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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM MÁRCIA REGINA MENDES SANTOS ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES – PROJETOS DE LETRAMENTO, AGÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NATAL 2021 MÁRCIA REGINA MENDES SANTOS ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES – PROJETOS DE LETRAMENTO, AGÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Estudos da Linguagem. Área de concentração: Estudos em Linguística Aplicada Orientadora: Profª. Drª. Maria do Socorro Oliveira NATAL 2021 MÁRCIA REGINA MENDES SANTOS ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES – PROJETOS DE LETRAMENTO, AGÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Estudos da Linguagem. Área de concentração: Estudos em Linguística Aplicada BANCA EXAMINADORA Profª Drª Maria do Socorro Oliveira (UFRN) Orientadora Profª Drª Célia Zéri de Oliveira (UFPA) Examinadora externa Prof Dr. Cosme Batista dos Santos (UNEB) Examinador externo Profa Drª Ivoneide Bezerra de Araújo Santos Marques (IFRN/ PPGEL) Examinadora interna Profª Drª Josilete Alves Moreira de Azevedo (UFRN) Examinadora interna Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA Santos, Márcia Regina Mendes. Estágio supervisionado em espaços não escolares: projetos de letramento, agência e transformação social / Márcia Regina Mendes Santos. - 2021. 200 Ff.: il. Tese (doutorado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2021. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Oliveira. 1. Estágio Curricular Supervisionado - Tese. 2. Formação docente - Tese. 3. Projetos de letramento - Tese. 4. Espaços educativos não escolares - Tese. I. Oliveira, Maria do Socorro. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 81'33 Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748 Aos meus professores e aos meus alunos, Que ensinaram-me a lutar pela profissão e pela vida, com ética e esperança. As primeiras palavras serão para AGRADECER... Ingressar no doutorado, em uma Universidade pública como a UFRN, era a realização de um sonho acadêmico. Naquele fim de ano de 2016, não existia desejo maior para mim. Pesquisei todos os programas de Linguística Aplicada das Universidades Federais, principalmente as do Nordeste. O Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem – PPGEL da UFRN me encantou por dois motivos: 1) pela linha de pesquisa em letramento e contemporaneidade; 2) por encontrar o nome da professora Dra. Maria do Socorro Oliveira entre o quadro docente. Entretanto, outro sonho também se iniciava, a prática de uma atividade física: descobri o ciclismo. Faz 4 anos! Inicialmente, com muitas dores em todo o corpo, andava cinco ou dez quilômetros de bicicleta, era uma brincadeira para relaxar da tensão dos estudos. Confesso que várias vezes pensei em desistir... Porém, fiz uma associação com minha vida, lembrei-me de quantas dificuldades encontrei na carreira do magistério, de quantas metas coloquei em minha trajetória acadêmica, de como sonhei com o mestrado, depois o doutorado, e de como muitos, ao iniciarem a busca por sua realização, desistem nos primeiros obstáculos, outros seguem vencendo um a um, e eu queria vencer... O ciclismo, assim como a educação, envolve desafios, superação e afetos, bem como muita perseverança. E para não desistir, refiz estratégias, comprei roupas adequadas, bermudas com forro, camisas com proteção solar e melhorei alguns itens da bicicleta. Consegui fazer 30km e comecei a sentir o prazer da atividade física: o vento no rosto, o gosto da liberdade no esporte, lembranças que me fizeram voltar à infância; todos esses sentimentos se misturavam e oxigenavam minha mente e me preparavam para enfrentar o percurso teórico/metodológico da tese que também iria exigir de mim: coragem, foco, concentração e muita saúde física e mental. Voltava de um “giro” ou “pedal” como se diz no jargão do ciclismo, cansada, exausta, porém cheia de hormônios produzidos ou ativados pela atividade física: a endorfina, para reduzir a ansiedade; a adrenalina para manter-me em alerta; a serotonina, para a produção do ânimo diário que ajudava a produzir a energia para pensar nos rumos da pesquisa. Separar obras e autores e construir a geração dos meus dados. Durante o primeiro ano do doutorado, morando em Natal para cursar os componentes curriculares, assistia as aulas, escrevia os trabalhos avaliativos para o projeto da tese, fazia treinos, giros e passeios com a minha companheira inseparável: a bicicleta. E, como em qualquer desafio, encontrei diversos obstáculos pelo caminho. Juntas: a tese, a bicicleta e eu percorremos retas, enfrentamos subidas e descidas, transpomos cercas, cadenciando, em vários momentos, as minhas convicções e expectativas, sempre com um objetivo em comum: o de alcançar a velocidade média pretendida, seja na tese, seja no esporte. Apoiei-me nas curvas da alegria e da aventura e descobri novos limites. Por vezes, precisei retomar o fôlego, consertar um pneu, mas, como num time, sempre estávamos nos ajudando e aprendemos juntas (a bicicleta, a tese e eu) a superar os obstáculos, pois são eles que nos fazem pessoas melhores. Durante estes quatro anos, muitos objetivos foram traçados e muitas conquistas foram alcançadas! Porém, tudo na vida tem um início e um fim. E chegou o momento de me direcionar para um novo caminho, dando continuidade à nossa cicloviagem... É preciso fechar o ciclo da escrita da tese, experiência que me trouxe muitas alegrias e amizades conquistadas em Natal; bem como angústias, tensões e tristezas com o distanciamento da minha família em Salvador; desespero por não saber que rumo tomar e, finalmente, a coragem para decidir o caminho e concluir esse ciclo. Que as experiências (todas elas) compartilhadas nesse percurso até aqui sejam a alavanca para alcançar o prazer de chegar ao destino projetado. Estou certa de que a minha estrada esteve sempre interligada à de várias pessoas: professores do curso, principalmente os da minha área de concentração. Deixo aqui um agradecimento às professoras Drª Glícia Azevedo Tinoco e a Drª Ana Maria Paz. Um abraço fraterno às colegas, Andrea Costa, Adriana Vieira, Alana Driziê, Alizandra Lopes, Dayveson Noberto, Felipo Bellini, Tereza Leôncio, e Vaneíse Fernandes. Aos funcionários do PPGEL, Elisabete e Gabriel, e a todos os colaboradores da pesquisa, meu muito obrigada pela contribuição que deram ao meu sonho. Aos meus amigos e amigas ciclistas, em nome de Deca, Luciana,Rodrigo, Daniel, Anne e Camila, agradeço pelo incentivo, pela confiança e carinho de sempre. À minha orientadora, professora Drª. Maria do Socorro Oliveira: um ser humano incomum nos dias de hoje, pela simplicidade e humildade diante de tanto saber. Registro aqui o meu agradecimento aos professores da banca: professora Drª. Célia Zeri de Oliveira, pelo carinho e disponibilidade em sair de Belém e vir para Natal compartilhar conosco sua experiência com o componente de estágio, fazer a leitura e trazer seu olhar cuidadoso e profissional para a minha pesquisa, desde a qualificação. À professora Dra. Ivoneide Bezerra, pelo olhar crítico e atento às questões de formação docente humanitária e pelo querer fazer as transformações na educação. Ao prof. Dr. Cosme Batista, aquele que me inspirou a ser docente com o seu jeito afetivo de falar sobre Educação. Dividam comigo os méritos desta pedalada, porque ela também pertence a vocês. O meu agradecimento àquela que, mesmo de fora do meu percurso curricular, sempre esteve presente, apoiando-me em todas as propostas de pedal, treino e passeios: professora Drª. Maria Hozanete Lima, minha amiga e companheira de oxigenação cerebral. Outro agradecimento também à Universidade do Estado da Bahia – UNEB, instituição que faz parte da minha trajetória de vida, desde à época de estudante da graduação em Letras, e que hoje é o meu local de atuação profissional, meu muito obrigada por ter me concedido afastamento para estudar e uma bolsa para custear meus estudos. Pelo papel relevante, agradeço ao Departamento de Ciências Humanas - Campus IV, mais precisamente ao colegiado do curso de Letras, por ter ficado sem a professora de Estágio nesses quatro anos do curso. Um agradecimento especial à minha família: Herval, meu esposo, sempre presente me acompanhando em todos os momentos dessa pesquisa. Aos meus filhos - Victor Hugo e Victória - por respeitarem e apoiarem minhas escolhas e, assim, suportarem com tranquilidade o meu afastamento. Uma breve despedida é necessária, antes de podermos nos encontrar outra vez, nutrimos a esperança de um reencontro aos que, por vários motivos, seguirão outros caminhos Que o nosso novo ciclo seja repleto de reencontros e novos desafios. RESUMO O estágio é um espaço de investigação, reflexão e (re)construção de saberes e identidades. Foi o objeto de estudo desta pesquisa que procurou ressignificar as práticas docentes, a partir da implementação de projetos de letramento, nos espaços educativos não escolares onde acontecem as ações do Estágio Curricular Supervisionado II do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Focalizam-se os projetos de letramento utilizados pelos estagiários na referida disciplina, observando o potencial desses dispositivos na ação didática nas oficinas de letramento por eles desenvolvidas em espaços não formais de ensino, e os processos de transformação revelados nesse trabalho docente. Teoricamente, a pesquisa está apoiada nos estudos do letramento de perspectiva etnográfica (STREET, 1984; BARTON, HAMILTON, 1993, 1998; KLEIMAN, 1995, 2000, 2006), nas reflexões sobre o conceito de projeto de letramento, entendido como um dispositivo didático que pode contribuir para o redimensionamento das práticas didáticas e para o reposicionamento identitário do professor (OLIVEIRA, 2008; OLIVEIRA, TINOCO, SANTOS, 2011; OLIVEIRA, 2016) e nos estudos sobre formação e profissionalização docente (NÓVOA, 1995; TARDIF, 2002). Metodologicamente, assenta-se na abordagem qualitativa e interpretativista de pesquisa (MOITA-LOPES, 2006). O estudo sinaliza que a prática dos projetos de letramento aponta para uma mudança de postura acadêmica do professor de Língua Portuguesa em formação inicial, bem como para possíveis ressignificações no processo de ensino-aprendizagem da língua materna, uma vez que os projetos de letramento estão sistematicamente associados à noção de problema e enfatizam o caráter emancipatório das práticas letradas, além da transformação agentiva dos seus participantes (OLIVEIRA, 2010). Com essa visão, o momento do estágio representou também um período de apropriação e reelaboração de conhecimentos, em que a reflexão sobre a prática constitui um movimento de busca do conhecimento teórico que possibilitou novas escolhas pedagógicas ao futuro professor. Foi um momento que favoreceu a elaboração dos saberes necessários à ação docente, considerando-se que é na relação entre a teoria e a prática que eles são construídos e ou reelaborados. Palavras-chave: Estágio Curricular Supervisionado. Formação docente. Projetos de letramento. Espaços educativos não escolares. ABSTRACT The internship is a space for investigation, reflection and (re)construction of knowledge and identities. It was the object of study of this research that, tried to reframe the teaching practices, from the implementation of literacy projects, in the non-school educational spaces where the actions of stage II of the course of Letters of the University of the State of Bahia (UNEB) take place. It focuses on the literacy projects used by trainees in that discipline, observing the potential of these devices in the didactic action in the literacy workshops they develop in non-formal teaching spaces and the transformation processes revealed in this teaching work. Theoretically, the research is based on literacy studies from an ethnographic perspective (STREET, 1984; BARTON, HAMILTON, 1993, 1998; KLEIMAN, 1995, 2000, 2006), on reflections on the concept of literacy project, understood as a didactic device which can contribute to the resizing of teaching practices and the repositioning of the teacher's identity (OLIVEIRA, 2008; OLIVEIRA, TINOCO, SANTOS, 2011; OLIVEIRA, 2016) and in studies on teacher training and professionalization (NÓVOA, 1995; TARDIF, 2002) . Methodologically, it is based on the qualitative and interpretative approach to research (MOITA-LOPES, 2006). The study indicates that the practice of literacy projects points to a change in the academic posture of the Portuguese language teacher in initial training, as well as possible re-signification in the teaching-learning process of the mother tongue, since the literacy projects are systematically associated with the notion of problem and emphasize the emancipatory character of literate practices, in addition to the agents' transformational transformation (OLIVEIRA, 2010). With this view, the moment of the internship also represented a period of appropriation and re-elaboration of knowledge, in which the reflection on the practice constitutes a movement to search for theoretical knowledge that enabled new pedagogical choices for the future teacher. It was a moment that favored the elaboration of the necessary knowledge for teaching action, considering that it is in the relationship between theory and practice that they are constructed and or reworked. Keywords: Supervised Internship. Teacher training. Literacy projects. Non-school educational spaces. RESUMEN La pasantía es un espacio de investigación, reflexión y (re)construcción de conocimientos e identidades. Fue objeto de estudio de esta investigación que, trató de replantear las prácticas docentes, desde la implementación de proyectos de letramento (KLEIMAN, 2000), en los espacios educativos no escolares donde se desarrollan las acciones de la etapa II del curso de Letras de la Universidad del Estado de Bahía (UNEB). Se centra en los proyectos de letramento utilizados por los becarios en esa disciplina, observando el potencial de estos dispositivos en la acción didáctica en los talleres de alfabetización que desarrollan en los espacios de enseñanza no formal y los procesos de transformaciónque se revelan en esta labor docente. Teóricamente, la investigación se basa en estudios de letramentos desde una perspectiva etnográfica (STREET, 1984; BARTON, HAMILTON, 1993, 1998; KLEIMAN, 1995, 2000, 2006), en reflexiones sobre el concepto de proyecto de letramento, entendido como dispositivo didáctico. que pueden contribuir al redimensionamiento de las prácticas docentes y al reposicionamiento de la identidad del docente (OLIVEIRA, 2008; OLIVEIRA, TINOCO, SANTOS, 2011; OLIVEIRA, 2016) y en estudios sobre formación y profesionalización docente (NÓVOA, 1995; TARDIF, 2002) . Metodológicamente, se basa en el enfoque cualitativo e interpretativo de la investigación (MOITA-LOPES, 2006). El estudio indica que la práctica de proyectos de letramento apunta a un cambio en la postura académica del profesor de lengua portuguesa en la formación inicial, así como a una posible resignificación en el proceso de enseñanza-aprendizaje de la lengua materna, ya que los proyectos de letramento son sistemáticamente asociados a la noción de problema y enfatizan el carácter emancipatorio de las prácticas alfabetizadas, además de la transformación transformacional de los agentes (OLIVEIRA, 2010). Con esta mirada, el momento de la pasantía representó también un período de apropiación y reelaboración de saberes, en el que la reflexión sobre la práctica constituye un movimiento de búsqueda de conocimientos teóricos que posibiliten nuevas opciones pedagógicas para el futuro docente. Fue un momento que favoreció la elaboración de los conocimientos necesarios para la acción docente, considerando que es en la relación entre teoría y práctica donde se construyen y reelaboran. Palabras clave: Pasantía supervisada. Formación de profesores. Proyectos de letramento. Espacios educativos no escolares. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Casa de acolhimento Construindo o amanhã 40 Figura 2 – Batalhão do Exército em Jacobina 41 Figura 3 – Casa Rebeca 42 Figura 4 – Departamento de Ciências Humanas, Campus IV – UNEB 43 Figura 5 – Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) em Jacobina 44 Figura 6 – Estagiários e locais de atuação no Estágio Curricular Supervisionado II, semestre 2018.1 – Campus IV, UNEB 45 Figura 7 – Organograma dos colaboradores da pesquisa 46 Figura 8 – Categorias que emergiram dos Projetos de Letramento 49 Figura 9 – Elaboração de cartazes na casa de acolhimento Construindo o Amanhã 127 Figura 10 – Cartas produzidas visando arrecadar livros para a casa de acolhimento Construindo o Amanhã 128 Figura 11– Bilhete solicitando a doação de livros para a casa de acolhimento Construindo o Amanhã 128 Figura 12 – Estante com as primeiras doações oriundas das ações provocadas pelo Projeto de Letramento 129 Figura 13 – Ações do Projeto 1 desenvolvidas na casa Construindo o Amanhã 130 Figura 14 – Produção textual de um participante do Projeto 2, no Batalhão do Exército 134 Figura 15 – Capa da versão original (em língua inglesa) do filme O menino do vestido cor de rosa, de Anne Fine 141 Figura 16 – Capa do filme Vista a minha pele, de Joel Araújo 141 Figura 17 – Realização do Projeto 4 na Casa Rebeca 143 Figura 18 – Construção de cartazes no Projeto de Letramento 1 143 Figura 19 – Produção textual de um participante do Projeto 4, na Casa Rebeca 147 Figura 20 – Cartazes produzidos no Projeto de Letramento 2 149 Figura 21 – Elementos observados nos Projetos de Letramento desenvolvidos no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018. Figura 22- Cartazes produzidos no projeto 4, intitulado Bonito, é ser diferente Figura 23- Cartazes produzidos no projeto 4 Figura 24- Memoriais de estágio supervisionado II 151 152 155 160 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Contexto de atuação e tipos de atividades desenvolvidas nos estágios curriculares supervisionados do curso de Letras – Campus IV da UNEB. 36 Quadro 2 – Especificação dos dados de pesquisa 47 Quadro 3 – Quadro 3 – Componentes curriculares do Eixo Formação Específica do curso de Letras -Campus IV (UNEB) 80 Quadro 4 – Componentes curriculares do Eixo da Formação Docente do curso de Letras -Campus IV (UNEB) 81 Quadro 5 – Elementos básicos dos eventos e práticas de letramento (OLIVEIRA, 2008) 103 Quadro 6 – Projetos desenvolvidos no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018.1 123 Quadro 7 – Descrição dos Projetos de Letramento desenvolvidos no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018.1 124 Quadro 8 – Descrição do Projeto 1 desenvolvido no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018.1 125 Quadro 9 – Descrição do Projeto 2 desenvolvido no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018.1 131 Quadro 10 – Descrição do Projeto 3 desenvolvido no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018.1 135 Quadro 11 – Descrição do Projeto 4 desenvolvido no Estágio Curricular Supervisionado II, em 2018.1 139 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição de carga horária no Estágio Curricular Supervisionado II 120 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNEB Universidade do Estado da Bahia UFT Universidade Federal do Tocantins UFPB Universidade Federal da Paraíba UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UNICAMP Universidade de Campinas LA Linguística Aplicada PL Projeto de Letramento DCH Departamento de Ciências Humanas PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil CRAS Centro de Referência de Assistência Social SUAS Sistema Único da Assistência Social PAIF Programa de Integralização à Família PNAS Política Nacional de Assistência Social PIBID Programa Institucional de Iniciação à Docência IC Iniciação Científica RP Residência Pedagógica PRP Programa de Residência Pedagógica IES Instituição de Ensino Superior BNCC Base Nacional Comum Curricular PCN Parâmetros Curriculares Nacionais SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: A ITINERÂNCIA DO ESTUDO 18 2 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 28 2.1 PESQUISA EM LINGUÍSTICA APLICADA 28 2.2 PARADIGMA QUALITATIVO E ABORDAGEM ETNOGRÁFICA 30 2.3 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DE PESQUISA 34 2.3.1 Contexto 1: Casa de convivência Construindo o amanhã 39 2.3.2 Contexto 2: O tiro de guerra de Jacobina – BA (TG 006-008) 40 2.3.3 Contexto 3: A Casa Rebeca 41 2.3.4 Contextos 4 e 5: O Campus IV da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, em Jacobina 42 2.3.5 Contexto 6, 7 e 8: O Centro de Referência Social – CRAS 43 2.4 CARACTERIZAÇÃO DOS COLABORADORES DE PESQUISA 45 2.5 O PROCESSO DE GERAÇÃO DE DADOS DA PESQUISA 47 2.5.1 Procedimentos e instrumentos de geração de dados 47 2.5.2 Procedimentos e categorias de análise de dados 48 3 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE PESQUISA 50 3.1 FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: BREVE HISTÓRIA SOBRE A PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE 50 3.2 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO: REFLEXÕES SOBRE O PAPEL QUE OCUPA NOS CURSOS DE LICENCIATURAS 61 3.2.1 A organização curricular do curso de Letras da UNEB 75 3.2.2 Do regimento de estágio da UNEB: mudanças e percursos percorridos 83 3.2.3 Da experiência de iniciação à docência: o PIBID e a Residência Pedagógica 87 3.3 ESTUDOS DOS LETRAMENTOS: UM CAMPO MÚLTIPLO, SITUADO E CRÍTICO 98 3.3.1 Eventos e Práticas de letramento: usos e funcionalidades da leitura e da escrita no entremeio das ações de Estágio Curricular Supervisionado II 100 3.3.2 Projetos de Letramento: novos caminhos para o ensino de linguagem e formação docente 104 3.3.3 Letramento e agência: instrumento de transformação social 111 4. O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO II: projetos de letramento, construção de saberes e escrita acadêmica 115 4.1 UM OLHAR PARAO IMPREVISÍVEL 115 4.2 A TEORIA DO COMPONENTE DE ESTÁGIO: O QUE ANTECEDE A IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJETOS 119 4.3 PROJETOS DE LETRAMENTO: UM DISPOSITIVO PARA A ORGANIZAÇÃO DO ESTÁGIO II 124 4.3.1 Projeto 1 – Construindo o amanhã a partir dos PL 125 4.3.2 Projeto 2 – Produzindo discursos, construindo opiniões 130 4.3.3 Projeto 3 – Letramentos literários 135 4.3.4 Projeto 4 – Bonito, é ser diferente 139 4.4 O ESTÁGIO, OS ESTAGIÁRIOS E OS PL: CONSTRUÇÃO DE SABERES NECESSÁRIOS À DOCÊNCIA 144 4. 4.1. Interatividade 144 4.4.2 Pluralidade cultural 149 4.4.3 Agência e Agentes de letramento 4.5 SINGULARIDADES DESENHADAS NA ESCRITA DOS MEMORIAIS: REFLEXÃO E AUTOREFLEXÃO 153 158 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 164 REFERÊNCIAS 171 APÊNDICES 191 ANEXOS 195 18 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: A ITINERÂNCIA DO ESTUDO A memória é deveras um pandemônio, mas está tudo lá dentro, depois de fuçar um pouco o dono é capaz de encontrar todas as coisas. (BUARQUE, 2009, p. 41). É muito bom poder iniciar esta tese afirmando que exporei aqui as minhas memórias mais otimistas. Como diz Buarque (2009), o querer lembrar nem sempre vem acompanhado da lembrança. Mas essa constatação certamente não vem acompanhada de pessimismo. Lembrar e esquecer fazem parte desse movimento quando ousamos navegar pelo mar da trajetória das nossas recordações. E lá vamos nós... “Lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho.” (BOSI, 1994, p. 55). A primeira lembrança que exporei aqui é que a docência não era a minha escolha inicial, mas se tornou a grande paixão da minha vida e até então faz parte da minha trajetória profissional. Várias vezes o pensamento de desistir da docência esteve muito próximo de mim. Rondou minha mente, porém, outros acontecimentos foram mais fortes e firmaram meu desejo de estar nesta área, de insistir, de ambicionar por uma transformação na educação, e por me fazer acreditar que o caminho da educação privilegia quem o assume, meu coração continuou batendo forte por percorrer este caminho. Resolvi trazer as minhas narrativas de vida para a introdução deste trabalho a partir das orientações teórico-metodológicas de Josso (2004; 2010) quando ela argumenta que o pesquisador deve disponibilizar-se ao exercício da escrita de si como tarefa preliminar para entender as narrativas dos agentes da sua pesquisa. A autora nos diz: “[...] o trabalho biográfico faz parte do processo de formação; ele dá sentido, ajuda-nos a descobrir a origem daquilo que somos hoje. É uma experiência formadora que tem lugar na continuidade do questionamento sobre nós mesmos e de nossas relações com o meio.” (JOSSO, 2004, p. 130). Ao passar por esse processo de rememoração e reflexão, durante os quatro anos da pesquisa, compreendi em Josso (2004) que as recordações e reflexões acessaram em mim algumas descobertas e interrelações entre minha história de vida e o objeto da minha pesquisa. Refleti que ambos se constituíram como dispositivos formativo e autoformativo. Hoje tenho a certeza e afirmo que a escolha do meu objeto de estudo está intimamente relacionada com minha formação, com as minhas histórias de vida pessoal/familiar. É uma história com muitas histórias de letramentos, de subjetividades e de construção de identidades. “É um histórico 19 somado a outras histórias. Pois somos aquilo que lembramos e que esquecemos.” (BRANDÃO, 2008, p. 12). Portanto, lá vamos nós para as memórias de um tempo muito importante da minha vida. Era o ano de 1994, tornei-me mãe em janeiro, aos vinte e dois anos e iniciei minha carreira docente em março desse mesmo ano. Entrei em sala de aula, mesmo antes de terminar a graduação em Letras Vernáculas, muito jovem e cheia de planos, acreditando que ia transformar o mundo. Era uma turma de 5ª série (hoje 6º ano), nos primeiros contatos com os alunos fui encontrando adversidades que garantiram um estado de alerta para repensar a prática continuamente. Essas mesmas adversidades também foram essenciais para enriquecer as minhas leituras sobre o ato em si de ensinar e aprender e o que é de fato estar no “chão da sala de aula”1. O interesse pelo tema formação de professores vem sendo construído desde a época da minha graduação em Letras. Foi no componente de Estágio Curricular Supervisionado2 que me familiarizei com as leituras de Paulo Freire (1996), observando que, se a educação não servir para libertar, seremos apenas meros reprodutores de um sistema fadado a não permitir a leitura de mundo aos estudantes. Fiz meu estágio no Colégio Estadual Deocleciano Barbosa de Castro, numa turma de 2º ano do Ensino Médio, lecionando o componente Língua e Literatura Portuguesa. Meu supervisor de Estágio era o professor Cosme Batista, recém-chegado na Universidade do Estado da Bahia e sempre pautado na crença de que educação se faz com afetividade. E, assim como Freire, repetia que “ensinar exige bem querer”. Percebi com ele, então, que uma educação pautada no diálogo não pode desconsiderar sua dimensão afetiva, ao contrário, deve valorizar os traços de afetividade manifestados no contexto da sala de aula, integrando-os ao processo formativo de alunos e docentes. Foi exatamente nesse momento que ‘me enxerguei docente’. As experiências que vivenciei como aluna no período de estágio no curso de licenciatura em Letras, no Campus IV da Universidade do Estado da Bahia (doravante UNEB), foram de suma importância para a definição do meu “fazer pedagógico”. Ainda que, naquela época a observação nas escolas fosse a atividade mais desenvolvida e a docência, mesmo que compartilhada, somente era realizada ao final do curso e com a intenção de constatação das aprendizagens teóricas desenvolvidas durante os três anos e meio do curso. 1 Expressão utilizada para designar a prática educativa em seu contexto na sala de aula. 2 Estudei em um formato de curso chamado de 3+1. Os três primeiros anos de formação teórica e o último ano de formação didática com somente um estágio supervisionado, oferecido no último semestre do curso. Discorro sobre esse modelo na Seção 3.2, que trata sobre o Estágio Curricular Supervisionado. 20 Narrando aqui as minhas andanças e escolhas profissionais, abro um parêntese para contar que o curso de Letras Vernáculas não era a minha primeira opção, porém, assim como muitas “meninas do interior”, fui direcionada por minha mãe a fazer o curso técnico em magistério e continuar com o curso superior na área de formação docente a fim de seguir com uma carreira profissional. Tudo isso só foi possível por conta da Universidade do Estado da Bahia que tem como política estar nas cidades do interior do Estado e garantir cursos de qualidade para quem, assim como eu, não podia deslocar-se e estudar na capital. Confesso que na metade do curso de Letras já estava apaixonada pelas aulas de literatura, bem como muito impressionada com os estudos linguísticos, com o pensar na língua viva e nas interações que nos permite fazer, e, como disse a professora Drª. Maria do Socorro Oliveira, enquanto aluna eu queria me transformar numa “pesquisadora de linguagem3”. Perto de finalizar o curso de Letras, o estágio representou para mim uma etapa desafiadora. Foi o meu primeiro contato com a escola e, durante essa etapa revelaram-se minhas incertezas, angústias e o desejo de fazer a diferença com o intuito de contribuir positivamente com a realidade educacional em que estava inserida: um colégio estadual no interior da Bahia. Hoje, penso que foi o que me fez voltar como professora de estágio da mesma Universidade em que estudei e atuar, há vinte anos, nos cursos de formação de professores. Os desafios advindos desse lugar de orientadorado componente curricular de estágio supervisionado acompanham-me desde 2001, quando entrei por meio de concurso público para ministrar os componentes curriculares de Estágio e Prática Pedagógica. Nesse momento, eu era uma inexperiente professora, principalmente com o ensino superior, e estava amedrontada com o desafio de assumir a orientação do componente de estágio, área que considero de muita importância em um curso de formação docente em nível de licenciatura. Acredito que, assim como eu, muitos professores em início de carreira sentem-se assim: amedrontados e inseguros. Porém, convicta de que, por um lado, se minha atuação como professora formadora e orientadora de estágios levava-me a ter muitas inquietações, emanadas do cumprimento de normas legislativas e regras burocráticas, questionamentos dos alunos, dificuldade em conciliar interesses da instituição com a disponibilidade das escolas de educação básica e dos 3 Fala da professora Socorro Oliveira para seus alunos graduandos em Letras, mencionada durante a defesa de tese de Alana Driziê Gonzati, em 2021. 21 licenciandos, por outro lado, estava eufórica a participar da comissão de reformulação curricular da UNEB. Era o ano de 2005, eu iria compor a comissão e ajudaria a pensar nas mudanças e reformulações para os estágios curriculares supervisionados dos cursos de Licenciatura, no meu caso, o curso de Letras Vernáculas. O embrião dessa tese começa a desabrochar4 então, a partir do semestre I de 2007, quando se concretiza o redimensionamento curricular dos cursos de Licenciatura da UNEB e acontecem as primeiras mudanças na resolução do estágio curricular supervisionado, a fim de obedecer a resolução CNE/CP 02/2002, que instituía a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena de formação de professores da Educação Básica, incluindo no item II, Artº 1º - 400 (quatrocentas) horas mínimas de estágio curricular supervisionado, que começaria a partir do início da segunda metade do curso. O estágio curricular supervisionado na UNEB passou a ter uma carga horária bem maior: quatrocentas e vinte horas divididas em quatro modalidades de cento e cinco horas5 cada uma. Foi o nascimento de outros dilemas e preocupações: agora com os locais de atuação de estágios, incluindo nesse novo formato os espaços não formais de ensino, a preocupação com o formato do estágio e com a verdadeira parcela de contribuição para o curso de formação docente, uma vez que pensar a sala de aula, hoje, é, também, pensar na ressignificação do conceito espacial e apontar o lugar de outros espaços para o processo de ensino-aprendizagem. O objetivo de todas essas mudanças seria o de oportunizar ao aluno não só a experiência com a docência, como previsto anteriormente, mas também: 1. a observação (o olhar) para/os espaços escolares, oficiais e não oficiais; 2. a pesquisa nos diversos espaços educacionais; 3.o planejamento das ações pedagógicas; 4. a execução e a avaliação de diferentes atividades pedagógicas, em um movimento de aproximação da teoria acadêmica com uma prática que não deve ser somente na agência Escola, uma vez que outras agências de ensino e aprendizado precisam ser reconhecidas. Este é o diferencial da proposta do componente Estágio Curricular Supervisionado da UNEB, reformulada desde 2007: reconhecer outros espaços de educação. 4 Eu sempre quis fazer mestrado e doutorado na área de Linguística Aplicada, porém, na Bahia, não há essa área de concentração. O que explica esse hiato encontrado entre o término do mestrado em 2009 na Universidade de Lisboa e o início do doutorado em 2017 na UFRN. 5 Explicarei melhor na seção sobre o estágio essa carga horária, exemplificando com detalhes as quatro modalidades de estágio no curso de licenciatura em Letras da UNEB. 22 Concretizada a reformulação, o estágio nos cursos de licenciatura da UNEB passa a ter a condição epistêmica de pensar a formação e a iniciação docente, a partir das demandas sociais e através de práxis pedagógica para transformação e consolidação da qualidade social da educação. Essas duas questões são importantíssimas, uma vez que pensar a iniciação docente é incluir, desde muito cedo, o discente de um curso de licenciatura nas atividades da docência. Não nos referimos a encaminhá-lo para a sala de aula sem a devida preparação, mas à necessidade de se ter um curso que articula as questões pedagógicas com as teóricas desde o primeiro semestre, uma vez que, como afirma Fávero (1992, p. 65), não é apenas frequentando um curso de graduação que uma pessoa se torna profissional da educação, é “[...] envolvendo-se intensamente como construtor de uma práxis que o profissional se forma”. Nesse sentido, o estágio curricular supervisionado constitui uma das etapas mais importantes na vida acadêmica dos alunos de licenciatura. Muitas são as pesquisas realizadas na área de estágio, principalmente levando-se em consideração a perspectiva formativa desse componente curricular dos cursos de formação de professores. Inicio citando a pesquisa de Melo (2011), da Universidade Federal do Tocantins, que pontua, a partir de uma postura avaliativa, a análise dos enunciados produzidos pelos estagiários nos relatórios de estágio do curso de Inglês. Alves (2014) analisa, em sua dissertação, a relação das experiências formativas na interface do Estágio Curricular Supervisionado e do Pibid, no âmbito das licenciaturas da UNEB. Pereira (2014) apresenta, em sua tese defendida na UNEB, a narrativa autobiográfica de cinco mulheres idosas, suas experiências educacionais na comunidade e as práticas culturais vinculadas aos letramentos construídos nas esferas públicas e privadas. Reichmann (2015), na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), descreve os componentes curriculares do curso de Letras e a sua relação com as atividades de estágio, designando o entrelugar dessa experiência profissional que é o estágio curricular supervisionado. Porém, poucas foram as pesquisas que conseguiram juntar o estágio com o embasamento teórico metodológico dos novos estudos de letramento, ou do letramento acadêmico e projetos de letramento. Destacarei, então, três pesquisas que considerei próximas ao meu objeto de estudo. Juchum (2016), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), procura compreender, em sua tese, como uma prática pedagógica que tome os projetos de trabalho como fio condutor do planejamento para o ensino e aprendizagem de leitura e escrita na universidade atende aos princípios do modelo dos letramentos acadêmicos; Valsechi (2016), em sua tese na Universidade de Campinas (UNICAMP), refletiu, o modo de inserção dos 23 estagiários e de profissionais do estágio de Letras nas práticas de letramento acadêmico. Analisou também os documentos da Universidade relacionados ao estágio e à prática pedagógica a fim de visualizar a construção da trajetória dos eventos de letramento, potencializando a necessidade de uma nova configuração para esses componentes. Souza (2018), na UFRN, foi em busca de alternativas que redimensionem o ensino de língua portuguesa no Ensino Médio e, em sua tese, explorou a ideia dos projetos de letramento (KLEIMAN, 2000) usados como dispositivo didático a fim de repensar, reelaborar e ressignificar a prática docente. Ao fazer o estado da arte, observamos a diferença de posicionamentos entre as pesquisas, com seus temas, objetivos e recorte teórico-metodológicos diferentes, porém todas suscitando muitas reflexões em torno do tema de ensino e sua relação com os novos estudos de Letramento a partir de práticas pedagógicas. Concluímos que a relevância social da nossa pesquisa em Linguística Aplicada (LA) assenta-se no objetivo geral do grupo de pesquisa Letramento e Contemporaneidade,no qual está inserida, de colaborar para uma formação que legitime o professor para agir no seu contexto de ação, uma vez que não é tarefa fácil desenvolver um trabalho envolvendo questões de ensino com pesquisa na área da formação, com o objetivo de promover melhorias para a prática docente, em cenário de extrema desvalorização desse profissional. Esta pesquisa, certamente, apresenta uma agenda política a cumprir, pois deseja contribuir com reflexões críticas oriundas de uma pesquisa aplicada e fornecer subsídios para os componentes curriculares de estágio nas Universidades, principalmente na UNEB, em perspectiva mais colaborativa e legitimadora do trabalho do professor, frequentemente subalternizado nos discursos proferidos pela mídia, pelo governo, pelo senso comum e, muitas vezes, até pela própria academia. Mais desafiador ainda se torna este trabalho quando se constata uma diminuição significativa da procura pelo curso de licenciatura, mais particularmente o curso de Letras, foco deste trabalho. Segundo dados retirados do manual do candidato do vestibular da UNEB (UNEB, 2019), no curso de Licenciatura em Letras dessa instituição de ensino superior, em cinco anos, a relação candidato/vaga caiu em média 52%. De uma proporção de 4,2 candidatos por vaga, em 2014, para as turmas do noturno e 6,2 para as turmas do diurno, passou-se para 2,2 e 3,4 em 2019, o que representa uma queda alta para cada período. Comparei essa queda com relação ao curso de Educação Física que, mesmo sendo licenciatura, ainda conta com dez e nove candidatos/vaga. Essa disparidade só aumenta se a comparação for com os bacharelados: no curso de Direito, por exemplo, conforme o mesmo 24 manual, a relação é de uma média entre 36 e 28 alunos/vagas entre os turnos diurno e noturno. Esse comparativo serve para constatar que a queda na procura pelos cursos de licenciatura, excepcionalmente o de Letras, pode ser um indicativo do baixo interesse pela docência. Diante desse cenário estatístico em relação à procura pela docência, torna-se ainda mais desafiador lidar com esse componente curricular tão importante que é o estágio curricular supervisionado. Exigido pela legislação educacional no currículo dos cursos de licenciatura, o estágio, agora com uma elevada carga horária, sustenta-se no argumento de sua imprescindibilidade para a formação do professor. Mas será que o estágio nas instituições de ensino superior é, de fato, significativo na formação desse profissional do ensino? Ele consegue ser eficaz na construção da identidade profissional docente? Nessas primeiras palavras apresento algumas interrogações que me fizeram refletir sobre o aparente paradoxo entre a importância do estágio curricular supervisionado na formação do professor e a visão de medo e temor que os próprios estagiários constroem sobre esse componente curricular. Defendo a relevância desse componente curricular na formação docente por entender que se tem potencial para concretizar uma aproximação entre a universidade, a escola de educação básica e os espaços não formais de ensino, favorecendo um conhecimento da prática in loco. Uma vez que, ao mesmo tempo em que se dispõe do espaço acadêmico para a reflexão sobre as experiências vivenciadas na escola ou fora dela, o estágio também colabora para a constituição da identidade profissional docente (OLIVEIRA, 2010a). Para um professor de língua portuguesa, estar sempre em busca de novos caminhos é estar numa incessante procura por mecanismos didáticos que redimensionem o ensino e estimulem a criticidade. Foi assim que, em fins de 2011, mediante a leitura do texto Gêneros Textuais e Letramento, publicado nos anais do SIGET(2009) de autoria da professora Drª Maria do Socorro Oliveira, conheci o conceito de Projeto de Letramento (KLEIMAN, 2000), doravante (PL), e, a partir de então, comecei a pesquisar sobre o assunto até que cheguei na leitura da obra Projetos de Letramento e Formação de Professores de Língua Materna (OLIVEIRA, TINOCO; SANTOS, 2014). Assim, descobri a existência de um dispositivo didático como alternativa ao trabalho com leitura e escrita que é o Projeto de Letramento. O propósito dessa obra, escrita por três professoras atreladas à linha de pesquisa Letramento e Contemporaneidade do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da UFRN, foi refletir sobre os PL como uma antiga prática recontextualizada pelas atuais demandas sociais, ou seja, uma alternativa que promete priorizar “[...] a inclusão, a 25 participação social e o reposicionamento identitário do professor e do aluno.” (OLIVEIRA, 2008, p. 96), e destacar a importância dessa prática na formação docente e na ressignificação das práticas de leitura e escrita no contexto educacional (OLIVEIRA, TINOCO; SANTOS, 2014, p. 7). No livro, deparei-me com alguns dos princípios e aspectos que caracterizam os PL como dispositivo didático (OLIVEIRA, 2016) que procura respeitar a natureza social dos gêneros e a aprendizagem contextualizada; constam também casos práticos de experiência docente de diferentes professoras que desenvolveram PL com vistas à ressignificação do ensino. Portanto, levando em consideração as recomendações dos documentos oficiais – PCN (1997), PCNEM (2000a) e PCN+ (2006) –, que propõem o trabalho com os gêneros textuais como objeto de ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa, torna-se essencial, para mim, trabalhar com essa perspectiva teórico-metodológica dos PL no estágio curricular supervisionado de Letras, principalmente sabendo que estes encontram amparo legal frente às orientações oficiais de ensino. Foi desta forma que, em 2016, saí da Bahia para ir ao Rio Grande do Norte fazer a seleção do curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem da UFRN, e, como aluna regular, atrelada à linha de pesquisa Letramento e Contemporaneidade, desenvolver esta pesquisa. Essa motivação impulsionou-me a conhecer mais de perto os princípios teórico- metodológicos dos PL e, a partir de então, a repensar, reelaborar e ressignificar a prática docente do estágio curricular supervisionado, principalmente de um dos estágios que mais me atrai que é o estágio em espaços não formais de ensino do curso de Letras. Assim, a fim de refletir sobre o potencial agentivo dos projetos de letramento e perceber o quanto essa experiência poderá ajudar a provocar um processo de transformação na formação inicial de futuros professores de Língua Portuguesa, formulei as seguintes questões de pesquisa: 1. Como está estruturado o Estágio Curricular Supervisionado no curso de Letras da UNEB? 2. Será possível implementar Projetos de Letramento que levem em consideração as práticas de leitura, escrita e oralidade desenvolvidas nas ações docentes dos estagiários e auxilie na ressignificação do ensino aprendizagem nesse contexto de estágio? 3. Quais categorias podemos destacar a partir da implementação dos PL nos espaços educativos não escolares onde acontecem as ações do Estágio Curricular Supervisionado II? 26 4. Que eventos de letramento acadêmico-profissionais são vivenciados pelos estagiários durante a realização da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado investigado? Postas essas questões, tenho como objetivo geral ressignificar as práticas docentes, a partir da implementação de projetos de letramento, nos espaços educativos não escolares onde acontecem as ações do Estágio Curricular Supervisionado II do curso de letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Em face desse contexto, uma vez que minha primeira demanda foi curricular, temos como objetivos específicos: 1. Analisar como a UNEB concebe e planeja o estágio curricular supervisionado na formação acadêmica e profissional do professor de língua portuguesa; 2. Descrever e analisar uma experiência com os projetos de letramento implementados na disciplina de EstágioCurricular Supervisionado II do curso de Letras da UNEB, tendo em vista sua contribuição para a construção identitária profissional docente; 3. Refletir sobre o potencial dos Projetos de Letramento, utilizados como uma prática de letramento do professor ou como um dispositivo didático a ser utilizado para a ressignificação das práticas de leitura e escrita em contextos escolares ou não. 4. Identificar as práticas e os eventos de letramento de que o estagiário participa durante a realização da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado II sob investigação. Para melhor organizar este trabalho acadêmico, ele foi dividido em cinco seções: a primeira com as considerações iniciais, que objetivou trazer para o leitor um pouco da minha trajetória enquanto pesquisadora e docente em um curso de formação de professor, para tanto, dediquei-me a explanar sobre o tema, o objeto e a relevância desta pesquisa, bem como seus objetivos e as questões de pesquisa. A Seção 2, Os caminhos metodológicos da pesquisa, assim como o nome propõe, tece os fios para escolha de um caminho metodológico. Desse modo, oferecemos ao leitor a descrição dos procedimentos metodológicos que orientaram o decorrer desta pesquisa. As contribuições inscrevem-se no campo da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 2006) e acompanham o paradigma qualitativo de pesquisa (ERICKSON, 1990; BORTONI- RICARDO, 2008), que orientou a investigação. Dentro desse modo de fazer pesquisa, 27 mostrarei a opção por determinados instrumentos, que também serão caracterizados nessa etapa. Na sequência, apresentarei: 1) os espaços educativos não escolares, considerados como agência de letramento, onde aconteceu a geração de dados, 2) os agentes que colaboraram com a pesquisa. A terceira seção, Pressupostos teóricos de pesquisa, destina-se à discussão dos pressupostos teóricos. Iniciei com um passeio pela história dos estágios curriculares supervisionados e o papel que ocupam nos cursos de Licenciatura, no Brasil, até chegar ao meu contexto de ação: o Estágio Curricular Supervisionado II do curso de Letras, vinculado ao Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Nele, enfatizo a organização do curso, a fim de discutir o lugar e a importância do processo de iniciação à docência, e apresento o regimento e o regulamento do componente de estágio da UNEB, Campus IV. Ainda na terceira seção, traçarei a discussão dos conceitos teóricos basilares para esta investigação, no âmbito dos estudos de letramento (STREET, 1984, 2011, 2014; BARTON; HAMILTON; IVANIC, 1993; HAMILTON, 2000; KLEIMAN, 1995, 2000, 2005, 2006, 2016; ROJO, 2012; OLIVEIRA, 2010a, 2010b; OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2014), especialmente das implicações da teoria dos novos Estudos de Letramento para o ensino em ambientes acadêmicos. Iniciaremos apresentando as abordagens relativas à teoria sociocultural do letramento, a qual encontra apoio nos Novos Estudos do Letramento e o percurso teórico metodológico dos Projetos de Letramento (KLEIMAN, 2000). Autores como Street (2003; 2010) Gee (1996; 2001; 2004), Lillis (2001; 2003), Lea (2004) e Lea e Street (1998) são citados para as argumentações construídas. A Seção 4, Os projetos de letramento nas Oficinas de Estágio Curricular Supervisionado II, configura-se como a parte destinada à descrição e análise das ressignificações indiciadas no tocante à formação profissional e ao ensino de língua escrita na implementação e desenvolvimento dos Projetos de Letramento realizados em espaços educativos não escolares, considerados como agências de letramento por mim. Na sequência, analiso algumas ações, atividades e eventos importantes para a constituição de um quadro- síntese das principais categorias que emergiram da geração de dados, tendo por princípio basilar a prática social. Na quinta seção serão tecidas algumas Considerações finais, chegando, então, ao momento que sabemos que é (in)conclusivo, pois se fecha um ciclo de pesquisa para (re)abrir-se outro, retomando alguns pontos sinalizadores dos desafios superados e ainda a superar nessa grande viagem que é a educação. 28 2 OS CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA As discussões sobre como se ensina e se aprende, ou como se deve ensinar e aprender uma língua têm sido centrais para pesquisadores e professores da área de estudos da linguagem, uma vez que refletem, através das ações empreendidas em sala de aula e fora dela, as marcas da abordagem que orienta a prática pedagógica. Mendes (2008) Esta seção tem como objetivo apresentar o caminho metodológico tecido e trilhado nesta pesquisa. Nele, focalizamos o paradigma e a abordagem, apresentamos o delineamento por meio do objeto de estudo. A seguir, contextualizamos a pesquisa, a qual está inserida na área da Linguística Aplicada (LA) com enfoque metodológico de um paradigma qualitativo. Além disso, apresentamos a caracterização do ambiente, bem como os procedimentos de geração de dados e os agentes de letramento participantes da pesquisa. 2.1 PESQUISA EM LINGUÍSTICA APLICADA A LA é uma área de pesquisa inserida no campo das ciências sociais e humanas, e os seus estudos, de natureza interdisciplinar, voltam-se para a investigação dos usos situados da linguagem nos mais diversos contextos. A LA investiga, entre outras questões, a formação de professores e as práticas escolares, incluindo em seu escopo as práticas dos professores, sua relação com os alunos e a interação entre Escola Básica e Universidade. Em função dessas pesquisas, discute-se a formação continuada e o letramento dos professores. De acordo com Kleiman (2002b, p. 100): O enfoque transdisciplinar da Linguística Aplicada redimensiona e reelabora os referenciais teóricos ou metodológicos dos vários campos de estudo que buscam interpretar o mundo social apoiando-se em metodologias que levam em conta o contexto em que os dados são gerados e que procuram compreender esses dados e seus contextos em toda sua riqueza, complexidade e profundidade. A Linguística Aplicada apresenta-se, portanto, como um espaço privilegiado para o desenvolvimento desta pesquisa, porque possibilita discutir a formação de professores, especialmente o professor de Língua Portuguesa, com um referencial teórico e metodológico que permite compreender melhor o processo vivenciado no estágio curricular supervisionado. Conforme defendido por Silva (2010), os estágios demandam um enfoque investigativo interdisciplinar, haja vista a complexidade das interações instauradas no encontro das instituições envolvidas. Há, nas licenciaturas, uma tendência de desvalorização 29 dessas disciplinas, pois são concebidas como o momento da prática na formação inicial do professor, desprovidas do valor simbólico impregnado nas demais disciplinas, identificadas como teóricas. A LA carrega também um pouco desse preconceito, o que é uma herança da mentalidade acadêmica positivista. Em meio aos conflitos ainda existentes a respeito da identidade da LA, especialmente no cenário brasileiro, é inegável as contribuições sociais originárias das pesquisas nesse âmbito para a formação de professores. De acordo com Miller (2013), as investigações científicas na área de formação docente, seja inicial ou em serviço, desenvolvidas pelos linguistas aplicados justificam-se por quatro razões, que elencamos abaixo: 1) Como área de investigação, permite-se que haja um fortalecimento acadêmico para as práticas de formação de professores, já que ajuda a aprofundar o entendimento dos processos de formação, tanto inicial quanto continuada. 2) A segunda contribuição se manifesta no campo metodológico, a partir do momento em que as investigações na área têm desenvolvido inovações alinhadas com a pesquisa qualitativa e interpretativista nas ciências sociais. 3) A terceira contribuição da pesquisa é de ordem política dentroda academia, já que se tem alavancado o status institucional dos formadores de professores, tanto no Brasil quanto no exterior. 4) A quarta contribuição da área, e talvez a mais significativa dentro da LA contemporânea, é a que se relaciona a questões de transformação social, de ética e de identidade dos diversos agentes envolvidos em processos de formação de professores (MILLER, 2013, p. 100). Nesta pesquisa, assumimos uma abordagem de LA indisciplinar, configurada num campo dinâmico de investigação, informado por teorias originárias de diferentes áreas do conhecimento, as quais são mobilizadas de acordo com a complexidade visualizada no objeto de investigação. De acordo com a teoria da complexidade (MORIN, 2008), originalmente qualquer objeto de pesquisa a ser construído possui uma natureza complexa, constitui-se por uma rede dinâmica de agentes em constante interação, porém, o enfoque lançado pelo pesquisador reconfigura o objeto. A complexidade desse objeto está condicionada a diversas perspectivas passíveis de realização conforme o referencial teórico mobilizado. Com isso, queremos dizer que o nosso estudo insere-se no âmbito da LA, posto que tomamos como objeto de 30 investigação o estágio em espaços educativos não escolares e os projetos de letramento implementados pelos estagiários, futuros docentes, com vistas a refletir sobre o potencial desses dispositivos nas ações didáticas e sobre os processos de transformação revelados no trabalho docente. Ao optarmos por esse enquadramento teórico-metodológico, consideramos que ele nos permite examinar a base ideológica do conhecimento que produzimos. Dessa forma, vinculamo-nos à LA, a qual propõe que se reveja a relação entre teoria e prática, levando em conta as vozes dos que vivem as práticas sociais que queremos investigar (MOITA-LOPES, 2006). 2.2 PARADIGMA QUALITATIVO E ABORDAGEM ETNOGRÁFICA A metodologia desta pesquisa situa-se no paradigma qualitativo de pesquisa, o que implica que o pesquisador acredite no mundo social como constituído pelos vários significados que construímos sobre ele, seja através da linguagem nas relações e interações ou no acesso aos fatos do mundo social através da interpretação desses vários significados que os constituem (MOITA LOPES, 1994, p. 331). Nesse paradigma, com subsídios em Erickson (1990), Bortoni-Ricardo (2008) e Lakatos e Marconi (2010), considera-se a pesquisa como a única maneira de entender os significados construídos sobre/no contexto social pelos participantes de uma situação, na qual a presença do pesquisador está incluída. Os desafios da metodologia qualitativa, segundo Mason (1998), está em se preocupar como o mundo social é interpretado e experienciado, entendido e produzido, baseando-se em métodos de geração de dados6 de forma flexível e sensível ao contexto social em que se foi gerado. Segundo a autora, esse processo de geração de dados exige do pesquisador capacidade de pensar e agir estrategicamente, ao combinar preocupações intelectuais, filosóficas, técnicas, práticas e éticas para estar consciente das decisões tomadas e de suas consequências. A abordagem etnográfica orienta esta investigação, uma vez que, a partir dela, podemos criar condições para investigar nossas próprias práticas. Acreditamos que a etnografia desempenha um papel ativo no equacionamento dos problemas encontrados em 6 O termo “gerar” dados vem da perspectiva da pesquisa qualitativa. Nesta, acredita-se que pesquisar é uma atividade subjetiva “[...] já que é entendida como um modo particular de organizar a experiência humana por meio do discurso, sendo, portanto, uma construção social.” (MOITA LOPES, 1994, p. 333). Assim, os dados não são retirados prontos, não são algo dado e objetivo, uma vez que essa abordagem pressupõe uma atividade do movimento de geração e interpretação por parte do pesquisador. 31 cada um dos espaços não escolares, bem como no acompanhamento e na avaliação das ações pedagógicas desencadeadas em função desses problemas. A importância da etnografia neste contexto constitui-se na possibilidade e agência dos colaboradores do PL, envolve investigação, reflexão criteriosa, participação de todos os envolvidos, ramificações éticas e desejo de uma mudança real, em nosso caso, a fim de provocar processos de transformação nas ações didáticas do Estágio Supervisionado II. A partir dos estudos etnográficos, esta pesquisa também resulta de uma “ participação na vida social da comunidade investigada” (DURANTI, 1997, p.85). Como muitas investigações de abordagem transdisciplinar da LA, assumida neste trabalho, como explicado na introdução, essa pesquisa se apropria do referencial teórico-metodológico da Etnografia, “área disciplinar de direito próprio” (KLEIMAN, 2002, p.188), e o reelabora, configurando-a como um traço metodológico. Considero que essa tese se define como uma pesquisa qualitativo-interpretativista de cunho etnográfico, caracterizado pela valorização da perspectiva dos agentes, bem como pelo acompanhamento processual, propiciado pela imersão no campo, e por uma geração de diferentes fontes de dados. A dinâmica da pesquisa etnográfica foi importante para alcançar os nossos propósitos, pois essa metodologia representa um tipo de pesquisa social, concebida e realizada em estreita associação com ações ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. Nesse sentido, para aprimorarmos a ação docente, precisamos, enquanto academia, contribuir com o professor-participante no sentido de, após de descoberto o problema, situá-lo em um contexto teórico mais amplo “e assim possibilitar a ampliação da consciência dos envolvidos, com vistas a planejar as formas de transformação das ações dos sujeitos e das práticas institucionais” (PIMENTA, 2005, p. 523), por meio de uma pesquisa na qual pesquisadora e participantes atuam em conjunto no sentido de contribuir com a melhoria da prática educativa. Portanto, é conveniente e justo que: [...] esses sujeitos participem das observações do pesquisador, interfiram em suas conclusões, apropriem-se de seu olhar, partilhando e contribuindo com a qualidade do conhecimento produzido nesse processo, constituindo-se também eles como pesquisadores e autores das mudanças necessárias nas escolas. (PIMENTA, 2005, p. 529). Além de colaborativa, esta pesquisa ainda pode ser considerada crítica, pois, nos termos de Kincheloe (1997, p. 179), “[...] a pesquisa crítica não pretende apenas compreender 32 ou descrever o mundo da prática, mas transformá-lo; [...] é sempre concebida em relação à prática – ela existe para melhorar a prática”. Nesse sentido, é importante observar que a construção do nosso objeto de pesquisa se dá a partir da Linguística Aplicada (LA). A justificativa para a utilização deste campo investigativo como base teórica deve-se ao seu caráter híbrido/mestiço, o que a coloca no campo da indisciplina (MOITA LOPES, 2006). Esse fato a torna condizente à vida social. Nas palavras de Moita Lopes (2006, p. 85), “[...] a pesquisa é um modo de construir a vida social ao tentar entendê-la”. Dessa forma, para que o ensino que almejamos seja responsivo à vida social, é necessário que compreendamos a LA não como disciplina, mas como uma área localizada na INdisciplina (MOITA LOPES 2006). O caráter indisciplinar da LA está presente em nossos estudos no sentido de que esta pesquisa percorre diferentes áreas do conhecimento, pois focaliza a linguagem de forma contextualizada. Essa característica da LA corresponde ao que almejamos, pois a visão de um ensino fragmentado, engavetado, não nos interessa. Moita Lopes (2006, p. 98) afirma que “[...] os limites da LA estão sealargando, assim como os limites das humanidades e das ciências sociais em geral”. Essa afirmação reitera o caráter fluido das fronteiras entre as disciplinas e empodera, cada vez mais, o conceito de desterritorialização do conhecimento. Nas ciências sociais, a pesquisa qualitativa está associada a disciplinas que têm uma tradição interpretativista, tais como a Fenomenologia, a Etnometodologia, o Interacionismo Simbólico, a Antropologia, a Geografia Humana e a Educação (MASON, 1998, p. 3). Essas disciplinas estão preocupadas, por um lado, em compreender a realidade social, levando em conta os agentes sociais (suas crenças, seus valores) e, por outro, em interpretar essa realidade e os múltiplos significados que dela provêm. Esse paradigma de pesquisa apresenta certas dificuldades e desafios que não encontramos no paradigma de pesquisa positivista. Esta, ao acreditar na possibilidade de ver o mundo social independentemente do ser humano e os fatos desse mundo como passíveis de generalizações e padronizações, pode analisar os dados prontos, acabados e fora de seu contexto (MOITA LOPES, 1994). Para o pesquisador interpretativista, “[...] a padronização dos fatos do mundo social e a redução da realidade a uma causa é uma distorção da realidade criada pela investigação científica.” (MOITA LOPES, 1994, p. 332). Nossos dados foram gerados a partir das práticas sociais situadas na realização do estágio curricular supervisionado e nas atividades dos colaboradores – discussões em sala de aula na universidade, implementação dos projetos de letramento, memorial de estágio e 33 apresentações orais no seminário de estágio –, para, posteriormente, serem analisados tendo em vista os significados atribuídos por todos os envolvidos, uma vez que a LA considera o fenômeno educação (dentro ou fora da sala de aula) sob o ponto de vista funcional (dia a dia). Entendemos que o termo “coleta de dados” pressupõe que os dados já estavam disponíveis para serem colhidos e analisados, por isso descartamos o seu uso em nossa pesquisa. A opção pelo uso do termo “geração de dados” deve-se ao entendimento de que os dados foram gerados pela pesquisadora e por todos os colaboradores, em um movimento coletivo e cooperativo, no qual seus instrumentos foram escolhidos dentre várias possibilidades. A proposta é trabalhar com um problema a ser levantado pela comunidade de aprendizagem, concebida aqui enquanto grupo de pessoas envolvidas em interação intelectual com o propósito de aprender (CROSS, 1998, p. 4), e, a partir de então, aliar a produção de conhecimento à autorreflexão, estabelecendo uma rede de negociações que objetiva a mudança nas práticas docentes dos estagiários de Letras da UNEB. É nesse sentido que concordamos com Leffa (2001, p. 5) quando ressalta que: [...] Em termos de problema pesquisado, podemos dizer que, em Linguística Aplicada, não criamos problema para pesquisar, mas pesquisamos os problemas que já existem. Não trazemos o problema para o laboratório, limpo e desinfetado, cuidadosamente desembaraçado de todas as variáveis que possam atrapalhar ou sujar nossas hipóteses. Fazemos o caminho inverso. Saímos do laboratório e vamos pesquisar o problema onde ele estiver: na sala de aula, na empresa ou na rua... Definir o paradigma metodológico da pesquisa vai além das decisões acerca dos instrumentos de geração de dados. Concordamos com Martins (2004, p. 291), que, baseada em Demo (1989), compreende a metodologia como “[...] o conhecimento crítico dos caminhos do processo científico, indagando e questionando acerca de seus limites e possibilidades.”, o que implica empreender uma discussão sobre “maneiras de se fazer ciência”, em vez de apenas utilizar definições de técnicas de pesquisa. Uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato de longa viagem empreendida por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados. Nada de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar, pensar determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação do conhecimento que são, aí sim, bastante pessoais. (DUARTE, 2002, p. 140). Entendemos ser um desafio para o pesquisador deter-se em pesquisar um fenômeno que ocorre sempre da mesma maneira, dentro dos mesmos padrões de regularidade, quem dirá estudar um fenômeno que muda em seu processo de geração de dados entre o início e o fim da 34 pesquisa. Esse é um desafio bem maior; quando termina o estudo o objeto inicial já se transformou. A mobilidade desse objeto exige, portanto, um paradigma de pesquisa altamente adaptável, que seja capaz de incorporar essas mudanças quando elas ocorrem, uma espécie de just in time metodológico, segundo Leffa (2000). 2.3 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DE PESQUISA O estágio curricular é compreendido por nós como um processo de experiência prática, que aproxima o acadêmico da realidade de sua área de formação e o ajuda a compreender diversas teorias que irão conduzi-lo ao exercício da sua profissão. É um elemento curricular essencial para o desenvolvimento dos alunos de graduação, sendo também, um lugar que oportuniza uma aproximação mais estreita entre a Universidade, a escola básica e a sociedade. A formação de professores para o exercício da docência no Brasil está estabelecida na Lei n. 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. As singularidades do estágio são afirmadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores, em nível superior, parecer CNE/CP 9/2001 (MINISTÉRIO..., 2001), e mediante a Resolução CNE/CP 2/2002 (MINISTÉRIO..., 2002), cujo conteúdo institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da educação básica em nível superior, e estabelece um aumento da carga horária prática dos cursos de formação de professores, com essa mudança, o Estágio Curricular Supervisionado passa a ter carga horária mínima de 400 horas, com início a partir da segunda metade do curso. A UNEB, a partir de 2007, entendendo a necessidade e a urgência da adequação às Diretrizes Curriculares dos Cursos de licenciatura por ela oferecido, e seguindo o que é disposto na Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015 (MINISTÉRIO..., 2015) que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada, apresenta uma proposta de redimensionamento dos seus cursos, visando atender às exigências, não só legais, mas também “[...] de modernização e de adequação às demandas sociais, para a formação de um profissional na área de ensino mais competente, contextualizado, reflexivo, criativo, e autônomo no desempenho de suas atividades”7. 7 Fragmento retirado do documento Projeto de redimensionamento do curso de Letras da UNEB (em fase de elaboração). 35 Dessa proposta de redimensionamento curricular, destacamos as mudanças na resolução do Estágio Curricular Supervisionado, cujo objetivo é oportunizar ao aluno não só a docência, como previsto anteriormente, mas também o olhar crítico desenvolvido a partir das observações realizadas nos diversos espaços onde ocorrem ações docentes, a pesquisa, o planejamento das ações, a execução e a avaliação de diferentes atividades pedagógicas, em um movimento de aproximação da teoria acadêmica com uma prática que não deve ser somente em sala de aula, mas deve ser realizada em diversos espaços considerados como educativos não escolares. Fica latente, nessa proposta, o desejo de que haja uma flexibilidade na organização dos cursos de licenciatura, e a consciência do respeito à diversidade/heterogeneidade do conhecimento do aluno, tanto no que se refere à sua formação anterior, quantono que diz respeito aos interesses e expectativas deste em relação ao seu curso e ao seu futuro exercício na profissão. O Estágio Curricular Supervisionado das licenciaturas da UNEB, a partir dessa reformulação, passou a ter 420h, dividido em quatro tipos de estágio, cada um com características próprias e contextos de atuação diferentes, conforme estabelecido em sua resolução. Serão metas desse novo contexto de estágio supervisionado, o desenvolvimento e/ou aprimoramento da experiência de ensino, tendo-se como objetivo a inserção do aluno em um espaço educacional que não seja somente a sala de aula, para que se possa exercer as atividades de regência, refletindo sobre essa realidade e promovendo ações que otimizem o ensino na sua área de atuação. Sendo assim, os estágios foram divididos em quatro etapas destacadas no Quadro 1: Quadro 1 – Contexto de atuação e tipos de atividades desenvolvidas nos estágios curriculares supervisionados do curso de Letras – Campus IV da UNEB 36 Fonte: elaboração própria. O Estágio Curricular Supervisionado II, foco da nossa pesquisa, conforme apresentado no Quadro 1, tem como característica desenvolver estudos de casos e problemas com vistas à elaboração de projetos diversos para serem implementados em espaços educativos variados, preferencialmente em espaços não formais de ensino. Fazem parte da sua ementa planejamento e execução de atividades docentes através de minicursos, cursos de extensão, e projetos diversos, visando à prática docente para o ensino fundamental e médio. A carga horária do Estágio Supervisionado II é de 105h, assim distribuídas ao longo do semestre letivo: as primeiras 40h são destinadas ao estudo teórico da prática docente e objetiva preparar o estagiário, futuro docente, para a construção e execução do projeto8 nos locais escolhidos por ele. Após essa carga horária de estudo teórico, temos 15h para reconhecimento dos espaços não formais de ensino a fim de que cada estagiário possa realizar um trabalho etnográfico de descobrimento e escolha do seu local de estágio. A partir desse processo, os estagiários ainda dispõem de 40h para implementação e desenvolvimento das ações do projeto, finalizando o componente curricular com 10h de participação no seminário, realizado pela comissão de estágio do curso, a fim de socializar a experiência formativa com seus pares a partir da apresentação do memorial de estágio. Foi assim que, no semestre 2018.1, iniciamos a nossa geração de dados com a proposta de implementação dos Projetos de Letramento em diversos espaços educativos não 8 Desde a reformulação, todos os professores desenvolvem projetos de intervenção. Nossa proposta é transformá- lo na implementação de projetos de letramento. 37 escolares, que fazem parte do regulamento de estágio da UNEB, situados na cidade de Jacobina/Ba, onde está situado o Campus IV da UNEB9. Nossa entrada em campo deu-se no início do semestre, no mês de março, quando assumi, enquanto docente e pesquisadora, o componente curricular Estágio Supervisionado II oferecido no VI semestre do curso de Letras, no turno vespertino. A turma era composta por 21 alunos matriculados no Departamento de Ciências Humanas – DCH, do Campus IV, da Universidade do Estado da Bahia10. O Estágio Curricular Supervisionado II é um componente pensado exatamente em consonância com um dos princípios do PL que é a dinamicidade do currículo, uma vez que a comissão de estágio projetou o seu formato de maneira a garantir autonomia ao estagiário. Inspirados pela “escola Paripatética de Aristóteles11”, os alunos do VI semestre percorrem alguns locais da cidade, ocupam o lugar de agente de letramento, escolhem o espaço onde querem atuar no estágio e podem decidir quais serão seus colaboradores e, assim, pensar na implementação das ações do PL de forma coletiva e colaborativa. Assim como Aristóteles, acreditamos que a liberdade apresenta-se como um dos princípios de maior compromisso filosófico, ligando-se ao poder de decisão e, consequentemente, de escolha. De acordo com o regulamento de estágio da UNEB, especificamente o Estágio Curricular Supervisionado II deve ocorrer prioritariamente em espaços não formais de educação. Mas, o que são esses espaços e como eles se constituem? Um espaço não formal de educação é uma expressão utilizada para descrever locais, diferentes da escola, onde é possível desenvolver atividades educativas. No entanto, a definição do que é um espaço não formal de educação é muito mais complexa do que imaginamos. Inicialmente, precisamos conceituar o que é um espaço formal de educação. O espaço formal é o espaço escolar, que está relacionado às Instituições Escolares da Educação Básica e do Ensino Superior, definidas na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. É a escola, com todas as suas dependências: salas de aula, laboratórios, quadras de esportes, biblioteca, pátio, cantina, refeitório. Apesar da definição de que espaço 9 Destacamos que dois projetos de Letramento, embora não estivessem voltados para atender a comunidade universitária, aconteceram em uma das salas da UNEB, em horário oposto ao das aulas, com participantes da comunidade. 10 A autora desta tese é professoras nessa Instituição de Ensino Superior, a UNEB, e atua no curso de Letras desde 2001, quando aprovada em concurso público para a disciplina de Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, substituída, com a reformulação curricular, pela Prática Pedagógica, hoje ofertada do 1º ao 5º semestre. 11 É sabido que Aristóteles e seus discípulos gostavam de filosofar enquanto passeavam pelos jardins do liceu. Acreditavam que o exercício físico irrigava o cérebro, o que melhorava as suas performances cognitivas, por isso caminhavam lado a lado e a passo rápido enquanto debatiam problemas filosóficos difíceis ou escutavam as profundas lições do seu mestre. 38 formal de Educação é a escola, o espaço em si não remete à fundamentação teórica e características metodológicas que embasam um determinado tipo de ensino. O espaço formal diz respeito apenas a um local onde a educação realizada é formalizada, garantida por lei e organizada de acordo com uma padronização nacional. Posto que espaço formal de Educação é um espaço escolar, é possível inferir que espaço não formal é qualquer espaço diferente da escola onde pode ocorrer uma ação educativa. Embora pareça simples, essa definição é difícil porque há infinitos lugares não- escolares. Qualquer lugar é espaço não formal de Educação? Há espaços não formais e informais de Educação? O que define cada um? Da mesma forma que a discussão sobre as conceituações de Educação formal, Educação não formal e Educação informal está em aberto, a definição para espaço não formal também está. Muito provavelmente, na medida em que os pesquisadores forem chegando a um consenso sobre essas questões, os conceitos poderão ser definidos, divulgados e utilizados de forma correta. É importante ressaltar que, embora seja de senso comum que a Educação não formal é diferente da Educação formal, por utilizar ferramentas didáticas diversificadas e atrativas, isto nem sempre é verdade. Há muitos exemplos de professores que adotam estratégias pedagógicas variadas para abordar um determinado conteúdo, fugindo do tradicional método da aula expositiva não-dialogada. Também há exemplos de aulas estritamente tradicionais e autoritárias sendo realizadas em espaços não escolares. A pesquisadora Moura (2005) também reflete sobre essa questão e coloca que não são propriamente os cenários que determinam os tipos de aprendizagem formal ou informal. Não entraremos, no entanto, nessa discussão. Segundo Jacobucci (2008), espaços não formais podem ser Instituições e não Instituições.
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