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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURSO DE DOUTORADO GRACIMARY ALVES TEIXEIRA COMPREENDENDO O CUIDADO DA MÃE À CRIANÇA COM SÍNDROME CONGÊNITA PELO ZIKA VÍRUS NO CONTEXTO FAMILIAR NATAL-RN 2019 GRACIMARY ALVES TEIXEIRA COMPREENDENDO O CUIDADO DA MÃE À CRIANÇA COM SÍNDROME CONGÊNITA PELO ZIKA VÍRUS NO CONTEXTO FAMILIAR Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Doutor em Enfermagem. Área de Concentração: Enfermagem na atenção a saúde. Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Tecnológico em Saúde e Enfermagem. Orientadora: Profª Drª Bertha Cruz Enders. NATAL-RN 2019 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Bertha Cruz Enders - -Escola de Saúde da UFRN - ESUFRN Teixeira, Gracimary Alves. Compreendendo o cuidado da mãe à criança com síndrome congênita pelo zika vírus no contexto familiar / Gracimary Alves Teixeira. - 2020. 126f.: il. Tese(Doutorado)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-graduação em Enfermagem. Natal, RN, 2020. Orientadora: Profa. Dra. Bertha Cruz Enders. 1. Microcefalia - Tese. 2. Infecção pelo Zika vírus - Tese. 3. Teoria de Enfermagem - Tese. I. Enders, Bertha Cruz. II. Título. RN/UF/BS-Escola de Saúde CDU 616.98:616-083 Elaborado por MAGALI ARAUJO DAMASCENO DE OLIVEIRA - CRB-519 COMPREENDENDO O CUIDADO DA MÃE À CRIANÇA COM SÍNDROME CONGÊNITA PELO ZIKA VÍRUS NO CONTEXTO FAMILIAR Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do título de Doutor em Enfermagem. Resultado: Aprovada Data: 16 de dezembro de 2019. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________________ Prof.ª Drª Bertha Cruz Enders Orientadora-UFRN ________________________________________________________ Prof.ª Drª Francisca Georgina Macedo de Sousa Avaliador Externo-UFMA ________________________________________________________ Prof.ª Dr. Alexsandro Silva Coura Avaliador Externo-UEPB ________________________________________________________ Prof.ª Dra. Elisângela Franco de Oliveira Cavalcante Avaliador Interno-UFRN ________________________________________________________ Prof.ª Dra. Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Avaliador Interno-UFRN Dedico essa tese às mães das crianças com a Síndrome Congênita pelo Zika Vírus por toda sua fortaleza, dedicação, esforço e renúncias para cuidarem em tempo integral dessas crianças e do lar. AGRADECIMENTOS A Deus por me fortalecer durante toda a caminhada do doutorado. Profª Drª Bertha Cruz Enders por todos os ensinamentos e dedicação a ciência da enfermagem. Sinto-me honrada pela oportunidade de construir meu conhecimento com a sua maestria de profissional e mestre. Ao Centro de Reabilitação Infantil por ter acreditado na pesquisa e aceitado de prontidão sua desenvoltura, abrindo as portas da instituição para realização da coleta de dados. Às famílias das crianças com SCZV, especialmente as mães motivos maior dessa pesquisa, por se dispor a participar das entrevistas, mesmo com toda sobrecarga de atividades diárias no cuidado a criança e ao lar. Às enfermeiras e fisioterapeutas participantes do estudo pela disponibilidade e gentileza em falar sobre suas experiências acerca do objeto de estudo. Às bolsistas de iniciação científica: Ayla, Sara e Adeleide pela grande contribuição nas transcrições das entrevistas. À banca pelo aceite do convite, pelas valiosas contribuições e tempo dispensado mesmo tendo várias outras demandas profissionais. Em especial a profª Georgina e profº Alexsandro por terem se disponibilizado a se deslocarem de outros Estados do Maranhão e Paraíba até Natal-RN para prestigiar a banca de forma presencial. Ao grupo de pesquisa Práticas Assistenciais e Epidemiológicas em Saúde e Enfermagem (PAESE) pelas contribuições com o estudo e pelas trocas de conhecimento ao longo das reuniões. Aos designers Thiago Almeida pelo desenho da ilustração do modelo e Lucas Cristovam pelos ajustes finais do modelo. À Profª Drª Elisângela Franco por toda sua gentileza e disponibilidade em ensinar- me a operacionalização do atlas ti e pelos ensinamentos e contribuições na análise dos dados. À Profª Drª Georgina pela valiosa contribuição e fonte de motivação no meu processo de aprendizagem acerca da Teoria Fundamentada nos Dados. À Profª Drª Jovanka Bittencourt pelas oportunidades e momentos dispensados para desenvolver os vários trabalhos científicos e com isso ter concluído o ciclo do mestrado já aprovada e ingressada no doutorado. À Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte (FAPERN) por financiar meus estudos, como bolsista de doutorado até o momento em que antecedeu a minha posse de Professora da Escola de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Aos professores da Pós-graduação em Enfermagem da UFRN pela dedicação e contribuições no aprendizado ao longo dos anos de doutoramento. Aos colegas professores da ESUFRN que contribuíram indiretamente com a construção dessa pesquisa. Às amigas da turma de doutorado 2016.1 (Anna Cláudia, Andreza, Karol, Manu e Marta) pelo vínculo de amizade estabelecidos que nos fortaleceram ao longo dessa jornada de estudos. À Tassia e Thaís pelas trocas de conhecimentos, amizade e apoio. Ao meu marido Diogo por compartilhar comigo as atividades da nossa família, por cuidar tão bem de Gabriel e de mim. Por todo amor, carinho e dedicação destinados a nós. Aos meus Pais (Hamilton e Graça) por serem meu porto seguro, porque além do amor e carinho cumpriram com sabedoria sua missão de pais, em educar seus filhos e guiar para vida profissional que escolhessem. Gratidão por todas as vossas grandes renuncias para eu ser quem sou hoje! Meus irmãos por sonharem, motivarem e torcerem pela minha vida profissional até hoje conquistada. À Lidiane por cuidar tão bem de Gabriel e possibilitar meu retorno ao trabalho e estudos. Aos meus sobrinhos (Caio Filho e Maria Clara) pelo amor e momentos de descontração. Aos demais familiares e amigos pelas orações e energias positivas desejadas. “É preciso uma aldeia inteira para se criar uma criança.” (Provérbios africanos) TEIXEIRA, G. A. COMPREENDENDO O CUIDADO DA MÃE À CRIANÇA COM SÍNDROME CONGÊNITA PELO ZIKA VÍRUS NO CONTEXTO FAMILIAR. 2020. 126 f. Tese (Doutorado em Enfermagem). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal (RN), 2020. RESUMO A Síndrome Congênita pelo Zika Vírus é um conjunto de anomalias cerebrais congênitas em crianças nascidas de mães infectadas pelo vírus na gestação, podendo se manifestar por microcefalia, retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e fala, paralisia cerebral, epilepsia, irritabilidade, disfagia, e alterações na visão e audição. O cuidado da família deve ser voltada para o desenvolvimento da criança por meio da estimulação precoce e do atendimento das necessidades resultantes do comprometimento neurológico sofrido.Conhecer o cuidado realizado pela família no domicilio é importante para o enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família que atua no ambiente domiciliar e para a construção de um modelo explicativo que possa guiar essa assistência. O objetivo do estudo foi compreender o processo de cuidado da família à criança com Síndrome Congênita pelo Zika Vírus. Realizou-se uma investigação de abordagem qualitativa e analítica, segundo a Teoria Fundamentada nos Dados de Strauss e Corbin e referencial teórico/filosófico de Leonardo Boff e da Teoria Adaptativa de Callista Roy. O estudo foi realizado no Centro de Reabilitação Infantil do município de Natal-RN, Brasil, com 19 participantes que compuseram quatro grupos amostrais: doze mães, três pais, duas fisioterapeutas e duas enfermeiras. Foram realizadas entrevistas abertas nos domicílios ou no serviço, no período de abril a outubro, 2018, e os dados coletados foram analisados pelo método de comparação constante. Na análise de dados utilizou-se o software atlas ti, versão 8.0, e os procedimentos de codificação aberta, axial e seletiva para formação de um modelo teórico com as categorias/componentes de ações-interações, condições e consequências do fenômeno. O modelo teórico explicativo foi elaborado com a categoria central emergida,―Compreendendo o cuidado da mãe à criança com síndrome congênita pelo Zika vírus no seu contexto familiar‖ e cinco categorias relacionadas: ―Revelando o cuidado da família centrado na mãe‖; ―Identificando a vinculação materna que determina o cuidado‖; ―Identificando os fatores que dificultam o cuidado da mãe‖; ―Reconhecendo a evolução da criança com Síndrome Congênita pelo Zika Vírus diante do cuidado de estimulação precoce‖; e ―Reconhecendo prejuízos em virtude da ausência do estímulo precoce à criança com Síndrome Congênita pelo Zika Vírus‖. O modelo indica que o cuidado da criança centrado na mãe no contexto familiar causa sobrecarga e exaustão materna em função da atenção constante exigida pela criança, o isolamento ao realizar as ações, e as dificuldades na realização da estimulação precoce. A mãe realiza o cuidado com amor e dedicação, mas depara a necessidade de responsabilidade compartilhada com os membros da família. O modelo orienta para o fortalecimento da rede de apoio à mãe no cuidado dessas crianças como prioridade e para o envolvimento dos membros da família no cuidado às necessidades da criança e na estimulação precoce. O estudo subsidia a qualificação profissional da equipe da Estratégia Saúde da Família no cuidado à criança com a Síndrome, constituindo, assim, uma contribuição para o desenvolvimento do conhecimento da ciência, do cuidado em saúde e da enfermagem. Palavras Chave: Microcefalia; Infecção pelo Zika vírus; Anormalidades Congênitas; Teoria fundamentada; Teoria de Enfermagem. TEIXEIRA, G. A. UNDERSTANDING THE MOTHER’S CARE OF THE CHILD WITH THE ZIKA VÍRUS CONGENITAL SYNDROME IN THE FAMILY CONTEXT. 2020 126 p. Thesis. (Doctorate in Nursing). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal (RN), 2020. ABSTRACT The Zika Virus Congenital Syndrome constitutes a group of congenital cerebral anomalies that occurs in children and that can cause microcephaly, retarded cognitive, motor and speech development; cerebral palsy; epilepsy; irritability; dysphagia; and changes in vision and hearing. These cases require for care to be focused on the child´s development through early stimulation and on the special needs resulting from the sequels of the neurologic complications. Knowledge of the care that family members provide to these children is particularly important to nurses in the Family Health Service that are responsible for care in the home environment, and for the development of a theoretical explanation for the phenomenon of family care. The aim of the study was to understand the family care process with the child that has Congenital Syndrome by Zika Virus. An analytic qualitative study was conducted using the Grounded Theory approach by Strauss and Corbin, and based on the theoretical / philosophical reference of care by Leonardo Boff and on the Adaptation Nursing theory of Callista Roy. The study was conducted at the Child Rehabilitation Center in Natal- RN, Brazil, with 19 participants in four sample groups: twelve mothers, three fathers, two physical therapists and two nurses, determined by the principle of theoretical sampling. Data were collected through in-depth interviews conducted April to October 2018, using the constant comparison method for the analysis. The atlas ti software 8,0 version was used for data analysis and the open, axial and selective coding procedures directed the construction of the theoretical model of the phenomenon and its categories of interactions, conditions and consequences. The central category ―Comprehending the mother’s care of the child with the Zika Vírus Congenital Syndrome in the family context‖ emerged from five categories: ―Revealing the mother-centered family care‖; ―Identifying the maternal attachment that determines care‖; ―Identifying the factors that hinder the mother’s care‖; ―Recognizing the child’s evolutions in the face of early stimulation care‖; and ―Recognizing losses due to the absence of early stimulation to the child‖. Based on these components, a theoretical explanatory model of the phenomenon was constructed. The model indicates that the mother- centered care of the child within the family context causes maternal overload and exhaustion as a result of the constant care required and her isolation in this function, and that this also hinders the early stimulation actions. However when the early stimulation is conducted by the family, the developmental progress of the child´s abilities is observed. The theoretical model constructed in this study informs the nursing care to these children in the context of the Family Health Strategy for the strengthening of a support network for the mothers in the health service centers and for the care of the child´s special needs that result from the complications. Therefore, the study is a contribution to the development of primary health care and of nursing. science. Keywords: Microcephaly; Zika Virus Infection; Congenital Abnormalities; Grounded Theory; Nursing Theory LISTA DE FIGURAS Figura 1. Tela do Atlas ti apresentando a entrevista transcrita e os códigos para conceituação dos incidentes, Natal-RN, 2018............................................................................................... 43 Figura 2. Tela do Atlas ti apresentando o arranjo dos incidentes, conceitos e suas subcategorias, Natal-RN, 2018................................................................................................. 43 Figura 3. Tela do Atlas ti apresentando memorando escrito durante o processo de coleta e análise dos dados, 2018........................................................................................................... 44 Figura 4. Demonstração da técnica flip-flop, por meio da comparação da criança padrão com a criança com SCZV, Natal-RN, 2018..................................................................................... 45 Figura 5. Tela do Atlas ti apresentando as cinco categorias refinadas e a integração de subcategorias, Natal-RN, 2018................................................................................................ 46 Figura 6. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria demandando intensificação da atenção materna para os cuidados à criança com SCZV no contexto familiar, Natal-RN, 2018........................................................................................................................ 53 Figura 7. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria cuidando da criança comSCZV de forma centralizada na mãe com o apoio/ajuda entre os membros da família, Natal-RN, 2018............................................................................................................ 54 Figura 8. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria vivenciando os cuidados maternos nas necessidades básicas e clínicas/específicas da criança com SCZV, Natal-RN, 2018......................................................................................................................... 56 Figura 9. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria estimulando o crescimento e desenvolvimento da criança com SCZV no convívio familiar, Natal-RN, 2018......................................................................................................................................... 58 Figura 10. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria estimulando o crescimento e desenvolvimento da criança com SCZV pelos profissionais, Natal-RN, 2019. 59 Figura 11. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria acontecendo o envolvimento incondicional (amor) entre mãe-criança com SCZV, Natal-RN, 2018............. 63 Figura 12. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria vivenciando a confiança/desconfiança da mãe em deixar a criança com SCZV aos cuidados de familiares, Natal-RN, 2018........................................................................................................................ 64 Figura 13. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria enfrentando os sentimentos de solidão, exaustão materna e aceitação da condição da saúde da criança com SCZV, Natal-RN, 2018............................................................................................................ 66 Figura 14. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria vivenciando a dificuldade de acesso à assistência que estimule o crescimento e desenvolvimento da criança com SCZV, Natal-RN, 2018.................................................................................................... 68 Figura 15. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria reduzindo o tempo da mãe no domicílio para estimulação do crescimento e desenvolvimento da criança com SCZV pelo cansaço e exaustão materna, Natal-RN, 2018...........................................................................................................................................69 Figura 16. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria dispondo de uma rede fragilizada de apoio ao cuidado materno à criança com SCZV, Natal-RN, 2018........... 70 Figura 17. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria percebendo evolução no desenvolvimento da criança com SCZV diante dos estímulos realizados pela interação com a família, Natal-RN, 2018................................................................................. 72 Figura 18. Diagrama apresentando os conceitos relacionados à subcategoria percebendo lentidão no desenvolvimento das habilidades da criança com SCZV sem assistência de estimulação precoce, Natal-RN, 2018...................................................................................... 73 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Diagrama de conceitos de Síndrome Congênita pelo Zika Vírus (adaptado de TEIXEIRA et al, 2019)............................................................................................................ 24 Quadro 2. Componentes do modelo teórico: fenômeno, categorias e subcategorias. Natal-RN, 2018.......................................................................................................................................... 51 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPC Benefício de Prestação Continuada CER Centro Especializado de Reabilitação CRI Centro de Reabilitação Infantil CRAS ECA Centro de Referência de Assistência Social Estatuto da Criança e do Adolescente ESF Estratégia de Saúde da Família INSS Instituto Nacional do Seguro Social MAR Modelo de Adaptação de Roy MS Ministério da Saúde NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família PC Perímetro Cefálico SCZV Síndrome Congênita pelo Zika Vírus SNC Sistema Nervoso Central TFD TRV STORCH SUS Teoria Fundamentada nos Dados Teste do Reflexo Vermelho Sífilis; Toxoplasmose; Rubéola; Citomegalovírus; Herpes simples Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15 2 OBJETIVO ......................................................................................................................... 21 3 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................... 22 3.1 A SÍNDROME CONGÊNITA PELO ZIKA VÍRUS ....................................................... 22 3.2 O CUIDADO À CRIANÇA COM SCZV ........................................................................ 26 4 REFERENCIAL TEÓRICO-FILOSÓFICO .................................................................. 31 4.1 O CUIDADO .................................................................................................................... 32 4.2 A FAMÍLIA E O CUIDADO ........................................................................................... 34 4.3 ADAPTAÇÃO .................................................................................................................. 34 5 MÉTODO ........................................................................................................................... 37 5.1 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................................... 37 5.2 CENÁRIO DO ESTUDO ................................................................................................. 38 5.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ..................................................................................... 39 5.4 COLETA DE DADOS ...................................................................................................... 39 5.5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................. 42 5. 6 VALIDAÇÃO DO MODELO TEÓRICO ....................................................................... 47 5.7 ASPECTOS ÉTICOS ........................................................................................................ 47 6 RESULTADOS ................................................................................................................... 49 6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES .............................................................. 49 6.2 REVELANDO AS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS ............................................ 50 6.2.1 Revelando o cuidado da família centrado na mãe ...................................................... 52 6.2.2 Identificando a vinculação materna que determina o cuidado ................................... 62 6.2.3 Identificando os fatores que dificultam o cuidado da mãe ......................................... 67 6.2.4 Reconhecendo a evolução da criança com SCZV diante do cuidado de estimulação precoce ................................................................................................................................ 71 6.2.5 Reconhecendo prejuízos em virtude da ausência do estímulo precoce à criança com SCZV .................................................................................................................................. 72 6.3 MODELO TEÓRICO ........................................................................................................ 74 7 DISCUSSÃO .......................................................................................................................77 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 84 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 86 APÊNDICES ......................................................................................................................... 93 APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ........................................ 94 APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 95 APÊNDICE C- RELATÓRIO DE CÓDIGOS EXTRAÍDOS DO ATLAS TI ................ 97 ANEXOS ............................................................................................................................. 120 ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ........................................... 121 15 1 INTRODUÇÃO Com a chegada do vírus Zika no Brasil, surgiu, em 2015, o aumento anormal de crianças com microcefalia (FRANÇA et al, 2016; KINDHAUSER et al, 2016; OLIVEIRA et al, 2016). A microcefalia ―consiste em anomalia congênita em que o perímetro cefálico (PC) da criança ao nascer, a termo, será igual ou inferior a 31,9 cm para menino, e igual ou inferior a 31,5 cm para menina‖ (BRASIL, 2016, p.1). No entanto, em 2016, com o avanço das pesquisas, observou-se que a transmissão vertical desse vírus causa graves malformações cerebrais congênitas, além da microcefalia, resultando em diversas anormalidades neurológicas nos bebês afetados. Esse quadro passa a ser considerado como uma nova síndrome (EICKMANN et al, 2016) e é referida como ―síndrome da Zika congênita‖ (p. e00047716). Mais tarde, esta passou a denominar-se Síndrome Congênita pela Zika Virus (SCZV) (BRASIL, 2017). O Ministério da Saúde (MS) do Brasil considera casos confirmados de feto com microcefalia relacionada ao vírus Zika, quando: o caso for identificado por meio de ultrassonagrafia durante a gestação; há alterações do SNC do feto característica de infecção congênita; relato de exantemas na mãe durante a gestação; e descartadas outras causas infecciosas de transmissão vertical por meio de sorologias para dengue, chikungunya, rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis e Herpes simples I e II, dentre outros. Então, no período de novembro de 2015 a dezembro de 2016 o MS brasileiro confirmou 2366 casos de microcefalia e/ou alterações do SNC relacionados à infecção congênita pelo Zika vírus, sendo a região nordeste com o maior percentual (76,24%) e a região sul e norte com as menores proporções respectivamente de 1,14% e 3,88%. Os três estados brasileiros com maior número de casos foram: Bahia- 18,30% (433); Pernambuco- 17,24% (408); Paraíba- 8,07% (191); e o Rio Grande do Norte teve 142 (6,00%) casos confirmados (BRASIL, 2016). Os estudos identificaram que o vírus Zika tem tropismo por células do Sistema Nervoso Central (SNC). Em algumas crianças com SCZV o crânio cresce normalmente durante a gestação por ser preenchido pelo edema cerebral e assim atinge o tamanho da cabeça dentro dos padrões considerados normais, porém a criança nasce com o cérebro atrofiado e anormalidades cerebrais (EICKMANN et al, 2016; VOUGA, BAUD 2016). Decorre que, sendo uma anomalia congênita associada à infecção pelo vírus Zika durante a gravidez, a SCZV pode causar no feto, calcificações intracranianas, volume cerebral diminuído, anomalias cerebrais graves, anomalias oculares e auditivas, ou seja, uma ampla 16 gama de anormalidades, muito além do perímetro cefálico diminuído (RUSSELL et al, 2016). Além disso, há retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e fala; paralisia cerebral; epilepsia; problemas na visão e audição; disfagia; e irritabilidade (EICKMANN et al, 2016). Contudo, o conjunto de sinais e sintomas do SCZV pode variar com ou sem a presença de microcefalia. Com isso, a assistência deve ser realizada por uma equipe multidisciplinar que acompanhe a evolução da criança no seu crescimento e desenvolvimento (EICKMANN et al, 2016). Além disso, é também foco da equipe, o atendimento a necessidades especiais de cuidado diário ocasionadas pelo comprometimento de habilidades básicas. Recomenda-se que o foco no desenvolvimento neuropsicomotor seja por meio da estimulação precoce e de acordo com as complicações da criança, quer físicas, neurológicas e/ou motoras (BRASIL, 2015a; 2016b). O MS define estimulação precoce como ―[...] um programa de acompanhamento e intervenção clínico- terapêutica multiprofissional com bebês de alto risco e com crianças pequenas acometidas por patologias orgânicas, buscando o melhor desenvolvimento possível, por meio da mitigação de sequelas do desenvolvimento neuropsicomotor, bem como de efeitos na aquisição da linguagem, na socialização e na estruturação subjetiva, podendo contribuir, inclusive, na estruturação do vínculo mãe/bebê e na compreensão e no acolhimento familiar dessas crianças.‖ (BRASIL, 2016b, p. 7). As ações de estimulação precoce são diversas e visam maximizar o potencial de crescimento físico e a maturação neurológica, comportamental, cognitiva, afetiva e social, devendo ser realizadas desde o nascimento até os três anos de idade, período em que o desenvolvimento do cérebro ocorre mais rapidamente (BRASIL, 2015a). Diante dessas necessidades, o MS do Brasil direciona as ações de desenvolvimento neuropsicomotor da criança com sequelas da SCZV para os profissionais de saúde da atenção básica e da atenção especializada do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2016b). Na área de atenção especializada, disponibilizam-se, para esse proposito, os serviços de reabilitação através dos Centros Especializado de Reabilitação (CER), do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e ambulatórios de seguimento de recém-nascidos das maternidades (BRASIL, 2015b; 2016b). São serviços em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (1990), no Art. 11, que ―assegura atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde‖. Além disso, 17 no parágrafo 1.º do ECA determina que ―a criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento especializado.‖ Para o cuidado e o acompanhamento do desenvolvimento integral da criança, o MS preconiza a articulação dos serviços especializados com as unidades de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) (BRASIL, 2016b). Trata-se de uma responsabilidade compartilhada, na qual cada serviço deverá atuar em rede. Cabe às UABS assegurar o acolhimento, orientação e apoio para a continuidade do cuidado. Preconiza-se que, além do apoio, às ESFs realizar visita domiciliar na primeira semana de vida do recém nascido com suspeita da SCZV, para verificar a realização da avaliação visual e auditiva, e da ultrassonografia transfontanela; identificação de dificuldades no aleitamento materno e nos demais cuidados com o bebê; imunização; realizar orientações quanto aos sinais de agravos à saúde da puérpera, tais como febre, fissuras na mama, sintomas de depressão; e agendar consulta para Planejamento Familiar e Puericultura. Preconiza-se que todos serviços ofereçam apoio psicossocial às famílias, com compete às NASFs o apoio à saúde mental com profissionais da área (BRASIL, 2004; BRASIL, 2016b). Com isso, torna-se imperativo o suporte profissional do enfermeiro da equipe da ESF no processo de cuidado da família à criança com SCZV e na realização das ações de estimulação precoce no seu cotidiano, em colaboração com a equipe especializada que assiste à criança. A equipe de profissionais especializados estimula o crescimento e desenvolvimento da criança, mas requer muito mais da família a continuidade desses cuidadosno seu convívio diário, para uma boa evolução da criança, pois a forma dessa criança vivenciar a vida interfere no seu desenvolvimento infantil. Sabendo que a mudança em um dos membros pode afetar a todos na família, o papel do enfermeiro é promover o ambiente que favoreça o relacionamento entre enfermeiro- família, com vistas a ajudar no enfretamento das dificuldades, principalmente em situações de doença (PINTO et al, 2010). A esse respeito, há de se considerar que o nascimento de uma criança com a síndrome ou com outras anomalias congênitas pode gerar sobrecarga adicional em nível psicológico, físico, financeiro, e social à família e seus membros (MENDES, et al, 2019; NUNES; DUPAS, 2011; SILVA, 2009). Esse processo de cuidar em família é complexo, difícil e estressante, devido às demandas de cuidado especializado apresentadas e a expectativa da responsabilidade vitalícia por esse cuidado. Isso requer o suporte e apoio dos profissionais de atenção primária com as famílias para que estas possam se adaptar à situação e aos cuidados necessários (BAILEY; VENTURA, 2018), pois acordo com o modelo de Adaptação de Sister Callista Roy a criança 18 que melhor se adapta (se desenvolve) é aquela que recebe estímulos do meio familiar, social e do ambiente (ROY, 1999). Nesse processo, o cuidado é um substantivo que reflete o resultado da ação do cuidar pelo encontro terapêutico entre o ser cuidado e o ser que cuida, pois a complexidade do cuidar implica em reconhecer que a pluralidade do ser humano exige a capacidade de relacionamento interpessoal. Assim, a enfermagem se orienta para a pessoa como um ser no mundo e um ser com os outros, ou seja, um ser relacional e existencial que tem um corpo (SILVA, 2012; APÓSTOLO, GAMEIRO, 2005). De tal modo, o enfermeiro precisa estar sensibilizado para identificar possíveis estresses, medos, preconceitos e necessidades da família, pois os familiares além de realizar o cuidado a um novo integrante da família, eles se deparam com uma criança com síndrome congênita, diferente das crianças idealizada por todos. Contudo, tal adaptação torna-se difícil tendo em vista que, em geral, essas famílias apresentam baixo nível de escolaridade e de renda, moram em locais em que a assistência especializada ocorre em outro município, e vivenciam dificuldade de transporte para deslocar- se até os serviços de saúde especializados. Esses fatores comprometem o desenvolvimento das habilidades da criança com SCZV e consequentemente na saúde da família que cuida (DUARTE, et al, 2019; FÉLIX; FARIAS, 2019; MENDES, et al, 2019; MENEZES, et al, 2019). Tais considerações sobre a demanda de cuidado da família à criança com SCZV e as dificuldades enfrentadas nesse processo são importantes para a enfermagem da ESF, haja vista o papel do enfermeiro da atenção primária nesse contexto. A esse respeito, sabe-se que o MS recomenda a assistência às crianças com SCZV de qualidade, quer no contexto institucional ou domiciliar, providenciada por uma equipe multiprofissional em atendimento às necessidades de estímulo precoce da criança. Porém, no âmbito domiciliar há pouco envolvimento da enfermagem no cuidado à criança com a Síndrome, sendo outros profissionais mais conhecidos nessa prática. (DUARTE, et al, 2019). Isso pode ocorrer devido ao desconhecimento das ações apropriadas a ser realizadas na assistência a saúde da família nessa terapêutica (VEIGA; NUNES; ANDRADE, 2017; CRUZ; CHICATI; BARSAGLINI, 2018). Embora a literatura apresente alguns estudos que focalizam a criança com SCZV e suas repercussões na família (DE SÀ, 2017; VIEGA; NUNES; ANDRADE, 2017; BRITO, 2018; FELIX; FARIAS, 2018; GOUVEIA, 2018; NASCIMENTO, 2018; DUARTE et al, 2019; FREITAS et al, 2019; MENDES et al, 2019), estes focalizam membros específicos da 19 família, mãe, pai, ou são desenvolvidos numa perspectiva descritiva de identificação de aspectos do cuidar. O cuidado da família à criança como processo no contexto da enfermagem de assistência primária é pouco estudado. Essa limitação de publicações pode estar relacionada ao fato de que os primeiros casos da SCZV, em nível mundial, surgiram no Brasil, em 2015 (FRANÇA et al, 2016; KINDHAUSER et al, 2016; OLIVEIRA et al, 2016). Assim, este estudo visa contribuir para esse conhecimento com a seguinte questão de pesquisa: Como acontece o cuidado da família à criança com SCZV? Tal questionamento parte do pressuposto de que a família cuida da criança com SCZV e que esse fenômeno é viável de ser explicado Entende-se, também, que o fenômeno de cuidado da família à criança com SCZV é complexo devido as suas inter-relações. As associações identificadas na evolução da Síndrome sugerem que existe uma rede de cuidados a essas crianças com vários conceitos inter-relacionados com o vírus Zika. Essas inter-relações encontram-se em fase de investigação nos diferentes ramos da ciência da saúde, inclusive na enfermagem, para uma melhor compreensão do cuidado necessário às crianças e famílias afetadas. Portanto, a tese a ser defendida neste estudo perpassa pelas seguintes considerações: o cuidado da família, a demanda do cuidar de uma criança com SCZV, a necessidade de estimulação precoce e de rede de apoio, pelo cuidado de quem cuida, e pela qualificação e atuação dos profissionais envolvidos no cuidado/assistência à criança e sua família. Assim, a tese que se pretende mostrar através deste estudo é a seguinte: o cuidado da família à criança com SCZV ocorre em forma de processo podendo ser explicado. Destarte, conhecer o processo de cuidar da família à criança com SCZV e o seu enfrentamento para a adaptação, auxilia a implementação da perspectiva humanística e integral que constitui a base do cuidar de enfermagem. O esclarecimento dos conceitos e de suas associações, conforme o estudo do fenômeno progrida, poderá dar origem a uma abordagem teórica e prática para o cuidado dessas crianças. A importância das bases teórico/conceituais do cuidado identificam determinados padrões e cenários para a prática e as características dos receptores do cuidado, promovendo assim, o foco do cuidado, as metas e os resultados específicos. Obtém-se assim, um cuidado coordenado e menos fragmentado (MCEWEN; WILLS, 2009). Assim sendo, a partir dos resultados do estudo, propõe-se desenvolver uma teorização de cuidado da família à Criança com SCZV, na perspectiva de que os conceitos identificados possam ser utilizados pelas disciplinas da saúde, bem como da enfermagem. 20 Ressalta-se, ainda, que o tema do estudo fazer parte da agenda de prioridades de pesquisa do MS brasileiro, mostrando relevância em três áreas prioritárias de pesquisa, quais sejam: análise da qualidade de vida das crianças com anomalias congênitas; avaliação do cuidado às crianças com SCZV; e análise das alterações de crescimento e desenvolvimento, da gestação à primeira infância, das crianças com SCZV (BRASIL, 2018). 21 2 OBJETIVO Compreender o processo de cuidado da família à criança com Síndrome Congênita pelo Zika Vírus. 22 3 REVISÃO DE LITERATURA Esta seção apresenta a revisão de literatura realizada na perspectiva de delinear a literatura identificada sobre os conceitos da Síndrome Congênita pela Zica Virus (SCZV) e o cuidado â criança com SCZV. 3.1 A SÍNDROME CONGÊNITA PELO ZIKA VÍRUS O vírus Zika agente causador da microcefalia ao qual o estudo se propõe foi isolado, em 1947, a partir de sangue de macaco (OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2016). Na década de 1960, nos países da África, Ásia e Ilhas do Pacífico, surgiram seus primeiros casos esporádicos de doença exantemática e de baixa gravidade, em humanos (MACNAMARA, 1954). Em 2007 ocorreu uma epidemia em Yap Ilha, na República da Micronésia que infectoucerca de 70% dos moradores. No período de 2013-2014 aconteceu grande epidemia na Polinésia Francesa na qual se estimou 28.000 casos de pessoas infectadas. Nessa crise, duas mães e seus recém-nascidos foram infectados pelo vírus zika, confirmados por meio de soro coletado pós-parto, sugerindo a infecção transplacentária (HAYES et al, 2009). Em 2015, foram confirmados casos de zika no México, Paraguai, Guatemala, El Salvador, Colômbia, Panamá, Honduras, Ilha de Santiago, Cabo Verde e Venezuela (KINDHAUSER et al, 2016) No Brasil, desde maio de 2015, vem ocorrendo um surto com início na região Nordeste e expansão do vírus para outras regiões do país. Assim, em novembro de 2015 foram notificados 141 casos suspeitos de microcefalia pelo vírus Zika no Estado de Pernambuco e vários nos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba (ZANLUCA et al, 2015). Com a chegada do vírus Zika e sua expansão no Brasil observou-se que as mães que estavam parindo ou gestando bebês com microcefalia apresentavam doença exantemática, característica do vírus Zika (FRANÇA et al, 2016; KINDHAUSER et al, 2016; OLIVEIRA et al, 2016). Esses casos de microcefalia foram definidos, de acordo o Ministério da Saúde (MS) brasileiro, como o PC menor que dois ou mais desvios-padrão do que a referência para o sexo, idade ou tempo de gestação, (BRASIL, 2015). Assim, o vírus Zika emergiu da obscuridade por sua associação com uma suspeita de microcefalia, pois na maioria dos pacientes infectados, a doença é relativamente benigna, apresentando exantemas na pele, febre baixa, prurido, conjuntivite e cefaleia (WONG; POON; WONG, 2016). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Poon%20RW%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=26965962 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Poon%20RW%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=26965962 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Wong%20SC%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=26965962 23 Aliado a esses dados, ainda em 2015, no Estado da Paraíba, identificou-se o vírus no líquido amniótico de duas crianças que na ultrassonografia fetal apresentavam microcefalia (CALVET et al, 2016). Como também, através do Instituto Evandro Chagas, o MS brasileiro, com esse aumento repentino no número de casos suspeitos de microcefalia pelo vírus Zika, fez o nexo causal ao detectar o vírus Zika no cérebro e em outras regiões de um recém- nascido que evoluiu a óbito logo após o nascimento (KINDHAUSER et al, 2016). Em seguida, estudo detecta a presença de anticorpos do vírus Zika em 11 crianças que nasceram com microcefalia (OLIVEIRA et al, 2016). Dessa forma, foi estabelecida a relação entre o aumento da ocorrência de recém-nascidos com microcefalia ao nascer e a infecção das mães pelo Zika vírus durante a gestação (BRASIL, 2015). Estudo aponta que as células cerebrais em desenvolvimento, incluindo as células humanas são a população de células que o vírus Zika tem tropismo. A infecção dessas células embrionárias pode causar desregulação do ciclo celular, redução do crescimento celular e morte de células progenitoras neuronais específicas de prosencéfalo embrionárias, neuroesferas e organoides cerebrais (BASU; TUMBAN, 2016). Com o avanço das pesquisas passou-se a observar que o Zika vírus está associado a vários defeitos congênitos, além da microcefalia, denominando-se de Síndrome Congênita pelo Zika Vírus (SCZV) (GULLAND, 2016). Assim, observa-se nas neuroimagem, como características comuns a todas as crianças que apresentam essa síndrome, a calcificação intracraniana, ventriculomegalia e diminuição do volume cerebral, (BASU, TUMBAN, 2016; MELO et al, 2016). A transmissão dessa síndrome se dá via transplacentária, pela mãe que foi infectada pela picada do mosquito Aedes SSP ou por via sexual. No entanto, apesar do vírus Zika ter se espalhado por todo o mundo, ainda encontra-se em investigação porque ocorreu alta predominância de crianças com microcefalia na região do nordeste brasileiro. As investigações encontram-se voltadas para possível agrupamento entre SCZV e fatores ambientais, socioeconômicos ou biológicos (BUTLER, 2016). Quanto ao conjunto de sinais e sintomas, a criança com essa síndrome pode apresentar as seguintes características: microcefalia fetal ou pós-natal, desproporção craniofacial, suturas cranianas sobrepostas, osso occipital proeminente, excesso de pele nucal, epilepsia, irritabilidade, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, discinesia, hipertonia, hipotonia, hemiplegia, hemiparesia, espasticidade, hiperreflexia, anormalidades auditivas e visuais (TEIXEIRA et al, 2019; LINDEN et al, 2016; MIRANDA-FILHO et al, 2016; OLIVEIRA- SZEJNFELD et al, 2016; RUSSELL et al, 2016). http://www.nature.com/news/brazil-asks-whether-zika-acts-alone-to-cause-birth-defects-1.20309#auth-1 24 Portanto, diante da necessidade de esclarecer o conceito de Síndrome Congênita pelo Zika Vírus, Teixeira et al (2019) realizou um estudo de análise desse conceito, identificando, a sua essência e seus determinantes (atributos); o que precisa estar presente antes do síndrome ocorrer (antecedentes); e os sinais e sintomas resultantes (consequentes), apresentados no quadro abaixo. Quadro 1. Diagrama de conceitos de Síndrome Congênita pelo Zika Vírus (adaptado de TEIXEIRA et al, 2019) - Calcificação intracraniana - Ventriculomegalia - Volume cerebral diminuído - Transmissão vertical (transplacentária) do vírus Zika de mãe infectada pela picada do mosquito Aedes SSP ou por via sexual . - Microcefalia fetal - Microcefalia pós-natal - Hidrocefalia - Desproporção craniofacial - Suturas cranianas sobrepostas - Osso occipital proeminente - Excesso de pele nucal - Epilepsia - Irritabilidade - Anormalidades visuais (estrabismo; coriorretinianas; maculopatia; cegueira) - Anormalidades auditivas - Anormalidades nos membros e atraso no desenvolvimento neuropsicomotor: (Hipertonia; Hipotonia; Hemiplegia; Hemiparesia; Espaticidade; Hiperreflexia; Discinesia) - Disfagia - Aborto espontâneo - Morte CONCEITOS RELACIONADOS - Malformação congênita; - Microencefalia; - Microcefalia ANTECEDENTES ATRIBUTOS CONSEQUENTES DEFINIÇÃO - Síndrome Congênita pelo Zika vírus são anomalias congênitas associadas à infecção pelo vírus Zika via transplacentária, que inclui calcificações intracranianas, anomalias cerebrais graves, anomalias oculares, uma ampla gama de sinais clínicos, além da microcefalia. Fonte: TEIXEIRA, 2019. Além de nessa síndrome existir casos de microcefalia pós-natal há casos de mães infectadas com o vírus Zika de forma assintomática, ou seja, que não apresentaram erupção cutânea (exantemas) durante a gestação. Então, para se detectar todas as crianças afetadas pela SCZV, deve-se ocorrer o rastreio além das mães com relatos de exantemas durante a gestação, com ultrassonografia durante o pré-natal para detecção de anormalidades fetal no Sistema Nervoso Central (SNC); acompanhamento do Perímetro Cefálico (PC) das crianças, e neuroimagem precoce para os casos suspeitos (OLIVEIRA-SZEJNFELD et al, 2016). 25 Estudos têm apresentado que há diferenças nas características clínicas dos recém- nascidos com SCZV e as que resultam de anomalias congênitas por outras causas de infecções intrauterinas, tais como as STORCH: Sífilis (S); Toxoplasmose (TO); Rubéola (R); Citomegalovírus (C); Herpes simples (H). Na síndrome em estudo ocorrem as calcificações intracranianas e outras anormalidades neurológicas já especificadas anteriormente (FRANÇA et al, 2016; MARTELLI, 2016; MELO et al, 2016; MIRANDA-FILHO et al, 2016; MOHAMMAD, 2016; SILVA et al, 2016; VENTURA et al, 2016). Então, conforme o que vem sendo discorrido, os profissionais de saúde podem encontrar crianças com quadros clínicos com microcefalia ao nascer cuja mãe foi infectada pelo vírus Zika durante a gestação; bebê com perímetro cefálico normal ao nascer cuja mãe foi infectadapelo vírus Zika durante a gestação; e mãe assintomática com infecção do vírus Zika e bebê com microcefalia ao nascer (EICKMANN, 2016; OLIVEIRA-SZEJNFELD et al, 2016; VENTURA et al, 2016). Assim, torna-se imprescindível que os profissionais de saúde e a população ampliem seu olhar além do termo microcefalia, para acompanhar a evolução do conceito de Síndrome Congênita pelo Zika vírus. Outrossim, essas crianças podem apresentar retardo no desenvolvimento cognitivo, motor e fala, problemas na visão e audição. Isso implica que a assistência à criança com SCZV deve ser voltada para as suas necessidades de crescimento e desenvolvimento, a depender de suas complicações, por meio da estimulação precoce (BRASIL, 2015). Essas condições demandam o acompanhamento multiprofissional do crescimento e desenvolvimento da criança com SCZV, desde a gestação, para rastreio dos casos suspeitos da Síndrome e detecção precoce desses casos. Nesse contexto e de acordo com as diretrizes da ESF no Brasil, os enfermeiros realizam consultas de enfermagem no pré-natal, nascimento, puerpério e de puericultura, de acordo com as necessidades da tríade, mãe, família, bebê. Tal atendimento se aplica às necessidades das crianças detectadas com a Síndrome. Dessa forma, o MS brasileiro lançou em 2016, as diretrizes de estimulação precoce para crianças de zero a três anos que possuem atraso no desenvolvimento neuropsicomotor decorrente de microcefalia, como subsídio para os profissionais de saúde no acompanhamento do desenvolvimento infantil nesses casos (BRASIL, 2016b). Para que se obtenha maior ganho funcional é imprescindível os estímulos nos primeiros anos vida, período em que a plasticidade neuronal está fortemente presentes e promove maior progressão do desenvolvimento nas áreas motoras, cognitiva e de linguagem. Com isso, têm-se como tecnologia de grande importância: o acolhimento e o cuidado a essas crianças e suas famílias como uma janela de oportunidades para o estabelecimento dos 26 estímulos que repercutirão em melhor desenvolvimento e qualidade de vida para essas crianças (BRASIL, 2016b). 3.2 O CUIDADO À CRIANÇA COM SCZV O desenvolvimento da criança não depende apenas do sistema nervoso central, mas de vários fatores, tais como os relacionais, afetivos, simbólicos, contextuais, ambientais e biológicos; ou seja, o desenvolvimento infantil se expressa nos modos como as crianças agem, reagem e interagem com objetos, pessoas, situações e ambientes. Destarte, a forma de vivenciar a vida interfere no desenvolvimento infantil (BRASIL, 2016b). Assim sendo, deve-se considerar a família como essencial no cuidado à criança, pois o isolamento social é considerado fator de risco, principalmente para os indivíduos que demandam mais dependência. Então, cabe aos profissionais de saúde incentivar a vinculação entre a criança e seus familiares, e incentivar o fortalecimento das redes de apoio, como também, acreditar que a família influencia no estado de saúde da criança e portanto, tentar acolhe-la como parceira na melhoria das práticas assistenciais e do sistema de cuidado (PINTO et al, 2010). Para isso, porém, é necessário que a família seja conceituada de forma abrangente e dinâmica nas relações que exerce. Elsen; Althoff; Manfrini (2001) ofereceram uma conceituação nesses termos, útil para a enfermagem. Em um estudo reflexivo a autora conceitua família como: ―Uma unidade dinâmica, com uma identidade que lhe é peculiar, constituída por seres humanos unidos por laços de sangue, de interesse e/ou afetividade, que se percebem como família, que convivem por um espaço de tempo construindo uma história de vida. Os membros da família possuem, criam e transmitem crenças, valores, conhecimentos e práticas de saúde, têm direitos e responsabilidades, desenvolvendo uma estrutura e uma organização própria. Estabelecem objetivos de vida e interagem entre si e com outras pessoas e grupos, em diferentes níveis de aproximação. A família está inserida em um determinado contexto físico, sócio cultural e político, influenciando e sendo por ele influenciado‖ (ELSEN; ALTHOFF; MANFRINI, 2001, p. 93). Assim, pode-se afirmar que a presença da família, conforme descrita por Elsen; Althoff; Manfrini (2001), existe na enfermagem desde o início da profissão, pois Florence Nightingale já destacava a importância da família e do ambiente doméstico no cuidado as pessoas doentes. A história que descreve o surgimento da enfermagem refere que nessa época, os pacientes eram atendidos dentro de suas casas. Por volta da década de 1980, a enfermagem na área pediátrica e materno-infantil passou a valorizar o cuidado à família ao considerar que se a criança está sendo assistida para seu melhor estado de saúde possível, assim também a 27 família está sendo cuidada pela abordagem centrada no paciente e na doença. No entanto, ao logo das décadas essa visão de cuidado ao paciente e sua doença ampliou-se e os princípios da enfermagem passaram a propor perspectiva integral do ser humano no contexto familiar, levando em consideração suas necessidades e a interação (PINTO et al, 2010). Ao aplicar essa perspectiva ao cuidado da família à criança com SCZV no contexto domiciliar, entende-se que essa atenção inicia logo após o nascimento. Por exemplo, o rastreio do desenvolvimento auditivo da criança se realiza nas maternidades através da Triagem Auditiva Neonatal, por meio de estímulo sonoro não invasivo que excita toda a cóclea da criança. Este deve ser realizado após as primeiras 48 horas de vida de nascido, podendo ser realizado até os três primeiros meses de idade da criança. Cabe às equipes da Atenção Básica monitorar se a criança realizou ou não o teste na maternidade, como também realizar o monitoramento das crianças, observando os marcos de desenvolvimento da audição e da linguagem. Além disso, é mister estimular a adesão dos pais à atenção a esse desenvolvimento, para o sucesso do acompanhamento da reabilitação auditiva (BRASIL, 2016b). Ainda na maternidade realiza-se a triagem ocular por meio do Teste do Reflexo Vermelho (TRV), com o foco de luz do oftalmoscópio alinhado na pupila da criança que refletirá um brilho de cor laranja-avermelhada. Porém, na presença de doença ocular não é possível observar o reflexo ou a sua visualização pode ser de ruim qualidade. Esse rastreio precoce visa detectar quaisquer eventos nocivos às estruturas oculares ou neurológicas da visão durante o período de desenvolvimento, que possam acarretar dificuldade e limitações visuais, como também, interferir nas atividades cotidianas e no processo de aprendizagem da criança. Assim, há necessidade do envolvimento dos profissionais tanto da ESF quanto dos serviços de alta complexidade para qualificar o impacto da perda visual e potencializar as habilidades no desenvolvimento global da criança (BRASIL, 2016b). A consulta de enfermagem à criança constitui um meio para estimular os pais a participar de forma ativa no cuidado do seu filho com vistas a que se desenvolvam em indivíduos autônomos e empoderados para esse cuidado. Para isso, a comunicação entre enfermeiro e família deve ser vista como uma dimensão central do cuidado e promotora da saúde da criança. Deste modo, o enfermeiro implementa uma relação de diálogos participativos com as famílias, valorizando suas dúvidas e manifestando apoio e confiança. É necessário manter a família no centro desse processo de cuidado para que esta possa expressar seus conhecimentos, valores e sentimentos, pois dessa forma espera-se que os pais se sintam 28 preparados para promover condições satisfatórias ao crescimento e desenvolvimento da criança (MOREIRA; GAIVA, 2016). Quanto ao desenvolvimento motor da criança, no exame físico, o enfermeiro avalia o tônus muscular; reações e reflexos primitivos (reflexos de busca, reflexo de sucção e deglutição,reflexo de moro, reflexo de preensão palmar e plantar, reflexo de ficção ocular) e observa as aquisições motoras como sentar sem suporte, ficar de pé com ajuda, engatinhar com as mãos e joelhos, andar com ajuda, ficar de pé sozinho e andar sozinho. Essas avaliações permitem identificar possíveis alterações ou atrasos que demandem maior atenção dos profissionais e da família, necessitando de estratégias de estimulação precoce, com a interação dinâmica entre as competências da criança, as tarefas e o ambiente (BRASIL, 2016b). O desenvolvimento cognitivo e de linguagem da criança depende da sua maturação neurocerebral, como também, da presença dos estímulos no momento oportuno. Portanto, devem ser garantidas às crianças, com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor: relacionamentos estimulantes, estáveis e ricos em experiências de aquisição (BRASIL, 2016b). O estímulo precoce, como terapêutica base para o desenvolvimento da criança com SCZV, compreende o ensinar, motivar, aproveitar as situações do cotidiano e os objetos para transformar, por meio de brincadeiras, em conhecimento e aprendizagem que leve a criança a desenvolver-se cada vez mais. Assim, faz-se necessário que, principalmente na faixa etária de zero a três anos de idade, os profissionais e as famílias acreditem nas potencialidades da criança e tenham motivação para promover estímulos (RAMOS et al, 2014). Quanto ao estímulo por meio de atividades lúdicas, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (1990), Lei 8069/90 assegura a criança em seu capítulo II, art. 16, o direito a liberdade compreendida nos seguintes aspectos: ―brincar, praticar esportes e divertir- se; participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação.‖ Além disso, o Conselho Federal de Enfermagem, por meio da resolução de nº 546, em seu artigo 1º, reafirma a responsabilidade do enfermeiro nessa atividade. Essa resolução afirma ―é competência do enfermeiro que atua na área de pediatria, a utilização do brinquedo terapêutico, na assistência a criança e sua família‖ (COFEN, 2017). Tais diretrizes confirmam os diversos benefícios à criança, família e o enfermeiro que a característica lúdica, educativa e terapêutica do brinquedo possui no cuidar. Entre esses efeitos positivos encontram-se: promove o relaxamento de tensões; minimiza o estresse da criança e consequentemente da sua família e do profissional; facilita a comunicação entre a 29 criança e os envolvidos nos cuidados; gera participação, aceitação e motivação da criança em seu processo terapêutico; facilita a manutenção da individualidade da criança e melhora sua compreensão quanto aos cuidados a serem realizados. Além disso, o brinquedo permite a criança exteriorizar as experiências que tem dificuldade de verbalizar, capacitando-a para o autocuidado, de acordo com seu desenvolvimento; como também prepara e informa a criança dos procedimentos a que será submetido (JANSEN; SANTOS; FAVERO, 2010). Portanto, o brinquedo é um recurso facilitador da assistência de enfermagem que deve ser reconhecido pelo enfermeiro em função da importante necessidade da criança em brincar. De tal modo, propiciar meios para sua realização no cuidado diário pela família e incorporá-lo de forma sistemática na assistência possibilita a implementação de um cuidado humanizado à criança e sua família (FERNANDES; RIBEIRO; DE QUEIROZ, 2019). Assim, Fernandes; Ribeiro; De Queiroz (2019), apresentam que o brincar da família, com as crianças com SCZV, diariamente, promove o desenvolvimento integral, pois, diante das dificuldades apresentadas por essas crianças, trabalha-se suas capacidades e melhora suas habilidades cognitivas, psicomotoras, afetivas e sociais. Além disso, o estudo ainda aponta a escola como um contexto de potencial desenvolvimento humano, mas que, no entanto, as mães tem receio da iminente inclusão dessas crianças na escola por vários motivos, desde a formação dos profissionais da educação, a estrutura física e de materiais necessários a essas crianças. Além da necessidade de estimulação precoce por meio de brincadeiras essas crianças com SCZV exibem outras necessidades relacionadas a dificuldades de se alimentar, em decorrência de apresentarem disfagia; muitas apresentam irritabilidade, convulsões e alteração do sono. Diante disso, as mães não conseguem trabalhar de forma remunerada, pois a criança demanda cuidados em tempo integral (DUARTE et al, 2019). Outrossim, FREITAS et al (2019), apresenta um perfil sociodemográfico de mães de crianças com SCZV de baixa renda, baixa escolaridade, residindo em áreas de periferia e em situações desfavorecidas e precárias, com dificuldades de acesso aos serviços e de informação em saúde. Além dessa situação de vulnerabilidade social as mães tem sido a única responsável por todo o cuidado da criança, causando-lhes sobrecarga e desgastes físicos e psíquicos (DUARTE et al, 2019). Por isso, apesar das mães sentirem prazer em cuidar dessas crianças e de terem orgulho de suas evoluções urge a necessidade da assistência e cuidado a toda à família e não restringir-se o cuidado à criança com SCZV, pois estudo aponta que 36,5% dos cuidadores dessas crianças apresentam diagnóstico de depressão (MENDES et al, 2019). 30 Diante disso ressalta-se a necessidade de rede de apoio fortalecida para criar uma criança, mas quando se trata de uma criança vivendo com necessidades especiais como a criança com SCZV, há pais que se afastam; os parentes têm medos ou não querem se envolver no cuidado dessa criança; os amigos se distanciam (PATRON, 2018). Então, a mãe quem assume toda a responsabilidade do cuidado que deveria ser desempenhada pela rede de apoio familiar, mas que mesmo com todo seu esforço e dedicação não consegue sozinha atender a todas as necessidades da criança (DUARTE, 2019). Assim sendo, faz-se necessário o fortalecimento das redes por meio de políticas intersetoriais: saúde, assistência social e educação. Com acesso aos serviços de saúde e assistência (fisioterapia) pública domiciliar ou nas escolas para minimizar do cansaço da criança pelo tempo de deslocamento para atendimento; inclusão aos programas de transferência de renda e educação, como também, outras fontes de apoio financeiro (associações, outros membros da família) tendo em vista que o auxílio público é insuficiente; ações voltadas para o cuidador; capacitação das famílias para o cuidado e o empoderamento das mulheres nesse processo de cuidar da criança com SCZV; apoio da família (pais, irmãos, parentes próximos e amigos) e apoio formal para realização dos serviços domésticos, para distribuir os cuidados da criança e os serviços domésticos; apoio profissional para estimulação precoce da criança e fonte motivacional para o cuidador; apoio emocional (DE ARAÚJO; PAZ-LOURIDO; GELABERT, 2016; BRASIL, 2018). Portanto, para o fortalecimento das redes de apoio torna-se imprescindível assistência multiprofissional qualificada no âmbito institucional e domiciliar. No entanto, há pouco envolvimento da enfermagem no cuidado à criança com a Síndrome e suas famílias, sendo outros profissionais mais conhecidos no cuidado focado na criança com SCZV. Isso pode ocorrer devido ao desconhecimento das ações apropriadas a ser realizada na assistência à saúde da família e da criança em questão (CRUZ; CHICATI; BARSAGLINI, 2018; DUARTE et al, 2019; VEIGA; NUNES; ANDRADE, 2017). Dessa forma, os gestores devem promover a qualificação profissional, como também deve ser ressaltado no processo de ensino desde a formação dos profissionais, acerca da necessidade do cuidado compartilhado entre os membros da família da criança com SCZV, para que por meio do auxilio profissional, a rede familiar seja fortalecida, com vistas, a melhoria da qualidade de vida da criança e sua família (DUARTE et al, 2019). 31 4 REFERENCIAL TEÓRICO-FILOSÓFICONesta seção, expõe-se a perspectiva filosófica e teórica que orienta o conceito de cuidado utilizado neste estudo, ao abordar o cuidado da família à criança com SCZV em domicilio. Tais explicações são relevantes porque, segundo Strauss e Corbin (1998), a maneira de pensar o mundo e o conhecimento teórico do pesquisador influenciam a sua postura epistemológica, orientando, assim, a perspectiva com que aborda a análise do processo que quer desvelar. Entretanto, a especificação de um referencial teórico na aplicação da metodologia TFD é controverso e até considerado inapropriado por alguns autores (NEWMAN, 2008; WALLS; PARAHOO; FLEMING, 2010). O argumento se dá em torno do papel dado ao conhecimento teórico nos estudos de TFD. Conforme Glaser (2005), qualquer teoria deverá emergir dos dados e não constituir a base que fundamenta a teoria que surge dos dados (GLASER, 2005). Já na perspectiva de Strauss e Corbin (1998), o conhecimento teórico e filosófico do pesquisador define a sua perspectiva que possui acerca do fenômeno sob estudo. Nesse sentido, Rodgers (2005), ao explicar o conhecimento de enfermagem como algo mais que o factual ou o empírico, utiliza o pensamento de Kant e refere que, ao tentar fazer sentido de situações e de relações, a mente humana utiliza a síntese do conhecimento sensível (intuição, espaço e tempo) e do conhecimento inteligível (experiência). Na lógica da filosofia transcendental sobre conhecimento, Kant afirma: ―Para conhecer um objeto é necessário poder provar a sua possibilidade (seja pelo testemunho da experiência a partir da sua realidade, seja a priori pela razão). Mas posso pensar no que quiser, desde que não entre em contradição comigo mesmo, isto é, desde que o meu conceito seja um pensamento possível, embora não possa responder que, no conjunto de todas as possibilidades, a esse conceito corresponda ou não também um objeto. Para atribuir, porém, a um tal conceito validade objetiva (possibilidade real, pois a primeira era simplesmente lógica) é exigido mais. Mas essa qualquer coisa de mais não necessita de ser procurada nas fontes teóricas do conhecimento, pode também encontrar-se nas fontes práticas‖ (KANT, 2001, p. BXXVII). Portanto, entende-se que o conhecimento teórico de referência acerca do cuidado neste estudo de TFD não constitui um construto a ser verificado empiricamente, nem tampouco é a teoria da base indutiva que dará forma à TFD. Ou seja, o referencial utilizado encontra-se no pensar, na razão do pesquisador e não como objeto a ser observado. Nesse sentido, diversos referenciais teóricos têm sido utilizados em estudos de TFD. O mais conhecido destes é o Interacionismo Simbólico devido a sua forte ligação com a concepção do método (WALLS; PARAHOO; FLEMING, 2010; BAGGIO; ERDMANN, 2011; CHAMBERLAIN-SALAUN; 32 MILLS; USHER, 2018). Neste estudo, o referencial compreende o cuidado em família segundo Boff e a adaptação (desenvolvimento) da criança com SCZV ao cuidado (estímulos realizados pela família e em seu convívio domiciliar) com base no pensar de Calista Roy. 4.1 O CUIDADO O cuidado constitui o primeiro conceito que surge quando se pensa nas necessidades da criança com SCZV no convívio familiar. Esse enfoque no conceito de cuidado como perspectiva teórica e filosófica para discutir o atendimento às necessidades da criança em família se relaciona a profissão da pesquisadora deste estudo, a enfermagem. Na enfermagem, o conceito de cuidado corresponde aos valores e às bases teóricas da disciplina, exemplificado pelas diversas teorias de enfermagem que diretamente referem-no como a arte do fazer ou como foco unificador da prática. Outras referem o cuidado indiretamente como atributo da pratica. Ou seja, o conceito cuidado é primordial e essencial à enfermagem (WATSON, 1988; LEININGER, 1991; WALDOW, 2009). Portanto, o conceito de cuidado integra a perspectiva teórica do estudo. Entretanto, esses aportes tratam da do cuidado humanizado profissionalizante de enfermagem, o que indica a necessidade de uma perspectiva que extrapole a ação para o sentido relacionado ao outro no convívio humano, como no caso das relações familiares. No contexto familiar o cuidado da mãe à criança com SCZV tem sido identificado como laborioso, estressante, e solitário, até passível à depressão, mas realizado com dedicação, amor, compromisso e resignação (BRITO, 2018; NASCIMENTO, 2018; SILVA et al, 2018; DUARTE et al, 2019; MENDES et al, 2019). Essa informação sugere a necessidade de uma perspectiva de cuidado mais ampla que auxilie o entendimento desse processo para além da realização de ações em reposta às necessidades básicas. Os escritos de Leonardo Boff apresentam o cuidado nessa perspectiva. Leonardo Boff, teólogo, humanista, orador e filosofo é amplamente conhecido como um escritor aberto aos novos paradigmas, pois seus estudos são voltados para a essência humana e para possibilidade do crescimento humano e social (SILVA et al, 2005). Seus pensamentos filosóficos sobre o cuidado, cuidado da terra, ética e outros conceitos relacionados ao avanço da humanidade, são de influência significativa na América Latina e em vários países da Europa. Neste estudo, salienta-se o conceito de cuidado expresso através de suas numerosas produções científicas sobre a ética e o relacionamento humano. 33 Boff (1999; 2000; 2005) aprofunda o conceito de cuidado ao fundamentar o seu significado no pensamento filosófico de Martin Heidegger quando afirma que o cuidado é um modo-de-ser; ou seja, é essencial à natureza humana. Como tal, o cuidado é parte inerente ao homem e, portanto, forma parte da sua constituição. E afirma, ―Nós não temos apenas cuidado. Nós somos cuidado... Sem cuidado, deixamos de ser humanos‖ (BOFF, 2005, p. 1- 2). O cuidado extrapola as ações, é uma atitude inata, uma dimensão que não pode ser totalmente eliminada. Essa atitude de cuidado se caracteriza pela atenção, ocupação e preocupação, o que exige responsabilização e envolvimento afetivo com o outro. Nesse sentido, as virtudes de solidariedade, generosidade, e afeto são necessárias para um cuidado efetivo nas relações humanas (BOFF, 2000). Surge assim, um outro conceito inserido nesse contexto do ser-no-mundo proferido por Boff, a compaixão. Nessa perspectiva, cuidado é mais que atenção, zelo e desvelo, é compaixão. A compaixão se explica como o princípio do modo-de-ser-cuidado quando Boff refere que a compaixão irradia do cuidado. É a capacidade do ser humano de compartilhar com o outro, de adentrar no mundo do outro e sentir seu sofrimento, e assim poder ser solidário com ele. Isso constitui o cuidar. Compaixão envolve comover-se com o sofrimento do outro, providenciar cuidado com renúncia do poder que tenha sobre ele a fim de conservar e cuidar a vida dele. Isso tem implicações éticas para com outros seres humanos e com todo que possui vida. A compaixão envolve também, a atenção com os mais vulneráveis ao sofrimento, numa perspectiva de inclusão e integração (BOFF, 2000). Assim, sugere-se o cuidado como um novo ethos, ou seja, uma nova forma do homem se situar perante o mundo. (BOFF, 2005). Trata-se do homem como um ser-no-mundo- cuidado (BOFF, 1999). Esse cuidado como forma de ser com o outro se transborda para todo que rodeia o ser humano, para o todo do planeta e todos os seres vivos. Boff (2005) assim resume: ―Cuidado, pois, por sua própria natureza, inclui duas significações básicas, intimimamente ligadas entre si. A primeira designa a atitude de desvelo, de solicitude e atenção para com o outro. A segunda nasce desta primeira: a preocupação e a inquietação pelo outro, porque nos sentimos envolvidos e afetivamente ligados ao outro. [...] o cuidado sempre nos acompanha, porque nunca deixaremos de amar alguém e nos desvelar por ele (primeiro sentido); nunca também deixaremos denos preocupar e nos inquietar por essa pessoa amada (segundo sentido). Se assim não fora, não nos sentiríamos envolvidos com ela. Mostraríamos negligência e incúria por sua vida e destino. No limite, revelaríamos indiferença, que é a morte do amor.‖ (p.3) No entanto, numa visão sociológica, Boff (1999) refere que a sociedade tem vivenciado uma crise generalizada onde o descuido, descaso e abandono dos mais vulneráveis 34 são observados em diversas esferas do mundo contemporâneo. Em se tratando das crianças com SCZV, entende-se que a família pode vivenciar esse isolamento, ocasionado pelo preconceito e por medo do desconhecido, além de sentir a necessidade de aprender a cuidar das necessidades específicas da criança com suas deficiências. 4.2 A FAMÍLIA E O CUIDADO Considerado o cuidado no contexto da família, Boff (1999) ressalta que o cuidado só existe quando há envolvimento entre quem cuida e quem é cuidado. Por isso, se dá a importância do amor da família no cuidado à criança e do amor profissional pelo que se faz (BOFF, 1999). Dessa foram, pode-se pensar que tal reciprocidade existencial está presente quando a família se envolve no cuidado à criança com SCVZ, promovendo a adaptação à sua condição de saúde e a melhoria da qualidade de vida. Então, esse estudo será fundamentado pelo conceito de família como uma unidade de seres humanos, formada tanto por laços biológicos quanto afetivos e/ou de interesses, que convivem e interagem entre si, compartilhando conhecimentos e construindo uma organização própria influenciada por contextos físicos, socioculturais e políticos (ELSEN; ALTHOFF; MANFRINI, 2001). 4.3 ADAPTAÇÃO Ao considerar que a adaptação (desenvolvimento) da criança com SCZV está relacionado ao cuidado adaptativo (estímulos) no âmbito da família, elege-se o Modelo de Adaptação de Roy (MAR) como quadro referencial a esse pensar. Então, Roy, 1984, p. 27- 28, define adaptação como uma ―resposta adaptativa da pessoa através de suas habilidades e condições de enfrentar situações frente aos estímulos focais, contextuais e residuais.‖ Assim, o cuidado adaptativo promovido pela família é aquela intervenção em que os estímulos ou fatores influentes promovem o fortalecimento dos processos de enfrentamento da criança com SCZV (ROY, 1984). As ideias básicas que deram origem ao MAR surgiram a partir da experiência de Callistar Roy na enfermagem pediátrica ao observar que os bebês e crianças tinham grande capacidade de se adaptarem às mudanças físicas e psicológicas ocasionadas quando enfrentavam um processo de doença. Foi na década de 1960, durante seu mestrado e 35 doutorado, que Roy: enfermeira, socióloga, nascida em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, iniciou o desenvolvimento desse seu modelo teórico (BORCK, 2007). O MAR apresenta vários conceitos relacionados para explicar a forma que a enfermagem pode auxiliar o indivíduo a enfrentar às influências que recebe dos estímulos de seu ambiente. E nesse estudo ao abordar o cuidado da família a criança com SCZV tomará com referencial esse pensar de Roy de que as crianças recebem estímulos e influências da família que cuida. O modelo aborda os conceitos do meta-paradigma da enfermagem ao explicar a pessoa/homem como um ser holístico e adaptativo, que é afetado pelos diversos estímulos do ambiente; o ambiente como as condições e circunstancias que influenciam o desenvolvimento do homem em forma de estímulos focais, ou causadores, os contextuais e outros que podem influenciar a pessoa; saúde/doença como o estado da pessoa que depende da capacidade do indivíduo de adaptar-se às mudanças no ambiente em que vive; e por fim a enfermagem que identifica os estímulos que afetam o individuo, com vistas à promoção da capacidade adaptativa através de quatro modos de adaptação (ROY, 1999). Assim, o modelo orienta o cuidado de enfermagem na adaptação fisiológica bem como na psicossocial através de quatro modos de adaptação que focalizam a integridade fisiológica, psicológica e espiritual, social, e de relacionamento do indivíduo. A enfermagem atua em qualquer dos modos adaptativos em que o indivíduo demonstre incapacidade de enfrentar e responder aos estímulos e a família podem atuar no ambiente promovendo o desenvolvimento da criança com SCZV, por meio dos estímulos que venham promover suas habilidades e adaptação, como também, atuar nas necessidades básicas ao observar a criança com um todo (ROY, 1999). Conforme os pressupostos do MAR, a adaptação implica em todas as formas conscientes e inconscientes de adequação das condições do ambiente que o homem confere. Dessa forma, o indivíduo necessita está em harmonia com todo o ambiente em que está inserido, seja ele: social, psicológico, biológico. Assim sendo, a criança com SCZV terá o desenvolvimento de suas potencialidades ao se adaptar aos estímulos realizados pela família. Por outro lado, a criança que não está inserida na família e não têm suas necessidades básicas e de estimulação precoce atendida, o ambiente não lhes proporciona adaptação e por sua vez lhes acarretará o estado de doença. Destarte, relacionando esse pensamento ao cuidado de enfermagem à família da criança com SCVZ, o enfermeiro da ESF visa intervir auxiliando a família nas necessidades de saúde da criança. O modo de intervir se define pela necessidade existente para promover o crescimento e desenvolvimento da criança dentro do padrão de normalidade para sua faixa 36 de idade. Trata-se assim, de uma intervenção para promover a adaptação integral da família como cuidadora da criança, de acordo com o(s) modo(s) adaptativo(s) necessário(s) a criança e sua família. 37 5 MÉTODO 5.1 TIPO DE ESTUDO O estudo é uma investigação analítica, com abordagem qualitativa, do tipo Teoria Fundamentada nos dados (TFD), segundo Strauss e Corbin (2008). A escolha do tipo de estudo se deu pela natureza do problema de pesquisa, compreender o processo de cuidado da família à criança com Síndrome Congênita pelo Zika Vírus, que requer adentrar nas experiências, percepções, sentimentos, barreiras, e significados atribuídos ao fenômeno que não podem ser mensurados quantitativamente. Segundo Minayo (2013), os métodos qualitativos captam essa sensibilidade e proporciona o entendimento e a interpretação dos sentidos e das significações que as pessoas relacionam aos fenômenos. O método de TFD é um meio sistemático de coletar dados para descrever, explicar e prever a prática profissional (MCEWEN; WILLS, 2009), podendo resultar em uma teorização do fenômeno. Segundo Strauss e Corbin (2008, p. 25), teoria fundamentada quer dizer que ―a teoria foi derivada de dados, sistematicamente reunidos e analisados por meio de processo de pesquisa‖; ou seja, o pesquisador começa com uma área de estudo e permite que a teoria surja a partir dos dados. Com isso, a teoria derivada dos dados tende a oferecer melhor entendimento e fornecer um guia para ação na prática, por aproximar-se mais da realidade do que as teorias derivadas da reunião de conceitos por meio de especulação ou experiência. Assim, espera-se que esse estudo venha criar um entendimento novo e teoricamente expresso sobre o fenômeno em questão. A TFD tem como etapas metodológicas: 1) coleta e análise dos dados concomitante, por meio da comparação constante, onde ocorre a construção das propriedades e dimensões das categorias do fenômeno compreendendo a etapa de codificação aberta; 2) etapa de codificação axial dos dados, onde detecta-se a relação existente entre as categorias, identificando as similaridades e diferenças para reagrupa-las, sendo essas etapas permeadas por idas e vindas, indicando processo; 3) codificação seletiva a qual ocorre o refinamento dos conceitos tornando-os mais abstratos para que definam a categoria central (o fenômeno) e assim obter o modelo
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