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XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN - eCICT 2021 ANAIS EXPEDIENTE APRESENTAÇÃO O Congresso de Iniciação Científica e Tecnológica (eCICT) é um evento aberto à comunidade no qual todos os aproximadamente 1.500 alunos de Iniciação Científica e Tecnológica da UFRN (bolsistas e voluntários) apresentam os resultados de suas pesquisas desenvolvidas ao longo de um ano, como cumprimento de um plano de trabalho elaborado e orientado por um professor/pesquisador do quadro permanente da Instituição. O eCICT está entre as ações inseridas no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica da UFRN, que possui entre seus objetivos: a) Contribuir para a formação e engajamento de recursos humanos em atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação; b) Contribuir para a formação científica de recursos humanos que se dedicarão a qualquer atividade profissional; e c) Contribuir para a formação de recursos humanos que se dedicarão ao fortalecimento da capacidade inovadora das empresas no País. Em 2021, a Pró-Reitoria de Pesquisa da UFRN realizou a 32ª edição do Congresso em formato totalmente virtual. A 32ª edição do Congresso teve como tema “A Transversalidade da Ciência, Tecnologia e Inovações para o Planeta”, estando alinhada aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU. Ao submeter os trabalhos ao Congresso, os alunos indicaram os objetivos da Agenda 2030 aos quais suas pesquisas estavam relacionadas. Essa iniciativa visa estimular a pesquisa científica e tecnológica voltada para a busca por soluções para os desafios sociais contemporâneos. Em uma etapa inicial, denominada de Mostra de Trabalhos e Vídeos de Ciência, Tecnologia e Inovação, foram realizadas as apresentações dos trabalhos submetidos pelos participantes do evento. As apresentações ocorreram de forma assíncrona, por meio de arquivos digitais (trabalho completo e vídeo), sendo disponibilizadas não só aos avaliadores do congresso pelos Sistemas da UFRN, mas também ao público em geral através do site do evento (www.cic.propesq.ufrn.br). Após essa etapa inicial, uma série de vídeos sobre a trajetória de sucesso dos pesquisadores destaques da UFRN no ano de 2021 foi disponibilizada (on demand) a todos os participantes, complementando as atividades remotas do evento. Os pesquisadores destaques da UFRN no ano de 2021 foram selecionados a partir do Prêmio Pesquisador Destaque da UFRN, certame instituído em 2019 por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e que é concedido anualmente aos pesquisadores da instituição que tenham apresentado relevantes contribuições para o desenvolvimento da ciência em cada uma das três grandes áreas do conhecimento: Ciências da Vida; Ciências Exatas, da Terra e Engenharias; e Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes. Além de troféu e certificado, todos os premiados receberam auxílio no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para custear despesas específicas, discriminadas em edital. Ainda no eCICT 2021, os alunos concorreram ao 5ª Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica da UFRN, que foi instituído pela Pró-Reitoria de Pesquisa em 2017 para reforçar as ações dos programas institucionais de iniciação científica e tecnológica. O prêmio contemplou duas categorias: Trabalho Destaque de Iniciação Científica e Tecnológica e Vídeo Destaque de Divulgação Científica. Os premiados foram agraciados com bolsas mensais de até R$ 800,00 (oitocentos reais) durante o período de um ano. Os orientadores dos alunos premiados adquiriram precedência em relação aos demais para efeitos de concorrência no Edital de Bolsas de Pesquisa da UFRN em 2022. O evento cumpriu três funções valiosas para o desenvolvimento da ciência na instituição: inserção dos discentes em um ambiente acadêmico de publicação e apresentação dos resultados da pesquisa; divulgação científica por meio dos vídeos que utilizam uma linguagem científica, porém acessível a todos; e, por fim, a popularização da ciência. PROGRAMAÇÃO NOVEMBRO/2021 23 a 25/11 Mostra de Trabalhos e Vídeos de Ciência, Tecnologia e Inovação do eCICT 2021 JANEIRO/2022 24 a 28/01 eCICT 2021 Virtual com conteúdos on demand FELCS Faculdade de Engenharia, Letras e Ciências Sociais do Seridó XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 7 CÓDIGO: HS0008 AUTOR: PATRICIA MICARLA GUEDES DA SILVA ORIENTADOR: ANA MARIA DE OLIVEIRA PAZ TÍTULO: ESTUDO DAS PRÁTICAS DE LETRAMENTO DIGITAL DO IDOSO EM TEMPOS DE PANDEMIA E AFASTAMENTO SOCIAL Resumo O idoso e suas indagações ficaram em evidência no cenário social, durante a pandemia e o isolamento social ocasionado pela COVID-19. A partir dessa nova realidade instaurada, potencializou-se, pelos idosos, usos de artefatos digitais, como: computadores, tablets e smartphones, objetivando atenuar as consequências das medidas governamentais de isolamento social. Assim, a pesquisa objetivou compreender os impactos das práticas de letramento digital no cotidiano das interações dos idosos em tempos de pandemia e afastamento social. Teoricamente, a investigação ancorou-se nos estudos à luz do letramento digital e dos idosos, e as concepções alusivas às interações sociais. Para tanto, utilizamos os pressupostos de Buzato (2006), Coscarelli (2007; 2016), Ribeiro (2009; 2018) dentre outros. Metodologicamente, a pesquisa situou- se no campo da Linguística Aplicada, seguindo orientações de natureza qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) interpretativista (MOITA LOPES, 1994). Participaram da pesquisa 26 idosos, com idade mínima de 60 anos, residentes no interior do Estado do Rio Grande do Norte, através de entrevistas remotas mediante utilização do aplicativo WhatsApp e plataforma Google Meet. Como resultados, evidenciou-se o quanto o letramento digital e suas práticas foram imprescindíveis nas interações dos idosos em tempo de pandemia e afastamento social, motivados pelas necessidades de interação, construção de aprendizados e conhecimentos inerentes às diversas esferas sociais. Palavras-chave: Letramento digital. Idosos. Pandemia da COVID – 19. Distanciamento. TITLE: STUDY OF DIGITAL LITERACY PRACTICES OF THE ELDERLY IN TIMES OF PANDEMIC AND LOCKDOWN Abstract XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 8 Elderly people and their inquiry’s gained prominence in the social scenario, during the pandemic and the lockdown caused by COVID-19. Based on this new reality, the use of digital artifacts of the elderly has increased, from the use of computers, tablets and smartphones, aiming to decrease the consequences of government lockdown measures. Thus, this work aimed to understand the impacts of digital literacy practices in the daily interactions of elderly people in times of pandemic and lockdown. Theoretically, this investigation was anchored on studies on digital literacy of elderly peoples, and on the conceptions about social interactions. Therefore, we use the theories of Buzato (2006), Coscarelli (2007; 2016), Ribeiro (2009; 2018) among others. Methodologically, this work was situated in the ambit of Applied Linguistics, following qualitative guidelines (BOGDAN; BIKLEN, 1994) interpretive (MOITA LOPES, 1994). Twenty-six elderly people, aged 60 years, living in the interior of the State of Rio Grande do Norte participated in the research. They were interviewed remotely through the WhatsApp and the Google Meet platform. The results showed that it was clear how much digital literacy and its practices were essential in the interactions of old peoples in the period of pandemic and lockdown, motivated by the interaction needs, construction of learning and knowledge in the different social spheres. Keywords: DigitalLiteracy. Elderly peoples. COVID-19 Pandemic. Lockdown. Introdução De acordo com dados do IBGE (2019) a população brasileira está atingindo crescentes índices de longevidade, uma vez que, em muitas famílias de nosso país alguns de seus membros que já atingiram a terceira idade, ou seja, seus 60 anos. Dessa maneira, muitas dessas pessoas passaram a dispor de mais tempo de interação com seus familiares, com amigos de grupos de atividades religiosas ou de convivência específica para integrantes da terceira idade. Com a pandemia e a implementação de isolamento social pelas instituições de saúde, os idosos foram bastante prejudicados quanto à sua mobilidade e às suas possibilidades de interação social, haja vista que as restrições impostas pelos órgãos de saúde proibiram a realização de quaisquer eventos ( reuniões e encontros presenciais tanto com familiares, quanto com amigos e outros grupos), privando essa parte da população do acesso a atividades de lazer, de práticas religiosas, dentre outras, em face dos riscos de transmissão e disseminação do vírus da COVID-19, cujos efeitos produziram grandes incidências de óbitos e a ocorrências de sequelas graves a muitos que sobreviveram à doença. Para tentar atravessar esse período de ausência de contatos presenciais, os idosos tiveram de repensar suas práticas de interações sociais. Nesse sentido, XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 9 passaram a substituir as conversas, mormente realizadas face a face, por outras no formato remoto, as quais possibilitavam a manutenção das relações sociais e não ofereciam riscos à saúde desse público específico. Assim sendo, os artefatos digitais (computadores, tablets e smartfones) conectados à internet com acesso às redes sociais e plataformas digitais (Google Meet, WhatsApp e Skype), dentre outros, surgiram como alternativa para que os idosos pudessem remotamente promover as suas interações com familiares, amigos, grupos religiosos e de convivência geralmente constituído por pessoas da terceira idade. Desse modo, a realidade instaurada em meio à pandemia, fez com que muitos idosos recorressem a artefatos digitais (computadores, tablets e smartfones) e às redes sociais na perspectiva de atenuar os impactos que as medidas governamentais de isolamento social provocaram em suas interações e na convivência com seus pares (familiares, amigos e demais grupos). Nesse sentido, procuramos centrar foco nos impactos das práticas de letramento digital no cotidiano das interações dos idosos no período do afastamento social. Para tanto, cumprimos como objetivo geral, compreender os impactos das práticas de letramento digital no cotidiano das interações sociais dos idosos no decorrer da pandemia. Em termos de objetivos específicos, procuramos: a) identificar as razões que conduziram os idosos a fazerem uso das práticas de letramento digital em período pandêmico. b) detectar as práticas de letramento mais recorrentemente utilizadas em interações por idosos em tempos de afastamento social. c) analisar como as práticas de letramento se efetivaram no cotidiano das interações sociais e sua contribuição para o bem estar dos idosos em tempos de isolamento. d) mapear as possíveis dificuldades enfrentadas por idosos em práticas de letramento digital, como também, as estratégias de superação utilizadas perante a essas dificuldades. A importância da pesquisa efetivada se justifica nas contribuições que trouxe para os âmbitos das discussões acadêmicas, com foco no aperfeiçoamento da formação de alunos pesquisadores quanto para a comunidade em geral por gerar dados relevantes sobre o Letramento digital, com ênfase nas práticas desenvolvidas por idosos, os quais compreendem uma expressiva parcela da população brasileira que, como tantas outras, foi alvo de grandes restrições por ocasião do enfrentamento à pandemia da COVID-19. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 10 Metodologia Em termos metodológicos, a investigação se inseriu no domínio da pesquisa em Linguística Aplicada e, desse modo, seguiu os pressupostos das investigações de abordagem qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) interpretativista (MOITA LOPES, 1994), uma vez que os pesquisadores procuraram construir sentido em relação às informações fornecidas pelos participantes da pesquisa, buscando inferir o que dados gerados sinalizavam, sem lançar mão da testagem de hipóteses e mensuração das recorrências observadas. A pesquisa se efetivou a partir dos dizeres dos participantes idosos acerca de suas práticas de letramentos digitais em entrevistas semiestruturadas aplicadas mediante o uso de artefatos digitais (computador e/ou celular), mais precisamente com o auxílio de chamadas de vídeos via WhatsApp como também por meio da plataforma Google Meet, no decorrer de três semanas do mês de dezembro de 2020, período em que o Brasil estava sob o efeito intenso da pandemia por COVID – 19. Dessa investigação participaram 26 idosos, inseridos numa faixa etária de 60 a 78 anos, todos residentes no interior do estado do Rio Grande do Norte (RN). O corpus de análise foi constituído pelo conteúdo das entrevistas devidamente transcritas com base nas orientações estabelecidas por Marcuschi (2007). O referido corpus compreendeu em sua totalidade um quantitativo de 23 páginas. Em termos éticos, a investigação proposta pautou-se nos encaminhamentos norteadores das pesquisas em Linguística Aplicada, uma vez que respeitou a adesão espontânea dos sujeitos participantes, o consentimento informado, bem como o direito à privacidade, ao sigilo e à proteção de fontes, conforme propõe Kleiman (2002). Resultados e Discussões Nesta seção, será exposto os resultados e discussões no que concerne respondermos os objetivos gerais e específicos elencados na pesquisa. Sendo assim, pretendemos com esses resultados evidenciar os impactos das práticas de letramento digital no cotidiano das interações dos idosos em tempos de pandemia e afastamento social. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 11 No que diz respeito aos participantes da pesquisa, participaram na totalidade 26 idosos, tanto do gênero feminino, quanto masculino, com idade mínima dos 60 aos 78 anos. Dessa forma, todos os participantes residem nas cidades do Estado do Rio Grande do Norte-RN, sendo elas: Acari, Campo Redondo, Cerro Corá, Currais Novos, Florânia, Jardim do Seridó, Lagoa Nova, Martins e Natal. No que se refere ao grau de escolaridade dos participantes, todos eles têm o mínimo de escolaridade possível, o que possibilitou responder as perguntas que compunham o questionário da pesquisa. Sendo assim, os graus de escolaridade contemplados pelos participantes eram: Ensino Fundamental I incompleto, Ensino Fundamental II incompleto, Ensino Fundamental II Completo, Ensino Médio completo e Incompleto, e Graduação. Nesse sentido, os participantes idosos evidenciaram a partir dos seus relatos que o uso do celular e/ou computador conectado à internet fez diferença em seu cotidiano durante o período do afastamento social, pelo fato de facilitar a comunicação com familiares, amigos próximos ou que moravam distantes. Além disso, alguns idosos destacaram o fato de esses artefatos auxiliarem no trabalho docente, principalmente nesse período de ensino remoto, uma vez que as aulas eram ministradas através de plataformas digitais. Ainda apontaram que o uso dessas ferramentas conectadas à internet proporcionou uma conectividade com o mundo, de modo que eles muitas vezes, consideraram a internet como um canal de interação para não se sentirem sozinhos, o que nos leva a entender que as digitalidades contribuíram para o bem estar dos idosos durante o período pandêmico e de isolamento social. Nessa conjuntura, as práticas de letramentos digitaismais recorrentemente usadas em interações pelos participantes foram: assistir lives, participar de cursos online a fim de se aperfeiçoarem, trabalhar, realizar pagamentos e transferências bancárias, pesquisas sobre culinária, marcar consultas médicas, fazer compras nos supermercados e farmácias, utilizar as redes sociais (facebook, WhatsApp, Instagram) bem como plataformas digitais (Youtube, Google, Google Meet). Nessa perspectiva, essas práticas de letramentos digitais corroboram com os postulados de Ribeiro (2009), haja vista que o referido letramento requer dos indivíduos habilidades necessárias desenvolvidas por meio de suportes tecnológicos em ambientes digitais, de forma que a comunicação possa ser efetivada. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 12 Sendo assim, ao mapearmos as possíveis dificuldades enfrentadas pelos idosos em práticas de letramento digital, conseguimos identificar que a maioria dos entrevistados apontaram ter dificuldades. Estas, por sua vez, estão associadas, tanto à falta de práticas com os equipamentos digitais, quanto ao manuseio desses artefatos. Além disso, os entrevistados também apontaram que essas dificuldades ocorriam, por três fatores: ausência significativa de conhecimentos sobre práticas digitais, problemas de esquecimento, e o uso de celulares considerados antigos por muito tempo. No intuito de lidar com essas dificuldades, os participantes relatam que contaram com a ajuda dos familiares e amigos, sendo eles: netos, filhos, cunhados, para lhes auxiliarem quanto ao uso do computador ou celular conectado à internet. Além disso, também relataram a adoção de iniciativas autônomas e intuitivas com vistas a superação dessas dificuldades quanto ao manuseio e funcionalidades dos aparelhos digitais. Mediante a análise sobre o modo como as práticas de letramento se efetivaram no seu cotidiano de interações sociais, pudemos identificar que os participantes da pesquisa fizeram uso com mais constância desses artefatos digitais (computador, smartphones, tablets) durante o período pandêmico, uma vez que tinham mais tempo disponível para manuseá-los, bem como usufruir de todas as possibilidades que eles disponibilizavam em termos de interação. Além disso, antes da pandemia os idosos podiam exercer suas atividades cotidianas de forma presencial, podendo ir ao trabalho, confraternizar com os amigos e familiares, inclusive viajar, por isso, os usos dos artefatos digitais ocorriam em menor frequência. Conclusão Ao finalizarmos as etapas de sistematização e a análise dos dados, observamos o quanto o letramento digital em tempos de pandemia e afastamento social foi imprescindível na vida dos idosos, principalmente no tocante às interações sociais. Além disso, notamos que o uso das ferramentas digitais conectadas à internet proporcionou a eles a oportunidade de se atualizarem em relação aos acontecimentos de mundo, o que contribuiu para a ampliação de seus aprendizados no que tange aos letramentos digitais, visto que esses letramentos impactam diretamente nas práticas sociais de interação. Ademais, a partir dessa pesquisa foi possível observarmos as principais dificuldades enfrentadas por esses idosos no tocante ao uso desses recursos XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 13 digitais, bem como saber o que eles fizeram no intuito de superar essas dificuldades. Dessa forma, as questões e objetivos da pesquisa contribuíram para corroborarmos a relevância desses letramentos, os quais possibilitaram não apenas que os idosos mantivessem contatos com amigos e familiares, mas também que tivessem acesso a informações da atualidade e conhecimentos capazes de aprimorar seus letramentos em geral. Diante o exposto, podemos concluir que o projeto, em sua completude, trouxe inteligibilidade à relatos dos participantes, para a ressignificação dada às práticas de cunho interacional dos idosos que, antes eram realizadas no formato presencial e, a partir do afastamento social, passaram a ser efetivadas remotamente, via dispositivos digitais, a fim de atender as orientações dos órgão de saúde em decorrência da pandemia por COVID-19, buscando evitar um número maior de óbitos de pessoas idosas no Brasil. Referências BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994. 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XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 16 CÓDIGO: HS0017 AUTOR: ANDREINA MICAELA DANTAS ORIENTADOR: MARCELO DA SILVA TAVEIRA TÍTULO: Turismo nas Cidades do Seridó: Gestão e Desenvolvimento Regional Resumo A pesquisa tem como objetivo avaliar os aspectos relacionados ao turismo e ao desenvolvimento regional nas pequenas cidades do Seridó Potiguar que compõem o Mapa do Turismo Brasileiro(2019-2021) e integram o Conselho de Turismo do Polo Seridó (Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Florânia, Jucurutu, Lagoa Nova, Serra Negra do Norte, Jardim do Seridó e São João do Sabugi). A metodologia utilizada foi uma análise de natureza qualitativa e quantitativa dos dados coletados por meio da aplicação de formulários juntos a atores de órgãos públicos, da iniciativa privada e terceiro setor. O estudo deu uma contribuição no sentido de elucidar questões pertinentes à natureza e ao conteúdo do desenvolvimento regional da região em análise, os efeitos pragmáticos das políticas públicas adotadas, o direcionamento e emprego dos recursos públicos e as implicações do turismo no contexto regional. Em decorrência disso, constatou-se que o turismo está se desenvolvendo de forma lenta e gradual, devido às dificuldades encontradas com destaque para a fragilidade de articulação política- institucional entre os segmentos ligados ao poder público, à iniciativa privada, ao terceiro setor e às populações residentes na área de abrangência deste estudo. Palavras-chave: Turismo. Desenvolvimento regional. Pequenas cidades. Seridó Potiguar. TITLE: Tourism and Regional Development in Small Towns in the Seridó Potiguar Abstract The research aims to evaluate aspects related to tourism and regional development in the small towns of the Seridó Potiguar that make up the Mapa Brasileiro of the Turismo (2019-2021) and are part of the Conselho de Turismo of the Seridó Polo (Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Florânia, Jucurutu, Lagoa Nova, Serra Negra do Norte, Jardim do Seridó and São João do Sabugi). The methodology used was a qualitative and quantitative analysis of the data collected through the application of forms together with actors from public agencies, the private sector and the third sector. The study made a contribution towards elucidating issues relevant to the nature and content of regional development in the region under analysis, the pragmatic effects of adopted public policies, the targeting and use of public resources and the implications of tourism in the regional context. As a result, it was found that tourism is developing slowly and gradually, due to the difficulties encountered, highlighting the fragility of political- XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 17 institutional articulation between the segments linked to public power, private initiative, the third sector and the populations residing in the area covered by this study. Keywords: Tourism. Regional development. Small cities. Seridó Potiguar. Introdução De acordo com o Ministério do Turismo (2019) e da Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo é um setor que está em constante desenvolvimento no cenário mundial, em 2018 obteve-se o segundo melhor resultado dos últimos 10 anos, atingindo a marca de 1,4 bilhões de chegadas internacionais no mundo. Conforme Oliveira (2020) há que se registrar que a COVID-19 (também conhecida como SARS-CoV-2) diz respeito a um vírus com alta taxa de transmissão que, após seu primeiro caso em Wuhan, na província de Hubei, na China, causou impactos sistêmicos nas relações interpessoais, na saúde e, na economia mundial. E com a intenção de diminuir a propagação do vírus, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde – OMS anunciou oficialmente a pandemia, ocasionando a paralisação dos serviços de transportes e restringindo as atividades de hospedagem, lazer, comércio, dentre outros. Segundo o Ministério do Turismo (2021 o índice de atividades turísticas no país voltou a crescer, após ter interrompido, em dezembro de 2020, uma sequência de sete altas consecutivas na movimentação econômica do setor. Assim, em janeiro de 2021, o índice subiu 0,7%, impulsionado, principalmente, pelo segmento de transporte aéreo, que registrou alta de 11,1%. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas - FGV (2020), as perdas econômicas, em comparação ao PIB do setor em 2019, totalizarão R$ 116,7 bilhões no biênio 2020-2021, o que representa perda de 21,5% na produção total do período. Vários países fecharam suas fronteiras para estrangeiros, inclusive o Brasil. Com o intuito de amplificar o turismo no Brasil, o Ministério do Turismo por meio do Programa de Regionalização do Turismo (PRT) visando a expansão, desenvolvimento e descentralização da atividade turística, definiu o Mapa Brasileiro de Turismo a partir de áreas prioritárias (polos) para atuação de políticas públicas do setor para agir de forma mais efetiva nessas regiões com potencial a ser desenvolvido. As regiões turísticas são identificadas por características similares e aspectos que assinalam como região, ou seja, que tenham uma identidade histórica, cultural, econômica e/ou geográfica em comum (MTUR, 2019). Assim, busca-se descentralizar por meio da regionalização o turismo predominante no Nordeste, O mapa do Turismo Brasileiro, atualmente, é composto por cinco polos: Costa Branca, Costa das Dunas, Serrano, Agreste-Trairí e Seridó. O Polo Turístico Seridó situa-se na região de mesmo nome (no Seridó Potiguar), interior do Estado do Rio Grande do Norte. Conforme o PDITS - Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (2011), a região Seridó insere-se na história da colonização do Brasil a partir dos movimentos lentos e graduais de deslocamento de famílias proprietárias de terras que não possuíam espaço social ou econômico no litoral nordestino, dominado pelo latifúndio canavieiro, desde a Bahia até o Ceará. O turismo surge, atualmente, como uma nova forma de desenvolvimento econômico para as pequenas cidades do Seridó Potiguar. Segundo Beni (2006, p. 67) “o turismo promove o desenvolvimento intersetorial, em função do efeito multiplicador dos investimentos e dos acréscimos da demanda interna e receptiva. É um elemento importante para o planejamento regional ou territorial”. O objetivo da pesquisa foi XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 18 avaliar os aspectos relacionados ao turismo e ao desenvolvimento regional nas pequenas cidades do Seridó Potiguar. Apresentar a situação do desenvolvimento da atividade turística nas pequenas cidades, evidenciando os números do turismo e a atuação das esferas pública, privada e terceiro setor em busca desse desenvolvimento. O turismo, além de ser uma atividade econômica geradora de renda, proporciona um crescimento de forma sustentável, com valores ao meio ambiente e a conservação dos patrimônios culturais das populações nativas das regiões turísticas (NODARI, 2007 p. 15). Metodologia A metodologia adotada na elaboração desta pesquisa foi uma análise de natureza qualitativa e quantitativa dos dados coletados sobre os indicadores de desenvolvimento socioeconômico e seus impactos na qualidade de vida das populações residentes nas pequenas cidades, e, consequentemente no setor turístico regional. Na primeira fase da pesquisa foi realizado um levantamento preliminar de referências bibliográficas sobre o objeto estudado para o embasamento teórico da pesquisa. O estudo também se baseia no caráter empírico por meio de observações realizadas in loco e por meio de contato direto com a população de cada cidade. Buscando assim, evidenciar a realidade de cada cidade com maior confiabilidade dos dados gerados. No tocante à pesquisa documental, foram realizadas consultas a textos oficiais dos governos Federal, Estadual e Municipais como relatórios técnicos, programas, projetos e ações institucionais relacionados ao desenvolvimento do turismo no Polo Seridó, documentos elaborados por instituições de pesquisa e ensino. Na segunda fase foram realizadas pesquisas in loco nas pequenas cidades, com até 20.000 habitantes. Estas fazem parte do Polo de Turismo Seridó (2017- 2021), região que compõe o Mapa Brasileiro de Turismo. A região turística do Seridó é composta por doze municípios, mas a pesquisaaborda apenas as pequenas cidades, conforme Fernandes (2018) a conceituação e a classificação das pequenas cidades alteram entre as regiões em países mais extensos, desse modo, Santos (1989) e Pereira (2007) acreditam que o nível máximo para ser uma pequena cidade é de vinte mil habitantes, método utilizado pelas estatísticas internacionais para classificar esse tipo de cidade, bem como pelo IBGE (2010) que define pequena cidade àquelas com até 20.000 habitantes. A coleta de dados foi realizada por meio de questionários semiestruturados e específicos para cada setor. Os mesmos foram aplicados com os gestores públicos de diferentes secretarias, com a iniciativa privada e com representantes do terceiro setor de cada município, aplicou-se a empresas que atuam diretamente com a atividade turística, aos gestores públicos dos municípios e as empresas que atuam no terceiro setor. Em seguida, foram realizadas a tabulação e análise dos dados coletados com base em diferentes abordagens para melhor projetar os resultados da investigação e analisar os fenômenos complexos da sociedade e da realidade em estudo. Resultados e Discussões XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 19 Das cidades pesquisadas, observa-se que Acari se encontra na melhor posição de desenvolvimento humano, entre as cidades nos rankings nacional ela estar na posição de 2462° e estadual na posição de 8° lugar, enquanto Lagoa Nova, comparada aos dois rankings, ocupa a posição mais baixa de desenvolvimento humano, em 4.515° no ranking nacional e no estadual na posição de 127°. Acari apresenta o maior índice de desenvolvimento humano, seguido por Jardim do Seridó, Carnaúba dos Dantas e São João do Sabugi; Dentre as nove cidades pesquisadas, as especificidades do desenvolvimento humano de Lagoa Nova também o classificam com menor índice. Carnaúba dos Dantas apresenta melhor índice de longevidade de 0,796. De acordo com a gestão pública do município, esse índice teve melhoras no período de 2010 devido ao apoio social financeiro para a população e a medidas de saúde pública. No indicativo de renda, os melhores posicionados são os municípios de Jardim do Seridó (0,647), Acari (0,633) e Carnaúba dos Dantas (0,624), decorrentes principalmente do comércio local, indústrias ceramistas e dos cargos comissionados no setor público. Acari possui o melhor indicador de acesso à educação (0,634), Acari é uma das cidades que mais se desenvolveu. Durante as visitas nas cidades, os gestores das organizações público e privado do setor turístico, fizeram apontamentos em relação às dificuldades de desenvolver o turismo na região e, também, sobre as problemáticas existentes nos municípios. Na cidade de Lagoa Nova, por exemplo, a maior dificuldade destacada pela gestão do turismo foi à falta de apropriação cultural dos moradores com a história do local. A lagoa que dá nome a cidade encontra-se em propriedade privada, dificultando o acesso da comunidade, por esse motivo, o apego histórico-cultural com a lagoa é esquecido. Nas cidades de Jardim do Seridó e São João do Sabugi, a gestão pública manifesta sua insatisfação sobre a falta de sensibilidade da iniciativa privada na questão de firmar parcerias, afirmam que a população espera que o turismo seja implantado apenas pelo setor público. Destacam ainda que a falta de investimentos ao longo do tempo dificulta a implantação de ações efetivas sobre o turismo, pois quando ocorre a troca de gestores, eles não dão continuidade aos planos e projetos já iniciados pela antiga gestão. Em Serra Negra do Norte, os órgãos públicos destacaram a problemática do que se refere à produção ilegal de bonés. A cidade possui inúmeras fábricas de bonés, no entanto, em média 40% são legalizadas. Desse modo, não geram arrecadação de impostos para o município, comprometendo o investimento público na cidade. Em Acari, aponta-se o problema da seca que assola a região, que prejudicou o seu principal atrativo, o açude Gargalheiras, além de prejudicar a economia pesqueira local. Devido à seca, vários empreendimentos gastronômicos e hoteleiros foram prejudicados e acabaram fechando. Alguns eventos periódicos não estão sendo realizados devido à essa problemática, como por exemplo o Festival do Pescado. Quanto à iniciativa privada, os apontamentos sobre a falta de investimentos do setor público para o desenvolvimento do turismo predominaram em todas as cidades. Os empreendedores veem como o principal motivo que impossibilita o sucesso dos equipamentos de turismo presentes nos municípios. Dentre as nove cidades pesquisadas, o município de Acari apresentou o maior número de ações e a terceira cidade com o maior investimento do setor público de turismo. Em 2017, registrou-se 20 ações voltadas para o desenvolvimento do turismo na cidade, com um total de valor investido de 634.040 reais. No ano de 2020, as ações desenvolvidas pelo município, foi a confecção de placas turística, manutenção do Terminal Turístico, incentivo ao Cadastur, turismo mais XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 20 responsável e turismo mais protegido, e a participação da Famtur, que realiza visita técnica exploratória com agentes de viagens, com o intuito de mostrar o que estão oferecendo ao cliente. É uma forma de preparação onde os agentes de viagens têm a chance de conhecer os destinos. O orçamento foi de 1.497.000,00 reais e o valor executado foi de 853.910,00 reais. No município de Carnaúba dos Dantas, não foram encontrados no portal da transparência do município, os valores investidos nas ações de desenvolvimento voltadas para o turismo. No entanto, foi possível localizar as principais ações realizadas no ano de 2017. Durante a visita in loco os gestores públicos enfatizaram a importância da revitalização e urbanização do atrativo Monte do Galo, no qual se tornou um dos maiores símbolos religiosos da região Seridó. Não sendo possível encontrar no portal da transparência parte das ações e valores investidos em turismo na cidade de Cerro Corá, os gestores complementaram em forma de lista as ações que têm maior destaque no que se trata ao desenvolvimento do turismo na cidade serrana. O fortalecimento no turismo de eventos impulsionou no crescimento e reconhecimento de eventos sociais da cidade, como por exemplo, o festival de inverno e a tradicional festa de São João Batista. Em 2021 foi realizado um formulário com objetivo de atualizar os dados da pesquisa, cujo entrevistado não soube informar quais foram as ações desenvolvidas do setor público do turismo no município no ano de 2020, pois, ele integrou à gestão municipal no período anterior (2017 a 2019). Em relação à previsão orçamentária para o setor turístico em 2021, no portal da transparência a Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente e Turismo gastou 541.326,84, porém, não expõe o valor gasto no setor do Turismo. Em Florânia, assim como as demais cidades, aborda as principais ações desenvolvidas para o desenvolvimento do turismo de acordo com os gestores do município e o portal da transparência do órgão público (os valores investidos não estão disponibilizados na página web). Entre as ações mencionadas, destaca-se a reforma ao Santuário de Nossa Senhora das Graças, no qual recebe dezenas de visitantes semanalmente. Em relação às nove cidades pesquisadas, o município de Lagoa Nova apresentou o maior investimento do setor público de turismo. Em 2017, registrou-se dez ações voltadas para o desenvolvimento do turismo na cidade, com um total de valor investido de R$ 3.009.020. O maior investimento na cidade foi a construção do Mirante Santuário que custou R$ 1.001.000, segundo o portal da transparência. Essa ação se tornou o atrativo mais visitado do município. No ano de 2020 foram desenvolvidas sete ações, a realização da LIVE do tradicional dia 02 de janeiro, data que Lagoa Nova celebrou seus 57 anos de EmancipaçãoPolítica, a FSFA 2020, via LIVES. Contemplando a realização do projeto de iluminação da Praça João Marinho, ao longo dos 11 dias de eventos, apoio aos empresários do segmento, com assessoria e capacitações, atuação junto ao Conselho Municipal de Turismo, estudos e definições junto ao Conselho do Polo Seridó sobre a formalização da Instância de Governança, rodada de negócios junto ao SEBRAE, AIHB e SETUR-RN no município de Lagoa Nova, e a formalização do Consórcio Público Intermunicipal Geoparque Seridó junto aos seis municípios integrantes. Com previsão orçamentária para o ano de 2020 da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura, Desportos e Desenvolvimento Econômico, chegando ao montante de R$ 1.569.852,00, sendo executado o valor de R$ 58.171,00. Os valores investidos nas ações desenvolvidas no turismo na cidade de Serra Negra do Norte não estavam registrados no portal da transparência. Mas, os funcionários da secretaria de turismo do município justificaram que 70% dos projetos realizados na cidade estão XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 21 voltados para o turismo ecológico. Partindo do pressuposto que o município é a única cidade do Seridó que contempla uma estação ecológica. No ano de 2020 as ações desenvolvidas pelo setor público do município foi a elaboração do plano de turismo, e a previsão orçamentária para o setor turístico foi de 3,5% do valor total. Quanto às ações e investimentos do turismo na cidade de Jucurutu, não foram encontrados registros de ações e de valores investidos no portal da transparência. Durante as visitas no município, a secretaria de turismo da cidade mostrou-se indisponível para responder os formulários que auxiliariam na aquisição das informações sugeridas sobre as ações de desenvolvimento de turismo no município. O município de Jardim do Seridó, no ano de 2017, segundo o portal da transparência da cidade, investiu mais de R$796.000 em ações para o desenvolvimento do turismo. De acordo com o secretário de turismo da cidade, apesar de que o apoio aos eventos não somarem o maior investimento dentre as ações desenvolvidas, mas são os eventos em Jardim do Seridó que torna a cidade reconhecida nacionalmente. O secretário afirma ainda que os eventos são responsáveis pela maior geração de renda informal no município. Logo, destaca os eventos Jardim Junino e Jardim Motofest. A cidade de São João do Sabugi, mostra que os valores investidos das ações para o desenvolvimento do turismo no município não foram encontrados no portal da transparência nem fornecidos em pesquisa in loco. O jovem secretário de turismo da cidade afirma que foi no último semestre de 2019 que se iniciaram os projetos para o reconhecimento do potencial turístico do município. A criação do Conselho Municipal de Turismo, segundo o secretário, foi a melhor ação até o momento desenvolvida. Dos municípios pesquisados, sete possuem inventário da oferta turística (Acari, Lagoa Nova, Florânia, Cerro Corá, Serra Negra do Norte, Carnaúba dos Dantas e Jucurutu). Esse levantamento foi realizado por meio de parceria entre órgão público municipal de turismo e os cursos de turismo da UFRN (Universidade Federal do Rio Norte) e da UERN (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte). Partindo dos dados em anexo, observa-se que a maior parte dos investimentos no setor turístico é a realização de obras de infraestrutura turística. Seja por meio de revitalização de obras antigas, construção de novos espaços (praça de eventos, por exemplo), ou construção e manutenção de infraestrutura específica nos atrativos. O fomento aos eventos também são ações relevantes. O turismo engloba inúmeras atividades, sejam elas direta ou indiretamente associadas. O setor de Alimentação é o que mais emprega pessoas no turismo no Brasil, com cerca de 790.040 milhões de empregos informais e 481.892 formais. Os setores de Alimentação, Aluguel de Transportes, Cultura e Lazer e Transporte marítimo cresceram na proposta de empregos formais no turismo. Já os setores que aumentaram os empregos informais do turismo foram: alimentação, alojamento, transporte aéreo, aluguel de transportes, cultural e lazer. Logo, o emprego informal cresceu mais do que o emprego formal no setor do turismo no Brasil até 2019. No contexto da iniciativa privada do setor turístico das pequenas cidades do Seridó, pode-se apontar que, os municípios possuem mais equipamentos de alimentos e bebidas. Seguidos dos meios de hospedagem de pequeno porte, agências de viagens e alguns empreendimentos de lazer. Quando questionados sobre os pontos positivos, que o turismo traria para a cidade, os empresários apontaram: a geração de emprego e renda na cidade, aumento da circulação do capital financeiro, o incentivo ao empreendedorismo, implantação de equipamentos mais estruturados para atender a demanda, melhoria na infraestrutura da cidade e a valorização da cultura da região XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 22 Seridó. Quanto aos aspectos negativos, os mais citados foram: o aumento da violência (criminalidade e uso de drogas), o aumento no consumo de água (recurso escasso na região devido à seca predominante na região), a geração de lixo e a poluição, o congestionamento no trânsito e o aumento de vendedores ambulantes e a desvalorização da cultura local, isso ocorreria, segundo os entrevistados, devido ao maior fluxo de pessoas circulando nas cidades. A maioria dos clientes é composta pela população residente, esse número tem destaque devido à grande quantidade de empreendimentos de alimentos e bebidas que é utilizado pela população no dia a dia. Os 33% dos clientes é composto por comerciantes que, por motivo de trabalho, pernoitam nas cidades. Os turistas representam 32% dos clientes. Os meses de maiores fluxos identificados foram entre agosto com 19% de fluxo turístico e dezembro com 17%, período de realização de vários eventos nas cidades. E em razão do período de férias. Muitos dos eventos são relativos a festas dos santos padroeiros de cada cidade, são eventos que já são consolidados e que atraem turistas de vários locais, neles reúnem conteúdo de fé, devoção e entretenimento. Conclusão O turismo é uma nova perspectiva para a visibilidade da região Seridó Potiguar, surgindo como uma nova atividade econômica a ser estimulada, isso porque ela é capaz de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico e sustentável dos locais onde acontece essa prática. A partir da análise dos resultados apresentados, pode-se considerar que o turismo está evoluindo de forma lenta e gradual nas pequenas cidades. O setor público atua como principal agente incentivador do desenvolvimento do turismo por meio de ações que visam o crescimento da atividade turística na região. De fato, a maior participação é o do poder público municipal das pequenas cidades que se dá, principalmente, através da realização de obras de infraestrutura turísticas e não turísticas. Em relação ao setor privado, pode-se concluir que houve crescimento no âmbito de equipamentos, porém, é um setor que convive com inúmeras dificuldades, como a seca e a crise econômica, que ocasionam o baixo fluxo turístico na região, dificultando a permanência dessas empresas no mercado. Os empresários do setor lamentam a falta de infraestrutura das cidades, de investimentos no turismo e de apoio do setor público à iniciativa privada. Assim, são diversos fatores que afetam o crescimento da atividade turística nas pequenas cidades do Seridó. Observou-se que os três setores não estão atuando de forma conjunta para o desenvolvimento do turismo, e isso pode ser um fator que está dificultando o crescimento do turismo na região, planos e projetos devem ser desenvolvidos para que haja esse engajamento dos setores. A inclusão da população na atividade também é um fator ainda a ser trabalhado. Portanto, a finalidade da pesquisa foi apresentar asituação do desenvolvimento da atividade turística nas pequenas cidades da região do Seridó Potiguar, evidenciando os números do turismo e a atuação das esferas pública, privada e terceiro setor em busca desse desenvolvimento. As dificuldades ao realizar a elaboração deste estudo foram principalmente a limitação do tempo da pesquisa e a ausência de informações do setor público para o levantamento de dados de empregos e equipamentos voltados ao turismo nas cidades de Jardim do Seridó e São João do Sabugi. Essas cidades não XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 23 possuem inventário turístico ou registros documentais para o levantamento das informações necessárias. Devido a pandemia, as atualizações foram realizadas por contato virtual, utilizando o e-mail, porém, alguns municípios, não retornaram contato para as atualizações do ano de 2020 e 2021. Logo, a partir das evidências deste estudo, é possível considerar que esta pesquisa pode ser um meio para contribuir para outros estudos na área, tanto para a academia quanto para os poderes legislativos e executivos das cidades. Sugere-se que novas pesquisas no setor sejam desenvolvidas para que possam, identificar novas questões que impactam o desenvolvimento do turismo nessa região e gerar possíveis soluções para os desafios encontrados. Referências AMANAJÁS, Roberta; KLUG, Letícia. Direito à cidade, cidades para todos e estrutura sociocultural urbana. In: Marco Aurélio Costa (Org.). A nova agenda urbana e o Brasil: Insumos para a construção e desafios à sua implementação. Brasília: Ipea, 2018. Cap. 2. p. 31-44. ARAÚJO, Maria Cristina Cavalcanti; SILVA, Valdenildo Pedro da. Rio Grande do Norte: temáticas contemporâneas da reorganização do território. Natal: Editora CEFETRN, 2007. ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. Rio de Janeiro, PNUD, IPEA, Fundação João Pinheiro, 2013. 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Anexos XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 26 Tabela 1. População residente das cidades pesquisadas XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 27 Figura 1. Mapa com a localização das cidades e o recorte espacial da pesquisa. Figura 3. Posição das cidades pesquisadas em rankings estadual e nacional, 2013. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 28 Figura 4. IDHM das cidades pesquisadas, 2013. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 29 Figura 7. IDHM de longevidade das cidades pesquisadas. Figura 8. Indicativo de renda das cidades pesquisadas. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 30 Figura 9. Indicativo de acesso à educação das cidades pesquisadas. Quadro 2. Quadro funcional dos órgãos municipais de turismo (2021) XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 31 Quadro 3. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Acari, 2017. Parte um XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 32 Quadro 3. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Acari, 2017. Parte dois XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 33 Quadro 4. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Carnaúba dos Dantas, 2017. Quadro 5. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Cerro Corá, 2017. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 34 Quadro 6. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Florânia, 2017. Quadro 7. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Lagoa Nova, 2017. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 35 Quadro 8. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Serra Negra do Norte, 2017. Quadro 9. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Jucurutu, 2017. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 36 Quadro 10. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de Jardim do Seridó, 2017. Quadro 11. Ações e investimentos do setor público do turismo no município de São João do Sabugi, 2017. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 37 Gráfico 5. Número de empresas privadas no setor do turismo nas pequenas cidades (2010). Gráfico 6. Número de empresas privadas no setor do turismo nas pequenas cidades (2019). XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 38 Gráfico 7. Empregos formais no turismo nas pequenas cidades (2016 - 2020). Gráfico 7. Perfil dos clientes dos empreendimentos do setor turístico. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 39 Gráfico 8. Meses de maiores fluxos turístico nas pequenas cidades. XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 40 CÓDIGO: HS0031 AUTOR: MARCIA MICHELE JUSTINIANO LUIZ ORIENTADOR: ANDRE TESSARO PELINSER TÍTULO: MODULAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DO REGIONALISMO LITERÁRIO BRASILEIRO NA FICÇÃO DE MARIA VALÉRIA REZENDE Resumo Este trabalho analisa a obra Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende, investigando como a tradição literária regionalista manifesta-se no romance, a partir da representação do espaço sertanejo e de símbolos que se inserem nessa tradição. Para tanto, examina-se como a personagem principal constrói sua identidade ao experimentar o sertão e suas regionalidades. Investiga-se, ainda, como a crítica literária tem discutido a presença do regionalismo na contemporaneidade e como tal discussão reflete na adesão ou recusa da autora à vertente regionalista. Com isso em vista, são analisadas duas entrevistas concedidas por Valéria Rezende ao jornal Paraíba Já (2016) e ao blogue Livro & Café (2020). Constata-se que há ressonâncias da tradição regionalista no texto de Rezende, pelo diálogo com topoi literários caros a essa vertente, como os símbolos culturais, as identidades locais e o duelo entre o tradicional e o moderno, embora a autora rejeite o qualificativo de regionalista e qualquer relação da sua obra com essa corrente literária. Palavras-chave: Regionalismo. Regionalidade. Outros cantos. Maria Valéria Rezende. TITLE: MODULATIONS OF BRAZILIAN LITERARY REGIONALISM IN THE FICTION BY MARIA VALÉRIA REZENDE Abstract This work analyzes the novel Outros cantos (2016), by Maria Valéria Rezende, investigating how the regionalist literary tradition manifests itself in the novel, through the representation of the hinterland as well as through the use of symbols that are part of that this literary tradition. For such, the paper examines how the main character builds up her identity through the experience of being in contact with the hinterland and its regionalities. It also investigates how literary criticism has discussed the presence of regionalism in contemporaneity and how such discussion reflects on the author’s adherence or refusal to being associated to regionalism. Bearing that in mind, two interviews granted by Valéria Rezende to the newspaper Paraíba Já (2016) and to the blog Livro & Café (2020) are analyzed. The article concludes that there are resonances of the regionalist tradition in Rezende’s work, which can be seen in the use of literary themes that concern that literary branch, such as cultural symbols, local identities and XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 41 the feud between the traditional and the modern, although the author rejects the qualification of regionalist and any relation between her work and this literary strand. Keywords: Regionalism. Regionality. Outros cantos. Maria Valéria Rezende. Introdução Os costumeslocais, as tradições rurais, as paisagens e os símbolos culturais estão presentes na literatura brasileira desde o século XIX, principalmente durante o Romantismo, que tinha o propósito de se diferenciar da Europa e conquistar uma independência nacional e literária. Desse modo, os românticos evidenciaram várias características locais, recorrendo a imagens e metáforas da natureza para cantar a nação brasileira, originando os traços que ficariam conhecidos como cor local. A cor local acabou gerando uma crença de que na natureza, no campo e no interior se poderia encontrar a brasilidade autêntica, de modo que os habitantes desses espaços passaram a ser considerados representantes da nacionalidade. De maneira semelhante à forma que os românticos cultuaram o indígena como herói nacional, a figura do homem do campo também foi mitificada como herói e representante das regiões que supostamente não haviam sido afetadas pelos costumes estrangeiros. No entanto, nem todos colaboraram com essa ideia; Mário de Andrade, por exemplo, foi um dos que condenaram a tradição literária regionalista, afirmando que ela não poderia ser nacional: [...] o regionalismo, esse não adianta nada nem para a consciência de nacionalidade. Antes a conspurca e depaupera, lhe estreitando por demais o campo de manifestações e por isso a realidade. O regionalismo é uma praga antinacional (ANDRADE, 2008, p. 554, grifos nossos). Nesse viés, Mário de Andrade delimita a corrente regionalista como incompatível com uma arte nacional, afirmando que o regionalismo é uma arte restrita, caracterizada pela descrição ou documentação da realidade. Ele passa a tratar essa tradição literária como um “inimigo” a ser combatido, e, ao aderir a essa posição, acaba fazendo reverberar um problema, pois praticamente nega os espaços regionais e as suas diferenças. Essa visão consolidou uma repulsa ao rótulo de regionalista e fez com que escritores nacionais contemporâneos negassem sua vinculação a essa corrente literária, haja vista que não desejam ser associados a uma literatura em que suas obras sejam consideradas ruins. Maria Valéria Rezende, escritora do premiado romance Outros cantos (2016), é uma das autoras que possuem relação tensa com essa corrente e com o qualificativo de regionalista. Em algumas entrevistas veiculadas em domínios midiáticos, Rezende frequentemente expressa sua rejeição à classificação regionalista, a exemplo daquela concedida ao jornal Paraíba Já: XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 42 Eu acho que esse é um rótulo que pode ter tido algum sentido há meio século atrás, mas que na verdade jamais me pareceu importante. [...] Essa mania de querer botar rótulo é uma maneira de afastar a concorrência. Hoje em dia não tem cabimento. [...] A literatura com letra grande, [sic] é a que escrevem os homens brancos de determinada região do Brasil. O resto é regionalismo, é literatura feminina, é literatura negra, é literatura da periferia, é literatura gay (PARAÍBA JÁ, 2016). Ao passo que a escritora rejeita o qualificativo de regionalista, ela examina a construção dos rótulos na literatura brasileira, comentando que no geral a Literatura dispensa qualquer rótulo. Em outras palavras, entende-se que devemos esquecer as classificações, para conseguirmos ter uma Literatura autêntica, não adjetivada. Decorre dessas considerações, a mesma problemática do discurso fundante da crítica literária. Metodologia As literaturas regionais, feminina, negra, gay, etc., possuem especificidades relevantes para a história literária e até mesmo para as lutas e causas sociais. Assumir uma única Literatura é inviabilizar esses temas, questões e autores. Nessa óptica, apagar os rótulos significa apagar parte dessas especificidades, e, ao fazer isso, “o resto” vai sendo avaliado (diga-se julgado) de forma negativa. Portanto, vale ressaltar que a tradição literária regionalista é recuperada pelo diálogo de imagens e temas do passado, e pela forma que esse conteúdo é trabalhado é que podemos relacioná-lo ou não com essa tradição. Como sinalizado, ao longo da história literária, a crítica tem considerado o regionalismo como uma manifestação de má qualidade artística, ligando ao arcaísmo, ruralismo e à cor local. Esse discurso fundante continua sendo reverberado e acaba influenciando os escritores contemporâneos, que costumam recusar a vinculação das suas obras à essa vertente. Dessa forma, buscamos investigar os pontos de contato entre a tradição regionalista e a produção literária atual. Para tanto, nosso objeto de estudo foi a obra Outros cantos (2016), da escritora Maria Valéria Rezende, em que analisamos como se manifestam imagens e símbolos da tradição regionalista na obra. Além disso, fizemos um levantamento de entrevistas concedidas por Rezende, buscando assinalar como a autora adere ou recusa o regionalismo em seu texto. Desse modo, ocorreram reuniões quinzenais divididas em dois momentos. O primeiro foi dedicado à leitura e discussão de textos críticos sobre o regionalismo literário brasileiro. Já no segundo momento, discutimos textos acadêmicos sobre as novas conceituações advindas das ciências sociais, a partir dos temas: memória, identidade, diferença e alteridade. Esses estudos renderam participações em eventos com apresentação de trabalhos. Face ao exposto, explanaremos sobre os resultados e discussões que foram alcançados no período da execução deste projeto de pesquisa. Resultados e Discussões XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 43 A relação de identidade e pertencimento é produzida em toda a narrativa de Outros cantos. A história se constrói pelo retorno da personagem Maria ao sertão nordestino de Olho d’Água, para realizar uma palestra em um sindicato rural. Em uma viagem que oscila entre presente e passado, a personagem, agora com 70 anos, reconta e revive, por meio de flashes de memória, sua primeira vez naquele interior como professora infiltrada no Mobral em tempos de ditadura militar. Relembrando um cenário cheio de dificuldades econômicas, políticas e sociais, Maria ressignifica suas vivências, confrontando-as com o momento presente da narrativa, um cenário pós-moderno repleto de “correria, pressa e velocidade” (REZENDE, 2016, p. 72). Ao dialogar com o discurso local do sertão de Olho d’Água, Maria adentra em uma negociação identitária, refazendo e constituindo sua história. Quando decidi tomar o caminho de volta para minha terra e entranhar-me no sertão, escolhendo o exílio para dentro, [...] pretendi saber tudo de antemão, o já acontecido e o ainda por vir, lendo tudo o que as literaturas me ofereciam. Mergulhar mais fundo na terra e abrir os olhos sob a superfície, porém, permitia ver uma vida miúda, insuspeitável, que não chegava à tona nos livros. A cada passo um espanto, obrigando- me a perguntar tudo a todos (REZENDE, 2016, p. 18, grifos nossos). A personagem, que anteriormente já havia se exilado fora do Brasil, ao cruzar a fronteira para dentro, percebe um lugar totalmente diferente do centro urbano nacional, bem como de outros países e culturas que já havia conhecido. Assim, ela considera estar em uma situação de exílio – em seu próprio país –, ao enxergar a posição de diferença entre si e os sertanejos, entre a cidade e o campo. Esse espanto constitui um jogo de oposições que ocorre desde o título até o final da história. A disposição linguística do pronome indefinido “outro” movimenta um confronto entre passado e presente e uma comparação entre o sertão e outros lugares do mundo, onde a personagem também esteve. Ademais, mobiliza um contraste entre Maria e os sertanejos, como podemos observar no trecho: “lembro-me, no meu primeiro encontro com aquele povo [...] aquela gente que não havia me chamado, não precisavam de mim” (REZENDE, 2016, p. 24, grifos nossos). De maneira análoga,o substantivo “canto(s)” também ganha sentido polissêmico. Presente no título da obra e em diversas passagens da narrativa, a expressão recebe significado popular para denominar algum lugar ou região, como também abarca o significado de cantoria. Em suas lembranças, Maria revive suas experiências na Argélia e no México, confrontando esses “cantos” com sua estadia no sertão. As vozes presentes nesses países se reproduzem em Olho d’Água, quando Maria precisa lidar novamente com um lugar desconhecido: XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 44 Riam à minha volta, com a alegria de quem descobre pela primeira vez o hipopótamo no zoológico. Eu sabia como eles se sentiam, eu também tinha rido assim, bobamente, quando me deparei, havia pouco tempo ainda, com meu primeiro camelo solto, bamboleando livre num palmeiral da Argélia e chegando cada vez mais perto de mim (REZENDE, 2016, p. 15, grifo nosso). Percebendo que tanto fora quanto dentro do Brasil há visões de mundo diferentes, poderíamos dizer que a personagem fica deslocada ao ter que lidar novamente com um lugar desconhecido e aprender com ele. Bauman (2005, p. 19) salienta que “Estar totalmente ou parcialmente ‘deslocado’ em toda parte, não estar totalmente em lugar algum [...] pode ser uma experiência desconfortável, por vezes perturbadora”. Nesse contexto, Maria já havia presenciado a diferença nesses espaços, ao ter que lidar com outras vozes e culturas distintas da sua. Assim sendo, quando Maria se exila no sertão, um local distante da sua realidade e cheio de regionalidades desconhecidas, o sentimento de diferença se reproduz novamente: “Eu havia escolhido voltar à minha terra, pensava, e ela me respondia com uma estranheza tão maior que todas as outras terras que eu havia percorrido” (REZENDE, 2016, p. 13, grifos nossos). Nesse ínterim, ela terá que experimentar as diferenças culturais, físicas, sociais, econômicas e políticas, precisando novamente negociar sua identidade diante de um “outro canto”, isto é, o sertão e as vozes de seu povo. A partir da imagem do outro, inicia-se uma relação entre diferença e alteridade, entre aproximação e espanto, que confronta Maria (“eu”) e os sertanejos (“aqueles”, “eles”, “outros”). Tomaz Tadeu da Silva (2000, p. 82) explica que esses pronomes não são simples categorias gramaticais, mas são evidentes indicadores de posições-sujeitos fortemente marcados por relações de poder. De um lado, temos Maria na condição de intelectual, letrada, que sai da cidade para o campo e, do outro lado, temos os sertanejos “inexperientes de outra vida” (REZENDE, 2016, p. 104), em que a maioria apenas conhecia a realidade do trabalho campestre. É nessa conjuntura que Maria passa a compreender como o mundo se ordena e como fronteiras são delimitadas, as quais, por sua vez, só reforçam posições e relações de poder no tocante ao mundo e ao espaço de que esses personagens fazem parte. Tais relações de poder podem ser vistas como vetores de privilégios e desigualdades: Aprendia eu, a cada dia, muito mais e indispensáveis saberes para a teimosa vida nos mais hostis cantos do mundo do que as letras que eu viera trazer-lhes, úteis apenas em mínimas ilhas de privilégio desigualmente espalhadas no globo terrestre (REZENDE, 2016, p. 28, grifo nosso). Nesse percurso de tensão e confronto, a personagem vai afirmando uma imagem de alteridade que assinala sua relação com aquele espaço, mas também lhe dá a possibilidade de reconstruir sua identidade. Como explica Michael Pollak, XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 45 A construção de identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com os outros (POLLAK, 1992, p. 204, grifo nosso). No entanto, essa negociação vai sendo construída concomitantemente. Maria, por meio das suas histórias, apresenta o mundo aos sertanejos, e eles, da mesma maneira, apresentam a lógica do sertão a Maria: “Eles me ofereciam assim suas histórias, duramente realistas ou risonhamente fabulosas, entremeadas com as minhas, compondo novo xadrez, de mundos diferentes” (REZENDE, 2016, p. 32). Essa relação de troca, de negociação com esse mundo diferente, ensina a Maria como aprender “o que era pertencer, de fato, a um povo” (REZENDE, 2016, p. 32). Dessa forma, para garantir sobrevivência e sucesso em sua missão de professora revolucionária, Maria irá precisar aprender os meandros da vida do sertão. Vemos, contudo, que não será tarefa fácil, uma vez que a vida sertaneja segue uma lógica que lhe é peculiar: Se havia inverno, explicavam, três curtos meses de chuva, então tudo verdejava, sertão afora, e se colhia o que se conseguisse semear [...]. Mais que tudo, alegravam-se com a água a escorrer pelas telhas e a encher sem cobrar tostão, quantos potes, fôrmas, bacias, baldes e panelas [...]. Se não havia inverno [...] só o Dono os podia salvar. [...] O que poderia eu dizer contra um poder invisível? (REZENDE, 2016, p. 33-34). As práticas do campo, os símbolos e os costumes se refletem em questionamentos sobre as práticas de vida e sobre as “leis” estabelecidas naquele espaço. No trecho acima, por exemplo, a chegada do inverno no sertão é marcada pelas práticas do campo: o semear e o colher. Ao mesmo tempo que sem o inverno seria impossível cultivar a agricultura, que sustenta a vida dos sertanejos. Logo, entender o sertão é compreender todo um modo de vida. Disso temos que a noção de identidade não é construída apenas pela diferença entre Maria e os sertanejos, mas, também, pelo contraste dentro da própria região. A dificuldade climática aparece associada a um quadro de poder que reverbera as desigualdades sociais no sertão. Maria percebe que, caso não chova, os sertanejos estão à mercê do Dono – fazendeiro rico – que regulamenta a vida do sertão, através da sua riqueza, estabelecendo regras de sobrevivência e determinando as condições de vida em Olho d’Água. Assim, as práticas do campo que são evidenciadas não são mera ambientação, mas estruturam a própria narrativa e fornecem matéria prima para a construção de todo o drama humano que ali se coloca. Com efeito, a região atua como elemento estruturante do texto literário: XXXII CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DA UFRN eCICT 2021 46 [...] embora ficcional, o espaço regional criado literariamente aponta, como portador de símbolos, para um mundo histórico-social e uma região geográfica existentes. Na obra regionalista, a região existe como regionalidade e esta é o resultado da determinação como região ou província de um espaço ao mesmo tempo vivido e subjetivo [...], momento estrutural do texto literário, mais do que um espaço exterior a ele (CHIAPPINI, 1995, p. 158). Portanto, Maria, ao enredar o tempo passado, apresenta-se de forma conflituosa no que tange ao sertão. Essa relação é comumente vista em obras atuais da tradição regionalista, pelo conflito entre centro e periferia, frequentemente posto em cena por personagens urbanos que não pertencem ao sertão e que, ao conhecer ou retornar ao interior, ficam aflitos em tentar pertencer a algum lugar. Além disso, todas essas práticas de campo e os saberes locais apontam para uma regionalidade específica, que até então era desconhecida pela personagem. Experimentando aprender sobre os percalços do cotidiano sertanejo e na responsabilidade de se sustentar, enquanto não havia capital inicial e material para seu trabalho como professora, Maria se empenha em diminuir sua diferença com o povoado de Olho d’Água, tentando se acostumar com o espaço e seu povo. Para tanto, quem ajuda a personagem a compreender as regionalidades locais é a sertaneja Fátima, conforme Maria descreve no seguinte episódio: [...]
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