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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CLARA ANE SILVA MONTE NEVES DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO E RETORNO DAS AÇÕES: UMA ANÁLISE NAS COMPANHIAS DA CARTEIRA IBrX-100 DA B3 Natal/RN 2020 CLARA ANE SILVA MONTE NEVES DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO E RETORNO DAS AÇÕES: UMA ANÁLISE NAS COMPANHIAS DA CARTEIRA IBrX-100 DA B3 Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: Professor Doutor. Adilson de Lima Tavares Natal/RN 2020 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Neves, Clara Ane Silva Monte. Desempenho econômico-financeiro e retorno das ações: uma análise nas companhias da carteira IBrX-100 da B3 / Clara Ane Silva Monte Neves. - 2020. 52f.: il. Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de ciências contábeis. Natal, RN, 2020. Orientador: Prof. Dr. Adilson de Lima Tavares. 1. Análise Fundamentalista - Monografia. 2. Retorno Acionário - Monografia. 3. IBrX-100 - Monografia. I. Tavares, Adilson de Lima. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 657 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 CLARA ANE SILVA MONTE NEVES DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO E RETORNO DAS AÇÕES: UMA ANÁLISE NAS COMPANHIAS DA CARTEIRA IBrX-100 DA B3 Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis. BANCA EXAMINADORA DA MONOGRAFIA: Prof. Doutor. Adilson de Lima Tavares - Orientador Prof. Dr. Luís Manuel Esteves da Rocha Vieira - Examinador Prof. Dr. Clayton Levy Lima de Melo - Examinador Aprovada em: Natal/RN, 04 de dezembro de 2020. Dedico esse trabalho à minha mãe, ao meu esposo e meu filho por acreditarem em mim e não medirem esforços para ajudar na realização dessa conquista. E a todas as mulheres que se arriscam a superar o desafio de conciliar a maternidade com a vida profissional e acadêmica. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiro a Deus por me dar forças para continuar mesmo quando eu achava que não fosse mais capaz de suportar tantas adversidades. Por me dar capacidade de superar não só as dificuldades externas, mas as inseguranças internas, o medo, o cansaço e a solidão. Minha sincera gratidão a minha mãe, Elione, por sonhar antes de mim com esse momento e por motivar-me a realizá-lo, sempre acreditando bem mais do que eu que esse sonho seria possível. Ao meu esposo, Bruno, e meu filho, Benício, agradeço de coração pela paciência e compreensão por todo tempo ausente dedicado ao trabalho e estudo. Vocês foram muito além do que se poderia esperar nessas circunstâncias, aturaram momentos de mau humor, estresse, preocupações e só me devolveram carinho, amor e positividade. Sem vocês, meus amores, nada disso seria possível! Aos meus amigos que me apoiaram durante essa jornada e principalmente Lorayne Mahara que contribuiu com a tradução do resumo deste trabalho. Agradeço ainda colegas de curso como Flávia Câmara, Juliana, Karen, Marlielson entre outros que me motivaram a persistir e ajudaram-me ao longo do curso no que foi possível. Deixo um agradecimento especial a meu orientador Professor Doutor Adilson, primeiramente por aceitado conduzir meu trabalho de pesquisa, mas também pelo cuidado e atenção dedicada. “Sonhos são adoráveis, mas são só sonhos. São fugazes, efêmeros, bonitos. Sonhos não se tornaram realidade só porque você sonhou. É o esforço que faz as coisas acontecerem. É o esforço que cria mudança.” Shonda Rhimes RESUMO O presente estudo tem como objetivo verificar a relação entre o desempenho econômico- financeiro e o retorno das empresas integrantes do índice IBrX-100. Para alcançar este objetivo, estabeleceu-se um ranking das empresas conforme o retorno das ações e, outro ranking do desempenho econômico-financeiro por meio do método TOPSIS. O desempenho foi representado por 9 indicadores tradicionais de análise, calculados a partir de dados históricos, extraídos das demonstrações contábeis publicadas, e o retorno de cada ação foi calculado a partir da relação entre a variação anual do preço da ação, considerando a cotação no último dia de cada ano e o preço da ação no ano anterior, referente ao período de 2015 a 2018. A análise limitou-se a 69 das 100 empresas do índice, tendo sido excluídas as empresas “financeiras” e aquelas com dados incompletos. O trabalho assumiu caráter descritivo, documental e quantitativo. A fim de avaliar a relação entre o desempenho econômico- financeiro e o retorno das ações, foi utilizada a correlação de Kendall entre os dois rankings previamente elaborados. Os resultados evidenciaram que, dos 4 anos sob análise, houve correlação significativa entre as variáveis do estudo apenas no ano de 2017. Portanto, com base nestes resultados, não é possível afirmar que há uma relação consistente entre o desempenho das empresas e os respectivos retornos das ações. Palavras-chave: Análise Fundamentalista, Retorno Acionário, IBrX-100. ABSTRACT The present study aims to verify the relationship between economic and financial performance and the return of companies that are members of the IBrX-100 index. To achieve this objective, a ranking of companies was established according to the return on shares and another ranking of economic and financial performance through the TOPSIS method.The performance was represented by 9 traditional analysis indicators, calculated from historical data, extracted from the published financial statements, and the return of each share was calculated based on the relationship between the annual variation of the share price, considering the quotation in the last day of each year and the share price in the previous year, referring to the period from 2015 to 2018. The analysis was limited to 69 of the 100 companies in the index, excluding “financial” companies and those with incomplete data.The work assumed a descriptive, documentary and quantitative character. In order to evaluate the relationship between economic and financial performance and stock returns, Kendall's correlation between the two previously prepared rankings was used.The results showed that, from the 4 years under analysis, there was a significant correlation between the study variables only in the year 2017. Therefore, based on these results, it is not possible to state that there is a consistent relationship between the companies' performance and the respective returns of shares. Key-words Fundamental Analysis, Equity Return, IBrX-100 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Estratégia Top Down de Análise Fundamentalista de ações 21 Figura 2 – Relação entre os tipos de indicadores e a situação das empresas 22 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Composição do índice IBrX-100 27 Gráfico 2 – Composição do índice IBrX-100 pela quantidade teórica de ações por setor28 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Evidências empíricas na literatura nacional recente 19 Tabela 2 – Indicadores e Fórmulas utilizadas para o cálculo com suas respectivas referências Tabela 3 - Ranking das Empresas em Relação Desempenho Econômico-Financeiro Tabela 4 - Ranking das empresas em relação ao retorno Tabela 5 - Correlação ordinal entre os rankings do período de 2015 a 2018 30 35 38 41 LISTA DE SIGLAS CVM – Comissão de Valores Mobiliários EBITDA– Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization | Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização EV– Enterprise Value | Valor de Firma IFRS – International Financial Reporting Standards | Normas Internacionais de Contabilidade INEG – Index Negotiability | Liquidez no mercado IPCA – Significado da sigla 1 L – Lucro por Ação LL – Lucro Líquido LPA – Lucro por Ação MB – Margem Bruta MBR – Market-to-book Ratio NEAI – Nível de Evidenciação do Ativo Intangível OLS – Ordinary Least Squares | Método do Mínimos Quadrados P – Preço por Ação PL – Patrimônio Líquido POLS – Pooled Ordinary Least Squares | Método de estimação de Dados Agrupados QR – Regressão Quantílica ROA – Return on Assets | Retorno Sobre o Ativo ROE – Return on Equity | Retorno sobre o Patrimônio ROI – Return on Investiment | Retorno sobre o Investimento VPA – Valor Patrimonial por Ação SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 13 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA 13 1.2 OBJETIVOS 15 1.2.1 Objetivo geral 15 1.2.2 Objetivos específicos 15 1.3 JUSTIFICATIVA 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 17 2.1 INFORMAÇÃO CONTÁBIL E MERCADO DE CAPITAIS 17 2.2 ANÁLISE FUNDAMENTALISTA 20 2.3 ANÁLISE DE ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS 22 2.4 REVISÃO DA LITERATURA EMPÍRICA 24 2.5 ÍNDICE BRASIL 100 – IBrX-100 26 3 METODOLOGIA 29 3.1 EMPRESAS DA PESQUISA 29 3.2 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS 29 3.3 HIPÓTESES 33 3.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA 33 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 35 4.1 ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONOMICO-FINANCEIRO 35 4.2 ANÁLISE DO RETORNO DAS AÇÕES 38 4.2 ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO E RETORNO 41 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 43 REFERÊNCIAS 44 APÊNDICE A – COMPOSIÇÃO DO IBRX-100 EM 04/05/2020 48 ANEXO 51 13 1 . INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA O mercado de Capitais no Brasil nunca esteve tão aquecido quanto pôde ser presenciado nas primeiras duas décadas do século XXI. Dados acerca da evolução do volume financeiro médio diário da B3, bolsa de valores oficial do Brasil, ajustados pelo IPCA, mostram que em 2002 este volume era de R$ 1,30 bilhões/dia, crescendo para R$ 8,09 bilhões/dia em 2007 e permanecendo próximo a este patamar até 2017, quando passa a apresentar um aumento expressivo nos anos seguintes, chegando a R$ 14,73 bilhões/dia em 2019 conforme figura em anexo. Os fatores que contribuíram para esse intenso crescimento são bem explicados por Cavalcante, Misumi e Rudge (2009) na apresentação do seu livro Mercado de Capitais: O que é, como funciona, no qual mostra que a relevância do mercado de capitais foi acelerada pelo aumento da competitividade global, uma vez que as empresas tem necessitado cada vez mais de recursos não exigíveis para financiar seus projetos de melhoria e expansão e os indivíduos, por sua vez, estão sendo motivados a formar, por conta própria, poupança no longo prazo a fim de garantir estabilidade futura, visto que os mecanismos públicos de previdência social estão falindo. Além disso as próprias Instituições financeiras visando se manter relevantes na arte da análise e gerenciamento das carteiras de seus clientes, necessitam permear o contexto do mercado de capitais. A B3 alcançou sua maior marca de pessoas físicas investindo no mercado de ações com o total de 1,6 mi em 2019, um aumento de 51% em relação ao ano anterior (B3, 2020), o que sugere que a baixa lucratividade da renda fixa, influenciada pelas constantes quedas da taxa Selic, tem cada vez mais conduzido indivíduos poupadores a buscar alternativas mais rentáveis de investimento, ainda que envolva gerenciamento de riscos. Sabe-se que a ação é a menor parcela do capital social das companhias ou sociedades anônimas, investimento de risco cuja rentabilidade decorre também do resultado das empresas nas quais se investe, sendo o êxito do investidor determinado pela sua habilidade em alocar ativos em sua carteira de tal forma a elevar seus retornos ao máximo. (MOUTINHO, MAGNANI, & AMBROZINI, 2019). Com a finalidade de auxiliar investidores na avaliação de seus investimentos, a Bolsa de Valores criou vários índices para serem utilizados como referência de acordo com suas 14 necessidades. Atualmente os índices são divididos entre índices amplos, setoriais, por governança, por segmento de mercado e outros. Contudo, os índices amplos são os mais comumente utilizados como referência para Fundos de Investimentos em renda variável, porta de entrada de novos investidores no mercado acionário, e/ou carteiras de ações diversificadas. Um dos índices amplos de ações da Bolsa de Valores é o IBrX-100 – Índice Brasil 100, composto pelas 100 ações mais negociadas no Mercado Bovespa em termos de número de negócios e volume financeiro negociado. Este índice interessa ao presente estudo, por se tratar de um índice de retorno total, o que significa dizer que busca refletir mais que as variações nos preços dos ativos que fazem parte do índice ao longo do tempo, mas a influência que a distribuição de lucros por parte das companhias emissoras desses ativos teria no retorno do índice. Para Assaf Neto (2012), embora esse processo de seleção de ativos se dê, muitas vezes, de maneira intuitiva, faz-se necessário que a tomada de decisão seja baseada na análise das informações financeiras publicadas pelas empresas emissoras, pois através delas é possível avaliar a possibilidade de lucro, qualidade de gestão e nível de endividamento das companhias. A análise do desempenho econômico-financeiro das empresas emissoras de ações pode auxiliar o investidor a traçar as metas para os investimentos, identificar o preço justo de uma ação e antecipar a cotação do ativo para saber o melhor momento para comprar ou se desfazer de uma ação, visto que é possível relacionar o desempenho atual com o desempenho futuro de uma companhia (KOTHARI,2001). Nesse sentido, a análise fundamentalista se destaca como uma das técnicas mais comumente utilizadas para avaliação do desempenho econômico-financeiro das empresas. Esse modelo, pressupõe que há um valor intrínseco para cada ação, podendo ser apurado através da análise quantitativa, qualitativa e temporal dos fundamentos da empresa emitente, expressa em indicadores econômico-financeiros e de mercado (MALTA & CAMARGOS, 2016). De acordo com Tavares e Silva (2012) ao prever o valor intrínseco da ação, pode-se compará-lo ao valor dado pelo mercado e identificar aquela cujo mercado não esteja precificando corretamente, bem como classificar as alternativas de investimento elencando- as entre melhores e piores, tornando o processo de decisão do investidor mais racional e assertivo. 15 Não é exagero afirmar que o enfoque nas informações contábeis para avaliação de ações é explicado pelo fato de estarem publicamente acessíveis aos investidores, ainda sim, reconhece-se que para medir e projetar o desempenho de uma empresa, são necessárias informações que vão além das demonstrações contábeis (MOUTINHO, MAGNANI, & AMBROZINI, 2019). Apesar de o estudo da Análise Fundamentalista abranger estratégias da empresa, a qualidade da contabilidade, dados financeiros e das projeções de resultados, esta pesquisa concentra a atenção na análise financeira de indicadores financeiros para sumariar as performances das empresaspesquisadas. Diante do contexto, delineou-se a seguinte questão de pesquisa: Qual a relação entre o retorno das ações e o desempenho econômico-financeiro das empresas listadas no IBrX-100 da B3? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo Geral O presente trabalho tem como objetivo analisar a relação entre o retorno das ações e o desempenho econômico-financeiro das empresas listadas no IBrX-100 da B3 no período de 2015 a 2018. 1.2.2 Objetivos Específicos Com o fim de alcançar o objetivo geral proposto, são traçados os seguintes objetivos específicos: − Estabelecer um ranking das empresas conforme seu desempenho econômico-financeiro; − Estabelecer um ranking das empresas conforme o retorno das ações delas obtido; − Verificar a associação entre as variáveis a partir do teste de correlação entre os resultados dos dois rankings. 1.3 JUSTIFICATIVA 16 A eficácia da utilização da Análise Financeira Fundamentalista enquanto método de suporte para a tomada de decisão não é unânime entre analistas e pesquisadores. (Tavares e Silva, 2012). Sendo assim, a relação entre as variáveis de análise fundamentalista e os retornos acionários já foi testada em estudos anteriores tanto no âmbito nacional quanto internacional. No nacional tem-se, por exemplo, Nagano, Merlo e Silva (2003); Tavares e Silva (2012); Evrard e Cruz (2016); e Moutinho, Magnani e Ambrozini (2019). No internacional pode-se destacar: Ou e Penman (1989ª; 1989b); Holthausen e Larker (1992); Lev e Thiagarajan (1993); Abarbanell e Bushee (1997;1998); Piotroski (2000), e Mohanram (2005). De forma geral, foi possível atribuir relação entre as variáveis em todos os trabalhos. Nesse sentido, o presente trabalho busca colaborar verificando a associação entre o desempenho econômico-financeiro mensurado pela contabilidade e o desempenho da ação no mercado, além de contribuir também utilizando informações das empresas com ações listadas na B3 que compõem o índice IBrX-100, índice com relevante poder de influência na tomada de decisão dos investidores. Além disso, como bem assegura Kothari (2001), pode-se afirmar que pesquisas nessa linha também podem ser inseridas no escopo de estudos de relevância da informação contábil. 17 2 . FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 INFORMAÇÃO CONTÁBIL E MERCADO DE CAPITAIS Conforme Villaschi, Galdi e Nossa (2011, pg. 327) “Muito do que é publicado nos principais periódicos em finanças e contabilidade no mundo examina a relação entre a informação contábil e o mercado de capitais”. Mota e Tavares (2015) afirmam que a pesquisa positiva em contabilidade floresceu a partir dos trabalhos pioneiros de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968) que apresentaram evidências empíricas da relevância da informação contábil e seu impacto na performance da ação no mercado de capitais. A partir desses trabalhos, inaugurou-se o interesse do estudo da contabilidade enquanto informação disponível a usuários, rompendo sua visão de mensuração. Consequentemente, a abordagem que vinha sendo desenvolvida até então, focada no estabelecimento de normas e regras (Normativa) foi sendo substituída pela abordagem da Informação (Information Approach), fortemente influenciada por teorias desenvolvidas na literatura em Finanças e Economia, principalmente: o Modelo de Precificação de ativos (Capital Asset Pricing Model - CAPM) e Hipótese de Mercados Eficientes (Efficient Market Hypothesis - EMH). (LOPES, 2002; MOTA e TAVARES, 2015). O Modelo de Precificação de Ativos (CAPM) de Sharpe (1964) e Lintner (1965), ao permitir o desenvolvimento de estudos empíricos relacionados a risco e retorno, e ao dispor sobre a possibilidade de apurar a taxa de retorno que remunere o risco envolvido na decisão de qualquer investimento, direcionou pesquisas na busca da relevância da informação contábil para investidores e outros usuários dentro do conceito de que a contabilidade compete com outras fontes de informações (Mota e Tavares, 2015). Da mesma forma, a partir da contribuição de Fama (1965), a teoria de Hipótese de Mercados Eficientes, que sustenta que todas as informações disponíveis são absorvidas pelos preços do mercado, o que significa que a posse de informações sobre esse mercado não alteraria o retorno esperado, estimulou a produção de testes de eficiência relativa dos mercados em termos do conjunto de informações contábeis (MOTA e TAVARES, 2015). A ideia de relevância da contabilidade está relacionada ao seu potencial em transmitir informações capazes de influenciar as expectativas dos usuários, desse modo são as necessidades dos usuários que vão determinar a utilidade da informação para suas decisões econômicas. (Neto, 2009). De acordo com a Estrutura Conceitual Básica (2019): 18 Informações financeiras têm valor preditivo se podem ser utilizadas como informações em processos empregados pelos usuários para prever resultados futuros. Informações financeiras têm valor confirmatório se fornecem feedback sobre (confirmam ou alteram) avaliações anteriores. Para Barth, Beaver & Landsman (2001) os relatórios contábeis podem ser considerados relevantes (Value Relevance) se tiverem capacidade preditiva de valores do mercado de capitais. Sendo assim, as pesquisas sobre value relevance buscam ampliar o conhecimento da relação entre o valor de mercado e os dados contábeis. Essas pesquisas geralmente usam duas abordagens diferentes para extrair inferências: Direct Valuation e Input-to-equity-valuation (HOLTHAUSEN & WATTS, 2001) Na abordagem Direct Valuation, a informação contábil destina-se a medir ou ser altamente associadas às alterações ou níveis de valor do mercado de ações. Na abordagem Input-to-equity-valuation o papel da contabilidade é fornecer informações sobre os modelos de avaliação que os investidores usam na avaliação do patrimônio das empresas. Esta requer uma teoria e um modelo de avaliação, além de assumir um vínculo entre os dados contábeis e as variáveis que compõem o modelo de avaliação. (HOLTHAUSEN & WATTS, 2001; BARTH, BEAVER, & LANDSMAN, 2001). Os modelos de value relevance se mostram importantes para identificar se as demonstrações contábeis são úteis para os investidores na avaliação das empresas, considerando os elevados custos envolvidos, tanto para emissão de normas pelos órgãos reguladores quanto para elaboração dos relatórios financeiros pelas empresas (DUARTE, GIRÃO & PAULO, 2017), exigindo assim que os números contábeis possuam qualidades fundamentais de relevância e confiabilidade (CPC, 2011). Um dos modelos mais utilizados para avaliar a relevância da informação é captar o valor da empresa em função do lucro e do patrimônio líquido a partir de equações de preço e retorno (Ohlson, 1995). Nos últimos anos, vários estudos testaram a relevância da informação contábil para o investidor e sua eficiência, e algumas conclusões indicaram que “a contabilidade é relevante para investidores de mercado de capitais e que o mercado é eficiente com respeito à informação contábil” (LOPES, 2002, p. 5). Duarte, Girão & Paulo (2017) ressaltam que a maior parte dessas pesquisas foram produzidas em ambientes informacionais e institucionais mais desenvolvidos como nos Estados Unidos da América. No Brasil, os estudos realizados apresentam resultados não conclusivos a respeito da relevância da informação contábil para o mercado de capitais (MOTA e TAVARES, 2015). 19 Este tema só ganhou espaço a partir do século XX com a ascensão da teoria positiva (LOPES e MARTINS, 2005), embora a teoria clássica (normativa) ainda seja muito presente. Visto o cenário brasileiro, assim como outros mercados emergentes, possuir especificidades que podem influenciar para a menor value relevance em comparação com mercados desenvolvidos, se faz necessário analisar com cuidado os dados contábeis do mercado brasileiro. (Duarte,Girão & Paulo, 2017). Tabela 1 - Evidências empíricas na literatura nacional recente AUTORES/ ANO AMOSTRA/ PERÍODO MODELO CONCLUSÕES Gonçalvez, Coneglian e Do Carmo (2017) 77 empresas listadas na B3 (2011 a 2014) Modelo de Ohlson (1995), Regressão linear e Painel POLS Concluíram que os Ativos Propriedades para Investimento não são value relevance para determinar o preço da ação e então influenciar a tomada de decisão dos usuários da informação contábil. Duarte, Girão, & Paulo (2017) 300 empresas listadas na B3 (2004 a 2014) Regressão Quantílica e OLS Evidenciaram que a estimação por meio da regressão quantílica (QR) se demonstrou mais eficiente e com menos possibilidades de apresentar erros do que OLS, sob as condições experimentais do trabalho. Cappellesso, Rocha e Dantas (2018) 56 empresas listadas na B3 que tiveram goodwill reconhecido (2009 e 2015) Modelo adaptado de Ohlson (1995) Demonstraram uma associação positiva e significante entre o valor de mercado e o patrimônio líquido, o lucro líquido e o goodwill. Por outro lado, a perda por impairment do goodwill não apresentou significância para explicar o valor de mercado, não corroborando a hipótese do estudo. Pacheco, Rover e Vicente (2018) 75 empresas que compõem a carteira de Mai- Ago17 do IBrX 100 na B3 (2016) Nível de disclosure do ativo intangível e Regressão Múltipla Apontaram um nível de evidenciação médio de 62,93%, sendo discrepante a diferença entre o maior e o menor (91,09%). Em relação à influência do NEAI na value relevance resultou significativa estatisticamente, com um poder explicativo de 38,09%. Santos, Botinha e Lemes (2019) 155 empresas pertencentes ao Índice IGCX (2011 a 2015) Regressão Linear Múltipla Apontaram que a variável “valor adicionado líquido para distribuição”, ao nível de significância estatística de 5%, é relevante para o mercado acionário nos níveis diferenciados de governança corporativa, porém com baixo poder explicativo. Destaque para lucro por ação que se mostrou o indicador mais relevante na 20 pesquisa. Santos,Lemes, & Barboza (2019) 18.562 observações (1997 a 2014) Meta-análise Os resultados indicaram queda do value relevance do PL e ganho na relevância da informação do LL após a adoção das IFRS. Fonte: Elaborada pela autora. A partir da revisão das conclusões dos estudos nacionais aqui compilados, observa- se não haver consenso quanto a um indicador ou um conjunto de indicadores que seja capaz de prever os retornos acionários. Ainda que o Lucro Líquido tenha apresentado uma boa associação com o retorno das ações, os resultados dos estudos apontam para uma baixa correlação entre as variáveis analisadas de uma maneira geral. 2.2 ANÁLISE FUNDAMENTALISTA A Análise Fundamentalista surgiu em 1929, durante o curso Investments ministrado por Benjamin Graham na Universidade de Columbia em New York. Revolucionou a análise de investimentos em ações e serviu como base para os livros The Inteligent Investor e Security Analysis publicados em 1934, sendo as primeiras tentativas de explicar o funcionamento do mercado de ações (CVM, 2017). Também conhecida como análise do valor intrínseco, a Análise Fundamentalista busca inferir o valor das empresas e antecipar possíveis movimentos nos preços de suas ações utilizando como base os dados financeiros e conexos das empresas (Mota e Tavares, 2015). É resumida por Assaf Neto (2014) em três grandes atividades: a) Avaliar a posição e equilíbrio econômico e financeiro da empresa; b) Projetar resultados futuros e; c) Calcular o valor justo (valor econômico) da ação. Esta metodologia de análise de investimentos pressupõe que o valor intrínseco de uma companhia está associado à sua performance e a situação geral da economia. Na essência trata-se de buscar empresas com boas projeções para futuro e que não estejam sendo corretamente precificadas (subavaliadas) no mercado, visando a valorização do papel no longo prazo e bons rendimentos durante o período em que possuir ação. (ASSAF NETO, 2014). No processo de cálculo do valor justo da ação, há duas principais estratégias que são utilizadas: a visão top down e a bottom up. Trata-se de métodos diferentes, mas complementares (CVM, 2017). 21 Na estratégia Top Down a análise começa com a economia global, incluindo indicadores econômicos nacionais e internacionais como crescimento do PIB, taxas de juros, taxas de câmbio, taxa de desemprego etc. Em seguida, seleciona-se um ou mais setores para uma análise mais estreita, e por fim elege-se dentro desse setor a melhor empresa considerando o contexto da análise. A proposta é analisar em que medida o comportamento e as tendências da conjuntura global afetam o desempenho de um setor ou de uma empresa (CVM, 2017). De acordo com Malta e Camargos (2016) é mais utilizado por instituições financeiras. Já na estratégia Bottom Up o enfoque é na empresa. A ideia é analisar o impacto de variáveis microeconômicas no preço de uma determinada ação, examinando minuciosamente os demonstrativos financeiros da companhia emitente, fazendo projeções, e comparando-as com a de seus concorrentes e outras empresas listadas em Bolsa (CVM, 2017). Ao contrário do método Top Down, esta abordagem prioriza o comportamento e às perspectivas de cada empresa. É mais utilizada por investidores individuais (MALTA E CAMARGOS, 2016) e “muitas vezes, preferida por analistas e gestores fundamentalistas” (CVM, 2017, p.137). Debastiani e Russo (2017) ao introduzirem o tema central de seu livro - Avaliando Empresas, Investindo em Ações: A aplicação prática da análise fundamentalista na avaliação de empresas, explica que: Sob o ponto de vista do pensamento fundamentalista, uma ação tornar-se-á interessante e será valorizada pelo mercado se a empresa - da qual ela representa uma pequena fração - também apresentar boas perspectivas com relação ao futuro. Nesse sentido, a avaliação é o foco central da análise fundamentalista (DAMODARAN, 1997), que busca avaliar o desempenho econômico-financeiro das empresas buscando aquelas que apresentam forte perspectiva de crescimento futuro (métricas de rentabilidade), boa saúde financeira (métricas de endividamento e liquidez) e ações cotadas por um preço justo ou subavaliado (métricas de Valuation) (PONTES e NOGUEIRA,2019). Figura 1 – Estratégia Top Down de análise fundamentalista de ações 22 Fonte: Traders Club, 2019. Samaras, Matsatsinis e Zopounidis (2008) afirmam que a Análise fundamentalista visa determinar a saúde financeira da empresa, através de indicadores úteis, com base em demonstrações financeiras da empresa. Descrevem-na como uma das metodologias mais eficazes pois fornece uma análise dinâmica da situação financeira da empresa, avaliando com precisão as suas vantagens e desvantagens. 2.3 ANÁLISE DE ÍNDICES ECONÔMICO-FINANCEIROS A análise de Índices econômico-financeiros é um dos principais parâmetros para determinar o valor intrínseco das ações (SAMARAS, MATSATNISIS e ZOPOUNIDIS, 2008). Os índices são razões entre determinadas variáveis contidas em demonstrações contábeis, como Balanço Patrimonial e Demonstrações do Resultado. Segundo Seng e Hancock (2012) existe uma ligação entre os indicadores fundamentais e a previsão de ganhos e que é influenciada por fatores contextuais. Segundo Marion (2012), a situação financeira de uma empresa é evidenciada pelos índices de liquidez e de estrutura de capital, enquanto a situação econômica é ressaltada por meio dos índices de rentabilidade, conforme abaixo: Figura 2 – Relação entre os tipos de indicadores e a situação das empresas 23 Fonte: Elaborado pela autora. Os Índices de Liquidez buscam medir quão sólida é a basefinanceira da empresa, evidenciando sua capacidade de honrar seus compromissos com terceiros no curto (Liquidez Seca - LS), médio (Liquidez Corrente - LC) e longo prazo (Liquidez Geral - LG). Quanto maiores forem os valores dos índices de liquidez, melhor, embora quando elevados demais também podem indicar ineficiência na gestão dos recursos da empresa, uma vez que os mesmos poderiam ser aplicados em outras opções. Por outro lado, a baixa liquidez pode sinalizar antecipadamente problemas de fluxo de caixa e insolvência iminente da empresa. (MARION, 2012). Os Índices de Estrutura de Capitais medem o grau de comprometimento financeiro da empresa frente aos seus credores. São utilizados para analisar a relação entre capital próprio e capital de terceiros, indicando o nível de dependência de recursos da empresa a capitais externos (DOS SANTOS, 2020). Os principais índices de estrutura de capitais são: Composição do Endividamento - CE, Participação do Capital de Terceiros - PCT e Imobilização do Patrimônio Líquido - IPL. Para esse grupo de indicadores, quanto menor o resultado, melhor, pois indica menor comprometimento com capital de terceiros e menor imobilização dos capitais (MATARAZZO, 2010). Os Índices de Rentabilidade avaliam o rendimento da empresa em relação às vendas e aos investimentos. A análise desses índices é muito importante, pois a rentabilidade é vista amplamente como o principal objetivo de uma empresa, e consequentemente de seus acionistas. Segundo Matarazzo (2010), os índices de análise econômica são: Margem Líquida - ML, Giro do Ativo - GA, Rentabilidade do Ativo - ROA e Rentabilidade do Patrimônio Líquido - ROE. Quanto maior os índices de rentabilidade, melhor, já que evidenciam a rentabilidade sobre o capital investido. Além desses três grupos de índices, existem outros grupos de índices que podem ser utilizados no processo de análise das demonstrações contábeis. Entre tais grupos de índices, pode-se destacar os índices de atividade: Prazo Médio de Rotação de Estoque - PMRE, Prazo 24 Médio de Pagamento de Compras - PMPC e Prazo Médio de Recebimento de Vendas - PMRV. Estes índices avaliam o tempo que a empresa leva para transformar compras em vendas ou caixa, sendo o melhor cenário quando a empresa apresenta baixos índices de PMRE e PMRV e alto índice de PMPC. (MATARAZZO, 2010). 2.4 REVISÃO DA LITERATURA EMPÍRICA Conforme mencionado anteriormente, a primeira proposição à Análise Fundamentalista se deu em 1934 a partir da publicação do livro Security Analysis de Graham e Dodd, obra acadêmica que se tornou uma das bases do conceito de “Value Investing” (“Investimento em Valor). Em 1968, métodos empíricos das finanças foram introduzidos na contabilidade a partir de estudos seminais como os de Ball e Brown, que comprovaram relação positiva entre margens de lucro inesperadas com retornos acima da média (Malta e Camargos, 2016), e de Beaver, que constatou a relevância da informação contábil na determinação do desempenho das empresas ao identificar que o volume de negociação e a volatilidade de retorno aumentam no momento dos anúncios de ganhos (LANDSMAN e MAYDEW, 2001). Ou e Penman (1989) analisaram um número significativo de indicadores contábeis e da análise fundamentalista, identificando capacidade preditiva sobre lucros e retorno acionário. Posteriormente, o estudo desenvolvido por Stober (1992) no qual compara o conjunto de indicadores apresentados por Ou e Penman (1989) e previsões de analistas do lucro por ação, vem corroborar o poder preditivo das variáveis fundamentalistas, ao concluir que os indicadores de Ou e Penman (1989) eram capazes de produzir retorno anormal mesmo em casos em que não há consenso na amostra. Lev e Thiagarajan (1993) analisaram 12 variáveis financeiras amplamente utilizadas por analistas buscando explicar a utilidade da análise fundamentalista na determinação do valor das ações, e evidenciaram que essas variáveis são diretamente correlacionadas com retornos futuros. Utilizando este estudo como base, Abarbanell e Bushee (1997) constataram que uma estratégia de investimento baseada em pelo menos 9 das variáveis apresentadas por Lev e Thiagarajan (1993) tem capacidade de gerar retornos anormais significativos. Em 2000, Piotroski estudou o uso da informação contábil, baseada na análise fundamentalista, como estratégia de investimento para as empresas High Book-to-Market - HBM, que são aquelas que os investidores tenderiam achar mais baratas. Sua maior contribuição foi apresentar o índice F-Score a partir de indicadores de lucratividade (ROA, 25 Accrual, ∆Roa e cash flow), de estrutura de capital (∆liquidez, ∆endividamento, e oferta de ações), e de eficiência (∆margem, ∆giro). Através desse índice foi possível separar empresas “vencedoras” das “perdedoras em uma amostra de empresas com alta razão book-to-market costumeiramente negligenciadas por analistas, mas com grande potencial de investimento em valor. Mohanram (2005) também utilizou as variáveis fundamentalistas como estratégia de investimento para empresas Low Book-to-Market - LBM, que são empresas que os investidores tenderiam a achar mais caras, ao selecionar as melhores alternativas de investimento utilizando o índice G-Score, buscando identificar oportunidades de investimento em valor a partir de possíveis equívocos de interpretação das informações contábeis-financeiras por parte de analistas. No Brasil, Nagano, Merlo e Silva (2003) compararam o modelo de precificação de ativos, Capital Asset Model - CAPM, com as variáveis da análise fundamentalista através da observação das relações entre o retorno das ações e as variáveis independentes: beta, valor de mercado, vendas/preço, fluxo de caixa/preço, valor patrimonial/preço, dividendo/preço, lucro/preço e endividamento. A partir de uma regressão múltipla constataram associações significativas entre os retornos e algumas das variáveis fundamentalistas analisadas o que vai de encontro a teoria do CAPM cujo cerne é associação dos retornos esperados dos ativos apenas ao risco representado por beta. O Evrard e Cruz (2016) verificaram a capacidade de um modelo de previsão de retorno de ações negociadas na BM&Fbovespa utilizando 16 fatores de retorno agrupadas em cinco famílias de acordo com as características dos ativos: risco, liquidez, “barateamento”, rentabilidade e desempenho passado. Obtiveram resultados positivos quanto à possibilidade de previsão do grupo de ações de maior e menor retorno para o mês seguinte com um R² de 0,73 e significância acima de 99%. A pesquisa constatou ainda que as variáveis lucro/preço e valor de mercado quando utilizadas isoladamente também apresentavam capacidade preditiva significativa com R² de 0,50 e 0,46, respectivamente. Malta e Camargos (2016) analisaram amostra composta por 46 ações ordinárias e 21 ações preferenciais de empresas não financeiras negociadas na B3 e componentes do índice IBrX-100 a partir de seus dados trimestrais entre 2007 e 2014. Verificaram a relevância de alguns indicadores da análise fundamentalista na predição do retorno acionário de companhias brasileiras, sendo uma ligada ao endividamento (PCT), quatro ligadas à eficiência/rentabilidade (MB, ROA, ROE e ROI) e três ligadas a indicadores de mercado (INEG, LPA e MBR). 26 Em pesquisa recente, Moutinho, Magnani e Ambrozini (2019) verificaram se a variável fundamentalista fluxo de caixa livre/preço é capaz de prever o retorno acionário das companhias de capital aberto do mercado brasileiro, mostrando que a relação existente entre as variáveis é positiva com um e três trimestres de defasagem pelo método em painel dinâmico. Além desta variável estendeu a análise a outras variáveis fundamentalistas dos quais encontrou bom poder preditivo para as variáveis: liquidez corrente, endividamento, margem bruta, lucro preço, dividendyield, venda preço e book-to-market. 2.5 ÍNDICE BRASIL 100 – IBRX-100 A B3, bolsa de valores oficial do Brasil, coleta, organiza e divulga uma série de informações sobre os negócios realizados em cada pregão e entre elas estão os índices que indicam o desempenho de um grupo selecionado de ações. Seus valores são expressos em pontos e sua variação é medida em percentual. Entre os diversos indicadores, o índice Brasil 100 (IBrX-100), apesar de menos famoso que o Ibovespa, pode-se dizer que é um índice mais representativo do mercado de ações no Brasil por apresentar mais ativos em sua composição. Divulgada desde 1997, o índice Brasil 100 é o resultado de uma carteira teórica de ativos, reformulada a cada quatro meses. De acordo com a Bovespa (2015) o objetivo do IBrX-100 é “ser o indicador do desempenho médio das cotações dos 100 ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro”. É um índice de retorno total, o que significa dizer que procura refletir não apenas as variações nos preços dos ativos ao longo de sua vigência no índice, mas também o impacto que a distribuição de proventos por parte das companhias emissoras desse ativo teria no retorno no índice. Além do IBrX-100 se diferenciar do Ibovespa em função da quantidade de ativos que compõem cada índice, também se diferencia quanto a estrutura da composição do índice. Embora apresentem o mesmo direcionamento na maior parte do tempo, o peso de cada ação no Índice Brasil tem critérios diferentes do Ibovespa, consequentemente retornos diferentes. Nesse sentido, Tempel (2017) afirma: a composição do IBrX-100 leva em conta o valor de mercado das empresas e o seu volume de negociação, enquanto o Ibovespa é focado no volume de negociação, algo que pode distorcer o índice, podendo dar maior peso a ações de empresas que estão apresentando resultados ruins, mas são muito negociadas por especulação ou algum outro motivo. 27 Para seleção de ativos que irão compor o IBrX-100, foram estabelecidos os seguintes critérios pelo Bovespa (2015): a. Estarem entre os ativos elegíveis que em ordem decrescente de índice de Negociabilidade (IN) ocupem as 100 primeiras posições; b. Terem sido negociados nos últimos 12 meses, em 95% dos pregões da Bovespa; c. Não podem ter valor médio ponderado inferior a R$ 1,00 (um real) durante a vigência da carteira anterior ao rebalanceamento (Penny Stocks); Ativos que sejam objeto de Oferta Pública são elegíveis desde que o processo tenha sido realizado antes do rebalanceamento imediatamente anterior. Vale salientar que caso a ação deixe de atender a esses critérios ou passar a ser negociado em situação especial como recuperação judicial ou extrajudicial, regime especial de administração temporária ou intervenção será excluída do índice ao final de seu primeiro dia de negociação nesse enquadramento. Atualmente 11 setores da economia estão representados no Índice IBrX-100, dos quais os setores Financeiro e Outros; Utilidade Pública e Consumo Cíclico lideram o ranking de maior representatividade por número de empresas compondo a carteira com 20, 18 e 13 empresas respectivamente, conforme é possível visualizar no quadro gráfico abaixo: Gráfico 1 – Composição do índice IBrX-100 pelo número de empresas por setor Fonte: Elaborada pela autora. 28 Já no que diz a respeito à quantidade teórica de ações, os setores com maior participação são os Financeiros e Outros (30,08%), Materiais Básicos (14,61%) e Petróleo, Gás e Combustível (11,52%). Juntos, esses setores correspondem a mais de 50% da carteira teórica do Índice que totaliza a quantidade teórica de 73.015.059.441 ações. No gráfico abaixo, é possível observar que os setores de Consumo Não Cíclico e Utilidade Pública não estão muito atrás do setor de Petróleo, Gás e Combustível com participações de 10,13% e 9,08% respectivamente: Gráfico 2 – Composição do índice IBrX-100 pela quantidade teórica de ações por setor Fonte: elaborado pela autora. Ainda sobre a quantidade de ações na composição da carteira teórica, estreitando a análise para subcategorias dentro dos setores acima mencionados pode-se destacar os Intermediários Financeiros (Financeiro e Outros) com 17.380.609.750 de ações, representando 22,5% do total da quantidade teórica do Índice. Dentro de Materiais Básicos, o subsetor que apresenta maior peso é o de Mineração com 3.514.100.204, representando 9,96% da quantidade total de ações da carteira. 29 3 METODOLOGIA 3.1 EMPRESAS DA PESQUISA A pesquisa iniciou com população formada pelas 100 empresas listadas na B3 que integraram o índice IBrX-100 em 04/05/2020. No entanto, ao identificar que entre as empresas selecionadas, havia empresas financeiras e de seguros que possuem estruturas contábeis bem distintas das demais empresas que compõem o índice, e buscando evitar incoerências de interpretação na análise conjunta das empresas, optou-se por desconsiderar empresas dos seguintes setores: a) Intermediários Financeiros, b) Previdências e Seguros e c) Serviços Financeiros Diversos. Ao utilizar o critério de trabalhar somente com empresas “não-financeiras”, reduziu-se a população a 80 empresas. Uma última triagem foi realizada a fim de garantir a consistência da pesquisa, no qual foram excluídas mais 11 empresas que não continham todas as informações necessárias para o cálculo dos indicadores de desempenho econômico e financeiro das empresas e/ou o preço da ação referente ao período de 2014 a 2018. Logo, a amostra restringiu-se a análise dos dados de 69 empresas do índice IBrX-100 (Vide apêndice deste trabalho). 3.2 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS Este trabalho teve como referência de metodologia o artigo publicado na RC & C, “Desempenho econômico-financeiro e o grau de internacionalização das empresas listadas no novo mercado da B3” de Marcos, Nascimento, De Nez e Kroenke. A partir daí, o estudo iniciou com a coleta de dados históricos das empresas analisadas, tais como: Ativo Total, Ativo Circulante, Caixas e bancos, Estoque, Ativo Realizável a longo Prazo, Imobilizado Bruto, Depreciação Acumulada, Passivo Circulante, Passivo não Circulante, Patrimônio Líquido, Vendas Líquidas, Lucro Líquido e Preço da Ação referente ao período de 2015 a 2018. Com base nos dados coletados, calculou-se o PL Médio, o Ativo Total Médio e o Imobilizado Líquido, dados necessários para obter os indicadores de desempenho de cada empresa. 30 Os indicadores econômico-financeiros calculados foram: a) Liquidez: Liquidez Seca, Liquidez Corrente e Liquidez Imediata; b) Endividamento: Imobilização do patrimônio Líquido, Participação de Capital de terceiros e Composição do endividamento; c) Rentabilidade: Margem Líquida, Retorno sobre o Ativo e Retorno sobre o Patrimônio Líquido. Para isso, foram utilizadas as fórmulas apresentadas na tabela abaixo: Tabela 2 - Indicadores e Fórmulas utilizadas para o cálculo com suas respectivas referências Indicadores Econômico- Financeiros Fórmula Autores L IQ U ID E Z Liquidez Seca (LS) 𝐿𝑆 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 − 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 Iudícibus (2009); Assaf Neto (2000); Brigham e Houston (1999); Matarazzo (2008). Liquidez Corrente (LC) 𝐿𝐶 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 Liquidez Imediata (LI) 𝐿𝐼 = 𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑒 𝐸𝑞𝑢𝑖𝑣𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝐶𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 E N D IV ID A M E N T O Imobilização do Patrimônio (IPL) 𝐼𝑃𝐿 = 𝐼𝑚𝑜𝑏𝑖𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑥100 Silva (2004); Matarazzo (2008). Participação do Capital de Terceiros (PCT) 𝑃𝐶𝑇 = 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑁ã𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑥100Iudícibus (2009); Assaf Neto (2000); Brigham e Houston (1999); Matarazzo (2008). Composição do Endividamento (CE) 𝐶𝐸 = 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 + 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑁ã𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑥100 Iudícibus (2009); Silva (2004); Matarazzo (2008). R E N T A B IL ID A D E Margem Líquida (ML) 𝑀𝐿 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑉𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑥100 Iudícibus (2009); Assaf Neto (2000); Brigham e Houston (1999); Matarazzo (2008). Retorno sobre o Ativo (ROA) 𝑅𝑂𝐴 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑥100 Assaf Neto (2000); Brigham Houston (1999); Marion (2005); Silva (2004); Matarazzo (2008). Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) 𝑅𝑂𝐸 = 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑥100 Iudícibus (2009); Brigham Houston (1999); Assaf Neto (2000); Matarazzo (2008). Fonte: Adaptado de C Marcos, JC Nascimento, E De Nez, A Kroenke (2018) Para medir o desempenho econômico-financeiro das empresas e estabelecer o ranking entre elas, foi utilizado a ferramenta de análise denominada Technique for Order Preference by Similarity the Ideal Solution - TOPSIS por meio do Microsoft Excel 365. Marcos et al. (2018) caracteriza o algoritmo TOPSIS como um método de avaliação de performances de 31 alternativas através da similaridade da mesma com uma solução ideal desenvolvido por Hwang e Yoon (1981). A melhor alternativa será aquela que mais se aproxima da solução ideal e mais se distancia da solução não ideal. Lima Júnior e Carpinetti (2015) afirmam que a vantagem desse método é se adequar a problemas com número significativo de alternativas e critérios, principalmente quando os critérios são de natureza quantitativa. Conforme técnica estabelecida por Hwang e Yoon (1981) e Pomerol e em Barba- Romero (2000), para cada ano do período analisado, a aplicação do TOPSIS foi realizada seguindo os seguintes passos: 1º Estruturação da matriz de decisão e vetor de pesos conforme a Equação 1, onde 𝑑𝑖j representa a pontuação da empresa 𝑖(𝐴𝑖) no indicador de desempenho 𝑗(𝐶1); Equação 1 𝐷 = 𝐴1 ⋮ 𝐴𝑖 ⋮ 𝐴𝑛 𝐶1 𝐶2 … 𝐶𝑗 ⋯ 𝐶𝑚 [ 𝑑11 𝑑12 ⋯ ⋮ ⋮ 𝑑𝑖1 𝑑𝑖2 ⋯ 𝑑1j ⋯ 𝑑𝑚 ⋮ ⋮ 𝑑𝑖j … 𝑑𝑖𝑚 ⋮ ⋮ 𝑑𝑛1 𝑑𝑛2 ⋯ ⋮ ⋮ 𝑑𝑛j … 𝑑𝑛𝑚] 2º Normalização1 da matriz de decisão usando a equação 2, onde 𝑋𝑖j são os elementos da matriz de decisão; Equação 2 �̅�ij = 𝑋ij √∑ 𝑋ij 2𝑛 𝑗=0 3º Ponderação da matriz de decisão normalizada através da equação 3, onde �̅�ij representa os desempenhos normalizados e Wj os pesos2 correspondentes; Equação 3 Vij = �̅�ij ×Wj 1 Esta etapa tem como objetivo possibilitar a comparação das alternativas definidas, originalmente, em diferentes unidades de medida. 2 Foi atribuído o mesmo peso para cada um dos critérios. 32 4º Obtenção das soluções ideais positivas (V+) e negativas (V-) de acordo com a interpretação de cada índice. Para os índices de liquidez e rentabilidade que são do tipo “Quanto maior, melhor" foram consideradas as equações abaixo: Equação 4 𝑉+ = {𝑀𝐴𝑋𝑗𝑛𝑖𝑗 | j =1,2,…,m} = {𝑛1 +, … , 𝑛𝑗 +, … , 𝑛𝑚 + } Equação 5 𝑉− = {𝑀𝐼𝑁𝑗𝑛𝑖𝑗 | j =1,2,…,m} = {𝑛1 −, … , 𝑛𝑗 −, … , 𝑛𝑚 − } Para os índices de estrutura de capital (endividamento) que são do tipo “Quanto menor, melhor”, aplicou-se o inverso, conforme abaixo: Equação 6 𝑉+ = {𝑀𝐼𝑁𝑗𝑛𝑖𝑗 | j =1,2,…,m} = {𝑛1 −, … , 𝑛𝑗 −, … , 𝑛𝑚 − } Equação 7 𝑉− = {𝑀𝐴𝑋𝑗𝑛𝑖𝑗 | j =1,2,…,m} = {𝑛1 +, … , 𝑛𝑗 +, … , 𝑛𝑚 + } 5º Cálculo da distância (𝑆𝑖 +) entre os elementos da matriz ponderada e normalizada e a solução ideal positiva usando a equação 8 e cálculo da distância (𝑆𝑖 −) entre os elementos da matriz de decisão e a solução não ideal usando a equação 9; Equação 8 Equação 9 𝑆𝑖 + = [∑(𝑉𝑖𝑗 − 𝑉𝑗 +) 𝑛 𝑗=1 ] 0,5 𝑆𝑖 − = [∑(𝑉𝑖𝑗 − 𝑉𝑗 −) 𝑛 𝑗=1 ] 0,5 6º Determinação da proximidade relativa (𝑃𝑖) a partir das distâncias calculadas na etapa 5 utilizando a equação 10; Equação 10 𝑃𝑖 = 𝑆𝑖 − 𝑆𝑖 + + 𝑆𝑖 − 7º Definição do ranking das empresas ordenando a pontuação do desempenho calculado na etapa anterior em ordem decrescente, no qual quanto mais próximo de 1 o valor de 𝑃𝑖 melhor o desempenho da empresa. Para medir o retorno das ações em cada ano e para cada empresa, calculou-se a diferença entre as cotações do final do ano (𝐶1) e do final do ano anterior (𝐶2) , dividindo esta diferença pela cotação do ano anterior (𝐶2) conforme equação 11; Equação 11 𝑅𝐴𝑥 = 𝐶1 − 𝐶2 𝐶2 33 Onde: 𝐶1 = 𝐶𝑜𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 𝑋, 𝑒𝑚 31.12. Ano X 𝐶2 = 𝐶𝑜𝑡𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 𝑋, 𝑒𝑚 31.12. Ano X − 1 𝑅𝐴𝑥 = 𝑅𝑒𝑡𝑜𝑟𝑛𝑜 𝑑𝑎 𝐴çã𝑜 𝑑𝑒 𝑋 Em seguida, os resultados de cada ano foram ordenados em ordem decrescente para estabelecer o ranking de retorno das ações das empresas. Estabelecidos os rankings de desempenho econômico-financeiro das empresas e o ranking dos retornos das ações delas, foi realizada a investigação da relação entre os dois rankings através do método estatístico correlação ordinal de Kendall, por meio do software. “O coeficiente de correlação ordinal de Kendall é uma medida de associação para variáveis ordinais” (OLIVEIRA,2019). De acordo com Miot (2018, p.277) o coeficiente de Kendall “...apresenta propriedades matemáticas que o tornam mais robusto a dados extremos (outliers), de maior capacidade de inferência populacional e menor erro de estimativa”. 3.3 HIPÓTESES H1: As empresas com maiores retornos das ações são as que apresentam melhor desempenho econômico-financeiro. H2: As empresas com os menores retornos das ações são as que apresentam os piores desempenhos econômico-financeiros. 3.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA Este trabalho de pesquisa delimitou-se em a investigar a existência de relação entre o retorno das ações e desempenho econômico-financeiro das empresas apurado neste estudo, tendo como referência as empresas “não financeiras” listadas na B3 e integrantes do índice IBrX-100 no 2º quadrimestre de 2020. 34 35 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Nessa seção serão apresentados os resultados obtidos no estudo, começando pela análise do desempenho econômico-financeiro das empresas, seguido pela análise do retorno das ações das mesmas e finalizando com a correlação entre o desempenho e o retorno das ações das empresas. 4.1 ANÁLISE DO DESEMPENHO ECONOMICO-FINANCEIRO Os desempenhos econômico-financeiros das 69 empresas listadas na B3, e integrantes do índice IBrx-100 no 2º quadrimestre de 2020, referente aos anos de 2015, 2016, 2017 e 2018, foram obtidos a partir do cálculo de 9 indicadores econômico-financeiros entre eles indicadores de liquidez, endividamento e rentabilidade. A partir disso, foi possível estabelecer o ranking de desempenho aplicando o método TOPSIS de avaliação de performances de alternativas, no qual quanto mais próximo de 1 o valor de 𝑃𝑖 melhor o desempenho da empresa. Na tabela 3, apresenta-se a classificação das empresas conforme o ranking de seus índices de desempenho-financeiro em cada ano. Tabela 3 - Ranking das Empresas em Relação Desempenho Econômico-Financeiro TICKER NOME 2015 2016 2017 2018 Geral PRIO3 PETRO RIO AS 1º 1º 21º 6º 1º SMLS3 SMILES FIDELIDADE AS 9º 3º 1º 2º 2º TRPL4 CIA DE TRANSMISSAO DE ENE-PF 11º 2º 6º 3º 3º TAEE11 TRANSMISSORA ALIANCA DE-UNIT 6º 6º 3º 4º 4º EZTC3 EZ TEC EMPREEND. E PARTICIPACOES S.A. 2º 8º 7º 5º 5º HGTX3 CIA HERING 3º 10º 5º 10º 6º MDIA3 M DIAS BRANCO AS 12º 9º 2º 21º 7º HYPE3 HYPERA AS 4º 7º 17º 11º 8º LINX3 LINX AS 7º 4º 16º 18º 9º FLRY3 FLEURY AS 5º 14º 10º 20º 10º WEGE3 WEG AS8º 11º 11º 26º 11º QUAL3 QUALICORP CONS E CORR SEG AS 17º 15º 8º 15º 12º KLBN4 KLABIN SA-PREF 33º 5º 19º 27º 13º ABEV3 AMBEV AS 16º 12º 25º 12º 14º YDUQ3 YDUQS PARTICIPACOES S.A. 10º 23º 24º 13º 15º EGIE3 ENGIE BRASIL ENERGIA AS 24º 13º 15º 19º 16º LREN3 LOJAS RENNER S.A. 25º 22º 14º 25º 17º EQTL3 EQUATORIAL ENERGIA SA – ORD 26º 25º 9º 33º 18º 36 ALPA4 ALPARGATAS SA – PREF 29º 17º 13º 29º 19º UGPA3 ULTRAPAR PARTICIPACOES AS 13º 18º 20º 36º 20º SBSP3 CIA SANEAMENTO BASICO DE SP 40º 16º 18º 16º 21º MRVE3 MRV ENGENHARIA 18º 19º 26º 28º 22º SAPR4 CIA SANEAMENTO DO PARANA-PRF 36º 21º 28º 17º 23º CCRO3 CCR AS 48º 20º 12º 47º 24º CSAN3 COSAN AS 39º 27º 27º 24º 25º TOTS3 TOTVS AS 14º 29º 32º 44º 26º RENT3 LOCALIZA RENT A CAR 15º 28º 31º 50º 27º CSMG3 CIA SANEAMENTO MINAS GERAIS 37º 24º 30º 30º 28º CVCB3 CVC BRASIL OPERADORA E AGENC 38º 31º 22º 42º 29º DTEX3 DURATEX AS 21º 30º 37º 35º 30º TIMP3 TIM PARTICIPACOES AS 19º 36º 38º 31º 31º ENBR3 EDP - ENERGIAS DO BRASIL AS 27º 35º 40º 32º 32º RADL3 RAIA DROGASIL AS 41º 34º 35º 49º 33º RAPT4 RANDON PARTICIPACOES SA-PREF 28º 42º 42º 38º 34º VIVT4 TELEFONICA BRASIL S.A.-PREF 45º 40º 44º 22º 35º ENEV3 ENEVA AS 52º 59º 43º 9º 36º CPLE6 CIA PARANAENSE DE ENERGI-PFB 30º 43º 45º 41º 37º NTCO3 NATURA COSMETICOS S.A. 44º 49º 23º 59º 38º CPFE3 CPFL ENERGIA AS 35º 39º 46º 43º 39º EMBR3 EMBRAER AS 31º 41º 36º 60º 40º VALE3 VALE AS 66º 26º 29º 14º 41º CYRE3 CYRELA BRAZIL REALTY S.A 20º 32º 55º 56º 42º ENGI3 ENERGISA S.A. 47º 48º 39º 51º 43º CSNA3 CIA SIDERURGICA NACIONAL AS 23º 60º 61º 23º 44º GOAU4 METALURGICA GERDAU SA-PREF 34º 50º 52º 55º 45º CMIG4 CIA ENERGETICA MINAS GER-PRF 43º 51º 47º 54º 46º GGBR4 GERDAU SA-PREF 42º 55º 54º 40º 47º PETR4 PETROBRAS - PETROLEO BRAS-PR 51º 53º 50º 45º 48º PETR3 PETROLEO BRASILEIRO S.A. PETROBRAS 50º 54º 51º 46º 49º LCAM3 COMPANHIA DE LOCACAO DAS AME 56º 47º 49º 52º 50º CESP6 CIA ENERGETICA DE SP-PREF B 55º 33º 66º 34º 51º LAME4 LOJAS AMERICANAS SA-PREF 53º 56º 48º 48º 52º USIM5 USINAS SIDER MINAS GER-PF A 62º 44º 41º 39º 53º ECOR3 ECORODOVIAS INFRA E LOG AS 49º 67º 4º 37º 54º ELET6 CENTRAIS ELET BRAS S.A. 63º 45º 63º 8º 55º MGLU3 MAGAZINE LUIZA AS 61º 62º 33º 53º 56º ELET3 CENTRAIS ELETRICAS BRASILIER 64º 46º 64º 7º 57º JBSS3 JBS AS 46º 58º 58º 62º 58º MYPK3 IOCHPE-MAXION S.A. 58º 57º 60º 61º 59º PCAR3 CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO 54º 61º 56º 64º 60º LIGT3 LIGHT AS 57º 63º 57º 63º 61º BRFS3 BRF AS 22º 52º 65º 68º 62º BTOW3 B2W CIA DIGITAL 60º 64º 62º 57º 63º 37 GOLL4 GOL LINHAS AEREAS INT SA-PRE 67º 37º 53º 65º 64º BEEF3 MINERVA AS 69º 38º 69º 1º 65º VVAR3 VIA VAREJO AS 59º 65º 59º 67º 66º MRFG3 MARFRIG GLOBAL FOODS SA 65º 66º 67º 58º 67º BRKM5 BRASKEM SA-PREF A 68º 69º 34º 66º 68º TCSA3 TECNISA S.A. 32º 68º 68º 69º 69º O ranking geral foi obtido a partir do ranking das médias dos indicadores de desempenhos dos 4 anos analisados ordenados de forma decrescente. O destaque foi para a empresa Petro Rio S.A – PRIO3 que atingiu a pontuação de desempenho de 0,6374, a maior entre as empresas analisadas, ficando em primeiro lugar no ranking geral. Com exceção do ano de 2017, em que ficou na 21ª posição no ranking, se manteve nas primeiras posições nos demais anos do período analisado, ocupando as posições 1º, 1º, 21º e 6º respectivamente. A empresa Smiles Fidelidade S.A. – SMLS3 também se destacou na 2ª posição do ranking geral, acumulando a pontuação de 0,6211, após alcançar a 9ª posição em 2015 e oscilar entre as 3 primeiras colocações nos anos seguintes, ocupando respectivamente as posições 9º, 1º, 3º e 2º. Já o 3º lugar no ranking foi ocupado pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista – TRPL4 com a pontuação de 0,6034 de desempenho, se colocando em 11º, 2º, 6º e 3º ao longo período analisado. Por sua vez, a Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A – TAEE11 e a Ez Tec Empreendimentos e Participações S.A. – EZTC3 se mantiveram ao longo do período analisado entre as 10 empresas com melhor desempenho, no entanto, em nenhum dos anos conseguiram alcançar a 1ª posição e acabaram acumulando a pontuação de 0,5272 e 0,5844 respectivamente, resultado que garantiu apenas a 4ª e a 5º colocação no ranking geral. Ressalta-se que as três primeiras colocadas mesmo apresentando um desempenho superior às demais ao atingirem índice TOPSIS 0,6374, 0,6211 e 0,6034, respectivamente, não se distanciaram tanto das demais. As empresas da 4ª até 60º colocação atingiram índice entre 0,5844 a 0,5001 e apenas as 9 últimas colocadas atingiram índice TOPSIS inferior a 0,4986, sendo elas: LIGT3, BRFS3, BTOW3, GOLL4, BEEF3, VVAR3, MRFG3, BRKM5 e TCSA3. A última colocada no ranking geral foi a Tecnisa S.A -TCSA3 com o índice TOPSIS de 0,3935, ligeiramente inferior a penúltima colocada, a Braskem S.A- PREF – BRKM5 que atingiu a pontuação de 0,4333. Ainda assim, em análise geral, pode-se considerar que as 38 empresas apresentaram certa homogeneidade em relação ao desempenho econômico- financeiro, não resultando em grande dispersão entre elas. 4.2 ANÁLISE DO RETORNO DAS AÇÕES O retorno das ações das 69 empresas foi obtido utilizando a equação 11 descrita na metodologia, o qual calcula o percentual de ganho (ou perda) no preço de uma ação de um ano para outro durante o período estudado. O objetivo aqui foi criar um ranking das empresas com base no percentual acumulado no período da análise, no qual quanto mais alto o percentual de ganho no preço da ação melhor o desempenho da empresa. Os resultados obtidos estão dispostos na tabela 4 abaixo. Tabela 4 - Ranking das empresas em relação ao retorno TICKER NOME 2015 2016 2017 2018 Gera l MGLU3 MAGAZINE LUIZA AS 66º 1º 1º 1º 1º LCAM3 COMPANHIA DE LOCACAO DAS AME 35º 19º 3º 4º 2º PRIO3 PETRO RIO AS 58º 16º 2º 21º 3º ELET3 CENTRAIS ELETRICAS BRASILIER 21º 2º 66º 18º 4º GOLL4 GOL LINHAS AEREAS INT SA-PRE 68º 15º 4º 5º 5º USIM5 USINAS SIDER MINAS GER-PF A 65º 6º 6º 40º 6º CVCB3 CVC BRASIL OPERADORA E AGENC 32º 17º 11º 17º 7º ELET6 CENTRAIS ELET BRAS S.A. 7º 8º 63º 19º 8º ENGI3 ENERGISA S.A. 10º 34º 5º 53º 9º SAPR4 CIA SANEAMENTO DO PARANA- PRF 57º 3º 48º 47º 10º CSMG3 CIA SANEAMENTO MINAS GERAIS 50º 9º 41º 10º 11º FLRY3 FLEURY AS 23º 11º 20º 63º 12º GOAU4 METALURGICA GERDAU SA-PREF 69º 4º 39º 22º 13º BTOW3 B2W CIA DIGITAL 46º 68º 10º 2º 14º RENT3 LOCALIZA RENT A CAR 45º 30º 12º 13º 15º VVAR3 VIA VAREJO AS 67º 7º 7º 67º 16º VALE3 VALE AS 52º 14º 22º 16º 17º PETR4 PETROBRAS - PETROLEO BRAS- PR 49º 12º 50º 11º 18º PETR3 PETROLEO BRASILEIRO S.A. PETROBRAS 26º 13º 57º 8º 19º LREN3 LOJAS RENNER S.A. 14º 33º 18º 24º 20º RAPT4 RANDON PARTICIPACOES SA- PREF 59º 27º 8º 14º 21º CSNA3 CIA SIDERURGICA NACIONAL AS 43º 5º 67º 36º 22º 39 RADL3 RAIA DROGASIL AS 2º 21º 24º 64º 23º BRKM5 BRASKEM SA-PREF A 1º 39º 34º 34º 24º EQTL3 EQUATORIAL ENERGIA SA – ORD 8º 24º 38º 32º 25º GGBR4 GERDAU SA-PREF 62º 10º 43º 23º 26º ALPA4 ALPARGATAS SA – PREF 24º 29º 15º 43º 27º MYPK3 IOCHPE-MAXION S.A. 20º 58º 13º 38º 28º LINX3 LINX AS 29º 44º 37º 7º 29º CPFE3 CPFL ENERGIA AS 33º 22º 68º 9º 30º SBSP3 CIA SANEAMENTO BASICO DE SP 15º 25º 40º 46º 31º HYPE3 HYPERA AS 6º 43º 28º 52º 32º MRVE3 MRV ENGENHARIA 12º 37º 29º 50º 33º CMIG4 CIA ENERGETICA MINAS GER- PRF 64º 38º 61º 3º 34º MDIA3 M DIAS BRANCO AS 42º 20º 30º 54º 35º TRPL4 CIA DE TRANSMISSAO DE ENE-PF 17º 28º 52º 39º 36º HGTX3 CIA HERING 39º 56º 17º 31º 37º ENBR3 EDP - ENERGIAS DO BRASIL AS 4º 49º 51º 37º 38º DTEX3 DURATEX AS 41º 45º 31º 15º 39º YDUQ3 YDUQS PARTICIPACOES S.A. 53º 47º 9º 58º 40º WEGE3 WEG AS 25º 54º 23º 45º 41º NTCO3 NATURA COSMETICOS S.A. 40º 57º 26º 12º 42º CYRE3 CYRELA BRAZIL REALTYS. A 47º 31º 33º 26º 43º PCAR3 CIA BRASILEIRA DE DISTRIBUICAO 37º 63º 14º 41º 44º ECOR3 ECORODOVIAS INFRA E LOG AS 63º 23º 25º 56º 45º EZTC3 EZ TEC EMPREEND. E PARTICIPACOES S.A. 56º 42º 27º 29º 46º LAME4 LOJAS AMERICANAS SA-PREF 13º 51º 56º 30º 47º SMLS3 SMILES FIDELIDADE AS 38º 35º 16º 66º 48º TIMP3 TIM PARTICIPACOES AS 54º 46º 19º 49º 49º LIGT3 LIGHT AS 55º 18º 59º 42º 50º CSAN3 COSAN AS 30º 26º 49º 55º 51º TAEE11 TRANSMISSORA ALIANCA DE- UNIT 27º 40º 53º 33º 52º EGIE3 ENGIE BRASIL ENERGIA AS 22º 52º 54º 27º 53º CESP6 CIA ENERGETICA DE SP-PREF B 61º 55º 58º 6º 54º UGPA3 ULTRAPAR PARTICIPACOES SA 11º 48º 47º 60º 55º EMBR3 EMBRAER AS 9º 69º 35º 35º 56º KLBN4 KLABIN SA-PREF 5º 67º 46º 51º 57º JBSS3 JBS AS 16º 59º 65º 25º 58º VIVT4 TELEFONICA BRASIL S.A.-PREF 36º 41º 45º 44º 59º ABEV3 AMBEV AS 18º 60º 32º 59º 60º CPLE6 CIA PARANAENSE DE ENERGI- PFB 48º 50º 62º 20º 61º MRFG3 MARFRIG GLOBAL FOODS SA 19º 53º 44º 57º 62º QUAL3 QUALICORP CONS E CORR SEG AS 60º 32º 21º 69º 63º TOTS3 TOTVS AS 28º 66º 36º 48º 64º 40 CCRO3 CCR AS 34º 36º 55º 62º 65º ENEV3 ENEVA AS 51º 64º 42º 28º 66º BEEF3 MINERVA AS 3º 61º 64º 68º 67º TCSA3 TECNISA S.A. 44º 65º 60º 61º 68º BRFS3 BRF AS 31º 62º 69º 65º 69º O ranking geral foi obtido a partir do ranking das médias dos retornos dos 4 anos analisados ordenados de forma decrescente. O maior destaque vai para Magazine Luiza – MGLU3 que alcançou a 1ª posição em 3 dos 4 anos analisados e atingiu, na média, o score de 265,1% de retorno no preço da ação, resultado este significativamente superior ao do 2º colocado, o que a levou a ocupar o primeiríssimo lugar no ranking geral. Em segundo lugar ficou a Companhia de Locação das Américas – LCAM3, com 93,3% de média de retorno no preço da ação. A LCAM3 demonstrou uma melhoria de posição ao longo do período, com as posições 35º, 19º, 3º e 4º respectivamente, sendo 2017 o seu ano de melhor resultado. A Petro Rio S.A que já havia se destacado quanto desempenho econômico-financeiro, conseguiu se destacar também em relação ao retorno ao apresentar média de 81,9% de retorno sobre o preço da ação, e por isso alcançou a 3ª colocação no ranking geral. É interessante observar que esse resultado se deve principalmente ao percentual de retorno atingido em 2017 quando conseguiu retorno muito significativo em comparação com os demais anos analisados: -47,0%, 77,8%, 275,6% e 21,3% respectivamente. Da mesma forma, o retorno expressivo de 296,0% alcançado em 2016 levou a Centrais Elétricas Brasileiras S.A - ELET3 a atingir a 4ª colocação no ranking geral. Ao longo do período analisado, apresentou as posições 21º, 2º, 66ª e 18º respectivamente. Já a quinta colocação no ranking é ocupada pela Gol Linhas Aéreas Inteligente S.A – GOLL4 que teve sua média alavancada pelo resultado do ano de 2017 quando apresentou retorno de 216,0%. Resultados do período foram respectivamente: -83,4%, 83,3%, 216,0% e 71,9%. No ranking geral alcançou média de 72,0% de retorno sobre o preço da ação. Embora as empresas entre a 2ª a 5ª colocação tenham apresentado resultado expressivamente inferior em comparação a primeira colocada, ainda sim apresentaram resultados significativos frente as demais empresas analisadas apresentando médias de retorno entre 93,3% a 72,0%. As empresas entre a 6ª e 60ª colocação apresentaram resultados bem inferiores com médias entre 55,7% a 0,8% de retorno. 41 As empresas CPLE6, MRFG3, QUAL3, TOTS3, CCRO3, ENEV3, BEEF3, TCSA3 e BRFS3 ficaram nas últimas 9 posições no ranking geral apresentando média de retorno negativo. A TCSA3 e BRFS3 ficaram nas colocações 68ª e 69ª respectivamente com as médias mais altas de desvalorização do preço da ação durante o período analisado com - 21,0% e -22,5%, respectivamente. É interessante notar que a BRFS3, BEEF3, MRFG3 E TCSA3 também estão entre as 9 últimas colocações no ranking geral de desempenho econômico-financeiro. Por outro lado, a GOLL4 que também se encontra entre as 9 últimas colocações no ranking geral de desempenho, na 64ª posição, se saiu muito melhor no ranking de retorno, no qual conseguiu figurar entre as 5 primeiras posições. No caso do ranking das empresas em relação retorno sobre o preço das ações foi possível observar um maior distanciamento entre o 1º e o 69ª colocado e seus respectivos retornos na média geral, 265,1% e -22,5% respectivamente. Com este resultado, pode-se concluir que houve grande dispersão entre elas. 4.3 ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO E RETORNO Para verificar a relação entre o retorno e o desempenho econômico-financeiro das empresas listadas na B3, e integrantes do índice IBrX-100, foi calculada a correlação ordinal de Kendall entre os posicionamentos obtidos em cada período por meio do software SPSS versão 23. Os resultados foram compilados na tabela 5. Tabela 5 - Correlação ordinal entre os rankings do período de 2015 a 2018 2015 2016 2017 2018 Variáveis D* R** D* R** D* R** D* R** D* Correlação 1 0,054 1 -0,016 1 ,211* 1 -0,119 D* Significância 0,514 0,844 0,010 0,147 R** Correlação 0,054 1 -0,016 1 ,211* 1 -0,119 1 R** Significância 0,514 0,844 0,010 0,147 (*) Desempenho econômico-financeiro (**) Retorno sobre preço das ações Fonte: Elaborada pela autora com base no modelo de C Marcos, JC Nascimento, E De Nez, A Kroenke (2018) Apresentadas as correlações calculadas, constatou-se baixa correlação entre o ranking de retorno das ações e os respectivos desempenhos econômico-financeiro das empresas calculados a partir dos 9 indicadores de desempenho selecionados neste estudo. Dentre todos 42 os anos analisados, 2017 foi o que apresentou a maior correlação, atingindo 0,010 de significância, mantendo dentro do nível de confiança de 95%. O ano com menor correlação foi o de 2016 com 0,844 de significância. Portanto, os resultados apontam para a inexistência de relação consistente entre o retorno das empresas e o respectivo desempenho econômico-financeiro calculado neste estudo. Estes resultados vão de encontro a teoria apresentada em estudos anteriores como os de Moutinho, Magnani e Ambrozini (2019), Evrad e Cruz (2016), Nagano, Merlo e Silva (2003) e Abarbanell e Bushee (1997) que obtiveram uma relação positiva e significativa entre um conjunto de variáveis fundamentalistas tradicionais e o retorno acionário. Por outro lado, corrobora estudos como o de Malta e Camargos (2016), que apesar de ter conseguido evidenciar capacidade preditiva de alguns indicadores, também não encontrou relevância em relação a um grupo tradicional de indicadores da análise fundamentalista e o retorno das ações. Em outras palavras, não é possível inferir que empresas que apresentam maiores retornos são as que atingem os melhores desempenhos econômico-financeiro e nem tão pouco que empresas com os piores desempenhos não podem apresentar retornos significativos. Isso se fez claro, por exemplo, quando se observou que a GOLL4 que atingiu a 64º colocação em desempenho apresentou 72,0% de retorno superando 4 das 5 empresas que lideraram o ranking de desempenho econômico-financeiro deste estudo, enquanto a SMLS3 que atingiu o 2º lugar no ranking de desempenho não figurou nem entre as 30ª primeiras no ranking de retorno com a média de retorno de 7,9%. É importante ressaltar que o ranking de desempenho econômico-financeiro foi obtido a partir da aplicação do método TOPSIS na base de dados contendo 9 indicadores de desempenho previamente selecionados, sendo eles: LS, LI, LC, CE, IPL, PCT, ML, ROA e ROE; e que a escolha dos mesmos foi norteada pela busca dos índices mais utilizados em análises fundamentalistas de ações que representassem a situação financeira (índices de liquidez e endividamento) e econômica(índices de rentabilidade) das empresas analisadas, considerando cada indicador igualmente relevante para a análise. Sendo assim, convém esclarecer que o acréscimo, redução e/ou substituição de indicadores e até mesmo assumir maior ou menor relevância de um indicador em relação a outro, ou seja, atribuição de pesos diferenciados entres eles, podem levar outros estudos a alcançar resultados diferentes dos que foram obtidos nesta pesquisa. 43 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desta pesquisa foi analisar a relação entre o retorno e o desempenho econômico-financeiro das empresas listadas na B3 e integrantes do índice Brasil IBrX-100 no 2º quadrimestre de 2020. Estabeleceu-se um ranking das empresas conforme seu desempenho econômico-financeiro por meio do método TOPSIS e outro ranking do retorno das ações. O período estudado foi de 2015 a 2018 e a Correlação de Kendall foi a ferramenta estatística utilizada para verificar a relação entre as variáveis analisadas, no qual se constatou que, com exceção do ano de 2017 que apresentou significância de 99% de confiança, nenhum dos períodos atingiram os 95% de confiança exigido no teste, incluindo a análise acumulada. Sendo assim, conclui-se que não é possível assegurar que há relação consistente entre o retorno e desempenho econômico-financeiro baseado nos 9 indicadores de desempenho considerados neste trabalho. Não sendo possível afirmar que empresas com maiores retornos são as que apresentam melhores desempenhos econômico-financeiro. Observou-se ainda que a homogeneidade nos resultados obtidos no ranking de desempenho econômico pode indicar que, os indicadores de desempenho econômico- financeiro selecionados neste estudo, que foram: Liquidez Seca, Liquidez Corrente, Liquidez Imediata, Imobilização do Patrimônio Líquido, Composição do Endividamento, Margem Líquida, Retorno sobre o Ativo e Retorno sobre o Patrimônio Líquido, não foram suficientes para explicar a relação do desempenho econômico-financeiro das empresas e seus respectivos retornos. Nesse sentido, ressalta-se que há espaço para realização de mais estudos relacionados a investigação da relação entre o retorno e o desempenho econômico-financeiro. Dessa forma, sugere-se que a temática seja abordada em outros estudos com enfoque em determinados setores, e ainda, que se estenda a quantidade de indicadores de desempenho selecionados, podendo incluir até outros tipos de indicadores como, por exemplo, indicadores de atividade. A recomendação é que seja utilizado o mesmo método e as mesmas empresas utilizada neste estudo a fim de comparar os resultados obtidos. 44 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Estrutura e Análise de Balanços: Um Enfoque Econômico-Financeiro. 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2018. ______. Finanças Corporativas e Valor. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2012. ______. Mercado Financeiro. 12ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. B3. Histórico Pessoas Físicas. Disponível em: < http://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e- indices/servicos-de-dados/market-data/consultas/mercado-a-vista/historico-pessoas- fisicas/>. Acesso: 11 de mar. 2020. Índice Brasil 100 (IBrX 100). Disponível em: http://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e- indices/indices/indices-amplos/indice-brasil-100-ibrx-100.htm Acesso: 06 de abr. 2020. BARTH, Mary E.; BEAVER, William H.; LANDSMAN, Wayne R. The relevance of the value relevance literature for financial accounting standard setting: another view. 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