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Objetivos • Relembrar a morfofisiologia das meninges • Compreender como ocorre a infecção do SNC e suas formas de transmissão • Estudar as síndromes meníngeas • Entender as formas de prevenção e controle da meningite Meninges • Membrana que reveste o encéfalo imediatamente internas ao crânio • Protege o encéfalo de impactos ,sustenta a estrutura • Divide-se em: Dura-máter: camada fibrosa externa espessa e resistente Aracnoide-máter: camada fina intermediária Pia-máter: delicada camada interna vascularizada ➔ Juntas formam a leptomeninge e são separadas uma da outra pelo espaço subaracnóideo,que contém líquido cerebrospinal ou líquor Existem três espaços entre as meninges. O espaço epidural (extradural), um espaço virtual entre as duas membranas da dura-máter, o espaço subdural, um espaço virtual entre a dura-máter e a aracnoide e o espaço subaracnóideo, um espaço real entre a aracnoide e a pia-máter. O espaço subaracnóideo contém vasos cerebrais e líquido cefalorraquidiano (LCR). As duas membranas da dura-máter são separadas em quatro pontos por septos, formando os seios venosos durais. Os quatro septos fibrosos são: • Foice do cérebro: separa os hemisférios cerebrais esquerdo e direito e contém os seios sagitais superior e inferior • Tenda do cerebelo: separa o cérebro do cerebelo e contém os seios transverso, reto e petroso superior • Foice do cerebelo: separa os dois hemisférios cerebelares e contém o seio occipital • Diafragma da sela: forma um teto sobre a fossa hipofisária, onde a glândula pituitária se localiza, e contém os seios intracavernosos anterior e posterior. O líquido cefalorraquidiano (LCR) circula nos ventrículos, espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula e canal central da medula espinhal. A sua função é absorção de força mecânica, funcionando como um coxim, proteção o SNC e transporte de nutrientes ao tecido nervoso. Além disso, ele remove resíduos metabólicos do tecido neural, permite o transporte de neurotransmissores e neuromoduladores e pode ser uma ferramenta diagnóstica muito útil em algumas doenças do SNC. O LCR é produzido por um tecido especializado chamado plexo coróideo, que é encontrado nas paredes dos ventrículos (terceiro, quarto e laterais). A produção do LCR é igual à sua drenagem, então sempre há cerca de 150 mL de LCR circulando no sistema ventricular. Como ocorre a circulação? O líquido cefalorraquidiano passa dos ventrículos laterais para o terceiro ventrículo através do forame interventricular (de Monro). Do terceiro ventrículo, o LCR passa pelo aqueduto cerebral (de Sylvius) para o quarto ventrículo. Do quarto ventrículo, parte do LCR passa através de uma estreita passagem denominada óbex e entra do canal central da medula. A maior parte restante passa através da abertura mediana no quarto ventrículo (de Magendie) e das duas aberturas laterais (de Luschka) e entra nas cisternas interpeduncular e subaracnóidea. Dali, o líquido cefalorraquidiano flui para o espaço subaracnóideo ao redor do encéfalo e da medula espinhal e, finalmente, é reabsorvido nos seios venosos durais pelas granulações aracnóideas. Como ocorre a transmissão das meningites? A transmissão da maioria das etiologias ocorre através do contato com secreções respiratórias do portador do agente patogênico, e por isso acomete principalmente indivíduos com contato íntimo. Já as meningites virais (especificamente causadas por enterovírus) geralmente são transmitidas por via fecal-oral.A invasão à barreira hematoencefálica nas meningites bacterianas pode ocorrer através de 3 mecanismos: • Acesso direto – nos casos de fraturas de crânio, defeito congênito de fechamento do tubo neural e iatrogênica (punção liquórica inadequada). • Acesso por contiguidade – otites médias, mastoidites ou sinusites. • Via hematogênica: ultrapassa a barreira hematoencefálica por ligação com receptores endoteliais, lesão endotelial ou em áreas mais susceptíveis, como o plexo coróide. Já nas meningites virais, a invasão ao SNC ocorre por via hematogênica, no caso dos enterovirus, ou por via neuronal, no caso do HSV. Síndromes meníngeas A meningite é um processo inflamatório que envolve as leptomeninges dentro do espaço subaracnoide; se a infecção se espalhar para o tecido cerebral subjacente, é denominada meningoencefalite. Esses termos também são usados em quadros não infecciosos, tais como meningite química, uma resposta a um agente irritante não bacteriano, tal como debris de um cisto epidermoide rompido, e meningite carcinomatosa, uma disseminação de células neoplásicas metastáticas para dentro do espaço subaracnoide. A meningite infecciosa pode ser amplamente dividida em piogênica aguda (geralmente bacteriana), asséptica (geralmente viral) e crônica (geralmente tuberculosa, por espiroquetas ou fúngica). Na maioria das vezes, o exame do LCR é útil para a distinção entre as diversas causas da meningite. Ou seja: ➔ Aguda (bacteriana) ➔ Asséptica (viral) ➔ Subaguda/crônica(Fúngica,mycobacterium tuberculosis,neurosífilis ,parasitária. ) Meningite Aguda ➔ (Meningite Bacteriana) As causas mais prováveis da meningite bacteriana variam com a idade do paciente. Em neonatos, organismos comuns são a Escherichia coli e estreptococos do grupo B. Em adolescentes e adultos jovens, a Neisseria meningitidis é o patógeno mais comum; em idosos, a Streptococcus pneumoniae e a Listeria monocytogenes são as mais comuns. Em todas as idades, os pacientes costumam apresentar sinais sistêmicos de infecção além de irritação meníngea e comprometimento neurológico, incluindo dor de cabeça, fotofobia, irritabilidade, alteração da consciência e rigidez do pescoço. Uma punção lombar revela pressão aumentada; o exame do LCR mostra neutrófilos abundantes, níveis elevados de proteínas e glicose reduzida. A meningite piogênica não tratada é, muitas vezes, fatal, mas com o diagnóstico imediato e a administração de antibióticos, a maioria dos pacientes pode ser salva. FORMA DE INFECÇÃO: No processo de invasão da mucosa, as bactérias começam por secretar enzimas específicas, como IgA proteases, que vão ter a capacidade de clivar e inativar a molécula IgA local e, de seguida agridem as células epiteliais do aparelho respiratório levando a que ocorra a perda de atividade ciliar desse epitélio, ou seja, a IgA proteases inativa os anticorpos do hospedeiro, facilitando a aderência da bactéria à mucosa. Muitos dos microrganismos causais também possuem características de superfície que aumentam a colonização da mucosa, por exemplo o N. meningitidis tem a capacidade de se prender às células epiteliais com a ajuda de fimbrias .Uma vez ultrapassada a barreira mucosa da nasofaringe, as bactérias entram na corrente sanguínea, e aí precisam de vencer os mecanismos de defesa do hospedeiro para sobreviverem e assim conseguirem atingir o SNC. A capacidade da bactéria em sobreviver encontra-se relacionada com a sua cápsula, que apresenta propriedades anti-fagocitárias capazes de evitar as defesas do hospedeiro. Meningites Bacterianas. Pode- se dizer que a cápsula bacteriana, um ponto comum entre o N. meningitidis, H. influenzae e S.pneumoniae, é o fator de virulência mais importante neste contexto. As defesas que o hospedeiro apresenta para contrapor os efeitos protetores da cápsula bacteriana passam pela ativação de C3b, opsonização, fagocitose e expurgação intravascular do organismo. As bactérias invadem o SNC através de mecanismos desconhecidos.Contudo, existem alguns estudos que sugerem que estas acedem ao SNC através do plexo coróide uma vez que se julga que as células do plexo coróide e os capilares cerebrais possuem receptores para a aderência das bactérias de forma a que estas possamser transportadas para o espaço subaracnoídeo. No espaço subaracnoídeo as bactérias encontram condições mais do que favoráveis para a sua replicação, uma vez que este espaço se encontra desprovido de mecanismos de defesa com capacidade para controlar a infeção. Com a replicação das bactérias no espaço subaracnoídeo, estas vão libertar componentes subcapsulares ativos, responsáveis pela inflamação das meninges. Estes vão estimular a produção de IL-1 pelos monócitos e produção de TNF pelos macrófagos, astrócitos, células microgliais e endoteliais do SNC, que agem de uma forma sinérgica de forma a induzirem as respostas inflamatórias. Pensa-se que os principais mediadores do processo inflamatório sejam a IL-1, IL-6 e o fator de necrose tumoral. Estes aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica e ativam ainda mais células do sistema imunitário, aumentando o seu número no LCR, o que, consequentemente aumenta o número de proteínas presentes. Streptococcus pneumonia- é o patógenos que pode contaminar qualquer faixa etária acima do 1 mês de vida ,principal causa em adultos, seu fator de virulência está relacionado a sua cápsula de polissacarídeo → que permite o escape fagocitário, Produção de enzimas como hemolisina, IgA protease, neuraminidase, hialuronidase. Pneumolisina→ destruição do tec pulmonar e Autolisina → degrada a capsula e contribui para o processo de escape e inflamação. Neisseria Meningitidis- transmissão por via respiratória, possui 12 sorogrupos (A,B,C,H,I,K,L,X,Y,Z,29E,e,W135), o A possui um único sorotipo e o B e C possui vários, Seus fatores de virulência estão relacionados a PILI → que garante adesão e interferência a fagocitose por outros neutrófilos, LOS→ que induz intensa resposta inflamatória, protease igA1→ clivagem de igA entre outras. Haemophilus spp- transmissão respiratória, seu fator de virulência se deve a cápsula, possui seis sorotipos (A-F),sendo o b mais invasivo, produz endotoxina LPS, IgA protease e possui fímbrias Meningite Asséptica ➔ (Meningite Viral) A meningite asséptica é um termo clínico para doença aguda com sinais e sintomas meníngeos suspeitos de serem de origem viral. O curso clínico é menos fulminante que o da meningite piogênica e é, tipicamente, autolimitante. Em contraste com a meningite piogênica, o exame do LCR costuma mostrar linfocitose, elevação moderada do nível de proteínas e nível normal de glicose, sem detecção de bactérias ao cultivo. Embora haja suspeita de um agente viral subjacente, muitas vezes, é difícil identificar o vírus responsável por meio de cultura e métodos sorológicos; a aplicação do sequenciamento de ácidos nucleicos pode mudar nossa compreensão acerca desses casos. Não há achados macroscópicos distintivos, exceto pelo inchaço do cérebro, que é observado apenas em alguns casos. Ao exame microscópico, não há anormalidade reconhecível ou há infiltrado linfocítico leptomeníngeo de intensidade leve a moderada. Assim, os vírus provavelmente são responsáveis pela maioria dos casos de meningite aguda, sendo o enterovírus o patógeno mais comum identificado (85% dos casos), seguido pelo vírus da caxumba (7% dos casos), o vírus do herpes simples (4% dos casos), os arbovírus (2% dos casos), da varicela (1% dos casos), do sarampo (1% dos casos), rubéola e os adenovírus. Enterovírus As infecções por estes vírus acometem predominantemente crianças e jovens. A meningite é acompanhada por manifestações mucocutâneas incluindo vesículas localizadas nas mãos, pés e boca; herpangina (muito relacionado à infecção por coxsackie A – há lesões vesiculares na fossa tonsilar, palato mole e úvula) além do eritema maculopapular não pruriginoso generalizado. O quadro clínico é autolimitado devendo ser tratado apenas com sintomáticos. Pioras súbitas com rebaixamento do nível de consciência, convulsões ou déficits neurológicos focais indicam acometimento meningoencefálico . As infecções por echovirus tipo 9 podem originar lesões que lembram aqueles eritemas por meningococcemia . Herpes simples (HSV-1 e HSV-2) As meningites por herpes vírus são consideradas emergências médicas devendo ser prontamente diagnosticadas e tratadas comaciclovir. Trata-se da segunda maior causa de meningite viral em adolescentes e adultos. As meningites por herpes são complicações das infecções genitais primárias pelo mesmo vírus, especialmente o tipo 2 (HSV-2), no entanto, para ocorrer meningite asséptica por HSV-2 não haverá necessidade de sinais clínicos de herpes genital. Clinicamente observou-se mal estar, sinais de infecção genital pelo herpes, febre, meningismo e, apenas em 2% dos casos, haverá sinais de radiculomielite (retenção urinária, constipação, parestesia e paresia). Em mais de 85% dos pacientes, anticorpos específicos são encontrados no LCR. O tratamento antiviral com aciclovir, fanciclovir ou valaciclovir são indicados já no primeiro episódio de herpes genital . Uma situação de especial importância relacionada a infecções por HSV-2 (mais do que pelo HSV-1) denomina-se meningite de Mollaret: nesta forma de meningite encontraram-se episódios recorrentes de cefaleia, meningismo e febre associados a pleocitose no LCR com células endoteliais gigantes (células de Mollaret), neutrófilos e linfócitos. São ataques recorrentes intercalados por períodos de remissão (semanas a meses), sem agente causal definido. Há relatos de ausência de febre em alguns casos. Em até 50% dos pacientes há anormalidades neurológicas transitórias tais como: convulsão, diplopia, hiperreflexia patológica, paralisia de pares cranianos, alucinações e coma. Após 24h de instalação, pode-se encontrar no LCR uma p redominância de células linfocíticas (< 3000/mm3) associado a hipoglicorraquia8-11. Varicela zoster e vírus da imunodeficiência humana (HIV) Meningites assépticas por vírus da varicela, geralmente são associadas às reativações virais, sem a presença de vesículas cutâneas.Não há indicação de tratamento específico nestes casos, apenas suporte clínico. As meningites assépticas podem ainda ser causadas por infecções pelo HIV: linfadenopatias, dermatite, eritema, alterações gastrintestinais, candidíase oral e faringite podem ser encontradas. Os sintomas neurológicos são autolimitados e desaparecem em algumas semanas. As infecções por HIV levam a um estado de imunossupressão, predispondo os pacientes às infecções fúngicas, toxoplasmose e citomegalovirose. As variantes clínicas resultantes da invasão direta do HIV no SNC incluem: meningites, encefalites, leucoencefalopatias e mielopatias7,11. Caxumba Com a vacinação disseminada, a meningite asséptica por vírus da caxumba não é tão frequente. A meningite por caxumba podeanteceder ou preceder o edema da glândula parótida e, em até50% dos casos, pode ocorrer mesmo sem a parotidite. FORMA DE INFECÇÃO A patogênese da meningite viral começa quando o agente causador entra no hospedeiro por meio de secreções respiratórias ou pela via fecal-oral para causar infecção primária no trato respiratório ou gastrointestinal (GI). Isto é seguido por infecção secundária do SNC, causando meningite ou outros problemas neurológicos. A infecção viral do SNC pode ocorrer por diferentes mecanismos, como infecção do epitélio do plexo coróide, infecção do tecido linfóide, indução de inflamação e quebra da barreira hematoencefálica (BHE) e infecção das vias neurais sensoriais periféricas. Uma vez que o agente viral entra no SNC, níveis elevados de quimioatraentes, neutrófilos, células T CD8 e monócitos são detectados, indicando a indução de uma resposta imune. Um estudo usando um modelo de meningite viral murina em que camundongos foram infectados com o vírus da coriomeningite linfocítica (LCMV) mostrou níveis elevados de IL-6 e INF-γ no LCR. Outroestudo mostrou um aumento do nível de IL-1β (uma citocina pró-inflamatória) em pacientes com meningite asséptica. Portanto, uma forte resposta imune inflamatória é induzida durante a meningite asséptica e desempenha um papel importante na patogênese da doença. No entanto, a patogênese da meningite asséptica não é bem compreendida e é difícil de estudar devido aos dados limitados. Além disso, torna-se mais difícil pelo fato de que a maioria dos casos de meningite viral passa despercebida, e os casos fatais se manifestam como síndrome encefalítica grave em vez de meningite. A investigação nesta área é necessária para desenvolver e melhorar as intervenções terapêuticas contra esta doença. Meningite Crônica Vários patógenos, incluindo micobactérias, algumas espiroquetas e fungos, causam uma meningite crônica; as infecções por esses organismos também podem envolver o parênquima cerebral. ➔ Meningite Tuberculosa A meningite tuberculosa geralmente se manifesta com sinais e sintomas generalizados de dor de cabeça, mal-estar, confusão mental e vômito. Há apenas aumento moderado na celularidade do LCR, com células mononucleares ou uma mistura de células polimorfonucleares e mononucleares; o nível de proteínas é elevado, muitas vezes bastante elevado, e o teor de glicose costuma estar moderadamente reduzido ou normal. A infecção por Mycobacterium tuberculosis também pode resultar em uma massa intraparenquimatosa bem circunscrita (tuberculoma), que pode estar associada à meningite. A meningite tuberculosa crônica leva a fibrose aracnoide e hidrocefalia, decorrentes da interferência na reabsorção do LCR. ➔ Infecções por Espiroqueta A neurossífilis, um estágio terciário da sífilis, ocorre em cerca de 10% dos indivíduos com infecção por Treponema pallidum não tratada. A infecção pelo HIV aumenta o risco de desenvolvimento da neurossífilis e a doença é, em geral, mais agressiva nesse quadro. Há vários padrões de envolvimento do SNC pela sífilis, que podem se apresentar sozinhos ou em combinação. • A neurossífilis meningovascular é uma meningite crônica, geralmente envolvendo a base do cérebro, na maioria das vezes com uma endarterite obliterante rica em células plasmáticas e linfócitos. • A neurossífilis parética provém do envolvimento parenquimatoso por espiroquetas e está associada à perda neuronal e proliferação marcante de células microgliais. Clinicamente, esta forma da doença provoca perda progressiva insidiosa das funções mentais e físicas, alterações de humor (incluindo delírios de grandeza) e, com o tempo, demência grave. • A tabes dorsalis resulta de danos aos nervos sensoriais nas raízes dorsais. As consequências incluem comprometimento do senso de posição articular e ataxia; perda da sensação de dor, levando a danos na pele e nas articulações (articulações de Charcot); outros distúrbios sensoriais, particularmente as “dores lancinantes” características; e ausência de reflexos tendinosos profundos. A neuroborreliose refere-se ao envolvimento do sistema nervoso pela espiroqueta Borrelia burgdorferi, agente causador da doença de Lyme. Os sinais e sintomas neurológicos são altamente variáveis e incluem meningite asséptica, paralisia do nervo facial, encefalopatia leve e polineuropatias. ➔ Meningite Fúngica A infecção fúngica do sistema nervoso pode dar origem à meningite crônica e, como acontece com outros agentes patogênicos, pode ser, por vezes, associada à infecção parenquimatosa. A imunossupressão aumenta o risco dessas doenças, mas não é um requisito para que a infecção ocorra. Vários patógenos fúngicos causam doenças no SNC: A Cryptococcus neoformans pode causar meningite e meningoencefalite, geralmente em um quadro de imunossupressão. Pode ser fulminante e fatal em apenas 2 semanas ou ser indolente, evoluindo ao longo de meses ou anos. O LCR pode apresentar poucas células, porém com níveis elevados de proteínas, e as leveduras encapsuladas mucoides podem ser visualizadas em preparações com tinta nanquim. A extensão para o cérebro acompanha os vasos pelos espaços de Virchow-Robin. À medida que os organismos proliferam, esses espaços se expandem, dando origem a uma aparência de “bolha de sabão” O Histoplasma capsulatum costuma envolver o sistema nervoso em um quadro de infecção disseminada. Há risco aumentado de doença no contexto de infecção por HIV. A histoplasmose geralmente causa meningite basilar, com níveis elevados de proteínas no LCR, diminuição leve da glicose e pleocitose linfocítica leve. Podem ocorrer lesões parenquimatosas, principalmente acompanhadas de organismos ao longo dos espaços de Virchow-Robin. • O Coccidioides immitis, um fungo endêmico das regiões desérticas do sudoeste americano, geralmente causa meningite em um quadro de infecção disseminada. O diagnóstico pode ser feito com o exame do LCR quanto a anticorpos específicos. Sem tratamento, a meningite coccidioidal produz alta mortalidade. Instrumentos disponíveis para prevenção e controle A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. É possível, para alguns, dispor de medidas de prevenção primária, tais como: quimioprofilaxia e vacinas. O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para um bom prognóstico da doença. Quimioprofilaxia A quimioprofilaxia, muito embora não assegure efeito protetor absoluto e prolongado, tem sido adotada como uma medida eficaz na prevenção de casos secundários. Está indicada para os contatos íntimos de casos de doença meningocócica e meningite por H. influenzae, e para o paciente, no momento da alta, no mesmo esquema preconizado para os contatos, exceto se o tratamento da doença foi com ceftriaxona, pois há evidências de que essa droga é capaz de eliminar o meningococo da orofaringe. A droga de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose adequada e simultaneamente a todos os contatos íntimos, preferencialmete até 48 horas da exposição à fonte de infecção, sendo considerados o prazo de infectibilidade e o período de incubação da doença .O uso restrito da droga visa evitar a seleção de estirpes resistentes de meningococos. Em menores de 1 ano, atualmente é utilizada a vacina Tetravalente e não mais a Hib. Portanto,nas meningites por H. influenzae, para crianças contato não vacinadas menores de 1 ano, vacinar, e quimioprofilaxia para todos os contatos domiciliares adultos. Em relação a gestantes, esse medicamento tem sido utilizado para quimioprofilaxia, pois não há provas que a rifampicina possa apresentar efeitos teratogênicos. Imunização As vacinas contra meningite são específicas para determinados agentes etiológicos. Algumas fazem parte do calendário básico de vacinação da criança, outras estão indicadas apenas em situações para controle de surto e algumas são indicadas para grupos especiais. Vacina contra difteria, tétano, coqueluche e H. influenzae tipo b - DTP + Hib (tetravalente) A vacina DTP + Hib previne contra difteria, tétano, coqueluche e as infecções causadas pelo H. influenzae tipo b, como: meningite, pneumonia, septicemia, otite e outras. Vacina contra o H. influenzae tipo b – Hib Vacina disponibilizada nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) para grupos especiais Vacina contra o Bacilo de Koch - A vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin, estirpe Moreau Rio de Janeiro) previne contra as formas graves de tuberculose (miliar e meningea). É uma vacina composta de cepas atenuadas do bacilo Mycobacterium tuberculosis bovis. O esquema recomendado é uma dose ao nascer, devendo ser administrada o mais precocemente possível, na própria maternidade ou na sala de vacinação da rede pública de saúde. Vacina polissacarídica contra o meningococodos sorogrupos A e C – é constituída por polissacarídeos capsulares purificados de N. meningitidis (isolados ou combinados), que foram quimicamente identificados, induzindo uma resposta imunológica de célula T independente. A eficácia em adultos é alta, mas no grupo de menores de 2 anos é baixa. Além disso, produzem imunidade de curta duração (de 12 a 24 meses). Vacina polissacarídica contra o meningococo do sorogrupo B – existe uma vacina disponível cujos resultados dos estudos realizados no Brasil indicam baixa efetividade em menores de 2 anos. A vacina contra o meningococo B possui baixa eficácia, porque o polissacarídeo da cápsula desse meningococo é fracamente imunogênico, devido à sua semelhança estrutural com tecidos corporais humanos Vacina conjugada contra o meningococo do sorogrupo C – a vacina antimeningocócica conjugada do sorogrupo C é constituída por polissacarídeo meningocócico do grupo C, conjugado ao toxóide tetânico. Está indicada na prevenção da infecção invasiva pelo meningococo C em crianças acima de 2 meses de idade. Vacina contra S. pneumoniae – a vacina polissacarídica contra o pneumococo 23 valente (Pn23), conforme o Calendário de Vacinação do Idoso (Portaria MS/SVS n° 1.602, de 17 de julho de 2006) é disponibilizada, com esquema de dose única, em todo o Brasil, para os idosos com 60 anos e mais, durante a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso; Referências: Moore, Keith L. Anatomia orientada para a clínica / Keith L. Moore, Arthur F. Dalley, Anne M. R. Agur ; tradução Claudia Lúcia Caetano de Araújo. – 8. ed. – Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2019 BRASIL. Ministério da Saúde. Meningite. Disponível em:<https://www.gov.br/saude/pt/assuntos/saude- de-a-a-z/m/meningite-1>. GONÇALVES, Helena Caetano et al. Meningite no Brasil em 2015: o panorama da atualidade. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 47, n. 1, p. 34-46, 2018. DAMIANI, Daniel; FURLAN, Mayara Cerquiari; DAMIANI, Durval. Meningite asséptica. Rev Bras Clin Med. São Paulo, v. 10, n. 1, p. 46-50, 2012. ROLDI, Lourdes Luchini et al. Revisão bibliográfica: meningite bacteriana em adultos Literature review: bacterial meningitis in adults. Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 4, p. 24703-24710, 2022.
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