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Atuação do Assistente Social no Sistema Socioeducativo

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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER 
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL 
ALUNO : 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL E A PRÁTICA NO SISTEMAS 
SOCIOEDUCATIVOS: 
 CENTRO SOCIOEDUCATIVO DR. ZEQUINHA PARENTE 
SOBRAL CE. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL – CE 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL E A PRÁTICA NO SISTEMAS 
SOCIOEDUCATIVOS: 
 CENTRO SOCIOEDUCATIVO DR. ZEQUINHA PARENTE 
SOBRAL CE. 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à centro 
universitário internacional - UNINTER, como 
requisito parcial para a obtenção do título de bacharel 
em Serviço Social. 
 
Orientador: Profª. Solange Maria Pimentel 
 
 
 
 
 
 
SOBRAL – CE 
2022 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Primeiramente a Deus, por ter me iluminado e proporcionado 
conhecimento e garra durante este árduo e dedicado período, para finalmente 
concretizar este abençoado estudo de graduação. 
 À minha família: pelo amor e carinho. 
 Aos meus colegas e amigos, pela grandiosa amizade conquistada e a 
todos que me antecederam produzindo saberes que deram suporte a esta 
monografia. 
 Aos professores das tele aulas e aos tutores (de sala e eletrônico) pelas 
orientações e pelo total apoio e dedicação; e em especial, Orientadora Profª. MARIA 
ANDREA DIAS, e à tutora Renata Castro da Ponte, que com suas grandiosas 
sabedoria, atenção e dedicação, conduziram-me a chegar a esta conclusão. 
 E principalmente ao meu confessor, Grandioso Orientador e Mestre Jesus 
Cristo, que esteve ao meu lado, me iluminando e mostrando com sabedoria os 
melhores caminhos para concluir este trabalho! 
Obrigada por tudo! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A atuação do Assistente Social e a Prática no Sistemas 
Socioeducativos: Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente 
Sobral - CE. Trabalho de Conclusão de Curso de bacharel em Serviço Social – 
Universitário Internacional – UNINTER. 
 
RESUMO 
 
O fazer profissional, através da prática laboral, nos demanda certa reflexão, análise 
e avaliação permanente e frequente acerca das atribuições exercidas pelo 
profissional de Serviço Social. A intenção deste estudo é identificar as contribuições 
do profissional de Serviço Social nas práticas socioeducativas com os adolescentes 
em conflito com a lei. E objetiva, especificamente, estudar a cidadania da criança e 
do adolescente, contextualizando historicamente; debater o Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA e a legislação vigente a respeito do adolescente em conflito com 
a lei e o Sistema Socioeducativo no Brasil; entender a teoria da situação irregular, a 
teoria da proteção integral e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - 
SINASE; e, analisar a atuação dos profissionais de Serviço Social junto aos 
adolescentes que se encontram cumprindo as medidas socioeducativas, e mais 
especificamente aos que se encontram em unidade de acolhimento. 
 
 
Palavras-Chave: Serviço Social; Prática socioeducativa; Atuação profissional; 
Adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BESSA, João Paulo de Vasconcelos. A atuação do Assistente Social e a 
Prática no Sistemas Socioeducativos: Centro Socioeducativo Dr. 
Zequinha Parente Sobral – CE . Trabalho de Conclusão de Curso de bacharel 
em Serviço Social – Universitário Internacional – UNINTER. 
 
 
 
ABSTRACT 
Professional practice, through labor practice, demands some reflection, analysis and 
permanent and frequent evaluation about the duties performed by the Social Work 
professional. The purpose of this study is to identify the contributions of the Social 
Work professional in the socio-educational practices with the adolescents in conflict 
with the law. And specifically aims to study the citizenship of children and 
adolescents, contextualizing historically; discuss the Statute of Children and 
Adolescents - ECA and current legislation regarding adolescents in conflict with the 
law and the SocioEducational System in Brazil; understand the theory of irregular 
situation, the theory of integral protection and the National System of 
Socioeducational Care - SINASE; and, analyze the performance of Social Work 
professionals with adolescents who are complying with socio-educational measures, 
and more specifically those who are in acare unit. 
 
 
Key-words: Social service; Socio-educational practice; Professional performance; 
Teen. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social; 
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social; 
CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente; 
JTJ – Jurisprudência do Tribunal de Justiça; 
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social; 
MDH – Ministério dos Direitos Humanos; 
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; 
NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do SUAS; 
ONU – Organizações das Nações Unidas; 
PNAS – Política Nacional de Assistência Social; 
PNASE – Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo; 
SGD – Sistema de Garantia de Direitos; 
SINASE–Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo; 
SNDCA – Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; 
SUAS – Sistema Único de Assistência Social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Introdução............................................................................................................ 08 
Cidadania da criança e do adolescente: contextualizando historicamente. 14 
O estatuto da criança e do adolescente – ECA – e o sistema 
socioeducativo no brasil..................................................................................... 
25 
A atuação dos profissionais de serviço social junto aos adolescentes que 
se encontram cumprindo as medidas socioeducativas.................................. 
34 
Considerações finais........................................................................................... 38 
Referências............................................................................................................ 40 
Anexos ....................................................................................................... 44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 A realização de visitas e no Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente- 
Sobral ,CE e pesquisa em geral foi com intuito obter informações sobre a atuação 
de assistentes sociais no sistema socioeducativo . 
 Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente atualmente atende o público 
adolescente masculino entre 12 e 21 anos, autor de ato infracional, para o 
cumprimento de medida socioeducativa de internação provisória no prazo de até 45 
dias, aguardando decisão judicial. Por ressaltar-se que a internação provisória não 
se estabelece como medida socioeducativa, mas como processo cautelar. Durante o 
período, o socioeducando participa de ações pedagógicas que englobam as 
atividades: educação, saúde, assistência psicossocial, profissionalização, arte, 
cultura, esporte, lazer e religiosidade. 
 Através de estratégias multidisciplinares, o centro busca ser referência 
estadual em atendimento socioeducativo pautado em um trabalho coletivo que visa a 
participação efetiva do adolescente, da família, comunidade e da rede de apoio, 
fortalecendo o protagonismo juvenil na sociedade. 
 Estimulado pela provocação da “Questão Social” no Brasil, 
manifesta-se a necessidade de um profissional qualificado para intervir em suas 
manifestações. Desta maneira, é institucionalizado o Serviço Social no Brasil no ano 
de 1936, vindo como uma profissão hábila adequar o indivíduo à ordem social 
predominante vigorante, como uma maneira de disciplinar e controlar os chamados 
 “desajustados sociais”. 
 
 Vale frisar que neste período a “Questão Social” era tida como “caso 
de polícia”, especialmente quando se referia à questão do “menor infrator”. Dessa 
forma, as políticas iniciais elaboradas na República direcionadas a assistência a esta 
população foram os “Códigos de Menores”, sendo o primeiro originado em 1927, 
possuindo uma natureza repressora e punitiva, percebendo os “menores” como 
“pequenos adultos”; e, em 1979, entra em vigor o novo “Código de Menores”, no 
entanto, com iguais atributos do primeiro. 
 É válido, então, perceber que, só a partir da promulgação do 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no ano de 1990, se consegue perceber 
uma concreta alteração na abordagem da questão da infância e adolescência no 
país. 
 
 
O ECA vem então apontar novas concepções e conteúdos a serem adotados 
frente à população infanto-juvenil, impondo uma ruptura com o modelo 
assistencial-repressor e a construção de novos referenciais e novas práticas 
(CFESS Manifesta, 2010, não paginado). 
 
 Apenas com a publicação do ECA, e de sua admissão da “Doutrina 
de Proteção Integral” que as crianças, adolescentes e os jovens começam a serem 
percebidos enquanto sujeitos de direito. Desta forma, este estudo é referente à 
análise da laboração do Profissional de Serviço Social com adolescentes egressos 
de medidas socioeducativas. 
 O interesse pela temática se deu através das minhas vivências em meu 
ambiente de trabalho, o “Centro Socioeducativo de Sobral”, onde pude perceber que 
os assistentes sociais dispõem de grande integração nos campos da política de 
atendimento socioeducativo, bem como na assistência de egressos de medidas 
socioeducativas. 
 Em virtude da concepção histórica da luta pela conquista dos direitos 
das crianças e adolescentes, quando estes realizam um ato infracional, nestes são 
aplicadas medidas socioeducativas que podem ser através de: advertência, 
obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade 
assistida, regime semiliberdade ou regime de internação. 
 
Medidas estas que devem respeitar a integridade física do adolescente, o 
tratando com dignidade e respeito e garantindo para que seus direitos não 
sejam violados, tendo por objetivo: a responsabilização do adolescente 
quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível 
incentivando a sua reparação; a integração social do adolescente e a 
garantia dos seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de 
seu plano individual de atendimento; e a desaprovação da conduta 
infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo 
de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites 
previstos em lei (Lei 12.594, § 2o) (CARDOSO; OLIVEIRA, 2016, p. 29). 
 
 Contudo, é somente com a homologação do Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (SINASE), no 
ano de 2006, que se instaura o cumprimento das medidas socioeducativas e, assim, 
o Brasil passa a dispor de uma política exclusiva direcionada a assistência aos 
jovens executores de ato infracional, reportando-os enquanto indivíduos em fase de 
desenvolvimento e assegurando seus direitos como cidadãos. 
 
 
 
O adolescente deve ser alvo de um conjunto de ações socioeducativas que 
contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e 
solidário, capaz de relacionar melhor consigo mesmo, com os outros e com 
tudo que integra a sua circunstância e sem reincidir na prática de atos 
infracionais (SINASE, 2006, p. 51). 
 
 A atuação do assistente social é estabelecida a partir dos procedimentos 
teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operacionais apanhados na 
conjuntura histórica e política da elaboração e da reelaboração na/da relação capital-
trabalho. 
 Para a argumentação aqui idealizada é essencial contextualizar que o 
Assistente Social que labora em um centro socioeducativo compõe uma equipe de 
trabalho multidisciplinar, e praticam atuações interdisciplinares juntamente as 
demais categorias profissionais dos campos de estudo da Psicologia, da Terapia 
Ocupacional, da Pedagogia, do Direito e da Enfermagem. 
 Para além da atividade de caráter interdisciplinar com esta equipe de 
profissionais, é imprescindível uma articulação cotidiana do profissional de Serviço 
Social com os agentes de segurança socioeducativos, auxiliares educacionais, 
professores, diretores e demais profissionais do centro socioeducativo. 
 Observando o ambiente sócio ocupacional de exercício do centro 
socioeducativo, é possível dizer que o Assistente Social possui competências 
específicas e especializadas no seu cotidiano profissional e, possui, ainda, 
atribuições conjuntas com os outros campos. 
 Perceber todos esses aspectos com mais minunciosidade justifica a 
escolha do tema e a proposta deste estudo. 
 A metodologia utilizada no trabalho se constituiu na realização de 
pesquisa bibliográfica, de documentos e materiais de imprensa publicados sobre o 
trabalho do profissional de Serviço Social no âmbito socioeducativo, tendo como 
abrangência o Brasil. 
 A realização da pesquisa bibliográfica permite melhor direcionamento da 
pesquisa, fornecendo informações que nos posicionarão perante 
o problema e sobre instituições. Pudemos verificar ainda a legislação pertinente ao 
tema, assim como as estatísticas e estudos já realizados. 
 A questão referente às especificações do trabalho do profissional de 
Serviço Social aparenta-se simples, mas não é bem assim. Refere-se a um assunto 
que compreende as dificuldades efetivas e provenientes das relações laborais, e 
 
 
ainda se apresenta fundamental para que não deixemos cair no campo do 
esquecimento o movimento sócio histórico da profissão. 
 O fazer profissional, através da prática laboral, nos demanda certa 
reflexão, análise e avaliação permanente e frequente acerca das atribuições 
exercidas pelo profissional de Serviço Social. 
 Posto que o desempenho desse exercício profissional implica numa 
habitualidade que origina mudanças frequentes e modificações súbitas das 
convivências e relações sociais onde as ideologias, os direitos e os deveres, os 
valores e as culturas do ser social impõem demandas e desafios que exigem 
dissoluções e luta. Assim: 
 
(...) a necessidade crescente de ter clara a teoria social que informa a 
apreensão da empiria e determina o tipo e os limites da análise e da 
intervenção sobre o real na prática dos profissionais, ou seja, de examinaros 
princípios e as estruturas compreensivo-explicativas que norteiam a sua 
percepção da realidade. Não se trata, portanto de desenvolver um referencial 
teórico, mas de praticar uma dimensão teórica: de submeter à 
crítica teórica a abordagem do real, os instrumentos e as técnicas (Baptista, 
2009, p. 30). 
 
 Com suporte nesse ponto de vista, ressaltamos questões concernentes 
ao trabalho do Assistente Social com adolescentes em cumprimento de medida 
socioeducativa: 
 
É necessário que o (a) Assistente Social seja um estudioso social, ou seja, é de 
suma importância a continuidade dos estudos em estabelecimentos 
acadêmicos, mas, aqui, damos ênfase à prática sistematizada dos estudos da 
vida social no decorrer de toda sua prática profissional. O que implica na 
necessidade de que o (a) Assistente Social seja leitor dos conhecimentos que 
emergem das múltiplas expressões da vida cotidiana. É importante ressaltar 
que o estudo, per si, não garante a efetivação de uma prática qualificada, mas 
possibilita o domínio e o embasamento do (da) profissional para lidar com a 
realidade, e também, paraconstruir estratégias que possibilitem a 
instrumentalidade de suas ações (Guerra, 2012, p.63). 
 
Assim como Netto (1996) afirma em relação ao profissional técnico e o 
profissional intelectual. Netto (1996) explana que o assistente social pode ser um 
profissional: 
 
(...) técnico treinado para intervir num campo de ação determinado com a 
 
 
máxima eficácia operativa ou um intelectual que, habilitado para operar numa 
área particular, compreende o sentido social da operação e a significância da 
área no conjunto da problemática social (Netto, 1996, p.125). 
 
(...) Em resumo, confrontam-se dois “paradigmas” profissionais: o técnico bem 
adestrado que vai operar instrumentalidade sobre as demandas do mercado de 
trabalho tal como elas se apresentam ou o intelectual que, com qualificação 
operativa, vai intervir sobre aquelas demandas a partir da sua compreensão 
teórico-crítica, identificando a significação, os limites e as alternativas da ação 
focalizada (Netto, 1996, p. 125). 
 
 Encontram-se vários campos do conhecimento com interpretações que 
confirmam tal entendimento e alcance às questões das formas de vida do 
adolescente. Trata-se de pontos que são referenciados e que se referenciam para a 
efetivação de algum ofício em razão das suas particularidades e do seu grau de 
abrangência. Nesse aspecto, os Assistentes Sociais são os: 
 
(...) profissionais que chegamos o mais próximo possível da vida cotidiana das 
pessoas com as quais trabalhamos. Poucas profissões conseguem chegar tão 
perto deste limite como nós. É, portanto, uma profissão que nos dá uma 
dimensão de realidade muito grande e que nos abre a possibilidade de 
construir e reconstruir identidades – a da profissão e a nossa – em um 
movimento contínuo (Martinelli, 2006, p. 02). 
 
 Dessa forma, é importantíssimo que o profissional de Serviço Social 
domine os fatores administrativos, políticos e técnicos que embasam a efetivação da 
medida. 
 
E ainda que as atividades desenvolvidas com os adolescentes em 
cumprimento de medida socioeducativa abarquem as suas histórias de vida, a 
família, a comunidade, os desejos e os valores do adolescente (Losacco, 2004). 
 
 Assim como também a conexão e articulação com as organizações e 
instituições que integram o Sistema de Garantia de Direitos - SGD para a satisfatória 
efetividade das atividades prestadas, combatendo, assim, a “divisão do mundo” e a 
“repartição da vida”, ou seja, evitando, assim, que o adolescente se sinta excluído de 
seu próprio movimento real e vital. 
 
 Enfim, a complexidade e exigência da atividade profissional deveria ser 
 
 
proporcional ao grau de qualificação do trabalhador, como no trabalho com 
adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. E ainda, o nível de 
qualificação do profissional deveria ser proporcional a sua remuneração, mesmo 
quando se sabe que ainda não é essa a realidade em que a profissão se encontra, 
quando ainda existe detrimento à precarização do vínculo e das condições de 
trabalho. 
 
 Dessa forma, frisa-se a intenção deste estudo em identificar as 
contribuições do profissional de Serviço Social nas práticas socioeducativas com os 
adolescentes em conflito com a lei. 
 
Em suma, o presente trabalho de conclusão de curso objetiva, 
especificamente estudar a cidadania da criança e do adolescente, contextualizando 
historicamente; debater o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e a 
legislação vigente a respeito do adolescente em conflito com a lei e o Sistema 
Socioeducativo no Brasil; entender a teoria da situação irregular, a teoria da 
proteção integral e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE; e, 
analisar a atuação dos profissionais de Serviço Social junto aos adolescentes que se 
encontram cumprindo as medidas socioeducativas, e mais especificamente aos que 
se encontram em unidade de acolhimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. CIDADANIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: 
CONTEXTUALIZANDO HISTORICAMENTE. 
 
 Esse capítulo tem como objetivo contextualizar a noção de cidadania, 
bem como mostrar a relevância e importância da história no que se refere à 
conquista dos direitos da criança e do adolescente. 
 Descreve de que forma a primeira infância era vista pela sociedade das 
épocas passadas, e como são entendidas atualmente, como indivíduos portadores 
de direitos garantidos por leis que os defendem e os amparam. 
 Dessa forma, é possível analisar esses casos tão problematizados 
teoricamente nos tempos atuais: A (re) construção das identidades sociais e das 
subjetividades infantis. 
 Não obstante, este procedimento de (re) construção e (re) 
institucionalização da infância, embora tenha sido fundamental na idealização de 
consensos sobre os direitos das crianças e adolescentes, tem elevado os elementos 
e as condições de exclusão das mais novas gerações frente aos direitos sociais e da 
cidadania. 
 Cidadania, Segundo o Dicionário Aurélio, "É a qualidade ou estado do 
cidadão", entende-se por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos 
de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este". 
 Ou seja, cidadania é o conjunto dos direitos políticos que goza um 
indivíduo e que lhe permite intervir na direção dos negócios públicos do Estado, 
participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua 
administração, seja ao votar, seja ao concorrer a cargo público. 
 A cidadania é substancial para a vida em sociedade, já que sendo 
conhecedor de seus direitos e de seus deveres e responsabilidades, o indivíduo é 
provido de conhecimentos que favorecerão no seu desenvolvimento, sendo sabedor 
de que deve agir de forma efetiva buscando soluções para os problemas da vida em 
coletividade. 
 De acordo com a Constituição Brasileira, todo cidadão tem direitos 
civis, políticos e sociais assegurados (LOPES, 2008). 
 Comumente confundem-se as noções de cidadania com as lutas pela 
busca da efetivação dos direitos humanos. 
 Porém, a cidadania está em constante dinamismo, pois está 
permanentemente em construção através das lutas por maiores e mais efetivos 
 
 
direitos, liberdade, melhores garantias, tanto individuais quanto coletivas, que não se 
contentam em meio às dominações do Estado, de outras instituições ou pessoas 
que não desistem de opressões e de injustiças contra os menos favorecidos. 
 Contudo, a noção de cidadania presume também deveres, onde o 
indivíduo cidadão deve possuir consciência de suas responsabilidades e obrigações 
enquanto parte integrante de uma sociedade, e tem por tarefa considerar os 
interesses coletivos frente às lutas por melhores condições de vida política e social e 
assim pode-se chegar a um objetivo final que é o coletivo, ou seja, a justiça, em seu 
sentido mais amplo, que favoreça o bem comum da sociedade. (BENEVIDES, 1998) 
 Estabelecida pelos princípios do Estado democrático, a cidadania é 
constituída na gênese dos espaços e movimentos sociais e na definição de 
instituições para a expressão política, remetendo em conquistas políticas e também 
sociais, nas quais se apresenta proporcionando ao indivíduo a possibilidade de 
participar e opinar, tendo voz ativa e altiva na vida e no governo de seu povo. 
 Cada vez mais exigidos e reivindicados pela sociedade, os direitos 
dos cidadãos estão nitidamente assegurados pela constituição. 
 E, como bem nos aconselha Benevides (1998), para entendermos e 
lutarmos por questões que dizem respeito à cidadania e sua ampliação deverão 
prosseguir de acordo com o contexto histórico. 
 Por se constituir uma ideia política por excelência, a cidadania está 
fundamentalmente ligada a decisões políticas e não a valores universais. 
 
Um governo pode, casojulgue necessário, alterar de forma radical as 
prioridades no que se refere aos direitos e aos deveres dos cidadãos; pode 
modificar o código penal no sentido de alterar punições/sanções; pode 
modificar o código civil no sentido de equiparar direitos entre homens e 
mulheres, pode modificar o código de família no que diz respeito aos direitos e 
deveres dos cônjuges, na relação conjugal, em relação aos filhos, em relação 
um ao outro. Pode estabelecer deveres e direitos por um 
determinado período, por exemplo, àqueles relativos à prestação do serviço 
militar. Tudo isso diz respeito à cidadania (BENEVIDES, 1998, p.4). 
 
 Não se configurando como universal, o direito a cidadania é, direta e 
especificamente, dos membros de uma determinada ordem jurídico-política. 
 
No entanto, em muitos casos, os direitos do cidadão coincidem com os direitos 
humanos, que são os mais amplos e abrangentes. Em sociedades 
democráticas é, geralmente, o que ocorre e, em nenhuma hipótese, direitos ou 
 
 
deveres do cidadão podem ser invocados para justificar violação de direitos 
humanos fundamentais (BENEVIES, 1998, p.4). 
 
 Já nas sociedades de Estado democrático em que vivemos atualmente 
no chamado “mundo desenvolvido”, a efetivação dos direitos humanos, de certa 
forma, está incorporada à vida política, já que passam a se agrupar no conjunto de 
valores do povo de uma determinada nação. 
 Mas, como bem nos alerta Benevides (1998), acontece que muitas vezes 
nos países mais desenvolvidos é que se mais violam os direitos humanos, onde se 
encontram grupos de pessoas que são marcados pela discriminação, pelo 
preconceito e pelas mais variadas formas de racismo e intolerância, é que a ideia de 
direitos humanos permanece incerta. 
 Assim sendo, é imprescindível que atualmente em nosso país possamos 
fixar os direitos humanos no seu devido lugar. 
 Os cidadãos mais jovens não vivenciaram a ditadura militar, contudo é 
praticamente impossível que não se tenha ouvido falar desse histórico movimento 
pela busca e defesa dos direitos humanos principalmente para aqueles que estavam 
sendo perseguidos por suas convicções políticas. 
 E é a partir daí que se dá início ao reconhecimento de que aquele povo 
perseguido era provido de direitos invioláveis, mesmo que tenha sido julgado e 
apenado, permanecia portador de seus direitos garantidos pelos Direitos Humanos, 
para sua devida proteção e defesa. 
 A cidadania plena é fragmentada em três direitos, sendo eles: 
Direitos civis, políticos e sociais. Para ser considerado um cidadão pleno de fato, 
este teria que constituir os três direitos. 
 Os indivíduos que possuíam apenas alguns desses três direitos 
seriam considerados cidadãos incompletos e os sujeitos que não possuíam nenhum 
dos direitos não seriam cidadãos, ou seja, eram excluídos da vida social. 
 Direitos civis são aqueles primordiais como a vida, a liberdade, a 
propriedade, a igualdade perante a lei. Eles se constituem na garantia de ir e vir, e 
de escolhas e manifestações de pensamentos e de respeitos à inviolabilidade do lar. 
(CARVALHO, 2002) 
 Nos tempos atuais é muito comum nos depararmos com críticas no 
que se refere a real cidadania de crianças e de adolescentes, vista muitas vezes 
como se fosse uma cidadania assegurada no papel, já que não logrou êxito para 
atuar operando mudanças nas práticas cotidianas dos que compõem a primeira 
infância. 
 
 
 É comum, também, que o tratamento desta parcela da população 
ainda esta vinculada à noção de objetos de e para intervenção. 
 Vale ressaltar o fato de que a lei tem uma função educativa e 
instrutiva: Constitui direitos quando estes não existem de fato, direcionando nossas 
ações aos critérios instituídos pela lei. 
 Podemos afirmar que assegurar a cidadania para nossas crianças e 
adolescentes, reconhecendo o caráter que é particular desta forma de cidadania, é 
imprescindível, já que, não assegurando esse tipo de cidadania, estaremos indo 
contra o que rege e estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, e 
ainda, pela doutrina da proteção integral, o que impossibilitaria qualquer esperança 
de mudança da realidade. 
 
Na década de 1990, como parte de um processo alavancado ainda nos anos 
1980, a noção de marginalidade foi deixada de lado pela maioria dos autores 
em favor da expressão exclusão social. A noção de exclusão social ganhou 
relevo nas reportagens, nas Organizações Não Governamentais (ONGs), 
voltada para esta questão, nos partidos políticos e governos. (PEREIRA, 2011) 
Giddens no seu livro sociologia relata que desde o início da sua obra, procurou 
trabalhar com o conceito de modernidade aceitando a inevitabilidade da 
diferenciação social. Já na sua crítica contemporânea ao materialismo histórico 
vai retrabalhar o problema da diferenciação social e da sua relação com a 
perda do controle dos indivíduos sobre as suas relações sociais a partir do 
conceito que irá se tornar central na sua obra, o conceito de distanciamento 
espaço-temporal. Também fala sobre “a estruturação de qualquer sistema 
social, grande ou pequeno, ocorre no tempo e no espaço e, ao mesmo tempo, 
coloca o tempo e o espaço entre parênteses” (GIDDENS, 2005, p.15). 
 
 Retomando o estudo para o recorte do trabalho, ou seja, o trabalho de 
reintegração social de jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, 
Giddens (2005, p.12) afirma: 
 
A exclusão social pode ser definida como uma combinação de falta de meios 
econômicos, de isolamento social e de acesso limitado aos direitos sociais e 
civis, representando uma acumulação de fatores sociais e econômicos ao 
longo da vida cotidiana que são caracterizadas por padrões de educação e de 
vida, saúde, violência, desigualdade social, miséria, injustiça, exploração social 
e econômica. A exclusão social está relacionada a um processo histórico pela 
relação de impacto da pessoa humana em sua própria individualidade, de 
maneira que a exclusão acontece em grupos, ambientes e situações, nas 
quais, quem estar fora das margens estipuladas pela sociedade, sem 
possibilidade de participação é um ser excluído do social. 
 
 
 
 Caracterizada por ser um problema que se perpetua por longos 
processos históricos, a exclusão social encontra-se cada vez mais distante de ser 
compreendida e amenizada, quando vivemos o grande avanço das tecnologias e da 
própria sociedade em si. 
 
Os que não conseguem acompanhar essa evolução (por uma série de 
fatores) acabam excluídos socialmente. 
 
Embora as evoluções históricas da sociedade tenham contribuído de 
forma fundamental para o alcance de conquistas significativas na diminuição das 
desigualdades sociais, muitos aspectos da exclusão continuaram proporcionando 
diferenças sociais, econômicas e políticas dentro da sociedade. 
 
 O conceito exclusão é demasiadamente complexo, dentro do qual 
podem ser identificadas várias categorias de desigualdades. 
 
Enfim, a inclusão social acontecerá quando, a partir de ações em 
movimentos coletivos, os até então excluídos, podem resgatar sua dignidade e 
outros direitos assegurados como: Emprego, renda, acesso à moradia decente, 
educação, saúde e outros serviços, mobilizando, dessa forma, a população a 
assumir suas responsabilidades sociais. 
 
 Uma leva de incertezas sociais faz com que os indivíduos busquem uma 
identidade de pertencimento e de compartilhamento com um grupo, sem o qual os 
indivíduos não conseguem encontrar o “sentido da vida”. (RATTNER, 2002) 
 
 Lendo os autores que estudam as conquistas no que se refere aos 
direitos da criança e do adolescente no Brasil, compreende-se que a infância é uma 
fase da vida humana que deve ser desfrutada pela criança e respeitada por todos. 
Fase essa que durantemuitos anos foi vista de forma contrária, sendo ignorada. 
 
 
 O referido estudo parte do pressuposto de que os direitos de todas as 
crianças e adolescentes devem ser protegidos e assegurados, bem como a sua 
 
 
integridade e as atividades que lhes possibilitem uma formação humana com 
dignidade. 
 
 A fim de entendermos a atual situação em que se encontram as crianças 
e os adolescentes no Brasil, é essencial que reconstruamos a analisemos os fatos 
históricos de lutas e conquistas que fizeram com que o cenário atual esteja 
exatamente da forma como se encontra. 
 
 Como bem nos apresenta Paganini (2011) traduzindo o autor Veronese 
(1999), na época do Brasil colônia as crianças eram tidas como “seres 
indisciplinados”, eram vistas como indivíduos desprovidos de direitos, as que viviam 
em extrema pobreza e desigualdade social não possuíam opções nem meios de sair 
da pobreza. Para ganhar dinheiro, trabalhavam na marinha. 
 
 No período imperial, à constituição de 1824 não demonstrou 
preocupação nem atenção às crianças, que eram tidas como marginais e eram 
submetidas ao poder policial. 
 
 Além do mais, não tinham direito de escolha, já que a sociedade as 
considerava seres que não possuíam condições de reivindicar seus direitos e 
poderiam ser controladas por todos. (VERONESE, 1999 apud PAGANINI, 2011). 
 
Com a proclamação da república e a abolição da escravidão, crianças 
circulavam pelas cidades em busca de comida, casa, na total miséria. Porém, 
estas eram tidas como “baderneiras”, ou seja, a presença da pobreza 
incomodava a classe alta, pois tais crianças traziam consigo a “criminalidade”, 
furtando a beleza e a paz social (CUSTÓDIO, 2009, p.14 apud PAGANINI, 
2011, p.5). 
 
 Convenções também tiveram seu papel na fomentação de medidas que 
colocassem crianças e adolescentes em situação que merecia cautela e indo contra 
toda cultura do trabalho, da exploração desses sujeitos. 
 
 A convenção de 1989 em seus artigos reconhece que toda criança tem 
direito a vida, e que deve ser assegurado a elas a sobrevivência e seu 
desenvolvimento, em especial seu art. 32, enfatiza que: 
 
 
 
l Os estados partes reconhecem o direito da criança de estar protegida contra a 
exploração econômica e contra o desempenho de qualquer trabalho que possa 
ser perigoso ou que possa interferir em sua educação ou que seja novo para 
sua saúde ou para seu desenvolvimento físico, mental, moral ou social. 
ll Os estados partes adotarão medidas legislativas , administrativas sociais e 
educacionais com vistas a assegurar a aplicação do presente artigo . Com tal 
proposito e levando em consideração as disposições pertinentes de outros 
instrumentos internacionais os estados partes decidirão em particular. 
a – Estabelecer uma idade ou idades mínimas para admissão de empregos. 
b- Estabelecer regulamentação apropriada relativa a horários e condições de 
empregos. 
c – Estabelecer penalidades ou outras sanções apropriadas a fim de assegurar 
o cumprimento efetivo do presente artigo. 
 
 No ano de 1889, com a proclamação da República, e em consequência 
da Abolição da escravidão, começou então um processo de urbanização, e por todo 
esse tempo muitas crianças e adolescentes ficaram abandonados, já que por causa 
do grande número de escravos, muitos não tinham para onde ir e nem possuíam 
lugar para morar. 
 
 Abandonados nas ruas buscavam formas de ganhar algum para 
sobreviver, aumentando consideravelmente o número de crianças nas ruas. 
(GIROTO, 2009). 
 
 No geral, como afirmam os autores estudados, quando as pessoas 
vieram da zona rural para a cidade e, ao chegarem, não tinha emprego para todos, 
começaram a construir suas casas em áreas um tanto afastadas do centro da 
cidade, e a pedir esmolas nas ruas, o que acumulou uma considerável expressão da 
pobreza na cidade; o que não deveria ser notado, já que essas pessoas eram 
consideradas “marginais e perturbadores da sociedade”, e assim os governantes 
tinham que tomar soluções para amenizar essa situação “constrangedora” para a 
sociedade. 
 
 Em conseguinte, com a finalidade de “defender a sociedade” e, 
sobretudo, para resolver essa problemática: 
 
Foi aprovado o código penal da República inserindo a criança num âmbito 
criminal, reduzindo sua condição de marginal, a pessoa sem garantia de 
direitos. Essa situação pressionou o Estado a tomar algumas iniciativas, então 
 
 
se criou os tribunais especiais e as casas correcionais para menores com o 
objetivo de corrigir o mau comportamento dos menores e diminuir a 
marginalidade, portanto, se inicia a discussão de um novo método de 
assistência à infância baseada na ciência médica, jurídica e pedagógica 
(GIROTO, 2009, p.89). 
 
 A partir de então paulatinamente foi acontecendo a percepção de que a 
infância é ma etapa da vida do ser humano em desenvolvimento, porém, esse 
reconhecimento não corroborou em uma imediata valorização da criança e do 
adolescente como partes elementares da sociedade. Por outro lado, essa percepção 
acarretou uma separação radical das classes, quando privilegiavam as crianças da 
elite. 
 
Através do reconhecimento de uma identidade própria e particular, que se 
apresentou perante os demais segmentos estigmatizados como órfãos, 
expostos e eram melhores tratados na sociedade por serem de uma família 
desenvolvida, pois aqueles que eram pobres não tinham os mesmos acessos e 
importância para sociedade (MAUAD, 2000, apud PAGANINI, 2011, p.23). 
 
 Durante esse período o país tinha uma idealização, a seguinte: A criança 
deveria ser o futuro do país. 
 
 Para alcançar tal objetivo, necessitava reparar seus comportamentos e 
condutas para que só assim pudessem tornar-se adultos de bem. 
 
Logo, o Estado com base em tal objetivo acabou construindo uma prática de 
intervenção sobre a criança pela via da criminalização. Assim, nesses termos, 
em 1927 foi aprovado o Código de Menores, que inseriu o Direito do Menor no 
ordenamento jurídico brasileiro (VERONESE, 1999, apud PAGANINI, 2011, 
p.24). 
 
 O segundo Código de Menores nasceu no ano de 1979, ainda anterior ao 
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, porém já nasceu em defasagem para 
o aquele tempo, já que naquela época existia o dia Internacional da Criança, que era 
comemorado através de um movimento mundial. 
 
 Mobilização essa que objetivava propagar atenção aos direitos das 
crianças e adolescentes, porém, esses direitos não eram devidamente explicitados 
na legislação do código de menores feito em uma época de manifestações políticas 
 
 
e de bem estar do menor, que na verdade representava os interesses militares e não 
das crianças e adolescentes. 
 
 Não trazendo mudanças na realidade das crianças, já que as mesmas 
permaneciam submetidas ao poder judiciário, tanto a política nacional de bem estar 
do menor quanto o código de menores entraram em decadência, fazendo nascer, 
assim, a aprovação do ECA na década de 1990. 
 
 Até que fosse aprovado o ECA, os Códigos de Menores de 1927 e de 
1979 (durante 63 anos) não tiveram alterações significativas desde sua criação. 
Ficando a indagação: como é possível que esses códigos permanecerem por tanto 
tempo em vigor sem nenhum avanço social ou jurídico? 
 
Podemos supor que esse silêncio permaneceu por interesses políticos, 
institucionais e governamentais daquela época e assim esse silêncio foi 
rompido e houve o fim dos códigos de menores, que historicamente agiam em 
contradição a democracia e em discordância com os princípios individuais do 
ser humano (OLIVEIRA, 2005, p. 96). 
 
 Duas críticas feitassobre o código de menores foram predominantes 
para sua decadência: 
 
A primeira era que as crianças e adolescentes eram chamados de forma 
preconceituosa, “de menores”, e eram submetidos ao poder policial por se 
encontrar em situação irregular no qual não tinham controle da situação, pois 
era ocasionada pela pauperização da família e pela falta de amparo político; a 
segunda era que as crianças eram privadas de sua liberdade e acabavam 
sendo apreendidas sem provas por atos infracionais e não tinham direito de 
defesa, diante dessa situação, era considerada a criminalização da pobreza 
(OLIVEIRA, 2005, p.98). 
 
 Assim surge o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), respondendo a 
extinção histórica do código de menores e do código de 1979. 
 
 Dessa forma, o estatuto é “filho” de uma história de lutas e conquistas 
pela garantia dos direitos da infância. 
 
 Neste sentido, o direito da criança e adolescentes deixa de ser um direito 
menor tornando-se um direito semelhante ao do adulto. (PAGANINI, 2011) 
 
 
 
 Um conjunto de normas disciplinadoras dos direitos básicos 
fundamentais das crianças foi trazido pelo estatuto, que objetivava implantar um 
sistema de garantias de direitos. 
 
 Tomando para si a responsabilidade de assegurar, garantir e efetivar os 
direitos fundamentais de crianças e adolescentes, não devendo mais agir como 
anteriormente, usando de meios de repressão e de força, mas com políticas públicas 
de atendimento, promoção, proteção e justiça. 
 
Com este instrumento de proteção da infância, a Organizações das Nações 
Unidas - ONU enfatiza a importância de tornar universal a igualdade às 
questões relativas aos direitos da infância e juventude tendo relação com o 
ECA de resgatar juridicamente a cidadania e atenção universalizada a todas as 
crianças e adolescentes, e respeitar as normativas internacionais (PAGANINI, 
2011, p.102). 
 
 Agora a criança é tida como sujeito de direitos e é considerada prioridade 
absoluta, fazendo com que se intensificassem as ações tanto no âmbito nacional 
quanto na esfera internacional para a promoção e respeito dos direitos da criança à 
proteção. 
 
 As iniciativas do governo do Brasil refletem nas políticas públicas, 
gerindo efeitos importantes que vêm se somando nesse processo de enfrentamento. 
 
 O ECA garante que as crianças e os adolescentes são portadores de 
direitos segundo a Constituição, protegido de qualquer tipo de exploração. 
 
 E ainda assegura como direito da criança e do adolescente estudar, 
brincar e exercer outras atividades que favoreçam seu desenvolvimento. 
 
 De acordo com art.3º, art.4º, art.5ºe art.6º do ECA fica estabelecido que: 
 
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais da pessoa 
humana, sem perda da proteção integral de que trata a lei, sendo assegurando 
a criança e adolescente, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e 
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral e 
social, em condições de liberdade e de dignidade. 
 
 
 
 Deixando claro e explícito que criança nenhuma será alvo de qualquer 
forma de violência, discriminação, negligência, crueldade, opressão ou exploração, 
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos 
fundamentais. 
 
 Na interpretação desta lei será levado em conta que é dever da família, 
da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar, com prioridade, a 
efetivação dos direitos fundamentais como à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, o esporte, o lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, o respeito, 
à liberdade e à convivência familiar e comunitária a criança e ao adolescente. 
 
 Em resposta ao que o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura, o 
Ministério da Cidadania também desenvolve ações inerentes à proteção do indivíduo 
dentro da sociedade, começando pela assistência social, que é dever do Estado e 
direto de todo cidadão que dela necessitar. 
 
 Entre os principais pilares da assistência social no Brasil estão a 
Constituição Federal de 1988, que dá as diretrizes para a gestão das políticas 
públicas, e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993, que estabelece os 
objetivos, princípios e diretrizes das ações. 
 
 A LOAS (1993, p.7) determina que: 
A assistência seja organizada em um sistema descentralizado e participativo, 
composto pelo poder público e pela sociedade civil. A IV Conferência Nacional 
de Assistência Social deliberou, então, a implantação do Sistema Único de 
Assistência Social (SUAS). Cumprindo essa deliberação, o Ministério do 
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) implantou o Suas, que 
passou a articular meios, esforços e recursos para a execução dos programas, 
serviços e benefícios socioassistenciais. 
 
 Quanto à organização da oferta dos serviços da assistência social em 
todo território nacional, o SUAS é o órgão governamental responsável, difundindo a 
promoção da proteção e o bem-estar social a todos os que dela necessitarem. 
 
 As ações são orientadas pela nova Política Nacional de Assistência 
Social (PNAS), aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) em 
2004. 
 
 
 
A gestão das ações socioassistenciais segue o previsto na Norma Operacional 
Básica do SUAS (NOB/Suas), que disciplina a descentralização administrativa 
do Sistema, a relação entre as três esferas do Governo, e as formas de 
aplicação dos recursos públicos. Entre outras determinações, a NOB reforça o 
papel dos fundos de assistência social como as principais instâncias para o 
financiamento da PNAS. A gestão da assistência social brasileira é 
acompanhada e avaliada tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, 
igualmente representado nos conselhos nacionais do Distrito Federal, 
estaduais e municipais de assistência social. Esse controle social consolida um 
modelo de gestão transparente em relação às estratégias e à execução da 
política (MDS,2009). 
 
 Consolidando de forma definitiva o compromisso do Estado brasileiro no 
que se refere ao enfrentamento da pobreza e da desigualdade. 
 
 Assegurando também a com a participação da sociedade civil 
organizada, através de entidades de assistência social e movimentos sociais, a 
universalização. 
 
 Bem como a transparência dos acessos que garantem os serviços, 
benefícios e os programas da assistência social promovem esse modelo de gestão 
participativa e descentralizada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA 
– E O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO NO BRASIL. 
 
 O exposto capítulo disserta, sumariamente, a respeito do artigo 228 da 
Constituição Federal corrente, que assegurou a imputabilidade às crianças e jovens 
com faixa etária menor de 18 anos em situação de conflito com a lei, e a 
ascendência do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, que, por sua vez, 
enraizou a Doutrina da Proteção Integral. 
 É bastante discutida nos tempos atuais a questão da responsabilidade 
penal dos jovens. Tais argumentações atingem não apenas a sociedade, mas 
afetam com iguais proporções a organização e o ordenamento jurídico, já que a 
proteção e defesa das crianças e adolescentes estão previstas no Diploma 
Constitucional de 1988, e asseguradas através da instituição do Estatuto da 
Criança e do Adolescente – ECA, somente em 1990, após dois anos. 
 Tal proteção e defesa, fomentada pelo advento do ECA, atravessou 
copiosos avanços e progressões no decurso dos séculos,iniciando com uma 
doutrina desprendida às particularidades e especificidades das crianças e dos 
adolescentes, igualando-os aos adultos; em seguida, perpassando pelo modelo de 
caráter tutelar, que por sua vez, legitimou e oficializou o termo “menor” para 
mencionar crianças e adolescentes abandonados e cometedores de infrações, de 
forma a não diferi-los, até que, finalmente, chegou-se à etapa garantista, através da 
publicação e proclamação da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA. 
 Nos tempos atuais, conta-se com uma ideia generalizada e comum 
de as crianças, adolescentes e jovens encontram-se emergidos na criminalidade e 
na delinquência e que há a ausência de responsabilização e compromisso. Contudo, 
não é de hoje que persevera o compromisso e a responsabilização penal de 
crianças, adolescentes e jovens, responsabilização esta que, para os historiadores, 
é estabelecida por dois importantes ápices: O primeiro na época em que se fazia 
uma abordagem igualitária nesse quesito entre crianças, adolescentes, jovens e 
adultos; e o segundo no momento em que a idade do executor da ação ilícita se faz 
condição distinta no que se refere à imputabilidade. 
 A Lei das Doze Tábuas (449 a.C.), em Roma, já discernia e diferenciava 
o menor púbere (fecundo) e o impúbere (não fecundo), assegurando ao 
menor impúbere uma atenuação da pena, levando em consideração ser incapaz e 
inapto de discernir de forma cautelosa suas ações (SHEICARA, 2015). 
 
 
 Tal método de ponderação na deliberação da responsabilidade 
penal perdurou por todo o período medieval: A menoridade enquanto motivo de 
isenção e dispensa de pena (até os 07 anos de idade), ao passo que dos 07 aos 12 
anos de idade (para as do sexo feminino) e dos 12 aos 14 anos (para os do sexo 
masculino); critérios estes assinalados pelo Direito Canônico defendiam que a 
responsabilidade e a sensatez eram contestáveis, carecendo assim obediência ao 
método de bom senso e discernimento, ocorrendo a atenuação das penas quando 
fosse o caso (SHEICARA, 2015). 
 Sancionou-se a formação do primeiro tribunal espanhol a fim de 
procederem-se os julgamentos dos menores no final do período medieval, tanto os 
abandonados quanto os infratores. Nomeado “Padre de Huérfanos”, no século XX, o 
mais popular predecessor dos tribunais tutelares de menores. 
 No que se refere ao direito brasileiro, o inaugural diploma legal 
aplicado com efeito na esfera penal, no tocante ao menor, foram as Ordenações 
Filipinas (1603). Naquela época existia um Estado em que a jurisdição e o juízo 
eram regidas pela Igreja Católica, e ainda, levando-se em conta de que a “idade da 
razão” era obtida ao completar sete anos de idade, este, então, era o marco e a 
fronteira da responsabilidade penal (SARAIVA, 2009). 
 Segundo Saraiva (2009), havia apenas uma segurança garantida 
aos menores de 17 anos: A vedação da Pena de Morte, constante do Título CXXXV 
do Livro Quinto das Ordenações Filipinas, ao passo que os jovens com faixa etária 
entre 17 e 20 anos permaneciam sob o arbitramento de quem os julgariam para 
conceder-lhes a pena diminuída ou total, em um regime de “jovem adulto” 
(SARAIVA, 2009, p.29). No dado “Diploma Legal” a maioridade irrestrita e plena era 
obtida aos 21 anos de idade. A Doutrina da Proteção Integral, consolidada pela Lei 
8.069/90, apresenta as crianças, adolescentes e jovens enquanto sujeitos 
portadores de direitos, em oposição a tratá-los enquanto meros objetos do direito 
penal, e assim, predicando a abordagem particularizada dessas pessoas, já que se 
trata de indivíduos em desenvolvimento. 
 Como nos afirma Saraiva (2009, p.85), o Estatuto da Criança e do 
Adolescente se serve do preceito de que: 
 
Todas as crianças e adolescentes, sem exceções, desfrutam dos mesmos 
direitos e sujeitam-se a obrigações compatíveis com sua peculiar condição de 
pessoa em desenvolvimento, exterminando a ideia de que os Juizados de 
Menores somente atenderiam aos pobres desamparados, como era a 
concepção da doutrina da situação irregular (SARAIVA, 2009, p.85). 
 
 
 
 Essa defesa nasceu no contexto da Constituição Federal em vigor, e 
inicia com a diretriz classificada pela maioria como Cláusula Pétrea (embora 
instrumento de controvérsia), que instituiu a idade de maioridade penal aos 18 anos, 
consolidada e definida no artigo 228 do dado Diploma. 
 
 Assim sendo, o executor da lei intencionou diferenciar as crianças e 
adolescentes dos adultos, fomentando que estes permanecessem à mercê da 
Norma Especial, respeitadas e levadas em consideração as suas particularidades 
enquanto indivíduos em desenvolvimento, objetivando assegurar-lhes a tão 
desejada Proteção Integral. O que se constata já nos artigos primeiros do Estatuto 
da Criança e do Adolescente, que, para além de assegurar aos beneficiados pela lei 
a fidelidade dos preceitos constitucionais fundamentais, normatiza que criança ou 
adolescente algum seja tratado de forma diferenciada de seus semelhantes, 
configurando preconceito. Transcrito da seguinte forma: 
 
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. 
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos 
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de 
idade. 
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este 
Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. 
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais 
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata 
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as 
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, 
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as 
crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, 
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal 
de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, 
região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as 
famílias ou a comunidade em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 
(BRASIL, 1990). 
 Incluído posteriormente em 2016, o parágrafo único do artigo 3º, simboliza 
uma alusão a doutrina da isonomia, requerendo um novo modo de perceber e 
compreender os cidadãos em situação de vulnerabilidade, de forma que se evite, 
sob a ótica da proteção a todos, que o Estado falte com respeito às suas 
fundamentais garantias, como era comum na época de vigência do Código de 
Menores (DIGIÁCOMO, 2017, p.6). 
 
 
 
3.1 A TEORIA DA SITUAÇÃO IRREGULAR E A TEORIA DA PROTEÇÃO 
INTEGRAL. 
 Este subcapítulo tem por objetivo estudar a teoria da proteção integral, 
que, atualmente, norteia o tratamento de crianças e adolescentes no ordenamento 
jurídico brasileiro, e sua efetivação no que se refere às crianças e aos adolescentes 
autores de delitos, visto, hoje, como vítimas desta prática, frente ao apresentado e 
defendido no artigo 143 do Estatuto da Criança e do adolescente – ECA. 
 A legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente veio para ser 
marco divisor e de ruptura com a jurisprudência precedente que versava sobre a 
questão menorista – Código de Menores (Lei n° 6697, de 10 de outubro de 1979), 
uma vez que priorizou como referencial o parâmetro doutrinário do Princípio da 
Proteção Integral em curso inverso a Teoria da Situação Irregular que vige na 
legislatura rescindida. Em suma, essas teorias estão firmadas nos princípios que se 
seguem.Para a Teoria da Situação Irregular, os menores (assim compreendida a 
pessoa menor de 18 anos de idade), são, meramente, indivíduos 
providos de direito e/ou que possuem a garantia da consideração judicial quando em 
situação qualificada enquanto “irregular”, dessa forma estabelecida em lei. De 
acordo com a situação em que se encontrava o menor, existia certa discriminação 
legal, podendo tão somente obter amparo jurídico o que se encontrasse em situação 
irregular; já os outros não se caracterizavam, assim, enquanto indivíduos 
merecedores do tratamento legal. 
 Já a Teoria da Proteção Integral caracteriza uma evolução no que se 
refere aos direitos essenciais e fundamentais, uma vez que fixada na Declaração 
Universal dos Direitos do Homem (1948), e ainda tendo sido referenciada por 
comprovativos internacionais, como por exemplo: a Declaração Universal dos 
Direitos da Criança, admitida pela Assembleia Geral das Nações Unidas (20 de 
novembro de 1959); as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração 
da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing – Resolução: 40/33 de 29 
de novembro de 1985); as Diretrizes das Nações Unidas Para a Prevenção da 
Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad – de 1° de março de 1988); e por fim, a 
Convenção Sobre o Direito da Criança, admitida e defendida pela Assembleia Geral 
das Nações Unidas (20 de novembro de 1989), e decretada pelo Congresso 
Nacional Brasileiro (14 de setembro de 1990). 
 
 
 A Teoria da Proteção Integral foi introduzida na organização e no 
ordenamento jurídico do Brasil mediante o artigo 227 da Constituição Federal 
brasileira, onde se afirma ser dever da família, da sociedade e do Estado possibilitar 
tanto à criança quanto ao adolescente, com prioridade integral e absoluta: 
 
O direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (Art. 
227). 
 
 A teoria jurídica da doutrina da Proteção Integral, priorizada pelo 
Estatuto da Criança e do Adolescente, fundamenta-se, basicamente e, três 
princípios fundamentais, que são: “Criança e adolescente como sujeitos de direito - 
deixam de ser objetos passivos para se tornarem titulares de direitos; Destinatários 
de absoluta prioridade; Respeitando a condição peculiar de pessoa em 
desenvolvimento” (BRASIL, 1990). 
 
 
 A partir dessa nova teoria, as crianças e os adolescentes passam a 
receber uma nova importância, como indivíduos providos de direitos, e agora não 
mais enquanto menores instrumentos de repressão e ainda de compaixão, em 
Situação de abandono, de delinquência e/ou Irregular. Sobre essa teoria, Amaral e 
Silva (apud PEREIRA, T. da S. Direito da criança e do adolescente: uma proposta 
interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 27), sinala que: "o direito 
especializado não deve dirigir-se, apenas, a um tipo de jovem, mas sim, a toda a 
juventude e a toda a infância, e suas medidas de caráter geral devem ser aplicáveis 
a todos". 
 
 Na mesma linha de pensamento, Martha de Toledo Machado reitera que a 
diferenciação outrora praticada não mais se mantém na Doutrina da proteção 
integral: 
 
Em suma, o ordenamento jurídico cindia a coletividade de crianças e 
adolescentes em dois grupos distintos, os menores em situação regular e os 
menores em situação irregular, para usar a terminologia empregada no Código 
de Menores brasileiro de 1979. E ao fazê-lo não reconhecia a incidência do 
principio da igualdade à esfera das relações jurídicas envolvendo crianças e 
 
 
adolescentes. Hoje não (A proteção constitucional de Crianças e Adolescentes 
e os Direitos Humanos", 1ªedição, Barueri - SP, Manole, 2003. Pág. 146). 
 
Se o Direito se funda num sistema de garantias dos direitos fundamentais das 
pessoas, e no tocante a crianças e adolescentes um sistema especial de 
proteção, as pessoas (entre elas crianças e adolescentes) necessariamente 
têm um mesmo status jurídico: aquele que decorre dos artigos 227, 228, e 226 
da CF e se cristalizou, na lei ordinária, no Estatuto da Criança e do 
Adolescente (A proteção constitucional de Crianças e Adolescentes e os 
Direitos Humanos", 1ªedição, Barueri - SP, Manole, 2003. Pág. 146). 
 
Não há mais uma dualidade no ordenamento jurídico envolvendo a coletividade 
crianças e adolescentes ou a categoria crianças e adolescentes: a categoria é 
uma e detentora do mesmo conjunto de direitos fundamentais; o que não 
impede, nem impediu, o ordenamento de reconhecer situações jurídicas 
especificas e criar instrumentos para o tratamento delas, como aliás, ocorre em 
qualquer ramo do direito (A proteção constitucional de Crianças e Adolescentes 
e os Direitos Humanos", 1ªedição, Barueri - SP, Manole, 2003. Pág. 146). 
 
 Em suma, a partir da doutrina agora em efetivação, crianças e 
adolescentes abandonados, vítimas, executores de ato infracional ou não têm de 
serem tratados de igual forma legal, estando vetados quaisquer tipos de 
discriminação. 
 
 No Estatuto da Criança e do Adolescente, em diversos artigos está 
presente o Princípio da Proteção Integral. Especialmente no que se refere à temática 
em questão, analisemos, então, o artigo 143 do ECA que alinha: 
 
Art. 143 - É vedada a disposição de atos judiciais, policiais e administrativos, 
que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato 
infracional. 
Parágrafo único - Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a 
criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, 
filiação, parentesco e residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. 
 
 O mencionado instrumento, nos discursos do Desembargador Sidney 
Romano dos Reis, objetiva: 
 
Resguardar o adolescente, por meio do sigilo, evitando sua exposição à 
execração pública injusta e prejudicial, mormente em se considerando tratar-se 
de pessoa ainda em formação e cujo deslize de conduta praticado na juventude 
 
 
poderá maculá-lo por toda uma vida adulta” (Apelação Cível nº 122.439-0/3-
00). 
 
 Possuindo associação, também, com o direito ao respeito e a dignidade, 
defendendo o direito de identidade, intimidade, imagem e vida particular e privada da 
criança e do adolescente implicados na prática e cometimento de ato infracional, de 
tal modo que fortuita desobediência a esta conduta provoca sanções e penalidades 
administrativas (art. 247 do ECA) e ainda de natureza cível, com relativa e eventual 
condenação por dano moral (JTJ 218/94). 
 
3.2 O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO – SINASE. 
 
 O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE – 
manifesta o complexo estruturado de fundamentos e princípios, diretrizes, regras, 
preceitos e critérios que compreendem a aplicação de medidas socioeducativas, 
empregues aos adolescentes em situação de conflito com a lei. 
 
 O SINASE é constituído pelos serviços e sistemas estaduais/distrital 
e municipais, envolvendo, sobretudo, todos os projetos, planos, programas e 
políticas vigentes nessas três esferas de governo no que se refere ao tema. 
 
 A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do 
Ministério dos Direitos Humanos – SNDCA/MDH – coordena o SINASE, que foi 
instaurado através da Lei 12.594 (18 de janeiro de 2012) e determina e institui a 
aplicação das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do 
Adolescente – ECA, como: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de 
serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade e 
internaçãoem estabelecimento educacional. 
 
 Sendo o SINASE regido, também, pela Resolução 119/2006 do 
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA – e pelo 
Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo - PNASE (Resolução 160/2013 do 
CONANDA). 
 
 A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do 
Ministério dos Direitos Humanos – SNDCA/MDH – enquanto órgão gestor do 
SINASE fomenta e articula execuções e ações com organizações e instituições do 
 
 
Sistema de Justiça; dos governos estaduais/distrital e dos governos municipais; e 
ainda dos demais ministérios, pactuando diretrizes e regulamentos nacionais de 
atuação, como, por exemplo, as estabelecidas pelo PNASE. 
 
Além disso, busca informar profissionais da socioeducação, veículos de 
imprensa e setor produtivo, entre outros, para que o processo de 
responsabilização do adolescente possa adquirir um caráter educativo, 
(re)instituindo direitos, interrompendo a trajetória infracional e promovendo a 
inserção social, educacional, cultural e profissional (MDH, 2019). 
 
 E, ainda prevê parâmetros e princípios arquitetônicos de gestão, 
segurança e socioeducação para os equipamentos envolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SERVIÇO SOCIAL 
JUNTO AOS ADOLESCENTES QUE SE ENCONTRAM 
CUMPRINDO AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS. 
 
 Em face da realidade exposta, é possível perceber os desafios que 
englobam o fazer profissional, tanto através das demandas das crianças e dos 
adolescentes quanto pelos limites impostos pela burocratização latente nos 
instrumentais de trabalho, quando a práxis do Assistente Social frente a esse 
sistema de medidas socioeducativas se caracteriza pelo trabalho intersetorial e pela 
articulação com as várias instituições da rede socioassistencial visando um 
acompanhamento eficaz e qualificado aos adolescentes atendidos. 
 
Nessas condições, o conhecimento a que se referem os Assistentes Sociais é 
o conjunto de informações relacionadas às necessidades dos usuários e à 
estrutura formal, legal e burocrática das instituições e o modelo de 
operacionalização das políticas e dos programas sociais. Em determinadas 
situações, a estrutura formal e burocrática institucional pode exigir registros 13 
Anais do 5º Encontro Internacional de Política Social e 12º Encontro Nacional 
de Política Social ISSN 2175-098X diferenciados, mas sempre voltados à 
quantificação do atendimento tendo em vista, sobretudo, o aporte de recursos 
financeiros (COELHO, 2008, p. 46). 
 
 Dessa forma, faz-se primordial que o Assistente Social seja 
qualificado para “[...] acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão 
social [...]” (IAMAMOTO, 2008, p.41) que se manifestam sobre os adolescentes em 
conflito com a lei, “[...] acompanhando as diferentes maneiras como essas questões 
são experimentadas pelos sujeitos” (IAMAMOTO, 2008, p.41). Avaliamos ser 
necessário vencer a ação pontual cotidiana para perceber a realidade em suas 
múltiplas faces. 
 
É patente a importante interface existente entre as demandas postas ao 
sistema de justiça e as políticas públicas no âmbito da proteção social, 
envolvendo áreas como a saúde, educação, habitação, trabalho e renda. É 
nessas que se materializam direitos, portanto, são indissociáveis as 
interrelações entre as instituições do sócio jurídico e as do sistema de proteção 
social. [...] Nesse contexto, impõem-se desafios como a problematização da 
lógica da judicialização das expressões da questão social e da criminalização 
 
 
da pobreza; a superação da aparência dos fenômenos, como meros problemas 
jurídicos, incorporando à sua resolutividade o caráter político e social na 
dimensão da atuação profissional; a distinção entre os instrumentos do fazer 
profissional, daqueles voltados para a „aferição de verdades jurídicas‟, 
assumindo o estudo social como próprio da intervenção do serviço social, 
capaz de iluminar as determinações que constituem a totalidade da realidade, 
suas contradições e diferentes dimensões (CFESS, 2014, p. 99). 
 
 A realidade é amplamente complexa e dinâmica e temos clareza de 
que esta pesquisa visa extrair da realidade o conhecimento aproximativo do real em 
seu movimento, buscando contribuir para o Serviço Social no desvelamento dos 
inúmeros desafios e possibilidades postos ao exercício profissional do Assistente 
Social no campo socioassistencial. 
 
O assistente social inserido no espaço de trabalho das instituições que 
executam as sanções previstas na lei brasileira muitas vezes percebe-se 
isolado da categoria, como se sua prática estivesse contra os princípios 
históricos do Serviço Social. É preciso enxergar com nitidez que essas sanções 
(privação de liberdade, por exemplo) estão previstas na legislação brasileira e 
podem constituir possibilidades concretas de tomada de consciência por parte 
dos sujeitos que a ela são submetidos (FREITAS, 2011, p.5). 
 
 Sob outra perspectiva, a existência do profissional de Serviço Social 
nesses espaços muitas vezes chega a conceber também empenhos na defesa de 
direitos dos sujeitos acompanhados. 
 
Assim, produzir conhecimento acerca desse espaço de trabalho é também 
mostrar que a categoria tem condições de desenvolver um trabalho profissional 
comprometido com os pressupostos do projeto ético-político profissional, 
mesmo em instituições que trabalham com a execução de"sanções" (FREITAS, 
2011, p.6). 
 
 A atividade do Serviço Social é pautada na perspectiva de 
reinserção, recolocação e ressocialização saudável, pensando para além da 
perspectiva produtivo/ consumidora, mas de forma autônoma e emancipatória, de 
maneira em que o jovem tem plenas oportunidades de passarem a serem os autores 
de suas histórias de vida. 
 Significa, logicamente, um desafio de enorme dimensão. Porém, os 
profissionais que se encontram nesses espaços de privação e contenção de 
liberdade tendem a alcançar, através do cotidiano, a produção de atividades, 
 
 
práticas e condutas que permitem e, sobretudo, motivam o resgate e a recuperação 
desse estado singular de humanização. 
 
 
4.1 O TRABALHO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL EM UNIDADE DE 
INTERNAÇÃO. 
 
 Com a finalidade de iniciarmos esta reflexão, faz-se necessário frisar 
que todas as unidades de internação possuem um plano de ação próprio e 
particular, assim, práticas que aqui serão explanadas estão passíveis a variar 
mediante o plano de ação da unidade. 
 
 A categoria profissional do Serviço Social está entreposta nessas 
unidades de internação, e, a intitulação para a atividade do assistente social na 
maioria das unidades é: analista técnico (e afins) ou mesmo assistente social, 
compondo a equipe técnica de profissionais de cada unidade de internamento 
formada por psicólogos e assistentes sociais. 
 
 Assim como deve ser, para fins de exercício de função de assistente 
social ou analista técnico (e afins), o profissional deve estar em situação regular no 
que se refere ao registro do Conselho Regional de Serviço Social. 
Vale ressaltar ainda que as atribuições reservadas ao cargo em 
questão caracterizam-se por atribuições distintas e específicas das do analista 
técnico na posição de psicólogo. 
 
O profissional de Serviço Social nas unidades de internação precisa 
comprometer-se com a efetividade do atendimento realmente socioeducativo, 
situando seu trabalho na perspectiva da garantia de direitos. Assim, o 
assistente social acompanhará o adolescente durante toda a medida de 
internação, na perspectiva do atendimento integral. Apenas para melhor 
compreensão do que está sendo proposto,é possível organizar didaticamente 
o trabalho do assistente social em três grandes dimensões que possuem 
interlocução entre si: atendimento ao adolescente, atendimento à família, 
participação na unidade de internação (FREITAS, 2011, p.7). 
 O assistente social que labora nas unidades de execução de medida de 
internação deve ser regido pela premissa de que as suas atividades devem ser 
dirigidas pelo atendimento integral, e dessa forma, pode e deve ser fiscalizador no 
 
 
que se refere à situação do jovem em estar ou não recebendo devidamente esse 
atendimento e acompanhamento profissional dos demais profissionais. 
 
Desta forma, o assistente social busca assegurar que o adolescente receba 
alimentação, atendimento médico, odontológico, oportunidades de 
profissionalização, além de verificar, registrar e notificar aos seus superiores 
quaisquer violações aos direitos dos adolescentes, tanto por outros servidores 
da instituição quanto por outros adolescentes (FREITAS, 2011, p.7). 
 
 O profissional assistente social deve ter sempre em mente que o seu 
compromisso laboral fundamental é com os usuários atendidos e acompanhados: 
 
No caso, o adolescente autor de ato infracional, e então é para esse sujeito que 
o trabalho deve ser direcionado. Esse sujeito deve ser o alvo principal, direto, 
de nossa práxis, deve estar no centro de nossa proposta de trabalho 
profissional (FREITAS, 2011, p.7). 
 
 Martinelli (1999, p. 13) destaca: 
 
Não obstante estejamos trabalhando em profissões que são eminentemente 
sociais, nem sempre percebemos exatamente quem é esse outro com o qual 
trabalhamos. Nem sempre temos claro que sujeito é esse. Em quantos 
momentos esse outro é visto de forma vulgarizada, banalizada, como se o 
centro de referência da prática fosse o profissional que a realiza e não o sujeito 
que a constrói conosco. [...] Há então uma inversão total de valores. As 
instituições existem para responder as demandas da população. 
 
 Dessa forma, cabe ao profissional de serviço social a busca incessante 
por fomentar junto aos usuários das unidades um atendimento qualificado e 
orientado pelas lentes dos direitos sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 A eficácia do Sistema Socioeducativo no Brasil ainda é considerado um 
tanto limitada frente ao universo de crianças e adolescentes vítimas de práticas 
infracionais, a fiscalização informal é outro desafio a ser superado, que cabe ao 
Ministério do Público. 
 Toda trajetória legal alcançada, cuja finalidade seria a imposição do 
direito de crianças e adolescentes serem protegidos e assegurados em sua situação 
peculiar de desenvolvimento, são extremamente importantes, não podendo ser 
desconsideradas de maneira nenhuma, porém, o que se vê ainda é uma lei muito 
bonita no papel que não se aplica de fato no cotidiano desses indivíduos. 
 Para Geertz (2001), a pesquisa é uma modalidade de experiência moral 
justamente porque ela resulta de contatos e detalhes perturbadores, que, 
certamente, afetarão a sensibilidade do pesquisador. 
 Portanto, a experiência esteve atravessada, digamos assim, pelos 
efeitos das minhas leituras bibliográficas, configurando uma modalidade de 
experiência que se efetuou em uma partilha entre sensibilidade e inteligibilidade. 
 É importante ressaltar que a pesquisa não possui apenas momentos de 
glória. Por diversas vezes, no decorrer dos estudos, me deparei com obstáculos que 
viriam a causar dificuldades e até mesmo certo desânimo. 
 Essas dificuldades servem de aprendizado. Elas demonstram que as 
relações não são harmoniosas e nem sempre funcionam como os autores tentam 
mostrar. Sendo a pesquisa algo relacional (sujeita a problemas e conflitos) e, 
sobretudo, um jogo de informações e interpretações praticado pelo pesquisador e 
autores. 
 Todo processo de dificuldade serve para que a pesquisa seja bem 
desenvolvida (e são muitos os momentos de tensão e dificuldade na realização do 
trabalho). Serve, principalmente, porque não existe um modelo padrão de se fazer 
pesquisa; o que pode nos ajudar são metodologias que auxiliam norteando o 
trabalho 
(ZALUAR, 1986). 
 
 
 Em suma, toda dificuldade encontrada durante o processo de pesquisa 
contribui para um melhor desenvolvimento das ideias do pesquisador onde se torna 
empírico todas às hipóteses ou a descoberta de outras mais, sobre o objeto 
investigado levando em consideração toda sua contextualização e detalhes que nos 
fazem refletir e expressar todos os momentos realizados durante a pesquisa de 
forma íntegra. 
 É necessário ressaltar que mesmo com programas criados que visam a 
proteção da criança e do adolescente, como o SINASE – Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo discutido neste trabalho, é de grande importância para 
o enfrentamento dessa demanda tão complexa o envolvimento de toda a rede de 
atendimento à criança e ao adolescente bem como a sociedade num todo, com o 
objetivo de proteger e fazer valer os direitos da criança e do adolescente contra as 
formas de exploração do trabalho e contribuir desta forma com o seu 
desenvolvimento integral. 
 Com isso, efetivar o acesso à escola formal, saúde, alimentação, 
esporte, lazer, cultura e profissionalização, bem como a convivência familiar e 
comunitária. 
 A articulação prevista entre Estado, Família e Sociedade Civil não tem 
surgido efeitos, posto que a violência em que consiste exigir que crianças e 
adolescentes realizem atividades que não lhes são próprias, logo, há falhas entre 
essas instâncias que são primordiais para o crescimento de qualquer ser humano de 
forma qualitativa. 
 Existe uma urgência para com a revalorização da proteção da criança e 
do adolescente, frente a essa temática do trabalho. Para tanto, fica claro que, para 
entendermos sobre a demanda é necessário que façamos aproximações, estudos, 
abordagens, no intuito de articular toda a rede protetiva existente. 
 Devemos ainda, enquanto profissionais capacitados e apoiados numa 
visão e postura crítica compreender todo o cerco cultural enraizado naquela família 
sem fazer juízo de valor, pré-julgando a família ou a culpabilizando e sim a 
envolvendo nessa busca por soluções para o fim dessa cultura de exclusão que se 
faz tão presente na contemporaneidade 
 
 
 
6. REFERÊNCIAS 
 
Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às 
normas da legislação especial. ‟Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> 
Acesso em: 20 de julho de 2019. 
 
AMARAL E SILVA (apud PEREIRA, T. da S. Direito da criança e do 
adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. 
 
ARAÚJO, Denilson Cardoso de; COUTINHO, Inês Joaquina Sant'Ana Santos. 80 
anos do Código de Menores. Mello Mattos: a vida que se fez lei. Jus Navigandi, 
Teresina, ano 13, n. 1673, 30 jan. 2008. Disponível em: <http://jus.com.br/revista 
/texto/ 10879>. Acesso em: 22 set. 2019. 
 
BAPTISTA, Myrian Veras; BATTINI, Odária. A prática profissional do assistente 
social: teoria, ação, construção do conhecimento. São Paulo: Veras Batista, 
2009. 
 
BENEVIDES, M.V.M.S Cidadania e Direitos Humanos. 1998. Net, Disponível em: 
Acesso em: 02 out. 2019. 
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1998). 
 
_______. Lei n o 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo (Sinase). Diário Oficial da União, Brasília. 19 jan. 2012. 
 
_______. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança 
e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,16 jul. 
1990.

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