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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL GEOVANE SANTIAGO BISPO APLICABILIDADE DO ROBÔ ALICE (ANALISADOR DE LICITAÇÕES, CONTRATOS E EDITAIS) NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NATAL-RN 2022 Geovane Santiago Bispo Aplicabilidade do Robô ALICE (Analisador de Licitações, Contratos e Editais) no âmbito do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade Artigo Científico, submetido ao Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos necessários para obtenção do Título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha. Coorientador: Msc. Eng. José Rosenilton de Araújo Maracajá. Natal-RN 2022 Seção de Informação e Referência Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Elaborado por Ana Cristina Cavalcanti Tinoco - CRB-15/262 Bispo, Geovane Santiago. Aplicabilidade do robô Alice (Analisador de Licitações, Contratos e Editais) no âmbito do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte / Geovane Santiago Bispo. - 2022. 23 f.: il. Artigo Científico (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Engenharia Civil. Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha. Coorientador: Msc. Eng. José Rosenilton de Araújo Maracajá. 1. Analisador de Licitações e Contratos (ALICE) - Artigo Científico. 2. Robô - Artigo Científico. 3. Licitação - Artigo Científico. 4. TCE/RN - Artigo Científico. 5. TCU - Artigo Científico. 6. CGU - Artigo Científico. I. Cunha, Paulo Eduardo Vieira. II. Maracajá, José Rosenilton de Araújo. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 342.924:351.712 Geovane Santiago Bispo Aplicabilidade do Robô ALICE (Analisador de Licitações e Editais) no âmbito do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte Trabalho de conclusão de curso na modalidade Artigo Científico, submetido ao Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Aprovado em 08 de Setembro de 2022 Prof. Dr. Paulo Eduardo Vieira Cunha – Orientador Msc. Eng. José Rosenilton de Araújo Maracajá – Coorientador Prof. Dr. Paulo Waldemiro Soares Cunha – Examinador interno Eng. Judson Joris da Silva Soares – Examinador externo Natal-RN 2022 AGRADECIMENTOS A Deus por ter me permitido saúde e determinação para não desanimar durante a realização da graduação e das etapas finais. Aos meus pais, Marli Bispo e Severino Bispo, e a minha irmã, Geane Bispo, por estarem ao meu lado, por todo o suporte e incentivo dado em toda minha trajetória acadêmica. Ao meu esposo e melhor amigo, Deyvison Costa, por ter sido meu fiel escudeiro, ter partilhado todos os meus anseios, angústias e ansiedades ao longo dessa árdua caminhada e por toda compreensão, apoio e acolhimento. Ao meu orientador, Paulo Eduardo Vieira Cunha, e ao coorientador, José Rosenilton de Araújo Maracajá, por terem embarcado nesse projeto, terem dado toda ajuda, orientação e apoio durante a elaboração do trabalho. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) por toda disponibilização de recursos, sejam eles financeiros ou humanos, para conclusão do curso. Ao Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte (TCE/RN) pela ajuda e disponibilização dos dados da ferramenta estudada. A cada um dos amigos que fiz durante a graduação, especialmente, ao meu grupo “Nunca foi sorte, sempre foi Deus”, Andreza Ticiany, Juliana Sousa, Ruth Leite, Vanessa Kelcey e Tábata Moreira, que tornaram a trajetória acadêmica mais leve mesmo em meio a todos os perrengues e estresses de trabalhos e provas e por terem sido não só colegas, mas sim melhores amigas. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 9 2.1 LICITAÇÕES PÚBLICAS ..................................................................................... 9 2.2 PRINCIPAIS PROBLEMAS E ENTRAVES EXISTENTES NAS LICITAÇÕES PÚBLICAS NA ÁREA DE ENGENHARIA ............................................................... 10 2.3 ROBÔ ALICE ........................................................................................................ 10 3. METODOLOGIA ...................................................................................................... 11 3.1 LOCAL DA PESQUISA ........................................................................................ 11 3.2 DESENHO DO ESTUDO E INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS .... 12 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................ 14 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 21 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 22 RESUMO O algoritmo ALICE (acrônimo de “Analisador de Licitações, Contratos e Editais”), criado em 2015 pela CGU (Controladoria Geral da União), surgiu na perspectiva de promover melhorias na Administração Pública mediante o uso de tecnologias. No âmbito estadual, o Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte (TCE/RN) foi um dos pioneiros no estabelecimento desse sistema. Este trabalho tem por objetivo descrever sua implementação no órgão; apresentar dados sobre a análise das licitações e contratos realizadas no cenário Potiguar pela corte nos anos de 2021 e 2022; e oportunizar a ferramenta ALICE, mostrando sua aplicabilidade. Trata- se de estudo quantitativo descritivo transversal, realizado no TCE/RN entre os meses de Abril/2021 e Abril/2022 em 248 licitações e contratos que foram receptados pelo sistema ALICE. Foi possível destacar que o algoritmo promove o aumento da produtividade dos servidores, permitindo maior controle dos certames, reduzindo erros e promovendo diminuição de danos ao erário; licitações de alto risco são predominantes, porém o TCE/RN prioriza análise de risco altíssimo, tendo em vista grande impacto material; e a maioria das obras analisadas que mostraram algum indício de fraude são as de grande vulto financeiro envolvido. Apesar dos alguns problemas, o ALICE mostra-se como uma solução diante da necessidade de melhorias no Serviço Público. Palavras-Chave: Analisador de Licitações e Contratos (ALICE). Robô. Licitação. TCE/RN. TCU. CGU. ABSTRACT The ALICE algorithm (acronym for "Bidding Analyzer, Contracts and Bids"), created in 2015 by the CGU (Office of the Comptroller General), emerged from the perspective of promoting improvements in the Public Administration through the use of technology. At the state level, the Audit Court of the State of Rio Grande do Norte (TCE/RN) was one of the pioneers in the establishment of this system. This work aims to describe its implementation in the agency;present data on the analysis of bids and contracts held in the Potiguar scenario by the court in the years 2021 and 2022; and provide an opportunity to the ALICE tool, showing its applicability. This is a quantitative cross-sectional descriptive study, carried out at the TCE/RN between the months of April/2021 and April/2022 in 248 biddings and contracts that were received by the ALICE system. It was possible to highlight that the algorithm promotes an increase in the productivity of the servers, allowing greater control of the contests, reducing errors and promoting a decrease in damages to the public treasury; high-risk bids are predominant, but the TCE/RN prioritizes very high risk analysis, in view of the great material impact; and most of the analyzed works that showed some indication of fraud are those of great financial magnitude involved. Despite some problems, ALICE shows itself as a solution to the need for improvement in the Public Service. Keywords: Bidding and Contracts Analyzer (ALICE). Robot. Bidding. TCE/RN. TCU. CGU. 8 1. INTRODUÇÃO A humanidade encontra-se em sua quarta fase da Revolução Industrial, conhecida como a Revolução Digital. De acordo com o autor Klaus Schwab, esse momento “não é reconhecido por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital” (SCHWAB, 2019, p. 55). Diante desse panorama, o mundo contempla inovações tecnológicas que produzem impactos sociais, políticos e econômicos relevantes, perante problemas anteriormente sem respostas. Na Administração Pública, um exemplo desses entraves cujas dificuldades vêm sendo minimizadas com auxílio de tecnologias, ocorre nos setores de compras e contratações. Nos moldes habituais, essas atividades envolvem processos licitatórios complexos, contratos robustos passíveis de problemas durante a execução, como manipulações de resultados, sobrepreços e indícios fraudes, gerando as mais diversas consequências. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), mais de 7.000 empreendimentos com recursos federais estavam paralisados ou inacabados em 2020, frutos de fiscalizações deficitárias. Entretanto, este cenário está sendo modificado pelo prisma tecnológico. Uma amostra desta mudança ocorre na Controladoria Geral da União (CGU), que em parceria com o TCU, têm utilizado “robôs” como ferramenta para auxiliar nos trabalhos fiscalizatórios desenvolvidos por essas entidades nos contratos e licitações públicas, ressaltando a importância do papel da inteligência artificial para melhoria da eficiência e controle externo nos serviços do Governo (COSTA; BASTOS, 2020). Nesse contexto surgiu o algoritmo ALICE (acrônimo de “Analisador de Licitações, Contratos e Editais”), criado em 2015 pela CGU, que, de acordo com Camarão (2017), tem por finalidade identificar possíveis inconsistências nos editais de licitações e atas de pregão eletrônico publicados diariamente no Portal de Compras do Governo Federal, realizando análises e enviando mensagens eletrônicas às unidades técnicas com apontamentos dos riscos detectados, considerando aspectos como quantidade, valores, materialidade e tipos de licitação. No âmbito estadual, o Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte (TCE/RN) foi um dos pioneiros no estabelecimento desse sistema. Dessa forma, este trabalho tem por objetivo (1) descrever sua implementação no órgão; (2) apresentar dados sobre a análise das licitações e contratos realizadas no cenário Potiguar pela corte nos anos de 2021 e 2022; e (3) oportunizar a ferramenta ALICE, mostrando sua aplicabilidade. 9 Portanto, este estudo justifica-se pela promoção do software supracitado como forma de inibição para possíveis fraudes em processos licitatórios; fomento ao debate sobre o uso de tecnologias, visando a melhoria e eficiência no serviço público; enriquecimento das discussões sobre as diversas áreas de atuação do profissional Engenheiro Civil; além de promover o compartilhamento de experiências bem-sucedidas e outras passíveis de melhorias entre órgãos no quesito inovação em gestão pública. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. LICITAÇÕES PÚBLICAS De acordo com Carvalho Filho (2018), a Administração Pública desempenha atividade multiforme e complexa, buscando principalmente atingir o interesse público. Assim, para resguardar tal prerrogativa e garantir a execução dos serviços, muitas vezes realiza contratos administrativos com entidade particulares. Para Di Pietro (2014, p. 273), expert na área, ‘‘A licitação é um procedimento interligado por atos e fatos da administração e atos e fatos do licitante’’. Segundo Toshio Mukai (1999, p.1), “(…) a licitação significa um cotejo de ofertas (propostas), feitas por particulares ao Poder Público, visando a execução de uma obra, a prestação de um serviço, um fornecimento ou mesmo uma alienação pela Administração, donde se há de escolher aquela (proposta) que maior vantagem oferecer, mediante um procedimento administrativo regrado, que proporcione tratamento igualitário aos proponentes, findo o qual poderá ser contratado aquele que tiver oferecido a melhor proposta”. A Administração lança mão das licitações nos âmbitos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme a necessidade da sociedade, seguindo determinadas legislações, como exemplo o próprio art. 37, inciso XXI, da Constituição Cidadã, bem como a Lei Federal 8.666/93, a Lei 10.520/02 (Lei dos Pregões), a Lei 13.303/06 e a Lei 14.133/21 (Nova Lei de Licitações). Conforme as legislações anteriormente citadas, o processo licitatório é composto por etapas internas e externas, nas quais são formadas as regras para que seja realizada aquisição de bens, serviços comuns ou obras, possuindo seis modalidades distintas, tais quais: Concorrência, Tomada de Preços, Convite, Concurso, Leilão e Pregão. Em todas as suas variantes, ela se coloca como uma forma de “solicitação” realizada pelo poder público, 10 destinado aos particulares, para que façam a melhor proposta financeira e que tenham oportunidade de contratação. 2.2. PRINCIPAIS PROBLEMAS E ENTRAVES EXISTENTES NAS LICITAÇÕES PÚBLICAS NA ÁREA DE ENGENHARIA O TCU, em 2010, realizou e divulgou a apresentação de um levantamento indicando os principais tipos de irregularidades que poderiam gerar a paralização de uma licitação ou do contrato resultante. De acordo com Sanchez (2011), os principais problemas encontrados foram: alterações indevidas de projetos e especificações com risco de dano ao erário; descumprimento de deliberações das legislações vigentes outorgadas pelos órgãos de controle; deficiência grave de fiscalização/supervisão; restrição ao caráter competitivo da licitação, entre outros. Ainda conforme Sanchez (2011), a fiscalização desses processos segue deficitária, sendo primordialmente realizada por meio de investigações especiais deflagradas por órgãos públicos federais, como o Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal (PF), assim como a CGU, pelos Tribunais de Contas da União, Estados e Municípios; bem como pela inteligência de sistemas desenvolvidos para o controle das atividades financeiras, como é o caso da Receita Federal do Brasil (RFB). 2.3. ROBÔ ALICE (ANALISADOR DE LICITAÇÕES, EDITAIS E CONTRATOS) Em 2015, a Controladoria-Geral da União (CGU), iniciou o desenvolvimento da ferramenta Alice (acrônimo de “Analisador de Licitações, Contratos e Editais) conjuntamente com o então Ministério da Transparência, como um software que tinha como função principal auxiliar a avaliação preventiva e automatizada de editais de certames. À princípio, a ideia era encontrar inconsistências nos editais publicados diariamente no Portal de Compras do Governo Federal, com objetivo de rastrearuma série de expressões regulares que identificassem padrões associados a indícios de irregularidade, porém com o passar dos anos inúmeras funcionalidades foram sendo incorporadas ao sistema. Um ano depois, em 2016, iniciou-se a parceria entre o TCU e a CGU para que, por meio dessa colaboração, o sistema Alice pudesse ser implementado no setor de controle externo, com ênfase no auxílio aos trabalhos desenvolvidos nos núcleos de análise de licitações. 11 Assim, através da Portaria-TCU nº 296/2018, datada de 18 de outubro de 2018, foi aprovado o documento, elaborado pela Secretaria de Controle Externo de Aquisições Logísticas (SELOG), conjuntamente com a Secretaria de Gestão de Informações para o Controle Externo (SGI), que regulamenta a sistemática de análise das informações fornecidas por meio dos e- mails diários do sistema ALICE para as unidades técnicas do Tribunal de Contas da União, e posteriormente repassado às Cortes de Contas Estaduais. Segundo Costa; Bastos (2020), o utilitário faz avaliação preventiva, tempestiva e automatizada de editais de licitação, resultados de pregões e contratações diretas; diariamente sendo extraídos dados do Portal Nacional das Contratações Públicas, inserido no sistema Compras.gov, e do Diário Oficial da União (DOU) e sua a análise permite a correção de falhas e impede o eventual desperdício de recursos públicos antes de sua ocorrência, sendo disponibilizado um relatório personalizado com os números dos processos, custos, valores em risco, eventuais indícios de fraudes e problemas de concorrência. Os editais das licitações são analisados com base em nove possibilidades de inconsistências, com foco na possível restrição de competitividade durante a fase de habilitação de licitantes, entre as quais, a título exemplificativo, o parâmetro da “exigência de certidão negativa de protesto” e “quantidade de insumos direcionados a execução de obras e serviços de engenharia” podem ser citados. Ademais, desde sua concepção, o Robô vem sendo estudado e analisado por instituições espalhadas por todo o país, a exemplo, Universidade de Brasília (PANIS, 2020; HILDEBRAND, 2021) e o Tribunal de Contas do Estado do Goiás (COSTA, BASTOS; 2020), tendo por principal finalidade o aprimoramento da ferramenta. 3. METODOLOGIA 3.1. LOCAL DA PESQUISA O Tribunal de Contas do Estado é um órgão público de grande relevância presente nos 26 estados e Distrito Federal, cuja função principal consiste na auditoria e na fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial dos poderes federativos (executivo, legislativo e judiciário), ou seja, compõe a rede de controle externo sobre a administração pública e, consequentemente, as contas públicas. No Estado do Rio Grande do Norte, o Tribunal de Contas do Estado fica situado na Avenida Getúlio Vargas, nº 690, Bairro Petrópolis no município de Natal. O órgão tem o corpo 12 técnico formado por cerca de 450 profissionais, dispostos em um espaço físico de 12 andares, distribuídos e alocados nos seus setores de acordo com as suas atribuições e responsabilidades As atividades desempenhadas pelo órgão estão vinculadas ao auxílio no controle externo com ação fiscalizadora em, aproximadamente, 858 unidades gestoras jurisdicionadas vinculadas às Administrações Direta e Indireta do Estado do Rio Grande do Norte e de seus municípios, bem como a realização de treinamento de gestores e técnicos pertencentes aos órgãos jurisdicionados e o planejamento e execução de ações destinadas à capacitação e ao aperfeiçoamento dos servidores do Quadro de Pessoal interno. A Inspetoria de Controle Externo (ICE), setor de engenharia, localizada no 4º andar, conta com um quadro de 13 funcionários, destes sendo 1 diretor, 8 auditores de controle externo, 1 analista de controle externo, 1 técnico de controle externo, 1 assessor técnico jurídico e 2 estagiário, tendo como função primordial tratar de denúncias, auditorias, fiscalização e observação concomitante de obras e serviços de engenharia mantidos com recursos estaduais e municipais. As análises processuais são efetuadas desde a etapa de licitação do objeto, isto é, projetos, orçamentos, termos de referência, memorial de cálculo de quantitativo, justificativa da despesa, editais, contratos e aditivos, até conclusão do objeto, em que está inserida no decorrer do processo a execução da obra por meio de inspeções in loco, medições, termo de recebimento dos serviços, utilização de material compatível qualitativamente com o especificado na licitação, fiscalização das técnicas construtivas utilizadas, liquidação da despesa, cumprimento do cronograma físico-financeiro e retenção de impostos. 3.2. DESENHO DO ESTUDO E INSTRUMENTOS DE COLETAS DE DADOS Este artigo trata-se de estudo quantitativo descritivo transversal, realizado no Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte entre os meses de Abril/2021 e Abril/2022 em 248 licitações e contratos que foram receptados pelo sistema ALICE e posteriormente inseridos no Observatório Estadual, sendo consultado diariamente os Diários Oficiais e os sinais de alerta enviados pelo software supracitado. A partir desta verificação, há a busca pelo certame licitatório em estado anterior ao de contratação no banco de dados da corte de contas, denominado de Sistema Integrado de Auditoria Informatizada (SIAI Análise), sendo a alimentação deste último de responsabilidade do próprio jurisdicionado, isto é, dos municípios e órgãos vinculados a eles do estado. 13 Tendo sido encontrado os documentos relacionados à licitação a ser analisada, as informações obtidas são cadastradas em uma matriz RRM (Risco, Relevância e Materialidade), de acordo com o valor, modalidade, quantidade de habitantes do município beneficiado, área de atuação da licitação, se foi extraída do ALICE e o tempo restante para recebimento das propostas, cada um dos atributos possuindo pontuações definidos em limites atribuídos pela própria Inspetoria de Controle Externo (Figura 01). Figura 01: Exemplo de limites atribuídos pela ICE aos parâmetros utilizados na matriz RRM. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. O produto final consiste na classificação do risco do objeto da licitação em insignificante (soma da pontuação dos parâmetros menor ou igual a 100), baixo (pontuação menor que 300), moderado (pontuação menor ou igual a 500), alto (pontuação menor a 750) e altíssimo (pontuação maior ou igual a 750), conforme exemplificado na Figura 02. 14 Figura 02: Matriz de Riscos (RRM) do Observatório Estadual. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. Os instrumentos para coleta de dados foram a planilha do Observatório Estadual, incluindo a matriz RRM e demais documentos; os alertas de indícios realizados pelo ALICE por meio do e-mail institucional do TCE/RN e as trilhas que indicavam o porquê da detecção daquela licitação ou contrato em questão, como também o manual de orientações do observatório. Além disso foram entrevistados servidores da própria instituição a fim de entender o processo de implementação do algoritmo. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A implementação do ALICE no âmbito do Tribunal de Contas do Estado do RN iniciou- se no ano de 2017, por meio da Coordenadoria de Informações Estratégicas para o Controle Externo (CIEX/TCE) e foi aprimorado no decorrer do tempo, fazendo-se presente em todas as diretorias que têm relação direta com o tema, ou seja, as que fazem fiscalização de licitações e contratos públicos externamente. Ocorreram diversas capacitações com os servidores para um melhor entendimento da plataforma. Atualmente, a Inspetoria de Controle Externo (ICE) e a Diretoria da Administração Indireta (DAI) são os setores que estão com a ferramenta em nível mais avançado de aprimoramentoe execução. A ICE elaborou um manual, conforme a Figura 03, que mostra o detalhamento de funcionamento do programa e que tem a principal finalidade de auxiliar o entendimento sobre 15 a usabilidade e funções do programa. Esta ferramenta é utiliza para consultas e treinamento de novos usuários, sejam eles servidores ou estagiários. Figura 03: Manual de Produção de Conhecimento na Fiscalização Concomitante de Licitações em Andamento. Fonte: Manual de Produção de Conhecimento na Fiscalização Concomitante de Licitações em Andamento – TCE/RN, 2022. No período do estudo, foram analisadas 1.154 (um mil, cento e cinquenta e quatro) licitações e contratos na área da engenharia, sendo destes gerados 248 (duzentos e quarenta e oito) alertas do algoritmo via e-mail institucional, o que representa aproximadamente 21% do 16 total de licitações verificadas, sendo esta a amostra de análise das informações aqui apresentadas. Com relação aos dados gerados pela matriz de Risco, Relevância e Materialidade (RRM), é possível inferir que a classificação de risco mais presente é o nível alto com 131 licitações encontradas, seguido por moderado (60), baixo (25), altíssimo (17) e, por fim, insignificante (15). Apesar de licitações de nível alto serem predominantes, a Corte de Contas realiza uma análise mais aprofundada das licitações e contratos considerados de nível altíssimo, ou seja, com pontuação maior ou igual a 750, tendo em vista que esse é o grupo que gera maior impacto material e financeiro. Figura 04: Gráfico com Resultados da Matriz RRM do TCE/RN. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. Muitos problemas são identificados nas trilhas do ALICE na Corte Potiguar, dentre os quais podemos destacar sobrepreço, potencial adjudicação com empresa impedida de contratar, jurisdicionados com termos de referência e estudos preliminares com corpo técnico sem regulamentação; e leis e jurisprudências do judiciário defasadas e/ou inexistentes. Quando comparado a outras instituições, como a 3ª ICFEx - Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército, podemos perceber diferenças entre os principais entraves encontrados, demonstrando uma singularidade em cada processo de controle externo, entre órgãos e jurisdicionados 17 diferentes. Para fins exemplificativos, o quadro 01 apresenta o comparativo entre as principais questões encontradas no TCE/RN e ICFEx, este último com predominância de barreiras que apontam para participação de uma empresa diversas vezes dentro de uma mesma licitação, podendo-se inferir que são encontradas restrições a competitividade nas licitações; enquanto o TCE/RN mostra dificuldades relacionadas a legislações e referências desatualizadas. Quadro 01: Comparativo das maiores incidências de problemas identificados pelo ALICE entre o TCE/RN e a ICFEx. TCE/RN ICFEx Sobrepreço Participantes de uma licitação com mesmo email/telefone Potencial adjudicação com empresa impedida de contratar Participantes de uma licitação com sócio em comum Jurisdicionados com termos de referência e estudos preliminares com corpo técnico sem regulamentação Participantes de uma licitação cujo sócio é parente de até 2º grau do sócio de outro participante Leis e jurisprudências do judiciário defasadas e/ou inexistentes Matriz e filial participando da mesma licitação Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. Os jurisdicionados que apresentaram maiores frequências de alerta emitido pelo ALICE estão definidos na figura a seguir, e são: Prefeitura Municipal de Mossoró (10), Prefeitura Municipal de Extremoz (8), Secretaria de Estado de Infraestrutura (6), Prefeitura Municipal de Assú (5) e a Prefeitura Municipal de Goianinha (3). Assim, ficando evidente que os órgãos analisados precisam de uma maior atenção, tendo em vista a recorrência de aparecimento nas análises periódicas do TCE/RN. 18 Figura 05: Gráfico com os Jurisdicionados com maiores frequências de alerta emitidos pelo ALICE. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. No TCE/RN, dentre os certames sinalizados pelo software, com relação as modalidades de licitação (Figura 06) que mais aparecem, têm-se as seguintes incidências: 172 (69,2%) tomadas de preços, 33 (13,2%) concorrências, 14 (5,6%) pregões eletrônicos, 10 (4,0%) pregões presenciais, 8 (3,2%) regimes diferenciados de contratação (RDC), 8 (3,2%) convites, seguidos de 3 (0,8%), da ata de registro de preço e da dispensa de licitação, mostrando, portanto, que a maioria dos certames analisados referentes a obras e serviços de engenharia (tomada de preço) estão inseridos no intervalo de valores de R$330.000,00 mil até R$3.330.000,00, ou seja, obras de grande vulto financeiro. 19 Figura 06: Gráfico da Incidência das Modalidades de Licitações. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. Nesse contexto, o Tribunal obteve inúmeros casos de sucesso com a fiscalização do Robô ALICE, em conjunto com o Observatório Estadual e os auditores de controle externo. Um deles foi a suspensão licitação da Companhia de Serviços Urbanos de Natal (Urbana) no valor de R$ 170 milhões cujo objeto se destinava à contratação de empresa para a execução de serviços complementares ao sistema de limpeza urbana, compreendendo varrição, capinação e roçagem manual de vias e logradouros, além de limpeza manual de praias (Figura 07). 20 Figura 07: Reportagem da suspensão da licitação da Urbana, fruto da fiscalização do Robô ALICE. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte, 2022. A auditoria apontou que houve vulnerabilidades no efetivo controle dos serviços e suas cláusulas editalícias, configurando-se em vícios insanáveis; que o modelo adotado não estabelece elementos mínimos de gestão de contrato baseado em nível de serviço, inexistindo definições de papéis e responsabilidades, mecanismos de controle, indicadores de desempenho, métricas e cláusulas de penalidades, além disso, o projeto básico é deficiente e carece de elementos e níveis de detalhamentos que o caracterizem, como memorial com definição de roteiros, frequências e dimensionamentos. Em outros tribunais, a ferramenta também apresenta exemplos de sucesso, como ocorrido no TCE/GO, no qual, de acordo com Naves (2018), a partir de um e-mail enviado pelo ALICE, a secretaria de controle externo no Estado de Goiás identificou que o Estado havia publicado 2 pregões eletrônicos (Editais n. 88/2017 e 102/2017), num valor total de 39 milhões para manutenção da rodovia BR 153. Entretanto, tratava-se de um trecho de concessão, cuja manutenção é de responsabilidade da concessionária. Foram menos de 2 meses entre a autuação do processo de representação e o Acórdão n. 1116/2017, que determinou a anulação desses 21 pregões, dentre outras determinações. Atualmente, as principais dificuldades encontradas com a ferramenta estão relacionadas aos direcionamentos dados pelas trilhas, pois em algumas ocasiões o algoritmo gera apontamentos e alarmes falsos que acarretam desperdício de tempo pelos servidores que farão a análise da licitação. São exemplos de certames que geram alarme falso: obras ou serviços de engenharia que lidam com escavações do tipo “manual” em sua composição do SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil); termos baseados em leis e jurisprudências que tiveram retificações (mas o sistema ainda está programado nos moldes antigos), dentre outros. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todo o exposto e dos resultados obtidos neste trabalho é possível concluir que: O ALICE promove o aumento da produtividade dos servidores (Auditoresde Controle Externo) do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte e a existência de um processo padronizado e contínuo; Com a ferramenta há possibilidade de controle prévio e concomitante das licitações, aumentando a expectativa de controle aos jurisdicionados, evitando a propagação de erros e permitindo a recomendação de melhores condutas pelo Poder Público; Melhorias no controle externo promovem diminuição do dano ao erário público com a fiscalização mais eficiente; Licitações de nível alto são predominantes na matriz RRM do TCE/RN, entretanto a corte de contas prioriza a análise de certames com o nível altíssimo, tendo em vista o grande impacto material e financeiro; Jurisdicionados analisados que aparecem com maior periocidade nos apontamentos realizados pelo Tribunal precisam de uma maior atenção; A maioria das obras que apresentam algum tipo de apontamento são as de grande vulto financeiro envolvido; O software necessita de um melhor aprimoramento de suas trilhas, tendo em vista a indicação, ainda, de problemas que poderiam já ter sido sanados pelo seu mantenedor (TCU). 22 Apesar de alguns problemas, o ALICE mostra-se como uma solução diante da necessidade de melhorias no Serviço Público, sendo essencial a realização de mais estudos para aprimoramento da ferramenta, bem como investimentos na produção de outras tecnologias que possam auxiliar nos diversos processos realizados pelo Governo, melhorando a gestão de recursos e diminuindo os indícios fraudes e desvios, auxiliando também no desenvolvimento sustentável da economia e bem estar geral da população. REFERÊNCIAS CAMARÃO, Tatiana. Conheça Alice: o robô do TCU que faz varreduras em editais de licitação na busca por irregularidades. 2017. Disponível em: https://professoratatianacamarao.jusbrasil.com.br/noticias/506885069/conheca-alice-o robo-do-tcu-que-faz-varreduras-em-editais-de-licitacao-na-busca-por-irregularidades. Acesso em: 13 maio 2022. COSTA, Marcos Bemquerer; BASTOS, Patrícia Reis Leitão. Alice, Monica, Adele, Sofia, Carina e Ágata: o uso da inteligência artificial pelo Tribunal de Contas da União. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, Goiania, n. 1, p. 11-36, jun. 2020. SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução de Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2019. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 32ª Edição. Rev, Atual, e Ampl. São Paulo: GEN/Atlas. 2018, p. 310. Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. - 27. Ed.- São Paulo: Atlas, 2015 MUKAI, Toshio. Licitações e contratos públicos. 5. ed. 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