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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR HELOISA SILVA SARAIVA GOMES MODELAGEM MOLECULAR DA BIODEGRADAÇÃO DO CORANTE VERMELHO CONGO POR LACASES NATAL 2022 HELOÍSA SILVA SARAIVA GOMES MODELAGEM MOLECULAR DA BIODEGRADAÇÃO DO CORANTE VERMELHO CONGO POR LACASES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção de título de Mestre em Bioquímica e Biologia Molecular. Orientador: Prof. Dr. Jonas Ivan Nobre Oliveira Coorientador: Prof. Dr. Umberto Laino Fulco Aprovada em: 27/07/2022 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Cláudio Bruno Silva de Oliveira Examinador Externo à Instituição – UNINASSAU Prof. Dr. Edilson Dantas da Silva Júnior Examinador Interno ao Programa – UFRN Prof. Dr. Jonas Ivan Nobre de Oliveira Orientador/Presidente – UFRN FICHA DE AVALIAÇÃO Nº 9/2022 - BIOQ (17.32) Visualize o documento original em https://sipac.ufrn.br/documentos/ informando seu número: 9, ano: 2022, tipo: FICHA DE AVALIAÇÃO, data de emissão: 27/07/2022 e o código de verificação: 30baf4e290 NATAL 2022 https://sipac.ufrn.br/public/jsp/autenticidade/form.jsf Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Saraiva Gomes, Heloísa Silva. Modelagem molecular da biodegradação do corante vermelho congo por lacases / Heloísa Silva Saraiva Gomes. - 2022. 61 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Pós Graduação em Bioquímica e Biologia Molecular, Natal, RN, 2022. Orientador: Prof. Dr. Jonas Ivan Nobre Oliveira. Coorientador: Prof. Dr. Umberto Laino Fulco. 1. Interações intermoleculares - Dissertação. 2. Biorremediação - Dissertação. 3. MFCC/DFT - Dissertação. 4. Rante vermelho Congo - Dissertação. 5. Lacase de Pycnoporus Sanguineus - Dissertação. 6. Lacase de Tratametes Dissertaçãoersicolor - Dissertação. I. Oliveira, Jonas Ivan Nobre. II. Fulco, Umberto Laino. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 539.196 Elaborado por Fernanda de Medeiros Ferreira Aquino - CRB-15/301 Agradecimentos Agradeço primeiramente aos seres superiores que me permitiram aqui estar nesse momento. Agradeço ao professor Jonas Ivan Nobre de Oliveira, em ter aceitado o desafio de me orientar, e agradeço também pela paciência e empatia que comigo teve, agradeço ao amigo Daniel Melo de Oliveira Campos por todo o auxílio, paciência, empatia e coleguismo que teve para com minha pessoa. A amiga e colega Karol, por também me ajudar e incentivar. Agradeço de coração ao Professor Umberto Fulco, por toda a atenção e presteza, ao professor Edilson Dantas da Silva Júnior pelas aulas fantásticas nas quais tive a honra de ser aluna, ao Professor Gilberto Corso pelas excelentes aulas de estatística, Ao Professor Eudenilson Lins de Albuquerque por mostrar o caminho da física quântica, obrigada a Professora Kesia Karina de oliveira Souto Silva, do departamento de Engenharia Têxtil, por toda a empatia, ensinamento e atenção que comigo teve no estágio à docência. Meu agradecimento à professora Zulmara Virgínia de Carvalho do departamento de Ciências e Tecnologia pelas aulas maravilhosas em tecnologia da informação, que abriram meus olhos para o mundo da biotecnologia. Grande professora, mente brilhante, aulas fantásticas! Agradeço a todos os demais professores que fizeram parte desse ciclo, e que apesar de não termos nos conhecido pessoalmente, dedico todo meu carinho a cada docente que teve o cuidado de repassar essa dádiva, que é o conhecimento. Quero deixar claro o quanto vocês são importantes, o quanto o trabalho de vocês é lindo, toda a minha gratidão, de coração, a cada um de vocês! Agradeço ao meu querido companheiro de altos e baixos, Stênio Medeiros, por todo o incentivo desde o início, sem você eu jamais estaria aqui nesse momento, escrevendo sequer essa dissertação, obrigada pela vida, por me dar forças para ir fazer a prova de inscrição do mestrado. Porque naquele momento eu não acreditava mais em mim, talvez eu não estivesse nem viva, e foi você que disse: você vai fazer a prova. Passei, mesmo sendo de uma área completamente diferente da minha graduação e aqui estou eu, concluindo depois de tantas etapas percorridas. Obrigada a Capes pelo incentivo financeiro à essa pesquisa. Obrigada mais uma vez à todos que fizeram parte dessa jornada e agradecer ao próprio mestrado que foi o que me fez manter de pé durante todo esse período turbulento de pandemia do Covid-19. Sabemos de todas as dificuldades que cada um de nós enfrentamos, cada batalha diária, e em meio a todas as turbulências que passei, talvez sequer estivesse viva, sobrevivi a todo o caos e aqui concluo mais essa etapa da minha vida, agradeço a minha família, minha mãe Débora, Meu pai Gilberto, por sempre acreditar em mim e sempre dizer: filha você consegue! Agradeço a minha tia Noêmia, que é mais minha mãe do que tia, agradeço a minha tia Nelma e Laércio, por todo o apoio no início do mestrado. Agradeço a minha avó Silvia que foi a pessoa que mais incentivou minha educação desde o princípio, dedico este momento à senhora, te amo vovó! Dedico também àqueles que já não estão no estado físico da matéria, mas que estão presentes em todos os momentos da minha vida. Em especial meu avô Felizberto, minha tia avó Severina, uma das pessoas que mais amei e amo, obrigada por tudo aonde quer que estejam! Amo todos vocês! Gratidão a todos! Resumo O aumento global da urbanização e da atividade industrial levou à produção e incorporação de moléculas contaminantes aos ecossistemas. Em especial, a poluição dos corpos hídricos por efluentes sem tratamento prévio causa inúmeros danos às espécies que vivem em ambientes aquáticos. Processos biotecnológicos e estratégias físicas, químicas e biológicas têm sido adotadas para eliminar esses contaminantes dos corpos d'água sob estresse antropogênico. Na perspectiva da biorremediação, as lacases são enzimas capazes de degradar compostos fenólicos, aromáticos e não aromáticos, inclusive corantes sintéticos produzidos no âmbito da indústria têxtil. Nesse contexto, o presente trabalho se propõe a analisar qualitativamente (tipo de ligação química), quantitativamente (energia de interação) e de forma comparada os contatos intermoleculares do corante vermelho Congo acoplado às lacases de Tratametes versicolor (CR-LacTv) e Pycnoporus sanguineus (CR-LacPs), inclusive identificando padrões de interação. Para a descrição das energias de ligação individuais do tipo ligante-receptor existentes nesses biocomplexos, utilizamos o esquema de fracionamento molecular com capas conjugadas (MFCC) no escopo da Teoria do Funcional da Densidade (DFT). Os resultados apontam para uma maior afinidade do corante vermelho Congo com a lacase de Pycnoporus sanguineus. No caso, o corante interage com LacPs (LacTv) com uma energia de ligação de -38,26 kcal/mol (-19,26 kcal/mol), com 63,3% (63,6%) dos contatos intermoleculares com os aminoácidos do receptor ocorrendo a partir da região iii (i) desse ligante. Os principais resíduos do complexo CR-LacPs (CR-LacTv) são a ARG161, PHE162, GLY392, GNL160, SER393, PRO391, PHE265 e GLY266 (PHE162, ALA161, GLY266, ALA393, PHE 265, PRO391, PRO160, GLY392), nos quais destacamos a existência de seis (cinco) importantes ligações de hidrogênio e dois (três) contatos hidrofóbicos em CR-LACPs (LacTv). A descrição estrutural e energética das interações dos biocomplexos em questão auxilia no entendimento das diferenças em termos de estabilidade e eficácia de enzimas da mesma família, porém organismos distintos. Consequentemente, possibilitará estudos de aumento da efetividade da biorremediação promovida por tais enzimas após alterações pontuais dirigidas. Palavras-chave: Biorremediação. MFCC. DFT. Interações intermoleculares. Corante vermelho Congo.Lacase de Pycnoporus sanguineus. Lacase de Tratametes versicolor. Abstract The worldwide increase in urbanization and industrial activities has led to the production and introduction of contaminating molecules into ecosystems. Pollution of water bodies by untreated sewage causes numerous damages to species living in the aquatic environment. Biotechnological processes and physical, chemical, and biological strategies have been developed to remove these contaminants from anthropogenically polluted waters. From the perspective of bioremediation, lacases are enzymes capable of degrading phenolic, aromatic, and non-aromatic compounds, including synthetic dyes from the textile industry. In this context, the present work proposes to analyze the intermolecular contacts of Congo red dye coupled to lacases from Tratametes versicolor (CR -LacTv) and Pycnoporus sanguineus (CR -LacPs) qualitatively (type of chemical bonding), quantitatively (interaction energy), and comparatively, including the identification of interaction patterns. To describe the individual ligand-receptor type binding energies present in these biocomplexes, we used the molecular fractionation scheme with conjugated caps (MFCC) in the framework of density functional theory (DFT). The results indicate a higher affinity of the Congo red dye for the lacase of Pycnoporus sanguineus. In this case, the dye interacts with LacPs (LacTv) with a binding energy of -38.26 kcal/mol (-19.26 kcal/mol), with 63.3% (63.6%) of the intermolecular contacts occurring with the amino acids of the receptor from the iii (i) region of this ligand. The major residues of the CR -LacPs (CR -LacTv) complex are ARG161, PHE162, GLY392, GNL160, SER393, PRO391, PHE265, and GLY266 (PHE162, ALA161, GLY266, ALA393, PHE 265, PRO391, PRO160, GLY392), in which we highlight the existence of six (five) large hydrogen bonds and two (three) hydrophobic contacts in CR -LACPs (LacTv). The structural and energetic description of the interactions of the biocomplexes in question helps to understand the differences in terms of stability and efficacy of enzymes of the same family but different organisms. Consequently, it will allow studies to increase the effectiveness of bioremediation promoted by such enzymes following targeted point changes. Keywords: Bioremediation. MFCC. DFT. Intermolecular interactions. Congo red dye. Lacase from Pycnoporus sanguineus. Lacase from Tratametes versicolor. Lista de Abreviaturas e Siglas ALA - Alanina ARG - Arginina ASN - Asparagina ASP - Asparatato GLY - Glicina GLX - Glutamina GNL - Glutamina HIS - Histidina PHE - Fenilalanina PRO - Prolina SER - Serina LEU - Leucina THR - Treonina MET - Metionina TRP - Triptofano VAL - Valina CIS - Cisteína ILE- Isoleucina TYR - Tirosina LYS - Lisina VAL - Valina CR - Congo Red (corante vermelho Congo) LacTV - Lacase de Trametes versicolor LacPs - Lacase de Pycnoporus Sanguineus Kcal/mol – Quilocaloria por mol MFCC – Molecular Fractionation with Conjugated Caps (Fracionamento Molecular com Caps Conjugados) PDB – Protein Data Bank (Banco de Dados de Proteínas) DFT – Density Functional Theory (Teoria do Funcional da Densidade) Kda - Quilodaltons Eº - Potêncial Redox ETE - Estação de Tratamento de Efluentes Lista de Ilustrações Figura 1 - Estrutura 3D da molécula do corante Vermelho Congo. ......................................... 8 Figura 2 - Ilustração representativa do perfil das interações intramoleculares dos átomos de cobre da enzima Lacase. ......................................................................................................... 12 Figura 3 - Estrutura tridimensional da Lacase de Pycnoporus sanguineus co-cristalizada com o corante vermelho Congo (em laranja) (PDB ID: 5NQ7). ..............................................23 Figura 4 - Estrutura tridimensional da Lacase de Trametes versicolor co-cristalizada com o corante vermelho Congo (em laranja) (PDB ID: 1KYA). ......................................................... 23 Figura 5 - Análise da conformação espacial (E1-E13) predominante em cada pH (1-14), com destaque à representação esquemática da conformação mais abundante do corante vermelho Congo em pH 7,2. .................................................................................................... 29 Gráfico 1 - Energia de interação total (em kcal/mol) do corante vermelho Congo com a lacase de Trametes versicolor (CR-LacTv, em rosa) e de Pycnoporus sanguineus (CR- LacPs, em laranja) em função do raio do bolso de ligação r (em Å). Resultados foram obtidos utilizando o funcional GGA B97D e constante dielétrica de 40 no esquema MFCC. 31 Gráfico 2 - Painel gráfico destacando, em ordem crescente de distância (Å), os resíduos mais relevantes que contribuem para os complexos formados pelo corante vermelho Congo e a lacase de Trametes versicolor (CR-LacTv, em pink) e de Pycnoporus sanguineus (CR- LacPs, em laranja). A região e os átomos do ligante interagindo com cada aminoácido estão destacados. A marcação ‘*’ indica que a interação está presente somente em CR-LacPs ...34 Fonte: Autoria Própria. ............................................................................................................. 34 Figura 6 - Visão detalhada dos resíduos mais importantes envolvidos na ligação do corante vermelho Congo com a lacase de Trametes versicolor (Pycnoporus sanguineus) em rosa (laranja). ....................................................................................................................................35 Figura 8 - Visão detalhada, incluindo a distância dos contatos intermoleculares mais importantes da região i (i e iii) do corante vermelho Congo no complexo CR-LacTv (CR- LacPs) em rosa (laranja). As linhas pontilhadas indicam a categoria de interação intermolecular conforme legendado. ........................................................................................40 Figura 9 - Visão detalhada, incluindo a distância dos contatos intermoleculares mais importantes da região ii e iii (ii) do corante vermelho Congo no complexo CR-LacTv (CR- LacPs) em rosa (laranja). As linhas pontilhadas indicam a categoria de interação intermolecular conforme legendado. ........................................................................................41 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 1 1.1 Efluentes industriais têxteis .........................................................................................2 1.2 Impactos ambientais causados pelos efluentes têxteis ..............................................4 1.3 Corantes AZO...................................................................................................................5 1.4 Corante vermelho Congo ............................................................................................ 7 1.5 Biotecnologia e biorremediação ..................................................................................8 1.6 Lacases ......................................................................................................................10 1.7 Decomposição do corante vermelho Congo por lacases dos fungos filamentosos Pycnoporus sanguineus e Trametes versicolor ...................................................................14 1.8 Modelagem molecular .................................................................................................... 16 2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................... 18 3 OBJETIVOS.......................................................................................................................... 20 3.1 Objetivos gerais ..............................................................................................................20 3.2 Objetivos específicos ......................................................................................................204 METODOLOGIA....................................................................................................................21 4.1 Construção dos complexos CR-LacTv e CR-LacPs ......................................................21 4.3 Otimização geométrica por QM/MM.............................................................................. 24 4.4 Cálculo das interações intermoleculares ....................................................................... 24 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................27 5.1 Estado de protonação .................................................................................................... 29 5.2 Análise de convergência ................................................................................................ 30 5.3 Perfil de interação do corante vermelho Congo nos complexos CR-LacTv e CRLacPs .............................................................................................................................................. 33 6 CONCLUSÕES..................................................................................................................... 42 7 PERSPECTIVAS...................................................................................................................44 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................45 1 1 INTRODUÇÃO Na atualidade um grande desafio para a ciência é mitigar os efeitos antrópicos decorrentes do aumento demográfico e do consumo de produtos industrializados que elevam a emissão de poluentes em escala global (ARREGUI, 2019). Dentre esses poluentes emitidos, os efluentes necessitam de uma delicada atenção da comunidade científica, tendo como ponto de partida a preocupação com os aquíferos subterrâneos e corpos d'água em superfície, assim como bacias hidrográficas, mares e oceanos, que são intrínsecos, e seus ecossistemas interligados (RIBEIRO, 2012). O tipo de efluente industrial varia de acordo com o nicho de mercado dessas indústrias. Por exemplo, temos os efluentes orgânicos, os quais são emitidos pela indústria de celulose, biocombustíveis, alimentícia, entre outras. Já no caso da indústria têxtil, os insumos têm comumente natureza sintética; e justamente por não possuírem características orgânicas, originam dejetos de difícil decomposição, como é o caso dos corantes de tecidos (COGO, 2011). Somado a isso, o elevado grau de salinidade e baixo teor de oxigênio desses efluentes tóxicos são fatores limítrofes para determinadas espécies que poderiam degradar naturalmente esses substratos (ZABOTTO, 2019). Porém, com o avanço de estudos na área da biotecnologia, hoje há uma esperança no tocante a decomposição biológica de muitos tipos de substratos que antes seriam inimaginavelmente decompostos por até mesmo uma avançada tecnologia de estação de tratamentos de efluentes (ARREGUI, 2019). Ao longo do tempo foi observado que determinados fungos de podridão branca e negra agiam na decomposição de alguns substratos mais complexos, como por exemplo os compostos fenólicos e aromáticos (BARRETO, 2006). Muitos desses, sintetizam enzimas com a função natural de biodegradar a lignina, um biopolímero que dá sustentação às plantas e protege contra patógenos. Esta enzima em comum pertence à família das lacases, presente em diversas espécies, como fungos, bactérias, plantas e insetos. Essa enzima vem trazendo várias respostas positivas em diversos estudos realizados com uma inúmera quantidade de substratos, trazendo uma esperança para a comunidade científica e para o meio ambiente, tornando resíduos que antes não possuiam tratamento, em resíduos biodegradáveis (ARREGUI, 2019). 2 Neste trabalho, diferentes ferramentas computacionais, especificamente da modelagem molecular, serão utilizadas para o acoplamento de um corante de difícil biodegradação (corante vermelho Congo) em duas lacases fúngicas (Pycnoporus sanguineus e Trametes versicolor). Então, os principais contatos intermoleculares serão descritos em termos qualitativos (natureza da ligação química) e quantitativos (energia de interação). Assim, percebe-se que este será um estudo pioneiro, no tocante às interações de um composto sintético com enzimas durante um processo de biorremediação. 1.1 Efluentes industriais têxteis A água possui um valor imensurável para a vida no planeta terra, porém esse recurso sofre um processo de escassez devido ao desmatamento e a maior parte dos corpos hídricos serem contaminados por poluentes provenientes da indústria em geral. Os efluentes industriais se caracterizam como uma das principais fontes advindas, ocasionando uma série de impactos ambientais que muitas vezes atingem toda uma bacia hidrográfica, além de ambientes lênticos, lóticos, lacustres e marinhos, em que toda a biota a que pertencem esses hábitats sofrem prejuízos, ocorrendo um grave dano ambiental que é o processo de eutrofização (CUNHA & AUGUSTIN, 2014). A indústria têxtil é uma das que mais se beneficiam do uso da água, com seu alto consumo sendo consequentemente uma grande poluidora desse recurso. Esses efluentes têxteis são provenientes das etapas de limpeza, tingimento e acabamento, e sua complexidade se dá principalmente pelos corantes, surfactantes e aditivos, que possuem grande complexidade em suas estruturas químicas, além das elevadas concentrações (ZANONI & YAMANAKA, 2016). No Brasil, muitos efluentes industriais são despejados com pouco ou nenhum tratamento prévio, o que é proibido por lei de acordo com o CONAMA 430/201: “Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados diretamente no corpo receptor desde que obedeçam as condições e padrões previstos em lei, resguardadas outras exigências cabíveis: I – condições de lançamento de efluentes: a) pH entre 5 a 9; 3 b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura do corpo receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura; c) materiais sedimentáveis: até 1 mL/L Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente ausentes; d) regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela autoridade competente; e) óleos e graxas: 1. óleos minerais: até 20 mg/L; 2. óleos vegetais e gorduras animais: até 50 mg/L; f) ausência de materiais flutuantes; e g) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO 5 dias a 20°C): remoção mínima de 60% de DBO sendo que este limite só poderá ser reduzido no caso de existência de estudo de autodepuração do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor;” É importante que essas indústrias possuam estações de tratamento de efluentes ou transportem seus efluentes para onde exista uma ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) que garanta o que está previsto em lei. Porém muitos efluentes provenientes de alguns setores específicos, como o setor têxtil e petroquímico, possuem substratos que mesmo passando por tratamentos adequados, ainda contém compostos que não conseguem ser degradados, por exemplo, alguns tipos de corantes têxteis e alguns resíduos petroquímicos, devido à alta complexidade de alguns desses elementos contidos nos efluentes provenientes desses setores (DIAZ, 2007). A indústria têxtil é a segunda maior poluidora, atrás apenas da indústria petroquímica, descartando variados tipos de materiais que em sua maioria não são biodegradáveis, ocasionando graves impactos ambientais (AZEVEDO, 2010). Além da inúmera quantidade de materiais têxteis, existe uma quantidade significativa de corantes utilizados nesta indústria para o tingimento de fibras e tecidos e que uma alta porcentagem desses corantes possuem metais pesados. Além da alta concentraçãode águas tingidas, despejadas em ambientes aquáticos, podendo 4 ocorrer também a contaminação dos solos, além da morte de inúmeras espécies da fauna e flora, de vários tipos de ambientes distintos. Os efluentes têxteis possuem uma grande variedade de complexas composições, e cada vez mais são criadas fórmulas sintéticas que não necessariamente são biodegradáveis. O que ao longo do tempo pode ocasionar graves prejuízos à natureza e às futuras gerações da vida humana. (ZANONI & YAMANAKA, 2016). A grande problemática atual da indústria têxtil é a degradação de corantes sintéticos, que devido a sua complexidade, há poucos recursos capazes de degradá- los, pois até mesmo tratamentos físicos e químicos avançados, se tornam ineficazes, ainda deixando resíduos tóxicos. No entanto, com o avanço da biotecnologia, atualmente estão sendo estudados métodos naturais de se degradarem esses compostos da forma mais natural possível. Em alguns processos de descoloração enzimática, é possível descolorir quase 100%, em determinados corantes (BELTRAME et al., 2000). 1.2 Impactos ambientais causados pelos efluentes têxteis Na atualidade existe uma gama de fatores que convergem para uma única problemática: a escassez dos recursos naturais. Um fator importante nesse contexto é o aumento demográfico, o qual contribui para um elevado nível de consumo e consequentemente há uma maior demanda por produtos e a indústria necessita atender um número de consumidores cada vez maior, tanto por esse fator, como pela questão da lucratividade (CÂNDIDO & LIRA, 2013). A indústria têxtil, move grande parte da economia mundial, e por sua vez, é a que necessita de um maior consumo de água, para suas funções, o que gera uma grande quantidade de efluentes. Sendo então, a indústria têxtil, a maior poluidora de recursos hídricos, se utilizando de mais de 10.000 tipos de corantes anualmente, que são produzidos cerca de 7x105 toneladas por ano, sendo que deste total 1/10 é rejeitado de forma indevida no meio ambiente, alterando temperatura, pH da água, luminosidade dos corpos hídricos (BA & VINOTH KUMAR, 2017). Os efluentes têxteis são em sua maioria altamente tóxicos e muitos não são biodegradáveis. Atualmente a grande problemática é a contaminação de corpos hídricos, solos, e principalmente espécies da fauna e flora, assim como também a espécie humana. Os efluentes têxteis podem causar sérios danos à saúde humana, 5 como o câncer, por exemplo, já que alguns compostos descartados por essa indústria, são carcinogênicos (ZANONI & YAMANAKA, 2016). Para os ambientes aquáticos o que ocorre é que além de algumas substâncias conterem metais pesados, ainda tem o agravante da coloração, que bloqueia a passagem da luz solar para o fundo desses corpos hídricos ocasionando a morte de toda biota por eutrofização. Diminuindo a demanda bioquímica de oxigênio da água, afetando espécies aeróbias, ocasionando a morte desses, por asfixia. Além da contaminação de outras espécies terrestres que dependem desses corpos hídricos, assim ocasionando desequilíbrio ecológico desses hábitats, também ocorrendo a bioacumulação, processo de contaminação que exerce um efeito acumulativo dentro da cadeia trófica, onde espécies da base da cadeia são contaminados e a partir das outras espécies que se alimentam desse ser, a contaminação vai se proliferando e aumentando ao ponto em que chega ao predador do topo da cadeia, envolvendo a contaminação de todo um ecossistema, por bioacumulação (SOUZA, 2018). Os solos também são afetados, quando ocorre o descarte desses efluentes de forma indevida, havendo a contaminação deste, trazendo graves consequências como a infertilidade do solo, por exemplo, e assim podendo causar a morte de espécies da flora e, consequentemente, da fauna (SENAI, 2003). 1.3 Corantes AZO Na antiguidade os corantes para tingimento de fibras e tecidos eram todos baseados em fontes orgânicas, provenientes principalmente de sementes, folhas e caules de plantas, desta forma eram mais fáceis de serem degradados naturalmente. No século XIX, foram criados os corantes sintéticos, cujo uso se intensificou em meados do século XX. Estes, possuem uma maior complexidade molecular para serem degradados contendo átomos denominados cromóforos responsáveis em dar cor aos corantes, e os auxocromos que possuem a capacidade de concentrar as cores. Os corantes são pequenas moléculas, contendo dois importantes componentes: o cromóforo, que tem a função de dar a cor e o grupo funcional que é responsável em ligar o corante à fibra (ZANONI & YAMANAKA, 2016). 6 Segundo Beltrame (2018), os corantes podem se classificar como: ácidos ou básicos; com complexo metálico 1:1 ou 1:2; com cromo ou enxofre; dispersos; diretos ou substantivos; azóicos ou naftóis; à cuba ou à tinta; reativos; pigmentoso. Pela Tabela 1, observam-se os tipos de corantes e suas respectivas aplicações em determinadas fibras. Dentre estes, aqueles do tipo azo merecem destaque, por serem os mais utilizados no mundo, chegando a um percentual de 70% (Schimmel, 2008). Este tipo de corante, em específico, foi criado em 1858, na Inglaterra por Peter Griess de Diazo e em 1861 já se obtinha uma produção deste composto em larga escala (PINHEIRO, 2018). Na atualidade, existem mais de 34.000 corantes e pigmentos produzidos, segundo a Color Index - publicação conjunta da Society of Dyers and Colourists (SDC) e da American Association of Textile Chemists and Colourist (AATCC) (ZANONI & YAMANAKA, 2016). Composto pelo maior número de corantes sintéticos existentes, os corantes azo são muito utilizados em vários segmentos industriais, como, por exemplo, o da cosmetologia, biomedicina, alimentício, e principalmente no setor têxtil. Fazem parte do grupamento (-N=N-) cromóforo, ligado a um carbono hibridizado sp². Os corantes monoazo possuem uma ligação dupla e conseguintemente os diazos, duas , os triazos três e assim sucessivamente, nesses compostos (X-N=N-Y), o radical X representa a aceitação de elétrons, nos de radical Y doação de elétrons, sendo estes grupamentos, ligados a anéis de benzeno, naftalinos e também aos grupos aromáticos heterocíclicos alifáticos (Zanoni & Yamanaka, 2016). Este tipo de corante é produzido da diazotação de uma amina aromática primária, originando um sal diazolado, sendo este acoplado a uma substância onde geralmente pode ser um fenol, amina aromática ou cetona, dando surgimento ao composto azo, desta forma fornecendo uma larga gama de cores, o que torna seu uso imprescindível para a indústria (ZANONI & YAMANAKA, 2016). Porém devido a suas propriedades carcinogênicas, este tipo de corante atualmente vem sendo proibido em vários países, principalmente nos ramos farmacológicos, alimentícios e cosméticos. Além de causar sérios riscos à saúde humana, este tipo de composto gera aminas como produto final, causando maior toxicidade que o próprio corante em si (PINHEIRO, 2018). 7 Tabela 1 - Classificação de corantes por uso e natureza química. Fonte: colors index (3rd revision), The society of dyers and colourists - American Association of Textil Chemist and Colourists, 1987 In: Peres e Abraão, 1998) Apud (Beltrame 2000) 1.4Corante vermelho Congo Desenvolvido por Paul Bottiger, o corante vermelho Congo ou vermelho do Congo (benzidinodiazobis-1-naftalamina-4-sulfônico) apresenta fórmula e massa molecular C32H22N6Na2O6S2 e 696,66 g.mol-1, respectivamente. Trata-se de um composto (sal sódico) solúvel em água e especialmente em solventes orgânicos (etanol, por exemplo) que produz uma solução coloidal vermelha (Figura 1). Quando sensibilizado pelos ácidos inorgânicos, altera a sua cor do vermelho para o azul. Quimicamente, apresenta anéis aromáticos com os substituintes amino e sulfonato sódico, além de grupamentos azo, pois fazem parte do grupo de cromóforos (-N=N-), carboxila (C=O), nitro (NO2), e nitroso (-N=O), através dos quais são capazes de 8 deslocalizar elétrons intramoleculares. Além destes,possui um grupo central de bifenil e dois naftalenos simétricos, metabolizados em benzina (REIS, 2009). É bastante utilizado em fibras têxteis, com quem apresenta elevada afinidade e predominância, afinal está presente em mais de 70% de todas as indústrias têxteis do mundo. Os corantes com grupo azo, perdem entre 10-20% de sua massa nos processos de beneficiamento de tecidos, o que ocasiona sérios riscos ao ambiente aquático, caso esses efluentes sejam descartados sem um tratamento prévio (PINHEIRO, 2018). Atualmente, é proibido em alguns países, e alguns nichos industriais, como o da celulose, por exemplo, já não o utilizam devido às suas propriedades carcinogênicas, causando sérios problemas à saúde humana (REIS, 2009). Devido a sua alteração de cor, ele pode ser utilizado como indicador de pH, pois quando se encontra em pH 3,0-5,2, ele se altera da cor azul para o vermelho. Por fim, possui altas propriedades espectrométricas, com um pico de 498 nm em seu espectro de absorção do UV-visível (REIS, 2009). Por fim, Figura 1 - Estrutura 3D da molécula do corante Vermelho Congo. Fonte: National Center for Biotechnology Information (PubChem). 1.5Biotecnologia e biorremediação A biotecnologia é uma ciência interdisciplinar em que se utiliza de inúmeras tecnologias correlacionadas a biologia, aplicando-as em diversos outros campos da ciência ou indústria. É o caso da utilização na indústria 4.0, na robótica, eletrônica, internet das coisas, inteligência artificial, entre outras. É uma ciência com um mercado crescente que gera bilhões (SILVA, 2021). 9 A biotecnologia promove o desenvolvimento e soluções através da bioengenharia, podendo obter manipulações genéticas para conseguir benefícios, no caso da criação de plantas transgênicas que podem ser resistentes a determinadas pragas específicas, ou simplesmente não possuírem sementes, tanto para agradar determinado público consumidor, como também evitar concorrência no mercado, criando espécies únicas e que não podem se reproduzir por sementes, apenas por estaquias, ocorrendo a monopolização dessas determinadas espécies (BAJAY, 2018). O que é percebido neste ponto, é que além de inúmeros benefícios o mau uso da biotecnologia pode trazer graves consequências para o futuro, podendo haver a escassez de alimentos, a extinção de espécies, entre outros graves problemas que poderão ocorrer com esses avanços (FREIRE, 2014). É então uma faca de dois gumes, podendo trazer grandes avanços para o benefício do meio ambiente, como pode ocasionar a destruição completa de espécies. No tocante a biotecnologia relacionada a biorremediação, atualmente são realizadas diversas pesquisas a fim de mitigar agentes poluidores, se utilizando de formas biológicas para tal feito. São utilizadas em grande maioria, espécies vegetais, fungos e bactérias, para que haja uma degradação natural ou induzida, mas que o mais próxima possível da forma natural, sem que dessa forma se transformem em resíduos ainda mais poluentes, como acontecem com alguns compostos em estações de tratamento de resíduos líquidos (TRINDADE, 2002). Com a grande necessidade de se encontrar formas de mitigar os impactos ambientais causados pelas ações antrópicas, muitas tecnologias foram criadas no intuito de solucionar a questão da poluição nos solos, atmosfera, rios, lagos, mares e oceanos. Porém o que ocorre com alguns tipos de tratamentos químicos é que surtem efeitos subsequentes podendo gerar outro tipo de fonte poluidora continuando a causar tais impactos ao ambiente (CUNHA E AUGUSTIN, 2014). Atualmente, estudos na biologia vem se intensificando cada vez mais no tocante a encontrar soluções biológicas que aceleram os processos de degradação se utilizando de espécies que conseguem decompor determinadas substâncias e até mesmo criar ambientes em que esses compostos sejam inseridos no processo da cadeia trófica de determinadas espécies, de forma que ocorra total ou quase total decomposição desses poluentes. Podendo solucionar graves problemas de 10 contaminantes que antes não se era possível tratar, ou demandavam custos elevados para produções industriais (ZABOTTO, 2019). A biorremediação se trata de um ramo na ciência que busca através de processos bioquímicos, degradar poluentes em diversos ambientes, sejam eles aquáticos, terrestres ou atmosféricos a partir da utilização de microrganismos aplicados ou presentes no ambiente contaminado (BERNOTH et al., 2000). Segundo Lacerda (2019), biorremediação é um processo biotecnológico que se baseia no uso de microrganismos ou enzimas com a finalidade de eliminar contaminantes ou reduzir sua toxicidade. A biorremediação ocorre de forma que o ambiente natural não sofra graves impactos além disso, possa ocorrer a reversão desses impactos. Muitas técnicas são utilizadas na biorremediação, onde são inseridas espécies vegetais, fungos ou bactérias, para a mitigação dos poluentes, em que muitas pesquisas já realizadas mostram uma alta eficácia na reversão de ambientes contaminados. Esse método proporciona uma maior probabilidade de existir qualidade dos ecossistemas e devolver efluentes com um baixo ou nenhum nível de toxicidade a partir da metabolização dos microorganismos, resultando na degradação natural de determinados compostos (BALAN, 2002). 1.6Lacases As lacases foram descritas pela primeira vez no Japão em 1883, por Yoshida, através do estudo da árvore Rhus vernicifera e foi caracterizada como uma enzima oxidase que possuía metal em sua composição, em 1985, por Bertrand (SILVA, 2006). Mesmo tendo sido uma das primeiras enzimas descobertas, não se atentou para o aprimoramento e estudos detalhados dessa enzima por muitos anos. Porém na última década, esses estudos têm sido intensificados e esta enzima hoje possui uma significativa importância e aplicação em inúmeros nichos do mercado, entre alguns, se destacam: a indústria farmacêutica, indústria têxtil, indústria petroquímica, cosmética, papeleira, entre outras, para diversos fins, como na alimentícia, por exemplo, para diminuir a turbidez de cervejas, para retirar o amargor de vinhos, (silva, 2006). Também é usado na biorremediação dos efluentes destas indústrias, onde a 11 grande diversidade de tipos de lacases possibilitam variadas formas de uso dessa enzima para o tratamento de diferentes tipos de efluentes (ARREGUI 2019). A lacase é uma p-difenol oxidase, pertencentes à família das multicobre oxidases (MCOs) que possui a capacidade de oxireduzir compostos aromáticos e fenólicos. São encontradas em vários tipos de organismos, entre eles, bactérias, vegetais, insetos e fungos. Com tamanhos sequenciais entre 220 à 800 aminoácidos provenientes de aproximadamente 7.300 fontes de organismos celulares diversos, até então, dando uma estimativa de várias possibilidades de aplicações em vários substratos. (Arregui, 2019). As lacases possuem variadas isoformas e diferentes massas molares que estão associadas às condições de cultivo, ao estado fisiológico do microrganismo ou a algum indutor no meio de cultivo (MOROZOVA et al., 2007; PEZZELA et al., 2009). Algumas características de lacases como, peso molecular, pH ótimo de atividade e substrato específico são extremamente diversos (MAYER & STAPLES, 2002). As lacases que possuem átomos de cobre em sua constituição e no caso da lacase, são 4 átomos de cobre em cada molécula, formando 3 tipos de sítios ativos, que reduzem os substratos a partir das funções desses cobres, sendo o cobre tipo I responsável por aceptar elétrons do substrato, possuindo como ligantes duas histidinas imidazóis e o grupo sulfidrila da cisteína, formando uma estrutura trigonal. Como ligantes equatoriais, e um ligante axial variável, comumente sendo a metionina em bactérias e leucina ou fenilalanina em lacases fúngicas, possui coloração azul, dada pela ligação covalente entre cobre e cisteína. E devido ao alto potencial redox (790 mV), é no sítio I onde ocorre a oxidação do substrato (ARREGUI,2019). Os átomos de cobre do sítio ativo da lacase são classificados por suas características espectrais, por exemplo, o sítio I é caracterizado por uma banda de absorção óptica distintamente pronunciada no comprimento de onda de 600 nm. E possui uma distância de 12Å em relação aos sítios II e III. Os sítios tipo II e tipo III, atuam de forma conjunta, formando um centro trinuclear com 4Å de distância entre eles. Nesses sítios, ocorre a redução de O2 em água (Arregui, 2019). O cobre tipo II possui duas histidinas, é mononuclear da enzima e invisível nos espectros de absorção de elétrons. Enquanto o sítio III é binuclear, possui íons de cobre pareados antiferromagneticamente através de uma ponte de hidróxido que torna este sítio diamagnético e impede sua detecção nos espectros EPR. Este local pode ser identificado pela presença de um ombro a 330 nm na região UV do espectro, possui 12 seis histidinas e dois átomos de cobre que são interligados por uma ponte hidroxila. Essas enzimas são constituídas de 220 a 800 aminoácidos, potencial redox variante, de acordo com o tipo de lacase, onde as lacases fúngicas são as que possuem maior Eº e as vegetais, o menor (Arregui 2019). A figura 2 ilustra o sítio ativo de atuação dos átomos de cobre. As lacases mais comumente encontradas, possuem três domínios homólogos, onde o sítio I está localizado no domínio 3, e o cluster trinuclear localizado entre os domínios 1 e 3, em lacases desta tipologia. O domínio 2 possui a função de unir e posicionar os domínios 1 e 3, formando assim, o cluster trinuclear. Em praticamente todos os tipos de lacase há uma característica fixa em relação a posição relativa entre os sítios de cobre, sendo conservadas as distâncias entre o cobre T1 e o cluster trinuclear. Os resíduos do domínio 2 e 3, estão envolvidos na formação do bolsão de ligação ao substrato (onde ocorre a ligação do substrato doador de elétrons). (MAROZOVA, 2007). Figura 2 - Ilustração representativa do perfil das interações intramoleculares dos átomos de cobre da enzima Lacase. Fonte: Morozova, 2007. 13 Há uma semelhança muito próxima entre as estruturas das lacases de diferentes microrganismos. Em análises realizadas com mais de 100 lacases de espécies diferentes, foi observado que seus sequenciamentos, em quatro regiões são conservadas e específicas em todas as lacases. Sendo uma cisteína e dez resíduos de histidina, formando um ambiente onde ocorrem as ligações dos átomos de cobre do sítio ativo da lacase, presentes em quatro sequências de aminoácidos que se mantém conservadas (MAROZOVA, 2007). Pela tabela 2, percebe-se a elevada semelhança entre as sequências primárias dos sítios de variados tipos de lacase As lacases aplicadas à biotecnologia, possuem hoje um alto valor não só comercial, como científico, pois devido a sua diversidade de possíveis aplicações em inúmeros eixos industriais, ela é utilizada para a fabricação de insumos e produtos, além de ser atualmente uma das mais promissoras fontes de mitigação da poluição em corpos hídricos e solos, podendo reverter a situação de vários tipos de contaminantes (ALEXANDRINO et al., 2007). Tabela 2 - Semelhança sequenciais nos sítios multicobres de diferentes tipos de lacases. Ligantes dos íons de cobre do sítio ativo representados por resíduos de histidina e cisteína que são conservadores para todas as lacases são mostrados em cor cinza. Ab, A. bisporus lcc1 Ap, A. pseudoplatanus; Cc, C. cinereus lcc1; Lt, L. tulipifera lac2-1; Ma, M. albomyces lac1; Nt, N. tabacum; 14 Pc, P. cinnabarinuslcc3-1; PM1, basidiomiceto PM1; Po, P. ostreatus pox2; Rv, R. vernicifera; Th, T. hirsuta; Tl, T. villosa lcc1; Tt, T. trogii lcc1; Tv, T. versicolor lcc1. Fonte: Marozova, 2007. 1.7 Decomposição do corante vermelho Congo por lacases dos fungos filamentosos Pycnoporus sanguineus e Trametes versicolor As lacases fúngicas possuem um importante papel na natureza, especificamente em degradar a lignina, esse que é o segundo mais abundante biopolímero existente no planeta, e possui a função de dar sustentação às plantas. Uma lacase fúngica possui entre 60 a 70 KDa com um ponto isoelétrico com pH 4,0. São glicosiladas e possuem aumento de massa entre 10 a 25%, seu percentual de carboidratos, e assim demonstrado em pesquisas sua estabilidade conformacional, protegendo a enzima da proteólise e da inativação por radicais. Possui um alto potencial redox em relação às outras tipologias de lacase (Eº 400 Mv), porém com a peculiaridade de que seu potencial redox possui relação direta com a energia necessária para subtrair um elétron do substrato. Sendo interessantes para a biorremediação por ter a capacidade de catalisar substratos com alto Eº (SILVA, 2006). Segundo Mikolasch & Schauer (2009), lacases provenientes de fungos de podridão branca possuem alto potencial redox. Enquanto as existentes em bactérias, insetos e plantas possuem um potencial redox mais baixo. As lacases fúngicas possuem uma ampla aplicação na biotecnologia, utilizada para a degradação de fármacos, biorremediação nas indústrias têxtil, petroquímica, na degradação de agrotóxicos, na utilização de biossensores, e outras atividades industriais diversas (ARREGUI, 2019). O fungo Trametes versicolor (conhecido popularmente como cogumelo cauda de peru) é um dos mais importantes fungos da podridão branca, capaz de produzir enzimas importantes para a biodegradação, tendo um papel importante na biorremediação de ambientes aquáticos, de solos, decompondo resíduos fenólicos (PINKOSKI, 1997). A região de interação com o substrato é delimitada por diversos resíduos hidrofóbicos conservados (PHE162, LEU164, PHE265, PHE332 e PRO391), 15 formando assim, um ambiente que favorece o encaixe de moléculas hidrofóbicas, em especial compostos aromáticos, fenóis e aminas, que serão oxidados pela lacase (ARREGUI, 2019). O fungo Pycnoporus Sanguineus (conhecido popularmente como orelha de pau) possui uma lacase capaz de degradar a lignina, biopolímero que dá sustentação às plantas, transformando dióxido de carbono em água. É muito sensível à salinidade, porém possui alta tolerância a temperaturas elevadas, superiores a 50ºC, sintetizam diversos esterois (Marques, 2001). A massa molecular das lacases de Pycnoporus sanguineus foi consistente com os valores da maioria das lacases fungicas descritas na literatura, que variam entre 60 e 80 KDa (THURSTON, 1994) e alto potêncial redox, em seu sítio mononuclear I, em torno de 600nm (ZIMBARD, 2016). O corante vermelho Congo é um corante sintético que possui uma complexa estrutura molecular, o que dificulta a sua degradação possui maior dificuldade de ser executada, até mesmo por enzimas lacases encontrada em vegetais, insetos, bactérias e fungos. Estes últimos citados são bastante utilizados na biorremediação, no tratamento de efluentes industriais de diversos nichos, e no tocante a indústria têxtil traz uma larga escala de possibilidades para a degradação de determinados corantes que não eram decompostos ou o resultado dessas decomposições parciais causavam subprodutos tóxicos o que não era interessante para as indústrias poluentes (ARREGUI, 2019). Segundo SATISH et al (2009), as lacases possuem a capacidade de degradarem corantes azo sem clivagem direta das ligações azo através de um mecanismo de radical livre não específico, evitando a formação de aminas aromáticas tóxicas. Até o momento, as lacases mais frequentemente utilizadas na degradação e desintoxicação de corantes sintéticos, incluindo o Vermelho do Congo, são as obtidas dos fungos de podridão branca, incluindo o Trametes versicolor e Pycnoporus sanguineus (PERALTA et al., 2017; IARK et al., 2019). Essas espécies apresentam grande aplicabilidade no tratamento de resíduos industriais por apresentar descoloração sobre outros corantes, como o laranja de metilo, azul de bromofenol, azul de metileno, vermelho de fenol e verde de metilo. O Pycnoporus sanguineus se destaca pelo seu potencialna descoloração do azul de bromofenol (LYRA et al., 2009). 16 1.8 Modelagem molecular A modelagem molecular é uma tecnologia aplicada, onde o aperfeiçoamento da biotecnologia pôde trazer avançados resultados sobre a interação de moléculas, assim otimizando pesquisas e diminuindo custos expressivos para a realização destas, sabendo que pesquisas experimentais muitas vezes são dispendiosas, no tocante ao tempo e aos custos elevados dependendo do contexto de cada estudo realizado. A modelagem computacional permite a simulação da estrutura, dinâmica e interações das proteínas com outras moléculas, complementando técnicas experimentais, trazendo um detalhamento atômico mais preciso, em medidas nanométricas, diminuindo as limitações existentes nas pesquisas experimentais. Essas simulações são baseadas em cálculos da química molecular, mais precisamente a partir da equação de Schrödinger. E devido a complexidade dos sistemas biológicos esses cálculos são baseados na mecânica molecular, a partir de parâmetros empíricos pré-definidos, em que os átomos se movem em uma superfície energética, fornecendo informações mais precisas. A biotecnologia vem ao longo do tempo sendo cada vez mais aprimorada, desenvolvendo novas tecnologias e softwares mais complexos e completos, bancos de dados que armazenam informações de proteínas e moléculas, como, por exemplo, o Protein Data Bank,e o Pubchem, entre outros, permitindo aos seus usuários e pesquisadores, novas possibilidades de se obter respostas em relação a elementos ainda não identificados. A maior parte desses estudos são aplicados na área da farmacologia, para a simulação de possíveis interações de substâncias com enzimas que possam trazer respostas para a cura ou compreensão de patologias diversas. Porém, tendo em vista essas interações biológicas, ligante/proteína, estudos recentes, mostram a aplicação dessa tecnologia na área da biorremediação, já que a base desses estudos está voltada para o uso de soluções biológicas e produtos químicos que podem ser decompostos. Assim podendo trazer soluções a partir das análises das interações de determinados poluentes e enzimas catalisadoras, por exemplo. No ano de 2003, Zhang e Zhang, desenvolveram um método aplicado aos sistemas biológicos baseados na química molecular, denominado de Molecular Fractionation with Conjugate Caps (MFCC), traduzido para o português como Fracionamento Molecular com Capas Conjugadas. Esse método possibilita calcular 17 a energia de interação entre aminoácidos/ligante, proteína/ligante, somando todas as densidades eletrônicas de cada elemento. E que ao se obter tal informação sobre a densidade eletrônica e potencial eletrostático, é possível a melhor compreensão das estruturas químicas, das reações e ligações realizadas entre as moléculas, a catálise e solvatação dos sistemas biológicos em análise. Este método que apesar de ser embasado na equação de Schrödinger, aperfeiçoou a forma de calcular essas interações ao modo em que anteriormente esses cálculos eram realizados por método ab initio, com a equação de Hartree-Fock, esta que é uma solução aproximada da equação de Schrödinger, porém por esse método a correlação eletron-eletron, não era realizada. Em contraposto a esse método, a teoria funcional da densidade (DFT), traz a solução para esse problema corrigindo essa questão, baseando-se no teorema de Kohn-Sham determinando o potencial externo e o número total de elétrons de um determinado sistema, através da densidade eletrônica do sistema (ALBUQUERQUE et al., 2014). 18 2 JUSTIFICATIVA Na atualidade existe uma grande problemática em torno da poluição causada pelas ações antrópicas, em que não somente o próprio ser humano é prejudicado, tanto no tocante à saúde como escassez de alimento, assim como é algo prejudicial a todas as outras espécies viventes. Por sua vez, os corantes são propriedades utilizadas em vários segmentos industriais, e um dos mais utilizados no mundo é o corante vermelho Congo, por fornecer uma grande disponibilidade de cores, o que propicia a alta usabilidade, como por exemplo, na indústria têxtil, que é o segundo segmento que mais polui, perdendo apenas para a indústria petroquímica. Tendo como embasamento essa questão, há a importância de mitigar esses processos industriais que são altamente poluidores, e que com o avanço dos estudos no âmbito da biotecnologia, há descobertas de espécies biológicas capazes de degradar determinados compostos complexos, que até então, não se era possível degradar com tanta facilidade ou existiam processos que eram dispendiosos, se tornando inviáveis. No âmbito biológico algumas espécies de fungos e bactérias são capazes de degradar compostos fenólicos e aromáticos, inclusive àqueles de difícil eliminação, como é o caso do corante vermelho Congo. Essas enzimas, contribuem para a catabolização destes compostos, como é o caso da enzima lacase, que é encontrada em várias espécies de fungos, bactérias, vegetais e insetos. Essa enzima apesar de ter sido descoberta no século XIX, até a última década não tinha sido atentada no tocante ao seu uso para a degradação de poluentes, principalmente no uso de corantes, já que a produção de corantes sintéticos só surgiu no século XX e até então os corantes utilizados eram orgânicos, ou seja, provenientes de folhas, sementes, caules e alguns minerais encontrados 19 naturalmente na natureza. Atualmente, contudo, os corantes sintéticos são predominantes, o que põe em risco nossos ecossistemas, afinal são de difícil degradação ambiental, tendo em vista a complexidade da estrutura química destes. Este trabalho tem a importância de avaliar qualitativamente e quantitativamente os contatos intermoleculares do corante vermelho Congo com as enzimas lacase dos fungos Trametes versicolor e Pycnoporus sanguineus, as quais são capazes (até certo nível) de degradar compostos sintéticos. Nesse estudo, a análise das interações energéticas é realizada para simular a degradação que essas enzimas são capazes de causar nesse determinado composto, este que por sua vez causa uma série de prejuízos ao meio ambiente, e prejuízos econômicos às indústrias, devido a sua complexidade de degradação. Sendo assim, nesta pesquisa, os resultados e simulações dessas interações são de extrema importância não apenas para a ciência em si, como para a indústria e para o meio ambiente como um todo, pelo fato de se viabilizar possibilidades de degradação para uma substância complexa e melhor compreender tais interações ligante/receptor, e conseguinte o comportamento de fato dessas interações, de uma forma que traga resultados benéficos à baixos custos, sem a necessidade de gastos com experimentações, contribuindo para o aprofundamento dos estudos no âmbito da biorremediação, mitigando a poluição em vários ambientes, sejam estes aquáticos ou terrestres. 20 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivos gerais Descrever as interações energéticas intermoleculares da lacase de Pycnoporus sanguineus e de Trametes versicolor acopladas ao corante Vermelho Congo. 3.2 Objetivos específicos ● Calcular as interações energéticas individuais e totais entre as lacases de Pycnoporus sanguineus e Trametes versicolor com o corante vermelho Congo, enfatizando o acoplamento mais estável em termos de afinidade; ● Caracterizar a natureza química das interações intermoleculares existentes entre o corante e as lacases nos complexos CR-LacPs e CR-LacTv; ● Identificar as regiões do ligante (corante) mais importantes para o seu acoplamento nos sítios de ligação das enzimas lacases em questão; ● Determinar o raio de convergência de estabilização dos complexos ligante- receptor, consequentemente o tamanho real dos sítios ativos. 21 4 METODOLOGIA 4.1 Construção dos complexos CR-LacTv e CR-LacPs Nesse trabalho, por não haver dados cristalográficos do corante vermelho Congo ligado a lacases, as enzimas da lacase do Trametes versicolor (PDB ID: 1KYA - Figura 3) e doPycnoporus sanguineus (PDB ID: 5NQ7 - Figura 4) foram previamente obtidos do Protein Data Bank (RSPDB). Previamente, o estado de protonação/desprotonação da molécula do CR (ChemSpider ID 10838) e dos aminoácidos das lacases em pH 7,2 (neutro) foram calculados pelo software Marvin Sketch e Propka, respectivamente. Assim, foi mimetizado o ambiente biológico da forma mais fidedigna possível, inclusive conservando o estado de atividade da enzima. Então a geometria espacial do CR foi otimizada tendo por base a Teoria do Funcional da Densidade (DFT), especificamente o funcional B97D. Então, a técnica de ancoramento molecular foi utilizada para elucidar a orientação e geometria assumidas por esse corante nessas enzimas de biodegradação. O ligante foi acoplado em seu bolso de ligação na LacTV e LacPs utilizando um protocolo de proteína rígida, através da ferramenta Autodock4 (MORRIS et al, 2009; HUEY et al, 2007; MORRIS, 1998), tendo como posição inicial (eixos XYZ) as coordenadas do corante 2,5-xylidina presente no cristal 1KYA. Uma vez que os algoritmos de ancoramento molecular normalmente apresentam problema de repetibilidade (um erro típico de ± 2,0 kcal/mol), a execução do procedimento repetidas vezes permite a obtenção de um número grande de estruturas, garantindo a amostragem adequada dos possíveis resultados (COSCONATI et al., 2010). Assim sendo, o docking foi executado 20 vezes utilizando 22 o algoritmo genético Lamarckiano, além de 25.000.000 avaliações de energia por corrida, tamanho populacional definido para 150 e um máximo de 27.000 gerações por corrida. Ao final, mil poses foram obtidas (50 poses por saída) e agrupadas usando uma tolerância RMSD de 1,0 Å através do Autodock Tools (MORRIS et al, 2009). As 20 conformações com melhor autodock score foram otimizadas geometricamente por mecânica clássica em duas etapas consecutivas: (i) apenas os átomos de hidrogênio ficaram livres para se mover durante a otimização; (ii) os átomos de hidrogênio do receptor e a molécula do ligante ficaram livres para se mover durante a otimização. O procedimento de otimização clássico foi realizado pelo campo de força CHARMM (Chemistry at HARvard Macromolecular Mechanics), uma vez que possui um bom desempenho para moléculas orgânicas, sejam elas pequenas como os fármacos estudados ou macromoléculas como as proteínas atuantes como receptores (MOMANY; RONE, 1992), com tolerância de convergência de 2,0 x 10-5 kcal/mol (variação de energia total), 0,001 kcal/mol.Å (força máxima por átomo) e 1,0 x 10-5 Å (deslocamento atômico máximo). Destacamos que o protocolo de docking adotado neste trabalho foi validado por trabalhos anteriores através do redocking de ligantes em diferentes cristais de proteína (ZANATTA et al, 2016; ZANATTA et al, 2014; MOHAMED et al, 2008; HALPERIN et al, 2002). Posteriormente, o binding score dessas 20 estruturas foram validadas através de um cálculo clássico de energia de ligação (E.ligação), conforme descrito abaixo: E.ligação = E.R+L – (E.R + E.L) (1) onde o primeiro termo, E.R+L, é a energia total do sistema formado pela ligação do CR na lacase; E.R é a energia total do receptor lacase sozinho; enquanto E.L é a energia total da molécula do corante vermelho congo isolado. Os estados acoplados ligante-receptor, no caso CR-LacTV e CR-LacPs, com maior estabilidade e afinidade de ligação foram selecionados para etapa subsequentes. 23 Figura 3 - Estrutura tridimensional da Lacase de Pycnoporus sanguineus co-cristalizada com o corante vermelho Congo (em laranja) (PDB ID: 5NQ7). Fonte: Autoria Própria Figura 4 - Estrutura tridimensional da Lacase de Trametes versicolor co-cristalizada com o corante vermelho Congo (em laranja) (PDB ID: 1KYA). 24 Fonte: Autoria Própria 4.3 Otimização geométrica por QM/MM Os complexos CR-LacTv e CR-LacPs mais estáveis re-otimizados através de um protocolo de refinamento geométrico consideravelmente preciso e eficiente utilizando um método híbrido de Mecânica Quântica e Mecânica Molecular (QM/MM). A otimização QM/MM foi realizada dentro do framework ONIOM de 2 camadas: o CR foi considerado como pertencente à camada QM, enquanto todo o receptor lacase foi tratado como pertencente à camada MM. O campo de força AMBER foi utilizado para realizar os cálculos de MM dentro de um esquema eletrônico de embedding e para atribuir as cargas atômicas dos átomos do CR. Todos os resíduos de aminoácidos dentro de um raio de 10,0 Å do centroide de CR foram autorizados a se mover livremente durante a otimização da geometria. O funcional B97D e o conjunto de base AUG-cc-pVTZ forma utilizados na camada QM. Dessa forma, em sumário, as energias finais de QM/MM relatadas são baseadas em cálculos de ponto único de incorporação eletrônica no nível de teoria ONIOM(B3LYP/6-311+G(d,p):AMBER) usando as geometrias otimizadas. Todos os cálculos do ONIOM foram realizados com a versão de desenvolvimento do Gaussian. 4.4 Cálculo das interações intermoleculares 25 Os cálculos energéticos utilizados para obtenção das energias de interação entre o CR e os resíduos de aminoácidos das enzimas LacTv e LacPs foram executados a partir da técnica de Fracionamento Molecular com Caps Conjugadas (do inglês Molecular Fractionation with Conjugate Caps - MFCC) e do formalismo da Teoria do Funcional da Densidade (DFT), especificamente utilizando o funcional B97D e o conjunto de base cc-pvtz, incluindo termos de dispersão para melhorar a descrição das interações não covalentes (ESMAILE et al., 2021).. Através do MFCC, o biocomplexo ligante-receptor é particionado em fragmentos de aminoácidos acoplados ou não ao ligante. Subsequentemente, as energias dessas subunidades serão calculadas (via DFT) e, posteriormente, obtém- se a afinidade total do ligante pelo bolsão de acoplamento (SANTOS et al, 2022; BARBOSA, et al, 2021a; BARBOSA, et al, 2021b; VIANNA et al, 2021; ESMAILE et al, 2021; ZHANG et al, 2003). Desse modo, calcula-se a energia de um número considerável de resíduos sem que a qualidade seja perdida e o tempo de processamento seja pequeno. O MFCC propicia um meio ágil e prático para a obtenção dos cálculos moleculares, auxiliando o fornecimento de uma informação quantitativa e extremamente útil para a compreensão do complexo proteína-ligante (ZHANG et al, 2005). Antes da realização dos cálculos de energia de interação, esferas de raios (r) subsequentes (com variação 0,5 Å) a partir do ligante foram desenhadas, de forma a englobar de forma crescente os aminoácidos do receptor. À cada novo raio, adicionava-se as energias de interação individual dos aminoácidos incorporados à somatória dos raios anteriores. No momento, que a variação de energia entre três ou mais raios consecutivos é menor que 10%, afirma-se que o sistema atingiu um estado de convergência energética; o que evita, pois, a perda de interações importantes (PEREIRA et al, 2021; CAMPOS et al, 2020). Nessa perspectiva, a metodologia de fragmentação MFCC foi executada em um total de 59 (48) aminoácidos do complexo LacTv (LacPs) . Criou-se, então, quatro cortes/subsistemas/subunidades para cada resíduo - A, B, C e D (Figura 9). É importante evidenciar que, quando o corte é feito em cada resíduo (dentro do determinado raio), as valências das ligações covalentes ficam abertas. Sendo assim, é necessário o uso de “capas” (ou caps) para o fechamento das valências para recriar um microambiente parecido com o da proteína antes de ser cortado (ZHANG; ZHANG, 2003). Assim sendo, para cada um desses 107 resíduos estudados, os 26 primeiros subgrupos (ou subunidade A) eram formados pelo ligante (L), o resíduo (R) que está sendo analisado, além dos caps anterior (C1) e posterior (C2) a ele (L + C1 R C2). Nos subgrupos B, o ligante e os caps foram considerados no cálculo, todavia o resíduo analisado foi removido (L + C1 C2). Apenas os caps e o resíduo que está sendo estudado (C1 R C2) foram considerados no subgrupo C. Por fim, o quarto e último subgrupo(D) apresentaram apenas os caps conjugados (C1 C2). Após definir a nomenclatura do ligante (L), das capas, antecessora (C1) e sucessora (C2) e do resíduo em questão (R), aplicaremos na equação abaixo para obtenção apenas da energia de interação do ligante com cada resíduo de aminoácido do receptor proteico: E (L – R) = E (L + C1 R C2) – E (C1 R C2) – E (L + C1 C2) + E (C1 C2) onde, E (L – R) corresponde a energia de interação entre o resíduo-ligante; E (L + C1 R C2) corresponde a energia total do sistema; E (C1 R C2) corresponde a energia das capas antecessoras, sucessoras e o resíduo; E (L + C1 C2) corresponde a energia do ligante e as capas antecessora e sucessora; e, por fim, E (C1 C2) corresponde a energia apenas das capas antecessora e sucessora. Vale ressaltar que as moléculas de água foram consideradas quando estabeleceram ligações de hidrogênio com alguma capa ou resíduo de interesse e adicionadas aos cortes. A representação do ambiente molecular é um passo essencial para o estudo de propriedades moleculares em biomoléculas. Recentemente, modelos de solvatação implícitos, especificamente o CPCM (Conductor-like Polarizable Continuum Model) (TAKANO et al., 2005), foi introduzido nos cálculos quânticos das energias de interação em sistemas do tipo ligante-proteína (OURIQUE et al., 2016; DANTAS et al., 2015). Comumente, diferentes valore de constante dielétrica (ε) para representar o efeito do ambiente na avaliação das energias eletrostáticas são levados em consideração. Neste trabalho, nós empregamos a aproximação MFCC junto com o modelo CPCM, utilizando uma constante dielétrica de 40 (ε=40), de forma a aumentar a similaridade entre o ambiente eletrostático de cada fragmento e 27 àquele encontrado na proteína, além de estimar os efeitos na energia, tais como a polarização do meio promovido pelo solvente (DANTAS et al., 2015). 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Levando em consideração que em tempos remotos, até a metade do século XIX, a maior parte dos corantes têxteis utilizados para colorir tecidos eram provenientes de compostos orgânicos, os impactos ambientais eram bem menores se comparado à problemática enfrentada atualmente pela indústria têxtil que carrega o título do segundo segmento industrial que mais causam impactos ambientais em diversos âmbitos, principalmente aos ambientes e espécies aquáticas. No final do século XIX e início do século XX, foram criados e intensificados o uso de corantes sintéticos que possuem moléculas muito mais complexas e que existe uma maior dificuldade de serem degradadas. Com o aprofundamento dos estudos em biotecnologia aplicada a biorremediação, a descoberta da família das lacases como enzimas capazes de oxidar compostos fenólicos, aromáticos e não aromáticos permitiu uma alternativa viável para estudos que visam encontrar soluções mitigadoras de despoluição de corpos hídricos e solos contaminados. A partir do pressuposto que as lacases fúngicas possuem capacidade de degradação de compostos aromáticos distintas e que apresentam pequenas peculiaridades conformacionais, este estudo tem a responsabilidade de averiguar a 28 complexidade das interações comparativas entre duas lacases do tipo fúngicas, tentando compreender seu perfil energético de interação e afinidade em relação a um mesmo substrato. Os complexos LacTv/LacPs, mostraram interações intermoleculares relevantes na oxirredução do corante Vermelho Congo, resultados estes que são importantes para estudos realizados no âmbito da biorremediação, e alguns setores industriais, em especial a indústria têxtil. Esses resultados trazem um detalhamento do que ocorre quando os complexos LacTv/LacPs entram em ação decompondo o corante de tipo Azo: Vermelho Congo. O presente estudo demonstrou que a enzima LacPs possui maior afinidade energética com o substrato CR, do que com LacTv, apesar da similaridade estrutural e funcional. Isso ocorre pois apresentam um perfil de interações intermoleculares distintos entre si, em especial ligações de hidrogênio e hidrofóbicas do tipo � �. A ligação de hidrogênio é um dos tipos mais importantes de contato intermolecular para a estabilidade de sistemas biológicos; sendo, por exemplo, responsável pelas propriedades da água, estabilidade da dupla fita de DNA. Esse tipo de ligação ocorre devido ao átomo de hidrogênio, positivo, que para manter sua estabilidade química, precisa perder, ganhar ou compartilhar 1 elétron do outro átomo, tendo uma alta probabilidade de se unir com átomos muito eletronegativos, como é o caso do N, Cl, F e O, promovendo uma grande polarização da ligação, tornando o polo positivo demasiadamente intenso, interagindo com os elétrons da molécula que estiver mais próxima. Que segundo (GRABOWSKI, 2004). Ligações de hidrogênio são simbolizadas por X−H···Y e são resultados da interação entre um segmento doador de próton (X-H) e um segmento receptor de próton (Y), onde X e Y são átomos eletronegativos, geralmente O, N e Cl. O átomo de hidrogênio, quando ligado covalentemente a pequenos átomos de alta eletronegatividade, acarreta em uma ligação dipolo permanente de alta magnitude, devido a nuvem eletrônica tender a ficar concentrada em torno da parte da molécula onde estão os núcleos atômicos, ficando então desprotegido o átomo de hidrogênio carregado positivamente, surgindo interações dipolo-dipolo, que possuem magnitude maior que as forças dipolo-dipolo permanentes, onde os átomos de hidrogênio se ligam aos átomos de O de outros átomos, fazendo as moléculas se ligarem entre si, possuindo uma energia de ligação de 30 kj/mol (JUNQUEIRA, 2017). 29 As ligações do tipo Pi ou ligações � , são ligações covalentes que ocorre em átomos capazes de realizar ligações duplas ou triplas entre átomos sendo que, em uma ligação dupla, por exemplo, sempre haverá uma ligação sigma e uma ligação �, e em uma ligação tripla, sempre haverá uma ligação sigma e duas ligações � . Que ocorre quando há a interpenetração de dois orbitais, do átomo, incompletos, sendo esses do subnível p, sendo que cada átomo da ligação possua ao menos um orbital paralelo ao orbital p do outro átomo (Rocha, 2019). 5.1 Estado de protonação As análises do estado de protonação por meio do software Marvin Sketch demonstrou a carga negativa do corante Vermelho Congo, identificada com carga -2 no pH neutro de 7.2. O corante vermelho Congo foi dividido em três regiões para melhor descrever as interações (Figura 5). As cargas se encontram nas regiões i e iii do corante que confere carga -1 aos dois átomos de oxigênio em suas duas extremidades de enxofre, se comportando como óxido sulfônico. A região i e iii apresentam a mesma estrutura, com um óxido sulfônico carregado negativamente nas suas extremidades (= sulfonato), uma benzoamina e um anel benzênico, enquanto a região ii apresenta dos anéis benzênicos que conectam as regiões 1 e 3 pelos nitrogênios. Figura 5 - Análise da conformação espacial (E1-E13) predominante em cada pH (1-14), com destaque à representação esquemática da conformação mais abundante do corante vermelho Congo em pH 7,2. 30 Fonte: autoria própria. 5.2 Análise de convergência Seguindo o critério de convergência, analisamos as interações energéticas de 59 (48) aminoácidos da enzima lacase do Trametes versicolor - LAcTv (Pycnoporus sanguineus - LacPs) que interagem com o corante vermelho Congo em um raio de convergência de 10 Å (Tabelas 3 e 4). A convergência ocorreu a partir do raio de 4,5 Å no CR-LacTv e 6,0 Å no CR-LacPs, em que o sistema foi estabilizado (raio subsequente não variou mais de 10%), mostrando o tamanho do sítio de ligação desses complexos. A energia total do complexo CR-LacTv foi de -19.26 kcal/mol, enquanto que o LacPs apresentou -38.26 kcal/mol, indicando uma maior afinidade do corante vermelho Congo com a lacase Pycnoporus sanguineus. 31 No Gráfico 1, pode-se observar que os declives das curvas energéticas dos raios no complexo CR-LacTv, a partir de 2,5Å até 4Å; emε=40, dos resíduos inseridos: ALA393 e ASP266 que são mais atrativos energeticamente no bolso de acoplamento. Gráfico 1 - Energia de interação total (em kcal/mol) do corante vermelho Congo com a lacase de Trametes versicolor (CR-LacTv, em rosa) e de Pycnoporus sanguineus (CR-LacPs, em laranja) em função do raio do bolso de ligação r (em Å). Resultados foram obtidos utilizando o funcional GGA B97D e constante dielétrica de 40 no esquema MFCC. Fonte: Autoria Própria. Já no complexo CR-LacPs ocorre o declive a partir de 2,5Å; 3Å; 4,5Å e 5Å; em ε=40 e aclive em caráter repulsivo em: 3,5Å e 4Å nos respectivos resíduos incluídos: PHE162 e ASP266, também mais interativos energeticamente no bolso de acoplamento. Essas oscilações observadas demonstram as atrações e repulsões energéticas que ocorrem entre o ligante, que neste caso corresponde ao corante vermelho Congo/CR e aminoácidos pertencentes aos complexos LacTv e LacPs. O gráfico da análise de convergência mostra as variações energéticas e o ponto em que ocorre a convergência, e é dada as energias totais dos sistemas. 32 Tabela 3 - Descrição dos 59 aminoácidos da enzima lacase do Trametes versicolor (LacTv) interagindo com o corante vermelho Congo. A região e os átomos do ligante interagindo com cada aminoácido do receptor, além do raio (em Å) onde eles estão localizados estão destacados. Fonte: Autoria Própria. 33 Tabela 4 - Descrição dos 48 aminoácidos da enzima lacase do Pycnoporus sanguineus (LacTV) interagindo com o corante vermelho Congo. A região e os átomos do ligante interagindo com cada aminoácido do receptor, além do raio (em Å) onde eles estão localizados estão destacados. Fonte: Autoria Própria. 5.3 Perfil de interação do corante vermelho Congo nos complexos CR-LacTv e CRLacPs Posteriormente à realização dos cálculos energéticos, foram comparadas as principais interações dos complexos CR-LacTv/CRLacPs, sendo perceptível que as interações ocorridas na região i e iii possuem uma resposta mais expressiva em relação à região ii, que não é mostrada nos gráficos devida às baixas interações existentes (Gráfico 2). No entanto o complexo CR-LacPs, obteve melhores resultados devido aos tipos de ligações que nele ocorrem, sendo ligações de hidrogênio. 34 Gráfico 2 - Painel gráfico destacando, em ordem crescente de distância (Å), os resíduos mais relevantes que contribuem para os complexos formados pelo corante vermelho Congo e a lacase de Trametes versicolor (CR-LacTv, em pink) e de Pycnoporus sanguineus (CR-LacPs, em laranja). A região e os átomos do ligante interagindo com cada aminoácido estão destacados. A marcação ‘*’ indica que a interação está presente somente em CR-LacPs Fonte: Autoria Própria. Percebe-se que os resíduos mais importantes que constituem o sítio de ligação do complexo CR-LacTv, são, em ordem decrescente: PHE162 (-5,20 kcal/mol); ALA161 (-4,62 kcal/mol); GLY266 (-4,01 kcal/mol); ALA393 (-3,81 kcal/mol); PHE265 (-2,94 kcal/mol); PRO391 (-0,93 kcal/mol); PRO160 (-0.58 kcal/mol); GLY392 (-0,55 kcal/mol) (Figura 6). Em relação ao complexo CR-LacPs, seus resíduos mais importantes são: ARG161 (-9,66 kcal/mol); PHE162 (-8,58 kcal/mol); GLY392 (-7,81 kcal/mol); GNL160 (-7,03 kcal/mol); SER393 (-6,59 Kcal/mol); PRO391 (-3,11 kcal/mol); PHE265 (-0,21 kcal/mol). Foi observado que o único aminoácido em comum aos dois complexos proteicos que possuem alta afinidade com o substrato corante Vermelho Congo, é o PHE162. 35 Figura 6 - Visão detalhada dos resíduos mais importantes envolvidos na ligação do corante vermelho Congo com a lacase de Trametes versicolor (Pycnoporus sanguineus) em rosa (laranja). 36 Fonte: Autoria Própria O Gráfico 2 demonstra as energias totais de ambos os sistemas, os aminoácidos que mais se destacam em termos energéticos, incluindo as regiões dos contatos intermoleculares ligante-receptor. De forma complementar, as Tabelas 5 e 6 destacam e comparam a natureza química dessas interações. Corroborando com nossos resultados, estudos anteriores da enzima lacase com diferentes ligantes demonstraram que resíduos como Arg161 (Ala161), PHE162, Phe265, Pro391, GLY392, ALA393 (SER393) têm contribuições significativas para a energia de ligação por ligações de hidrogênio e interações hidrofóbicas. Além disso, eles formam uma parte importante da cavidade de ligação do substrato. Dentre esses resíduos, se destaca ARG161, PHE162 e PHE265 como resíduos chave, que aumentaram a ligação ao substrato e a eficiência catalítica enzimática. Tabela 5 - Principais contatos intermoleculares de natureza hidrofóbica existentes nos complexos CR- LacTv e CR-LacPs Fonte: Autoria Própria Tabela 6 - Sumário dos principais tipos de contatos intermoleculares existentes nos complexos CR- LacTv e CR-LacPs. 37 Fonte: Autoria Própria REGIÃO I Região do ligante que interage mais fortemente com a CR-LacTv, especificamente -12,26 kcal/mol, ou seja, 63,60% da energia total do sistema (Tabela 7 e Figura 8). E se trata da segunda região com maior interação no tocante ao complexo CR-LacPs atingindo um total de -15,58 kcal/mol, e uma porcentagem de 40,70%. Os aminoácidos que mais possuem destaque nas interações no complexo CR-LacTv são: GLY266 possuindo (-4,01 kcal/mol), ALA393 (-3,81 kcal/mol) e PHE265 (-2.95 kcal/mol). No complexo CR-LacPs obteve-se destaque os aminoácidos: GLY392 possuindo (-7,81 kcal/mol), SER393 com (-6,59 kcal/mol), PRO391 (-3,11 kcal/mol) e ASP206 com (4.95 kcal/mol) este, apresentando repulsão. E apesar de haver uma maior porcentagem energética do complexo CR-LacTv, o complexo CR-LacPs apresenta uma maior interação, como é visto nos dados anteriores onde CR-LacTv possui -12,26/Kcal/mol e CRLacPs -15,59 kcal/mol. Sendo assim o complexo CR-LacPs, possui uma maior capacidade em degradar o ligante. Que ocorre devido a repulsão em seu aminoácido ASP266, na região i. Esses resíduos, com exceção do ALA393 do CR-LacTV, interagem com a região i(S), uma cadeia lateral de óxido sulfônico carregada negativamente na estrutura do corante vermelho Congo, variando o oxigênio. Por outro lado, ALA393 de LacTv interage com a região i(C7)NH. No ligante quando acoplado à LacTv, o óxido sulfônico(SO3-), está voltado para cima, enquanto que o grupo amina (NH2), está voltado para baixo. No LacPs, ocorre o oposto, o grupo amina (NH2) voltado para cima e o óxido sulfônico(SO3-) para baixo, representando um giro de 180º, propiciando interações nesta região com diferentes aminoácidos, sendo salientado que a LacPs possui maior interação que LacTv (-15,58 kcal/mol vs. -12,26 kcal/mol). Em CR-LacTv, GLY266 forma duas ligações h com a região i(S)O5 (2,74 Å) e i(S)O4 (2,94 Å); ALA393 forma uma ligação h com i(C7)NH (2,37 Å); e PHE265 forma uma ligação h não convencional com i(S)O4 (2,19 Å). Além disso, PHE265 forma Pi-Stacking com anel aromático da região i (5,94 Å). Para CR-LacPs, GLY392 e SER393 formam ligações h com a mesma região i(S)O- (1,79 Å e 1,74 Å, 38 respectivamente). Além disso, SER393 e PRO391 formam ligações de hidrogênio não convencionais com a região i(S)O4 (2,37 Å) e i(S)O5 (3,7 Å), respectivamente. O resíduo SER393 (-6,59 kcal/mol) do CR-LacPs possui maior afinidade referente a ALA393 (-3,81 kcal/mol) do complexo CR-LacTv ocasionando em uma ligação de hidrogênio mais forte e próxima (1,74Å contra 2,37Å), ocorrendo o acréscimo de uma ligação de hidrogênio não convencional. O aminoácido que também possui destaque é o GLY392, com uma interação de (-7,81 kcal/mol), ambos interagindo com o oxigênio carregado negativamente do óxido sulfônico. REGIÃO II Embora a região ii apresente algumas interações hidrofóbicas do tipo Pi-Alquil (Leu164 em LacTv) e Pi Stacking (PHE162, PRO391 em LacTv; PHE162 em LacPs), em geral, é uma região repulsiva (LacTv 2,59 kcal/mol, LacPs 1,52 kcal /mol) (Figura 9). Como o foco é analisar qual enzima é mais efetiva, esta região do corante não se mostrou relevante. REGIÃO III Nesta região obteve-se bons resultados
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