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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA RELAÇÃO ENTRE COMPOSIÇÃO CORPORAL, BAIXA MASSA MUSCULAR E DESEMPENHO FÍSICO EM MULHERES DE MEIA- IDADE E IDOSAS: UM ESTUDO TRANSVERSAL RAFAELA ANDRADE DO NASCIMENTO NATAL-RN 2019 ii RAFAELA ANDRADE DO NASCIMENTO RELAÇÃO ENTRE COMPOSIÇÃO CORPORAL, BAIXA MASSA MUSCULAR E DESEMPENHO FÍSICO EM MULHERES DE MEIA- IDADE E IDOSAS: UM ESTUDO TRANSVERSAL Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito à obtenção do Título de Doutora em Fisioterapia. Orientador: Prof. Dr. Álvaro Campos Cavalcanti Maciel. Coorientadora: Prof. Dra. Saionara Maria Aires da Câmara. NATAL-RN 2019 iii iv UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia: Profª. Dra. Ana Raquel Rodrigues Lindquist NATAL-RN 2019 v UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA RELAÇÃO ENTRE COMPOSIÇÃO CORPORAL, BAIXA MASSA MUSCULAR E DESEMPENHO FÍSICO EM MULHERES DE MEIA- IDADE E IDOSAS: UM ESTUDO TRANSVERSAL Banca Examinadora: Prof. Dr. Álvaro Campos Cavalcanti Maciel (Presidente da Banca) – UFRN Prof. Dr. Ricardo Oliveira Guerra (Membro Interno) – UFRN Profª Dra. Mª Thereza Albuquerque B. Cabral Micussi (Membro Interno) – UFRN Prof. Dr. Diego de Souza Dantas (Membro externo) – UFPE Dra. Ingrid Guerra Azevedo (Membro externo) – HUAB / HMWG NATAL-RN 2019 vi RESUMO Introdução: Dentre as mudanças clinicamente significativas que ocorrem durante o envelhecimento feminino, destacam-se aquelas que alteram a composição corporal, levando à diminuição da massa muscular e densidade óssea e também ao aumento da massa gorda, com modificações no padrão de distribuição da gordura corporal. Essas alterações causam impactos significativos no sistema musculoesquelético, com diminuição da força muscular e prejuízos no desempenho físico, capacidade funcional e na saúde das mulheres, a partir de meia-idade. Objetivo: Analisar a relação entre composição corporal, baixa massa muscular e desempenho físico em mulheres de meia- idade e idosas residentes na comunidade. Métodos: Trata-se de um estudo observacional, analítico, de caráter transversal e natureza epidemiológica. A população foi constituída por mulheres com idade entre 40 e 80 anos, residentes nos municípios de Parnamirim e Santa Cruz, estado do Rio Grande do Norte, Brasil. A amostra fonte do estudo foi composta de 708 mulheres. Em seguida, para cada estudo realizado foi utilizado uma amostra alvo, sendo no primeiro artigo de 593 mulheres e no segundo de 368 mulheres. Foram realizadas coletas para a dosagem bioquímica, avaliações da composição corporal e desempenho físico, além da coleta de dados sociodemográficos, socioeconômicos e a prática regular de atividade física. Para as análises estatísticas, foram utilizadas medidas de tendência central e de dispersão, teste t de Student, Curva ROC, qui-quadrado, regressão logística, correlação de Pearson e correlação canônica. As variáveis dependentes do estudo foram baixa massa muscular, força de preensão palmar, velocidade de marcha, teste de sentar e levantar e escore total do SPPB (Short Physical Performance Battery). O grupo de variáveis vii independentes foi composta pelos índices antropométricos de adiposidade: IMC (índice de massa corporal), CC (circunferência de cintura), RCQ (relação cintura- quadril), RCA (relação cintura-altura), IC (índice de conicidade), BAI (índice de adiposidade corporal), VAI (índice de adiposidade visceral) e LAP (produto de acumulação lipídica). Resultados: O resultado da presente tese originou dois artigos científicos. Quanto ao primeiro artigo pode-se observar que os pontos de corte dos índices antropométricos foram capazes de identificar a presença de baixa muscular (p<0,05), com exceção apenas do VAI. Após as análises de regressão, os índices CC, RCQ, RCA e BAI, estiveram associados a um maior risco de apresentar baixa massa muscular (6,2; 1,8; 5,0 e 14,5 respectivamente). Em relação ao segundo artigo, as três primeiras funções canônicas apresentaram significância estatística, sendo as mesmas responsáveis por 97,54% da variância compartilhada entre os dois conjuntos de variáveis. No entanto, a primeira função foi a que melhor estimou a variância compartilhada, além de apresentar maior correlação canônica e maior índice de redundância (% variância cumulativa = 82,52, Lambda de Wilks = 0,66, correlação canônica = 0,532, p valor <0,001). A partir da análise da primeira função canônica foi observada correlação inversa entre o IC (-0,59) com a força de preensão palmar (0,84) e o SPPB (0,68), além de correlação direta com a velocidade da marcha (-0,43). Conclusões: As alterações na composição corporal durante o processo de envelhecimento feminino estão associadas a baixa massa muscular e queda no desempenho físico em mulheres de meia-idade e idosas. Os pontos de corte dos índices antropométricos de adiposidade criados são eficazes na identificação de baixa massa muscular, evidenciando que incrementos nesses índices aumentam a chance de apresentar baixa massa muscular. Além do mais, viii pode-se observar que o desempenho físico sofre influência significativa das mudanças na composição corporal que ocorrem com o decorrer da idade. Os resultados apresentados possuem importante relevância clínica, uma vez que o melhor entendimento sobre essa temática é fundamental para fornecer subsídios científicos para o planejamento de políticas públicas de saúde, auxiliando a identificar e agir de forma preventiva nas mulheres com maior risco de apresentar baixa massa muscular. Palavras-chaves: envelhecimento, composição corporal, adiposidade, antropometria, força muscular, desempenho físico. ix ABSTRACT Background: Among the clinically significant changes that occur during female aging, it is highlighted those that alter body composition and leads to decrease in muscle mass and bone density, as well as increase in fat mass, with changes in body fat distribution pattern. These changes cause significant impacts on the musculoskeletal system, with reduction of the muscle strength, impairments on physical performance, functional capacity and health of women from middle age. Objective: To analyze the relationship between body composition, low muscle mass and physical functional performance in middle-aged and elderly women living in the community. Methods: This is an observational, analytical and cross-sectional study with an epidemiological nature. The population consisted of women aged 40 to 80 years, residing in Parnamirim and Santa Cruz, state of Rio Grande do Norte, Brazil. The source sample of the study was composed of 708 women. Then, for eavh study performed, a target sample was used, with 593 women in first artivle and 368 women in the second. The data collection consist of biochemical dosage, body composition and physical performance evaluations. In addition, sociodemographic and socioeconomic data and regular practice of physical activity were also collected. For statistical analysis, measures of central tendency and dispersion, Student's t-test, ROC curve, chi-square, logistic regression, Pearson correlation and canonical correlation were used. The dependent variables of the study were low muscle mass, handgrip strength, walking speed, sitting and standingtest and total Short Physical Performance Battery (SPPB) score. The group of independent variables were composed by adiposity anthropometric indices: BMI (body mass index), WC (waist circumference), WHR (waist-hip ratio), RCA (waist-height ratio), CI (taper index), x BAI (body adiposity index), VAI (visceral adiposity index) and LAP (lipid accumulation product). Results: The results of this thesis created two scientic articles. Regarding the results of the first article, it was observed that the adiposity anthropometric indices cut-off points were able to identify the presence of low muscle (p <0.05), except for VAI only. After regression analysis, the CC, WHR, RCA and BAI indices were associated with a higher risk of low muscle mass (6.2; 1.8; 5.0 and 14.5 respectively). Regarding the second article, the first three canonical functions were statistically significant. These accounted for 97.54% of the shared variance between the two sets of variables. However, the first function presented the best estimate of the shared variance. Moreover, it presented the highest canonical correlation and the highest redundancy index (percentage cumulative variance = 82.52, Wilks Lambda = 0.66, canonical correlation = 0.532, p value <0.001). From the analysis of the first canonical function, an inverse correlation was observed between the CI (-0.59) and handgrip strength (0.84) and SPPB (0.68), besides direct correlation with walking speed (- 0.43). Conclusions: Changes in body composition during women aging are related to decreasing of muscle mass and physical performance in middle-aged and elderly women. The cut-off points of the adiposity anthropometric indices created are effective in identifying low muscle mass. This shows that the increasing of these indices would increase the chance of present low muscle mass. Moreover, it was observed that physical performance is influenced by changes in body composition that occur with the rise in age. The results presented important clinical relevance. A better understanding of this theme is fundamental to provide scientific support for the planning of public health policies. xi Keywords: aging, body composition, adiposity, anthropometry, muscle strength, physical functional performance. xii Lista de Figuras Figura 1: Mapa da localização do município de Parnamirim Figura 2: Mapa da localização do município de Santa Cruz Figura 3: Fluxogramas para seleção amostral Artigo 01 - Figura 1: Curvas ROC das medidas antropométricas para o rastreio de baixa massa muscular xiii Lista de Tabelas Tabela 01: Lista das variáveis independentes 39 Tabela 02: Lista de variáveis dependentes 40 ARTIGO 01 Tabela 01: Análise Descritiva (n=593). Parnamirim/Santa Cruz, 2019. 66 Tabela 02: Comparação dos valores dos índices antropométricos de adiposidade segundo a presença ou ausência de baixa massa muscular. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. 67 Tabela 03: Área sob a curva ROC (IC 95%), ponto de corte, sensibilidade e especificidade dos índices antropométricos de adiposidade para identificação de baixa massa muscular. Parnamirim/Santa Cruz, 2019 68 Tabela 04: Associação entre os índices antropométricos de adiposidade e baixa massa muscular segundo as covariáveis. Parnamirim/Santa Cruz, 2019 70 ARTIGO 02 Tabela 01: Análise Descritiva (n=368). Parnamirim/Santa Cruz, 2019. 100 Tabela 02: Correlações entre os índices antropométricos e as variáveis de desempenho físico em mulheres de meia-idade e idosas. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. 101 Tabela 03: Análise de correlação canônica entre os índices antropométricos de adiposidade e as variáveis de desempenho físico em mulheres de meia- idade e idosas. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. 103 Tabela 04: Correlações canônicas entre os índices antropométricos de adiposidade e as variáveis de desempenho físico em mulheres de meia- idade e idosas. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. 104 xiv Lista de Abreviaturas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística DEXA – Densitometria por Dupla Emissão de Raios-X TC – Tomografia Computadorizada IMC – Índice de Massa Corporal CC – Circunferência de Cintura CQ – Circunferência de Quadril RCQ – Relação Cintura-Quadril RCA – Relação Cintura-Altura IC – Índice de Conicidade BAI – Índice de Adiposidade Corporal VAI – Índice de Adiposidade Visceral LAP – Produto de Acumulação Lipídica ASM – Appendicular Skeletal Muscle Mass TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido FACISA – Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi HUAB – Hospital Universitário Ana Bezerra SM – Salário Mínimo DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos TG – Triglicerídeos HDL - Lipoproteínas de Alta Densidade SPSS – Statistical Package for the Social Science ROC – Receiver Operator Characteristics xv LISTA DE APÊNDICES Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 132 Apêndice B - Ficha de Avaliação 134 xvi DEDICATÓRIA A Deus e minha família, em especial meu pai (in memoriam), por me guiarem no caminho do amor e da honestidade e por serem sempre incentivo nos momentos de incertezas. xvii AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por me iluminar e sempre renovar minha fé. À minha família, pelo amor e apoio incondicional, por entenderem minha ausência e por compartilharem cada conquista minha como se fossem suas. Ao meu marido e sua família, pela paciência, compreensão e incentivo. Ao meu filho, por me fazer uma pessoa melhor diariamente. Aos membros da banca, Dr.a Ingrid, Prof.a Thereza, Prof. Ricardo e Prof. Diego pela disponibilidade, atenção e importantes considerações a este trabalho. Ao meu orientador, Prof. Álvaro Campos, pelos inúmeros ensinamentos, parceria e por compreender minhas limitações devido as jornadas de trabalho ao longo de todos esses anos. À Prof.a Mayle e a minha coorientadora Prof.a Saionara, por todo o conhecimento e ajuda desde a época do mestrado. Ao Lab 07, em especial Mari, Rafa Silva e Juliana pelo companheirismo e pelos desabafos sobre a vida acadêmica. Aos funcionários do Departamento de Fisioterapia, por sempre fazerem o possível para nos ajudar. Aos meus amigos e aos colegas de trabalho, por me auxiliarem nessa árdua tarefa de estudar e trabalhar, tornando a caminhada menos difícil. A todos os mestres, pelo conhecimento disseminado e fundamental para que me tornasse uma profissional consciente das minhas condutas. A todos os pacientes, muitos dos quais criei vínculos que mantenho até hoje, pelos ensinamentos de vida. E por fim, a todas as mulheres e funcionários envolvidos nesta pesquisa, por contribuírem para a melhoria do conhecimento científico. xviii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 19 1.1. Envelhecimento Feminino 20 1.2. Composição Corporal 22 1.3. Alterações do Sistema Musculoesquelético 24 1.4. Desempenho Físico 26 2. JUSTIFICATIVA 29 3. OBJETIVOS 32 3.1. Objetivo geral 33 3.2. Objetivos específicos 33 4. MATERIAIS E MÉTODOS 34 4.1. Delineamento do Estudo 35 4.2. Aspectos Éticos 35 4.3 Locais do Estudo 36 4.4 População e Amostra 37 4.5 Critérios de elegibilidade 38 4.6 Variáveis do Estudo 39 4.7 Instrumentos e Procedimentos 41 4.7.1 Características sociodemográficas e socioeconômicas 42 4.7.2 Prática Regular de Atividade Física 43 4.7.3 Dosagem Bioquímica 43 4.7.4 Medidas de Composição corporal 43 4.7.5 Baixa Massa Muscular 46 4.7.6 Desempenho Físico 47 xix 4.8 AnáliseEstatística 49 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 51 6. CONCLUSÕES 117 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 119 APÊNDICES 131 ANEXOS 137 19 1. INTRODUÇÃO 20 1.1 Envelhecimento Feminino O envelhecimento é um processo discreto e lento que acompanha os indivíduos durante toda a vida e se baseia tanto no declínio progressivo das capacidades funcionais (MILJKOVIC et al., 2015), quanto na maior incidência de processos patológicos que podem acarretar à morte (FERREIRA et al., 2012). É explícito que o envelhecimento populacional nos últimos anos é decorrente, principalmente, do aprimoramento científico-tecnológico e/ou por melhoria das condições de vida (MARIA et al., 2017). Ademais, essa situação é consequência da rápida e contínua queda da fecundidade, sendo influenciada também pela redução da mortalidade em todas as idades (WHO, 2010). Durante este processo ocorrem mudanças graduais em todos os sistemas biológicos, as quais acarretam prejuízos físicos, funcionais, cognitivos e sociais (CARMELI, 2017). Essas modificações diminuem a capacidade de adaptação ao meio ambiente (FERREIRA et al., 2012) e favorecem o aumento de condições adversas, como a presença de doenças crônicas e diminuição da funcionalidade, com impactos negativos na qualidade de vida (ASADUROGLU et al., 2015; GLEIZE et al., 2015). Além disso, o envelhecimento altera a vida dos indivíduos, as dinâmicas e as estruturas familiares, trazendo maiores vulnerabilidades, que são diferenciadas por idade, raça, regiões geográficas, bem como pelas capacidades básicas adquiridas ao longo do curso da vida e pelo contexto social em que esses indivíduos estão inseridos (CAMARANO, 2005). Atualmente, vem sendo observado uma feminização do envelhecimento populacional, uma vez que as mulheres apresentam uma expectativa de vida 21 maior que a dos homens (RAJASI et al., 2016). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, a população de idosos era de 30,2 milhões, sendo as mulheres maioria nesse grupo, com 16,9 milhões (56% dos idosos), enquanto os homens idosos representavam 13,3 milhões (44% do grupo) (IBGE, 2017). Esse fato tem despertado interesse pelas questões relacionadas ao envelhecimento feminino, levando-se em consideração que os aspectos conceituais do envelhecimento diferem entre os gêneros (LIMA; BUENO, 2009). Devido à população feminina apresentar maior expectativa de vida se comparada à masculina, as mulheres convivem mais tempo com situações crônicas, o que limita a capacidade física e, consequentemente, afeta a qualidade de vida (SANTOS; DANTAS; MOREIRA, 2011). Nesse contexto, faz-se necessário um olhar mais ampliado, pois as mulheres além de apresentarem maior propensão às alterações fisiológicas, apresentam maior isolamento social e transtornos emocionais devido a fatores como aposentadoria, viuvez, dentre outros (LIMA; BUENO, 2009). Destaca-se ainda nas mulheres, a ocorrência de um importante marco biológico, que é a menopausa, no qual há a passagem da fase reprodutiva para a não-reprodutiva (FERREIRA et al., 2013), com importantes consequências fisiológicas, físicas e psicológicas (EL KHOUDARY et al., 2014). A menopausa representa a cessação permanente da menstruação, resultante da perda de atividade folicular ovariana, sendo precedida por um período de irregularidade do ciclo menstrual, conhecido como transição menopausal, que geralmente começa a partir da meia-idade (MESSIER et al., 22 2011). Ao longo dessa transição, ocorre diminuição dos níveis de hormônios sexuais, causando alterações relevantes na composição corporal e no sistema musculoesquelético (MALTAIS; DESROCHES; DIONNE, 2009), predispondo essa parcela da população a maiores níveis de fragilidade, comprometimento funcional e incapacidades (ASADUROGLU et al., 2015). 1.2 Composição Corporal Dentre as mudanças clinicamente mais significativas que ocorrem durante o envelhecimento feminino, destacam-se as hormonais, que culminam em importantes alterações na composição corporal (ZSAKAI et al., 2016). Durante esse período, há diminuição dos hormônios sexuais, em particular o estradiol, levando à diminuição da massa magra, da densidade óssea e também ao aumento da massa gorda, com modificações no padrão de distribuição da gordura corporal (BEA et al., 2011; MOREIRA et al., 2016; SOWERS et al., 2007; VILAÇA et al., 2012). Como consequência, há um maior acúmulo de adipócitos, particularmente depositados na região intra-abdominal (visceral), causando um efeito negativo sobre a saúde das mulheres a partir da meia-idade (DE MORAIS et al., 2017). Quanto ao tecido adiposo, sabe-se que este desempenha não apenas função de armazenamento de energia sob a forma de gordura (HARTZ; HE; RIMM, 2012; SOWERS et al., 2007), mas também auxilia na produção de vários hormônios, funcionando como um órgão endócrino e se configurando, dessa 23 forma, como um contribuinte ativo para alterações nos perfis metabólicos que afetam a saúde (HARTZ; HE; RIMM, 2012; ZSAKAI et al., 2016). Adicionalmente, outra característica metabólica é o aumento do conteúdo de lipídios no tecido muscular, ocasionando um aumento do estado inflamatório crônico por meio da secreção de citocinas pró-inflamatórias, contribuindo para o catabolismo muscular (MARTINS et al., 2012; MESSIER et al., 2011; RIVAS et al., 2016). No Brasil, é notório o aumento nas taxas de sobrepeso e obesidade devido a mudanças no consumo nutricional nas últimas décadas (ANDRADE et al., 2016). Também deve-se levar em consideração que o estilo de vida e a falta de atividade física regular parecem estar ligados ao ganho de peso que ocorre durante o envelhecimento feminino (DE MORAIS et al., 2017). Para a avaliação do acúmulo e distribuição da gordura corporal, os métodos mais recomendados são a densitometria por dupla emissão de raios-X (DEXA) e a tomografia computadorizada (TC), os quais são mais precisos, porém dispendiosos e complexos (FARIA et al., 2018). Na indisponibilidade desses métodos, os índices antropométricos de adiposidade parecem ser uma boa alternativa para determinação da composição corporal (SANADA et al., 2018). Neste sentido, diversos índices antropométricos têm sido utilizados na literatura tanto para avaliação da adiposidade corporal quanto central (visceral). Entre os mais conhecidos, estão o índice de massa corporal (IMC), a circunferência de cintura (CC), a relação cintura-quadril (RCQ) e a relação 24 cintura-altura (RCA) (ANDRADE et al., 2016; CHEN et al., 2018; SILVA et al., 2018). No entanto, outros índices vêm sendo utilizados em estudos mais recentes, entre eles destacam-se o índice de conicidade (IC), índice de adiposidade corporal (BAI), índice de adiposidade visceral (VAI) e o produto de acumulação lipídica (LAP) (ABULMEATY et al., 2017; AMATO et al., 2010; BERGMAN et al., 2012; DAI et al., 2016; ZHANG et al., 2017; ZHOU et al., 2018). Evidências científicas suportam que o aumento do tecido adiposo é um fator de risco bem estabelecido para piores resultados em saúde, uma vez que tem sido associado à mortalidade e diminuição da funcionalidade (ASADUROGLU et al., 2015; SANADA et al., 2018), tendo impacto sobre as doenças cardiovasculares, dislipidemias, hipertensão arterial, diabetes, entre outras (SIQUEIRA et al., 2017; RIVERA-MANCÍA et al., 2018; SANDEEP et al., 2010). 1.3 Alterações do Sistema Musculoesquelético Durante o processo de envelhecimento, em relação ao sistema musculoesquelético, há diminuição da massa magra, com perda de unidades motoras e redução das fibras musculares, além da infiltração de gordura intramuscular, resultando em prejuízos na força e função muscular (NARICI; MAFFULLI, 2010; MESSIER etal., 2011; VON HAEHLING; MORLEY; ANKER, 2012, DALLE; ROSSMEISLOVA; KOPPO, 2017). O decréscimo da força muscular deve-se principalmente à perda e redução do tamanho das fibras musculares do tipo II (HUNTER; PEREIRA; KEENAN, 2016). Esse tipo de fibra, denominada fibra de contração rápida, é 25 recrutada posteriormente, sendo responsáveis por atividades de maior intensidade, resultando, por exemplo, na capacidade de levantar-se de uma cadeira ou elevar um peso maior (TIELAND, TROUWBORST & CLARK, 2018). A perda progressiva de massa muscular inicia-se em torno dos 40 anos e é estimado que a cada década ocorra o decréscimo de 8% (KIM; CHOI, 2013). Após os 50 anos, a massa muscular diminui a uma taxa anual de aproximadamente 1 a 2%, e após os 60 anos essa taxa aumenta para 3% ao ano (ABELLAN VAN KAN, 2009). A massa muscular esquelética nas mulheres parece estar estreitamente correlacionada aos níveis de estradiol por meio de diferentes mecanismos. O estradiol atenua a ruptura pós-lesão e as respostas inflamatórias, desempenha papel protetor contra o estresse oxidativo e dano muscular, estimula a ativação e proliferação de células satélites, além de regular o metabolismo dos carboidratos e lipídios (HORSTMAN et al., 2012), evidenciando que as alterações hormonais durante o envelhecimento feminino estão relacionadas à diminuição da massa muscular (RONKAINEN et al., 2009; ZANANDREA et al., 2014). Adicionalmente, a massa muscular sofre ainda a influência do aumento do conteúdo lipídico na sua estrutura com o envelhecimento (DALLE; ROSSMEISLOVA; KOPPO, 2017). Essa infiltração de gordura no músculo está relacionada a um aumento do estado inflamatório crônico, contribuindo para o declínio da força muscular, com prejuízos ao desempenho físico (CAULEY, 2015), predispondo inclusive o surgimento da sarcopenia, que é definida como a perda de massa e força muscular decorrente do envelhecimento, em idades 26 mais precoces nas mulheres (LEE; LEE, 2013; MESSIER et al., 2011). Além disso, o déficit de massa muscular em mulheres parece estar associado a um maior risco de incapacidade ao realizar as atividades de vida diária do que em mulheres com índices normais de massa muscular (VISSER et al, 2005). De forma geral, durante o envelhecimento feminino, quanto ao sistema musculoesquelético, existe de um lado a diminuição da massa magra, com alterações nas propriedades contráteis dos músculos, e do outro um aumento no tecido adiposo, com acúmulo de gordura intramuscular (MESSIER et al., 2011; SOWERS et al., 2007). Ambas as situações levam a um declínio na massa muscular esquelética, com consequente perda de força muscular, gerando repercussões significativas no desempenho físico e capacidade funcional das mulheres (CAULEY, 2015; DODDS; SAYER, 2014; HUNTER; PEREIRA; KEENAN, 2016 ; MESSIER et al., 2011; NARICI; MAFFULLI, 2010). 1.4 Desempenho Físico Como citado anteriormente, o processo do envelhecimento está relacionado a significativas mudanças na composição corporal (GADELHA et al., 2016; WOO, 2011). Dentre os impactos dessas alterações, as relacionadas ao sistema musculoesquelético são de extrema relevância, haja vista sua contribuição para a queda no desempenho físico, culminando em redução da mobilidade, aumento no risco de quedas e fraturas, além de colaborar positivamente para o desenvolvimento da sarcopenia (ALWAN et al., 2010; DODDS; SAYER, 2014; MESSIER et al., 2011). O desempenho físico e funcionamento das extremidades inferiores e 27 superiores podem ser testados pela capacidade de executar uma ação ou atividade (CÂMARA et al., 2015a). A força de membros superiores tem sido mencionada como bom indicador para predizer a força muscular total, sendo considerada fator de risco para doenças crônicas e fundamental na manutenção da independência funcional e autonomia dos indivíduos idosos (CONFORTIN et al., 2018). Já a força de membros inferiores é importante para a locomoção, controle postural e equilíbrio, e seu declínio está associado a doenças crônicas e menor competência na execução das atividades básicas da vida diária (RIBEIRO; MELO, 2012). Adicionalmente, o desempenho físico parece ser influenciado tanto por características fisiológicas e clínicas, bem como pelo ambiente social (ASADUROGLU et al., 2015). Portanto, deve ser considerada a desigualdade de gênero, uma vez que as mulheres apresentam maiores chances de desenvolver incapacidade funcional (MECHAKRA-TAHIRI et al., 2012) e também o nível socioeconômico, no qual menores rendas e baixos níveis de escolaridade parecem estar associadas a um pior desempenho físico (SOUSA et al., 2014). Testes objetivos e padronizados de desempenho físico vêm sendo desenvolvidos e utilizados cada vez mais em estudos epidemiológicos (WAGNER et al., 2016), sendo sensíveis a perdas fisiológicas importantes relacionadas ao envelhecimento, presença de comorbidades e estilo de vida (RIBEIRO; MELO, 2012) e representando importantes marcadores de saúde na população idosa (COOPER et al., 2010). Perante o exposto, apesar de existir na literatura associação da gordura corporal com desfechos negativos de saúde, quanto aos índices antropométricos 28 de adiposidade, observa-se apenas pesquisas pontuais envolvendo suas relações com diferentes doenças e mortalidade (ABULMEATY et al., 2017; ANDRADE et al., 2016; CHEN et al., 2018; DAI et al., 2016). Dessa forma, este estudo objetiva realizar uma análise mais abrangente acerca da relação desses índices com a baixa massa muscular e com o desempenho físico, considerando as peculiaridades inerentes à população estudada. 29 2. JUSTIFICATIVA 30 O crescimento da população idosa nos últimos anos merece destaque devido as inúmeras condições crônicas que comprometem a saúde desses indivíduos. Em particular, nas mulheres, durante o processo de envelhecimento há uma diminuição dos hormônios sexuais a partir da meia-idade, gerando importantes alterações na composição corporal. Em relação a massa gorda, ocorre um aumento de gordura corporal associado a mudanças no padrão de sua distribuição, infiltração de adipócitos intramuscular e a redução da massa muscular esquelética, com consequente perda de força muscular, sendo que essas alterações se iniciam em idades mais precoces nas mulheres do que nos homens. Ademais, em função dessas modificações há maiores comprometimentos no desempenho físico e na capacidade funcional durante o envelhecimento feminino, relacionando-se a pior qualidade de vida e a maiores índices de morbimortalidade nessa população. Portanto, é de fundamental importância estudos que avaliem a relação entre composição corporal, baixa massa muscular e desempenho físico nas mulheres, tendo em vista o enorme impacto na função física e os dispendiosos custos em serviços de saúde. Para a avaliação do acúmulo e distribuição da gordura corporal, existem métodos bastante precisos, porém em sua maioria, são métodos caros, complexos e que por vezes expõem os indivíduos à radiação. Nesse cenário, os índices antropométricos de adiposidade parecem ser uma boa alternativa para determinação da composição corporal, tendo em vista que são medidas simples de serem calculadas, além de menos onerosas. 31 Apesar de existirem diversos índices antropométricos descritos na literatura e sua associação a diferentes condições adversas de saúde, existe uma lacuna quanto a relação direta entre esses índices e a presença de baixa massa muscular, além da influência desses índices sobre o desempenho físico. Neste sentido, estudos que busquem avaliar essas relações poderiam ser clinicamente úteis para prevenir ou amenizar os efeitosadversos das alterações corporais durante o envelhecimento feminino, contribuindo para o aprimoramento de ações de prevenção e promoção da saúde, no campo da Fisioterapia, bem como de outras profissões envolvidas nessa área, além de fornecer subsídios para o planejamento de políticas públicas de saúde. 32 3. OBJETIVOS 33 3.1 Objetivo Geral • Analisar a relação entre composição corporal, baixa massa muscular e desempenho físico em mulheres de meia-idade e idosas residentes na comunidade. 3.2 Objetivos Específicos • Realizar análise descritiva dos índices antropométricos de adiposidade; • Definir pontos de corte dos índices antropométricos para identificar a presença de baixa massa muscular; • Apontar se os índices utilizados são eficazes em predizer a baixa massa muscular; • Explorar as relações entre os índices antropométricos e o desempenho físico. 34 4. MATERIAIS E MÉTODOS 35 4.1 Delineamento do Estudo Trata-se de um estudo observacional analítico, de caráter transversal e natureza epidemiológica. 4.2 Aspectos Éticos Este estudo faz parte de uma pesquisa longitudinal, denominada “Influência do status menopausal e dos níveis hormonais na funcionalidade, desempenho muscular e composição corpórea: um estudo longitudinal” (CÂMARA et al., 2015a; CÂMARA et al., 2015b), a qual foi previamente submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e aprovada com os pareceres de número 387.737 e 1.875.802 (Anexo A). As mulheres que concordaram em participar do estudo foram convidadas a ler e, se estivessem de acordo, a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A), conforme a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Este documento deixa explícito o convite às mulheres para participação do estudo, por via escrita, informando o direito de interromper sua colaboração na pesquisa, a qualquer momento, caso julgue necessário, sem que isso implique em constrangimento ou prejuízo de qualquer ordem. As participantes foram informadas previamente à aplicação do questionário (Apêndice B) e instrumentos, sobre os objetivos e procedimentos deste estudo, assim como do seu anonimato e da confidencialidade de suas respostas. 36 4.3 Locais do Estudo Este estudo foi desenvolvido no Nordeste Brasileiro, em dois municípios localizados no estado do Rio Grande do Norte, Parnamirim e Santa Cruz. O município de Parnamirim situa-se na região metropolitana de Natal, capital do estado. Segundo dados do IBGE, esta cidade contém 202.456 habitantes e uma área de 123,471 km2 (Figura 01). Já o município de Santa Cruz fica localizado a 120km de Natal, apresentando uma área de 624,356 km2 e cerca de 36 mil habitantes (Figura 02). Figura 01: Mapa da localização do município de Parnamirim 37 Figura 02: Mapa da localização do município de Santa Cruz Em Parnamirim, a coleta de dados foi realizada nas Unidades Básicas de Saúde e na Maternidade Divino Amor. Em Santa Cruz, a coleta foi realizada na Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA) e no Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), sendo o período da coleta compreendido entre 2013 e 2017. 4.4 População e Amostra A população foi constituída por mulheres com idade entre 40 e 80 anos, residentes no município de Parnamirim e Santa Cruz, Rio Grande do Norte. Para 38 composição da amostra, foi realizada divulgação do projeto nas unidades básicas de saúde, bem como nos centros comunitários, convidando as mulheres a participarem do estudo. Após a avaliação dos critérios de elegibilidade descritos abaixo, 708 mulheres foram selecionadas para fazerem parte do estudo longitudinal inicial. 4.5 Critérios de Elegibilidade Os critérios de inclusão para o estudo foram: ser mulher; ter entre 40 e 80 anos de idade; ser residente na comunidade dos municípios de Parnamirim/RN ou Santa Cruz/RN; não ter realizado ooforectomia bilateral; não ter alterações cognitivas; não apresentar doenças neurológicas e/ou degenerativas como Parkinson, acidente vascular encefálico, doenças degenerativas medulares, fratura nos membros, processos dolorosos ou qualquer outra condição que pudesse comprometer a mensuração dos dados, identificada pelos pesquisadores no primeiro contato ou autorrelatada pela participante. A desistência ou impossibilidade de qualquer natureza em realizar algum dos procedimentos do protocolo de pesquisa foram consideradas como critérios de exclusão. Para o primeiro artigo, da amostra inicial de 708 mulheres, 115 foram excluídas por não apresentarem todos os dados necessários relacionados aos exames bioquímicos, totalizando 593 mulheres. Já no segundo artigo, foram incluídas apenas as mulheres entre 50 e 80 anos. Desse universo de 413 participantes, 45 foram excluídas por não apresentarem todos os dados 39 relacionados aos exames bioquímicos e/ou desempenho físico, totalizando uma amostra final de 368 mulheres. Figura 03: Fluxogramas para seleção amostral 4.6 Variáveis do Estudo Tabela 01: Lista das variáveis independentes Nome Descrição Tipo Idade Idade da voluntária em anos Quantitativa contínua Escolaridade Categorizada de acordo com os anos de estudo em: Até ensino fundamental (até 7 anos), entre ensino fundamental e médio (mais do que 7 e menos do que 11 anos) e ensino médio ou mais (11 anos ou mais) Categórica ordinal União Estável Categorizada: Sim ou Não Categórica Nominal Renda familiar Categorizada: < 3 salários mínimos ≥ 3 salários mínimos Categórica ordinal Artigo 01 40 – 80 ANOS (708 participantes) 115 excluídas (exames bioquímicos) Amostra final de 593 mulheres Artigo 02 50 – 80 ANOS (413 participantes) 45 excluídas (exames bioquímicos e/ou desempenho físico) Amostra final de 368 mulheres 40 Etnia Branca, parda ou negra Categórica ordinal Atividade física Autorrelato de prática regular de atividade física: Sim ou Não Categórica nominal Peso Medida padronizada do peso, em quilogramas (Kg) Quantitativa contínua Altura Medida padronizada da altura (m) Quantitativa contínua IMC Quociente do peso pela altura elevada à segunda potência, em quilogramas por metro quadrado (Kg/m2) Quantitativa contínua CC Medida padronizada da circunferência de cintura (cm) Quantitativa contínua CQ Medida padronizada da circunferência de quadril (cm) Quantitativa contínua RCQ Relação Cintura - Quadril: Circunferência de cintura (cm) dividido pelo quadril (cm) Quantitativa contínua RCA Relação Cintura – Altura: Circunferência de cintura (cm) dividido pela altura (cm) Quantitativa contínua IC Índice de conicidade Quantitativa contínua BAI Índice de Adiposidade Corporal Quantitativa Contínua VAI Índice de Adiposidade Visceral Quantitativa contínua LAP Produto de Acumulação Lipídica Quantitativa contínua 41 Tabela 02: Lista das variáveis dependentes Nome Descrição Tipo Baixa Massa Muscular Déficit de massa muscular esquelética. Categorizada: SIM ou NÃO Categórica Nominal Força de preensão manual Medida com dinamômetro portátil, em quilogramas-força (Kgf) Quantitativa contínua Velocidade da marcha Avaliada em metros por segundo após caminhada em percurso de 4 metros Quantitativa contínua Teste de levantar- sentar Tempo despendido para realizar atividade de levantar e sentar em umacadeira por 5 vezes consecutivas Quantitativa contínua SPPB Short Physical Performance Battery – Bateria de testes que avalia o desempenho físico funcional de membros inferiores. Quantitativa contínua 4.7 Instrumentos e Procedimentos Inicialmente, foi realizado um treinamento com todos os avaliadores a respeito dos protocolos de avaliação. As mulheres que se interessaram em participar foram avaliadas quanto aos critérios de elegibilidade do estudo em dia e horário previamente agendados. As mulheres incluídas no estudo foram convidadas a ler e assinar o TCLE. Por fim, a avaliação se deu por meio de um questionário estruturado, seguindo os procedimentos descritos abaixo. 42 4.7.1 Características sociodemográficas e socioeconômicas Para os dados sociodemográficos, foram coletadas informações sobre idade, escolaridade, união estável, etnia e renda familiar mensal, por meio do autorrelato das voluntárias. A idade foi considerada em anos. A escolaridade em: até o ensino fundamental (até sete anos de estudo), entre fundamental e médio (mais do que sete e menos do que onze anos de estudo) ou médio completo ou mais (onze anos ou mais de estudo) (CÂMARA et al., 2015a). A etnia e a união estável foram autorrelatadas pela participante como: branca, parda ou negra; e possuindo ou não união estável, respectivamente (MOREIRA et al., 2016). O único dado socioeconômico coletado foi a renda familiar mensal. Foi coletada em valor bruto e, posteriormente, categorizada em salário mínimo (SM). A renda familiar foi dicotomizada em: menor que três SM e três SM ou mais. No período da coleta em Parnamirim (2013), o SM estava fixado em um valor de R$ 678,00. No período da coleta em Santa Cruz (2016), o valor era de R$ 880,00. As categorias para renda familiar se deram na tentativa de separar aquelas mulheres que possuíam renda insuficiente para atender as necessidades de uma família das demais. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos (DIEESE) o valor do salário mínimo na época da entrevista deveria ser pelo menos quatro vezes maior para poder atender as necessidades básicas de uma família no Brasil em relação à alimentação, moradia, higiene e transporte (DIEESE, 2017). 43 4.7.2 Prática Regular de Atividade Física Os dados referentes à prática regular de atividade física foram coletados a partir do autorrelato das participantes. Foi considerada prática regular quando a atividade física era realizada por pelo menos 30 minutos, três vezes por semana (CÂMARA et al., 2015b) 4.7.3 Dosagem Bioquímica As mulheres foram orientadas a comparecer ao Hospital Maternidade Divino Amor, no caso das mulheres residentes em Parnamirim/RN e ao Hospital Universitário Ana Bezerra para as mulheres residentes em Santa Cruz/RN, em dia e horário previamente agendados, após jejum de 12 horas, sendo as amostras de sangue coletadas por técnicos de enfermagem capacitados. A dosagem dos parâmetros bioquímicos, triglicerídeos (TG) e Lipoproteínas de Alta Densidade (HDL), foi realizada por técnicos de laboratórios especializados a partir das amostras coletadas. Os resultados foram analisados por meio do método enzimático calorimétrico 4.7.4 Medidas de Composição corporal Diversos índices antropométricos vêm sendo descritos e utilizados na literatura para estimar a gordura corporal ou central. Os mesmos podem englobar fórmulas utilizando apenas medidas como peso, altura, circunferência 44 de cintura e de quadril, outros podem utilizar além dessas medidas, resultados referentes a exames sanguíneos. Para a medida de peso, foi utilizada uma balança digital da marca Wiso®, W903 e a altura foi medida por meio de um estadiômetro, da marca Welmy®. Para medidas de circunferência de cintura e quadril, ambas dadas em centímetros, foi utilizado uma fita métrica "fiber glass", com divisões de um milímetro. Ademais, resultados dos exames de TG e HDL colesterol foram utilizados para calcular alguns dos índices antropométricos descritos abaixo. ● Índices antropométricos de adiposidade Índice de Massa Corporal (IMC) O IMC (Kg/m²) é a medida de avaliação de adiposidade corporal mais conhecida e utilizada. Seu cálculo é obtido a partir do quociente entre a medida de altura (metros) e peso (kilogramas), sendo utilizada para classificar baixo peso, sobrepeso e obesidade em adultos (WHO, 2010). Circunferência de Cintura (CC), Circunferência de Quadril (CQ), Relação Cintura Quadril (RCQ) e Relação Cintura Altura (RCA) Todas essas medidas se caracterizam como índices antropométricos de adiposidade central, sendo considerados índices simples e convenientes para estudos epidemiológicos (CHEN et al., 2016). A CC foi mensurada no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela e a CQ mensurada na área mais proeminente das nádegas, ambas dada em centímetros (SILVA et al., 2018). 45 Para o cálculo do RCQ o valor da medida da CC (cm) foi dividido pelo valor da CQ (cm) e para o cálculo do RCA, o valor da CC foi dividido pela altura (cm) (JABLONOWSKA-LIETZ et al., 2017; SILVA et al., 2018; ZHOU et al., 2018). Índice de Conicidade (IC) Determinado com base na medida de massa corporal, altura e circunferência abdominal, o IC representa um indicador de obesidade abdominal, sendo considerado um índice de adiposidade central (NETA et al., 2017). Esse índice é calculado a partir da equação (IC = CC (m) / [0,109 x √ {peso (kg) / Altura (m)}, onde 0,109 é uma constante que resulta da conversão de unidades de volume e massa em unidades de comprimento (ABULMEATY et al., 2017). Índice de Adiposidade Corporal (Body Adiposity Index-BAI) O BAI se caracteriza como um preditor de adiposidade corporal, uma vez que apresenta alta correlação com a medida de gordura corporal em adultos pelo DEXA. Esse índice se apresenta como uma alternativa ao IMC para estimar a porcentagem de gordura corporal, sendo calculado a partir da fórmula BAI: (CQ (cm) / ALTURA (m)1,5) -18 (BERGMAN et al., 2012; JABŁONOWSKA-LIETZ et al., 2017) . Índice de Adiposidade Visceral (VAI) e Produto de Acumulação Lipídica (LAP) Esses índices foram propostos como medidas indiretas de tecido adiposo central e que foram correlacionados a um maior risco cardiometabólico, doenças cardiovasculares e mortalidade (VOGEL et al., 2016). 46 Para o cálculo desses índices, foram utilizados parâmetros bioquímicos, além de medidas antropométricas (GUO et al., 2016). Os mesmos foram calculados de acordo com estudos prévios encontrados na literatura para mulheres (AMATO et al., 2010; DAI et al., 2016; ZHANG et al., 2017; ZHOU et al., 2018). VAI: [CC (cm) / 36,58 + (1,89 × IMC)] × (TG / 0,81) × (1,52 / HDL) LAP: (CC (cm) – 58) x TG Tanto o TG como HDL são expressos em mmol/l (milimol por litro) (ZHOU et al., 2018). 4.7.5 Baixa Massa Muscular A massa muscular esquelética foi calculada por meio da técnica de análise de bioimpedância elétrica, por um analisador portátil de massa corporal InBody R20, por meio de equações de predição do fabricante (RECH et al., 2010). Essa medida foi realizada por um avaliador cego. As mulheres foram orientadas a se posicionarem sobre os eletrodos para os pés, na superfície da balança digital do aparelho, e instruídas a segurar os demais eletrodos que são acoplados a uma barra. Durante o teste, a voluntária foi orientada a permanecer na mesma postura (ereta), sem movimentos excessivos e a não falar. O teste tem duração de 40 segundos a um minuto (DEMURA et al, 2004). A voluntária foi instruída a vestir roupas leves, não se alimentar ou realizar exercícios físicos até duas horas antes do teste, e também 47 foi orientada a ir ao banheiro esvaziar a bexiga urinária antes do procedimento (CÂMARA et al, 2015a). A bioimpedânciaapresenta resultados da massa muscular de cada membro do indivíduo e se apresenta como uma alternativa confiável pois se correlaciona bem com as predições feitas por meio de Ressonância Nuclear Magnética (CRUZ-JENTOFT et al., 2010) e com o DEXA (RECH et al., 2010). A medida de massa muscular esquelética utilizada foi o somatório da massa dos quatro membros (ASM – Appendicular Skeletal Muscle Mass) ajustada pela altura (ASM/altura² - kg/m²) (BAUMGARTNER et al., 1998). Para definir o ponto de corte para baixa massa muscular foi utilizado o percentil 20 da amostra (CRUZ-JENTOFT et al., 2010). 4.7.6 Desempenho físico Força de Preensão Palmar A força muscular foi avaliada pela força de preensão palmar, medida com dinamômetro manual hidráulico do tipo JAMAR (Sahen®), registrada em quilogramas-força (Kgf). A medida de preensão palmar foi obtida na mão dominante, sendo a participante posicionada sentada com o ombro totalmente aduzido, em rotação neutra e com o cotovelo fletido a 90º com o antebraço e punho em posições neutras (FESS, 1992; ROBERTS et al., 2011). Foram solicitadas contrações sustentadas de 5 segundos, com intervalo de 1 minuto entre as medições, sendo considerada a média aritmética de três medidas consecutivas (CÂMARA et al., 2015a). 48 Short Physical Performance Battery (SPPB) Para avaliação do desempenho físico foi utilizado o Short Physical Performance Battery (SPPB). Esse instrumento consiste de uma avaliação objetiva, padronizada e multidimensional, muito utilizado para avaliar o desempenho funcional. Foi utilizada a versão validada e adaptada para língua portuguesa, composta por três subtarefas: equilíbrio em pé, velocidade da marcha e força de membros inferiores (GURALNIK et al., 1994; NAKANO, 2007). Para o teste de equilíbrio em pé, foi solicitado às participantes que permanecessem em três posições progressivamente mais difíceis por 10 segundos cada: na posição com os pés juntos, posição semi-tandem e posição tandem. A velocidade da marcha foi avaliada em passo habitual por quatro metros, no qual o menor tempo de duas tentativas foi registrado. A distância de 4m foi dividida pelo menor tempo em segundos, obtendo a velocidade da marcha em m/s. E por último, para analisar a força de membros inferiores foi realizado o teste de sentar e levantar de uma cadeira, cinco vezes em sua velocidade máxima. O escore total do SPPB é alcançado pela soma das três subdivisões. Cada subtarefa apresenta 5 níveis (de 0 a 4), podendo a participante pontuar até 4 pontos. Desse modo, o valor total do teste pode variar de 0 (pior desempenho) a 12 (melhor desempenho) (BUFORD et al., 2012; MORENO et al., 2016). No presente estudo, foram utilizados o escore total do SPPB e os valores individuais de velocidade da marcha e do teste de sentar e levantar. 49 4.8 Análise Estatística Para os resultados deste estudo, os dados foram analisados utilizando o software Statistical Package for the Social Science – SPSS, versão 20.0 (SPSS, Chicago, IL, USA). A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Foi utilizada a estatística descritiva por meio das medidas de tendência central (média aritmética) e de dispersão (desvio padrão) para variáveis quantitativas e frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas. Em todos os testes foi utilizado um nível de significância ou p valor < 0,05 e intervalos de confiança de 95%. No primeiro artigo, foi utilizado o teste t de Student para comparar as médias entre os índices antropométricos de adiposidade e a baixa massa muscular. A capacidade discriminatória desses índices para a baixa massa muscular foi avaliada pela área abaixo da curva receiver operator characteristics (Curva ROC). A sensibilidade e a especificidade foram calculadas para o estabelecimento dos pontos de corte dessas medidas. Em seguida, o teste de qui-quadrado foi realizado para verificar se os pontos de corte estabelecidos apresentavam associação com presença de baixa massa muscular. Por fim, análises de regressão logística foram realizadas para verificar o efeito dos índices antropométricos na variável dependente, ajustadas para as covariáveis que apresentaram associações com p <0,20 na análise bivariada. Para o segundo artigo, a correlação de Pearson foi realizada para demonstrar a relação inicial entre os índices antropométricos e as variáveis de desempenho físico. No intuito de avaliar a relação entre o conjunto de índices 50 antropométricos de adiposidade e o conjunto de variáveis que compõe o desempenho físico, utilizou-se a análise de correlação canônica. Esta técnica permite a análise das inter-relações entre grupos de variáveis dependentes e independentes, com o objetivo de determinar combinações lineares entre os grupos de forma a maximizar a correlação (BASNIAK; CHAVES NETO, 2010). O grupo de variáveis dependentes foi formado pelas variáveis de desempenho físico: força de preensão palmar, velocidade de marcha, teste de sentar e levantar e escore do SPPB. O grupo de variáveis independentes foi composta pelos índices antropométricos de adiposidade: VAI, BAI, IMC, RCQ e IC. Para seleção das funções canônicas apresentadas foi estabelecido o critério de significância estatística da função em p < 0,05. Em termos de resultados consideramos a função com maior poder explicativo, no caso a maior variância explicada. O valor de carga canônica que define as variáveis a serem analisadas dentro da função foi estabelecido a priori como ± 0,40 (MIGLIOLI et al., 2015). 51 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 52 Os resultados analisados neste estudo estão sob a forma de dois artigos científicos produzidos com os dados coletados. Artigo 01: “PONTOS DE CORTE DE ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS DE ADIPOSIDADE PARA IDENTIFICAR BAIXA MASSA MUSCULAR EM MULHERES DE MEIA-IDADE E IDOSAS.” O artigo será traduzido e submetido ao periódico Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle (Fator de impacto: 12.511). Artigo 02: “EXPLORANDO AS RELAÇÕES ENTRE ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS DE ADIPOSIDADE E DESEMPENHO FÍSICO DE MULHERES: UMA ANÁLISE DE CORRELAÇÃO CANÔNICA.” O artigo será traduzido e submetido ao periódico Journal of of Aging and Health (Fator de impacto: 2.007). 53 ARTIGO 01: PONTOS DE CORTE DE ÍNDICES ANTROPOMÉTRICOS DE ADIPOSIDADE PARA IDENTIFICAR BAIXA MASSA MUSCULAR EM MULHERES DE MEIA-IDADE E IDOSAS RESUMO Introdução: Nas mulheres, com a queda dos hormônios sexuais femininos, observa-se alterações nas propriedades contráteis dos músculos além de infiltração de gordura no tecido muscular, com consequente declínio na força. Essas alterações relacionam-se a maiores níveis de comprometimento funcional e incapacidade física. Nesta perspectiva, diversos índices antropométricos vêm sendo utilizados para quantificar a gordura corporal e visceral. Objetivo: Criar pontos de corte dos índices antropométricos de adiposidade para identificar a baixa massa muscular, bem como analisar a relação entre esses índices e baixa massa muscular em mulheres de meia-idade e idosas. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, o qual a amostra de 593 mulheres foi formada por conveniência e composta por mulheres entre 40 – 80 anos de idade, dos municípios de Parnamirim e Santa Cruz/RN. Foi realizada avaliação antropométrica, bioimpedância, dosagem bioquímica, além da coleta de dados sociodemográficos e da prática de atividade física. Foram realizadas estatísticas descritivas, teste t de Student, Curvas ROC, qui-quadrado e regressão logística (IC de 95% e p valor <0,05). Resultados: A partir da sensibilidade e especificidade dos índices antropométricosde adiposidade foram desenvolvidos pontos de corte capazes de identificar a presença de baixa massa muscular 54 (p<0,05), com exceção apenas para índice de adiposidade visceral (VAI). Após a regressão logística, o índice de adiposidade corporal (BAI), circunferência de cintura (CC), relação cintura-quadril (RCQ), relação cintura-altura (RCA) apresentaram associação com a baixa massa muscular (OR: 6,2; 1,8; 5,0 e 14,5 respectivamente). Conclusão: Os pontos de corte dos índices antropométricos de adiposidade definidos pelo presente estudo foram relacionados a baixa massa muscular, evidenciando que os mesmos podem se tornar estratégias efetivas e de baixo custo para avaliar e gerenciar desfechos em saúde. Palavras-chaves: envelhecimento, composição corporal, adiposidade, sistema musculoesquelético. 55 ARTICLE 01: CUT-OFF POINTS OF ADIPOSITY ANTHROPOMETRIC INDICES FOR LOW MUSCLE MASS SCREENING IN MIDDLE AGED AND ELDERLY WOMEN ABSTRACT Background: The reduction of female sex hormones causes changes in the contractile properties of muscles as well as infiltration of fat in the muscle tissue. This results in a consequent decline in strength. These changes are related to higher levels of functional impairment and physical disability. Thus, several anthropometric indices have been used to quantify body and visceral fat. Objective: to create cut-off points for adiposity anthropometric indices in order to identify low muscle mass, as well as to analyze the relationship between these indices and the low muscle mass in middle-aged and elderly women. Methods: This is a cross-sectional analytical study composed of 593 women between 40 - 80 years old, from the municipalities of Parnamirim and Santa Cruz/RN. Data collection included anthropometric assessment, bioimpedance test and biochemical dosage. In addition, sociodemographic data and practice of physical activity was collected. Descriptive statistics, Student's t-test, ROC curves, chi-square and logistic regression (95% CI and p value <0.05) were performed. Results: Based on sensitivity and specifity of adiposity anthropometric indices, cut-off points were developed to identify the presence of low muscle mass (p <0.05), except for the visceral adiposity index (VAI). After logistic regression, body fat index (BAI), waist circumference (WC), waist-hip ratio (WHR), waist-height ratio (RCA) were associated with low muscle mass (OR: 6.2; 56 1, 8, 5.0 and 14.5 respectively). Conclusion: The study defined cut-off points for adiposity anthropometric indices, highlighting that they can become effective and cost-effective strategies for assessing and managing health outcomes. Keywords: aging, body composition, adiposity, musculoskeletal system. 57 INTRODUÇÃO O envelhecimento feminino caracteriza-se principalmente por uma diminuição dos níveis de hormônios sexuais, que culmina na menopausa e ocasiona importantes mudanças na composição corporal e no sistema musculoesquelético (MALTAIS; DESROCHES; DIONNE, 2009; MESSIER et al., 2011). Entre as principais mudanças biológicas estão o declínio da massa muscular esquelética e massa óssea, além do aumento da massa gorda (KIM et al., 2017; MALTAIS; DESROCHES; DIONNE, 2009; MOREIRA et al., 2016; SOWERS et al., 2007). Nas mulheres, a partir da meia-idade, é comum uma aceleração da perda de massa e força muscular, o que não é observada para os homens na mesma proporção (CÂMARA et al., 2015a; FRONTERA, 2017; MESSIER et al., 2011), apontando forte correlação entre massa muscular esquelética e os níveis de estradiol (RONKAINEN et al., 2009; ZANANDREA et al., 2014). Ocorrem ainda alterações nas propriedades contráteis dos músculos e infiltração de gordura no tecido, com consequente declínio na força muscular (FRONTERA, 2017; MESSIER et al., 2011; NARICI; MAFFULLI, 2010; SOWERS et al., 2007). Em relação à massa gorda, sabe-se que seu excesso no organismo, conhecido como adiposidade, é um fator de risco bem estabelecido para piores resultados em saúde, por ser um contribuinte ativo de alterações nos perfis metabólicos (HARTZ; HE; RIMM, 2012; SOWERS et al., 2007). Ademais, ocorre modificação no padrão de distribuição da gordura corporal, passando a se 58 depositar mais na região abdominal, colaborando com o ganho de peso característico da transição menopausal (DE MORAIS et al., 2017). Nesta perspectiva, diversos índices antropométricos vêm sendo utilizados para quantificar a gordura corporal e visceral (ABULMEATY et al., 2017; AMATO et al., 2011; BERGMAN et al., 2012; DAI et al., 2016; ZHANG et al., 2017; ZHOU et al., 2018). Essas medidas têm se mostrado eficazes na avaliação antropométrica em diversos estudos epidemiológicos por serem simples, seguras, de baixo custo e clinicamente úteis (SANADA et al., 2018), principalmente quando recursos mais sofisticados e onerosos não estão disponíveis (WHO, 1995). Entre os índices antropométricos mais comumente conhecidos, estão o índice de massa corporal (IMC), a circunferência de cintura (CC), relação cintura- quadril (RCQ) e a relação cintura-altura (RCA) (ANDRADE et al., 2016; CHEN et al., 2018; SILVA et al., 2018). Porém, outros índices como os que utilizam antropometria por meio de fórmulas também vêm sendo utilizados, destacando- se o índice de conicidade (IC) (adiposidade central) (ZHOU et al., 2018) e o índice de adiposidade corporal (BAI) (adiposidade corporal) (BERGMAN et al., 2012), o índice visceral de adiposidade (VAI) e o produto de acumulação lipídica (LAP), sendo ambos marcadores de adiposidade central (GUO et al., 2016). Todas essas alterações corporais que ocorrem com o envelhecimento feminino relacionam-se a maiores níveis de fragilidade, comprometimento funcional e incapacidade (ASADUROGLU et al., 2015), uma vez que a perda de massa e força muscular iniciam-se mais cedo nas mulheres, além do mais esse 59 grupo também parece estar sujeito a sarcopenia em idades mais precoces (CÂMARA et al., 2015a; NARICI; MAFFULLI, 2010). Está bem estabelecido que existem associações significativas entre baixa massa muscular, alterações na composição corporal e aumento da mortalidade (BROWN; HARHAY; HARHAY, 2016; FRONTERA, 2017; KANG et al., 2019; KELLEY; KELLEY, 2017; M, 2013; ROSHANRAVAN et al., 2017; WESTBURY et al., 2018). Entretanto, quanto aos índices antropométricos, pode-se observar que as pesquisas realizadas são pontuais, envolvendo um ou mais índices antropométricos e suas relações com risco cardiometabólico, doenças e funcionalidade (ABULMEATY et al., 2017; ANDRADE et al., 2016; CHEN et al., 2018; CÂMARA et al., 2015a; DAI et al., 2016). Neste sentido, existe na literatura uma lacuna de conhecimento sobre a relação direta dos índices antropométricos e a baixa massa muscular. Além disso, considerando que, as alterações de composição corporal na mulher se iniciam durante a meia-idade, período em que geralmente ocorre a menopausa, é fundamental explorar esses processos tanto durante o envelhecimento como em fases imediatamente anteriores ao seu início. Portanto, diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo criar pontos de corte que identifiquem a baixa massa muscular segundo os índices antropométricos utilizados, bem como analisar a relação entre esses índices e a presença de baixa massa muscular em mulheres de meia-idade e idosas. 60 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de um estudo transversal, observacional e analítico realizado em dois municípios, Parnamirim e Santa Cruz, localizados no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. População e Amostra Em Parnamirim, a coleta de dados foi realizada nas Unidades Básicas de Saúde e em Santa Cruz, a coleta foi realizadana Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA), sendo o período da coleta compreendido entre 2013 e 2017. A população do estudo foi composta por mulheres entre 40 – 80 anos de idade, residentes nos munícipios de Parnamirim e Santa Cruz. Para serem elegíveis para o estudo as participantes deveriam atender aos seguintes critérios de inclusão: não ter realizado ooforectomia bilateral ou histerectomia e não apresentar doenças neurológicas ou outras condições que pudessem comprometer qualquer etapa da avaliação dos dados. O projeto foi divulgado nas Unidades Básicas de Saúde dos municípios, sendo a amostra formada por conveniência. Foram coletadas 708 participantes, das quais 115 foram excluídas por não apresentarem todos os dados necessários relacionados aos exames bioquímicos, totalizando 593 mulheres. Aspectos Éticos 61 O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (nº 387.737). Todos as participantes receberam informações sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa no primeiro contato e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi realizado de acordo com as diretrizes estabelecidas na Declaração de Helsinque. Procedimentos As participantes foram avaliadas por fisioterapeutas treinados utilizando protocolos padronizados e as amostras de sangue coletadas por técnicos de enfermagem capacitados. O protocolo de avaliação incluiu avaliação antropométrica, bioimpedância elétrica para análise da massa muscular, dosagem bioquímica, além da coleta de dados sociodemográficos e sobre a prática de atividade física, conforme descrito a seguir. Índices Antropométricos de adiposidade • Índice de Massa Corporal (IMC) O IMC (kg/m2) foi calculado a partir da medida de altura (m) e peso (kg) (WHO, 2010). A medição de peso (kg) foi obtida por meio de uma balança digital Wiso®, modelo W903. A altura (m) foi registrada com uso de um estadiômetro Welmy®. 62 • Circunferência de Cintura (CC), Circunferência de Quadril (CQ), Relação Cintura-Quadril (RCQ) e Relação Cintura-Altura (RCA) Para medidas de circunferência de cintura (cm) e quadril (cm), foi utilizada uma fita métrica "fiber glass", com divisões de 1 mm. A CC foi mensurada no ponto médio entre a crista ilíaca e a última costela, e a CQ medida na área mais proeminente das nádegas (SILVA et al., 2018). Para o cálculo do RCQ, o valor da medida da circunferência de cintura foi dividido pelo valor da circunferência do quadril e para o cálculo do RCA, o valor da circunferência de cintura foi dividido pela altura (JABŁONOWSKA-LIETZ et al., 2017). No caso do RCA, a altura foi considerada em centímetros (ZHOU et al., 2018). • Índice de Conicidade (IC) O IC foi calculado usando a equação (IC = CC (m) / [0,109 x √ {peso (kg) / Altura (m)}, onde 0,109 é uma constante que resulta da conversão de unidades de volume e massa em unidades de comprimento (ABULMEATY et al., 2017). • Índice de Adiposidade Corporal (BAI), Índice de Adiposidade Visceral (VAI) e Produto de Acumulação Lipídica (LAP) As medidas foram calculadas de acordo com estudos prévios encontrados na literatura (AMATO et al., 2011; BERGMAN et al., 2012; DAI et al., 2016; ZHANG et al., 2017; ZHOU et al., 2018). As medidas de TG e HDL são expressas em mmol/l (milimol por litro) (ZHOU et al., 2018). 63 BAI: (CQ (cm) / ALTURA (m)1,5) -18 VAI: [CC (cm) / 36,58 + (1,89 × IMC)] × (TG / 0,81) × (1,52 / HDL) LAP: (CC (cm) – 58) x TG Baixa Massa Muscular A massa muscular esquelética foi calculada por meio técnica de análise de bioimpedância elétrica, com um analisador portátil de massa corporal InBody R20, por meio de equações de predição do fabricante (RECH et al., 2010). A bioimpedância apresenta resultados da massa muscular de cada membro do indivíduo. A medida de massa muscular esquelética utilizada foi o somatório da massa dos quatro membros ajustada pela altura (ASM/altura² - kg/m²) (BAUMGARTNER et al., 1998). O ponto de corte estabelecido no presente estudo foi calculado pelo percentil 20 da amostra (FIELDING et al, 2011), sendo de 5.97 kg/m². A avaliação da baixa massa muscular foi realizada por um avaliador cego. Dosagem Bioquímica As mulheres foram orientadas a comparecer ao Hospital Maternidade Divino Amor (Parnamirim/RN) ou Hospital Universitário Ana Bezerra (Santa Cruz/RN), de acordo com o município que residiam, em dia e horário previamente agendados, após jejum de 12 horas, onde foram coletadas amostras de sangue, por técnicos de enfermagem capacitados. A dosagem dos 64 parâmetros bioquímicos utilizados, triglicerídeos e lipoproteínas de alta densidade (HDL), foram analisados por meio do método enzimático calorimétrico por técnicos de laboratório especializados. Covariáveis Dados sociodemográficos como idade, união estável, escolaridade e renda familiar foram coletados por meio de questionário estruturado. A união estável foi categorizada em sim ou não. A educação foi categorizada em: menos de Educação Básica (até 7 anos), entre Educação Básica e Secundária (mais que 7 e menos que 11 anos) e Secundária ou mais (11 anos ou mais) e a renda familiar foi dicotomizada em receber menos de 3 salários mínimos (SM) ou 3 SM ou mais, de acordo com o salário mínimo brasileiro no momento da pesquisa (CÂMARA et al., 2015a). Além do mais, dados referentes à prática de atividade física também foram coletados por autorrelato. As participantes foram questionadas sobre a participação em esportes, exercícios ou outras atividades físicas, pelo menos três vezes por semana e por trinta minutos ou mais de cada vez, sendo caracterizado como sim ou não (CÂMARA et al., 2015b). Análise de Dados As análises foram realizadas pelo programa SPSS, versão 20.0 (SPSS, Chicago, IL, EUA). Inicialmente, as estatísticas descritivas das variáveis foram 65 apresentadas. O teste t de Student foi utilizado para comparar as médias entre os índices antropométricos e a baixa massa muscular. A capacidade discriminatória dos índices antropométricos na variável de desfecho baixa massa muscular foi avaliada pela área abaixo da curva receiver operator characteristics (Curva ROC). A sensibilidade e a especificidade foram então calculadas para o estabelecimento dos pontos de corte dos índices antropométricos. Em seguida, o teste de qui-quadrado foi realizado para verificar se os pontos de corte estabelecidos apresentavam associação com baixa massa muscular. Por fim, realizou-se análise de regressão logística para verificar o efeito dos índices antropométricos na baixa massa muscular, ajustadas para as covariáveis que apresentaram associações com p <0,20 na análise bivariada. Foi adotado um intervalo de confiança de 95% e um p valor de 0,05 para significância estatística dos dados. RESULTADOS A amostra foi composta por 593 mulheres, com média de idade de 53,11 (± 8,89) anos. A maior parte das mulheres estudou até o ensino fundamental (45,2%) e possuía renda familiar menor que 3 salários mínimos (71,0%). A prevalência de baixa massa muscular foi de 19,4 %. As demais características da amostra, incluindo as medidas de composição corporal, estão descritas na Tabela 01. 66 Tabela 01: Análise Descritiva (n=593). Parnamirim/Santa Cruz, 2019. TG: Triglicerídeos – HDL: Lipoproteínas de Alta Densidade - IMC: Índice de Massa Corporal – CC: Circunferência de Cintura – CQ: Circunferência de Quadril – RCQ: Relação Cintura-Quadril - RCA: Relação Cintura-Altura – IC: índice de conicidade - BAI: Índice de Adiposidade Corporal – VAI: Índice de Adiposidade Visceral – LAP: Índice de Acumulação Lipídica Variáveis n (%) Média (±DP) Idade (anos) 53,11 (8,89) União estável Sim 414 (69,8) Não 179 (30,2) Escolaridade Até EnsinoFundamental 268 (45,2) Entre Fundamental e Médio 224 (37,8) Ensino Médio ou mais 101 (17,0) Renda Familiar <3SM 421 (71,0) ≥3SM 172 (29,0) Atividade Física Sim 187 (31,5) Não 406 (68,5) TG 149,98 (72,02) HDL 49,22 (13,55) IMC (kg/m2) 28,49 (5,17) CC (cm) 95,35 (10,39) CQ (cm) 104,67 (9,13) RCQ 0,92 (0,05) RCA 0,63 (0,07) IC 1,33 (0,07) BAI 37,61 (5,46) VAI 7,48 (4,25) LAP 68,46 (38,04) Baixa Massa Muscular Sim 115 (19,4) Não 478 (80,6) 67 A diferença entre as médias dos índices antropométricos de acordo com a presença de baixa muscular está descrita na Tabela 02. Observou-se diferenças estatisticamente significativas para as variáveis analisadas, com exceção apenas para o VAI. Tabela 02: Comparação dos valores dos índices antropométricos de adiposidade segundo a presença ou ausência de baixa massa muscular. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. IMC: Índice de Massa Corporal – CC: Circunferência de Cintura – RCQ: Relação Cintura-Quadril - RCA: Relação Cintura-Altura – IC: índice de conicidade - BAI: Índice de Adiposidade Corporal – VAI: Índice de Adiposidade Visceral – LAP: Índice de Acumulação Lipídica Como forma de identificar possíveis pontos de corte que pudessem discriminar ter ou não baixa massa muscular, a Tabela 03 mostra as áreas sob a curva ROC, pontos de corte, sensibilidade e especificidade das variáveis de Variáveis Baixa Massa Muscular Sim (115) Não (478) p valor IMC (kg/m2) 31,82 (5,34) 28,31 (4,42) <0,001 CC (cm) 100,23 (10,69) 94,68 (10,11) <0,001 RCQ 0,93 (0,05) 0,90 (0,05) 0,001 RCA 0,68 (0,06) 0,61 (0,06) <0,001 IC 1,35 (0,07) 1,31 (0,06) <0,001 BAI 42,79 (5,04) 36,28 (4,36) <0,001 VAI 7,61 (6,32) 8,09 (7,86) 0,51 LAP 73,38 (37,7) 63,36 (37,7) 0,02 68 composição corporal em relação a baixa massa muscular. A única variável em que não foi possível identificar a presença de significância estatística para a curva ROC foi o VAI. Tabela 03: Área sob a curva ROC (IC 95%), ponto de corte, sensibilidade e especificidade dos índices antropométricos de adiposidade para identificação de baixa massa muscular. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. IMC: Índice de Massa Corporal – CC: Circunferência de Cintura – RCQ: Relação Cintura-Quadril - RCA: Relação Cintura-Altura – IC: índice de conicidade - BAI: Índice de Adiposidade Corporal – VAI: Índice de Adiposidade Visceral – LAP: Índice de Acumulação Lipídica De forma complementar, a Figura 01 mostra o comportamento das curvas ROC, onde se observa que o BAI foi a variável com a maior área sob a curva, enquanto que o VAI apresentou a menor área sob a curva. VARIÁVEIS Área sob Curva (IC 95%) Ponto de Corte Sensibilidade Especificidade p valor IMC 0,69 (0,63-0,75) 29,4 0,63 0,68 <0,001 CC 0,65 (0,59-0,70) 94,3 0,53 0,75 <0,001 RCQ 0,61 (0,54-0,67) 0,91 0,54 0,67 0,001 RCA 0,78 (0,73-0,83) 0,64 0,73 0,74 <0,001 IC 0,64 (0,46- 0,75) 1,34 0,68 0,58 <0,001 BAI 0,83 (0,79-0,88) 39,1 0,76 0,80 <0,001 VAI 0,50 (0,44-0,56) - - - 0,98 LAP 0,59 (0,54-0,65) 51,4 0,47 0,73 0,03 69 Figura 1 – Curvas ROC das medidas antropométricas para o rastreio de baixa massa muscular. IMC: Índice de Massa Corporal – CC: Circunferência de Cintura – RCQ: Relação Cintura-Quadril - RCA: Relação Cintura-Altura – IC: índice de conicidade - BAI: Índice de Adiposidade Corporal – VAI: Índice de Adiposidade Visceral – LAP: Índice de Acumulação Lipídica A Tabela 04 traz os resultados da regressão logística, que foi realizada a fim de analisar o poder preditivo das variáveis antropométricas juntamente com a idade, sobre a baixa massa muscular. Pode-se observar que após as análises de regressão, a CC, RCQ, RCA e BAI relacionaram-se a um maior risco de apresentar baixa massa muscular (6,2; 1,8; 5,0 e 14,5 respectivamente). 70 Tabela 04: Associação entre os índices antropométricos de adiposidade e baixa massa muscular segundo as covariáveis. Parnamirim/Santa Cruz, 2019. Variáveis OR Intervalo de Confiança (95%) p valor IDADE (Acima de 60 anos) 3,8 2,2 – 6,8 0,001 CC (Acima de 94,3) 6,2 1,4 - 28,1 0,001 RCQ (Acima de 0,91) 1,8 1,0 – 3,4 0,04 RCA (Acima de 0,64) 5,0 1,0 – 23,7 0,04 BAI (Acima de 39,1) 14,5 6,6 – 31,7 0,001 OR – odds ratio COVARIÁVEIS: união estável, escolaridade, renda familiar e atividade física. IMC: Índice de Massa Corporal – CC: Circunferência de Cintura – RCQ: Relação Cintura-Quadril - RCA: Relação Cintura-Altura – IC: índice de conicidade - BAI: Índice de Adiposidade Corporal – VAI: Índice de Adiposidade Visceral – LAP: Índice de Acumulação Lipídica DISCUSSÃO A partir dos achados do presente estudo, diferentes pontos de corte de índices antropométricos de adiposidade foram propostos para identificar baixa massa muscular em uma amostra de mulheres de meia-idade e idosas. Além disso, os pontos de corte estabelecidos foram associados a presença de baixa massa muscular após ajustes por variáveis de confundimento em análise de regressão logística. Nossos resultados demonstram que as mulheres com baixa massa muscular apresentaram maiores valores nos índices de adiposidade (IMC, BAI, 71 CC, RCQ, RCA, IC e LAP) quando comparadas as participantes com adequada massa muscular. Esses achados estão de acordo com a literatura vigente que vem apontando que obesidade não só está relacionada a desfechos metabólicos adversos (ASHWELL; GUNN; GIBSON, 2012; DUTRA et al., 2017; JIA et al., 2017; MORA-GARCÍA et al., 2014; RAPOSO; SEVERO; SANTOS, 2018; RIVERA-MANCÍA et al., 2018), mas também afeta negativamente a musculatura esquelética (BENAVIDES-RODRÍGUEZ et al., 2017; PASDAR et al., 2019). Todavia, há carência de estudos que tenham averiguado a relação entre massa muscular com distintos índices de adiposidade, o que dificulta a comparabilidade com nossos resultados, uma vez que os índices de adiposidade mais frequentes na literatura são o IMC e a medida de CC (ARSENAULT; DESPRÉS; BOEKHOLDT, 2017; DE ALMEIDA ROEDIGER et al., 2019; KANG et al., 2015; KLEIN et al., 2007). Nossos achados corroboram com o estudo de Dabak et al. (2019) que encontrou em mulheres obesas (IMC > 30 kg/m2) menores valores de massa muscular (DABAK et al., 2019). Além disso, no estudo The São Paulo Ageing & Health (SPAH) Study, idosas com baixa massa muscular também apresentaram maiores valores de IMC e em adição a isso, na análise multivariada a medida de adiposidade visceral foi um preditor importante (MACHADO et al., 2019). No entanto, no estudo de Abramowitz (2018) foi observado que as pessoas com baixa massa muscular apresentaram menor IMC – 22,4 kg/m² - do que pessoas com massa muscular preservada – 28,2 kg/m², porém quando o IMC foi categorizado, a prevalência de baixa massa muscular diminuiu acentuadamente com o aumento do IMC demonstrando que a massa muscular esquelética é um 72 importante mediador e modificador de efeito da relação do IMC com a mortalidade (ABRAMOWITZ et al., 2018). Em relação a CC, o estudo de Siervo et al. (2012) com mulheres a partir dos 18 anos reforça os nossos achados, demonstrando que independente do grupo etário (< 60 anos ou > 60 anos) a circunferência de cintura maior que 88 cm pode discriminar melhor mulheres com baixa massa muscular associada a alta adiposidade do que o IMC maior que 30 kg/m2 (SIERVO et al., 2012). Um estudo realizado em idosos obesos e com sobrepeso com síndrome metabólica, de ambos os sexos, encontrou uma relação direta entre CC e massa apendicular esquelética se opondo aos nossos achados que apontam mulheres com maior CC apresentando menores valores de massa magra (MESINOVIC et al., 2019). No entanto, os mesmos indivíduos com maiores valores de CC também apresentaram uma pior qualidade muscular nos testes de desempenho físico, sugerindo talvez que o índice de adiposidade visceral,
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