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Juliana Silva | Nefrologia | 1 Distúrbios do Potássio Os distúrbios do potássio são situações nas quais as concentrações séricas de K estão seriamente d iminuídas (h ipocalemia) ou aumentadas (hipercalemia), interferindo na capacidade de polarização celular, especialmente das células musculares. São comuns no meio hospitalar, principalmente entre pacientes graves e que necessitam de cuidado intensivo. Cerca de 21% dos pacientes hospitalizados apresentam algum grau de hipocalemia enquanto 10% cursam com hipercalemia. Fisiologia do Potássio O potássio é um íon predominantemente intracelular e o sódio um íon extra celular. Apresenta alta concentração intracelular em relação à sérica. Isso é devido a ação ativa da bomba de Na K (cria um gradiente responsável pela excitação nervosa e muscular). Está principalmente no músculo estriado esquelético. ▹ Alterações, mesmo que discretas, podem causar alterações na contratilidade do músculo liso, esquelético e cardíaco. ▹ Alterações no potássio dão fadiga muscular — > tanto a hiperpotassemia e a hipopotassemia. No líquido extracelular se tem em torno de 65 mEq de potássio. A ingestão diária de potássio é cerca de 100 mEq/dia. >> Parte é excretada pela urina e pelas fezes (se tiver diarreias intensas pode perder grandes quantidades de K+, levando a uma hipocalemia) O rim excreta pelo menos 40 mEq/dia. Portanto, na vigência de IRA ou IRC essa perda urinária cai. Logo, a tendência é que o paciente com insuficiência renal tenha hipercalemia (excreta menos). Não pode dar potássio para pacientes que estão anúricos, pois ele fará uma hiperpotassemia Juliana Silva | Nefrologia | 2 No rim, temos a absorção do potássio realizado no túbulo intersticial proximal e outra menor na alça de Henle. Exemplos de distúrbios: ▻ Insulinoma: tumor produtor de insulina. O indivíduo vai ter hipopotassemia. ▻ Asma brônquica com uso de bombinha (drogas alfa bloqueadores): fazem com que entre mais potássio para dentro da célula ▻ Paciente que sofre esmagamento muscular (Lise muscular): o K+ sai todo do músculo e vai para o líquido extracelular, causando hiperpotassemia. ▻ Pós quimioterapia: necrose celular importante, também leva a uma saída de K+ do intracelular para o extracelular Hipocalemia Também chamada de hipopotassemia. É definida como a concentração sérica de potássio inferior a 3,5 mEq/L.. A redução sérica de 1 mEq/L traduz um déficit de 200-300 mEq do K corporal (em torno de 10% do potássio corporal). * o valor de referência de potássio no sangue é entre 3,5 mEq/L e 5,5 mEq/L. A perda de potássio pode ser de causa renal ou não renal. ▻ Potássio caiu: pensa-se que pode ser uma falsa hipocalemia (leucemia mieloide tem uma extrema leucocitose, dando uma falsa hipocalemia) ou potássio sérico diminuído (porque ingeriu pouco ou perdeu muito) Paralisia familiar periódica É uma doença autossômica recessiva, rara que leva a fraqueza muscular por súbito deslocamento do k para o espaço intra-celular. Uma forma adquirida se desenvolve em pacientes com hipertiroidismo sendo precipitada por estresse, exercício físico e ingesta de carboidratos. Nestes se descobriu recentemente uma mutação no canal de potássio nas células musculares levando ao menor vazamento do K para o extracelular -> A atividade desse canal é modulada pelo hormônio tireoidiano. Situação rara em que o K+ entra na célula e não consegue sair (geralmente é desencadeada por exercícios físicos + dieta rica em carboidrato). Esse paciente fica tetraplégico de uma hora para outra. A velocidade da queda ou subida do potássio é importante, principalmente quando se avalia arritmias (velocidade de decaimento) Juliana Silva | Nefrologia | 3 O potássio está presente em legumes e verduras: água de coco, banana, melão, etc (muito ingerido no Br). No cozimento dos legumes, o potássio sai e vai para a água. Portanto, tudo que é cozido tem menos potássio. Os distúrbios do apetite podem causar uma hipopotassemia. Além disso, a bulimia também pode, porque o vomito causa alcalose e gera hipopotassemia. Nem sempre o paciente conta que tem esses distúrbios. Depleção de Potássio Perdas gastrointestinais ◦ Diarréias agudas ou crônicas (aumento de 8 para 100 mmol/dia) ◦ Laxativos ◦ Vômitos: - Perda de ácidos (alcalose) - Ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona (hipovolemia) Perdas renais ◦ Diuréticos (furosemida, tiazídicos, osmóticos) ◦ Hiperaldosteronemismo - Tumor ou hiperplasia adrenal - Hipovolemia ◦ Acidose tubular renal tipo I e II ◦ Alterações genéticas (síndrome de Batter, Gilteman) ◦ Hipomagnesemia Síndrome de bATTER É caracterizada por hipocalemia com alcalose metabólica, hiperaldosteronismo, hiper-reninêmico com níveis tensionais diminuídos ou normais. Apresenta sensibilidade diminuída da AII, aumento da produção de PGE2, PGI e bradicinina.. Associa-se a nefrite perdedora de sal, cloro, potássio e dificuldade de concentração urinária. É um defeito genético que há mutações nos genes das proteínas transportadoras de sódio, cloro no ramo espesso da alça de henle. Tratamento deve conter reposição de potássio (4 a 6 mEq/kg/dia e diurético poupador de k (100 a 200/dia)). Causas de Hipocalemia ▻ Deficiência na ingestão de potássio ▻ Translocação do extra para o intracelular por tireotoxicose ou uso de medicações como insulina e beta 2-adrenérgicos. ▻ Perdas pelo TGI: perdas digestivas abaixo do piloro, como diarréia ▻ Perdas renais: hipoaldosteronismo, alcalose metabólica, hipomagnesemia Quadro clínico ▻ Geralmente assintomática ▻ Se sintomático: - Grau e rapidez de instalação ▻ Sintomas renais: - Diabetes insipidus, vacuolização do TP O tiazídico age na porção espessa da alça de Henle. Juliana Silva | Nefrologia | 4 ▻ Sintomas neuromusculares: - Fraqueza muscular, paralisia flácida e rabdomiólise ▻ Sintomas gastrointestinais: - Náusea - Íleo paralítico ▻ Sintomas cardiovasculares Alterações da hipocalemia no eletrocardiograma ▻ Maior amplitude da onda U; depressão do segmento ST ▻ Onda T achatada ▻ Prolongamento do complexo QRS; onda U superposta à onda T Diagnóstico ▻ História clínica ▻ Uso de drogas que diminuem o K ▻ Dosar: - Urina: Nau, Ku, creatinina u, uréia u, osmolaridade urinária - Sangue: uréia, creatinina, Na, K, Cl, Mg, gasometria venosa, renina e aldosterona séricas, osmolaridade sérica TSH e T4. - Na u < 20; fração de excreção de Na 1%; fração de excreção de ureia < 35% = HIPOVOLEMIA com ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona - Ku na urina de 24 hrs > 20 mEq/dia = PERDA RENAL - Ku na urina de 24 hrs < 20 mEq/dia = PERDA EXTRA RENAL Abordagem na Hipocalemia ▻ Retirar drogas que levem a hipocalemia ▻ Acrescentar uso de poupadores de potássio nos casos edematosos ▻ Repor volume nos casos que cursem com hipovolemia ▻ Nos casos com acidose corrigir primeiro o potássio depois a acidose Rota de administração: - A via oral é a prioridade e mais segura - Evitar a via endovenosa se K > de 3 mEq/L - KCL xarope a 6% = 12 mEq por cada 15 ml - KCL comprimido = 6 mEq por comprimido Via venosa: - Impossibilidade da via oral - Hipocalemia severa Juliana Silva | Nefrologia | 5 - Repercussão severa: arritmias cardíacas, tetraplegia, insuficiência respiratória, rabdomiólise - Solução de KCL 19,1% : 2,5 mEq KCL/mL - Concentração máxima em veia periférica = 40 mEq/L - Concentração máxima em veia central = 60 mEq/L - Velocidade ideal para reposição = 5 a 10 mEq/ hora - Velocidade máxima para reposição = 20 a 30 mEq/hora - Evitar uso de solução glicosada Desvio transcelular As catecolaminas incentivam a entrada do potássio para dentro da célula. Quando o paciente tem hiperpotassemia é dado uma solução hiperpolarizante, que joga o potássio para dentro da célula (o pool de K+ do paciente ficará igual, a diferença é que diminuiráo K+ extracelular e aumentará o intracelular. É bom quando o paciente está em risco cardíaco por hiperpotassemia, é uma medida rápida). E por que quer jogar o potássio dentro da célula? O mais lógico seria excretar o potássio na urina utilizando diuréticos. No entanto, em pacientes anuricos, usa-se mecanismos para jogar o potássio dentro da célula. As células principais sofrem ação da aldosterona, a qual faz com que haja uma reabsorção maior de sódio e excreção maior de potássio. Em situações com excesso de aldosterona ou do sistema renina-angiotensina, pode-se ter uma hipopotassemia. Em contrapartida, se tiver pacientes usando espironolactoma (tira o efeito da aldosterona), terá uma diminuição urinária de potássio e, portanto, pode-se ter uma hiperpotassemia. Hipercalemia Também chamada de Hiperpotassemia. É diagnostificada quando: K sérico > 5,5 mEq/L 10% dos pacientes hospitalizados apresentam esse distúrbio hidroeletrolítico. .É considerado grave, pois se associa às arritmias ventriculares e paradas cardiorrespiratórias. Pode ter uma mortalidade de 50% caso o tratamento não seja prontamente realizado. Causas de Hipercalemia ▻ Pseudohipercalemia ▻ Redistribuição - Acidoses: para cada queda de 0,1 no pH o K sobe 0,6 - Destruição celular: rabdomiólise, hemólise maciça, síndrome do esmagamento muscular, quimioterapia ◦ Furosemida: diurético de alça. Tem tendencia de fazer hipopotassemia. ◦ Carvedilol: beta-alfa bloqueador. É um tratamento clássico da ICC e da I coronariana. Juliana Silva | Nefrologia | 6 - Deficiência insulínica - Administração de betabloqueadores ▻ Retenção de K por drogas: - Espironolactona, IECA, BRA, AINH, Trimetoprim ▻ Retenção renal de K+ - LRA - DRC - Deficiência de aldosterona: doença de Addison, hipoaldosteronismo hiporreninêmico - Acidose tubular tipo IV Quadro clínico de Hipercalemia ▻ Quase assintomática/oligossintomatica ▻ K+ muito elevado para dar paralisia muscular ▻ Geralmente primeira manifestação com arritmia grave ▻ Leva a diminuição da negatividade da célula que vai levar um aumento do automatismo e diminuição da transmissão ou bloqueio e repolarização muscular (menos efluxo) ▻ Aumento do automatismo cardíaco e aparecimento de focos ectópicos ▻ Diminuição da velocidade de transmissão do estímulo com instalação de bloqueios ▻ Diminuição da condução cardíaca ▻ Retardo da transmissão neuromuscular Alterações da Hipercalemia no eletrocardiograma ▻ Repolarização celular dependente do efluxo de K está alterada ▻ Onda T no eletrocardiograma com grande amplitude, alargamento do QRS ▻ ONDA T apiculada (fica aumentada) ▻ Aplanamento da P ou perda (fica reta) ▻ Alargamento do QRS ▻ Ritmo sinusoidal Juliana Silva | Nefrologia | 7 Abordagem na hipercalemia ▻ Tratamento de urgência em qualquer paciente com alteração ECG e K > 6,5 ▻ Descobrir e retirar a causa da hipercalemia (geralmente multifatorial) ▻ Monitorização cardíaca: prudente se K > 6,5 ▻ Restrição de K oral: 60 mEq/dia Conduta Primeira coisa a se fazer quando o K+ está alto é fazer um ECG. Se não tiver alteração de ECG perguntar sobre a urina, quanto esse paciente está urinando e fornecer furosemida. * As medidas em vermelho são definitivas e em amarelo são medidas temporárias Juliana Silva | Nefrologia | 8 * Primeiro: gluconato de cálcio 10% -> o gluconato diminui o potencial de ação (diminui a cardiotoxicidade de K+, não abaixa o K+ sérico, apenas impede que o paciente tenha uma parada cardíaca). * Insulina regular * As medidas em amarelo tiram o paciente do risco de uma parada, mas não diminuem o pool de potássio -> primeiro as medidas em amarelo para tirar o paciente da urgência, depois medidas em vermelho para manutenção * Dieta hipopotassemia: deixar os legumes e frutas de molho para o potássio sair na água (comer legumes cozidos apenas). Drogas usadas para reduzir absorção intestinal de K fora da urgência ▻ SORCAL: resina troca cálcio por K no TGI ▻ VELTASSA: polímero que troca cálcio por K no TGI Juliana Silva | Nefrologia | 9 Depleção de Potássio Causas de Hipocalemia Quadro clínico Alterações da hipocalemia no eletrocardiograma Diagnóstico Abordagem na Hipocalemia Causas de Hipercalemia Quadro clínico de Hipercalemia Alterações da Hipercalemia no eletrocardiograma Abordagem na hipercalemia Conduta Drogas usadas para reduzir absorção intestinal de K fora da urgência
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