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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA Orientadora: Marinês Ferreira Pires Lira Plasticidade foliar de Achyrocline satureioides (Lam.) DC (Asteraceae) no Cerrado LAVRAS/MG - Abril/2023 BEATRIZ VIEIRA LOPES Relatório FINAL apresentado à Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do PIBIC/UFLA, referente ao período de 01/2022 a 12/2022. Resumo Este plano de trabalho teve como objetivo analisar as características anatômicas da epiderme foliar de plantas de Eremanthus incanus (Less.) Less, relacionadas às trocas gasosas. Porém, diante da situação de calamidade sanitária imposta pela pandemia de COVID-19, a discente desenvolveu grande parte de suas atividades de forma remota durante o ano de 2020. Estas atividades consistiram: leitura de trabalhos do grupo de pesquisa, como artigos, dissertações e teses, visando o conhecimento inicial sobre algumas técnicas e protocolos utilizados no laboratório de anatomia vegetal; e iniciação da discente na compreensão de textos científicos, especialmente aos relacionados a linha de pesquisa relacionadas a espécie E. incanus. Além disso, a discente participou de reuniões virtuais com o grupo de pesquisa, constituído por discentes da graduação e pós- graduação. Alguns resultados foram obtidos sobre a densidade estomática e relação dos diâmetros polares e equatoriais dos estômatos nas duas faces das folhas. A partir dos dados coletados, foi realizada uma análise de regressão múltipla por meio da análise de variância e teste do Chi-quadrado (p<0,05). A única variável que apresentou significância na análise estatística foi a relação dos diâmetros polares e equatoriais na face adaxial (FS adaxial), onde a maior média foi observada no T1, havendo um decréscimo entre os tratamentos (T1>T2>T3>T4). Esse resultado mostra que a disponibilidade hídrica pode ser o principal fator que interfere nesta característica dos estômatos de E. incanus. Concluímos que a radiação solar e principalmente a disponibilidade hídrica, interferem no funcionamento dos estômatos de E. incanus. Palavras-chave: Anatomia vegetal; Macela; variação ambiental. Introdução Todos os órgãos das plantas apresentam um funcionamento e um metabolismo excelente quando a planta e o ambiente se encontram equilibrados. No entanto, quando há alterações ambientais, desajustando esse equilíbrio, é ocasionado o estresse para a planta, forçando-a desenvolver estruturas morfológicas e anatômicas, alterando o seu metabolismo para sobreviver às diversas variações ambientais (PIGLIUCCI; MURREN; SCHLICHTING, 2006), o que pode ser chamado de plasticidade fenotípica. Nesse contexto, a plasticidade fenotípica foi determinada como a capacidade de um determinado genótipo expressar fenótipos distintos em resposta a uma variação do ambiente ou estímulo, ou seja, como que os organismos respondem a essas variações (BRADSHAW, 1965).Porém, as características individuais de cada organismo vão influenciar diretamente no tipo específico e o nível de plasticidade, podendo ocasionar variação a alguns fatores ambientais (WEST-EBERHARD, 2003). Segundo Valladares et al. (2000), a folha, é órgão vegetal que apresenta mais estudos em relação a plasticidade fenotípica, devido a sua maior resposta as muitas variações do ambiente. E determinados fatores ambientais podem causar alterações na morfologia e anatomia foliar, dentre eles a disponibilidade de luz (LINDORF, 1997), disponibilidade de nutrientes no solo (FELLER, 1996) e regime hídrico (RÔÇAS; BARROS; SCARANO, 1997). E cada fator ambiental como estes, pode ocasionar alterações fenotípicas na anatomia, fisiologia e morfologia das plantas (VALLADARES et al., 2002), como pode ocorrer em espécies do Cerrado. Assim, compreender melhor a plasticidade foliar de espécies sujeitas às variações ambientais do Cerrado é uma etapa importante para estabelecer estratégias de conservação e uso sustentável de espécies com potencial medicinal, como Achyrocline satureioides (Lam.) DC (Asteraceae). Objetivos Avaliar a plasticidade foliar de Achyrocline satureioides (Lam.) DC (Asteraceae) ocorrentes em diferentes ambientes do Cerrado. Objetivo específico: Obter o Índice de Plasticidade de Distância Relativa (RDPI) a partir de variáveis da anatomia foliar. Metodologia As coletas das folhas de Achyrocline satureioides foram realizadas no Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, que se encontra localizado no município de Lavras-MG. Essa espécie já foi anteriormente estudada e identificada, segundo o atual Sistema de Classificação de Angiospermas APG IV (CHASE et al., 2016). As plantas amostradas foram previamente selecionadas, de acordo com a ocorrência e distribuição das espécies. Foi coletado o material botânico de 10 indivíduos em três áreas de sua ocorrência (10 indivíduos por área): (Área 1) Transição de mata com cerrado, (área 2) área de campo rupestre e (área 3) área de cerrado. Obtenção das variáveis anatômicas Para o cálculo do Índice de Plasticidade de Distância Relativa (RDPI), proposto neste plano de trabalho, a discente acompanhou todo processo para obtenção das varáveis de anatomia foliar, como descrito a seguir: As folhas foram coletadas e fixadas em F.A.A. 70% por 72 horas e, posteriormente, conservadas em etanol 70%. Para as secções paradérmicas, foi realizado o processo de dissociação com hipoclorito de sódio (NaClO) (BERSIER; BOCQUET, 1960) e realizada a coloração com Safranina 1% para então ser montado as lâminas com glicerina 50% (KRAUS; ARDUIN, 1997). Para as secções transversais o material foi submetido a uma série etanólica crescente para desidratação (70, 80, 90 e 100%), de acordo com Johansen (1940), com modificações. Em seguida o material foi imerso em solução de pré-infiltração, composta por etanol 100% e resina base (1:1), seguindo as instruções do fabricante (Kit Historesina Leica) por 24 horas. Após esse período, prosseguindo-se a infiltração em resina base por mais 24 horas à 4 °C. Para a polimerização foi utilizado kit Historesina (hidroxietilmetacrilato, Leica, Heidelberd). Secções transversais foram realizadas em micrótomo rotativo semiautomático, em espessura de 7 μm, sendo em seguida coradas com Azul de Toluidina 1%, Ph 6,7 (FEDER; O’BRIEN, 1968). As secções paradérmicas e transversais foram fotografadas em microscópio óptico com câmera digital acoplada e as análises foram feitas por meio do software UTHSCA- Imagetool, versão 3.0, permitindo a medição dos tecidos foliares. Nas secções paradérmicas foram analisadas a densidade estomática (DE – número de estômatos/mm²) na face abaxial da epiderme. Nas secções transversais foram analisadas as espessuras da epiderme na face adaxial (EAB) e abaxial (EAB), do parênquima paliçádico (PP), do parênquima esponjoso (PE), do limbo foliar (LF) e da camada de tricomas na face abaxial da epiderme (ET). Índice de Plasticidade de Distância Relativa (RDPI) As variáveis espessura da epiderme abaxial e adaxial, espessura do limbo foliar, espessura do parênquima paliçádico e esponjoso, densidade estomática, diâmetro polar e equatorial e número de tricomas abaxial e adaxial foram utilizadas para calcular o Índice de plasticidade de distância relativa (RDPI). Para isso a distância absoluta entre as variáveis de dois indivíduos selecionados aleatoriamente (X e X’) da mesma espécie pertencentes a diferentes ambientes (E e E’, onde E sempre é diferente de E’, como indivíduos crescendo em ambientes diferentes). Esta abordagem é estendida para todos os ambientes e espécies avaliados, comparando as distâncias pareadas. Desta forma, a distância entre pares de indivíduos crescidos em diferentes ambientes é calculada como o valor absoluto dadiferença absoluta XE – X’E’ e a distância relativa é obtida pela diferença absoluta dividida pela soma (XE + X’E’). Assim, as distâncias relativas são obtidas como XE – X’E’/ (XE + X’E’) para todos os pares de indivíduos de uma dada espécie crescendo em diferentes ambientes. Quando se calcula essas distâncias para todas as variáveis em consideração, a distribuição estatística resultante, distâncias relativas para cada variável podem ser sujeitas a teste de hipóteses para testar as diferenças entre as distâncias fenotípicas em função do ambiente. O RDPI variando de 0 (sem plasticidade) a 1 (plasticidade máxima) pode ser obtido para cada variável como: RDPI = ∑ (XE – X’E’/ ( XE + X’E’)/n, onde n é o número total de distâncias (VALLADARES; SANCHEZ-GOMEZ; ZAVALA, 2006). Análise estatística Para a análise estatística será utilizado o R Core Team (2020). Os valores de RDPI foram submetidos a uma análise de regressão através de modelos lineares generalizados (glm) utilizando o pacote stats (R Core Team, 2020). A regressão utilizou os três ambientes (variável explanatória) e as valores de RDPI (variáveis respostas). Desta forma, foi avaliado o efeito causado pela variável explanatória nas variáveis respostas por meio da ANOVA e teste do Chi-quadrado (p<0,05). Elaboração de relatório mensal, final e trabalhos para apresentação em eventos e periódicos da área A discente elaborou relatórios mensais, além deste relatório final constando todas as atividades desenvolvidas durante a vigência da bolsa e os resultados obtidos por meio do plano de trabalho. Resultados e Discussões O Índice de Plasticidade de Distância Relativa (RDPI) foi calculado para todas as variáveis estruturais. Por meio de teste estatístico, comparou-se o RDPI entre variáveis estruturais relacionadas (Figuras 1 e 2). Dessa forma, observou-se que a plasticidade do número de elementos de vaso do xilema foi maior que a plasticidade do diâmetro destas células e a plasticidade da cutícula na face adaxial foi maior que na face abaxial. O parênquima esponjoso apresentou maior plasticidade em comparação ao parênquima paliçádico. E a epiderme na face adaxial apresentou maior plasticidade em comparação com a da epiderme na face abaxial. O RDPI também revelou que a plasticidade da espessura da folha foi menor que a plasticidade da área foliar específica, área foliar, densidade de tecidos foliares e massa seca (Figura 2). E que a densidade de tecidos foliares foi maior em relação a da massa seca e a espessura da folha (Figura 2). A variação no RDPI de algumas variáveis entre as folhas de A. satureioides dos três ambientes estudados pode indicar contribuição distinta destas variáveis para a ampla ocorrência da espécie no Cerrado. Figura 1- Gráficos de Índice de Plasticidade das folhas de Achyrocline satureioides coletadas no Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, Lavras, MG. Epiderme Adaxial x Epiderme Abaxial (A), Cutícula Adaxial x Cutícula Abaxial (B), Parênquima Paliçádico x Parênquima Esponjoso (C), Diâmetro dos vasos do xilema x Número de vasos do xilema (D). Barras indicam o erro padrão. Fonte: Do autor. Figura 2- Gráficos de Índice de Plasticidade das folhas de Achyrocline satureioides coletadas no Parque Ecológico Quedas do Rio Bonito, Lavras, MG.Massa Seca x Densidade de tecidos foliares (A), Espessura foliar x Massa Seca (B), Espessura foliar x Área foliar específica (C), Espessura foliar x Área foliar (D), Espessura foliar x Densidade de tecidos foliares (E). Barras indicam o erro padrão. Fonte: Do autor. Conclusão A plasticidade das diferentes variáveis estruturais avaliadas demonstra que estas podem contribuir de forma distinta nas estratégias de ocupação dos ambientes do Cerrado. Bibliografia BRADSHAW, A. D. Evolutionary Significance of Phenotypic Plasticity in Plants. Advances in Genetics, v. 13, n. C, p. 115–155, 1965. PIGLIUCCI, M.; MURREN, C. J.; SCHLICHTING, C. D. Phenotypic plasticity and evolution by genetic assimilation. Journal of Experimental Biology, v. 209, n. 12, p. 2362–2367, 2006. BERSIER, J. D.; BOCQUET, G. Les méthodes d’éclaircissement en vascularisation et en morphogénie végétales comparées. Arch. Sci., Genève, v. 13, p. 555–66, 1960. BREMER, K. Asteraceae: cladistics and classification. Portland (Oregon, USA): Timber Press, 1994. CHASE, M. W. et al. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 181, n. 1, p. 1–20, 2016. FEDER, N.; O’BRIEN, T. P. Plant Microtechnique: Some Principles and New Methods. American Journal of Botany, v. 55, n. 1, p. 123–142, 1968. FELLER, I. C. Effects of Nutrient Enrichment on Leaf Anatomy of Dwarf Rhizophora mangle L . ( Red Mangrove). BIOTROPICA, v. 28, n. 1, p. 13–22, 1996. JOHANSEN, D. A. Plant microtechnique. London: McGraw-Hill Book Company, 1940. KRAUS, J. E. .; ARDUIN, M. Manual básico de métodos em morfologia vegetal. Seropédica - RJ: EDUR, 1997. LINDORF, H. Wood and leaf anatomy in Sessea corymbiflora from an ecological perspective. IAWA Journal, v. 18, n. 2, p. 157–168, 1997. PIGLIUCCI, M.; MURREN, C. J.; SCHLICHTING, C. D. Phenotypic plasticity and evolution by genetic assimilation. Journal of Experimental Biology, v. 209, n. 12, p. 2362–2367, 2006. RÔÇAS, G.; BARROS, C. F.; SCARANO, F. R. Leaf anatomy plasticity of Alchornea triplinervia (euphorbiacoae) under distinct light regimes in a Brazilian montane atlantic rain forest. Trees - Structure and Function, v. 11, n. 8, p. 469–473, 1997. VALLADARES, F. et al. Low leaf-level response to light and nutrients in Mediterranean evergreen oaks: A conservative resource-use strategy? New Phytologist, v. 148, n. 1, p. 79–91, 2000. VALLADARES, F. et al. The greater seedling high-light tolerance of Quercus robur over Fagus sylvatica is linked to a greater physiological plasticity. Trees - Structure and Function, v. 16, n. 6, p. 395–403, 2002. VALLADARES, F.; SANCHEZ-GOMEZ, D.; ZAVALA, M. A. Quantitative estimation of phenotypic plasticity: Bridging the gap between the evolutionary concept and its ecological applications. Journal of Ecology, v. 94, n. 6, p. 1103–1116, 2006. WEST-EBERHARD, M. J. Developmental Plasticity and Evolution. [s.l.] Oxford University Press, 2003. Outras Atividades A discente apresentou resumo no congresso de Iniciação Científica da UFLA de 2022.
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