenômeno religioso no contexto social e relacionar as 
múltiplas dimensões da vida em sociedade. Debatendo e aprofundando o fenômeno das 
Mídias Sociais e seus impactos no extremismo religioso. Refletindo sobre os paradigmas 
contemporâneos e relacionando com os conceitos de religiosidade e de religião. Estudando 
e problematizando o papel social e divino da religião na atualidade. Dimensionando e 
dialogando com a questão da desigualdade social e sua interface com a religião. Discutindo 
a religião e sua responsabilidade com o meio ambiente e a sustentabilidade das futuras 
gerações e da humanidade como criação de Deus que necessitar viver em harmonia 
planetária. 
 
Introdução 
O debate no ambiente acadêmico é fundamental na medida em que favorece o 
processo de construção de conhecimento num viés crítico da realidade favorecendo um 
processo reflexivo quanto aos dilemas inerentes a vida em sociedade neste momento 
histórico. 
 
Neste primeiro quarto do Século XXI os desafios que a religião enfrenta num mundo 
cada vez mais conectado e individualista no campo socioeconômico e relacional requer 
abertura e respeito quanto as diferenças, bem como, a compreensão das múltiplas visões 
de homem e de mundo que envolvem a crença religiosa. 
 
Para tanto, a compreensão e o debate quanto as responsabilidades sociais, 
institucionais e relacionais que as organizações religiosas devem partilhar na sociedade, 
envolvem o processo de construção da humanidade numa perspectica fraterna, solidária e 
ética. Fundamentalmente relacionado com os ensinamentos de seus fundadores “de 
caráter divino”, ou seus principais expoentes ao longo da história. 
 
 
 
 
 
 
 
2 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Num contexto tão complexo relacionado com as transformações intensas e velozes 
que a sociedade vem realizando, a religião enquanto conexão da humanidade com o divino, 
necessita direcionar a sociedade para o entendimento e a concórdia sob o risco de 
contribuir num possível colapso civilizatório, tendo em vista o aumento exponencial da 
divisão e da segmentação da humanidade em extremos ideológicos e religiosos. 
 
Na atualidade, indubitavelmente, o extremismo religioso e ideológico é o principal 
desafio da humanidade relacionado com sua sobrevivência e bem-estar. O uso maciço das 
redes sociais para a disseminação de fake news e discursos de ódio devem ser objeto de 
enfrentamento da religião. Sendo um papel fundamental dos seus líderes na atualidade 
levar esclarecimento visando a união da humanidade e o respeito mútuo. 
 
Neste sentido, a disciplina irá dialogar com questões atuais e fundamentais no 
campo social e religioso favorecendo o amplo debate e o livre pensamento. 
 
Para tanto, apropriação de valores universais de paz, tolerância, solidariedade e 
respeito precisam ser difundidos nas instituições públicas e privadas. A educação é sem 
dúvida um ambiente fundamental neste processo, pois, contribui para que as futuras 
gerações aprendam a importância da união e do sentimento de pertencimento da mesma 
humanidade enquanto filhos de Deus. Antídoto para toda forma de violência social. 
 
Na disciplina, o discente terá oportunidade de aprofundar, debater e compreender 
as múltiplas questões envolvendo a sociedade contemporânea neste início do século XXI 
relacionando com o processo de desenvolvimento da religiosidade e sua responsabilidade 
perante a humanidade. 
 
Para tanto dividimos nossa disciplina em nove temas que seguem: 
 
1. Questões contemporâneas no século XXI – religião e sociedade 
2. A religiosidade da população brasileira – expressões de fé e da ética 
3. Respeito a diversidade religiosa e os desafios no contexto da intolerância na 
atualidade - diálogo inter-religioso 
4. O advento do papel da mulher no século XXI e o protagonismo nas religiões 
5. O papel da religião na educação - formação de valores éticos para a convivência 
em sociedade e o respeito ao estado democrático de direito 
 
 
3 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
6. A influência das novas tecnologias nas religiões – redes sociais; compromisso 
ético/moral e o fenômeno das fake news 
7. Religião e pobreza – responsabilidade no enfrentamento da desigualdade social 
8. Religião e meio ambiente - ethos ecológico e a dimensão divina planetária 
9. Estado Brasileiro - fé como expressão da religiosidade brasileira e a laicidade 
como expressão e evolução civilizatória da humanidade 
 
Espero que todos aproveitem a disciplina numa perspectiva dialógica de construção 
de conhecimento na academia, espaço privilegiado de debate e do livre pensar. 
 
 
 
 
Prof. Me. Rogério Santos Ferreira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS NO SÉCULO XXI – RELIGIÃO E 
SOCIEDADE 
“A sociedade contemporânea, chamada sociedade do conhecimento e 
da comunicação, está criando, contraditoriamente, cada vez mais 
incomunicação e solidão entre as pessoas. A Internet pode conectar-
nos com milhões de pessoas sem precisarmos encontrar alguém. 
Pode-se comprar, pagar as contas, trabalhar, pedir comida, assistir a 
um filme sem falar com ninguém. Para viajar, conhecer países, visitar 
pinacotecas, não precisamos sair de casa. Tudo vem à nossa casa via 
on line . A relação com a realidade concreta, com seus cheiros, cores, 
frios, calores, pesos, resistências e contradições é mediada pela 
imagem virtual que é somente imagem. O pé sente mais o macio da 
grama verde. A mão não pega mais um punhado de terra escura. O 
mundo virtual criou um habitat para o ser humano, caracterizado pelo 
encapsulamento sobre si mesmo e pela falta do toque, do tato e do 
contato humano.” (BOFF,1999. p 01) 
 
1.1. Questões contemporâneas no século XXI – religião e sociedade 
As questões contemporâneas que enfrentamos no século XXI são complexas e 
desafiadoras. Emblemáticas e reveladoras da urgência em se debater o papel da religião e 
os desafios na sociedade contemporânea. Redes sociais, desigualdade social e pobreza, 
fake news e manipulação das massas, meio ambiente e sustentabilidade, consumismo e 
realidade líquida, democracia/autoritarismo, extremismo político e religioso, o papel da 
mulher na sociedade e nas religiões e os fluxos migratórios devido a questões geopolíticas 
ou ambientais compõem o quadro concreto da sociedade atual. 
 
Governos, sociedade civil, organismos internacionais, instituições religiosas e as 
universidades procuram debater a realidade que se impõe, identificando saídas para lidar 
com estas problemáticas que envolvem a humanidade. 
 
O enfrentamento passa necessariamente por todos e requer compreensão e 
identificação de caminhos e de estratégias. A religião, objeto de estudo do curso, tem um 
papel fundamental neste processo. 
 
Ao longo da história a religião cumpriu um papel fundamental no direcionamento dos 
caminhos e descaminhos da humanidade. Influindo em decisões que envolveram o 
surgimento e o declínio de reinos e países, bem como de guerras e de períodos de paz. 
 
 
5 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Hobbes reflete que “só no homem encontramos sinais, ou frutos da religião, não há 
motivo para duvidar que a semente da religião se encontra também apenas no homem, e 
consiste em alguma qualidade peculiar(...)que não se encontra nas outras criaturas” (1974, 
p. 69) 
 
Sendo um atributo humano, a dimensão religiosa deve ser estudada e aprofundada 
para maior compreensão dos tempos no qual estamosvivenciando, pois, remete a 
humanidade ao espaço “divino” do ser que deve e pode despertar a dimensão solidária, de 
unidade, de partilha, de amor e de luz que envolve a fé e a religiosidade. 
 
As instituições religiosas permeiam todos os setores da sociedade e tem um grande 
desafio na atualidade, continuarem a guiar corações e almas olhando para um passado 
irreflexivo e estático ou para um futuro desafiador e em constante mudança, sugerindo e 
exemplificando, não ditando caminhos como outrora. 
 
Por um lado, a religião pode ajudar a promover a justiça social, ajudando a atenuar 
a desigualdade econômica e a oferecer uma perspectiva de esperança aos mais 
vulneráveis. Por outro lado, a religião pode incentivar a busca por soluções que sejam justas 
e equitativas, ajudando a promover a tolerância, o respeito entre as diferentes culturas e 
grupos sociais e o enfrentamento da concentração de renda estrutural e desumana. Pois, 
no contexto atual de complexidade social, política e econômica e de conexão extrema em 
tempo real, a religião pode despertar consciências para os desafios contemporâneos 
 
 
 
6 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 (A Criação de Adão é um fresco de 280 cm x 570 cm,[1] pintado por Michelangelo Buonarotti por volta de 1511, que fica 
no teto da Capela Sistina. A cena representa um episódio do Livro do Gênesis no qual Deus cria o primeiro homem a 
partir do pó da terra) : https://www.romaperegrina.com/a-criacao-de-adao/ 
 
Boff (1999) percebe ainda na virada do século passado a urgência da reflexão quanto 
ao impacto das novas tecnologias nas relações humanas e consequentemente na 
dimensão religiosa individual e coletiva da vida em sociedade que tem tensionado as 
relações sociais e isolado a humanidade. 
 
Celeiro de extremismo político, social e religioso as redes sociais devem ter a 
atenção das instituições religiosas para a difusão de ideais de fortalecimento do senso de 
comunidade e segurança. Contribuindo em novas formas e diversas de se relacionar e 
estabelecer laços comunitários. 
 
 
https://www.romaperegrina.com/a-criacao-de-adao/
 
 
7 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Para compreender mais sobre secularismo : 
OLIVEIRA, Juliano Cordeiro da Costa - RECONHECIMENTO, RELIGIÃO E 
SECULARISMO EM CHARLES TAYLOR – Meritas – Porto Alegre – 2019 – v. 64 
n. 1 (2019): Dossiê:Teorias da Justiça - Disponível em 
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/30758 
acessado em 19/02/2023. 
 
 
Os riscos que a sociedade enfrenta relacionado com as religiões são justamente a 
utilização destes recursos tecnológicos para a disseminação de desinformação, negação 
da realidade e de irracionalidade. Ampliando o sentimento de medo, ódio as diferenças e 
de radicalismo. Tais questões precisam ser debatidas na perspectiva da capacidade da 
religião em auxiliar ou mesmo dificultar os caminhos e descaminhos que a humanidade 
deverá percorrer para se adaptar a este novo mundo. 
 
Sendo assim, as mudanças sociais e econômicas num ritmo de alta velocidade 
proporcionado pela conexão via internet vem ocasionando repercussões no modo de vida 
em sociedade reverberando nas relações relacionais e familiares. 
 
Importante salientar o que Hobbes(1978) afirma quanto a religião que, 
 
enquanto para os animais a única felicidade é o gozo de seus alimentos, repouso e 
prazeres cotidianos, pois de pouca ou nenhuma previsão dos tempos vindouros são 
capazes, por falta de observação e de memória da ordem, consequência e 
dependência das coisas que vêem; enquanto isso, por seu lado o homem observa 
como um evento foi produzido por outro, e recorda seus antecedentes e 
consequências. E quando se vê na impossibilidade de descobrir as verdadeiras 
causas das coisas(...) dão origem a ansiedade. Pois quando se está certo de que 
existem causas para todas as coisas que aconteceram até agora ou no futuro virão 
a acontecer, é impossível a alguém que constantemente se esforça por se garantir 
contra os males que receia, e por obter o bem que deseja, não se encontrar em 
eterna preocupação com os tempos vindouros” (1978, p.69) 
 
 
A ansiedade do porvir imprevisível ao longo dos séculos desde tempos imemoriais 
da história, estruturou as crenças religiosas enquanto garantidora de proteção contra 
dificuldades e males futuros. 
 
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/view/30758
 
 
8 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 A Em suma, é evidente que a religião pode desempenhar um papel 
importante na abordagem dos maiores desafios contemporâneos do século 
XXI. Ao fornecer esperança, consolo e direção, a religião pode ajudar a 
promover a justiça social e a encontrar soluções equitativas para os 
problemas que enfrentamos. Bem como, pode fornecer um forte impulso 
para a criação de soluções eficazes para a crise climática, incentivando as 
pessoas a tomar medidas concretas para a preservação e a gestão 
sustentáveis do meio ambiente. 
 
 
Fica claro que as rápidas transformações que a tecnologia opera no mundo geram 
medo, ansiedade e temor pelo futuro. Cabendo aos expoentes e líderes religiosos auxiliar 
no processo de transição de uma sociedade analógica para digital e altamente conectada. 
Não espalhando medo, receio e ódio com as incertezas, mas afirmando que a fagulha divina 
em cada homem e mulher é capaz de lidar com os desafios e problemas que os tempos 
atuais ensejam. 
 
O processo de secularização, enquanto separação e questionamento da estrutura 
social tradicional influenciada pela religiosidade ao longo do século XX, tem sido objeto de 
estudo para a compreensão das mudanças que estão ocorrendo. 
 
Para muitos expoentes religiosos, os dilemas e problemáticas vem justificando 
movimentos de retomada da centralidade da religião na sociedade, retomando uma visão 
teocêntrica e fundamentalista da realidade. 
 
Neste sentido, Charles Taylor (2010) destaca a importância de preservar as crenças 
e as práticas religiosas. Ele argumenta que a ligação entre religião e sociedade não deve 
ser desprezada e que a secularização não deve significar a exclusão total da religião da 
vida pública. 
 
Pois, para 
Charles Taylor (...) enfatiza que a religião ainda se relaciona com a formação das 
diversas identidades, tal qual uma esfera essencial na constituição dos sujeitos, 
mesmo em sociedades secularizadas. Taylor destaca a existência de múltiplas 
modernidades, uma vez que culturas não ocidentais foram modernizadas à sua 
maneira, sem a necessária separação entre identidades secularizadas e religiosas. 
(OLIVEIRA,2019, p. 04) 
 
 
 
9 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Ora, a relevância da fé e da religiosidade da população não deve ser utilizada para 
justificar a intensificação do fenômeno do extremismo e do fundamentalismo religioso na 
sociedade. 
 
Desta forma, é fundamental refletir sobre transcendência e espiritualidade enquanto 
experiência individual e coletiva relacionado com o tensionamento de uma sociedade cada 
vez mais tecnológica, individualista e conectada. 
 
Santo Agostinho (2015) em seu livro Confissões aborda a questão do contato íntimo 
com Deus e o quanto é revelador da condição maior de vida, 
 
“Fazei que eu Vos conheça, ó Conhecedor de mim mesmo, sim, que Vos conheça 
como de Vós sou conhecido. (...) Ó virtude de minha alma, entrai nela, adaptai-a a 
Vós, para terdes e possuirdes sem macha nem ruga. É esta esperança com que 
falo, a esperança em que me alegro quando gozo duma alegria sã” (AGOSTINHO, 
2015, pág. 231) 
 
Fica claro que a experiência transcendente é fundamental na vida e sua dimensão 
divina é única para cada ser. Santo Agostinho trabalha com um conceito muito peculiar de 
fé. Conhecera si para conhecer a Deus. Por isso, é relevante e necessário ampliar a 
compreensão da diferenciação do conceito de fé e de Crença. Sendo a crença um processo 
de construção histórico/cultural e a fé enquanto dimensão divina. 
 
Birchal (2005) debate a diferenciação entre Fé e Crença baseado em Michel de 
Montaigne (1533/1592), sendo que 
 
a crença resulta do domínio da experiência e constitui-se de convicções não 
fundadas racionalmente e que modelam a conduta cotidiana; já a fé é descrita como 
algo inspirado por Deus, uma infusão proveniente do alto. A fé tem origem divina, já 
os laços constituídos pelos meios humanos (discursos e costumes) seriam a crença 
(BIRCHAL, 2005, p. 48) 
 
 
Com isso, uma questão fundamental na atualidade seria o quanto as sociedades 
modernas contemporâneas, materialistas e individualistas, limitam e comprometem a 
transcendência balizada na fé e na experiência mística e como pode ser equacionada. 
 
 
 
 
 
10 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Sugerimos a leitura da nossa biblioteca virtual - • SANCHIS, Pierre - 
Religião, cultura e identidade – 2018 – Vozes – Disponível em 
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/168216 
 
 
 
Conceituando fé enquanto fenômeno intimamente divino e único não atrelado a 
costumes, a cultura e as estruturas sociais e econômicas. (BOFF, 2000) 
 
Importante salientar que o ser humano nas suas experiências individuais e coletivas 
no campo do exercício da espiritualidade encontra sentido e acolhimento. Sendo um traço 
de sua humanidade. (HOBBES,1978). 
 
A transcendência da fé vai além de muros e encontra guarida na mente e no coração 
da população fortalecendo suas vidas por vezes sofridas e miseráveis e despertando a 
coragem incauta de seguir em frente. 
 
 
 
Entrevista para o El País - Charles Taylor: “As pessoas hoje não têm claro o 
sentido da vida” - Charles Taylor (Montreal, 1931) é professor emérito de 
Filosofia na Universidade de McGill. Formado em Oxford, é um profundo 
conhecedor das correntes do pensamento contemporâneo. Em seu último 
livro, A Era Secular (dois volumes totalizando mais de 1.200 páginas) analisa o 
impacto da ciência, a reforma protestante e as melhorias socioeconômicas na 
transformação do sistema de crenças no Ocidente. Está convencido de que a 
convivência religiosa é possível e desejável, assim como de que a fé, hoje em 
recuo, não vai desaparecer. Afirma a conveniência de encontrar uma nova 
linguagem para explicar o presente, pelo esgotamento das velhas palavras. 
Entre suas obras se destacam As Fontes do Self e A Ética da Autenticidade. O 
Governo canadense encomendou, junto com o sociólogo Gérard Bouchard, 
um trabalho sobre as diferenças culturais e a acolhida de imigrantes, hoje 
conhecido como o relatório da comissão Bouchard-Taylor. 
Link: 
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_0889
26.html 
 
 
https://plataforma.bvirtual.com.br/Acervo/Publicacao/168216
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_088926.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/08/06/internacional/1438877393_088926.html
 
 
11 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Fundamental nesta discussão quanto ao exercício da fé e da espiritualidade 
transcendente, não limitar esta vivência ao espaço institucional religioso, pois, reduzir uma 
dimensão tão profunda e primordial da humanidade num espaço geográfico pode contribuir 
para que parcela significativa da população venha a assumir a descrença e seu 
consequente afastamento. 
 
Tolerância e respeito a diversidade passam necessariamente pelas questões 
inerentes a religião na sociedade. John Rawls, professor de filosofia política – Havard, 
problematiza a temática do pluralismo religioso e defende a ideia de que as pessoas devem 
ter o direito de expressar sua religião ou sua falta dela em público. Ele argumenta que os 
princípios de liberdade religiosa devem ser respeitados e que a tolerância entre as 
diferentes religiões passa necessariamente pelo estado democrático. 
 
para Rawls – e mais uma vez citamos o prefácio do livro resenhado – a religião é 
“parte constitutiva da res publica liberal-democrática” (p. vii), a preservação dessa 
res publica depende de que a coerção coletiva não se baseie no que ele chama de 
doutrinas abrangentes. A conciliação entre razão e política fica a cargo da “razão 
pública”, isto é, o dever (moral, não legal) que cidadãos adeptos de doutrinas 
abrangentes têm de justificar suas posições políticas aos demais cidadãos apelando 
a razões que estes últimos não podem razoavelmente rejeitar. 
Assim, a razão pública é um ideal normativo que, em nome do “dever de civilidade” 
e do respeito mútuo, exige um pouco de autocontenção aos cidadãos quando agem 
politicamente no foro público (especialmente àqueles que ocupam cargos públicos). 
Em suma, a razão pública é um protocolo de justificação de nossas próprias 
posições políticas a nossos concidadãos quando o que está em jogo são questões 
constitucionais básicas (BARROSO, 2017, p. 02) 
 
O avanço do diálogo entre as diferentes religiões na sociedade contribui para a 
promoção de uma solução equilibrada que possa promover a convivência pacífica. 
 
O teólogo Jürgen Moltmann ( teólogo reformado alemão que é professor emérito de 
Teologia Sistemática na Universidade de Tübingen) em suas reflexões e publicações 
considera a ideia de que a religião deve ser usada como uma força para o bem, para ajudar 
as pessoas a encontrar sentido em suas vidas e a viver de forma mais solidária, e para que 
elas possam viver de acordo com os valores da compaixão e da solidariedade. Como 
exemplo cita o cristianismo e sua potência de contribuir para o enfrentamento de questões 
como a pobreza, a injustiça e a desigualdade. (MOLTMANN,2012) 
 
Em suma, é evidente que a religião pode desempenhar um papel importante na 
abordagem dos maiores desafios contemporâneos do século XXI. Ao fornecer esperança, 
 
 
12 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
consolo e direção, a religião pode ajudar a promover a justiça social e a encontrar soluções 
equitativas para os problemas que enfrentamos. Bem como, pode fornecer um forte impulso 
para a criação de soluções eficazes para a crise climática, incentivando as pessoas a tomar 
medidas concretas para a preservação e a gestão sustentáveis do meio ambiente. 
 
Veremos nos próximos capítulos que o papel primordial da religião nos tempos atuais 
deve ser de iluminação do pensamento e do sentimento na direção da fraternidade e 
solidariedade universal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. A RELIGIOSIDADE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA – EXPRESSÕES 
DA FÉ E DA ÉTICA 
 
De fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança. E 
talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch: "onde está a esperança ali 
também está a religião". 
A visão é bela, mas não há certezas. Como o trapezista que tem de se 
lançar sobre o abismo, abandonando todos os pontos de apoio, a alma 
religiosa tem de se lançar também sobre o abismo, na direção das 
evidências do sentimento, da voz do amor, das sugestões da 
esperança. (ALVES, 2008, p. 216) 
 
2.1. A religiosidade da população brasileira – expressões de fé e da ética 
A religiosidade da população brasileira se caracteriza pela sua diversidade. É um 
país com uma grande variedade de religiões, desde as mais tradicionais como o catolicismo 
e o protestantismo (tradicional/evangélica), o espiritismo, o candomblé, a umbanda, o 
budismo. 
 
 
 
Como fonte de pesquisa sugerimos o artigo O campo religioso brasileiro: 
historiografia e religiosidade - REVISTA LUSÓFONA DE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES – 
Ano VI, 2007 / n.º 12 – 133-139 
Link:https://recil.ensinolusofona.pt/bitstream/10437/4159/1/o_campo_religioso_b
rasileiro.pdf 
 
 
De acordo com o último Censo Demográfico de 2010 (IBGE), mais da metade da 
população brasileira (54,7%) se declarou seguidora da fé católica. Outras religiões 
presentes no país são o protestantismo (22,2%), o espiritismo (1,2%), o candomblé (0,3%), 
o budismo (0,1%) e o sincretismo religioso (2,2%). (IBGE,2010) 
 
Outra pesquisa, mais recente realizada pelo Instituto Data Folha em 2020 aponta 
que 50% dos brasileiros são católicos, 31%, evangélicos, e 10% não têm religião. Ainda de 
acordo com o levantamento, as mulheres representam 58% dos evangélicos e são 51% 
entre os católicos. 
 
https://recil.ensinolusofona.pt/bitstream/10437/4159/1/o_campo_religioso_brasileiro.pdf
https://recil.ensinolusofona.pt/bitstream/10437/4159/1/o_campo_religioso_brasileiro.pdf
 
 
14 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A pesquisa foi feita nos dias 5 e 6 de dezembro do ano passado, com 2.948 
entrevistados em 176 municípios de todo o país. A margem de erro é de dois pontos 
percentuais, para mais ou para menos. 
 
Religião dos brasileiros 
Católica: 50% 
Evangélica: 31% 
Não tem religião: 10% 
Espírita: 3% 
Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras: 2% 
Outra: 2% 
Ateu: 1% 
Judaica: 0,3% 
(https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-
catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml ) 
 
Os dados demonstram claramente que a imensa maioria da população brasileira crê 
em Deus, e, portanto, exerce sua religiosidade no contexto diário de suas vidas. A pesquisa 
indica que mais de 80.0% se declaram cristãos. 
 
 
 
Sugerimos a leitura do livro de Roberto DaMatta - O que faz o brasil, 
Brasil? 
Link: https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Da_Matta-
O_que_faz_Brasil_Brasil.pdf 
 
 
 
No Brasil, é comum a mistura de rituais e crenças diferentes, o que torna a 
religiosidade da população brasileira ainda mais diversa e plural. Esta pluralidade de 
crenças permite que cada indivíduo encontre sua própria maneira de lidar com questões 
complexas do cotidiano através da fé e da vivência da espiritualidade íntima que repercute 
coletivamente. 
 
Neste sentido, a religião funciona como um componente agregador na comunidade 
no âmbito das relações humanas. As expressões na sociedade, no que tange a simbologia 
que a religiosidade suscita, mediante rituais carregados de significados que despertam 
identidade e unicidade. 
 
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml
https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Da_Matta-O_que_faz_Brasil_Brasil.pdf
https://hugoribeiro.com.br/biblioteca-digital/Da_Matta-O_que_faz_Brasil_Brasil.pdf
 
 
15 Religião e Sociedade 
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A religiosidade da população brasileira é amplamente discutida entre autores 
teóricos e acadêmicos na perspectiva de compreender seu alcance na vida em sociedade. 
Para Roberto da Matta (1986) que descreve a religiosidade brasileira como sendo uma 
mistura de elementos católicos, africanos e indígenas. A religiosidade brasileira é 
caracterizada por uma certa “fluidez”, que permite que diversas crenças e práticas sejam 
incorporadas de forma natural à cultura brasileira. 
 
 
Fonte: https://kn.org.br/wp-content/uploads/2021/03/WhatsApp-Image-2021-03-15-at-13.57.09.jpeg 
 
Com isso, a “fluidez” compõe a brasilidade religiosa marcada pela pluralidade e a 
diversidade de experiências e vivências do sagrado. Que estabelece a conexão entre os 
“dois mundos” mediante orações (preces, rezas), festividades religiosas, cultos, missas, 
trabalhos e a música. 
 
A comunicação entre o indivíduo e os seres que habitam este “outro mundo” se dá 
através de um forte “elo pessoal”. A relação com os espíritos, santos, orixás, e 
antepassados é descrita em termos de “intimidade” onde o sujeito religioso não é 
apenas um devoto, mas também, um veículo no qual estes seres se manifestam 
(sendo cavalos dos santos dos orixás no candomblé; na mediunidade dos espíritos 
desencarnados no espiritismo; no “estar cheio do espírito” em êxtase no 
pentecostalismo). Como afirma, esse elemento de pessoalidade da experiência com 
o “divino” é marcante na cultura religiosa brasileira e que “a relação pode ter forma 
diferenciada, mas a sua lógica estrutural é a mesma. Em todos os casos, a relação 
existe e é pessoal, isto é, fundada na simpatia e na lealdade dos representantes 
deste mundo e do outro”. O “milagre” é justamente entendido um dos grandes 
https://kn.org.br/wp-content/uploads/2021/03/WhatsApp-Image-2021-03-15-at-13.57.09.jpeg
 
 
16 Religião e Sociedade 
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exemplos dessa relação mais pessoal que envolve os indivíduos e os seres 
divinos.(BRENO, 2019 in https://revistasenso.com.br/senso-religioso/brasilidades-
religiosas-notas-da-cultura-religiosa-nacional/ ) 
 
Com isso, a religiosidade brasileira é um traço profundo e místico que transita da 
experimentação individual para a coletiva e vice e versa. Intimidade, proteção e cuidado 
são as características marcantes deste processo. 
 
Debater sobre religiosidade no universo acadêmico requer revisitar as reflexões do 
relevante sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, que analisa a religiosidade brasileira como 
sendo uma fusão de elementos europeus, africanos e indígenas. Freyre (2003) destaca o 
papel da mística católica, assim como o uso de elementos do candomblé, umbanda e outras 
religiões afro-brasileiras. Segundo ele, a religiosidade brasileira caracteriza-se pela 
“sincretização” de elementos de diversas riquezas culturais. 
 
A religião tornou-se o ponto de encontro e de confraternização entre as duas 
culturas, a do senhor e a do negro; e nunca uma intransponível ou dura barreira. Os 
próprios padres proclamavam a vantagem de concederem-se aos negros seus 
folguedos africanos. Um deles, jesuíta, escrevendo no século XVIII, aconselha os 
senhores não só a permitirem, como a "acudirem com sua liberalidade" às festas 
dos pretos. "Portanto não lhe estranhem o criarem seus reis, cantar e bailar por 
algumas horas honestamente em alguns dias do ano, e o alegrarem-se 
honestamente à tarde depois de terem feito pela manhã suas festas de Nossa 
Senhora do Rosário, de São Benedicto e do orago da capela do engenho (...). A 
liberdade do escravo de conservar e até de ostentar em festas públicas - a princípio 
na véspera de Reis, depois na noite de Natal, na de Ano-Bom, nos três dias de 
carnaval - formas e acessórios de sua mítica, de sua cultura fetichista e totêmica, 
dá bem a ideia do processo de aproximação das duas culturas no Brasil. Liberdade 
a que não deixou nunca de corresponder forte pressão moral e doutrinária da Igreja 
sobre os escravos. (FREIRE, 2003, p. 228) 
 
O sincretismo religioso é um fenômeno complexo que se manifesta no contexto do 
Brasil, resultante do encontro entre a religião católica, a religião indígena e a religião 
africana conforme reflete Freire (2003). O sincretismo religioso brasileiro é um dos mais 
ricos e variados no mundo. 
 
 
Leia a interessante reportagem do Jornal da Unesp - As religiosidades do Brasil: 
da Independência à pluriexistência 
Link: https://jornal.unesp.br/2022/07/05/as-religiosidades-do-brasil-da-
independencia-a-pluriexistencia/ 
 
 
https://revistasenso.com.br/senso-religioso/brasilidades-religiosas-notas-da-cultura-religiosa-nacional/
https://revistasenso.com.br/senso-religioso/brasilidades-religiosas-notas-da-cultura-religiosa-nacional/
https://jornal.unesp.br/2022/07/05/as-religiosidades-do-brasil-da-independencia-a-pluriexistencia/https://jornal.unesp.br/2022/07/05/as-religiosidades-do-brasil-da-independencia-a-pluriexistencia/
 
 
17 Religião e Sociedade 
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Na música composta por Carlinhos Brown e Martinho da Vila chamada “Oração 
Alegre” percebemos claramente a questão do sincretismo religioso na cultura brasileira. 
 
“Creio em Deus Pai, todo Poderoso 
Criador do céu e da Terra 
Em Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor 
Que foi concebido pela graça do divino Espírito Santo 
E nasceu da Virgem Maria 
A Virgem Maria, no sincretismo religioso é Yemanjá” 
Que lá em Angola é a Kianda 
 
Ora, para compreender a amplidão da religiosidade da população brasileira é crucial 
o entendimento do seu processo de formação sociológico e antropológico ao longo da 
história. Pois, a religiosidade brasileira reflete a diversidade étnica da população, 
enfatizando a “fusão de crenças”. 
 
O Teólogo e Pastor Presbiteriano Rubem Alves destacou a importância da ética na 
religiosidade brasileira. Segundo Alves, a religiosidade brasileira reflete o seu caráter ético, 
em que o papel dos valores morais é destacado. Alves destaca a importância da justiça 
social e da tolerância na religiosidade brasileira, destacando que esta é um fator crucial 
para a compreensão da “identidade religiosa” da população brasileira. 
 
 
 
 
 
Debater sobre religiosidade no universo acadêmico requer revisitar as 
reflexões do relevante sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, que analisa a 
religiosidade brasileira como sendo uma fusão de elementos europeus, 
africanos e indígenas. Freyre (2003) destaca o papel da mística católica, assim 
como o uso de elementos do candomblé, umbanda e outras religiões afro-
brasileiras. Segundo ele, a religiosidade brasileira caracteriza-se pela 
“sincretização” de elementos de diversas riquezas culturais 
 
 
 
 
 
18 Religião e Sociedade 
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Rubem Alves debate que a religiosidade no contexto da fé popular tem uma 
dimensão ética na medida em que estrutura comportamentos e hábitos que dialogam com 
as relações sociais e familiares. 
 
Pois, "Não existe religião alguma que seja falsa. Todas elas respondem, de formas 
diferentes, a condições dadas da existência humana." (E. Durkheim) apud Alves (2008, p. 
52) 
Sendo assim, a religiosidade despertada no processo de contato com Deus é 
complexa e controversa. Para alguns, é uma forma de buscar o divino, enquanto outros 
acreditam que é uma forma de se conectar com o mundo emocional. Pois, religiosidade é 
mais do que um simples conjunto de crenças, é a busca pela conexão com o divino e o 
sagrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 Religião e Sociedade 
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3. RESPEITO A DIVERSIDADE RELIGIOSA E OS DESAFIOS NO 
CONTEXTO DA INTOLERÂNCIA NA ATUALIDADE – DIÁLOGO 
INTER-RELIGIOSO 
 
“O diálogo inter-religioso demonstra a possibilidade de uma nova 
perspectiva de atuação das religiões ao reconhecer que essas podem 
exercer um papel significativo na construção de uma ética da 
superação da violência; que podem igualmente dedicar-se à tarefa 
comum de salvaguardar a integridade dos seres humanos e da terra 
ameaçada. A verdadeira relação com o Absoluto é incompatível com 
toda e qualquer desumanização ou violência” 
(TEIXEIRA, 2003, p. 21) 
 
 
3.1 Respeito a diversidade religiosa e os desafios no contexto da intolerância na 
atualidade - diálogo inter-religioso 
 
A diversidade religiosa na sociedade brasileira foi sendo construída ao longo dos 
últimos séculos. Por muito tempo, autores dialogam com a questão compreendendo este 
processo e identificando certo grau avançado de tolerância inter-religiosa. 
 
A autoimagem do povo brasileiro forjado no respeito as múltiplas expressões 
religiosas e no sincretismo supostamente “cordial” enquanto traço sociológico e cultural, 
precisa ser repensado e questionado criticamente. 
 
Um dos maiores expoentes da sociologia brasileira, Sergio Buarque de Holanda, em 
seu livro Raízes do Brasil cunha o conceito do “homem cordial” sendo uma das principais 
chaves interpretativas na constituição do país. 
 
 
 
Para compreender o conceito do homem cordial sugerimos a leitura da 
resenha do livro AS RAÍZES E O FUTURO DO “HOMEM CORDIAL” SEGUNDO 
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA 
Link: 
https://www.scielo.br/j/ccrh/a/FBRYnzHxVHTzYxsMKK4r4tj/?format=pdf&la
ng=pt 
 
https://www.scielo.br/j/ccrh/a/FBRYnzHxVHTzYxsMKK4r4tj/?format=pdf&lang=pt
https://www.scielo.br/j/ccrh/a/FBRYnzHxVHTzYxsMKK4r4tj/?format=pdf&lang=pt
 
 
20 Religião e Sociedade 
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Para o autor o homem cordial é identificado na coletividade. O “homem cordial” é, 
portanto, um artifício, um ardil psicológico e comportamental, que está encrustado em nossa 
formação enquanto povo. Caracterizado pela gentileza, amizade, hospitalidade e a 
solidariedade. (HOLANDA,1995) 
 
O homem cordial é visto como alguém que tem um forte senso de responsabilidade 
com os outros, que se preocupa com as necessidades dos outros e faz o que pode para 
ajudar a melhorar a vida das pessoas ao seu redor. É um modelo de comportamento que 
tem o poder de unir as pessoas e promover o bem-estar coletivo. 
 
 
 
Portanto, é evidente que a intolerância religiosa ainda é um problema sério no 
Brasil que requer da sociedade e dos governos atenção e ações que minimizem 
seus efeitos deletérios na unidade nacional. Para lidar com essa questão, é 
necessário que sejam criadas políticas públicas para garantir a liberdade 
religiosa, bem como campanha de conscientização para promover o respeito 
à diversidade religiosa. Só dessa forma é possível garantir o direito de cada um 
de praticar a religião que desejar livremente. 
 
 
 
Ocorre que, esta suposta aceitação da diversidade “cordialmente” estruturada na 
formação do povo brasileiro, esconde um homem capaz de atos agressivos e violentos para 
defender sua forma de ver e interpretar o mundo que o circunda. 
 
O Teólogo Leonardo Boff numa entrevista concedida ao Portal uol em 2020 afirma 
que, 
"Quando dizem que o brasileiro é cordial, cordial não significa que é gentil, que é 
sentimental. Porque do coração vem a bondade, a gentileza, mas vem também o 
ódio e a vingança — e o brasileiro é as duas coisas", disse. "Isso está escondido 
dentro de nossa cultura: temos sombras terríveis, a sombra do colonialismo, do 
etnocídio indígena, da escravidão e da intolerância religiosa.( 
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/16/como-o-mito-do-homem-cordial-
embaca-a-percepcao-sobre-o-brasileiro.htm ) 
 
O mito deste “homem cordial” que foi constituído e estruturado pela influência das 
diversas religiões e do patriarcado escravocrata. Deve ser compreendido como um 
disparador do preconceito e de negação da diversidade. Pois, entendendo o “homem 
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/16/como-o-mito-do-homem-cordial-embaca-a-percepcao-sobre-o-brasileiro.htm
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/16/como-o-mito-do-homem-cordial-embaca-a-percepcao-sobre-o-brasileiro.htm
 
 
21 Religião e Sociedade 
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cordial” como exacerbação de afeto — tanto para a formação de laços comunitários quanto 
para sua ruptura violenta”. (HOLANDA, 1995, p.02) 
 
Sendo assim, a questão da diversidade e da intolerância das religiões no contexto 
do primeiro quarto do século XXI, requer revisitar as origens da religiosidade na formação 
brasileira. O mesmo “homem cordial” capaz de atitudes profundamente inclusivas e de 
respeito a diversidade, tem a capacidade de ser profundamente preconceituoso, agressivo 
e violento quando confrontado pelo “diverso”. 
 
 
Fonte: Politize! 
 
Na atualidade, a questão da intolerância religiosa vem aumentando ao longo dosanos. 
De acordo com dados do Disque 100 no Brasil ocorreram registrou três queixas de 
intolerância religiosa por dia em 2022. Estado com mais registros é São Paulo, com 
111 denúncias, seguido do Rio de Janeiro, com 97, Minas Gerais (51), Bahia (39), 
Rio Grande do Sul (26), Ceará (11) e Pernambuco (13). ( 
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-
de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml ) 
 
Os dados demonstram que a questão da intolerância religiosa é grave e precisa ser 
enfrentada pela sociedade e pelo estado brasileiro. Sua manifestação multifacetada agrega 
a discriminação, a violência e o preconceito. 
 
 
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml
 
 
22 Religião e Sociedade 
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A problemática da violência religiosa contra os adeptos de religiões de matriz 
africana tem se intensificado nos últimos anos, com manifestações como invasões de 
templos, campanhas de desinformação e destruição de símbolos religiosos. 
 
 
 
Sugerimos a leitura da reportagem da BBC – Brasil - 'Liberdade religiosa ainda não 
é realidade': os duros relatos de ataques por intolerância no Brasil 
 
Link: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722 
 
 
 
Contraditoriamente, os agressores contra as minorias religiosas geralmente são 
oriundos de indivíduos que se autodeclaram cristãos, encontrando justificativas para seus 
arbítrios numa visão fundamentalista e extremista. 
 
Os ensinamentos de Jesus Cristo estão estruturados no amor e na tolerância e são 
completamente antagônicos ao ódio e a violência, 
 
A opção da comunicação dialógica constitui hoje um desafio particular para o 
cristianismo. A experiência da alteridade toca o que há de mais profundo e 
específico na vocação original do cristianismo. Uma experiência que haure sua 
razão de ser na própria experiência do Deus de Jesus que é comunhão e 
não solidão, de um Deus que integra a diferença e convoca o cristianismo a dar 
direito à diferença. A dinâmica da alteridade está igualmente radicada na 
experiência histórica de Jesus de Nazaré, que de forma impressionante soube 
acolher com ternura e amor os excluídos e os diferentes. A capacidade de acolhida 
e hospitalidade foi traço essencial de seu testemunho histórico. Não há como 
entender a missão cristã senão na perspectiva dessa trajetória de hospitalidade 
apontada por Jesus. Essa missão não pode ser entendida restritivamente como 
difusão do império ou civilização cristã e de implantação da Igreja. Deve, antes, no 
seguimento de Jesus, ser entendida e vivida como um projeto de expansão da 
cultura da vida, capaz de transmitir um novo alento vital contra as afirmações do 
sofrimento e da morte, transformados em espetáculos rotineiros. Um projeto a ser 
exercido em comunhão fraterna com todas as outras tradições religiosas do planeta 
(TEIXEIRA, 2003, p.35) 
 
Neste grave quadro de violência e de intolerância, mediante dados do Disque 100 
vem sendo observado um incremento destes episódios ao longo dos últimos três anos. Que 
tem intensificado a intolerância e a violência religiosa. 
 
 
 
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722
 
 
23 Religião e Sociedade 
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Denúncias de intolerância religiosa pelo Disque 100 entre janeiro e junho 
• 2020 - 498 
• 2021 - 466 
• 2022 – 545 
( https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-
de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml ) 
 
Neste processo, o preconceito religioso pode estar relacionado com o advento das 
mídias sociais e o impacto da disseminação de fake news. Muitos pesquisadores no campo 
das ciências sociais vêm debatendo e estudando o nível de influência e responsabilidade. 
 
Sendo assim, o antídoto para esta grave realidade que vem aumentando na 
sociedade brasileira, seria justamente, o respeito à diversidade religiosa para a construção 
de uma sociedade pluralista, aberta e inclusiva. 
 
O fundamento de uma sociedade democrática favorece o enfrentamento da violência 
e do preconceito religioso. Isso significa que as pessoas devem ter o direito de praticar suas 
crenças e devem ser tratadas com dignidade e respeito, independentemente de sua religião 
ou crença. 
 
 
 
O DIREITO DE RELIGIÃO NO BRASIL - 
Link 
https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.ht
m 
 
Mahatma Gandhi, grande líder espiritual da Índia, ao dialogar com outras religiões 
no contexto da libertação de sua nação da Inglaterra mediante a confrontação da “não-
violência, refere que o ser humano deve respeitar todas as religiões como se elas fossem 
sua própria religião. Gandhi ( 2003). Trilhando o caminho para o respeito e para a evolução 
na direção da fraternidade humana. 
 
Pois, 
 
No universo dos buscadores do diálogo inter-religioso, Mahatma Gandhi representa 
mais um capítulo genial e magnífico da busca do ser humano pelo Mistério, ou, 
segundo ele mesmo, da busca pela Verdade. Ao reconhecer a vulnerabilidade e 
contingência do hinduísmo e, concomitante a isto, despertar em si a consciência da 
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/07/22/brasil-registra-tres-queixas-de-intolerancia-religiosa-por-dia-em-2022-total-ja-chega-a-545-no-pais.ghtml
https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm
https://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm
 
 
24 Religião e Sociedade 
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humildade necessária ao diálogo inter-religioso (...) Gandhi permitiu uma verdadeira 
abertura ao valor da alteridade cristã ao maravilhar-se com Jesus de Nazaré 
enquanto um verdadeiro príncipe do satyāgraha na medida em que isso consistisse 
numa exigência ética de existir para os outros, em estimular a fidelidade à própria 
tradição religiosa não só para si, mas também para fiéis de outros credos, pois na 
busca comum da Verdade junto de seus interlocutores dialogais, também se 
mostrou aberto à verdade que o envolvia e ultrapassava, pois desde que a procura 
da Verdade passou a ser seu único objetivo, começou a sentir seus horizontes se 
expandindo (MARCONDES at all, 2012, p. 122) 
 
Ora, a diversidade religiosa é importante para a promoção da tolerância e da inclusão 
e a população deve ser incentivada a aceitar e compreender as diferenças entre as 
religiões. O diálogo entre as comunidades religiosas é essencial para promover o 
entendimento e o respeito mútuo. 
 
Para o Dr. Faustino Teixeira, Pós-Doutor em Teologia – Gregoriana/Roma, 
O diálogo inter-religioso apresenta-se como um dos grandes desafios para o terceiro 
milênio. Num tempo marcado pelo recrudescimento da violência e da intolerância, 
o diálogo significa uma possibilidade alternativa. Não há outro caminho possível 
para a paz no mundo senão mediante o entendimento mútuo e a abertura para a 
alteridade. (TEIXEIRA, 2003, p. 19) 
 
No Brasil, o diálogo inter-religioso tornou-se uma importante discussão nos últimos 
anos. Devido à diversidade religiosa e cultural do país e o aumento do ódio religioso o 
diálogo inter-religioso tem se tornado cada vez mais necessário. Como resultado, as 
autoridades religiosas, governamentais e acadêmicas têm buscado formas de promover o 
diálogo e a tolerância entre diferentes grupos religiosos. 
 
Para o Teólogo Jürgen Moltmann, o diálogo inter-religioso é importantepara o 
desenvolvimento da democracia e para a promoção da paz e da convivência pacífica entre 
os diversos grupos religiosos. Afirma que o diálogo é importante para o desenvolvimento e 
para a promoção dos direitos humanos. 
 
 
Moltmann insere a questão do diálogo dentro da categoria da missão da igreja que 
visa a uma transformação qualitativa a respeito da humanidade, o qual chama de 
“contaminação” das pessoas, seja qual for sua religião, com o espírito da esperança, 
amor e da responsabilidade pelo mundo. Para nosso teólogo, essa missão 
qualitativa acontece no diálogo entre as religiões. Para ele, “o diálogo das religiões 
universais é um processo para o qual podemos nos abrir somente se nos tornamos 
vulneráveis na abertura e quando saímos dele transformados”. Chamamos a 
atenção para o fato de que, no pensamento de nosso teólogo, esse diálogo 
não implica uma perda da identidade cristã, antes ganhar mediante esse encontro 
com o outro um novo perfil que, de acordo com a esperança cristã, são volta dos 
para o bem dos seres humanos, para a vida e para a paz. Nesse sentido, Moltmann 
 
 
25 Religião e Sociedade 
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propõe que o cristianismo desconstrua os preconceitos em relação a outras religiões 
(VELIQ, 2019, p. 492) 
 
Portanto, é evidente que a intolerância religiosa ainda é um problema sério no Brasil 
que requer da sociedade e dos governos atenção e ações que minimizem seus efeitos 
deletérios na unidade nacional. Para lidar com essa questão, é necessário que sejam 
criadas políticas públicas para garantir a liberdade religiosa, bem como campanha de 
conscientização para promover o respeito à diversidade religiosa. Só dessa forma é 
possível garantir o direito de cada um de praticar a religião que desejar livremente. 
 
O respeito à diversidade religiosa é essencial para a construção de uma sociedade 
mais inclusiva e harmoniosa. Ao incentivarmos o diálogo entre as comunidades religiosas, 
e a aceitar e compreender as diferenças, podemos contribuir para um país mais tolerante, 
unido e democrático. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 Religião e Sociedade 
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4. O ADVENTO DO PAPEL DA MULHER NO SÉCULO XXI E O 
PROTAGONISMO NAS RELIGIÕES 
 
A história revela que as grandes causas, benéficas especialmente aos 
contingentes discriminados e a quase todos os demais, obtiveram 
sucesso, apesar de terem sido conduzidas por pequenas minorias. E 
as brasileiras têm razões de sobra para se opor ao machismo reinante 
em todas as instituições sociais, pois o patriarcado não abrange 
apenas a família, mas atravessa a sociedade como um 
todo.(SAFFIOTI, 2004, p. 49) 
 
 
 
4.1 O advento do papel da mulher no século XXI e o protagonismo nas religiões 
O debate acerca do papel da mulher no século XXI reverbera nas múltiplas 
dimensões sociais e relacionais. Acarretando avanços na direção da igualdade de 
oportunidades na sociedade. Reivindicando os mesmos direitos que os homens têm. Elas 
têm maior acesso à educação, saúde, trabalho e direitos políticos. Ao longo das décadas, 
as mulheres conquistaram a liberdade de expressar suas opiniões e seus direitos de voto, 
que vem contribuindo para a consolidação de seu papel na sociedade. (SAFFIOTI, 2015) 
 
As desigualdades de gênero que perpassam a sociedade encontram-se ainda 
latentes em pleno século XXI, mesmo após as conquistas históricas do movimento 
pela igualdade. Tais desigualdades incidem sobre a totalidade da vida feminina, 
sendo a inserção do mercado de trabalho um dos ângulos prioritários de 
manifestação das discriminações sofridas pelas mulheres. (SILVEIRA&COSTA, 
2019, p. 01) 
 
No que concerne ao enfrentamento da histórica e estrutural desigualdade de gênero 
estruturado pelo patriarcado e pelo machismo, o momento atual é crucial para o avanço na 
conquista de espaços de atuação e de protagonismo para as mulheres. 
 
 
Sugerimos a leitura da interessante reportagem : As religiões monoteístas 
excluíam as mulheres? 
Link: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/594546-as-religioes-
monoteistas-excluiam-as-mulheres 
 
 
 
https://www.ihu.unisinos.br/categorias/594546-as-religioes-monoteistas-excluiam-as-mulheres
https://www.ihu.unisinos.br/categorias/594546-as-religioes-monoteistas-excluiam-as-mulheres
 
 
27 Religião e Sociedade 
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Para Saffioti (2015) a compreensão da questão da desigualdade de gênero no 
contexto do patriarcado secular implica em relações desiguais e hierárquicas. A lógica 
patriarcal de gênero aceita a dominação e exploração das mulheres pelos homens, dentro 
do binômio dominação-exploração da mulher. 
 
 
 
as mulheres têm enfrentado desafios significativos para exercer 
protagonismo nas religiões ao longo da história. Muitas religiões 
tradicionais, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, não dão às 
mulheres o mesmo status que aos homens. Isso significa que, em muitos 
casos, as mulheres não têm o mesmo direito de tomar decisões ou 
participar de atividades religiosas, como ler ou interpretar textos sagrados. 
Além disso, as mulheres também podem enfrentar preconceitos e 
discriminação dentro de suas próprias religiões, incluindo assédio, violência 
e ostracismo. Isso pode tornar difícil para as mulheres exercerem seu 
direito de participar e ter voz nas decisões religiosas. 
 
 
No campo religioso esta lógica se repete onde as mulheres tensionam para ganhar 
protagonismo e posições de liderança nas religiões brasileiras, realizando o embate com a 
“normalização” do papel milenar de liderança dos homens. 
 
No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que as mulheres 
conquistem total igualdade de direitos e oportunidades. Elas ainda enfrentam discriminação 
no mercado de trabalho, violência doméstica, assédio sexual, feminicídio e no contexto 
religioso um papel secundário na estrutura hierárquica e administrativa. 
 
Para Rosado (2001), 
 
as críticas manifestadas aos conteúdos tradicionais da fé: o monoteísmo, a imagem 
masculina da divindade, a figura submissa e virginal de Maria; as interpretações 
sexistas dos textos sagrados – a Bíblia, o Talmude, o Alcorão, os escritos do 
Budismo (2001, p. 88) 
 
Dimensionam os conflitos que as mulheres têm enfrentado e os desafios 
significativos para exercer protagonismo nas religiões ao longo da história. Muitas religiões 
tradicionais, como o cristianismo, o judaísmo e o islamismo, não dão às mulheres o mesmo 
status que aos homens. Isso significa que, em muitos casos, as mulheres não têm o mesmo 
direito de tomar decisões ou participar de atividades religiosas, como ler ou interpretar 
 
 
28 Religião e Sociedade 
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textos sagrados. Além disso, as mulheres também podem enfrentar preconceitos e 
discriminação dentro de suas próprias religiões, incluindo assédio, violência e ostracismo. 
Isso pode tornar difícil para as mulheres exercerem seu direito de participar e ter voz nas 
decisões religiosas. 
 
As mulheres enfrentam ainda desigualdade de voz em muitos espaços religiosos, 
pois não são ouvidas e valorizadas na mediação entre a humanidade e o divino. Além disso, 
as mulheres também enfrentam discriminação por serem vistas como inferiores às vozes 
masculinas, e muitas vezes são relegadas a posições secundárias. 
 
Estudiosas das religiões mostraram a inadequação de se tratar as categorias 
utilizadas como supostamente neutras em termos de gênero. Tal tratamento impede 
a percepção de elementos fundamentais para a análise da realidade das religiões. 
No campo católico, por exemplo, o uso genérico de categorias como clero, 
hierarquia, sem referência ao fato de que se referem a um grupo exclusivamente 
masculino impede a análise das relações de poder que presidem a organizaçãodessa instituição religiosa. (ROSADO, 2001, p. 92) 
 
Neste sentido, as mulheres estão lutando para serem mais equiparadas em suas 
religiões, lutando por oportunidades iguais e por direitos iguais. Isso inclui o direito de serem 
líderes, o direito de serem ouvidas e o direito de serem tratadas igualmente. Além disso, as 
mulheres também estão lutando para ter maior protagonismo na tomada de decisões 
religiosas e para mudar as normas sociais que muitas vezes limitam seu papel na religião. 
 
 
Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/images/ihu/2019/11/22-11-mulhere-religiao-credito-medium.png 
 
O machismo e o patriarcado também podem ser vistos nos ensinamentos das 
religiões brasileiras, onde os homens são frequentemente vistos como superiores às 
mulheres e onde as mulheres são encorajadas a serem modestas, submissas e obedientes 
aos seus maridos. Os padrões de gênero definidos historicamente na sociedade brasileira 
são muito presentes na religião, que tende a reforçar os papéis tradicionais de homens e 
mulheres. 
https://www.ihu.unisinos.br/images/ihu/2019/11/22-11-mulhere-religiao-credito-medium.png
 
 
29 Religião e Sociedade 
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Sugerimos como leitura a reportagem - O país em que a violência contra a 
mulher é justificada pela religião. Observatório do Terceiro Setor - 
Link: https://observatorio3setor.org.br/noticias/pais-violencia-contra-
mulher-justificada-pela-religiao/ 
 
 
Ora, o papel da mulher na religião deve seguir os avanços da sociedade na 
atualidade e não manter uma realidade estruturada num passado no qual apenas os 
homens comandavam. 
 
Importante compreender que a centralidade da figura do homem na religião remonta 
tempos em que as sociedades humanas estavam se organizando e se constituindo. Onde 
as relações sociais eram pautadas pela força e pela violência. Neste contexto, o papel da 
mulher ficou em último plano e as religiões reproduziram ao longo dos séculos esta 
realidade. 
 
Com o desenvolvimento das sociedades modernas democráticas e a conquista de 
direitos das mulheres, esta visão ultrapassada precisa ser superada. Pois, a semente da fé 
e do divino em todos os seres humanos floresce independente do gênero. 
 
Conceber que Deus enquanto “criador dos céus e da terra” concorda e normaliza a 
necessidade da continuidade da subalternidade da mulher na sociedade e no universo 
religioso, denota claramente que esta visão particular não condiz com a dimensão do amor 
e da solidariedade presentes nos ensinamentos atribuídos a divindade. 
 
As mulheres desde a antiguidade exerceram um papel de destaque na religião e 
nas sociedades. Na religião e cultura judaica não foi diferente. A presença e 
atuação das mulheres em todas as fases de constituição do povo escolhido 
bem como durante a vida de Cristo e na formação da igreja primitiva não deixa 
dúvida de seu papel de protagonismo. Foi através de uma mulher que os homens 
vieram a existir (Gn 3.20) , foi através de quatro mulheres que surgiu o povo da 
promessa, e não fosse a desobediência das parteiras israelitas (Ex 1.15-20) 
não haveria nenhum povo para ser liberto no Êxodo de onde viria o Messias, nascido 
de uma mulher. Uma leitura da Bíblia sem preconceitos e sem direcionamentos 
ideológicos esclarece e desmente qualquer acusação de misoginia e deve 
iluminar o debate sobre a mulher na igreja ontem e hoje. O desafio pelo 
reconhecimento público da atuação da mulher na igreja e na sociedade ainda 
é grande. Mulheres cristãs (pastoras e religiosas) ainda são questionadas se 
de fato são capazes de assessorar uma comunidade, se são capazes de 
https://observatorio3setor.org.br/noticias/pais-violencia-contra-mulher-justificada-pela-religiao/
https://observatorio3setor.org.br/noticias/pais-violencia-contra-mulher-justificada-pela-religiao/
 
 
30 Religião e Sociedade 
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pregar, de realizar enterros, batizar, dentre outras atividades. (RIBEIRO, 2020, 
p. 84) 
 
No caso do cristianismo, relembrando ser a maior parcela da população brasileira, a 
mediação entre o eterno e os homens se deu através de Jesus Cristo e seus ensinamentos 
de amor, respeito e tolerância são o alicerce da igualdade entre homens e mulheres. 
 
Apesar de Jesus ter nascido em um povo patriarcal, recebeu heranças masculinas 
e femininas que fizeram parte de sua história de moldaram seu lado humano. 
Jesus não era uma divindade alheia aos nossos problemas, mas pelo contrário, 
cresceu e viveu como um deus-homem, conhecedor da natureza humana em 
suas falhas e qualidades, que gostava de estar junto tanto de homens como de 
mulheres. (RIBEIRO, 2020, p. 80) 
 
Os evangelhos de (Lucas; Matheus; Marcos e João) relatam que no momento da 
crucificação apenas as mulheres o acompanhavam com exceção de João, pois seus 
discípulos e apoiadores fugiram com receio das retaliações do Império Romano. 
 
Algumas mulheres estavam observando de longe. Entre elas estavam Maria 
Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, o mais jovem, e de José. 41 Na Galiléia 
elas tinham seguido e servido a Jesus. Muitas outras mulheres que tinham subido 
com ele para Jerusalém também estavam ali. (Evangelho de Marcos 15:40) 
 
Claramente demonstrando que num dos momentos mais emblemáticos da história 
humana cristã o empoderamento e o protagonismo das mulheres esteve presente. 
 
 
 
Sugerimos a leitura da resenha do livro - BERTH, Joice. Empoderamento. São 
Paulo: Sueli Carneiro; Editora Pólen, 2019. 
Link: https://www2.unifap.br/neab/files/2021/01/Empoderamento-
Feminismos-Plurais-Joice-Berth.pdf 
 
 
A religião tem um papel fundamental na sociedade brasileira. O Brasil é um país com 
grande diversidade religiosa, onde as principais religiões são o catolicismo, o 
protestantismo, o espiritismo, o candomblé e a umbanda. O papel das mulheres na religião 
no Brasil tem sido marcado por muitos avanços e conquistas, mas também por 
desigualdades e desafios. 
https://www2.unifap.br/neab/files/2021/01/Empoderamento-Feminismos-Plurais-Joice-Berth.pdf
https://www2.unifap.br/neab/files/2021/01/Empoderamento-Feminismos-Plurais-Joice-Berth.pdf
 
 
31 Religião e Sociedade 
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Iniciativas incipientes vêm ocorrendo no universo religioso brasileiro quanto ao 
empoderamento da mulher. Na Igreja Católica a figura central do sacerdócio masculino 
começa a ser questionado por setores mais progressistas e democráticos. Nas Igrejas 
protestantes e pentecostais o papel da mulher como líder vem ganhando espaço. 
 
Para mudar essa cultura, é necessário que as pessoas se conscientizem das formas 
como o machismo e o patriarcado estão presentes na religião brasileira. É necessário que 
haja uma abertura para o diálogo e o debate sobre esses assuntos, para que os padrões 
de gênero possam ser redefinidos e para que as mulheres possam ter seus direitos e 
deveres reconhecidos. Essa mudança não é fácil, mas é necessária para a melhoria da 
qualidade de vida das mulheres no Brasil e para que o princípio fundamental maior das 
religiões seja efetivamente realizado, comunhão com o divino religando a conexão entre a 
humanidade e o celestial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 Religião e Sociedade 
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5. O PAPEL DA RELIGIÃO NA EDUCAÇÃO – FORMAÇÃO DE 
VALORES ÉTICOS PARA A CONVIVÊNCIA EM SOCIEDADE 
 
“é inegável que a violência atinge a todos os segmentos 
populacionais, entretanto deve ser enfrentada por meio do 
diálogo e do conhecimento, entendendo que a realização plena da 
igualdade não é um problema somente dos excluídos, mas de toda 
sociedade, em que a escola tem um papel essencial no acesso aos 
bens culturais.O que inclui trazer à tona a discussão da diversidade 
religiosa com seu processo histórico da tolerância e da intolerância 
seja nos aspectos religiosos, antropológicos e sociais”. Eleoterio 
(2020, p. 76) 
 
5.1 O papel da religião na educação - formação de valores éticos para a 
convivência em sociedade e o respeito ao estado democrático de direito 
 
No contexto das sociedades modernas democráticas do século XX a educação foi 
estruturada na ciência e na laicidade, enquanto direito universal para todos respeitando as 
escolhas religiosas individuais e familiares. 
 
A evolução da humanidade e a consequente evolução das instituições políticas 
caminham, como não poderia deixar de ser, em parelha com o aprimoramento das 
legislações dos países democráticos, sobretudo quanto aos temas que devem ter 
sede na Constituição Federal, baliza e norte de toda a organização de um Estado. 
(GANEN, 2015, p.01) 
 
Necessário debater que a educação pública ofertada pelo estado brasileiro é laica, 
e, portanto, acolhe a diversidade religiosa no contexto das instituições. Ao longo do século 
passado esta premissa foi sendo construída e respeitada. 
 
No Brasil, a escola como uma das instituições sociais mais importantes de formação 
e que por essa razão deveria primar pelos conhecimentos técnico-científicos, 
assegurando a igualdade, a livre a manifestação do pensamento e o livre exercício 
dos cultos religiosos como bem assegura a Constituição de 1988 
(ROSÁRIO&ROSÁRIO, 2018, p. 117) 
 
O processo de laicidade na educação foi construído desde a Constituição de 1967, 
culminando com o advento da Constituição Federal de 1988 – Cidadã, garantindo direitos 
de igualdade. 
 
O caráter laico do Estado já vem consagrado em nossa tradição constitucional 
desde a Constituição Republicana, mas na Lei Maior de 1988 esse conceito 
 
 
33 Religião e Sociedade 
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desponta de maneira mais evidente, tendo em vista as diversas questões que, cada 
vez mais, vêm à tona para discussão, engendradas pelo progresso da ciência e pela 
evolução do pensamento humano. Assim, pode se dizer que, na ordem 
constitucional vigente, o conceito de “Estado laico” está imantado de uma 
significação jamais vista em épocas anteriores. 
Ademais, a liberdade de expressão, agora, adquire uma dimensão maior do que 
nas constituições do passado. No Estatuto Magno de 1988 tal liberdade é garantida 
de forma mais plena e, dessa maneira, ao mesmo tempo em que a Lei Maior 
reafirma a tradição da laicidade de nosso Estado, veda com muito mais afinco 
qualquer tendência de restrição à manifestação do pensamento. (GANEN, 2015, 
p.03) 
 
A democracia requer que o estado seja laico e não seja capturado por concepções 
de homem e de mundo atreladas a uma única religião. A diversidade no contexto da 
sociedade brasileira concebe que a laicidade é um valor fundamental do estado de direito, 
inclusive para garantir o livre pensar e de manifestação do credo religioso. 
 
No artigo quinto a Constituição Cidadão versa o que segue: 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes: 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de 
culto e a suas liturgias; 
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas 
entidades civis e militares de internação coletiva; 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de 
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal 
a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; 
(BRASIL,1988) 
 
A igualdade e a liberdade são direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros e 
brasileiras, amparando legalmente a questão do credo religioso. 
 
Nos incisos VI; VII e VIII são detalhados pelo legislador constituinte as situações e 
condicionantes para a exigibilidade da garantia de liberdade e culto religioso. Pois, o 
contexto inviolável para o livre exercício da religião é a ausência de preconceitos e de 
concepções de homem e de sociedade centradas numa única escolha religiosa. 
 
 
 
A educação como direito social preconiza que todas as pessoas devem ter 
acesso à educação de qualidade, independentemente de seu gênero, raça, 
classe social ou credo religioso. É necessário que todos tenham acesso ao 
 
 
34 Religião e Sociedade 
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conhecimento e a informação para que possam desenvolver plenamente suas 
capacidades, exercer seus direitos e contribuir para o desenvolvimento 
econômico e social de uma sociedade mais justa, equitativa e igualitária. 
 
 
Com isso, fica claro que o direito ao exercício da fé religiosa é uma condição de 
cidadania, bem como, da laicidade do estado democrático. 
 
Quanto a educação na Constituição de 1988 foi considerada enquanto um direito 
social. No artigo sexto “ São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a 
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL,1988, p.03) 
 
A 
Fonte: https://www.cenpec.org.br/wp-content/uploads/2020/04/religiao_banner.png 
 
A educação é considerada um direito social fundamental para o desenvolvimento 
humano e para o avanço da sociedade. A educação desempenha um papel fundamental 
na formação de cidadãos conscientes e responsáveis. 
 
A educação como direito social preconiza que todas as pessoas devem ter acesso à 
educação de qualidade, independentemente de seu gênero, raça, classe social ou credo 
religioso. É necessário que todos tenham acesso ao conhecimento e a informação para que 
https://www.cenpec.org.br/wp-content/uploads/2020/04/religiao_banner.png
 
 
35 Religião e Sociedade 
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possam desenvolver plenamente suas capacidades, exercer seus direitos e contribuir para 
o desenvolvimento econômico e social de uma sociedade mais justa, equitativa e igualitária. 
 
 
 
Para compreender a questão do preconceito religioso no contexto escolar 
segue reportagem fundamental: Intolerância religiosa em ambiente escolar 
provoca silenciamento, exclusão e evasão de estudantes. 
Link: https://www.ufsm.br/midias/arco/intolerancia-religiosa-em-ambiente-
escolar-provoca-silenciamento-exclusao-e-evasao-de-estudantes 
 
O contexto do espaço relacional das instituições educacionais reverbera todo o 
tensionamento e as contradições da sociedade na atualidade. Fome, pobreza, violência e 
desemprego desencadeiam conflitos familiares que repercutem nas escolas. 
 
Com a intensificação do extremismo ideológico e religioso neste primeiro quarto do 
século XXI, vem sendo observado episódios frequentes de preconceito e de violência 
religiosa entre alunos e alunas. 
 
Casos de intolerância religiosa nas escolas são subnotificados 
Professores estão na terceira posição de segmentos que mais cometem 
discriminação, perdendo para o ‘desconhecidos’ e ‘vizinhos’ Por Fernanda Baldioti 
| ODS 4 • Publicada em 10 de fevereiro de 2020 - 08:14 • 
Os sete casos de intolerância religiosa registrados em escolas do Rio de Janeiro 
em 2018, segundo dados da Secretaria de estado de Direitos Humanos, estão longe 
de refletir com exatidão o que se passa no dia a dia escolar. A subnotificação dos 
pais e das escolas ainda é um problema de acordo com a secretaria, que tem criado 
mecanismos para facilitar as denúncias, como o serviço Disque Cidadania e Direitos 
Humanos (0800 023 4567). Os dados de 2019 ainda não foram compilados, mas 
não devem ser muito diferentes. ( https://projetocolabora.com.br/ods4/casos-de-intolerancia-religiosa-nas-escolas-sao-subnotificados/ ) 
 
A problemática da intolerância no contexto escolar é um reflexo do momento de 
tensionamento e de extremismo que a sociedade brasileira passa na atualidade. 
Compreender sua gênese é fundamental para o seu enfrentamento. 
 
Segundo (ROSÁRIO&ROSÁRIO, 2018), 
 
a intolerância religiosa no contexto escolar é fruto da intolerância religiosa que 
grassa na sociedade brasileira e teve sua gênese no processo de colonização se 
espraiando para todos os tempos e atravessou a escola brasileira, sobretudo a 
pública onde o domínio das religiões cristãs, com destaque para católica constituiu-
se em nó górdio a ser desatado, apesar da presença de instrumentos legais como 
https://www.ufsm.br/midias/arco/intolerancia-religiosa-em-ambiente-escolar-provoca-silenciamento-exclusao-e-evasao-de-estudantes
https://www.ufsm.br/midias/arco/intolerancia-religiosa-em-ambiente-escolar-provoca-silenciamento-exclusao-e-evasao-de-estudantes
https://projetocolabora.com.br/ods4/casos-de-intolerancia-religiosa-nas-escolas-sao-subnotificados/
https://projetocolabora.com.br/ods4/casos-de-intolerancia-religiosa-nas-escolas-sao-subnotificados/
 
 
36 Religião e Sociedade 
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a Constituição, o Código penal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- 
LDB se colocarem diametralmente contra essas práticas. (ROSÁRIO&ROSÁRIO, 
2018, p. 131) 
 
 
Sendo assim, a violência gestada no preconceito, apesar dos pesos e contrapesos 
do estado democrático de direito, requer ações do Estado e da sociedade civil na 
perspectiva de garantir direitos dos alunos e alunas que sofrem com a intolerância no 
ambiente escolar. 
 
O agravante nesta questão são as repercussões emocionais e relacionais que 
crianças, adolescentes e jovens carregarão ao longo da vida. A Intolerância religiosa em 
ambiente escolar provoca silenciamento, exclusão e evasão de estudantes, bem como, 
atraso no desenvolvimento escolar. Outro fator relevante neste processo e que deve ser 
combatido é a violação de direitos. 
 
A violência é um fenômeno que envolve relações sociais, que afeta as 
pessoas de inúmeras formas, atingindo as liberdades e direitos fundamentais. 
Esse fenômeno está em todos os tempos e lugares da sociedade, seja no campo 
privado ou social, nas áreas rurais ou urbanas, inclusive em ambientes 
educacionais. Nessa perspectiva, a intolerância religiosa tem sido considerada 
uma violência no cotidiano escolar diante de práticas educacionais. O 
enfrentamento a esse tipo de intolerância requer um olhar voltado para a garantia 
do direito à manifestação religiosa de cada aluno/a e professor/a. (ELEOTERIO, 
2020, p. 64) 
 
Na medida em que estes episódios de violência ocorrem, a resposta do conjunto da 
sociedade mediante os instrumentos que o Estado Democrático de Direito dispõe para 
coibir e garantir igualdade de direitos no aspecto das escolhas religiosas, deve ser imediata 
e enérgica. 
 
Neste contexto complexo e tensionado na atualidade a religião pode ser um caminho 
para o diálogo e para o fortalecimento da igualdade social no contexto democrático? A 
pergunta é pertinente e necessária em tempos de extremismo e intolerância. 
 
 
 
Sugerimos a leitura da reportagem do Politize! REFLEXÕES POLÍTICAS 
Intolerância Religiosa 
Link: https://www.politize.com.br/intolerancia-religiosa/ 
 
https://www.politize.com.br/intolerancia-religiosa/
 
 
37 Religião e Sociedade 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
No contexto escolar, o Brasil tem discutido de forma ampla a questão do ensino 
religioso. Discutisse sobre o ensino confessional para as famílias que desejam que seus 
filhos e filhas tenham uma educação pautada nos valores da religião que professam. 
 
Outro debate, está relacionado com a possibilidade da inclusão de disciplinas de 
ensino religioso confessional no contexto público e privado. Uma questão importante a ser 
debatida é a possibilidade da educação confessional no contexto do estado brasileiro. 
 
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, 
 
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação 
básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas 
de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do 
Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 
§ 1o Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos 
conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e 
admissão dos professores. 
§ 2o Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes 
denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. 
 
A LDB garante que o ensino religioso seja facultativo respeitando a diversidade 
cultural e religiosa, bem como, vedado qualquer forma de proselitismo. 
 
Recentemente em 2017 o STF – Superior Tribunal Federal decidiu, por 6 votos a 5, 
que o ensino religioso nas escolas públicas pode ter natureza confessional, isto é, que as 
aulas podem seguir os ensinamentos de uma religião específica. 
 
 
 
Leia o artigo : Liberdade religiosa ainda não é realidade': os duros relatos de 
ataques por intolerância no Brasil 
Link: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722 
 
 
 
A grande questão neste processo que vem sendo motivo de críticas e de 
questionamentos quanto ao ensino religioso baseia no fato de que a dimensão confessional 
pode acarretar maior divisão e intolerância religiosa. 
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64393722
 
 
38 Religião e Sociedade 
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Durkheim (1965) destaca o papel da educação na construção da sociedade, uma 
vez que é através dela que socializamos as novas gerações e transmitimos a cultura 
que se espera possa cooperar para a manutenção da ordem social. Para ele, a 
natureza social da educação impõe um prejuízo àquele que tenta educar de forma 
particular os seus. A educação fundamentalista, tal como exemplificado neste 
estudo, se encaixa bem em uma forma particular de educação. A particularidade 
não está em ensinar suas crenças religiosas, mas forçar uma leitura de todos os 
conteúdos e só permitir práticas que possam reforçar na mente do educando a 
superioridade do pensamento religioso na compreensão do mundo. Ele pretende 
desenvolver sujeitos afinados com seus valores e que rejeitem a sociedade em 
geral, vendo-a apenas como um campo missionário. Schunemann (2009, p. 91) 
 
Sendo assim, apesar da intencionalidade da lei em garantir que o ensino religioso 
seja pautado pela diversidade e pelo respeito as múltiplas expressões religiosas, o risco 
deve ser sempre calculado e objeto de monitoramento do estado no âmbito dos gestores 
educacionais. 
 
Para finalizar a reflexão é importante que a religião nos seus espaços próprios de 
expressão contribua para desenvolver a prática da diversidade e do respeito as múltiplas 
expressões religiosas. Contribuindo para a aceitação das diferentes culturas e crenças. 
Desempenhando um papel importante na educação e na formação de valores éticos de 
convivência em sociedade. 
 
Além disso, a religião também pode servir como um meio de dialogar sobre educação 
e direitos humanos, justiça e igualdade social. Numa perspectiva de comprometimento com 
o bem-estar de todos e de cidadania. 
 
Em suma, a religião desempenha um papel importante na educação e na formação 
de valores éticos de convivência em sociedade. A ética de convivência em sociedade é 
uma responsabilidade que as religiões e seus líderes e expoentes devem assumir 
promovendo princípios e atitudes que devem ser seguidos como: respeito; justiça; 
compaixão; responsabilidade; cooperação; honestidade e solidariedade. 
 
A ética de convivência em sociedade envolve o respeito mútuo, o apoio e o diálogo

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