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Resumo-Expandido--DESVIO-DE-PODER-UMA-ANLISE-DOS-PRINCIPAIS-PONTOS-E-DE-UMA-DEC

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VIII SEPE- Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão 
do CERES-UFRN
Período-15 a 17/05/2017
Local- Caicó/UFRN/CERES
Inscrições e informações
sepeceres2017@gmail.com
 
DESVIO DE PODER: UMA ANÁLISE DOS PRINCIPAIS PONTOS E DE UMA DECISÃO 
JURISPRUDENCIAL NO BRASIL 
 
Hanna Leticia Medeiros Farias1 
Taiane Costa de Melo2 
Elias Jacob de Menezes Neto3 
 
RESUMO 
 
Objetiva-se com o presente trabalho destacar os principais pontos acerca do instituto 
de desvio de poder, também conhecido como desvio de finalidade. Para isso, utilizou-se como 
metodologia, a pesquisa em Manuais de Direito Administrativo e também de decisões 
jurisprudenciais. Além disso, iremos observar que, no Brasil, há uma grande dificuldade para 
se provar o desvio de poder, visto que aquele que pratica o referido ato, tenta de todas as 
formas ocultar o desvio, podendo, inclusive, alegar que o motivo do ato é o interesse público. 
 
Palavras-chave: abuso de poder; finalidade; vício do ato administrativo. 
 
ABSTRACT 
This paper aims to highlight the main points about the institute of misuse of power, 
also known as misuse of purpose. For that, a methodology was used as a research in Manuals 
 
1 AUTORA, aluna do Curso de Direito do Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, hannasjs@hotmail.com 
2 AUTORA, aluna do Curso de Direito do Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, taianemeloo@gmail.com 
3 ORIENTADOR, docente do Curso de Direito do Centro de Ensino Superior do Seridó da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, contato@eliasjacob.com.br 
of Administrative Law and also of jurisprudential decisions. In addition, we will observe that, 
in Brazil, there is a great difficulty in proving the misuse of power, which is what it refers to, 
trying in every way to conceal the deviation, and may even claim that the reason for the act is 
the public interest. 
Keywords: abuse of power; finality; addiction of the administrative act 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O desvio de poder ou desvio de finalidade pode ser entendido como um vício 
insanável do ato administrativo. Acontece quando o agente realiza um ato buscando um fim 
distinto do que está previsto na regra de competência, seja de forma explícita ou não. O 
referido vício está definido na lei nº 4.717/1965, reguladora da ação popular, impondo em seu 
primeiro artigo que qualquer cidadão pode legitimamente requerer a declaração de nulidade 
ou anulação dos atos que lesam o patrimônio público, de forma geral. (ALEXANDRINO; 
PAULO, 2014, p. 484) 
 Além da lei de Ação Popular, há a lei de improbidade, que trata em seu décimo 
segundo artigo sobre os atos que atentam contra os princípios da administração, impondo que, 
independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação 
específica, o responsável pelo ato de improbidade está sujeito à uma série de penalidades, 
aplicadas de acordo com a gravidade do fato. Sendo assim, o desvio de poder considerado um 
ato de improbidade administrativa. (SOUZA, 2008, p. 7) 
 
DESVIO DE PODER OU FINALIDADE 
 
Para se entender melhor este instituto, faz-se necessário saber o que é finalidade, que é 
a intenção ou a motivação para alcançar um determinado fim. (MICHAELIS, 2015) E dentro 
da administração pública, a finalidade traduz a ideia de que toda atuação da administração 
deve visar a satisfação do interesse público. 
O desvio de finalidade é uma espécie do gênero abuso de poder e caracteriza-se por 
ser uma “ação ilegítima do administrador, quando atua fora dos objetivos expressos ou 
implicitamente traçados na lei. ” (CARVALHO FILHO, 2016, p. 50). Assim, o desvio de 
finalidade ocorre quando o ato tem como finalidade algo distinto da que está explicitada na 
norma, ou seja, não há coincidência entre a essência do ato e finalidade atribuída a ele pela 
lei. 
No desvio de poder o administrador atua inicialmente com legitimidade, não fosse 
pela finalidade a que ele destina, que é contrária a lei, seria válido. Além disso, o ato não 
precisa ser explicitamente ilícito, bastando que difira do que a lei exige. “Trata-se de 
apropriação indevida da intenção da norma, como se a ele, a mesma pertencesse.” (CHAVES, 
2009) 
Neste contexto, faz-se necessário mencionar o efeito que a lei nº 4.717/65, em seu art. 
2º, e), parágrafo único, impõe a ações prejudiciais ao interesse público: ela torna o vício causa 
de nulidade. Assim sendo um importante instrumento que serve como garantia à população: 
 
“Essa definição é relevante, pois estabelece algo que os agentes administrativos 
devem observar; o fato de que o poder de que gozam no desempenhar de suas 
funções é mero aparelho disponibilizado a eles por prévia determinação jurídica, 
para que alcancem o cumprimento de seus deveres e consequentemente, a real 
finalidade da norma que fora pensada pelo legislador. ” (CHAVES, 2009) 
 
Além disso, vale ressaltar que o desvio de finalidade, apesar de não aparentar ilicitude, 
possui finalidade distinta da prevista em lei, sendo assim um ato ilícito, visto que “o poder 
administrativo é conferido para ser devidamente utilizado e só dessa forma é que se pode 
afirmar a presença da legalidade.” (CARVALHO FILHO, 2016, p. 53) 
O desvio de finalidade pode se dar de duas formas: a) o agente busca uma finalidade 
alheia ou contrária ao interesse público; b) o agente pratica um ato condizente com o interesse 
público, mas a lei não prevê aquela finalidade específica para o tipo do ato praticado. 
(ALEXANDRINO; PAULO, 2014, p. 485) 
Ademais, um importante questionamento é a natureza do desvio da finalidade. Para 
isso, constatam-se duas correntes: teoria objetiva e teoria subjetiva. Esta defende que o desvio 
de poder se trata de um defeito de intenção ou de vontade do agente, ou seja, a intenção 
viciada seria suficiente para comprovação do desvio de finalidade; aquela defende que o 
desvio seria um defeito de comportamento, e a intenção viciada não seria suficiente para 
nulidade do ato, considerando-se indispensável a violação concreta do interesse público. 
(MAZZA, 2016, p. 135) 
Para melhor compreender o parágrafo supracitado, o motivo, para o ato administrativo, 
seria a normatização para a realização da prática. Ou seja, é através dele que se inicia a 
constatação de que o ato administrado praticado foi ou não adequado ao fato ocorrido. Além 
disso, a doutrina compreende que há dois tipos de vícios de motivo, são eles: motivo 
inexistente, quando não há um fato que explique o ato praticado; e motivo ilegítimo, quando o 
ato é praticado erroneamente diante daquele fato, ou seja, não há equidade entre o fato e o ato. 
(ALEXANDRINO; PAULO,2014, p.487) 
Diante da dificuldade da comprovação no Brasil, temos adiante a ementa de uma 
decisão judicial do Tribunal de Justiça do Ceará, onde foi comprovado que houve desvio de 
poder: 
 
 “AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REINTEGRATÓRIA DE SERVIDOR. 
TUTELA ANTECIPADA INDEFERIDA. REQUISITO. EFEITO SUSPENSIVO. NÃO 
VERIFICADOS. DESVIO DE PODER CONFIGURADO. DECISÃO AGRAVADA 
MANTIDA. 
1.Tratando-se de ato administrativo em que a Administração declara os motivos da 
exoneração, aplica-se a teoria dos motivos determinantes. 
2. Não restando configurado o motivo determinante na fundamentação do ato 
administrativo, reintegram-se os servidores aos cargos que ocupavam. 
3. Efeito suspensivo será deferido quando o agravante demonstrar que a decisão 
vergastada é suscetível de causar lesão grave ou de difícil reparação, o que não restou 
comprovado. 
4. Recurso conhecido, porém improvido. Vistos, relatados e discutidos os presentes 
autos do agravo de instrumento nº. 0624503-72.2015.8.06.0000, em que figuram as partes 
acima indicadas, acordam os Desembargadores integrantes da 5ª Câmara Cível do egrégio 
Tribunal de Justiça do Estado do Ceará,por unanimidade, em conhecer do recurso, mas para 
negar-lhe provimento, nos termos do voto do Relator. Fortaleza, 2 de dezembro de 2015 
FRANCISCO BARBOSA FILHO Presidente do Órgão Julgador DESEMBARGADOR 
CARLOS ALBERTO MENDES FORTE Relator” (TJ-CE - Agravo de Instrumento AI 
06245037220158060000 CE 0624503-72.2015.8.06.0000) 
Através da ementa supracitada, podemos analisar que, apesar da dificuldade dita 
anteriormente, quando possível comprovação, há nulidade do ato administrativo. Além do 
mais, é possível identificar que o agente competente agiu com arbitrariedade, ou seja, sem 
previsão legal. 
 
CONCLUSÕES 
 
Portanto, conclui-se que o desvio de finalidade se trata de ato praticado pelo agente 
administrativo competente visando um interesse diverso do interesse público. Assim sendo, 
um ato ilegal e nulo. 
Além do mais, é possível identificar que, às vezes, o agente competente tem a 
pretensão de utilizar de sua discricionariedade para praticar o ato administrativo, porém, sem 
previsão legal, identifica-se uma arbitrariedade, pois ocorreu um desvio de finalidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 22ª 
ed. São Paulo: Método LTDA, 2014. 
 
BRASIL. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes 
públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou 
função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. 
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm>. Acesso em: 19 abr. 
2017 
 
BRASIL. Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965. Regula a ação popular. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4717.htm>. Acesso em: 19 abr. 2017. 
 
CARVALHO FILHO, J. S., Manual de Direito Administrativo. 27ª ed. São Paulo: Atlas 
S.A., 2016. 
 
CEARÁ. Tribunal de Justiça. Agravo de instrumento nº 0624503-72.2015.8.06.0000, da 5ª 
Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Agravante: Município de 
Jucás. Agravados: Sindicato dos Empregados Em Estabelecimento de Serviço de Saúde No 
Estado do Ceará - SINDSAÚDE, Roberto Ferreira da Silva, Francisco de Angeles Holanda 
Araújo, Aldfran Gonçalves Ferreira e Kenio Erbes Alves da Silva. Relator: Des. Carlos 
Alberto Mendes Forte. Fortaleza, 2 de dezembro de 2015. Disponível em:< https://tj-
ce.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/262868090/agravo-de-instrumento-ai-
6245037220158060000-ce-0624503-7220158060000/inteiro-teor-262868121?ref=juris-tabs>. 
Acesso em: 27 abr. 2017. 
 
CHAVES, S. O. Abuso de autoridade e desvio de finalidade. Disponível em: < 
http://www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=2288&idAreaSel=1&seeArt=yes>. 
Acesso em: 19 abr. 2017. 
 
DI PIETRO, Maria Silva Zanella. Pressupostos do ato administrativo – vícios, anulação, 
revogação e convalidação em face das leis de processo administrativo, 2003. Disponível em: 
< http://www.tcm.sp.gov.br/legislacao/doutrina/29a03_10_03/4Maria_Silvia1.htm>. Acesso 
em: 19 de abril de 2017. 
 
MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 
 
SOUZA, S. L. R. de. Abuso de Poder. Disponível em: 
<http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=7e7c5f89-5690-405a-8928-
c2daba4be4a5&groupId=10136>. Acesso em: 19 abr. 2017 
 
MICHAELIS MODERNO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Dicionário 
online. Disponível em: <michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/>. Acesso em: 19 abr. 
2017. 
http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=7e7c5f89-5690-405a-8928-c2daba4be4a5&groupId=10136
http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=7e7c5f89-5690-405a-8928-c2daba4be4a5&groupId=10136

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