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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL ALUNO : A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL E A PRÁTICA NO SISTEMAS SOCIOEDUCATIVOS: CENTRO SOCIOEDUCATIVO DR. ZEQUINHA PARENTE SOBRAL CE. SOBRAL – CE 2022 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL E A PRÁTICA NO SISTEMAS SOCIOEDUCATIVOS: CENTRO SOCIOEDUCATIVO DR. ZEQUINHA PARENTE SOBRAL CE. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à centro universitário internacional - UNINTER, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social. Orientador: Profª. Solange Maria Pimentel SOBRAL – CE 2022 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, por ter me iluminado e proporcionado conhecimento e garra durante este árduo e dedicado período, para finalmente concretizar este abençoado estudo de graduação. À minha família: pelo amor e carinho. Aos meus colegas e amigos, pela grandiosa amizade conquistada e a todos que me antecederam produzindo saberes que deram suporte a esta monografia. Aos professores das tele aulas e aos tutores (de sala e eletrônico) pelas orientações e pelo total apoio e dedicação; e em especial, Orientadora Profª. MARIA ANDREA DIAS, e à tutora Renata Castro da Ponte, que com suas grandiosas sabedoria, atenção e dedicação, conduziram-me a chegar a esta conclusão. E principalmente ao meu confessor, Grandioso Orientador e Mestre Jesus Cristo, que esteve ao meu lado, me iluminando e mostrando com sabedoria os melhores caminhos para concluir este trabalho! Obrigada por tudo! A atuação do Assistente Social e a Prática no Sistemas Socioeducativos: Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente Sobral - CE. Trabalho de Conclusão de Curso de bacharel em Serviço Social – Universitário Internacional – UNINTER. RESUMO O fazer profissional, através da prática laboral, nos demanda certa reflexão, análise e avaliação permanente e frequente acerca das atribuições exercidas pelo profissional de Serviço Social. A intenção deste estudo é identificar as contribuições do profissional de Serviço Social nas práticas socioeducativas com os adolescentes em conflito com a lei. E objetiva, especificamente, estudar a cidadania da criança e do adolescente, contextualizando historicamente; debater o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e a legislação vigente a respeito do adolescente em conflito com a lei e o Sistema Socioeducativo no Brasil; entender a teoria da situação irregular, a teoria da proteção integral e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE; e, analisar a atuação dos profissionais de Serviço Social junto aos adolescentes que se encontram cumprindo as medidas socioeducativas, e mais especificamente aos que se encontram em unidade de acolhimento. Palavras-Chave: Serviço Social; Prática socioeducativa; Atuação profissional; Adolescente. BESSA, João Paulo de Vasconcelos. A atuação do Assistente Social e a Prática no Sistemas Socioeducativos: Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente Sobral – CE . Trabalho de Conclusão de Curso de bacharel em Serviço Social – Universitário Internacional – UNINTER. ABSTRACT Professional practice, through labor practice, demands some reflection, analysis and permanent and frequent evaluation about the duties performed by the Social Work professional. The purpose of this study is to identify the contributions of the Social Work professional in the socio-educational practices with the adolescents in conflict with the law. And specifically aims to study the citizenship of children and adolescents, contextualizing historically; discuss the Statute of Children and Adolescents - ECA and current legislation regarding adolescents in conflict with the law and the SocioEducational System in Brazil; understand the theory of irregular situation, the theory of integral protection and the National System of Socioeducational Care - SINASE; and, analyze the performance of Social Work professionals with adolescents who are complying with socio-educational measures, and more specifically those who are in acare unit. Key-words: Social service; Socio-educational practice; Professional performance; Teen. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CFESS – Conselho Federal de Serviço Social; CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social; CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente; JTJ – Jurisprudência do Tribunal de Justiça; LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social; MDH – Ministério dos Direitos Humanos; MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do SUAS; ONU – Organizações das Nações Unidas; PNAS – Política Nacional de Assistência Social; PNASE – Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo; SGD – Sistema de Garantia de Direitos; SINASE–Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo; SNDCA – Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente; SUAS – Sistema Único de Assistência Social. SUMÁRIO Introdução............................................................................................................ 08 Cidadania da criança e do adolescente: contextualizando historicamente. 14 O estatuto da criança e do adolescente – ECA – e o sistema socioeducativo no brasil..................................................................................... 25 A atuação dos profissionais de serviço social junto aos adolescentes que se encontram cumprindo as medidas socioeducativas.................................. 34 Considerações finais........................................................................................... 38 Referências............................................................................................................ 40 Anexos ....................................................................................................... 44 1. INTRODUÇÃO A realização de visitas e no Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente- Sobral ,CE e pesquisa em geral foi com intuito obter informações sobre a atuação de assistentes sociais no sistema socioeducativo . Centro Socioeducativo Dr. Zequinha Parente atualmente atende o público adolescente masculino entre 12 e 21 anos, autor de ato infracional, para o cumprimento de medida socioeducativa de internação provisória no prazo de até 45 dias, aguardando decisão judicial. Por ressaltar-se que a internação provisória não se estabelece como medida socioeducativa, mas como processo cautelar. Durante o período, o socioeducando participa de ações pedagógicas que englobam as atividades: educação, saúde, assistência psicossocial, profissionalização, arte, cultura, esporte, lazer e religiosidade. Através de estratégias multidisciplinares, o centro busca ser referência estadual em atendimento socioeducativo pautado em um trabalho coletivo que visa a participação efetiva do adolescente, da família, comunidade e da rede de apoio, fortalecendo o protagonismo juvenil na sociedade. Estimulado pela provocação da “Questão Social” no Brasil, manifesta-se a necessidade de um profissional qualificado para intervir em suas manifestações. Desta maneira, é institucionalizado o Serviço Social no Brasil no ano de 1936, vindo como uma profissão hábila adequar o indivíduo à ordem social predominante vigorante, como uma maneira de disciplinar e controlar os chamados “desajustados sociais”. Vale frisar que neste período a “Questão Social” era tida como “caso de polícia”, especialmente quando se referia à questão do “menor infrator”. Dessa forma, as políticas iniciais elaboradas na República direcionadas a assistência a esta população foram os “Códigos de Menores”, sendo o primeiro originado em 1927, possuindo uma natureza repressora e punitiva, percebendo os “menores” como “pequenos adultos”; e, em 1979, entra em vigor o novo “Código de Menores”, no entanto, com iguais atributos do primeiro. É válido, então, perceber que, só a partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no ano de 1990, se consegue perceber uma concreta alteração na abordagem da questão da infância e adolescência no país. O ECA vem então apontar novas concepções e conteúdos a serem adotados frente à população infanto-juvenil, impondo uma ruptura com o modelo assistencial-repressor e a construção de novos referenciais e novas práticas (CFESS Manifesta, 2010, não paginado). Apenas com a publicação do ECA, e de sua admissão da “Doutrina de Proteção Integral” que as crianças, adolescentes e os jovens começam a serem percebidos enquanto sujeitos de direito. Desta forma, este estudo é referente à análise da laboração do Profissional de Serviço Social com adolescentes egressos de medidas socioeducativas. O interesse pela temática se deu através das minhas vivências em meu ambiente de trabalho, o “Centro Socioeducativo de Sobral”, onde pude perceber que os assistentes sociais dispõem de grande integração nos campos da política de atendimento socioeducativo, bem como na assistência de egressos de medidas socioeducativas. Em virtude da concepção histórica da luta pela conquista dos direitos das crianças e adolescentes, quando estes realizam um ato infracional, nestes são aplicadas medidas socioeducativas que podem ser através de: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, regime semiliberdade ou regime de internação. Medidas estas que devem respeitar a integridade física do adolescente, o tratando com dignidade e respeito e garantindo para que seus direitos não sejam violados, tendo por objetivo: a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; a integração social do adolescente e a garantia dos seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previstos em lei (Lei 12.594, § 2o) (CARDOSO; OLIVEIRA, 2016, p. 29). Contudo, é somente com a homologação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (SINASE), no ano de 2006, que se instaura o cumprimento das medidas socioeducativas e, assim, o Brasil passa a dispor de uma política exclusiva direcionada a assistência aos jovens executores de ato infracional, reportando-os enquanto indivíduos em fase de desenvolvimento e assegurando seus direitos como cidadãos. O adolescente deve ser alvo de um conjunto de ações socioeducativas que contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de relacionar melhor consigo mesmo, com os outros e com tudo que integra a sua circunstância e sem reincidir na prática de atos infracionais (SINASE, 2006, p. 51). A atuação do assistente social é estabelecida a partir dos procedimentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operacionais apanhados na conjuntura histórica e política da elaboração e da reelaboração na/da relação capital- trabalho. Para a argumentação aqui idealizada é essencial contextualizar que o Assistente Social que labora em um centro socioeducativo compõe uma equipe de trabalho multidisciplinar, e praticam atuações interdisciplinares juntamente as demais categorias profissionais dos campos de estudo da Psicologia, da Terapia Ocupacional, da Pedagogia, do Direito e da Enfermagem. Para além da atividade de caráter interdisciplinar com esta equipe de profissionais, é imprescindível uma articulação cotidiana do profissional de Serviço Social com os agentes de segurança socioeducativos, auxiliares educacionais, professores, diretores e demais profissionais do centro socioeducativo. Observando o ambiente sócio ocupacional de exercício do centro socioeducativo, é possível dizer que o Assistente Social possui competências específicas e especializadas no seu cotidiano profissional e, possui, ainda, atribuições conjuntas com os outros campos. Perceber todos esses aspectos com mais minunciosidade justifica a escolha do tema e a proposta deste estudo. A metodologia utilizada no trabalho se constituiu na realização de pesquisa bibliográfica, de documentos e materiais de imprensa publicados sobre o trabalho do profissional de Serviço Social no âmbito socioeducativo, tendo como abrangência o Brasil. A realização da pesquisa bibliográfica permite melhor direcionamento da pesquisa, fornecendo informações que nos posicionarão perante o problema e sobre instituições. Pudemos verificar ainda a legislação pertinente ao tema, assim como as estatísticas e estudos já realizados. A questão referente às especificações do trabalho do profissional de Serviço Social aparenta-se simples, mas não é bem assim. Refere-se a um assunto que compreende as dificuldades efetivas e provenientes das relações laborais, e ainda se apresenta fundamental para que não deixemos cair no campo do esquecimento o movimento sócio histórico da profissão. O fazer profissional, através da prática laboral, nos demanda certa reflexão, análise e avaliação permanente e frequente acerca das atribuições exercidas pelo profissional de Serviço Social. Posto que o desempenho desse exercício profissional implica numa habitualidade que origina mudanças frequentes e modificações súbitas das convivências e relações sociais onde as ideologias, os direitos e os deveres, os valores e as culturas do ser social impõem demandas e desafios que exigem dissoluções e luta. Assim: (...) a necessidade crescente de ter clara a teoria social que informa a apreensão da empiria e determina o tipo e os limites da análise e da intervenção sobre o real na prática dos profissionais, ou seja, de examinaros princípios e as estruturas compreensivo-explicativas que norteiam a sua percepção da realidade. Não se trata, portanto de desenvolver um referencial teórico, mas de praticar uma dimensão teórica: de submeter à crítica teórica a abordagem do real, os instrumentos e as técnicas (Baptista, 2009, p. 30). Com suporte nesse ponto de vista, ressaltamos questões concernentes ao trabalho do Assistente Social com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa: É necessário que o (a) Assistente Social seja um estudioso social, ou seja, é de suma importância a continuidade dos estudos em estabelecimentos acadêmicos, mas, aqui, damos ênfase à prática sistematizada dos estudos da vida social no decorrer de toda sua prática profissional. O que implica na necessidade de que o (a) Assistente Social seja leitor dos conhecimentos que emergem das múltiplas expressões da vida cotidiana. É importante ressaltar que o estudo, per si, não garante a efetivação de uma prática qualificada, mas possibilita o domínio e o embasamento do (da) profissional para lidar com a realidade, e também, paraconstruir estratégias que possibilitem a instrumentalidade de suas ações (Guerra, 2012, p.63). Assim como Netto (1996) afirma em relação ao profissional técnico e o profissional intelectual. Netto (1996) explana que o assistente social pode ser um profissional: (...) técnico treinado para intervir num campo de ação determinado com a máxima eficácia operativa ou um intelectual que, habilitado para operar numa área particular, compreende o sentido social da operação e a significância da área no conjunto da problemática social (Netto, 1996, p.125). (...) Em resumo, confrontam-se dois “paradigmas” profissionais: o técnico bem adestrado que vai operar instrumentalidade sobre as demandas do mercado de trabalho tal como elas se apresentam ou o intelectual que, com qualificação operativa, vai intervir sobre aquelas demandas a partir da sua compreensão teórico-crítica, identificando a significação, os limites e as alternativas da ação focalizada (Netto, 1996, p. 125). Encontram-se vários campos do conhecimento com interpretações que confirmam tal entendimento e alcance às questões das formas de vida do adolescente. Trata-se de pontos que são referenciados e que se referenciam para a efetivação de algum ofício em razão das suas particularidades e do seu grau de abrangência. Nesse aspecto, os Assistentes Sociais são os: (...) profissionais que chegamos o mais próximo possível da vida cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos. Poucas profissões conseguem chegar tão perto deste limite como nós. É, portanto, uma profissão que nos dá uma dimensão de realidade muito grande e que nos abre a possibilidade de construir e reconstruir identidades – a da profissão e a nossa – em um movimento contínuo (Martinelli, 2006, p. 02). Dessa forma, é importantíssimo que o profissional de Serviço Social domine os fatores administrativos, políticos e técnicos que embasam a efetivação da medida. E ainda que as atividades desenvolvidas com os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa abarquem as suas histórias de vida, a família, a comunidade, os desejos e os valores do adolescente (Losacco, 2004). Assim como também a conexão e articulação com as organizações e instituições que integram o Sistema de Garantia de Direitos - SGD para a satisfatória efetividade das atividades prestadas, combatendo, assim, a “divisão do mundo” e a “repartição da vida”, ou seja, evitando, assim, que o adolescente se sinta excluído de seu próprio movimento real e vital. Enfim, a complexidade e exigência da atividade profissional deveria ser proporcional ao grau de qualificação do trabalhador, como no trabalho com adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. E ainda, o nível de qualificação do profissional deveria ser proporcional a sua remuneração, mesmo quando se sabe que ainda não é essa a realidade em que a profissão se encontra, quando ainda existe detrimento à precarização do vínculo e das condições de trabalho. Dessa forma, frisa-se a intenção deste estudo em identificar as contribuições do profissional de Serviço Social nas práticas socioeducativas com os adolescentes em conflito com a lei. Em suma, o presente trabalho de conclusão de curso objetiva, especificamente estudar a cidadania da criança e do adolescente, contextualizando historicamente; debater o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e a legislação vigente a respeito do adolescente em conflito com a lei e o Sistema Socioeducativo no Brasil; entender a teoria da situação irregular, a teoria da proteção integral e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE; e, analisar a atuação dos profissionais de Serviço Social junto aos adolescentes que se encontram cumprindo as medidas socioeducativas, e mais especificamente aos que se encontram em unidade de acolhimento 2. CIDADANIA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: CONTEXTUALIZANDO HISTORICAMENTE. Esse capítulo tem como objetivo contextualizar a noção de cidadania, bem como mostrar a relevância e importância da história no que se refere à conquista dos direitos da criança e do adolescente. Descreve de que forma a primeira infância era vista pela sociedade das épocas passadas, e como são entendidas atualmente, como indivíduos portadores de direitos garantidos por leis que os defendem e os amparam. Dessa forma, é possível analisar esses casos tão problematizados teoricamente nos tempos atuais: A (re) construção das identidades sociais e das subjetividades infantis. Não obstante, este procedimento de (re) construção e (re) institucionalização da infância, embora tenha sido fundamental na idealização de consensos sobre os direitos das crianças e adolescentes, tem elevado os elementos e as condições de exclusão das mais novas gerações frente aos direitos sociais e da cidadania. Cidadania, Segundo o Dicionário Aurélio, "É a qualidade ou estado do cidadão", entende-se por cidadão "o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este". Ou seja, cidadania é o conjunto dos direitos políticos que goza um indivíduo e que lhe permite intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar, seja ao concorrer a cargo público. A cidadania é substancial para a vida em sociedade, já que sendo conhecedor de seus direitos e de seus deveres e responsabilidades, o indivíduo é provido de conhecimentos que favorecerão no seu desenvolvimento, sendo sabedor de que deve agir de forma efetiva buscando soluções para os problemas da vida em coletividade. De acordo com a Constituição Brasileira, todo cidadão tem direitos civis, políticos e sociais assegurados (LOPES, 2008). Comumente confundem-se as noções de cidadania com as lutas pela busca da efetivação dos direitos humanos. Porém, a cidadania está em constante dinamismo, pois está permanentemente em construção através das lutas por maiores e mais efetivos direitos, liberdade, melhores garantias, tanto individuais quanto coletivas, que não se contentam em meio às dominações do Estado, de outras instituições ou pessoas que não desistem de opressões e de injustiças contra os menos favorecidos. Contudo, a noção de cidadania presume também deveres, onde o indivíduo cidadão deve possuir consciência de suas responsabilidades e obrigações enquanto parte integrante de uma sociedade, e tem por tarefa considerar os interesses coletivos frente às lutas por melhores condições de vida política e social e assim pode-se chegar a um objetivo final que é o coletivo, ou seja, a justiça, em seu sentido mais amplo, que favoreça o bem comum da sociedade. (BENEVIDES, 1998) Estabelecida pelos princípios do Estado democrático, a cidadania é constituída na gênese dos espaços e movimentos sociais e na definição de instituições para a expressão política, remetendo em conquistas políticas e também sociais, nas quais se apresenta proporcionando ao indivíduo a possibilidade de participar e opinar, tendo voz ativa e altiva na vida e no governo de seu povo. Cada vez mais exigidos e reivindicados pela sociedade, os direitos dos cidadãos estão nitidamente assegurados pela constituição. E, como bem nos aconselha Benevides (1998), para entendermos e lutarmos por questões que dizem respeito à cidadania e sua ampliação deverão prosseguir de acordo com o contexto histórico. Por se constituir uma ideia política por excelência, a cidadania está fundamentalmente ligada a decisões políticas e não a valores universais. Um governo pode, casojulgue necessário, alterar de forma radical as prioridades no que se refere aos direitos e aos deveres dos cidadãos; pode modificar o código penal no sentido de alterar punições/sanções; pode modificar o código civil no sentido de equiparar direitos entre homens e mulheres, pode modificar o código de família no que diz respeito aos direitos e deveres dos cônjuges, na relação conjugal, em relação aos filhos, em relação um ao outro. Pode estabelecer deveres e direitos por um determinado período, por exemplo, àqueles relativos à prestação do serviço militar. Tudo isso diz respeito à cidadania (BENEVIDES, 1998, p.4). Não se configurando como universal, o direito a cidadania é, direta e especificamente, dos membros de uma determinada ordem jurídico-política. No entanto, em muitos casos, os direitos do cidadão coincidem com os direitos humanos, que são os mais amplos e abrangentes. Em sociedades democráticas é, geralmente, o que ocorre e, em nenhuma hipótese, direitos ou deveres do cidadão podem ser invocados para justificar violação de direitos humanos fundamentais (BENEVIES, 1998, p.4). Já nas sociedades de Estado democrático em que vivemos atualmente no chamado “mundo desenvolvido”, a efetivação dos direitos humanos, de certa forma, está incorporada à vida política, já que passam a se agrupar no conjunto de valores do povo de uma determinada nação. Mas, como bem nos alerta Benevides (1998), acontece que muitas vezes nos países mais desenvolvidos é que se mais violam os direitos humanos, onde se encontram grupos de pessoas que são marcados pela discriminação, pelo preconceito e pelas mais variadas formas de racismo e intolerância, é que a ideia de direitos humanos permanece incerta. Assim sendo, é imprescindível que atualmente em nosso país possamos fixar os direitos humanos no seu devido lugar. Os cidadãos mais jovens não vivenciaram a ditadura militar, contudo é praticamente impossível que não se tenha ouvido falar desse histórico movimento pela busca e defesa dos direitos humanos principalmente para aqueles que estavam sendo perseguidos por suas convicções políticas. E é a partir daí que se dá início ao reconhecimento de que aquele povo perseguido era provido de direitos invioláveis, mesmo que tenha sido julgado e apenado, permanecia portador de seus direitos garantidos pelos Direitos Humanos, para sua devida proteção e defesa. A cidadania plena é fragmentada em três direitos, sendo eles: Direitos civis, políticos e sociais. Para ser considerado um cidadão pleno de fato, este teria que constituir os três direitos. Os indivíduos que possuíam apenas alguns desses três direitos seriam considerados cidadãos incompletos e os sujeitos que não possuíam nenhum dos direitos não seriam cidadãos, ou seja, eram excluídos da vida social. Direitos civis são aqueles primordiais como a vida, a liberdade, a propriedade, a igualdade perante a lei. Eles se constituem na garantia de ir e vir, e de escolhas e manifestações de pensamentos e de respeitos à inviolabilidade do lar. (CARVALHO, 2002) Nos tempos atuais é muito comum nos depararmos com críticas no que se refere a real cidadania de crianças e de adolescentes, vista muitas vezes como se fosse uma cidadania assegurada no papel, já que não logrou êxito para atuar operando mudanças nas práticas cotidianas dos que compõem a primeira infância. É comum, também, que o tratamento desta parcela da população ainda esta vinculada à noção de objetos de e para intervenção. Vale ressaltar o fato de que a lei tem uma função educativa e instrutiva: Constitui direitos quando estes não existem de fato, direcionando nossas ações aos critérios instituídos pela lei. Podemos afirmar que assegurar a cidadania para nossas crianças e adolescentes, reconhecendo o caráter que é particular desta forma de cidadania, é imprescindível, já que, não assegurando esse tipo de cidadania, estaremos indo contra o que rege e estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, e ainda, pela doutrina da proteção integral, o que impossibilitaria qualquer esperança de mudança da realidade. Na década de 1990, como parte de um processo alavancado ainda nos anos 1980, a noção de marginalidade foi deixada de lado pela maioria dos autores em favor da expressão exclusão social. A noção de exclusão social ganhou relevo nas reportagens, nas Organizações Não Governamentais (ONGs), voltada para esta questão, nos partidos políticos e governos. (PEREIRA, 2011) Giddens no seu livro sociologia relata que desde o início da sua obra, procurou trabalhar com o conceito de modernidade aceitando a inevitabilidade da diferenciação social. Já na sua crítica contemporânea ao materialismo histórico vai retrabalhar o problema da diferenciação social e da sua relação com a perda do controle dos indivíduos sobre as suas relações sociais a partir do conceito que irá se tornar central na sua obra, o conceito de distanciamento espaço-temporal. Também fala sobre “a estruturação de qualquer sistema social, grande ou pequeno, ocorre no tempo e no espaço e, ao mesmo tempo, coloca o tempo e o espaço entre parênteses” (GIDDENS, 2005, p.15). Retomando o estudo para o recorte do trabalho, ou seja, o trabalho de reintegração social de jovens em cumprimento de medidas socioeducativas, Giddens (2005, p.12) afirma: A exclusão social pode ser definida como uma combinação de falta de meios econômicos, de isolamento social e de acesso limitado aos direitos sociais e civis, representando uma acumulação de fatores sociais e econômicos ao longo da vida cotidiana que são caracterizadas por padrões de educação e de vida, saúde, violência, desigualdade social, miséria, injustiça, exploração social e econômica. A exclusão social está relacionada a um processo histórico pela relação de impacto da pessoa humana em sua própria individualidade, de maneira que a exclusão acontece em grupos, ambientes e situações, nas quais, quem estar fora das margens estipuladas pela sociedade, sem possibilidade de participação é um ser excluído do social. Caracterizada por ser um problema que se perpetua por longos processos históricos, a exclusão social encontra-se cada vez mais distante de ser compreendida e amenizada, quando vivemos o grande avanço das tecnologias e da própria sociedade em si. Os que não conseguem acompanhar essa evolução (por uma série de fatores) acabam excluídos socialmente. Embora as evoluções históricas da sociedade tenham contribuído de forma fundamental para o alcance de conquistas significativas na diminuição das desigualdades sociais, muitos aspectos da exclusão continuaram proporcionando diferenças sociais, econômicas e políticas dentro da sociedade. O conceito exclusão é demasiadamente complexo, dentro do qual podem ser identificadas várias categorias de desigualdades. Enfim, a inclusão social acontecerá quando, a partir de ações em movimentos coletivos, os até então excluídos, podem resgatar sua dignidade e outros direitos assegurados como: Emprego, renda, acesso à moradia decente, educação, saúde e outros serviços, mobilizando, dessa forma, a população a assumir suas responsabilidades sociais. Uma leva de incertezas sociais faz com que os indivíduos busquem uma identidade de pertencimento e de compartilhamento com um grupo, sem o qual os indivíduos não conseguem encontrar o “sentido da vida”. (RATTNER, 2002) Lendo os autores que estudam as conquistas no que se refere aos direitos da criança e do adolescente no Brasil, compreende-se que a infância é uma fase da vida humana que deve ser desfrutada pela criança e respeitada por todos. Fase essa que durantemuitos anos foi vista de forma contrária, sendo ignorada. O referido estudo parte do pressuposto de que os direitos de todas as crianças e adolescentes devem ser protegidos e assegurados, bem como a sua integridade e as atividades que lhes possibilitem uma formação humana com dignidade. A fim de entendermos a atual situação em que se encontram as crianças e os adolescentes no Brasil, é essencial que reconstruamos a analisemos os fatos históricos de lutas e conquistas que fizeram com que o cenário atual esteja exatamente da forma como se encontra. Como bem nos apresenta Paganini (2011) traduzindo o autor Veronese (1999), na época do Brasil colônia as crianças eram tidas como “seres indisciplinados”, eram vistas como indivíduos desprovidos de direitos, as que viviam em extrema pobreza e desigualdade social não possuíam opções nem meios de sair da pobreza. Para ganhar dinheiro, trabalhavam na marinha. No período imperial, à constituição de 1824 não demonstrou preocupação nem atenção às crianças, que eram tidas como marginais e eram submetidas ao poder policial. Além do mais, não tinham direito de escolha, já que a sociedade as considerava seres que não possuíam condições de reivindicar seus direitos e poderiam ser controladas por todos. (VERONESE, 1999 apud PAGANINI, 2011). Com a proclamação da república e a abolição da escravidão, crianças circulavam pelas cidades em busca de comida, casa, na total miséria. Porém, estas eram tidas como “baderneiras”, ou seja, a presença da pobreza incomodava a classe alta, pois tais crianças traziam consigo a “criminalidade”, furtando a beleza e a paz social (CUSTÓDIO, 2009, p.14 apud PAGANINI, 2011, p.5). Convenções também tiveram seu papel na fomentação de medidas que colocassem crianças e adolescentes em situação que merecia cautela e indo contra toda cultura do trabalho, da exploração desses sujeitos. A convenção de 1989 em seus artigos reconhece que toda criança tem direito a vida, e que deve ser assegurado a elas a sobrevivência e seu desenvolvimento, em especial seu art. 32, enfatiza que: l Os estados partes reconhecem o direito da criança de estar protegida contra a exploração econômica e contra o desempenho de qualquer trabalho que possa ser perigoso ou que possa interferir em sua educação ou que seja novo para sua saúde ou para seu desenvolvimento físico, mental, moral ou social. ll Os estados partes adotarão medidas legislativas , administrativas sociais e educacionais com vistas a assegurar a aplicação do presente artigo . Com tal proposito e levando em consideração as disposições pertinentes de outros instrumentos internacionais os estados partes decidirão em particular. a – Estabelecer uma idade ou idades mínimas para admissão de empregos. b- Estabelecer regulamentação apropriada relativa a horários e condições de empregos. c – Estabelecer penalidades ou outras sanções apropriadas a fim de assegurar o cumprimento efetivo do presente artigo. No ano de 1889, com a proclamação da República, e em consequência da Abolição da escravidão, começou então um processo de urbanização, e por todo esse tempo muitas crianças e adolescentes ficaram abandonados, já que por causa do grande número de escravos, muitos não tinham para onde ir e nem possuíam lugar para morar. Abandonados nas ruas buscavam formas de ganhar algum para sobreviver, aumentando consideravelmente o número de crianças nas ruas. (GIROTO, 2009). No geral, como afirmam os autores estudados, quando as pessoas vieram da zona rural para a cidade e, ao chegarem, não tinha emprego para todos, começaram a construir suas casas em áreas um tanto afastadas do centro da cidade, e a pedir esmolas nas ruas, o que acumulou uma considerável expressão da pobreza na cidade; o que não deveria ser notado, já que essas pessoas eram consideradas “marginais e perturbadores da sociedade”, e assim os governantes tinham que tomar soluções para amenizar essa situação “constrangedora” para a sociedade. Em conseguinte, com a finalidade de “defender a sociedade” e, sobretudo, para resolver essa problemática: Foi aprovado o código penal da República inserindo a criança num âmbito criminal, reduzindo sua condição de marginal, a pessoa sem garantia de direitos. Essa situação pressionou o Estado a tomar algumas iniciativas, então se criou os tribunais especiais e as casas correcionais para menores com o objetivo de corrigir o mau comportamento dos menores e diminuir a marginalidade, portanto, se inicia a discussão de um novo método de assistência à infância baseada na ciência médica, jurídica e pedagógica (GIROTO, 2009, p.89). A partir de então paulatinamente foi acontecendo a percepção de que a infância é ma etapa da vida do ser humano em desenvolvimento, porém, esse reconhecimento não corroborou em uma imediata valorização da criança e do adolescente como partes elementares da sociedade. Por outro lado, essa percepção acarretou uma separação radical das classes, quando privilegiavam as crianças da elite. Através do reconhecimento de uma identidade própria e particular, que se apresentou perante os demais segmentos estigmatizados como órfãos, expostos e eram melhores tratados na sociedade por serem de uma família desenvolvida, pois aqueles que eram pobres não tinham os mesmos acessos e importância para sociedade (MAUAD, 2000, apud PAGANINI, 2011, p.23). Durante esse período o país tinha uma idealização, a seguinte: A criança deveria ser o futuro do país. Para alcançar tal objetivo, necessitava reparar seus comportamentos e condutas para que só assim pudessem tornar-se adultos de bem. Logo, o Estado com base em tal objetivo acabou construindo uma prática de intervenção sobre a criança pela via da criminalização. Assim, nesses termos, em 1927 foi aprovado o Código de Menores, que inseriu o Direito do Menor no ordenamento jurídico brasileiro (VERONESE, 1999, apud PAGANINI, 2011, p.24). O segundo Código de Menores nasceu no ano de 1979, ainda anterior ao Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, porém já nasceu em defasagem para o aquele tempo, já que naquela época existia o dia Internacional da Criança, que era comemorado através de um movimento mundial. Mobilização essa que objetivava propagar atenção aos direitos das crianças e adolescentes, porém, esses direitos não eram devidamente explicitados na legislação do código de menores feito em uma época de manifestações políticas e de bem estar do menor, que na verdade representava os interesses militares e não das crianças e adolescentes. Não trazendo mudanças na realidade das crianças, já que as mesmas permaneciam submetidas ao poder judiciário, tanto a política nacional de bem estar do menor quanto o código de menores entraram em decadência, fazendo nascer, assim, a aprovação do ECA na década de 1990. Até que fosse aprovado o ECA, os Códigos de Menores de 1927 e de 1979 (durante 63 anos) não tiveram alterações significativas desde sua criação. Ficando a indagação: como é possível que esses códigos permanecerem por tanto tempo em vigor sem nenhum avanço social ou jurídico? Podemos supor que esse silêncio permaneceu por interesses políticos, institucionais e governamentais daquela época e assim esse silêncio foi rompido e houve o fim dos códigos de menores, que historicamente agiam em contradição a democracia e em discordância com os princípios individuais do ser humano (OLIVEIRA, 2005, p. 96). Duas críticas feitassobre o código de menores foram predominantes para sua decadência: A primeira era que as crianças e adolescentes eram chamados de forma preconceituosa, “de menores”, e eram submetidos ao poder policial por se encontrar em situação irregular no qual não tinham controle da situação, pois era ocasionada pela pauperização da família e pela falta de amparo político; a segunda era que as crianças eram privadas de sua liberdade e acabavam sendo apreendidas sem provas por atos infracionais e não tinham direito de defesa, diante dessa situação, era considerada a criminalização da pobreza (OLIVEIRA, 2005, p.98). Assim surge o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), respondendo a extinção histórica do código de menores e do código de 1979. Dessa forma, o estatuto é “filho” de uma história de lutas e conquistas pela garantia dos direitos da infância. Neste sentido, o direito da criança e adolescentes deixa de ser um direito menor tornando-se um direito semelhante ao do adulto. (PAGANINI, 2011) Um conjunto de normas disciplinadoras dos direitos básicos fundamentais das crianças foi trazido pelo estatuto, que objetivava implantar um sistema de garantias de direitos. Tomando para si a responsabilidade de assegurar, garantir e efetivar os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, não devendo mais agir como anteriormente, usando de meios de repressão e de força, mas com políticas públicas de atendimento, promoção, proteção e justiça. Com este instrumento de proteção da infância, a Organizações das Nações Unidas - ONU enfatiza a importância de tornar universal a igualdade às questões relativas aos direitos da infância e juventude tendo relação com o ECA de resgatar juridicamente a cidadania e atenção universalizada a todas as crianças e adolescentes, e respeitar as normativas internacionais (PAGANINI, 2011, p.102). Agora a criança é tida como sujeito de direitos e é considerada prioridade absoluta, fazendo com que se intensificassem as ações tanto no âmbito nacional quanto na esfera internacional para a promoção e respeito dos direitos da criança à proteção. As iniciativas do governo do Brasil refletem nas políticas públicas, gerindo efeitos importantes que vêm se somando nesse processo de enfrentamento. O ECA garante que as crianças e os adolescentes são portadores de direitos segundo a Constituição, protegido de qualquer tipo de exploração. E ainda assegura como direito da criança e do adolescente estudar, brincar e exercer outras atividades que favoreçam seu desenvolvimento. De acordo com art.3º, art.4º, art.5ºe art.6º do ECA fica estabelecido que: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais da pessoa humana, sem perda da proteção integral de que trata a lei, sendo assegurando a criança e adolescente, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral e social, em condições de liberdade e de dignidade. Deixando claro e explícito que criança nenhuma será alvo de qualquer forma de violência, discriminação, negligência, crueldade, opressão ou exploração, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Na interpretação desta lei será levado em conta que é dever da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar, com prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais como à vida, à saúde, à alimentação, à educação, o esporte, o lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, o respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária a criança e ao adolescente. Em resposta ao que o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura, o Ministério da Cidadania também desenvolve ações inerentes à proteção do indivíduo dentro da sociedade, começando pela assistência social, que é dever do Estado e direto de todo cidadão que dela necessitar. Entre os principais pilares da assistência social no Brasil estão a Constituição Federal de 1988, que dá as diretrizes para a gestão das políticas públicas, e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993, que estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações. A LOAS (1993, p.7) determina que: A assistência seja organizada em um sistema descentralizado e participativo, composto pelo poder público e pela sociedade civil. A IV Conferência Nacional de Assistência Social deliberou, então, a implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Cumprindo essa deliberação, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) implantou o Suas, que passou a articular meios, esforços e recursos para a execução dos programas, serviços e benefícios socioassistenciais. Quanto à organização da oferta dos serviços da assistência social em todo território nacional, o SUAS é o órgão governamental responsável, difundindo a promoção da proteção e o bem-estar social a todos os que dela necessitarem. As ações são orientadas pela nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS), aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) em 2004. A gestão das ações socioassistenciais segue o previsto na Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/Suas), que disciplina a descentralização administrativa do Sistema, a relação entre as três esferas do Governo, e as formas de aplicação dos recursos públicos. Entre outras determinações, a NOB reforça o papel dos fundos de assistência social como as principais instâncias para o financiamento da PNAS. A gestão da assistência social brasileira é acompanhada e avaliada tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, igualmente representado nos conselhos nacionais do Distrito Federal, estaduais e municipais de assistência social. Esse controle social consolida um modelo de gestão transparente em relação às estratégias e à execução da política (MDS,2009). Consolidando de forma definitiva o compromisso do Estado brasileiro no que se refere ao enfrentamento da pobreza e da desigualdade. Assegurando também a com a participação da sociedade civil organizada, através de entidades de assistência social e movimentos sociais, a universalização. Bem como a transparência dos acessos que garantem os serviços, benefícios e os programas da assistência social promovem esse modelo de gestão participativa e descentralizada. 3. O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA – E O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO NO BRASIL. O exposto capítulo disserta, sumariamente, a respeito do artigo 228 da Constituição Federal corrente, que assegurou a imputabilidade às crianças e jovens com faixa etária menor de 18 anos em situação de conflito com a lei, e a ascendência do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, que, por sua vez, enraizou a Doutrina da Proteção Integral. É bastante discutida nos tempos atuais a questão da responsabilidade penal dos jovens. Tais argumentações atingem não apenas a sociedade, mas afetam com iguais proporções a organização e o ordenamento jurídico, já que a proteção e defesa das crianças e adolescentes estão previstas no Diploma Constitucional de 1988, e asseguradas através da instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, somente em 1990, após dois anos. Tal proteção e defesa, fomentada pelo advento do ECA, atravessou copiosos avanços e progressões no decurso dos séculos,iniciando com uma doutrina desprendida às particularidades e especificidades das crianças e dos adolescentes, igualando-os aos adultos; em seguida, perpassando pelo modelo de caráter tutelar, que por sua vez, legitimou e oficializou o termo “menor” para mencionar crianças e adolescentes abandonados e cometedores de infrações, de forma a não diferi-los, até que, finalmente, chegou-se à etapa garantista, através da publicação e proclamação da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Nos tempos atuais, conta-se com uma ideia generalizada e comum de as crianças, adolescentes e jovens encontram-se emergidos na criminalidade e na delinquência e que há a ausência de responsabilização e compromisso. Contudo, não é de hoje que persevera o compromisso e a responsabilização penal de crianças, adolescentes e jovens, responsabilização esta que, para os historiadores, é estabelecida por dois importantes ápices: O primeiro na época em que se fazia uma abordagem igualitária nesse quesito entre crianças, adolescentes, jovens e adultos; e o segundo no momento em que a idade do executor da ação ilícita se faz condição distinta no que se refere à imputabilidade. A Lei das Doze Tábuas (449 a.C.), em Roma, já discernia e diferenciava o menor púbere (fecundo) e o impúbere (não fecundo), assegurando ao menor impúbere uma atenuação da pena, levando em consideração ser incapaz e inapto de discernir de forma cautelosa suas ações (SHEICARA, 2015). Tal método de ponderação na deliberação da responsabilidade penal perdurou por todo o período medieval: A menoridade enquanto motivo de isenção e dispensa de pena (até os 07 anos de idade), ao passo que dos 07 aos 12 anos de idade (para as do sexo feminino) e dos 12 aos 14 anos (para os do sexo masculino); critérios estes assinalados pelo Direito Canônico defendiam que a responsabilidade e a sensatez eram contestáveis, carecendo assim obediência ao método de bom senso e discernimento, ocorrendo a atenuação das penas quando fosse o caso (SHEICARA, 2015). Sancionou-se a formação do primeiro tribunal espanhol a fim de procederem-se os julgamentos dos menores no final do período medieval, tanto os abandonados quanto os infratores. Nomeado “Padre de Huérfanos”, no século XX, o mais popular predecessor dos tribunais tutelares de menores. No que se refere ao direito brasileiro, o inaugural diploma legal aplicado com efeito na esfera penal, no tocante ao menor, foram as Ordenações Filipinas (1603). Naquela época existia um Estado em que a jurisdição e o juízo eram regidas pela Igreja Católica, e ainda, levando-se em conta de que a “idade da razão” era obtida ao completar sete anos de idade, este, então, era o marco e a fronteira da responsabilidade penal (SARAIVA, 2009). Segundo Saraiva (2009), havia apenas uma segurança garantida aos menores de 17 anos: A vedação da Pena de Morte, constante do Título CXXXV do Livro Quinto das Ordenações Filipinas, ao passo que os jovens com faixa etária entre 17 e 20 anos permaneciam sob o arbitramento de quem os julgariam para conceder-lhes a pena diminuída ou total, em um regime de “jovem adulto” (SARAIVA, 2009, p.29). No dado “Diploma Legal” a maioridade irrestrita e plena era obtida aos 21 anos de idade. A Doutrina da Proteção Integral, consolidada pela Lei 8.069/90, apresenta as crianças, adolescentes e jovens enquanto sujeitos portadores de direitos, em oposição a tratá-los enquanto meros objetos do direito penal, e assim, predicando a abordagem particularizada dessas pessoas, já que se trata de indivíduos em desenvolvimento. Como nos afirma Saraiva (2009, p.85), o Estatuto da Criança e do Adolescente se serve do preceito de que: Todas as crianças e adolescentes, sem exceções, desfrutam dos mesmos direitos e sujeitam-se a obrigações compatíveis com sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, exterminando a ideia de que os Juizados de Menores somente atenderiam aos pobres desamparados, como era a concepção da doutrina da situação irregular (SARAIVA, 2009, p.85). Essa defesa nasceu no contexto da Constituição Federal em vigor, e inicia com a diretriz classificada pela maioria como Cláusula Pétrea (embora instrumento de controvérsia), que instituiu a idade de maioridade penal aos 18 anos, consolidada e definida no artigo 228 do dado Diploma. Assim sendo, o executor da lei intencionou diferenciar as crianças e adolescentes dos adultos, fomentando que estes permanecessem à mercê da Norma Especial, respeitadas e levadas em consideração as suas particularidades enquanto indivíduos em desenvolvimento, objetivando assegurar-lhes a tão desejada Proteção Integral. O que se constata já nos artigos primeiros do Estatuto da Criança e do Adolescente, que, para além de assegurar aos beneficiados pela lei a fidelidade dos preceitos constitucionais fundamentais, normatiza que criança ou adolescente algum seja tratado de forma diferenciada de seus semelhantes, configurando preconceito. Transcrito da seguinte forma: Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) (BRASIL, 1990). Incluído posteriormente em 2016, o parágrafo único do artigo 3º, simboliza uma alusão a doutrina da isonomia, requerendo um novo modo de perceber e compreender os cidadãos em situação de vulnerabilidade, de forma que se evite, sob a ótica da proteção a todos, que o Estado falte com respeito às suas fundamentais garantias, como era comum na época de vigência do Código de Menores (DIGIÁCOMO, 2017, p.6). 3.1 A TEORIA DA SITUAÇÃO IRREGULAR E A TEORIA DA PROTEÇÃO INTEGRAL. Este subcapítulo tem por objetivo estudar a teoria da proteção integral, que, atualmente, norteia o tratamento de crianças e adolescentes no ordenamento jurídico brasileiro, e sua efetivação no que se refere às crianças e aos adolescentes autores de delitos, visto, hoje, como vítimas desta prática, frente ao apresentado e defendido no artigo 143 do Estatuto da Criança e do adolescente – ECA. A legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente veio para ser marco divisor e de ruptura com a jurisprudência precedente que versava sobre a questão menorista – Código de Menores (Lei n° 6697, de 10 de outubro de 1979), uma vez que priorizou como referencial o parâmetro doutrinário do Princípio da Proteção Integral em curso inverso a Teoria da Situação Irregular que vige na legislatura rescindida. Em suma, essas teorias estão firmadas nos princípios que se seguem.Para a Teoria da Situação Irregular, os menores (assim compreendida a pessoa menor de 18 anos de idade), são, meramente, indivíduos providos de direito e/ou que possuem a garantia da consideração judicial quando em situação qualificada enquanto “irregular”, dessa forma estabelecida em lei. De acordo com a situação em que se encontrava o menor, existia certa discriminação legal, podendo tão somente obter amparo jurídico o que se encontrasse em situação irregular; já os outros não se caracterizavam, assim, enquanto indivíduos merecedores do tratamento legal. Já a Teoria da Proteção Integral caracteriza uma evolução no que se refere aos direitos essenciais e fundamentais, uma vez que fixada na Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), e ainda tendo sido referenciada por comprovativos internacionais, como por exemplo: a Declaração Universal dos Direitos da Criança, admitida pela Assembleia Geral das Nações Unidas (20 de novembro de 1959); as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing – Resolução: 40/33 de 29 de novembro de 1985); as Diretrizes das Nações Unidas Para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad – de 1° de março de 1988); e por fim, a Convenção Sobre o Direito da Criança, admitida e defendida pela Assembleia Geral das Nações Unidas (20 de novembro de 1989), e decretada pelo Congresso Nacional Brasileiro (14 de setembro de 1990). A Teoria da Proteção Integral foi introduzida na organização e no ordenamento jurídico do Brasil mediante o artigo 227 da Constituição Federal brasileira, onde se afirma ser dever da família, da sociedade e do Estado possibilitar tanto à criança quanto ao adolescente, com prioridade integral e absoluta: O direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (Art. 227). A teoria jurídica da doutrina da Proteção Integral, priorizada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, fundamenta-se, basicamente e, três princípios fundamentais, que são: “Criança e adolescente como sujeitos de direito - deixam de ser objetos passivos para se tornarem titulares de direitos; Destinatários de absoluta prioridade; Respeitando a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento” (BRASIL, 1990). A partir dessa nova teoria, as crianças e os adolescentes passam a receber uma nova importância, como indivíduos providos de direitos, e agora não mais enquanto menores instrumentos de repressão e ainda de compaixão, em Situação de abandono, de delinquência e/ou Irregular. Sobre essa teoria, Amaral e Silva (apud PEREIRA, T. da S. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p. 27), sinala que: "o direito especializado não deve dirigir-se, apenas, a um tipo de jovem, mas sim, a toda a juventude e a toda a infância, e suas medidas de caráter geral devem ser aplicáveis a todos". Na mesma linha de pensamento, Martha de Toledo Machado reitera que a diferenciação outrora praticada não mais se mantém na Doutrina da proteção integral: Em suma, o ordenamento jurídico cindia a coletividade de crianças e adolescentes em dois grupos distintos, os menores em situação regular e os menores em situação irregular, para usar a terminologia empregada no Código de Menores brasileiro de 1979. E ao fazê-lo não reconhecia a incidência do principio da igualdade à esfera das relações jurídicas envolvendo crianças e adolescentes. Hoje não (A proteção constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos", 1ªedição, Barueri - SP, Manole, 2003. Pág. 146). Se o Direito se funda num sistema de garantias dos direitos fundamentais das pessoas, e no tocante a crianças e adolescentes um sistema especial de proteção, as pessoas (entre elas crianças e adolescentes) necessariamente têm um mesmo status jurídico: aquele que decorre dos artigos 227, 228, e 226 da CF e se cristalizou, na lei ordinária, no Estatuto da Criança e do Adolescente (A proteção constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos", 1ªedição, Barueri - SP, Manole, 2003. Pág. 146). Não há mais uma dualidade no ordenamento jurídico envolvendo a coletividade crianças e adolescentes ou a categoria crianças e adolescentes: a categoria é uma e detentora do mesmo conjunto de direitos fundamentais; o que não impede, nem impediu, o ordenamento de reconhecer situações jurídicas especificas e criar instrumentos para o tratamento delas, como aliás, ocorre em qualquer ramo do direito (A proteção constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos", 1ªedição, Barueri - SP, Manole, 2003. Pág. 146). Em suma, a partir da doutrina agora em efetivação, crianças e adolescentes abandonados, vítimas, executores de ato infracional ou não têm de serem tratados de igual forma legal, estando vetados quaisquer tipos de discriminação. No Estatuto da Criança e do Adolescente, em diversos artigos está presente o Princípio da Proteção Integral. Especialmente no que se refere à temática em questão, analisemos, então, o artigo 143 do ECA que alinha: Art. 143 - É vedada a disposição de atos judiciais, policiais e administrativos, que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. Parágrafo único - Qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentesco e residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome. O mencionado instrumento, nos discursos do Desembargador Sidney Romano dos Reis, objetiva: Resguardar o adolescente, por meio do sigilo, evitando sua exposição à execração pública injusta e prejudicial, mormente em se considerando tratar-se de pessoa ainda em formação e cujo deslize de conduta praticado na juventude poderá maculá-lo por toda uma vida adulta” (Apelação Cível nº 122.439-0/3- 00). Possuindo associação, também, com o direito ao respeito e a dignidade, defendendo o direito de identidade, intimidade, imagem e vida particular e privada da criança e do adolescente implicados na prática e cometimento de ato infracional, de tal modo que fortuita desobediência a esta conduta provoca sanções e penalidades administrativas (art. 247 do ECA) e ainda de natureza cível, com relativa e eventual condenação por dano moral (JTJ 218/94). 3.2 O SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO – SINASE. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE – manifesta o complexo estruturado de fundamentos e princípios, diretrizes, regras, preceitos e critérios que compreendem a aplicação de medidas socioeducativas, empregues aos adolescentes em situação de conflito com a lei. O SINASE é constituído pelos serviços e sistemas estaduais/distrital e municipais, envolvendo, sobretudo, todos os projetos, planos, programas e políticas vigentes nessas três esferas de governo no que se refere ao tema. A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério dos Direitos Humanos – SNDCA/MDH – coordena o SINASE, que foi instaurado através da Lei 12.594 (18 de janeiro de 2012) e determina e institui a aplicação das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, como: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade e internaçãoem estabelecimento educacional. Sendo o SINASE regido, também, pela Resolução 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA – e pelo Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo - PNASE (Resolução 160/2013 do CONANDA). A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério dos Direitos Humanos – SNDCA/MDH – enquanto órgão gestor do SINASE fomenta e articula execuções e ações com organizações e instituições do Sistema de Justiça; dos governos estaduais/distrital e dos governos municipais; e ainda dos demais ministérios, pactuando diretrizes e regulamentos nacionais de atuação, como, por exemplo, as estabelecidas pelo PNASE. Além disso, busca informar profissionais da socioeducação, veículos de imprensa e setor produtivo, entre outros, para que o processo de responsabilização do adolescente possa adquirir um caráter educativo, (re)instituindo direitos, interrompendo a trajetória infracional e promovendo a inserção social, educacional, cultural e profissional (MDH, 2019). E, ainda prevê parâmetros e princípios arquitetônicos de gestão, segurança e socioeducação para os equipamentos envolvidos. 4. A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SERVIÇO SOCIAL JUNTO AOS ADOLESCENTES QUE SE ENCONTRAM CUMPRINDO AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS. Em face da realidade exposta, é possível perceber os desafios que englobam o fazer profissional, tanto através das demandas das crianças e dos adolescentes quanto pelos limites impostos pela burocratização latente nos instrumentais de trabalho, quando a práxis do Assistente Social frente a esse sistema de medidas socioeducativas se caracteriza pelo trabalho intersetorial e pela articulação com as várias instituições da rede socioassistencial visando um acompanhamento eficaz e qualificado aos adolescentes atendidos. Nessas condições, o conhecimento a que se referem os Assistentes Sociais é o conjunto de informações relacionadas às necessidades dos usuários e à estrutura formal, legal e burocrática das instituições e o modelo de operacionalização das políticas e dos programas sociais. Em determinadas situações, a estrutura formal e burocrática institucional pode exigir registros 13 Anais do 5º Encontro Internacional de Política Social e 12º Encontro Nacional de Política Social ISSN 2175-098X diferenciados, mas sempre voltados à quantificação do atendimento tendo em vista, sobretudo, o aporte de recursos financeiros (COELHO, 2008, p. 46). Dessa forma, faz-se primordial que o Assistente Social seja qualificado para “[...] acompanhar, atualizar e explicar as particularidades da questão social [...]” (IAMAMOTO, 2008, p.41) que se manifestam sobre os adolescentes em conflito com a lei, “[...] acompanhando as diferentes maneiras como essas questões são experimentadas pelos sujeitos” (IAMAMOTO, 2008, p.41). Avaliamos ser necessário vencer a ação pontual cotidiana para perceber a realidade em suas múltiplas faces. É patente a importante interface existente entre as demandas postas ao sistema de justiça e as políticas públicas no âmbito da proteção social, envolvendo áreas como a saúde, educação, habitação, trabalho e renda. É nessas que se materializam direitos, portanto, são indissociáveis as interrelações entre as instituições do sócio jurídico e as do sistema de proteção social. [...] Nesse contexto, impõem-se desafios como a problematização da lógica da judicialização das expressões da questão social e da criminalização da pobreza; a superação da aparência dos fenômenos, como meros problemas jurídicos, incorporando à sua resolutividade o caráter político e social na dimensão da atuação profissional; a distinção entre os instrumentos do fazer profissional, daqueles voltados para a „aferição de verdades jurídicas‟, assumindo o estudo social como próprio da intervenção do serviço social, capaz de iluminar as determinações que constituem a totalidade da realidade, suas contradições e diferentes dimensões (CFESS, 2014, p. 99). A realidade é amplamente complexa e dinâmica e temos clareza de que esta pesquisa visa extrair da realidade o conhecimento aproximativo do real em seu movimento, buscando contribuir para o Serviço Social no desvelamento dos inúmeros desafios e possibilidades postos ao exercício profissional do Assistente Social no campo socioassistencial. O assistente social inserido no espaço de trabalho das instituições que executam as sanções previstas na lei brasileira muitas vezes percebe-se isolado da categoria, como se sua prática estivesse contra os princípios históricos do Serviço Social. É preciso enxergar com nitidez que essas sanções (privação de liberdade, por exemplo) estão previstas na legislação brasileira e podem constituir possibilidades concretas de tomada de consciência por parte dos sujeitos que a ela são submetidos (FREITAS, 2011, p.5). Sob outra perspectiva, a existência do profissional de Serviço Social nesses espaços muitas vezes chega a conceber também empenhos na defesa de direitos dos sujeitos acompanhados. Assim, produzir conhecimento acerca desse espaço de trabalho é também mostrar que a categoria tem condições de desenvolver um trabalho profissional comprometido com os pressupostos do projeto ético-político profissional, mesmo em instituições que trabalham com a execução de"sanções" (FREITAS, 2011, p.6). A atividade do Serviço Social é pautada na perspectiva de reinserção, recolocação e ressocialização saudável, pensando para além da perspectiva produtivo/ consumidora, mas de forma autônoma e emancipatória, de maneira em que o jovem tem plenas oportunidades de passarem a serem os autores de suas histórias de vida. Significa, logicamente, um desafio de enorme dimensão. Porém, os profissionais que se encontram nesses espaços de privação e contenção de liberdade tendem a alcançar, através do cotidiano, a produção de atividades, práticas e condutas que permitem e, sobretudo, motivam o resgate e a recuperação desse estado singular de humanização. 4.1 O TRABALHO DO PROFISSIONAL DE SERVIÇO SOCIAL EM UNIDADE DE INTERNAÇÃO. Com a finalidade de iniciarmos esta reflexão, faz-se necessário frisar que todas as unidades de internação possuem um plano de ação próprio e particular, assim, práticas que aqui serão explanadas estão passíveis a variar mediante o plano de ação da unidade. A categoria profissional do Serviço Social está entreposta nessas unidades de internação, e, a intitulação para a atividade do assistente social na maioria das unidades é: analista técnico (e afins) ou mesmo assistente social, compondo a equipe técnica de profissionais de cada unidade de internamento formada por psicólogos e assistentes sociais. Assim como deve ser, para fins de exercício de função de assistente social ou analista técnico (e afins), o profissional deve estar em situação regular no que se refere ao registro do Conselho Regional de Serviço Social. Vale ressaltar ainda que as atribuições reservadas ao cargo em questão caracterizam-se por atribuições distintas e específicas das do analista técnico na posição de psicólogo. O profissional de Serviço Social nas unidades de internação precisa comprometer-se com a efetividade do atendimento realmente socioeducativo, situando seu trabalho na perspectiva da garantia de direitos. Assim, o assistente social acompanhará o adolescente durante toda a medida de internação, na perspectiva do atendimento integral. Apenas para melhor compreensão do que está sendo proposto,é possível organizar didaticamente o trabalho do assistente social em três grandes dimensões que possuem interlocução entre si: atendimento ao adolescente, atendimento à família, participação na unidade de internação (FREITAS, 2011, p.7). O assistente social que labora nas unidades de execução de medida de internação deve ser regido pela premissa de que as suas atividades devem ser dirigidas pelo atendimento integral, e dessa forma, pode e deve ser fiscalizador no que se refere à situação do jovem em estar ou não recebendo devidamente esse atendimento e acompanhamento profissional dos demais profissionais. Desta forma, o assistente social busca assegurar que o adolescente receba alimentação, atendimento médico, odontológico, oportunidades de profissionalização, além de verificar, registrar e notificar aos seus superiores quaisquer violações aos direitos dos adolescentes, tanto por outros servidores da instituição quanto por outros adolescentes (FREITAS, 2011, p.7). O profissional assistente social deve ter sempre em mente que o seu compromisso laboral fundamental é com os usuários atendidos e acompanhados: No caso, o adolescente autor de ato infracional, e então é para esse sujeito que o trabalho deve ser direcionado. Esse sujeito deve ser o alvo principal, direto, de nossa práxis, deve estar no centro de nossa proposta de trabalho profissional (FREITAS, 2011, p.7). Martinelli (1999, p. 13) destaca: Não obstante estejamos trabalhando em profissões que são eminentemente sociais, nem sempre percebemos exatamente quem é esse outro com o qual trabalhamos. Nem sempre temos claro que sujeito é esse. Em quantos momentos esse outro é visto de forma vulgarizada, banalizada, como se o centro de referência da prática fosse o profissional que a realiza e não o sujeito que a constrói conosco. [...] Há então uma inversão total de valores. As instituições existem para responder as demandas da população. Dessa forma, cabe ao profissional de serviço social a busca incessante por fomentar junto aos usuários das unidades um atendimento qualificado e orientado pelas lentes dos direitos sociais. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A eficácia do Sistema Socioeducativo no Brasil ainda é considerado um tanto limitada frente ao universo de crianças e adolescentes vítimas de práticas infracionais, a fiscalização informal é outro desafio a ser superado, que cabe ao Ministério do Público. Toda trajetória legal alcançada, cuja finalidade seria a imposição do direito de crianças e adolescentes serem protegidos e assegurados em sua situação peculiar de desenvolvimento, são extremamente importantes, não podendo ser desconsideradas de maneira nenhuma, porém, o que se vê ainda é uma lei muito bonita no papel que não se aplica de fato no cotidiano desses indivíduos. Para Geertz (2001), a pesquisa é uma modalidade de experiência moral justamente porque ela resulta de contatos e detalhes perturbadores, que, certamente, afetarão a sensibilidade do pesquisador. Portanto, a experiência esteve atravessada, digamos assim, pelos efeitos das minhas leituras bibliográficas, configurando uma modalidade de experiência que se efetuou em uma partilha entre sensibilidade e inteligibilidade. É importante ressaltar que a pesquisa não possui apenas momentos de glória. Por diversas vezes, no decorrer dos estudos, me deparei com obstáculos que viriam a causar dificuldades e até mesmo certo desânimo. Essas dificuldades servem de aprendizado. Elas demonstram que as relações não são harmoniosas e nem sempre funcionam como os autores tentam mostrar. Sendo a pesquisa algo relacional (sujeita a problemas e conflitos) e, sobretudo, um jogo de informações e interpretações praticado pelo pesquisador e autores. Todo processo de dificuldade serve para que a pesquisa seja bem desenvolvida (e são muitos os momentos de tensão e dificuldade na realização do trabalho). Serve, principalmente, porque não existe um modelo padrão de se fazer pesquisa; o que pode nos ajudar são metodologias que auxiliam norteando o trabalho (ZALUAR, 1986). Em suma, toda dificuldade encontrada durante o processo de pesquisa contribui para um melhor desenvolvimento das ideias do pesquisador onde se torna empírico todas às hipóteses ou a descoberta de outras mais, sobre o objeto investigado levando em consideração toda sua contextualização e detalhes que nos fazem refletir e expressar todos os momentos realizados durante a pesquisa de forma íntegra. É necessário ressaltar que mesmo com programas criados que visam a proteção da criança e do adolescente, como o SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo discutido neste trabalho, é de grande importância para o enfrentamento dessa demanda tão complexa o envolvimento de toda a rede de atendimento à criança e ao adolescente bem como a sociedade num todo, com o objetivo de proteger e fazer valer os direitos da criança e do adolescente contra as formas de exploração do trabalho e contribuir desta forma com o seu desenvolvimento integral. Com isso, efetivar o acesso à escola formal, saúde, alimentação, esporte, lazer, cultura e profissionalização, bem como a convivência familiar e comunitária. A articulação prevista entre Estado, Família e Sociedade Civil não tem surgido efeitos, posto que a violência em que consiste exigir que crianças e adolescentes realizem atividades que não lhes são próprias, logo, há falhas entre essas instâncias que são primordiais para o crescimento de qualquer ser humano de forma qualitativa. Existe uma urgência para com a revalorização da proteção da criança e do adolescente, frente a essa temática do trabalho. Para tanto, fica claro que, para entendermos sobre a demanda é necessário que façamos aproximações, estudos, abordagens, no intuito de articular toda a rede protetiva existente. Devemos ainda, enquanto profissionais capacitados e apoiados numa visão e postura crítica compreender todo o cerco cultural enraizado naquela família sem fazer juízo de valor, pré-julgando a família ou a culpabilizando e sim a envolvendo nessa busca por soluções para o fim dessa cultura de exclusão que se faz tão presente na contemporaneidade 6. REFERÊNCIAS Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. ‟Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em: 20 de julho de 2019. AMARAL E SILVA (apud PEREIRA, T. da S. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. Rio de Janeiro: Renovar, 1996. ARAÚJO, Denilson Cardoso de; COUTINHO, Inês Joaquina Sant'Ana Santos. 80 anos do Código de Menores. Mello Mattos: a vida que se fez lei. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1673, 30 jan. 2008. Disponível em: <http://jus.com.br/revista /texto/ 10879>. Acesso em: 22 set. 2019. BAPTISTA, Myrian Veras; BATTINI, Odária. A prática profissional do assistente social: teoria, ação, construção do conhecimento. São Paulo: Veras Batista, 2009. BENEVIDES, M.V.M.S Cidadania e Direitos Humanos. 1998. Net, Disponível em: Acesso em: 02 out. 2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1998). _______. Lei n o 12.594, de 18 de janeiro de 2012. Institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). Diário Oficial da União, Brasília. 19 jan. 2012. _______. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,16 jul. 1990.
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