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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA TESE DE DOUTORADO ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE ESPUMAS CERÂMICAS A BASE DE ALUMINA OBTIDAS PELO MÉTODO DA RÉPLICA EDUARDO GALVÃO RAMALHO Orientador: Prof. Dr. Wilson Acchar NATAL 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA TESE DE DOUTORADO ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE ESPUMAS CERÂMICAS A BASE DE ALUMINA OBTIDAS PELO MÉTODO DA RÉPLICA EDUARDO GALVÃO RAMALHO Orientador: Prof. Dr. Wilson Acchar Tese submetida ao Programa de Pós- graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para obtenção do título de DOUTOR EM ENGENHARIA MECÂNICA Natal 2012 UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Catalogação da Publicação na Fonte Ramalho, Eduardo Galvão. Análise do comportamento mecânico de espumas cerâmicas a base de alumina obtidas pelo método da réplica. / Eduardo Galvão Ramalho. – Natal, RN, 2012. 102 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Wilson Acchar. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. 1. Cerâmica porosa - Tese. 2. Espuma cerâmica - Tese. 3. Método da réplica - Tese. 4. Espuma cerâmica – Propriedades mecânicas - Tese. I. Acchar, Wilson. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 666.3- 127 DEDICATÓRIA A Deus por ter me dado forças para superar as dificuldades na realização deste trabalho. Aos meus familiares e a minha namorada Micheline, a quem amo, com carinho. AGRADECIMENTOS Ao professor Wilson Acchar, pela orientação precisa, pela ajuda, ensinamentos e paciência. A minha namorada Micheline, pelo apoio e compreensão. Aos amigos Wagner Lopes Torquato e Fernando Barcelos Marcolino de Souza, pelo companheirismo durante a realização deste trabalho. À bolsista Brena Kelly Oliveira pelo o auxílio na realização deste trabalho. Ao professor Murilo Daniel Innocentini, da UNAERP, pelo auxílio nas análises de permeabilidade e pela sua hospitalidade. Ao professor Marcus Alexandre Diniz, pelas contribuições dadas ao trabalho na qualificação. Aos professores Elialdo Chibério da Silva, Jaquelígia Brito da Silva, Ledjane Silva Barreto e Alan Christie da Silva Dantas, pelas contribuições dadas ao trabalho na defesa. Aos companheiros do LaPFiMC e LMCME, pelo apoio e amizade. A todos que ajudaram direta ou indiretamente na realização deste trabalho. À CAPES, pelo apoio financeiro durante a realização do trabalho. " Há duas formas para se viver a vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre." Albert Einstein RESUMO Cerâmicas com estrutura celular porosa, denominadas espumas cerâmicas, possuem o potencial de utilização em uma vasta gama de aplicações, tais como: isolamento térmico, suporte catalítico, filtros, dentre outras. Dentre as técnicas para obtenção destas cerâmicas porosas podemos destacar o método da réplica. Este método consiste na impregnação de uma esponja (geralmente polimérica) com uma barbotina cerâmica, seguindo-se um tratamento térmico, onde ocorrerá a decomposição do material orgânico e sinterização do material cerâmico, resultando em uma cerâmica cuja estrutura é uma réplica da esponja impregnada. O conhecimento das propriedades mecânicas destas cerâmicas é importante para que estas possam ser utilizadas comercialmente. Gibson e Ashby desenvolveram um modelo matemático para descrever o comportamento mecânico de sólidos celulares, porém este modelo não se mostrou satisfatório para descrever o comportamento das cerâmicas obtidas pelo método da réplica, pois o mesmo não leva em consideração os defeitos provenientes deste tipo de processamento. Neste trabalho estudou-se o comportamento mecânico de cerâmicas porosas de alumina obtidas pelo método da réplica, e a partir desta análise se propôs modificações no modelo de Gibson e Ashby para se adequar a este material. A esponja polimérica utilizada no processamento foi caracterizada através de análise termogravimétrica e microscopia eletrônica de varredura. Os materiais obtidos após sinterização foram caracterizados através de testes de resistência mecânica, tensão de ruptura à flexão (4 pontos) e compressão, densidade, porosidade e por fim, análise microscópica por microscopia eletrônica de varredura. A partir destes resultados avaliou-se o comportamento da resistência mecânica em comparação ao modelo de Gibson e Ashby para sólidos com estrutura celular e foi proposta uma correção deste modelo através de um fator relacionado com o grau de integridade dos filamentos, que considera as trincas presentes na estrutura destes materiais, além da geometria dos defeitos no interior dos filamentos. Palavras-chave: espuma cerâmica; método da réplica; propriedades mecânicas. ABSTRACT Ceramics with porous cellular structure, called ceramic foams, have a potential use in several applications, such as: thermal insulation, catalyst supports, filters, and others. Among these techniques to obtain porous ceramics the replication method is an important process. This method consists of impregnation of a sponge (usually polymer) with ceramic slurry, followed by a heat treatment, which will happen the decomposition of organic material and sintering the ceramic material, resulting in a ceramic structure which is a replica of impregnated sponge. Knowledge of the mechanical properties of these ceramics is important for these materials can be used commercially. Gibson and Ashby developed a mathematical model to describe the mechanical behavior of cellular solids. This model wasn´t for describing the ceramics behavior produced by the replica method, because it doesn´t consider the defects from this type of processing. In this study were researched mechanical behavior of porous alumina ceramics obtained by the replica method and proposed modifications to the model of Gibson and Ashby to accommodate this material. The polymer sponge used in processing was characterized by thermogravimetric analysis and scanning electron microscopy. The materials obtained after sintering were characterized by mechanical strength tests on 4-point bending and compression, density and porosity and by scanning electron microscopy. From these results it was evaluated the mechanical strength behavior compared to Gibson and Ashby model for solid cellular structure and was proposed a correction of this model through a factor related to struts integrity degree, which consider fissures present in the structure of these materials besides defects geometry within the struts. Keywords:.ceramic foam; replication method, mechanical properties 19 20 21 22 23 29 30 32 33 35 36 39 40 41 43 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Fatores que influenciam as propriedades dos materiais celulares. . . . . . . . . . . . Figura 2.2 Tipos de estruturas celulares em materiais sólidos: (a) bidimensional – honeycomb; (b) tridimensional com células abertas e (c) tridimensional com células fechadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.3 Materiais celulares do tipo honeycomb com diferentes formatos de células. . . . Figura 2.4 Materiais celulares do tipo tridimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.5 Materiais celulares naturais: (a) cortiça; (b) balsa; (c) esponja e (d) tecido ósseo esponsojo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.6 Esquema do processamento utilizado no método da réplica . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.7 Influência da abertura da calandra nas propriedades estruturais dos filtros do sistema Al2O3-SiC: (a) porosidade; (b) tensão de fratura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.8 Defeitos presentes em uma cerâmica porosa obtida pelo método da réplica. . . . Figura 2.9 Esquema do processamento utilizado no método do material de sacrifício - sacrifical template. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.10 Esquema do processamento utilizado pelo método direct foaming . . . . . . . . . Figura 2.11 Espumas cerâmicas obtidas pelo método direct foaming: (a) estrutura com células abertas; (b) estrutura com células fechadas; (c) detalhe do filamento sem vazio interno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.12 Curva típica de tensão-deformação para materiais celulares. . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.13 Modelo cúbico para cerâmica celular com células abertas, l representa o comprimento da aresta e t a espessura. a) célula não deformada e b) deformação em flexão das arestas durante o regime elástico linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.14 Modelo cúbico para cerâmica celular com células fechadas, l representa o comprimento da aresta e t a espessura da aresta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.15 Modelo cúbico para cerâmica celular com células abertas l representa o comprimento da aresta e t a espessura da aresta. a) célula não deformada e b) colapso das células por fratura frágil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 45 47 48 49 53 54 56 57 62 65 69 71 73 74 76 77 80 Figura 2.16 Células tridimensionais: (a) tetraedro, (b) prisma triangular, (c) prisma retangular, (d) prisma hexagonal, (e) octaedro, (f) dodecaedro rômbico, (g) dodecaedro pentagonal, (h) tetradecaedro, (i) icosaedro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 2.17 Secção transversal de filamento com vazio central tubular: t representa a espessura do filamento e ti a espessura do vazio tubular dentro do filamento. . . . . . . Figura 2.18 Morfologia cilíndrica do filamento, para espumas cerâmicas com porosidades menores que 90%, destacando componentes geométricos do filamento. . . . . . . . . . . Figura 2.19 Correlação entre o diâmetro do filamento (ds-cilíndrico) e a aresta do vazio interno triangular (ds-triângular) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 3.1 Fluxograma dos procedimentos experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 3.2 Comportamento reológico da composição utilizada no trabalho. . . . . . . . . . . . Figura 3.3 Amostras produzidas pelo método da réplica: (a) barras retangulares; (b) cilíndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 3.4 Análise termogravimétrica da esponja polimérica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 3.5 Esquema do equipamento utilizado para a análise fluidodinâmica. . . . . . . . . . . Figura 3.6 Equipamento utilizado nas medidas de resistência mecânica. . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.1 Difratograma da espuma cerâmica de alumina obtida após sinterização a 1500 ºC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.2 Comportamento fluidodinâmico das amostras após sinterização a 1500 ºC. . . . Figura 4.3 Mapa da permeabilidade para materiais porosos: comparação de dados da literatura com os obtidos neste trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.4 Comportamento mecânico de amostra submetida à flexão em 4 pontos. . . . . . . Figura 4.5 Comportamento mecânico de amostra submetida a esforços de compressão. . . Figura 4.6 Micrografia da espuma polimérica: (A) células que compõem a estrutura; (B) detalhe do filamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.7 Micrografia dos corpos cerâmicos porosos após sinterização a 1500 ºC: (A) células que compõem a estrutura, indicando a presença de poros; (B) trincas nas faces parcialmente fechadas das células.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.8 Micrografia dos corpos cerâmicos porosos, onde se pode observar: (A) defeitos e, sua estrutura; (B) defeitos de menor dimensão; (C) detalhe mostrando trinca dentro de poro; (D) detalhe de uma trinca (fratura intergranular) e microestrutura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 83 86 86 89 90 94 95 Figura 4.9 Micrografia da superfície de fratura da amostra submetida a ensaio de flexão: (A) região mostrando as trincas; (B) região apresentando vazios e poros nos filamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.10 Micrografia da superfície de fratura da amostra submetida a ensaio de compressão: (A) região central da amostra; (B) região próxima à superfície. . . . . . . Figura 4.11 Comparação dos resultados experimentais com o Modelo de Gibson e Ashby para compressão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.12 Comparação dos resultados experimentais com o Modelo de Gibson e Ashby para flexão em 4 pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.13 Comparação dos resultados experimentais com o Modelo de Gibson e Ashby sem modificação e com o acréscimo do fator d para compressão. . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.14 Comparação dos resultados experimentais com o Modelo de Gibson e Ashby sem modificação e com o acréscimo do fator d para flexão em 4 pontos. . . . . . . . . . Figura 4.15 Comparação dos resultados experimentais com o Modelo de Gibson e Ashby sem modificação e com o acréscimo da área efetiva submetida a carregamento mecânico e do fator d para compressão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 4.16 Comparação dos resultados experimentais com o Modelo de Gibson e Ashby sem modificação e com o acréscimo da área efetiva submetida a carregamento mecânico e do fator d para flexão em 4 pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 52 67 68 70 72 84 87 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Materiais utilizados na composição de filtros cerâmicos para metais fundidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 3.1 Composição das amostras em volume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4.1 Densidade das amostras após sinterizaçãoa 1500 ºC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4.2 Porosidade das amostras após sinterização a 1500 ºC. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4.3 Constantes de permeabilidade das amostras obtidas após ensaio fluidodinâmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4.4 Resistência mecânica das amostras sinterizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4.5 Dimensões dos componentes geométricos dos filamentos da espuma cerâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4.6 Dimensões dos defeitos dos filamentos da espuma cerâmica. . . . . . . . . . . . . . SÍMBOLOS E ABREVIATURAS 2θ ângulo de varredura na difração de raios X AC área da secção circular do filamento AT área da secção triangular do vazio interno do filamento c tamanho de trinca no filamento cerâmico d grau de integridade do filamento cerâmico ds-cilíndrico diâmetro do filamento cilíndrico ds-triângular aresta do vazio interno triangular E* módulo de elasticidade do material celular Es módulo de elasticidade da fração sólida (aresta celular) F força ou carga aplicada G* módulo de cisalhamento I momento de inércia l comprimento da aresta ou filamento cerâmico L espessura do filtro K* módulo volumétrico k1 constantes de permeabilidade darcyana k2 constantes de permeabilidade não-darcyana M massa Ms massa da amostra seca Mi massa da amostra imersa em água Mu massa da amostra saturada em água MEV microscopia eletrônica de varredura n constante que depende da tortuosidade p tamanho de poro P porosidade PSZ zircônia parcialmente estabilizada Q vazão t espessura da aresta ou filamento cerâmico TG análise termogravimétrica ti espessura do vazio interno da aresta ou filamento cerâmico V volume vs velocidade superficial de escoamento µ viscosidade do fluido ρ densidade do fluido águaρ densidade ou massa específica da água ρ0 densidade ou massa específica do corpo poroso ρs densidade ou massa específica do material do filamento ρR densidade relativa υ* coeficiente de Poison φ fração de sólidos que preenche a face da célula σ0 tensão de ruptura do material celular σ0C tensão de ruptura do material celular sob compressão σ0F tensão de ruptura do material celular sob flexão em 4 pontos σs tensão de ruptura da fração sólida ou material que constitui o filamento ∆P queda de pressão 16l 18l 18 23 27 27 32l 33l 34l 37 39l 42l 32 45l 49l 50l 51 51l 52 55 56 58 58 61 62 63l 65l 65 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1 MATERIAIS SÓLIDOS COM ESTRUTURA CELULAR . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 CERÂMICAS CELULARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 MÉTODOS DE PROCESSAMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.1 Método da réplica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.2 Método do material de sacrifício (sacrifical template) . . . . . 2.3.3 Gel casting. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.4 Direct foaming. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 PROPRIEDADE MECÂNICA DE MATERIAIS CELULARES . . . . . . . . . . 2.4.1 Regime elástico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.2 Patamar de tensão e densificação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.3 Particularidades estruturais de espumas cerâmicas obtidas pelo método da réplica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL . . . . . . . . . . . . . . . 3.1 SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMA. . . . . . . . . . 3.1.1 Análise termogravimétrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.2 Análise do comportamento reológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 PRÉ-QUEIMA E SINTERIZAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 ANÁLISE FLUIDODINÂMICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 DIFRAÇÃO DE RAIOS X. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.6 DENSIDADE E POROSIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.7 RESISTÊNCIA MECÂNICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.8 ANÁLISE MICROESTRUTURAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.9 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 4 – RESULTADO E DISCUSSÕES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 68 71 75 84 96l 98l 99l 4.2 DENSIDADE E POROSIDADE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 ANÁLISE FLUIDODINÂMICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 RESISTÊNCIA MECÂNICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 ANÁLISE MICROESTRUTURAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.6 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 5 – CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 6 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS . . . . . . CAPÍTULO 7 – REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Sólidos com estrutura celular são materiais constituídos por uma rede de unidades celulares com um arranjo bidimensional ou tridimensional formada por filamentos ou faces interconectadas, de acordo com o tipo de estrutura dos mesmos. Estes materiais podem ser encontrados na natureza, como a cortiça e o tecido ósseo esponjoso, ou ser produzido pelo homem, podendo ser constituídos de material polimérico, metálico ou cerâmico (GIBSON e ASHBY, 1997; SHEFFLER e COLOMBO, 2005). Cerâmicas com estrutura porosa possuem uma vasta gama de aplicações, como isoladores térmicos, catalisadores, materiais para proteção contra fogo, filtros, dentre outras. Cerâmicas celulares com estrutura tridimensional, ou simplesmente espumas cerâmicas, têm um grande potencial de aplicação em setores industriais, principalmente nos processos de refino e purificação, filtrações de gases quentes, combustão catalítica, recuperação de vapor, dentre outras (STUDART e colaboradores, 2006). Existem várias técnicas para a produção de espumas cerâmicas, dentre as quais podemos destacar o método da réplica, aeração de suspensões e pirólise de polímeros pré- cerâmicos. O método da réplica, também chamado método da esponja, consiste na impregnação de uma esponja polimérica ou natural com uma barbotina cerâmica, seguindo-se um tratamento térmico deste material, onde ocorrerá a queima (decomposição) do material orgânico e sinterização do material cerâmico, resultando em um corpo cerâmico que consiste em uma réplica da estrutura da esponja onde a barbotina foi impregnada inicialmente (STUDART e colaboradores, 2006). Introdução17 Um parâmetro de controle importante para se obter corpos cerâmicos por esta técnica é a reologia da barbotina, pois a uniformidade da deposição da camada depende de parâmetro como a viscosidade da barbotina em condições estáticas (ZHU e colaboradores, 2002). Além de parâmetros de permeabilidade, os filtros cerâmicos têm que atender a requisitos mecânicos, para que assim possam desempenhar bem as suas funções. Estas características estão profundamente ligadas aos materiais utilizados e a estrutura obtida, sendo esta última, fortemente dependente do tipo de processamento adotado para obtenção do corpo cerâmico poroso (SHEFFLER e COLOMBO, 2005; SALVINI e colaboradores, 2002). Este trabalho tem como objetivo geral a análise do comportamento mecânico de uma espuma cerâmica constituída de alumina utilizando como rota de processamento o método da réplica obtida em laboratório, comparando os resultados de resistência mecânica obtidos experimentalmente com o previsto pelo modelo de Gibson e Ashby para o comportamento mecânico de sólidos com estrutura porosa celular. Como este modelo não leva em consideração os defeitos existentes nos filamentos, característicos desta rota de processamento, propôs-se uma adequação deste modelo para este tipo de material, a partir dos resultados e caracterização das amostras obtidas. A adequação deste modelo irá propiciar um entendimento dos fatores que influenciam o comportamento mecânico das espumas cerâmicas obtidas pelo método da réplica e assim propiciar meios para otimização de suas propriedades mecânicas. 18 CAPÍTULO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 MATERIAIS SÓLIDOS COM ESTRUTURA CELULAR Materiais sólidos com estrutura celular ou simplesmente materiais celulares compreendem uma classe de materiais caracterizados por serem constituídos por uma rede de unidades celulares com um arranjo bidimensional ou tridimensional de filamentos interconectados, sendo as arestas ou lados destas células formadas por estes filamentos. (GIBSON e ASHBY, 1997; SHEFFLER e COLOMBO, 2005) Estes sólidos, sejam eles constituídos de materiais metálicos, cerâmicos ou poliméricos, têm suas propriedades relacionadas a três fatores principais: - as propriedades do sólido que constitui o filamento (arestas da célula); - a topologia (conectividade) e forma das células que compõem a estrutura; - a densidade relativa ρ/ρs do material celular, onde ρ0 é a densidade do corpo poroso e ρs é a densidade do material o qual é feito o corpo. A correlação destes fatores está na figura 2.1, a seguir. Revisão Bibliográfica 19 Figura 2.1 – Fatores que influenciam as propriedades dos materiais celulares (adaptado de SHEFFLER e COLOMBO, 2005). Dentre as classes de materiais que possuem estrutura celular os mais amplamente estudados são os polímeros, devido à diversidade e à facilidade de se obter estas estruturas. Os materiais metálicos também vêm sendo estudados nas ultimas décadas, principalmente pela evolução nos processos de conformação e fundição de metais. (GIBSON e ASHBY, 1997) Os materiais celulares cerâmicos tiveram um considerável avanço no seu desenvolvimento na última década devido à potencialidade de utilização destes materiais em aplicações, como, filtragem de metal fundido, suporte catalítico, filtragem de gases a alta temperatura, isolamento térmico e queimadores (STUDART e colaboradores, 2006). Sólidos celulares podem apresentar três estruturas básicas: bidimensional do tipo honeycomb; tridimensional com células abertas e tridimensional com células fechadas (GIBSON e ASHBY 1997). Estas diversas estruturas estão ilustradas na figura 2.2, que segue. Material o qual é constituído o corpo poroso Topologia e forma das células do corpo poroso Densidade relativa (ρ0/ρs) Propriedades do sólido: mecânicas, térmicas e elétricas Critério de Maxwell: comportamento dominado pela flexão ou pela quebra dos filamentos Comprimento e espessura dos filamentos Suspensão: modelos, ligações limites (fronteiras) Propriedades dos materiais celulares Revisão Bibliográfica 20 Figura 2.2 – Tipos de estruturas celulares em materiais sólidos: (a) bidimensional – honeycomb; (b) tridimensional com células abertas e (c) tridimensional com células fechadas. (ASHBY 1983). A estrutura mais simples a qual se apresentam os sólidos celulares é o arranjo bidimensional, de polígonos, que comumente formam um plano formado por células hexagonais distribuídos em um arranjo regular, como se fossem os favos de uma colméia, por este motivo, estes materiais são denominados materiais celulares do tipo honeycomb, ilustrado na figura 2.2 (a). Além do formato hexagonal, as células podem ter formas triangulares, quadradas e quaisquer outras formas como é mostrado na figura 2.3 a seguir (JAIN e colaboradores 2003; GIBSON e ASHBY 1997). (a) (b) (c) Revisão Bibliográfica 21 Figura 2.3 – Materiais celulares do tipo honeycomb com diferentes formatos de células. (SOUZA, 2008). Os sólidos celulares também apresentam um arranjo onde poliedros se distribuem em um empacotamento em três dimensões, geralmente orientado aleatoriamente, sendo estes materiais denominados comumente de espumas, estando ilustrado na figura 2.4, a seguir. Estas espumas podem ser formadas por células constituídas apenas de arestas, o que permite que as células se comuniquem entre si, através dos vazios, formando uma rede de vazios interconectados pela rede de filamentos sólidos, sendo estas espumas chamadas de estrutura células abertas, a qual foi mostrada na figura 2.2 (b). O arranjo tridimensional de células das espumas podem também apresentar células fechadas, onde estas se encontram isoladas uma das outras, com poros isolados dentro da estrutura sólida, pois nestes materiais as faces dos poliedros, diferentemente das espumas com células abertas, se encontram preenchidas com material sólido, como ilustrado na figura 2.2 (c). Estas espumas também podem apresentar células parcialmente abertas ou fechadas, de acordo com o referencial (GIBSON e ASHBY Revisão Bibliográfica 22 1997; MONTANARO e colaboradores, 1998). O tipo estrutura, se honeycomb, tridimensional com células abertas ou tridimensional com células fechadas, irá influenciar as propriedades destes materiais, e consequentemente, também as aplicações as quais estes materiais irão mais se adequar. Figura 2.4 – Materiais celulares do tipo tridimensional. (SOUZA, 2008). Além dos sólidos celulares sintéticos, existem também materiais com estrutura celular encontrados na natureza, sejam em rochas, minerais ou em seres vivos, como plantas ou animais. Nestes sólidos celulares naturais encontram-se desde estruturas do tipo honeycomb com células isoladas, existentes na cortiça e madeira da balsa, respectivamente apresentadas nas figuras 2.5 (a) e (b), até estruturas celulares do tipo espuma com células abertas, com diferentes graus de conectividade entre as células, como a esponja e o tecido ósseo esponjoso, ilustrados, respectivamente, nas figuras 2.5 (c) e (d). Alguns destes sólidos celulares podem Revisão Bibliográfica 23 ser utilizados no processamento de materiais celulares sintéticos, como será discutido mais adiante (ASHBY 1983; STUDART e colaboradores, 2006). Figura 2.5 – Materiais celulares naturais: (a) cortiça; (b) balsa; (c) esponja e (d) tecido ósseo esponsojo. (ASHBY 1983). 2.2 CERÂMICAS CELULARES Dentre os materiais com estrutura celular porosa, as cerâmicas celulares têm despertado grande interesse nas ultimas décadas, pois as mesmas possuem uma grande variedade de aplicações, tais como, isolamento térmico, suporte catalítico, materiais para (a) (b) (c) (d) Revisão Bibliográfica24 proteção contra fogo, filtros, dentre outras. O potencial de utilização das cerâmicas celulares nestas aplicações se deve a combinações de algumas propriedades como, alto ponto de fusão, resistência a corrosão e ao desgaste, baixa condutividade térmica e densidade, alta área superficial e permeabilidade controlada. Estas propriedades podem ser adequadas para uma aplicação específica controlando a composição, micro e macroestrutura da cerâmica celular. Os principais materiais cerâmicos empregados comercialmente na obtenção de cerâmicas celulares são alumina (Al2O3), cordierita (Al3(Mg,Fe)2Si5AlO18), mulita (3(Al2O3).2(SiO2)), zircônia parcialmente estabilizada (PSZ) e carbeto de silício (SiC), além de alguns sistemas compósitos (STUDART e colaboradores, 2006; MONTANARO e colaboradores, 1998). Estes materiais têm como uma das suas principais aplicações a sua utilização em sistemas de isolamento térmico, sendo mais utilizadas para este fim as cerâmicas celulares com células fechadas. Esta aplicação se deve a algumas propriedades específicas destes materiais, como: estabilidade térmica, baixa densidade e condutividade térmica, resistência a ciclos térmicos e choque térmico e baixo calor específico (MONTANARO e colaboradores, 1998). Outra aplicação importante das cerâmicas celulares porosas é em queimadores, sendo os principais materiais empregados em sua confecção alumina, carbeto de silício e zircônia. Para esta aplicação temos como principais características o caráter refratário dos materiais empregados, possibilitando aos mesmos resistirem às altas temperaturas inerentes a esta utilização e a permeabilidade, pois é necessário um fluxo contínuo da mistura ar/combustível para se obter uma chama estável. Um importante fator nestes queimadores é a durabilidade destes após vários ciclos de operação, pois os mesmos podem apresentar degradação estrutural e consequentemente diminuição das suas propriedades mecânicas (ARGÜELLO, 2009; SHEFFLER e COLOMBO, 2005). Revisão Bibliográfica 25 Cerâmicas celulares com estrutura de células abertas têm como uma importante aplicação industrial sua utilização como filtros, principalmente em processos de refino e purificação, filtrações de gases quentes e metais fundidos, combustão catalítica e recuperação de vapor (STUDART e colaboradores, 2006; MONTANARO e colaboradores, 1998). Características como permeabilidade, eficiência de retenção e durabilidade são importantes fatores para o desempenho de um filtro, qualquer que seja sua aplicação específica. A permeabilidade é uma propriedade de um meio poroso que representa a facilidade à passagem do fluido através de uma estrutura porosa interconectada, já a eficiência de coleta de um filtro está associada à capacidade de retenção de materiais particulados pelas células (poros) que compõem o filtro. O tamanho, a forma e a distribuição das células em sua estrutura, irão direcionar a qual aplicação o filtro é mais adequado, pois estas características estão fortemente relacionadas com a permeabilidade e capacidade de retenção do material e de maneira geral, quando se aumenta a permeabilidade de um meio poroso diminui-se sua capacidade de retenção de sólidos particulados. A durabilidade de um filtro está relacionada, principalmente, aos materiais empregados na produção, como também à microestrutura destes materiais, além dos defeitos que possam existir tanto no nível de micro e macroestrutura. Tanto a macro quanto a microestrutura, como os defeitos presentes nas mesmas, estão ligados as rotas de processamentos utilizadas na obtenção do filtro. A durabilidade está associada à viabilidade econômica do filtro cerâmico, pois quanto maior a vida útil do mesmo menor será o número de interrupções para sua troca, reduzindo os custos do processo onde são empregados (INNOCENTINI e colaboradores, 1999; SALVINI e colaboradores, 2002; FREITAS e colaboradores, 2003; SHEFFLER e COLOMBO, 2005). Um das aplicações de filtros cerâmicos é na separação (retenção) de inclusões sólidas e escória no processamento de metais por fundição. Filtros cerâmicos foram introduzidos no Revisão Bibliográfica 26 processamento de metais por fundição em meados da década de 70 na obtenção de ligas de alumínio, tendo sua utilização se difundido ao longo dos anos. Atualmente os filtros cerâmicos são utilizados no processamento de várias ligas metálicas (MONTANARO e colaboradores, 1998; SHEFFLER e COLOMBO, 2005), estando alguns exemplos de materiais utilizados na confecção de filtros listados na tabela 2.1, a seguir. Tabela 2.1 – Materiais utilizados na composição de filtros cerâmicos para metais fundidos (adaptador de MONTANARO e colaboradores, 1998). Composição Aplicações Alunina, SiC, codierita, zircônia Alumínio, ferro, cobre, bronze, aço e zinco Alumina, mulita, zircônia Superligas e aços inoxidáveis com baixo carbono 92% alumina com mulita Ligas não ferrosas Alumina, PSZ Alumínio, ferro, aço Filtros cerâmicos possuem um grande potencial de aplicação na filtragem de gases a elevada temperatura, em sistemas de exaustão de motores a diesel e processos industriais, como também em sistemas de co-geração de energia. Tanto para aplicação em filtro para metais fundidos, como para gases a altas temperaturas, o conhecimento do comportamento mecânico destes materiais, quando submetidos a estas temperaturas ou a gradientes de temperatura são importantes para otimizar seu desempenho para estas aplicações (SOUZA, 2008; SOUZA e colaboradores, 2008; VEDULA, 1999; SALVINI e colaboradores, 2001). Revisão Bibliográfica 27 2.3 MÉTODOS DE PROCESSAMENTO Atualmente existem vários métodos de processamento para se obter cerâmicas porosas com estrutura celular, que foram desenvolvidos em resposta ao crescente número de aplicações potenciais para estes materiais. Estas técnicas permitem ajustar as características destas cerâmicas para se adequarem a uma determinada aplicação. Através da escolha do método e do ajuste dos parâmetros inerentes ao mesmo, pode-se controlar a porosidade, como também a distribuição, tamanho e morfologia dos poros que compõem a estrutura celular da cerâmica, podendo estes métodos serem aplicados a materiais cerâmicos de diferentes composições químicas. Dentre as principais técnicas de processamentos de cerâmicas celulares, podemos destacar as seguintes rotas de processamento: método da réplica, fase de sacrifício, gelcasting e direct foaming (STUDART e colaboradores, 2006). 2.3.1 Método da Réplica O método da réplica é considerado como o primeiro método utilizado para a produção de cerâmicas de estrutura celular porosa. Seu desenvolvimento iniciou-se no início dos anos 1960, quando Schwartzwalder e Somers utilizaram esponjas poliméricas como modelos para se obter estruturas cerâmicas celulares de diversos tamanhos de poros, porosidades, e composições químicas (SCHWARTZWALDER e SOMERS, 1963). Este método atualmente é o mais utilizado na produção de cerâmicas porosas na indústria, principalmente para Revisão Bibliográfica 28 fabricação de filtros cerâmicos para serem usados na filtração de metais fundidos e gases a altas temperaturas. Fatores que contribuem para sua difusão são o custo relativamente baixo, simplicidade e flexibilidade do método (SHEFFLER e COLOMBO, 2005; STUDART e colaboradores, 2006). A figura 2.6, adiante, apresenta um esquema geral do processamento utilizado na produção de cerâmicas porosas pelo método da réplica. Neste método, como ilustrado na figura, uma esponja, de origem natural ou sintética, altamente porosa é inicialmente mergulhada em uma suspensão cerâmica até o preenchimento dos poros internos. As esponjas mais comumente utilizadas são poliméricas, geralmente de poliuretano. Após ser realizada a impregnação com a suspensão, é realizada a remoção do excesso da suspensãoda esponja, usualmente através da passagem por uma calandra, assim permitindo a formação de uma fina camada cerâmica ao longo da estrutura celular da esponja original. Em seguida é submetida a um tratamento térmico onde ocorre a queima (decomposição do material orgânico) e posteriormente a sinterização do material cerâmico, resultando em um corpo cerâmico que consiste em uma réplica da estrutura da esponja onde a suspensão cerâmica foi impregnada inicialmente. Cerâmicas porosas obtidas por este método podem chegar a uma porosidade aberta total na faixa de 40% a 95%, e são caracterizadas por uma estrutura reticulada de poros altamente interligados com tamanhos entre 200 µm e 3 mm (STUDART e colaboradores, 2006; MONTANARO e colaboradores, 1998). Revisão Bibliográfica 29 Figura 2.6 – Esquema do processamento utilizado no método da réplica (adaptada de STUDART e colaboradores, 2006). Na literatura encontram-se exemplos de cerâmicas porosas de diversas composições químicas preparadas pelo o método da réplica. A grande flexibilidade deste método se deve ao fato de que o mesmo é aplicável a qualquer material cerâmico que possa ser adequadamente disperso em uma suspensão. Alterando alguns parâmetros de processamento podem-se alterar as características finais da cerâmica celular, como demonstrou Salvini e colaboradores (2002), onde se variou o espaçamento entre os rolos da calandra na retirada do excesso de suspensão, após impregnação no processamento de filtros cerâmicos do sistema Al2O3-SiC, observando- se a variação da porosidade e consequentemente da tensão de fratura do filtro em função deste espaçamento, ilustrado na figura 2.7. À medida que se aumenta a abertura da calandra, ocorre uma diminuição da porosidade do filtro, pois há uma diminuição na retirada do excesso de suspensão, resultando em um aumento da espessura dos filamentos que compõem a estrutura do filtro, o que contribuiu para a melhoria de sua resistência mecânica. Revisão Bibliográfica 30 Figura 2.7 – Influência da abertura da calandra nas propriedades estruturais dos filtros do sistema Al2O3-SiC: (a) porosidade; (b) tensão de fratura (adaptada de SALVINI e colaboradores, 2006). Alguns trabalhos realizaram uma variação neste método, onde esta suspensão cerâmica foi substituída por polímeros pré-cerâmicos, os quais resultaram em cerâmicas porosas à base de SiC (NANGREJO e colaboradores, 2001; NANGREJO e EDIRISINGHE, 2002; BAO e colaboradores, 2000). Alternativamente, Sherman e colaboradores (1991) desenvolveram um processo semelhante ao da réplica, onde a esponja polimérica é primeiro convertida em uma estrutura de carbono vítreo, sendo posteriormente infiltrada com espécies gasosas reativas para formar cerâmicas macroporosas, resultando em uma espuma cerâmica de diferentes (a) (b) Revisão Bibliográfica 31 composições, podendo ser constituídas de carbonetos, óxidos, boretos, nitretos, silicietos de acordo com as espécies gasosas reativas utilizadas. Uma desvantagem do método da réplica é o fato de que os filamentos da estrutura reticulada possuem uma série de defeitos como vazios no interior dos filamentos, onde inicialmente estava a esponja precursora, além de trincas e pequenas fissuras que são provenientes do processo de decomposição do polímero, estando a presença destes defeitos mostrada na figura 2.8. Estes defeitos na estrutura reduzem as propriedades mecânicas para níveis mais baixos que a teoricamente predita para cerâmicas porosas com células abertas. Muitas tentativas foram feitas para evitar esses defeitos na estrutura, por exemplo, uma melhor impregnação da suspensão na esponja com a ajuda de aditivos (SAGGIO- WOYANSKY e colaboradores, 1992), a realização de uma segunda etapa para preencher as fissuras (LUYTEN e colaboradores, 2005; ZHU e colaboradores 2001), recobrimento dos filamentos cerâmicos com uma suspensão (YAO e colaboradores, 2006; PU e colaboradores, 2004), como também a introdução de fibras (LANGE e MILLER, 1987) ou compostos reativos (PAIVA e colaboradores, 1999) para reforçar a integridade do material. Revisão Bibliográfica 32 Figura 2.8 – Defeitos presentes em uma cerâmica porosa obtida pelo método da réplica. (SOUZA, 2008). 2.3.2 Método do material de sacrifício (sacrifical template) Este método, como o nome sugere, consiste basicamente na incorporação de um material de sacrifício a um precursor cerâmico ou a uma suspensão cerâmica, como ilustrado na figura 2.9, a seguir. Por meio deste método se obtém uma estrutura celular que é o negativo da réplica do material de sacrifício, diferentemente do processo da réplica mencionado anteriormente. Revisão Bibliográfica 33 Figura 2.9 – Esquema do processamento utilizado no método do material de sacrifício - sacrifical template (adaptada de STUDART e colaboradores, 2006). Durante o processo, um material de sacrifício é introduzido e distribuído homogeneamente em uma suspensão cerâmica ou precursor cerâmico. Finalmente, o precursor cerâmico com o material de sacrifício incorporado é submetido a um processo de secagem, para a posterior eliminação do material de sacrifício, seguido pela sinterização. Os materiais naturais ou sintéticos, usados como materiais de sacrifício, sendo comumente extraídos por pirólise (STUDART e colaboradores, 2006). 2.3.3 Gelcasting O método gelcasting consiste na preparação de uma suspensão de pó cerâmico em solução aquosa de monômeros, que após a conformação em um molde com a geometria final da peça, é submetida a um processo de polimerização formando um gel a partir da fase líquida. Com esta reação a suspensão solidifica, sendo retirada do molde para que possa ser realizada as etapas de secagem e sinterização. Este processo possui características específicas, Revisão Bibliográfica 34 como: baixa viscosidade das suspensões e a cinética de reação, que com a adição de um surfactante e um processo de aeração, torna possível a produção de materiais cerâmicos porosos com poros esféricos e diâmetros variando de 30µm a 2 mm, paredes altamente densificadas e níveis de porosidade que podem ultrapassar 90% , proporcionando ótimas propriedades como, alta resistência mecânica, alta permeabilidade (SALVINI e colaboradores, 2000; ORTEGA e colaboradores, 2003), baixa condutividade térmica (SEPULVEDA e colaboradores, 1999). O sistema utilizado para promover a gelificação da suspensão constitui um dos pontos mais importantes do processo, especialmente quando este é associado à etapa de aeração. Os precursores do gel não devem afetar a dispersão da suspensão, evitando que a resistência mecânica seja deteriorada. Tampouco devem provocar aumentos significativos na viscosidade da suspensão, já que isto dificulta a formação de espumas de baixa densidade. Após o processo de aeração, a suspensão deve gelificar rapidamente, evitando que mecanismos como a redução da espessura da parede e o colapso das células provoquem danos macroestruturais capazes de deteriorar as propriedades finais do material. Finalmente, após a gelificação, a espuma deve possuir resistência mecânica suficiente para ser desmoldada e manipulada até a etapa de sinterização. 2.3.4 Direct foaming Direct foaming oferece um método fácil, barato, rápido para a preparação de cerâmicas porosas que possibilita obter corpos cerâmicos tanto com porosidade aberta quanto fechada na faixa de 40% para 97%. Este método consiste na incorporação de ar em uma suspensão ou meio líquido, que é posteriormente fixado, a fim de se manter uma estrutura de bolhas de ar. Revisão Bibliográfica 35 Na maioria dos casos, as espumas consolidadas são posteriormente sinterizados a altas temperaturas para a obtenção de cerâmicas porosas de alta resistência. A porosidadetotal neste método é diretamente proporcional à quantidade de gás introduzida na suspensão ou meio líquido durante o processo de formação da espuma. O tamanho dos poros, por outro lado, é determinada pela estabilidade da espuma antes da consolidação. Estas espumas são termodinamicamente instáveis e os processos usados para a desestabilização destas espumas aumentam significativamente o tamanho das bolhas incorporadas, resultando em grandes poros na microestrutura final desses materiais. Portanto, a questão mais crítica neste método é a maneira utilizada para estabilizar as bolhas incorporadas dentro da suspensão inicial ou meio líquido. Duas maneiras são utilizadas para estabilizar estas espumas: com surfactantes e com partículas (STUDART e colaboradores, 2006). Na figura 2.10 a seguir é apresentado um esquema do processamento utilizado na produção de cerâmicas porosas pelo método direct foaming. Figura 2.10 – Esquema do processamento utilizado pelo método direct foaming (adaptada de STUDART e colaboradores, 2006). Revisão Bibliográfica 36 Estruturas celulares preparadas por este método normalmente exibem resistência mecânica consideravelmente mais elevada do que as produzidas pelo método da réplica. Isto está relacionado com a ausência de fissuras e trincas nos filamentos e de vazios em seu interior (STUDART e colaboradores, 2006), como está ilustrado na figura 2.11, que se segue. Figura 2.11 – Espumas cerâmicas obtidas pelo método direct foaming: (a) estrutura com células abertas; (b) estrutura com células fechadas; (c) detalhe do filamento sem vazio interno (adaptada de COLOMBO e HELLMANN, 2002). (a) (b) (c) Revisão Bibliográfica 37 Valores de resistências a compressão de aproximadamente 16 MPa para amostras com porosidade variando na faixa de 87% a 90% foram obtidos com cerâmicas porosas produzidas a partir da estabilização das espumas com partículas coloidais. A adição destas partículas estabiliza a estrutura de bolhas, além de permitir a obtenção de poros com tamanho menores (COLOMBO e HELLMANN, 2002; STUDART e colaboradores, 2006). 2.4 PROPRIEDADE MECÂNICA DE MATERIAIS CELULARES A resistência mecânica de cerâmicas porosas celulares depende de diversos fatores, tais como, a estrutura e a densidade relativa. Tanto a macroestrutura (ou seja, o arranjo e o tamanho das células), quanto à microestrutura (por exemplo, a presença de defeitos nos filamentos) tem uma forte influência no comportamento mecânico desses materiais (SOUSA, 2007; GIBSON e ASHBY, 1997; WAGH e colaboradores, 1993). A relação entre a resistência mecânica e a porosidade tem sido alvo de grandes estudos por muitos pesquisadores, e diferentes modelos tem sido proposto na tentativa de explicar o comportamento mecânico das cerâmicas celulares em função da sua porosidade (WAGH e colaboradores, 1991; WAGH e colaboradores, 1993; TULLIANI e colaboradores, 1999; OLIVEIRA e colaboradores, 2006). Um desses modelos é o de Gibson e Ashby, que se baseia no modelo de vigas de materiais sólidos, assumindo a célula unitária, que compõem a estrutura celular, como cúbica simples e considera também alguns parâmetros estruturais como: comprimento (l) e espessura da aresta (t), os quais são relacionados com a densidade Revisão Bibliográfica 38 relativa do material celular (ρ0/ρs), momento de inércia (I) e força aplicada sobre o mesmo (F) (GIBSON e ASHBY, 1997). A curva de tensão-deformação para os materiais celulares, tanto para estrutura bidimensional (honeycombs) como tridimensional (espumas), em compressão (figura 2.12) é caracterizada por três regimes: linear elástico, patamar de tensão e densificação. No caso das cerâmicas celulares, o regime linear elástico depende do tipo de célula presente na estrutura. Se as células são abertas, o regime linear é controlado pela flexão das arestas que compõem as células. No caso de células fechadas, este regime se dá pelo estiramento da face da célula. O patamar de tensão está associado com o progressivo colapso das células, o qual depende da natureza estrutural do material. Nos materiais elastoméricos, por exemplo, as borrachas, o colapso das células se dá através da deformação elástica, onde as arestas das células se deformam por flambagem e flexão; nos materiais metálicos, o colapso das células acontece por escoamento plástico, onde os cantos das arestas se deformam em forma de dobradiças e nas cerâmicas celulares, este regime acontece por fratura frágil. Na densificação ocorre o colapso das células através do material e subseqüente carregamento das arestas e faces das células, uma contra as outras (GIBSON e ASHBY 1997). Revisão Bibliográfica 39 Figura 2.12 – Curva típica de tensão-deformação para materiais celulares (adaptada de GIBSON e ASHBY 1997). 2.4.1 Regime elástico Este regime é caracterizado por um conjunto de módulos, os quais são necessários para descrever o comportamento destes materiais neste regime. Para uma estrutura celular isotrópica estes módulos são: módulo de elasticidade (E*), módulo de cisalhamento (G*), módulo volumétrico (K*) e coeficiente de poison (υ*), expressos em função do módulo de elasticidade do material que compõem a aresta da célula (Es) e da densidade relativa do material celular (ρ0/ρs). Como foi descrito anteriormente, o regime elástico linear depende do tipo de célula presente na estrutura celular. O mecanismo de deformação no regime elástico linear depende se a estrutura é constituída de células abertas ou fechadas (GIBSON e ASHBY Revisão Bibliográfica 40 1997). Para as cerâmicas celulares com células abertas, o regime linear elástico é controlado pela flexão das arestas (figura 2.13). Os módulos de elasticidade (E*) e cisalhamento (G*) e o coeficiente de Poison (υ*), neste regime, são descritos pelas equações 2.1, 2.2 e 2.3, respectivamente. Figura 2.13 – Modelo cúbico para cerâmica celular com células abertas, l representa o comprimento da aresta e t a espessura. (a) célula não deformada e (b) deformação em flexão das arestas durante o regime elástico linear (adaptada de GIBSON e ASHBY 1997). 2 0 1 * = ss C E E ρ ρ (2.1) 2 0 2 * = ss C E G ρ ρ (2.2) 3 * C=υ (2.3) Onde E* é o módulo de elasticidade do material celular, Es é o módulo de elasticidade da fração sólida, G* é o módulo de cisalhamento, (υ*) é o coeficiente de Poison, ρ0 é a Revisão Bibliográfica 41 densidade do material celular, ρs é a densidade da fração sólida, C1, C2 e C3 são constantes de proporcionalidade relacionadas com a geometria da célula. Para as cerâmicas celulares com as faces das células fechadas, o estiramento das faces das células também contribui para a reposta mecânica (figura 2.14), além da compressão dos fluidos no interior das células, aumentando a complexidade do seu equacionamento. Desta forma, se faz necessário à adição de um termo relacionado com a fração de sólido que preenche a face da célula (φ) nas expressões de módulos de elasticidade (equação 2.4) e de cisalhamento (equação 2.5), porém não modificando o coeficiente de Poison (equação 2.6) (GIBSON e ASHBY 1997). Figura 2.14 – Modelo cúbico para cerâmica celular com células fechadas, l representa o comprimento da aresta e t a espessura da aresta (adaptada de GIBSON e ASHBY 1997). Revisão Bibliográfica 42 ( ) 2 0 1 2 02 1 1 −+ = sss CC E E ρ ρ φ ρ ρ φ ' * (2.4) ( ) 2 0 2 2 02 2 1 −+ = sss CC E G ρ ρ φ ρ ρ φ ' * (2.5) 3C=υ (2.6) onde E* é o módulo de elasticidade do material celular, Es é o módulo de elasticidade da fração sólida, G* é o módulo de cisalhamento, (ν) é o coeficiente de Poison, ρ0 éa densidade do material celular, ρs é a densidade da fração sólida, C1, C2 e C3 são constantes de proporcionalidade relacionadas com a geometria da célula e φ é a fração de sólidos que preenche a face da célula. 2.4.2 Patamar de tensão e densificação O colapso de cerâmicas celulares com células abertas ocorre através do mecanismo de fratura frágil das arestas que compõem as células de sua estrutura (figura 2.15) e a tensão de ruptura é calcula pela equação 2.7: Revisão Bibliográfica 43 Figura 2.15 – Modelo cúbico para cerâmica celular com células abertas l representa o comprimento da aresta e t a espessura da aresta. (a) célula não deformada e (b) colapso das células por fratura frágil (adaptada de GIBSON e ASHBY 1997). n ss C = ρ ρ σ σ 0 6 0 (2.7) onde σ0 é a tensão de ruptura do material celular, σs é a tensão de ruptura da fração sólida, ρ0 é a densidade do material celular e ρs é a densidade da fração sólida, C6 é uma constante que está relacionada com a forma da célula (figura 2.16) e n é uma constante que depende da tortuosidade e está relacionada com distribuição e geometria das células. No caso de materiais que apresentam células abertas em sua estrutura, o valor de n é igual a 1,5 e para materiais com células fechadas o valor de n é igual a 2,0. Revisão Bibliográfica 44 Figura 2.16 – Células tridimensionais: (a) tetraedro, (b) prisma triangular, (c) prisma retangular, (d) prisma hexagonal, (e) octaedro, (f) dodecaedro rômbico, (g) dodecaedro pentagonal, (h) tetradecaedro, (i) icosaedro (adaptada de GIBSON e ASHBY 1997). Para as cerâmicas celulares com células fechadas novamente o termo referente à fração de sólido que preenche a face da célula (φ) é adicionado ao cálculo de tensão de ruptura (equação 2.8). ( ) −+ = sss CC ρ ρ φ ρ ρ φ σ σ 0" 6 2 3 0 6 0 1 (2.8) onde σ0 é a tensão de ruptura do material celular, σs é a tensão de ruptura da fração sólida, ρ0 é a densidade do material celular e ρs é a densidade da fração sólida e φ é a fração de sólidos que preenche a face da célula. Na região designada de densificação ocorre o colapso das células por todo o material e subseqüente carregamento das arestas das células e faces, umas sobre as outras. Revisão Bibliográfica 45 2.4.3 Particularidades estruturais de espumas cerâmicas obtidas pelo método da réplica O modelo de Gibson e Ashby considera as arestas (filamentos), que compõem a estrutura celular do sólido, contínuas, sem a presença de defeitos, entretanto espumas cerâmicas obtidas pelo método da réplica apresentam uma série de defeitos em seus filamentos, dentre os quais podemos destacar o vazio deixado no interior dos seus filamentos pela volatilização da esponja utilizada para impregnação, como observado na figura 2.8. Diante desta particularidade foi proposta por Gibson e Ashby (1997) uma modificação no modelo, no qual se considerava que os filamentos compostos por vigas com secção transversal quadrada e no interior delas um vazio tubular, também de secção quadrada, como mostrado na figura 2.17, a seguir. Figura 2.17 – Secção transversal de filamento com vazio central tubular: t representa a espessura do filamento e ti a espessura do vazio tubular dentro do filamento (adaptada de GIBSON e ASHBY 1997). t t ti ti Revisão Bibliográfica 46 Os valores de espessura e espessura interna dos filamentos irão modificar a equação 2.7 para adequá-la a materiais com vazio dentro dos filamentos assim tem-se a equação 2.9 abaixo. 2 2 0 6 0 1 1 )/( )/( tt tt C i i n ss − + = ρ ρ σ σ (2.9) onde σ0 é a tensão de ruptura do material celular, σs é a tensão de ruptura da fração sólida, ρ0 é a densidade do material celular e ρs é a densidade da fração sólida, C6 é uma constante que está relacionada com a forma da célula, n é uma constante que depende da tortuosidade e está relacionada com distribuição e geometria das células, t é a espessura do filamento e ti é a espessura do vazio interno do filamento. A geometria dos vazios presentes no interior dos filamentos de cerâmicas porosas obtidas pelo método da réplica, deixados após a decomposição da espuma polimérica inicialmente impregnada, não tem geometria de forma quadrada, como ilustrado na figura 2.17, tendo sua geometria, geralmente, a forma triangular, como ilustrado na figura 2.18. Revisão Bibliográfica 47 Figura 2.18 – Morfologia cilíndrica do filamento, para espumas cerâmicas com porosidades menores que 90%, destacando componentes geométricos do filamento (INAYAT e colaboradores, 2011). Em estudo realizado por Inayat e colaboradores (2011) sobre a determinação da área superficial específica de espumas cerâmicas, onde, para porosidades menores que 90%, a estrutura destas cerâmicas era composta por filamentos com secção circular (cilíndricos) com vazios triangulares em seu interior, como mostrado no destaque da figura 2.18. Considera-se o vazio do filamento como sendo um triangulo eqüilátero com seus vértices sobre a circunferência que constitui a secção transversal do filamento cerâmico cilindro, como mostrado no esquema da figura 2.19, e a relação entre aresta do triângulo (ds-triângular) e o diâmetro do filamento (ds-cilíndrico) está expressa na equação 2.10. Revisão Bibliográfica 48 Figura 2.19 – Correlação entre o diâmetro do filamento (ds-cilíndrico) e a aresta do vazio interno triangular (ds-triângular) (adaptada de INAYAT e colaboradores, 2011). triangularscilíndricos dd −− = 3 2 (2.10) Uma combinação ente o modelo de Gibson e Ashby para o comportamento mecânico de sólidos celulares e este modelo, que correlaciona componentes geométricos para estrutura dos filamentos, poderia se adequar melhor ao comportamento real de espumas cerâmicas obtidas pelo método da réplica. ds-triângular ds-cilíndrico 49 CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL O desenvolvimento deste trabalho seguiu os procedimentos descritos no seguinte fluxograma, ilustrado na figura 3.1: Figura 3.1 - Fluxograma dos procedimentos experimentais. Seleção das matérias-primas (Espuma, alumina, ligante e dispersante) Impregnação da espuma e retirada do excesso Calcinação (400 ºC e 900 ºC) 1 hora – 2 ºC/min Formulação da barbotina Sinterização (1500 ºC) 2 horas – 5º C/min Densidade e Porosidade (Geométrica e Arquimedes) Análise Microestrutural (MEV) Resistência Mecânica Flexão 4-pontos e compressão Análises de fases (DRX) Análise térmica da espuma polimérica Análises dos resultados em ralação ao modelo de Gibson e Ashby Análise reológica Análise fluidodinâmica Procedimento Experimental 50 3.1 SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMAS Inicialmente foi realizada a seleção dos materiais utilizados durante o desenvolvimento deste trabalho, os quais consistem na espuma polimérica que serviu de base para obtenção da réplica cerâmica, o pó cerâmico, material base que constitui os filamentos, e os aditivos que foram utilizados na formulação da barbotina. A espuma polimérica utilizada neste trabalho foi uma espuma de poliéster reticulado, com uma concentração de poros linear de 45 ppi, da linha PentaCell, fabricada pela Koepp-Schaum GmbH (Alemanha), produzidas para fabricação de filtros. Esta espuma tem uma densidade de 28 kg/m 3 , resistência à tração de 100 kPa e alongamento até a ruptura de 150%. O pó de alumina utilizado no trabalho foi alumina alfa (Al2O3 - α A16 SG), fornecido pela empresa Bassermann Minerals GmbH, Alemanha. Os aditivos utilizados para a formulação estão listados abaixo: - Álcool polivinilíco P.S. (PVA) - (C2H4O)n,Cromoline – Química Fina, Brasil, utilizado em solução como ligante. - Silicato de sódio (dosagem (Na2O) 20-30% e dosagem (SiO2) 20-30%), VETEC, Brasil, utilizado em solução como agente dispersante. Procedimento Experimental 51 3.1.1 Análise termogravimétrica Foi realizada análise termogravimétrica (TG) da espuma polimérica empregada no processo em atmosfera de ar sintético, utilizando um analisador termogravimétrico TGA51H da Shimadzu. O ensaio foi realizado até a temperatura de 600 ºC, na qual a espuma polimérica já estaria totalmente decomposta, com uma taxa de aquecimento de 5º C/min. Esta análise tem o objetivo de investigar o comportamento de decomposição da espuma polimérica durante o processo de remoção da fase orgânica e assim poder estabelecer os parâmetros para a etapa de pré-queima (calcinação). 3.1.2 Análise do comportamento reológico Foi realizada a caracterização reológica de barbotinas em um reômetro, modelo HAAKE Polylab OS System da ThermoHAAKE, à temperatura ambiente, para se avaliar a presença do comportamento tixotrópico ou pseudoplástico na barbotina utilizada para impregnação da espuma polimérica, comportamento estes que melhor apresentam resultados na obtenção de cerâmicas porosas pelo método da réplica (ZHU e colaboradores, 2002). Procedimento Experimental 52 3.2 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS Antes da preparação da barbotina para impregnação da espuma polimérica na confecção das amostras, foi realizada a preparação das soluções de álcool polivinílico (PVA) e silicato de sódio. A primeira foi feita utilizando uma proporção de 10% em massa de PVA e 90% em massa de água destilada, já a solução de silicato de sódio utilizou a proporção 36% de silicato de sódio e 64% de água destilada, ambos em massa. Na preparação das duas soluções foi realizado o seguinte procedimento: os solutos, PVA e silicato de sódio, eram adicionados em água destilada em frações, a uma temperatura controlada de 80 ºC, procedendo a agitação até sua total diluição e assim, sucessivamente, eram adicionados até a composição especificada. Depois de preparadas as soluções ligante e dispersante, iniciou-se a etapa de preparação das barbotinas. As composições das barbotinas estão na tabela 3.1. Tabela 3.1 - Composição das amostras em volume. A50 A55 A60 Alumina (%) 50 55 60 PVA (%) 5 5 5 Silicato de sódio (%) 1 1 1 Água destilada (%) 44 39 34 A composição A60 ficou muito viscosa impossibilitando até a realização dos ensaios reológicos, o que também dificultaria a impregnação da espoja polimérica. Porém, a composição A50 apresentou, devido a menor viscosidade, um escorrimento da barbotina, o Procedimento Experimental 53 que no final do processo resulta em defeitos que diminuem o desempenho da cerâmica resultante. Diante deste comportamento, a composição escolhida para preparação das amostras pelo método da réplica foi a A55, já que a mesma, em ensaio reológico, apresentou o comportamento tixotrópico, comum em materiais utilizados neste tipo de processamento (ZHU e colaboradores, 2002), sendo este comportamento caracterizado por uma histerese dos valores de viscosidade entre obtidos de forma ascendente e descendente, como mostrado na figura 3.2, além de viscosidade que permitiu a impregnação da espuma, sem o escorrimento da barbotina. Na preparação da barbotina, foi utilizado um misturador de hélices Fisatom modelo 713D, utilizando uma rotação de aproximadamente 600 rpm, durante o período de 60 minutos, parâmetros estes ajustados no desenvolvimento do trabalho. Figura 3.2 – Comportamento reológico da composição utilizada no trabalho. Realizada a etapa de mistura da barbotina, foi procedida a impregnação das esponjas. As espumas a serem impregnadas consistiam em barras retangulares de 12 x 20 x 35 (mm) Procedimento Experimental 54 aproximadamente, destinadas a ensaios mecânicos de flexão em 4 pontos e amostras cilíndricas com aproximadamente 30 mm de diâmetro e 18 mm de altura, como ilustrado na figura 3.3, a seguir. Figura 3.3 – Amostras produzidas pelo método da réplica: (a) barras retangulares; (b) cilíndricas. (a) (b) Procedimento Experimental 55 A impregnação das espumas foi realizada por imersão, até o total preenchimento dos poros. Após a impregnação com a barbotina, foi retirado o excesso de material passando a espuma impregnada por uma calandra com espaçamento igual a 25% da altura da amostra. Posteriormente a retirada do excesso de barbotina, as amostras obtidas foram secas em uma capela por um período de 24 horas, antes de ir à pré-queima. 3.3 PRÉ-QUEIMA E SINTERIZAÇÃO Antes da etapa de sinterização das amostras foi realizada uma pré-queima, onde se objetivou a decomposição da espuma polimérica e retirada de produtos voláteis provenientes dos aditivos utilizados para a preparação da barbotina. De acordo com a análise termogravimétrica da espuma, ilustrado na figura 3.4, foi feito um primeiro patamar com duração de uma hora a 400 ºC, pois é próximo a esta temperatura que ocorre a maior perda de massa durante o aquecimento e decomposição da espuma. Um segundo patamar de uma hora foi realizado na temperatura de 900 ºC, para consolidar mais os corpos cerâmicos para que os mesmos tenham o mínimo de resistência mecânica para continuar o restante do processo. Foi utilizada uma taxa de aquecimento de 2 ºC/minuto, em ambas temperaturas, e para o resfriamento utilizou-se uma taxa de 5 ºC/ minuto. Procedimento Experimental 56 0 100 200 300 400 500 600 0 20 40 60 80 100 V a ri a ç ã o d e M a s s a ( % ) Temperatura ( o C) Figura 3.4 – Análise termogravimétrica da esponja polimérica. A sinterização foi realizada a uma temperatura de 1500 ºC durante duas horas utilizando uma taxa de aquecimento e resfriamento de 5 ºC/minuto. Tanto a pré-queima como a sinterização foram realizadas em forno resistivo Nabertherm modelo HT 04/17. 3.4 ANÁLISE FLUIDODINÂMICA A caracterização fluidodinâmica das cerâmicas porosas foi realizada em um equipamento, conforme esquema ilustrado na figura 3.5, no Laboratório de Limpeza de Gases da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Neste equipamento, os dados de queda de Procedimento Experimental 57 pressão (∆P) através do filtro de espessura L foram coletados em função da velocidade superficial de escoamento (vs) do fluido. Na caracterização das amostras o fluido utilizado foi o ar. Patm, Tamb Q = V/t Compressor Bolhômetro Pe Ps Filtro / Válvula ∆P Transdutor vs = Q/A Figura 3.5 – Esquema do equipamento utilizado para a análise fluidodinâmica (enviado junto aos resultados das análises). As constantes de permeabilidade Darciana (k1) e não-Darciana (k2) foram calculadas por meio do ajuste através da equação 3.1 de Forchheimer: 2 21 ss kkL P υ ρ υ µ += ∆ (3.1) onde ∆P é a queda pressão através do filtro; L é a espessura do filtro; µ e ρ são, respectivamente, a viscosidade e a densidade do fluido; νs, a velocidade superficial do fluido Procedimento Experimental 58 obtida pela razão entre a vazão volumétrica e a área da secção transversal da amostra ortogonal ao escoamento. Os termos da equação apresentam as contribuições viscosas (Darciana) e inerciais (não-Darciana) à queda de pressão total do fluido. A predominância de um ou outro termo na queda de pressão para um dado fluido é função da velocidade utilizada e das constantes k1 e k2. Estes parâmetros obtidos na análise fluidodinâmica permitem caracterizar estes materiais quando ao seu potencial de aplicação como filtros (INNOCENTINI e colaboradores,1999). 3.5 DIFRAÇÃO DE RAIOS X As amostrasforam analisadas através da difração de raios X em difratômetro modelo XRD 6000 da Shimadzu, com objetivo de observar as fases cristalinas existentes após o processo de sinterização. A análise foi realizada com um ângulo de varredura 2θ de 10 a 80º, com uma velocidade de 2º/min. Dependendo da taxa de aquecimento durante a pré-queima pode haver uma fase de carbono residual, proveniente da não total volatilização da espuma polimérica. 3.6 DENSIDADE E POROSIDADE Procedimento Experimental 59 Nas amostras sinterizadas foram realizadas medidas de densidade pelo método geométrico, além da determinação da densidade e porosidade aparente utilizando o método de Arquimedes em água. A densidade geométrica foi obtida fazendo o cálculo da razão entre a massa das espumas cerâmicas, obtida após permanecerem por um período de 4 horas em estufa a 110°C para retirada de umidade, pelo volume das espumas, calculado após medição das dimensões das amostras de ambas as geometrias (barras e cilíndricas), com a utilização de um paquímetro, estando expressa na equação 3.2. A densidade geométrica foi tomada como o valor da densidade do corpo cerâmico poroso para os cálculos de densidade relativa, que será utilizada como parâmetro na utilização do modelo de Gibson e Ashby. V M =0ρ (3.2) Onde: ρ0: densidade geométrica ou da espuma cerâmica (g/cm 3 ); M: massa (g); V: volume (cm 3 ). A porosidade, densidade aparente e densidade do material do filamento a partir das medições pelo método da imersão em água (Arquimedes). Foram realizadas medidas da massa das amostras em uma balança OHAUS AS-120-S sob várias condições: a seco (Ms); imersa (Mi) e a úmido ou saturada em água (Mu). A medida da massa a seco foi realizada após as amostras permanecerem por um período de 4 horas em estufa a 110°C para retirada de Procedimento Experimental 60 umidade e para a medida da massa a úmido, foi apenas retirado o excesso de água na superfície da amostra com um papel não muito absorvente. Após estas medições os valores foram aplicados nas seguintes expressões: águaa MiMu Ms ρρ × − = (3.3) águas MiMs Ms ρρ × − = (3.4) 100× − − = MiMu MsMu P (3.5) Onde: ρa: densidade aparente (g/cm 3 ); ρs: densidade do material sólido(g/cm 3 ); P: porosidade aparente (%); águaρ : densidade da água (g/cm 3 ). Depois de obtidos os valores de densidade, porosidade aparente e densidade do sólido foi calculada a densidade relativa dos corpos de prova pela seguinte expressão: 1000 ×= s R ρ ρ ρ (3.6) Procedimento Experimental 61 Onde: ρ0: densidade geométrica ou da espuma cerâmica; ρs: densidade do material sólido; ρR: densidade relativa (%). Estas medidas são importantes para a análise do comportamento das propriedades mecânicas, já que pelo modelo matemático de Gibson e Ashby para a previsão de comportamento mecânico dos sólidos celulares utiliza em seu equacionamento a relação entre a densidade do sólido celular (em nosso caso da espuma cerâmica) e do material que constitui seus filamentos. 3.7 RESISTÊNCIA MECÂNICA As cerâmicas celulares obtidas após sinterização foram submetidas ao ensaio de flexão em quatro pontos e ao ensaio de compressão, utilizando-se um equipamento Zwick/Roell modelo BZ 2.5/TS1T (figura 3.6), utilizando uma velocidade de carregamento de 0,5 mm/minuto para ambos os ensaios, com no mínimo 12 amostras para cada configuração de ensaio realizado. A partir destes resultados, em conjunto com outras análises, podemos analisar a influência da densidade relativa, bem como, da presença de defeitos nas propriedades mecânicas dos materiais obtidos. Para todos os ensaios, tanto flexão como compressão, foi utilizado um material elastomérico entre a cerâmica e as superfícies de apoio, como o objetivo de minimizar o Procedimento Experimental 62 carregamento localizado nas amostras, já que pela natureza do material, as mesmas possuem irregularidades em suas superfícies. Figura 3.6 – Equipamento utilizado nas medidas de resistência mecânica (configuração utilizada para flexão em 4 pontos). 3.8 ANÁLISE MICROESTRUTURAL A microestrutura das amostras foram analisadas em um microscópio eletrônico de varredura (MEV) modelo SSX550 Superscan da Shimadzu, com objetivo de se observar estrutura de filamentos que compõem o corpo cerâmico, assim como, possíveis defeitos existentes nos mesmos. Estas características observadas serviram para adequação do modelo Procedimento Experimental 63 matemático de Gibson e Ashby ao real comportamento destes materiais quando submetidos a esforços mecânicos. As micrografias foram realizadas tanto das espumas cerâmicas antes dos ensaios mecânicos como também das amostras após os ensaios de flexão e compressão. Também foi realizada análises de MEV da espuma polimérica precursora. Tanto a espuma polimérica quanto as cerâmicas obtidas foram metalizadas com ouro para esta análise. 3.9 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MECÂNICO O comportamento mecânico das amostras foi analisado a partir dos resultados de resistência obtidos nos ensaios de flexão em 4 pontos e compressão em função da densidade relativa da espuma cerâmica, pois nos modelos matemáticos desenvolvidos por Gibson e Ashby (1997) para caracterizar as propriedades mecânicas dos sólidos, esta é uma importante característica que coordena o comportamento destes materiais quando submetidos a tensões mecânicas, como abordado no capitulo 2.4 deste trabalho. Como reportado por Souza (2008), vários fatores podem causar discrepâncias dos resultados experimentais obtidos dos previstos pelo modelo de Gibson e Ashby, dentre eles a macroestrutura do material e a presença de defeitos, em cerâmicas porosas obtidas pelo método da réplica, principalmente para baixas densidades relativas. Para se fazer uma adequação no modelo de Gibson e Ashby ao comportamento mecânico de espumas cerâmicas obtidas pelo método da réplica optou-se em fazer a correlação deste modelo aos defeitos presentes na estrutura do material, pois por característica Procedimento Experimental 64 deste método de processamento ocorrem trincas nos filamentos, além de vazio no interior do filamento no local onde era ocupado pela esponja polimérica precursora (STUDART e colaboradores, 2006). A partir das micrografias obtidas por MEV realizou-se as medidas da dimensão dos defeitos (trincas e poros) através do programa computacional para análise de imagens ImageTool 3.0, onde foi medido o comprimento das trincas, diâmetro dos poros, além dos valores de comprimento e espessura dos filamentos que constituem a estrutura da espuma cerâmica obtida neste trabalho. Através da avaliação destes resultados em conjunto com a resistência mecânica e densidade da espuma de alumina foi proposto um ajuste para o modelo de Gibson e Ashby para o comportamento mecânico de sólidos celular para adequá-lo as cerâmicas celulares processadas pelo método réplica. 65 CAPÍTULO 4 RESULTADO E DISCUSSÕES 4.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X O difratograma da espuma cerâmica, indicado na figura 4.1, constatou-se a presença apenas da fase alumina alfa, não ocorrendo picos referentes a outras fases. Em alguns trabalhos reportou-se que pode haver a presença da fase carbono, o que indica que não houve a liberação deste elemento como voláteis (ZHU e colaboradores, 2002). 10 20 30 40 50 60 70 80 0 500 1000 1500 2000 2500 AAA A A A A A A A A A A In te n s id a d e ( c p s ) Angulo 2θ A - Al 2 O 3 A Figura 4.1 – Difratograma da espuma cerâmica de alumina obtida após sinterização a 1500 ºC. Resultados e Discussões 66 A identificação das fases presentes nos materiais celulares é de grande importância, pois as propriedades
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