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Prof. Alexandre Furniel UNIDADE II Fundamentos da Sociologia da Educação Objetivos desta unidade Compreender os enfoques teóricos clássicos da Sociologia da Educação. Questão central Por que a Sociologia não possui um corpo teórico único como as Ciências da Natureza? Enfoques teóricos em Sociologia da Educação A Sociologia é uma ciência que surge e se desenvolve com o advento do capitalismo. A sistematização intelectual de seus fundadores mais importantes – Comte, Durkheim, Marx e Weber – está marcada pela seguinte pergunta: Como compreender as maravilhas e as atrocidades sociais deste novo mundo que se abriu com o desenvolvimento da grande indústria moderna e da sociedade dividida em classes? Introdução Os fundadores da Sociologia como ciência tiveram de lidar com a tensão existente entre conceber a sociedade como uma estrutura de poder de coerção e de determinação sobre as ações individuais e, de outro, de ver o indivíduo como agente criador e transformador da vida coletiva. Como afirmou o sociólogo Carlos Benedito Martins no livro “O que é Sociologia”, as contradições sociais da sociedade moderna permearam a formação desta ciência. Abordagens teóricas clássicas Émile Durkheim se empenhou em demonstrar a existência plena de uma vida coletiva com alma própria, acima e fora das mentes individuais. Max Weber tratou a ação individual como ponto de partida para o entendimento da realidade social. Karl Marx procurou identificar as contradições existentes na sociedade moderna e considerava que a história da humanidade é movida por lutas de classes sociais com interesses antagônicos. Focos de análise dos autores clássicos As diferentes abordagens teóricas persistem através da história. Mesmo quando os sociólogos concordam em relação ao tema de análise, muitas vezes fazem essa análise a partir de posições teóricas diferentes. As abordagens teóricas contemporâneas – o funcionalismo, abordagens do conflito e o interacionismo simbólico – têm conexões com Durkheim, Marx e Weber, respectivamente. Abordagens teóricas contemporâneas Funcionalismo: concebe a sociedade como um sistema complexo, cujas partes atuam juntas para produzir estabilidade e solidariedade. Deve-se investigar a relação de partes da sociedade entre si com a sociedade como um todo. Perspectiva do conflito: destacam a importância das divisões na sociedade. Concentram-se em questões de poder, desigualdade e luta. O interacionismo simbólico: direciona a atenção para os detalhes das interações interpessoais no contexto da vida cotidiana. Abordagens teóricas contemporâneas Concepções de sociedade do pensamento clássico: a) A sociedade é concebida enquanto um vínculo moral entre os indivíduos – Auguste Comte e Émile Durkheim. b) A sociedade é o espaço de exploração e a educação é reprodutora do sistema social – Karl Marx. c) A sociedade burocrática conduziu a educação para ser um veículo da racionalização – Max Weber. Abordagens teóricas clássicas e a educação como fenômeno social Auguste Comte (1798-1857) viveu em uma época marcada por grandes tensões sociais, geradas pelos desdobramentos da Revolução Francesa. A Revolução Industrial se encontrava em curso, transformando as relações sociais com a formação do operariado urbano e suas precárias condições de vida nas cidades. Os problemas sociais de sua época e a emergência de um pensamento racional conduziram Comte a formular as bases da Sociologia como ciência. Auguste Comte e a educação universal “Auguste Comte (1798-1857) foi um pensador preocupado com a formação do que considerava uma civilização pacífica, racional e científica. Nascido em Montpellier, uma pequena cidade do interior da França, viveu em Paris em uma época de crise e agitação política decorrentes da Revolução Francesa de 1789. Por isso a educação tem uma grande importância em seu pensamento social, como meio de formação de novas mentalidades necessárias para uma civilização de progresso e harmonia.” (PILETTI; PRAXEDES. Sociologia da Educação. São Paulo: Ática p. 15) Auguste Comte e a educação universal Para Comte, a sociedade industrial só pode se estruturar se cada indivíduo for educado para contribuir de forma útil em benefício do todo social. Cabe à educação a formação moral dos membros da sociedade para que cheguem a um consenso em que prevaleceria um estado de harmonia e ordem. Leia algumas frases de Comte: “A moral consiste em fazer prevalecer os instintos simpáticos sobre os instintos egoístas.” “A liberdade é o direito de fazer o próprio dever.” Auguste Comte e a educação universal Leia o texto a seguir: “Agora, classe, aprenderão a pensar sozinhos de novo. Aprenderão a saborear as palavras e a linguagem. Não importa o que digam: palavras e ideias podem mudar o mundo.” (John Keating, no filme Sociedade dos poetas mortos – 1989) A interpretação correta da frase acima é: a) Defende a educação moral de Auguste Comte. b) Mostra que a sociedade é um organismo social. c) Mostra como transmitir os valores e normas sociais. d) Concilia o positivismo de Comte com a liberdade. e) Se opõe aos princípios defendidos por Comte por defender a liberdade. Interatividade Leia o texto a seguir: “Agora, classe, aprenderão a pensar sozinhos de novo. Aprenderão a saborear as palavras e a linguagem. Não importa o que digam: palavras e ideias podem mudar o mundo.” (John Keating, no filme Sociedade dos poetas mortos – 1989) A interpretação correta da frase acima é: a) Defende a educação moral de Auguste Comte. b) Mostra que a sociedade é um organismo social. c) Mostra como transmitir os valores e normas sociais. d) Concilia o positivismo de Comte com a liberdade. e) Se opõe aos princípios defendidos por Comte por defender a liberdade. Resposta Émile Durkheim (1858-1917) se empenhou em transformar a educação em objeto de investigação científica. A problemática educacional é considerada um componente central de sua teoria sociológica. Durkheim foi profundamente influenciado pela concepção de sociedade e ciência de Auguste Comte. Acreditava na existência de um processo social evolutivo que conduziria a sociedade sempre para estágios mais avançados de desenvolvimento. Via muita semelhança entre a forma de organização da sociedade e o funcionamento dos organismos biológicos. Émile Durkheim: a educação como socialização e individuação A educação é vista por Durkheim como um fato social. Ele entende por fato social formas de agir e pensar, passageiras ou duradouras, que podem influenciar as condutas individuais de forma coercitiva. Os fatos sociais que são exteriores às vontades individuais. Basta observar que o comportamento das crianças não é espontâneo, mas ensinado pelo grupo à sua volta, que impõe valores, sentimentos e costumes, como os hábitos de higiene, alimentação, vestuário etc. Quando o processo de educação é bem-sucedido, a coerção que o grupo exerce sobre cada membro não é nem sentida, parecendo a todos que são hábitos naturais e espontâneos de cada um. Émile Durkheim: a educação como socialização e individuação Para Durkheim a educação é um instrumento da consciência coletiva, por meio do qual a sociedade socializa as novas gerações de acordo com os seus pressupostos morais, religiosos etc. Conceitua o termo educação como “a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine”. Émile Durkheim: a educação como socialização e individuação Nas sociedades modernas, a educação integra um conjunto de fatos sociais que promovem o processo de individuação dosseus membros, ou seja, a percepção de que são indivíduos livres e iguais aos demais indivíduos. A consciência coletiva nas sociedades industriais deve conduzir os indivíduos a se diferenciar dos demais na medida em que se intensifica a divisão do trabalho social. Deste modo, cada personalidade individual deve desenvolver habilidades específicas que a tornem capacitada para desempenhar uma função que contribua com o todo social. Émile Durkheim: a educação como socialização e individuação Nas sociedades modernas o indivíduo não se percebe como uma “célula de um organismo”, que deve desempenhar a sua função específica, mas primordial, para o bem-estar do todo. Defende que a educação possibilite à consciência coletiva vincular cada membro ao todo social, impedindo a desagregação social. Émile Durkheim: a educação como socialização e individuação O método de análise proposto por Durkheim para estudar as relações entre sociedade e educação é o funcionalismo. Tal enfoque teórico enxerga a sociedade como um organismo em que cada grupo social desempenha suas funções. A escola contribui para que as pessoas conheçam e aprendam o seu lugar na sociedade. Conclusão “O homem que a educação deve realizar em cada um de nós não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna, o seu equilíbrio.” (Durkheim, Educação e Sociologia, 1975) De acordo com o texto acima, o indivíduo deve ser educado para: a) A liberdade. b) A transformação social. c) A manutenção da sociedade. d) O socialismo. e) O individualismo. Interatividade “O homem que a educação deve realizar em cada um de nós não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna, o seu equilíbrio.” (Durkheim, Educação e Sociologia, 1975) De acordo com o texto acima, o indivíduo deve ser educado para: a) A liberdade. b) A transformação social. c) A manutenção da sociedade. d) O socialismo. e) O individualismo. Resposta Karl Marx (1818-1883) possui uma reflexão teórica que gerou inúmeras controvérsias ao longo da história. Marx concebia a sociedade moderna como uma totalidade complexa, de “múltiplas determinações”. No conjunto da vida social, a educação se constitui como um processo resultante, mas que influencia tanto as relações sociais entre os membros da sociedade quanto as suas condições materiais de vida. Karl Marx: sociedade, educação e emancipação Na obra Teses sobre Feuerbach (1845), Marx se coloca em uma perspectiva oposta aos autores positivistas como Comte e Durkheim, que concebiam a educação como um processo unilateral que torna os sujeitos individuais meros receptáculos de uma formação imposta pelo sistema social. Para Marx, as circunstâncias em que vivem os seres humanos influenciam na sua educação, mas estes transformam a educação herdada das gerações passadas e “o próprio educador deve ser educado”. Karl Marx: quem educa o educador? Marx concebe a educação não como algo pronto a ser imposto às cabeças vazias das novas gerações. Considera a educação como uma relação social que se estabelece entre os sujeitos de uma sociedade. Como a sociedade é um processo social em constante mutação, a educação é um elemento que deve ser considerado também em permanente estado de transformação. Karl Marx: a educação como relação social Para Marx, os homens são produto das circunstâncias, mas possuem a capacidade de modificar as circunstâncias em que vivem, pois a ação humana influencia os processos de transformação social. Marx não considerava a educação uma realidade externa que possui existência própria, mas uma relação social entre indivíduos e classes sociais. A educação é uma prática social que deve ser desenvolvida em combinação com as demais esferas da vida social. Karl Marx: concepção de homem Para Marx, a humanidade havia passado na história por vários modos de produção que podem coexistir em diferentes espaços geográficos em períodos históricos muito próximos. As comunidades primitivas, passando pelas sociedades antigas, nas quais era explorado o trabalho escravo, pelo modo de produção asiático, pelo feudalismo europeu, baseado na servidão, chegando ao capitalismo, fundamentado no trabalho assalariado e na propriedade privada dos meios de produção. Anuncia a possibilidade de surgimento do modo de produção socialista, que transforma em coletiva a propriedade privada. Karl Marx: os processos históricos Nos manuscritos econômicos e filosóficos de 1844, Marx afirma que é a propriedade privada que leva uma minoria dos seres humanos a se apropriar dos meios que devem estar à disposição de todos. O direito à propriedade é visto como a negação da propriedade para outrem; portanto, é sua alienação em relação aos meios que satisfariam as suas necessidades humanas. A propriedade privada transforma o trabalho humano em uma atividade desumana, uma vez que o trabalhador passa a executar uma atividade cujo resultado – os bens produzidos ou o lucro – pertencerá ao capitalista. O trabalhador exerce sua função apenas para satisfazer o interesse em receber salário, não pelo comprometimento com o trabalho. Karl Marx: propriedade privada e alienação A educação adequada às demandas da divisão do trabalho tende a confirmar a alienação, pois difunde entre os seres humanos uma consciência social parcelada ao reduzir o trabalhador às características de sua ocupação funcional, impedindo-o de realizar suas potencialidades humanas. A superação da alienação é vista como resultado da práxis, que significa uma ação consciente dos seres humanos para acabar com a alienação. Uma educação que critique a dimensão alienada do trabalho e da vida pública pode se constituir no primeiro passo para uma ação transformadora da condição de alienação em que a humanidade se encontra. Karl Marx: educação e alienação Para Marx era possível, por meio da educação, buscar melhores condições de vida para as classes populares. Marx via na escola uma ferramenta da classe dominante para impor as suas verdades e valores às populares. A escola piorava a situação de alienação daqueles que só podiam vender sua força de trabalho. Marx acreditava em uma escola que pudesse abrir os olhos das camadas operárias para as injustiças sociais. Portanto, Marx via a escola como mais uma ferramenta de manipulação das classes dominantes, que procuram impor suas verdades e valores. Karl Marx: educação e alienação O trabalho, que sempre foi o meio pelo qual o homem se relacionou com a natureza e com os outros homens, é individualmente percebido como algo sobre o qual o trabalhador não tem controle. O trabalhador foi separado, pelo capitalismo, do controle autônomo que exercia sobre o seu trabalho e também do fruto desse trabalho. O trabalho é então percebido pelo trabalhador como algo fora de si, que pertence a outros. A isso Marx dá o nome de: a) Ideologia. b) Mais-valia. c) Forças produtivas. d) Alienação. e) Meios de produção. Interatividade O trabalho, que sempre foi o meio pelo qual o homem se relacionou com a natureza e com os outros homens, é individualmente percebido como algo sobre o qual o trabalhador não tem controle. O trabalhador foi separado, pelo capitalismo, do controle autônomo que exercia sobre o seu trabalho e também do fruto desse trabalho. O trabalho é então percebido pelo trabalhador como algo fora de si, que pertence a outros. A isso Marx dá o nome de: a) Ideologia. b) Mais-valia. c) Forças produtivas. d) Alienação. e) Meios de produção. Resposta O cientista social alemão Max Weber (1864-1920) demonstrava uma grande preocupação com a dimensão racionalizadora da educação nas sociedades modernas, que tem conduzido ao “desencantamento do mundo”e à perda de valores transcendentais e fraternos nas relações humanas. Para Weber, a educação não escapava à tendência racionalizadora que singularizou a vida moderna no Ocidente. A sociologia weberiana se realizou como uma tentativa de compreender o sentido da ação social dos indivíduos. Max Weber: racionalização e burocratização O significado da ação social: é toda ação que o agente realiza tendo como referência a ação de outro agente social. Relação social: ocorre quando mais de um indivíduo age orientando suas ações para o mesmo objetivo, como o mercado, por exemplo. Ou seja, quando os indivíduos realizam suas ações compartilhando um motivo entre si ou tendo como referência um conjunto indeterminado de outros indivíduos. Max Weber: racionalização e burocratização Para Weber, a sociedade não é algo externo a nós. Os valores e normas que compartilhamos não pairam sobre nós, mas intermedeiam as nossas relações. Os valores e normas foram criados pelos seres humanos e podem ser mudados. As mudanças sociais que consolidaram as sociedades capitalistas – que necessitam de mão de obra especializada e bem treinada para trabalhar nos setores burocráticos do Estado e nas grandes empresas – conduziram a educação a perder seu sentido humanitário. Max Weber e a racionalização do Ocidente O processo de racionalização que ocorreu no Ocidente pode ser atribuído a uma mudança na conduta dos indivíduos, que aos poucos deixam de agir motivados pelo costume e pela tradição; deixam de agir pelo impulso, de modo apenas emocional e irracional; e também deixam de agir motivados por princípios éticos, morais e religiosos, passando a se orientar quase unicamente por objetivos estabelecidos de maneira racional, voltada à conquista de fins utilitários. Max Weber e a racionalização do Ocidente No livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, publicado em 1905, Weber afirma que o moderno capitalismo racional baseia-se não só nos meios técnicos de produção, mas também em determinado sistema legal e administrativo, orientado por regras formais e impessoais. O “espírito capitalista” se desenvolveu na medida em que sociedades inteiras passaram pelo processo educacional que considera que o trabalho deve ser executado como um fim absoluto em si, como uma vocação, e que o homem existe em razão do seu negócio, e não o inverso. Assim se constituem as motivações humanas que levaram à expansão do capitalismo. Max Weber e a racionalização do Ocidente O capitalismo se desenvolveu quando passaram a predominar as ações de tipo racional com relação a fins que permitem a busca de riqueza por meio de uma “organização capitalista permanente e racional” para a “procura do lucro, de um lucro sempre renovado” e seu uso como investimento de capital. A crescente racionalização conduz ao progressivo “desencantamento do mundo”, em que o indivíduo perde o sentido da própria vida ao romper com os vínculos comunitários em favor da acumulação individual da riqueza. Max Weber: racionalização e desencantamento A racionalidade finalista conduz a vida social a se subordinar a um aparato administrado burocraticamente por meio de normas racionais que tolhem a liberdade do indivíduo. O diploma universitário passa a ser visto como uma nova forma de estratificação social que antes era de responsabilidade dos títulos de nobreza e que, nas sociedades modernas, resulta em privilégios dos trabalhadores que ocupam posições de maior prestígio e remuneração. A quantidade de técnicos e funcionários com disciplina e competência especializada depende, pois, de exames que atestam suas qualificações. Max Weber: o mundo desencantado Os títulos educacionais passam a representar, para os seus detentores, possibilidades de alocações mais rentáveis e prestigiosas no mercado de trabalho. Os indivíduos procuram os sistemas educacionais não pela valorização dos conteúdos culturais da educação, mas sim dos títulos que lhes garantirão as credenciais para as carreiras burocráticas almejadas. Max Weber: o mundo desencantado Weber acredita que a escola não oprime nem emancipa os indivíduos, ela simplesmente os prepara para as funções necessárias à manutenção da ordem social capitalista. Max Weber: o mundo desencantado O tipo de ação social que conduziu à burocratização da vida social é: a) Ação social tradicional. b) Ação social afetiva. c) Ação social racional relacionada a fins. d) Ação social emocional. e) Ação social integral. Interatividade O tipo de ação social que conduziu à burocratização da vida social é: a) Ação social tradicional. b) Ação social afetiva. c) Ação social racional relacionada a fins. d) Ação social emocional. e) Ação social integral. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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