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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA 
 
SONEIDE MOURA DA COSTA 
 
 
 
 
A ATIVIDADE COMERCIAL NAS RUAS POMPÉIA, CHEGANÇA E 
BOA SORTE NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO 
DA ZONA NORTE DE NATAL/RN – BRASIL 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao 
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em 
Geografia (PPGE) da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte para a obtenção do Título de 
Mestre em Geografia 
Orientadora Prof.ª Doutora Rita de Cássia da 
Conceição Gomes 
 
 
 
 
 
NATAL - RN 
2017 
 
SONEIDE MOURA DA COSTA 
 
A ATIVIDADE COMERCIAL NAS RUAS POMPÉIA, CHEGANÇA E BOA SORTE NO 
CONTEXTO DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DA ZONA NORTE DE 
NATAL/RN – BRASIL 
 
 
 
 
 
Natal, 07/03/2017 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
________________________________________ 
Profª Drª Rita de Cássia da Conceição Gomes 
Orientadora (UFRN) 
 
 
 
 
_________________________________________ 
Profª Drª Ione Rodrigues Diniz Morais 
Examinador Interno (UFRN) 
 
 
 
 
__________________________________________ 
Profª Drª Kátia Cristina Ribeiro Costa 
Examinador Externo (UFCG) 
 
 
 
 
 
 
NATAL - RN 
2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Caminhante, são teus passos o caminho e nada 
mais; 
Caminhante, não há caminho, 
faz-se caminho ao andar. (Antônio Machado) 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Não se imagine capaz de construir um sonho sozinho. 
A solidão é escura e perversa. Quando achamos que estamos seguros e confiantes 
no nosso caminho, nos deparamos com o vazio e a sensação de que nada mais 
importa. Por isso, agarre-se constantemente aos sinais da liberdade da mente e 
elevação do espírito. Atreva-se a sorrir para o desconhecido e torne-o participante 
da sua vida. Vivi de muitas formas; desconhecida de mim e dos outros, me senti em 
vários momentos caminhando sozinha. Por várias vezes tentei e tentaram me 
desviar, contudo fui resgatada por pessoas que caminharam comigo e me ajudaram 
a realizar este sonho. Pelo caminho que trilhei, agradeço a todos que, de modo 
muito peculiar, deram mais significado à minha vida. Obedecendo a cronologia da 
minha jornada, agradeço: 
À Deus, que me privilegiou com o dom da vida ao lado da família certa. Usaria todas 
as formas para agradecer a semente que plantou no meu coração, ainda quando 
pequena, do desejo incansável de estudar. Como as palavras não dão conta de 
explicar o tamanho da minha gratidão, lhe ofereço a voz do meu coração que só o 
Senhor pode ouvir. 
À minha mãe, Alice, que cuida muito bem de mim desde o primeiro dia que me teve 
em seus braços; aliás é justamente em seus braços onde me sinto segura e inteira. 
Mãe, muito obrigada por celebrar as minhas conquistas e chorar as minhas 
decepções junto comigo. Obrigada pelo incentivo e por me guardar em suas orações 
todas as noites. Eu te amo! 
Ao meu pai, Fernando, motivo indireto desta conquista. Pai, o senhor me ajudou a 
ressignificar muitos sentimentos. Obrigada pela vida! Que possamos trilhar lindos 
caminhos. 
À minha irmã, Simone, pelas lindas lembranças de infância quando esperávamos 
ansiosamente pelo amanhecer, depois das tão aguardadas chuvas no sertão, para 
brincarmos nas poças de água que a terra, temporariamente saciada, já não tinha 
condições de beber. Lembro ainda de mamãe nos chamando após as brincadeiras, 
para tomarmos aquele delicioso café feito no fogão à lenha. Obrigada por ter me 
presenteado com a dádiva de ser tia e assim viver um amor puro. Os meus 
sobrinhos: Jarley, Samuel Lucas e Ana Cecília são pérolas preciosas que guardo no 
meu coração. 
 
Ao meu irmão, Adair, um homem que tem me ensinado que é possível superar 
muitas adversidades quando se crer em dias melhores. Estarei sempre ao seu lado. 
Aos meus avós maternos Severino Costa (in memoriam) e Alice; e Francisco Moura 
(in memoriam) e Maria Beatriz pelas histórias que contavam do “povo de 
antigamente” que prendiam a minha atenção nos finais de tarde na calçada de barro 
batido. 
Às minhas professoras das séries iniciais, Geisa e Julinha, que na humilde escola do 
Sítio Timbaúba (Ouro Branco/RN), lugar onde nasci, me fizeram iniciar o percurso 
acadêmico. 
Ao meu professor de Geografia do 8º ano, Luiz Figueiredo, que me fez amar a 
ciência que escolhi e ora defendo. 
À toda a equipe da Pro-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAE/UFRN), em 
especial a assistente social Graça, por ter me ajudado durante todo o meu percurso 
acadêmica na UFRN. Obrigada por ter me acolhido e feito o possível, juntamente 
com sua esquipe, para que eu permanecesse tendo o melhor acompanhamento que 
a universidade poderia oferecer. 
Às minhas amigas da época da residência universitária: Marluce, Jucimeire, Taís, 
Iselda, Gabi e Arianne, com quem tive muitos anos de excelente convivência e 
companheirismo. 
À minha admirada e, sempre professora, Ione Rodrigues Diniz Morais. Não conheço 
mulher mais íntegra e verdadeira nas ações que visam exclusivamente o 
crescimento acadêmico e pessoal dos seus alunos. Você atende com excelência 
todos as definições cabíveis para a palavra professor, pois sempre defendeu a ética 
e o ensino de qualidade. Seguirei os seus passos sempre. 
À professora Ana Cláudia Ventura dos Santos pelos sábios conselhos e pelo 
acolhimento físico e emocional. Pessoas como você são raras porque conseguem 
enxergar no outro o que está além do aparente, portanto se tornam especiais e 
prazerosas de ser ter por perto. Compartilhamos muitas opiniões e dividimos muitas 
batalhas. 
À professora Drª. Maria Aparecida Pontes pelas pertinentes contribuições no exame 
de qualificação. 
À professora Drª Kátia Cristina Ribeiro Costa por ter conduzido, com tanto 
delicadeza e competência, as suas palavras como membro da banca de defesa da 
presente dissertação. 
 
À Rita de Cássia da Conceição Gomes, minha orientadora do presente trabalho e 
também da vida. Obrigada por ter me recebido na sua família GPEUR, a qual quero 
ser membro sempre. Agradeço especialmente pelas vezes que me acolheu com 
suas palavras sábias, por me animar diante das tristezas, por me conduzir a um 
encontro mensal com Deus, através das missas em Arês/RN. Obrigada ainda pelos 
cafés das 14:30 e risadas compartilhadas. De modo especial você sempre me 
mostrou que podemos fazer mais do hoje e vislumbrar um amanhã de 
possibilidades. Obrigada pelo sonho realizado! 
À minha família GPEUR, pela troca de experiências pessoais e acadêmicas em 
nome de quem quero me dirigir à Rosa, Jomara, Ândria, Moacir e Josélia. 
À Kelson (in memoriam), amigo de poucas palavras, mas que muito me ensinou com 
o seu coração imenso. Um homem íntegro, educado e que emitia paz e boas 
energias. Alguém a ser sempre lembrado pela família GPEUR. 
À Joabio, grande amigo, aquele que tem a história de vida parecida com a minha; 
meu irmão do Seridó, com quem dividi angústias profundas e alegrias extremas. 
Obrigada pela construção dos mapas e sua companhia, ela me faz muito bem. 
À Anderson e Marília pelos ensinamentos compartilhados e amizade consolidada. 
À um anjo especial, Moizés Muniz, principalmente pela paciência em tentar me 
compreender, quando nem eu mesma consegui. A sua participação na minha vida 
foi/é fundamental para eu entender que podemos confiar no outro sem medidas 
quando nos propomos capazes de ser felizes. Muito obrigada por cuidar de mim e 
por me ajudar com a pesquisa de campo. Você me faz acreditar na bondade 
humana, cada vez mais rara. 
Ao Laboratório de Estatística Aplicada (LEA/UFRN), às pessoas de Pedro Luciano e 
Érica, pelo acompanhamento da minha pesquisa e pela elaboração das amostras de 
campo. 
Às Secretarias de Tributação Municipal de Natal (SEMUT), Meio Ambiente e 
Urbanismo (SEMURB) e Transportese Trânsito Urbano (STTU) pelo fornecimento 
de dados secundários importantes para a consecução da pesquisa. 
 
Por fim, aos que, direta ou indiretamente caminharam comigo, Obrigada! 
 
 
 
RESUMO 
 
Sendo o binômio comércio e cidade, indissociável, empreende-se que a produção do 
espaço urbano pode ser entendida à luz da atividade comercial ao passo que este, 
ou seja, o espaço, influencia na produção e localização do comércio. Desta forma, a 
pesquisa enveredou pela discussão do processo de expansão urbana de Natal/RN 
em direção à Zona Norte via política habitacional e o percurso assumido pelo 
comércio tradicional nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte. O trabalho está 
embasado em pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo. Do ponto de 
vista teórico-metodológico, adotou-se o método regressivo-progressivo proposto por 
Lefebvre (2000), cuja perspectiva de investigação está organizada em três 
momentos: descritivo; analítico-regressivo e histórico-genérico. A análise 
desenvolvida revelou que a atividade comercial na Pompéia, Chegança e Boa Sorte 
apresenta um caráter de proximidade física e social, uma vez que, além de atender 
a demanda de consumo local e de bairros próximos a estas, também mantém uma 
clientela fidedigna no que concernem às relações de compra com o comerciante da 
rua. Outrossim, mesmo não se configurando como grandes corredores de passagem 
na Zona Norte, estas ruas se constituem em lócus de representação sócio-espacial 
embasada, por um lado na lógica de reprodução hegemônica e por um lado na 
reprodução da vida. Ainda que inserido no contexto da crise econômica, também 
vivenciada no Rio Grande do Norte e que repercute em altas taxas de desemprego, 
o comércio da Pompéia, Chegança e Boa Sorte apresenta perspectivas de 
crescimento, principalmente no tocante ao comércio informal, sendo este último uma 
possibilidade de garantia de renda familiar alternativa. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Produção do espaço urbano de Natal/RN; Política 
habitacional; comércio tradicional; ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Understanding the binomial commerce and city, inseparable, it is realized that the 
production of the urban space can be understood from the commercial activity 
whereas this, that is, the space, influences in the production and location of the 
commerce. In this way, the research began by discussing the process of urban 
expansion of Natal / RN towards the North Zone through housing policy and the path 
taken by the traditional commerce in the streets Pompeia, Chegança and Boa Sorte. 
The dissertation is based on bibliographical research, documentary and field 
research. From the theoretical-methodological point of view, the regressive-
progressive method proposed by Lefebvre (2000) was adopted. The research 
perspective of this method is organized in three moments: descriptive; analytic-
regressive and historical-generic. The analysis revealed that the commercial activity 
in Pompeia, Chegança and Boa Sorte has a physical and social proximity, because it 
meets the demand of local consumption and neighborhoods close to them and 
maintains a trustworthy clientele in relation to the purchase relations with The street 
merchant. Moreover, even though they are not configured as major passageways in 
the North Zone, these streets constitute a locus of socio-spatial representation based 
on the logic of hegemonic reproduction and reproduction of life. Although in the 
context of the economic crisis, also experienced in Rio Grande do Norte and which 
has a high unemployment rate, the commercial activity in the streets of Pompeia, 
Chegança and Boa Sorte presents growth prospects, especially with regard to 
informal commerce, which is a possibility to guarantee alternative family income. 
 
Keywords: Production of the urban space of Natal / RN; Housing policy; traditional 
commerce; Pompeia, Chegança and Boa Sorte streets 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
AABB – Associação Atlética Banco do Brasil 
ABRASCE – Associação Brasileira de Shopping Centers 
APERN – Associação de poupança e empréstimo do Rio Grande do Norte 
BNH – Banco Nacional da Habitação 
CAERN – Companhia de Água e Esgotos do RN 
CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados 
CCAB – NORTE - Centros Comerciais Aloisio Bezerra Norte 
CCAB –SUL- centros comerciais Aloisio Bezerra Sul 
COAHB-RN- Companhia de Habitação Popular do RN 
COSERN – Companhia de Serviços Elétricos do RN 
CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas 
CNB – Construtora Norte Brasil 
DER – Departamento de Estradas e Rodagens 
DETRAN – Departamento Estadual de Trânsito 
DIN – Distrito Industrial de Natal 
ED – Escola Doméstica de Natal 
FARN – Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte 
FIERN – Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte 
HC – Colégio Henrique Castriciano 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IFRN – Instituto Federal do Rio Grande do Norte 
IMA – Instituto Maria Auxiliadora 
INOCOOP – Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais 
IPI – Impostos sobre Produtos Industrializados 
ITEP – Instituto Técnico-Científico de Polícia do Rio Grande do Norte 
LEA/UFRN – Laboratório de Estatística Aplicada da UFRN 
LOT. – Lote 
PROAE – Pró-reitora de Assuntos Estudantis 
PROCON – Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor 
PMC – Pesquisa Mensal do Comércio 
PROMORAR – Programa de Erradicação de Sub-Moradias 
 
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia 
SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo 
SEMUT – Secretaria de Tributação Municipal de Natal 
SM – Salários Mínimos 
STTU – Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito Urbano 
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste 
UNI-RN – Centro Universitário do Rio Grande do Norte 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
FIGURAS 
Figura 1 – Síntese do itinerário da pesquisa ..................................................................... 28 
Figura 2 - Placa que anuncia primeiro voo transatlântico ocorrido em 1930 entre São 
Luis do Senegal e Natal ........................................................................................................ 94 
Figura 3 - Ponte Rodoferroviária de Igapó nos anos de 1970 ....................................... 97 
Figura 4 - Distrito Industrial de Natal – DIN nos anos 1970 ........................................... 98 
Figura 5 - Ponte Costa e Silva (Igapó) duplicada ........................................................... 108 
Figura 6 - Ilustração de rua na cidade Pompéia, Itália em 150 a.C. ........................... 112 
Figura 7 - Rua Pompéia – Zona Norte de Natal/RN/2016 ............................................ 112 
Figura 8 - Noticiário sobre abalos sísmicos em João Câmara (a direita) e evasão da 
população da cidade (a esquerda) ................................................................................... 118 
Figura 9 - Rua na cidade Pompéia-Itália 150 a.C .......................................................... 123 
Figura 10 - Nome das ruas adjacente à Chegança - 2016 ........................................... 137 
Figura 11 - A dança da chegança ..................................................................................... 138 
Figura 12 - Barraca de feira na Rua Chegança - Natal/RN - 2016 .............................. 145 
Figura 13 - Ponte Newton Navarro - Natal/RN - 2011 ................................................... 154 
 
GRÁFICOS 
Gráfico 1 - Número de estabelecimentos de comércio e serviços quanto à 
formalização – Pompéia/2016 ............................................................................................. 60 
Gráfico 2 - Percentual de funcionários que trabalham no estabelecimento – 
Pompéia/2016 ........................................................................................................................62 
Gráfico 3 - Motivos para escolha do comércio – Pompéia/2016 ................................... 63 
Gráfico 4 - Lugar de compra da mercadoria pelo comerciante – Pompéia/2016 ........ 64 
Gráfico 5 - Preço da mercadoria de acordo com o consumidor – Pompéia/2016 ...... 65 
Gráfico 6 - Número de estabelecimentos de comércio e serviços quanto à 
formalização – Boa Sorte/2016 ........................................................................................... 71 
Gráfico 7 - Percentual de funcionários que trabalham no estabelecimento – Boa 
Sorte/2016 ............................................................................................................................... 73 
Gráfico 8 - Motivos para escolha do comércio – Boa Sorte/2016 ................................. 74 
Gráfico 9 - Lugar de compra de mercadoria pelo comerciante – Boa Sorte/2016 ...... 75 
Gráfico 10 - Qualidade da mercadoria de acordo com o consumidor – Boa 
Sorte/2016 ............................................................................................................................... 76 
Gráfico 11 - Número de estabelecimentos de comércio e serviços quanto à 
formalização – Chegança/2016 ........................................................................................... 81 
Gráfico 12 - Percentual de funcionários que trabalham no estabelecimento – 
Chegança/2016 ...................................................................................................................... 82 
Gráfico 13 - Motivos para escolha do comércio – Chegança/2016 ............................... 83 
Gráfico 14 - Lugar de compra da mercadoria pelo comerciante – Chegança/2016 ... 84 
 
Gráfico 15 - Qualidade da mercadoria de acordo com o consumidor – 
Chegança/2016 ...................................................................................................................... 85 
Gráfico 16 - Evolução da população da Zona Norte de Natal/RN – 1980 a 2010 .... 107 
Gráfico 17 – Intenção de compra das famílias brasileiras entre Jan de 2010 e Jan de 
2017 ....................................................................................................................................... 157 
Gráfico 18 – Escala de crescimento do comércio de 0 a 10 na perspectiva do 
comerciante nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte - 2016 .................................. 160 
Gráfico 19 - Utilização de mecanismos de publicidade pelos comerciantes das ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte/2016 ............................................................................ 162 
Gráfico 20 - Lugar de moradia do comerciante - Pompéia, Chegança e Boa Sorte - 
2016 ....................................................................................................................................... 171 
Gráfico 21 - Origem da Clientela – Pompéia, Chegança e Boa Sorte/2016 ............. 173 
Gráfico 22 - Motivo de escolha do consumidor para fazer compras – Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte/2016 .............................................................................................. 174 
 
QUADROS 
Quadro 1 – Síntese dos procedimentos metodológicos .................................................. 30 
Quadro 2 - Atributos do comércio varejista moderno e tradicional, segundo 
Fernandes; Cachinho e Ribeiro (2000) .............................................................................. 46 
Quadro 3 - Lojas da Rua Pompéia - 2016 ......................................................................... 54 
Quadro 4 - Lojas da Rua Boa Sorte – 2016 ...................................................................... 69 
Quadro 5 - Lojas da Rua Chegança – 2016 ...................................................................... 78 
Quadro 6 - Conjuntos habitacionais construídos na Zona Norte de Natal/RN .......... 102 
Quadro 7 - Ordem de serviço operacional da linha de transporte público 02 - 
Gramoré/Mirassol - Empresa Guanabara/2016 .............................................................. 121 
Quadro 8 - Ordem de serviço operacional das linhas de transporte público que 
circulam nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte – 2016 ........................................ 166 
 
MAPAS 
Mapa 1- Ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte , Zona Norte de Natal/RN ............... 22 
Mapa 2 – Natal/RN: Zonas Administrativas e Bairros - 2017 ......................................... 35 
Mapa 3 - Conjuntos Habitacionais e Loteamentos na Zona Norte/2016 ...................... 45 
Mapa 4 - Rua Pompéia, Natal/RN – 2016 ......................................................................... 54 
Mapa 5 - Rua Boa Sorte - Natal/RN – 2016 ...................................................................... 66 
Mapa 6 - Rua Chegança - Natal/RN – 2016 ..................................................................... 77 
Mapa 7 – Rua Pompéia-Natal/RN ..................................................................................... 114 
Mapa 8 - Perfil de produção de ruas em torno da Pompéia nos bairros Pajuçara e 
Potengi – Natal/RN .............................................................................................................. 116 
Mapa 9 - Boa Sorte - Natal/RN .......................................................................................... 129 
Mapa 10 – Rua Chegança -Natal/RN ............................................................................... 141 
Mapa 11 - Abrangência territorial das linhas de ônibus que circulam nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte ............................................................................168 
 
Mapa 12 - Abrangência territorial das linhas de ônibus que circulam nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte no âmbito da Zona Norte de Natal/RN...............169 
 
FOTOS 
Foto 1 - Principais Avenidas da Zona Sul de Natal/RN/2015 ......................................... 43 
Foto 2 - Comércio na Rua Pompéia - 2016 ....................................................................... 52 
Foto 3 - Comércio na Avenida Coronel Estevam (Av. 9) - Alecrim/2016 ..................... 52 
Foto 4 - Lojas de preço único, Pompéia, Natal/RN/2016 ................................................ 58 
Foto 5 - Incoerência entre divulgação e venda de mercadorias, Boa Sorte, Natal/RN 
– 2015 ...................................................................................................................................... 67 
Foto 6 - Incoerência entre divulgação e venda de mercadorias, Boa Sorte, Natal/RN 
– 2015 ...................................................................................................................................... 68 
Foto 7 - Exposição de mercadorias na Rua Chegança - 2015 ...................................... 86 
Foto 8 - Casas adaptadas para agregar o comércio- Pompéia-Natal/RN - 2016 ..... 124 
Foto 9 - Trecho da Rua Pompéia sem estacionamento ................................................ 127 
Foto 10 - Buraco na Rua Boa Sorte (2016) ..................................................................... 134 
 
CROQUIS 
Croqui 1 – Distribuição do comércio - Pompéia (CNAE, 2.2/2015) – 2016................56 
Croqui 2 - Distribuição do comércio - Boa Sorte (CNAE, 2.2/2015) – 2016...............70 
Croqui 3 - Distribuição do comércio - Chegança (CNAE, 2.2/2015) – 2016..............79 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 - Distribuição da renda familiar na Zona Norte Natal/RN, por bairro (2010)50 
Tabela 2 - Evolução da população da Zona Norte de Natal/RN – 1980 a 2010 ....... 107 
Tabela 3 - Evolução da população residente em Natal de 1991-2010 ....................... 152 
Tabela 4 - Taxa de crescimento de Natal/RN por Zona Administrativa 2000-2010 . 153 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 202. DESCREVENDO A REALIDADE .............................................................................. 32 
2.1. NATAL/RN: A ATIVIDADE COMERCIAL EM FOCO ............................................... 33 
2.1.1. A ATIVIDADE COMERCIAL NA ZONA NORTE DE NATAL/RN ........................ 46 
2.1.2. POMPÉIA: O ALECRIM DA ZONA NORTE ....................................................... 51 
2.1.3. BOA SORTE: ESPAÇO COMERCIAL DE ROTATIVIDADE ........................... 66 
2.2.4. CHEGANÇA: A DESCOBERTA DE UM COMÉRCIO DISTANTE ..................... 76 
3. A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE .......................................................................... 90 
3.1. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NATAL/RN E O COMÉRCIO: NAS 
TRILHAS DA ZONA NORTE ............................................................................................... 92 
3.2. O RESGATE DA MEMÓRIA: NARRATIVAS SOBRE AS RUAS POMPÉIA, 
BOA SORTE E CHEGANÇA ............................................................................................. 110 
3.2.1. MEMÓRIAS SOBRE A RUA POMPÉIA ............................................................ 111 
3.2.2. MEMÓRIAS SOBRE A RUA BOA SORTE ....................................................... 128 
3.2.3. MEMÓRIAS SOBRE A RUA CHEGANÇA ....................................................... 136 
4 - A RECONSTRUÇÃO DA REALIDADE ...................................................................... 147 
4.1. DO ESPAÇO DO HABITAR AO ESPAÇO DO HABITAT ..................................... 149 
4.2. A CRISE ECONÔMICA E A REALIDADE “POSSÍVEL” ........................................ 156 
4.3. A FUNÇÃO SOCIAL DO COMÉCIO NAS RUAS POMPÉIA, BOA SORTE E 
CHEGANÇA ......................................................................................................................... 170 
À GUISA DE CONCLUSÃO ............................................................................................... 179 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 182 
 
APÊNDICE A - FORMULÁRIO APLICADO AO COMERCIANTE ............................... 190 
APÊNDICE B - FORMULÁRIO APLICADO AO CONSUMIDOR ................................. 192 
APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA REALIZADA COM COMERCIANTE E 
CONSUMIDOR .................................................................................................................... 194 
APÊNDICE D - PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA POMPÉIA COM BASE DOS 
FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 ................................................................................. 195 
APÊNDICE E - PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA CHEGANÇA COM BASE 
DOS FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 ....................................................................... 196 
APÊNDICE F - PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA BOA SORTE COM BASE 
DOS FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 ....................................................................... 197 
APÊNDICE G - PERFIL DO CONSUMIDOR DAS RUAS POMPÉIA, CHEGANÇA E 
BOA SORTE COM BASE DOS FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 ........................ 198 
APÊNDICE H - PERFIL DOS COMERCIANTES E/OU CONSUMIDORES DAS 
RUAS POMPÉIA, CHEGANÇA E BOA SORTE COM BASE NAS ENTREVISTAS 
REALIZADAS/2016 ............................................................................................................. 199 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
 
 
20 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O comércio viabiliza a existência da cidade, explica a 
sua organização e justifica muito do movimento e 
animação que nesta acontece. 
(SALGUEIRO E CACHINHO, 2009, p.9) 
 
 No fragmento acima, extraído do texto “As relações cidade-comércio: 
dinâmicas de evolução e modelos interpretativos”, Salgueiro e Cachinho (2009) 
discutem a correlação existente entre a atividade comercial e a cidade. Para os 
autores, mesmo que o comércio não esteja necessariamente relacionado à origem 
da forma espacial ora citada, esta se constitui como substrato de distribuição, 
realização e organização da atividade comercial. 
 Já no que se refere à relação de origem entre ambos os temas mencionados, 
a afirmação do historiador Pirenne (1992) de que “as cidades são filhas do 
comércio”, evidencia a relação existente, posto que, para o autor, estas assumem a 
função majoritária de agregar pessoas, informações e mercadorias. Pirenne (1992) 
também se refere à cidade como importante substrato de realização do encontro 
mediado pela atividade comercial. 
Corroborando com a ideia do autor supracitado, Salgueiro (1996) acrescenta 
alguns fatores que ultrapassam a relação de origem entre o comércio e a cidade, ao 
enfatizar que a atividade comercial tem a capacidade de influenciar na formação de 
núcleos populacionais e na integração entre centro e periferia estabelecendo a 
conexão entre bairros do conjunto urbano. Somam-se a estas informações a 
influência que o comércio exerce sobre a paisagem urbana, modificando-a de um 
espaço para o outro mediante diversificação de uso e apropriação pela atividade 
comercial. 
Se por um lado o comércio influencia a produção da cidade pelos fatores 
apresentados, por outro, esta última apresenta condicionantes para a localização 
dos equipamentos comerciais. Desta forma, compreende-se que este binômio deve 
ser analisado de forma indissociada, visto que o espaço da cidade pode ser 
entendido à luz da atividade comercial ao passo que este influencia na produção e 
localização do comércio. 
21 
 
 
Com base nos pressupostos acerca do binômio comércio e cidade, o trabalho 
ora apresentado se faz pertinente por contemplar a análise do comércio no contexto 
da produção do espaço urbano de Natal/RN. Nesta cidade, fora observado a 
expansão deste segmento econômico, principalmente a partir da década de 1980, 
com destaque para o comércio desenvolvido nas ruas Pompéia, Chegança e Boa 
Sorte, quando houve uma acentuada expansão urbana de Natal intermediada pela 
política habitacional. 
Esta política ocorreu de forma contundente na Zona Norte e em parte da Zona 
Sul, demandando em paralelo, a expansão também das atividades comerciais e, por 
ocasião, o surgimento do varejo moderno, este marcadamente expresso pelo livre 
serviço e presença de grandes superfícies comerciais. Cabe mencionar que a 
instalação do supermercado Hiper Bom Preço em 1982, no Bairro Lagoa Nova, foi o 
marco do surgimento deste segmento na capital potiguar. Neste período, a Zona 
Norte de Natal que tinha o Nordestão, localizado na Avenida Bacharel Tomaz 
Landim, como único empreendimento de destaque, ficou à parte da dinâmica 
comercial promovida pelo varejo moderno até então ascendente na Zona Sul. 
O varejo moderno passou a firmar-se na Zona Norte principalmente a partir da 
segunda metade da década de 1980, e mais fortemente na década de 1990 e 2000, 
no contexto da expressiva expansão urbana da referida porção da cidade em 
detrimento da atuação da Companhia de Habitação Popular (COAHB/RN) por meio 
da construção de conjuntos habitacionais naquela área. A partir de então, grandes 
superfícies comerciais por exemplo supermercados de grande porte, shoppings e 
outros estabelecimentos se fixaram nas avenidas Bacharel Tomaz Landim e Doutor 
João Medeiros Filho, principais eixos articuladores entre a Zona Norte e o restante 
da cidade, de modo que esta área passou a integrar a mesma lógica do comércio 
moderno localizado na Zona Sul de Natal. Este tipo de comércio, assim como a 
consolidação da política de habitação, por meio de conjuntos habitacionais, 
resultaram da concepção de forças vetorizadas do capital hegemônico. Chama-se 
de capital hegemônico àquele liderado por grupos de força política, econômica ou 
financeira sobre os grupos constituintes da massa. 
Não obstante, no entorno dessas avenidas, desenvolveu-se um comércio 
tradicional em ruas como Pompéia, Chegança e Boa Sorte (Mapa 1), pertencentes, 
seja a conjuntos habitacionais projetadospelo Estado ou a loteamentos, resultante 
da própria força de reprodução social. A atividade existente nas ruas supracitadas é 
22 
 
 
caracterizada pela presença de lojas pouco especializadas, de caráter 
predominantemente familiar e com a oferta de mercadorias de caráter popular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Concebidas pelo Estado ou pela própria população residente, estas ruas 
foram construídas para atender à necessidade da habitação e tiveram essa função 
fundamental transformada, tornando-se ruas de comércio na medida em que o uso 
do solo tornou-se quase que totalmente ocupado por esta atividade. Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte, objeto desse estudo, além de serem comercialmente 
representativas para a Zona Norte, se configuraram em espaços contra- 
Mapa 1- Ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte , 
Zona Norte de Natal/RN 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – 
Natal/RN; malha municipal do Brasil/IBGE, 2010. 
Elaboração: Joabio Costa; Soneide Moura 
 
23 
 
 
hegemônicos de reprodução do capital. Espaço de produção contra-hegemônico são 
aqueles que se consolidaram, que ganharam conteúdo a partir das práticas dos 
grupos sociais de classes não dominantes. 
Essas ruas, do ponto de vista da nomenclatura, são designadas pela 
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB/RN) como avenidas 
de modo que, no intuito de não contrariar a definição do referido órgão público, os 
mapas da pesquisa contêm a nomenclatura oficial. Entretanto, no decurso do 
trabalho, optou-se por nomeá-las de ruas, em virtude do conteúdo social incorporado 
nas relações cotidianas nelas desenvolvidas. Outrossim, o sentido de rua assumido 
pela pesquisa baseia-se nas discussões elaboradas por Lefebvre (1999, p. 27) ao 
discorrer a favor do uso dos espaços públicos, segundo o qual a rua: 
 
Não se trata simplesmente de um lugar de passagem e circulação. (...) A 
rua é o lugar (topia) do encontro, sem o qual não existem outros encontros 
possíveis nos lugares determinados (cafés, teatros, salas diversas). Esses 
lugares privilegiam, animam a rua e são favorecidos por sua animação, ou 
então não existem. 
 
 
Carlos (2001, 2007) é tributária da ideia de Lefebvre e se refere a rua como o 
lugar das experiências cotidianas. A autora acrescenta o sentido múltiplo de 
atividades que incluem o encontro, o lazer, mas também a troca e o trabalho. 
A essência do encontro apontada por Lefebvre (1999) e a multiplicidade 
apresentada por Carlos (2001, 2007) são características inerentes à Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte que desenvolvem um comércio de proximidade física e 
social, na medida em que atendem à demanda de consumo local e de bairros 
próximos, também mantém uma clientela fidedigna no que concerne as relações de 
compra com o comerciante da rua. Outrossim, foram ruas que, mediante processo 
de produção do espaço urbano da Zona Norte de Natal, se ergueram 
comercialmente como resultado das práticas sócio-espaciais de seus moradores. 
Diante do contexto social e comercial de contra-hegemonia e proximidade 
elucidados nas ruas, se problematiza: como se caracteriza o comércio em Natal com 
destaque para as ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte? Que fatores contribuíram 
para o surgimento da atividade comercial nestas ruas? Qual a importância do 
comércio desenvolvido na Pompéia, Chegança e Boa Sorte para a dinâmica da 
atividade comercial na Zona Norte? Qual o papel social do comércio nestas ruas? 
24 
 
 
Norteada por tais questionamentos, a pesquisa objetiva analisar a dinâmica 
das atividades de comércio nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte no contexto 
da produção do espaço urbano da Zona Norte de Natal/RN, bem como caracterizar 
o comércio na cidade do Natal com base nas Regiões Administrativas, com 
destaque para as atividades desenvolvidas nas ruas mencionadas; discutir os 
fatores que contribuíram para a formação do comércio nas referidas ruas; 
compreender a importância do comércio nessas ruas para a dinâmica da atividade 
comercial na Zona Norte; analisar o papel social do comércio nas ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte. 
A escolha por se trabalhar com Pompéia, Chegança e Boa Sorte como objeto 
empírico, se explica pelo fato de que, nestas, há uma expressiva expansão da 
atividade comercial com características de pequeno porte, de gestão familiar e de 
proximidade física e social. Estas ruas são corredores secundários intraurbanos no 
contexto na Zona Norte e se constituem em lócus de representação sócio-espacial 
embasada por um lado, na lógica de reprodução hegemônica e, por outro, na 
reprodução da vida. Desta forma, o espaço revela, portanto, uma “(...) relação 
contraditória entre o uso dos lugares de realização da vida e os lugares produzidos 
como valor de troca, contradição esta que está na base dos conflitos em torno da 
reprodução do espaço” (CARLOS, 2011, p. 65). 
A utilização do conceito sócio-espacial no decurso do trabalho, está 
embasada na definição de Souza (2013), quando tratou dos conceitos fundantes da 
pesquisa sócio-espacial na Geografia. Nas palavras do autor, para se compreender 
e elucidar o espaço “é necessário interessar-se pela sociedade concreta, em que 
relações sociais e espaço são inseparáveis, mesmo que não se confundam” 
(SOUZA, 2013, p. 16). Para o autor, o conceito sócio-espacial está longe apenas de 
qualificar o espaço, como assim o faz o socioespacial, preocupando-se também com 
as relações sociais. 
O arquétipo teórico-metodológico que estrutura o conteúdo da pesquisa está 
baseado na tríade conceitual elaborada por Lefebvre (2000): espaço concebido, 
percebido e vivido. O espaço concebido é entendido como estruturas construídas 
pelas representações capitalistas resultantes de um saber técnico que se 
materializam através das ações hegemônicas; o espaço vivido é justamente aquele 
que se revela no âmbito das práticas sociais que diferentemente umas das outras 
produzem espaços variados e o espaço percebido se evidencia entre o espaço, 
25 
 
 
produto das ações hegemônicas de instituições como Estado, e o resultante das 
práticas sociais locais. Em outras palavras, é aquele é aquele que se encontra entre 
a ordem distante e a ordem próxima, segundo o próprio Lefebvre (2000). 
Se o espaço geográfico é um produto social, não é neutro, mas reflete as 
contradições e os conflitos sociais de sua produção. A partir de tal premissa, 
direciona-se o olhar para as ruas de comércio sem perder de vista o processo que 
engloba, desde a sua produção embasada na lógica capitalista, até a sua 
reprodução a partir de práticas sócio-espaciais que alteraram a sua função inicial de 
fundamentalmente habitacional para eminentemente comercial. 
Deste modo, a tríade conceitual concebido-percebido-vivido perpassa o texto 
em consonância com o método regressivo-progressivo também proposto por 
Lefebvre (2000), cuja perspectiva de investigação está organizada em três 
momentos: descritivo; analítico-regressivo e histórico-genérico. O primeiro momento 
do método trata da descrição da realidade social em evidência, cujo ponto de partida 
é a paisagem; o segundo momento busca, a partir da realidade descrita, fragmentá-
la e historicizá-la evidenciando as coexistências dos processos sociais. O terceiro 
momento trata do vir a ser, ou seja, as tendências que se anunciam mediante 
contexto descrito e fragmentado nos momentos anteriores do método. Cada 
momento serviu de base para a estruturação do trabalho, o qual está dividido em 
quatro seções. 
Na segunda seção trata-se da descrição atual da atividade comercial na 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte tendo como ponto de partida o comércio na cidade 
do Natal por Zona Administrativa. A pesquisa adotou como referência a descrição da 
paisagem comercial, por entender que esta é capaz de revelar a materialização dos 
instantes sociais presentes no estudo emquestão. A descrição da paisagem 
permitiu uma leitura das ruas em discussão, que em tempos de outrora foram 
pensadas e construídas pelas representações capitalistas resultantes de um saber 
técnico que se materializou através das ações hegemônicas, ou seja, o espaço 
concebido. 
Na terceira seção do trabalho analisa-se as coexistências evidenciadas na 
representação daquilo que está situado entre o espaço edificado como reflexo das 
ações hegemônicas e aquele criado e apreendido pelas agentes sociais do/no lugar. 
A análise das representações, podem ser compreendidas no que Lefebvre (2000) 
denomina de espaço percebido. 
26 
 
 
Na quarta seção discute-se as possíveis tendências para a produção do 
espaço em questão em consonância com o terceiro momento do método regressivo-
progressivo de Lefebvre (2000) denominado histórico-genérico. Também chamado 
de o vir a ser, este momento do método constitui-se na “tentativa de retornar ao que 
foi anteriormente descrito, com a finalidade de reencontrar o presente, no entanto 
elucidado e compreendido” (VIEIRA, 2015, p.32). Para tanto, realizou-se o retorno a 
paisagem inicialmente descrita, posteriormente fragmentada e analisada, para então 
se apontar perspectivas a partir da realidade vivida. Vale salientar que embora as 
seções estejam norteadas consecutivamente obedecendo a tríade concebido-
percebido-vivido, esta ganha substância maior empiricizada em todo o corpo do 
trabalho, de modo que, mesmo ao tomar como base, por exemplo, o concebido 
como encaminhamento da discussão da segunda seção, não foi negligenciado o 
percebido ou vivido, visto que na leitura do espaço geográfico, essa tríade deve ser 
analisada de forma indissociada. Desta forma, é imprescindível que o vivido, o 
concebido e o percebido sejam empregados na análise espacial inseparavelmente. 
Para Lefebvre (2000, p.474) “a triplicidade garante a possibilidade de uma produção 
sem fim, enquanto cada momento considerado separadamente ou cada oposição 
binária se esgota”. 
Do ponto de vista metodológico, a pesquisa assume um caráter analítico cuja 
discussão teórica envereda pela leitura dos trabalhos de Salgueiro (1996), Pintaudi 
(1999, 1992), Fernandes, Cachinho e Ribeiro (2000) que empreenderam discussões 
sobre o aparelho comercial e a sua relação com a cidade. Outras contribuições 
importantes para a tessitura teórica foram dadas por Carlos (2011, 2008, 2007, 
2001), Lefebvre (2008, 2001, 2000, 1999, 1991), Lipovetsky (2006, 2007), 
Baudrillard (2010) e Bauman (2008). Esses foram fundamentais para a 
compreensão da produção do espaço empiricizado das ruas em análise e também 
da reprodução das relações sociais nelas envolvidas. 
Na construção deste trabalho ressalta-se a contribuição, dos estudos 
realizados pelo filósofo Lefebvre (2000) sobre a produção do espaço. Para tanto, o 
autor inicia a sua discussão trilhando caminhos sobre o sentido da produção no 
sentido stricto sensu. O mesmo induz a compreensão de que é preciso que se 
entenda as diversas relações existentes no processo de produção sem que se perca 
de vista aquelas que se efetivam do âmbito da família à esfera do Estado. A 
27 
 
 
produção, no trabalho de Lefebvre, é entendida não apenas pelo sentido 
economicista, mas também social. 
 Neste sentido, Lefebvre também considera o espaço enquanto uma estrutura 
social na qual estão impressas as relações sociais por ela produzidas, sem 
desconsiderar que estas podem ser parte das relações de produção. Por esta 
concepção, Lefebvre (2000) aponta que a cidade, o lugar de obras diversas, é o 
melhor exemplo para se entender a produção do espaço e a reprodução das 
relações sociais. 
Do ponto de vista comercial, a apropriação teórica acerca de algumas obras 
do autor se faz ímpar no exercício da análise do comércio nas ruas estudadas, uma 
vez que este tece ricas considerações sobre a produção do espaço pela sociedade 
através de suas práticas. Essas práticas conferem ao espaço características 
peculiares que o tornam diferentes da ordem hegemônica estabelecida. 
No que se refere à análise do desenvolvimento do comércio e suas 
implicações sócio-espaciais na Zona Norte de Natal e também nas ruas estudadas, 
a apropriação teórica e empírica de alguns trabalhos foram imprescindíveis. Cita-se 
as obras produzidas por geógrafas do Rio Grande do Norte como Cunha (1987) que 
discutiu o processo da expansão territorial urbana de Natal; Araújo (2004) que 
analisou a história da produção do espaço na Zona Norte à luz do planejamento 
urbano e da gestão do território, e Paula (2010) que fez um estudo sobre a dinâmica 
comercial da atividade varejista moderna também na Zona Norte. Os trabalhos 
destas autoras favoreceram sobremaneira a contextualização da produção do 
espaço urbano da referida Zona Administrativa de forma a estreitar o percurso 
empírico da presente pesquisa. 
 Para compartilhar com o leitor os pensamentos traçados e os caminhos 
percorridos, a figura 1 faz uma síntese do itinerário da pesquisa. A ilustração tem por 
finalidade explicitar o ponto de partida das discussões empreendidas no trabalho, a 
construção das decisões tomadas e os passos executados. 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sendo assim, conforme representado na figura 1, cada momento do método 
constitui-se num guia para a construção das seções do trabalho, sendo a descrição 
da realidade comercial concebida o ponto de partir da discussão. Após a realidade 
descrita, efetuou-se um movimento de regressão a fim de analisar as coexistências 
dos momentos sociais presentes no espaço percebido. Nomeado “a construção da 
realidade, a terceira seção teve por objetivo evidenciar os fatores de formação do 
comércio nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, considerando o processo de 
expansão urbana e comercial de Natal mais especificamente da Zona Norte. 
A figura 1 ainda apresenta a estrutura da quarta seção elaborada com base 
no procedimento histórico-genérico, cujo propósito esteve envolto na reconstrução 
da realidade descrita e analisada. Este procedimento esboçou o vir a ser com base 
no espaço vivido. Em outras palavras, apresentou a tendência crescente do 
comércio nas ruas estudadas mostrando que, a partir das práticas sócio-espaciais 
Fonte: Elaboração da autora, 2017. 
Figura 1 – Síntese do itinerário da 
pesquisa 
29 
 
 
na Pompéia, Chegança e Boa Sorte, a função nestas ruas se projetará 
substancialmente para o comércio. 
O caminho traçado se encerra na relação cidade e comércio visto que o 
processo de produção do espaço urbano de Natal, que demandou a expansão do 
comércio para outras localidades da cidade, fez com que novas práticas fossem 
emergindo e se reproduzindo no espaço. A discussão feita sobre comércio e cidade, 
empiricizada no início e no final da pesquisa e representada no trabalho, ratifica sua 
relação de origem e indissociabilidade. 
No que se remete aos procedimentos técnicos, a pesquisa de campo 
exploratória se constituiu na principal fonte de referência, visto que no Rio Grande 
do Norte os bancos de dados sobre a atividade comercial são ainda pouco 
explorados e com informações pouco depuradas. Desse modo, foi realizada a priori, 
uma categorização do comércio existente nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, 
cujo ponto de partida constituiu-se na descrição da forma comercial nas referidas. 
Após essa descrição e anotação de cada segmento existente, foi realizada a 
categorização de cada estabelecimento comercial e de serviços adotando como 
referência a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) versão 
2.2/2015. Esta categorização também auxiliou na tomada de decisão no que se 
remete à quantidade de formulários a serem aplicados considerando o total de 
estabelecimentos. 
Para melhor compreensão dos procedimentos metodológicos e técnicos, está 
disposto no quadro 1 uma síntesecompondo as questões norteadoras da pesquisa, 
os objetivos e os procedimentos adotados. 
 
30 
 
 
Quadro 1 – Síntese dos procedimentos metodológicos 
QUESTÕES OBJETIVOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
Como se caracteriza o 
comércio em Natal tendo 
por referência as Regiões 
Administrativas, com 
destaque para as ruas 
Pompéia, Chegança e Boa 
Sorte? 
Caracterizar o comércio em Natal 
tendo por referência as Regiões 
Administrativas, com destaque 
para as ruas Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte. 
- Pesquisa de campo com base na observação do comércio em Natal por Zona 
Administrativa e categorização dos estabelecimentos nas ruas Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte para a descrição das atividades nos recortes mencionados; 
- Aplicação de formulários a uma amostra não probabilística a comerciantes e uma 
amostra por conveniência a consumidores para descrever o perfil do comércio nas 
ruas estudadas; 
- Pesquisa documental em fontes como IBGE, SMUT, SEMURB para obter dados 
sobre formalização da atividade comercial nas ruas e também indicares sociais nos 
recortes espaciais pesquisados; 
- Pesquisa bibliográfica que subsidiou o entendimento científico do objeto empírico. 
Quais os fatores que 
contribuíram para o 
surgimento do comércio 
nas ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte? 
 
Discutir os fatores que 
contribuíram para a formação das 
ruas de comércio Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte. 
- Pesquisa de campo com realização de entrevista com os primeiros moradores e/ou 
comerciantes e consumidores das ruas, para com base na análise de conteúdo, 
identificar a história de formação das ruas e também do comércio nelas existente; 
- Pesquisa bibliográfica que subsidiou o entendimento científico do objeto empírico. 
Qual é o papel social no 
comércio nestas ruas? 
Analisar o papel social do 
comércio nas ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte. 
- Aplicação de formulários a uma amostra não probabilística a comerciantes e uma 
amostra por conveniência a consumidores que ajudaram a entender o perfil atual do 
comércio nas ruas estudadas que pudessem ser pensadas nas perspectivas; 
- Produção de representações cartográficas, a partir do uso de técnicas de 
geoprocessamento, para demonstrar a espacialização das ruas de comércio no que 
diz respeito ao fluxo de pessoas e mercadorias. 
- Pesquisa bibliográfica que subsidiou o entendimento científico do objeto empírico. 
 
 
Fonte - Elabora da autora, 2016. 
31 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
2. DESCREVENDO A REALIDADE 
 
A presente seção realiza uma caracterização sumária da atividade comercial 
na cidade do Natal/RN para, em seguida, se aprofundar na descrição do comércio 
da Zona Norte, com atenção especial direcionada às ruas Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte. Para tanto, metodologicamente, o ponto de partida é observação e 
descrição da paisagem atual do comércio nestes recortes espaciais, na medida em 
que este conceito geográfico permite a interpretação dos instantes históricos, sociais 
e culturais de produção do espaço pela sociedade. De acordo com Carlos (2008, p. 
48): 
 
A paisagem é humana, histórica e social e se justifica; existe pelo trabalho 
do homem, ou melhor, da sociedade que a cada momento ultrapassa a 
anterior. É produzida e justificada pelo trabalho considerado como atividade 
transformadora do homem social, fruto de um determinado momento das 
forças produtivas, e que aparece aos nossos olhos, através do tipo de 
atividade, do tipo de construção, etc. 
 
No trabalho estruturado a partir do método regressivo-progressivo, Vieira 
(2002, p.27), ao analisar do processo de revalorização do centro da cidade de São 
Paulo, também utiliza o conceito de paisagem, ressaltando que: 
 
A bem da verdade, este momento do método resgata uma categoria 
bastante cara aos geógrafos, tal seja, a paisagem. Afinal, os elementos da 
paisagem guardam em si a aparência da realidade. São mais do que isto é 
verdade, mas em um primeiro momento é o que mostram: a aparência. 
 
Vale salientar que, assim como no trabalho desenvolvido por Vieira (2002), a 
paisagem é adotada como ponto de partida por se configurar como recurso de 
investigação fundamental ao que sugere o primeiro momento do método regressivo-
progressivo. Desta forma, a descrição da paisagem comercial dos recortes espaciais 
propostos, principalmente das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, a partir deste 
conceito geográfico se realiza sem a preocupação, a priori, de relacionar a 
diversidade das relações sociais com sua data de origem, afinal este é o momento 
de descrever o que se mostra aparente. 
Na pesquisa, o olhar está voltado principalmente para a descrição da 
paisagem comercial no recorte empírico representado nas ruas Pompéia, Chegança 
e Boa Sorte, que em tempos de outrora foram pensadas e construídas pelas 
representações capitalistas resultantes de um saber técnico que se materializou 
33 
 
 
através das ações hegemônicas, ou seja, o espaço concebido. Este último é 
entendido como espaços materializados pelas intenções capitalistas das relações de 
produção ligados ao conhecimento, é o espaço fecundado pela ordem distante. 
Parafraseando Lefebvre (2000, p. 67): 
 
O espaço concebido é aquele dos cientistas, dos planifica dores, dos 
urbanistas, dos tecnocratas retalhadores e gerenciadores, de certos artistas 
próximos da cientificidade, identificando o vivido e o percebido ao concebido 
(o que perpetua as sábias especulações sobre os Números: o número de 
ouro, os módulos e canhões). É o espaço dominante numa sociedade (um 
modo de produção). 
 
Em consonância com o pensamento de Lefebvre (2000), a presente seção 
está dividida em duas partes: na primeira constitui-se uma breve apresentação da 
atividade comercial na cidade do Natal, adotando por referência o comércio e os 
serviços em cada Zona Administrativa. Na segunda parte descreve-se o comércio na 
Zona Norte, com destaque para a presença desta atividade nas ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte, objeto empírico da pesquisa, como pode ser lido na 
sequência. 
 
2.1. NATAL/RN: A ATIVIDADE COMERCIAL EM FOCO 
 
O município de Natal, capital do Rio Grande do Norte, está localizado na 
Mesorregião Leste Potiguar, mais especificamente na Microrregião de Natal. O 
município se limita ao Norte com Extremoz, ao Sul com Parnamirim, ao Leste com o 
Oceano Atlântico e ao Oeste com São Gonçalo do Amarante e Macaíba. 
Natal teve o seu território considerado institucionalmente totalmente urbano 
em 1984 quando áreas rurais, que atualmente correspondem à Zona Norte, foram 
incorporadas ao perímetro urbano pelo plano diretor-Lei 3.175/84. Contribuíram para 
esse processo, a contundente atuação da indústria naquela área, que por sua vez, 
atraiu a atenção do Estado que atuou fortemente por meio da política habitacional, 
consolidada pela construção de conjuntos habitacionais pela COHAB. Vidal (1998, 
p.18), ao discutir a expansão urbana de Natal em direção à Zona Norte, aponta que: 
 
A partir de então a população da cidade passou a ser considerada urbana. 
(...) principalmente em decorrência da construção intensiva de conjuntos 
habitacionais pela COHAB, que ampliou a cidade aos limites geográficos do 
município, extinguindo as áreas rurais 
34 
 
 
 
A total urbanização da capital potiguar necessitou da ampliação de serviços e 
de infraestrutura de modo que, para a gestão estratégica dos 167, 263 Km² da 
cidade1, efetivou-se a sua divisão em Zonas Administrativas: Leste, Oeste, Norte e 
Sul, criadas pela Lei Ordinária nº 03878/89. Os critérios para a divisão em Zonas 
Administrativas levaram em consideração aspectos físicos e naturais da cidade 
como também as demandas administrativas a fim de gerar tendências 
descentralizadoras político/gerenciais. A cidade é composta por 36 bairros (mapa 2) 
agrupados nas zonas administrativas mencionadas e possui uma população de 
803.739 habitantes e uma densidade demográfica de47,69 hab/ha, (SEMURB, 
2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Em virtude da total urbanização de Natal/RN e pela própria indefinição legislativa em diferenciar cidade e 
município no que se refere ao recorte espacial em questão, a pesquisa adota o conceito de cidade, visto que já 
não existem espaços rurais na capital potiguar. 
 
35 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mapa 2 – Natal/RN: Zonas Administrativas e Bairros - 2017 
 
 Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal/RN, 2014. 
 Adaptação da autora, 2017. 
 
36 
 
 
De acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE) (IBGE, 2010), a Zona Leste é a menor zona administrativa do 
ponto de vista territorial, com 1.614,76 ha (2), cuja população é de 115.297 
habitantes, correspondente 14, 35 % da população total de Natal. Essa Zona 
Administrativa possui o menor percentual populacional da cidade, no entanto é a de 
maior densidade demográfica com 71, 40 hab/ha. 
Esta porção da cidade é composta pelos bairros Santos Reis, Rocas, Praia do 
Meio, Cidade Alta, Petrópolis, Areia Preta, Mãe Luiza, Alecrim, Barro Vermelho, 
Ribeira, Tirol e Lagoa Seca. A renda média mensal da Zona Leste é de 2,86 salários 
mínimos – SM. Os bairros que dispõem de população de maior poder aquisitivo são 
Petrópolis e Tirol, com um rendimento médio mensal de 6,74 e 6,46 SM, 
consecutivamente, (SEMURB, 2012). Esses se desenvolveram consideravelmente 
na década de 1940 por meio da articulação que existia entre as avenidas Hermes da 
Fonseca e Salgado Filho com o Aeroporto Augusto Severo em Parnamirim, de modo 
que esta conexão possibilitou o crescimento de Natal a partir dos bairros 
mencionados que abrigavam pessoas de alto poder aquisitivo e político, logo na 
Segunda Grande Guerra. 
Diferentemente do evidenciado em Petrópolis e Tirol, Mãe Luiza, que possui a 
segunda maior densidade demográfica dentre os 36 bairros de Natal com 156,33 
hab/ha, é o bairro de maior vulnerabilidade econômica da Zona Leste, com um 
rendimento médio mensal de 0,87 SM - SEMURB, 2012 - ou seja, menos do que o 
estipulado enquanto um valor considerado apropriado para uma vida em situação de 
sobrevivência. O mesmo pode ser dito de quase 23, 28% da população desta área 
que apresenta um rendimento mensal de meio até um salário mínimo. Isto significa 
que quase ¼ das pessoas que residem na Zona Leste vive abaixo da linha da 
pobreza que estabelece um rendimento diário de 7,32 R$ no caso do Brasil3. 
Do ponto de vista comercial, ao se fazer a descrição da paisagem da Zona 
Leste, se faz indispensável à alusão ao comércio dos bairros Alecrim, Cidade Alta e 
Ribeira que historicamente são referência da referida atividade na capital potiguar. 
 
2 1 hectare equivale a 10.000m² ou 0,01 Km² 
3 Informação coletada do site da BBC Brasil com base em informações fornecidas pelo banco 
mundial. Fonte: 
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151009_reducao_pobreza_banco_mundial_ac_lgb 
 
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151009_reducao_pobreza_banco_mundial_ac_lgb
37 
 
 
Estes, além de serem emblemáticos no processo de formação de Natal, também se 
configuraram como áreas tradicionais de comércio. 
O comércio do Alecrim apresenta uma diversidade de mercadorias e se 
constitui como referência para os potiguares no quesito preço baixo, variedades e 
exclusividade de mercadorias da cultura tradicional. “Tudo que você procura tem no 
Alecrim”! Essa é a frase comumente mais escutada quando o assunto é o comércio 
neste bairro; isso porque a atividade dispõe de mercadorias já não comercializadas 
no restante da cidade como utensílios domésticos tradicionais, por exemplo: colher 
de pau, raspador de côco, mangai e também lojas especializadas em chás, licores e 
outros. 
Esse comércio, pela sua pluralidade, tanto no que concerne ao tipo de 
mercadoria quanto ao público atendido, apresenta uma intensa dinâmica de pessoas 
e informações. Difícil mesmo é percorrer as ruas de grandes dimensões comerciais 
no Alecrim sem chocar-se fisicamente com as pessoas. No quesito vendas, este 
bairro permanece na liderança do ranking do comércio popular na cidade. 
Diante dessa pluralidade destaca-se o camelódromo, construído pelo poder 
público na década de 1980, como uma tentativa de resolver os conflitos entre 
ambulantes e comerciantes do bairro. Trata-se de uma forma comercial constituída 
de um aglomerado de pequenas lojas de comércio informal no centro de maior 
movimentação comercial do bairro. Aliás, a informalidade não é uma característica 
inerente apenas ao camelódromo, mas também ao comércio de rua que se 
territorializa nas calçadas de forma que os ambulantes chegam a misturar-se com os 
próprios consumidores, tornando-se difícil diferenciá-los dos transeuntes. 
A este respeito, cabe mencionar a presença de serviços ambulantes de 
alimentação que ocupam as ruas ou mesmo as calçadas das lojas. De longe é 
possível escutar o som que ecoa sem cerimônia: “olha a água de côco geladinha!”, 
“Cocada, só um real!”, “Olha o picolé Caicó!!!” Aliás, difícil é identificar de onde vem 
cada som especificamente, uma vez que, na prática da venda ambulante, as vozes 
se misturam. 
Assim também acontece com os vendedores de lojas que ficam na porta do 
estabelecimento convidando o transeunte para “dar uma olhadinha”! Essa prática de 
abordar o cliente é comum, exceto para o popularmente conhecido “comércio 
chinês”, que está ocupando cada vez mais espaço no comércio do Alecrim e 
atraindo um público interessado na variedade de mercadorias de baixíssimo preço. 
38 
 
 
As ruas são também corriqueiramente disputadas entre pedestres e veículos, 
públicos e privados, porque é justamente no centro comercial do Alecrim, no 
cruzamento das avenidas Presidente Bandeira com Coronel Estevam, sentido Zona 
Sul-Cidade Alta, que existe um ponto nodal da rede de transporte público da cidade. 
Do ponto de vista das atividades de comércio e de serviços, situação similar é 
encontrada no Bairro Cidade Alta, também com a marcante presença do comércio 
varejista com lojas de pequeno e grande porte. O comércio de Cidade Alta 
apresenta um mister com estabelecimentos que vão desde lojas de departamento 
como Riachuelo e CeA a pequenas lojas de roupas e calçados. A grande 
concentração da atividade se estende ao longo da Avenida Rio Branco, um corredor 
de passagem que se constitui numa via que interliga o bairro ao comércio do Alecrim 
e da Ribeira. 
Ainda que com toda a expressividade do ponto de vista comercial, a Cidade 
Alta também apresenta serviços representativos para Natal no que concernem a 
equipamentos de ordem administrativa como órgãos públicos de poder executivo 
federal e municipal, a exemplo do Centro Administrativo e da Prefeitura Municipal; e 
de ordem judiciária como a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Justiça do Rio 
Grande do Norte; de saúde como a Secretaria de Saúde. Também existem 
equipamentos religiosos como a Catedral Metropolitana e as igrejas históricas - 
Igreja do Galo, Igreja de Nossa Senhora da Apresentação (antiga catedral da 
cidade) e Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Esses espaços 
apresentam estrutura arquitetônica de influência portuguesa com a formação de 
praças e largos. A cultura está representada por meio de museus e exploração de 
lugares e prédios históricos e atrações similares, como também outros segmentos 
do comércio e de serviços. Pode-se inferir que a Cidade Alta se constitui num lócus 
importante de estruturação do poder. 
Mesmo com a descentralização das atividades comerciais do Alecrim, Cidade 
Alta e Ribeira, na década de 1980, em virtude da expansão do terciário em Natal e 
também pelademanda de consumo da população de outras áreas da cidade, os 
dois primeiros bairros conseguiram manter a condição de centros comercias. No 
entanto, o bairro da Ribeira é recorrentemente lembrado pelo papel que assume na 
história da cidade, apesar da existência de alguns serviços e do comércio atacadista 
e especializados. Neste bairro, alguns prédios são emblemáticos, do ponto de vista 
histórico, por terem servido ou ainda estarem em condições de servirem de cenário 
39 
 
 
para grandes eventos ocorridos na cidade. A este respeito, fazem-se salutares 
alguns exemplos como a antiga Capitania dos Portos, a Antiga Escola Doméstica de 
Natal, o Antigo Palácio do Governo, a Casa Câmara Cascudo, a Casa onde nasceu 
Café Filho, o Teatro Alberto Maranhão, o Solar Bela Vista e outros. 
 Ainda que a Ribeira seja referência quando se trata da história da cidade, 
cabe lembrar a existência de alguns serviços que se encontram no bairro como a 
Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON), o Instituto Técnico-
Científico de Polícia do Rio Grande do Norte (ITEP) e serviços voltados para a 
população estudantil como o NatalCard, com a oferta de confecção de carteira de 
estudante. 
 A Ribeira representa, junto com a Cidade Alta, o berço histórico e cultural de 
Natal. Nesses bairros semanalmente ocorrem programações com música ao vivo, 
como é o caso do Beco da Lama na Cidade Alta, cujo nome justificado pelo lamaçal 
que se formava na rua não pavimentada – Coronel Cascudo – durante as chuvas na 
segunda metade do século XX. 
 No Beco da Lama alguns espaços são promotores da vida noturna, a exemplo 
do Bar da Meladinha, famoso por servir uma bebida à base de aguardente, limão e 
mel; e o Bar da Nazaré que inclui na sua programação grupos de samba. As 
atividades de lazer também se inserem em praças públicas da Cidade Alta, a 
exemplo do samba que acontece todas as quintas-feiras na praça André de 
Albuquerque, popularmente conhecida como Praça Vermelha. Essa atividade não 
recebe investimentos do poder público, sendo desencadeada pela iniciativa dos 
ambulantes que, juntos, contratam o grupo musical a fim de atrair apreciadores da 
boa música. 
 Na Ribeira, representações culturais se fazem presentes no Teatro Alberto 
Maranhão e na Casa da Cultura, esta última sendo um espaço que recebe grupos 
de todo o país e promove eventos como o circuito cultural que ocorre na Rua Chile, 
localizada na área do centro histórico, composta de prédios antigos como armazéns 
que estocavam os produtos que eram escoados pelo porto. No entorno desta rua 
também estão localizados bares que atraem a população boemia como o Buraco da 
Catita, Consulado Bar, Atelier Bar, Bar Central Ribeira e outros que, juntos, 
compõem um dos espaços da manifestação musical formada por rodas de choro na 
cidade. 
40 
 
 
Os três bairros, Alecrim, Cidade Alta e Ribeira, se destacam em termos de 
comércio na Zona Leste. Nesta zona administrativa a expressão de centralidade no 
segmento de saúde é conferida aos bairros de Petrópolis e Tirol por concentrarem 
equipamentos de saúde que atendem às pessoas da cidade e de outros lugares, 
como clínicas de exames laboratoriais diversos a exemplo do: Centro Clínico da Dor, 
Clínica de Urologia de Natal, Centro Integrado de Reumatologia. Outrossim, estão 
localizados nestes bairros hospitais como: Hospital Municipal de Natal, Natal 
Hospital Center, Hospital de Olhos do Rio Grande do Norte, Hospital Memorial, 
Hospital Universitário Onofre Lopes e Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel/Pronto 
Socorro Dr. Clóvis Sarinho. 
No que concerne aos serviços de educação e lazer, Petrópolis e Tirol são 
expressivos no âmbito da Zona Leste. Em Petrópolis localizam-se: Cidade da 
Criança, Atheneu Norte-Riograndense, UNI-RN, Instituto Maria Auxiliadora (IMA), 
Palácio dos Esportes, Praça Cívica e Câmara Municipal de Natal. Em Tirol cita-se: 
Colégio Marista de Natal, Museu Câmara Cascudo/UFRN, Liga de Ensino do Rio 
Grande do Norte (Escola Doméstica de Natal (ED)/Colégio Henrique Castriciano 
(HC)/ Faculdade Natalense para o Desenvolvimento do Rio Grande do Norte 
(FARN), 16º Batalhão de Infantaria Motorizado, Shopping Midway Mall, Aeroclube do 
Rio Grande do Norte, Associação Atlética Banco do Brasil (AABB-Natal), 
Educandário Oswaldo Cruz, Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN - 
Campus Central), Estádio Juvenal Lamartine, Hotel Tirol, Sede Social do América 
Futebol Clube e Seminário de São Pedro. 
No tocante à Zona Oeste, esta é a segunda menor porção administrativa de 
Natal em termos de área correspondente a 3.575, 89 ha, (SEMURB, 2012). No 
entanto, a sua população é de 218.405 habitantes, a segunda maior da cidade, 
correspondente 27,17 % do total de Natal. Essa zona administrativa também possui 
a segunda maior densidade demográfica com 61, 08 hab/ha, de acordo com o censo 
demográfico do IBGE, 2010. Esta porção da cidade é composta pelos bairros 
Quintas, Nordeste, Dix-Sept Rosado, Bom Pastor, Nossa Senhora de Nazaré, Felipe 
Camarão, Cidade Nova, Guarapes e Planalto. O rendimento médio mensal da Zona 
Oeste é de 0, 99 SM, menor do que a média da cidade que é de 1,78 SM, 
(SEMURB, 2012). Os bairros que dispõem de população de maior poder aquisitivo 
são Cidade da Esperança e Nossa Senhora de Nazaré com um rendimento médio 
mensal de 1,67 e 1,47 SM, respectivamente, (SEMURB, 2012). O restante dos 
41 
 
 
bairros tem rendimento abaixo de 1 SM (IBGE, 2010). Esta área da cidade possui 
um padrão de habitação popular, principalmente no Bairro Guarapes e no Conjunto 
Habitacional Leningrado, localizado no Bairro Planalto, onde parte da população 
adquire a renda a partir da coleta e venda de resíduos recicláveis. No que se refere 
ao Guarapes, o rendimento médio mensal é de apenas 0,53 SM - SEMURB, 2012 - 
ou seja, praticamente meio salário mínimo. 
De acordo com Souza (2008), ao discutir a história de formação da capital 
potiguar, Guarapes só foi elevado à condição de bairro com casas de alvenaria, ruas 
asfaltadas e avenidas bem traçadas, na primeira metade da década de 1990, visto 
que até os anos de 1980 as residências eram quase todas feitas de palha. 
A Zona Oeste, onde está localizado o bairro supracitado, possui os piores 
indicadores socioeconômicos. Silva (2003, p.12), ao analisar o processo de 
produção do espaço com base nas construções irregulares, afirma que: 
 
das quatro Regiões Administrativas, as Zonas Norte e Oeste apresentam-se 
como os loci da pobreza na cidade, contrastando com as Zonas Leste e Sul, 
onde o maior poder aquisitivo da população e a melhor oferta de serviços 
públicos podem ser encontrados. 
 
 Do ponto de vista comercial, a Zona Oeste apresenta um padrão comercial 
similar ao perfil econômico e social da população, anteriormente descrito. No geral 
são equipamentos do varejo, atacado e serviços de pequenas proporções físicas e 
que, geralmente, atendem a um público de poder aquisitivo menos elevado. No 
entanto, existem alguns segmentos específicos a esta porção da cidade, a exemplo, 
dos serviços de saúde como o Hospital Giselda Trigueiro, especializado no 
tratamento de doenças infectocontagiosas e o Hospital Dr. Luiz Antônio – Liga 
Norte-Riograndense Contra o Câncer, ambos localizados no Bairro das Quintas. 
O Bairro Nossa Senhora da Esperança, localizado na Zona Oeste, dispõe de 
atividades de serviço importantes como o Departamento Estadual de Trânsito 
(DETRAN), a rodoviária e o Terminal de Integração de Transportes Urbanos de 
Natal. Também existem serviços de segurança como a Delegacia Especial de Furtos 
e Roubos. No que concerne ao comércio, este não apresenta especificidade de 
acordo com o evidenciado no restante da zona administrativa. Cita-se, entre outras 
categorias, o comércio atacadista de alimentos, vestuário, medicamentos, de 
máquinas e produtos de uso agropecuário. No varejo, existe a presença marcante 
42das lojas de materiais de construção, artigos para festas, vestuário e acessórios e 
outros. 
No que se refere à Zona Administrativa Sul, esta possui a segunda maior área 
territorial, com 4.570, 11 ha, (SEMURB, 2012). Mesmo com estas dimensões 
territoriais, esta porção da cidade possui a segunda menor população em relação às 
demais Zona Administrativas, com 166.491 habitantes (SEMURB, 2012), 
correspondente a 20,71% da população total de Natal. Não chegando a representar 
¼ da população total da capital potiguar, a Zona Sul possui a menor densidade 
demográfica da cidade com números que revelam 36, 43 hab/ha (IBGE, 2010). 
Do ponto de vista financeiro, a população da Zona Sul apresenta o maior 
rendimento médio mensal com 3,45 SM, (SEMURB, 2012). Os seus bairros 
constituintes são Lagoa Nova, Nova Descoberta, Candelária, Capim Macio, Pitimbu, 
Neópolis e Ponta Negra. Dentre estes, a população de maior poder aquisitivo está 
localizada nos bairros Capim Macio e Candelária com rendimento mensal de 4,71 e 
4,35 SM, respectivamente. O Bairro de Nova Descoberta, que tem a maior 
densidade demográfica dentre os demais bairros, com 78,50 hab/ha, possui a 
população de menor poder aquisitivo da Zona Administrativa em questão, com 
rendimento de 2,07 SM (IBGE, 2010). A Zona Sul é um dos principais espaços de 
reprodução da atividade turística, sendo esta de expressiva importância para a 
economia da cidade. 
Quando se põe em evidência os aspectos que caracterizam a Zona Sul, 
torna-se emblemático a concentração de renda da população e investimentos de 
infraestrutura como grandes avenidas, concentração de shoppings, serviços de 
saúde, educação, comércio e lazer. A este respeito, menciona-se Hiper Bompreço, 
Nordestão, Shopping Centers, Sam's Club Natal, Carrefour, Makro Natal, Centro 
Administrativo do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Central da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, Estádio de Futebol Arena das Dunas, Parque da 
Cidade Dom Nivaldo Monte e Sede da Igreja Universal do Reino de Deus no RN. A 
maioria destes equipamentos está localizada nas vias expressas de circulação, 
como por exemplo as avenidas Senador Salgado Filho e Engenheiro Roberto Freire, 
conforme denominadas por Gomes; Silva; Silva (2002). Nelas estão concentrados 
grandes investimentos do setor terciário moderno como bancos, hotéis, faculdades, 
casas de shows, Shopping Centers e outros equipamentos que tem a sua 
localização justificada pela intensa dinâmica de pessoas, mercadorias e 
https://www.google.com.br/search?es_sm=93&q=shoppings+center&spell=1&sa=X&ved=0CBoQvwUoAGoVChMI_M7qgPaCxwIVQYiQCh1xswP7
https://www.google.com.br/search?es_sm=93&q=shoppings+center&spell=1&sa=X&ved=0CBoQvwUoAGoVChMI_M7qgPaCxwIVQYiQCh1xswP7
43 
 
 
informações. Nas palavras de Gomes; Silva; Silva (2002, p. 295) “as vias expressas 
de circulação, isto é, as grandes avenidas, têm no contexto da cidade, uma função 
importante: permitir a articulação de todo o território da cidade [...]”. 
Os Shopping Centers, construídos na década de 1990, agregaram 
valorização econômica e social para a Zona Sul atraindo novos equipamentos. 
Nesse processo, a instalação dos shoppings promoveu a dinamização do espaço de 
sua localização, a exemplo das avenidas Bernardo Vieira, Salgado Filho e 
Engenheiro Roberto Freire representadas na foto 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No que se refere à Zona Norte, esta apresenta as maiores dimensões 
territoriais em relação às demais zonas administrativas da cidade. Com um total de 
5.888,50 ha, representa quase 35% de todo o território da capital potiguar e sua 
população é de 303.543, o que equivale a 37,77% da população total de Natal 
(SEMURB, 2012). Essa porção da cidade concentra o maior contingente 
Foto 1 - Principais Avenidas da Zona Sul de Natal/RN/2015 
Imagem 1 e 2 – Avenida Bernardo Vieira na qual localiza-se o Shopping 
Midway Mall 
Imagem 3- Avenida Salgado Filho na qual localizam-se os shoppings Via 
Direta e Natal Shopping 
Imagem 4- Avenida Engenheiro Roberto Freire na qual localizam-se os 
shoppings Cidade Jardim e Praia Shopping 
Fonte: Acervo da autora, 2015. 
 
 
https://www.google.com.br/search?es_sm=93&q=shoppings+center&spell=1&sa=X&ved=0CBoQvwUoAGoVChMI_M7qgPaCxwIVQYiQCh1xswP7
https://www.google.com.br/search?es_sm=93&q=shoppings+center&spell=1&sa=X&ved=0CBoQvwUoAGoVChMI_M7qgPaCxwIVQYiQCh1xswP7
44 
 
 
populacional da capital potiguar e apresenta uma densidade demográfica de 51,55 
hab/ha, de acordo com o censo demográfico do IBGE (2010). 
A Zona Norte é composta pelos bairros Lagoa Azul, Pajuçara, Potengi, Nossa 
Senhora da Apresentação, Redinha, Igapó e Salinas, conforme apresentado no 
Mapa 2. Dentre estes, a maior densidade demográfica está no Bairro de Igapó, cuja 
área é de 220,16 ha, a menor dessa zona administrativa, no entanto apresenta 
130,90 hab/ha, (SEMURB, 2012). 
No que se refere à renda média mensal da população da Zona Norte, o valor 
é de 0,92 SM, abaixo do valor estipulado para um salário mínimo, (SEMURB, 2012). 
O único bairro a atingir níveis acima de 1 SM é Nossa Senhora da Apresentação 
com 1,23 SM. O caso mais expressivo é o de Salinas, que detém o rendimento de 
0,46 SM, não só o pior no âmbito da Zona Norte, mas também de toda a cidade do 
Natal. Este bairro, mesmo com a terceira maior área da Zona Norte – 1.031,22 ha, 
possui densidade demográfica de apenas 1,14 hab/ha (IBGE, 2010). Isto pode ser 
justificado devido a sua proximidade com o mangue e também com a inundação 
quase que total do bairro provocada pela elevação dos níveis do Rio Potengi, em 
virtude da sua proximidade com a mar. Este bairro apresenta altos índices de 
violência urbana e também precariedade quantos aos serviços básicos de saúde e 
saneamento básico. 
A Zona Norte, de modo geral, tem um perfil de construção civil 
eminentemente horizontal. Isso segue o Plano Diretor de Natal que proíbe 
construções na zona acima de 7,5 metros de altura. As justificativas para tal medida 
se devem ao desequilíbrio entre saneamento básico e o considerável adensamento 
do solo. Entretanto, mesmo com o elevado contingente populacional, esta zona da 
cidade tem apresentado crescimento expressivo, principalmente para quem paga 
aluguel, em virtude de preços mais acessíveis em comparação com outras áreas da 
cidade, (SEMURB, 2012). 
O território desta porção da cidade foi expressivamente ocupado por 
conjuntos habitacionais entre as décadas de 1980 e 1990, principalmente para 
atender à necessidade de moradia para a mão-de-obra empregada na indústria e na 
construção civil em vigência neste período. Esses conjuntos foram construídos pelo 
Estado por meio da atuação da COHAB, de modo que atendeu a parcial 
necessidade de moradia no contexto de expansão urbana de Natal em direção à 
Zona Norte. Em concomitância a estes, também surgiu um grande número de 
45 
 
 
loteamentos (Mapa 3) que dividirão o solo urbano desta zona da cidade em lotes 
destinados à edificação para fins de moradia para a população que não fora 
beneficiada com residência em conjunto habitacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No que tange ao comércio, segundo Mendes (2013), a Zona Norte “é a região 
da cidade que mais cresce economicamente”, principalmente no que se refere ao 
comércio tradicional, este tipo de comércio entendido como aquele de pequeno 
porte, de base familiar e principalmente que não se utiliza do autosserviço. Isto não 
quer dizer que o comércio moderno não tenha repercussão nesta porção da cidade. 
Este último está bem representado nas principais vias expressas de circulação como 
as avenidas Doutor João Medeiros Filho e Bacharel Tomas Landim. Nestas percebe-
se a presença de grandes lojas especializadas, de Shopping Centers, redes de 
supermercados e outros. 
Próximo a essas avenidas, desenvolveram-se em corredores secundários 
intraurbanoscomo ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, um comércio de 
mercadorias eminentemente populares e de baixo preço, com lojas não 
especializadas e de estabelecimentos de menores proporções físicas. Por se tratar 
da área de estudo da presente pesquisa, mais informações sobre essas ruas serão 
aprofundadas na subcessão seguinte. Esta se deterá de forma pormenorizada, não 
apenas do comércio da Zona Norte, mas também e principalmente, nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte. 
LEGENDA 
 
 
Conjuntos habitacionais 
Loteamentos 
 
Mapa 3 - Conjuntos Habitacionais e Loteamentos na Zona Norte/2016 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, 2014 
 
 
https://www.google.com.br/search?es_sm=93&q=shoppings+center&spell=1&sa=X&ved=0CBoQvwUoAGoVChMI_M7qgPaCxwIVQYiQCh1xswP7
https://www.google.com.br/search?es_sm=93&q=shoppings+center&spell=1&sa=X&ved=0CBoQvwUoAGoVChMI_M7qgPaCxwIVQYiQCh1xswP7
46 
 
 
2.1.1. A ATIVIDADE COMERCIAL NA ZONA NORTE DE NATAL/RN 
 
O processo de expansão urbana de Natal, na década de 1980, fez com que 
as atividades comerciais também se expandissem para atender à demanda da 
população. Nesse período inicia-se o processo de descentralização do comércio do 
varejo moderno, até então concentrados nos bairros do Alecrim e da Cidade Alta, 
passando a localizar-se inicialmente nas principais vias expressas de circulação na 
Zona Sul. A partir da década de 1990, esse varejo moderno também começou a se 
fazer presente na Zona Norte, nos principais eixos articuladores desta área: 
avenidas Bacharel Tomaz Landim e Doutor João Medeiros Filho. Em paralelo ao 
processo de incorporação do varejo moderno nestas avenidas principais, o comércio 
tradicional firmou-se em corredores secundários intraurbanos como as ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte, fato que contribuiu para a dinâmica comercial da 
Zona Norte. 
Assim sendo, na Zona Norte de Natal, a atividade comercial se expressa de 
duas formas: uma correspondente ao comércio constituído principalmente pelo 
varejo moderno, que se espacializa em seus principais eixos articuladores; e a outra 
representada pelo comércio tradicional marcadamente presente nas ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte, que atendiam a função residencial e foram transformadas, 
sendo quase que totalmente ocupadas, pela atividade comercial com 
estabelecimentos de pequenas lojas generalistas, de base predominantemente 
familiar e de caráter de proximidade. 
O emprego dos conceitos de comércio moderno e tradicional baseia-se nas 
discussões elaboradas pelos geógrafos portugueses Fernandes; Cachinho e Ribeiro 
(2000, p.11), ao discorrerem sobre o comércio retalhista português. Para estes 
autores, há atributos que diferenciam essas duas expressões, considerando várias 
dimensões de análise (Quadro 2): 
 
Quadro 2 - Atributos do comércio varejista moderno e tradicional, segundo 
Fernandes; Cachinho e Ribeiro (2000) 
DIMENSÕES DE 
ANÁLISE 
ATRIBUTOS DO COMÉRCIO VAREJISTA 
TRADICIONAL MODERNO 
Formato das lojas Pequenas lojas 
generalistas; Pequenas 
lojas especializadas; 
Feiras. 
Grandes superfícies especializadas; 
Centros comerciais; Grandes 
superfícies alimentares: 
supermercados, hipermercados, etc. 
47 
 
 
Formas de venda Relação estreita entre 
comerciante e 
consumidor; Venda ao 
balcão. 
Venda automática e a distância; 
Presença do autosserviço. 
Tipo de comerciante Pequenos retalhistas; 
Comerciantes 
independentes. 
Grandes cadeias de distribuição; 
Redes sucursalistas. 
Estratégia de gestão das 
empresas 
Predomínio da gestão 
familiar. 
Gestão estratégica (capitalista). 
Localização: lugares e 
princípios 
Proximidade, vizinhança; 
Bairros residenciais. 
Acessibilidade; Grandes artérias da 
cidade. 
 Fonte: Fernandes; Cachinho e Ribeiro, 2000 (adaptação da autora, 2016). 
 
Ao analisarem a realidade portuguesa, Fernandes; Cachinho e Ribeiro (2000) 
compreendem o comércio tradicional como uma classe da atividade comercial que 
se contrapõe às novas formas (centros comerciais, hipermercados, supermercados, 
grandes superfícies especializadas etc.) no contexto da “Revolução Comercial”. Esta 
caracteriza-se em linhas gerais, pela introdução de novas formas de organização e 
gestão das atividades no interior dos estabelecimentos, introdução de novas 
tecnologias, novas formas de venda e a implantação do autosserviço. 
Para os autores, “o aparelho comercial tradicional, é formado por pequenos 
estabelecimentos, generalistas ou especializados na oferta de um número reduzido 
de produtos afectos a ramos de actividade específicos” (FERNANDES; CACHINHO 
e RIBEIRO, 2000, p. 10). Neste tipo de comércio os estabelecimentos são geridos 
essencialmente por pequenos empresários, comerciantes independentes e 
pequenas sociedades por quota. 
Do ponto de vista de venda, o comércio moderno dispõe do autosserviço ao 
passo que o comércio tradicional privilegia a venda a balcão, isto porque: 
 
 (...)de pequena dimensão, os estabelecimentos tradicionais alicerçavam a 
arte de comerciar na venda ao balcão, no contacto direto com o cliente e no 
atendimento personalizado. O comerciante não só vende mercadorias como 
também presta um serviço; expõe os artigos, informa os clientes sobre as 
suas características e ajudando-a a tomar decisões”. (FERNANDES; 
CACHINHO E RIBEIRO, 2000, p.11-12). 
 
No que concerne às estratégias de gestão dos empreendimentos, a grande 
característica que difere o comércio tradicional do comércio moderno são os agentes 
envolvidos na administração. No primeiro predomina o gerenciamento familiar, 
enquanto no segundo a gestão é realizada por estratégias capitalistas. 
48 
 
 
Tomando por referência esses atributos, infere-se que o comércio moderno 
imprimiu novas formas de consumo à Zona Norte, a partir da implantação de 
equipamentos deste segmento. Nesta área da cidade é marcante a presença de 
escolas, equipamentos de saúde especializados como o Instituto do Rim, além de 
investimentos do varejo e do atacado como o Carrefour, inaugurado em 2006; o 
Natal Norte Shopping, renomeado em 2014 para Partage Nort Shopping, por 
ocasião da gestão pela rede de investimentos imobiliários Partage; o Atacadão e o 
Shopping Estação, de 2008; o Supermercado Nordestão do Conjunto Santa 
Catarina, estabelecido em 1981, e o Atacadão Autosserviço, inaugurado em 2008. 
Além dos equipamentos mencionados, também se fazem presentes lojas 
especializadas em eletroeletrônicos e eletrodomésticos que ofertam ao consumidor 
produtos de caráter popular, chamados de bens de consumo da linha branca, 
caracterizada pela baixa sofisticação na produção no que concerne ao corte, pintura 
e acabamento. Alguns exemplos de lojas com esse perfil de mercadoria na Zona 
Norte são: Lojas Maré Mansa, Lojas Insinuante, Casas Bahia, Rede Unilar, 
Magazine Luiza, Laser Eletro, Atacadão dos Eletros e Armazém Pará, localizados 
nas avenidas Bacharel Tomaz Landim e Doutor João Medeiros Filho. 
Em consonância com o comércio moderno, existe também na Zona Norte de 
Natal o comércio tradicional. Este é composto de lojas de pequeno porte, pouco ou 
nada especializadas, além de apresentar um atendimento marcado pelas relações 
de proximidade com o cliente. 
 A partir do exposto sobre o comércio moderno e tradicional, percebe-se que, 
no processo de produção do espaço urbano da Zona Norte, existem lugares que tem 
a configuração espacial regida por um comércio de ordem global, mas também há 
aqueles que criam a sua própria sinergia frente a essa ordem. Tratam-se de lugares 
que possuem na sua história, características próprias e também a coexistência dos 
momentos sociais. Lefebvre (2001) denomina de ordem distante e de ordem 
próxima. A primeira é aquela verticalizada, regida pelas grandes instituições, ao 
passo que, a segunda, se realiza no âmbito do cotidiano, se efetiva através das 
práticas espaciais de indivíduos, de pequenos grupos e se concretiza no lugar.Nesta perspectiva, chama-se a atenção para as ruas Chegança, Pompéia e 
Boa Sorte, sendo a primeira pertencente ao Conjunto Habitacional Nova Natal e as 
outras duas aos loteamentos Nova Repúblicas e Santarém, respectivamente. Essas 
49 
 
 
ruas inicialmente, visavam atender à função habitacional, mas foram transformadas, 
tornando-se predominantemente ruas de comércio. 
Faz-se importante a observação da forma comercial presente nas ruas 
estudadas a fim de descrever sua paisagem atual, que se encontra composta de um 
conteúdo diferente do momento de sua edificação. Fala-se de espaços comerciais 
que suscitam a busca pela mercadoria ofertada na rua; mercadoria esta que para 
chegar ao consumidor não precisa necessariamente estar em lugares 
especializados a exemplo dos shopping centers. Nas ruas de comércio, há uma 
extensão de lojas e intensiva exposição das mercadorias que atrai o consumidor e o 
seduz à compra. “A mercadoria, tornada espetáculo (provocante, atraente), 
transforma as pessoas em espetáculo, uma para as outras” (LEFEBVRE, 1999, p. 
17). O autor refere-se ao efeito que a mercadoria tem de espetacularizar as 
pessoas, tornado-as mais perceptíveis para as outras. Nas ruas Pompéia, Chegança 
e Boa Sorte, o espetáculo também está na forma como a atividade se reproduz, 
através, por exemplo, do vestuário que, mesmo sendo popular, segue a moda 
recorrentemente lançada na mídia. 
A atividade comercial na Pompéia, Chegança e Boa Sorte se constitui num 
comércio de proximidade física, uma vez que atende sobremaneira à população dos 
bairros e de localidades vizinhas, e também social, pois os comerciantes mantém 
uma relação estreita com o consumidor. De acordo com Barreta (2012, p.14) “o 
conceito de comércio de proximidade retrata o comércio que está próximo da sua 
procura, não só fisicamente, mas também, e principalmente, social, cultural, 
patrimonial e comercialmente”. O tratamento personalizado com o cliente; a 
organização simples do estabelecimento; o pequeno, mas significativo, estoque de 
mercadorias; e o pouco uso da publicidade constituem algumas características 
comuns às atividades do comércio de proximidade. Este se refere ao conjunto de 
relações entre as pessoas que compartilham experiências comerciais no lugar, 
criando laços profundos de identidade, de solidariedade. Também é de proximidade, 
pelas relações estabelecidas com os clientes, correspondendo à definição 
apresentada pelo autor. 
Assumindo essa compreensão, entende-se que o comércio de proximidade, 
presente nas ruas estudadas, está relacionado a uma questão espacial, pois as 
características desta atividade nestes lugares estão vinculadas à demanda de 
consumo e a situação socioeconômica do consumidor tanto dos bairros onde se 
50 
 
 
localizam as ruas, mas também da Zona Norte. O quadro econômico desta zona 
administrativa, revelado pelo IBGE (2010) e melhor representado na tabela 1, mostra 
que a população dos bairros da Zona Norte, exceto Potengi, sobrevive com um 
rendimento mensal abaixo de 1 SM. 
 
Tabela 1 - Distribuição da renda familiar na Zona 
Norte Natal/RN, por bairro (2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De modo geral, as condições socioeconômicas encontras na Zona Norte são 
desfavoráveis em relação a outras zonas da cidade, por exemplo, Leste e Sul. Além 
da situação de renda elucidada, outros fatores não identificados na tabela 1 podem 
ser problematizados na Zona Norte, como serviços públicos deficitários de 
saneamento básico e pavimentação, ambos com um quantitativo abaixo de 50%, e 
baixa taxa de alfabetização entre 5 anos de idade ou mais com índice de 88% 
(SEMURB, 2014). 
Mesmo diante das condições mencionadas, a Zona Norte apresenta uma 
dinâmica comercial crescente, principalmente no que se refere ao comércio informal. 
Por não ter licenciamento e pouca fiscalização, muitos comerciantes não pagam 
impostos do estabelecimento à Secretaria de Tributação do Estado, e mesmo assim 
conseguem gerar renda que garanta a sobrevivência da família no cenário de crise 
econômica que atinge, segundo o IBGE, taxas exorbitantes de 12 milhões de 
desempregados no segundo semestre de 2016 em todo o país e consequentemente 
Bairro Renda (R$) Rendimentos 
Médios 
Igapó 484, 5 0,95 
Lagoa Azul 402,9 0,79 
Nsa. Sra da Apresentação 413,1 0,81 
Pajuçara 469,2 0,92 
Potengi 627, 3 1,23 
Redinha 428,4 0,84 
Salinas 234,6 0,46 
 
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística, Censo Demográfico 2010. (Salário mínimo 
vigente em 2010 R$ 510, 00). 
(Adaptação da autora, 2016). 
 
51 
 
 
no Rio Grande do Norte. O comércio informal também é representativo nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte, de modo que, das três ruas, apenas a Boa Sorte 
tem o número de estabelecimentos formais superior ao de informais. 
Diante do exposto, com o propósito de atender à segunda seção 
“Descrevendo a Realidade”, com base no primeiro momento do método regressivo-
progressivo, realizou-se a descrição das atividades de comércio na Zona Norte e 
nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte. Para tanto, adotou-se como fundamento 
a seguinte metodologia: após a descrição das atividades de comércio e de serviços 
desenvolvidas nas ruas estudadas, foi possível construir um croqui apresentando a 
espacialização por segmento. Vale salientar que, do ponto de vista técnico, o croqui 
não tem nenhuma intenção de mapeamento, mas sim de representação sendo a 
rua, inclusive, entendida como um plano. A construção desta representação tomou 
por base o levantamento de informações a partir da pesquisa de campo com a 
anotação de cada estabelecimento e a sua posterior categorização de acordo com a 
Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE), versão 2.2/2015. 
 
2.1.2. POMPÉIA: O ALECRIM DA ZONA NORTE 
 
A Rua Pompéia, está localiza entre os bairros Potengi, Pajuçara e Redinha, 
sendo o primeiro bairro citada, o mais antigo da Zona Norte com ocupação iniciada 
no final da década de 1970, enquanto que o segundo e o terceiro tiveram sua 
ocupação, principalmente na década de 1990. Pompéia delimita, portanto, três dos 
sete bairros da Zona Norte, no entanto, o comércio se desenvolve nos bairros 
Pajuçara e Potengi, visto que, foi entre estes bairros que o comércio da rua surgiu e 
ganhou dinamicidade com a incorporação desta via na maioria das rotas de 
transporte público que circulam nesta porção da cidade. A pujança comercial da 
Pompéia está impressa na paisagem (Foto 2) em que é possível encontrar uma 
variedade de lojas, de modo que atende a demanda de consumo, principalmente 
local. 
 
 
 
 
52 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A foto 2 demonstra o potencial comercial da Pompéia que apresenta intenso 
fluxo de pessoas e veículos, o que implicitamente remete à circulação de 
mercadorias. O comércio da rua muito se assemelha ao do Alecrim (Foto 3), 
consagrado como referência de comércio popular em Natal ao dispor de uma 
enorme variedade de mercadorias, o que favorece o consumidor no que concerne a 
satisfação de suas necessidades básicas de vestuário, acessórios, alimentação e de 
serviços como reparação de veículos automotores, motocicletas, bicicletas, 
consertos de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, dentre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Street View Google Maps, 2016. 
Foto 2 - Comércio na Rua Pompéia - 2016 
Foto 3 - Comércio na Avenida Coronel Estevam (Av. 9) - 
Alecrim/2016 
Fonte: Mineiro, 2015. 
53 
 
 
Chama a atenção no comércio da Pompéia, a dinâmica marcada pela 
diversidade de mercadorias, fazendo com que a atividade comercial nesta rua se 
assemelhe a existente no Alecrim, de modo que, comerciantes e consumidores lhe 
atribuam o apelido de “o Alecrim da Zona Norte”. O comércio existente nesta rua tem 
uma proposta de atender a uma demanda do consumo diferenciada daquela 
existente na Avenida Doutor João MedeirosFilho. Trata-se de uma atividade que 
apresenta um mix de lojas e mercadorias, embora predomine o segmento de 
vestuário e acessórios. 
No mapa 4 está representada a Rua Pompéia onde o lado corresponde ao 
limite territorial do Bairro Potengi faz parte do Conjunto Habitacional Santarém, 
construído pela COHAB em 1981 para atender a demanda da moradia de famílias 
de 3 a 5 salários mínimos. Já no lado pertencente ao Bairro Pajuçara (Mapa 4), 
estão localizados os loteamentos Nova República e Dom Pedro I. No decurso da 
Rua Pompéia, seja no lado margeado pelo Bairro Potengi ou Pajuçara as 
edificações residenciais se fazem presentes em concomitância com o comércio e os 
serviços. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O quadro 3 representa o número de lojas presentes na Rua Pompéia. Ainda 
com base na metodologia adotada, que envolveu a descrição e a categorização do 
comércio, elaborou-se um croqui que demostra a espacialização desta atividade por 
segmento ao longo da Pompéia (Croqui 1). A obtenção dos dados para a elaboração 
da referida representação aconteceu por meio de atividade de campo na qual 
executou-se um percurso por toda a extensão da rua, observando e anotando cada 
estabelecimento e a sua correspondente localização. Vale lembrar que o mesmo 
procedimento metodológico fora empregado nas ruas Chegança e Boa Sorte. 
 
Quadro 3 - Lojas da Rua Pompéia - 2016 
Lojas Números 
Segmento comercial Nº de 
estabelecimentos 
(%) na rua 
Comércio varejista de mercadorias em 5 2 % 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Natal/ 
RN, 2000 . 
Elaboração: Soneide Moura da Costa.; Joabio Alekson Cortez, 2016. 
 
Mapa 4 - Rua Pompéia, Natal/RN – 2016 
55 
 
 
geral, com predominância de produtos 
alimentícios - minimercados, mercearias e 
armazéns 
Serviços de lavagem, lubrificação e 
polimento de veículos automotores 
9 4% 
Comércio atacadista de artigos do 
vestuário e acessórios, exceto 
profissionais e de segurança 
10 4% 
Comércio varejista de bebidas 6 2 % 
Serviços de borracharia para veículos 
automotores 
3 1% 
Comércio varejista de artigos do vestuário 
e acessórios 
172 68% 
Restaurantes e similares 11 5% 
Comércio varejista de carnes – açougues 4 2% 
Comércio varejista de mercadorias em 
geral, com predominância de produtos 
alimentícios – supermercados 
2 0,7% 
Comércio varejista de produtos 
farmacêuticos, sem manipulação de 
fórmulas 
8 3% 
Casas lotéricas 1 0,3% 
Fabricação de produtos de panificação 
industrial 
6 2 % 
Atividade odontológica com recursos para 
realização de procedimentos cirúrgicos 
5 2% 
Bares e outros estabelecimentos 
especializados em servir bebidas 
10 4% 
TOTAL 252 100% 
Fonte: Elaboração da autora com base na pesquisa de campo, 2016. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
56 
 
 
 
 
57 
 
 
De acordo com as informações obtidas (Croqui 1), é possível perceber que o 
comércio e os serviços da Pompéia apresentam-se variados ao longo da sua 
extensão, embora seja notável a predominância de lojas de vestuário e acessórios. 
Caminhando pela rua, evidenciou-se ainda, que saindo da Avenida Doutor João 
Medeiros Filho, em direção à Rua Plano Piloto, é possível notar a presença 
marcante de residências e de bares. 
 No decorrer do percurso pela rua, percebeu-se a presença de lojas de 
vestuário e acessórios entre as ruas Plano Piloto e Três Poderes. A predominância 
deste segmento também é evidenciada entre as ruas Santo Expedito e Castelo 
Banco e desta em direção à Rua das Flores. 
 Entre a Av. Doutor João Medeiros Filho e a Travessa Piracanjuba, chama 
atenção a concentração do segmento de comércio atacadista de artigos do vestuário 
e acessórios, exceto profissionais e de segurança, composta no caso da Pompéia 
por estabelecimentos de pronta entrega. Também neste primeiro trecho, expressa-
se fortemente a oferta de serviços automobilísticos como: lavagem, lubrificação e 
polimento de veículos. Próximo a este último segmento também são evidenciados, 
com maior frequência, os bares e o comércio varejista de bebidas especializados na 
comercialização de bebidas de modo geral, incluindo os chamados disk entrega de 
água, estabelecimentos de vendas de bebidas alcoólicas e refrigerantes. 
 Ainda percorrendo a Pompéia, nota-se que da Rua Cerro Azul a Rua Santa 
Margarida evidencia-se a presença marcante de serviços odontológicos, 
cabeleireiros, manicure e pedicure, casas lotéricas, farmácias, supermercado. É 
também nesta porção que se encontra a maior concentração de lojas de vestuários 
e acessórios. Com relação a este último segmento, a sua composição é 
basicamente de lojas que comercializam mercadorias de caráter popular, a maioria 
com oferta de confecções de preço único (Foto 4). 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A foto 4 evidencia lojas de preço único que estão localizadas entre as ruas 
Itororós e Santa Margarida. O fato de estes estabelecimentos estamparem em faixas 
ou em fachada o apelo da oferta de todas as mercadorias vendidas por um preço 
único, denota a concorrência entre comerciantes, uma vez que existe forte 
semelhança entre as mercadorias. 
Neste caso, o comerciante chama a atenção do consumidor por meio de 
mensagens subjetivas, seja numa proposta de fazer com que este sinta-se bem 
recebido e com possibilidades de compras para a toda a família, conforme exposto 
na imagem 1 e 2 da foto 4, seja pela sensação de poder que a informação transmite, 
seduzindo o consumidor para a compra, a exemplo do que se evidencia na imagem 
3 da mesma foto. Existem também aquelas lojas que lançam promoções relâmpago 
com preço único, a fim de provocar no consumidor o desejo de conferir as 
mercadorias postas à venda. 
Não só as fachadas das lojas funcionam como instrumento de comunicação e 
sedução à prática do consumo. Os próprios manequins, que funcionam como 
vitrines, são trajados com a mercadoria da loja com o propósito de despertarem, no 
consumidor, o desejo da compra mediante possibilidade deste se enxergar vestido 
tal qual o exposto. Desta forma, pode-se pensar na ideia de vitrine com “uma forma 
Foto 4 - Lojas de preço único, Pompéia, Natal/RN/2016 
Fonte: Acervo da autora, 2015. 
1 2 
3 4 
59 
 
 
de manifestar o imaginário social, representando, dessa maneira, um modo possível 
de apreender as relações” (DEMETRESCO, 2004, p. 23). Essa noção de vitrine 
apreendida pela autora, ao discutir o poder que a mesma tem sobre a decisão de 
comprar tomada pelo consumidor, conduz a interpretação de que estas não são 
apenas espaços de exposição de mercadorias, mas também reprodutoras de 
significados estéticos, emocionais e midiáticos. 
Nesta perspectiva, Oliveira (1997), ao escrever sobre o efeito que a vitrine 
causa no consumidor referente à semiótica dos designers e arranjos da mercadoria, 
explica que: 
 
(...) as imagens são percebidas pelo observador a partir de seu grau de 
pertinência. Assim, a vitrina é percebida tanto em função da relevância 
prática ou objetiva do produto para o passante, quanto da relevância das 
referências simbólicas que ela pode estimular no observador (OLIVEIRA, 
1997, p. 73). 
 
O consumidor tem o olhar apreendido pela mercadoria exposta nas vitrines. 
No caso da Pompéia, o manequim exerce essa função quase que 
predominantemente. Nesta rua, o comércio é popular e os estabelecimentos 
comerciais são, na maioria, informais do ponto de vista da tributação. 
A partir dos dados coletados na pesquisa de campo, fez-se uma comparação 
entre o número de estabelecimentos existentes na Pompéia e os dados fornecidos 
pela Secretaria Municipal de Tributação do Natal (SEMUT) (Gráfico 1). Tal fato deixa 
clara a importância de se realizar a pesquisa de campo em função da alta 
representatividade do comércio informal na rua que não é contabilizada pelosórgãos 
de fiscalização, visto que a atribuição deste último concerne ao acompanhamento de 
estabelecimentos formais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
60 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os dados fornecidos pela Secretaria de Tributação de Natal (SEMUT) dizem 
respeito aos estabelecimentos formais do ponto de vista da arrecadação de 
impostos. A partir deste requisito, percebe-se que na Pompéia existem 13 
estabelecimentos catalogados pela SEMUT dentre os quais estão o único 
supermercado, casas lotéricas, clínicas e estabelecimentos de carnes e frios. O 
restante dos estabelecimentos, que juntos somam 239, não são contribuintes, e, 
portanto, são considerados como estabelecimentos informais. Do total de 
estabelecimentos informais, destacam-se as lojas de vestuário e reparação de 
eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Segundo Tavares (2002, p.13), ao discutir a 
precarização do trabalho, o setor informal compreende “atividades de sobrevivência 
orientadas para a reprodução do trabalhador e do seu núcleo familiar, 
comportamento que se inscreve entre as características definidoras do que se 
conhece como ‘setor informal”. A autora também expõe que este setor, no qual 
também está incluso o comércio informal, é comum entre comerciantes que aderem 
 
Gráfico 1 - Número de estabelecimentos de comércio e serviços quanto à 
formalização – Pompéia/2016 
Fonte: Secretaria Municipal de Tributação – SEMUT, Natal, 2014; pesquisa de campo, 2015 
(Adaptação da autora, 2016). 
 
 
61 
 
 
à atividade como possibilidade de gerar renda mediante adversidade como 
desemprego e desejo de não se submeter às ordens de chefes. 
Além dos fatores apontados por Tavares (2002), a presença marcante do 
comércio informal na Pompéia também está relacionada à baixa renda dos 
comerciantes, que inclusive na sua maioria, optam por fixarem estabelecimentos 
para complementarem a renda familiar ou mesmo sobreviverem do rendimento da 
atividade. 
 Em relação as atividades comerciais desenvolvidas na Pompéia, do total de 
27(4) entrevistados, todos possuem o estabelecimento gerido pela organização 
familiar. Lea (1991, p. 5), ao discorrer sobre o significado de empresa familiar, a 
conceitua como empresa “totalmente ou na sua maior parte controlada por uma 
pessoa ou pelos membros de uma família”. No caso da rua em foco, questionados 
sobre quantos funcionários trabalhavam com o entrevistado, todos respondem entre 
nenhum e no máximo três funcionários (Gráfico 2) e que, mesmo no caso daqueles 
que possuem até três pessoas trabalhando no estabelecimento, a sua gestão 
pertence ao comerciante diretamente ligado à atividade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 O número de comerciantes entrevistados foi definido com base na elaboração de uma amostra 
aleatória simples a partir da seguinte fórmula: , sendo assim, em que, v é a 
Variância das respostas obtidas; z é o quantil da normal que acumula , com α = 0.05, temos 
que z = 1.96; e é a margem de erro admitida. Para os dados, temos que: V = 2.079051; Z = 1.96; e = 
0.45, estamos assumindo um erro de 0.45 unidades, ou seja, é o que a estimativa estará diferindo da 
real média. Dado isto, obtivemos um n = 40. O mesmo procedimento foi adotado nas ruas Chegança 
e Boa Sorte. 
62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O gráfico 2 demostra um número reduzido de funcionários por 
estabelecimento e a predominância de até mesmo nenhum, visto que, na maioria 
dos casos, o desenvolvimento de todos as funções fica a cargo do próprio 
proprietário. Torna-se implícito que, se inexiste funcionários ou estes constituem um 
número reduzido, a empresa possui dimensões relativamente pequenas e tem a 
gestão majoritariamente conferida à família. Corroborando com o conceito de Lea 
(1991) sobre empresa familiar, Leone (1992), ao realizar um estudo sobre as 
atividades comerciais em João Pessoa/PB, argumenta que este tipo de empresa 
deve ter a presença de membros da família na organização gestora do 
estabelecimento, os valores da família devem estar corporificados na firma e a 
sucessão de gestão deve acontecer no âmbito familiar. 
No que se refere à sucessão da gestão familiar, a pesquisa deixou evidente 
que grande parte dos entrevistados na Pompéia escolheram trabalhar nesta rua para 
dar continuidade aos negócios da família. No caso, 31% dos comerciantes 
assumiram a gestão ou mesmo a propriedade dos estabelecimentos consolidados 
pelos pais, por exemplo. Ainda mediante pergunta elaborada sobre os motivos que 
que os fizeram escolher a rua para fixarem estabelecimento, 44% responderam que 
a escolha se deveu à aposentadoria. 
Gráfico 2 - Percentual de funcionários que trabalham no estabelecimento 
– Pompéia/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
63 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A partir das respostas obtidas, infere-se que o comércio da Pompéia esteja 
predominantemente representado por comerciantes que, ao cumprirem o tempo de 
serviço em outros setores, decidiram estabelecer comércio na rua. Desta forma, 
pode compreender que a atividade comercial na Pompéia se constituiu como 
oportunidade para muitas pessoas se tornarem comerciantes e poderem continuar 
exercendo atividades. O fato do número de entrevistados revelar predominância de 
aposentados, demostra a faixa etária aproximada dos comerciantes da rua. A 
representatividade expressa pelo número de aposentados que decidiram 
estabelecer comércio na rua, é também um dos vieses interpretativos da 
informalidade presente nos estabelecimentos observados. Tal fato pode ser 
explicado pelo fato destes estabelecerem o comércio como uma atividade que, além 
de complementar a renda familiar, também se constituiu numa forma de vencer a 
ociosidade. Além do mais, a não formalização do estabelecimento acaba por não 
trazer problemas para o comerciante do ponto de vista da previdência posto a sua 
própria situação de já ter aposentadoria. 
A maioria dos comerciantes trabalha no segmento de vestuário e acessórios. 
Neste caso, a mercadoria, comprada para abastecer a loja, é oriunda principalmente 
de outros estados conforme expresso no gráfico 4: 
Gráfico 3 - Motivos para escolha do comércio – Pompéia/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
64 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dentre os estados citados, cerca de 90% dos entrevistados apontou fazer 
compras no Ceará, principalmente em Fortaleza, e em Pernambuco, 
predominantemente nas cidades de Caruaru e Toritama, esta última conhecida 
como a capital do Jeans. Marcadamente, o polo de confecções de Agreste 
pernambucano, formado por Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, exerce 
grande influência do ponto de vista da distribuição de mercadorias populares não 
apenas para a Pompéia e as outras ruas estudadas, mas também em grande parte 
do Nordeste e outras porções do país. A mercadoria ofertada por estas cidades é de 
baixo custo, explicado pelas precárias condições de sua produção. Negreiros (2010, 
p. 42), ao estudar a relação entre o arranjo produtivo local da produção de jeans em 
Toritama e as condições de vida da população, explica que nesta cidade, 
“praticamente todas as etapas da produção do jeans são realizadas nas residências 
das pessoas trabalhadoras de Toritama. Algumas são para atender pequenas 
iniciativas familiares de ultrapassar o processo de produção e levar seus produtos 
para os consumidores nos “dias de feira”, mas a maioria é para atender as 
encomendas das fábricas ou fabricos”. Desta forma, o trabalho em casa é uma 
estratégia da fábrica para diminuir os custos tributários da mercadoria e 
Gráfico 4 - Lugar de compra da mercadoria pelo comerciante – Pompéia/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
65 
 
 
consequentemente o seu preço final até os compradores. No caso, comerciantes 
interessados em comprar mercadoriabarata que mesmo após aferir o seu lucro com 
a mercadoria, consegue revendê-la a preço médio. 
Considerando o poder de compra dos consumidores de baixo rendimento 
salarial como é o caso daqueles que habitam os bairros de Pajuçara e Potengi, com 
0,92 e 1,23 SM, (SEMURB, 2012), consecutivamente, a Pompéia é o melhor lugar 
para se efetuar compras a preços acessíveis. Dos 7(5) consumidores entrevistados, 
quase 90% respondeu achar o preço da mercadoria regular, de acordo com o 
exposto do gráfico 5. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referente à mercadoria do vestuário, segmento preponderante no comércio 
da rua, esta apresenta durabilidade quanto ao tempo de uso e condição do material 
empregado na sua produção. De modo geral, 58% dos entrevistados responderam 
que a mercadoria é de boa qualidade, considerando o preço. 
 
5 O número de formulários aplicados com os consumidores na Rua Pompéia foi definido a partir de 
uma amostra não probabilística por conveniência em que foram selecionados passantes eventuais. 
Cabe lembrar que os formulários pararam de ser aplicados quando as respostas passaram a ser 
repetitivas. A mesma metodologia foi aplicada nas ruas Chegança e Boa Sorte 
Gráfico 5 - Preço da mercadoria de acordo com o consumidor – 
Pompéia/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
66 
 
 
2.1.3. BOA SORTE: ESPAÇO COMERCIAL DE ROTATIVIDADE 
 
A Rua Boa Sorte (Mapa 5) está localizada no Bairro Nossa Senhora da 
Apresentação. Este bairro se consolidou na década de 1980 a partir da construção 
do Conjunto Habitacional Parque dos Coqueiros e teve seus limites estabelecidos 
apenas na década de 1990. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O comércio desta rua apresenta uma tipologia variada de lojas, com 
estabelecimentos de pequena dimensão voltados para atender a população de 
classe menos favorecida, em especial. Também se percebeu uma característica que 
não aparece nas ruas Pompéia e Chegança: em quase toda a sua extensão 
identificou-se que os estabelecimentos comerciais são quase todos geminados com 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – Natal – 
Natal/ 2000, RN, 2000 
Elaboração: Soneide Moura da Costa.; Joabio Alekson Cortez Costa, 
2016 
 
Mapa 5 - Rua Boa Sorte - Natal/RN – 2016 
67 
 
 
as residências (em alguns casos há uma adaptação e a casa passa a localizar-se na 
parte de cima do estabelecimento). 
Na Boa Sorte existe uma rotatividade dos estabelecimentos comerciais ao 
longo da rua, chegando um mesmo imóvel a ter sido ocupado por vários segmentos 
em um curto intervalo de tempo. A alta rotatividade faz com que a paisagem 
comercial da rua se altere constantemente. 
Esse fato exigiu um olhar mais aguçado no momento da identificação dos 
estabelecimentos, visto que, em muitos casos, as informações contidas nas 
fachadas não condiziam com o conteúdo da loja, conforme exposto na foto 5. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A foto 5 é emblemática quanto à mudança das propostas dos 
estabelecimentos, mostrando que não existe uma preocupação por parte do 
comerciante quanto a apresentação da forma física da loja. A mesma anuncia um 
segmento do comércio voltada para o varejo de bebidas e alimentos, quando o 
produto posto à venda pertence ao vestuário e acessórios. Esse exemplo põe à 
mostra a dissonância entre o aparente e o existente. 
Casos semelhantes se repetem ao longo da Rua Boa Sorte, podendo ser 
exemplificados na foto 6, onde as categorias de comércio representadas nas 
Foto 5 - Incoerência entre divulgação e venda de mercadorias, Boa Sorte, 
Natal/RN – 2015 
Fonte: Acervo da autora, 2015 
68 
 
 
imagens 1 e 2 da mesma foto não são coerentes com as atuais funções dos 
estabelecimentos. Essa característica de rotatividade é perceptível ao longo da rua, 
observando-se a mudança de segmento comercial sem que seja alterada a fachada 
da loja. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A fachada do estabelecimento comercial (Foto 6/Imagem1) registra, a título de 
informação para o consumidor, que se trata de um restaurante, enquanto em seu 
interior há uma marcenaria. O mesmo ocorre com a imagem 2 da mesma foto, onde 
é anunciado um comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de 
produtos alimentícios do tipo minimercado, quando na verdade, oferta no seu interior 
um serviço de reparação e manutenção de equipamentos de eletrodomésticos. 
Nesta rua existem estabelecimentos comerciais que possuem tempos de 
instalação variados. Isso inclui desde lojas de material de construção e 
minimercados com mais de dez anos de funcionamento até estabelecimentos 
instalados a poucos meses. 
A maioria do formato das lojas é de organização espontânea, não seguindo 
uma lógica de disposição das mercadorias, além destas serem pouco sofisticadas 
do ponto de vista da estrutura. Este tipo de comércio comumente encontrado na Rua 
Boa Sorte está voltado para atender principalmente as necessidades básicas, como 
Foto 6 - Incoerência entre divulgação e venda de mercadorias, Boa 
Sorte, Natal/RN – 2015 
Fonte: Acervo da autora, 2015 
1 2 
69 
 
 
vestuário e alimentação, principalmente da população do bairro e de localidades 
vizinhas. 
O quadro 4 representa o número de lojas presentes na Rua Boa Sorte. Ao 
realizar-se a análise a partir das informações coletadas em campo, foi possível 
elaborar o croqui 2. Vale mencionar que este não tem a intenção de mapear, mas de 
espacializar os estabelecimentos no decurso da rua. 
 
 Quadro 4 - Lojas da Rua Boa Sorte – 2016 
Lojas Números 
Segmento comercial Nº de 
estabelecimentos 
(%) na rua 
Comércio varejista de mercadorias em 
geral, com predominância de produtos 
alimentícios - minimercados, mercearias e 
armazéns 
7 2% 
Cabeleireiro, manicure e pedicure 6 2% 
Serviços de borracharia para veículos 
automotores 
13 4% 
Comércio varejista de artigos do vestuário 
e acessórios 
232 75% 
Restaurantes e similares 5 2% 
Comércio varejista de artigos de ópticas 3 0,9% 
Comércio varejista de produtos 
farmacêuticos, sem manipulação de 
fórmula 
8 3% 
Comércio varejista de móveis 2 0,6% 
Fabricação de produtos de panificação 
industrial 
2 0,6% 
Atividade odontológica em recurso para 
realização de procedimentos cirúrgicos 
5 2% 
Bares e outros estabelecimentos 
especializados em servir bebidas 
7 2% 
Atividade de organizações religiosas ou 
filosóficas 
12 4% 
Comércio varejista de carnes - açougues 3 0,9% 
Chaveiros 4 1% 
TOTAL 309 100% 
Fonte: Elaboração da autora com base na pesquisa de campo, 2016. 
 
70 
 
 
 
 
71 
 
 
Com base no croqui 2, torna-se notória a presença de restaurantes na Rua 
Boa Sorte, no acesso da Avenida das Fronteiras à Rua Vitória Régia, situação que 
se repete marcadamente no trecho que corresponde da Rua da Consolação à Rua 
Padre João Maria e também desta até a Rua Monte Sinai. No percurso realizado na 
rua, correspondente à Travessa Boa Sorte e Rua dos Portugueses, o comércio de 
vestuário compartilha espaço com estabelecimentos de bares, serviços de 
borracharia e outros. Entre as ruas mencionadas, observou-se a ínfima presença de 
residências apenas entre as ruas dos Protetores e dos Portugueses. As residências 
estão fixadas, de forma mais contundente, entre as ruas Dianópolis e Manoel 
Fernandes. 
A Boa Sorte possui um total de 309 estabelecimentos contabilizados em 
pesquisa, dos quais a maior parte é composta por comércio varejista de vestuário e 
acessórios. Do total de estabelecimentos, a maioria é formal em detrimento dos 
informais, conforme representado no gráfico 6. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 6 - Número de estabelecimentos de comércio e serviços quanto à 
formalização – Boa Sorte/2016 
Fonte: Secretaria Municipal de Tributação – SEMUT, Natal, 2014(Adaptação da autora, 2016). 
 
72 
 
 
Por ser uma rua em que o comércio já surgiu em concomitância com a 
habitação, do ponto de vista da formalização, a Boa Sorte se apresenta mais 
consolidada em relação às demais ruas estudadas, além de ser a única em que o 
número de estabelecimentos formais é superior ao número de estabelecimentos 
informais, conforme evidenciado no gráfico 6. Fato curioso que suscita a 
interpretação é que, sendo o comércio rotativo nesta rua, isto não exclui o seu 
caráter de preponderante formalização. Uma das explicações para este fato é que o 
comércio que muda de localização, necessariamente não deixa de existir; apenas 
transfere sua localização de um ponto para outro ao longo da rua. Outro caminho 
interpretativo é que ao passo que alguns estabelecimentos alteram a sua localização 
no decurso da rua e outros podem até deixar de funcionar em virtude de uma série 
de fatores, como por exemplo crise econômica que reduz a parcela da clientela; 
mudança de emprego ou violência urbana, novos estabelecimentos estão surgindo 
como óticas e farmácias que, para atuarem no mercado, precisam ser formalizados. 
No intuito de compreender melhor o perfil do comércio na Rua Boa Sorte, 
foram aplicados 23 formulários à comerciantes ao longo da rua. A partir da 
sistematização das informações obtidas, algumas questões puderam ser elencadas, 
a saber: a presença da gestão familiar, conforme representado no gráfico 7, com 
predominância de nenhum ou 1 funcionário atuando no estabelecimento, situação 
também revelada na Pompéia e na Chegança. 
Dos entrevistados, 31% exercem a função de dono e funcionário ao mesmo 
tempo e 37% possuem um funcionário. Esse percentual, tanto dos estabelecimentos 
que não tem nenhum ou até um funcionário, é bem representado por pessoas que 
ajustaram as suas residências para acomodar o estabelecimento comercial. Fala-se 
geralmente de cabeleireiro, manicure e pedicure, costureira, lojas especializadas em 
suprimentos de informática, restauração e manutenção de equipamentos e até 
mesmo as pequenas lojas de roupas. Neste caso, as residências, além de 
atenderam à função da moradia, passaram a estabelecer pequenas lojas em 
cômodos como garagens ou até salas reformadas. Com esta adaptação, a casa 
passou a exercer dupla função: o lugar da moradia e do trabalho e com isto o 
comerciante usufruiu de benefícios como: não custear um imóvel fora de casa e 
ainda otimizar gastos, distância e tempo. 
 
 
73 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No que se refere ao motivo de escolha da Rua Boa Sorte para fixar 
estabelecimento, as respostas foram distintas (Gráfico 8). Apenas 12% dos 
entrevistados responderam optar pelo comércio na rua supracitada, em virtude de 
estarem aposentados. Grande parte deste percentual justificou a resposta afirmando 
que a decisão por atuar no comércio depois da aposentadoria foi uma forma 
encontrada por eles para continuar trabalhando, seja para vencer a ociosidade ou 
mesmo por afinidade com a atividade. No caso da Boa Sorte, o dado difere das 
demais ruas estudadas, em que o maior percentual foi justamente acerca dessa 
resposta. Conforme já foi discutido, o fato da maioria de comerciantes ser 
aposentados na Pompéia e na Chegança, pode ser um indicativo da informalidade 
representativa nestas duas ruas. Ao contrário, das outras duas ruas estudadas, a 
Boa Sorte tem percentuais significativos em torno das repostas como sempre 
trabalhou no comércio e escolheu a rua para fixar estabelecimento em razão de dar 
continuidade ao negócio da família, circunstâncias favoráveis ao entendimento da 
predominância do comércio formal. 
 
Gráfico 7 - Percentual de funcionários que trabalham no estabelecimento 
– Boa Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dando continuidade à interpretação do gráfico 8, percebeu-se um equilíbrio 
de 23% em torno das respostas “sempre trabalhou no comércio” e “desempregado 
(a) ”; e de 21% de “continuidade ao negócio da família” e “para complementar 
renda”. As respostas que tiveram percentual de 23% podem servir de viés 
interpretativo para explicar duas características: a primeira é que, mediante 
observação de tantos comerciantes que atuam na atividade desde o seu surgimento 
na rua, isto pode explicar em partes, o seu caráter de formalidade; a segunda é que 
o comércio tem se constituído como alternativa para muitas famílias sobreviverem no 
cenário crescente de desemprego. Já o expressivo número de comerciantes que 
respondeu escolher a rua para continuar gerindo o estabelecimento comercial da 
família, ratifica a informação de que o comércio da Rua Boa Sorte se trata de um 
comércio familiar. 
A partir da pergunta acerca de onde o comerciante realiza compras para 
abastecer sua loja, semelhante à Pompéia e a Chegança, a maioria dos 
entrevistados da Boa Sorte responderam “outros estados” (Gráfico 9). 
Possivelmente isso se deve à predominância de lojas de vestuário. Os estados mais 
Gráfico 8 - Motivos para escolha do comércio – Boa Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
75 
 
 
citados foram, Ceará e Pernambuco. Já nos casos dos comerciantes de óticas, por 
exemplo, a mercadoria é adquirida preferencialmente no estado de São Paulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Foram aplicados 7 formulários aos consumidores da Rua Boa Sorte. O intuito foi 
compreender o comércio da rua com base em visões diferentes dos comerciantes. 
No que se refere à qualidade da mercadoria, 72% dos consumidores, responderam 
ser de boa qualidade. Essa resposta foi fortemente influenciada pelo preço da 
mercadoria que, de modo geral, foi apontado como regular. Tratam-se, na maior 
parte dos casos, de mercadorias populares vendidas em pequenas lojas que 
atendem sobremaneira as camadas populares, predominantemente do bairro. 
 
 
 
 
Gráfico 9 - Lugar de compra de mercadoria pelo comerciante – Boa 
Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 
2016. 
 
76 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.2.4. CHEGANÇA: A DESCOBERTA DE UM COMÉRCIO DISTANTE 
 
A Rua Chegança, está localizada no Conjunto Habitacional Nova Natal, no 
Bairro Lagoa Azul (Mapa 6), construído em 1981 também pela COHAB. O referido 
bairro está situado no extremo norte na Zona Norte, constituindo-se, portanto, no 
mais distante do centro histórico da capital potiguar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 10 - Qualidade da mercadoria de acordo com o consumidor – 
Boa Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Para se chegar à Rua Chegança, a orientação é sair da Avenida Doutor João 
Medeiros Filho e acessar a Rua Nosso Senhor do Bonfim na Zona Norte de Natal, 
que permite o acesso à Rua Serra Negra. Esta indica o caminho para Avenida Bela 
Vista que mais parece anunciar a chegada da Rua Cirandas, portal de entrada para 
a Chegança. Tal descrição do percurso não se deu à toa, uma vez que 
diferentemente das outras duas ruas estudadas, a Chegança não está situada 
diretamente próxima a uma via de circulação de referência do ponto de vista da 
articulação da Zona Norte ao restante da cidade. 
Do ponto de vista comercial, a Chegança apresenta-se dinâmica em toda a 
sua extensão com um perfil de lojas variado, onde se percebe a presença de 
estabelecimentos que vão desde pequenas lan houses até grandes lojas de móveis 
e farmácia. 
Mapa 6 - Rua Chegança - Natal/RN – 2016 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Natal/ RN, 2000. 
Elaboração: Soneide Moura da Costa.; Joabio Alekson Cortez Costa, 2016. 
 
78 
 
 
O quadro 5 representa o número de lojas presentes na Rua Chegança. Após 
a descrição e categorização do comércio da Chegança, elaborou-se o croqui 3 em 
que estão dispostos os estabelecimentos de comércio e serviço nodecurso da rua. 
Igualmente à representação feita nas outras ruas, o croqui da distribuição do 
comercio na Rua Chegança não tem a intenção de realizar um mapeamento, 
portanto não pode ser confundido com um mapa. 
 
Quadro 5 - Lojas da Rua Chegança – 2016 
Lojas Números 
Segmento comercial Nº de 
estabelecimentos 
(%) na rua 
Comércio varejista de mercadorias em 
geral, com predominância de produtos 
alimentícios - minimercados, mercearias e 
armazéns 
1 0,4% 
Cabeleireiro, manicure e pedicure 7 3% 
Restaurante e manutenção de 
equipamentos 
4 2% 
Serviços de borracharia para veículos 
automotores 
7 3% 
Comércio varejista de vestuário e 
acessórios 
170 72% 
Restaurantes e similares 3 1% 
Comércio varejista de artigos de ópticas 3 1% 
Exploração de jogos eletrônicos 
recreativos 
7 3% 
Comércio varejista de mercadorias em 
geral, com predominância de produtos 
alimentícios – supermercados 
3 1% 
Comércio varejista de produtos 
farmacêuticos, sem manipulação de 
fórmulas 
7 3% 
Comércio varejista de móveis 4 2% 
Fabricação de produtos de panificação 
industrial 
1 0,4% 
Atividade odontológica com recurso para 
realização de procedimentos cirúrgicos 
6 3% 
Bares e outros estabelecimentos 
especializados em servir bebidas 
6 3% 
Atividades de organizações religiosas ou 
filosóficas 
1 0,4% 
Lojas de variedades, exceto lojas de 
departamento ou magazines 
2 0,8 
Comércio varejista de carnes 3 1% 
TOTAL 235 100% 
Fonte: Elaboração da autora com base na pesquisa de campo, 2016. 
79 
 
 
 
 
 
80 
 
 
No lado direito do croqui 3, pode-se perceber que a Chegança é formada por 
ruas perpendiculares que recebem o nome de instrumentos musicais, versos, e 
nomes de formas espaciais do período da escravidão, enquanto do lado esquerdo 
as ruas fazem referência a festas folclóricas e comidas de origem africana. Desta 
forma, compreende-se que a origem do nome da Rua Chegança pode estar 
relacionada às festas folclóricas europeias que ao chegarem ao Brasil sofreram 
influência da cultura indígena e africana. 
Do ponto de vista comercial, está representado no croqui 3, a distribuição dos 
estabelecimentos na rua, torna notório o quanto se faz presente o segmento do 
comércio varejista de vestuário e acessórios. No percurso que corresponde, da 
avenida das Cirandas à aproximadamente a Rua da Berlinda, fica nítido que, mesmo 
com a diversidade de atividades que compõem a Chegança, a sua maior 
expressividade se revela no comércio do vestuário. Embora não seja predominância, 
a habitação ainda está presente na rua, principalmente nas proximidades da 
Avenida dos Caboclinhos. 
Contudo, na espacialização revelada pelo croqui 3, observa-se que o 
comércio da Chegança se apresenta variado não apenas do ponto de vista da 
diversidade de segmentos, mas também no que refere à distribuição espacial dos 
estabelecimentos. Em meio à concentração de lojas de vestuários e acessórios 
estão os estabelecimentos de serviço de borracharia para automóveis, conforme 
observado entre as ruas da Sanfona e Moté Glossa. No caso da Pompéia, estes 
serviços de cunho mais grosseiro estavam concentrados, não entre as lojas de 
vestuário, mas próximo a outros segmentos semelhantes como serviços de lavagem, 
lubrificação e polimento de veículos, localizados bem próximos a Avenida Doutor 
João Medeiros Filho. 
A partir do número de estabelecimentos formais fornecidos pela SEMUT, foi 
possível delimitar o quantitativo de informais a partir do levantamento minucioso em 
campo. O reconhecimento realizou-se a partir da descrição de cada 
estabelecimento, seguido da sua categorização com base na CNAE e da sua 
posterior comparação com o número de formais disponibilizados pela secretaria. 
Desta forma, de acordo com o expresso no gráfico 11, pode-se inferir que o 
comércio da Chegança é, em sua maioria, composto por estabelecimentos 
informais. 
 
81 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dentre os estabelecimentos formais estão o comércio varejista de carnes– 
açougues, atividade odontológicas, supermercados, produtos farmacêuticos sem 
manipulação de fórmulas e outros. Estes estabelecimentos são remanescentes dos 
primeiros que surgiram na rua; é caso da Farmácia Chegança e do atual 
Supermercado Nova Vida, cuja gestão permanece sob administração das primeiras 
famílias a ocuparem a rua. 
É possível perceber que, mesmo com um grande número de 
estabelecimentos informais, em termos de arrecadação municipal de impostos, a 
atividade comercial da Chegança tem crescido expressivamente. A mesma situação 
também foi evidenciada nas ruas Pompéia e Boa Sorte. Estas carregam, dentre 
tantas outras similitudes, uma particularidade em especial: são ruas que 
desenvolvem um comércio tradicional e de proximidade. Nestas ruas, a lógica de 
reprodução do capital hegemônico arrefeceu por meio de ações dos grupos sociais 
que nelas residem ou mesmo fixaram estabelecimentos comerciais e buscam no 
trabalho e na vida cotidiana a reprodução do comércio e da rua. 
Gráfico 11 - Número de estabelecimentos de comércio e serviços quanto à 
formalização – Chegança/2016 
Fonte: Fonte: Secretaria Municipal de Tributação – SEMUT, Natal, 2014 
(Elaboração da autora, 2016). 
82 
 
 
Com base nas informações adquiridas a partir da aplicação de 40 formulários 
aos comerciantes da Chegança, fora constatado que 98% dos entrevistados, 
possuem entre nenhum e até 4 funcionários envolvidos em seus estabelecimentos, 
conforme expresso no gráfico 12. Todavia, a maioria dos comerciantes respondeu 
ter apenas 1 funcionário. Ficou nítida a participação de membros da família, mesmo 
naqueles casos onde o estabelecimento possui mais de 4 funcionários, denotando-
se a ocorrência da gestão familiar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nos estabelecimentos que possuem um funcionário, geralmente este 
pertence à família do dono, na maioria dos casos são filhos que acompanham o 
ofício do pai ou da mãe no intuito de substituí-los futuramente. Já entre os motivos 
que fizeram os comerciantes escolherem a Chegança, e não outra rua, para 
estabelecer sua loja, a resposta “continuação ao negócio da família” está bem 
representada no gráfico 13. 
 
 
 
Gráfico 12 - Percentual de funcionários que trabalham no 
estabelecimento – Chegança/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
83 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De acordo com os informantes, 26% estão atuando no comércio pelo motivo 
outrora mencionado, demostrando que esta parece ser uma prática que vem se 
conformando no comércio da rua. São empresas geralmente de pequeno porte e 
que tem os valores da família corporificados nas suas ideologias. Ainda se percebeu 
que 37%, respondeu escolher a rua por ser aposentados. Isto significa que são 
pessoas que, mesmo após a aposentadoria, optaram por seguir desenvolvendo 
alguma atividade e, por morarem próximos a Chegança, encontraram nesta rua a 
oportunidade de se envolverem na atividade comercial. 
Acerca do lugar de compra da mercadoria para abastecer as lojas, 54% 
respondeu se dirigir a outros estados (Gráfico 14). Com a grande representatividade 
do segmento de vestuário e acessórios, os estados mais citados foram Ceará, 
principalmente Fortaleza, e Pernambuco, em especial as cidades de Toritama e 
Caruaru. 
 
 
 
Gráfico 13 - Motivos para escolha do comércio – Chegança/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
84 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O gráfico 14 mostra que, mesmo com a maioria das mercadorias sendo 
adquiridas em outros estados, existe um expressivo número de comerciantes que o 
faz na própria cidade. Neste caso, são geralmente estabelecimentos vinculados aos 
segmentos de restaurante e similares, comércio varejista de carnes e também de 
bebidas. 
Em se tratando da mercadoria, algumas questões foram apontadas pelosconsumidores do comércio na Chegança após a aplicação de 7 formulários na rua. 
Sobre a qualidade da mercadoria, os consumidores foram unânimes em afirmar que 
são de boa qualidade (Gráfico 15). Todos os informantes responderam que as 
mercadorias ofertadas pelos comerciantes na rua eram de boa qualidade tomando 
como referência o preço a elas conferido. 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 14 - Lugar de compra da mercadoria pelo comerciante – 
Chegança/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
85 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Essa avaliação foi feita pelo consumidor tendo em vista o preço acessível dos 
produtos comercializados na rua, em que 86% dos entrevistados responderam achar 
o preço regular. Na Chegança, chama a atenção a forma como a mercadoria é 
exposta num amontoado de manequins em frente às lojas, o que representa a 
necessidade de o produto estar ao alcance da visão do consumidor. O comerciante 
tem a necessidade de expor todas as mercadorias à venda na loja (Foto 7). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico 15 - Qualidade da mercadoria de acordo com o consumidor – 
Chegança/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
86 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A foto 7 retrata a falta de planejamento do comerciante na disposição das 
mercadorias, fato que se contrapõe à lógica do comércio moderno que leva em 
consideração, inclusive, estudos de especialistas sobre iluminação, composição e 
disposição dos manequins e o espaço a ser ocupado por cada mercadoria na vitrine. 
No caso da Chegança, a preocupação maior é apresentar aos passantes da rua, a 
variedade de ofertas que a loja dispõe, de modo que os próprios manequins 
funcionam como vitrines. Desta forma: 
 
A rua, série de vitrines, exposição de objetos à venda, mostra como a lógica 
da mercadoria é acompanhada de uma contemplação (passiva) que adquire 
o aspecto e a importância de uma estética e de uma ética (LEFEBVRE, 
1999, p31). 
 
A partir da descrição do comércio presente nas três ruas, alguns aspectos são 
importantes para serem discutidos. No caso das ruas estudadas, o comércio está 
bem representado através do vestuário popular, que mesmo com mercadorias de 
baixo preço e qualidade não tão expressivas, seguem a moda recorrentemente 
lançada na mídia. Neste caso, este tipo de vestuário serve como uma forma do 
consumidor se sentir inserido nas tendências da moda. 
 O conceito de moda adotado neste estudo está baseado nas ideias de 
Lipovestky (2007), segundo o qual esta é um instrumento gerador de valor, sujeito a 
 Foto 7 - Exposição de mercadorias na Rua Chegança - 2015 
Fonte: Acervo da autora, 2015. 
87 
 
 
mutações, podendo fazer surgir “novos valores”, considerando a mudança da moda. 
Isso porque as roupas são portadoras de significados culturais e demarcam 
fronteiras de idade, gênero, grupo social, etc. O autor discute a dinâmica do 
consumo como uma tendência cada vez mais relacionada à esfera emocional, 
fazendo com que a sociedade deixe de lado os princípios de racionalidade, baseada 
na sensatez, para ser guiada pela racionalidade hedonista, ou seja, pelo prazer 
ligado diretamente ao bem de consumo. De acordo com Lipovestky (2007, p. 63) “já 
não se trata mais apenas de vender serviços, é preciso oferecer experiência vivida, 
o inesperado e o extraordinário capazes de causar emoção, ligação, afetos, 
sensações [...]”. 
Vive-se cada vez mais em função do consumo, naquilo que Baudrillard (2010) 
denomina de sociedade do consumo. Devido a voracidade do sistema de produção 
e a fragilidade da vida útil das mercadorias, o consumo torna-se massificado e cada 
vez mais são utilizadas estratégias de vendas sedutoras através do uso excessivo, 
por vezes agressivo, da publicidade. Neste cenário, Baudrillard (2010) aponta para a 
criação, cada vez mais recorrente, de novos desejos de consumo e a necessidade 
de compreender a subjetividade existente no consumo e os signos contidos nas 
mercadorias. Para este autor, os consumidores da sociedade contemporânea estão 
mais interessados no significado das mercadorias do que na sua utilidade, pois 
estas podem servir, na sociedade do consumo, como interlocutores das relações 
entre as pessoas. 
O consumo pelas camadas populares das ruas Pompéia, Chegança e Boa 
Sorte acontece por meio da imitação das mercadorias recorrentemente lançadas 
pela mídia e também de marcas famosas como Lacoste, Dudalina, Puma, Chanel e 
outras. Mesmo sendo imitações das marcas originais, despertam no consumidor o 
desejo do consumo como uma tentativa deste se inserir no meio social dos grupos 
que tem em comum o consumo de determinadas mercadorias ou marcas. A imitação 
serve, dentre outros fatores, para que o sujeito tenha a sensação de estar em 
harmonia com o grupo no qual está inserido, servindo também como comportamento 
gerador de proximidade social. De acordo com o pensamento de Bauman (2008), o 
consumo tem atuado com uma forma de afiliação social. 
O vestuário encontrado na Pompéia, Chegança e Boa Sorte não foge à regra 
no quesito da imitação de mercadorias que tem como ideal a raridade e 
88 
 
 
exclusividade para o consumidor. Neste caso, as marcas imitadas, ao contrário da 
raridade, se reproduzem com abundância e assuem um caráter popular. 
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
(SEBRAE) o comércio varejista de vestuário e acessórios é um segmento promissor 
e em expansão no Brasil; inclusive foi responsável pelo movimento de 9, 3 milhões 
de reais em salários no ano de 2013. Isto se explica pelo crescente mercado de 
inovação deste segmento no que concerne à moda, favorecendo principalmente as 
classes sociais B e C. Essa moda, consumida pelas classes mencionadas, é 
reproduzida pelas camadas populares que não abrem mão de seguir as tendências 
em vigência, (SEBRAE, 2014). 
Da realidade mostrada, algumas indagações foram construídas, sendo as 
mais contundentes: Pompéia, Chegança e Boa Sorte sempre foram ruas 
comerciais? Se não, que fatores contribuíram para a consolidação do comércio 
nessas ruas? As repostas às indagações estão evidenciadas no texto que segue. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
89 
 
 
 
 
 
 
 
 
90 
 
 
3. A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE 
 
Conduzida pela necessidade de entendimento dos fatores que contribuíram 
para a construção da realidade anteriormente descrita, a presente seção tem por 
objetivo discutir os fatores que contribuíram para o surgimento do comércio nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte. Para tanto, optou-se por realizar a investigação 
com base na regressão analítica dos processos sociais de produção do espaço 
urbano da Zona Norte, especialmente das ruas, objeto de estudo. O movimento de 
retorno aos processos de produção do espaço, consubstancia-se como o segundo 
momento do método de investigação regressivo-progressivo de Lefebvre (2000) 
adotado para a construção do trabalho em evidência. 
A seção está dividida em duas partes. Na primeira discute-se os processos 
históricos da expansão urbana de Natal com base na política habitacional e suas 
contribuições à formação da Zona Norte. Para tanto, buscou-se informações sobre a 
produção do espaço urbano da Zona Norte de Natal no contexto da expansão da 
cidade a partir de dados secundários como: dissertações, artigos científicos e 
informações compartilhadas das secretarias de tributação estadual e municipal. Na 
segunda parte, realizou-se um resgate histórico sobre a construção das ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte no que tange à função inicial de cada uma delas, 
voltada para a habitação e também sobre a sua trajetória comercial. 
Mediante a fragilidade de dados para subsidiar a pesquisa por parte de 
instituições públicas, o caminho de investigação utilizado na segunda parte da seção 
foi a análise de conteúdo que, segundo Bardin (2011, p.15), é um “conjunto deinstrumentos de cunho metodológico em constante aperfeiçoamento, que se aplicam 
a discursos (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Por meio dela, 
permite-se desvendar o que está por trás do aparente, além do evidenciado na 
comunicação. Sendo assim, a análise de conteúdo possibilitou a interpretação crítica 
da fala dos entrevistados com base na exploração e análise de instrumentos verbais 
e/ou não verbais. 
Desse modo, para a interpretação das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, 
a análise do conteúdo foi empreendida a partir da realização de entrevistas com 
moradores, comerciantes e consumidores mais antigos a fim de se compreender, 
não somente o surgimento destas ruas e do comércio, mas fazer inferências críticas 
com base nos relatos do público entrevistado. Cabe mencionar que a transcrição 
91 
 
 
das entrevistas foi fiel às falas dos inquiridos, o que explica, em alguns trechos, a 
dificuldade de compreendê-los na sua completude. 
A partir da análise de conteúdo das entrevistas realizadas, compreendeu-se 
os processos que engendraram a produção do espaço das ruas em apreço, dando 
realce às suas dimensões social e econômica, considerando as permanências e 
coexistências. Desse modo, os momentos dessa produção foram analisados como 
pertencentes a um processo espiralar e não linear. 
Seguindo este raciocínio, utilizou-se das orientações de Bardin (2011) sobre 
análise de conteúdo, para estabelecer os caminhos de investigação, efetuada em 
três etapas distintas, a saber: pré-análise; exploração do material e tratamento dos 
resultados; inferência e interpretação. Para a primeira etapa foram definidos os 
indicadores iniciais com base na sistematização das ideias coletadas a partir das 
questões elaboradas para a entrevista. Na segunda, efetuou-se a decodificação das 
informações a partir da transcrição das entrevistas e levantamento de fragmentos do 
texto com indicadores comuns no intuito de agrupá-los em categorias temáticas. Já 
na terceira e última etapa, os fragmentos textuais foram interpretados e na 
sequência realizadas inferências sobre estes e também sobre conteúdos latentes, 
apresentados de forma subjetiva nas falas dos entrevistados. O caminho traçado por 
meio destas etapas foi crucial para responder à questão norteadora da seção, ou 
seja, quais fatores contribuíram para a consolidação do comércio nas ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte? Ademais, os eventos responsáveis por explicar os 
processos de produção do espaço urbano de Natal, especialmente da Zona Norte, 
foram obtidos a partir de fontes secundárias discriminadamente desenvolvidas na 
subseção seguinte. 
Quanto ao entendimento da produção do espaço nas suas nuances 
econômicas e sociais, desde à consolidação deste, pensado pela lógica do capital, 
até à incorporação das vivências do grupo que nele atua, as ruas estudadas foram 
interpretadas, teoricamente, a partir do pensamento desenvolvido por Lefebvre 
(2000) acerca da atuação das ordens próxima e distante na produção do espaço. 
Para o autor, a ordem distante é aquela que se realiza a partir de forças de comando 
externas ao espaço, como por exemplo os grandes capitais hegemônicos, 
instituições, e igrejas ao passo que a ordem próxima é aquele concernente ao local. 
Além disso, as ruas estudadas, como constituintes do espaço, são também 
92 
 
 
interpretadas à luz da discussão teórica desenvolvida pelo próprio Lefebvre (2000) 
quando trata do espaço concebido, percebido e vivido, entendidos inseparadamente. 
 
3.1. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE NATAL/RN E O COMÉRCIO: 
NAS TRILHAS DA ZONA NORTE 
 
As perguntas efetuadas impõem o entendimento do processo de produção do 
espaço, não apenas das ruas em foco, mas da própria cidade do Natal, uma vez que 
não se pode analisá-las como um elemento em si mesmo, mas enquanto parte 
constituinte de uma totalidade. Entretanto, o tempo não deve ser analisado pelo eixo 
da sucessão, mas sim das coexistências e simultaneidade e o próprio espaço 
geográfico carece de ser entendido à luz da mediação simultânea tanto de relações 
econômicas quanto sociais. A afirmação precedente foi desenvolvida com base nas 
ideias elaboradas por Santos (2008), ao discutir o espaço enquanto totalidade e por 
Lefebvre (2000), quando se debruçou sobre o entendimento deste conceito em sua 
ampla acepção. Não foi despretensiosa a fusão das ideias dos dois autores, visto 
que para se compreender a dinâmica hoje existente na Zona Norte de Natal e 
principalmente nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, objeto empírico da 
pesquisa, faz-se mister a compreensão da produção do espaço urbano da cidade do 
Natal à luz de momentos que coabitam-se e debruçam-se sobre a inserção da Zona 
Norte neste processo. 
Desta forma, a referência temporal situa-se a partir da década de 1930, mas 
com alguns resgates pretéritos. Até esta década, Natal se apresentava como uma 
cidade com atividades, predominantemente executadas, na Cidade Alta, Ribeira e 
Alecrim, visto que, no começo do século XX e até mesmo em períodos anteriores, 
essas áreas eram expressivas em relação à concentração de investimentos, 
motivados principalmente pela necessidade de equipamentos urbanos que 
permitissem o escoamento da produção potiguar para outros países. Nas áreas 
mencionadas estava concentrada a maior densidade populacional de Natal com 
aproximadamente 16.056 habitantes no início do século supracitado (CUNHA 
,1987). 
É válido ressaltar que esse contingente populacional computava um 
expressivo número de pessoas, vindas do interior do estado, em decorrência da 
93 
 
 
seca ocorrida em 1915. Cunha (1987, p. 13), na discussão sobre o processo da 
expansão territorial urbana da capital potiguar, destaca que esta cidade era como “o 
lugar que oferecia alternativas de sobrevivência, sede do comércio, dos organismos 
público e privados, e os imigrantes constituíam a força de trabalho abundante e 
barata”. O Alecrim foi o bairro que mais atendeu à necessidade de moradia dos 
migrantes de baixo poder aquisitivo, além do mais tornou-se preferido pelo modo de 
vida interiorano nele existente, com destaque para as feiras e fragmentos da vida 
rural, como a presença de granjas e a criação de gado bovino. 
Essa pressão populacional foi um fator importante para que Natal, também, 
nas primeiras décadas do século XX, tivesse uma expansão territorial relevante, 
surgindo, a necessidade de equipamentos urbanos como: a construção da ponte 
sobre a Rio Potengi, a criação de agências bancárias e ainda a expansão das 
estradas na cidade para atender o emergente setor de transporte. Somando-se a 
esses eventos, destaca-se a instalação da luz elétrica, sendo este um fator 
fundamental para o crescimento da cidade. No âmbito deste, cabe mencionar o 
crescimento interno da indústria de bens de consumo como alimentos, sal, calçados, 
bebidas e tecelagem por ocasião da proibição de importações durante a I Guerra 
Mundial (CUNHA, 1987). Toda a transformação ocorrida na cidade requereu a 
elaboração do chamado Plano de Sistematização de Natal no final da década de 
1920 que priorizou o sistema viário da cidade e a articulação dos Bairros Ribeira e 
Cidade Alta. O referido plano traçava a organização urbanística da capital potiguar 
para os próximos 50 anos a partir de sua implantação. 
No entanto, foi a partir da Segunda Guerra Mundial que Natal apresentou um 
crescimento urbano expressivo associado às melhorias urbanas consideráveis, as 
quais lhes garantiu a reafirmação do estatuto de cidade e de capital do estado. 
Dentre os eventos que impulsionaram o crescimento da dinâmica sócio-espacial de 
Natal, destacou-se a Segunda Guerra Mundial – 1939-1945, que projetou a cidade 
para o mundo. Neste período a capital potiguar inseriu-se nos planos de pouso dos 
americanos devido a sua localização estratégica, servindo como importante ponto de 
apoio aos interesses bélicosdaquele país. 
Pode-se inferir que o interesse americano decorreu do fato de que, já nos 
anos de 1930, a capital potiguar era especulada pela sua localização estratégica ao 
sediar o primeiro voo transatlântico entre São Luis do Senegal e Natal, sem escala, 
sendo este fato documentado na figura 2. 
94 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A figura 2, portanto, é emblemática ao evidenciar o interesse, não apenas dos 
franceses, mas também dos italianos e americanos devido à localização da cidade. 
Desse modo, observado o sucesso do voo de São Luis no Senegal para Natal e 
tantos outros realizados sem a necessidade de escala, ficara evidente o potencial 
desta cidade como frente de apoio na deflagração de um conflito mundial. 
Foi então na Segunda Guerra Mundial, que os americanos viram a 
possibilidade de proteger seu território e construíram a maior base aérea fora do 
país, criada em 2 de março de 1942 pelo Decreto Lei nº 4.142. A base aérea abrigou 
10.000 soldados, o que correspondia à época a 20% da população de Parnamirim, 
conhecida internacionalmente como Parnamirim field (CASCUDO, 19996). 
Câmara Cascudo (1999), ao se referir à Natal como terra de “tradição e 
história”, carrega nas tintas a construção da história da cidade. O autor resgata a 
importância da instalação da base aérea em Paramirim durante a Segunda Guerra 
Mundial como um feito na projeção de Natal para o restante do mundo naquele 
período. Nas palavras do autor, “Parnamirim começou a ser citada porque aí 
 
6 Edição comemorativa do centenário de nascimento de Luís da Câmara Cascudo (1998), sendo a 
obra original de 1980. 
Figura 2 - Placa que anuncia primeiro voo transatlântico 
ocorrido em 1930 entre São Luis do Senegal e Natal 
Fonte: Bertazzo, 2016. 
 
95 
 
 
chegavam ministros de Estado, embaixadores, generais, almirantes, jornalistas, 
industriais, gente de fotografia em jornal e freguesia nos noticiários” (CASCUDO, 
1999, p. 421-422). Com Natal também em evidência no cenário mundial, o interesse 
pela cidade foi despertado não apenas por estrangeiros, mas também por pessoas 
migrantes de outras partes do Rio Grande do Norte. 
Por conseguinte, a chegada dos soldados americanos, em concomitância 
com o grande contingente de migrantes vindos do interior do estado, fez surgir 
novas demandas de cunho econômico e social em Natal. De acordo com Vidal 
(1998), uma cidade que inicialmente mostrou-se deficiente quanto às ofertas de 
comércio e moradia, passou a apresentar uma dinâmica sócio-espacial significativa, 
tendo em vista que a sua população quase duplicou, fazendo emergir a necessidade 
de novas moradias e casas comerciais com mercadorias mais sofisticadas à época. 
Nas palavras da autora (1998, p. 24), “a procura por casas de aluguel se intensificou 
e a construção de moradias para este fim passou a ser um negócio lucrativo”. 
Neste período, a cidade se mostrou cada vez mais atrativa, despertando o 
interesse pela moradia na capital, o que ocasionou o crescimento das construções 
imobiliárias. Esse crescimento se conformou acompanhado de uma crescente mão-
de-obra para a construção civil e também comercial, fazendo com que Natal quase 
duplicasse sua população entre as décadas de 1940 e 1950, passando de 54.836 
para 103.215 habitantes. 
A partir de então, a demanda por habitação aumentou, de modo que, já na 
década seguinte, ou seja, 1960, ocorreu a primeira intervenção do Estado em 
relação à habitação com a construção do Conjunto Habitacional da Cidade da 
Esperança, localizado na Zona Oeste, conformado como o primeiro empreendimento 
habitacional na cidade. O referido empreendimento foi construído na gestão do 
Governo Aluísio Alves por meio da Fundação de Habitação Popular, que objetivou a 
construção de 560 casas populares voltadas a atender à população de baixa renda 
que não tinha condições de acesso à moradia (ARAÚJO, 2004). 
Desta forma, iniciou-se em Natal a política habitacional expressamente 
empreendida na produção do espaço urbano. Sobre este conceito de produção do 
espaço, Lefebvre (2000) o desenvolveu trilhando caminhos sobre a produção no 
sentido stricto sensu. O autor induz a interpretação de que é preciso que se 
compreenda as diversas relações existentes no processo de produção sem perder 
de vista àquelas que se efetivam do âmbito da família à esfera do Estado. O autor 
96 
 
 
discorre sobre o espaço geográfico e as práticas espaciais que os homens 
desenvolvem no mesmo. Lefebvre (2000, p.77) supõe que “na prática espacial, as 
representações do espaço e os espaços de representação intervêm diferentemente 
na produção do espaço: segundo suas qualidades e propriedades, segundo as 
sociedades (modo de produção), segundo as épocas”. 
No contexto da produção do espaço, enquanto o restante de Natal crescia em 
termos habitacionais e econômicos, a urbanização da Zona Norte caminhava a 
passos lentos, tendo início em Igapó, cuja área deixou de pertencer à zona rural do 
município de Macaíba, ocupada por casas de farinha, pequenas plantações de feijão 
e milho e também pela criação de gado destinado à produção de leite para o 
consumo doméstico, passando a ser incorporada à Zona Rural de Natal em 1953 
pelo decreto 981/53. Esta área passou a ser ocupada por loteamentos entre 1957-
1975 que foram reparcelados nas décadas de 1980 e 1990. São eles: Parque 
Floresta (1957), Parque Santa Catarina [1960 (ocupado pela COHAB para 
transformar em conjunto habitacional em 1978)]; loteamento de Humberto Pignataro 
e outros (1964), Loteamento América (1965), loteamento Aldeia Velho e por último o 
loteamento Santarém (1974), (SILVA, 2003). 7 
Por estar localizado do outro lado da cidade, separado pela fronteira natural 
constituída pelo Rio Potengi, o Bairro de Igapó permaneceu por muito tempo em 
condições de crescimento desanimadoras. Entretanto, a integração física entre este 
bairro e o restante da cidade foi efetivada com a construção da Ponte 
Rodoferroviária de Igapó (Figura 3) em 1969, iniciando assim o processo de 
expansão urbana em direção à porção norte da cidade do Natal. 
 
 
 
 
 
 
7 O reparcelamento dos loteamentos se justifica pelo fato de que, no final da década de 1950-1960, o 
mercado de terras fazia a divisão do terreno em proporções aproximadas de grande dimensão de 
20X30m² por lote em virtude do baixo preço do solo. No entanto, com a implantação do Distrito 
Industrial de Natal – DIN - na década de 1970, fazendo surgir a necessidades de moradia para 
atender à força de trabalho empregada na indústria, os lotes existentes precisaram ser reparcelados 
tendo suas dimensões reajustadas para a construção de conjuntos habitacionais. 
 
97 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A construção da ponte possibilitou novas perspectivas de crescimento para 
Igapó através da instalação de empresas de grande porte como a Seridó Indústria 
Têxtil, de capital estrangeiro, além de outros investimentos (CUNHA, 1987). Este 
fato, atrelado ao baixo preço do solo na Zona Norte, despertou interesse do mercado 
imobiliário, visto que no restante da cidade, os terrenos se valorizavam frente aos 
incentivos fiscais e financeiros à indústria e à infraestrutura efetivados pela 
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), conjuntamente com 
a política de desenvolvimento do regime militar em 1964. Sobre os equipamentos 
resultantes desta política, podem ser citados grandes unidades como o Centro 
Administrativo, o Campus Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, o Hospital Walfredo Gurgel, Médico Cirúrgico, a ampliação da Policlínica, etc. 
Neste contexto de expansão de Natal, a Zona Norte ganhou expressividade a 
partir de Igapó, com a implantação do Distrito Industrial de Natal (DIN) na décadade 
1970 (Figura 4) influenciado pela SUDENE. Para Araújo (2004, p. 43) A instalação 
do DIN em área de expansão da cidade deixa claro que: 
 
a intervenção planejada do Estado no sentido de favorecer o capital 
industrial, ao definir uma área de expansão urbana e com potenciais 
recursos humanos, concentrando abundante mão-de-obra necessária às 
industrias a serem instaladas. 
 
Fonte: CUNHA, 1987. 
 
Figura 3 - Ponte Rodoferroviária de Igapó nos anos de 1970 
98 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesta conjuntura, o crescimento territorial de Natal em direção à Zona Norte 
fez emergir a preocupação com a questão habitacional. Desta forma, nos anos de 
1970, seguindo o mesmo padrão de construção e perfil de público atingido no caso 
do Conjunto Habitacional da Cidade da Esperança na Zona Oeste, a política 
habitacional passou a atuar na Zona Norte, dando maior expressão à produção do 
espaço daquela área. Sobre este conceito, deve-se compreendê-lo, não apenas 
como a produção no sentido restrito dos economistas – isto é, o processo de 
produção das coisas e de seu consumo -, mas também a reprodução das relações 
de produção. Nesta ampla acepção, o espaço da produção implicaria e encerraria 
uma orientação comum a todas às atividades dentro da sociedade neocapitalista. 
Trata-se da produção no mais amplo sentido da palavra: produção das relações 
sociais e reprodução de determinadas relações (LEFEBVRE, 2000). 
Seguindo a perspectiva de Lefebvre (2000), observa-se que na Zona Norte, a 
reprodução das relações sociais de produção se efetivavam por meio da habitação 
na medida em que a moradia se consolidou nesta área da cidade, de acordo com o 
processo de instalação do DIN, o qual ocorreu em três etapas, conforme resgate 
feito por Araújo (2004). A primeira etapa ocorreu entre junho de 1978 e junho de 
1980 consistindo na desapropriação de áreas e na edificação das instalações 
físicas; a segunda fase, situada entre junho de 1980 e junho de 1984, objetivava a 
Figura 4 - Distrito Industrial de Natal – DIN nos anos 1970 
Fonte: CUNHA, 1987 
 
99 
 
 
implantação de 2,06 km de via férrea, armazéns de carga e estações ferroviárias. A 
terceira etapa, ocorrida entre junho de 1984 e junho de 1988 consistiu na 
implantação de armazéns, ampliação das estações ferroviárias e investimentos na 
aparelhagem de equipamentos básicos como abastecimento de água por parte da 
Companhia de Água e Esgotos do RN (CAERN), energia elétrica de 
responsabilidade Companhia de Serviços Elétricos do RN (COSERN) e a 
interligação da área através da construção de vias por meio do Departamento de 
Estradas e Rodagens (DER). 
O espaço em formação deu margem a uma nova dinâmica sócio-espacial 
fazendo emergir um roteiro que viabilizasse a ligação entre a Zona Norte e o 
restante da cidade facilitando, por exemplo, a acesso ao porto de Natal, localizado 
na Ribeira, Zona Leste. Como consequência, a questão da habitação passou a ser 
um tema de interesse por parte de agentes produtores do espaço, interessados na 
reprodução do capital, ocasionando então o início da expansão urbana de Natal em 
direção à Zona Norte. 
A expansão da cidade ganhou representatividade com a política habitacional 
coordenada pelo Banco Nacional da Habitação (BNH) criado em 1964, com o 
objetivo de fomentar uma política de habitação que atendesse, sobretudo, às 
camadas mais populares da população, visto que a industrialização, em expansão 
em todo o país, fazia emergir o problema da moradia. No caso de Natal foram 
importantes para a produção do espaço urbano, a atuação da COHAB/RN com a 
construção de moradias para a população de baixa renda, principalmente na Zona 
Norte, a partir da década de 1970, e o Instituto de Orientação às Cooperativas 
Habitacionais (INOCOOP), que projetava construções para a Zona Sul para atender 
à população de poder aquisitivo mais elevado. 
A diferenciação entre os conjuntos habitacionais edificados pelo INOCOOP na 
Zona Sul em relação à construção pela COHAB na Zona Norte, permite reflexões 
sobre a produção do espaço que resulta de uma racionalidade social. Esta 
racionalidade também deriva da ação de agentes concretos que atuam no espaço, 
conforme interesses particulares, a exemplo do próprio Estado que produz o espaço 
também por meio de políticas públicas e atua como agente regulador. 
Os conjuntos habitacionais construídos pelo INOCOOP, como por exemplo, o 
conjunto Neópolis, Candelária, Mirassol, Parque das Serras, Parque das Rosas e 
Ponta Negra valorizaram a Zona Sul de forma que esta valorização, deu margem à 
100 
 
 
formação de diversos loteamentos como Cidade Jardim, Max Santana, Capim 
Macio, Jardim Holanda e tantos outros, entre 1970-1980. Em virtude do padrão de 
habitação e poder aquisitivo de seus moradores, a Zona Sul se transformou na área 
de status mais elevado de Natal. 
Já a COHAB se responsabilizou pela construção de conjuntos na Zona Norte, 
que atendessem aos trabalhadores com baixos salários, sendo o conjunto Potengi e 
Igapó, construídos na década de 1970, os embriões da expansão urbana daquela 
área da cidade. Além da classe trabalhadora na indústria, os conjuntos habitacionais 
da Zona Norte atenderam parte dos moradores que foram pressionados a migrar 
para áreas periféricas da cidade. Este fato é explicado pela valorização do solo 
urbano decorrente da implantação de equipamentos de infraestrutura e serviços 
para atender às necessidades da classe mais favorecida na Zona Sul, enquanto que 
a Zona Norte se encontrava carente de tais investimentos. 
Enquanto viés interpretativo sobre a produção do espaço que resulta de uma 
racionalidade social e da ação de agentes concretos que nele atuam conforme 
interesses particulares, o Estado viabilizou a produção do espaço em Natal também 
por meio de políticas públicas urbanas e atuou como agente regulador. Em verdade, 
conforme explicitado por Harvey (2005) o Estado cumpre o papel na sociedade 
capitalista de viabilizar as bases para a reprodução capitalista no espaço. A 
produção do espaço refere-se, neste caso, a um processo sócio-espacial 
determinado pelas relações sociais de produção em que “de fato toda sociedade 
produz “seu” espaço, ou, caso se prefira, toda sociedade produz “um” espaço. 
(LEFEBVRE, 2008b, p. 55). Dito isto, entende-se que este processo é mediado pela 
prática de agentes que deixam impressas suas marcas. A motivação de Lefebvre 
(2000) ao escrever sobre este tema decorreu das suas indagações sobre a 
reprodução das relações sociais e a organização do espaço no contexto da 
produção capitalista sobre o território. 
Por este viés interpretativo, percebe-se que, a produção do espaço urbano de 
Natal através da política habitacional consolidada pelo INOCOOP e COHAB, 
ocasionou a formação de uma malha urbana desigual. Sobre este processo, 
Rodrigues (1989, p. 29), ao discutir as mais variadas formas de habitação nas 
cidades brasileiras, expõe que: 
 
101 
 
 
A diversidade dos grandes conjuntos, com a monotonia das edificações – 
sejam os vinculados ao BNH – (COHABs, INOCOOPs) ou empresários; dos 
condomínios fechados, com total infraestrutura e segurança – sejam em 
blocos de edifícios, sejam em unidades térreas; dos sobrados e casas 
geminadas; das garndes mansões; das casas eteramente inacabadas; das 
favelas e dos cortiços, deixam visível uma cidade com vários bairros 
segregados entre si, uns pela riqueza e a grande maioria pela pobreza. 
 
Desta forma, a produção do espaço urbano de Natal a partir da política 
habitacional financiada pelo BNH, deixa evidente um perfil de construção 
diferenciado quando postas em comparação às áreas Sul e Norte de Natal. Esta 
última, muito claramente marcada por uma desvalorização socioeconômica, sendo 
compreendida, por alguns, como um espaço de segregação social. 
Cunha (1987, p.65), ao discorrer sobre a expansão urbana de Natal, apontaque “há uma relação direta entre a forma espacial da cidade e os processos gerais 
resultantes da alocação de recursos governamentais no meio urbano”. Neste caso, a 
desprovida infraestrutura para atender a população do Zona Norte, se constituiu num 
fator de segregação sócio-espacial daquele espaço em relação ao restante da 
cidade, visto que nem a Ponte Rodoferroviária de Igapó fora capaz de superar. 
A segregação sócio-espacial de Natal, tomando por referência a política 
habitacional desenvolvida nas zonas Sul e Norte, foi discutida por Vidal (1998), que 
se referiu a estas zonas como “os dois lados da cidade” de tal modo tão diferentes, 
que nem a construção da ponte de Igapó foi capaz de integrá-las. Sobre o tema da 
segregação, a autora assinala que: 
 
No que diz respeito à estruturação do espaço urbano aceita-se que à 
segregação urbana, que é recriada nos diferentes momentos da expansão 
da cidade, é um processo que organiza o espaço em zonas com alto grau 
de homogeneidade social interna e grandes disparidades entre si, não só 
em termos de características distintas como hierarquia (VIDAL, 1998, p.52). 
 
Corrobora-se com a autora, visto que a Zona Norte se configurou como um 
espaço de segregação por uma série de fatores inerentes ao seu próprio processo 
de produção, dentre os quais cabe mencionar, na presente pesquisa, a construção 
de habitação para os trabalhadores nas proximidades dos seus postos de trabalho, 
como forma de baratear o custo de reprodução social da força de trabalho. 
Contudo, é a partir da década de 1980 que a Zona Norte apresentou uma 
transformação significativa na sua dinâmica espacial marcada pela expansão urbana 
de Natal. Foi neste período que o poder público agiu com maior contundência nesta 
102 
 
 
área da cidade com a construção de grandes conjuntos habitacionais financiados 
pelo BNH, a exemplo dos conjuntos Santa Catarina com 2.200 habitações e 
Soledade II com 1.945 habitações. A política habitacional teve continuidade nos 
anos 1990 e 2000 conforme mostra o quadro 6: 
 
Quadro 6 - Conjuntos habitacionais construídos na Zona 
Norte de Natal/RN 
BAIRRO CONJUNTO ANO UNIDADES 
 
 
 
 
 
Potengi 
Potengi 1976 379 
Panorama I 1977 260 
Panorama II 1978 80 
Soledade I 1978 540 
Panatis I e III 1979 1123 
Santa Catarina 1980 2200 
Panatis II (Programa de 
Erradicação de Sub-
Moradias (Promorar)) 
1981 220 
Soledade II 1982 1945 
Santarém 1983 2579 
Morada CNB I e II 1991 144 
Apern 1991 48 
Planície das mangueiras 1991 76 
 
Nossa Sra. da 
Apresentação 
Parque dos coqueiros 1990 2088 
Alvorada IV 1991 260 
Planície das Mangueiras 1991 76 
Alameda das Fronteiras 1992 50 
Icapuí * 96 
 
 
Igapó 
Igapó 1976 113 
IPE * 32 
Nova Igapó * 28 
Manoel Leopoldo * 48 
Cidade do Sol 144 
 
 
Lagoa Azul 
Gramoré 1983 1708 
Nova Natal (lotes 
urbanizados) 
1983 1000 
Nova Natal 1984 1863 
Eldorado 1991 153 
Cidade Praia * * 
 Pajuçara I 1985 992 
103 
 
 
 
 
 
 
Pajuçara 
Pajuçara II 1988 948 
Novo Horizonte 1990 204 
Vista Verde 1990 216 
Vista Verde I 1990 281 
Vista Verde II 1990 216 
Parque das Dunas I-IV 1990 1512 
Brasil Novo 1990 324 
Além Potengi 1990 216 
Morada Alvorada 1991 190 
João Paulo II * 154 
 
 
Redinha 
Jardim das Flores * 126 
Niterói * 300 
Raio de Sol * * 
Casa Nova * * 
Habitacional do 
EMPERCOM 
* * 
Salinas Autoconstrução * * 
Total 22.932 
 
 
 
A partir dos dados apresentados é possível inferir que a construção de 
conjuntos habitacionais na Zona Norte, que até então limitava-se praticamente a 
Igapó, ganhou impulso a partir da década de 1980. Foi neste período que Natal se 
tornou um município totalmente urbano, fortemente influenciado pela chegada da 
indústria, fato que ocorreu interligado ao contexto nacional de industrialização 
brasileira. 
Dentre os conjuntos habitacionais construídos neste período na Zona Norte, 
pode-se citar Santa Catarina, Soledade e Santarém, que juntos ofertaram 7.264 
unidades habitacionais. Reportando-se novamente ao quadro 3, percebe-se uma 
maior concentração de conjuntos construídos na década de 1990, em especial no 
Bairro de Pajuçara, sinalizando a expansão da Zona Norte. No entanto, 
espacializando os números apresentados, percebe-se que a ocupação desta área não 
ocorreu de forma simultânea e progressiva ao longo do tempo, uma vez que já na 
década de 1980 o Bairro de Lago Azul, localizado do extremo norte da Zona Norte 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB, 
2008 
* Informação indisponível 
 
104 
 
 
continha três conjuntos, a saber Gramoré, Nova Natal e Nova Natal (com lotes 
urbanizados). 
Diante dessa expressiva expansão do espaço urbano de Natal, por meio da 
política habitacional, surgiu nas áreas recém ocupadas, uma contundente atividade 
comercial que passou a atender às necessidades de consumo da população da 
área, reafirmando, desse modo, o protagonismo indissociável entre cidade e 
comércio. 
Assim, a expansão urbana impulsionada pela política habitacional criou a 
necessidade da construção de equipamentos vinculados ao crescimento da 
atividade comercial, desencadeando a sua desconcentração da área central de 
negócios de Natal formada pelos bairros Alecrim, Ribeira e Cidade Alta. Essa 
desconcentração das atividades de comércio não se constituiu num fenômeno 
específico de Natal, mas acorreu também em outras cidades brasileiras. Segundo 
Justino e Lopes (2015, p. 89), ao se remeteram à discussão do comércio informal na 
cidade de Uberlândia/MG, problematizam que as modificações ocorridas nas áreas 
centrais das cidades brasileiras, a exemplo da descentralização das atividades 
comerciais, foram decorrentes de “uma saturação devido aos altos valores do preço 
da terra, congestionamento nas vias, falta de vagas para o estacionamento e falta de 
espaço para a expansão das lojas, propiciando a descentralização dessas atividades 
comerciais”. Como fator para a descentralização do comércio nas áreas centrais 
também está a distância geográfica do centro comercial em relação às áreas de 
expansão. Neste sentido, Corrêa (1997), destaca que esse rápido crescimento não 
só da cidade, mas também do urbano aumentou a distância entre a área central e as 
novas áreas ocupadas. 
A desconcentração da atividade comercial nas áreas centrais de Natal 
ocorreu simultaneamente com a chegada do comércio varejista moderno na cidade, 
cujo marco foi a instalação do Hiper Bom Preço em 1982 no Bairro Lagoa Nova. 
Cabe mencionar que o varejo moderno em Natal não se conformou num fato isolado 
do cenário brasileiro, cujo marco temporal foi a década de 1970. Neste período a 
modernização das relações socioeconômicas do setor terciário, relacionado às 
inovações tecnológicas, promoveu esse processo nas cidades. Desta forma, 
enquanto parte do terciário em contexto de inovações, o varejo moderno começou a 
ganhar evidência nas grandes cidades brasileiras. 
105 
 
 
Guimarães Neto e Santos (2006), ao discutirem a economia de Pernambuco à 
luz do comércio varejista moderno, o conceituam como uma expressão diferenciada 
no que se refere à combinação de negócios, às estratégias de marketing utilizadas, 
o padrão de atendimento, a utilização de novas tecnologias, além de uma tendência 
à especialização do mercado e o elevado índice de formalização e profissionalização 
de seus funcionários. Este tipo de comércio foi se expandido em Natal, após a 
chegada do Hiper Bom Preço, de forma que outros estabelecimentos foram surgindo 
também na Zona Sul da cidade não só no que diz respeito ao segmento voltado 
preponderantemente para a alimentação, mas também para outros segmentos como 
o Shopping Centers Natal Sul e Cidade Jardim e os Centros Comerciais Aloisio 
Bezerra (CCAB-SUL e CCAB-Norte). 
A chegada destes estabelecimentos sinalizou a conformação de 
equipamentos comerciais modernos em Natal, a exemplo docentro comercial no 
formato de Shopping Centers. Todavia esta forma já pertencia à realidade de 
algumas cidades brasileiras como reflexo do comércio e do consumo modernos 
evidenciados em décadas anteriores em outros países, a exemplo dos Estados 
Unidos em que os Shopping Centers já compunham a paisagem no segundo pós-
guerra. No Brasil, esta forma surgiu na década de 1960, “no momento em que as 
condições de desenvolvimento do capitalismo necessitavam do monopólio do 
espaço, para reprodução continua e ampliada do capital” (PINTAUDI, 1992, p.16) 
Todavia, a implantação dos Shopping Centers Natal Sul e Cidade Jardim e os 
centros comerciais Aloisio Bezerra (CCAB-SUL e CCAB-Norte) em Natal eram 
empreendimentos que não compartilhavam da mesma semântica dos Shopping 
Centers estudados por Pintaudi (1992), ou seja, aqueles vinculados ao varejo 
sofisticado com ambientes fechados e climatizados, estacionamento e demais 
características de um shopping moderno. O Natal Shopping Center, aberto em 1992, 
e o shopping Via Direta, inaugurados em 1993, foram os primeiros a atenderem a 
estes requisitos. 
Os equipamentos do comércio moderno e das atividades de serviços 
passaram a ocupar os principais eixos articuladores da capital potiguar como as 
avenidas Engenheiro Roberto Freire, Tomaz Landim, Airton Sena, Romualdo Galvão 
e Jaguarari (GOMES; SILVA; SILVA, 2002). Nestas se concentram atividades 
ligadas ao varejo moderno com destaque para o comércio e os serviços como 
supermercados, serviços bancários, shopping centers, lojas, hotéis e outros, 
106 
 
 
mudando assim, o padrão de localização do setor que até a década de 1980 estava 
centralizado nos bairros do Alecrim, Ribeira e Cidade Alta. 
No contexto do crescimento urbano de Natal e sua consequente 
descentralização dos bairros Alecrim, Cidade Alta e Ribeira, a cidade passou a 
apresentar a emergência do varejo moderno também na Zona Norte. Paula (2010), 
ao discutir a dinâmica do comércio varejista moderno nesta área da cidade, 
expressa que “com a expansão do terciário, a cidade amplia seu espaço econômico 
e busca outros mercados consumidores (mais pessoas pra consumir, em outros 
locais da cidade” (PAULA, 2010, p. 39). 
Nesta área da cidade foram implantadas estratégias pela Prefeitura Municipal 
a fim de impulsionar a atividade comercial, principalmente a partir da implantação de 
formas do varejo moderno nos principais eixos articuladores como as avenidas 
Bacharel Tomaz Landim e Doutor João Medeiros Filho. A forma comercial 
emblemática para a chegada deste segmento de comércio na Zona Norte ocorreu 
em 1982, quando foi instalado na Avenida Bacharel Tomaz Landim, no Conjunto 
Habitacional Santa Catarina, uma unidade da rede de supermercado “o Nordestão”. 
De acordo com Paula (2010), o estabelecimento começou a funcionar na Zona Norte 
com a bandeira do Hiperbox (uma rede formada por mercados maiores e variedade 
de produtos) e após uma grande reforma ocorrida em 1986, passou a atuar como 
supermercado, sendo o de maior referência para a Zona Norte. Após passar pela 
segunda reforma, no ano de 2006, o supermercado ganhou a forma que se conhece 
no presente ano de 2017. Contudo, mesmo com o embrião do varejo moderno nesta 
área da cidade em potencial de expansão, a mesma ainda ficou a parte da oferta de 
comércio e serviços relacionados ao segmento, dependendo da dinâmica da 
atividade comercial que acontecia na Zona Sul. 
Somente na segunda metade da década de 1990 é que o varejo moderno 
começou a se expandir na Zona Norte devido o interesse dos grandes empresários 
em construir equipamentos comerciais nesta área. O objetivo consistia em atender 
ao expressivo crescimento populacional da área, principalmente entre as décadas 
de 1980-1990-2000, conforme observado na tabela 2 e melhor representado no 
gráfico 16. 
 
 
107 
 
 
Tabela 2 - Evolução da população da Zona Norte de Natal/RN – 1980 a 2010 
Fonte: Mineiro (1998), Prefeitura Municipal de Natal (2012) 
(Elaboração da autora, 2016). 
 
 
Gráfico 16 - Evolução da população da Zona Norte de Natal/RN – 
1980 a 2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No gráfico 16, pode-se observar um expressivo crescimento populacional em 
todos os bairros da Zona Norte entre as décadas de 1980 – 2000, exceto no Bairro 
Salinas que apresentou uma pequena diminuição populacional entre os anos de 
1996 e 2000, porém recuperando o quantitativo populacional já em 2010. Os 
números da tabela 2 e, de forma mais clara no gráfico 16, demonstram a expansão 
 
Bairro 
 
 Ano 
Potengi Nossa Sra. 
da 
Apresentação 
Igapó Lagoa 
Azul 
Pajuçara Redinha Salinas 
1980 20.604 1.074 14.055 475 485 3.632 155 
1991 55.877 12.982 24.354 9.864 13.259 6.581 529 
1996 56.221 38.708 25.577 40.199 35.300 9.084 1.026 
2000 56.259 56.522 27.032 50.413 42.130 11.504 883 
2010 57.848 79.759 28.819 61.289 58.021 16.630 1.177 
Fonte: Mineiro (1998), Prefeitura Municipal de Natal (2012) 
(Elaboração da autora, 2016). 
 
108 
 
 
urbana da Zona Norte a partir da política habitacional. Faz-se salutar chamar a 
atenção para o caso dos bairros Pajuçara, Nossa Senhora da Apresentação e Lagoa 
Azul, onde se localizam respectivamente as ruas Pompéia, Boa Sorte e Chegança. 
A população dos dois primeiros bairros cresceu exponencialmente quase triplicando 
na primeira metade da década de 1990 e no caso de Lagoa Azul, quadruplicando. 
A duplicação da Ponte Costa e Silva, conhecida popularmente como a Ponte 
de Igapó, se constituiu no evento explicativo para a representatividade da ocupação 
da Zona Norte na década de 1990, conforme mostrado na figura 5. Este equipamento 
promoveu a sua integração com as demais zonas administrativas da cidade, 
facilitando assim o uso do automóvel. Na expressão de Araújo (2004, p. 44) “a nova 
Ponte de Igapó tornou-se um evento aliado ao novo processo que se configurava, 
dando maior fluidez ao tráfego destinado ao referido espaço e aos municípios 
vizinhos”. Ainda para a autora, a referida ponte se constituiu num importante 
equipamento de infraestrutura da cidade impulsionando a construção civil na Zona 
Norte e sua consequente especulação imobiliária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Costa (2012). 
 
Todavia, foi a partir da primeira década do século XXI que a dinâmica 
espacial da Zona Norte passou a ser fortemente influenciada pelo varejo moderno, 
redefinido os hábitos de consumo da área. Tal fato se deu principalmente a partir da 
Figura 5 - Ponte Costa e Silva (Igapó) duplicada 
109 
 
 
instalação do Carrefour inaugurado em 2006; Natal Norte Shopping em 2007, 
renomeado em 2014 para Partage Nort Shopping em virtude da gestão pela rede de 
investimentos imobiliários Partage; Atacadão e o Shopping Estação, ambos 
inaugurados em 2008 e Atacadão Autosserviço e o Armazém Pará que entrou em 
funcionamento também em 2008. Estes estabelecimentos se instalaram nos 
principais eixos articuladores da Zona Norte, a saber a Avenida João Medeiros Filho 
e Tomaz Landim. 
Nas proximidades destas avenidas, as vias de acesso secundário como as 
ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, passaram a contar com estabelecimentos 
comerciais de pequeno porte para suprir, inicialmente nos anos 1980-1990, a 
necessidade de consumo da população que se instalava, principalmente por meio de 
ocupação espontânea. A posteriori, a partir dos anos 2000, a atividade comercial 
passou a exercer papel importante nestas ruas, configurando-se como estratégia de 
reprodução das próprias relações locais, resultante da produção do espaço numa 
lógica contra-hegemônica. 
A expansão da atividade comercial nas ruas mencionadas evidencia que o 
comércio na Zona Norte é permeado por duas lógicas: aquela de conteúdo 
hegemônico efetivado pelas forças do capital e paralelamente aquele comércio que 
se conformou numa contra-hegemonia de conteúdo social. Essa segundalógica de 
comércio, além de gerar emprego, tem uma função de proximidade tanto física 
quanto social. 
A primeira expressão, chamada de comércio moderno, é marcada 
principalmente pelo autosserviço, pela gestão capitalista e pela localização em 
principais vias de circulação de veículos, pedestres e informações. Em contrapartida 
o comércio tradicional mantém uma relação de proximidade social com o cliente em 
que a figura do vendedor permanece importante para a decisão de compra da 
mercadoria. Este tipo de comércio se localiza nas vias de acesso secundárias e 
apresenta o predomínio de gestão familiar nos estabelecimentos. 
Corrobora-se então com Pintaudi (1999) quando explana que o crescimento 
da cidade impulsiona o aumento e o desenvolvimento do comércio. Na Zona Norte, 
as duas expressões de comércio se fazem presente: o comércio moderno e o 
tradicional. A presente pesquisa debruça-se sobre a segunda expressão fortemente 
representada no comércio das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, objeto 
empírico em discussão. 
110 
 
 
Foi o crescimento da atividade comercial nas ruas estudadas que suscitou o 
questionamento sobre os fatores que influenciaram o surgimento desse processo. A 
inquietação conduz à busca de respostas para a leitura destas ruas, pensadas 
inicialmente dentro da lógica de produção do espaço, seja através da política 
habitacional ou de autoconstruções para suprir a carência da moradia no início dos 
anos 1980 e consecutivamente 1990-2000, e que nos dois primeiros decênios do 
século XXI vem incorporando expressivamente a atividade de comércio. Responder 
à questão suscitada é o que se pretende na subseção que segue por meio de 
resgate da memória sobre o lugar. 
 
3.2. O RESGATE DA MEMÓRIA: NARRATIVAS SOBRE AS RUAS POMPÉIA, 
BOA SORTE E CHEGANÇA 
 
A memória é a consciência inserida no tempo 
(Fernando Pessoa) 
 
 
Para responder à questão acerca dos fatores que contribuíram para o 
surgimento do comércio nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, o ato de pensar 
e refletir torna-se fundamental entendendo que este requer organização das ideias 
para a elaboração consciente das lembranças, tanto atuais quanto passadas. 
Pensar sobre o tempo no fragmento elaborado por Pessoa é refletir sobre os 
conteúdos nas mais diversas temporalidades que os indivíduos são capazes de 
carregar nas suas memórias. 
É comum encontrar um grupo de pessoas normalmente recordando entre si 
ou individualmente sobre o tempo vivido no passado ou no presente, seja com boas 
ou não tão agradáveis lembranças. São diversos os assuntos: família, festa, amores, 
viagens, trabalho. A memória está ligada diretamente à identidade de cada 
indivíduo, ou seja, uma identidade ligada à imagem de si mesmo. Discutindo sobre 
memória e identidade na história, Pollak (1992, p.5) argumenta que: 
 
Se podemos dizer que, em todos os níveis, a memória é um fenômeno 
construído social e individualmente, quando se trata da memória herdada, 
podemos também dizer que há uma ligação fenomenológica muito estreita 
entre a memória e o sentimento de identidade. Aqui o sentimento de 
111 
 
 
identidade está sendo tomado no seu sentido mais superficial, mas que nos 
basta no momento, que é o sentido da imagem de si, para si e para os 
outros. Isto é, a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente 
a ela própria, a imagem que ela constrói e apresenta aos outros e a si 
própria, para acreditar na sua própria representação, mas também para ser 
percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros. 
 
A memória que, também pode ser utilizada como recurso num processo 
investigativo de finalidade acadêmica, se associa à ideia de que a interpretação das 
falas de consumidores, moradores e/ou comerciantes mais antigos das ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte, baseada na análise de conteúdo, fornece 
elementos explicativos para responder à questão da pesquisa acerca dos fatores 
que contribuíram para o surgimento do comércio nas ruas citadas. Parte-se da 
conjuntura de que a rua, onde o comércio se desenvolve, constituiu-se no “caminho 
(espaço) público onde as relações de troca podem ser realizadas através do trato 
social, da convivência e da conversação” (VIEIRA FILHO, 2011, p. 2). 
 
3.2.1. MEMÓRIAS SOBRE A RUA POMPÉIA 
 
A memória pode servir como um cominho para a interpretação das 
recordações. Ela pode aflorar a partir do esforço do pensar sobre as lembranças 
espontâneas e eternizadas em pensamentos, imagens e fotografias que carregam 
no seu conteúdo a materialização de acontecimentos diversos, inclusive de eventos 
construídos no imaginário dos leitores da história. Pensando nisto, remete-se às 
figuras 6 e 7 que representam o ponto de partida para se retratar a ocupação da Rua 
Pompéia, na Zona Norte de Natal/RN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
112 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Entre as sombras de uma montanha e as águas cintilantes da baía de Nápoles, um dia existiu uma 
cidade viva e vibrante. (PLATT, 2011, p.2) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O comércio dessa rua aí é forte! O comércio da Pompéia é forte! (Comerciante da Rua 
Pompéia/RN, 2016) 
 
Figura 6 - Ilustração de rua na cidade Pompéia, Itália em 150 a.C. 
Figura 7 - Rua Pompéia – Zona Norte de Natal/RN/2016 
Fonte: Platt, 2011. 
 
Fonte: View, 2015. 
 
113 
 
 
Pode parecer ousado apresentar para o leitor, ilustrações de rua na cidade 
Pompéia na Itália de 150 anos a.C e a Rua Pompéia na Zona Norte de Natal em 
2016. No entanto, mesmo com temporalidades e contextos espaciais muito 
distantes, as duas imagens deixam transparecer algumas questões merecedores de 
uma interpretação que indica semelhanças, em especial a origem do nome da Rua 
Pompéia da Zona Norte, hoje oficialmente denominada de Avenida Governador 
Antônio de Melo e Souza. 
Seria coincidência a rua da Pompéia Italiana da figura 6 se constituir como 
uma linha divisória de dois tipos de habitação da mesma forma que acontece na rua 
de mesmo nome na Zona Norte de Natal? No caso da rua na cidade italiana, fica 
claro que no lado esquerdo da figura 6 existe um perfil de habitação composto por 
pequenas dependências ocupadas por pessoas aparentemente menos abastadas, 
enquanto que do lado direito à moradia é absolutamente constituída por grandes 
casarões. No caso da Pompéia Potiguar (figura 7) também existe uma divisão no 
perfil de ocupação da rua em que de um lado construiu-se um conjunto habitacional 
e do outro a habitação aconteceu de forma desordenada sem o acompanhamento 
de qualquer instituição. 
A Rua Pompéia constitui-se numa linha divisória entre os Bairros Potengi, 
Pajuçara e Redinha (Mapa 7). No entanto, nesta rua, o comércio desenvolve-se no 
recorte correspondente aos dois primeiros bairros mencionados onde se localizam o 
Conjunto Habitacional Santarém e o Loteamento Nova República, respectivamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
114 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ocupação do Bairro Potengi aconteceu predominantemente por meio da 
construção de conjuntos habitacionais como: Potengi, Soledade I e II, Panorama I e 
II, Panatis I, II e III, Santa Catarina, Santarém, Morada – Construtora Norte Brasil 
(CNB) I e II, Associação de poupança e empréstimo do Rio Grande do Norte 
(APERN) e Planície das Mangueiras. No Bairro Pajuçara, também prevaleceu a 
ocupação por meio de conjuntos habitacionais, a saber: Novo Horizonte, Vista 
Verde, Vila Verde I e II, Parque das Dunas I, II, III, IV, V e VI, Brasil Novo, Pajuçara I 
e II, Morada Alvorada, Além Potengi e João Paulo II. 
Mapa 7 – Rua Pompéia-Natal/RN 
Fonte: IBGE. Malhas de setores censitários e divisões 
intramunicipais - Censo 2010. 
Elaboração: Soneide Moura; Joabio Costa, 2016. 
 
115 
 
 
Em entrevista realizada na Rua Pompéia, procurou-se obter informações 
sobre o tempo e a forma de ocupação da referida rua,sendo apresentado por um 
entrevistado, a seguinte informação: 
 
A Pompéia faz uma divisão entre conjunto Santarém que veio antes e 
depois loteamento Nova República que não foi loteado que era umas terras 
que tinha aí e o povo foi se apossando. Tanto que no conjunto Santarém foi 
feito tudo direitinho, o povo tem escritura da casa e tudo. No Nova 
República, não. Foi posse é tanto que ele é mau projetado. Tem rua aí que 
só passa bicicleta de tão estreita que é. (Comerciante 1) 
 
Esta diferença no processo de ocupação da Pompéia está atrelada ao fato de 
que o lado esquerdo da rua pertence ao Bairro Potengi sendo este último, projetado 
pela COAHB/RN por meio da construção de vários conjuntos habitacionais, 
principalmente entre as décadas de 1980 – 1990, dentre os quais está o Conjunto 
Santarém, construído em 1983. No que se refere ao lado direito da rua, este 
pertence ao Bairro Pajuçara, cuja ocupação aconteceu preponderantemente por 
meio de loteamento, dentre os quais está o Nova República. 
A ocupação mencionada fica claramente evidenciada por meio do mapa 8 que 
torna notório o perfil desordenado de produção de alguns recortes no Bairro 
Pajuçara, percebidos por meio de ruas estreitas e de difícil acesso, principalmente 
às margens da Pompéia. Isso leva a crer que a ocupação desta área, tenha se 
iniciado no que hoje se conformou no entorno da referida rua. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
116 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desta forma, empreende-se que a Pompéia surgiu na Zona Norte como 
resultado de uma produção do espaço mediado pela política habitacional e pela 
definição de loteamentos no início da década de 1980, conforme relatado pelo 
comerciante entrevistado acerca do período de criação da rua. 
 
Eu estou aqui desde 1982. Não tinha a Pompéia ainda, quando eu cheguei. 
Nova República foi o seguinte..... porque Pompéia é Nova República! Ali 
começou por posse, o povo se apossou mesmo. Tudo ali foi posse! As 
pessoas passavam com as tábuas para marcar o terreno que dizem que era 
do INCRA. O que tinha de placa da rua o povo trazia e fazia a sua casinha 
com ela, com faixa, com...pra morar mesmo. Os letreiros maior do mundo alí 
dentro, rapaz! Aí depois em 1984 ia chegando aquele mais.... que iam 
comprando e iam comprando e iam construindo, sabe? (Comerciante 1) 
 
O fragmento extraído deixa claro que as casas foram edificadas fazendo parte 
do processo chamado de autoconstrução. Sobre essa questão, Rodrigues (1989), ao 
Mapa 8 - Perfil de produção de ruas em torno da 
Pompéia nos bairros Pajuçara e Potengi – Natal/RN 
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Natal/ 
RN, 2000 . 
Elaboração: Soneide Moura da Costa.; Joabio Alekson Cortez Costa, 
2016. 
 
117 
 
 
se debruçar sobre a problemática da moradia nas cidades brasileiras, aborda o tema 
da autoconstrução apontado como a principal forma de acesso à moradia de baixo 
custo pela classe trabalhadora brasileira menos favorecida. De acordo com a autora: 
 
A autoconstrução reproduz – ao produzir casas em lugares em 
infraestrutura e com um sobre-trabalho individual – as condições gerais de 
reprodução do espaço urbano, onde é possível morar, de que modo é 
possível morar, definindo e redefinindo o lugar de cada um na cidade. A 
autoconstrução também é uma reivindicação dos sem terra/casa, que 
buscam, com enorme sacrifício, obter um teto para morar. A autoconstrução 
produz um valor de uso que tem também um valor de troca. (RODRIGUES, 
1989, p. 34) 
 
Essa forma das famílias carentes resolverem o problema da moradia foi 
constatada na produção do loteamento Nova República enfatizada na fala do 
entrevistado. Para o mesmo, o referido loteamento surgiu antes da conformação da 
Pompéia enquanto rua, visto que esta passou a existir a partir de 1983 com a 
construção do Conjunto Habitacional Santarém. Ainda de acordo com o 
entrevistado, foram utilizados rejeitos como pedaços de madeiras e placas de 
propaganda para demarcar e edificar os barracos, denotando que a ocupação do 
referido loteamento aconteceu de forma espontânea por meio da apropriação 
irregular de terras ainda não urbanizadas na Zona Norte da cidade. 
A respeito desta questão, Cunha (1987), ao se debruçar sobre o contexto de 
produção do espaço de Natal na década de 1980, assinala que o Estado atua neste 
processo não apenas través de políticas públicas, mas também do estabelecimento 
de leis que regulem o solo urbano e estratégias de promoção do mesmo. Como 
consequência, o encarecimento do solo resultou no surgimento de loteamentos 
clandestinos em Natal, na década de 1980, fato que é reflexo da produção do 
espaço no Brasil à época. A esse respeito, Cunha (1987, p. 98) afirma que: 
 
A produção do espaço urbano, no Brasil, está caracterizada pelas 
constantes incorporações de terras rurais à cidade. Estes aspectos são 
geralmente responsáveis, no espaço urbano, pelo surgimento de 
loteamentos clandestinos nestas áreas periféricas, onde a oferta de 
benefícios é precária ou inexistente. 
 
Neste sentido, a ocupação do loteamento configurado como marco do 
surgimento da Pompéia, ocorreu em condições inapropriadas com a moradia em 
situação de precarização e falta de assistência básica em termos de serviços. No 
118 
 
 
entanto, habitar aquela área era uma das poucas alternativas para os seus 
moradores, visto que a partir do exposto pelo entrevistado acerca da origem da 
população que ocupou a Pompéia, o mesmo respondeu: 
 
É, a maioria é de João Câmara, né? E o resto veio de outra cidade como 
Ruy Barbosa, outra..mas no começo o foco foi João Câmara por causa dos 
estrondos que tiveram lá em 1986. (Comerciante 1) 
 
O entrevistado menciona que no início de sua ocupação, Nova República, 
consequentemente a Pompéia, recebeu moradores vindos principalmente da cidade 
João Câmara/RN no ano de 1986, mesmo ano em que esta cidade registrou um 
terremoto de 5,1 na escala Richter, destruindo cerca de 3.000 casas desabrigando 
centenas de famílias, conforme mostra a figura 8. 
 
 
Fonte: Norte (2012). 
 
Esses habitantes, vindos de João Câmara, viram uma nova oportunidade de 
refazer suas vidas numa área em expansão parcialmente desordenada em Natal. Os 
camarenses cercavam o seu território no loteamento com placas, folhas de 
bananeira ou pedaços de madeira, como forma de mostrar que aquele lote já havia 
sido ocupado, e retornavam para João Câmara apenas para resgatar as suas 
famílias. 
E assim, conforme o loteamento se formava, os primeiros moradores abriam 
trilhas para a aquisição de pedaços de madeira para a construção e também para 
servir de fonte de combustão para o cozimento dos alimentos. Essas trilhas deram 
Figura 8 - Noticiário sobre abalos sísmicos em João Câmara (a direita) 
e evasão da população da cidade (a esquerda) 
119 
 
 
origem às ruas e vielas desordenadas do Loteamento Nova República, reflexo do 
caráter espontâneo de sua formação, e também à conformação da Pompéia, que 
dividia o referido loteamento do Conjunto Habitacional Santarém. Mesmo com a 
Pompéia sendo umas das primeiras ruas a se concretizar naquele contexto espacial 
e social, já era notório o seu diferencial no que concerne a sua dimensão e 
localização. Ainda sobre a origem desta rua, o comerciante expressa que: 
 
A Pompéia é mais larga, né? Porque a Pompéia se diferencia das outras 
ruas porque alí termina o loteamento que não faz parte de Nova República, 
né? O loteamento tinha uma firma aí venderam os terreno, os lote, aí o 
pessoal tinha dinheiro e ia comprando, né? A Pompéia é o seguinte: ela 
divide de um lado o que na época era chamado de Conjunto Santarém e do 
outro lado Loteamento Nova República porque o povo foi invadindo e 
botaram esse nome por que como se diz: tamo invadindo é nova, né? foi 
uma ocupação rápida, rapaz! Nunca vi uma coisa tão rápida, rapaz. Povo 
começou a arrancar até as palhasdos coqueiros pra fazer as casas e aí uns 
cinco nos depois o povo começou a fazer as casas de alvenaria. 
(Comerciante 1) 
 
Na fala do entrevistado a diferenciação da rua em relação às suas adjacentes 
é retratada, fornecendo pistas sobre a origem do nome Pompéia. Fica evidente na 
fala deste, a relação do nome com o comércio, da mesma forma que foi evidenciado 
na Pompéia italiana. Segundo Mendes (2013) entre os séculos VI e VII foi 
encontrada uma inscrição da rua italiana cuja frase dizia “Salve, Lucru” (bem-vindo, 
dinheiro!). Essa expressão serve de referência para a rua da Zona Norte, pois no 
momento em que as casas de alvenaria começaram a substituiu as de palha e 
madeira, o comércio surgiu e a partir de então tem apresentado crescimento 
considerável. 
O primeiro estabelecimento comercial a se instalar na Pompéia foi o 
Supermercado Nova República, que atendia à demanda de consumo da população 
em crescimento. Ainda hoje esse supermercado é uma referência para o consumo 
no bairro. Em entrevista realizada com o gerente desse supermercado, o qual 
trabalha no estabelecimento desde a sua fundação em 1986 e mora na rua há 31 
anos, foi possível perceber, através de suas palavras, o orgulho e a dedicação de 
zelar pela memória e significado do estabelecimento para o loteamento e também 
para o comércio da Pompéia. Quando perguntado sobre o porquê do comércio ter 
surgido na rua, o referido entrevistado assim se expressou: 
 
Na época que o loteamento estava sendo criado, não tinha nada. Então 
vimos que era importante chegar junto com a população. Inclusive depois 
120 
 
 
do supermercado Nova República outros estabelecimentos surgiram, por 
exemplo: o supermercado não tem padaria, o cara vem e bota uma padaria, 
bota uma farmácia de lado porque a pessoa vem pro supermercado e 
aproveita e resolve outras coisas. Nessa época, a gente chegava aqui no 
supermercado e via o comércio da Pompéia todo por exemplo: uns dez 
metros prum lado, uns dez metros pro outro. Hoje não! (Funcionário1) 
 
O supermercado foi o ponto de partida para o surgimento do comércio na rua. 
A partir dele outros moradores perceberem que era possível, fazendo uso de sua 
própria moradia, adquirir uma renda por meio da atividade. Porém, somente nos 
anos 1990, a atividade comercial da Pompéia se expandiu significativamente. Tal 
fato é justificado pelo asfaltamento da rua durante a gestão da prefeita da época, 
Vilma de Faria, o que favoreceu a implantação de uma linha de transporte público, 
que propiciou maior acessibilidade e dinamicidade ao comércio da Pompéia. 
Essa compreensão se deu a partir da resposta dada pelo funcionário quando 
questionado se a rua era atendida por transporte público e se, em caso afirmativo, 
que mudanças foram observadas na rua e mais especificamente na atividade 
comercial. A este respeito, ele acrescentou que: 
 
A rua foi calçada no governo de Vilma aí o comércio cresceu e desenvolveu 
o bairro. Antes o ônibus só passava na Itapetinga. Hoje a Pompéia é mais 
comercial. Isso vem numa evolução. De uns dez anos pra traz isso cresceu 
muito. (Funcionário 1) 
 
Quando a Pompéia foi asfaltada e passou a ser inserida nas rotas do 
transporte público, teve o nome modificado para Avenida Governador Antônio de 
Melo e Souza, em homenagem ao Governador de mesmo nome que criou o Decreto 
Estadual nº 156 de 18 de novembro de 1921 intitulado “Código do Telégrafo Óptico” 
cujo objetivo era reestabelecer o serviço de semáforo na cidade. De acordo com a 
Prefeitura Municipal de Natal (2007), o telégrafo óptico servira de inspiração para o 
governador por ter sido o primeiro meio de comunicação da capital potiguar no final 
do século XIX a utilizar cores para indicar a entrada e a saída de navios, se 
atracariam em Natal ou estavam de passagem e se serviam à guerra ou eram de 
carga. 
A partir do exposto, compreende-se que o nome Av. Governador Antônio de 
Melo e Souza substituiu o topônimo Pompéia após a sua inserção ao sistema de 
transporte público, devido a contribuição do referido governador no que se refere 
aos aparelhos de sinalização urbana. Entretanto, as melhorias implementadas na 
Rua Pompéia que lhes credenciaram à condição de avenida, não foram suficientes 
121 
 
 
para que moradores e comerciantes, de modo geral, a reconhecessem com esse 
nome. Assim, Pompéia permaneceu como referência para a comunidade e até 
mesmo para as empresas de transporte que continuam com o nome da rua nos 
painéis dos ônibus. 
O transporte público dinamizou o comércio da Pompéia. A linha de ônibus 02 
da empresa Guanabara trouxe impactos para a população que ali residia em função 
da transformação da dinâmica local. O ponto de partida desta linha acontece na Rua 
Pirassununga no Bairro Lagoa Azul, mesmo bairro onde se localiza a Rua 
Chegança, segue em direção à Avenida Engenheiro Roberto Freire na Zona Sul, 
conforme expressa o quadro 7. 
 
Quadro 7 - Ordem de serviço operacional da linha de 
transporte público 02 - Gramoré/Mirassol - Empresa 
Guanabara/2016 
IDA 
Av. Pirassununga (Terminal) 
Rua Riversul 
Av. Piratininga 
Rua Atibaia 
Rua Eldorado 
Av. Guararapes 
Av. Tocantinea 
Rua Flor do Paraiso 
Rua São Rufino 
Pompéia 
Av. Dr. João Medeiros Filho 
Av. Bacharel Tomaz Landim 
Av. Felizardo Moura 
Rua Jandira 
Rua Dr. Mário Negócio 
Av. Bernardo Vieira 
Av. Senador Salgado Filho 
Marginal da BR 101 
Viaduto de Ponta Negra 
Av. Eng. Roberto Freire 
Retorno Nordestão Cidade 
Jardim 
 
VOLTA 
Av. Eng. Roberto Freire 
Marginal da BR 101 
Av. Senador Salgado Filho 
Av. Antônio Basílio 
Rua Rui Barbosa 
Av. Bernardo Vieira 
Rua Dr. Mário Negocio 
Av. Felizardo Moura 
Av. Bacharel Tomaz 
Landim 
Av. Dr. João Medeiros 
Filho 
Av. Itapetinga 
Rua Itororos 
Pompéia 
Rua São Rufino 
Rua Flor do Paraiso 
Av. Tocantinea 
Av. Guararapes 
Rua Eldorado 
Rua Atibaia 
Av. Piratininga 
Av. Penapoles 
Av. Pirassununga 
(Terminal) 
 
 
 
Vale destacar que a presença do transporte público não se configura numa 
situação isolada à Pompéia porque é consequência da própria lógica de produção 
da cidade por meio das articulações entre os sistemas técnicos e sua relação com o 
urbano. Em vista disso, Eposito (2016, p. 133), ao discutir a produção do espaço 
Fonte: Guanabara (2017). 
122 
 
 
urbano considerando as suas múltiplas escalas espaciais e sociais, enfatiza que: 
“[...] desde o aparecimento do transporte automotivo, configuram-se mais 
descontínuos. Tal transporte não é causa dessa mudança que se reflete diretamente 
na morfologia urbana, mas é sua condição, do ponto de vista técnico”. 
Desta forma, pode-se inferir que o acesso à Pompéia por meio do transporte 
público lhe conferiu maior dinamicidade em virtude da sua integração ao restante da 
cidade. A notoriedade comercial desta rua no âmbito da Zona Norte, contribuiu para 
que muitos moradores vissem nessa atividade a possibilidade de lucrarem e de 
obter renda para sobreviverem. Por sua vez, muitos deles venderam suas casas e 
retornaram à sua cidade de origem ou as transformaram em estabelecimento 
comercial. Aqueles que permaneceram, fizeram adaptações na residência para 
abrirem um estabelecimento comercial visando garantir o sustento da família ou 
alugaram o ponto do comércio e se estabeleceram na parte superior ou inferior do 
imóvel. Desta forma, consolidar um estabelecimento voltado para a atividade 
comercial ou alugar um ponto para este fim, tornou-se a maior fonte de renda da 
população que, inicialmente, veio para Natal guiada pela oportunidade da moradia. 
Desse modo, a Rua Pompéia passou a ser, não apenas um espaço de 
moradia, mas também um espaço próspero, economicamente falando. E assim, 
mais um parâmetro de semelhança com a Pompéia italiana, esta, formada por 
grandes casarões, mas também por pequenos cômodos que dividiam a moradia 
com o comércio para uma parcela da população de poder aquisitivonão tão elevado. 
De acordo com Platt (2011) nem todas as casas eram grandes e luxuosas. De 
acordo com o autor, com a cidade em constante crescimento, algumas famílias 
pobres alugavam cômodos ou dividiam a moradia com seus estabelecimentos 
comerciais conforme evidenciado na figura 9, que apresenta o cotidiano da Pompéia 
italiana em que, na rua se misturavam a vida em família executando suas práticas 
do lar na parte de cima dos imóveis e, logo na parte inferior, a atividade comercial. 
 
 
 
 
 
123 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Pompéia da prosperidade de 150 a.C, muito tem em comum com a 
Pompéia potiguar das duas primeiras décadas do século XXI, representada na foto 
8. Nesta rua, muitos comerciantes fizeram adaptações nas suas moradias, passando 
a morar no pavimento superior ou na parte de trás do imóvel para agregar o 
estabelecimento comercial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 9 - Rua na cidade Pompéia-Itália 150 a.C 
Fonte:.Platt, 2011. 
124 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Embora tenham características semelhantes, a figura 9 e a foto 8 retratam 
contextos econômicos diferentes. A primeira, representa o comércio num cenário de 
pujança econômica, enquanto que a segunda, não necessariamente traduz a 
prosperidade, mas uma realidade sobre um sistema econômico em crise que se 
reinventa, sendo a informalidade um dos motores dessa reinvenção. 
A informalidade é explicada por vários fatores, dentre eles as altas taxas de 
desemprego, as quais evoluíram significativamente a partir da restruturação 
produtiva na década de 1990, quando as indústrias se modernizaram e reduziram a 
força de trabalho, forçando o trabalhador a buscar estratégias de sobrevivência. 
Nessa década o país teve um número expressivo de 3,3 milhões de desempregados 
(POCHMANN, 2001). Outro fator é a aposentadoria precoce que faz com que o 
aposentado queira, além de sair da ociosidade, complementar a renda familiar e 
para isso busca alternativas de sobrevivência que não lhe exija carga tributária. 
Também pode-se citar como fator que explica a informalidade a flexibilidade e 
autonomia por meio da gestão do próprio empreendimento, visto que, na 
contemporaneidade, o cidadão é pressionado a exercer atividades diárias diversas e 
o setor informal acaba se configurando como uma alternativa de gestão do seu 
próprio tempo. 
Foto 8 - Casas adaptadas para agregar o comércio- Pompéia-Natal/RN 
- 2016 
Fonte: Acervo da autora, 2016. 
125 
 
 
Se por um lado o trabalho informal garante a sobrevivência do trabalhador, 
por outro se constitui em um dos fatores responsáveis pela precarização da força de 
trabalho. Sobre essa questão, Tavares (2002, p.15), ao discutir a precarização do 
trabalho a partir do setor informal na atual dinâmica capitalista, afirma que o trabalho 
informal tem se consubstanciado em “atividades de sobrevivência orientadas para a 
reprodução do trabalhador e do seu núcleo familiar, comportamento que se inscreve 
entre as características definidoras do que se conhece como setor informal”. 
Na Pompéia, a atividade comercial, conforme foi evidenciado na segunda 
seção, favorece sobremaneira o consumo local de modo que os consumidores não 
precisam se deslocar grandes distâncias para adquirir a mercadoria desejada. Em 
virtude de muitos comerciantes que participaram da gênese da atividade comercial 
na rua ainda permanecerem ativos, estabeleceu-se uma relação que extrapola o 
sentido econômico com o consumidor, criando-se vínculos de fidelidade. 
Nesta rua, a prática da confiança ainda é expressiva entre os 
moradores/consumidores e comerciantes do lugar, e assim, a venda no crediário é 
comumente realizada. Isto não quer dizer que a máquina de crédito não seja 
utilizada para se efetuar pagamento, ao contrário, em alguns estabelecimentos o uso 
do cartão se faz presente coexistindo com a caderneta, de modo que esta ainda não 
pode ser considerada totalmente obsoleta. A coexistência das duas formas 
evidencia o fato de que, na contemporaneidade, torna-se cada vez mais difícil traçar 
uma linha entre o tradicional e o moderno no que se refere às formas de pagamento 
em virtude da relação imbricada entre ambas. 
A atividade comercial da Pompéia, entretanto, expressa contundentemente 
características de comércio tradicional no que se refere à forma de gestão, ao 
formato das lojas e nas relações de compra e venda. Desta forma, o 
estabelecimento é pensado levando em consideração a lógica de consumo existente 
no bairro, conforme evidenciado na fala do gerente do supermercado Nova 
República, marco do surgimento da atividade comercial na Pompéia, quando 
indagado sobre o perfil da clientela. De acordo com o entrevistado: 
 
Antes a gente fazia parte da Rede Super Show e aí por causa da 
propaganda vinha gente de toda a cidade, mas a gente saiu por vários 
fatores. Por exemplo a gente quando fomo fazer parte, a gente queria fazer 
parte de uma cooperativa aonde a gente 5 ou 6 donos de supermercados se 
juntasse pra comprar um valor maior de produtos com um preço mais 
barato. Depois veio a ideia de fazer uma rede de supermercado, aí a gente 
126 
 
 
já tava dentro e continuamos, só que...isso chegou um que a gente entrou 
em dificuldade comercial naquela época que veio aquela rede de 
supermercado “é show” que atingiu muitos os comerciantes aqui, eles 
desequilibraram muita gente aqui que até hoje tem muita gente que ainda 
paga o preço deles. Ai a gente não tinha mais condições de permanecer na 
rede porque a gente da Zona Norte tinha que comprar os mesmos produtos 
que o dono de um supermercado em Nova Parnamirim, mas a clientela dele 
é diferente da nossa clientela, o perfil do cliente dele é diferente do perfil do 
cliente da gente e a gente teria que os mesmos produto que ele teria na loja 
dele. Então chegava um ponto que não era mais viável pra gente. 
(Funcionário 1) 
 
A fala do comerciante reflete a insustentabilidade do estabelecimento de 
bairro em continuar membro de uma rede de supermercados devido a 
incompatibilidade das lógicas comerciais. A rede varejista de supermercados, 
mesmo formada por estabelecimentos também de pequeno porte, é concebida a 
partir de interesses rentistas meramente capitalista em que os estabelecimentos 
devem atender ao um perfil padronizado de estrutura física e de mercadorias, 
enquanto que formas comerciais, como no caso do supermercado Nova República, 
não se adaptam às transformações ora mencionadas. O recebimento de layouts 
mais moderno, por exemplo, de certa forma descaracteriza o estabelecimento que 
muitas vezes tem uma relação com a história do bairro ou da rua como é o caso do 
supermercado Nova República. 
Outra interpretação a partir da entrevista, é que a rede varejista de 
supermercados causa um rebatimento no pequeno comércio de forma a 
desencadear uma desestruturação deste frente às grades estratégias corporativistas 
traçadas a fim de atrair o maior número de consumidores possível, repercutindo na 
redução de vendas pelo comerciante dono de mercearias. 
Também cita-se, com base no fragmento extraído da entrevista, que a 
padronização de preços de mercadorias entre os estabelecimento membro da rede 
varejista foi decisivo na desligamento do Nova República. Neste caso, não fora 
observado as peculiaridades de consumo do bairro no que se refere ao poder de 
compra da clientela, viso que em Pajuçara o rendimento mensal domiciliar é inferior 
ao de Nova Parnamirim, sendo este último um dos bairros mais valorizados da 
cidade de Parnamirim, embora sua ocupação seja majoritariamente por pessoas que 
antes moravam na cidade do Natal. 
Mesmo diante do crescimento do comércio na Pompéia, procurou-se colocar 
em foco os problemas que se constituem como fatores limitantes para que a 
127 
 
 
atividade pudesse se expandir cada vez mais. Dentre vários fatores apontados por 
comerciantes e consumidores, o de maiordestaque na rua foi a falta de 
estacionamento (Foto 9), sendo o transporte público, a alternativa mais viável para 
acessar a Pompéia. Além de não dispor de vagas de estacionamento, a rua também 
não tem espaços horizontais em ruas perpendiculares para acomodar veículos de 
consumidores de outros locais da cidade. Essa realidade reflete o perfil de ocupação 
em torno da Pompéia. 
Vale ressaltar que a falta de estacionamento não é um problema específico 
da Pompéia, mas do espaço urbano natalense, fazendo com que muitos 
consumidores procurem estabelecimentos que disponham de estacionamento para 
realizar suas compras. No caso da Pompéia, tanto a falta de lugar para estacionar 
veículos, quanto outros motivos como poluição sonora e visual foram justificativas 
para a SEMURB não conceder licença de funcionamento para muitos 
estabelecimentos, inclusive para o Supermercado Nova República. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E assim, atrelada à expansão urbana de Natal, a Pompéia se formou. 
Tributária do contexto da política habitacional da Zona Norte, esta rua dividiu não 
somente três bairros, mas também formas de habitação. No entanto, compartilhou a 
atividade comercial que nela se formou desde a sua fundação aos dias atuais. 
Foto 9 - Trecho da Rua Pompéia sem estacionamento 
Fonte: Acervo da autora, 2016. 
128 
 
 
O comércio da Pompéia é fruto, não somente da imposição do capital, mas da 
reprodução da vida, dos desejos da população em suprir suas necessidades de 
consumo e, por isso, está intimamente atrelada à história do lugar. Apesar da 
intervenção do Estado ao substituir seu nome para Avenida Governador Antônio de 
Melo e Souza, Pompéia continua mais viva do que nunca na memória e nas ações 
dos sujeitos que usufruem do seu espaço. Mesmo não tendo a prosperidade da 
Pompéia europeia, a Pompéia potiguar assegura a reprodução das relações sócio-
espaciais. Assim, Pompéia é o lugar do encontro, das vivências cotidianas de seus 
frequentadores da Zona Norte e de outras porções da cidade. 
 
3.2.2. MEMÓRIAS SOBRE A RUA BOA SORTE 
 
A Rua Boa Sorte (Mapa 9), assim como a Pompéia, surgiu na Zona Norte no 
contexto da produção do espaço urbano da área por meio da construção de 
loteamento. A rua está localizada no Bairro de Nossa Senhora da Apresentação 
(Mapa 9), cuja ocupação preponderante ocorreu por meio de loteamentos como 
Acirel – II, Jocaza (Lot. 79 e 136), Aliança Derval Gonçalves Ramos, Boa sorte II, 
Aliança (Q - 04), Boa Sorte, Libanêz, Santarém, Alvorada, Vale Dourado, Parque 
Ponte Nova, Bom Jesus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
129 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com o objetivo de entender a história da Boa Sorte, realizou-se entrevista 
com uma das primeiras comerciantes desta rua. Quando questionada sobre o 
período e o processo de criação da rua, a comerciante assim se expressou: 
 
Quando eu cheguei aqui em 1992, essa rua aqui ainda não era comércio, 
não. Tava começando assim, né?....o pessoal tava construindo as casas 
ainda, não era calçado ainda, ainda era areia, era barro. Então não existia 
ainda um comércio, né? Mas... Já... eu acho que quem construiu, já 
construiu com comércio. Não existia comércio aqui ainda porque aqui ainda 
não tinha nada, né? (Comerciante 1) 
 
Mapa 9 - Boa Sorte - Natal/RN 
Fonte: IBGE. Malhas de setores censitários e divisões 
intramunicipais - Censo 2010. 
Elaboração: Soneide Moura; Joabio Costa, 2017. 
 
130 
 
 
Para a comerciante, a Boa Sorte pertencia ao Loteamento Santarém e teve 
sua ocupação iniciada no início da década de 1990. Segundo a mesma: 
Bom a avenida Boa Sorte é dividida em vários loteamentos. Na época que a 
Boa Sorte foi feita aqui se chamava loteamento Santarém que pegava toda 
a área mais próxima das Fronteiras. Mais lá pra baixo o povo foi se 
apossando mesmo. Na época quem vendeu o terreno pra gente foi seu 
Raimundo e Manoel que vendeu o terreno que era granja pra imobiliária que 
loteou e vendeu pra gente. Depois de um certo tempo dividiram, né? O 
bairro Nossa Senhora da Apresentação que na época era bairro Potengi. 
Agora no bairro ficou divido aí comunidade Vale Dourado, Aliança, Jardim 
Progresso, Cidade Praia. (Comerciante 1) 
 
No entanto, acredita-se que a Boa Sorte pertença ao loteamento de mesmo 
nome, uma vez que a datas de ocupação do Santarém não coincidem com a real 
ocupação da Boa Sorte por ela descrita. No relato da entrevistada, fica claro que na 
década de 1990, a obra ainda não havia sido iniciada. Assim ela se expressa: 
Quando eu cheguei aqui em 1992 não existia exatamente um comércio. No 
ano que eu cheguei, eu construí a minha casa nessa rua (RUA DAS 
FLORES) como aqui nesses terrenos que a gente tá hoje não existiam 
casas ainda, o pessoal tudo construindo, tudo na mesma época, tudo na 
mesma época construindo. Estavam tudo construindo, não tinha nada de 
calcamento ainda. [...]então quando surgiu esses terrenos aqui pra dentro 
na época foi muitos lotes, então todo mundo comprou tudo de uma vez e 
começamo a construir tudo no mesmo período. Aí nesse tempo eu tinha um 
terreno alí embaixo aí quando eu vinha subindo, vinha pra vender aqui. 
Então toda essa construção da Boa Sorte com essas casa vizinhas são tudo 
da mesma época. (Comerciante 1) 
 
A Rua Boa Sorte juntamente com a Pompéia, fazem parte de uma lógica de 
produção do espaço guiada pela concepção de seus usuários e não pela ação 
planejada do Estado por meio da política habitacional. Esses loteamentos também 
são espaços concebidos, mas a sua construção acontece de forma desordenada a 
partir das práticas dos moradores sobre o lugar. 
O loteamento foi ocupado por pessoas de diversas cidades do Rio Grande do 
Norte que construíram suas casas por conta própria, obedecendo tão somente as 
suas necessidades e as suas possibilidades econômicas A partir do questionamento 
sobre a origem da população, a entrevistada, ao falar da concepção do loteamento, 
e consequentemente da Boa Sorte, respondeu: 
 
Assim, né... a maioria veio do interior mesmo.Por alí....São Rafael, Santana 
do Matos, Itajá... Marcelino Vieira, Açu, Lages e até Pau dos Ferros. 
(Comerciante 1) 
 
131 
 
 
De modo geral, o processo de construção da moradia sob o formato da 
autoconstrução, efetuado pelas pessoas vindas do interior é lento devido à limitada 
capacidade de compra de materiais pelos moradores. Nas palavras de Rodrigues 
(1989, p.30) “de posse do lote começa a construção da casa, através de um 
processo longo e penoso, calcado na cooperação entre amigos e vizinhos ou 
apenas na unidade familiar: a autoconstrução”. Para a autora, a moradia por 
autoconstrução tem se constituído na melhor alternativa para a classe trabalhadora 
adquirir a sua casa própria não só no Brasil, mas na América Latina como um todo. 
Os moradores do loteamento Boa Sorte projetaram na capital a realização do 
emprego e da casa própria e como forma de sobreviver agregaram às suas casas a 
atividade comercial. Essa tendência ficou evidente na fala da comerciante, diante da 
indagação acerca de período de surgimento dos primeiros estabelecimentos: 
Esse meu vizinho que agora é uma distribuidora, esse aí o primeiro 
supermercado foi o dele que era o de Domiro. Ele construiu a casa dele e já 
o supermercado junto. Era construído tudo junto ao comércio. Ai já foi 
surgindo o comércio daí, né?! (Comerciante 1) 
 
Durante as pesquisas de campo realizadas, foram feitas perguntas aos 
moradores sobre o período de habitação predominante na Boa Sorte e sobre o 
surgimento do comércio. As repostas eram as mesmas, apontando que não existiu 
tempo para uma ou para outro de forma individual e que tanto o comércio quanto a 
habitação surgiram juntos na rua. Uma das explicações pode residir no fato de que 
poucos meses após a ocupação da rua, o transporte público já passou a atender a 
população. Um dos motivos apontados pela comerciantefoi a presença da Avenida 
das Fronteiras que devido a sua intensa dinâmica comercial e populacional estendeu 
a sua influência para a Boa Sorte. 
 
Passado poucos meses, aí já começou a passar o ônibus. A avenida das 
fronteiras contribui muito pra os ônibus passem aqui. Se não fosse a 
proximidade da Boa Sorte com as Fronteiras com certeza o comércio não 
existia. Por quê. Porque a Avenida das Fronteiras ela sai de igapó da 
Tomaz Landim que já vem de Ceará-mirim né? E já pega aqui. A estrada da 
redinha também e os conjuntos todos que fizeram na época; Gramoré, o 
Nova Natal que foram os primeiros conjuntos que fizeram aqui na Zona 
Norte. E aqui que as Fronteiras pega a Boa Sorte e vai pra BR 101 e 
Extremoz (moradora/comerciante antiga na rua). (Comerciante 1) 
 
Assim, percebe-se que, como na Pompéia e na Chegança, foi o transporte 
público que alavancou o comércio na Boa Sorte. A partir da implantação deste 
132 
 
 
serviço público, o único estabelecimento comercial existente na rua, o Mercadinho 
“Bandeirantes”, do Senhor Domiro, dividiu espaço com novos estabelecimentos 
como supermercado Avelino, o salão quatro estações, o armarinho de dona Neuza e 
outros, promovendo a atividade em ascensão. 
Para Bentes Filho e Pinho (2014), se há uma facilidade de circulação do 
transporte público, o crescimento do comércio é influenciado. Desta forma, 
compreende-se que a interação da cidade articulada por esse sistema permite que 
as pessoas tenham acesso a diversos lugares e que o itinerário do ônibus influencia 
a formação de materialidades comerciais e de serviços. No caso da Boa Sorte 
quando questionada sobre o motivo de surgimento do comércio, a moradora foi 
enfática em responder: 
 
Porque já era uma rua mais larga e já começou logo a passar o ônibus. Era 
o acesso melhor que tinha. O acesso foi principal pra ficar o comércio. 
 
A atividade comercial ganhou grandes proporções na rua e hoje ocupa quase 
toda a sua extensão. Diante da pergunta se a Boa Sorte até o presente momento da 
pesquisa é ocupada mais para fins de moradia ou de comércio, a entrevistada 
respondeu: 
A Boa Sorte é mais comercial. Eu acho que de uns 12 anos, 2004 pra cá o 
comércio deu um salto, um pulo. O que contribuiu foram todos os sentidos 
porque essa dificuldade de você atravessar essa ponte velha, 
principalmente com aqueles engarrafamentos... a dificuldade de chegar pra 
lá, essa coisa toda fez com que as pessoas realmente foi começando a 
crescer, a se desenvolver realmente, e a chegada do Norte Shopping ai 
você criou mais desejo de aumentar o seu comércio também. Já que 
chegou um shopping aqui vai ficar melhor a Zona Norte! Na época que o 
north shopping chegou eu escutei muito isso aqui. Aí chegou a linha 600 
que levava o pessoa shoppinh-Boa Sorte. Aí foi feito também o hospital da 
mulher a maternidade aqui perto e aí começou a surgir também 
lanchonetes, farmácias. (Comerciante 1) 
 
A entrevistada deixou implícito na sua fala o quanto os equipamentos 
comerciais do varejo moderno como o Norte Shopping – hoje Partage Norte 
Shopping – são importantes para a Zona Norte porque conferem notoriedade 
comercial a esta área da cidade e, consequentemente atraem consumidores de toda 
a cidade. Ainda pode-se inferir que a chegada desta forma comercial planejada, ao 
expandir o comércio moderno, pulverizou ainda mais o consumo na Zona Norte, 
especialmente nas ruas de comércio tradicional de pequenas lojas de gestão 
133 
 
 
familiar, onde a atividade cresce exponencialmente. Porém, pela conotação da fala 
da comerciante, essa expectativa não foi atendida no comércio da Boa Sorte, no 
entanto não prejudicou a atividade na rua justamente por se tratarem de segmentos 
comerciais com lógicas, tanto de localização quanto de estrutura, diferenciadas. 
A conjuntura de crescimento do comércio na Boa Sorte no ano de 2004 
repercutiu no conteúdo da rua, que passou a ser eminentemente composta pela 
atividade comercial. Alguns moradores da época da ocupação inicial da rua, 
venderam suas residências ou as transformaram em estabelecimento comercial. De 
acordo com o elucidado pela entrevistada, diante da pergunta se o comércio havia 
contribuído para que os moradores se evadissem da rua, a inquirida assim se 
expressou: 
 
Com o forte crescimento do comércio teve gente que deixou pra alugar os 
pontos e morar em outro lugar, mas na época muita gente botou o comércio 
por necessidade porque não tinha condições pra sobreviver naquela época, 
mas depois de um certo tempo muita gente foi embora, comprou casa em 
outros cantos, né? Mais afastado do barulho por aqui também é muito 
barulhento, foi morar em outros cantos e os comércios ficaram e alugara a 
outras pessoas (moradora/comerciante antiga na rua). (Comerciante 1) 
 
 O fragmento apresentado explicita que não só o surgimento, mas o 
crescimento do comércio da rua resultou da iniciativa dos próprios moradores como 
forma, de garantir a renda familiar e também atender a necessidade de consumo da 
população do bairro. Entretanto, fora esse mesmo crescimento que ocasionou a 
saída de parte dos moradores da rua, tornando-a preponderantemente comercial. 
 Para que a realidade hoje existente seja melhor compreendida, foi 
questionado, se ao longo da história da Boa Sorte, quais eram os problemas que 
poderiam ser apontados como fatores limitantes do processo de expansão da 
atividade comercial na rua. Diante do questionamento, a comerciante respondeu: 
 
Na verdade, eu acho que não nem só aqui, mas em toda a Zona Norte. A 
infraestrutura daqui é péssima, né? As calçadas são horríveis de andar, as 
casas são pra frente desalinhadas, tem esgoto estourado direto, sujeira, as 
ruas são esburacadas... não tem estrutura. Então essa falta de estrutura da 
Zona Norte é o que não melhora o comércio. Agora aqui tem tudo o que 
você imaginar, mas é uma péssima estrutura. E assim o comércio não 
cresce não se desenvolve, não fica bonito, chamativo. (Comerciante 1) 
 
A foto 10 comprova a fala da senhora, ao retratar um trecho da Boa Sorte que 
estava totalmente impossibilitado para o tráfego de veículos. Diante dessa realidade, 
134 
 
 
o comércio torna-se prejudicado porque a rua de acesso à atividade não dispõe das 
mínimas condições para o tráfego de veículos. Mesmo assim, os comerciantes 
permanecem com seus estabelecimentos abertos, recebendo consumidores 
predominantemente de ruas próximas, que se deslocam para o comércio a pé, de 
moto ou de bicicleta. É salutar afirmar que é comum, em Natal, realidades 
semelhantes à apresentada na foto 10, principalmente nas ruas localizadas fora dos 
espaços mais valorizados pelo capital imobiliário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O comércio da Boa Sorte atende sobremaneira a população da rua e de seus 
arredores, seja do bairro ou mesmo na Zona Norte. Tal afirmação pôde ser 
comprovada diante da pergunta acerca da origem da clientela. A esse respeito a 
entrevistada respondeu: 
 
A minha clientela, a maioria é daqui mesmo, né....da Zona Norte. Mas 
também atendo gente de outros lugares de Natal, até da Zona Sul... porque 
eu trabalho com aluguel de vestido de noiva, então vem gente de todo canto 
e minha roupa é boa, né.... (Comerciante 1) 
 
No caso específico da entrevistada, o segmento de trabalho da mesma não 
deixa margem para um estrato social específico da população da rua ou do seu 
entorno, visto que não faz parte do consumo cotidiano de seus moradores. Por 
trabalhar com uma mercadoria mais elaborada, a comerciante fez transformações 
 Foto 10 - Buraco na Rua Boa Sorte (2016) 
Fonte: Acervo da autora, 2016. 
 
135 
 
 
mais sofisticadas no seu estabelecimento, de modo a chamar a atenção do 
consumidor interessado numa forma comercial mais sofisticada em comparação ao 
restante dos estabelecimentos existente na rua. Na Boa Sorte, a maioria dos 
comerciantes ainda são os mesmo da década de 1990 e 2000 e conservam as suaspráticas de vendas como uso da caderneta, a venda à fiado e ausência da 
informatização. 
No caso da comerciante entrevistada e de alguns outros de atividade recente 
na rua, são representantes de uma minoria, visto que estes agregam novos 
equipamentos ao comércio, buscando incorporar tecnologia e modernização aos 
seus estabelecimentos. A entrevistada fez curso pelo SEBRAE e modernizou a sua 
loja. Quando perscrutada sobre os motivos que poderiam explicar a permanência 
das práticas iniciais dos outros colegas de oficio, ela respondeu: 
 
A mente ainda é muito bitolada. Porque assim... aqui na Zona Norte as 
pessoas vieram do interior e antigamente as pessoas que vinham do interior 
botavam aquela barraquinha em frente as suas casas, uma vendinha. Então 
a mente dessas pessoas da época de 1992 era essa mesma. Vinha pra cá 
e botavam aquele barraquinho porque achavam que não precisavam mais 
do que aquilo. Eu tiro pelo meu marido que tem uma loja de móveis aqui e 
olhe que ele nem é muito venho, mas ainda tem uma mente bitolado ao 
caderno, a não usar uma internet, usar um site, ele não faz um cartão de 
visita. E permanecem todos assim, com a caderneta, com essa venda a 
fiado.. tem demais, tem muito, tem muitos! Então eu acho que também é 
isso. Não procura uma SEBRAE, Vish! O SEBRAE pra eles é o fim do 
mundo pra fazer um curso se aperfeiçoar, pra se profissionalizar, entender. 
Talvez se o governo investisse um pouquinho mais talvez abrisse mais a 
mente do comerciante, né... (Comerciante 1) 
 
As ideias expostas na fala da entrevistada, que também se difundem entre os 
novos comerciantes, refletem a busca por meios mais modernos que dinamizam a 
atividade comercial. Todavia, a entrevistada alerta sobre os cuidados com a 
modernização: 
Agora a gente tem que ter muita sensibilidade com o comércio da Zona 
Norte, né? Com o público. Aquela coisa arruada, mas não tão arrumada 
porque se você arruma demais....você afasta. Se você arrumar o 
estabelecimento demais com iluminação diferente, ar condicionado o 
consumidor daqui tem até medo de entrar porque acha que não pode 
comprar. Eu mudei o meu comerciozinho porque trabalho com aluguel de 
roupas pra festas, mas não quis botar ar condicionado, preferi ficar com 
ventilador pra não botar a porta de vidro e afastar o cliente do mesmo jeito. 
(Comerciante 1). 
 Mesmo com as mudanças anunciadas na fala da entrevistada, ainda persiste 
o cuidado com o público consumidor que reside na rua e nas suas proximidades. O 
136 
 
 
fragmento da entrevista denota, desta forma, que as práticas de consumo que são 
peculiares ao comércio tradicional são inerentes à própria constituição do comércio 
na rua estudada. 
 A Rua Boa Sorte, se formou no final da década de 1980 e início da década de 
1990, no contexto da expansão urbana de Natal em direção à Zona Norte. Como 
muitas outras ruas desta porção da cidade que se ergueram por meio de 
loteamentos, como forma de resolver o problema da falta de moradia, o espaço onde 
se localiza a rua em questão também não foi diferente. Boa Sorte é uma expressão 
repleta de sentido para os moradores que edificaram suas casas, comércio e 
também as suas vidas em meio ao cenário de expansão urbana da Zona Norte em 
terras recém ocupadas. 
 O comércio é o sustentáculo econômico de muitas famílias que 
permaneceram na rua, e que, na maioria dos casos, ainda otimizaram suas 
residências para fixar o estabelecimento comercial e assim, evitar eventuais gastos 
com aluguel e transporte, por exemplo. O comércio na rua continua a trazer “boa 
sorte” aos seus usuários. 
 
3.2.3. MEMÓRIAS SOBRE A RUA CHEGANÇA 
Sou pataxó, 
Sou xavante e cariri, 
Ianonami, sou tupi 
Guarani, sou carajá. 
Sou pancaruru, 
Carijó, tupinajé, 
Potiguar, sou caeté, 
Ful-ni-o, tupinambá. 
(...) 
Mas de repente 
Me acordei com a surpresa: 
Uma esquadra portuguesa 
Veio na praia atracar. 
Da grande-nau, 
Um branco de barba escura, 
Vestindo uma armadura 
Me apontou pra me pegar. 
E assustado 
Dei um pulo da rede, 
Pressenti a fome, a sede, 
Eu pensei: "vão me acabar". 
Me levantei de borduna já na mão. 
Ai, senti no coração, 
O brasil vai começar. 
Chegança (Antonio Nóbrega) 
 
137 
 
 
A letra da música reflete à chegada dos portugueses ao litoral do Nordeste e 
os conflitos estabelecidos com os diversos povos indígenas. O nome da música se 
refere a uma dança folclórica chamada “chegança” que acontecia na região, ao som 
do tambor, percussão e rabeca. Outras danças também fazem parte da chegança a 
exemplo do xaxado, fandango, bumba meu boi e boi calemba. 
Na Zona Norte de Natal/RN existe uma rua com este nome, Chegança, cuja 
localização está no Bairro Lagoa Azul, predominantemente ocupado pelos conjuntos 
habitacionais Eldorado, Cidade Praia, Gramoré e Nova Natal. A Rua Chegança é 
formada por vias perpendiculares que recebem o nome de instrumentos musicais, 
versos, nomes de formas espaciais do período da escravidão e comidas de origem 
africana de acordo com o exposto na figura 10, indicando que a origem do nome da 
Rua Chegança está relacionada às festas folclóricas, que ao chegarem ao Brasil, 
sofreram influência da cultura indígena e africana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao observar a figura 10 pode-se perceber que a Rua Chegança encontra-se 
em meio a ruas perpendiculares, cujos nomes se remetem à cultura nordestina, 
descendente da africana; como sejam: Afinins, Sequilho, Xaxado, Boi Calemba, 
Rabeca, Pífanos, Caboclinho, Ciranda, Sanfona e outros. Os nomes recebidos pelas 
ruas são manifestações culturais nordestinas que projetam a região para o restante 
do mundo. Nesta perspectiva, Nepomucemo (2005, p. 119), ao discorrer sobre o 
impacto da globalização na cultura popular nordestina, discute as diversas 
 
Fonte: Google Maps, 2016. 
Figura 10 - Nome das ruas adjacente à Chegança - 2016 
138 
 
 
manifestações carnavalescas do Nordeste com ênfase para a capital do 
Pernambuco, Recife. A autora se refere à dança, caboclinho como: 
 
Um dos bailados mais antigos do Brasil. Além de ser uma dança guerreira e 
religiosa, é um drama que trata de aspectos da vida indígena: guerras, 
colheita, caçadas ... e cultos. Acredita-se que essa manifestação tenha sido 
criada com a ajuda dos padres jesuítas, cujo objetivo era utilizá-la como um 
“artifício” para catequizar os nativos. 
 
O fragmento extraído do texto de Nepomucemo (2005) retrata o cotidiano dos 
índios e as ameaças de descaracterização da cultura destes, frente à influência dos 
colonizadores. A conotação do conflito expresso na dança caboclinho é semelhante 
aquele da chegança portuguesa que enfatizava a luta entre cristãos e mouros em 
Portugal no século XVIII, país de origem da referida dança. Também de conotação 
marítima, esta expressa o ato dos marinheiros de “chegarem” ao continente após 
turbulentas jornadas marítimas, conforme exposto na figura 11. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oliveira (2009), ao realizar um estudo para a Fundação Joaquim Nabuco 
sobre a história da dança no Brasil, expressa que: 
 
A disposição básica dos personagens da Chegança é em fileiras e a 
movimentação dos pés é mínima durante a dança. Sem sair do lugar os 
dançarinos movimentam o corpo de um lado para o outro, imitando 
acompanhar o movimento de uma embarcação no mar. 
 
Figura 11 - A dança da chegança 
Fonte: Oliveira, 2011. 
139 
 
 
 
A figura 11 representa a dança que reúne uma multidão de pessoas para 
comemorarem o retorno dos marinheiros. Pelo conteúdo da imagem, percebe-se 
que a festa se realiza no porto de desembarque da tripulação. No Brasil, a dança 
incorporou diversas denominações como Marujada (Minas Gerais, São Paulo), 
Fangango (Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Maranhão, Amazônia, 
Ceará), Nau-Catarineta (Paraíba), Marujos (Bahia, Sergipe), Barca (Paraíba). Como 
expressão cultural realizada no Rio Grande do Norte, o fandango é um ato populartambém chamado de bailado dos marujos ou chegança em que as danças ocorriam 
inicialmente em Barra de Cunhaú, depois passando a ocorrer em Canguaretama, e 
Vila Flor, por exemplo. 
Mendengo Filho (2009, p. 8), ao realizar um estudo antropológico da dança 
enquanto expressão de linguagem, expressa que: 
 
Chegança como dramalhão de rua, só começou a se populariza no Brasil, 
no início do século XIX. Momento em que os autores românticos 
abandonaram as regras de composição e estilo dos autores clássicos e 
passaram a escrever e divulgar sua origem em antigas tradições ibéricas. 
Romances, altamente bem difundidos por que narravam às grandes 
expedições náuticas e também, as representações teatrais conhecidas 
como mouriscas, que usualmente encenavam o combate entre cristãos e 
mouros, relacionados a episódios da vida marítima e as lutas entre esses 
dois povos. 
 
Em Natal, na primeira metade da década de 1980, existiam apresentações 
culturais durante o período natalino e festas de padroeiro com danças como 
fandango, boi calemba, bumba meu boi, além de serem comercializadas comidas 
típicas da região. Esta festa acontecia no conjunto Nova Natal, localizado no Bairro 
Lagoa Azul na Zona Norte da cidade. O evento acontecia numa rua 
estrategicamente central, chamada então de chegança pela sua função de acolher 
as pessoas para as celebrações culturais. 
A informação supracitada ganha notoriedade a partir do fragmento de uma 
entrevista realizada com um dos primeiros moradores da rua. A partir do 
questionamento da origem do nome atribuído à Chegança, o morador assim relatou: 
 
Os nomes das ruas aqui vizinha a chegança recebe o nome de danças e 
comidas típicas do folclore realizadas na rua de 1981-1984 e os moradores 
chegavam pra olhar pra prestigiar. Essa rua aqui também é central, né? 
(Morador 1). 
 
140 
 
 
Ao contrário da Pompéia e Boa Sorte, que se firmaram por meio de 
loteamento num processo de concepção mediada pelas relações cotidianas do 
espaço vivido, a Rua Chegança foi conformada pela lógica do espaço concebido a 
partir da construção do Conjunto Habitacional Nova Natal. Para Lefebvre (2000) no 
espaço concebido entram na prática social e política a relação entre sujeito e objeto 
dependente da lógica que o faz, enquanto no espaço vivido, mais que concebido, 
este jamais perde sua coerência. 
Desta forma, enquanto espaço concebido, o Conjunto Habitacional Nova 
Natal foi construído a partir da ação da COHAB sob financiamento da Caixa 
Econômica Federal. O referido conjunto foi entregue à população em etapas: a 
primeira em 1982 e a segunda em 1983. 
O entrevistado não afirmou com tanta certeza, mas sinalizou que as terras 
para a construção do conjunto habitacional pertenciam a uma viúva que as doou 
para a Companhia de Habitação implantar o conjunto habitacional. No início de sua 
ocupação, Nova Natal, consequentemente a Chegança, receberam moradores 
vindos de várias cidades do interior do estado como Caicó, Apodi, da própria Natal e 
também de Souza-PB, conforme comprovado na fala do morador: 
 
Rapaz, aqui veio gente de vários lugá. Vêi gente de Caicó, Apondi...e até de 
Souza na Paraíba. Vêi gente da também da praia do meio, não foi? 
(pergunta ao amigo) (Morador 1) 
 
A Chegança se localiza no Bairro de Lagoa Azul no extremo norte da Zona 
Norte (Mapa 10). Devido a sua distância em relação as áreas comerciais, surgiram 
na rua, em conformidade com a habitação, os primeiros estabelecimentos 
comerciais. 
 
 
 
 
 
 
 
141 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para o morador, os precursores da atividade comercial na Chegança foram os 
estabelecimentos de “Zé da Veja” e “Juvêncio”; ambos os mercadinhos foram 
criados em 1983. Em concomitância com a habitação da rua foi se formando a 
emblemática feira-livre. Bentes Filho e Pinho (2014, p. 31-32), ao discorrerem sobre 
a história de formação do Bairro Lagoa Azul, expressam que: 
 
A feira é um marco representativo para a população do Nova Natal, assim 
como para toda a Zona Norte de Natal. Shopping Center do povo, onde há 
uma verdadeira troca de culturas, saberes e vivências. Lugar de muita 
memória, onde diariamente o velho e o novo se encontram.[...] Feira do 
Nova Natal na Av. Chegança, lugar onde pessoas passam, vem e vão, e 
deixam muito mais que dinheiro, deixam sentimentos e emoções, deixam 
Mapa 10 – Rua Chegança -Natal/RN 
Fonte: IBGE. Malhas de setores censitários e divisões 
intramunicipais - Censo 2010. 
Elaboração: Soneide Moura; Joabio Costa, 2017. 
 
142 
 
 
suas memórias, muitas vezes na mesa de um barzinho ou na banca de 
verduras, enfim memórias da Feira, dos passantes, da Av. Chegança 
(BENTES FILHO E PINHO, 2014, p. 31-32). 
 
A feira foi instalada por um morador chamado Poti e ainda acontece todos os 
domingos iniciando nas primeiras horas do dia e se encerrando por volta das 14 
horas da tarde. Ela impulsionou sobremaneira o comércio na rua que surgiu como 
estratégia dos próprios comerciantes para gerar renda e prestação de serviços no 
lugar. 
Mediante a questão efetuada sobre o período de surgimento dos primeiros 
estabelecimentos e os fatores que contribuíram para tal evento, o morador 
entrevistado respondeu. 
 
Porque a Chegança é o principal ponto de localização do bairro e também 
por causa da feira, né? A feira daqui é muito grande! Ela já é grande do que 
a de Santarém...(Morador 1) 
 
Com a população da rua e do loteamento atendida minimamente pelo 
comércio de segmentos básicos como mercadinho e farmácia, já foram amenizados 
problemas de distância e de transtornos, a exemplo da violência que no início da 
década de 1980 já compunha o quadro social da Zona Norte expressivamente. 
Num fragmento extraído do trabalho de Bentes Filho e Pinho (2014), tem-se o 
relato de uma moradora chamada dona Chaguinha, natural da cidade de Lajes, 
localizada na Mesorregião Central Potiguar. A senhora mudou-se para Natal e 
residiu durante alguns anos no bairro de Petrópolis na área central da cidade onde 
os serviços de saúde, educação e transporte eram ofertados favoravelmente à 
população. Entretanto, mediante possibilidade de adquirir a casa própria, dona 
Chaguinha mudou-se para o Conjunto Habitacional Nova Natal. Segundo os autores, 
a senhora que antes morava numa localização com equipamentos urbanos 
satisfatórios passara a conviver com a realidade contrária. Bentes Filho e Pinho 
(2014) capturaram o seguinte relato da senhora: 
 
Se precisasse de uma emergência, o Santa Catarina8 já funcionava [...] mas 
quase sempre o povo não conseguia ficha e levava, a maior dificuldade; era 
uma dificuldade grande que tinha. Tinha só o posto antigo, que hoje é a 
AME, aí depois construíram esse posto aqui. (Morador 1) 
 
 
8 Hospital Dr. José Pedro Bezerra (popularmente conhecido como Santa Catarina), localizado no 
bairro Potengi, distante 3,5 quilômetros do conjunto Nova Natal. 
143 
 
 
Até à primeira metade da década de 1980, Nova Natal não oferecia serviços 
de saúde, obrigando a população residente a se deslocar por mais de três 
quilômetros para receber atendimento. A mesma senhora relatou que em outras 
situações tinha que caminhar até o Conjunto Habitacional Soledade para ter acesso 
ao transporte público. Entretanto, essa situação não perdurou por muito tempo e em 
meados da década de 1980 uma linha de ônibus da Empresa Guanabara passou a 
beneficiar a área e também a Chegança com o transporte público. No entanto, uma 
única linha de ônibus era insuficiente para atender a toda a população que precisava 
se deslocar para além das fronteiras de Nova Natal. Nesse período, o comércio que 
havia mostrado seus primeiros sinais de existência, fez da dificuldade a sua 
oportunidade. Novos estabelecimentos foram surgindo, fazendo com que a atividade 
ganhasse expressão naquele espaço de tanta carênciade equipamentos urbanos 
básicos. 
 O transporte público, desta forma, mostra-se como um dos elementos 
importantes na dinamização da atividade comercial na rua. De acordo com o 
exposto por um entrevistado mediante pergunta se a Chegança era atendida por 
este tipo de serviço, o morador assim respondeu: 
 
Sim! Desde 1984 passa ônibus aqui pra gente... é aquela linda 02. E ela 
passa até hoje aqui na Chegança. Depois que ele chegou, melhorou que 
precisa de ônibus, né? Porque antes nós não tinha...(...) o comércio 
melhorou demais, aqui.... Antes não tinha quase nada... depois começou a 
aparecer um comércio, outro e hoje tá assim...Depois, em 1990 chegou 
outros: o 01, 02, 64, 10-29 e 43. (Morador 1) 
 
A fala do morador, deixa claro a importância do transporte público pela 
integração que promoveu entre Nova Natal e ao restante da cidade. A partir da 
implantação deste serviço, o comércio passou a crescer na Chegança e atrair novos 
olhares para esta atividade em expansão. As casas, antes voltadas para suprirem a 
necessidade da moradia, foram ajustadas parcialmente ou totalmente para dar lugar 
ao comércio. Muitos moradores transformaram a residência em estabelecimentos 
comerciais relocando a moradia para ruas adjacentes à Chegança enquanto que 
outros venderam o imóvel para terceiros e retornaram para as suas cidades de 
origem. Questionado se o comércio da Chegança contribuiu para que as pessoas 
deixassem de morar nesta rua, o morador foi enfático ao relatar: 
 
144 
 
 
Sim! Com certeza....O comércio fez aumentar o preço dos aluguel daqui 
muito! Aí muita gente voltou pra interior porque não podia mais 
pagar...Quem não voltou, deixou a Chegança e vou morar nessas ruas 
vizinha. (Morador 1) 
 
Neste caso, o transporte público que impulsionou a expansão e 
consequentemente a valorização do solo urbano daquela área resulta de uma lógica 
capitalista. Carlos (2008), ao analisar a produção ou a reprodução do espaço urbano 
adotando como referência a cidade de Cotia, expõe que o uso do solo é mediado 
por uma lógica de mercado que define as escolhas e influencia no modo de vida no 
espaço. Fazendo interpretações mediadas por Carlos (2008) e também pelo 
fragmento da entrevista representada, acredita-se que a preponderante apropriação 
da Chegança pelo comércio, resultou na diferenciação de uso do solo e variação de 
seu preço a partir da localização desta atividade. 
Nesta rua, a chegada de lojas de móveis, farmácias, padarias, restaurantes e 
principalmente confecções, esta última compondo o segmento de predominância, 
conferiram notoriedade à Chegança que se configurou como um espaço de 
reprodução econômica, juntamente com a Pompéia, e Boa Sorte no espaço 
comercial da Zona Norte. Na Chegança, a atividade emergiu da carência de 
mercadorias básicas para a manutenção das famílias de sua constituição inicial e 
agora responde pela geração de renda e pelo consumo de grande parte dos 
moradores que residem na rua e também no seu entorno. 
O comércio da Rua Chegança atende, predominantemente a população do 
bairro, mas o seu público consumidor ultrapassa os limites da Zona Norte e até de 
Natal. Diante do crescimento anunciado, alguns fatores limitantes para a expansão 
da atividade comercial na Chegança foram apostados pelos comerciantes e 
consumidores, sendo o principal deles a violência que faz com que muitas pessoas 
não optem pela rua seja para fazer compras, seja para fixar estabelecimento 
comercial ou mesmo morar. Na opinião de comerciantes e consumidores, a feira 
(Figura 12) é a grande causadora desse problema por atrair mendigos que ocupam 
a rua durante toda a semana e também pessoas mal-intencionadas que 
amedrontam a população. 
 
 
 
 
145 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O processo de expansão urbana de Natal alcançou lugares longínquos como 
foi o caso do extremo norte da Zona Norte. Nesta terra distante, a vida urbana se 
iniciou em conformidade com a atividade comercial, justamente pela dificuldade que 
a população tinha de acessar outras áreas da cidade. Assim se formou Chegança; 
lugar de realização de festas folclóricas ou prenúncio de boas-vindas àqueles que 
chegavam inebriados pelas tempestuosas jornadas marítimas. Hoje, a rua não 
perdeu a sua conotação de festividade, ao contrário é porta de entrada para o 
encontro e compartilhamento de vivências que o comércio lhe proporciona 
cotidianamente. 
O quadro de referência delineado a respeito dos fatores que ajudam ao 
entendimento da realidade atual a partir da reconstrução do processo de produção 
da capital potiguar, especialmente das ruas estudadas e o percurso que a atividade 
comercial assumiu nestes espaços, encaminhará a uma discussão para a 
perspectiva futura que se desencadeará a partir das práticas sócio-espaciais. Essa 
discussão será construída na próxima seção apresentando, a partir do retorno à 
realidade descrita e analisada, as tendências projetadas para as ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte. 
 
 
Figura 12 - Barraca de feira na Rua Chegança - Natal/RN - 
2016 
Fonte: View, 2014. 
 
146 
 
 
 
 
 
147 
 
 
4 - A RECONSTRUÇÃO DA REALIDADE 
 
Seguindo o procedimento teórico-metodológico, histórico-genérico, a seção 
em transcurso teve sua tessitura construída a partir do retorno à realidade 
inicialmente descrita na segunda seção e decomposta na segunda, para se alcançar 
uma compreensão ainda não efetivada acerca da atividade comercial nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte. 
Também chamado de vir a ser, a seção lança mão das projeções além do 
tempo presente, a partir dos indícios que apontam uma realidade reconstruída que 
revela tendências além do momento atual. É a busca da realidade possível 
anteriormente descrita na sua forma de concepção da paisagem, e, posteriormente 
analisada à lente do percebido e do vivido. Nesse movimento de pensamentos, é 
possível compreender as contradições sociais historicamente estabelecidas no 
processo de produção do espaço, portanto também das ruas estudadas e do 
comércio nelas desenvolvido. 
Desta forma, a seção tem a preocupação de apresentar questões 
relacionadas às tendências a se concretizarem na atividade comercial nas ruas 
estudadas, assim como responder as seguintes questões: Qual é o papel social do 
comércio nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte? Qual a importância do 
comércio desenvolvido nestas ruas para a dinâmica da atividade comercial na Zona 
Norte? Embora não elaboradas anteriormente, outras questões se configuraram 
como pertinentes para o entendimento do que a seção propõe responder. Deste 
modo também se questiona: qual o cenário previsto para comércio da Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte do ponto de vista da informalidade mediante crise econômica 
evidenciada no país? O que se esperar das potencialidades desta atividade nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte? 
Do ponto de visto do arquétipo teórico de abordagem, a seção realiza uma 
análise horizontal do objeto de estudo a partir do cotidiano compreendido enquanto 
resultado das ações executadas pelos grupos que ali residem. Não obstante, no 
âmbito da sociedade capitalista, o objeto de estudo apresenta uma proposta que 
difere dos grandes espaços comerciais conformados pela ordem distante. Portanto, 
faz-se pertinente enxergar o objeto de estudo sob a ótica da ordem próxima, ou seja, 
das relações que se estabelecem no lugar, uma vez que, como orienta Lefebvre 
(2000, p.66), sob o desenrolar da ordem próxima “a prática espacial de uma 
148 
 
 
sociedade engendra seu espaço; ela o põe e o supõe, numa interação dialética: ela 
o produz lenta e seguramente, dominando-o e dele se apropriando”. 
Isto não quer dizer que a interpretação da atividade comercial, considerando 
as virtualidades do lugar e das práticas sócio-espaciais com base no cotidiano, 
atendam totalmente ao propósito teórico-metodológico da seção, visto que 
compatível com o terceiromomento do método regressivo-progressivo chamado de 
histórico genérico, a finalidade é retornar à realidade descrita e interpretada sem, no 
entanto, a ela se resumir. Isto posto, se a seção pretende desvendar as projeções 
futuras para o comércio nas ruas estudadas, deve incorporar o estudo desta 
realidade materializada pelos grupos sociais naquele espaço no seio da ordem 
próxima; incorporando também as possibilidades a se concretizarem no futuro 
concernentes à ordem distante, ou seja, a atuação das forças hegemônicas sobre a 
Zona Norte, o que consequentemente surtirá efeitos nas ruas Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte. 
Evidentemente, quando a ordem distante se materializa no lugar aglutina 
muitas de suas características peculiares, visto que a ordem distante “contendo a 
ordem próxima, ela a mantém, sustenta relações de produção e de propriedade; é o 
lugar de sua reprodução” (LEFEBVRE, 2001, p. 52). Dito isto, confirma-se a 
indissociabilidade das proposições teóricos de Lefebvre, seja sobre a 
complementariedade mútua das ordens distante e próxima, seja dos espaços 
concebido, percebido e vivido na conformação do processo de produção do espaço 
geográfico. Essa conjuntura teórica subsidia a compreensão das ruas em apreço no 
tocante a sua origem, enquanto conjuntos habitacionais planejados e executados 
pelo Estado, desconsiderando a opinião da população beneficiada com tais 
construções ou loteamentos edificados espontaneamente. 
Essa configuração de moradia, conformada na Zona Norte, é passível de uma 
leitura cujo lastro teórico está vinculado às proposições de Lefebvre (2000), quando 
trata do habitar enquanto realização da moradia resultante de um projeto de 
produção do espaço com participação cidadão; e do habitat enquanto obra de 
reprodução das forças produtivas. A este respeito, o referido autor discorre sobre as 
formas de habitar enquanto resultado da produção de seus usuários e o habitat, 
situação a qual a população é pressionada a ser receptáculo da reprodução do 
poder imposto de fora sem que lhe seja concedido o direito à obra. 
149 
 
 
No tocante às ruas em discussão, antes destas serem eminentemente 
comerciais, tinham a função predominantemente voltada para moradia, seja pela 
ação projetada pelo Estado ou pelos próprios moradores. Ao longo de sua 
transformação por parte da própria população beneficiada, Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte passaram a agregar o habitar porque nelas foram incorporadas as 
práticas sócio-espaciais e as ruas tornaram reflexo das ações cotidianas. 
A discussão do habitar e do habitat desenvolvida por Lefebvre será elucidada 
na subseção seguinte. Outrossim a análise acerca deste assunto servira de norte 
para o entendimento do processo de produção e transformação de função nas ruas 
em evidência. 
 
4.1. DO ESPAÇO DO HABITAR AO ESPAÇO DO HABITAT 
 
O processo de urbanização brasileiro, tendo como marco a década de 1950, 
acontece de forma desigual não somente em relação à força produtiva, mas também 
em relação às condições de moradia. Em alguns estados, principalmente aqueles do 
Sul e Sudeste, a máquina substituiu parte da mão-de-obra. Já em outros estados do 
Nordeste principalmente, a incorporação efetiva do maquinário não se perfilou numa 
realidade concreta em toda a região. 
De acordo com Santos (2008), ao discutir a urbanização brasileira, o 
crescimento numérico anual da população urbana entre 1970-1980 foi de 2.900.000, 
sendo um número maior que o crescimento da população anual total que chegou 
aos expressivos 2.600.000. Conforme a urbanização se acentuou, as pessoas 
migraram cada vez mais do campo para a cidade ocasionado a formação de 
grandes massas de despossuídos, obrigados a ocuparem a periferia dos grandes 
centros. Desse modo, as áreas periféricas desprovidas de infraestrutura e serviços 
sociais urbanos foram ocupadas sobremaneira pelo segmento socioeconômico 
menos favorecido. Nestas áreas, a intervenção do Estado por meio da política 
habitacional, gerou moradias para trabalhadores em situação de precarização social, 
conforme ocorrido na Zona Norte de Natal/RN. Sendo assim, foram construídos 
conjuntos habitacionais para atender a necessidade de habitação dessa população 
migrante. No entanto, por ocasião deste momento, não houve participação da 
população na tomada de decisão acerca do planejamento e consolidação das 
unidades habitacionais, assumindo assim, segundo o pensamento do Lefebvre 
150 
 
 
(2000) a forma do habitat. Fato semelhante ocorrido na França fez Lefebvre (2000, 
p. 81) entender o habitat como o resultado da ordem que se concretizou no espaço 
num processo “instaurado pelo alto: aplicação de um espaço global homogêneo e 
quantitativo obrigando o “vivido” a encerrar-se em caixas, gaiolas, ou, máquinas de 
habitar”. 
Por esta lógica, e em consonância com o pensamento de Lefebvre (2000), 
pode-se compreender que os moradores participantes do processo inicial de 
expansão urbana da Zona Norte de Natal foram privados da obra, visto que não 
tiveram a oportunidade de decidir sobre a sua própria moradia. Esta fora inclusive 
projetada para as áreas periféricas, tanto do ponto de vista geográfico em relação ao 
centro da cidade, quanto do ponto de vista social pelas precárias condições de vida 
em um espaço pouco aparelhado no que se refere a infraestrutura e serviços 
urbanos. 
No entanto, ao se debruçar sobre a história relatada por alguns moradores 
e/ou comerciantes na seção anterior, nota-se que a ação do Estado, ainda que em 
sua essência não tenha lhes concedido a condição de habitar, fez emergir o desejo 
da casa própria e a partir daí a construção do lugar da moradia. Ao adquirir a casa 
própria, os moradores passaram a desenvolver práticas no intuito de atender as 
suas necessidades básicas de consumo como alimentação, medicamentos e 
vestuário e aos poucos foram incorporando àquele espaço equipamentos básicos 
resultado da reprodução da própria vida. 
O cenário atual da Zona Norte, ainda que se trate de realidades e tempos 
diferenciados daquele tratado por Lefebvre, pode ser interpretado à luz do 
pensamento do autor quando infere que a classe operária é aquela que sofre as 
consequências da explosão das antigas morfologias. Ela é vítima de uma estratégica 
segregação de classe permitida por essa explosão. Na visão de Lefebvre (2000), a 
antiga miséria proletária se atenua e tende a desaparecer nos países industriais 
fazendo surgir uma nova forma de precarização, a do habitat, que se expande na 
cidade e atinge sobremaneira o proletariado, mesmo sem isentar outros segmentos 
sociais, de modo que a população seja conduzida a uma cotidianidade organizada 
(na e pela sociedade burocrática de consumo dirigido). 
Em paralelo ao habitat instaurado na Zona Norte, formas de ocupação 
desordenada foram surgindo como meio da população, que não fora beneficiada 
com o conjunto habitacional, construir sua própria residência à maneira desejada em 
151 
 
 
consonância com as vivências do próprio grupo. Cita-se como exemplo, os 
loteamentos em que, de posse do lote, o morador construiu sua casa desvencilhado 
de padrões pré-estabelecidos. Nestas construções, o maior interessado, o morador, 
foi sujeito atuante no processo de produção do espaço urbano da Zona Norte. 
Deixando-se influenciar também pelas ideias do filósofo Heidegger, quando 
discute a habitação com o resultado de um planejamento, torna pertinente pensar 
sobre a produção espontânea do espaço da Zona Norte em forma de loteamentos 
que perpassa pela questão central situada em torno do “habitar” ou seja, o espaço 
essencialmente caracterizado como aquele de apropriação por um grupo, cujo 
objetivo ultrapassa o sentido de estabelecer residência. 
Em outras palavras “O habitar é a própria essência da relação homem-meio, 
expressa na totalidade vivida e nas ligações com o construir” (PROENÇA, 2011, p. 
22). A este respeito,vale acrescentar que nem toda construção pode ser habitada, 
apenas aquelas destinadas à moradia. Uma ponte não pode ser habitada, nem 
tampouco um salão, mas todos são construções. No entanto, se desvencilhando do 
simples fato de construir, “o habitar é o traço fundamental da condição humana. 
Pelas suas diversas dimensões, ele constitui-se num traço do ser, pelo qual os 
mortais estão sobre a terra. A habitação revela ao homem a sua situação de ser 
mortal” (PROENÇA, 2011, p.23). Por esta ideia, compreende-se então que habitar 
significa não simplesmente uma condição de morar a partir de uma construção, mas 
a realização de um desejo resguardado ao ser humano. 
Pela compreensão do habitar em discussão, infere-se que o espaço urbano 
da Zona Norte, edificado pelo Estado ou pelos próprios moradores, serviu a uma 
população que construiu no dia-a-dia não somente o desejo da moradia, mas 
também a consolidação da reprodução da vida em terras praticamente vazias. As 
práticas iniciadas no solo consideravelmente desnudo, cedeu lugar ao desejo da 
sobrevivência e para sua realização, foram incorporadas ao lugar, atividades 
urbanas para atender às necessidades dos moradores. 
Desta forma, aquela Zona Norte da década de 1980 em contexto de 
expansão urbana, mas ainda com muitas terras vazias, de longe parecia pertencer a 
uma cidade de crescimento econômico e social tão pujante conduzido pela Zona 
Sul. Enquanto esta última crescia consideravelmente em habitação de padrão 
elevado e sediava equipamentos comerciais importantes no âmbito da cidade, a 
Zona Norte apresentava um crescimento lento não só do ponto de vista do 
152 
 
 
contingente populacional, mas principalmente do ponto de vista econômico, o que 
lhe concedeu durante muito tempo a denominação de espaço dormitório. 
Porém, a partir dos anos 1990 e principalmente 2000, quando houve uma 
maior construção de unidades habitacionais pelo Estado e também um aumento no 
número de imóveis, a Zona Norte apresentou outra realidade de modo que, segundo 
informações censitárias representadas na tabela 3, foi a porção que mais cresceu 
em termos populacionais em relação às outras zonas administrativas da cidade 
desenhando uma geografia que de longe se assemelha aquela de sua constituição 
inicial nos anos de 1980. 
 
Tabela 3 - Evolução da população residente em Natal de 1991-2010 
Z.A BAIRRO POPULAÇÃO RESIDENTE 
1991 1996 2000 2010 
N
O
R
T
E
 
Lagoa Azul 9.864 40.199 50.413 61.289 
Igapó 24.354 25.477 27.032 28.819 
N.Sra. da Apresentação 12.982 38.708 56.522 79.759 
Pajuçara 13.259 35.300 42.130 58.021 
Potengi 55.877 56.221 56.259 57.848 
Redinha 6.581 9.084 11.504 16.630 
Salinas 529 1.026 883 1.177 
SUBTOTAL 123.446 206.015 244.743 303.543 
S
U
L
 
Lagoa Nova 44.651 35.712 35.669 37.518 
Nova Descoberta 14.307 13.130 12.481 12.467 
Candelária 15.233 18.018 18.684 22.391 
Capim Macio 13.984 18.103 20.522 22.760 
Pitimbu 20.402 22.755 22.985 24.209 
Neópolis 18.606 21.092 22.041 22.465 
Ponta Negra 18.070 20.061 23.600 24.681 
SUBTOTAL 145.253 148.871 155.882 166.491 
L
E
S
T
E
 
Santos Reis 7.480 6.633 6.820 5.640 
Rocas 12.316 10.833 10.525 10.452 
Ribeira 1.826 1.839 2.110 2.222 
Praia do Meio 3.304 4.139 4.193 4.770 
Cidade Alta 7.548 6.254 6.692 7.123 
Petrópolis 7.506 5.222 5.105 5.521 
Areia Preta 3.137 2.926 2.652 3.878 
Mãe Luiza 17.416 16.324 16.058 14.959 
Alecrim 39.219 32.100 32.356 28.705 
Barro Vermelho - 8.024 8.145 10.087 
Tirol 15.176 13.071 14.799 16.148 
Lagoa Seca 13.844 7.088 6.651 5.791 
SUBTOTAL - 114.453 116.106 115.297 
 
O
E
S
T
E
 
Quintas 35.265 32.184 29.751 27.375 
Nordeste 12.045 12.041 11.436 11.521 
Dix-Sept Rosado 36.233 14.869 16.141 15.689 
Bom Pastor 19.015 17.746 17.984 18.224 
N.Sra. de Nazaré - 18.123 15.623 16.136 
Felipe Camarão 37.021 41.398 45.907 50.997 
Cidade da Esperança 21.172 20.629 20.235 19.356 
Cidade Nova 16.821 15.694 15.778 17.651 
Guarapes 8.334 13.908 8.415 10.250 
Planalto - - 14.314 31.206 
153 
 
 
SUBTOTAL - - 195.584 218.405 
TOTAL - - 712.317 803.739 
Fonte: Prefeitura Municipal de Natal/RN. Anuário Natal 2011-2012. 
Elaboração da Autora, 2016 
 
Se na década de 1980 aquela área era ocupada basicamente por 
trabalhadores da indústria e se mantinha distante geograficamente do centro da 
cidade, inclusive, pelo precário acesso às outras áreas, hoje o cenário é outro. Do 
ponto de vista econômico, a Zona Norte apresenta grandes equipamentos 
comerciais que geram emprego para a população residente, principalmente da área, 
e também concentra serviços de saúde, a exemplo do Instituto do Rim e do Hospital 
Maria Alice. Cabe mencionar ainda a substituição do Aeroporto Augusto Severo, 
localizado em Parnamirim pelo Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, 
inaugurando em 2014, cuja localização está no município de São Gonçalo do 
Amarante, vizinho a Zona Norte. A presença desse equipamento atraiu mão-de-obra 
para perto de sua localização de modo que a Zona Norte se configurou como uma 
das melhores opções, não somente para o estabelecimento da moradia por parte da 
maioria dos funcionários, como também dinamizou serviços de transporte para 
aquela área, como a inserção de linhas de ônibus e a otimização de praças de taxis 
na para atender a demanda vinda do aeroporto. 
Do Ponto de vista populacional, entre as décadas 2000 e 2010 conforme 
expresso na tabela 4, a maior taxa de crescimento está na Zona Norte, se 
comparado às outras regiões administrativas de acordo com a (SEMURB, 2015). 
 
Tabela 4 - Taxa de crescimento de Natal/RN por Zona 
Administrativa 2000-2010 
 
Zona Administrativa 
População Residente Percentual de 
crescimento 
(2000-2010) 2000 2010 
Zona Norte 244.743 303.543 19,3% 
Zona Sul 155.882 166.491 6,3% 
Zona Leste 116.106 115.297 -0,7% 
Zona Oeste 195.584 218.405 10,4% 
Fonte: Prefeitura Municipal de Natal/RN. Anuário Natal 2011-2012. 
Elaboração da Autora, 2016 
 
Parte desse crescimento da Zona Norte se explica pelo fato de muitas 
pessoas investirem em imóveis nesta área em função do seu baixo valor do solo 
urbano em comparação com o restante da cidade. A referida área tem se constituído 
numa alternativa viável economicamente para se fugir do aluguel em outras áreas da 
154 
 
 
cidade. De acordo com a SEMURB (2015), os bairros da Zona Norte que mais 
cresceram em 2015 foram Pajuçara, acima de 500 imóveis, seguidos de Potengi e 
Nossa Senhora da Apresentação, entre 21 e 50 imóveis. 
O aumento populacional da Zona Norte deve-se ainda a maior integração 
desta área ao restante da cidade, promovida pela Ponte Newton Navarro (Figura 
13), (popularmente conhecida como ponte todos), inaugurada em 2007. A referida 
ponte facilitou a mobilidade dos habitantes de outras áreas da cidade em direção a 
porção norte e vice e versa e também otimizou a procura daquela área por parte dos 
turistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Zona Norte detém a maior perspectiva de crescimento populacional pela 
sua disponibilidade não somente em área territorial, mas também em termos de 
verticalização. Entretanto isto depende, sobremaneira, de investimentos do Estado 
em conjunto com a Prefeitura Municipal para investir em infraestrutura urbana, como 
saneamento básico, para que se possa revogar o gabarito previsto no atual Plano 
Diretor de Natal, que veta qualquer construção acima de 7,5 metros naquela zona. 
O aumento no número de pessoas na Zona Norte também significa aumento 
no percentual de consumo na área, visto que à medida que a cidade cresce, o 
comércio também cresce e se desenvolve (PINTAUDI, 1999). Dito isto, compreende-
Figura 13 - Ponte Newton Navarro - Natal/RN - 2011 
Fonte: Menezes, 2011. 
155 
 
 
se que, para acompanhar o aumento populacional, haverá um crescimento nas 
atividades de comércio e de serviços para que a crescente demanda de consumo 
evidenciado na Zona Norte possa ser atendida. 
O crescimento do comércioestá atrelado principalmente à instalação de 
grandes equipamentos mencionados na segunda seção, em conjunto, com serviços 
como: Ginásio Nélio Dias, Campus da Universidade do Estado do Rio Grande do 
Norte, Instituto do Rim, Central do Cidadão, Campus da Universidade Potiguar, 
Faculdade Estácio de Sá e outros que se configuraram como vetores para o 
crescimento da Zona Norte, principalmente entre as décadas de 2000 e 2010. No 
tocante ao varejo, cabe mencionar a inauguração do Assaí, grande equipamento de 
comércio do segmento do atacado e varejo, em dezembro de 2016. O referido 
empreendimento está localizado na Avenida Bacharel Tomaz Landim, na divisa de 
São Gonçalo do Amarante com a Zona Norte de Natal e se projeta como um grande 
dinamizador do consumo no ramo de alimentos e variedades. 
Por estar localizado próximo ao Supermercado Nordestão de Igapó, poder-se-
ia presumir que o atacarejo Assaí impulsionasse uma queda nas vendas do 
supermercado mencionado. No entanto, acredita-se que isto não ocorrerá em virtude 
das estratégias de publicidade veiculadas pelo referido. A logomarca do Nordestão, 
“gente da terra da gente”, explicita valores corporificados pela emprega em divulgar 
uma imagem de supermercado concatenado com a cultura potiguar. Outrossim, o 
Nordestão aplica capital no desenvolvimento de políticas de preocupação com o 
desenvolvimento local, meio ambiente, educação e cidadania. 
Diante desse quadro de crescimento econômico e populacional elucidado e 
projetado para a Zona Norte não se pode negar os impactos sofridos por esta área 
mediante a crise econômica instaurada não só no estado, mas em todo o país. Em 
conjunto com outros segmentos econômicos, o varejo moderno tem sido atingido 
consideravelmente com a redução de produção e vendas ocasionando, deste modo, 
um grande número de desempregados. Como estratégia, tem-se investido cada vez 
mais em geração de renda alternativa. A este respeito, cita-se os casos de pessoas 
que, após perderem seus empregos, passaram a desenvolver novas atividades 
como ambulantes ou mesmo com a abertura de pequenos estabelecimentos de 
base fixa. 
Esta alternativa de sobrevivência se constitui como garantia de permanência 
das condições básicas da vida de muitos desempregados. Como consequência da 
156 
 
 
crise, o habitar é colocado em situação de instabilidade podendo mais uma vez ser 
transformado no habitat, neste caso não pela obra projetada pelas forças 
hegemônicas, mas pela manutenção da sobrevivência em ambientes urbanos e no 
caso específico da pesquisa, na cidade do Natal. 
Mediante problematização, o habitat passa a ser o espaço da própria 
reprodução do sistema capitalista que se reinventa na crise e projeta em ruas com 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte a possibilidade de continuar gerando lucro por 
meio de novas artérias produtivas como o pequeno comércio de base informal. 
Tendo em vista a análise sumária apresentada, maiores aprofundamentos são 
abordados na subseção seguinte. 
 
4.2. A CRISE ECONÔMICA E A REALIDADE “POSSÍVEL” 
 
A crise econômica, iniciada no Estados Unidos em 2008, atingiu fortemente o 
mercado imobiliário do país em virtude da queda do dinamismo das vendas de 
imóveis já evidenciada em 2007. Segundo o Banco Central do Brasil, mediante 
situação financeira dos EUA, o Brasil se preparou para enfrentar possíveis 
desdobramentos da crise americana, investindo em programas como aumento de 
crédito por parte dos bancos públicos, Programa Minha Casa Minha Vida, redução 
da taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia – Selic – e a redução de 
Impostos sobre Produtos Industrializados – IPI, (Banco Central do Brasil, 2010) 
Entretanto, mesmo com as medidas adotadas para se proteger da crise, o 
Brasil acabou sendo atingido logo em 2009, e principalmente a partir de 2015, 
quando o mercado consumidor e a classe trabalhadora sofreram rebatimentos 
negativos de forma direta. Porém, do ponto de vista comercial, a crise tornou-se 
mais evidente com a redução das demandas de exportação. De acordo com 
informações divulgadas pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte – 
FIERN (2016), o volume de exportações do estado apresentou queda de 18,7 no 
primeiro semestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015. 
Segundo Pochmann (2009), que discorreu sobre os primeiros sinais da crise 
econômica em 2009, o Brasil foi atingido em três dimensões: desemprego, ocupação 
precária e alta rotatividade. Com relação ao comércio varejista, de acordo com a 
Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE (2017), a crise se fez 
157 
 
 
sentir na redução de vendas de 3,5% em novembro de 2016 em relação ao mesmo 
mês do ano anterior, tendo o segmento de Tecidos, vestuário e calçados 
apresentado crescimento negativo de -9,6% em novembro de 2016. O segmento 
que teve menor impacto negativo foi o de Hipermercados, supermercados, produtos 
alimentícios, bebidas e fumo, com redução de vendas de apenas (-1, 1%), enquanto 
que o de maior impacto negativo foi o de Livros, jornais, revistas e papelaria (-
11,8%). Para a construção da PMC, o IBGE investigou empresas com 20 ou mais 
pessoas ocupadas, cuja receita bruta provenha inteiramente do comércio varejista. 
Para o comércio, as expectativas de consumo ainda não são animadoras para 
o primeiro trimestre de 2017, se levado em consideração a intenção de compra para 
janeiro do corrente ano, conforme expresso no gráfico 17. 
 
 
 
 
Conforme mostra o gráfico 17 houve um leve aumento na intenção de compra 
de janeiro de 2017 em relação ao mesmo mês de 2016. Embora apresentando 
aumento, 2017 teve uma redução do consumo se comparado a janeiro de 2011. 
Essa diminuição do consumo está relacionada, segundo a Confederação Nacional 
Gráfico 17 – Intenção de compra das famílias brasileiras entre Jan de 
2010 e Jan de 2017 
Fonte: CNC, 2017. 
158 
 
 
do Comércio e do Turismo (CNC), ao fato de que mais da metade das famílias 
brasileiras encontrou dificuldade de acesso ao crédito em relação em 2017. A causa 
foi o aumento desenfreado do desemprego que impossibilita o acesso à 
empréstimos, o que acabou rebatendo sobre o comércio. 
Ainda de acordo com a CNC, a intenção de compra das famílias brasileiras 
apresentou redução de 1,7% em relação ao mesmo mês de 2016. Para o órgão, 
também houve uma diminuição da expectativa de emprego em janeiro de 2017 em 
relação a dezembro de 2016. 
No Rio Grande do Norte, o desemprego atingiu números expressivos em 
2016. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados 
(CAGED/2016) foram demitidas 9.097 pessoas na indústria, 6.602 na construção 
civil, 3.378 no comércio e 3.179 nos serviços no referido ano. 
A economia do estado desaqueceu em 2016, resultado sobremaneira da 
baixa produção industrial, o que repercutiu negativamente no comércio varejista 
causando retração de vendas. A baixa produção industrial fez aumentar o preço da 
mercadoria, de modo que o consumidor passou a ser mais cauteloso com pesquisas 
e comparação de preço. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria 
e Comércio Exterior, o ano de 2017 apresentará perspectivas de crescimento do 
ponto de vista comercial se o consumidor retomar sua confiança para o consumo. 
Acerca das Políticas Públicas para tentar superar a crise econômica, o 
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior pretende investir, entre 
2016 e 2019, em medidas para a retomada do crescimento industrial por meio da 
agregação de valor à mercadoria e fomento à novos mercados. Esses investimentos 
em efetividade, repercutirão na retomada do aquecimento comercial no estado de 
modo que o comércio volte a crescer. Dentre as principais demandas que o 
Ministério prevê para o comércio não apenas do Rio Grande do Norte, mas de todo 
o país, é o estímulo à competitividade por meio da melhoria do estabelecimento e 
uma maior flexibilizaçãopara abertura de novas empresas e manutenção das já 
existentes, através da desburocratização de processos de forma que o setor volte a 
gerar mais empregos. 
Do ponto de vista da internacionalização serão estimuladas novas formas de 
comércio como o comércio eletrônico. Aliás, mesmo em meio à crise econômica, 
este segmento cresceu 11% em 2016 em relação à 2015 e tem perspectiva de 
159 
 
 
faturamento estimado para 59,9 bilhões de reais para 2017, conforme apontado pela 
Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. 
Já em relação ao comércio de base fixa, as compras do varejo também são 
expressivas nos Shopping Centers, diferentemente do observado em países da 
Europa como exemplo em Portugal, o comércio de rua é mais representativo. De 
acordo com a Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE) estes tiveram 
um faturamento de 151, 5 milhões de reais em 2015. Ainda de acordo com a referida 
associação o faturamento anual de 2016 foi de 159,075 milhões de reais, com 
estimativas animadoras de faturamento para 2017, com rendimento na ordem de 
170,210 milhões de reais. Uma das explicações reside nas possibilidades que este 
centro comercial oferece, no que se refere à segurança, estacionamento seguro, 
reunião de lojas especialidades, serviços diversos ao consumidor e maiores atrativos 
para a efetivação das compras. Na Zona Norte, em paralelo ao crescimento do 
consumo em Shopping Centers, a atividade comercial também ganhou espaço de 
visibilidade em ruas. 
No tocante ao comércio de base fixa realizado na rua, também existem 
perspectivas animadoras (Gráfico 18). A projeção toma por base a realidade atual no 
tocante à escala de crescimento do comércio nas ruas Pompéia, Chegança e Boa 
Sorte na perspectiva do comerciante. Ao ser questionado se numa escala de 0 a 10, 
qual seria a nota que o mesmo atribuía ao crescimento do comércio nas ruas em 
questão, as respostas foram satisfatórias no tocante à ratificação de que existe uma 
dinâmica pujante no comércio nas ruas estudadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
160 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O gráfico 18 explicita que, mesmo diante da crise e da avassaladora 
insegurança que assola os espaços de comércio aberto, o comércio executado na 
rua aponta para um crescimento. O fato de 82% dos entrevistados apontarem que a 
atividade comercial das ruas em discussão cresceu entre 8 e 10 significa que os 
comerciantes se mostram otimistas quanto ao permanente crescimento do comércio 
nestes espaços. 
O grande diferencial da atividade comercial desenvolvida na rua em relação 
ao shopping diz respeito principalmente ao tratamento personalizado, à priorização 
do atendimento no tocante à compreensão das necessidades do consumidor e a 
livre organização da loja considerando a variedade de mercadorias. A este respeito, 
Oliveira (2006), ao discutir sobre a dinâmica da rua de comércio na cidade de São 
Paulo, aponta a espontaneidade e criação de seu próprio mix de mercadoria como 
um fator que favorece o comércio desenvolvido na rua em detrimento daquele 
executado no shopping. 
Diante do agravamento da crise em 2016, que acarretou índices de 
desemprego na ordem de 12 milhões em todo o país e, consequentemente a 
Gráfico 18 – Escala de crescimento do comércio de 0 a 10 na 
perspectiva do comerciante nas ruas Pompéia, Chegança e Boa 
Sorte - 2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
161 
 
 
redução do poder de consumo pela população, muitos tem aderido ao comércio 
popular. Esta adesão aponta que o crescimento indicado no gráfico 18 tenderá a se 
acentuar, principalmente através do aumento do comércio informal, visto que este se 
constituiu numa das estratégias do trabalhador ao ficar desempregado. Ao mesmo 
tempo, a informalidade também faz parte das estratégias de reprodução do próprio 
capital que a utiliza como válvula de escape para fugir dos efeitos da crise. A 
informalidade também contribui para aumentar a oferta e procura por produtos a 
custos mais baratos. 
Na compreensão de Tavares (2004, p. 10), ao problematizar sobre a 
precarização do trabalho informal, afirma que a informalidade é uma estratégia que 
se reproduz com o desenvolvimento da produção capitalista. A autora entende o 
trabalho informal não apenas como aquele em oposição ao formal, mas também 
como um movimento de valorização do capital que tira proveito da crise para se 
reproduzir e gerar lucro a qualquer maneira, seja, suscitando novos postos de 
trabalho com esta característica ou incentivando o consumo como alternativa para 
as pessoas investirem cada vez mais em seu próprio negócio. 
Outro fator que tem favorecido o comércio nas ruas Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte é a utilização da publicidade (Gráfico 19). Esta tem sido uma das 
alternativas encontradas pelos comerciantes para fazerem a divulgação da 
mercadoria, principalmente nas redes sociais. O facebook é a rede social mais 
utilizada para a divulgação da mercadoria, visto que não necessita de grandes 
esforços para criar um vínculo comunicativo com o público consumidor. Este veículo 
de comunicação é o mais utilizado, mas outras estratégias de publicidade são 
empregadas como carros de som, panfleto e, em alguns casos, anúncios em 
programas de rádio. As várias formas do comerciante estabelecer contato com seus 
potenciais consumidores não deixam margem para excluir nenhum segmento social 
ou faixa etária acerca do conhecimento sobre as mercadorias. 
 
 
 
 
 
 
162 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os dados mostram que, mesmo se constituindo num comércio tradicional 
composto de pequenos estabelecimentos, com oferta reduzida de produtos e 
geridos essencialmente por pequenos empresários, de gestão familiar e de 
organização modesta, a presença da tecnologia assume importância para os 
comerciantes superarem a crise. Desta forma, se antes não havia necessidade 
deste recurso, sua estimativa de crescimento se acentua, pela possibilidade que o 
comerciante tem de fazer a divulgação da mercadoria sem nenhum custo 
empregado. Lefebvre (1991, p.116), ao se debruçar sobre a produção do espaço e a 
publicidade, afirma que: 
 
(...) A publicidade exerce função de ideologia; ela vincula o tema ideológico 
a uma coisa (o after shave) à qual confere assim uma dupla existência, real 
e imaginária. Ela vincula os termos das ideologias e amarra, para além das 
mitologias, os significantes aos significados, já recuperados e utilizados. 
 
A grande maioria dos comerciantes que se utiliza da publicidade é do 
segmento de vestuários e acessórios através da promoção do discurso da beleza e 
da inserção social através da moda. A interpretação está no fato de que, na 
contemporaneidade, o consumo constitui-se como um caminho central para o 
Gráfico 19 - Utilização de mecanismos de publicidade pelos 
comerciantes das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
163 
 
 
entendimento dos grupos populares brasileiros, pois entende-se que é por meio 
deste que os sujeitos se encontram mais integrados e atualizados com o global e 
com a vida cotidiana. Estudar o consumo popular significa investigar essa prática em 
ambientes populares e a relação dos consumidores desta no tocante à sociedade na 
qual é praticado. 
O consumo popular é entendido no referido trabalho como uma prática 
exercida por pessoas de poder de compra reduzido que se realiza em ruas de 
comércio tradicional com Pompéia, Chegança e Boa Sorte. Estas ofertam 
mercadorias que, sobremaneira, são imitações da moda recente. É a imitação da 
moda que a classe popular busca na tentativa de se inserir na sociedade. Para o 
filósofo, sociólogo e psicólogo Gabriel Tarde, quando trata do comportamento do ser 
humano acerca da imitação, afirma que “todas as semelhanças de origem social que 
se observam no mundo social são o fruto directo ou indirecto da imitação sob todas 
as suasformas: imitação costume ou imitação-moda”[ Tarde (s/d, p. 37)]. 
A imitação ganha maior força com a publicidade desenfreada transmitida a 
todos os públicos e durante todas as horas no decurso do dia pela televisão. Este 
veículo de comunicação aliena os telespectadores de modo a implantar nestes o 
desejo incansável de imitar as vestes, acessórios e até a maneira de se expressar 
de seus ídolos. 
Influenciado pelas ideias veiculados por Tarde, o geógrafo Santos (2016), ao 
se debruçar sobre o duplo fenômeno imitação/repetição da mercadoria no recorte 
espacial de pesquisa shopping popular Feiraguai em Feira de Santana – BA, infere 
que a publicidade tem um papel fundamental na otimização do consumo nos 
espaços de comércio. O autor diz que uma das explicações do desejo de imitar está 
no próprio processo produtivo da mercadoria que demanda a imitação de cópias 
autênticas que apontam para a realização do desejo de estar parecido com o outro. 
Ancorado nas ideias de Tarde, o autor ainda explica que a imitação, no 
microuniverso do indivíduo, é alimentada por uma ambição maior como possibilidade 
de se programar o infinito segundo tendências e modas. 
O conceito de moda adotado na pesquisa em questão é contundentemente 
estudado por Lipovestky (2006), que faz uma análise da moda como instrumento 
gerador de valor, o qual está sujeito a mutações podendo fazer surgir “novos 
valores” considerando a mudança da moda. Entretanto a consumo pelas classes 
populares é uma tentativa de estar em harmonia, parecido com o outro no intuito de 
164 
 
 
estabelecer elo de proximidade. Nesta perspectiva faz-se importante, mesmo que 
pontualmente, a ideia do filósofo Immanuel Kant (1770), referenciada por Svendsen 
(2010) acerca do assunto. A este respeito, a imitação “é uma inclinação natural do 
homem comparar seu comportamento com o de alguém mais importante [...]. Uma 
lei de tal imitação, que praticamos para não parecermos menos importantes que 
outros. (KANT, 1770 apud SVENDSEN, 2010, p. 43). 
As pessoas compram mercadorias parecidas com as dos famosos e que 
estão expostas nas vitrines de shoppings. O intuito é se inserir no cotidiano e 
exercer a sua cidadania por meio do consumo, pois este também provoca uma cisão 
na sociedade no sentido de mostrar que as pessoas são vistas e aceitas por aquilo 
que elas mais consomem. De acordo com o pensamento de Bauman (2008), ao 
discutir a alienação das pessoas em virtude do consumo, o ato de consumir vem 
sendo cada vez mais um investimento que o indivíduo faz em si mesmo, em sua 
afiliação social, a fim de se tornar vendável, tal qual uma mercadoria. Os indivíduos 
consomem produtos, serviços e valores simbólicos em troca de uma afirmação 
social que lhes garanta o caráter de cidadãos. Todos querem ser reconhecidos e 
aceitos e, para isso, fazem de si mesmo mercadorias a serem expostas na 
sociedade. 
A lógica social do consumo da sociedade contemporânea é guiada pela 
ideologia da felicidade como um caminho possível para a realização pessoal. Dessa 
forma, “a felicidade ostente, à primeira vista, semelhante significado e função, induz 
consequências importantes quanto ao respectivo conteúdo: para ser o veículo do 
mito igualitário, é preciso que a felicidade seja mensurável” (BAUDRILLARD, 2010, 
p.47). 
Entretanto, para Baudrillard (2010), é ingenuidade pensar o discurso do 
consumo como busca de uma felicidade proporcionada simplesmente pelos objetos 
materiais. Para ele, o processo de consumo pode ser analisado por dois aspectos 
fundamentais: 1) Como processo de significação e de comunicação (o consumo 
funciona aqui como um sistema de permuta e equivalente de uma linguagem); 2) 
Como processo de classificação e diferenciação social. O amento do consumo 
incitado pelo recurso à imitação da moda ou mesmo pela simples procura de 
mercadoria a preços mais baratos tem ganhado notoriedade nas três ruas, que são 
referência de consumo popular na Zona Norte. 
165 
 
 
O comércio das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte reproduz, de forma 
contundente, a prática da imitação tendo como grande propulsor desta questão a 
publicidade. As mercadorias postas à venda nos estabelecimentos destas ruas não 
fogem à regra daquelas discutidas por Santos (2006) em Feira de Santana na Bahia, 
nem tampouco da Rua 25 de março em São Paulo, maior rua de comércio popular 
do Brasil, visto que a publicidade atinge a todos de modo a despertar o desejo pelo 
consumo mesmo que de mercadorias imitadas como é o caso dos espaços 
populares de consumo outrora citados. Aliás, conforme Lipovetsky (2006), ao discutir 
a moda como um fenômeno social ocidental moderno, a publicidade está em todos 
os lugares. Ela trabalha com os princípios da moda: “a originalidade a qualquer 
preço, a mudança permanente, o efêmero. Tudo menos dormir no ponto e tornar-se 
invisível por hábito” (LIPOVETSKY, 2006, p. 215). Ao se referir ao poder 
desenfreado de sedução provocado pela publicidade, o autor diz que esta se 
encontra cada vez mais embebida pelo hiperespetáculo e que cada vez menos 
atende à solicitude, a tenção calorosa, mas sim a teatralidade hollywoodiana. As 
mercadorias utilizadas por celebridades são ainda mais vendáveis porque faz criar, 
através da publicidade, o desejo de ser ousado e exclusivo. Em Pompéia, Chegança 
e Boa Sorte, arrisca-se a dizer que mais do que hollywoodiana, as mercadorias são 
propagadoras, de forma expressiva, de um modo de vida fictício da Rede Globo de 
Televisão. Para que as mercadorias das lojas destas ruas representem uma nova 
tendência basta que uma atriz global se exponha com mercadorias inesperadas. 
Mas afinal, quem dita a moda que se divulga nos canais de comunicação e 
rapidamente se pulveriza nos espaços de comércio, seja em shoppings propagadas 
pelas mercas ou em espaços abertos como ruas de comércio que reproduz a 
imitação? Lipovetsky (2006) ajuda na elaboração de um esforço interpretativo 
quando diz que a moda já não encontra seu modelo em reminiscências do passado 
e que, na contemporaneidade, ela se organiza segundo transformações 
organizacionais, sociais e culturais. O autor logo adverte que a emergência de um 
novo sistema necessariamente não exclui outro. 
Tomando por referência, a discussão empreendida pelo autor sobre a moda, 
pode-se inferir que esta se cria orquestrada pela mão de profissionais e é absorvida 
por uma lógica industrial serial que recria coleções sazonais e ritz que circulam em 
emissoras de rádio, televisão e redes sociais. A respeito dessas modas que “pegam 
facilmente” nas redes sociais, pode-se citar a famosa frase da cantora baiana Ivete 
166 
 
 
Sangalo durante um show, quando em plena apresentação viu o seu esposo na 
plateia conversando com uma moça e logo perguntou: “Quem é essa aí, papai? ”. 
Essa frase ganhou repercussão de tal forma que em menos de sua semana, após o 
acontecido, já circulavam nas ruas de comércio camisetas com a frase estampada, 
além de músicas envolvendo a situação. 
As ruas de comércio Pompéia, Chegança e Boa Sorte, seguem esta e outras 
tendências que são divulgadas rapidamente devido a sua expressiva dinâmica. 
Estas são conhecidas em toda a cidade do Natal como referência de comércio 
popular na Zona Norte. 
Um dos vetores dessa dinâmica é a conexão da Zona Norte, e 
consequentemente das ruas estudadas, pelo transporte público que tem promovido 
à mobilidade do consumidor interessado em mercadorias de baixo preço, sem, no 
entanto, destoar da moda propagada nos vários canais de comunicação. De acordo 
com informações da Secretaria de Transportes e Trânsito Urbano de Natal/RN/STTU 
acerca das ordens de serviço de transportes públicos que circulam nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte (Quadro 8), boa parte dos ônibus que trafegam nas 
ruas citadas, realiza em seus itinerários, rotas que engloba quase toda a cidade, 
passível de visualização nos mapas 11 e 129. 
 
Quadro8 - Ordem de serviço operacional das linhas de 
transporte público que circulam nas ruas Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte – 2016 
Linha Bairros Empresa 
64A43 Nova Natal / Candelária - Via Praia do Meio Guanabara 
02 Gramoré/Mirassol Guanabara 
81 Vila Verde / Petrópolis - Via Ponte Newton Navarro Guanabara 
592 Soledade I/Santa Cecília Guanabara 
A Ribeira/Redinha –Via Parque das 
Dunas/Alecrim/Pajuçara/Parque das Dunas/Brasil 
Novo / Av. Dr. João Medeiros Filho 
Reunidas 
 
ORDEM SE SERVIÇO OPERACIONAL DAS LINHAS DE TRANSPORTE 
PÚBLICO QUE CIRCULAM NA RUA BOA SORTE 
Linha Bairros Empresa 
07 Alvorada IV/Cidade Jardim – Via Av. Paulistana 
Urbana/Av. Bernardo Vieira/Natal Shopping/Av. Boa 
Sorte 
Reunidas 
27 Alvorada IV/Ribeira – Via Alecrim/Av. Boa Sorte/Av. 
Paulistana/Alecrim/Av. Rio Branco 
Reunidas 
 
9 Em virtude de os mapas terem escala de 1/3200, tornou-se inviável a sua visualização em detalhes. 
No entanto, os mesmos possibilitam a interpretação do potencial de abrangência territorial de 
consumo das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte 
167 
 
 
68 Alvorada IV/Petrópolis Av. Bernardo Vieira/Midway 
Mall/Av. Alexandrino de Alencar/Av. Hermes da 
Fonseca/Praça Cívica 
Reunidas 
600 Circular Norte Fácil Parque dos 
Coqueiros/Santarém/Norte Shopping 
Guanabara e 
Cidade do 
Natal 
 
ORDEM SE SERVIÇO OPERACIONAL DAS LINHAS DE TRANSPORTE 
PÚBLICO QUE CIRCULAM NA RUA CHEGANÇA 
Linha Bairros Empresa 
01 A Cidade da Esperança/Gramoré – Via Parque dos 
Coqueiros 
Guanabara 
10-29 Nova Natal/Nova Descoberta Via Campus Guanabara 
64 Nova Natal/Petrópolis Guanabara 
64 A – 43 Nova Natal/Candelária – Via Praia do Meio Guanabara 
Fonte: Guanabara, 2017 
 
Nas três ruas, a articulação de algumas linhas ocorre apenas na Zona Norte, 
como é o caso da 592 (Pompéia) e 600 (Boa Sorte), enquanto as demais circulam 
em quase toda a Natal. A este respeito pode-se citar a linha 64A43, cujo ponto de 
partida é o Bairro de Nova Natal na Zona Norte, com sentido à Zona Sul e retorna 
pela Zona Leste. Esta mesma linha acessa a Chegança e também a Pompéia, 
provendo a integração comercial das duas ruas. 
As três zonas administrativas mencionadas também fazem parte do percurso 
executado pelo 10-29, cuja importância ultrapassa a razão comercial visto que esta 
linha é a única, dentre as que abrangem as ruas estudadas, a ter a UFRN 
incorporada a sua rota, trazendo para a instituição estudantes e funcionários que 
residem, não somente na Zona Norte, mas também em Candelária e Praia do Meio. 
Os itinerários apresentados apontam para uma maior integração da cidade, 
facilitando o acesso às ruas pela maior mobilidade proporcionada e, desta forma, 
paulatinamente as ruas estudadas vão se apresentado no cenário comercial da 
cidade do Natal. Como foi explicitado na segunda seção, o comércio desenvolvido 
nestas ruas já não apresenta uma endogenia acentuada por servir também às 
pessoas que habitam em outras partes da cidade. Mesmo assim, é válido ressaltar a 
função social que o comércio na Pompéia, Chegança e Boa Sorte assume no 
contexto da Zona Norte, questão a ser discutida na sequência. 
 
168 
 
 
Mapa 11 - Abrangência territorial das linhas de ônibus que 
circulam nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte 
 
 
 
 
Fonte: Sistema de Transporte Público de Passageiros do Município do Natal 
– STPP, 2012. 
169 
 
 
Mapa 12 - Abrangência territorial das linhas de ônibus que circulam nas ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte no âmbito da Zona Norte de Natal/RN 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Sistema de Transporte Público de Passageiros do Município do Natal – STPP, 2012. 
170 
 
 
4.3. A FUNÇÃO SOCIAL DO COMÉCIO NAS RUAS POMPÉIA, BOA SORTE E 
CHEGANÇA 
 
O comércio constitui-se numa atividade importante para a reprodução do 
capital. Ele fornece suporte aos ramos da economia no que concerne à produção, 
distribuição e consumo de mercadorias e se dinamiza com a inserção, inclusive, de 
novas frentes tecnológicas como inovadoras estratégias de reprodução. Na escala 
da cidade, as inovações tecnológicas aplicadas ao comércio, repercutem nas 
práticas de consumo pela população, assim como na possibilidade de mudança 
locacional de atividades como, por exemplo no comércio varejista. 
Compreendo-a além da sua conjuntura econômica, a atividade comercial 
também desenvolve uma função social junto ao seu público beneficiário. Dentre os 
atributos da função social do comércio estão: geração renda e compatibilidade com 
os interesses comunitários locais. Por esta perspectiva, o comércio está relacionado 
aos sujeitos partícipes da atividade, tanto no que se refere ao comerciante diante da 
possibilidade de garantir, senão total, mas parcial, o sustento da família, quanto ao 
consumidor diretamente relacionado ao perfil do comércio pretendido. 
No que se refere ao comércio das ruas estudadas, a função social engloba as 
características supracitadas com uma dimensão ainda peculiar relacionada à 
manutenção de práticas de gestão familiar, a fixação de sociabilidade com o 
consumidor e ainda a aproximação física da população atendida. 
Do ponto de vista dessa aproximação, os comerciantes das ruas estudadas 
relacionaram o local de suas moradias com os motivos de fixação do 
estabelecimento comercial. Dentre os motivos está a pouca distância física entre o 
comércio e a sua residência, conforme expressa o gráfico 20. Morar perto do 
comércio significa, não somente para o comerciante, mas também para o 
consumidor, uma série de benefícios dentre eles diminuir custos com transporte, 
evitar trânsito e otimizar tempo durante o deslocamento de casa para o trabalho, 
quando necessário. 
 
 
 
 
 
171 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O comércio desenvolvido nestas ruas, apresenta uma função social, visto que 
o contato mais próximo entre comerciante e consumidor repercute em práticas 
saudáveis de socialização com troca de experiências e até a criação de vínculos de 
amizade. Outrossim, pode-se mencionar a fidelidade e a confiança estabelecida 
entre ambos por meio, por exemplo, da venda utilizando a caderneta como 
instrumento de garantia da relação de compra e venda e, portanto, garantia de 
pagamento. As características elencadas são típicas do comércio tradicional 
desenvolvido nas ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte. Trata-se de uma atividade 
desvencilhada do autosserviço e que se reproduz com base nas ações cotidianas de 
seus envolvidos. 
Também é característico do comércio tradicional o estabelecimento do 
pequeno comércio na própria residência do comerciante. Este fenômeno confere à 
residência uma dupla função: o lugar da moradia e do desenvolvimento do ofício 
cotidiano. Com isto as atividades geralmente executadas na rua passam a ser 
agregadas à residência de forma que se estabeleça uma relação entre a casa, 
enquanto lugar de descanso, e a rua, enquanto espaço de passagem ou de trabalho. 
Este cenário que se reproduz de forma ainda mais contundente, em períodos de 
Gráfico 20 - Lugar de moradia do comerciante - Pompéia, Chegança e 
Boa Sorte - 2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
172 
 
 
crise quando se torna pertinente à imposição do pensamento acerca da realidade 
contida da relação casa/rua. A este respeito Damatta (1997), ao discorrer sobre a 
vida em sociedade e o sentido da casa e do trabalho para a sociedade brasileira, 
explica melhor a relação casa/rua. O autor compreende que, quando a casa se 
transforma para receber a atividade comercial, isto significa que os donos são os 
próprios patrões do estabelecimento e seus filhos, seus funcionários e que, nestes 
casos, está cada vez mais difícil dissociar categoricamente casa e rua. Para o autor, 
não existe oposição entre ambas, visto que a rua pode servir de moradia em alguns 
casos, enquanto, em outros, a vida na rua é levada para o convíviodo lar, como é o 
caso da atividade comercial. Desta forma, casa e rua tem uma dinâmica “na 
dramaticidade dos espaços brasileiros, rua e casa se reproduzem mutuamente” 
(DAMATTA, 1997, p. 55). 
Dito isto, outras particularidades que reforçam tendências futuras podem ser 
discutidas a partir das informações apresentadas no gráfico 20. No que se refere à 
Rua Boa Sorte, no tocante à justaposição conferida entre estabelecimento comercial 
e residência, 32% dos comerciantes moram na rua onde o comércio se desenvolve, 
reafirmando o quão expressivo é o número de lojas que funcionam na própria casa 
mediante adaptação para agregar o comércio. Isto é comum na rua, em lojas de 
pequeno porte que são ajustadas para funcionar num cômodo reformado da casa e 
assim agregar valor à residência, que antes servia apenas para moradia e passou a 
gerar renda. Essa adaptação apresenta dois aspectos importantes: um diz respeito à 
proximidade do ambiente de trabalho ao de moradia e o outro refere-se ao valor 
agregado à rua, enquanto espaço de consonância destas duas funções de forma 
que, mesmo após o fechamento das lojas no final do turno de trabalho, a rua não 
perde o seu sentido de reprodução social, ao contrário permanece ativa pela vida 
que nela se reproduz. 
No caso da Pompéia, torna-se evidente o grande percentual de comerciantes 
que mora nos bairros Pajuçara ou Potengi em detrimento do reduzido percentual de 
residência na própria rua, como já fora observado na segunda seção quando, no 
momento da descrição do comércio, evidenciou-se a sua expressiva dinâmica 
comercial em detrimento da moradia. Já no que se refere a Rua Chegança, o 
percentual de comerciante que mora no Bairro Lagoa Azul está muito próximo 
daquele que expressa as moradias em outros bairros. Faz-se pertinente o 
esclarecimento de que, mesmo aqueles comerciantes que responderam morar em 
173 
 
 
outro bairro da cidade, se referem, na grande maioria, a outros bairros da própria 
Zona Norte. 
O comércio destas ruas assume importante papel social ao gerar renda para 
o comerciante que, na grande maioria, mora no entorno da rua e ainda atende a 
população eminentemente do lugar. Nas três ruas estudadas, a clientela é 
predominantemente do bairro em que o comércio se localiza, de acordo com o 
expresso no gráfico 21, mediante questionamento ao comércio acerca do lugar de 
moradia dos consumidores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O lugar da moradia exerce influência na escolha do lugar de consumo. O caso 
do gráfico 21 ter apontado predominância de origem da clientela nas próprias ruas 
citadas, ou mesmo nos bairros de sua localização e em outros bairros da Zona 
Norte, denota a importância deste comércio para a referida área, uma vez que a 
intensa atividade desenvolvida nas ruas é um fator de dinamização da economia da 
Zona Norte no tocante à geração de renda e aumento no potencial de consumo da 
população beneficiada. 
O comércio da Pompéia, Chegança e Boa Sorte torna-se atrativo fisicamente 
e socialmente para o consumidor porque oportuniza a realização de compras 
Gráfico 21 - Origem da Clientela – Pompéia, Chegança e Boa Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
174 
 
 
próximo da residência, anulando a necessidade de enfrentar transtornos urbanos, 
como deslocamento para outras áreas da cidade, e também pela oferta de 
mercadorias acessíveis economicamente que suprem à necessidade de consumo 
local. Portanto, os consumidores das ruas estudadas apontam a proximidade como 
fator de extrema importância na hora de escolher onde realizar suas compras. 
Conforme observado no gráfico 22, a maioria dos entrevistados foi categórica em 
responder que a escolha das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte como lugar de 
consumo se justifica pelo fato destas estarem localizadas próximo de suas 
residências. Dessa forma, pode-se constatar o quanto é expressiva a influência da 
proximidade nas escolhas de local de compra pelos consumidores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A escolha por fazer compras nas ruas ainda pode ser explicada por vários 
motivos, como exemplo o fato do comerciante ser conhecedor do seu público 
consumidor, não apenas no tocante ao conhecimento dos seus desejos de compra, 
mas pela interação entre ambos de forma a compartilharem experiências cotidianas. 
Dito isto, compreende-se que, no desenrolar das práticas espaciais concretizadas 
Gráfico 22 - Motivo de escolha do consumidor para fazer compras – 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte/2016 
Fonte: Elaboração da autora, 2016. 
 
175 
 
 
nos espaços das ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, se desenham as ações do 
dia-a-dia de comerciantes e consumidores. 
Com base na realidade elucidada, pode-se inferir que o comércio das ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte se configuram como o lugar do consumo guiado 
pela própria vida cotidiana. Ao falar sobre o estatuto miraculoso do consumo e o 
mito do cargueiro, Baudrillard (2010) expressa que a força vital que impulsiona o 
consumo é compartilhada pelas pessoas como um receptáculo de sonhos e 
realizações e que a cotidianidade significa a dissociação da práxis total numa esfera 
abstrata e sedutora. Para o autor (2010, p.22) “é o pensamento mágico que governa 
o consumo, é uma mentalidade sensível ao miraculoso que rege a vida cotidiana, é 
a mentalidade primitiva, no sentido em que foi definida como baseada na crença na 
omnipotência dos signos”. A discussão tecida pelo autor favorece a compreensão do 
consumo exercido nas ruas como resultante das ações cotidianas mediante os 
desejos e as necessidades que se criam no lugar. 
Para dar maior nitidez à compreensão do cotidiano, buscou-se em Lefebvre 
(1991, p.20), a compreensão do conceito e sua relação com as construções sociais. 
O referido autor entende essa relação como “(...) um momento composto de 
momentos (necessidades, trabalho, diversão-produtos e obras-passividade e 
criatividade-meios e finalidade, etc) interação dialética da qual seria impossível não 
partir para realizar o possível (a totalidade dos possíveis) ”. Para este filósofo, de 
forma generalizada, o cotidiano compõe-se de repetições, de movimentos 
mecânicos das horas, dias e anos. 
 
É no cotidiano que as pessoas vivem e moram, bem ou mal. “É no cotidiano 
que elas ganham ou deixam de ganhar suas vidas, num duplo sentido: não 
sobreviver ou sobreviver, apenas sobreviver ou viver plenamente. É no 
cotidiano que se tem prazer ou sofre. Aqui e agora” (LEFEBVRE, 1999, 
p.27). 
 
Já o sociólogo alemão Norbert Elias, em seus estudos sobre a vida cotidiana 
no tocante aos aspectos comportamentais, analisou o cotidiano de um grupo juvenil 
numa comunidade inglesa e discorreu sobre aspectos das transformações dos 
costumes da Idade Média e da Moderna. A discussão traçada na corrente pesquisa 
se aproximou deste sociólogo a partir da apropriação teórica feita por Medeiros 
(2007) acerca do cotidiano quando faz uma discussão sobre a ideia de relações de 
poder entre os indivíduos. Essa discussão contempla a categoria de cotidiano 
176 
 
 
levando em consideração que “as ações cotidianas compõem um campo 
extremamente frutífero para o desenvolvimento das relações sociais e, 
consequentemente, de estudos sobre a sociedade” (MEDEIROS, 2007, p.177). 
Porém, ainda é salutar ao trabalho desenvolvido, a compreensão de cotidiano 
efetuada por Medeiros (2007) a partir do pensamento de Heller (1972) segundo o 
qual: 
 
(...) a vida de todos os dias e de todos os homens em qualquer época 
histórica que possamos analisar. Segundo a autora, não existe vida humana 
sem o cotidiano e sem cotidianidade. As atividades do dia a dia promovem a 
reprodução do indivíduo singular e, por consequência, a reprodução do 
social. A condição humana, desta forma, depende do cotidiano, porém, não 
se limita a ele, pois nessa relação estão presentes, sobretudo, a 
intersubjetividade dossujeitos, os significados do mundo e as instituições 
que ordenam a experiência do vivido. (Heller, 1972, apud Medeiros, 2007, 
p.58). 
 
 Estes referenciais permitem afirmar que o cotidiano no espaço das ruas é 
fruto de uma prática frequente de relações sociais e comerciais entre comerciante e 
consumidor, favorecida sobremaneira pela proximidade. A proximidade favorece a 
criação de um conjunto de relações entre as pessoas que compartilham 
experiências comerciais no lugar, criando laços profundos de identidade, de 
solidariedade. 
Essa proximidade da atividade comercial também é decorrente dos novos 
padrões de distribuição da atividade comercial, os quais, segundo Salgueiro (1996, 
p. 124), são marcados pela expansão da atividade nos grandes centros em direção 
à outras áreas da cidade. Assim sendo, a referida autora assinala que “os pontos 
fortes do pequeno comércio, em relação às grandes superfícies, são a proximidade 
com os consumidores e a qualidade do serviço prestado”. Desta forma, o 
atendimento especial com o consumidor, a modesta organização do 
estabelecimento com ausência de materiais como mármore, vidro, iluminação 
planejada, papel de parede e acessível disposição das mercadorias, constituem 
algumas características marcantes desse comércio que se reproduz cotidianamente 
na Pompéia, Chegança e Boa Sorte por meio de seus atuantes comerciantes e 
consumidores. 
Por este motivo, entende-se que a dimensão social do comércio das ruas 
Pompéia, Chegança e Boa Sorte se reproduz continuadamente a partir dessa 
proximidade física que é também social. Nessa mesmo linha de raciocínio, Barreta 
177 
 
 
(2012, p. 14) discute a relação entre o centro das urbes e o comércio de proximidade 
em Portugal, considerando que “(...) O conceito de comércio de proximidade retrata 
o comércio que está próximo da sua procura, não só fisicamente, mas também, e 
principalmente, social, cultural, patrimonial e … comercialmente”. Este conceito foi 
elaborado com base em outros de similar proposição como é o caso do comércio 
tradicional que também se caracteriza pela estreita relação entre comerciante e 
consumidor, atendendo também a demanda de consumo do bairro e de localidades 
vizinhas. 
O comércio de proximidade é formado por estabelecimentos que também são 
formas de animação no seu espaço de atuação porque estão próximos do cliente, 
não apenas no que concerne a sua localização, mas também estreitam as relações 
de amizade e vizinhança. A respeito, Diniz (2004) discorre sobre a função social do 
comércio de proximidade nas bodegas da cidade de Campina Grande/PB. Nas 
palavras do autor, (2004, p.131-132) o comércio de proximidade não é somente 
físico: 
 
[...]mas também a intimidade existente entre freguês e proprietário ou outro 
despachante, cria uma relação familiar. O proprietário por sua vez, coloca a 
disposição desta clientela, além dos produtos comercializados, formas 
específicas de pagamento das compras do freguês, como o fiado, tipo de 
crédito baseada na confiança dada ao freguês, para um pagamento 
posterior, que constitui um instrumento muito comum nas vendas deste tipo 
de comércio. 
 
Mais do que físico, este comércio se refere às relações que se concretizam 
nos vínculos entre comerciantes e consumidor, em que a efetivação da troca prioriza 
o encontro, o diálogo, as relações fidedignas não somente comerciais, mas de 
amizade. Desta forma, o comércio de proximidade (...) remete para a proximidade 
para com o cliente, traduzida no conhecimento das suas necessidades e desejos, na 
relação próxima estabelecida entre as partes, extravasando a mera proximidade 
física. 
Diante da importância da função social do comércio de proximidade, convém 
destacar que boa parte dos consumidores e comerciantes das ruas estudadas mora 
nas proximidades, facilitando o acesso ao comércio existente na rua, fato que 
certamente contribui para a reafirmação da atividade. Isto porque o comércio 
próximo às residências facilita a resolução de necessidades básicas como vestuário 
e alimentação fazendo com que o consumidor e até mesmo o comerciante busque 
178 
 
 
outras áreas da cidade apenas para solucionar eventuais problemas de ordem 
maior. Corrobora com essa realidade, os meios de locomoção utilizadas pelas 
pessoas que são, geralmente, a bicicleta, a motocicleta ou mesmo a pé. 
Perante a realidade em discussão, presume-se que estes dois aspectos 
basilares no cumprimento da função social do comércio de proximidade são 
fundamentais na sua composição e continuidade. Nesse sentido, também são 
elementos constituintes da (re) produção do espaço urbano de Natal, que assim 
como tantas outras cidades se reproduz por meio das contradições inerentes ao 
próprio capital. 
A partir dessas reflexões, presume-se que, as perspectivas futuras de 
reprodução da atividade comercial nas ruas estudadas, se ancora no fato de que, na 
sociedade capitalista o consumo ocupou o lugar da cadeia produtiva de modo que 
as necessidades passaram a ser mercantilizadas. Lipovetsky (2007), ao discutir o 
consumo na contemporaneidade, elucida que a vida com suas necessidades 
básicas cedeu lugar à busca da realização pessoal plena, ao hedonismo, digitais da 
sociedade do hiperconsumo como denominou Lipovetsky (2007). Neste contexto, a 
cidade se tornou o espaço de reprodução da exaltação dos fenômenos em que o 
consumidor continua guiado pelo mundo imagético propagado pela avassaladora 
publicidade divulgada nos veículos de comunicação de modo geral. 
Para o autor a nova economia-mundo não se define apenas pela lógica 
financeira, mas também pelo potencial de consumo gerador, isto é “economia do 
comprador”, Lipovetsky (2007). Desprovido de seu consciente poder de compra e 
pela crescente insatisfação pessoal e profissional, o consumidor busca sempre 
saciar as suas necessidades de consumo material incrementadas também pelo 
desejo de consumir experiências emocionais afim de experimentar o ápice da 
felicidade, de modo que a realização do prazer se torna cada vez mais objeto da 
mercantilização geradora do que o autor chama de felicidade paradoxal. E assim, no 
contexto das contradições produzidas no cotidiano, referendado pela magia do 
prazer no ato do consumo, as ruas Pompéia, Chegança e Boa Sorte, ao se 
reproduzirem, reafirmam a produção do espaço urbano de Natal ainda que, na sua 
essência, se faça presente a “felicidade paradoxal”. 
 
179 
 
 
À GUISA DE CONCLUSÃO 
 
O texto ora finalizado embasou reflexões importantes sobre a cidade e o 
comércio enquanto tributários de uma relação indissociável, e, portanto, 
imprescindível para a elaboração de qualquer análise geográfica que pretenda 
discutir o tema comércio. Essa indissociabilidade se manifesta, não só na sua 
relação de origem, mas também nos desdobramentos do processo de produção do 
espaço de tal modo, encaminha-se algumas ideias que não colocam um ponto final 
na discussão feita ao longo dessa dissertação, mas aponta para questões 
importantes a serem consideradas, ao mesmo tempo que demarca possibilidades de 
pesquisas futuras. 
Reporta-se à indissociabilidade do binômio cidade-comércio, que se expressa 
empiricizado na cidade do Natal já em períodos pretéritos, desde à Segunda Guerra 
Mundial, quando a chegada de militares americanos e o grande contingente 
populacional vindo do inteiro do estado faz a cidade crescer. Esse crescimento faz 
emergir novas necessidades de consumo, até a expansão da cidade em direção à 
Zona Norte, situação que conduziu ao crescimento da atividade de comércio. Desta 
forma, pode-se empreender que o comércio cresceu e se desenvolveu seguindo o 
percurso de expansão da cidade. 
Em conformidade com o procedimento teórico metodológico do método 
regressivo-progressivo adotado, a descrição acerca da atividade comercial em Natal 
por Zona Administrativa, especialmente no tocante ao comércio das ruas Pompéia, 
Chegançae Boa Sorte (segunda seção), suscitou compreensões ratificadoras da 
relação cidade e comércio. Percebeu-que que a atividade comercial e de serviços 
em Natal apresenta-se substancialmente correlacionada com a produção do espaço 
na cidade, por Zona Administrativa. 
A Zona Leste detém a referência de comércio tradicional popular da cidade, 
por nela se encontrar localizada os bairros Alecrim, Cidade Alta e Ribeira, núcleo de 
ocupação inicial da cidade. Ainda se referindo à Zona Leste, existem lojas de 
marcas reconhecidas no Bairro de Petrópolis. Este, juntamente com Tirol, 
concentram a maioria dos serviços de saúde ofertados pela cidade. 
A Zona Oeste tem um comércio pouco expressivo quanto à equipamentos de 
grande porte, dispondo de pequenos estabelecimentos do varejo e do atacado. 
Todavia, esta porção dispõe de serviços de transporte importantes em escala 
180 
 
 
urbana e interurbana como é o caso da rodoviária, do DETRAN e algumas empresas 
de ônibus. A Zona Oeste também dispõe de serviços como o Hospital de doenças 
infectocontagiosas Giselda Trigueiro e alguns hospitais de oncologia de Natal. 
A Zona Sul é referência em termos de varejo moderno, sendo a precursora do 
surgimento e expansão deste segmento para o restante da cidade. Também 
ressalta-se sua importância no que se refere à concentração de grandes centros 
comerciais como shopping centers, hipermercados e supermercados. A Zona Sul 
possui o metro quadrado mais caro da cidade em função, não apenas da sua 
majoritária ocupação por conjuntos habitacionais de alto padrão, mas também do 
seu comércio e de serviços importantes como a Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte, que atrai cada vez mais pessoas e serviços para esta porção da cidade. 
Já na Zona Norte, referência espacial da pesquisa, existem duas lógicas de 
ocupação do solo urbano bem definidas: conjuntos habitacionais e loteamentos. No 
contexto dessas duas lógicas, sobressaem dois tipos de comércio marcantes: o 
comércio moderno e o comércio tradicional. O primeiro está localizado 
principalmente nos principais eixos articuladores da cidade e o segundo tem maior 
expressividade em corredores secundários, como é o caso das ruas Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte. Nestas ruas desenvolve-se um comércio resultado da 
reprodução da vida que nelas surgiu. 
Ao se debruçar sobre os fatores de surgimento das ruas estudadas e o 
comércio nelas existente, a terceira seção resgatou a história do lugar contida na 
memória dos primeiros moradores, consumidores ou comerciantes. Através da 
investigação empreendida com a análise de conteúdo ficou claro que o surgimento 
das ruas esteve intrinsecamente relacionado a ocupação via conjuntos habitacionais 
e também loteamentos com a finalidade de amenizar a carência por moradia na 
cidade do Natal. No entanto, em virtude da pouca conexão da Zona Norte com o 
restante da cidade e pela própria condição socioeconômica dos moradores, fez-se 
necessário o surgimento de alguns estabelecimentos comerciais para a satisfação 
de suas necessidades. No curso desse processo, os estabelecimentos foram 
mudando a paisagem destas ruas, tornando-as eminentemente comerciais. 
 Desde a sua origem até os dias de hoje, o comércio nas ruas citadas tem se 
conformado numa prática de iniciativa local e espontânea. A maioria da população 
beneficiada é a dos bairros onde se localizam os estabelecimentos ou próximos, 
denotando a função social desta atividade no âmbito da Zona Norte. Além de 
181 
 
 
atender à demanda de consumo predominantemente local, o comércio da Pompéia, 
Chegança e Boa Sorte ainda se constituiu nua fonte de renda não só para 
comerciantes, mas também para pessoas que atuam na atividade, mesmo sabendo 
que esta é de base familiar. 
Sendo então um comércio familiar, tradicional e com caráter de proximidade, 
esta atividade assume uma função social importante no contexto de sua localização. 
Isto ocorre em virtude deste comércio atender às demandas dos consumidores, mas 
também pelo significado na construção da sociabilidade e vivências no lugar. 
A pesquisa mostrou que o comércio destas ruas apresenta tendências de 
crescimento, mesmo diante do cenário econômico que o Rio Grande do Norte, junto 
com o restante do país vivenciam. A expansão deste comércio é, na realidade, uma 
resposta ao aumento populacional apresentado pela Zona Norte, denotando desta 
forma, que a cidade e comércio estão intimamente relacionados. 
À busca pelas mercadorias ofertadas nestas ruas anuncia um cenário 
crescente em virtude, não somente do perfil popular, mas também porque trata-se 
de um comércio que atende a uma dimensão que regula a própria reprodução da 
vida: a aparência; o parecer, o imitar na contemporaneidade que significa, não 
apenas uma expressão do consumo pelo consumo, mas também a mercantilização 
das necessidades, mesmo que estas, no contexto da sociedade do hiperconsumo, 
se configurem além do mundo material. 
Que estas últimas linhas não signifiquem o encerramento desta pesquisa, 
posto que a ciência jamais se encontrará pronta e acabada. Que o termo “ À guisa 
de conclusão” se resuma apenas a uma exigência acadêmica e que esta 
investigação, portanto, possa ter continuidade nas mãos de outras mentes inquietas 
interessadas no objeto de estudo proposto. Que assim como as questões suscitadas 
durante a pesquisa, outras mais possam se desdobrar até que novos trabalhos 
possam ser gerados. Que este produto acadêmico sirva de intermediário para outros 
questionamentos e que, assim como a pesquisa sempre se renova, que novos 
leitores do espaço geográfico e de outras ciências possam colaborar com esta. 
 
 
 
 
182 
 
 
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PAULA, Joseara Lima de. A dinâmica territorial do comércio varejista moderno 
da Zona Norte de Natal/RN. 2010. 198 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de 
Geografia, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, Natal, 2010. Cap. 5. Disponível em: 
<http://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/123456789/18911/1/JosearaLP_DISS
ERT.pdf>. Acesso em: 5 maio 2015. 
 
PINTAUDI, Silvana Maria. A cidade e as formas do comércio. IN CARLOS, Ana Fani 
Alessandri; DAMIANI, Amélia Luisa; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de, CONTI, José 
Bueno; ROSS, Jurandy Luciano Sanches, COLTRINARI, Lylian; PONTUSCA, Nídia 
Nacib, LENCIONI, Sandra, PINTAUDI, Silvana Maria (Orgs.). Novos caminhos da 
geografia, Contexto, São Paulo, 1999. 
 
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estratégias de localização. In: PINTAUDI, Silvana Maria; FRÚGOLI JR. Heitor 
(Coord.). Shopping centers: espaço, cultura e modernidade nas cidades brasileiras. 
São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), 1992. 
 
PIRENE, Henri. Les Villes du Moyen Age. Paris, PUF, 1992 
 
PLATT, Richard. Pompéia. 2011. Disponível em: 
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POCHMANN, M. O emprego na globalização: a nova divisão internacional do 
trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu. São Paulo: Boitempo, 2001. 
 
_____________. O trabalho na crise econômica no Brasil: primeiros sinais. 
Estudos 
Avançados. v.23, n.66, p.41-52, 2009. 
 
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Henri Lefebvre.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2017. 
 
RODRIGUES, Arlete Miysés. Moradia nas cidades brasileiras. São Paulo: 
Contexto, 1989. 72 p. 
 
SALGUEIRO, Teresa Barata. Do comércio à distribuição: roteiro de uma mudança. 
Oeiras: Celta Editora, 1996. 
 
SANTOS, Claudio Ressureição dos. Shopping popular Feiraguai: estudos sobre a 
produção de um espaço de comércio em Feira de Santana - BA. 2016. 220 f. Tese 
(Doutorado) - Curso de Geografia, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, 
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2016. Cap. 4. Disponível em: 
<http://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/139453/santos_cr_dr_rcla.pdf?se
quence=5>. Acesso em: 10 dez. 2016. 
 
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2008. 
 
______________. A Urbanização Brasileira. 5. ed. São Paulo: Editora da 
Universidade de São Paulo, 2008. 176 p 
 
SEBRAE. Roupas em alta. 2014. Disponível em: 
<http://www.sebraesp.com.br/arquivos_site/noticias/revista_conexao/conexao_39>. 
Acesso em: 10 fev. 2016. 
 
SEMURB. Anuário estatístico de Natal 2015. Natal: Prefeitura de Natal, 2015 
Disponível em: <http://natal.rn.gov.br/semurb/páginas/ctd-102.html>. Acesso em: 12 
jan. 2017. 
 
____________Anuário estatístico de Natal 2014. Natal: Prefeitura de Natal, 2014. 
Disponível em: <https://www.google.com.br/webhp?sourceid=chrome-
instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=anuário semurb>. Acesso em: 10 mar. 2016 
 
 _____________Anuário Natal 2011-2012. Natal, 2012. 399 p. 
 
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espaços de pobreza na periferia Norte de Natal – RN. 2003. 209 f. Dissertação 
(Mestrado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande 
do Norte, Natal, 2003. Disponível em: <file:///C:/Users/Rita/Downloads/Dissertação 
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189 
 
 
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Porto, 2011. 248 p. Disponível em: <http://geral.leya.com.br/pt/obras-de-
referencia/citacoes-e-pensamentos-fernando-pessoa/>. Acesso em: 8 out. 2016. 
 
SOUZA, Itamar de. Nova História de Natal. 2 ed. Natal: Departamento Estadual de 
Imprensa, 2008. 
 
SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa sócio-
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SPOSITO, Maria da Encarnação Beltrão. A produção do espaço urbano: escalas, 
diferenças e desigualdades socioespaciais. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; 
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do espaço urbano: Agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 
2016. Cap. 7. p. 123-145. 
 
SVENDSEN, Lars. Moda uma filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 
 
Tarde, Gabriel (s.d), As leis da imitação, Porto, Rés, s/d. 
 
TAVARES, Maria Augusta. Os fios (in)visíveis da produção 
capitalista: informalidade e precarização do trabalho. São Paulo: Cortez, 2004. 
 
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VIEIRA, Sidney Gonçalves. O centro vive o espetáculo da revalorização do 
centro de São Paulo: sobrevivência do capitalismo e apropriação do espaço. 2002. 
546 f. Tese (Doutorado) - Curso de Geografia, Geografia, Universidade Estadual 
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e0!7i13312!8i6656>. Acesso em: 23 maio 2016. 
190 
 
 
APÊNDICE A - FORMULÁRIO APLICADO AO COMERCIANTE 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
FORMULÁRIO APLICADO AO COMERCIANTE 
PERFIL SÓCIOECONÔMICO 
Nº Questão Alternativas1 Idade _____ 
2 Gênero 1 – Masculino 2 – Feminino 
3 Estado civil 
1 – Solteiro (a) 
2 – Casado (a) 
3 – Divorciado (a) 
4 – Desquitado (a) 
5 – Viúvo (a) 
6 – NA 
4 Escolaridade 
1 – Analfabeto 
2 – Fundamental 
Incompleto 
3 – Fundamental Completo 
4 - Ensino Médio 
Incompleto 
5 – Ensino Médio Completo 
6 – Ensino Superior 
Incompleto 
7 – Ensino Superior 
Completo 
8 – Pós-graduação 
completa 
9 – Pós-graduação 
incompleta 
10 – NA 
5 Local de moradia 
1 – Na rua onde se localiza 
o comércio 
2 – No bairro onde se 
localiza o comércio 
3 - Em outro bairro, qual? 
______________________
_ 
4 – NA 
PERFIL COMERCIANTE 
6 
Há quanto tempo trabalha no 
comércio? 
_____ 
7 
Por qual motivo o senhor (a) 
escolheu trabalhar no 
comércio? 
 
1 – Continuidade ao 
negócio da família 
2 – Para complementar a 
renda 
3 – Aposentado (a) 
4 – Estava desempregado 
(a) 
5 – Sempre trabalhou no 
comércio 
6 – Outro __________ 7 – 
NA 
8 
Por qual motivo escolheu esta 
rua para fixar o 
estabelecimento? 
1 – Próximo da residência 
2 – Aluguel do 
estabelecimento acessível 
3 – Boa clientela 
4 – NS 
5 – Outro 
9 
Há quanto tempo tem o 
estabelecimento nesta rua? 
_____ 
10 
Já mudou o endereço do 
estabelecimento? 
1 – Sim 
2 – Não ( ) 
3 – NA 
10.1 
Se sim, onde o seu 
estabelecimento funcionava 
anteriormente? 
_____ 1 – NA 
11 O imóvel é: 
1 – Próprio 
2 – Alugado 
3 – Cedido 
4 – Arrendado 
5 – NA 
12 
Utiliza algum mecanismo de 
publicidade? 
1 - Sim 
2 - Não 
3 – NA 
12.1 Se sim, qual? 
1 – Internet 
2 – Carro de Som 
3 – Encarte 
4 – NA 
5 – Outro 
_______________ 
191 
 
 
 
13 
De onde vem a mercadoria? 
 
1 – Natal 
2 – Outra Cidade do RN 
3 – Outros Estados 
5 – Outro País 
6 – Outro 
_______________ 
7 – NA 
14 
Qual a forma de pagamento 
mais utilizada para a aquisição 
da mercadoria? 
1 – Dinheiro 
2 – Cartão 
3 – Cheque 
4 – Boleto 
5 – Nota Promissória 
6 – Outro_____ 
7 – NA 
15 
Quantos funcionários 
trabalham no 
estabelecimento? 
_____ 
15.1 Quantos são da família? _____ 
15.2 
O membro da família recebe 
remuneração? 
1 – Sim 
2 – Não 
3 – NA 
16 
Existe algum fator que 
desfavorece o comércio nesta 
rua? 
1 – Insegurança 
2 – Falta de iluminação 
3 – Falta de 
estacionamento 
4 – Falta de manutenção 
das ruas 
5 – 
Outro_________________ 
6 – NS 
7 – NA 
17 
De modo geral de onde vem 
sua clientela? 
1 – Da rua onde se localiza 
o comércio 
2 – Do bairro onde se 
localiza o comércio 
3 –De outro bairro da Zona 
Norte 
4 – De outras áreas da 
cidade 
5 – De outra cidade 
 
18 
De modo geral como o senhor 
define a sua clientela? 
1 – Fiel 
2 – Ocasional 
3 – NS 
4 – NA 
19 
Qual a frequência de acesso 
dos clientes ao 
estabelecimento? 
1 – Diariamente 
2 – Semanalmente 
3 – Quinzenalmente 
4 – Mensalmente 
5 – Semestralmente 
6 – NS 
7 – NA 
20 
Quais as formas de 
pagamento oferecidas pelo 
estabelecimento? 
 
1 – Dinheiro 
2 – Cartão 
3 – Cheque 
4 – Boleto 
5 – Nota Promissória 
6 – Caderneta 
7 – Vale alimentação 
8 – Outro, qual? 
______________________
_____ 
9 – NS 
10 – NA 
21 
Quais as formas de 
pagamento mais utilizadas 
pelos clientes? 
 
1 – Dinheiro 
2 – Cartão 
3 – Cheque 
4 – Boleto 
5 – Nota Promissória 
6 – Caderneta 
7 – Vale alimentação 
8 – Outro, qual? 
___________ 
9 – NS 
10 – NA 
22 Renda 1 – _____ 2 – NA( ) 
23 
Numa escala de 0 a 10, qual a 
nota que o (a) senhor (a) 
atribui ao crescimento do 
comércio nesta rua? 
 
______ 
 
 
 
 
 
 
 
192 
 
 
APÊNDICE B - FORMULÁRIO APLICADO AO CONSUMIDOR 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
 
FORMULÁRIO APLICADO AO CONSUMIDOR 
PERFIL SÓCIOECONÔMICO 
Nº Questão Alternativas 
1 Idade _____ 
2 Gênero 
1 – Masculino 2 – 
Feminino 
 
3 Estado civil 
1 – Solteiro (a) 
2 – Casado (a) 
3 – Divorciado (a) 
4 – Desquitado (a) 
5 – Viúvo (a) 
6 – NA 
4 Escolaridade 
1 – Analfabeto 
2 – Fundamental 
Incompleto 
3 – Fundamental Completo 
4 – Ensino Médio 
Incompleto 
5 – Ensino Médio 
Completo 
6 – Ensino Superior 
Incompleto 
7 – Ensino Superior 
Completo 
8 – Pós-graduação 
completa 
9 – Pós-graduação 
incompleta 
10 – NA 
5 Local de moradia 
1 – Na rua em questão 
2 – No bairro onde se 
localiza a rua 
3 - Em outro bairro, qual? 
______________________
_____________ 4 – NA 
6 
Há quanto tempo nesse 
local? 
_____ 
PERFIL CONSUMIDOR 
7 
Há quanto faz compras nesta 
rua? 
_____ 
8 
Por qual motivo escolheu esta 
rua para fazer compras? 
1 – Próximo da residência 
2 – Valor da mercadoria 
3 – Atendimento 
4 – Relações familiares 
5 – Forma de pagamento 
6 – Outro __________ 
7 – NS 
9 O valor da mercadoria é: 1 – Alto 2 – Regular 3 – Baixo 
10 A qualidade da mercadoria é: 
1 – Excelente 
2 – Boa 
3 – Regular 
4 – Ruim 
 
11 
Como o (a) senhor (a) avalia 
o atendimento? 
1 – Excelente 
2 – Boa 
3 – Regular 
4 – Ruim 
5 – Péssima 
6 – NA 
12 
Com que frequência o (a) 
senhor (a) faz compras nesta 
rua? 
1 – Diariamente 
2 – Semanalmente 
3 – Quinzenalmente 
4 – Mensalmente 
5 – Semestralmente 
6 – NS 
7 – NA 
13 
O (a) senhor (a) faz compras 
pela internet? 
1 – Sim 2 – Não 
193 
 
 
13.1 
Se sim, qual? 
 
1 – Eletroeletrônico 
2 – Eletrodoméstico 
3 – Vestuário e acessórios 
4 – Alimentação 
5 – Outro 
_______________ 
6 – NA 
14 
O (a) senhor (a) frequenta o 
comércio do Alecrim, Cidade 
Alta ou Ribeira 
1 – Sim 
2 – Não 
3 – NA 
 
14.1 
Com que frequência o (a) 
senhor (a) vai ao comércio do 
Alecrim, Cidade Alta ou 
Ribeira? 
1 – Diariamente 
2 – Semanalmente 
3 – Quinzenalmente 
4 – Mensalmente 
5 – Semestralmente 
6 – NS 
7 – NA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
194 
 
 
APÊNDICE C – ROTEIRO DA ENTREVISTA REALIZADA COM COMERCIANTE E 
CONSUMIDOR 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
 
QUESTÕES 
 
1. Quando e como a rua foi criada? 
2. Qual a origem do nome da rua? 
3. A rua pertence a conjunto habitacional ou loteamento? 
4. Qual o lugar de origem da população que ocupou inicialmente a rua? 
5. Quando começaram a surgir os primeiros estabelecimentos comerciais? O que 
contribuiu para o surgimento do comércio nesta rua? 
6. Na sua opinião por que o comércio começou a surgir nesta rua? 
7. A atividade comercial contribuiu para que as pessoas deixassem de morar 
nesta rua? Se sim, para onde eles foram? Se não onde eles estão? 
8. A rua é atendida por transporte público? Desde quando? Se não, depois que o 
ônibus começou a passar o senhor (a) percebeu alguma mudança no 
comércio da rua? 
9. Local de moradia? 
10. Desde quando o senhor (a) possui o estabelecimento e/ou residência nesta 
rua? 
11. O senhor poderia citar algum problema no comércio? 
12. Numa escala de 0 a 10, qual a nota que o (a) senhor (a) atribui ao crescimento 
do comércio nesta rua? 
195 
 
APÊNDICE D - PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA POMPÉIA COM BASE DOS 
FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA POMPÉIA COM BASE DOS FORMULÁRIOS 
APLICADOS/2016 
COMERCIANTE IDADE GÊNERO ESTADO 
CIVIL 
TEMPO DE TRABALHO NO 
COMÉRCIO DA POMPÉIA 
1 47 Anos Masculino Casado 30 Anos 
2 32 Anos Feminino Solteira 3 Anos 
4 51 Anos Masculino Casada 4 Meses 
5 45 Anos Feminino Casada 10 Anos 
6 35 Anos Masculino Casado 3 Anos 
7 28 Anos Feminino Solteira 4 Meses 
8 49 Anos Feminino Casada 8 Anos 
9 35 Anos Feminino Solteira 6Anos 
10 46 Anos Feminino Casada 13 Anos 
11 28 Anos Masculino Solteiro 3 Meses 
12 50 Anos Feminino Viúva 20 Anos 
13 29 Anos Masculino Casado 2 Anos 
14 36 Anos Feminino Casada 15 Anos 
15 38 Anos Masculino Casado 6 Anos 
16 46 Anos Masculino Casado 10 Anos 
17 40 Anos Feminino Casada 8 Anos 
196 
 
APÊNDICE E - PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA CHEGANÇA COM BASE 
DOS FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
 
 
PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA CHEGANÇA COM BASE DOS FORMULÁRIOS 
APLICADOS/2016 
COMERCIANTE IDADE GÊNERO ESTADO CIVIL TEMPO DE TRABALHO NO 
COMÉRCIO DA POMPÉIA 
1 57 Anos Masculino Casado 26 Anos 
2 42 Anos Masculino Casado 10 Anos 
4 48 Anos Feminino Desquitada 23 Anos 
5 26 Anos Masculino Solteiro 6 Anos 
6 40 Anos Feminino Casada 15 Anos 
7 55 Anos Masculino Casado 20 Anos 
8 33 Anos Masculino Casado 20 Anos 
9 40 Anos Masculino Casado 15 Anos 
10 35 Anos Feminino Casada 10 Anos 
11 51 Anos Feminino Desquitada 8 Anos 
12 20 Anos Masculino Solteiro 1 Semana 
13 39 Anos Masculino Casado 8 Anos 
14 33 Anos Feminino Casada 10 Anos 
15 47 Anos Feminino Casado 6 Anos 
16 46 Anos Feminino Casada 10 Anos 
17 35 Anos Masculino Solteiro 6 anos 
18 20 Anos Masculino Solteiro 1 Mês 
19 49 Anos Feminino Casada 20 Anos 
20 24 Anos Masculino Solteiro 2 Anos 
21 37 Anos Feminino Solteira 1 Ano 
22 36 Anos Feminino Casada 8 Anos 
23 49 Anos Masculino Casado 10 Anos 
24 25 Anos Masculino Solteiro 2 Meses 
25 34 Anos Masculino Divorciado 7 Anos 
26 21 Anos Masculino Casado 1 Ano 
27 23 Anos Feminino Solteira 2 Meses 
28 47 Anos Feminino Casada 8 Anos 
29 34 Anos Feminino Solteira 6 Anos 
30 44 Anos Feminino Casada 5 Anos 
31 18 Anos Masculino Solteiro 2 Semanas 
32 37 Anos Feminino Casada 5 Anos 
33 59 Anos Masculino Viúvo 25 Anos 
34 38 Anos Feminino Desquitada 2 Anos 
35 32 Anos Masculino Casado 2 Anos 
36 25 Anos Feminino Casada 8 Anos 
37 22 Anos Feminino Solteira 1 Ano 
38 23 Anos Feminino Solteira 3 Anos 
39 40 Anos Feminino Casada 10 Anos 
40 25 Anos Feminino Casada 3 Anos 
197 
 
APÊNDICE F - PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA BOA SORTE COM BASE 
DOS FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
 
 
 
 
PERFIL DO COMERCIANTE DA RUA BOA SORTE COM BASE DOS FORMULÁRIOS 
APLICADOS/2016 
COMERCIANTE IDADE GÊNERO ESTADO 
CIVIL 
TEMPO DE TRABALHO NO 
COMÉRCIO DA POMPÉIA 
1 50 Anos Feminino Casada 4 Anos 
2 30 Anos Masculino Casado 10 Anos 
4 34 Anos Feminino Casada 6 Anos 
5 35 Anos Masculino Casado 21 Anos 
6 43 Anos Masculino Casado 2 Anos 
7 40 Anos Feminino Casada 2 Anos 
8 47 Anos Feminino Casada 4 Anos 
9 46 Anos Feminino Divorciada 30 Anos 
10 36 Anos Masculino Solteiro 4 nos 
11 54 Anos Feminino Casada 8 Meses 
12 37 Anos Feminino Solteira 6 Anos 
13 24 Anos Feminino Casada 7 Anos 
14 30 Anos Feminino Desquitada 5 Anos 
15 35 Anos Feminino Casada 20 Anos 
16 30 Anos Feminino Solteira 15 Anos 
17 35 Anos Masculino Solteiro 3 Anos 
18 30 Anos Feminino Casada 2 Anos 
19 55 Anos Masculino Casado 20 Anos 
20 40 Anos Masculino Solteiro 2 Meses 
198 
 
APÊNDICE G - PERFIL DO CONSUMIDOR DAS RUAS POMPÉIA, CHEGANÇA E 
BOA SORTE COM BASE DOS FORMULÁRIOS APLICADOS/2016 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGe 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PERFIL DO CONSUMIDOR DA RUA POMPÉIA COM BASE DOS FORMULÁRIOS 
APLICADOS/2016 
COMERCIANTE IDADE GÊNERO ESTADO 
CIVIL 
TEMPO CONSUMO NO 
COMÉRCIO DA POMPÉIA 
1 26 Anos Feminino Solteira 10 Anos 
2 38 Anos Masculino Casado 8 Anos 
3 18 Anos Feminino Casada 2 Anos 
4 52 Anos Masculino Casado 10 Anos 
5 29 Anos Masculino Casado 15 Anos 
6 41 Anos Masculino Casado 8 Anos 
7 35 Anos Feminino Casada 15 Anos 
 
PERFIL DO CONSUMIDOR DA RUA CHEGANÇA COM BASE DOS FORMULÁRIOS 
APLICADOS/2016 
COMERCIANTE IDADE GÊNERO ESTADO 
CIVIL 
TEMPO CONSUMO NO 
COMÉRCIO DA POMPÉIA 
1 54 Anos Feminino Casada 10 Anos 
2 32 Anos Masculino Solteiro 10 Anos 
3 42 Anos Feminino Casada 12 Anos 
4 36 Anos Masculino Casado 3 Anos 
5 26 Anos Feminino Casada 10 Anos 
6 49 Anos Masculino Casado 4 Anos 
7 28 Anos Masculino Solteiro 3 Anos 
 
PERFIL DO CONSUMIDOR DA RUA BOA SORTE COM BASE DOS FORMULÁRIOS 
APLICADOS/2016 
COMERCIANTE IDADE GÊNERO ESTADO 
CIVIL 
TEMPO CONSUMO NO 
COMÉRCIO DA POMPÉIA 
1 41 Anos Masculino Casado 5Anos 
2 56 Anos Masculino Divorciado 30 Anos 
3 45 Anos Masculino Casado 25 Anos 
4 30 Anos Feminino Casada 16 Anos 
5 21 Anos Masculino Solteiro 3 Anos 
6 42 Anos Masculino Casado 3 Anos 
7 25 Anos Masculino Solteiro 3 Anos 
199 
 
APÊNDICE H - PERFIL DOS COMERCIANTES E/OU CONSUMIDORES DAS 
RUAS POMPÉIA, CHEGANÇA E BOA SORTE COM BASE NAS ENTREVISTAS 
REALIZADAS/2016 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES - CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PP 
 
 
 
 
 
 
 
PERFIL DO COMERCINATE E/OU CONSUMIDOR DA RUA POMPÉIA COM BASE NAS 
ENTREVISTAS REALIZADAS/2016 
ENTREVISTADOS IDADE GÊNERO ESTADO CIVIL TEMPO DE MORADIA NA 
RUA 
Comerciante 1 64 Anos Masculino Casado 34 Anos 
Funcionário 1 53 Anos Masculino Casado 31Anos 
 
PERFIL DO COMERCINATE E/OU CONSUMIDOR DA RUA CHEGANÇA COM BASE NAS 
ENTREVISTAS REALIZADAS/2016 
ENTREVISTADO IDADE GÊNERO ESTADO CIVIL TEMPO DE MORADIA NA 
RUA 
Morador 1 Anos Masculino Casada Anos 
 
PERFIL DO COMERCINATE E/OU CONSUMIDOR DA RUA BOA SORTE COM BASE NAS 
ENTREVISTAS REALIZADAS/2016 
ENTREVISTADO IDADE GÊNERO ESTADO CIVIL TEMPO DE MORADIA NA 
RUA 
Comerciante 1 45 Anos Feminino Casada 24 Anos

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