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GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 1 Gestão ambiental na construção civil GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 2 GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 1. Introdução Evolução histórica da problemática ambiental O avanço na tecnologia traz melhorias para a sociedade, de forma geral, e apesar de todos os benefícios, todo esse avanço tecnológico traz também efeitos negativos. De fato, a partir do século XVIII, na era da Revolução Industrial, o desenvolvimento tecnológico e o consequente aumento da produtividade provocaram uma melhora substancial na qualidade da vida material. Logo, a humanidade se deparou com as consequências do eventual dano em grande escala que as novas tecnologias poderiam causar ao meio ambiente. Foi um período em que se pôde observar a degradação ambiental sem precedentes, com o povoamento das cidades e a mecanização da produção agrícola. (BORGES E TACHIBANA, 2005) O primeiro alerta quanto à questão ambiental iniciou-se em 1962, com a publicação do livro Primavera Silenciosa, que traz a discussão sobre a utilização de pesticidas na agricultura. A partir dessa publicação, a visão sobre os impactos das atividades dos homens sobre o meio ambiente mudou, e o fato levou à proibição nacional do uso dos pesticidas DDT e outros. Nos Estados Unidos, foi criada a Environmental Protection Agency – EPA, agência americana de proteção ambiental. Em 1968, devido à quantidade de pessoas no mundo, políticas sobre controle populacional começaram a ser pensadas, após alerta exposto no livro Population Bob. Em 1972, foi organizada a I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, organizada pela Organização das Nações Unidas – ONU, realizada em Estocolmo. Neste evento, reconheceu-se a importância do gerenciamento ambiental e o uso da avaliação GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 3 ambiental como uma ferramenta de gestão e representou um grande passo para o desenvolvimento do conceito de desenvolvimento sustentável. Após a conferência de Estocolmo, as nações começaram a estruturar seus órgãos ambientais e estabelecer suas legislações. Poluir passou a ser considerado crime em diversos países. (BORGES E TACHIBANA, 2005; RUPPENTHAL, 2014) No início da década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais e criou a Comissão Mundial para o Desenvolvimento e Meio Ambiente (CMDM). O documento final dos estudos da CMDM foi intitulado Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, e propôs um ponto de partida na compreensão do vínculo entre desenvolvimento e meio ambiente, com o conceito de desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. (RUPPENTHAL, 2014) A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida também como Cúpula da Terra ou Rio 92, realizada na cidade do Rio de Janeiro, resultou em importantes documentos como a Carta da Terra (conhecida como Declaração do Rio) e a Agenda 21. Em 1997, no Japão, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, foi anunciado um tratado internacional chamado Protocolo de Kyoto, que estipulava metas para a redução de emissões de gases do efeito estufa. O foco nos debates sobre o meio ambiente na década de 1990 passou a ser a otimização do processo produtivo e a redução do impacto ambiental, além de difusão de tecnologias mais limpas e menos poluentes. Surgiu o conceito de ciclo de vida dos produtos, que busca torná-los ecologicamente corretos desde a fase de concepção até o descarte ou reaproveitamento. Foram criadas as normas britânicas BS 7750 – Specification for Environment Management Systems, que serviram de base para a elaboração de um sistema de normas ambientais em nível mundial, a série ISO 14.000. A integração entre a série ISO 14.000 e a série ISO 9.000, de gestão da qualidade, representaram um avanço em relação à conservação ambiental e ao desenvolvimento em bases sustentáveis. (RUPPENTHAL, 2014) GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 4 Em 2002, foi realizada pela ONU, na África do Sul, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+10. As questões envolviam não só a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável como as questões sociais envolvendo a superpopulação e a demanda por alimento e energia. Algumas nações não aceitaram as propostas na conferência, a saber: cancelar as dívidas das nações mais pobres e o uso de 10% de fontes energéticas renováveis tais como eólica, solar, geotérmica, biomassa, entre outras. Uma das metas era reduzir até 2015 os números de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, isto é, com menos de um dólar por dia. A Rio+20 teve como principal objetivo renovar e reafirmar a participação dos líderes dos países com relação ao desenvolvimento sustentável no planeta Terra. Teve dois temas principais: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. Um grupo de 40 megacidades fez um acordo para reduzir suas emissões de gases causadores de efeito estufa, numa quantidade comparável a toda a emissão anual do México. O setor empresarial participou de forma efetiva, reconhecendo o valor do capital natural e comprometendo-se a usar os recursos naturais de forma responsável. A mais recente resolução oficial da ONU ressaltando a necessidade do desenvolvimento sustentável foi intitulada O Futuro que Queremos, de 2012. Nesse documento, representantes de todo o mundo renovam o compromisso com o desenvolvimento sustentável para assegurar a promoção de um futuro econômico, social e ambientalmente sustentável para o planeta e para as gerações presentes e futuras. O reconhecimento da necessidade de promover o desenvolvimento sustentável integrando as questões econômicas, sociais e ambientais é a garantia de uma situação futura mais confortável. (RUPPENTHAL, 2014) Desenvolvimento sustentável Definição O termo desenvolvimento sustentável surge pela primeira vez em 1980, no documento Estratégia de Conservação Mundial: conservação dos recursos vivos para o desenvolvimento sustentável, publicado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), pelo Fundo Mundial para Vida Selvagem (WWF) e pelo Programa GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 5 das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O documento diz que “para ser sustentável, o desenvolvimento precisa levar em conta fatores sociais e ecológicos, assim como econômicos; as bases dos recursos vivos e não vivos; as vantagens de ações alternativas, a longo e a curto prazo”. Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento elabora um novo significado para o termo:“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. Em junho de 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, reconheceu-se a importância de assumir a ideia de sustentabilidade de forma global, envolvendo todas as esferas do desenvolvimento (CAMPOS, 2001). Princípios O desenvolvimento sustentável procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades. Isso significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais (SENAI, 2005; RUPPENTHAL, 2014). O conceito do desenvolvimento sustentável é: a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organizaçãosocial impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. O desenvolvimento sustentável requer o aperfeiçoamento dos sistemas: • Sistema político, com efetiva participação dos cidadãos no processo decisório, estimulando a atuação responsável; • Sistema econômico capaz de gerar excedentes e conhecimentos técnicos em bases confiáveis, possibilitando o desenvolvimento sem degradação;• Sistema social capaz de resolver as tensões causadas por um desenvolvimento desequilibrado e que estabeleça critérios para o crescimento populacional; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 6 • Sistema de produção que preserve a base da origem dos recursos naturais, com aproveitamento mais eficiente desses e dos resíduos gerados; • Sistema tecnológico que busque continuamente novas soluções voltadas para a ecoeficiência dos processos e dos produtos; • Sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento, gerando vantagens para a empresa; • Sistema administrativo flexível e capaz de se autoavaliar em um processo de melhoria contínua. A interligação dos sistemas cria um tripé que apoia o desenvolvimento sustentável, adotando medidas que envolvam o poder público, a iniciativa privada e a sociedade. Sistema de Gestão Ambiental Definição Segundo a NBR ISO 14.OO1 (2010), Sistema de Gestão Ambiental é a parte do sistema de gestão global que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implantar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental. Com isso, as empresas certificadas com a ISO 14.001 descobriram que gerenciamento de riscos, redução de custos, desempenho ambiental melhorado, economia de energia e imagem corporativa são alguns dos benefícios obtidos com a certificação. Objetivos do SGA O sistema de gestão ambiental é um conjunto de procedimentos que visa a ajudar a organização empresarial a entender, controlar e diminuir os impactos ambientais de suas atividades, produtos ou serviços. Está baseado no cumprimento da legislação ambiental vigente e na melhoria contínua do desempenho ambiental da organização. Possibilita às organizações uma melhor condição de gerenciamento para seus aspectos e impactos ambientais, além de interagir na mudança de atitudes e de cultura da organização. Pode também alavancar seus resultados financeiros, uma vez que atua na melhoria contínua de seus processos e serviços (NBR ISO 14001, 2010). GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 7 Vantagens de implantar e manter o SGA A busca da melhoria dos processos visa minimizar os impactos sobre o meio ambiente. A avaliação dos impactos também é um item fundamental para as empresas que buscam a certificação da série ISO 14.001 para seu sistema de gestão ambiental. O levantamento dos aspectos e impactos ambientais das atividades da empresa é uma etapa necessária para a melhoria dos processos, assim como para a certificação ambiental (NBR ISO 14.001, 2010). Aspecto ambiental é definido pela NBR ISO 14.001 como elemento das atividades, produtos e serviços de uma organização, que possam interagir com o meio ambiente. O aspecto pode estar relacionado a uma máquina ou equipamento, assim como a uma atividade executada por ela ou por alguém que produza ou apresente a possibilidade de produzir algum efeito sobre o meio ambiente. A NBR ISO 14.001 prioriza o levantamento dos aspectos ambientais significativos, já que os aspectos envolvidos em um processo são muitos. Aspecto ambiental significativo é aquele que tem um impacto ambiental significativo, e impacto ambiental é qualquer mudança no meio ambiente, tanto positiva quanto negativa, total ou parcial, resultado das atividades, produto ou serviços da organização (ABNT NBR ISO 14001:2004). Normas mundiais e a série ISO Algumas das normas que deram origem à série ISO 14.000: A Norma Britânica BS 7.750 A BS 7.750 - Specifications for Environmental Management Systems teve sua primeira edição publicada em março de 1992, entrando em vigor em janeiro de 1994. Trata-se de um marco importante para a gestão ambiental, pois é uma forte referência para quase todos os sistemas existentes. A norma foi encomendada pelo Environmental and Pollution Standard Policy Committee of British Standard Institution a um comitê técnico formado por 38 instituições inglesas representando os mais variados setores da economia, tais como a Associação de Consultores Ambientais, a Corporação Britânica de Carvão e a Real Academia de Química. Trata-se de uma especificação para o GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 8 desenvolvimento, implementação e manutenção de um sistema de gestão ambiental para assegurar e demonstrar conformidade com as declarações da empresa quanto à sua política, objetivos e metas relativos ao meio ambiente. Esta norma não estabelece uma exigência absoluta quanto ao desempenho ambiental. Exige, porém, atendimento às exigências legais locais e do comprometimento com a melhoria contínua. Estipula ainda que a organização formule políticas e objetivos que levem em conta as informações relativas aos efeitos ambientais significativos decorrentes de suas atividades. (CAMPOS, 2001) A norma europeia EMAS O Sistema Europeu de Ecogestão e Auditorias (EMAS: Eco-Management and Audit Scheme), estabelecido pelo regulamento da Comissão da Comunidade Europeia n° 1.836/93, definiu os critérios para certificações ambientais de processos industriais. A estes critérios foram incluídos posteriormente: um sistema de gestão e de auditoria; padrões de desempenho; verificações por terceiros; e declarações públicas após uma revisão ambiental inicial e conclusão de cada auditoria. O sistema entrou em operação a partir de 1995. O EMAS, basicamente, permite às empresas que desenvolvem atividades industriais nos países membros da Comunidade Europeia (CE) obter registros de suas fábricas junto a uma comissão da CE. Anualmente é publicada no jornal oficial da Comunidade Europeia uma lista de todas as instalações indústrias registradas. Tal registro pode ser considerado, portanto, um "certificado" de bom desempenho ambiental para quem o obtiver. (CAMPOS, 2001) A norma americana STEP Em 1990, a API (American Petroleum Institute), instituto fundado em 1919 pela indústria de petróleo americana, criou o STEP (Strategies for Today’s Environmental Partnership). O principal objetivo do STEP era desenvolver um guia para a indústria de petróleo americana que possibilitasse um aprimoramento de seu desempenho ambiental, de saúde e segurança. Desta forma, foi criado o American Petroleum Institute Environmental, Health and Safety Mission and Guiding Principles. Em linhas gerais, este documento tem como princípios: a prevenção da poluição, a conservação GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 9 dos recursos naturais, a relação de parceria e acordos com a comunidade, entre outros. Cabe salientar ainda que a maioria dos princípios (apresentados a seguir) tem estreita relação com os requisitos normativos e a filosofia da norma ISO 14.001. O conjunto de normas, conhecido como ISO 14.000, abrange cinco áreas: Sistemas de Gestão Ambiental, auditoria ambiental, avaliação de desempenho ambiental, avaliação do ciclo de vida e rotulagem ambiental. (CAMPOS, 2001) ISO 14.001 e ISO 14.004: uma visão geral Objetivo A série de normas ISO 14.000, lançada internacionalmente em 1996, tem como objetivo a criação de um sistema de gestão ambiental que auxilie as organizações a cumprir os compromissos assumidos com o ambiente natural. (CAMPOS, 2001) A ISO 14001, conhecida internacionalmente como Environmental Management Systems - Specification with guidance for use, no Brasil é conhecida como NBR ISO 14.001 -Sistemas de Gestão Ambiental- Especificação e diretrizes para uso. Esta é a única norma do conjunto ISO 14.000, até o momento, passível de certificação. Em linhas gerais, a Norma é aplicável a organizações que desejam (CAMPOS, 2001): a) Implementar e manter um sistema de gestão ambiental; b) Assegurar a conformidade com a sua política ambiental; c) Demonstrar sua conformidade a terceiros; d) Buscar certificação do seu sistema de gestão ambiental por terceiros; e) Fazer uma autodeterminação e declaração da sua conformidade com a Norma. Auditoria Ambiental Objetivo A auditoria ambiental surgiu nos Estados Unidos no final da década de 1970, com o objetivo principal de verificar o cumprimento da legislação. A atividade era vista pelas empresas norte-americanas como uma ferramenta de gerenciamento utilizada para identificar, de forma antecipada, os problemas gerados por suas operações, e GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 10 influenciou empresas em outros países como Holanda, Reino Unido, Noruega e Suécia. No entanto, a auditoria ambiental sobre base normatizada começou a ser discutida internacionalmente em 1991, com a criação do Strategic Advisory Group on Environment (Sega), no âmbito da ISO. A discussão amplia-se mundialmente em 1994, com a divulgação dos projetos de norma dentro da série ISO 14.000. Em 1996, tais projetos são alçados à categoria de normas internacionais, sendo adotadas pelos países participantes da ISO. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) apresentou, em dezembro de 1996, as NBR ISO 14.010, 14.011 e 14.012, relacionadas à auditoria ambiental. (SILVA et al. 2009) A auditoria ambiental é uma ferramenta imprescindível para a verificação e fiscalização das empresas e uma avaliação de seus sistemas de gestão. Deve ser independente, sistemática, periódica, documentada e objetiva e realizada por equipe multidisciplinar de auditores especializados nos campos contábil, financeiro, econômico e ambiental. A ISO 14.011 define auditoria ambiental da seguinte forma: “processo de verificação sistemático e documentado para obter e avaliar evidências de modo objetivo, que determina se o sistema de gestão ambiental de uma organização está conforme os critérios de auditoria de SGA estabelecidos pela organização e para comunicar os resultados desse processo à administração”. (SILVA et al. 2009) Segundo a norma ISO 14.001, para uma auditoria do Sistema de Gestão Ambiental, a organização deve estabelecer e manter programa(s) e procedimentos para auditorias periódicas do SGA a serem realizadas de forma a: determinar se o sistema de gestão ambiental está em conformidade com as disposições planejadas para a gestão ambiental, inclusive os requisitos desta norma, e se foi devidamente implantado e tem sido mantido; além de fornecer à administração informações sobre os resultados das auditorias. Os resultados da auditoria devem estar alinhados com o sistema de ações corretivas existente no SGA, baseado no conceito de melhoria contínua, promovendo melhorias no SGA e assegurando uma melhor utilização dos recursos disponíveis. A auditoria ambiental possui um caráter nitidamente preventivo e constitui um instrumento fundamental para o aperfeiçoamento do SGA das organizações. Segundo a ISO 14.001 (ABNT NBR ISO 14.001/2004), o processo de auditoria ambiental GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 11 compreende as seguintes etapas: a) planejamento da auditoria; b) preparação da auditoria ambiental; c) aplicação da auditoria ambiental no local; e d) elaboração do relatório de auditoria ambiental. (SILVA et al. 2009) Avaliação de desempenho ambiental (ADA) Objetivo O principal objetivo das metodologias de avaliação de desempenho é estabelecer o grau de evolução ou estagnação de seus processos. Para isso, tais metodologias normalmente definem indicadores de desempenho que devem estar alinhados às estratégias e objetivos da organização. Historicamente, os sistemas de avaliação de desempenho das empresas eram utilizados para avaliar o desempenho financeiro. A partir da década de 1990, começaram a surgir metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho preocupados também com outras questões como desempenho dos processos, qualidade, satisfação dos clientes, motivação dos funcionários, entre outras. A consideração da questão ambiental nos negócios gerou a necessidade para a medição do desempenho do sistema de gestão ambiental nas organizações. (CAMPOS, 2001) É necessário para avaliação de desempenho que seja feita a coleta, análise avaliação e comunicados de dados. Existem mecanismos de monitoramentos e medições operacionais, entrevistas, observações, relatórios, registros que podem ser utilizados para coleta de dados. Os dados podem ser financeiros, contábeis ou operacionais - auditorias e avaliações ambientais, estudos científicos, entre outros. Para uma ADA, deve-se elencar uma série de fatores que interagem entre si, permitindo uma rápida visualização do comportamento e impacto dos indicadores ambientais em um índice que representa o desempenho ambiental. De acordo com a ABNT NBR ISO 14.001/2004, o desempenho ambiental traduz os resultados mensuráveis da gestão de uma organização sobre seus aspectos ambientais. No contexto de sistemas da gestão ambiental, os resultados podem ser medidos com base na política ambiental, objetivos ambientais e metas ambientais da organização e outros requisitos de desempenho ambiental. (BORTOLIN et al, 2008) GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 12 Indicadores A necessidade de parâmetros relevantes e confiáveis para a medida do desempenho ambiental pode ser atendida com a norma NBR ISO 14.031/2004, que traz exemplos de indicadores de desempenho ambiental que podem ser utilizados para avaliar as organizações, permitindo confrontá-las com os critérios previamente estabelecidos em seu SGA. Em linhas gerais, recomenda-se o uso de indicadores do desempenho ambiental, baseados nas diretrizes semelhantes àquelas utilizadas para o uso de indicadores de outras áreas (BORTOLIN et al 2008): 1º A escolha dos indicadores deve fundamentar-se nos objetivos da avaliação; 2º Os requisitos legais e outras demandas da sociedade devem ser contemplados; 3º Os indicadores devem ser desdobrados a partir de aspectos ambientais significativos. Um conjunto fundamental de efeitos finais pode ser usado para definir prioridades para a ação de melhoria ambiental. Devem ser considerados os impactos e as condições ambientais em diferentes escalas: local, regional e global, tanto quanto possível. Deve ser bem definida a abrangência das atividades a serem mensuradas (linha de produção de um produto, unidade ou corporação). A tendência é optar por verificar todo o ciclo de vida do produto. Deve-se considerar também a capacidade de recursos financeiros, materiais e humanos para o desenvolvimento das medições. (BORTOLIN et al, 2008) A construção civil A indústria da construção civil ocupa posição de destaque na economia nacional, quando considerada a significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB) do país pela qual é responsável e também pelo contingente de pessoas que, direta ou indiretamente, emprega. Por outro lado, esta indústria é responsável por cerca de 50% do CO2 lançado na atmosfera e por quase metade da quantidade dos resíduos sólidos gerados no mundo. Estima-se que a construção civil é responsável por algo entre 20 e 50% do total de recursos naturais consumidos pela sociedade. O crescimento populacional, o desenvolvimento econômico e a utilização de tecnologias inadequadas GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 13 têm contribuído para que esta quantidade aumente cada vez mais (JOHN, 2000; PINTO, 2005). A principal ação efetivada em termos legais visando à mudança deste quadro foi à publicação da Resolução nº 307 do CONAMA - Conselho Nacionaldo Meio Ambiente. Em vigor desde janeiro de 2003, a referida Resolução estabelece obrigações para os geradores e para os municípios. Conforme segue: Para o gerador: - Não geração de resíduos; - A redução, a reutilização, a reciclagem; - A destinação final; - Implantar programas de gerenciamento de resíduos; - Estabelecer procedimentos para o manejo e destinação adequados. Para os municípios: - Programar a gestão dos resíduos da construção civil; - Elaborar o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. A criação e manutenção de parâmetros e procedimentos em obra para a gestão diferenciada dos resíduos são fundamentais para assegurar o descarte adequado. Estas ações, quando executadas amplamente por empresas do setor, promovem a minimização substancial dos impactos ambientais que a disposição inadequada dos resíduos gera e contribuem para evitar a necessidade de soluções emergenciais. (SENAI, 2005) Resíduos sólidos Os resíduos sólidos são resultados negativos da atividade humana, nos estados sólido ou semissólido, assim como gases contidos em recipientes e líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’agua, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviável em face da melhor tecnologia disponível. Essa é a definição pela Lei 12.305/2010. GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 14 Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) A Política Nacional dos Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se com a Política Federal do Saneamento Básico e com a Política Nacional da Educação Ambiental. Harmoniza-se também com a Lei de Consórcios e com as Políticas Nacionais de Recursos Hídricos, de Saúde, Urbana, Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior e as que promovam a inclusão social. A ordem de prioridade apresentada na PNRS é a não geração, a redução, a reutilização e o tratamento de resíduos sólidos, assim como a disposição final, ambientalmente adequada, dos rejeitos. Nesse contexto, as metas apresentadas são: redução do uso de recursos naturais nos processos produtivos, intensificação de ações de educação ambiental, aumento da reciclagem e promoção da inclusão social. Enfim, o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania (MACHADO, 2010). Entre os principais instrumentos instituídos pela PNRS estão os planos de resíduos sólidos, o inventário e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos, a coleta seletiva, o incentivo às cooperativas de catadores. Também o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária, a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado, para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão. (MACHADO, 2010) Consumo de Recursos Naturais O setor da construção civil, “além de ser um dos maiores da economia, produz os bens de maiores dimensões físicas do planeta, sendo consequentemente o maior consumidor de recursos naturais de qualquer economia” (JOHN, 2000). O consumo de recursos naturais na construção civil é variável de acordo com cada região, dependendo de fatores como: • Taxa de resíduos gerados; • Vida útil ou taxa de reposição das estruturas construídas; • Necessidades de manutenção, inclusive as que visam corrigir falhas construtivas; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 15 • Perdas incorporadas nos edifícios; • Tecnologia empregada. Resíduos da Construção Civil Os resíduos gerados, provenientes das perdas ocorridas durante o processo de construção ou de demolições, são responsáveis por aumentar ainda mais o impacto ambiental provocado por este setor. (PINTO, 2005) A excessiva geração de resíduos e seu descarte irregular, em grande parte das cidades brasileiras, causa a poluição do ambiente urbano. Como exemplo, pode-se citar a obstrução e contaminação dos leitos de rios e canais, o comprometimento do tráfego em vias públicas e a degradação da paisagem das cidades, além da poluição do ar com gás carbônico liberado pelos veículos, necessário para realizar o transporte dos resíduos. Estes podem ser provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil ou da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos, cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha. Na Resolução 307, são encontradas várias definições de termos relacionados à gestão de resíduos de construção, além de estabelecer uma classificação para estes, a saber: resíduos do tipo Classe A; Classe B; Classe C; e Classe D (detalhes da Resolução 307 no anexo). Alternativas para Redução do Impacto Ambiental Além dos impactos ambientais gerados pela atividade construtiva, soma-se a estes o impacto ambiental gerado durante o uso. Algumas soluções simples para reduzir estes impactos são citadas a seguir (SENAI, 2005 e PINTO, 2005): • Alteração em projeto visando à redução do consumo de recursos na fase de utilização. Exemplo: aproveitamento da iluminação e ventilação natural, promovendo uma redução no consumo de energia elétrica, principalmente nos edifícios comerciais; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 16 • Substituição de equipamentos e sistemas descartáveis por outros de maior durabilidade. Exemplo: substituição das escoras de madeira por metálicas, auxiliando na redução da extração de madeira; • Reciclagem dos resíduos gerados nas obras e uso de materiais reciclados. Exemplo 1: segregação de resíduos de plástico, papel e metal nas obras e encaminhamento para reciclagem. Exemplo 2: utilização de agregados reciclados em substituição aos agregados naturais, evitando a extração de novos recursos naturais e reduzindo o descarte dos resíduos; • Projeto do produto e planejamento dos sistemas de produção visando evitar perdas. Exemplo 1: planejamento da aquisição e do sistema de transporte e armazenamento dos materiais, evitando desperdícios por quebra ou perda das propriedades dos materiais. Exemplo 2: compatibilização de projetos e paginação da alvenaria, possibilitando o uso mais racional dos materiais, evitando quebra de blocos. Diretrizes para Gerenciamento de Resíduos da Construção (BRASIL, 2002) A Resolução 307 do CONAMA O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, preocupado com o aumento da disposição de resíduos de construção em locais inadequados, publicou em 5 de julho de 2002 uma resolução que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, além de disciplinar as ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais: a Resolução n°307. Esta resolução, que entrou em vigor em 02 de janeiro de 2003, define como resíduos da construção civil aqueles oriundos de atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de solos. GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 17 A reciclagem na cadeia produtiva da construção A reciclagem de resíduos da própria construção vem sendo praticada há milênios. Porém, o uso de resíduos de construção e demolição (RCD) só se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, principalmente na Alemanha, devido à enorme demanda por matéria-prima. Apesar de a Alemanha ter sido uma das precursoras, esta prática também é bastante difundida em toda comunidade europeia. Praticamente em todos os países-membros da comunidade europeia existem instalações de reciclagemde RCD, normas e políticas específicas para este tipo de resíduo, além de um esforço mais recente para a consolidação de normativa única para toda a comunidade. No Japão e nos Estados Unidos, esta prática também tem sido bastante difundida e utilizada. Já no Brasil, a reciclagem dos resíduos de construção e demolição é bastante recente. Alguns estudos foram realizados e paralelamente a estes, no início da década de 1980, difundiu-se o uso de “masseiras-moinho”, equipamento de pequeno porte que possibilita a moagem intensa de resíduos menos resistentes para reutilização. O resultado da sua utilização é bastante positivo, pois induz à segregação dos resíduos na obra, contribui para a minoração do impacto ambiental dos RCD nas áreas urbanas, reduz o consumo de agregados naturais, além de contribuir para a redução da emissão de poluentes. (SENAI, 2005) A possibilidade da reutilização de materiais ou mesmo a viabilidade econômica da reciclagem dos resíduos no canteiro, evitando sua remoção e destinação, deve ser um considerável ponto de atenção. O correto manejo dos resíduos no interior do canteiro permite a identificação de materiais reutilizáveis, que geram economia tanto por dispensarem a compra de novos materiais como por evitar sua identificação como resíduo e gerar custo de remoção. Em relação à reciclagem em canteiro dos resíduos de alvenaria, concreto e cerâmico, devem ser examinados os seguintes aspectos: i) Volume e fluxo estimado de geração; ii) Investimento e custos para a reciclagem (equipamento, mão-de-obra, consumo de energia etc.); iii) Tipos de equipamentos disponíveis no mercado e especificações; iv) Alocação de espaços para a reciclagem e formação de estoque de agregados; v) Possíveis aplicações para os agregados reciclados na obra; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 18 vi) Controle tecnológico sobre os agregados produzidos; vii) Custo dos agregados naturais; viii) Custo da remoção dos resíduos. A decisão por reciclar resíduos em canteiro somente poderá ser tomada após o exame cuidadoso dos aspectos acima relacionados, além de uma análise da viabilidade econômica e financeira. (PINTO, 2005) Normas Brasileiras para a Gestão de Resíduos (ABNT, 1996) A ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas é o órgão responsável pela normalização técnica no país. Sendo assim, é responsável pela criação das normas brasileiras sobre os mais diferentes temas. A partir da necessidade manifestada pela sociedade brasileira é criada uma Comissão de Estudo (CE), com a participação voluntária de diversos segmentos da sociedade, para discussão do tema e, por fim, o Projeto de Norma é aprovado e encaminhado à Gerência do Processo de Normalização da ABNT para homologação e publicação como Norma Brasileira. Ligado ao tema Gestão de Resíduos, existem cinco normas brasileiras, a saber: • NBR 15.112/2004 - Resíduos da Construção Civil e Resíduos Volumosos – Áreas de Transbordo e Triagem – Diretrizes para Projeto, Implantação e Operação; • NBR 15.113/2004 - Resíduos Sólidos da Construção Civil e Resíduos Inertes – Aterros – Diretrizes para Projeto, Implantação e Operação; • NBR 15.114/2004 - Resíduos Sólidos da Construção Civil – Áreas de Reciclagem – Diretrizes para Projeto, Implantação e Operação; • NBR 15.115/2004 - Agregados Reciclados de Resíduos Sólidos da Construção Civil – Execução de Camadas de Pavimentação – Procedimentos; • NBR 15.116/2004 - Agregados Reciclados de Resíduos Sólidos da Construção Civil – Utilização em Pavimentação e Preparo de Concreto sem Função Estrutural – Requisitos. GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 19 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. NBR ISO 14.001: Sistemas de gestão ambiental - Especificação e diretrizes para uso. Rio de Janeiro, 1996. BORGES, F. H.; TACHIBANA, W. K. A evolução da preocupação ambiental e seus reflexos no ambiente dos negócios: uma abordagem histórica. XXV Encontro Nac. de Engenharia de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out. a 1 de nov. de 2005. BORTOLIN, A. R. et al. Instrumentos de Avaliação de Desempenho Ambiental nas Empresas: Contribuições e Limitações, 2008. BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução Nº 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº 136, 17 de julho de 2002. Seção 1, p. 95-96. CAMPOS, L. M. SOUZA. SGADA - Sistema de Gestão e Avaliação de Desempenho Ambiental: Uma Proposta de Implementação. Tese de Doutorado. Santa Catarina, 2001. JOHN, V. M. Reciclagem de resíduos na construção civil: contribuição à metodologia de pesquisa e desenvolvimento. Tese (Livre Docência). São Paulo: USP, 2000. MACHADO, Gleysson B. Lei 12.305/2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <https://goo.gl/eb3MgN>. Acesso em 28 nov. 2017. PINTO, T. P. Gestão ambiental de resíduos da construção civil: a experiência do Sinduscon-SP. Sinduscon, 2005. GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 20 RUPPENTHAL, Janis Elisa. Gestão ambiental. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Técnico Industrial de Santa Maria; Rede e-Tec Brasil, 2014. 128 p. SENAI, 2005. Gestão de resíduos na construção civil. COMPETIR. SENAI. SEBRAE GTZ, 2005. SILVA, F. R. C. et al. Auditoria Ambiental como Instrumento Gerencial de Apoio à Preservação do Meio Ambiente. Sociedade, Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, jul./dez. 2009. GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 21 ANEXO Resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. (Publicação - Diário Oficial da União - 17/07/2002) O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso das competências que lhe foram conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de julho de 1990, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, Anexo à Portaria nº 326, de 15 de dezembro de 1994, e Considerando a política urbana de pleno desenvolvimento da função social da cidade e da propriedade urbana, conforme disposto na Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001; Considerando a necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil; Considerando que a disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade ambiental; Considerando que os resíduos da construção civil representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas; Considerando que os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis pelos resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de solos; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 22 Considerando a viabilidade técnica e econômica de produção e uso de materiais provenientes da reciclagem de resíduos da construção civil; e Considerando que a gestão integrada de resíduos da construção civil deverá proporcionar benefícios de ordem social, econômica e ambiental, resolve: Art. 1º - Estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais. Art. 2º - Para efeito desta Resolução, são adotadas as seguintes definições: I - Resíduos da construção civil: são os provenientesde construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha; II - Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos nesta Resolução; III - Transportadores: são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação; IV - Agregado reciclado: é o material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia; V - Gerenciamento de resíduos: é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 23 e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos; VI - Reutilização: é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo; VII - Reciclagem: é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação; VIII - Beneficiamento: é o ato de submeter um resíduo a operações e/ou processos que tenham por objetivo dotá-los de condições que permitam que sejam utilizados como matéria-prima ou produto; IX - Aterro de resíduos da construção civil: é a área onde serão empregadas técnicas de disposição de resíduos da construção civil Classe "A" no solo, visando a reservação de materiais segregados de forma a possibilitar seu uso futuro e/ou futura utilização da área, utilizando princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente; X - Áreas de destinação de resíduos: são áreas destinadas ao beneficiamento ou à disposição final de resíduos. Art. 3º - Os resíduos da construção civil deverão ser classificados, para efeito desta Resolução, da seguinte forma: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 24 c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e gesso; III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação; IV - Classe "D": são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. Art. 4º Os geradores deverão ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final. § 1º Os resíduos da construção civil não poderão ser dispostos em aterros de resíduos domiciliares, em áreas de "bota fora", em encostas, corpos d`água, lotes vagos e em áreas protegidas por Lei, obedecidos os prazos definidos no art. 13 desta Resolução. § 2º Os resíduos deverão ser destinados de acordo com o disposto no art. 10 desta Resolução. Art. 5º - É instrumento para a implementação da gestão dos resíduos da construção civil o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, a ser elaborado pelos Municípios e pelo Distrito Federal, o qual deverá incorporar: I - Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil; e GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 25 II - Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Art. 6º - Deverão constar do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil: I - as diretrizes técnicas e procedimentos para o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e para os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil a serem elaborados pelos grandes geradores, possibilitando o exercício das responsabilidades de todos os geradores. II - o cadastramento de áreas, públicas ou privadas, aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporário de pequenos volumes, em conformidade com o porte da área urbana municipal, possibilitando a destinação posterior dos resíduos oriundos de pequenos geradores às áreas de beneficiamento; III - o estabelecimento de processos de licenciamento para as áreas de beneficiamento e de disposição final de resíduos; IV - a proibição da disposição dos resíduos de construção em áreas não licenciadas; V - o incentivo à reinserção dos resíduos reutilizáveis ou reciclados no ciclo produtivo; VI - a definição de critérios para o cadastramento de transportadores; VII - as ações de orientação, de fiscalização e de controle dos agentes envolvidos; VIII - as ações educativas visando reduzir a geração de resíduos e possibilitar a sua segregação. Art. 7º - O Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil será elaborado, implementado e coordenado pelos municípios e pelo Distrito Federal, e deverá estabelecer diretrizes técnicas e procedimentos para o exercício das GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 26 responsabilidades dos pequenos geradores, em conformidade com os critérios técnicos do sistema de limpeza urbana local. Art. 8º - Os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil serão elaborados e implementados pelos geradores não enquadrados no artigo anterior e terão como objetivo estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e destinação ambientalmente adequados dos resíduos. § 1º - O Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, de empreendimentos e atividades não enquadrados na legislação como objeto de licenciamento ambiental, deverá ser apresentado juntamente com o projeto do empreendimento para análise pelo órgão competente do poder público municipal, em conformidade com o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. § 2º - O Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil de atividades e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental deverá ser analisado dentro do processo de licenciamento, junto ao órgão ambiental competente. Art. 9º - Os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil deverão contemplar as seguintes etapas: I - caracterização: nesta etapa o gerador deverá identificar e quantificar os resíduos; II - triagem: deverá ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada nas áreas de destinação licenciadas para essa finalidade, respeitadas as classes de resíduos estabelecidas no art. 3º desta Resolução; III - acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamentodos resíduos após a geração até a etapa de transporte, assegurando em todos os casos em que seja possível, as condições de reutilização e de reciclagem; GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 27 IV - transporte: deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas técnicas vigentes para o transporte de resíduos; V - destinação: deverá ser prevista de acordo com o estabelecido nesta Resolução. Art. 10 - Os resíduos da construção civil deverão ser destinados das seguintes formas: I - Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; II - Classe B: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; III - Classe C: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas especificas. IV - Classe D: deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas especificas. Art. 11 - Fica estabelecido o prazo máximo de doze meses para que os municípios e o Distrito Federal elaborem seus Planos Integrados de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil, contemplando os Programas Municipais de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil oriundos de geradores de pequenos volumes, e o prazo máximo de dezoito meses para sua implementação. Art. 12 - Fica estabelecido o prazo máximo de vinte e quatro meses para que os geradores, não enquadrados no art. 7º, incluam os Projetos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil nos projetos de obras a serem submetidos à aprovação ou ao licenciamento dos órgãos competentes, conforme §§ 1º e 2º do art. 8º. GESTÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO CIVIL 28 Art. 13 - No prazo máximo de dezoito meses os Municípios e o Distrito Federal deverão cessar a disposição de resíduos de construção civil em aterros de resíduos domiciliares e em áreas de "bota fora". Art. 14 - Esta Resolução entra em vigor em 2 de janeiro de 2003. JOSÉ CARLOS CARVALHO Presidente do Conselho
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