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KEUR-QUIRAAM-MG

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE TECNOLOGIA 
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO 
 
 
MOUHAMADOU MANSOUR CABA GAKOU 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
KEUR QUIRAAM (CASA DO FEIXE DE LUZ) 
Uma proposta de habitação coletiva multifamiliar de baixo custo e impacto 
ambiental para população de baixa renda no Senegal 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal – RN 
2019 
 
MOUHAMADOU MANSOUR CABA GAKOU 
 
KEUR QUIRAAM (CASA DO FEIXE DE LUZ) 
Uma proposta de habitação de baixo custo e impacto ambiental para população 
de baixa renda no Senegal 
 
 
Trabalho final, apresentado a 
Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, como parte das exigências para a 
obtenção do título de bacharelado em 
Arquitetura e Urbanismo. 
 
 
Natal, 12 de novembro de 2019. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
________________________________________ 
Prof. Dr. Rubenilson Brazão Teixeira 
Orientador – Morfologia e Usos da Arquitetura (MUsA) 
UFRN 
 
 
 
 
________________________________________ 
Prof. Ms. Marizo Vitor Pereira 
Avaliador Interno – Departamento de Arqueitetura 
UFRN 
 
 
 
 
________________________________________ 
Arq. Viviane Teles 
Avaliadora Externa – Viviane Teles Arquitetos 
 
 
Gakou, Mouhamadou Mansour Caba.
 Keur quiraam: uma proposta de habitação de baixo custo e
impacto ambiental para população de baixa renda no Senegal /
Mouhamadou Mansour Caba Gakou. - Natal, RN, 2019.
 141f.: il.
 Monografia (Graduação) Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
 Orientador: Rubenilson Brazão Teixeira.
 1. Habitação de interesse social - Monografia. 2. Arquitetura
bioclimática - Monografia. 3. Ecotectura - Monografia. 4.
Arquitetura na áfrica - Monografia. I. Teixeira, Rubenilson
Brazão. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.
Título.
RN/UF/BSE15 CDU 728.1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Chérif, Nicole e Malick Dia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pelo sol e pelo seu esplendor 
Pela lua, que o segue 
Pelo dia, que o revela 
Pela noite, que o encobre(...) 
 
(Surata As-Xams (n°97)/O sol – O Alcorão) 
RESUMO 
O anteprojeto arquitetônico de uma casa ambientalmente sustentável para a 
cidade de Thiès, região do Senegal, com ênfase nas propriedades bioclimáticas e 
socioeconômicas e culturais dessa região, consiste no objeto de estudo deste TFG. 
A motivação principal para a realização de um projeto dessa natureza se baseia na 
relação da problemática contemporânea sobre a degradação do meio ambiente 
com a produção arquitetônica deficitária de edifícios adequados nos seus contextos 
bioclimáticos, tornando-os com custo alto e difíceis de aquisição pela população de 
baixa renda. Além disso, este trabalho tem por objetivo elaborar um Projeto de 
arquitetura de habitação de interesse social seguindo os princípios da Ecotectura 
(Ecohouse) de modo a que essa habitação seja adequada à realidade senegalesa 
tanto em termos de sustentabilidade ambiental quanto econômica e cultural, para 
a população de baixa renda. Sendo assim, desenvolver este trabalho se caracteriza 
em reiterar a importância da discussão sobre a questão da produção de habitação 
sustentável, bem como de incentivo à eficiência energética para baratear o custo 
das habitações. Para tal, propõe-se (em dois volumes) a KEUR QUIRAAM ou Casa de 
Feixe de Luz, uma habitação que, baseando-se em 3 eixos de estudo (ambiental, 
socioeconômica e cultural), é ambientalmente sustentável, culturalmente 
adequada e acessível à população de baixa renda em Tivaouane, município de 
Thiès. Por fim, abre-se um leque de novas referências sobre ecotectura e 
arquitetura bioclimática na África. 
 
Palavras-Chave: arquitetura bioclimática, ecotectura, arquitetura na áfrica, 
habitação de interesse social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The architectural design of an environmentally sustainable house for the city of 
Thiès, Senegal, with an emphasis on the bioclimatic and socioeconomic properties 
of this region, is the object of this present study. The main motivation for carrying 
out such a project is based on the relationship of contemporary problematics on 
environmental degradation caused by the production of buildings in their 
bioclimatic contexts, making them costly and difficult to acquisition by the low- 
income population. In addition, this work aims to elaborate a Project of housing 
architecture of social interest following the principles of Ecotectura (Ecohouse) so 
that this housing is suitable for Senegalese reality both in terms of environmental 
and cultural sustainability and low-income population. Thus, developing this work 
is characterized by reiterating the importance of the discussion on the issue of 
sustainable housing production as well as encouraging energy efficiency to lower 
the cost of of dwellings. To attend such purpose, we proposed the KEUR QUIRAAM 
or House of Light Beam which is a social housing, based on 3 axes (environmental, 
socioeconomic and cultural), environmentally sustainable, culturally adequate and 
accessible to low-income population of Tivaouane, district of Thiès. Finally, this 
work provides a range of new references on ecotecture and on african bioclimatic 
architecture. 
 
Key words: bioclimatic architecture, ecotecture (ecological architecture), african 
architecture, low-cost housing, sustainable housing. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Localização do Senegal no continente africano. Editado pelo autor. ..... 21 
Figura 2: Localização da faixa do Sahel em relação às suas vizinhas. Fonte: 
https://eros.usgs.gov/westafrica/node/147 ............................................. 23 
Figura 3. Zonas bioclimáticas do Senegal. ................................................ 23 
Figura 4. Mapa de Ecossistemas do Senegal. Fonte: 
http://eros.usgs.gov/westafrica/ecoregions-and-topography/ecoregions-and-
topography-senegal ........................................................................... 24 
Figura 5. Mapas dos níveis de topografia do Senegal. Fonte: PNUD, Senegal, 2018. 26 
Figura 6. Gráficos das variações regionais de temperatura e pluviometria no 
Senegal. Fonte: PNUD, Senegal, 2018. .................................................... 27 
Figura 7. Distribuição da população Senegalesa por gênero. ANSD, Senegal, 2013. 28 
Figura 8. População do Senegal em 2013. Fonte: ANSD, Senegal, 2013. ............. 29 
Figura 9. Grupos étnicos do Senegal. Fonte: https://www.au-senegal.com/cartes-
thematiques-du -senegal,358.html ......................................................... 31 
Figura 10. Quadro de critérios para análise de governança e liderança em países 
africanos e as notas (sobre 10) dadas para o Senegal. Fonte: 
https://mo.ibrahim.foundation/ ........................................................... 33 
Figura 11. Casa de palha. Fonte: Acervo do CRAterre, 2014. .......................... 38 
Figura 12. Habitação tradicional senegalesa. fonte: https://www.planete-
senegal.com/senegal/habitat_traditionnel_senegal.php ............................... 40 
Figura 13. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. Fonte: https://www.club-
des-voyages.com/senegal/photos/architecture-coloniale-(3)-19043-3237.html .... 41 
Figura 14. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. Fonte: https://maison-
monde.com/maison-coloniale-au-senegal/ ............................................... 41 
Figura 15. Exemplarde arquitetura colonial senegalesa. Fonte: 
http://notesditinerance.canalblog.com/archives/2014/02/13/29201036.html .... 42 
Figura 16. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. Fonte: 
https://i.pinimg.com/736x/a2/6f/10/a26f10b84d1cd1a4e3f0c602888c0b25.jpg .. 42 
Figura 17. Igreja católica de Nianing, exemplar de arquitetura contemporânea 
senegalesa. Fonte: https://www.mains-ouvertes-senegal.com/agir/eglise-de-
nianing/ ........................................................................................ 43 
Figura 18. Banco da África, exemplar de arquitetura contemporânea senegalesa. 
Fonte: Acervo do CRAterre, 2014. ......................................................... 44 
Figura 19. Montagem de exemplares de conjuntos habitacionais senegaleses. ..... 45 
Figura 20. Montagem com exemplares de habitat popular regular. ................... 46 
Figura 21. Exemplar de habitat popular irregular. Fonte: Acervo do CRAterre, 2014.
 .................................................................................................. 47 
Figura 22. Exemplar de habitat espontâneo. Fonte: ONU, 2013. ...................... 49 
Figura 23. Exemplar de habitat espontâneo. Fonte: ONU, 2013. ...................... 49 
Figura 26. Programa de habitação. SICAP SA, 2017. ..................................... 78 
Figura 32. Mapa do Senegal com sentidos de crescimento econômico. .............. 96 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1. Distribuição de tipologias de edificações por região. Fonte: ANSD, 
Senegal, 2013. ................................................................................. 37 
Tabela 2. Natureza de envoltória e revestimento das edificações senegalesas. 
ANSD, Senegal, 2013. ........................................................................ 39 
Tabela 3. Informações do programa ZAC. Fonte: ZAC, 2000, modificado pelo autor, 
2019. ............................................................................................ 54 
Tabela 4. Dados da aplicação da política de reestruturação e regulação dos 
assentamentos “espontâneos”. ONU Habitat, 2012. .................................... 55 
Tabela 5. Atuação do setor habitacional. Fall, 2009. ................................... 64 
Tabela 6.Síntese dos eixos abordados. Elaborado pelo autor. ......................... 68 
Tabela 7. Tabela orçamentária de custos. SICAP SA, 2017. ............................ 79 
Tabela 8. Tabela de síntese de eixos estruturantes. .................................... 80 
Tabela 9. Eixos Norteadores. Fonte: Elaborado pelo autor, 2019. .................. 111 
Tabela 10. Pré-dimensionamento. Fonte: Elaborado pelo autor, 2019. ............ 113 
Tabela 11. Pré-dimensionamento. Fonte: Elaborado pelo autor, 2019. ............ 114 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 14 
2. O SENEGAL E QUESTÃO DA HABITAÇÃO PARA POPULAÇÕES DE BAIXA RENDA ........ 20 
2.1. Uma visão geral do país ........................................................................................................ 20 
2.1.1 História .............................................................................................................................. 21 
2.1.2 Geografia e Bioclima ....................................................................................................... 22 
2.1.3 Aspectos demográficos .................................................................................................... 27 
2.1.4 Aspectos econômicos e culturais ................................................................................... 29 
2.1.5 Aspectos políticos ............................................................................................................ 32 
2.2. Os programas de governo para a habitação de interesse social .................................... 34 
2.2.1 Características das habitações no Senegal .................................................................. 35 
2.2.2 Tipologias das habitações no Senegal .......................................................................... 39 
2.2.3 Contextualização política e institucional .................................................................... 49 
3. OS REFERENCIAIS EMPÍRICOS .................................................................... 71 
3.1 Hotel Djoloff - Extensão (por David Guyot) ........................................................................ 72 
3.2. Casa padrão SICAP SA (Société Immobilière du Cap Vert) .............................................. 77 
4. OS FUNDAMENTOS PARA A PROPOSTA ........................................................ 82 
4.1. A Ecotectura: definição e princípios de aplicação para o Senegal ............................... 82 
4.1.1 Sobre a Arquitetura vernacular ..................................................................................... 83 
4.2. O universo de estudo - eixos de análise: a região de Thiès e o povo Wolof ................ 86 
4.2.1. O eixo ambiental ............................................................................................................ 87 
4.2.2. O eixo socioeconômico .................................................................................................. 89 
4.2.3. O eixo cultural: modos de viver/morar e de construir do povo Wolof ................. 90 
4.3 A escolha do terreno ............................................................................................................... 96 
4.3.1 Localização e Justificativa ............................................................................................. 97 
4.4. Condicionantes ambientais................................................................................................. 100 
4.5. Condicionantes legais .......................................................................................................... 103 
4.5.1 O Código de urbanismo e de construção .................................................................... 103 
5. PROPOSTA ......................................................................................... 106 
5.1 O PROCESSO DE CONCEPÇÃO ............................................................................................... 106 
5.1.1 Conceito ........................................................................................................................... 107 
5.1.2. Partido Arquitetônico .................................................................................................. 109 
5.1.4 A evolução formal e espacial ....................................................................................... 114 
5.1.5. Implantação, acessos e zonas de ocupação ............................................................. 117 
5.1.6. Zoneamento e Layout .................................................................................................. 121 
5.2. O PRODUTO ........................................................................................................................... 125 
5.2.1 Fundações ........................................................................................................................ 127 
5.2.2 Materiais construtivos .................................................................................................... 128 
5.2.3 Abastecimento de água ................................................................................................. 129 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 132 
ANEXOS.................................................................................................136 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 138 
 
 
 
13 
 
14 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A partir do ano 2000, algunsestudos (Revista Guardian, BARTSH e MULLER, 
2000) apontaram certas previsões ambientais alarmantes sobre os riscos nos quais o 
nosso século se colocará. Entre elas, o aquecimento climático global devido, entre 
outros motivos, a um “superconsumo” de recursos naturais ou combustíveis tais 
como o petróleo e o gás cuja combustão e transformação gera poluentes nocivos, 
causando a redução da camada do ozônio. Com a crise de petróleo de 1973 e com o 
aumento da população nos centros urbanos na década de 1980 a situação agravou-
se quando começaram a surgir verdadeiros colossos arquitetônicos – edifícios de 
grande porte –, submetidos a uma hemorragia energética e econômica. Sistemas de 
iluminação e de climatização artificiais passaram a ser largamente utilizados, 
dando ao projetista uma posição bastante cômoda perante os problemas de 
adequação do edifício ao clima (LAMBERTS et al. 2014, p. 15). 
Dessa forma, iniciou-se também um processo de diminuição progressiva das 
reservas mundiais daqueles recursos naturais dos quais a sociedade humana 
depende. Um dos maiores responsáveis por esse consumo astronômico são as 
edificações. Por meio delas, emite-se mais da metade de todos os gases que vêm 
modificando o clima, como, por exemplo, uma casa (de estilo padrão residencial da 
Inglaterra) que pode liberar cerca de 6500 kg de CO₂ por ano (ROAF, 2009, p. 19). 
O impacto dos edifícios no meio ambiente tem sido avaliado em várias ocasiões, 
especialmente em 2018. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou alguns dados a respeito da 
situação da poluição mundial do ar e seus efeitos nas habitações. Por ano, 3,8 
milhões de pessoas morrem prematuramente de doenças tais como pneumonia 
(27%); cardiopatias isquêmicas (27%); broncopneumopatias crônicas obstrutivas 
(BPCO-20%); AVC (18%); e câncer do pulmão (8%). A presença dessas doenças está 
diretamente ligada ao aumento da emissão de carbono na atmosfera e mais de 50% 
dessa emissão provém dos edifícios de maneira geral. 
No contexto de países desenvolvidos existem edificações que usam sistemas 
mecânicos de climatização, a fim de oferecer “um melhor abrigo contra as 
mudanças climáticas”. No entanto, nos Estados Unidos – país que, por si só, emite 
15 
 
mais de 25% do CO₂ global anual – são esses sistemas de ar-condicionado que 
representam mais de 40% da energia gerada e utilizada. 
No contexto dos países em desenvolvimento, observa-se ainda outro 
fenômeno de uso de combustíveis sólidos – no caso madeira, resíduos agrícolas, 
dejetos animais e orgânicos, o carvão e a lenha (WHO, 2014). Consequentemente, 
este último contexto é comum ao de muitos países africanos que, juntamente com 
os demais países em desenvolvimento, representam aproximadamente 3 bilhões de 
pessoas recorrendo a essas soluções pela ausência de sistemas de combustíveis 
mais “limpos” e pela falta de recursos, pois não têm acesso a fontes de energias 
menos agressivas ao meio ambiente. Um desses países é o Senegal, conhecido como 
um dos 25 mais pobres do planeta, com um dos IDH1 mais baixos - 164° do mundo – 
(PNUD, 2018), porém, com uma situação macroeconômica estável segundo o Fundo 
Monetário Internacional (2016). 
Apesar desse quadro, o Senegal é um dos países onde a questão da 
habitação, principalmente a sustentável, é pouco estudada, em detrimento da casa 
construída com materiais convencionais e com alto impacto ambiental, destinada 
apenas para pessoas com situação socioeconômica estável. Assim, urge-se pensar a 
habitação no país, levando em conta essa situação cada vez mais grave no país e no 
cenário mundial. 
Nas pesquisas acerca da habitação sustentável no Senegal, encontramos 
alguns trabalhos científicos e propostas arquitetônicas de habitação 
ambientalmente sustentável. Uma delas é a obra da Sue Roaf (2009), Ecohouse: a 
casa ambientalmente sustentável, importante por ter sido vanguardista sobre o 
assunto da ecotectura ou eco-home cujo conceito se constrói em cima de 
propriedades de baixo impacto ambiental, de uma casa que usa materiais e 
tecnologias de baixa energia incorporada e/ou materiais locais. 
Nesse conceito faz-se presente também o uso de artifícios e estratégias 
como painéis fotovoltaicos, grandes aberturas para ventilação e materiais de 
grande ou baixa inércia térmica2, segundo a necessidade do projetista, e 
 
1 Índice de Desenvolvimento Humano. 
2 Definida por Lamberts et al. (2014) como sendo a capacidade de um material em permitir a uma 
edificação armazenar o calor na sua estrutura térmica durante o dia, e devolvê-lo ao ambiente à 
noite, quando as temperaturas externas diminuem. Além disso, segundo Pedrini (2009), a inércia 
16 
 
reaproveitamento de águas usadas e/ou servidas, etc. A obra da Roaf, junto com 
várias outras referências bibliográficas sobre ecotectura, influenciaram as 
primeiras formulações com base no assunto para o desenvolvimento deste trabalho. 
Além das questões socioeconômicas do Senegal considerado como pais 
pobre, a importância da problemática acerca do desequilíbrio ambiental, das 
mudanças climáticas e da grande parte de responsabilidade das edificações sobre o 
fenômeno do aquecimento global, traz a reflexão a partir do seguinte 
questionamento: Como desenvolver uma proposta arquitetônica de habitação de 
baixo custo que seja ambientalmente sustentável, de modo a se adequar à 
realidade bioclimática, socioeconômica e cultural do Senegal? 
Diante deste contexto, foi considerado como objeto de estudo a Proposta de 
uma habitação ambientalmente sustentável (ou Ecotectura) culturalmente 
adequada e acessível à população de baixa renda no Senegal. 
O estudo desta temática torna-se justificável na medida em que se encontra 
desenvolvido no contexto atual de degradação climática do meio ambiente, 
envolvendo aquecimento global, aumento do nível do mar, redução da camada do 
ozônio, recorrência de furacões e outros desastres naturais. 
No Senegal, a partir dos grandes movimentos migratórios para constituir os 
grandes núcleos urbanos inseridos desde o início do século XX, o processo de 
expansão urbana acarretou, por sua vez, um conjunto de problemas ligados à 
qualidade de vida e habitacional, tanto no meio urbano como nas zonas rurais 
menos favorecidas. Assim, a presença da pobreza e o baixo crescimento econômico 
dos países africanos, de forma geral, faz com que a infraestrutura e os recursos 
tecnológicos e energéticos não sejam oferecidos de maneira sustentável em grande 
parte do território, inclusive senegalês – situação que atinge notadamente as 
condições de habitação de boa parcela da população. 
Finalmente – e mais importante ainda –, além da contribuição científica, 
este trabalho pode se tornar uma contribuição pessoal para o Senegal, servindo de 
espelho para mais projetos adequados à cidade e aos seus habitantes. 
 
térmica é uma estratégia usada para fazer com que o clima externo e o clima interno de 
determinada edificação se mantenham diferentes. 
17 
 
O objetivo do presente projeto consiste em elaborar uma Proposta 
arquitetônica de habitação (multifamiliar) de interesse social seguindo os princípios 
da Ecotectura, de modo que essa habitação seja adequada à realidade senegalesa 
em termos de cultura, de sustentabilidade ambiental, além de ser acessível para a 
população de baixa renda. 
Este trabalho se divide, no seu processo natural de construção, em 6 
capítulos e as referências bibliográficas, sendo eles, primeiro, a introdução do 
volume escrito, depois a apresentação do Senegal e descrição da questão 
habitacional local, parte onde far-se-á uma introdução geral do país e dos seus 
programas de governos de Habitação de Interesse Social (HIS).Em seguida, o 
terceiro capitulo tratará dos Referenciais Empíricos, sendo duas referências 
projetuais, analisados também a partir dos eixos de análise anteriormente 
introduzidos. O quarto capítulo consiste no processo projetual, ou seja, os 
fundamentos da proposta do estudo preliminar no qual serão tratados, tanto a 
fundamentação teórica baseada nos princípios da Ecotectura, como a 
contextualização do universo de estudo da região de Thiès e da sua cultura de 
acordo com os eixos de análise escolhidos para o trabalho. Também neste capítulo, 
em seguida, justificar-se-á a escolha do terreno por meio da descrição das 
condicionantes ambientais e legislativas para assim introduzir o conceito e partido 
arquitetônico adotados, o programa de necessidades x pré-dimensionamento e de 
outras ferramentas do processo projetual. Dando prosseguimento, no quinto 
capítulo contempla-se o memorial descritivo das soluções adotadas para a 
proposta. No último capítulo, elencam-se, após o desenvolvimento do trabalho 
como pesquisa e projeto, as considerações finais que antecedem as referências 
bibliográficas. Ao lado deste volume escrito, o segue um segundo caderno que 
também compõe este trabalho, com as pranchas da representação gráfica dos 
desenhos técnicos, como se exige de qualquer proposta arquitetônica. 
Vale salientar, no final desta introdução, que o desenvolvimento dos 6 
capítulos mencionados anteriormente, segue uma mesma lógica estruturada em 
cima dos três (3) eixos de análise - cuja definição de cada um deles será mais 
detalhada no corpo deste documento -: o eixo ambiental (as características 
bioclimaticas e materiais locais), o eixo socioeconômico (as características 
18 
 
socioeconômicas da população do Senegal com ênfase na de baixa e a questão da 
poligamia) e o eixo cultural (as propriedades culturais wolof com ênfase nos seus 
modos de morar e de construir). 
Em caráter introdutório, a definição dos 3 eixos é: 
 Eixo ambiental: Adequação às características bioclimáticas, uso de materiais 
e técnicas construtivos locais; 
 Eixo socioeconômico: Adequação às condições socioeconômicas da 
população de baixa renda; 
 Eixo cultural: Preservação das propriedades culturais, a partir da leitura dos 
hábitos de viver e de morar das culturas locais (neste trabalho sendo 
escolhida a cultura Wolof) 
Esses eixos e os seus termos de definição relacionam-se à arquitetura na 
preocupação do projetista em assegurar ao usuário conforto térmico, acessibilidade 
econômica e apropriação cultural além de promover a sustentabilidade nesses 
aspectos citados. De fato, são a partir deles que serão desenvolvidas todas as 
análises, assim como as ideias e estratégias adotadas na proposta deste trabalho. 
O projeto proposto se volta para um terreno localizado em Tivaouane, município da 
região de Thiès, Senegal. O nome do projeto - KEUR QUIRAM - sendo uma 
habitação coletiva multifamiliar de baixo impacto ambiental, cujo propósito é se 
adequar à realidade bioclimática, socioeconômica e cultural do Senegal, é o 
resultado da mistura de duas palavras, uma na língua wolof e a outra em árabe, 
cujo significado conjunto é Casa do Feixe de Luz3, fazendo alusão ao sentido que 
se procurou dar a habitação – ou seja, um lugar que recebe luz. 
 
 
3 Quiraam vindo do árabe ِ significando Luz da Honra, da Nobreza e da Dignidade كَرأمْ 
 
19 
 
20 
 
2. O SENEGAL E QUESTÃO DA HABITAÇÃO PARA POPULAÇÕES DE BAIXA RENDA 
 
Apesar da problemática da habitação social ser objeto de estudo de muitos 
trabalhos acadêmicos, aqui ela detém uma certa particularidade do universo de 
estudo sobre o qual se discute: Thiès, região do Senegal. Devido a essa região e 
país serem pouco conhecidos, propõe-se reservar este capítulo para fazer uma 
introdução geral do Senegal e um panorama da questão habitacional. No final deste 
capítulo, adentra-se no universo de estudo mencionado anteriormente para analisá-
lo com base nos três eixos deste estudo, cuja definição será detalhada, assim como 
o escopo de parâmetros que os compõem. 
 
2.1. Uma visão geral do país 
 
Tendo como capital Dacar, o Senegal é um país da África ocidental, com 
uma superfície de 196 722 km², tendo como limites o Oceano Atlântico a Oeste, ao 
Norte, o rio Senegal e a Mauritânia, no Leste o Mali, a Guiné Conacri no Sudeste, e 
finalmente no Sul ou Sudoeste a Guiné-Bissau. Ainda dentro do seu território, o 
Senegal tem um enclave, isto é a Gâmbia, país soberano, que tem 740 km de 
fronteiras com o primeiro. 
21 
 
 
Figura 1. Localização do Senegal no continente africano. Editado pelo autor. 
 
A etimologia do nome Senegal, a partir de um cruzamento das considerações 
culturais (tradição histórica oral) e lendas locais junto com a literatura estrangeira4 
(dos colonizadores) pode ser – dentro de várias outras definições –, da deformação 
da expressão da língua wolof suñu gaal que significa “nossa canoa”, mostrando 
assim todo senso de comunidade que reside nela e é, portanto, popularmente 
usada entre os conterrâneos para reiterar a solidariedade nacional. 
2.1.1 História 
As primeiras povoações começaram a se consolidar pela formação, a partir 
do século VII, de reinados tais como: Tekrour, Djolof, Mandingues, Kaabu, etc. 
Dentro deles, o que progressivamente foi se tornando mais poderoso até o século 
XIV era o Império Djolof, cujo povo chamado povo wolof, agrupava subdivisões 
como o Cayor, Baol, os reinados sereer Sine e Saloum, o Waalo e o Fouta-Toro. A 
importância desses reinados para a história da soberania do país tem sido 
representada por meio da resistência manifestada contra a instalação e dominação 
no país inteiro do império colonial francês. 
 
4 David Boilat, Esquisses sénégalaises, 1850. 
22 
 
Do século XVIII ao XIX, muitos dos comptoirs5 fundados desde os séculos XV e 
XVI foram assistindo a instalação do processo de escravidão e de colonização com o 
apoio, desde o século XIV, do comércio triangular (Europa, África e as Américas). 
Neste contexto a França reforça, depois de 1848 a sua dominação no território 
senegalês: Saint-Louis, Gorée, Dacar et Rufisque em municípios francesas e em 
1895 Dacar, promulgado como capital da Afrique Occidental Française (AOF)6 
É apenas em 1960, no dia 20 de agosto que o Senegal, retirando-se da 
Federação do Mali (fusão com Sudão Francês no dia 4 de abril de 1959), teve 
proclamada a sua independência e escolhe o dia 4 de abril como dia comemoração 
da sua soberania. 
2.1.2 Geografia e Bioclima 
 
Em primeiro lugar, o que é Sahel? 
O Sahel, ou região Saheliana, é um cinturão semi-árido amplo, que se 
estende do Oceano Atlântico ao Sudão (e ao Mar Vermelho), com uma média de 350 
km de largura (ver figura). O seu clima é caracterizado por uma estação 
ecologicamente seca de 8 a 9 meses e a outra de precipitações médias anuais entre 
150 e 600 mm, com grande variabilidade em termos de quantidade e duração, 
dependendo dos anos. 
 
5 Pontos de referência utilizados pelos europeus durantes as navegações pela costa africana. 
6 África Ocidental Francesa: é parte da região das colônias, que foram controladas pela França. 
23 
 
 
Figura 2: Localização da faixa do Sahel em relação às suas vizinhas. Fonte: 
https://eros.usgs.gov/westafrica/node/147, acesso em setembro de 2019 
 
 
Figura 3. Zonas bioclimáticas do Senegal. 
Fonte: https://www.au-senegal.com/cartes- 
thematiques-du-senegal,358.html?lang=fr 
acesso em agosto de 2019 
 
A partir da figura 2 acima constata-se uma área significativa de quase a 
metade do território senegalês, localizada na zona bioclimática do Sahel e metade 
https://eros.usgs.gov/westafrica/node/147
https://www.au-senegal.com/cartes-%0bthematiques-du-senegal,358.html?lang=frhttps://www.au-senegal.com/cartes-%0bthematiques-du-senegal,358.html?lang=fr
24 
 
na do Sudão. No entanto, analisando outros mapas, é possível perceber que há uma 
biodiversidade mais fragmentada no país. De fato, os mapas a seguir mostram uma 
diversidade considerável de ecossistemas no Senegal (figura 3). 
A paisagem natural do Senegal oferece, assim, uma grande diversidade de 
ecossistemas, desde prados sahelianos7 no Norte até os manguezais em Baixa 
Casamansa8, passando pelas florestas tropicais densas das profundezas da região 
Sul (USAID, 2005). 
 
Figura 4. Mapa de Ecossistemas do Senegal. 
Fonte: http://eros.usgs.gov/westafrica/ecoregions-and-topography/ 
ecoregions-and-topography-senegal10. 
Acesso em agosto de 2019 
 
 
7 Que é do Sahel. 
8 Nomenclatura dada à região Sul do Senegal. 
9 Zonas escritas no mapa em francês: FL (zona pastoral ferruginosa); W (vale do Rio Senegal); ZAS-
CO (Zona Agrícola do Saloum - Centro Oeste); ZEA (zona de expansão agrícola); ZOT(zona oriental 
de transição); ZS (zona de suporte ou âncora). 
10 Zonas escritas no mapa em francês: FL (zona pastoral ferruginosa); W (vale do Rio Senegal); ZAS-
CO (Zona Agrícola do Saloum - Centro Oeste); ZEA (zona de expansão agrícola); ZOT(zona oriental 
de transição); ZS (zona de suporte ou âncora). 
http://eros.usgs.gov/westafrica/ecoregions-and-topography/%0becoregions-and-topography-senegal
http://eros.usgs.gov/westafrica/ecoregions-and-topography/%0becoregions-and-topography-senegal
25 
 
As regiões semiáridas pastorais do Norte são típicas da zona bioclimática do 
Sahel, e as mais úmidas do Sul fazem parte da zona bioclimática do Sudão. Outras 
regiões, como a Zona Agrícola do Centro-Oeste (ZACO - Zona Agrícola Centro-
Oeste) – também conhecida como Bacia de Amendoim, ou a Zona Agrícola do 
Saloum (ZAS - Zona Agrícola de Saloum) –, são áreas densamente povoadas, 
caracterizadas por alta densidade populacional rural que transformou 
completamente as savanas arborizadas originais. O Leste e Sudoeste (ZOT - Zona 
Oriental de Transição e ZS - Zona do Suporte) é dominada por planaltos lateríticos 
que têm sido poupados em grande parte da expansão agrícola do Oeste, mas que 
está sendo sujeitada a uma extensa exploração de seus recursos florestais. 
Finalmente no Sul, a região chamada de Casamance é conhecida por seus bosques, 
florestas de galeria, pântanos e vales com palmeiras e arrozais. 
No novo Plano Diretor de Dacar de 2016 - Horizon, 2025 -, o Senegal é 
definido, por meio de suas características geográficas e climáticas, como sendo um 
país pertencente à faixa de transição do deserto do Sahara: o Sahel. Do Norte ao 
Sul, a sua paisagem varia das dunas do “Cabo Verde”11 até Saint-Louis, aos 
estuários enlameados do Sul. Aí, a região da Casamansa – isolada do resto do 
Senegal por causa da localização da Gâmbia – é uma zona de baixa altitude, 
enquanto no Sudeste do país encontram-se os contrafortes de Tamgué, cuja altura 
máxima é de 581 m. A maior parte da região Noroeste e Norte é semi deserta, 
enquanto o centro e uma boa parte do Sul do país, com a exceção da Casamansa, 
são dominados por uma savana dita aberta12. (PDU Dacar Horizon 2025, 2016). 
 
11 Nomenclatura aqui utilizada para a região de Dacar, não confundir com o arquipélago do Cabo 
Verde. 
12 Savana com um pouco mais de vegetação, diferente da seca ou da gramínea, apresentando toda 
variação da savana tropical. 
26 
 
 
Figura 5. Mapas dos níveis13 de topografia do Senegal. Fonte: PNUD, Senegal, 2018. 
 
Além de ter uma topografia bastante plana e dois grandes rios – o Gâmbia e 
o Senegal –, o país é caracterizado por uma estrutura geológica da bacia 
sedimentar de arenitos cobertos por sedimentos mais recentes depositados pelo 
vento e pela água, assim como platôs intermitentes cobertos por uma placa dura 
laterítica. (RÉPUBLIQUE DU SÉNÉGAL, AJCI, 2016, p.56) 
Da mesma forma, o clima é geralmente considerado como tropical, com um 
calor relativamente agradável no ano todo e estações seca e pluvial bem definidas. 
De fato, a estação seca (novembro a maio) é caracterizada pela presença de um 
vento quente e seco, características comuns às regiões semiáridas: o Harmatão, 
que vem do Sahara até a região Noroeste do país. Já estação pluvial (junho a 
outubro) ou comumente no Senegal é chamada hivernal, resulta de ventos 
carregados em humidade alta do golfo de Guiné. (RÉPUBLIQUE DU SÉNÉGAL, AJCI, 
2016, p.57) 
 
13 Níveis escritos na legenda em francês, cuja tradução é: Élevée (Elevado/a); Faible (Baixo/a). 
27 
 
A pluviometria média anual varia entre 300 mm, no Norte, e 1200mm no Sul. 
Sugeriu-se agrupar as variações regionais de temperatura e pluviometria, conforme 
a figura a seguir: 
 
 
Figura 6. Gráficos de variações regionais de temperatura e pluviometria no Senegal. 
Fonte: PNUD, Senegal, 2018.14 
2.1.3 Aspectos demográficos 
O Senegal possui uma população de cerca de 15,8 milhões, com uma 
densidade demográfica de 82.3 habitantes por km² (estimativas para o ano de 
2018, ONU-DESA, 2018). A partir do último Censo nacional (2013) desenvolvido pela 
Agência Nacional de Estatística e da Demografia (ANSD)15, e junto a outras fontes, 
levantou-se os seguintes dados: 
 
14 Nos gráficos, as barras azuis representam a pluviometria (em milímetros), as linhas vermelhas 
(temperatura máxima) e as linhas verdes (temperatura mínima) 
15 Agence National de la Statitisque et de la Démographie 
28 
 
- A população senegalesa tem uma repartição por género na ordem de 50,1% de 
mulheres contra 49,9% de homens. Além disso, ela é jovem, com uma taxa de 
fertilidade alta de quase 4.5 filhos por mulher (CIA, 2018), e com metade da 
população abaixo de 18 anos (figura 6). Ademais, a expectativa de vida no país é de 
67-68 anos (ONU-DESA, 2018) 
 
Figura 7. Distribuição da população Senegalesa por gênero. ANSD, Senegal, 2013. 
 
- No período de 2002 a 2013 nota-se um crescimento demográfico de 2,5% em nível 
nacional – e mais especificamente de 3,5% em zonas urbanas e 1,7% em zonas 
rurais. Embora as zonas urbanas tenham uma taxa de crescimento demográfico 
maior, a população ainda é em sua maioria rural representando 54,8 %. A 
densidade demográfica nessas áreas varia de cerca de 77 habitantes por km² na 
região centro-Oeste a 2 habitantes por km² na parte Leste árida. A proporção da 
população urbana passou de 39% em 1988 a 45% em 2013. Uma estimativa da ANSD 
indica que as tendências de urbanização poderão atingir 53% em 2035. 
29 
 
- A proporção de “dependência demográfica”16 corresponde a 83,8 pessoas inativas 
(menos de 15 anos e mais de 65 anos) para 100 potencialmente ativas (entre 15 a 
64 anos) 
- As regiões de Dacar e Thiès são as mais populosas do país, com respectivamente 3 
137 196 habitantes (23,7% da população total) e 1 788 864 habitantes (13,51% da 
população total). 
 
Figura 8. População do Senegal em 2013. Fonte: ANSD, Senegal, 2013. 
 
2.1.4 Aspectos econômicos e culturais 
a. Economia 
Atualmente, a economia do Senegal é baseada no dinamismo dos setores de 
mineração – pelas últimas descobertas de petróleo e gás –, construção, turismo, 
pesca e agricultura – esses dois últimos sendo a principal forma de emprego em 
áreas rurais. O país exporta matérias primas como fosfato, fertilizantes, produtos 
agrícolas e da pesca comercial, entre outros. Apesar dos projetos e investimentos 
promissores na exploração das reservas de petróleo e de gás encontradas desde 
2014, o Senegal ainda é dependente da assistência de doadores, “ajudas” 
internacionais de retorno financeiro pelos imigrantes senegaleses e investimentos 
 
16 Segundo aOrganização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE), a proporção ou 
razão de dependência demográfica é a relação estatística do número de indivíduos (menos de 20 
anos e mais de 65 anos) que supostamente “dependem” cotidianamente das outras pessoas com o 
número de indivíduos (de 20 a 64 anos) “capazes” em assumir essa carga. 
30 
 
diretos estrangeiros. No entanto, nos últimos anos, o Senegal conseguiu manter 
uma taxa de crescimento acima de 5%, também graças às performances no setor da 
agricultura (CIA, 2018). 
Nesse contexto relativamente promissor, ainda há certas estatísticas pouco 
preocupantes, como o percentual de senegaleses em idade de trabalhar (acima de 
15 anos), representado por 58,2% da população total, e do qual 25,7% estão 
desempregados. 
A esses dados cruza-se o percentual da “frequência escolar” – termo usado 
no levantamento estatístico da ANSD (2013) para definir a parte da população que 
tem uma formação acadêmica qualquer – no qual as maiores taxas de ocupação e 
de emprego foram observadas entre as pessoas com essa alguma formação. Isso 
aponta a importância da escolarização para o acesso ao emprego. Todavia, os 
indivíduos que com alguma formação informal apresentam as maiores taxas de 
ocupação (75% em nível nacional), daí surge a observação da forte dimensão do 
setor informal. 
É necessário apresentar alguns dados econômicos, tais como o PIB real, que 
era de 21,11 bilhões em 2017, passou para 23,94 bilhões de dólares em 2019. 
Comparando esses dados, percebe-se uma taxa de crescimento de 6% nesse último 
ano, equivalente a uma renda per capita de $ 1.430,00 dólares. 
Segundo os dados levantados no PDU de 2016, o Senegal conhece, de 
algumas décadas para cá, uma forte urbanização, evoluindo de 23% em 1960 a 45% 
em 2013, ou seja, a população urbana praticamente dobrou, com a previsão de 
chegar a 55% em 2035. 
b. Cultura 
Segundo Ibrahima Thiaw, no seu artigo História, cultura material e 
construções identitárias na Senegâmbia (2012), a cultura – principalmente a 
material – é suscetível de fornecer informações-chave sobre a história social de um 
determinado povo, tal como sobre as questões ligadas à identidade do mesmo. 
31 
 
O autor senegalês acrescenta que, do ponto de vista das identidades, a 
região da Senegâmbia é um mosaico de espaços e populações, cujas histórias foram 
configuradas em decorrência de conflitos, negociações e acordos ao longo dos anos. 
Assim, essa mesma região é culturalmente um conjunto plural. Historicamente o 
Senegal oferece um dos contrastes mais diversos: os Mouros ligados aos árabes e 
berberes, os Peuls originários da alta Egípcia – origem muito estudada pelos 
trabalhos de Dr Cheikh Anta Diop –, os Nigritianos17 (ou os negros) nativos vindos do 
centro da África e compostos pelas etnias Wolofs, Sereres, Diolas, Bainounkas e 
Balantes. De fato, todas elas constituem um caleidoscópio de nações étnicas 
exibindo tantas diferenças no âmbito físico, linguístico, de organização 
sociopolítico, de modos de morar e de construir. 
 
Figura 9. Grupos étnicos do Senegal. 
Fonte: https://www.au-senegal.com/cartes-thematiques-du -senegal,358.html 
Acesso em outubro de 2019 
 
17 De Nigrite (tradução de Nigritie), que segundo Bouillet, 1842 é povo dos negros ou do Sudão. 
 
https://www.au-senegal.com/cartes-thematiques-du%20-senegal,358.html
32 
 
O último levantamento estimativo da repartição dessas etnias em nível 
nacional deu seguintes resultados: 37,1% de Wolof, 26,2% de Pular ou Fula ou Peul , 
17% de Serer, 5,6% de Mandinka ou Mandigos , 1,4% Soninke e outras na ordem de 
8,3%. (CIA, 2017) – o Wolof sendo assim a língua mais falada no Senegal e 
considerada franca nas transações comerciais entre as comunidades étnicas, como 
mostra a imagem 8. 
Não se pode desconsiderar o impacto da presença francesa, tanto na 
colonização como na imigração contemporânea, influenciando a arquitetura, a 
cultura urbana e os espaços acadêmicos e administrativos, assim como 
institucionais. 
 
2.1.5 Aspectos políticos 
Conhecido pela sua estabilidade política e por ter uma tradição histórica 
pacificadora de conflitos regionais ou internacionais, o Senegal passou por quatro 
regimes políticos e hoje está sob a tutela do presidente Macky Sall desde 2012. 
O país é uma república semipresidencialista. O presidente é eleito, desde 
2001, para um mandato de cinco anos – anteriormente de sete anos – por eleitores 
adultos. (RÉPUBLIQUE DU SENEGAL, 2001) 
Atualmente o país tem uma cultura política democrática, e uma das 
transições democráticas pós-coloniais mais bem-sucedidas na África. Os 
administradores locais são nomeados e responsabilizados pelo presidente. 
Embora o Senegal seja um estado laico, os marabutos – líderes religiosos das 
várias irmandades muçulmanas do Senegal – também exerceram uma forte 
influência política no país. Entretanto, existe tolerância religiosa. As festas cristãs 
são celebradas e respeitadas pelas diferentes irmandades muçulmanas e por outras 
comunidades, isto em um contexto de predominância de 92% de muçulmanos sobre 
7% de cristãos e 1% de animistas, havendo tolerância. (CIA, 2017) 
Por fim, a Fundação Mo Ibrahim, desde 2006, especializada, em analisar de 
modo crítico a governança e liderança dos países africanos a fim de acompanhar a 
qualidade de vida dos cidadãos africanos, é uma referência conhecida no mundo 
para servir de ferramenta de avaliação da governança das repúblicas africanas. 
33 
 
Todo ano essa fundação publica um relatório de classificação, no qual cada 
país do continente recebe um índice avaliativo Ibrahim de Governança, no qual o 
Senegal ocupou a 10ª posição no ano de 2018. A classificação estabelece 4 critérios 
para avaliar de modo geral a governança de um país: 1) Segurança e Estado de 
Direito; 2) Participação popular e direitos humanos; 3) Sustentabilidade econômica; 
4) Desenvolvimento humano. Cada critério é composto por variáveis pelas quais 
todo país analisado recebe uma nota sobre 10, como consta no quadro abaixo para 
o caso do Senegal. 
 
Figura 10. Quadro de critérios para análise de governança e liderança em países africanos e as 
notas (sobre 10) dadas para o Senegal. Fonte: https://mo.ibrahim.foundation/. Acesso em 
novembro de 2019 
 
 
 
 
 
https://mo.ibrahim.foundation/
34 
 
2.2. Os programas de governo para a habitação de interesse social 
 
Em referência ao objeto de estudo deste trabalho, depois de fazer uma 
introdução geral sobre o Senegal, é importante descrever o contexto da produção 
de habitação de interesse social presente no país. Para tal, tomaram-se como 
referências o relatório da CRAterre de 2014 sobre a análise do contexto da 
construção no Senegal, o Censo Geral da População, do Habitat, da Agricultura e da 
Pecuária de 2013 – realizado pela Agência Nacional de Estatística e Demografia do 
Senegal –, o “Profil du secteur du logement au Sénégal”, desenvolvida pela ONU 
Habitat em 2012, que, ao lado de outras usadas neste trabalho, se mostrou 
bastante detalhada, recente e muito utilizada em muitos outros trabalhos 
científicos sobre Habitação no Senegal. 
A partir da introdução geral acerca do Senegal tratado anteriormente, 
propõe-se fazer uma caracterização das diferentes habitações construídas no 
Senegal e classificá-las em tipologias, sejam elas de interesse social ou não. No que 
tem a ver especificamente com a Habitação de Interesse Social (HIS), em um 
primeiro momento, levando em consideração a evolução histórica do Senegal desde 
a “sua independência”, far-se-á uma contextualização política e institucional da 
produção habitacional a fim de desenhar um mapa de todas as instituições e 
políticas existentes nesse sentido. Em seguida, serão apresentados programas, 
planos e estratégias adotados pelo governo para a habitação de interesse sociale 
decorrentes do corpo institucional anteriormente descrito. Na sequência, vale 
descrever também os atores do setor (na parte da produção) da habitação de 
interesse social, estabelecendo a relação deles com a atual demanda pela 
população de baixa renda. Isto é, para avaliar em que medida a produção atende 
as necessidades do público que interessa a este trabalho ou se as habitações 
produzidas são destinadas a um outro público. Por fim, esta seção do trabalho se 
encerra com a análise dos materiais utilizados para a construção de HIS que 
certamente têm um impacto sobre a viabilidade econômica das habitações tanto 
para os atores como os beneficiários. 
Vale salientar que a maioria dos dados coletados concernem a cidade de 
Dacar, pela dificuldade de levantamento de dados mais detalhados para as outras 
35 
 
regiões e cidades do país, situação relatada igualmente pela Agência Nacional de 
Estatística e da Demografia do Senegal no último Censo Nacional de 2013. Mas, 
também pelo fato da capital Dacar receber mais investimentos em produção de HIS 
e, consequentemente, por ser a mais populosa, torna-se a cidade mais 
problemática em termo de déficit habitacional da sua população. 
 
2.2.1 Características das habitações no Senegal 
 
A partir das referências mencionadas acima, junto com o relatório técnico 
sobre a identificação do contexto, tanto da produção de habitações como do setor 
da construção no Senegal desenvolvido pelo laboratório francês CRAterre 
(Grenoble, França) em 2014, elabora-se a seguinte classificação de tipos de 
habitações no país: 
 casa térrea (maison basse) 
 casa com mais de um andar - sobrado (maison à étages) 
 apartamento (appartement) 
 cabana e barraca (case) 
Esta classificação, tirada do estudo desenvolvido pela ONU Habitat em 2012 
que trata de um relatório sobre o perfil da habitação no Senegal, parte de algumas 
considerações iniciais sobre a relação entre as condições do habitat e as várias 
condições socioeconômicas existentes no país. De fato, os múltiplos estados das 
habitações são marcados pelas desigualdades sociais existentes, isto desde a época 
da colonização até os dias de hoje. (ONU, 2013). 
Durante a era colonial, a organização das cidades senegalesas era 
caracterizada por uma separação entre os franceses e os indígenas negros (ONU, 
2013). Separação perpetuada após a independência entre bairros residenciais de 
estilo europeu com todos os serviços e infraestruturas básicos e bairros populares 
ou assentamentos precários, sem atendimento pelos serviços e infraestruturas 
essenciais para um mínimo de qualidade de vida. Até hoje, nota-se em Dacar (a 
capital), por exemplo, que a partir do desenho urbano da cidade e dos 
investimentos feitos pelo Poder Público, consegue-se identificar a discriminação 
36 
 
social e espacial entre os bairros. Até na literatura a observação tem sido feita pelo 
escritor Abdoulaye Sadji dentro da descrição passageira de Dacar em sua obra, 
Maimouna (1958), cuja protagonista do mesmo nome assiste à sua primeira visão da 
cidade: 
Nos limites da cidade de pedra, as aglomerações nativas se 
espalhavam vermelhas e poeirentas: comparadas aos novos bairros, 
alegres e pitorescos que cresciam no centro, no platô e na rocha, 
essas aglomerações evocavam, por seus aspectos sórdidos, a miséria 
e decrepitude que se espalharam por todo o país (SADJI, 1958).18 
 
Falando especificamente em números, relata-se abaixo a evolução do ano de 
2002 ao de 2013, a partir dos levantamentos para os Censos nacionais dos 
respectivos anos pela ANSD, de que em nível nacional, da população vivem 
(CRAterre, 2014): 
 56,2% (2002) / 57,2% (2013) em casas térreas; 
 30,8% (2002) / 21,9% (2013) em cabanas 
 2,5% (2002) / 23% (2013) em barracas; 
 8,5% (2002) / 15,9% (2013) em casas de +1 andar; 
 0,7 % (2002) / 2% (2013) em apartamentos; 
Esses dados mudam de acordo com a região analisada. Em Dacar, por 
exemplo, há uma situação particular que se apresenta (Tabela 1) com 48,8% das 
famílias morando em casas térreas (maisons basses), 41,7 % em sobrados (maisons à 
étages), e as menores percentagens são notadas nas barracas, apartamentos e 
cabanas, com respectivamente 2,3%, 5,5% e 1,2%. (ANSD, 2013). 
Para a região de Thiès (tabela 1), como as demais do país, observa-se que 
mais da metade das famílias habitam casas térreas, e que as casas de mais de um 
pavimento junto aos apartamentos não são muito encontradas com taxas menores 
de 10%. (ANSD, 2013). 
 
 
18Aux confins de la ville de pierre, les agglomérations indigènes s’étalaient rousses et poussiéreuses : 
comparées aux quartiers neufs, riants et pittoresques qui champignonnaient dans le centre, sur le plateau et 
sur le roc, ces agglomérations évoquaient, de par leurs aspects sordides, la misère et la décrépitude qui 
s’étalaient partout à l’intérieur du pays (SADJI, 1958). 
37 
 
Tabela 1. Distribuição de tipologias de edificações por região. Fonte: ANSD, Senegal, 2013. 
 
 
Esses dados são coerentes e evidenciam a conjectura da predominância de 
casas térreas em nível nacional. Todavia, não se trata aqui da mesma casa térrea 
com a mesma forma, usando os mesmos materiais construtivos e contendo a mesma 
quantidade de ambientes. Com efeito, no relatório da CRAterre (2014) constata-se 
que há uma diversidade de casas térreas, cuja chamada tipologia construtiva vai da 
simples casa tradicional de um ambiente em fibras e palhas (Figura 11) até da casa 
em bloco de cimento e estrutura de concreto armado. 
 
38 
 
 
Figura 11. Casa de palha. Fonte: Acervo do CRAterre, 2014. 
 
Entretanto, no Recensement Général de la Population et de l’Habitat, de 
l’Agriculture et de l’Élevage (RGPHAE)19 de 2013, produzida pela ANSD – apesar 
dessa diversidade ser confirmada a partir do levantamento dos materiais de 
construção usados para as habitações20 –, percebe-se que há uma certa 
predominância do tipo casa térrea, cujas paredes são feitas em bloco de cimento e 
concreto. De fato, no meio urbano, este tipo de casa representa 85,7% e é ainda 
forte no meio rural onde 1 em 2 casas é do mesmo material. Em Thiès, a mesma 
constatação é feita com 85,3% das habitações em cimento, como mostra a tabela 2. 
 
19 Censo Geral da População, do Habitat, da Agricultura e da Pecuária. 
20 No RGPHAE, este levantamento trata de analisar a repartição das habitações segundo a natureza 
da envoltória. 
39 
 
Tabela 2. Natureza de envoltória e revestimento das edificações senegalesas. ANSD, Senegal, 
2013. 
 
 
2.2.2 Tipologias das habitações no Senegal 
 
Antes de adentrar na listagem dos tipos de habitações, é preciso estabelecer 
a diferença entre tipologia e características de uma habitação. Considerando que a 
tipologia existe apenas se houver vários tipos, então faz-se necessário apresentar o 
conceito do tipo em arquitetura. Introduzido desde 1825 pelo teórico francês 
Quatremère de Quincy em Encyclopédie Méthodique - Architecture (3° volume), 
inscreve-se no conceito das preceptivas então em voga e nele se relaciona com as 
noções de caráter, imitação, decoro e origem da Arquitetura (PEREIRA, 2012). 
Dentro da variedade de definições ao longo da história, Quincy define assim o tipo 
como a ideia por trás da aparência individual do edifício como uma forma ideal, 
geradora de infinitas possibilidades, da qual muitos edifícios dissimilares podem 
derivar. (QUINCY apud PEREIRA, 2012) Ele adiciona que: 
 
Cada um dos principais edifícios deve encontrar em sua destinação 
fundamental, nos usos que lhe concernem, um tipo que lhe é 
próprio. A arquitetura deve tender a se conformar, da melhor forma 
possível, a este tipo se quer imprimir, a cada edifício, uma 
fisionomia particular. (QUINCY apud PEREIRA, 2012) 
 
40 
 
Assim, para ter uma visualização das diferentestipologias que existem no 
Senegal, outros estudos juntam-se às definições referenciadas acima. Um deles é o 
da ONU Habitat (2012) que distingue 3 categorias de habitações: 1) Habitação 
regular (prédios e casarões); 2) Habitação “espontânea”; e 3) Habitação do tipo 
vilarejo; 
No entanto, essa última classificação, além de ter sido feita em aplicação 
apenas na região de Dacar, é considerada um pouco limitadora para este trabalho, 
Motivo pelo qual recorreu-se à análise feita de M. Mbacké Niang21 (para a CRAterre) 
sobre a paisagem do edificado, estabelecendo as seguintes tipologias: 
 
a. A arquitetura tradicional, feita principalmente de madeira, palha 
e/ou de terra crua (banco, adobe), sendo a tradução das técnicas 
vernaculares junto aos hábitos de morar da cultura correspondente 
 
Figura 12. Habitação tradicional senegalesa. Fonte: https://www.planete-
senegal.com/senegal/habitat_traditionnel_senegal.php; Acesso em agosto de 2019 
 
 
b. A arquitetura colonial em pedra, madeira ou aço e de terra cozida 
(bloco cerâmico), que é o legado deixado pela colonização francesa 
representativa das instituições de poder e das residências luxuosas de 
 
21 Arquiteto, Pesquisador e Professor Senegalês, ex Presidente do Conselho dos Arquitetos do 
Senegal. 
 
https://www.planete-senegal.com/senegal/habitat_traditionnel_senegal.php
https://www.planete-senegal.com/senegal/habitat_traditionnel_senegal.php
41 
 
membros privilegiados da classe social francesa, podendo ser, além dessas, 
espaços antigamente destinados às atividades comerciais e de prestação de 
serviços (ferroviária, hotel). Algumas dessas edificações estão preservadas / 
bem mantidas e outras estão sem conservação e em desuso. 
 
 
Figura 13. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. 
Fonte: https://www.club-des-voyages.com/senegal/photos/ 
architecture-coloniale-(3)-19043-3237.html; 
Acesso em outubro de 2019 
 
Figura 14. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. 
Fonte: https://maison-monde.com/maison-coloniale-au-senegal/; 
Acesso em outubro de 2019 
https://www.club-des-voyages.com/senegal/photos/%0barchitecture-coloniale-(3)-19043-3237.html
https://www.club-des-voyages.com/senegal/photos/%0barchitecture-coloniale-(3)-19043-3237.html
https://maison-monde.com/maison-coloniale-au-senegal/
42 
 
 
 
Figura 15. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. Fonte: 
http://notesditinerance.canalblog.com/archives/2014/02/13/29201036.html; 
Acesso em outubro de 2019 
 
 
Figura 16. Exemplar de arquitetura colonial senegalesa. Fonte: 
https://i.pinimg.com/736x/a2/6f/10/a26f10b84d1cd1a4e3f0c602888c0b25.jpg; 
http://notesditinerance.canalblog.com/archives/2014/02/13/29201036.html
https://i.pinimg.com/736x/a2/6f/10/a26f10b84d1cd1a4e3f0c602888c0b25.jpg
43 
 
Acesso em outubro de 2019 
 
c. A arquitetura contemporânea, tipo de influência “sudano 
saheliano” ou internacional feita de aglomerados de cimento22, concreto 
armado e vidro que representa, hoje em dia, toda demonstração de poder 
simbólico financeiro que a arquitetura colonial representava para a 
sociedade imperialista da AOF. 
 
Figura 17. Igreja católica de Nianing, exemplar de arquitetura 
contemporânea senegalesa. 
Fonte: https://www.mains-ouvertes-senegal.com/agir/eglise-de-nianing/; 
Acesso em outubro de 2019 
 
 
22 Blocos de cimento com brita e areia, chamado também de bloco de concreto e chamado em 
francês de parpaing ou bloc de béton manufacturé. 
https://www.mains-ouvertes-senegal.com/agir/eglise-de-nianing/
44 
 
 
Figura 18. Banco da África, exemplar de arquitetura contemporânea senegalesa. Fonte: Acervo 
do CRAterre, 2014. 
 
d. Conjuntos habitacionais com “plantas modelos”, atendendo 
públicos diversos de tipologia colonial ou modernista e caracterizando a 
produção habitacional de empresas públicas e privadas como a SICAP23 ou 
SNHLM24, que apresentaremos melhor na parte do trabalho referente aos 
programas, planos e estratégias. Geralmente esses conjuntos podem ser de 
diferentes características, desde de casas térreas e sobrados, como de 
prédios de até 4 pavimentos com apartamentos 
 
 
 
23 Société Immobilière du Cap-Vert 
24 Société Nationale d’Habitations À Loyer Modéré 
45 
 
 
 
 
Figura 19. Montagem de exemplares de conjuntos habitacionais senegaleses. 
Fonte: Banco de dados da Societé Nationale d’Habitations à Loyer Modéré. 
 
e. O habitat popular regular, tradicional de estilo colonial ou eclético, 
tanto em bairros planejados como em outros cuja ocupação é irregular, é 
aquele que é fruto de um cruzamento entre estilos arquitetônicos 
importados com técnicas tradicionais e vernaculares de construção. Esse tipo 
de habitat passa pelo processo normal de construção legal, com 
acompanhamento de pelo menos um técnico da construção cujo projeto tem 
sido desenvolvido ou apenas assinado por um arquiteto, contudo, usando 
materiais e técnicas construtivos que não são locais e que não 
necessariamente se adequam ao clima como afirmado no relatório da 
CRAterre (2014): 
No entanto, esta tipologia não é financeiramente acessível à 
maioria da população e um grande número de construções 
apresenta uma tipologia constituída de parede em bloco de 
46 
 
cimento com estrutura armada de concreto e cobertura de 
telha metálica de uma ou duas águas. (CRAterre, p. 8, 2014)25 
 
 
Figura 20. Montagem com exemplares de habitat popular regular. 
 Fonte: Acervo do CRAterre, 2014. 
 
f. O habitat popular irregular, “convencional” com todas as tipologias 
presentes e uso de vários estilos e materiais. Essa tipologia, de natureza 
informal bem presente nos centros urbanos – ocupando 25%26 da paisagem 
construída nesses centros –, consta a existência da autoconstrução. De 
acordo com o relatório da CRAterre (2014), a autoconstrução é realizada por 
 
25 Cette typologie n’est pourtant pas accessible financièrement à la majorité de la population, et un 
grand nombre de constructions présente une typologie mur bloc de ciment et chaînage béton, 
toiture en tôle à une ou deux pentes 
26 Segundo a ONU Habitat, 2012 
47 
 
profissionais da construção. Na maioria dos casos, os proprietários pela 
edificação contratam os serviços de um mestre de obra ou de muitos 
operários (de competências diferentes). 
 
Figura 21. Exemplar de habitat popular irregular. Fonte: Acervo do CRAterre, 2014. 
 
g. O habitat “espontâneo” precário, típico das favelas e ligados a 
condições insalubres físicas da edificação, difundido em quase todas as 
regiões, tanto no meio urbano quanto rural. Chamada também no francês de 
“habitat ou logement informel spontané”. Essa expansão tem como uma das 
causas, a urbanização galopante, junto ao crescimento demográfico elevado 
e ao déficit habitacional no país, como analisado na Introdução deste 
trabalho. A relação entre este tipo de habitat e o contexto urbano no qual 
ele se inscreve e cresce auxilia a identificação das suas seguintes 
características, elencadas no estudo da ONU Habitat (2012): 
 
 A irregularidade fundiária; 
 Ausência de nivelamento prévio topográfico da base das zonas para 
habitações; 
 Falta de planejamento em termo de loteamento e estreiteza das vias; 
 Inexistência ou insuficiência de equipamentos e infraestruturas 
(escolas, postos de saúde, abastecimento em água, energia e 
saneamento, etc.); 
48 
 
 Vulnerabilidade financeira dos habitantes (ONU, 2013)27 
 
A partir da descrição dada pela CRAterre (2014) sobre um certo tipo 
de habitat informal cujo modo de produção é denominado de 
autopromoção28, percebe-se que se trata do habitat espontâneo. A 
autopromoção é definida então como modo de produção baseado no 
autofinanciamentodo habitat pelos seus beneficiários. Adiciona-se a esta 
definição a da publicação feita pela ONU Habitat: 
 
 Ela consiste no proprietário-financiador contrata um empreiteiro, 
mestre de obra ou operários independentes, esses chamados 
segundo a progressão da obra. O proprietário concebe, sozinho ou 
com a ajuda de um empreiteiro ou técnico de construção, o projeto 
da sua habitação coordenando diretamente ou por delegação. Ele é 
responsável, no geral, pela aquisição e encaminhamento dos 
materiais de construção para a obra. (ONU, 2013)29 
 
Ela constitui 80% do parque urbano construído e, de maneira comum, 
gerando construções de qualidade medíocre. Entretanto, a autopromoção 
permanece o mais acessível economicamente para a população de baixa renda. 
 
27 • L’irrégularité foncière 
• L’absence de nivellement préalable de l’assiette des zones d’habitation 
• Le manque d’ordonnancement des maisons et l’étroitesse des rues 
• L’inexistence ou l’insuffisance d’équipements et d’infrastructures (écoles, dispensaires, 
eau, électricité, assainissement etc.) 
• L’irrégularité et la faiblesse des revenus des habitants 
28 Termo usado pela primeira vez por Michel Coquery (1990): « Autopromotion de l’habitat et modes 
de production du cadre bâti: L’apport de recherches récentes en Afrique noire francophone ». In 
AMIS, Philip et LLOYD, Peter (éd.) Housing Africa’s Urban Poor, Manchester University Press, 
Manchester et New York, pp. 55-70. 
29 Elle consiste, chez le propriétaire-bailleur, à recruter un entrepreneur, un maître-maçon ou des 
ouvriers indépendants appelés tâcherons au fur et à mesure de l’avancement des travaux. Le 
propriétaire conçoit, lui-même ou à l’aide d’un entrepreneur ou d’un technicien du bâtiment, les 
plans de son logement en coordonnant son chantier directement ou par délégation. Il assure 
généralement l’acquisition et l’acheminement des matériaux de construction sur le chantier 
49 
 
 
Figura 22. Exemplar de habitat espontâneo. Fonte: ONU, 2013. 
 
 
Figura 23. Exemplar de habitat espontâneo. Fonte: ONU, 2013. 
 
2.2.3 Contextualização política e institucional 
O contexto político e institucional do setor da habitação é importante para 
entender as dinâmicas formais nele presente a partir das ações implementadas 
pelo governo do Senegal, desde a sua independência. Até aqui, foi questão de 
50 
 
analisar as características do setor de produção habitacional de uma forma mais 
geral, inclusive com uma breve descrição das tipologias edílicas. Porém, esta parte 
do trabalho tratará de descrever a questão habitacional senegalesa a partir do 
contexto político e institucional, e seu escopo focará apenas nas habitações de 
interesse social – pelo menos, a princípio. Para tal, identificam-se em primeiro 
lugar alguns programas, planos e estratégias desenvolvidos no Senegal, cujo foco 
maior é na região de Dacar. Depois, apresentar-se-á resumidamente, tanto o 
quadro legislativo e regulamentar, como os principais atores da produção no setor 
da habitação (de interesse social). O quadro legislativo e regulamentar é o 
conjunto de textos, leis e regulamentos que participaram e/ou participam ainda 
hoje na construção, estruturação e gestão do setor da habitação. 
Vale salientar que, ainda de forma introdutória – e que será abordada com 
mais detalhes nesta seção –, a questão habitacional senegalesa, caracterizada por 
um corpo legal e de regulamentação tediosa e complexa, por vários motivos (ONU, 
2013): 
 Pouca acessibilidade econômica para a população de baixa renda 
 Existência de uma panóplia de atores institucionais, que no caso, se constitui 
de 12 direções centrais em ministérios diferentes, mas todos “ligados” aos 
processos relacionados à produção do habitat. Logo, essa representação 
institucional fragmentada afeta o setor pela presença de uma disparidade de 
procedimentos e lógicas sobre a habitação de interesse social 
 A concorrência e persistência das práticas informais, desde a aquisição mais 
fácil de glebas ou terrenos, até a construção “mais barata” de habitações. 
Situação diante da qual o poder público, por falta de aplicação das leis e 
regulamentos e de fiscalização do setor (dentre outras razões) se torna 
impotente. 
Por fim, tratar dos atores do setor habitacional de interesse social é, por sua vez, 
um acréscimo excepcional, porém importante, e exploratório sobre outras 
entidades que atuam diretamente na realização de habitações sociais atendendo 
diretamente a população de baixa renda. Qualificam-se esses atores de “outras 
entidades” pelo fato de existir várias atuando no setor, em níveis diferentes tanto 
político, institucional, como social e econômico. 
51 
 
a. Programas, planos e Estratégias 
 
A questão da habitação no Senegal, principalmente em meio urbano, é 
caracterizada também por uma abundância de textos jurídicos e regulamentares 
que favorecem a exclusão de famílias menos instruídas e de baixa renda, 
moradores de bairros periféricos. Entretanto, as políticas e programas que serão 
apresentados têm uma orientação social bem marcante. Esta preocupação social é 
afirmada pelo relatório do perfil do setor da habitação, publicado pela ONU Habitat 
(2012) da seguinte maneira: 
 
 Eles (programas) focam em melhorar as condições de acesso dos 
cidadãos à lotes viabilizados e habitações adequadas e decentes, de 
modo a cumprir o direito à moradia. Eles baseiam-se, também, 
sobre uma vontade de melhoria do habitat urbano e periurbano das 
zonas mais carentes; sobre a criação de fundos destinados à 
viabilização e reestruturação fundiária dos assentamentos ocupados 
pela população vulnerável e vivendo em uma precariedade 
ambiental; e sobre a adoção do novo código da construção. (ONU, 
2013, p. 15)30. 
 
A Carta da política setorial em termo de habitat 
 
De fato, em 2018, o governo do Senegal elaborou uma política para o setor 
da habitação chamada Carta de Política Setorial de Desenvolvimento31. Nela, o 
poder público – por meio do Ministério do Urbanismo, do Habitat, da Construção e 
da Hidráulica32 – estabelece um planejamento estratégico para o período de 2010-
2025. Dentro das problemáticas contextuais em que essa medida se inscreve, há 
uma outra, de crescimento rápido de construções sem planejamento, e tampouco 
qualidade, em relação ao respeito às normas vigentes, assim como a falta de 
 
30 Ils sont axés sur des efforts d’amélioration des conditions d’accès des citoyens à des parcelles 
viabilisées et à des habitations adéquates et décentes, dans le cadre du droit au logement. Ils 
reposent également sur une volonté d’amélioration de l’habitat urbain et périurbain des zones 
pauvres, sur la création de fonds destinés à la viabilisation et à la restructuration foncière des sites 
occupés par les populations vulnérables et vivant dans une précarité environnementale, et sur 
l’adoption d’un nouveau Code de la construction 
31 Lettre de politique sextorielle de développement. 
32 Ministère de l'Urbanisme, de l'Habitat, de la Construction et de l'Hydraulique. 
52 
 
sinergia e coerência desde a pesquisa, concepção, gerenciamento de obras, 
financiamentos e formação da mão de obra (MRU, 2018). 
A mencionada carta tem como objetivo romper, entre outras questões, com 
as práticas inadequadas de ocupação urbana ilegal e providenciar outra, mais 
pertinente, por meio do planejamento de paisagens modernas. 
Para atender tal objetivo, a Carta elenca as seguintes estratégias: 
 
Os dois projetos emblemáticos do Plano de Ação Prioritário do PSE: 
Acelerar o fornecimento de habitação social (em particular através 
da implementação de centros urbanos e da facilitação do acesso à 
moradia pelos membros da cooperativa) e o Ecossistema Nacional de 
construção; Programa de Renovação Urbana - Cidades Verdes 
intensivas em mão-de-obra (PRO-HIMO)"para melhor se encarregar 
das dimensões melhoria do ambiente de vida, preservação do meio 
ambiente e criação de empregos para os jovens; Programa Nacional 
de Desenvolvimento e Modernização de Cidades Religiosas 
(MRUHCV, 2018)33. 
 
De forma sintética, a carta não representa um código ou manual de 
instruções que todos os programas / planos / projetos de habitação devam seguir 
ao pé da letra, mesmo porque, no seu escopo, ela não se estrutura como texto 
regulamentário. Contudo, ela serve como guia base para elaboração de todas as 
iniciativas em direção à produção habitacional no Senegal. 
 
 Operação Parcelles Assainies a ZAC 
Nos anos 1970 o Governo do Senegal, junto ao Banco Mundial (BM), lançam a 
operação Lotes Urbanizados34 com o intuito de promover a habitação para 
população de baixa renda. De fato, graças a um empréstimo financeiro de 8 
milhões de dólares US sem juros feito pela BM em 1972 – e cujo prazo de devolução 
é de 50 anos –, Senegal se comprometeu em sanear e deixar nas condições de 
 
33 Les deux projets phares du Plan d’Actions prioritaires du PSE : Accélération de l’offre en habitat 
social (notamment par la mise en oeuvre des pôles urbains et la facilitation de l’accès au logement 
des sociétaires des coopératives) et Ecosystème national de construction; Le Programme de 
Rénovation urbaine-Villes vertes à Haute intensité de main d’oeuvre (PRO-HIMO) » pour mieux 
prendre en charge les dimensions amélioration du cadre de vie, préservation de l’environnement et 
création d’emplois pour les jeunes; Le Programme national d’Aménagement et de Modernisation des 
Villes religieuses (MRUHCV, 2018). 
34 Parcelles Assainies 
53 
 
salubridade 14.000 lotes (150m²/lote) em uma gleba de 400 hectares, no bairro de 
Cambérène, aptos a receber habitações de interesse social. (ONU, 2013) 
No entanto, apesar de mostrar resultados acima do esperado 30 - 40 anos 
depois em termo de ocupação e densidade, esse projeto habitacional permitiu o 
saneamento de apenas 10.500 lotes dos 14.000 previstos sobre 300 hectares, ao 
invés de 400. Além disso, a operação que, baseada na redução dos custos de 
produção pela redução do tamanho dos lotes e pela escolha de equipamentos de 
qualidade inferior aos padrões da época, não atendeu as populações de baixa renda 
como foi elencado como objetivo inicial. (ONU, 2013). Essa população teve que 
vender os seus lotes a um público da classe média por causa das dificuldades em 
financiar a construção de suas habitações, sem contar com a sobrecarga das 
infraestruturas, devido a um processo de rápida densificação dos lotes da área, o 
que afetou a sua qualidade por terem sido concebidas para atender um número 
menor pessoas. (Cohen, 2007 apud ONU, 2013) 
Seguida da experiência piloto de Parcelles Assainies – hoje um dos bairros 
mais populoso –, o Governo do Senegal implementa o programa Zone 
d’aménagement concerté35 (ZAC) para, como operação piloto, promover o habitat 
de interesse social (HIS). A ZAC é uma disposição da lei sobre o Código de 
Urbanismo de 20 de agosto de 2008 que trata de um perímetro delimitado, dentro 
do qual um organismo, ou representação privada ou pública, intervém em nome do 
governo ou do município para realizar as atividades de: i) terraplanagem; ii) 
instalação do sistema viário; iii) instalação do sistema de drenagem e de esgoto. 
Essas que são prévias à entrega da gleba (ONU, 2013). Os objetivos da ZAC são: 
 Aumentar a produção de glebas viabilizadas, com a finalidade de 
disponibilizar lotes a preços acessíveis; 
 Fornecer serviços urbanos de base; 
 Organizar a crescimento urbano evitando assim, a ocupação “espontânea” e, 
portanto, ilegal. 
Do ponto de vista do solicitante, o acesso a um lote por meio do programa 
ZAC é garantido pelo seu pertencimento a uma cooperativa de habitação social. De 
fato, é por meio da cooperativa que o beneficiário consegue uma linha de crédito 
 
35 Tradução: Zona de Planejamento Concertado. 
54 
 
para a habitação ou, caso tenha recursos próprios para financiar a construção do 
habitat, participar nos custos de viabilização do seu lote (ONU, 2013). 
Desde 2000, o programa ZAC apresentou os seguintes resultados e 
prospecções: 
 
Tabela 3. Informações do programa ZAC. Fonte: ZAC, 2000, modificado pelo autor, 2019. 
ZAC (município) Área da intervenção (ha) Qtde de lotes viabilizadas 
Mbao (Dacar) 230 10 000 
(Diamniado + Thiès + 
Louga + Kaolack + 
Saint-Louis + 
Richard-Toll)* 
Desconhecido 49 000 previstos 
 
Assim, como a operação Parcelles Assainies, o programa ZAC é fruto da 
(pseudo)vontade política do governo senegalês em implementar programas e planos 
para produzir e viabilizar lotes equipados que busquem atender a população de 
baixa renda. Contudo, ainda como no caso de Parcelles Assainies, apesar da ZAC 
ter conseguido elaborar um sistema de viabilização de lotes, favorecendo as 
cooperativas de habitações, estas são compostas de membros cuja renda é um 
pouco mais elevada, que expressam cada vez mais uma forte demanda. 
 
 A política de reestruturação e regulação dos assentamentos 
“espontâneos” 
O decreto 91-748 do 29 julho de 1991 sobre a organização da execução de 
projetos de reestruturação e regularização fundiária de bairros não loteados 
permite a implementação: i) de um operador autônomo privado Fundação Direito â 
à cidade36, que vai ser o prestador de serviços para reestruturação; ii) de um 
sistema financeiro chamado Fundo de reestruturação e regularização fundiária37; 
(ONU, 2013) 
Os objetivos desta política, além da implementação do aparato descrito 
acima, são: 
 
36 Fondation droit à la ville (FDV) 
37 Fonds de restructuration et régularisation foncière (FORREF) 
55 
 
 Equipar os bairros “espontâneos” de infraestruturas básicas; 
 Prosseguir à regularização fundiária. 
A partir de um dispositivo de intervenção, progressivamente implantado pelo 
governo com o apoio de grupos de doação/financiamento (GTZ, AFD, FED), a 
quantidade de lotes regularizadas é estimada em 6469 (REPUBLIQUE DU SENEGAL, 
2010, p. 139). Esta quantidade fraca de realização, após quase 30 anos de atuação, 
mostra toda a lentidão nas operações de reestruturação e de regularização 
fundiária. Alguns especialistas explicam que a lentidão se dá devido ao processo 
complexo da regularização da terra, assim como a pouca disponibilidade de zonas 
de realocação das habitações danificadas. Preconiza-se, então, priorizar a 
reestruturação desses bairros alvos, melhorando as suas condições físicas 
(infraestrutura e equipamentos) e, consequentemente, a qualidade de vida. 
 
Tabela 4. Dados da aplicação da política de reestruturação e regulação dos assentamentos 
“espontâneos”. ONU Habitat, 2012. 
 
 
 Promoção das cooperativas de habitação 
Segundo Serigne Mansour Tall (2009), uma cooperativa de habitação é 
geralmente um agrupamento de pessoas de renda modesta. O sistema de habitação 
cooperativo é relativamente antigo: as cooperativas de aquisição de lotes e de 
autopromoção imobiliária permitiram, por exemplo, a construção em grande escala 
de dois bairros Castors e Derklé, em Dacar. 
56 
 
Expressão mais visível da sociedade civil no setor da habitação do Senegal, 
as cooperativas habitacionais são, assim como Tall afirmou, agrupamentos sociais 
e/ou profissionais, organizados em sociedades anônimas sem fim lucrativo, cujo 
objetivo é de usufruir do direito à propriedade facilitar o acesso a terra aos seus 
membros. (ONU, 2013) 
Mais uma vez o governo do Senegal consolida o seu apoio ao setor do habitat 
social e o seu acompanhamento às cooperativas de habitação por meio da criação 
do Bureau d’assistance aux collectivités pour l’habitat social38 (BAHSO). Esta 
subdireção tem por missão a aplicação das

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