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PrisAúoAdministrativaPolAcia-Costa-2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE 
ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
MANOEL MESSIAS DA COSTA 
 
 
 
 
 
PRISÃO ADMINISTRATIVA NA POLÍCIA MILITAR DO RIO GRANDE DO 
NORTE: ANÁLISE ACERCA DA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL Nº. 13.967/2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAICÓ – RN 
2020 
 
 
MANOEL MESSIAS DA COSTA 
 
 
 
 
 
 
PRISÃO ADMINISTRATIVA NA POLÍCIA MILITAR DO RIO GRANDE DO 
NORTE: ANÁLISE ACERCA DA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL Nº. 13.967/2019 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
– UFRN/CERES – Campus Caicó, como parte 
dos requisitos para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Carlos Francisco do Nascimento, 
Dr. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAICÓ – RN 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRISÃO ADMINISTRATIVA NA POLÍCIA MILITAR DO RIO GRANDE DO 
NORTE: ANÁLISE ACERCA DA APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL Nº. 13.967/2019 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
– UFRN/ CERES – Campus Caicó, como parte 
dos requisitos para obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
 
 
 Aprovado em: 
Caicó-RN, ___ de ___________________ de _____. 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
_____________________________________________________________ 
Carlos Francisco do Nascimento, Dr. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
Presidente da Banca 
 
_____________________________________________________________ 
Orione Dantas de Medeiros, Dr. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
Examinador 
 
 
_____________________________________________________________ 
Saulo de Medeiros Torres, Me. 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
Examinador 
 
 
 
 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
Declaro, para todos os fins de Direito e que se fizerem necessários, que assumo total 
responsabilidade pelo material aqui apresentado, isentando a Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte – UFRN, a Coordenação do Curso, a Banca Examinadora e o Orientador de 
toda e qualquer responsabilidade acerca do aporte ideológico empregado ao mesmo. 
 
Conforme estabelece o Código Penal Brasileiro, concernente aos crimes contra a propriedade 
intelectual o artigo, n.º 184 – afirma que: Violar direito autorial: Pena – detenção, de 3 (três) 
meses a 1 (um) ano, ou multa. E os seus parágrafos 1º e 2º, consignam, respectivamente: 
§ 1º Se a violação consistir em reprodução, por qualquer meio, no todo ou em parte, sem 
autorização expressa do autor ou de quem o represente, (...): Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 
(quatro) anos, e multa, (...). 
§ 2º Na mesma pena do parágrafo anterior incorre quem vende, expõe à venda, aluga, introduz 
no País, adquire, oculta, empresta, troca ou tem em depósito, com intuito de lucro, original ou 
cópia de obra intelectual, (...), produzidos ou reproduzidos com violação de direito autoral. 
 
Diante do que apresenta o artigo nº. 184 do Código Penal Brasileiro, estou ciente que poderei 
responder civil, criminalmente e/ou administrativamente, caso seja comprovado plágio integral 
ou parcial do trabalho. 
 
 
 
 
Caicó-RN, ___ de ___________________ de _____. 
 
 
 
 
 
 
 
__________________________________________ 
Manoel Messias da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Deus em primeiro lugar, que sempre comigo 
esteve e me guiou em todos os meus passos e 
caminhada. Ao meu amor, amiga e 
companheira Ângela Samara, que me 
acompanhou em toda minha graduação, a quem 
dedico todo carinho e amor atemporal. Às 
minhas três filhas a quem amo de Coração e 
sempre estarei a amar. Ao meu filho que ainda 
tá por vim ao mundo a quem dedicarei boa parte 
da minha vida e compartilharei as minhas mais 
sinceras alegrias e emoções. Aos meus Pais e 
eterno heróis, que com a graça Deus me 
trouxeram ao mundo e me deram a educação 
necessária a vida. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
O desenvolvimento deste trabalho de conclusão contou com a ajuda de diversas 
pessoas, dentre as quais agradeço: Ao orientador Carlos Francisco do Nascimento que teve 
paciência e meu deu coragem para concluir mais essa etapa da vida, acompanhando e 
orientando pontualmente cada passo da pesquisa, dando todo suporte para elaboração destes 
escritos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho trata acerca da Lei Federal nº 13.967 de 26 de dezembro 2019 e do fim da 
prisão administrativa nas Polícias militares estaduais. Neste contexto, serão abordadas as 
questões referentes a vigência e efetividade da Lei Federal nº 13.967 de 26 de dezembro 2019, 
a qual extinguiu a prisão e detenção de caráter disciplinar dentro das instituições militares 
estaduais, bem como ADI nº 6595, que discute sua constitucionalidade. Propõe-se saber se a lei 
em discussão efetivamente vem sendo aplicada na PMRN e qual o posicionamento dos gestores, 
da doutrina e da jurisprudência sobre a interpretação e aplicação referida Lei, em especial 
quanto aos arts. 3º e 4º, que versam sobre o momento de seus efeitos no mundo fático. O tema 
escolhido é importante porque proporciona esclarecimentos acerca da aplicabilidade da lei e 
suas consequências sociais, administrativas e jurídicas. Como procedimento metodológico 
consistiu na pesquisa bibliográfica e jurisprudencial qualitativa com análise de dados de 
boletins gerais e reflexões acerca da temática. Conclui-se que a Lei em estudo não vem sendo 
aplicada no Rio Grande do Norte e que as autoridades vem utilizando dispositivos normativos 
outros, como o Dec. 8.336/82 em detrimento da referida Lei; sendo ainda necessário estudos 
mais aprofundados para solucionar as questões práticas como a obrigação dos estados em criar 
seus códigos de Ética e Disciplina, cujo prazo legal está prestes a expirar. 
 
Palavras-chave: Prisão administrativa Disciplinar. Policia Militar. Rio Grande do Norte. Lei 
Federal nº 13.967 de 26 de dezembro 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work deals with Federal Law No. 13,967 of December 26, 2019 and the end of 
administrative imprisonment in state military police. In this context, issues related to the 
validity and effectiveness of Federal Law No. 13,967 of December 26, 2019, which 
extinguished disciplinary detention and detention within state military institutions, as well as 
ADI Nº 6595 that discusses its constitutionality, will be addressed. It is proposed to know if the 
law under discussion has been effectively applied in the PMRN and what is the position of the 
managers, the doctrine and the jurisprudence on the interpretation and application of that Law, 
especially regarding arts. 3rd and 4th, which deal with the moment of its effects in the factual 
world. The chosen theme is important because it provides clarifications about the applicability 
of the law and its social, administrative and legal consequences. As a methodological procedure, 
it consisted of qualitative bibliographic and jurisprudential research with analysis of data from 
general bulletins and reflections on the theme. It is concluded that the Law under study has not 
been applied in Rio Grande do Norte and that the authorities have been using other normative 
devices, such as Dec. 8.336 / 82 to the detriment of that Law; further studies are needed to 
resolve practical issues such as the obligation of states to create their codes of ethics and 
discipline, whose legal term is about to expire. 
 
Keywords: Disciplinary Administrative prison. Military Police, Rio Grande do Norte. Federal 
Law No. 13,967 of December 26, 2019. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÚMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................101. BREVES CONSISDERAÇÕES ACERCA DO DIREITO DISCIPLINAR 
MILITAR.................................................................................................................................14 
1.1. O DIREITO DISCILPLINAR MILITAR NA CONSTITUIÇÃO DE 1824 E SUA 
RELAÇÃO COM O DIREITO MILITAR................................................................................14 
1.2. O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR NAS CONSTITUIÇÕES 
REPUBLICANAS....................................................................................................................17 
1.3.O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR NO REGIME MILITAR, 1964-1985...................18 
1.4. O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR NA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988.........19 
2. REFLEXOS JURÍDICOS DA LEI FEDERAL Nº. 13.967 DE 26 DE DEZEMBRO DE 
2019 EM OUTROS DISPOSITIVOS 
INFRACONSTITUCIONAIS................................................................................................22 
2.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ACERCA DO CONTEÚDO NORMATIVO DA 
LEI FEDERAL Nº. 13.967 DE 26 DE DEZEMBRO DE 2019 E AS ALTERAÇÕES 
PROMOVIDAS NO DECRETO FEDERAL Nº 667/69...........................................................24 
3. ANÁLISE ATUAL ACERCA DA VIGÊNCIA E EFETIVIDADE DA LEI FEDERAL 
Nº 13.967/2019 A LUZ DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA NO 
BRASIL....................................................................................................................................27 
3.1. DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA ACERCA DA VIGÊNCIA E DA EFETIVIDADE DA 
LEI FEDERAL Nº 13. 967/2019...............................................................................................27 
3.2. DA JURISPRUDÊNCIA DE ALGUNS TRIBUNAIS ESTADUAIS ACERCA DA LEI Nº 
13.967/2019...............................................................................................................................33 
3.3. DA JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES, (STJ- STF) ACERCA DA 
LEI Nº 13. 967/2019..................................................................................................................37 
4. PANORAMA ATUAL ACERCA DO TEMA...................................................................41 
4.1. DO POSICIONAMENTO DO ESTADO E DA POLÍCIA MILITAR DO RIO GRANDE 
DO NORTE QUANTO A APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL Nº 13.967 DE 26 DE 
DEZEMBRO DE 2019..............................................................................................................41 
4.2. BREVE ANÁLISE DO POAICIONAMENTO DA POLÍCIA MILITAR DE OUTROS 
ESTADOS FEDERADOS ACERCA DA EFETIVIDADE DA LEI FEDERAL Nº 13.967 DE 
26 DE DEZEMBRO DE 20119.................................................................................................44 
5. CONCLUSÃO.....................................................................................................................48 
 
REFERÊNCIAS......................................................................................................................50 
ANEXOS..................................................................................................................................54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
NTRODUÇÃO 
 
O presente estudo tem por objetivo analisar as implicações jurídicas e administrativas 
introduzidas no direito disciplinar militar a partir da publicação da Lei Federal nº. 13.967 de 26 
de dezembro de 2019, que alterou o Decreto Federal nº 667/69, e extinguiu a prisão 
administrativa disciplinar nas forças policias militares estaduais em todo o território nacional, 
provocando assim mudanças significativas no direito administrativo disciplinar militar que rege 
a vida castrense. 
Dada a generalidade da temática a qual tem implicações a nível nacional o objeto de 
análise deste trabalho cingir-se-á as implicações da referida norma no âmbito do direito 
administrativo disciplinar militar da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, sendo o enfoque 
investigativo voltado para o exame dos aspectos da vigência, efetividade e da ADI nº 6595 em 
trâmite no STF acerca da constitucionalidade da Lei Federal nº. 13.967/2019, bem como para 
algumas reflexões atuais no tocante as implicações jurídicas e fáticas trazidas para a caserna 
com o advento da mencionada lei. 
Em virtude dessa inovação normativa no direito disciplinar militar e suas 
consequências jurídicas e materiais para a vida castrense, indagar-se-á no presente estudo sobre 
se o referido dispositivo normativo está efetivamente sendo aplicado e/ou os motivos de sua 
não aplicação, haja vista as implicações e anseios, bem como a insegurança jurídica, tanto para 
a instituição PM/RN, bem como para seus militares da força auxiliar potiguar, quanto aos 
aspectos de manutenção da disciplina da hierarquia e da regularidade de sua missão e da 
garantia dos direitos fundamentais insertos na Carta Magna de 1988. 
O presente trabalho se justifica pela necessidade de esclarecimentos acerca da temática 
aos interessados: Governo do Estado do Rio Grande do Norte, Polícia Militar do RN, Policias 
militares do RN, operadores do direito e a própria sociedade potiguar, quanto ao atual cenário 
jurídico do direito administrativo disciplinar militar na Policial Militar do RN, a partir da 
publicação da Lei Federal nº. 13.967 de 26 de dezembro de 2019. 
A plausibilidade do tema urge ainda necessário, uma vez que existe atualmente 
discussão doutrinária acerca da aplicação da Lei Federal nº. 13.967/2019, principalmente, 
quanto aos aspectos inerentes ao momento de sua aplicação, ou seja, de sua vigência (aplicação 
 
 
11 
 
 
e vigência são institutos diferentes), tendo em vista o lapso temporal de 12 meses esculpido no 
art. 3º da referida Lei1. 
O dispositivo referido vem causando uma imprecisão quanto ao tempo de vigência da 
norma que tem provocando interpretações doutrinárias e administrativas conflituosas, causando 
no mundo jurídico e fático incertezas e dúvidas quanto a sua aplicação e seus efeitos no direito 
administrativo disciplinar militar. 
Quanto ao Governo do Rio Grande do Norte é inegável a relevância e o interesse deste 
pelo objeto ora estudado uma vez que o Governador do Estado é chefe supremo da Polícia 
Militar estadual sendo inclusive deste, para alguns doutrinadores, a prerrogativa de proposição 
de mudanças legislativas quanto a criação e organização da Polícia Militar que por competência 
constitucional prevista nos artigos. 42, 142 e 144, e outros, da Constituição Federal de 1988, é 
subordinada ao Executivo estadual. 
Quanto a Polícia Militar do RN as preocupações são inclusive de ordem institucionais 
e se confundem com o interesse do próprio Estado, uma vez que a lei objeto de estudo tem 
reflexos fáticos jurídicos nos pilares essenciais da instituição por trazer consequências no 
tocante a hierarquia e a disciplina, bases da instituição castrense, tendo em vista que o processo 
e o direito disciplinar militar são normas gerais reguladoras que dão sustentáculo aqueles 
princípios institucionais. 
Nesse sentido é notório que a publicação da Lei em análise vem provocando certa 
insegurança jurídica sobre o direito disciplinar militar e em sua aplicação tendo em vista que 
trouxe mudanças substanciais nos principais institutos jurídicos que tratam do tema e nos quais 
estão balizados a garantia da hierarquia e disciplina castrense na PMRN, a exemplo da Lei 
Estadual n. º 4.630/76, Estatuto dos Policiais Militares da PM/RN e do Decreto Estadual n.º 
8.336/82, Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte 
(RDPMRN). Nesse diplomas legais estão previstas as condutas e as sanções aplicadas aos 
militares estaduais do RN, sendo uma delas a prisão e a detenção, abolidas pelo dispositivo 
acima mencionado. 
Tal preocupação sucinta dúvidas relevantes haja vista outra previsão contida no art. 2º 
da Lei em comento, que prevê a criação pelos Estados Federados deum código de ética e 
disciplina, para regular doravante, a conduta dos militares estaduais num curto prazo de 12 
 
1 Lei nº 13.967/2019. Art. 3º. Os Estados e o Distrito Federal têm o prazo de doze meses para 
regulamentar e implementar esta lei. 
 
 
12 
 
 
meses, o qual está a expirar-se, e que atualmente, no caso do Rio Grande do Norte, está longe 
de ser um consenso entre os envolvidos conforme será abordado em capítulo próprio. 
Quanto aos policias militares do RN, observa-se que boa parte do efetivo, desconhece 
o rito ou o procedimento a ser adotado quando um militar infringe uma norma disciplinar da 
corporação. Tal realidade agravou-se com a publicação da Lei Federal nº. 13.967/2019, que 
alterou o Decreto Federal nº 667/69, uma vez que aprofundou sobremaneira as dúvidas acerca 
da aplicação da norma em comento, tendo em vista a doutrina e até mesmo alguns Estados 
levantarem entendimentos distintos acerca de sua aplicação e efetividade. 
Nesse sentido de incertezas tem sido as decisões judiciais, pareceres administrativos e 
discussão doutrinária sobre o tema que deixam pairar certa insegurança jurídica aos seus 
destinatários em não saber identificar atualmente qual o melhor caminho jurídico a ser seguido 
nos casos de violação da norma. 
Nesse cenário de incertezas, também se discute o melhor instrumento jurídico a ser 
utilizado nos casos de descumprimento da Lei, chegando alguns procuradores a empregar o 
Habeas Corpus individual, outros o Habeas Corpus coletivo em benefício de seus 
representados. 
Cabe aqui destacar, que o próprio texto constitucional veda o uso do Habeas Corpus 
nos casos de prisão administrativa de militar, fazendo-se necessário portanto, analisar 
atualmente em qual momento esses mecanismos passaram a ser permitido em face do atual 
cenário jurídico trazido pela Lei Federal nº. 13.967 /2019, uma vez que esta resta preservada 
sua constitucionalidade até ulterior decisão em contrário. 
Por fim o tema apresenta importante relevância para a comunidade jurídica e para os 
operadores do direito, tendo a problemática apresentado uma série de discussões jurídicas que 
precisam ser pacificadas a fim de se garantir a segurança jurídica necessária aos seus 
destinatários finais. Dificuldade de interpretação sobre o momento dos efeitos da norma; 
dúvidas quanto à possibilidade de existência de vício material ou formal, questionada por meio 
de ADIN; necessidade de se identificar o instrumento jurídico adequado em casos de detenção 
ou prisão disciplinar de militar à revelia da Lei (Habeas Corpus, individual ou coletivo). Esses 
são alguns dos aspectos e questionamentos jurídicos que devem ser enfrentados e discutidos 
pela comunidade jurídica e que estão presentes no atual cenário do direito disciplinar militar 
após o advento da Lei Federal nº. 13.967/2019. 
Para se atingir o propósito pretendido, será inicialmente apresentada ADI nº 6595 e 
seus fundamentos que questionam a constitucionalidade da Lei Federal nº. 13.967 /2019, quanto 
aos requisitos formais e materiais. 
 
 
13 
 
 
Diante da pendência de julgamento da ADI, que declare a inconstitucionalidade da 
referida Lei, surge necessários outros questionamentos que se apresentam como indispensáveis 
para uma melhor compreensão do tema como por exemplo: a Lei Federal nº 13.967/2019, vem 
de fato sendo aplicada na PM/RN? Qual o entendimento atual da doutrina e da jurisprudência 
quanto ao tempo de vigência e da extinção da prisão administrativa previsto na norma e como 
os tribunais superiores vem se posicionando acerca do tema? Qual o panorama atual acerca da 
criação do código de ética na PM/RN? 
 Sem necessariamente pretender-se dar por exauridas as atuais discussões doutrinárias 
acerca principalmente do momento dos efeitos da Lei no mundo fático jurídico, as hipóteses 
acima levantadas foram analisadas e discutidas ao longo da pesquisa e serviram de subsídio 
material e metodológico para se formular as reflexões, as considerações pertinentes e a 
conclusão deste estudo. 
A metodologia aplicada parte de pesquisa bibliográfica e jurisprudencial qualitativa 
com análise de dados e reflexões acerca da temática e dos efeitos trazidos com a Lei objeto de 
estudo. 
Conceitos jurídicos introdutórios de autores como Dimitri Dimoullis, entre outros, 
foram utilizados como principais ferramentas jurídicas bibliográficas que deram o suporte 
teórico necessário aos fundamentos da pesquisa. 
O presente trabalho ainda encontra respaldo no estudo da legislação e jurisprudência 
pertinente a temática 
Foram utilizadas como fontes de pesquisa: pareceres e normas administrativas da 
PM/RN, Boletins Gerais da PM/RN, artigos sobre o tema entre outras fontes, que fornecem um 
arcabouço suficiente e instigador à consecução do objetivo do trabalho. 
Esse trabalho monográfico está estruturado com Introdução, 04 capítulos com 
respectivos subtópicos, e uma conclusão com as considerações e reflexões acerca do tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
1. BREVES CONSISDERAÇÕES ACERCA DO DIREITO DISCIPLINAR MILITAR 
 
A Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte foi criada em 27 de junho de 1834 
quando o Brasil Independente já vivenciava sua fase de Império e de onde remonta seus pilares 
de instituição militar com mais de 180 anos de tradição, que tem como missão primordial e 
constitucional a manutenção da ordem pública e a preservação dos seus princípios basilares, 
restando portanto, calcada essencialmente em dois princípios institucionais fundamentais que 
lhe dão sustentáculo que são: Hierarquia e a Disciplina. 
Objetivando a manutenção e garantia de sua missão, bem como de seus princípios 
basilares acima mencionado, o legislador brasileiro vem criando ao longo do tempo e do espaço 
todo um arcabouço normativo disciplinar, a fim de regular a conduta e comportamento dos 
militares federais e estaduais e de salvaguardar os princípios institucionais da vida castrense. 
Não obstante, dada as mudanças ocorridas em determinado tempo e espaço da História 
humana e das necessidades sociais que impulsionam o legislador a adequar o direito castrense 
as novas peculiaridades surgidas na sociedade e na própria caserna, que carecem de nova 
roupagem jurídica, a fim de se adequar o direito a realidade e aos fatos cotidianos, veio esse 
legislador pátrio ao longo do tempo buscando esse equilíbrio entre o fato, o valor e a norma, 
conforme ensinamentos de Dimitri Dimoullis (2011). 
Nessa perspectiva intelectiva e cronológica será traçado uma breve síntese acerca das 
mudanças e adequações do direito militar e disciplinar ao longo do tempo, com enfoque voltado 
para os dispositivos normativos identificados na legislação pátria que regula as instituições 
militares em especial a Polícia Militar do Rio Grande do Norte, desde a época Imperial até a 
Constituição Federal de 1988. 
 
1.1 O DIREITO DISCILPLINAR MILITAR NA CONSTITUIÇÃO DE 1824 E SUA 
RELAÇÃO COM O DIREITO MILITAR 
 
O Direito Disciplinar Militar no Brasil desde sua origem esteve indissociavelmente 
interligado ao direito Militar e fora observado de forma ainda que incipiente no período 
Colonial e Imperial brasileiro, tendo suas raízes na antiga legislação castrense trazida pela 
Metrópole portuguesa, que formava um arcabouço de normas e serviam inclusive como base 
de organização jurídica do Exército Luso. Nesse sentido, importante observação de Petrus 
Gomes (2019), em dissertação acerca do Direito Disciplinar no Brasil: 
 
 
 
15 
 
 
Em 1762, quando a guerra desembarcou no Reino de Portugal, o Brasil era uma 
importante colônia portuguesa e como tal não dispunha de 
legislação de guerra ou qualquer outra norma que tratasse da temática de 
organização, manutenção ou disciplina de tropas militares em seu território. Nesse 
período, segundo Wellington Barbosa da Silva, em sua Tese deDoutorado: ENTRE 
A LITURGIA E O SALÁRIO: a formação dos aparatos policiais no Recife do século 
XIX (1830-1850), foi o momento “em que aparatos policiais militarizados foram 
organizados no Brasil – principalmente, após a chegada da família real portuguesa em 
1808” (SILVA, 2003, p. 245), por conta disso havia a necessidade do exército 
português implantar rapidamente o Regulamento Disciplinar militar, como uma 
norma fundamental para as recém criadas tropas militares brasileiras. (PETRUS, 
2019. p. 19). 
 
Com a vinda da família real em 1808 e a instauração da Corte portuguesa na sua 
Colônia mais promissora esse conjunto de leis foram se incorporando às instituições coloniais. 
Posteriormente, com o advento da proclamação da independência em 1822 e da 
outorga da Constituição Imperial de 1824, passou-se a regular o direito disciplinar pátrio no 
corpo normativo daquela Constituição de forma mais precisa e voltada para as instituições 
nacionais, entre elas as incipientes forças públicas das províncias, que passaram a ser criadas a 
partir daquele marco constitucional, entre elas, a Força pública da então Província do Rio 
Grande, criada em 27 de junho de 1834. 
Naquele contexto de um Brasil independente do julgo da Coroa Portuguesa foi 
elaborada a sua primeira Constituição Federal que embora outorgada sob o crivo do Imperador, 
passou a regular as instituições nacionais, entre elas as militares. É, portanto, a partir da 
Constituição Imperial de 1824 que surgem as prescrições das primeiras normas genuinamente 
brasileiras atribuídas aos militares nacionais, previstas no título 5º, capítulo VIII, artigos 145 e 
1502 (BRASIL, 1824). 
Os citados dispositivos constitucionais mencionava a permanência da Força Militar de 
Mar e Terra – sistema organizacional militar colonial – enquanto não se designasse nova Força 
Militar pela Assembleia Geral, mantendo assim, a denominação contida na antiga estrutura 
colonial, até ulterior deliberação legislativa. 
Também nesse primeiro momento o texto constitucional prescrevia mandamentos de 
ordem disciplinar e hierárquica ao determinar obediência dos militares a autoridade legitima, 
impedindo-os inclusive de não se reunirem sem o consentimento superior de autoridade 
competente. 
 
2 Art. 145. Todos os Brazileiros são obrigados a pegar em armas, para sustentar a Independencia, e integridade 
do Imperio, e defendel-o dos seus inimigos externos, ou internos. 
[...] 
Art. 150. Uma Ordenança especial regulará a Organização do Exercito do Brazil, suas Promoções, Soldos e 
Disciplina, assim como da Força Naval. 
 
 
 
16 
 
 
Quanto a competência para gerir as forças militares, tema que terá discussão própria 
em capítulo oportuno, os dispositivos mencionados (título 5º, capítulo VIII, artigos 145 e 150 
da Constituição de 1824) conferiam tal prerrogativa privativa ao poder executivo concentrado 
na pessoa do Imperador que detinha legitimidade para o emprego da Força Armada e policial, 
na defesa e segurança do incipiente Império. 
Também no aspecto da regulação da disciplina castrense o conteúdo normativo do art. 
150 da constituição em comento, prescrevia a organização de um sistema de leis sobre a 
disciplina militar que serviriam para regular a vida na caserna imperial. 
Ainda no período imperial houve significativo avanço dos dispositivos jurídicos 
militares no tocante a persecução penal militar sendo criado institutos próprios para fins de 
processamento e julgamento de crimes ou transgressões praticadas por militares dentro ou fora 
da caserna. São desse momento histórico por exemplo a criação de institutos como os Conselhos 
de Disciplina que serviam para julgar processos de deserção de Praças e que atualmente podem 
tem correspondência em Estatutos de militares estaduais, como por exemplo, o Estatuto dos 
Policiais Militares da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Lei Estadual n. º 4.630 de 16 de 
dezembro de 1976, conforme prescrição do Art. 48 da Lei. 
 
Art. 48- O Aspirante-a-Oficial PM bem como as Praças com estabilidade assegurada, 
presumivelmente incapazes de permanecer como policiais-militares da ativa, serão 
submetidos a Conselho de Disciplina, na forma da legislação específica (Rio Grande 
do Norte, 1976). 
 
 
Também naquele momento foram criados o Conselho Supremo Militar, que era uma 
espécie de tribunal de segunda instância para julgamento de crimes militares e que atualmente 
se assemelharia ao Tribunal de Justiça Estadual, órgão competente de segunda instância para 
julgamento de crimes cometidos por militares estaduais nos Estados em que não exista tribunais 
especiais militares. 
 Por último, são ainda da legislação imperial a criação das Juntas de Justiça Militar e 
os Conselhos para faltas disciplinares, que atualmente tem correspondentes nas auditorias ou 
Varas militares e que se destinam ao julgamento de recursos de transgressões disciplinares que 
não se configuram crime próprio ou impropriamente militar. 
A regulação castrense legislada ainda na época imperial apontam desde então a 
preocupação estatal em garantir um conjunto de normas especiais para fins de regramento e 
controle da vida militar, objetivando disciplinar no âmbito administrativo e penal a conduta e o 
disciplinamento dos militares federais e estaduais dentro e fora dos quartéis. 
 
 
17 
 
 
Conforme leciona Correia (2002, p. 24), ainda no império, foram criados os Conselhos 
de Disciplina, para verificar a deserção das Praças de pré; os Conselhos de Investigação para 
estudar atos criminosos em geral e deserção de Oficiais de Patentes; os Conselhos de guerra 
para julgar em Primeira Instancia os crimes militares; o Conselho Supremo Militar, tribunal de 
segunda instância para julgamento dos referidos crimes; e as Juntas de Justiça Militar e os 
Conselhos para faltas disciplinares. 
Ainda segundo Correia (2002, p. 25), tudo desaguou no Código penal da Armada (que 
era, então, o nome da Marinha do Brasil), que fora substituído mais tarde pelo Decreto n.º 18, 
de sete de março de 1891. 
Em 1893, foi criado o Supremo Tribunal Militar com a dupla atividade de órgão 
consultor e judicial, tendo sua parte processual iniciada em julho de 1895, a fim de ser 
observado no Exército e na Armada quatro meses após a sua publicação. 
Em linhas gerais, foram essas as principais normas legisladas após a Constituição 
Imperial de 1824 na qual podem ser identificadas as origens primárias do direito militar e 
disciplinar militar atual, que guardam pertinência relevante com o objeto de estudo ora 
abordado por tratar das atuais alterações sofridas nesse Direito. 
 
1.2 O DIREITO DICIPLINAR MILITAR NAS CONSTITUIÇÕES REPUBLICANAS. 
 
Observadas as peculiaridades da legislação castrense no período imperial, far-se-á um 
breve resumo dessa legislação a partir do momento histórico republicano brasileiro, que 
indubitavelmente trouxe significativas mudanças institucionais e sociais, dada a nova 
conjuntura jurídica e política pela qual passou a Nação, principalmente com o novo papel 
desempenhado pelos militares naquele momento e para além dele. 
No período republicano em análise nesse tópico destacar-se-á alguns dos principais 
dispositivos normativos castrenses que merecem serem observados, dadas as pretensões da 
pesquisa, a fim de se delimitar e preparar a interligação deste tópico com os capítulos 
subsequentes do presente estudo. 
Inicialmente, cabe destacar a criação da Lei n.º 612, de 29 de setembro de 1899, a qual 
estendeu os efeitos jurídicos do antigo Código da Armada, ainda do período Imperial, para o 
Exército Nacional da nova República, passando esse dispositivo a partir de então a regular essa 
Força Armada. 
 
 
18 
 
 
Posteriormente, por força do Decreto-Lei n.º 2.961, de 20 de janeiro de 1941, o 
dispositivo anteriormente mencionado acabou por se estender também à Força Aérea Brasileira,unido assim as duas forças Exército e Aeronáutica. 
Ainda na primeira metade do Séc. XX, foi editado o Decreto-Lei n.º 6.227, de 24 de 
janeiro de 1944, que instituiu o Código Penal Militar no qual foi agrupado num código único a 
regulação normativa comum às Forças Armadas Brasileira: Exército Brasileiro, Força Aérea e 
Marinha do Brasil (Brasil, 1944). 
O mencionado Código Penal Militar de 1944 ficou em vigor até o fim do período 
republicano que perdurou até a instauração do Regime Cívico Militar que teve início na segunda 
meta da década de 1960, após profunda crise político-social que se instaurou no País. Tal fato 
histórico viria a culminar com o regime de exceção de 1964, trazendo assim, momento peculiar 
na História Brasileira e que traria em seu arcabouço mudanças significativas para as forças 
militares, dado o protagonismo das Forças Armadas no período que se estendeu de 1964 até a 
redemocratização do País em meados da década de 1980. 
 
1.3 O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR NO REGIME MILITAR, 1964-1985 
 
Conforme observado no tópico anterior o legislador pátrio do período republicano 
conseguiu consolidar em um Código Penal Militar único, conjunto normativo que tinha como 
fim específico regular o Direito Militar e Disciplinar Militar comum a todas as forças militares 
do país. 
No entanto, o Regime inaugurado em 1964, acabou por revogar por Decreto - Lei, 
instrumento bastante requisitado pelo executivo federal, o então o Código Penal Militar de 
1944. Em sua substituição foi editado o atual Código Penal Militar datado de 21 de outubro de 
1969, que passou a ser regulado pelo Decreto-Lei n.º 1.001, que entrou em vigor no dia 1º de 
janeiro de 1970. 
Também é desse período histórico nacional três importantes dispositivos normativo 
que passou a regular o direito disciplinar militar, inclusive nas policias militares estaduais e que 
guardam intrínseca correspondência com a presente pesquisa, os quais serão detalhados em 
tempo oportuno, sendo necessário apenas neste momento serem mencionados e trazidos a 
discussão. 
O primeiro comando normativo trata-se do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, 
que “reorganiza as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos estados, dos 
territórios e do distrito federal, e dá outras providências” e que sofreu recentemente alteração 
 
 
19 
 
 
em seu o art. 18, por força da Lei Federal nº 13. 967 de 26 de dezembro de 2019, objeto de 
estudo em análise. 
Por consequência da mencionada alteração no Decreto supramencionado pela lei em 
comento, o segundo dispositivo a destacar, Estatuto da Polícia Militar do Rio Grande Norte, 
Lei Estadual nº 4.630 de 16 de dezembro de 1976 , também sofreu reflexos jurídicos por guardar 
estreita correspondência com aquele dispositivo, uma vez que no próprio Estatuto está previsto 
e delimitada conceitualmente e proporcionalmente à sanção disciplinar administrativa de Prisão 
e Detenção, as quais foram revogadas tacitamente com o advento da Lei nº 13. 967 de 26 de 
dezembro de 2019. 
Por fim, o terceiro dispositivo a sofrer reflexos jurídicos foi o Decreto Estadual n.º 
8.336 de 12 de fevereiro de 1982, Regulamento Disciplinar da PMRN, cuja finalidade é 
especificar e classificar as transgressões disciplinares, estabelecer normas relativas à amplitude 
e a aplicação das punições disciplinares, à classificação do comportamento policial militar das 
praças e à interposição de recursos contra a aplicação das punições disciplinares e no qual estão 
previstas as condutas consideradas como Transgressão Disciplinar, bem como as sanções 
disciplinares impostas aos militares estaduais do RN em caso incidência de conduta contrária 
aos preceitos disciplinares ali tipificados. 
Destaque-se que os dispositivos normativos mencionados e as alterações destacadas 
nesse tópico revestem-se de suma relevância para o desenvolvimento da pesquisa uma vez que 
guardam estreita relação com o objeto e os objetivos pretendidos no presente estudo. 
No entanto, tão importante quantos estes dispositivos, são os que serão apresentados 
no tópico seguinte, uma vez que se apresentam dentro de uma nova perspectiva pós 
Constituição Cidadã de 1988, e que se revestem de características peculiares dados os atuais 
mandamentos de natureza constitucional aos quais estão vinculados. 
 
1.4 O DIREITO DISCIPLINAR MILITAR NA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988. 
 
A redemocratização do Brasil trouxe consigo um conjunto de normas previstas na 
Constituição Federal de 1988 que mudou sobremaneira a forma como as instituições militares 
estaduais e os poderes constituídos passaram a enxergar e a serem vistos pela sociedade 
brasileira. 
Quanto as instituições militares, no que pese restarem resquícios de antigas disposições 
normativas de momento histórico passado, as mudanças se operaram de forma significativa. 
Uma das principais mudanças se deu no tocante a ressignificação social do papel das policias 
 
 
20 
 
 
militares no país, que passou de uma antiga ideia de defesa da pátria, para uma ressignificação 
de garantia e defesa da sociedade, na qual a condição de cidadania do policial militar perpassa 
por uma “condição primeira, tornando-se bizarra qualquer reflexão fundada sobre suposta 
dualidade ou antagonismo entre uma sociedade civil e outra sociedade policial” (Balestrere, 
1998, p. 100). 
Nessa nova conjuntura constitucional cidadã a Constituição Federal de 1988 regulou 
inúmeros dispositivos dispensados aos militares federais e estaduais, discorrendo sobre a 
carreira, os direitos políticos, à nacionalidade, os direitos sociais, os direitos previdenciários, 
dentre outros. 
Destacou ainda, que as Forças Armadas e Auxiliares são responsáveis pela defesa da 
soberania nacional e da ordem pública, respectivamente, missões extremamente distintas e 
árduas, daí a importância de um direito próprio aos militares, cujos costumes militares e a vida 
na caserna são tão peculiares. 
 Nessa perspectiva constitucional pós 1988, o direito disciplinar castrense faz-se ainda 
extremamente necessário dada suas peculiaridades e relação com o direito militar e devido ao 
seu conjunto de normas guardar intrínseca relação com o modus vivendi das Forças Armadas e 
das Forças Auxiliares. 
 
A sociedade militar é peculiar; possui modus vivendi próprio; todavia, submete-se aos 
princípios gerais do direito, amoldando-se ao ordenamento jurídico nacional; pode e 
deve ser submetida ao controle judicial do qual a ninguém é dado furtar-se; Esta 
peculiaridade exige sacrifícios extremos (a própria vida), que é mais do que simples 
risco de serviços das atividades tidas como penosas ou insalubres como um todo. 
Itálico no original. (ASSIS, 2013) 
 
 
Assim o Direito Penal Militar e o Direito Disciplinar Militar se relacionam por terem, 
sobretudo, estreita relação com os princípios constitucionais da hierarquia e da disciplina, 
pilares de suas estruturas jurídicas e de sua peculiaridade de natureza Militar. 
No âmbito federal os militares são regidos no que tange à esfera administrativa pelo 
Estatuto dos Militares e os Regulamentos Disciplinares das respectivas forças: Marinha do 
Brasil (MA), Exército Brasileiro (EB) e da Força Aérea Brasileira (FAB). 
Já quanto aos estados federados a Constituição delegou competência própria ao 
executivo estadual para organizar e manter suas forças policiais. 
Cabe destacar nesse ponto que apesar das competências e diretrizes previstas nos 
artigos 42, 142, 144 entre outros dispositivos da Constituição de 1988, a Polícia Militar do Rio 
Grande do Norte, como bem já foi mencionado, tem seu Estatuto criado pela Lei Estadual n. º 
 
 
21 
 
 
4.630/76, no qual observa-se em todo o seu corpo textual as balizas de ordem institucional que 
inspiram os profissionais das armas, bem como ilustra e reforça a convicção de que estes 
constituem uma classe especial de servidores públicos, com características próprias denatureza 
funcional que os distinguem dos demais servidores. 
Também através do Decreto Estadual n.º 8.336/82 foi criado o Regulamento 
Disciplinar Militar da Polícia Militar do RN. 
Ambos dispositivos, tem algo em comum, que é o fato de terem sido editados e 
publicado em momento anterior a Constituição de 1988, tendo sido, portanto, recepcionado por 
esta, segundo leciona Santos (2012, on-line): 
 
Quando uma Constituição começa a vigorar, todo o Ordenamento Jurídico também 
começa a sofrer reflexos, pois a Constituição é nova, todavia o Ordenamento Jurídico 
é preexistente, ou seja, as normas infraconstitucionais ainda continuam vigorando”. A 
nova Constituição fará importante papel de absorção de todo ordenamento pretérito, 
pois as leis preexistentes serão “apagadas”, ou seja,é como se eles fossem apagadas e 
reescritas em conformidade com o novo mandamento constitucional, a este fenômeno 
da-se o nome de Recepção Constitucional. 
 
Destaque-se ainda, como conclusão do presente capítulo, que os mencionados 
dispositivos foram profundamente alterados, senão revogados, segundo depreende-se da 
interpretação dos arts. 1º, 2º e 3º da Lei Federal nº 13. 967/2019, e conforme entendimento de 
boa parte da doutrina. 
 
Art. 1º Esta Lei altera o Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, que reorganiza as 
polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, dos Territórios e do 
Distrito Federal. 
Art. 2º O art. 18 do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, passa a vigorar com a 
seguinte redação: 
Art. 18. As polícias militares e os corpos de bombeiros militares serão regidos por 
Código de Ética e Disciplina, aprovado por lei estadual ou federal para o Distrito 
Federal, específica, que tem por finalidade definir, especificar e classificar as 
transgressões disciplinares e estabelecer normas relativas a sanções disciplinares, 
conceitos, recursos, recompensas, bem como regulamentar o processo administrativo 
disciplinar e o funcionamento do Conselho de Ética e Disciplina Militares, 
observados, dentre outros, os seguintes princípios: 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0667.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0667.htm#art18.0
 
 
22 
 
 
2. REFLEXOS JURÍDICOS DA LEI FEDERAL Nº. 13.967 DE 26 DE DEZEMBRO DE 
2019 EM OUTROS DISPOSITIVOS INFRACONSTITUCIONAIS 
 
O presente capítulo tecerá breves comentários acerca dos reflexos jurídicos e das 
generalidades que permeiam a atual discussão em torno da aplicação da Lei Federal nº 
13.967/2019, partindo-se da observação dos principais institutos normativos do Direito 
Disciplinar que foram afetados pelos efeitos jurídicos produzidos pela norma em comento ou 
que de alguma forma sofreram alterações com a publicação da mencionada Lei. 
Preliminarmente, cabe destacar que a Constituição Federal de 1988 trouxe em norma 
positivada a garantia dos direitos fundamentais inerentes a condição humana, conforme 
previsão do art. 5º in verbis: 
 
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
(BRASIL, 1988). 
 
Ressalte-se ainda que a prisão disciplinar militar difere da prisão criminal 
comum ou militar, pois estas tratam e impõe sanções por cometimento de crime, sejam eles 
crimes comuns ou militares. 
A prisão disciplinar militar é a privação da liberdade do militar por cometimento de 
transgressão disciplinar, sua previsão é calcada no artigo 5º, inciso LXI da Constituição Federal 
de 1988. 
Cabe, no entanto, observar que os arts. 42, 142 e144, cuidaram em delimitar a função 
constitucional e a competência das Policias Militares Estaduais previstas na Constituição 
Federal de 1988 dada a peculiaridade de sua função social e as especificidades de seus regimes 
jurídicos. 
Também cuidou o constituinte originário de certas peculiaridades inerentes aos 
militares em geral quando da vedação do instituto jurídico do Habeas Corpus nos casos de 
prisão administrativa disciplinar, (§ 2º, art. 142/CF). In verbis: Art. 142 [...] - § 2º. Não caberá 
habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.” 
No entanto, o Supremo Tribunal Federal mitigou a literalidade desse dispositivos 
constitucionais em suas decisões3. 
 
3 RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MATÉRIA CRIMINAL. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. Não há que 
se falar em violação ao art. 142, § 2º, da CF, se a concessão de habeas corpus, impetrado contra punição disciplinar 
militar, volta-se tão-somente para os pressupostos de sua legalidade, excluindo a apreciação de questões referentes 
ao mérito. […] (RE 338.840/RS, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ 12.9.2003) 
 
 
23 
 
 
Os mencionados dispositivos constitucionais enfatizam ainda a vinculação e os limites 
das normas infraconstitucionais sem, contudo, olvidar daquelas normas anteriores a 
Constituição de 1988, que foram recepcionadas, constituindo assim verdadeira moldura 
constitucional conforme leciona Mazzuoli (2011, p. 29): 
 
Da análise do § 2.º do art. 5.º da Carta brasileira de 1988, percebe-se que 
três são as vertentes, no texto constitucional brasileiro, dos direitos e 
garantias individuais: a) direitos e garantias expressos na Constituição, a 
exemplo dos elencados nos incisos I ao LXXVIII do seu art. 5.º, bem como 
outros fora do rol de direitos, mas dentro da Constituição, como a garantia 
da anterioridade tributária, prevista no art. 150, III, b, do Texto Magno; b) 
direitos e garantias implícitos, subentendidos nas regras de garantias, bem 
como os decorrentes do regime e dos princípios pela Constituição adotados, 
e c) direitos e garantias inscritos nos tratados internacionais em que a 
República Federativa do Brasil seja parte. 
 
 
Da mesma forma também é uníssona, e majoritariamente defendida pela doutrina e 
pela jurisprudência, a tese da teoria da receptividade no ordenamento jurídico pátrio e da 
hierarquia das normas constitucionais em face do ordenamento infra-constitucional, conforme 
leciona Santos (2012, p. 10 e 43) em trabalho monográfico sobre o tema, mencionando inclusive 
ensinamentos do Ministro Alexandre de Moraes: 
 
“Alexandre de Morais, sobre a temática, aduz: 
[...] a existência de escalonamento normativo é pressuposto necessário para a 
supremacia constitucional, pois, ocupando a constituição a hierarquia do sistema 
normativo é nela que o legislador encontrará a forma de elaboração legislativa e o seu 
conteúdo. Além disso, nas constituições rígidas se verifica a superioridade da norma 
magna em relação àquelas produzidas pelo Poder Legislativo, no exercício da função 
legiferante ordinária. Dessa forma, nelas o fundamento do controle é o de que nenhum 
ato normativo, que lógica e necessariamente dela decorre, pode modificá-la ou 
suprimi-la (Santos,2012, p.10). 
(...) 
“Com o advento de uma nova Constituição, inicia-se concomitantemente uma nova 
ordem jurídica. Nessa medida, todo o catálogo de leis infraconstitucionais, vigentes 
ao longo da Constituição pretérita, restará agora à procura de um novo fundamento de 
validade. Assim, as normas que forem compatíveis com a nova Carta Política, serão 
automaticamente recepcionadas; ao passo que, aquelas que forem comprovadamente 
incongruentes perderão de pronto a sua eficácia. Esse é o fenômeno da recepção 
(Santos,2012, p. 43). 
 
Nesse sentido, observa-se que outros dispositivos normativos que foram editados em 
momento anterior a Constituição de 1988 guardam relação de subordinação quando 
recepcionados por esta. 
Importante destacar tal observação, uma vez que, o objeto de estudo aqui analisado 
deve guardar máxima correspondência com o princípio da hierarquia da norma e atendimento 
aos preceitosconstitucionais, tendo em vista que alterou significativamente outros dispositivos 
até então em vigência que regulavam o direito disciplinar militar nas policias estaduais, como 
 
 
24 
 
 
por exemplo: Decreto Federal nº 667/69; Lei Estadual nº 4.630 de 16/12/1976 e o Decreto- Lei 
nº 8.336/82. 
 
2.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ACERCA DO CONTEÚDO NORMATIVO DA 
LEI FEDERAL Nº. 13.967 DE 26 DE DEZEMBRO DE 2019 E AS ALTERAÇÕES 
PROMOVIDAS NO DECRETO FEDERAL Nº 667/69 
 
A Lei Federal nº. 13.967 de 26 de dezembro de 2019, objeto de reflexões do presente 
trabalho, foi proposta de autoria dos Deputados Federais Subtenente Gonzaga (PDT/MG) e 
Jorginho Mello (PR/SC) e teve origem no Projeto de Lei nº 7.645/2014, sendo publicada no dia 
27 de dezembro de 2019 no Diário Oficial da União, (D.O.U. de 27/12/2019, P. 2), 
promovendo alterações no Decreto Federal nº 667/69 que reorganiza as policiais militares 
estaduais e dá outras providências; bem como em outras normas já existente. 
Para uma melhor compreensão da norma sob análise serão considerados, mais 
detidamente, os principais comandos normativos da Lei Federal nº 13.967/2019. 
Para efeitos didáticos será feito uma compartimentação dos comandos normativos 
insertos no conteúdo da norma a fim de proporcionar os resultados esperados quanto a sua 
análise e comparação com outras normas já existente e que versam sobre o tema. 
A primeira parte do conteúdo da norma contida em sua ementa dá uma ligeira 
compreensão dos resultados pretendidos pelo legislador e das alterações promovidas pela Lei, 
ao indicar que este diploma legal, “Altera o art. 18 do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 
1969, para extinguir a pena de prisão disciplinar para as polícias militares e os corpos de 
bombeiros militares dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras 
providências”. 
De plano, observa-se que o principal objetivo da norma e do legislador foi extinguir o 
fim da prisão disciplinar nas Policias Militares e Bombeiros Militares estaduais, sendo as 
“outras providências” tratadas nos artigos subsequentes e de forma subsidiária. 
Quanto ao conteúdo art. 1º, sua redação apenas confirma o disposto na Ementa da Lei 
quanto a alteração no Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, que a partir de então passa 
vigorar com novo comando do art. 18 e suas respectivas alterações. 
 
Art. 1º - Esta Lei altera o Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, que reorganiza 
as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, dos 
Territórios e do Distrito Federal. 
 
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=27/12/2019&jornal=515&pagina=2&totalArquivos=82
 
 
25 
 
 
Quanto ao comando normativo trazido pelo art. 2º do mencionado diploma, este prevê 
o fim da prisão disciplinar “VII - vedação de medida privativa e restritiva de liberdade”. 
Também estabelece como sendo um dever dos Estados e do Distrito Federal a criação de um 
Conselho de Ética e de um Código de Ética e Disciplina, num prazo de 12 meses, pelos quais 
as Policias Militares e Bombeiros Militares estaduais, serão doravante regidos. 
Tais alterações inseridas no art. 2º da lei tem reflexo jurídico imediato na legislação já 
existente que regulava e disciplinava o direito disciplinar militar nas Policias e Bombeiros 
Militares estaduais, tendo essas instituições que se adequarem a nova redação inserta no art. 2º 
da Lei Federal nº 13.967 de 26 de dezembro de 2019. 
Quanto aos arts. 3º e 4º, o legislador deixou pairar certa dúvida que vem sendo 
discutida nos quartéis no âmbito administrativo e na comunidade jurídica sendo, inclusive, 
objetos de ações judiciais e até de Ação Direta de Inconstitucionalidade, conforme será mais 
adiante observado. Tais questionamentos pairam principalmente sobre o momento em que a Lei 
passou a produzir efeitos materiais no mundo fático e jurídico, uma vez que prevê em seu Art. 
3º, um lapso temporal de 12 meses para as instituições militares estaduais, Polícia e Bombeiros, 
se adequarem a nova sistemática normativa da Lei. In verbis: “Art. 3º - Os Estados e o Distrito 
Federal têm o prazo de doze meses para regulamentar e implementar a Lei Federal nº 
13.967/2019.” 
A problemática levantada resta coerente uma vez que ao ser observada a parte final da 
Lei, onde comumente o legislador pretende marcar o início de vigência da norma, observa-se 
que em seu 4º, existe previsão expressa do prazo para imediata vigência da norma e por 
consequência dos seus efeitos no plano material. In verbis: “Art. 4º - Esta Lei entra em vigor 
na data de sua publicação”. 
Tal discussão será retomada em momento próprio do presente estudo, cabendo neste 
instante apenas informar as peculiaridades do conteúdo normativo do objeto de estudo em 
análise e os temas mais inquietantes de sua redação. 
Os tópicos seguintes tratarão dos reflexos jurídicos da Lei Federal nº 13.967 de 26 de 
dezembro de 2019 em outras normas infraconstitucionais que se relacionam com tema e que 
sofreram alterações em seus conteúdos, mas que ainda estão sendo utilizadas em algumas 
instituições militares estaduais, inclusive na PM/RN. 
 
LEI Nº 13.967, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2019 
Altera o art. 18 do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, para extinguir a pena 
de prisão disciplinar para as polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos 
Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, e dá outras providências. 
 
 
26 
 
 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e 
eu sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1º Esta Lei altera o Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, que reorganiza as 
 polícias militares e os corpos de bombeiros militares dos Estados, dos Territórios e 
do Distrito Federal. 
Art. 2º O art. 18 do Decreto-Lei nº 667, de 2 de julho de 1969, passa a vigorar com a 
seguinte redação: 
“Art. 18. As polícias militares e os corpos de bombeiros militares serão regidos por 
Código de Ética e Disciplina, aprovado por lei estadual ou federal para o Distrito 
Federal, específica, que tem por finalidade definir, especificar e classificar as 
transgressões disciplinares e estabelecer normas relativas a sanções disciplinares, 
conceitos, recursos, recompensas, bem como regulamentar o processo administrativo 
disciplinar e o funcionamento do Conselho de Ética e Disciplina Militares, 
observados, dentre outros, os seguintes princípios: 
I - dignidade da pessoa humana; 
II – legalidade; 
III - presunção de inocência; 
IV - devido processo legal; 
V - contraditório e ampla defesa; 
VI - razoabilidade e proporcionalidade; 
VII - vedação de medida privativa e restritiva de liberdade.” (NR) 
Art. 3º Os Estados e o Distrito Federal têm o prazo de doze meses para regulamentar 
e implementar esta Lei. 
Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
Brasília, 26 de dezembro de 2019; 198º da Independência e 131º da República. 
JAIR MESSIAS BOLSONARO 
Onyx Lorenzoni 
Jorge Antonio de Oliveira Francisco 
Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.12.2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
3. ANÁLISE ATUAL ACERCA DA VIGÊNCIA E EFETIVIDADE DA LEI FEDERAL 
Nº 13.967/2019 A LUZ DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA NO BRASIL. 
 
Após breve síntese histórica acerca do Direito Disciplinar Militar e de algumas 
observações sobre aspectos relevantes da Lei Federal nº 13.967/2019 e seus reflexos neste ramo 
do direito; será tratado e analisado neste capítulo os principais posicionamentos doutrinários e 
jurisprudenciais que atualmente estão voltados para a discussão acerca da mencionada Lei, mais 
detidamente quanto a pontos sensíveis de seu conteúdo, especificamente inseridos nos arts. 3º 
e 4º, que versam sobre o momento de sua vigência, bem como do momento dos efeitos jurídicos 
e materiais por ela produzidos. 
 Para se atingir o propósito pretendido neste momentoda pesquisa, será analisado 
na doutrina, nas decisões dos Tribunais Estaduais e Superiores (STJ e STF), e nos pareceres do 
Ministério Público e Procuradorias, entre outras fontes, os principais posicionamentos adotados 
quanto as demandas atuais que versem sobre o tema e que atualmente encontram-se em 
discussão. 
 
3.1 DISCUSSÃO DOUTRINÁRIA ACERCA DA VIGÊNCIA E DA EFETIVIDADE DA LEI 
FEDERAL Nº 13. 967 DE 26 DE DEZEMBRO DE 2019. 
 
A doutrina atual que versa acerca da Lei Federal nº 13. 967 de 26 de dezembro de 2019 
está basicamente voltada para os aspectos da vigência e efetividade da referida norma, mais 
precisamente quanto ao momento da produção de seus efeitos materiais no mundo fático, tendo 
em vista a redação contida nos seus arts. 3º e 4º, nos quais o conteúdo temporal deixou certa 
margem interpretativa que vem gerando discussões jurídicas sobre esse ponto peculiar. 
O problema perpassa basicamente sobre o momento em que a Lei passou a produzir 
efeitos materiais no mundo fático e jurídico dada a redação de seu art. 3º, que estipulou prazo 
específico de 12 (doze) meses para as instituições militares estaduais, Polícia e Bombeiros, 
cumprirem os comandos normativos contido no art. 2º da Lei Federal nº 13.967/2019. In verbis: 
“Art. 3º - Os Estados e o Distrito Federal têm o prazo de doze meses para regulamentar e 
implementar esta Lei”. 
A problemática levantada resta coerente uma vez que ao se chegar na parte final da 
Lei Federal nº 13.967/2019, onde comumente o legislador pretende marcar o início de vigência 
da norma, observa-se que no seu art. 4º, existe previsão expressa de prazo para imediata 
 
 
28 
 
 
vigência da Lei e por consequência dos seus efeitos no plano material e jurídico. In verbis: “Art. 
4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”. 
Ademais, como consequência dos atuais questionamentos suscitados acerca da 
vigência e efetividade da norma, percebe-se que subsiste divergência polarizada entre os 
Estados Federados quanto a redação contida nos parágrafos 3º e 4º da Lei Federal nº 
13.967/2019 e sua aplicação em suas policias e bombeiros militares estaduais. 
Nesse sentido, necessário destacar que atualmente existem Estados aplicando 
integralmente a Lei, enquanto outros apenas parcialmente, e noutro extremo, alguns que a estão 
ignorando integralmente, como é caso do Rio Grande do Norte, no qual a Polícia Militar vem 
aplicando ainda antigos dispositivos previsto em sua legislação disciplinar especifica, em 
especial os arts. 22, III e IV; 23; 26 e 27 do Decreto Estadual nº 8.336/82-RDPMRN, que regula 
as sanções disciplinares com previsão inclusive de penas privativas de liberdade como prisão e 
detenção, agindo portanto, à revelia da Lei Federal nº 13.967/2019. 
Ao consultar a doutrina pátria sobre o tema também é possível encontrar alguns 
posicionamentos divergentes acerca do problema, mas que podem servir para dirimir esse 
aparente conflito interpretativo acerca do marco temporal da efetiva aplicação da norma em 
especial, quanto a redação dos mencionados comandos dos arts. 3º e 4º da Lei Federal nº 
13.967/2019, 
Nesse sentido, em recente artigo sobre o tema, Pereira Martins (2020) advoga no 
sentido de que toda legislação castrense anterior a Lei Federal nº 13. 967/2019, existente nos 
antigos RDPMs, RDE ou em outra legislação correlata, que eram, ou ainda são aplicados como 
fundamento jurídico para fins de cerceamento de liberdade de militares estaduais, através de 
prisão ou Detenção Disciplinar, foram tacitamente revogados, sendo os gestores que não 
observarem a novel Lei, passivos de responderem inclusive civil e penalmente pelo 
descumprimento da norma. 
Adverte ainda o autor, que todos os procedimentos administrativos em andamento após 
a publicação da Lei, inclusive as execuções de medida disciplinar privativa de liberdade de 
militares estaduais, sejam imediatamente suspensas. Até mesmo os procedimentos já conclusos, 
segue o autor apontando que devem ser tornado nulos, uma vez que estariam em desacordo com 
o novo ordenamento jurídico trazido com a publicação e vigência da Lei Federal nº 13. 
967/2019. Cita como um dos fundamentos de seus argumentos recente julgado de Liminar em 
 
 
29 
 
 
Habeas Corpus proferida nos autos do processo nº 0000020-33.2020.8.16.0013, da Vara da 
Auditoria da Justiça Militar de Curitiba/PR4. 
Das conclusões acima tem-se que a teor das construções doutrinárias5 e do julgado 
mencionado depreende-se posicionamento no sentido da vigência e efetividade da Lei Federal 
nº 13. 967/2019, sendo seus efeitos de aplicação imediatos. 
Por outro lado, noutra vertente doutrinária de interpretação acerca do tempo da 
produção dos efeitos da Lei Federal nº 13.967/2019, em especial quanto a redação do art. 3º da 
referida norma, encontra-se publicado recente trabalho em coautoria de Porto de Carvalho, 
Promotora de Justiça Militar no Estado do Maranhão e Barbosa Ramos, Promotor de Justiça do 
Controle Externo da Atividade Policial no Maranhão, (2020), em que os mencionados autores 
expõem posicionamento oposto quanto a aplicação imediata da Lei Federal nº 13.967/2019, 
apontando inclusive indícios de inconstitucionalidade da norma por contrariar prescrição de 
competência exclusiva prevista na Constituição Federal de 1988. Sustentam subsistirem 
indícios de inconstitucionalidade por violação ao disposto nos artigos 5º, LXI, 42, §1º, e 142, § 
2º, 144, V e §§ 5º e 6º, da Constituição Federal. 
Fundamenta ainda argumentos no sentido de que a redação dos arts. 3º e 4º da Lei em 
comento deixam a entender que os entes federados e suas instituições militares estaduais 
 
4 Nesse sentido liminar em HC deferida nos autos do processo 0000020-33.2020.8.16.0013 da Vara da Auditoria 
da Justiça Militar - cível – Curitiba, onde ficou consignado que “...Eventual condição de eficácia da Lei válida e 
vigente não obsta a imediata colocação em liberdade daqueles que estão submetidos a` medida hoje considerada 
ilegal. 
 
5 Do ponto de vista estritamente técnico a lei 13.967, de 26 de dezembro de 2019, não se limita a extinguir 
modalidades sancionatórias privativas de liberdade em decorrência de faltas disciplinares praticadas por militares 
dos Estados. Vai muito além ao estabelecer as bases estruturais das normas disciplinares regentes das policias e 
dos corpos de bombeiros militares. 
Na redação primitiva do artigo 18 do decreto-lei 667, de 2 de julho de 1969, estava posto que as policias militares 
seriam “...regidas por Regulamento Disciplinar redigido à semelhança do Regulamento Disciplinar do Exército e 
adaptado às condições especiais de cada Corporação.” 
A partir da vigência da lei 13.967, de 26 de dezembro de 2019, o dispositivo em apreço passou a ter a seguinte 
redação: 
Art. 18. As polícias militares e os corpos de bombeiros militares serão regidos por Código de Ética e Disciplina, 
aprovado por lei estadual ou federal para o Distrito Federal, específica, que tem por finalidade definir, especificar 
e classificar as transgressões disciplinares e estabelecer normas relativas a sanções disciplinares, conceitos, 
recursos, recompensas, bem como regulamentar o processo administrativo disciplinar e o funcionamento do 
Conselho de Ética e Disciplina Militares, observados, dentre outros, os seguintes princípios: 
(…). 
Cuida-se de mudança de paradigma: abandona-se o atrelamento à disciplina militar típica de Forças Armadas, de 
normas autoritárias baixadas por decretos (Regulamentos Disciplinares), para prestígio de sistema disciplinar 
legalista condicionado à edição de leis strictu sensu específicas (Códigos de Ética e Disciplina), que deverão 
esgotar todo o tema em seus aspectos substantivos e também processuais eliminando as “zonas de autarquia”6, que 
propiciavam os abusos do poder disciplinar militar (MARTINS, 2020). 
 
 
 
30 
 
 
dispõem deprazo de 12 (doze) meses para adequarem sua legislação especial aos comandos da 
lei nova. 
Afirmam portanto, Porto de Carvalho e Barbosa Ramos (2020): 
 
Conclui-se, portanto, que tal legislação é flagrantemente inconstitucional. 
Sob outro ângulo, os Estados-membros e o Distrito Federal, em razão dos artigos 18 
e 25, §1º, da Constituição Federal gozam de autonomia e organizam, mediante leis 
próprias, suas Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, observadas, por 
força do artigo 22, inciso XXI, da Constituição, as regras gerais fixadas pelas normas 
federais, desde que compatíveis com a Constituição Federal. 
Deste modo, quando a Lei 13.967/2019 previu um prazo de 12 meses para a aprovação 
pelos Estados-membros de Novos Código de Ética e Disciplina para as citadas 
corporações militares, a partir da sua entrada em vigor, gerou um vazio normativo até 
a aprovação dessas novas legislações estaduais e federal no caso do Distrito Federal, 
levando à conclusão de que ainda vigora a legislação disciplinar anteriormente 
aplicada no âmbito de cada uma dessas unidades da federação, até que seja aprovado 
o Novo Código de Ética e Disciplina específico, dentro do prazo estipulado na Lei. 
Em outras palavras, levando em conta que os Estados-membros e o Distrito Federal 
têm o prazo de 12 meses, previsto na própria Lei 13.967/2019 para regulamentá-la e 
implementá-la, entende-se que nesse prazo deverão ser observadas as regras 
anteriormente aplicadas, justamente para evitar o vazio normativo, que venha colocar 
em risco, na esfera das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares, o fiel 
cumprimento dos princípios constitucionais da hierarquia e disciplina que os norteiam 
e a efetiva prestação de seus serviços públicos. 
Mesmo após aprovados os novos Códigos de Ética e Disciplina, estes devem estatuir 
punições de prisão ou restrição de liberdade para os casos mais graves de transgressão 
disciplinar de militares estaduais e do Distrito Federal, sob pena de flagrante 
desrespeito ao texto constitucional. 
 
Ainda quanto a doutrina acerca do tema nos deparamos com o fenômeno da 
normatividade e suas diferentes vertentes sendo os aspectos do plano da validade, vigência e 
efetividade, o que de fato mais interessa no presente trabalho, uma vez que se relacionam com 
a proposta de pesquisa em análise e podem melhor esclarecer o problema interpretativo 
suscitado. 
Nesse sentido, traz-se à discussão ensinamentos introdutórios contidos no Manual de 
Introdução ao Estudo do Direito de Dimitri Dimoullis (2011) a fim de melhor equalizar a 
divergência acerca dos posicionamentos equidistantes, até aqui observados, quanto ao momento 
da vigência e efetividade dos efeitos da Lei Federal nº 13. 967/2019, destacando-se ainda os 
principais conceitos acerca do plano da normatividade jurídica quanto aos aspectos no qual se 
consolidam: Vigência, Validade e Eficácia. 
Nessa perspectiva observa-se o conceito de norma trazido pelo autor a fim de melhor 
compreender os demais aspectos que fundamentam sua efetividade no mundo prático. 
Norma jurídica é uma proposição de linguagem) incluída nas fontes do direito válidas 
em determinado espaço (texto de norma); seu significado é fixado pela interpretação 
jurídica; a norma jurídica regulamenta o comportamento social deforma imperativa, 
estabelecendo proibições, obrigações e permissões. Na maioria dos casos, o 
 
 
31 
 
 
descumprimento da norma está associado a sanções negativas (DIMOULLINS, 2011, 
p. 102). 
 
A melhor doutrina leciona que quanto a vigência a norma está vinculada tanto a sua 
validade quanto ao preenchimento dos requisitos de competência e legitimidade do órgão e da 
autoridade responsável pela sua legislatura. 
Assim, para a vigência de uma norma se concretizar plenamente será necessário pelo 
menos preencher dois requisitos: O órgão responsável deve ser dotado competência legal para 
criar normas jurídicas naquele sistema jurídico e deve ter legitimidade para a edição do tipo 
normativo. 
Quanto ao aspecto da validade da norma dois pressupostos também se pressupõem 
necessários: um de ordem formal e outro de ordem material. 
O primeiro cuida em saber se a norma é compatível com o ordenamento jurídico 
existente, ou seja, se sua vigência está preservada e analisa se esta cumpriu previamente os 
requisitos legais em sua edição. 
O segundo preocupa-se com a sua Eficácia, ou seja, com a aplicação e execução da 
norma jurídica no plano material para que possa produzir os efeitos práticos no cotidiano de 
seus destinatários, a qual passará a produzir alterações no plano material. 
 Para melhor compreensão esclarece Dimoullis (2011, p.124): 
 
Assim sendo, as normas de competência normativa permitem identificar as normas 
jurídicas válidas. São válidas todas as normas editadas em conformidade com as 
normas que fixam os titulares, os procedimentos, os prazos e as demais condições de 
exercício da competência normativa 
 
Nesse sentido a doutrina ensina que: 
Uma norma jurídica, assim, é válida se preencher os requisitos formais e materiais. 
Formalmente, a validade depende de a autoridade possuir poder normativo e exercer 
esse poder da forma estabelecida na Constituição e/ou nas leis. Materialmente, a 
validade depende de a norma criada respeitar os limites do poder concedido ao seu 
emissor: ela não pode contrariar as normas criadas pelas autoridades superiores. 
Preenchidas as condições acima, constataremos que se trata de norma válida (e, 
portanto, jurídica) (FERREIRA, 2017). 
 
Quanto a sua Vigência em regra, uma vez que a norma jurídica se torna válida ela passa 
a ter vigência. A Lei Complementar n° 95/98, assim prescreve em seu artigo 8º: toda lei deve 
indicar, de modo expresso, o início de sua vigência. No entanto, uma Lei também pode iniciar 
sua vigência na data de sua publicação, desde que o indique em seu texto, sendo o período de 
vacatio legis, o período entre a publicação da lei, quando ela se torna válida, e o início da 
produção de seus efeitos. 
 
 
32 
 
 
Por outro lado a Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro- LINDB, de 1942, 
estabelece, em seu artigo 1º, que “salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em todo 
o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”. 
Cabe destacar que validade e vigência são coisas distintas embora se interliguem. Uma 
lei é válida após ser publicada e em tese preencher os requisitos formais e materiais. Uma lei 
restará vigente se puder produzir seus efeitos, limitando comportamentos e fundamentando 
decisões. 
Já quanto à eficácia temos que a Lei é eficaz quando concretiza a produção de seus 
efeitos no mundo prático. Essa eficácia pode ser de sentido técnico, fático e social, sendo este 
o mais usual. 
Assim tem-se que uma norma válida e vigente pode preencher todos os requisitos 
técnicos e fáticos de eficácia, porém, ainda assim, pode não produzir qualquer efeito na 
sociedade. 
Ainda quanto ao plano da Eficácia e sua relação com a validade da norma podem ser 
observado outras possibilidades fáticas como por exemplo o fenômeno jurídico do desuso das 
leis e das leis anacrônicas. Essas duas situações distintas de ineficácia são excepcionais dada 
sua natureza sociológica, sendo que nem a vigência e nem a validade da norma restariam 
comprometidas por tais fenômenos, todavia a norma não seria aceita socialmente ou não seria 
aplicada e não produziria efeitos no plano material, carecendo portanto de Efetividade 
Nos casos da Lei em Desuso tem-se que sua ineficácia se dá ainda em sua origem 
podendo ser resultado do fenômeno da norma defectiva; hipótese sem sanção correspondente 
ou hipótese legal impossível de cumprimento em termos concretos ou de uma exigência jurídica 
irrazoável, injusta ou que afronte o senso comum que predomina na sociedade. 
Por outro lado, Lei anacrônica seria aquela que já produziu efeitos jurídicose materiais 
no mundo fático, mas que dada as mudanças sociais perdeu sua normatividade e deixou de ser 
aplicada. 
Quanto a outras discussões de cunho hermenêutico existem duas correntes 
divergentes: a corrente doutrinária positivista do direito que se posiciona no sentido de que uma 
lei em desuso ou anacrônica pode ser em tese aplicada, eis que não revogada. Por outro lado, a 
corrente do culturalismo jurídico, postula a tese de que a ineficácia absoluta e notória de uma 
regra de direito, em decorrência de fatores de ordem social, prejudica o quesito da validade e 
compromete a aplicabilidade da norma em definitivo. 
Por último, cabe destacar que tanto o fenômeno da lei em desuso quanto o da lei 
anacrônica, mencionados, não se assemelha e nem se confundem com o descumprimento ou 
 
 
33 
 
 
omissão por parte de quem tem o dever legal de aplicá-la, sendo as autoridades públicas 
competentes vinculadas ao cumprimento da norma. 
Da breve análise doutrinária realizada percebe-se que os pressupostos formal e 
material observados estão presentes na atual Lei Federal nº 13. 967/ 2019, uma vez que esta 
preenche os requisitos de vigência e efetividade, sendo portanto válida; embora exista 
divergência interpretativa acerca do momento no qual passaria a produzir efeitos mateias no 
mundo fático. 
Também não se observa da análise realizada, subsistirem presente o fenômeno da Lei 
em Desuso ou da Lei Anacrônica, quanto ao fato de existirem atualmente posicionamentos 
distintos quanto ao tempo da vigência e da produção dos efeitos materiais dos comandos 
normativos da Lei Federal nº 13. 967/2019. 
Por último, a partir das conclusões acerca dos ensinamentos doutrinários, é possível 
tratar-se de consolidada omissão estatal o fato de algumas autoridades estaduais estarem 
ignorando integralmente o cumprimento da referida Lei Federal, como é ocaso do Estado do 
Rio Grande do Norte e do posicionamento de seus gestores. No entanto, tal fato não apresenta 
maiores dificuldades quanto a interpretação da não existência de defeito substancial, formal ou 
material, que possa colocar em descredito a normatividade da Lei Federal nº 13. 967/2019 no 
plano de sua validade, vigência e efetividade, dos quais pretende-se buscar os subsídios 
necessários a fim de se chegar à conclusão deste trabalho. 
 
3.2 DA JURISPRUDÊNCIA DE ALGUNS TRIBUNAIS ESTADUAIS ACERCA DA LEI Nº 
13. 967 DE 26 DE DEZEMBRO DE 2019 
 
Quanto aos Tribunais de Justiça Estaduais boa parte das atuais decisões que versão 
sobre a aplicação da Federal nº Lei nº 13. 967/2019, também estão voltadas para a discussão 
sobre o momento dos efeitos produzidos pela referida norma e quanto aos comandos normativos 
de seus arts. 3º e 4º. 
Não obstante, outras discussões, podem ser observadas na jurisprudência estadual 
como por exemplo, a inconstitucionalidade da Lei nº 13. 967, ADI nº 6595,RJ; ou mesmo a 
ilegalidades de Atos administrativos de autoridades públicas, (HC/RN) que ao aplicar normas 
de antigos Regulamentos Disciplinares, contrariam a Lei nº 13. 967, norma mais benéfica e 
atual. 
Outro aspecto a ser observado na jurisprudência estadual é o fato de que as petições 
iniciais em geral são iniciadas pelo instrumento do Habeas Corpus, seja individual ou Coletivo 
 
 
34 
 
 
e na maioria das vezes com pedido de Liminar, tendo em alguns casos como no Estado Rio 
Grande Norte sido Impetrado Habeas Corpus coletivo preventivo, pelo partido Solidariedade, 
em face de ato ilegal de autoridade pública sobre o não cumprimento da Federal nº Lei nº 13. 
967/ 2019. 
Uma terceira observação é quanto ao objeto pleiteado que em geral se refere a 
desconstituição ou anulação de punições disciplinares de prisão ou detenção imputadas aos 
pacientes, policias militares ou bombeiros militares estaduais, à revelia da Lei Federal nº 13. 
967/2019, sendo que em alguns casos o objeto pleiteado é a própria Inconstitucionalidade da 
Lei ou de ato administrativo ilegal contrário a esta. 
Por último, destaque-se que as decisões em sede dos Tribunais Estaduais proferidas, 
salvo exceções, guardam certa unanimidade quanto ao fato de que a Lei Federal nº 13. 967/2019 
deve ser de aplicação imediata, não cabendo, no entanto, aos Tribunais apreciar o mérito dos 
atos administrativos disciplinares, mas sobretudo, se está sendo cumprida a novel lei quanto ao 
quesito da extinção da aplicação de punição disciplinar privativa de liberdade, sendo necessário 
a correção do ato administrativo nesse quesito, conforme entendimento sedimentado pelo 
Superior tribunal de Justiça, STJ. 
 
ADMINISTRATIVO. ATO ADMINISTRATIVO. VINCULAÇÃO AOS 
MOTIVOS DETERMINANTES. INCONGRUÊNCIA. ANÁLISE PELO 
JUDICIÁRIO. POSSIBILIDADE. DANO MORAL. SÚMULA 7/STJ. 1. Os 
atos discricionários da Administração Pública estão sujeitos ao controle 
pelo Judiciário quanto à legalidade formal e substancial, cabendo 
observar que os motivos embasadores dos atos administrativos vinculam a 
Administração, conferindo-lhes legitimidade e validade. 2. “Consoante a 
teoria dos motivos determinantes, o administrador vincula-se aos motivos 
elencados para a prática do ato administrativo. Nesse contexto, há vício 
de legalidade não apenas quando inexistentes ou inverídicos os motivos 
suscitados pela administração, mas também quando verificada a falta de 
congruência entre as razões explicitadas no ato e o resultado nele 
contido”; (MS 15.290/DF, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, julgado em 
26.10.2011, DJe 14.11.2011). 3. No caso em apreço, se o ato 
administrativo de avaliação de desempenho confeccionado apresenta 
incongruência entre parâmetros e critérios estabelecidos e seus motivos 
determinantes, a atuação jurisdicional acaba por não invadir a seara do 
mérito administrativo, porquanto limita-se a extirpar ato eivado de 
ilegalidade. 4. A ilegalidade ou inconstitucionalidade dos atos 
administrativos podem e devem ser apreciados pelo Poder Judiciário, de 
modo a evitar que a discricionariedade transfigure-se em arbitrariedade, conduta 
ilegítima e suscetível de controle de legalidade. 5. “Assim como 
ao Judiciário compete fulminar todo o comportamento ilegítimo da 
Administração que apareça como frontal violação da ordem jurídica, compete-lhe, 
igualmente, fulminar qualquer comportamento 
administrativo que, a pretexto de exercer apreciação ou decisão 
discricionária, ultrapassar as fronteiras dela, isto é, desbordar dos limites 
de liberdade que lhe assistiam, violando, por tal modo, os ditames 
normativos que assinalam os confins da liberdade discricionária.” (Celso 
Antônio Bandeira de Mello, in Curso de Direito Administrativo, Editora 
 
 
35 
 
 
Malheiros, 15ª Edição.) 6. O acolhimento da tese da recorrente, de 
ausência de ato ilícito, de dano e de nexo causal, demandaria reexame do 
acervo fático-probatórios dos autos, inviável em sede de recurso especial, sob pena de 
violação da Súmula 7 do STJ. Agravo regimental improvido. (STJ, 2012, on-line)
 
Também em recente julgado de Apelação Cível n° 0006597-49.2018.8.16.0190, 
oriundo da Vara da Auditoria da Justiça Militar - Cível – Curitiba, os Desembargadores da 5ª 
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná/PR, por unanimidade de votos, deram 
provimento parcial a petitório de Apelação Recursal de policial militar, não pelos fundamentos 
de ilegalidade do procedimento administrativo alegado pelo autor, mas sim, pela revisão da 
punição imposta à revelia do atual regramento jurídico previsto pela Lei Federal nº 13.967/19, 
a respeito da extinção da pena de prisão disciplinar6. 
Quanto aos fundamentos, foram arguidas na mencionada decisão que o princípio da 
retroatividade da lei mais benéfica inerente à legislação penal, também se aplica pelo fenômeno 
jurídico da analogia em casos como o dos autos da Apelação, em obediência as disposições 
previstas no art. 5°, XL, da Constituição Federal, segundo o qual: “a lei penal não

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