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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Proteomas órgão/estados de hidratação específicos de Selaginella convoluta para investigação de estratégias metabólicas de tolerância à dessecação Natal, RN 2021 LUIZ FERNANDO RODRIGUES DE SOUZA Proteomas órgão/estados de hidratação específicos de Selaginella convoluta para investigação de estratégias metabólicas de tolerância à dessecação Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRN, como pré-requisito para obtenção do título de mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientadora: Raquel Brandt Giordani Natal, RN 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS Souza, Luiz Fernando Rodrigues de. Proteomas órgão/estados de hidratação específicos de Selaginella convoluta para investigação de estratégias metabólicas de tolerância à dessecação / Luiz Fernando Rodrigues de Souza. - 2021. 97f.: il. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. Natal, RN, 2021. Orientadora: Profa. Dra. Raquel Brandt Giordani. 1. Selaginella convoluta - Dissertação. 2. Proteoma - Dissertação. 3. Biossíntese - Dissertação. I. Giordani, Raquel Brandt. II. Título. RN/UF/BSCCS CDU 615.011 Elaborado por Adriana Alves da Silva Alves Dias - CRB-15/474 Luiz Fernando Rodrigues de Souza Proteomas órgão/estados de hidratação específicos de Selaginella convoluta para investigação de estratégias metabólicas de tolerância à dessecação Banca Examinadora: ___________________________________________ Profa. Dra. Raquel Brandt Giordani Presidente – UFRN ____________________________________________ Prof. Dr. Taffarel Melo Torres Examinador Externo – UFERSA ____________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Luiz Voigt Examinador Interno – UFRN Natal, 24 de setembro de 2021 NATAL / RN 2021 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO FOLHA DE ASSINATURAS Emitido em 24/09/2021 DOCUMENTOS DE ACEITAÇÃO Nº 11/2021 - PPGCF/CCS (15.27) (Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO) (Assinado digitalmente em 27/09/2021 19:42) EDUARDO LUIZ VOIGT PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR DBG/CB (17.09) Matrícula: 1228866 (Assinado digitalmente em 27/09/2021 11:10) TAFFAREL MELO TORRES ASSINANTE EXTERNO CPF: 075.662.764-84 (Assinado digitalmente em 27/09/2021 11:24) RAQUEL BRANDT GIORDANI PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR DFARM/CCS (15.13) Matrícula: 1871916 Para verificar a autenticidade deste documento entre em https://sipac.ufrn.br/documentos/ informando seu número: 11, ano: 2021, tipo: DOCUMENTOS DE ACEITAÇÃO, data de emissão: 27/09/2021 e o código de verificação: 59654c049f ‘’Dedico esta dissertação à todas as minhas mães: Kelcy, Francisca, Barbosa. Dedico também à minha orientadora Raquel Giordani.’’ AGRADECIMENTOS À Deus e seus maravilhosos mistérios; À minha família, em especial a minha mãe Kelcy, meu padrasto Ranilson, avós Francisca e Barbosa, e tia Joana, por todo apoio e motivação em todos os momentos nessa caminhada, menção também ao meu irmão mais novo Antonio alguém muito especial para mim; À minha orientadora, professora Raquel Giordani, por toda mentoria e principalmente amizade que construímos nesta parceria desde a iniciação científica. Sou extremamente grato por toda orientação e confiança depositadas, você me inspira a sempre perseguir o melhor que consigo, tanto como cientista, como enquanto pessoa. Muito obrigado professora; À Daisy Sotero por toda ajuda, disposição e presteza em todos os momentos, de forma especial dedico esta dissertação também a você. Muito obrigado pela parceria científica e pela amizade. Você arrasa muito; À CAPES pelo suporte essencial para concretização deste projeto; À João Victor Dantas, por tanto! toda paciência, parceria, carinho e amizade, por tudo; Aos meus amigos que sempre estão ao meu lado, me apoiando nos momentos difíceis e comemorando junto comigo nas conquistas, em especial as mais básicas, porém mais essenciais: Thaís Pinheiro e Pollyana Macêdo; À todas as brilhantes cientistas do nosso grupo de pesquisa dos Alcaloides, Letícia Gondim, Fernanda dos Santos, Ivanice Bezerra, Luana Meirinho, Fernanda Morais e Louise Lorrane; À todos os colaboradores e professores que proporcionaram suas expertises na construção de idéias, execução de experimentos e todo apoio oferecido, em especial ao professor Eduardo Voigt e à professora Ana Carolina Luchiari. RESUMO A licófita Selaginella convoluta é uma espécie nativa do bioma Caatinga e está inserida no grupo das plantas da ressureição. No gênero Selaginella, é relatada uma ampla diversidade de moléculas quimicamente singulares, em especial as que compõem as classes de biflavonoides e selaginelinas, sendo estas últimas exclusivas do gênero. O presente projeto objetiva estudar a ocorrência de metabólitos secundários de interesse farmacêutico em S. convoluta, norteando-se em dados prévios de proteoma obtidos de partes aéreas e raízes em situação de dessecação e hidratação, sendo um dos principais interesses o estudo da biossíntese de metabólitos secundários de interesse farmacêutico. A análise instrumental do proteoma foi realizada em um sistema de cromatografia a líquido acoplado à espectrômetro de massas com detector de armadilha linear em quadrupolo, sendo o tratamento dos dados realizado pelo software PatternLab for Proteomics. Os resultados de proteoma enfatizam a preparação da espécie para tolerar a dessecação por meio de mecanismos coordenados de proteção e sinalização inter- órgãos. Destacam-se as partes aéreas enquanto o principal órgão na biossíntese de metabólitos secundários, contudo é perceptível o envolvimento e comunicação da planta como um todo no recrutamento de enzimas presentes em vias de biossíntese. Neste sentido, àquelas ligadas a biossíntese de fenilpropanoides sugerem a construção de metabólitos das classes de cumarinas e ligninas, sendo também elencada a enzima polifenol oxidase, importante reguladora da via de fenilpropanoides, como atuante na síntese de produtos naturais em S. convoluta. As abordagens apresentadas contribuem para a inserção de métodos inovadores no estudo de moléculas oriundas de espécies da Caatinga, bem como permitem a resolução de questões de fronteira no estudo de espécies vegetais com enfoque na biossíntese de moléculas de potencial bioativo, o que promove este bioma exclusivamente brasileiro no cenário de alto impacto biotecnológico do Brasil. Palavras-chave: Caatinga, Selaginella convoluta, Proteoma, Biossíntese. ABSTRACT Selaginella convoluta is a lycophyte native to the Caatinga biome that belongs to the group of resurrection plants. Selaginella genus is known to possess a wide diversity of chemically unique molecules, especially those that encompasses the biflavonoids and selaginellins, the latter being exclusive to its species. The present project aims to study the occurrence of secondary metabolites of pharmaceutical interest in S. convoluta, based on previous proteome data obtained from shoots and roots under desiccation and hydrated conditions, with special interestin the study of the biosynthesis of secondary metabolites of pharmaceutical interest. The instrumental analysis of the proteome was performed in a UPLC coupled with a linear trap quadrupole mass spectrometer, and the treatment of the data was carried out by the PatternLab for Proteomics software. The proteome results emphasize the preparation of the species to tolerate desiccation through coordinated mechanisms of protection and inter-organ signaling. Shoots stand out as the main organ in the biosynthesis of secondary metabolites, however it is noticeable the involvement and communication of the plant as a whole in the recruitment of enzymes present in biosynthetic pathways. In this sense, those linked to phenylpropanoid biosynthesis suggest the production of coumarins and lignins, also showing the enzyme polyphenol oxidase, an important regulator of the phenylpropanoid pathway, as active in the synthesis of natural products in S. convoluta. The presented approaches contribute to the insertion of innovative methods in the study of molecules from Caatinga species, as well as allows the resolution of frontier issues in the study of plant species with a focus on bioactive potential molecule biosynthesis, wich promotes this exclusive biome in the highly biotechnological impact in Brazil. Keywords: Caatinga, Selaginella convoluta, Proteome, Biosynthesis. LISTA DE FIGURAS Figura 1-Selaginella convoluta e suas conformações em diferentes estados de irrigação........27 Figura 2- Esquemática de geração das principais classes de metabólitos secundários de plantas a partir de vias de base..............................................................................................................29 Figura 3 - Selaginelinas pertencentes ao grupo A proposto por Li 2020................................. 31 Figura 4 - Selaginelinas pertencentes ao grupo B proposto por Li 2020..................................35 Figura 5 - Selaginelinas pertencentes aos grupos C e D propostos por Li 2020......................36 Figura 6- Selaginelinas identificadas em Selaginella convoluta..............................................38 Figura 7 - Esquema 1 de formação das selaginelinas levando à biossíntese dos intermediários que compõem os grupos C e D proposto por Li 2020...............................................................39 Figura 8 - Esquema 2 de formação das selaginelinas levando à biossíntese dos intermediários que compõem os grupos A e B proposto por Li 2020...............................................................40 Figura 9 - Alcaloides encontrados no gênero Selaginella.........................................................42 Figura 10 - Esquema de biossíntese da Anabasina...................................................................43 Figura 11 - Esquema da biossíntese de biflavonoides sendo elencados três das principais moléculas da classe encontradas em espécies de Selaginella, inclusive em S. convoluta........45 Figura 12- Esquema de desenvolvimento de mecanismos moleculares constitutivos e induzíveis para tolerância à dessecação de espécies vegetais....................................................................49 Figura 13- Esquema integrativo do uso da biologia de sistemas no estudo de espécies tolerantes, podendo estes dados servirem para complementação de diversos estudos, inclusive o da biossíntese de metabólitos secundários bioativos.....................................................................50 Figura 14- Dinâmica experimental na proteômica bottom-up..................................................53 Figura 15- Esquema exemplificando a formação da rede molecular a partir de dados espectrais de massas em tandem...............................................................................................................56 Figura 16- Workflow experimental do proteoma de partes aéreas e raízes de S. convoluta em diferentes estados de irrigação.................................................................................................63 Figura 17- Gráficos Gene Ontology (GO) das enzimas identificadas nas partes (aéreas e raízes) e estados de irrigação (seco e irrigado) no proteoma de S. convoluta para as hierarquias: processos biológicos e função molecular, elencados os top 25 termos GO de acordo com o número de proteínas ligadas a estes......................................................................................... 69 Figura 18- Enzimas de biossíntese identificadas por meio da ferramenta Blast Koala a partir das sequências FASTA das proteínas de partes (aéreas e raízes) e estados de irrigação (seco e irrigado) de S. convoluta...........................................................................................................71 Figura 19- Percentual catalítico das enzimas de biossíntese identificadas no proteoma de partes e estados de irrigação de S. convoluta por meio da análise Blast Koala...................................72 Figura 20- Via de biossíntese de fenilpropanoides...................................................................75 Figura 21- À esquerda rede de interações proteína-proteína elaborada na base de dados String elencando as proteínas relacionadas a biossíntese de metabólitos secundários identificadas no proteoma de S. convoluta pela análise Blast Koala, agrupando-as conforme suas principais atribuições funcionais. À direita, heatmaps de abundância das proteínas pertencentes às classes de metabolismo secundário e do ácido alfa-linolênico construídos a partir dos valores de fator de abundância espectral normalizada (NSAF) destas proteínas...............................................77 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................23 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO.................................................................................................26 2.1 Licófitas, Selaginella e espécie S. convoluta....................................................................26 2.2 Produtos Naturais em Selaginella.....................................................................................28 2.2.1 Selaginelinas: Estrutura, Isolamento, Atividade biológica e propostas de biossíntese...............................................................................................................................29 2.2.2 Alcaloides de Selaginella spp........................................................................................41 2.2.3 Biflavonoides.................................................................................................................44 2.3 Tolerância a dessecação e ressurreição em espécies vegetais...................................................................................................................................47 2.4 Ciências ômicas em produtos naturais.............................................................................51 2.4.1 Proteômica....................................................................................................................51 2.4.2 Metabolômica...............................................................................................................55 3 OBJETIVOS.......................................................................................................................58 4 METODOLOGIA...............................................................................................................59 4.1 Material vegetal...............................................................................................................59 4.2 Proteoma shotgun gel-fee de Selaginella convoluta........................................................60 4.2.1 Extração de proteínas e análise por Cromatografia Líquida acoplada a espectrômetro de massas (CL-EM/EM).............................................................................................................604.2.2 Anotação de proteínas e análises pelo software Pattern Lab for Proteomics............... 60 4.3 Análises de função e integração das proteínas..................................................................61 4.3.1 Gene Ontology (GO).....................................................................................................61 4.3.2 Blast Koala, pesquisa na base KEGG e KAAS.............................................................62 4.3.3 String..............................................................................................................................64 4.3.4 Orthovenn.......................................................................................................................64 CAPÍTULO I - MANUSCRITO A SER SUBMETIDO AO PERIÓDICO PROTEOMICS..........................65 CAPÍTULO II - MANUSCRITO A SER SUBMETIDO AO PERIÓDICO PLANT BIOSYSTEMS.............................................................................................................................66 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................................67 5.1 Resultados experimentais do proteoma de Selaginella convoluta obtidos por anotação frente a Selaginella moellendorfii com enfoque no estudo da biossíntese de metabólitos secundários ..............................................................................................................................68 5.1.1 Análise das proteínas de acordo com o Gene Ontology.................................................68 5.1.2 Blast Koala: enzimas e vias de geração de metabólitos secundários em S. convoluta...70 5.1.3 String: sumário e interações das enzimas de biossíntese identificadas no proteoma de S. convoluta..................................................................................................................................76 6 CONCLUSÕES.....................................................................................................................81 PERSPECTIVAS......................................................................................................................82 REFERÊNCIAS........................................................................................................................83 ANEXO I: ATA DE MUDANÇA DE NÍVEL DE METRADO PARA DOUTORADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA FARMACÊUTICAS.................................................................................................................95 23 1 INTRODUÇÃO Pertencente ao grupo das Licófitas, o gênero Selaginella, único da família Selaginellaceae, possui aproximadamente 750 espécies distribuídas mundialmente, ocorrendo principalmente em regiões tropicais e subtropicais que compreendem as mais diversas condições climáticas (ZHOU et al., 2016). Este gênero, de acordo com Weststrand e Korall (2016), é dividido em 7 subgêneros (Selaginella, Rupestrae, Lepidophyllae, Gymnogynum, Exaltatae, Ericetorum e Stachygynandrum) que se agrupam conforme suas correlações genéticas e semelhanças morfológicas, servindo estas classificações e evidências de norte em estudos evolutivos destas espécies, que são consideradas ‘’fósseis vivos’’ por constituírem uma das linhagens de plantas vasculares mais primitivas da terra, datando de cerca de 400 milhões de anos (BANKS, 2009). Outro aspecto que chama bastante atenção a estas espécies diz respeito à tolerância à dessecação extrema desempenhada por algumas, caraterizando-as em um grupo denominado ‘’plantas da ressurreição’’. Tais espécies são adaptadas para sobrevivência sob déficit de até 95% do conteúdo hídrico relativo em seus tecidos vegetativos, podendo permanecer dessa maneira por anos. Isso ocorre graças a coordenados mecanismos de conservação energética e hídrica, controle do crescimento e ciclo celulares, e regulação intrincada entre senescência e morte celular programada, sendo estas adaptações interessantes para resiliência frente a condições ambientais adversas, como a aridez (ASAMI; MUNDREE; WILLIAMS, 2018). Na literatura, para o gênero Selaginella, já são reportadas como plantas de ressurreição as espécies: Selaginella lepidophylla encontrada no deserto de Chihuahua no México (ITURRIAGA; CUSHMAN; CUSHMAN, 2006), Selaginella tamariscina e Selaginella bryopteris distribuídas principalmente em países asiáticos como China e Índia, crescendo preferencialmente sobre pedras e encostas (LIU; CHIEN; LIN, 2008; PANDEY et al., 2010), e as de ocorrência na Caatinga: Selaginella convoluta e Selaginella sellowii (XAVIER, BARROS, SANTIAGO, 2012). Grande diversidade de produtos naturais provenientes deste gênero é reportada, evidenciando importantes atividades farmacológicas, sendo a investigação de seus produtos naturais de grande interesse dada a necessidade de novas terapias para doenças muito discutidas na atualidade. Dentre eles, ocorrem flavonoides, alcaloides, terpenoides, lignanas dentre outros, sendo de importante ressalva a ocorrência de um grupo exclusivo de metabólitos, ainda pouco estudados, denominados selaginelinas (WENG; NOEL, 2013). Estas foram reportadas 24 primeiramente em Selaginella sinensis e são classificadas como pigmentos; entretanto, sabe-se que possuem atividades que vão desde anti-proliferação celular à neuroproteção, mas pouco se investiga a respeito de suas funções em Selaginella spp. (WENG; NOEL, 2013; ZHANG et al., 2007). Estes compostos ocorrem de maneira restrita na célula vegetal, o que é um limitante ao se considerar as perspectivas de obtenção e aplicação, o que impulsiona o aperfeiçoamento de técnicas, bem como inserção de metodologias que busquem compreender de maneira integral o metabolismo vegetal. A modernização da fitoquímica segue nesta tendência de compreensão global metabólica ao passo dos avanços proporcionados pela denominada era pós-genômica. A associação de técnicas instrumentais à ferramentas bioinformáticas permitiram maiores avanços na compreensão da fisiologia vegetal, bem como das matrizes químicas altamente complexas obtidas destes espécimes (JOHN T. ROMEO, 2002). Estas ferramentas hoje constituem uma abordagem científica conhecida como “ômica’’, cujo intuito é se basear no fluxo da informação genética a fim de compreender e integrar a rede de interações simultâneas que ocorrem em um organismo (FUKUSHIMA et al., 2009). A genômica envolve o estudo total de genes em um organismo (CAMPOS-DE QUIROZ, 2002), enquanto ao nível de RNA têm-se a transcriptômica (IMADI et al., 2015), e, na etapa traducional deste percurso, a proteômica (UHRIG; MOORHEAD, 2013). Há ainda a investigação das moléculas que são fruto destas etapas primordiais do metabolismo, caracterizando neste contexto a glicômica e a lipidômica, e relativo à prospecção total de metabólitos de um organismo têm-se a metabolômica (PILON et al., 2020), área que revolucionou a fitoquímica clássica ao ampliar a possibilidade de descoberta química em extratos vegetais pela contribuição da bioinformática. Vale ressaltar que em substituição a técnicas mais antigas, estas metodologias possuem forte influência de conscientização ecológica ao reduzirem significativamente a utilização de solventes orgânicos, atendendo assim aos princípios da química verde e promovendo a sustentabilidade científica. Ainda, elas buscam possibilitar a compreensão das plantas enquanto organismos interativos em seu habitat natural, revelando sofisticados mecanismos fisiológicos até então desconhecidos. Diante deste cenário, novos desafios são impostos, dada a massiva geração de dados e por consequência de entraves metodológicos que induzem uma baixa qualidade na anotação de genomas, especialmente no caso de plantas não modelo. Com isto, se estabelece a abordagem multi-ômica na biologia de sistemas, onde ao correlacionar informações de duas ou mais ômicas, é possívelinferir respostas menos pontuais e mais amplas tendo em vista esta enorme 25 rede de interações que é o metabolismo. Assim, essa abordagem requer conhecimento transdisciplinar, desde a biologia do vegetal até a prospecção, obtenção e aplicação de moléculas bioativas (JAMIL et al., 2020). O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades florísticas do planeta Terra, o que caracteriza um importante potencial para a bioprospecção de produtos naturais. Esta biodiversidade está alocada em 6 grandes biomas que caracterizam bem as condições geoclimáticas do país (IBGE, 2019). No Nordeste, região onde se concentra a formação fitogeográfica Caatinga, há predominância de clima semiárido, sendo sua vegetação altamente adaptada para sobrevivência neste ambiente de pouca oferta hídrica e alta incidência de radiação solar (DE ALBUQUERQUE et al., 2012). Nele, está inserida a licófita Selaginella convoluta, popularmente conhecida como ‘’Mão fechada’’, utilizada na medicina popular da região (SÁ et al., 2012). As condições edafoclimáticas ímpares podem atuar como prováveis eliciadores na produção de moléculas bioativas, sendo instigante as questões científicas que se abrem ao procurar compreender quais desses fatores contribuem efetivamente para um aumento significativo de moléculas bioativas e de que forma isso ocorre. Desta forma, o presente trabalho busca, auxiliado por ferramentas de abordagem ômica, observar possíveis mecanismos moleculares utilizados pela espécie Selaginella convoluta para tolerar a dessecação em seu ambiente natural da Caatinga. Serão abordados dados de proteoma obtidos de plantas coletadas dessecadas em ambiente natural e hidratadas em laboratório com interesse em mapear as proteínas e principais rotas metabólicas envolvidas ao comparar duas partes da planta (partes aéreas e raízes). 26 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Licófitas, o gênero Selaginella e a espécie S. convoluta A vascularização é um traço evolutivo vegetal que remonta aos primórdios do período Devoniano (350 – 400 milhões de anos atrás) e foi essencial para o surgimento das primeiras linhagens de plantas terrestres (CASCALES-MIÑANA et al., 2019). Algumas das espécies deste período que perduram até os dias atuais compõem um grupo pequeno de plantas denominadas Licófitas. Por datarem de períodos remotos e conservarem as características primitivas de seus ancestrais, estas espécies são modelos em evolução vegetal, além de serem reconhecidas por povoarem ambientes que vão de desérticos a árticos (SPENCER; NEMEC VENZA; HARRISON, 2020). Dentre as Licófitas, as da classe Lycopodiopsida ainda existentes se agrupam em três principais famílias: Lycopodiaceae, Isoetaceae e Selaginellaceae (BANKS, 2009). Esta última compreende o gênero Selaginella, com distribuição cosmopolita, ocorrendo em todos os continentes exceto Antártica (ZHOU; ZHANG, 2015). É perceptível a diferença morfológica entre as espécies e dadas as semelhanças observadas entre algumas destas, os autores costumam agrupá-las em subgêneros. De modo geral, são plantas de pequeno porte, que demonstram diversos padrões de crescimento (rasteiro, trepador, em forma de roseta) se estabelecendo preferencialmente em regiões rochosas. Exibem microfilos com diferentes arranjos e se reproduzem via propagação de esporos; uma vez que são heterosporadas, exibem tanto micro quanto megaesporos (ZHOU; ZHANG, 2015). Valdespino (2015) aponta para a ocorrência de 86 espécies de Selaginella nativas em território brasileiro presentes em todas as cinco regiões do país. O mesmo autor, reportou a ocorrência de novas espécies sul-americanas considerando a inserção de algumas no Brasil, demonstrando a diversidade destas neste território (VALDESPINO, 2020). Na Caatinga são encontradas quatro espécies nativas: S. erythropus, S. simplex, S. sellowii e S. convoluta (Flora do Brasil, 2020). Selaginella convoluta é uma planta herbácea, terrícola, rupícola que apresenta microfilos ovados e lanceolados (Figura 1–A), conformação em roseta, mede cerca de 5-10 cm de largura e em média 3 cm de altura (Figura 1 - B) (Flora do Brasil, 2020). Encontra-se distribuída em todas as regiões do país, exceto norte, sendo amplamente distribuída no bioma Caatinga, ocorrendo em todos os estados da região nordeste, com exceção do Maranhão (Flora do Brasil 2020). Tem como sinonímia Lycopodium convolutum e é conhecida em âmbito popular como ‘’Mão-Fechada’’ e ‘’Mão-de-Sapo’’ sendo estas nomenclaturas oriundas da 27 característica morfológica que apresenta ao estabelecer um estado de dessecação, enrolando seus microfilos e se arranjando em uma estrutura que se assemelha a um punho (Figura 1 - D) (Flora do Brasil, 2020). Na etnofarmacologia se relata o uso da espécie como analgésico, anti-inflamatório, antidepressivo, afrodisíaco, diurético e em casos de amenorreia e aumento da fertilidade, bem como propriedades antioxidantes reportadas em estudos pré-clínicos (AGRA; FREITAS; BARBOSA-FILHO, 2007; DE ALBUQUERQUE et al., 2007a; GIORGETTI; NEGRI; RODRIGUES, 2007; SANTOS REGINALDO; DE MATOS; GIORDANI, 2020). Figura 1 - Selaginella convoluta e suas conformações em diferentes estados de hidratação, A- Hidratada, exibindo microfilos expandidos; B- Em processo de enrolamento com raízes expostas; C- Dessecada em Caatinga; D- Dessecada em vaso (Fonte: Elaborado pelo Autor) 28 Ademais, o extrato hidroetanólico de S. convoluta promove atividade antinociceptiva em camundongos, estando associada a presença de metabólitos especializados, como flavonoides, triterpenoides, quinonas e derivados do antraceno, relatadas na caracterização fitoquímica (OLIVEIRA-MACÊDO et al., 2020). Desta forma, é evidente que gênero Selaginella possui uma ampla diversidade de metabólitos especializados, indicando vastas possibilidades para aplicação destas moléculas no futuro. 2.2 Produtos naturais em Selaginella spp. O metabolismo dos organismos vegetais é compreendido e subdivido didaticamente em primário e secundário, e é neste último em que se concentram os esforços da área da química de produtos naturais no estudo das matrizes químicas complexas extraídas de plantas, no isolamento e elucidação estrutural de compostos orgânicos e na investigação das atividades farmacológicas exibidas por estes (THOMFORD et al., 2018). Neste sentido, a descoberta de novos fármacos e moléculas bioativas ainda mantém como sua principal fonte a química de produtos naturais e dentro do grupo botânico neste escopo, é perceptível que as iniciativas se concentram principalmente em espécies de angiospermas (CAO et al., 2017a; NEWMAN; CRAGG, 2020). Contudo, apesar da menor diversidade em comparação às angiospermas, o potencial bioativo das pteridófitas é bastante reconhecido, uma vez que o uso popular destas é comumente observado, bem como são reportadas moléculas únicas que compõem uma importante quimiodiversidade exibida por tais espécies (BASKARAN et al., 2018; CAO et al., 2017a). Existem diversas classes de metabólitos especializados, podendo estas serem resumidas em três principais: 1) compostos nitrogenados/sulfurados (ex: alcaloides e glicosinolatos), 2) polifenois (ex: fenilpropanoides) e 3) derivados isoprenoides/terpenoides (ex: terpenos) (ERB; KLIEBENSTEIN, 2020). A construção destas moléculas toma como substrato produtos oriundos do metabolismo primário; o esquema apresentado na figura 2 sumariza as principais vias de geração de metabólitos secundários em plantas (HABTEMARIAM, 2019). Compreender estas vias é essencial do ponto de vista interventivo, uma vez que a produção de maneira escalável e sustentável são desafios, tornando interessante o uso de ferramentas como a biologia sintética para produção desses metabólitos, como por exemplo a expressão heteróloga em microorganismos, ou para facilitação em processo de semi-síntese e síntese (PYNE; NARCROSS;MARTIN, 2019; SONG et al., 2014). 29 As licófitas do gênero Selaginella há muito instigam a busca por produtos naturais tendo em vista os primeiros relatos quanto a produção pronunciada de alcaloides simples e biflavonoides, característicos das plantas vasculares (LI; TANG; YIN, 2020). Contudo, isto se intensificou a partir de 2007 com o isolamento e elucidação estrutural de um pigmento da espécie Selaginella sinensis, que viria a ser reconhecido como exclusivo ao gênero, denominado selaginelina (ZHANG et al., 2007). Estas são moléculas pouco usuais do ponto de vista químico e muito importantes ao contemplarem diversas e importantes atividade biológicas. 2.2.1 Selaginelinas: Estrutura, Isolamento, Atividade biológica e propostas de biossíntese Pigmentos vegetais possuem inúmeras funções na fisiologia da planta que compreendem desde a reprodução até a proteção, sendo importantes neste contexto as classes de antocianinas, xantofilas e fotorreceptores (fitocromos, criptocromos e fototropinas) (RICHTER; HÄDER, 2018). No caso das Selaginella spp., a produção exclusiva das selaginelinas levanta questões sobre a sua função na fisiologia destas plantas, incluindo seu Figura 2 - Esquema de geração das principais classes de metabólitos secundários de plantas a partir de vias metabólicas basais (Fonte: Adaptadado de Habtemariam et al. 2019) 30 papel na fotoproteção, e intriga quanto às suas características biossintéticas, apresentando traços incomuns em seus esqueletos carbônicos em comparação a outros compostos já identificados em plantas. As selaginelinas foram primeiramente definidas como polifenois, análogos ao taxol (Taxus brevifolia) que, em função da mudança de coloração exibida de acordo com flutuações no pH em que se encontram, exerceriam uma modulação na absorção de radiação UV, atuando assim como um pigmento ‘’modulável’’ (WENG; NOEL, 2013). Li e colaboradores (2020) compilaram as informações acerca desta classe de moléculas e organizaram divergências quanto à nomenclatura e propriedades estereoquímicas apresentadas em trabalhos ao longo da identificação dos diversos análogos. Já se contabiliza mais de 110 selaginelinas, entre derivados naturais e sintéticos, sendo a primeira identificada a representante homônima à classe (LI; TANG; YIN, 2020; ZHANG et al., 2007). As subsequentes foram nomeadas conforme a ordem alfabética, e também novos núcleos estruturais e modelos de substituição vieram a ser identificados, o que incluiu à classe as selaginpulvilinas (LIU et al., 2014), selariscinas (WOO et al., 2019), selariscininas (NGUYEN et al., 2015a), selafeninas (WANG et al., 2018), selaginisoquinolina (CAO et al., 2015), selagintamargilina (YAO et al., 2017) e isoselagintamargilina (ZHU et al., 2019). Vale ressaltar também, a ocorrência destas moléculas em forma dimérica, encontrados dímeros do estereoisômero R da primeira selaginelina identificada, sendo uma proposta para a ocorrência nesta conformação, a ligação tipo éter estabelecida via reação de desidratação das hidroxilas, presentes em C-34, C-10 (para formação da diselaginelina A (28) – Figura 3) e C-30 (para formação da diselaginelina B (29) – Figura 3) (CAO et al., 2017b). Os análogos identificados até o momento compõem quatro grupos de selaginelinas, os grupos A e B, como moléculas inteiramente formadas, e os grupos C e D enquanto precursores na via biossintética das moléculas que compõem o grupo A (LI; TANG; YIN, 2020). As selaginelinas do grupo A, incluída neste a primeira selaginelina (1) descrita identificada em mistura racêmica no extrato acetônico de Selaginella sinensis exibe as porções metídeo p- quinona, o que confere tautomerismo à molécula, e uma ligação acetileno, considerados achados incomuns (ZHANG et al., 2007). Suas características estereoisoméricas representam um fator desafiante quanto à elucidação de suas estruturas, porém, estas propriedades contribuem para a diversidade estrutural e versatilidade de atividades biológicas apresentadas por estas moléculas (LI; TANG; YIN, 2020). 31 Figura 3 - Selaginelinas pertencentes ao grupo A proposto por Li 2020 (Fonte: Adaptado de Li et al. 2020) 32 Por meio de técnicas como ressonância magnética nuclear (1D e 2D), espectrometria de massas, cristalografia de raio X e a correlação heteronuclear de múltiplas ligações, foram elucidadas as estruturas das selaginelinas A (2), B (3) e C (4) (CHENG et al., 2008; TAN et al., 2009). Por outro lado, na espécie Selaginella pulvinata, os análogos D (5), E (6) e F (7) foram identificados e apresentaram potencial antimicrobiano, essencialmente o análogo D, quando usado frente ao modelo de Candida albicans (CAO et al., 2010a). Ainda pelo grupo de Cao (2010b), e continuando as investigações em Selaginella pulvinata, os análogos G (18) e H (59) foram elucidados, sendo estes os primeiros que diferem 33 estruturalmente das anteriormente reportadas ao não exibirem a porção metídeo de p-quinona e ligação acetileno, em especial o análogo H, primeiro representante do grupo D proposto por Li, que apresenta em sua estrutura um anel gama-lactônico (LI; TANG; YIN, 2020). Juntamente a esta identificação, pesquisou-se o potencial antimicrobiano destas moléculas, reportando boa atividade contra o fungo C. albicans do análogo G (18) (CAO et al., 2010b). Posteriormente, e agora sendo utilizada a espécie Selaginella tamariscina, Xu e colaboradores (2011a, 2011b, 2011c) elucidaram as estruturas das selaginelinas I (8), J (9), K (53), L (54) e M (10), incluindo aos métodos de isolamento a cromatografia líquida de alta eficiência, sendo os análogos K e L pertencentes ao grupo C (Figura 5). Zhang (2012a) ao reportar dois novos análogos nomeou um destes como selaginelina M, que por já ter sido anteriormente utilizada por Xu, foi renomeada por Li como 10-O- metilselaginelina (11) (LI; TANG; YIN, 2020). Os análogos identificados por Zhang (N (12) e 10-O-metilselaginelina (11)) foram testados quanto a atividade citotóxica em linhagens de células (Hela, U251e MCF-7) onde ambas as moléculas exibiram um potencial antiproliferativo significativo, em especial a 10-O-metilselaginelina frente a células Hela (ZHANG et al., 2012a). Com o conhecimento das estruturas isoladas até então, a primeira proposta de rota biossintética foi delineada por Shi et al. (2012), ao reconhecer as selaginelinas como policetídeos construídos a partir da condensação de quatro unidades de malonil-CoA por uma provável policetídeo sintase tipo III (PKS III) para formação do ácido orselínico, primeiro precursor da rota. Na época, não havia evidências da atuação desta enzima na formação do ácido orselínico em rotas de metabólitos secundários de planta. Contudo, e com a popularização de métodos em biologia molecular na área de produtos naturais, Taura (2016) contestou por RT-PCR o envolvimento de uma isoforma da PKS III na formação do ácido orselínico para construção de sesquiterpenos da espécie Rhododendron dauricum, no entanto, pela junção de três unidade de malonil-CoA e uma de acetil-CoA. Assim, o ácido orselínico viria então a formar o anel A da estrutura básica das selaginelinas (Figura 3), este provavelmente reagiria com um radical 2,5-ciclohexadienona para formação de um primeiro intermediário que seria o constituinte básico para formação de todas as selaginelinas por conseguintes reações principalmente de oxirredução, adição nucleofílica e desidratação (SHI et al., 2012). Ainda em 2012, Yang e colaboradores identificaram o análogo O (13) juntamente com outras selaginelinas descritas previamente, analisando assim como Zhang o potencial citotóxico destas moléculas e incluindo a pesquisa de suas propriedades redutoras, reportando atividade antiproliferativa e antioxidante do novo análogo (YANG et al., 2012).Dentre outros achados 34 importantes destaca-se a neuroproteção, pesquisada in vitro em modelos de neurotoxicidade induzida por glutamato e altos níveis de glicose, onde tais resultados apontam o potencial destas moléculas com enfoque nas doenças neurodegenerativas (WANG et al., 2010a; ZHANG et al., 2012b). Em 2014, quatro selaginpulvilinas (A - 32, B - 33, C- 34, e D- 35) (Figura 4) foram apresentadas por Liu e colaboradores (2014), sendo estas as principais representantes do grupo B proposto pela revisão de Li (2020), observando nestes novos análogos uma notória atividade inibitória da enzima fosfodiesterase-4 (PDE-4), prospectando-os enquanto ótimas alternativas frente a manifestações inflamatórias ligadas a esta enzima. Diferindo das moléculas reportadas anteriormente, as selaginpulvilinas possuem um anel de cinco membros unindo os anéis A e E da estrutura básica das selaginelinas, caracterizando um núcleo molecular do tipo fluoreno, sendo proposto para o estabelecimento desta estrutura o ataque nucleofílico intramolecular em C7 do composto 1 (Figura 3), confirmado usando-se o seu racemato metoxilado em condições ácidas (LIU et al., 2014). Em 2015 são elucidadas as estruturas das selaginelinas P (14), Q (15) e R (16) da espécie S. pulvinata, juntamente com um análogo possuidor de um anel isoquinolínico que recebeu a denominação selaginisoquinolina (19), sendo também pesquisadas a atividade citotóxica, evidenciada de forma moderada em relação ao análogo P, e antifúngica, atestada por parte de todas as moléculas em questão (CAO et al., 2015). O mesmo grupo ainda introduziu a estrutura do derivado S (57) em estudos com a mesma espécie, esta pertencente ao grupo C proposto por Li, considerado um intermediário chave para biossíntese dos demais análogos (CAO; WU; DUAN, 2015). Xu (2015) reportou dois análogos de esqueleto tipo C nomeando-os selaginelinas P e Q, porém por serem nomenclaturas já usadas por Cao, Li (2020) as renomeou como selaginelinas Y (55) e Z (56). Ainda neste mesmo ano Nguyen e colaboradores (2015a, 2015b) incluíram à classe as selariscininas A (20), B (24) C (25) e D (58), sendo a selariscinina A o enantiômero S da primeira sealginellina identificada (1), as selariscininas B e C, análogos sem a porção p-quinona metído por apresentarem uma hidroxila adicional em C7, e a selariscinina D mais um análogo pertencente ao grupo C, considerado um precursor da selaginelina S. Para estas moléculas, foi pesquisada a atividade antidiabética, observando uma potente inibição na recaptação de glicose em adipócitos de linhagem 3T3-L1, chegando a escala μM, sendo comprovado um efeito inibitório sobre a enzima tirosina fosfatase 1B (PTP1B), um importante alvo na fisiopatologia do diabetes tipo II (NGUYEN et al., 2015a, 2015b). 35 Figura 4 - Selaginelinas pertencentes ao grupo B proposto por Li 2020 (Fonte: Adaptado de Li et al. 2020) 36 Entretanto, Li (2020) pontuou uma série de divergências em relação ao isolamento e elucidação estrutural destes novos análogos apresentados por Nguyen, questionando a discordância dos dados de RMN entre os compostos 20 e 1, e a rotação específica exibida por 24 e 25 quando estes não apresentariam quiralidade axial. Tendo em vista a notável atividade inibitória da PDE-4 exibida pelas selaginpulvilinas, seis novas são apresentadas em 2017, as selaginpulvilinas E – J (32, 37-41), observando nestas, ótima atividade inibitória sobre a mesma enzima, realizando ainda neste mesmo estudo, a proposta de síntese dos análogos A – F (32 - 37), usando como principal mecanismo entre os passos as reações de Friedel-Crafts (ZHANG et al., 2017). Logo em seguida, as selaginpulvilinas K (42) e L (43) foram identificadas por Huang e colaboradores (2017), também sendo pesquisada a atividade sobre a enzima PDE-4, também obtendo uma potente atividade inibitória sobre esta e consolidando o grupo B das selaginelinas como excelente em candidatos ao tratamento de doenças como a artrite psoriática e a doença pulmonar obstrutiva crônica. Yao et al. (2017) incluiu à classe a selagitarmargilina A (26), esta possuidora de um anel benzopirano em sua estrutura, sendo proposta a formação desta a partir da selaginelina O (13), por meio de uma oxidação seguida de hidratação, destituindo a porção p-quinona metídeo e possibilitando a ciclização pelo ataque nucleofílico em C27. Assim como as selaginpulvilinas Figura 5 - Selaginelinas pertencentes aos grupos C e D propostos por Li 2020 (Fonte: Adaptado de Li et al. 2020) 37 reportadas anteriormente, a selagintamargilina A exibiu uma potente inibição da enzima fosfodiesterase-4, bem como foi avaliada quanto à inibição da polimerização da tubulina, demonstrando boa performance em comparação à citostáticos como o paclitaxel e a combrestatina (YAO et al., 2017). Ainda foram apresentadas as estruturas das selaginelinas T (21), U (22), V (23), W (17) e X (27) (LE et al., 2017; ZHU et al., 2017). O análogo T (21), bem como as selariscininas anteriormente reportadas, exibiu atividade inibitória sobre a enzima PTP1B, enquanto o docking molecular de U (22) e W (17), sugeriu uma competição mista na inibição do sítio ativo enzimático, incluindo estas também como boas candidatas a novos agentes antidiabéticos (LE et al., 2017). A selaginelina X (27) destaca-se em relação às anteriormente identificadas por apresentar um anel piranona onde se arranjaria a ligação acetileno, esta foi renomeada por Li (2020) ao repetir a denominação selaginelina U usada por Le (2017). Ainda neste artigo, outra selaginelina de anel gama-lactônico teve sua estrutura elucidada, contudo, por repetir a nomenclatura do composto 21, esta foi renomeada por Li (2020) como Deidroximetil selaginelina H (60) (ZHU et al., 2017). Vale ressaltar também que neste trabalho, foram isoladas algumas selaginelinas já reportadas anteriormente, onde se pesquisou a atividade inibitória da enzima beta secretase 1 (BACE1), sabidamente atuante na fisiopatologia da doença de Alzheimer, observando-se boa atividade inibitória dos análogos 1, 3 e 13 (ZHU et al., 2017). Wang e colaboradores (2018) em pesquisa na espécie S. tamariscina, identificaram novos polifenóis, incluindo a classe das selaginelinas a selafenina C (61), mais um derivado gama-lactônico, que dada a ausência de um anel D, pode se enquadrar nos grupos C e D segundo a classificação proposta por Li (LI; TANG; YIN, 2020). 2019 marca a inserção de técnicas de bioinformática baseadas em desreplicação no estudo das selaginelinas. Por uso do Molecular Networking, Woo et al. (2019) elucidaram as estruturas de duas novas selaginelinas do tipo delta-lactônicas, sendo denominadas selariscinas A (30) e B (31), além de oito novas selaginpulvilinas M – T (45 – 52). Tendo em vista os artigos anteriores, a atividade inibitória da PDE-4 também foi investigada para estes novos análogos, aliada a esta pesquisa o docking molecular, sendo obtidos resultados de inibição, inclusive pela selariscina A (30), o que contribuiu com hipóteses acerca da relação estrutura/atividade na inibição da enzima em questão (WOO et al., 2019). Zhu (2019) identificou o derivado isoselagintamargilina A (44), possuidor de um anel benzofurano, para o qual é proposta a possível formação a partir de uma ciclização intramolecular na estrutura da selaginelina J. Recentemente, derivados naturais das selaginelinas foram identificados em Selaginella convoluta por Molecular Networking e consistem em duas formas 29-hidroxiladas das selaginelinas A e O, e o composto 4- {[2 - (4- 38 hidroxifenil) - 6 - [2 - (4 - hidroxifenil) etinil] fenil] (4 - oxociclohexa -2,5 - dieno - 1 - ilideno) metil} benzaldeído (Figura 6) (REGINALDO et al., 2021). Li compilou estes achados propondo uma possível rota de biossíntese das selaginelinas (Esquemas 1 e 2 – Figuras 7 e 8) que integram os quatro gruposelencados por ele em sua revisão (LI; TANG; YIN, 2020). Esta teria início na junção de 3 unidades de malonil-CoA e uma de acetil-CoA por intermédio de uma enzima do tipo policetídeo sintase tipo III na formação do ácido orselínico, primeiro intermediário na rota, assim como proposto por Shi et al. (2012). Este então seria oxidado, permitindo o ataque nucleofílico no carbono 5 do ácido orselínico pelo ânion 2,5-ciclohexadienona para estruturação de um intermediário (62) com padrão de substituição chave para a construção das demais selaginelinas (LI; TANG; YIN, 2020). Caso este (62) venha a passar por etapas subsequentes de oxidação e redução, a fim de destituição das hidroxilas em C2 e C4 e substituição do grupamento metil pela função aldeído em C6, seguintes reações de oxidação, adição nucleofílica e lactonização dão origem aos análogos pertencentes ao grupo D (Esquema 1). No entanto, passando 62 por redução a fim de formar o carbocátion da função ácido carboxílico da estrutura, permitiria uma condensação de benjoim com um p-hidroxi benzaldeído (que segundo a proposta de Shi (2012) seria alcançada por uma provável cetolase) formando um intermediário diol vicinal, que após desidratação, estabeleceria a formação da selaginelina L (54), primeiro análogo pertencente ao grupo C (Esquema 1) (LI; TANG; YIN, 2020). Esta, a depender de reações subsequentes (oxidação, redução, metilação, des/hidratação) daria origem aos demais intermediários do grupo C (por exemplo, 53 e 55), em especial caso haja além das reações anteriormente citadas o acoplamento do ânion 2,5-ciclohexanona, sendo formada a selaginelina S (57) (Esquema 1), que de acordo Figura 6 - Selaginelinas identificadas em Selaginella convoluta (Fonte: Adaptado de Reginaldo et al., 2021) 39 com Li é a primeira estrutura na rota de formação das selaginelinas dos grupos A e B (LI; TANG; YIN, 2020). Reagindo novamente com o radical 2,5-ciclohexadienona, a selaginelina S daria origem a um intermediário terc-butanol (63) que caso oxidado permitiria a ciclização intramolcelar formando um núcleo tipo benzopirano, sendo essa a estrutura da selagintamargilina A (26) (Esquema 2) (LI; TANG; YIN, 2020). Caso desidratado, 63 daria origem a selaginelina (1), que em pH ácido facilita o ataque eletrofílico entre C20 e C7 para formação do núcleo fluoreno das selaginpulvilinas, principais integrantes do grupo B, e a isoselagintamargilina A (Esquema 2) (LI; TANG; YIN, 2020). Figura 7 - Esquema 1 de formação das selaginelinas para biossíntese dos intermediários que compõem os grupos C e D proposto por Li 2020 (Fonte: Adaptado de Li et al. 2020) 40 Figura 8 - Esquema 2 de formação das selaginelinas para biossíntese dos intermediários que compõem os grupos A e B proposto por Li 2020 (Fonte: Adaptado de Li et al. 2020) 41 A depender do modo de substituição de 1, as demais selaginelinas identificadas se estabeleceriam, e aqui Li elenca a selaginelina O (13) como intermediário importante na formação da selaginlisoquinolina (19) e selaginelina X (27), pela transaminação de 13 e seguintes, oxidação e adição cíclica intramolecular, e da ciclização intramolecular respectivamente (Esquema 2) (LI; TANG; YIN, 2020). Li ainda propõe que 27 é o precursor da selariscina A (30), após adição nucleofílica intramolecular e metilação das hidroxilas livres em C1 e C10. Concluindo, a proposta que possibilita a ocorrência dos diversos esqueletos carbônicos estabelecidos, a formação da selaginelina G (18) se daria pela hidratação da selaginelina A (2) e destituição da ligação acetileno pela inserção de uma hidroxila em C27, formando uma molécula interconversível em equilíbrio com a selaginelina G (LI; TANG; YIN, 2020). Considerando o exposto até o momento, verifica-se que as possíveis reações químicas envolvidas na biossíntese de selaginelinas estão mapeadas e vem sendo estudadas extensivamente. Entretanto, poucos esforços são feitos no sentido de compreender e comprovar por ferramentas ômicas quais os genes e enzimas estão envolvidos nesses processos na planta. Visando contribuir com informações acerca da biossíntese destas moléculas, o proteoma de Selaginella convoluta (seca/irrigada em raiz/partes aéreas) potencialmente contribui na identificação de enzimas que possam atuar na rota de biossíntese destes metabólitos, que, aliadas a técnicas de eliciação, podem fornecer a compreensão para promoção de intervenções biotecnológicas visando a produção sustentável e escalonável destes. 2.2.2 Alcaloides de Selaginella spp. Alcaloides são metabólitos secundários organocíclicos que possuem essencialmente o átomo de nitrogênio em suas estruturas (FACCHINI, 2001). A depender da origem biossintética do seu átomo de nitrogênio, são classificados enquanto: alcaloides verdadeiros ao derivarem de aminoácidos possuindo um heterociclo nitrogenado (Ex: Nicotina), protoalcaloides caso advenha de aminoácidos contudo não possuam um heterociclo nitrogenado (Ex: Efedrina) e pseudoalcaloides quando não são originários de aminoácidos (Ex: Metilxantinas) (CASCIARO 42 et al., 2020). Compõem uma das principais classes em termos de fármacos oriundos de fonte natural utilizados na terapêutica e atualmente se destacam neste sentido os analgésicos opioides e anestésicos locais, drogas com atividade sobre o sistema nervoso autônomo como a atropina e a escopolamina, bem como antitumorais de importante relevância tais como o taxol e a vimblastina (DEBNATH et al., 2018). No gênero Selaginella, esta classe ficou representada ao passo dos primeiros alcaloides identificados em espécies do gênero, principalmente por moléculas estruturalmente simples sendo ressaltados os derivados da N-metiltiramina, como por exemplo a hordenina, e os alcaloides hidroxicinamoil poliamínicos como a paucina (Figura 9) (WENG; NOEL, 2013). Wang e colaboradores (2009) realizaram o isolamento e elucidação de oito alcaloides pirrolidinoindólicos da espécie Selaginella moellendorffii que dadas as atividades reportadas em outros alcaloides pertencentes à classe foram testados quanto a seus potenciais antibacteriano, citotóxico e inibitório sobre a enzima acetilcolinesterase. O mesmo grupo em 2016 veio a identificar uma potente atividade anti-agregante plaquetária do alcaloide pirrolidinoindólico identificado previamente denominado ácido selaginélico (Figura 9) (SU et al., 2016). No mesmo ano, foi evidenciada uma atividade antifúngica para fração enriquecida em alcaloides de Selaginella convoluta (isolada por extração em fase sólida catiônica) frente a cepas de Candida krusei e Cryptococcus neoformans (SANTOS REGINALDO, 2016). Neste estudo, a investigação fitoquímica de S. convoluta em diferentes estados de irrigação levou à identificação do alcaloide de núcelo piridínico anabasina (SANTOS REGINALDO et al., 2021). Os alcaloides de núcleo piridínico possuem distribuição restrita a algumas espécies, em especial as que compõem o genêro Nicotiana, e postula-se que são oriundos dos aminoácidos lisina, arginina e ornitina, e de produtos do metabolismo da nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD), tendo como principais precursores em sua via de formação o cátion 1-metilpirrolinium, Figura 9 - Alcaloides encontrados no gênero Selaginella. Da esquerda para a direita: Hordenina, Paucina, Ácido selaginélico e Anabasina (Fonte: Elaborado pelo autor). 43 o nicotinato e a piperidina (ASHIHARA; LUDWIG; CROZIER, 2020). A anabasina é constituída após a junção de dois heterociclos nitrogenados, um piridínico e outro piperidínico (Figura 10) (BUNSUPA et al., 2014). O anel piperidínico é formado a partir da lisina, que sofre descarboxilação pela enzima lisina descarboxilase originando a diamina cadaverina (ASHIHARA; LUDWIG; CROZIER, 2020; BUNSUPA et al., 2014). Esta por sua vez sofre ação de uma provável amina oxidase para formação do intermediário5-aminopentanal que de forma espontânea gera a Δ¹-piperidina (BUNSUPA et al., 2014; SHOJI; HASHIMOTO, 2011). Figura 10 - Esquema de biossíntese da Anabasina. Setas tracejadas representam etapas reacionais ainda não elucidadas. Intermediários representados por siglas: NaMn – Ácido nicotínico mononucleotídeo; NaAD – Ácido nicotínico adenina dinucleotídeo; NAD – Nicotinamida adenina dinucleotídeo; NMN – Nicotinamida monocucleotídeo; NR – Nicotinamida ribosídeo (Fonte: Elaborado pelo autor) 44 A piridinina advém do nicotinato, um produto de vias do metabolismo de nucleotídeos, inicialmente pela conversão do ácido aspártico sob ação da enzima aspartato oxidase no intermediário α-iminosuccinato (SHOJI; HASHIMOTO, 2011; ZRENNER; ASHIHARA, 2011). Este é condensado com uma molécula de gliceraldeído-3-fosfato e ciclizado por ação da enzima quinolinato sintase, formando o ácido quinolínico (SHOJI; HASHIMOTO, 2011). A enzima quinolinato fosforibosiltransferase catalisa a conversão do ácido quinolínico em ácido nicotínico mononucleotídeo (NaMN), substrato para a formação da nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD), importante coenzima celular de oxirredução (SHOJI; HASHIMOTO, 2011; ZRENNER; ASHIHARA, 2011). Ambos NaMN e NAD são intermédiários do ciclo dos nucleotídeos piridíncos e servem de substrato na formação do nicotinato (SHOJI; HASHIMOTO, 2011). Pela redução deste, há formação do 3,6-dihidronicotinato que com uma seguinte descarboxilação dá origem à 2,5-dihidropiridina; essa ao ser condensada com a Δ¹- piperidina forma a anabasina, sendo estas últimas etapas reacionais ainda não totalmente elucidadas (ASHIHARA; LUDWIG; CROZIER, 2020). A anabasina é encontrada na espécie Sul-Americana Nicotiana glauca (Charuteira; Charuto-do-rei) e é reconhecidamente um alcaloide tóxico, dados relatos de teratogenia e intoxicação em mamíferos (FURER et al., 2011; MURPHY et al., 2006). Devido a este potencial, sua aplicação se restringe enquanto pesticida, que sendo um produto de origem natural, possui diversas vantagens ambientais em relação a agentes de fonte sintética (UJVÁRY, 2010). As informações conhecidas até o momento sobre alcaloides em Selaginella tanto pouco acrescentam em relação a esta classe em particular no gênero, quanto instigam a necessidade de investigação do papel destes metabólitos na fisiologia da planta, dado seus atributos individuais e o relato da anabasina, inédita ao grupo das licófitas, e consequentemente na família Selaginellaceae. Assim, são levantados diversos questionamentos a respeito da função deste metabólito em S. convoluta, uma vez que a espécie se encontra em ambiente semi-árido, diferentemente das investigadas anteriormente quanto ao perfil alcaloídico. 2.2.3 Biflavonoides Flavonoides são metabólitos secundários pigmentantes, polifenólicos, ubíquos às plantas, biossintetizados a partir de intermediários das vias dos fenilpropanoides e do acetato em resposta a estressores tanto bióticos como abióticos, apresentando estrutura básica (C6-C3- C6) de dois anéis aromáticos (anéis A e B) interconectados por um anel pirano (anel C) (Figura 11) (KUMAR; PANDEY, 2013; NABAVI et al., 2020). 45 Originam-se dos aminoácidos fenilalanina e tirosina, que sob ação das enzimas fenilalanina amônia liase (PAL – EC: 4.3.1.24) e fenilalanina tirosina amônia liase (PTAL – Figura 11 - Esquema da biossíntese de biflavonoides sendo elencados três das principais moléculas da classe encontradas em espécies de Selaginella, inclusive em S. convoluta. Linhas tracejadas ilustram etapas reacionais ainda não elucidadas (Fonte: Elaborado pelo autor) 46 EC: 4.3.1.25) respectivamente, são convertidos em cinamato e p-cumarato (KANEHISA, 2019). Ambos por intermédio da 4-cumarato-CoA-ligase (4CL – EC: 6.2.1.12), dão origem aos substratos cinamoil-CoA e p-cumaroil-CoA, que por ação da chalcona sintase (CHS – 2.3.1.74) formam os principais precursores para os demais compostos da classe como por exemplo a isoliquiritigenina, pinocembrina chalcona e naringenina chalcona (KANEHISA, 2019). Os flavonoides podem ser divididos em subgrupos conforme similaridade estrutural entre análogos, de acordo com a posição de ligação entres os anéis B e C e o nível de insaturações e hidroxilações do anel C, destacando-se neste sentido as flavonas, flavonois, flavanonas, flavanonois, flavanois, antocianidinas e chalconas (PANCHE; DIWAN; CHANDRA, 2016). Quando em dímeros, estas estruturas são denominadas biflavonoides, que podem ser constituídos de duas unidades flavonoídicas idênticas ou distintas (Ex: flavona-flavona, flavona-flavonol), conectadas por um espaçador alquílico (C-C) ou éter (C-O-C), simétrica ou assimetricamente (GONTIJO; DOS SANTOS; VIEGAS JR., 2016). Biflavonoides ocorrem amplamente em espécies do gênero Selaginella, sendo estes de grande interesse dada a ampla variedade de atividades biológicas identificadas (CAO et al., 2017a). Destacam-se neste sentido os dímeros de apigenina C-C, como a amentoflavona e a robustaflavona enquanto moléculas responsáveis por atividades como neuroproteção, anti-inflamação e antioxidação, e os dímeros de apigenina C-O-C, tendo a hinoquiflavona como um dos principais exemplos, enquanto potenciais antineoplásicos (GOOSSENS; GOOSSENS; BAILLY, 2021; MURALIDHARA, 2014; YU et al., 2017). Selaginella destaca-se enquanto produtora de metabólitos conjugados, sendo de importante ressalva a identificação de estruturas flavonoídicas triméricas identificadas em Selaginella doederleinii, denominadas selagintriflavonoides, evidenciadas nestas um potencial anti-Alzheimer (ZOU et al., 2017). Biflavonoides são reconhecidos por exibirem ação fotoprotetora, e sendo dímeros flavonoídicos, possuem o dobro da ação antioxidante (YAMAGUCHI; KATO; DI MASCIO, 2009). A indução destes estresses na planta (luminoso, oxidativo) podem favorecer a produção desta classe de metabólitos, contribuindo no estudo de biflavonoides de S. convoluta, tanto no quesito funcional, quando ao se incrementar o rendimento e melhorar as suas expectativas de obtenção. Neste contexto, o proteoma de S. convoluta contribui enquanto ferramenta para estudo das características moleculares que a tornam uma espécie tolerante à dessecação, e também na identificação de possíveis enzimas envolvidas na biossíntese de metabólitos de interesse farmacêutico (selaginelinas, alcaloides e biflavonoides) a fim de compreender a construção destas moléculas tanto para a espécie como para o gênero. O cultivo e eliciação in vitro entra 47 como estratégia de estudo funcional de tais metabólitos, buscando analisar a produção de fitoalexinas e incrementar o rendimento destas moléculas, sendo esta dinâmica experimental um facilitador na identificação de possíveis alvos de intervenção biotecnológica na biossíntese e obtenção de moléculas de interesse farmacêutico em S. convoluta. 2.3 Tolerância à dessecação e ressurreição em espécies vegetais A água é um elemento vital para o equilíbrio e manutenção da vida dos organismos, uma vez que as reações bioquímicas que ocorrem nas células se desenvolvem em meio hidrofílico, bem como demandam este elemento para que ocorram. Logo, a deficiência hídrica representa um importante fator de estresse, e em se tratando de espécies vegetais, a maior parcela das plantas terrestres são incapazes de se desenvolverem e sobreviver sob condições severas de desidratação e dessecação. Vale ressaltar que a resistência à dessecação é um fenômeno comum a determinadas estruturas da planta, como as sementes, dentre outros elementos reprodutivos (KOORNNEEF; BENTSINK; HILHORST, 2002). Contudo, existe um grupo bastante restrito de espécies vegetais que conseguem exibir esta resistência também em seus tecidos vegetativos, e a este grupo é atribuído o termo ‘’planta da ressurreição’’. Estas conseguem atingir um estado de quiescênciaquando em situação de dessecação, semelhante ao observado nas sementes, e retomar sua atividade metabólica plena assim que reidratadas, ressurgindo mesmo após longos períodos de desidratação (BARTELS, 2005). Estas plantas podem ser divididas em homoioclorófilas e poiquiloclorófilas em relação à manutenção ou não respectivamente da atividade fotossintética bem como a produção de suas clorofilas durante a dessecação, onde as espécies de Selaginella que se enquadram como plantas da ressurreição pertencem ao grupo das homoioclorófilas (SHIVARAJ et al., 2018). Há um grande interesse em compreender os mecanismos usados por essas plantas para expressar estas características, bem como o estudo da tolerância à dessecação em plantas de forma geral, especialmente no agronegócio, onde a cada dia se busca o melhoramento das características de tolerância à seca por parte de cultivares (VARSHNEY; TUBEROSA; TARDIEU, 2018). Na química de produtos naturais também se observa o imenso potencial apresentando por estas características onde se aponta o envolvimento de metabólitos especializados enquanto mecanismos de resistência ao estado de dessecação. Como exemplo, o acúmulo de substâncias fenólicas dentre outros antioxidantes, sendo estes metabólitos exemplos de importantes alvos na busca por potenciais medicamentos, o que atribui certa relevância às espécies da ressurreição nesta perspectiva (GECHEV et al., 2014). 48 A microfilia é reconhecidamente uma estratégia evolutiva adquirida para melhor adaptação a ambientes quentes e secos, traço característico no gênero Selaginella (TOLDI; TUBA; SCOTT, 2009). Além disto, as plantas deste gênero comumente enrolam suas partes aéreas quando sujeitas à desidratação na tentativa de diminuir a exposição à radiação solar, configurando-as em estruturas esféricas, que em alguns casos possibilitam até mesmo o transporte destas pelo vento em busca de suprimento hídrico em outros ambientes, sendo estas importantes características de adaptação morfológica ao estresse hídrico, em especial às de ocorrência em ambientes semiáridos e áridos (LEBKUECHER; EICKMEIER, 1993). Tolerantes à dessecação ou não, sabe-se que as plantas possuem estratégias moleculares constitutivas, e/ou induzíveis para lidar com o estresse hídrico. Contudo, nas espécies da ressurreição, estas estratégias ocorrem de maneira única e notavelmente pronunciada, sendo características não de sobrevivência, mas sim de manutenção regular de suas estruturas. Aos primeiros sinais de dessecação, a planta ativa vias de sinalização mediadas por canais iônicos, por intermédio de segundos mensageiros como o íon cálcio, e também proteínas quinases para regulação de fatores de transcrição e ajustes morfológicos (GECHEV et al., 2012). Além dos estímulos propriamente ditos, o fitohormônio ácido abscísico (ABA) é um dos principais orquestradores destes eventos, bem como da sinalização abiótica de modo geral. Este é encarregado de modular a expressão de quinases e fosfatases em cascatas de ativação, promover o fechamento estomático para preservação hídrica, e recrutar elementos osmoprotetores, bem como algumas proteínas de resposta a estresse hídrico, tais como as responsivas à desidratação (DREB) e ao próprio ABA (AREB) (TAKAHASHI et al., 2018). Outras proteínas importantes neste contexto fazem parte do grupo das abundantes na embriogênese tardia (LEA), chaperonas (Proteínas de choque térmico - HSPs) e enzimas antioxidantes (catalases, superóxido dismutases, peroxidases), sendo de importante ressalva a sinalização exercida pelo estresse oxidativo na aquisição da tolerância à dessecação e desenvolvimento da planta. As LEA são proteínas multifuncionais, pois ocorrem em resposta ao estresse osmótico bem como chaperonas, uma vez que frente à situação de desidratação a preservação das estruturas e arquitetura celular é um fator de conflito na sobrevivência do organismo e manutenção da sua fisiologia, e juntamente a estas estão as HSPs que resguardam as estruturas proteicas da desnaturação (MERTENS; ALIYU; COWAN, 2018; PRIYA et al., 2019). Enzimas antioxidantes são a primeira linha de defesa da célula contra o estresse oxidativo e, na dessecação, observa-se uma relação de incremento entre a expressão e a atividade destas enzimas e decréscimo da atividade fotossintética, uma vez que este processo é um fator de extrema contribuição na geração de espécies reativas de oxigênio (ERO) 49 (KRANNER et al., 2002). Como a maioria das Selaginelas são homoioclorófilas o seu aparato fotossintético é preservado na dessecação para conservar a planta num estado de prontidão para a ressurreição, apesar da repressão da sua taxa fotossintética. Em decorrência disto, proteínas responsáveis pela proteção do aparato fotossintético também são bastante reportadas neste contexto como por exemplo as oxygen envolving enhancer protein (OEE), early light inducible proteins (ELIPs), bem com as LEA, garantindo o rápido restabelecimento da fotossíntese no processo de ressurreição (CHALLABATHULA; ZHANG; BARTELS, 2018). Dada a diminuição da taxa fotossintética, a obtenção de energia na dessecação é outro aspecto importante a se discutir, e neste contexto o incremento do metabolismo de carboidratos representa mecanismos tanto de conservação energética como de preservação das estruturas frente ao estado vítreo. Ao induzir vias metabólicas energéticas alternativas, a célula vegetal desenvolve processos que priorizam a preservação celular em detrimento do crescimento, onde mecanismos como a autofagia e o metabolismo da trealose, são reconhecidamente mecanismos de preservação energética fundamental para as plantas tolerantes à dessecação (ASAMI; MUNDREE; WILLIAMS, 2018; GRIFFITHS; GAFF; NEALE, 2014). Também é evidenciado o acúmulo de determinados açúcares como sacarose e trealose e sua atuação enquanto osmoprotetores para garantia da integridade da membrana celular, além da participação destes carboidratos enquanto sinalizadores no processo de dessecação (GRIFFITHS; GAFF; NEALE, 2014). Dentre outras moléculas envolvidas na osmoproteção é reportado o envolvimento do Figura 12- Esquema de desenvolvimento de mecanismos moleculares constitutivos e induzíveis para tolerância à dessecação de espécies vegetais (Fonte: Adaptado de Gechev et al. 2012) 50 aminoácido prolina enquanto osmólito, sendo evidenciado o acúmulo desta também frente a alta incidência de radiação UV, dentre outras situações de estresse abiótico, como salinidade e estresse oxidativo (LIANG et al., 2013). O entendimento desta rede de mecanismos, tanto morfológicos quanto moleculares, bem como sua integração não é uma tarefa simples, e tem sido facilitada com a evolução dos métodos de análise em fisiologia vegetal, sendo as ciências ômicas ferramentas que possibilitam a investigação destes eventos sob a perspectiva global e dinâmica que realmente representam. Já é usada a terminologia ‘’dessecômica’’ para se referir ao estudo de plantas tolerantes à dessecação por meio de técnicas ômicas, com a finalidade de elucidar seus padrões de resposta à dessecação (LEPRINCE; BUITINK, 2010). A geração de dados pela utilização destes métodos é vasta e neste sentido, tais ferramentas podem contribuir também para o estudo da biossíntese de metabólitos especializados, pois sua descoberta impacta diretamente na obtenção de produtos naturais, bem como no desenvolvimento de novos fármacos. Ferramentas ômicas, tais como a proteômica, Figura 13- Esquema integrativo do uso da biologia de sistemas no estudo de espécies tolerantes, podendo estes dados servirem para complementação de diversos estudos, inclusive o da biossíntese de metabólitos secundários bioativos (Fonte: Adaptado de Shivaraj et al. 2018) 51 entram neste contexto conferindo uma abordagem ampla e inovadora, possibilitando a descoberta de enzimas que atuem emvias de biossíntese de metabólitos especializados, permitindo a mínima compreensão destas rotas. Ao se associar estas informações a de outras técnicas ômicas, é possível inferir conclusões mais assertivas acerca das respostas encontradas experimentalmente. Sendo assim, cabe à integração destes achados de maneira global onde a tendência atual persiste em estabelecer modelos multi-ômicos de análise que acabam por responder tanto questões inerentes à fisiologia do vegetal, como que impactem na elucidação de vias de biossíntese de moléculas com alto potencial farmacológico. 2.4 Ciências ômicas em produtos naturais A área de produtos naturais ao longo das épocas experienciou determinadas tendências marcantes em termos metodológicos e, no presente momento, as atenções se voltam para uma palavra-chave: De-replicação. As primeiras definições conceituam a de-replicação como a tentativa de evitar a identificação de compostos já reportados, a fim de maximizar a descoberta de moléculas inéditas (LANG et al., 2008). Porém, este conceito adquiriu novas perspectivas sob a ótica da biologia de sistemas com a crescente inserção das ciências ômicas, como a metabolômica e proteômica, no contexto da química de produtos naturais, assim como a necessidade de melhores ferramentas no tratamento dos dados advindos destas (GAUDÊNCIO; PEREIRA, 2015). Técnicas espectrométricas hifenadas associadas a softwares orquestrados pela bioinformática permitem a interpretação e mineração de dados, o que tem melhorado a eficiência da descoberta de novas entidades químicas de origem natural bem como promovido o estabelecimento de importantes pontes multidisciplinares para a resolução de questões fronteiriças neste contexto multiáreas (HUBERT; NUZILLARD; RENAULT, 2017). 2.4.1 Proteômica A proteômica é uma ferramenta bastante usual no estudo de espécies vegetais, inclusive não-modelos, em análises de sinalização, desenvolvimento e observação dos mecanismos moleculares utilizados pelas plantas frente a seus diversos estressores ambientais (a)bióticos (KAUFMANN et al., 2011). A técnica possui diversas abordagens que resumidamente podem ser compreendidas em três etapas em comum: preparação das amostras (extração, fracionamento e separação das proteínas), identificação e quantificação (métodos espectrométricos) e análises bioinformáticas (ASLAM et al., 2017). Realizada a extração em condições que garantam a conservação da estrutura das proteínas, o fracionamento visa redução para possibilitar a leitura na etapa seguinte de identificação, sendo a separação um diferencial 52 entre abordagens, podendo esta ocorrer via eletroforese em gel, baseando-se em características inerentes às proteínas como tamanho, massa e carga, ou livres de gel-separação (ASLAM et al., 2017). A identificação (que pode ser de peptídeos ou de proteínas propriamente ditas) e quantificação são realizadas principalmente por ferramentas instrumentais como a espectrometria de massas (MS) e a ionização e dessorção a laser assistida por matriz (MALDI), onde na quantificação podem ser requeridos métodos prévios de marcação, sendo os dados espectrais obtidos, usados no alinhamento e normalização em softwares específicos para obtenção do fingerprint proteico e organização de dados quantitativos, caracterizando assim a etapa bioinformática do processo (ASLAM et al., 2017). A depender de especificidades no modo de execução prévia à identificação das proteínas são estabelecidas três variantes estratégicas principais na proteômica (bottom-up, middle-down, top-down), relacionadas ao direcionamento do nível de complexidade do produto em análise (menos complexo: peptídeo; mais complexo: proteína), cada uma possuindo vantagens e desvantagens, cuja seleção é norteada pelo tipo de dado que se deseja obter ao final da análise e o dataset instrumental disponível, valendo salientar que estas podem ser usadas em associação (ZHANG et al., 2013). Na proteômica bottom-up (Figura 14) (em termos de complexidade do analito: de baixo para cima), a estratégia mais usual, as proteínas fracionadas pós-extração são totalmente digeridas à peptídeos (geralmente por tripsinização), que, em seguida, são identificados pelo emprego principalmente da cromatografia líquida acoplada à espectro de massas, que por tratamento bioinformático servirão para inferência proteica (MAYNE et al., 2016). Para a middle-down (do meio para baixo), considerada uma técnica híbrida entre bottom- up e top-down, muito usual na investigação por modificações pós-traducionais, a etapa de digestão utiliza proteases específicas, permitindo uma maior restrição na clivagem entre peptídeos, reduzindo assim a redundância dos dados nas etapas posteriores (PANDESWARI; SABAREESH, 2019). No caso da top-down (de cima para baixo), as proteínas não são digeridas prévia ou inteiramente, partindo para a etapa de identificação logo após o fracionamento, sendo esta estratégia interessante para a identificação de produtos de degradação e também para o estudo de modificações pós-traducionais (BROWN et al., 2020). Diante dos conceitos expostos, alguns fluxos de trabalho se destacam em estudos mais recentes no escopo da proteômica, tendo em vista a evolução dos métodos de análise espectrométricos e o desenvolvimento de novos algoritmos para o reconhecimento de padrões e tratamento de dados. Um claro exemplo disto é o conceito de proteômica ‘’de espingarda’’ (Shotgun), que ganhou bastante popularidade devido a rentabilidade e a ampla possibilidade de descoberta em extratos proteicos complexos advindos de uma enorme variedade de amostras 53 (GAO; YATES, 2019). O termo ‘’shotgun’’ faz referência a análise genômica shotgun, que é uma analogia ao padrão e dispersão de disparos aleatórios de uma espingarda na tentativa de garantir o acerto ao alvo, caracterizando-se pela identificação por espectrometria de massas de proteínas totalmente digeridas (estratégia bottom-up) e posterior confronto dos dados espectrais em tandem (MS2) contra sequências proteicas inferidas in sílico de um genoma de referência obtido em banco de dados (ZHANG et al., 2013). A etapa bioinformática é crucial para a obtenção dos resultados, destacando aqui o uso de algoritmos neste trabalho de correlacionar espectros de massa de peptídeos obtidos em análise com espectros teóricos advindos de bases de dados, sendo exemplos neste sentido alguns softwares como o Peaks, PAnalyzer e mais recentemente o Pattern Lab for proteomics (CARVALHO et al., 2016; MA et al., 2003; PRIETO et al., 2012). Pattern Lab for proteomics (http://patternlabforproteomics.org) é um software gratuito para tratamento e análise de dados shotgun-proteomicos desenvolvida por pesquisadores da Fiocruz em parceria com a Universidade de Michigan, incluso aos colaboradores o principal desenvolvedor da proteomica shotgun John Yates (CARVALHO et al., 2016). O mecanismo Figura 14- Dinâmica experimental na proteômica bottom-up (Fonte: Adaptado de Zhang et al., 2013) 54 usado pelo software para inferência proteica é denominado Comet (ENG; JAHAN; HOOPMANN, 2013), este realiza a correlação dos peptídeos inferidos com os obtidos experimentalmente por espectrometria de massas em tandem ao estabelecer scores nestas associações para hierarquização dos peptídeos pesquisados (CARVALHO et al., 2016). A filtragem e organização das sequências proteicas é feita por análise estatística desempenhada pelo mecanismo Search Engine Processor, tendo ao fim as proteínas inferidas a partir do confronto com o modelo (CARVALHO et al., 2012). A versão 4.0 reuniu módulos de análise já disponíveis nas versões anteriores (filtragem de dados por Search Engine processor – SEPRO, quantificação de proteínas baseadas em métodos de marcação e label-free, dentre outros) bem como incrementou novos, criando uma interface prática e de
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