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RegimeDisciplinarDiferenciado-Ferreira-2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
EVELLY TAINÁ LOPES FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: ANÁLISE DA NOVA REDAÇÃO DO ART. 
52 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL À LUZ DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE 
DIREITOS HUMANOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
 
 
 
2 
 
 
EVELLY TAINÁ LOPES FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: ANÁLISE DA NOVA REDAÇÃO DO 
ART. 52 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL À LUZ DOS TRATADOS 
INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de graduação em 
Direito, da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, como requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof. Dr. Walter Nunes da Silva Júnior. 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2022 
Ferreira, Evelly Taina Lopes.
 Regime disciplinar diferenciado: análise da nova redação do
art. 52 da lei de execução penal à luz dos tratados
internacionais de direitos humanos / Evelly Taina Lopes
Ferreira. - 2022.
 62f.: il.
 Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Curso de
Direito, Natal, RN, 2022.
 Orientador: Prof. Dr. Walter Nunes da Silva Júnior.
 1. Direito Penal - Monografia. 2. Tratados Internacionais de
Direitos Humanos - Monografia. 3. Pacote anticrime - Monografia.
4. Lei de execução penal - Monografia. 5. Regime disciplinar
diferenciado - Monografia. I. Silva Júnior, Walter Nunes da. II.
Título.
RN/UF/CCSA CDU 341.241
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/440
 
 
 
4 
 
EVELLY TAINÁ LOPES FERREIRA 
 
 
 
Monografia apresentada ao curso de graduação em 
Direito, da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, como requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito, sob a orientação do professor 
Dr. Walter Nunes da Silva Júnior. 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
_____________________________________________________ 
Prof. Dr. Walter Nunes da Silva Júnior 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 
Orientador 
 
_____________________________________________________ 
Prof. Dr. Ricardo Cesar Ferreira Duarte Junior (UFRN) 
1º Avaliador 
 
_____________________________________________________ 
Prof. Me. Wallton Pereira De Souza Paiva (Examinador externo à UFRN) 
2º Avaliador 
 
 
 
 
 
20 de dezembro de 2022 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É hora de recomeçar tudo de novo, sem ilusão e 
sem pressa, mas com a teimosia do inseto que 
busca um caminho no terremoto.” 
 
Carlos Drummond de Andrade 
 
 
 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
À minha mãe, que através de sua força, suporte e amor incondicional me possibilitou 
trilhar meu próprio caminho. Ao meu pai, por não ter medido esforços em me proporcionar um 
ensino de qualidade. Vocês dois, cada um à sua maneira, são os maiores responsáveis por me 
permitir ir longe. 
À minha irmã, Andressa, que enfrentou comigo não só a tarefa de sair de casa para 
estudar, mas todas as dificuldades, tristezas e alegrias que essa experiência nos proporcionou. 
E a minha irmã caçula, Maria, pelas muitas conversas e conselhos regados de muita saudade 
que sempre me deram força quando precisei. Vocês duas são minha maior inspiração. 
À minha família que me acolheu em Natal. Tia e primas, serei sempre grata. 
Aos meus queridos amigos de graduação: Brena, Emilly, Matheus, Milana, Renata, 
Rodrigo e Túlio, partilhar esses anos com vocês tornou mais fácil tantos dias exaustivos e 
difíceis. Serei sempre grata pelos estudos, ajudas, encontros e sorrisos compartilhados. 
Agradeço em especial aos meus amigos Rodrigo e Milana, que dividem comigo 
diariamente, não importa a distância, alegrias, tristezas, desafios e saudades. Sorte grande ter 
encontrado vocês. 
Aos amigos que fiz nos estágios e aos profissionais que contribuíram para meu 
crescimento, meus mais sinceros agradecimentos. 
A todos os professores que colaboraram para minha formação acadêmica na 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em especial, ao professor Dr. Walter Nunes, 
pela gentileza em me orientar nesse trabalho de conclusão, pela disponibilidade, incentivo e por 
ter sido durante a graduação uma fonte de inspiração. Muito obrigada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
RESUMO 
 
O Regime Disciplinar Diferenciado é um instrumento direcionado a presos que serão 
submetidos ao recolhimento celular isolado por certo período, bem como terão restrições de 
visitação, horas de sol e redução de contato com outros custodiados, caso pratiquem certas 
condutas. A Lei nº 13.964, de 2019, promoveu significativas mudanças no referido instituto, 
revelando maior rigidez e suscitando importantes críticas sobre seu recrudescimento. O 
presente estudo, através do método qualitativo e dedutivo e da pesquisa descritiva, parte da 
necessidade de analisar as inovações legislativas frente aos tratados internacionais de direitos 
humanos. Para tanto, examinou-se a origem do regime, buscando compreender as nuances 
controvertidas que acompanham a sua formalização por meio da Lei nº 10.792, de 2003. A 
pesquisa traz ainda a perspectiva internacional sobre o tratamento de presos, à medida que 
delimita a força normativa desses tratados no ordenamento jurídico brasileiro e destaca a 
relevância das Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos – Regras de 
Mandela. Traz também as principais modificações ocorridas no art. 52 da LEP, oriundas do 
Pacote Anticrime, para confrontá-las com os principais regramentos internacionais de direitos 
humanos. Dessa maneira, verificou-se que as alterações legislativas do RDD resultam na 
violação da proibição de aplicação de penas, medidas ou tratamentos cruéis, desumanos ou 
degradantes, bem como revelam verdadeira desarmonia com os direitos assegurados 
internacionalmente, resultando na inadequação do RDD no sistema constitucional de execução 
de pena. 
 
Palavras-chave: Regime Disciplinar Diferenciado. Direitos Humanos Internacionais. Pacote 
Anticrime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
ABSTRACT 
The Differentiated Disciplinary Regime is an instrument aimed at prisoners who will be 
subjected to isolated cell collection for a certain period, as well as having visitation restrictions, 
hours of sunlight and reduced contact with other custodians, if they practice certain behaviors. 
Law nº 13.964, of 2019, promoted significant changes in that institute, revealing greater rigidity 
and raising important criticisms about its resurgence. Thus, the present study, through the 
qualitative and deductive method and descriptive research, starts from the need to analyze 
legislative innovations in the face of international human rights treaties. Therefore, the origin 
of the regime was examined, seeking to understand the controversial nuances that accompany 
its formalization through Law nº 10,792, of 2003. The research also brings the international 
perspective on the treatment of prisoners, as it delimits the force of these treaties in the Brazilian 
legal system and highlights the relevance of the United Nations Minimum Rules for the 
Treatment of Prisoners - Mandela Rules. It also brings the main changes that occurred in art. 
52 of the LEP, arising from the Anti-Crime Package, to confront them with the main 
international human rights regulations. In this way, it was possible to verify that the legislative 
alterations of the RDD result in the violation of the prohibitionof the application of cruel, 
inhuman or degrading punishments, measures or treatments, as well as revealing a true 
disharmony with the internationally assured rights, resulting in the inadequacy of the RDD in 
the system. constitutional sentence execution. 
 
Keywords: Differentiated Disciplinary System. International Human Rights. Anti-Crime Pack. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
ADI - Ação Direta de Inconstitucionalidade 
CF - Constituição Federal 
CNJ - Conselho Nacional de Justiça 
CNPCP - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária 
DUDH - Declaração Universal de Direitos Humanos 
EC - Emenda Constitucional 
LEP - Lei de Execução Penal 
OAB - Ordem dos Advogados do Brasil 
ONU - Organização das Nações Unidas 
PCC- Primeiro Comando da Capital 
PIDCP - Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
RDD - Regime Disciplinar Diferenciado 
REFIM - Regime Fechado com Isolamento e Monitoramento 
SAP/SP - Secretaria de Administração Penitenciária 
STF - Supremo Tribunal Federal 
STJ - Superior Tribunal de Justiça 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 11 
2. O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL .. 15 
2.1 Origem do RDD ....................................................................................................... 15 
2.2 O caráter sancionatório do Regime Disciplinar Diferenciado .................................... 20 
2.3. O Regime Disciplinar Diferenciado e os Regimes de Cumprimento de Pena ............ 24 
3. PERSPECTIVA INTERNACIONAL SOBRE O TRATAMENTO DE PRESOS ...... 27 
3.1 Apontamentos sobre a aplicabilidade dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos 
no Direito Interno ........................................................................................................... 29 
3.2. Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos............................ 37 
4. ALTERAÇÕES DO PACOTE ANTICRIME NO REGIME DISCIPLINAR 
DIFERENCIADO E SUA (IN) COMPATIBILIDADE COM OS TRATADOS 
INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS ........................................................... 42 
4.1 O Pacote Anticrime e a Lei de Execução Penal ......................................................... 42 
4.2 Os reflexos da Lei nº 13.964, de 2019, no Regime Disciplinar Diferenciado ............. 44 
4.3 Da (in) compatibilidade do art. 52 da LEP com os tratados de direitos humanos ....... 52 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 57 
6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa se destina a analisar em qual medida um sistema de isolamento 
celular rigoroso e prolongado, materializado no ordenamento jurídico nacional pelo art. 52 da 
Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984), pode harmonizar com os Tratados 
Internacionais de Direitos Humanos. 
No caso, o Regime Disciplinar Diferenciado – RDD se revela como uma medida 
excepcional em que o preso será mantido isolado dos demais, por longo período de tempo 
somente pela finalidade de sanção (ou “castigo”), aplicando-se ao custodiado que praticar falta 
grave. Dessa forma, conquanto usado como resposta ao mau comportamento dos presos no 
âmbito de cumprimento de pena, o RDD tende a se inclinar para a violação de alguns direitos 
dos indivíduos presos. 
O contexto do surgimento do Regime Disciplinar Diferenciado, enquanto instituto 
jurídico, se dá em 2001, como uma resposta de recrudescimento à Lei de Execução Penal (Lei 
nº 7.210 de 11 de julho de 1984) diante das constantes rebeliões ocorridas no sistema prisional 
do Estado de São Paulo. 
A criação e a estruturação das facções criminosas dentro dos presídios estaduais de 
São Paulo resultaram, em um primeiro momento, na elaboração da Resolução nº 26, de 04 de 
maio de 2001, responsável por instituir o Regime Disciplinar Diferenciado. Tal resolução foi 
editada pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP/SP) e tinha a finalidade precípua 
de promover o isolamento, pelo período de até 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias, do 
custodiado que liderasse ou integrasse as facções criminosas surgentes. 
Essa resolução, tão logo de sua elaboração, promoveu significativa alteração no 
sistema de execução de pena e estimulou constantes debates acerca de sua 
inconstitucionalidade, pois se tratando de falta grave, a matéria seria afeta à lei ordinária. Não 
obstante isso, o Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu pela constitucionalidade da 
resolução, sob o argumento de que os estados possuem competência constitucional para 
legislarem sobre Direito Penitenciário. 
Contudo, a discussão acerca da constitucionalidade do Regime Disciplinar 
Diferenciado não se limitou à competência legislativa. Na realidade, a constitucionalidade do 
RDD ainda é questionada, não raro sendo cerne de estudo e discussão pelos juristas nacionais 
que aguardam a deliberação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da ADI 4162, 
a respeito de trechos da Lei nº 7.210, de 1984 (Lei de Execução Penal - LEP), especialmente 
sobre o RDD. 
 
 
 
12 
 
Volvendo à normatização do Regime Disciplinar Diferenciado, a morte de dois juízes 
de execução penal em março de 2003, nos estados de São Paulo e Espírito Santo, trouxe à tona 
o debate sobre um mecanismo legal de abrangência nacional que censurasse condutas como 
essas com maior rigidez. A partir desse contexto, foi editada a Lei nº 10.792 de 1º de dezembro 
de 2003, que incorporou o RDD no art. 52 da Lei de Execução Penal. 
A essência do Regime Disciplinar Diferenciado, pelo teor do dispositivo legal, é de 
sanção disciplinar aplicada em caso de prática de crime doloso que constitua falta grave e, 
quando este ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas. Direciona-se a presos 
provisórios ou condenados que, como medida repressiva, se submeterão ao recolhimento 
celular isolado por determinado período, bem como terão restrição de visitação, horas de sol e 
redução de contato com outros custodiados. 
Nesses termos, mesmo após quase 20 anos de vigência do Regime Disciplinar 
Diferenciado no sistema de execução penal, a sua a aplicabilidade frequentemente foi 
confrontada pela interpretação constitucional de aplicação de pena, na medida em que o 
isolamento celular rigoroso, tal qual se estipula no art. 52 da Lei nº 7.210, de 1984, pode violar 
a dignidade da pessoa humana e a função ressocializadora da pena. 
É de se imaginar que o isolamento celular rigoroso, nos moldes do RDD, não deve ser 
a regra no ordenamento jurídico, ao contrário, deve ser medida excepcional. A explicação para 
isso é de que a segregação do preso e de restrições extremas com o mundo exterior reflete 
diretamente na ressocialização do custodiado. 
Apesar disso, o instituto em comento passou por significativas alterações advindas 
pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964, de 2019), que, buscando conter os índices de 
criminalidade, provocou uma série de modificações na legislação penal e processual penal, 
revelando o enrijecimento da política punitivista. 
Dessa maneira, as alterações no Regime Disciplinar Diferenciado decorrentes da Lei 
nº 13.964, de 2019, reacenderam a discussão sobre a constitucionalidade, a função socializadora 
e a compatibilidade de tal instituto com os Tratados Internacionais de Direitos Humanos, sendo 
este o enfoque do presente trabalho. 
Nesse contexto, indaga-se se as alterações no Regime Disciplinar Diferenciado 
decorrentes do Pacote Anticrime são compatíveis com os parâmetros de constitucionalidade, afunção socializadora da pena e os Tratados Internacionais de Direitos Humanos. 
Assim, a presente pesquisa visa analisar as alterações legislativas trazidas pelo Pacote 
Anticrime (Lei nº 13.964, 24 de dezembro de 2019) no instituto jurídico do Regime Disciplinar 
 
 
 
13 
 
Diferenciado, sob a ótica dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos, incorporados ao 
direito pátrio. 
O objetivo basilar da pesquisa é buscar identificar se o novo diploma legal, 
materializado pelo art. 52 da Lei nº 7.210, de 1984, apresenta conformidade com os respectivos 
tratados internacionais, dos quais se destacam as Regras Mínimas para Tratamento dos Presos 
- Regras de Mandela. 
Nesse sentido, para a verificação de tal compatibilidade, necessário será fazer uma 
análise do contexto de criação do Regime Disciplinar Diferenciado, perpassando pela relação 
do referido instituto com os tratados internacionais pertinentes ao assunto, albergados pela 
Constituição da República de 1988, para, ao final, compreender se as mudanças trazidas pela 
Lei nº 13.964, de 2019 (Pacote Anticrime) no art. 52 da LEP são compatíveis com as diretrizes 
internacionais de Direitos Humanos. 
Desse modo, o estudo terá como base metodológica o método qualitativo e a pesquisa 
descritiva, no qual, a partir do método dedutivo, buscar-se-á examinar a mudança trazida pela 
Lei nº 13.964, de 2019 (Pacote Anticrime) no art. 52 da Lei nº 7.210, de 1984, a fim de verificar 
se tais alterações coadunam com o entendimento do Direito Internacional sobre o tema, bem 
como as diretrizes dos Direitos Humanos sob uma perspectiva constitucional. Para tanto, 
utilizar-se-á, a revisão bibliográfica e a pesquisa legislativa pertinente à temática em análise. 
O primeiro capítulo abordará a criação do Regime Disciplinar Diferenciado, 
descrevendo o contexto de megarrebeliões ocorridas nos anos 2000 e a influência destes 
acontecimentos na criação do instituto, em 2003. No mesmo capítulo, buscar-se-á delimitar os 
marcos legislativos referentes ao RDD e, ainda, descrever sua natureza jurídica, cuidando em 
distingui-la dos regimes de cumprimento de pena. 
O capítulo seguinte trará a perspectiva internacional sobre o tratamento dos presos. 
Em um primeiro momento, se discorre sobre o impacto dos Tratados Internacionais de Direitos 
Humanos no ordenamento jurídico brasileiro, verificando de que maneira o direito interno se 
adéqua aos tratados internacionais a que se submete, avaliando, concomitantemente, a força 
normativa dessas normas no contexto jurídico pátrio. 
Em outro ponto, o mesmo capítulo cuidará de examinar as Regras Mínimas das Nações 
Unidas sobre o Tratamento de Presos, conceituando-as e delimitando seu alcance normativo 
consoante se descreveu na primeira parte do capítulo, para, finalmente, traçar um comparativo 
entre as Regras Mínimas e o Regime Disciplinar Diferenciado. 
 
 
 
14 
 
Por fim, o último capítulo dissertará sobre as significativas alterações no RDD, 
ocasionadas pela Lei nº 13.964, de 2019. De início, se apresentará brevemente o contexto das 
alterações do Pacote Anticrime, notadamente no âmbito da execução da pena, para revelar o 
maior rigor punitivista da inovação legislativa. 
Ainda no mesmo capítulo, será explanado as principais mudanças ocorridas no âmbito 
do Regime Disciplinar Diferenciado. Em tal tópico, explicar-se-á de maneira pormenorizada os 
novos requisitos dispostos no art. 52 da Lei nº 7.210, de 1984 e o procedimento de inclusão dos 
presos. 
Finalmente, o estudo se encaminha para a análise da (in) compatibilidade da nova 
redação do art. 52 da Lei nº 7.210, de 1984 com os Tratados Internacionais de Direitos 
Humanos, dos quais se destacam as Regras Mínimas para Tratamento dos Presos - Regras de 
Mandela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
2. O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL 
 
O Regime Disciplinar Diferenciado encontra-se disciplinado no art. 52 da Lei nº 7.210, 
de 1984 e os termos de aplicação do instituto está descrito no caput do referido artigo, que 
prevê: 
 
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando 
ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou 
condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime 
disciplinar diferenciado, com as seguintes características: (Redação dada pela Lei nº 
13.964, de 2019) [...] 
 
O mesmo artigo, alterado pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964, de 2019), cuida ainda 
das características e peculiaridades dessa sanção disciplinar, delimitando o período, modo e 
condições de aplicação do instituto. 
Contudo, o surgimento do Regime Disciplinar Diferenciado no sistema jurídico 
brasileiro é datado de 2001 e desponta como uma resposta punitiva criada pelo Estado para 
inibir as constantes rebeliões ocorridas no sistema prisional do Estado de São Paulo. No entanto, 
sua positivação se deu em 2003, com a edição da Lei nº 10.792, de 2003, mediante a vital 
necessidade de um diploma legal que garantisse a aplicabilidade no âmbito nacional do regime 
celular rigoroso e individual através da incorporação do RDD ao art. 52 da Lei de Execução 
Penal. 
Desse modo, busca-se com o presente capítulo apresentar a origem histórica do Regime 
Disciplinar, delimitando os marcos temporais e legislativos que moldaram o referido instituto, 
destacando os pontos controversos do surgimento do RDD no sistema jurídico brasileiro. 
No mesmo passo, será apresentado a natureza jurídica de tal instituto, qual seja, seu 
caráter sancionatório, ressalvando sua diferença em relação aos regimes de cumprimento de 
pena. Ressalta-se que este capítulo preambular será construído de modo expositivo, com base 
na revisão bibliográfica relacionada ao tema, doutrina, artigos e legislação pertinente. 
2.1 Origem do RDD 
 
Em 2003, o Regime Disciplinar Diferenciado foi incorporado à Lei de Execução Penal, 
através da Lei nº 10.792, de 2003. Contudo, sua origem no ordenamento jurídico é anterior à 
sua positivação nacional, eis que em 2001, a Secretaria de Administração Penitenciária do 
 
 
 
16 
 
estado de São Paulo editou a Resolução nº 261 que buscava reduzir ou inibir os constantes 
conflitos e rebeliões promovidos pelas facções criminosas. 
O Regime Disciplinar Diferenciado emerge, portanto, como uma “promessa de ser 
grande instrumento de enfrentamento da criminalidade organizada” (ROIG, 2021, p. 240). No 
entanto, desde sua concepção, mesmo enquanto resolução estadual, o RDD reflete um cenário 
de escolha legislativa impositiva e punitivista. 
A origem do Regime Disciplinar Diferenciado ocorreu nas penitenciárias estaduais do 
estado de São Paulo, a partir de um cenário de megarrebeliões. Sobre o assunto, Salo de 
Carvalho e Cristiane Russomano Freire (2005, p.7) explicam que o estopim “envolveu 25 (vinte 
e cinco) unidades prisionais da Secretaria da Administração Penitenciária e 04 (quatro) cadeias 
sob a responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública do Estado”. 
A rebelião que culminou com o surgimento da nova modalidade de sanção disciplinar 
apresentou uma peculiaridade em relação aos conflitos ocorridos no interior das penitenciárias. 
Nesse contexto, Carvalho e Freire (2005) ponderam que a motivação dos presos em provocar 
essa megarrebelião, para além de reivindicar melhores condições carcerárias, foi responder 
diretamente às tentativas governamentais de enfraquecer o Primeiro Comando da Capital 
(PCC2), mediante o afastamento dos líderes para unidades prisionais distantes da capital. 
Para conter as rebeliões nos presídios paulistas, Camila Caldeira Nunes Dias (2013, p. 
383) ressalta que o poder público precisou de “uma medida de impacto imediato”, uma vez que 
a megarrebelião de 2001 revelou a incapacidade do poder público administrar seu sistema 
prisional. Dessa maneira, Dias (2013)demonstra que ao idealizar um meio repressivo rigoroso 
nos moldes do RDD, o qual contou à época com forte apoio popular e político, priorizou-se 
uma solução imediatista e de resultados instantâneos sem, contudo, qualquer preocupação com 
os efeitos de médio e longo prazo. 
Nesse quadro, a resposta apresentada para conter a rebelião foi elaborada pela 
Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, através da Resolução nº 26, 
dando início à aplicabilidade do Regime Disciplinar Diferenciado no sistema prisional. 
Conforme relembra Carvalho e Freire (2005), o Regime foi inicialmente limitado a cinco 
 
1 São Paulo, Administração Penitenciária. Resolução SAP - 026 de 4 de maio de 2021. Regulamenta a inclusão, 
permanência e exclusão dos presos no Regime Disciplinar Diferenciado. 
2 Camila Caldeira Dias (2013) explica que o PCC, organização autonomeada Primeiro Comando da Capital nasce 
no interior do sistema carcerário e estendeu sua influência para além dele, abrangendo espaços localizados nos 
mais diversos pontos do estado de São Paulo, se ramificando, mais tarde, para presídios localizados em todo o 
país. 
 
 
 
17 
 
unidades prisionais paulistas, sendo elas: Casa de Custódia de Taubaté, Penitenciárias I e II de 
Presidente Venceslau, Penitenciária de Iaras e Penitenciária I de Avaré3. 
Renato Marcão (2019) esclarece que, já no seu surgimento, a Resolução nº 26 suscitou 
reiterados debates acerca de sua inconstitucionalidade, porquanto, se tratando de falta grave, a 
matéria seria afeta à lei ordinária. O autor relembra que a definição sobre a constitucionalidade 
formal recaiu ao Tribunal de Justiça de São Paulo, o qual entendeu pela constitucionalidade da 
resolução sob o argumento de que os estados possuem competência constitucional para 
legislarem sobre Direito Penitenciário. 
Enfrentada a questão inicial sobre a constitucionalidade da resolução, o art. 1º da 
Resolução nº 26 da Secretaria da Administração Penitenciária estabelecia que o RDD seria 
aplicado aos presos com posição de liderança ou integrantes das facções criminosas. O período 
máximo de permanência, de acordo com Carvalho e Freire (2005), era de 180 (cento e oitenta) 
dias, podendo ser estendido para 360 (trezentos e sessenta) dias, conforme dispunha o art. 4º da 
referida resolução. 
Sobre o procedimento de inclusão, os mencionados autores explicam que competia ao 
Diretor Técnico das Unidades, por meio de requerimento fundamentado direcionado ao 
Coordenador Regional das Unidades Prisionais, solicitar a transferência do preso ao RDD. Daí 
se verifica que os trâmites de inclusão de um preso no RDD eram exclusivamente 
administrativos. 
Na tentativa de complementar a normatização relativa ao novo instituto, nos anos 
seguintes, a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo editou novas resoluções, 
que, em certos aspectos, limitavam as prerrogativas dos indivíduos presos. Em 2002, foi 
elaborada a segunda resolução pertinente ao tema, qual seja a Resolução nº 494, cujo objetivo 
era controlar o direito de visita e as entrevistas dos presos incluídos no RDD com seus 
advogados. 
O art. 2º5 desta resolução restringia o número de visitantes e o tempo de duração de 
cada visita. O art. 5º6, por sua vez, trazia uma grave restrição aos direitos dos presos ao dispor 
 
3 Conforme explica Carvalho e Freire (2005) a exclusividade de aplicação do regime diferenciado encontrava-se 
disciplinada no art. 2º da própria Resolução nº 26 SAP/SP. 
4 São Paulo, Administração Penitenciária, Resolução SAP - 49 de 17 de julho de 2022. Disciplina o direito de 
visita e as entrevistas com advogados no Regime Disciplinar Diferenciado. 
5 Artigo 2º - As visitas serão de, no máximo, duas pessoas por dia de visita, sem contar as crianças e terão duração 
máxima de duas horas 
6 Artigo 5º - As entrevistas com advogado deverão ser previamente agendadas, mediante requerimento, escrito ou 
oral, à Direção do estabelecimento, que designará imediatamente data e horário para o atendimento reservado, 
dentro dos 10 dias subsequentes. 
 
 
 
18 
 
que as entrevistas com advogado deveriam ser previamente agendadas, por requerimento 
(escrito ou oral) formulado perante a Direção do estabelecimento prisional, para que esta, no 
prazo de 10 dias, designasse data e horário para o atendimento reservado. 
Todavia, o conteúdo dessa resolução foi objeto de mandado de segurança, impetrado 
pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), através da seccional paulista, sob a justificativa 
que tal ato propiciava uma forma de incomunicabilidade absoluta do preso. Nesse sentido, a 
incumbência de decidir sobre o tema recaiu sobre o Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, pela 
relatoria do Ministro Herman Benjamin, assentou o entendimento de que a Resolução nº 49 
SAP-SP contrariava frontalmente o direito líquido e certo dos advogados e de seus clientes7. 
Em agosto do mesmo ano, foi editada a Resolução nº 598, responsável por instituir o 
Regime Disciplinar Diferenciado no Centro de Detenção de Hortolândia (São Paulo). Carvalho 
e Freire (2005) apontam que essa resolução trouxe como diferencial a aplicação do RDD aos 
presos provisórios e não somente aos presos condenados, como era o caso das resoluções até 
então vigentes. 
Além disso, os mencionados autores destacam que a Resolução nº 59 ampliou o rol de 
condutas que resultariam na inclusão do preso no RDD, sendo elas: subversão da ordem ou da 
disciplina; tentativa de fuga; participação em facções; prática de fato prevista como crime 
doloso que perturbe a ordem do estabelecimento e posse de instrumento capaz de atingir a 
integridade de outro apenado ou manter comunicação com organização criminosa9. 
No ano de 2003, a Secretaria da Administração Penitenciária publicou a Resolução nº 
9110, instituindo dessa maneira o Regime Disciplinar Especial para mulheres presas. Os 
comportamentos puníveis com o RDD eram os mesmos supramencionados e se destinavam às 
presas provisórias ou condenadas. 
Paralelo a isso, ainda no ano de 2002, o estado do Rio de Janeiro, influenciado por 
uma rebelião no presídio de Bangu I, liderada por Fernandinho Beira Mar, importou o Regime 
Disciplinar Especial em moldes similares ao que vinha sendo aplicado nos estabelecimentos 
 
Parágrafo primeiro - Para a designação da data, a Direção observará a fundamentação do pedido, a conveniência 
do estabelecimento, especialmente a segurança da unidade, do advogado, dos funcionários e dos presos. 
Parágrafo segundo - Comprovada documentalmente a urgência, a Direção deverá, de imediato, autorizar a 
entrevista. 
7 MIGALHAS. O STJ garante visita de advogados a presos submetidos ao regime disciplinar diferenciado. 2009. 
Disponível em <www.migalhas.com.br/quentes/84723/stj-garante-visita-deadvogados-a-presos-submetidios-ao-
regime-disciplinar-diferenciado>. Acesso em 06 de novembro de 2022. 
8 São Paulo, Administração Penitenciária, Resolução SAP - 059 de 19 de agosto de 2002. Institui o Regime 
Disciplinar Especial no Complexo Penitenciário de Campinas (Hortolândia). 
9 Consoante Carvalho e Freire (2005) as novas condutas foram disciplinadas no art. 2º da Resolução. 
10 São Paulo, Administração Penitenciária, Resolução SAP - 091 de 30 de setembro de 2003. Institui o Regime 
Disciplinar Especial para mulheres e dá outras providências. 
http://www.migalhas.com.br/quentes/84723/stj-garante-visita-deadvogados-a-presos-submetidios-ao-regime-disciplinar-diferenciado
http://www.migalhas.com.br/quentes/84723/stj-garante-visita-deadvogados-a-presos-submetidios-ao-regime-disciplinar-diferenciado
 
 
 
19 
 
prisionais paulistas. Segundo destacam os autores Carvalho e Freire (2005), após o término da 
rebelião, cuidou-se em separar os mentores do movimento e o restante dos envolvidosforam 
colocados em Regime Disciplinar Especial de Segurança (RDES). 
Nesse passo, de acordo com os autores, um ano após a introdução do regime 
diferenciado, a Secretaria da Administração Penitenciária do Rio de Janeiro reeditou o RDES, 
espraiando a medida disciplinar para outras unidades penitenciárias. 
Nota-se, a partir do quadro fático exposto, que o Regime Disciplinar Diferenciado foi 
se estabelecendo no ordenamento jurídico à medida que a demanda ia se revelando necessária 
dentro dos presídios, ou seja, o surgimento era ocasional. Nesse viés, não é surpresa que tenha 
despontado os debates sobre segurança jurídica e uniformização de um instituto que 
desencadeou significativa alteração no sistema de execução de pena. 
As “respostas” às rebeliões nos presídios de São Paulo e do Rio de Janeiro, 
materializada pela criação do RDD, e a forte pressão midiática ensejaram a atuação do 
Congresso Nacional, que se viu compelido a universalizar o regime diferenciado através de 
legislação penal. 
Além do contexto de rebeliões envolvendo organizações criminosas no interior dos 
presídios, outro aspecto crucial para o aceleramento da elaboração de uma lei que albergasse o 
RDD foi as mortes de dois juízes de execução penal. Luiz Flávio Gomes, Rogério Sanches 
Cunha e Thales Cerqueira11 relembram que, após o assassinato dos juízes de execução penal 
Antônio José Machado Dias e Alexandre Martins de Castro Filho, ocorridos em 2003 nos 
estados de São Paulo e no Espírito Santo, respectivamente, ficou evidente que a situação 
reclamava urgência. 
Sobre a normatização do RDD, Dias (2013) ressalta fator relevante para a elaboração 
de um diploma legal de abrangência nacional: “trata-se da necessidade de autorização do poder 
judiciário para as transferências para o RDD” (2013, p. 389). Tal necessidade se justifica uma 
vez que as resoluções editadas pelas Secretarias Penitenciárias estaduais eram silentes a esse 
respeito. 
Dessa forma, no entendimento da referida autora, assegurar a análise judicial sobre a 
inserção de presos no regime diferenciado trouxe a garantia mínima de controle sobre este 
instituto e, ao mesmo tempo, reduziu a discricionariedade dos diretores e funcionários da prisão. 
 
11 GOMES, Luiz Flávio, CUNHA, Rogério Sanches, CERQUEIRA. O Regime disciplinar diferenciado é 
constitucional? O legislador, o judiciário e a caixa de pandora. Disponível em: 
https://bu.ufsc.br/ConstitRegimeDisciplinarDifer.pdf. Acesso em 31 de outubro de 2022. 
https://bu.ufsc.br/ConstitRegimeDisciplinarDifer.pdf
 
 
 
20 
 
Por outro lado, sob uma análise crítica, pode-se dizer que o contexto de positivação do 
Regime Disciplinar é o da “cultura de emergência fundada no aumento da violência e a 
vinculação da impunidade ao “excesso de direitos e garantias” dos presos (provisórios e 
condenados) ” (CARVALHO; FREIRE, 2005, p. 18). 
Assim, em 1º de dezembro de 2003, foi sancionada a Lei nº 10.79212 que alterou 
significativamente a Lei de Execução Penal e o Código de Processo Penal, trazendo, dentre 
outras alterações, a inclusão do RDD no cenário jurídico nacional. 
Sobre a constitucionalidade da aludida lei, Gomes, Cunha e Cerqueira13 discorrem que 
somente era possível estabelecer o RDD via lei ordinária federal, sendo este o meio jurídico 
mais adequado para a sua inserção no ordenamento jurídico. 
Cabe mencionar que a introdução do Regime Disciplinar Diferenciado no sistema de 
execução penal no Brasil não foi isenta de críticas. A inconstitucionalidade do regime 
diferenciado é defendida pela OAB, que busca através da Ação Direta de Inconstitucionalidade 
(ADI) 416214 a nulidade dos artigos da LEP que se referem ao Regime Disciplinar 
Diferenciado. Defende a entidade, em síntese, que o regime diferenciado promove o tratamento 
desumano e degradante dos presos, eis que propicia o isolamento, a suspensão e a restrição de 
direitos por tempo prolongado. 
Nesse cenário, se verifica o caráter controvertido do Regime Disciplinar Diferenciado, 
desde a sua concepção, enquanto resolução, até a sua inclusão no sistema normativo federal por 
meio da Lei. 10.792, de 2003, seja pela definição da sua constitucionalidade, seja pela 
compatibilidade do regime com os princípios constitucionais e a finalidade da pena. 
2.2 O caráter sancionatório do Regime Disciplinar Diferenciado 
O histórico de origem do Regime Disciplinar Diferenciado, exposto no tópico anterior, 
consegue revelar o caráter sancionatório que esse instituto apresenta desde sua criação no 
ordenamento jurídico. Nesse cenário, é importante delimitar a natureza jurídica desse instituto 
para que se possa distingui-lo dos cumprimentos de pena existentes no sistema de execução de 
pena. 
 
12 BRASIL. Lei nº 10.792 de 1º de dezembro de 2003. Altera a Lei no 7.210, de 11 de junho de 1984 - Lei de 
Execução Penal e o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal e dá outras 
providências 
13 GOMES, Luiz Flávio, CUNHA, Rogério Sanches, CERQUEIRA, Thales. op. cit. p. 10. 
14 Em consulta ao portal eletrônico do Supremo Tribunal Federal, verifica-se que a ADI se encontra conclusa ao 
Relator desde 14 de setembro de 2022. 
 
 
 
21 
 
A compreensão da natureza jurídica do RDD perpassa, antes, pelo entendimento de 
disciplina e sanção presente no sistema de execução de pena. Nesse viés, Marcão (2019) ensina 
que a execução penal prevê um conjunto de direitos e deveres abrangendo o Estado e os 
apenados, estando estes últimos submetidos, além das obrigações legais, a inúmeras normas de 
execução da pena. O autor aponta que tais normas revelam um verdadeiro “código de postura 
do condenado perante a Administração e o Estado” (MARCÃO, 2019, p. 78). 
Assim, ao ser submetido à prisão, o custodiado deve ser informado15 das normas 
disciplinares do estabelecimento prisional a que foi inserido, compreendendo, ao mesmo tempo, 
que uma conduta contrária às normas disciplinares enseja sanção disciplinar. 
Por essa razão, Marcão (2019) ressalta que agir com disciplina é comportar-se de 
acordo com as normas, ao passo que, distanciando delas, o executado estará a cometer falta 
disciplinar. Nesses casos, portanto, recairá sobre o preso a aplicação de sanção disciplinar. 
No sistema executivo de pena, o autor expõe que a legislação cuidou em classificar as 
faltas disciplinares em leves, médias e graves, observando uma ordem de valoração, conforme 
a gravidade da conduta. Além disso, Marcão (2019) informa que a especificação das faltas leves 
e médias, bem como as respectivas sanções, foi conferida à discricionariedade do legislador 
local (estadual). 
Por outro lado, no tocante às faltas graves, a Lei de Execução Penal adotou solução 
diversa, isto é, o art. 5016 da Lei nº 7.210, de 1984, foi o responsável por apresentar o rol taxativo 
das condutas que resultam em faltas graves. Nos apontamentos de Marcão (2019), a ampliação 
desse rol encontra óbice nos princípios da reserva legal e da anterioridade. 
O autor ainda dispõe que as faltas graves repercutem diretamente na rotina do 
estabelecimento prisional, no quadro da execução, além de justificarem a regressão do regime 
 
15 Art. 46. O condenado ou denunciado, no início da execução da pena ou da prisão, será cientificado das normas 
disciplinares. (Lei nº 7.210, de 1984). 
16 Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: 
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; 
II - fugir; 
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física de outrem; 
IV - provocar acidente de trabalho; 
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas; 
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. 
VII – tiver em sua posse, utilizarou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação 
com outros presos ou com o ambiente externo. (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007) 
VIII - recusar submeter-se ao procedimento de identificação do perfil genético. (Incluído pela Lei nº 13.964, 
de 2019) 
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso provisório. 
 
 
 
 
22 
 
para tipo mais rigoroso. A partir desse cenário, já se observa a adoção de uma política repressiva 
mais austera quando se trata da prática de faltas graves. 
Nessa conjuntura, o Regime Disciplinar Diferenciado se sobressai como uma punição 
diante da prática de determinada falta grave. A Lei nº 10.792, de 2003 ao alterar o art. 52 da 
Lei de Execução Penal previu, dentre outras coisas, que o cometimento de fato tipificado como 
crime doloso “constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina 
interna, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime 
disciplinar diferenciado”. 
No mesmo passo, leciona Eneida Taquary (2010) que a referida lei alterou o art. 53 
para inserir o Regime Disciplinar Diferenciado ao rol de sanções administrativas. Em resumo, 
a autora arremata que o RDD se caracteriza como uma sanção de caráter administrativo, 
destinada a presos em regime fechado, cumprindo pena de reclusão, que tenham 
comportamento considerado perigoso, promovam a indisciplina no interior do presídio e 
contribuam para rebeliões ou ordenem a prática de outros crimes graves. 
Nesse ponto, a autora supracitada se mostra temerária com a definição de “criminoso 
perigoso” que se extrai da lei, porquanto tal conceito está atrelado ao conceito abstrato de 
personalidade, tornando a personalidade do agente fator determinante para aferir sua 
periculosidade. Assim, para Taquary (2010), nos termos da Lei n° 10.792, de 2003, condenado 
perigoso será aquele que além de praticar crimes graves, exerce posição de liderança nos 
presídios “para captar outros para concorrer no crime de forma a criar uma associação para fins 
ilícitos e provoque motins ou resistências aos comandos legítimos de autoridades constituídas” 
(TAQUARY, p. 60, 2010). 
Corroborando esse entendimento, para Carvalho e Freire (2005), as alterações 
legislativas realizadas no âmbito da execução da pena esboçam a redefinição de disciplina, uma 
vez que se passou a permitir a aplicação do regime diferenciado a determinados presos, não 
apenas pela prática de falta grave, mas também pelo conceito abstrato e aleatório de sua conduta 
pessoal no cárcere ou fora dele. 
Nesse viés, se percebe que o regime diferenciado é um instrumento sancionatório, 
destinado ao máximo controle da população carcerária, sobretudo dos presos considerados 
perigosos ou com perfil de liderança. 
Frente a este cenário, Walter Nunes da Silva Júnior (2020) aponta que o RDD se 
perfectibiliza como a sanção disciplinar mais grave prevista no ordenamento jurídico brasileiro 
e por esse motivo recebe especial atenção quanto ao seu procedimento. O autor explica que 
 
 
 
23 
 
para as demais espécies de sanções disciplinares, o procedimento adotado para apuração e 
aplicação da punição se dá por meio do Procedimento Administrativo Disciplinar, cabendo a 
decisão ao diretor do estabelecimento prisional. Por sua vez, o regime diferenciado possui rito 
próprio, disciplinado no art. 54, caput e §§ 1º e 2º da Lei de Execução Penal17. 
Silva Júnior (2020) esclarece que a aplicação do RDD se trata, na realidade, de um 
incidente à execução, o qual, a despeito de haver uma fase administrativa, deve tramitar 
judicialmente. No RDD, conforme aponta o autor, a participação da autoridade administrativa 
se dá como requerimento, já que cabe ao diretor do presídio solicitar ao juiz que se decida sobre 
a inserção do executado no Regime. 
Com tais apontamentos feitos, cumpre esclarecer que o Regime Disciplinar revela seu 
caráter sancionatório ainda mais rigoroso quando aplicado no âmbito do sistema de execução 
de pena em presídios federais. 
Nesse sentir, Roig (2021) assinala que além das características apresentadas no art. 52 
da LEP, o cumprimento do regime diferenciado em estabelecimento federal possui 
especificidades18 inerentes do Decreto nº de 6.049, de fevereiro de 2007 – Regulamento 
Penitenciário Federal. 
O art. 58 do citado Decreto estipula que o RDD, em presídio federal, observará o uso 
de algemas nas movimentações internas e externas, dispensadas apenas nas áreas de visita, 
banho de sol, atendimento assistencial e, quando houver, nas áreas de trabalho e estudo; e 
sujeitará o preso aos procedimentos de revista pessoal, de sua cela e seus pertences, sempre que 
for necessária sua movimentação interna e externa, sem prejuízo das inspeções periódicas. 
Observa Silva Júnior (2020) que a inclusão em RDD é judicial e está regulamentada 
pela Lei de Execução Penal, de sorte que coube ao Decreto nº 6.049, de 2007, apenas reiterar a 
obediência às disposições legais. Na mesma toada, assevera o autor que, para incluir o preso 
em RDD, o diretor do presídio deve juntar o termo de declarações do preso e a defesa técnica, 
se possível. Ainda, destaca que tal determinação legal contida no art. 5519 é de vital importância, 
pois garante que o juiz terá elementos de materialidade e autoria. 
Sobre o RDD aplicado no âmbito dos presídios federais, Silva Júnior (2020) esclarece 
que não subsiste qualquer dúvida sobre a distinção entre cumprimento de pena em presídio 
 
17 O autor acrescenta, além dos artigos citados, a aplicação subsidiária do art. 194 e seguintes da LEP. 
18 Nesse ponto, Silva Júnior (2020) esclarece que não há regras específicas para o RDD em presídio federal. Nesses 
casos, quando o preso está submetido ao regime diferenciado em presídios federais, aplicam-se as especificações 
da LEP. 
19 Art. 55. O diretor do estabelecimento penal federal, na solicitação de inclusão de preso no regime disciplinar 
diferenciado, instruirá o expediente com o termo de declarações da pessoa visada e de sua defesa técnica, se 
possível. (Decreto nº 6.049, de 2007). 
 
 
 
24 
 
federal e o regime diferenciado. Isso porque, o preso recolhido em estabelecimento prisional 
federal pode ser incluído em RDD como sanção disciplinar, desde que cometa falta grave nos 
termos do art. 52 da LEP. 
Por derradeiro, ainda dentro das especificidades do regime diferenciado, salienta-se 
nos ensinamentos de Roig (2021) que o Regime Disciplinar Diferenciado apresenta duas 
modalidades, a saber: punitivo e cautelar. Por se tratar de medida sancionatória, se aplica ao 
RDD punitivo todas as características apresentadas até o momento. 
Por sua vez, ensina Roig (2021) que o RDD cautelar é compreendido como a 
modalidade aplicável aos presos que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do 
estabelecimento penal ou da sociedade, ou àqueles sobre os quais recaiam fundadas suspeitas 
de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organização criminosa, associação 
criminosa ou milícia privada, independentemente da prática de falta grave. 
No que concerne às características do RDD cautelar, Roig (2021) elucida que tal 
modalidade está submetida ao poder especial de cautela do órgão judicial, além de dispensar a 
prévia manifestação do Ministério Público e da defesa, justificada pela urgência e perigo. 
Nas contribuições de Silva Júnior (2020), a depender da gravidade da falta disciplinar 
praticada pelo preso, o isolamento preventivo no RDD ganha respaldo na manutenção da 
disciplina, contudo não se apresenta como primordial para a apuração dos fatos. 
2.3. O Regime Disciplinar Diferenciado e os Regimes de Cumprimento de Pena 
 
 Um dos aspectos mais controversos do Regime Disciplinar Diferenciado está 
relacionado com a possibilidade de considerar o referido instituto como uma dasespécies de 
regime de cumprimento de pena. A questão não é meramente pragmática, sobretudo pelas 
mudanças trazidas pela Lei nº 13.964, de 2019, que promoveu alterações substanciais na 
aplicação do RDD e estreitou, ainda mais, a diferença entre o regime disciplinar e as demais 
formas de cumprimento. 
Dessa forma, nada obstante o caráter sancionatório do Regime Disciplinar 
Diferenciado, parece haver certa imprecisão quanto à natureza jurídica do instituto, sobretudo 
diante da tentativa de compará-lo com os regimes de cumprimento de pena. Nesse sentido, para 
Carvalho e Freire (2005), o RDD configura um modelo alternativo de cumprimento de pena 
que enfatiza a inabilitação e a exclusão dos executados. 
Na mesma toada, Luís Carlos Valois (2020), numa análise notadamente crítica sobre 
o instituto, defende que o Regime Diferenciado é uma forma de cumprimento de pena privativa 
 
 
 
25 
 
de liberdade que retrocedeu o sistema de execução de pena, pois se assemelha ao sistema 
prisional pensilvânico do século XIX. 
No entanto, partilhando de um posicionamento diverso, Taquary (2010) assevera que 
os regimes de cumprimento de pena estão disciplinados no Código Penal Brasileiro e são eles: 
regime aberto, semiaberto, fechado (conforme o art. 33 do Código Penal)20, não havendo 
previsão para o regime disciplinar diferenciado. Dessa forma, a autora dispõe que não se pode 
entender o Regime Disciplinar como uma espécie de regime, eis que a estrutura do tipo penal 
resulta do princípio da reserva legal e por esse motivo retira imediatamente o seu caráter de 
regime prisional. 
Por outro lado, Dias (2009) descreve o RDD como sendo um instrumento utilizado 
pelo Estado para impor um regime de cumprimento de pena de reclusão muito mais austero que 
os demais apresentados na legislação penal. 
No mesmo passo, Silva Júnior (2020) expõe que o RDD, além de se caracterizar como 
sanção disciplinar, implica na alteração, ainda que momentânea, do regime de cumprimento da 
pena ou prisão para o regime mais rigoroso previsto no sistema de execução penal, já que o 
preso pode cumprir o restante da pena em RDD. Por essa razão, nos apontamentos do autor, 
tratando-se de uma sanção rigorosa não seria concebível que a autoridade administrativa 
aplicasse o RDD sem a apreciação do Judiciário. Ademais, aponta o autor que a competência 
do magistrado, nos casos de aplicação de RDD, não se limita a homologar a sanção disciplinar, 
já que lhe cabe decidir sobre o mérito da questão. 
Quando se trata do RDD aplicado no âmbito dos presídios federais, a distinção entre 
o referido instituto e as noções de regimes de cumprimento de pena se encurtam. Sob o assunto, 
Silva Júnior (2020) esclarece que o regime fechado cumprido no Sistema Penitenciário Federal, 
embora seja mais rigoroso do que o fechado previsto para as penitenciárias estaduais, é menos 
rígido do que o RDD. 
Nesse ponto, há de ser salientado, com esteio no que leciona Silva Júnior (2020), que 
apesar de guardarem similaridades, o Regime Disciplinar Diferenciado não pode ser 
confundido com o modelo próprio de cumprimento de pena nos presídios federais, que é o 
Regime Fechado com Isolamento e Monitoramento (REFIM). Segundo explica o autor, o 
 
20 Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em 
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 
7.209, de 11.7.1984) 
§ 1º - Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; 
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; 
c) regime aberto à execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art33
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art33
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art33
 
 
 
26 
 
REFIM possui características próprias já que é regulamentado pelo art. 3º, § 1º21 e incisos, da 
Lei nº 11.671, de 2008 (também alterado pelo Pacote Anticrime). 
Conforme salienta o referido autor, por disposição legal, o Regime Fechado com 
Isolamento somente recai para presos recolhidos à penitenciária federal, em que a justificativa 
de inclusão tenha sido a necessidade de atendimento ao interesse da segurança pública. Todavia, 
das lições de Silva Júnior (2020) infere-se que, a despeito da Lei nº 13.964, de 2019 ter 
estreitado as diferenças entre os regimes, as regras aplicadas ao preso em RDD são mais rígidas, 
fato que revela seu caráter austero dentro do sistema de execução de pena. 
Por fim, com amparo nas lições de Roig (2021) é preciso diferenciar o regime 
disciplinar diferenciado da transferência de presos para estabelecimentos penais federais de 
segurança máxima. Dessa forma, a Lei de Execução Penal regula que o RDD será 
obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal apenas na hipótese do art. 52, 
§ 3º, ao passo que, as demais hipóteses de RDD podem ser cumpridas em presídio estadual ou 
federal, a depender do caso e de sua gravidade. 
Frente a esse cenário, ainda que não esteja determinado expressamente na legislação 
penal, o regime disciplinar diferenciado, nos moldes apresentados pela atual redação, se 
assemelha a um tipo de regime de cumprimento de pena, em que o custodiado pode cumprir 
toda o restante da pena em isolamento celular, caso haja cometimento de nova falta grave. Nesse 
sentido, fica claro, com amparo nas lições de Carvalho e Freire (2005), que a criação do RDD 
permitiu a institucionalização de modelos atípicos de cumprimento de pena. 
 
 
 
 
21 Art. 3º Serão incluídos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima aqueles para quem a medida 
se justifique no interesse da segurança pública ou do próprio preso, condenado ou provisório. 
§ 1º A inclusão em estabelecimento penal federal de segurança máxima, no atendimento do interesse da segurança 
pública, será em regime fechado de segurança máxima, com as seguintes características: 
I - recolhimento em cela individual; 
II - visita do cônjuge, do companheiro, de parentes e de amigos somente em dias determinados, por meio virtual 
ou no parlatório, com o máximo de 2 (duas) pessoas por vez, além de eventuais crianças, separados por vidro e 
comunicação por meio de interfone, com filmagem e gravações; 
III - banho de sol de até 2 (duas) horas diárias; e 
IV - monitoramento de todos os meios de comunicação, inclusive de correspondência escrita. 
§ 2º Os estabelecimentos penais federais de segurança máxima deverão dispor de monitoramento de áudio e vídeo 
no parlatório e nas áreas comuns, para fins de preservação da ordem interna e da segurança pública, vedado seu 
uso nas celas e no atendimento advocatício, salvo expressa autorização judicial em contrário. 
 
 
 
27 
 
3. PERSPECTIVA INTERNACIONAL SOBRE O TRATAMENTO DE PRESOS 
 
 Apresentada a origem e o caráter sancionatório do Regime Disciplinar Diferenciado, 
torna-se claro que se está diante de um instrumento direcionado a presos (provisórios ou 
condenados) que, como medida repressiva pelo cometimento de determinadas condutas, se 
submeterão ao recolhimento celular isolado por certo período, bem como terão restrições de 
visitação, horas de sol e redução de contato com outros custodiados. 
 Em outras palavras, o RDD é uma sanção disciplinar que repercute diretamente na 
forma como o preso executará o cumprimento da pena privativa de liberdade. Conforme 
ressaltado alhures, no entendimento de Silva Júnior (2020), o RDD se perfectibiliza como a 
sanção disciplinar mais grave prevista no ordenamento jurídico brasileiro, de forma quecomumente se indaga como este instituto pode harmonizar com os tratados internacionais de 
direitos humanos? 
 O questionamento parece ser válido na medida em que o Regime Disciplinar 
Diferenciado tende a se inclinar para um tipo de sanção disciplinar em que o isolamento do 
preso será rigoroso, duradouro e possibilitará que uma série de prerrogativas inerentes ao 
indivíduo preso sejam mitigadas em nome da disciplina e ordem no interior dos presídios. 
 Para André Carvalho de Ramos (2014), a necessidade de se preservar os direitos do 
indivíduo preso é universal, eis que dessa forma se evitam excessos e abusos ao indivíduo que 
se encontra em posição de flagrante vulnerabilidade. Contudo, o tema da preservação de direitos 
dos presos é “recente” na esfera do Direito Internacional e só ganhou destaque à medida que se 
consolidou o debate em torno da dignidade da pessoa humana. 
 A partir de meados do século XX, a temática sobre direitos humanos se acentuou na 
seara do Direito Internacional. No entanto, o destaque para a preservação dos direitos inerentes 
a qualquer indivíduo adveio de um processo lento e gradual de internacionalização e 
universalização de direitos tido como essenciais. 
 Flávia Piovesan (2013) atribui a internacionalização dos direitos ao cenário pós 
Segunda-Guerra Mundial, em que as extremas violações de direitos mais basilares da 
humanidade, decorrentes do nazismo, fez emergir a necessidade de consolidar a proteção dos 
direitos humanos como interesse internacional. 
 Para a autora, a necessidade de um olhar internacional para a efetivação dos direitos 
humanos impulsionou o processo de internacionalização desses direitos e resultou no 
surgimento de uma sistemática normativa de garantia internacional, que torna possível punir o 
Estado quando este se omitir ou falhar em sua incumbência de preservar os direitos humanos. 
 
 
 
28 
 
 Sobre o entendimento de quais seriam os direitos essenciais à humanidade, Ramos 
(2014) destaca que, em 1948, a Organização das Nações Unidas - ONU22 aprovou, sob a forma 
de Resolução da Assembleia Geral, a Declaração Universal de Direitos Humanos - DUDH (ou 
“Declaração de Paris”), que definiu, pela primeira vez, o rol de direitos humanos aceitos 
internacionalmente. O autor salienta que a Declaração trouxe direitos políticos e civis, assim 
como direitos econômicos, sociais e culturais, dos quais, para o presente estudo, destacam-se o 
primeiro grupo, em que se insere o direito à vida e à integridade física. 
 Nesse viés, Piovesan (2013) ensina que a Declaração Universal coloca como único 
requisito para ser titular de direitos a condição de pessoa, isto é, impõe-se que qualquer pessoa 
indistintamente seja detentora de direitos essenciais. No mesmo pórtico, a autora destaca que 
outro valor revelado na Declaração Universal, qual seja, a dignidade humana como fundamento 
dos direitos humanos, veio a ser incorporado “por todos os tratados e declarações de direitos 
humanos, que passaram a integrar o chamado Direito Internacional dos Direitos Humanos” 
(PIOVESAN, 2013, p. 205). 
Assim sendo, com o fortalecimento da noção de Direito Internacional dos Direitos 
Humanos, o conceito de soberania dos Estados, antes absoluto, passa a ser flexibilizado diante 
da consolidação do ser humano como sujeito de direitos na esfera internacional. Nesse cenário, 
os indivíduos passaram a ter meios de proteção contra violação de garantias, inclusive 
perpetradas pelos próprios Estados, considerando que estes não podem justificar sob o manto 
constitucional da soberania, a violação dos direitos humanos dentro de seu território. 
Dessa forma, com vistas a assegurar o controle externo frente a eventuais violações 
estatais, são propostos inúmeros tratados e convenções com objetivo central de proteger os 
direitos humanos e a dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, em 1966, é aprovado pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
(PIDCP), que somente veio a ser ratificado 10 anos depois. 
 Conforme destaca Piovesan (2013), o referido tratado ampliou o catálogo de direitos 
civis e políticos23 em relação a própria Declaração Universal e trouxe, dentre outras previsões, 
 
22 Piovesan (2013) explica que a criação da ONU se deu no contexto pós-guerra, em que os países buscavam 
promover a cooperação internacional no plano econômico, social e cultura, mas, ao mesmo tempo, implementar 
um padrão internacional de saúde, fomentar a proteção ao meio ambiente, a criação de uma nova ordem econômica 
internacional e a proteção internacional dos direitos humanos. 
23 A autora constata que outros direitos foram albergados pelo Pacto, dos quais destacam-se o direito de não ser 
preso em razão de descumprimento de obrigação contratual (art. 11); o direito da criança ao nome e à nacionalidade 
(art. 24); a proteção dos direitos de minorias à identidade cultural, religiosa e linguística (art. 27); a proibição da 
propaganda de guerra ou de incitamento a intolerância étnica ou racial (art. 20); o direito à autodeterminação (art. 
1º), dentre outros. São direitos que não tinham sido incluídos na Declaração Universal. 
 
 
 
29 
 
o direito de não ser submetido a tortura ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes24; 
o direito a não ser escravizado, nem submetido à servidão; os direitos à liberdade e à segurança 
pessoal e a não ser sujeito a prisão ou detenção arbitrárias e o direito a um julgamento justo. 
Em 1955, alguns anos antes da elaboração do Pacto, durante o I Congresso das Nações 
Unidas para a Prevenção do Crime e para o Tratamento de Delinquentes, foram adotadas as 
Regras Mínimas para o Tratamento dos Presos - Regras de Mandela, em que se estipulou uma 
série de condutas e princípios a serem observados nos sistemas penais. Considerando a 
relevância de tais normas para a preservação de direitos do indivíduo preso, a temática será 
analisada isoladamente ainda neste capítulo. 
Na esteira do que leciona Piovesan (2013), o sistema de proteção dos direitos humanos 
pode apresentar diferentes âmbitos de aplicação, com a necessidade de se preservar, também, o 
sistema regional de garantias. Nesse sentido, a autora destaca que, junto do sistema 
internacional, despontam os sistemas regionais de proteção, que buscam assegurar os direitos 
humanos no plano regional (especialmente na Europa, América e África). 
Consoante dispõe Piovesan (2013), no cenário interamericano de consolidação de 
direitos humanos, o maior destaque se dá para a Convenção Americana de Direitos Humanos, 
também denominada Pacto de San José da Costa Rica. Tal instrumento traz consigo 82 artigos25 
que versam sobre os mais variados tipos de direitos a serem preservados, dos quais destacam-
se a garantia da pena não passar da pessoa do delinquente; o direito do preso ser tratado com o 
respeito devido à dignidade inerente ao ser humano e a previsão das penas privativas da 
liberdade terem como finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados. 
 Como se vê, as Convenções e Tratados geram para o país o dever de promover e 
assegurar mecanismos de proteção aos direitos fundamentais e a própria dignidade humana, 
seja por meio de ações ou omissões, que tenham por finalidade principal ratificar um ambiente 
adequado de garantias mínimas. Portanto, torna-se patente que o debate acerca do tratamento 
digno dos presos nasce dessa conjuntura de fortalecimento dos direitos humanos, em que se 
consolidam garantias mínimas e essenciais a qualquer pessoa, indistintamente. 
 
3.1 Apontamentos sobre a aplicabilidade dos Tratados Internacionais de Direitos 
Humanos no Direito Interno 
 
 
24 Tal disposição encontra-se disciplinada no artigo V da Declaração Universal de Direitos Humanos. 
25 Piovesan (2013) comenta que, substancialmente, o Pactode San José da Costa Rica traz um rol de direitos civis 
e políticos similar ao disciplinado no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. 
 
 
 
30 
 
 Para aferir em qual proporção o Regime Disciplinar Diferenciado, notadamente pelas 
mudanças legislativas advindas com o Pacote Anticrime (Lei nº 13.964, de 2019), se mostra 
compatível com os Tratados Internacionais de Direitos Humanos, é preciso, antes, compreender 
a força normativa que tais tratados e postulados internacionais possuem no ordenamento 
jurídico nacional. 
 Tal entendimento tem como marco referencial a Constituição da República de 1988, 
que estabelece como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito a “dignidade da 
pessoa humana”. Compartilhando da concepção de Ramos (2014), o Texto Constitucional 
inaugura uma nova sistemática jamais vista até então, na qual os direitos constitucionalmente 
assegurados se baseiam também nos tratados internacionais celebrados pelo Brasil. 
 Nesse ínterim, a adoção da Carta de 1988 como linha referencial não é meramente 
pragmática, pois conforme salienta Piovesan (2013), ela se destaca sobremaneira das 
Constituições anteriores que primeiramente tratavam do Estado, para, somente então, versarem 
sobre os direitos dos indivíduos. Dessa forma, na Constituição de 1988, a proteção do indivíduo 
torna-se fundamento do Estado Democrático de Direito. 
 Ainda segundo a referida autora, por representar uma ruptura do regime militar 
ditatorial, que perdurou de 1964 a 1985 no Brasil, é que a Constituição de 1988 encarrega de 
se apoiar na gramática dos direitos. Partindo desse arrimo, Piovesan (2013) explana que existe 
um direito brasileiro anterior a 1988 e pós-88, sendo este o período em que se passa a afirmar 
os direitos humanos e promover a normatividade internacional no cenário interno. 
 Conforme explica a autora, a Carta de 1988 inicia uma nova topografia constitucional, 
posicionando nos primeiros capítulos um extenso repertório de direitos e garantias, elevando-
os à categoria de cláusulas pétreas. Essa categorização demonstra a vontade do constituinte em 
priorizar os direitos e as garantias fundamentais. 
Para complementar o entendimento do novo perfil constitucional, Piovesan (2013) 
ensina que a Constituição de 1988 prestigia o princípio da indivisibilidade e interdependência 
dos direitos humanos e assegura, em igual importância, a extensão de titularidade de direitos, 
ao passo que se inclina para a existência de novos sujeitos de direitos. Além disso, a autora 
relembra que o Texto Constitucional consagrou a aplicabilidade imediata dessas normas (art. 
5º, § 1º),26 reafirmando a força normativa de todos os preceitos constitucionais que consagram 
os direitos e garantias fundamentais e que resguardam a dignidade da pessoa humana. 
 
26 Art. 5º. [...] 
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 
 
 
 
 
31 
 
Nesse contexto, Piovesan (2013) revela que, tanto no âmbito internacional quanto na 
esfera local, a dignidade da pessoa humana é o princípio que integra e centraliza todo o sistema 
normativo. Dessa forma, para a autora, entender como a Constituição de 1988 valida os direitos 
civis se revela necessário para compreender como se dá a relação entre a Carta Magna e os 
tratados internacionais de direitos humanos. 
Partilhando das lições de Ramos (2014), deve-se ser levado em consideração, antes de 
tudo, que a supremacia da Constituição no âmbito dos direitos humanos também admite as 
consequências da internacionalização dos direitos humanos. Em outras palavras, o autor afirma 
que a primazia do texto constitucional deve estar harmonizada com as noções internacionais de 
proteção aos direitos humanos, fazendo surgir as concepções de interpretação internacionalista 
dos direitos humanos. 
Por essa razão, o Texto Constitucional autoriza a inserção e aplicabilidade de Tratados 
Internacionais de Direitos Humanos que consagrem e prestigiem os direitos e garantias 
indistintos, bem como priorizem a dignidade da pessoa humana. Diante de tal definição, a 
indagação passa a ser: de qual modo a Carta de 1988 permite que tais tratados tenham força 
normativa e qual o impacto jurídico do sistema internacional de proteção dos direitos humanos 
no âmbito interno de garantia e proteção de direitos? 
Em primeiro lugar, consoante aduz Ramos (2014), o constituinte cuidou em deixar 
evidente, ao longo do texto da constitucional, a escolha pela incorporação dos tratados ao direito 
interno. Dessa forma, diversos artigos referem-se a tratados internacionais (lato senso): 
“tratados internacionais (arts. 5º, §§ 2º e 3º; 49, I), convenção internacional (arts. 5º, § 3º; 84, 
VIII; 109, V), atos internacionais (arts. 49, I; 84, VIII), acordos internacionais (arts. 49, I; 178; 
e 52, X, do Ato das Disposições Transitórias)” (RAMOS, 2014, p. 359). 
Passando-se então a forma como o ordenamento jurídico brasileiro incorpora os 
tratados internacionais, cumpre assinalar inicialmente, conforme demonstra Ramos (2014), que 
a Constituição estipulou um procedimento complexo que reúne a vontade dos Poderes 
Executivo e do Legislativo. Para o mencionado autor, a participação de dois Poderes consagrou 
a chamada teoria da junção de vontades. 
Desse modo, Ramos (2014) explica que o art. 84, VIII27 da CF/1988 reservou ao 
Presidente da República a competência para celebrar tratados, convenções e atos internacionais, 
sujeitos a referendo do Congresso Nacional, ao passo que o art. 49, I28 dispõe que é da 
 
27 Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
[...] VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; 
28 Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
 
 
 
32 
 
competência exclusiva do Congresso Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos 
ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio 
nacional. 
Na concepção de Ramos (2014), há quatro etapas que conduzem a formação de 
vontade do Brasil em celebrar um tratado internacional: a primeira é a fase da assinatura, em 
seguida surge a fase da aprovação no Congresso, posteriormente a fase da ratificação e, por fim, 
há a fase de incorporação do tratado já celebrado pelo Brasil, denominada fase do Decreto 
Presidencial. 
Para Piovesan (2013), a fase inaugural tem início com os atos exclusivamente do Poder 
Executivo, materializados pela negociação, conclusão e assinatura do tratado. No entendimento 
da autora, a mera assinatura do tratado não produz efeitos jurídicos vinculantes, mas traduz-se 
em mero aceito provisório, representando apenas a intenção do Estado de integrar aquele 
tratado. 
Importante mencionar, também, que o Brasil pode ainda aderir a textos de tratados já 
existentes, dos quais não participou efetivamente da negociação. Conforme esclarece Ramos 
(2014), nesses casos, o procedimento para ratificação do tratado no direito interno é o mesmo. 
Superada a fase da assinatura, o Presidente da República deve encaminhar o texto 
assinado ao Congresso, não havendo um prazo estipulado para esse envio. Nesse contexto, 
Ramos (2014) explica que a segunda fase de formação dos tratados no Brasil é a da aprovação 
na Casa Legislativa (sendo esta fase também conhecida como fase do decreto legislativo). 
Tal fase possui um trâmite próprio, pois suscita a aprovação do Congresso na 
aprovação do tratado. Dessa forma, Ramos (2014) ensina que primeiramente o chefe do 
Executivo encaminha mensagem fundamentada ao Congresso Nacional, solicitando a 
aprovação congressual ao texto do futuro tratado. Nesse caso, por partir de iniciativa 
presidencial, o trâmite tem início na Câmara dos Deputados, através do rito de aprovação de 
decreto legislativo, e somente após a aprovaçãopor maioria simples do Plenário da Câmara é 
que o projeto será apreciado no Senado. Em seguida, ainda conforme o autor, aprovado no 
plenário ou no rito abreviado, o Presidente do Senado promulga e publica o Decreto Legislativo. 
Por fim, Piovesan (2013) ressalta que, após a aprovação do tratado pelo Legislativo, 
há o ato de ratificação pelo Poder Executivo. A importância da ratificação é patente, já que a 
partir dela torna-se claro que o Estado se vincula ao tratado no plano internacional. 
 
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos 
gravosos ao patrimônio nacional; 
 
 
 
33 
 
Quando se trata especificamente do trâmite para aprovação de tratados de direitos 
humanos, Ramos (2013) lembra que parte da doutrina sustentou o entendimento de que estes 
se diferenciavam dos demais tratados, em razão da redação dos dois parágrafos originais29 do 
art. 5º, da CF/88. Contudo, o STF pacificou a contenda ao definir que no processo de formação 
e incorporação dos tratados, todos (incluindo os de direitos humanos) se submetem ao rito 
descrito anteriormente, isto é, devem passar pelas quatro fases (assinatura, decreto legislativo, 
ratificação e decreto presidencial) para adquirir validade nacional. 
Outro aspecto de igual importância, no que diz respeito aos tratados, é a posição 
hierárquica destes no ordenamento jurídico. Nesse cenário, Ramos (2014) ensina que até a 
edição da Emenda Constitucional (EC) nº 45/2004 não havia consenso quanto à hierarquia 
constitucional dos tratados internacionais de direitos humanos, sobretudo em razão da previsão 
do art. 5º, § 2º, da CF/1988. 
Com o advento da referida Emenda, introduziu-se ao Texto Constitucional o art. 5º, 
§3º com a seguinte redação: “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos 
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos 
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. No 
entanto, Ramos (2014) ressalta que o citado parágrafo não foi recepcionado com grande 
entusiasmo, visto que condicionou a hierarquia constitucional ao rito das emendas 
constitucionais e não fez menção aos tratados aprovados antes da EC nº 45/2004. 
Na realidade, conforme explica Ramos (2014), até 2008 o STF se posicionou da 
seguinte forma: “o tratado de direitos humanos possuía hierarquia equivalente a lei ordinária 
federal, como todos os demais tratados incorporados” (RAMOS, 2014, p. 373). 
De toda sorte, a questão do posicionamento hierárquico dos tratados internacionais de 
direitos humanos só foi clarificada pelo STF ao adotar a “teoria do duplo estatuto”. Nesse 
sentido, Ramos (2014) esclarece que, a partir do julgamento do Recurso Extraordinário nº 
466.34330, o STF reformulou o antigo entendimento, passando a definir novo patamar 
normativo para os tratados internacionais de direitos humanos, inspirado pelo § 3º do art. 5º da 
CF/88. 
 
29 Art. 5º [...] 
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios 
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
30 A partir do julgamento do RE 466.347/SP, o STF passou a entender pela inconstitucionalidade da prisão civil 
do depositário infiel. 
 
 
 
34 
 
Em verdade, o novo posicionamento do STF, encabeçado pelo Ministro Gilmar 
Mendes, foi um resgate ao entendimento do ex-Ministro Sepúlveda Pertence (em seu voto no 
HC 79.785-RJ), que defendia, antes mesmo da emenda constitucional, uma visão conciliatória 
de que os tratados de direitos humanos ficariam acima das leis e abaixo da Constituição. Dessa 
forma, a Suprema Corte passou a sustentar que os tratados internacionais de direitos humanos 
não aprovados pelo Congresso Nacional pelo rito do art. 5º, § 3º, da CF/88, possuem natureza 
supralegal. Por outro lado, Ramos (2014) relembra que os tratados aprovados pelo Congresso 
pelo rito especial do § 3º ao art. 5º ganham status constitucional. 
Dessa forma, com amparo nas lições de Ramos (2014), a partir do novo 
posicionamento do STF ficou consagrada a teoria do duplo estatuto dos tratados de direitos 
humanos, ou seja, os tratados possuem natureza constitucional quando aprovados pelo rito do 
art. 5º, § 3º; enquanto a natureza supralegal recai para os demais, sejam estes anteriores ou 
posteriores à Emenda Constitucional nº 45 e que tenham sido aprovados pelo rito comum. 
Sintetizando o entendimento, Cintia Bezerra Nunes e Walter Nunes Silva Júnior 
(2022) recepcionam positivamente a alteração constitucional, uma vez que a partir dela pôs-se 
fim ao debate quanto à natureza jurídica dos tratados e convenções sobre direitos humanos, 
ressalvando-se, contudo, a tese defendida pelo STF no tocante à “ausência de efetividade 
interna dessas normas, enquanto elas não forem convalidadas pelo Legislativo” (NUNES; 
SILVA JÚNIOR, 2022, p. 190). 
Assim, estabelecida a posição hierárquica dos tratados internacionais, fica claro o 
impacto jurídico desse sistema internacional de proteção de direitos humanos, eis que a 
aplicabilidade das normas internacionais se torna imediata, isto é, quando da sua aprovação, 
independentemente do rito, adquirem aptidão para reivindicados desde logo pelo 
jurisdicionado. 
Todo esse cenário elucida a gramática constitucional de consolidação dos direitos 
humanos, seja mediante a primazia do princípio da dignidade da pessoa humana ou pela força 
normativa atribuída aos tratados internacionais de direitos humanos. Nesse contexto, Ramos 
(2014) reforça a relevância dos direitos humanos no ordenamento jurídico diante da 
centralidade em que foram inseridos, pois passam a vincular todos os Poderes Públicos e 
agentes privados ao conteúdo ao seu conteúdo. 
No mesmo pórtico, o mencionado autor ainda explica que se tratando de um caso 
concreto, deve ser observado se determinada norma está em conformidade com os direitos 
 
 
 
35 
 
humanos. Isso porque, a interpretação conforme os direitos humanos é resultado da adoção da 
interpretação conforme a Constituição. 
Tornando-se claro, portanto, a força normativa e o impacto jurídico dos tratados 
internacionais de direitos humanos no ordenamento jurídico de garantia e proteção de direitos, 
cabe destacar alguns tratados e pactos internacionais recepcionados pelo Brasil no tocante ao 
tema de direitos humanos. Deve-se registrar, contudo, que não se busca exaurir a temática, mas 
sim, sucintamente expor como se deu a adesão destes tratados de proteção e garantias no país. 
 Nesse viés, destaca-se a Declaração Universal de Direitos Humanos que, conforme já 
mencionado alhures, foi aprovada em 1948 pela ONU, mediante a outorga de 48 (quarenta e 
oito) Estados (incluindo o Brasil). Nas lições de Piovesan (2013) extrai-se que a Declaração 
Universal não é um tratado, uma vez que, por ter sido adotada sob a forma de resolução, não 
apresenta força de lei. No entanto, a despeito da ausência de força normativa, a partir da 
Declaração, os Estados-membros (a exemplo do Brasil), se comprometeram a respeitar os 
direitos humanos e as liberdades fundamentais. 
Na mesma esteira, vale trazer à tona novamente o Pacto Internacional sobre Direitos 
Civis e Políticos, aprovado em 1966. Além das garantias já destacadas no tópico inicial do 
presente capítulo, cumpre realçar o parágrafo primeiro do artigo 10 do referido pacto, o qual 
preconiza: “Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito 
à dignidade inerente à pessoa humana”. Fica evidente, dessa forma, a consolidação do preso 
como sujeito de direitos. 
Sobre a ratificação deste tratado no âmbito nacional,

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