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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE LETRAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA 
 
 
 
 
VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO 
 
 
 
 
AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL / RN 
2017 
 
 
VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL 
 
 
 
 
 
 
Dissertação submetida ao Programa de 
Pós-graduação em Estudos da 
Linguagem da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte – PPgEL/UFRN, 
como requisito parcial para a obtenção do 
título de Mestre em Estudos da 
Linguagem, na área de concentração de 
Estudos Linguísticos do Texto. 
 
 
Orientador: Prof. Dr. João Gomes da 
Silva Neto 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL / RN 
2017 
 
 
VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO 
 
 
AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL 
 
Relatório de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-graduação em Estudos 
da linguagem (PPgEL), Departamento de Letras, da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como um dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em 
Estudos da Linguagem. Avaliado em ___/___/____ pela seguinte banca 
examinadora: 
 
 
___________________________________________________________________ 
Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto 
Presidente / Orientador – UFRN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profa Dra Josilete Alves Moreira de Azevedo 
Examinadora Interna – UFRN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profª Dra Maria Eliete de Queiroz 
Examinadora Externa – UERN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profa Dra Maria das Graças Soares Rodrigues 
Examinadora interna (Suplente) – UFRN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profª Drª Rosangela Alves Dos Santos Bernardino 
Examinadora Externa (Suplente) – UERN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à maior parte de mim: 
minha esposa Marília Cardoso 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Toda a minha gratidão ao autor da minha vida e razão do meu viver, Deus. 
 
Ao amor da minha vida, Marília Cardoso, que em todo o tempo está comigo. 
 
À minha família. 
 
Ao professor João Neto pela confiança e incentivo, aliás, por tudo. 
 
Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos que 
deram apoio e, em especial, ao amigo Geonilson por simplesmente tudo. 
 
Às professoras Josilete Alves e Eliete Queiroz pelas valiosíssimas 
contribuições nos exames de qualificação e de defesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Somos tão adeptos da narrativa 
que ela parece ser quase tão natural 
quanto a própria linguagem. 
Jerome Bruner 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Neste trabalho, à luz da Análise Textual dos Discursos – abordagem desenvolvida 
por Adam (2011) – propomos estudar a estrutura composicional do gênero sentença 
judicial com foco na noção de plano de texto e de sequências textuais narrativas que 
se realizam em seu relatório – parte que contém uma espécie de sinopse do 
processo. Com o objetivo principal de analisar como essas sequências ocorrem, 
procuramos identificar quais elementos textuais e discursivos são utilizados em sua 
tessitura, descrever esses elementos textuais e os seus encadeamentos na 
organização das sequências narrativas, além de interpretar o papel dessas 
sequências textuais para a estruturação e a composição do gênero. De forma mais 
ampla, nossa pesquisa está fundamentada nos pressupostos gerais da Linguística 
Textual em autores como Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 2013), 
Marcuschi (2002; 2008; 2012) entre outros. O corpus desta pesquisa é composto por 
uma sentença de natureza criminal, retirada do Banco de Sentenças do site da 
Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). Metodologicamente, essa pesquisa 
apresenta aspecto documental e se orienta pelos métodos do raciocínio indutivo e 
dedutivo, apresentando um caráter qualitativo e descritivo. Os resultados mostram 
que o relatório da sentença não se limita apenas a listar ou enumerar as ações 
praticadas pelas partes envolvidas no processo, mas possui um alto grau de 
narrativização, apresentando todos os momentos de uma sequência narrativa e que, 
em função das narrativas de nível global, existem as narrativas menores, as 
chamadas narrativas encaixadas, as quais desempenham um importante 
mecanismo de contextualização e detalhamento de ações relatadas. 
 
Palavras-chave: Análise Textual dos Discursos. Discurso jurídico. Sentença 
Judicial. Sequência Narrativa. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
In the present work, under the light of the Textual Discourse Analysis – approach 
developed by Adam (2011) – we propose to study the compositional structure of the 
genre judicial sentence, with a focus on the notion of text plan and on the narrative 
textual sequences that materialize in its report – part that contains a kind of synopsis 
of the process. With the main objective of analyzing how these sequences occur, we 
try to identify which textual and discursive elements are used in their structure, to 
describe these textual elements and their threads in the organization of narrative 
sequences, besides to interpret the function of these textual sequences for 
structuring and composition. In a broader sense, this research is grounded on the 
general propositions of the Text Linguistics in authors like Koch (1997; 1999; 2002; 
2004), Koch e Elias (2012; 2013), Marcuschi (2002; 2008; 2012) among others. The 
corpus of this research is composed of a single sentence of a criminal nature, 
extracted from the Sentence Database of the Federal Justice of Rio Grande do Norte 
(JFRN) website. Regarding the applied methodology, the present research is of 
documental nature, whilst guided by an inductive-deductive reasoning and being of a 
qualitative and descriptive character. Methodologically, this research presents a 
documentary aspect and is guided by the methods of inductive and deductive 
reasoning, presenting a qualitative and descriptive character. Results indicate that 
the sentence report does not limit itself only to the listing and enumerating of the 
actions put into practice by the concerned parties throughout the legal process, but 
that it possess a high level of narrativization, displaying all components of a narrative 
sequence. And, because of the narratives at the global level, there are the smaller 
narratives, the so-called embedded narratives, which play an important 
contextualization and detailing mechanism of reported actions. 
 
Keywords: Discourse Textual Analysis. Legal discourse. Narrative textual sequence. 
Judicial sentence. 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
ADF Análise do Discurso Francesa 
ATD Análise Textual dos Discursos 
CPC Código do Processo Civil 
CPP Código do Processo Penal 
GPATD Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos 
JFRN Justiça Federal do Rio Grande do Norte 
L Linha(s) 
LT Linguística de Texto 
MPF Ministério Público Federal 
N Narrativa(s) 
NE Narrativa(s) encaixada(s) 
PF Polícia Federal 
PPgEL Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem 
Pn0 Entrada prefácio 
Pn1 Situação inicial (Orientação) 
Pn2 Nó (Desencadeador) 
Pn3 Re-ação ou Avaliação 
Pn4 Desenlace 
Pn5 Situação final 
PnΩ Avaliação final ou Moralidade 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS E ESQUEMAS 
 
 
Figura 1 Esquema 4 – Níveis ou planos de análise de discurso e níveis 
ou planos da análise textual.......................................................... 
 
46 
Figura 2 Esquema18 – Limites e núcleo do processo narrativo................. 60 
Figura 3 Esquema 19 – Relações simétricas entre as macroproposições 
narrativas...................................................................................... 
 
64 
Figura 4 Esquema 20 – Estrutura narrativa complexa................................ 65 
Figura 5 Relações simétricas na NE1......................................................... 91 
Figura 6 Marcadores linguísticos da Pn2 e da Pn4 da N1.......................... 96 
Esquema 1 Estrutura composicional do relatório da sentença estudada......... 119 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da primeira 
busca............................................................................................ 
 
72 
Quadro 2 Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da segunda 
busca............................................................................................ 
 
72 
Quadro 3 Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da terceira 
busca............................................................................................ 
 
73 
Quadro 4 Plano de texto.............................................................................. 79 
Quadro 5 Plano de texto e transcrição do relatório da sentença................. 80 
Quadro 6 Narrativa global de JGL (N1)....................................................... 84 
Quadro 7 Narrativas encaixadas na Situação inicial da narrativa 1............ 86 
Quadro 8 Narrativa encaixada 1(NE1) : a primeira condenação de JGL.... 88 
Quadro 9 Narrativa encaixada 2 (NE2) : a segunda condenação de JGL.. 92 
Quadro 10 Resumo da N1............................................................................. 96 
Quadro 11 Narrativa global de GPS (N2)...................................................... 97 
Quadro 12 Narrativa encaixada 3 (NE3): a primeira condenação de GPS... 100 
Quadro 13 Narrativa encaixada 4 (NE4): a última prisão e fuga de GPS...... 104 
Quadro 14 Resumo da N2............................................................................. 108 
Quadro 15 Narrativa global de WPS (N3)...................................................... 109 
Quadro 16 Narrativa encaixada 5 (NE5)........................................................ 112 
Quadro 17 Resumo das ocorrências narradas no relatório........................... 117 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 CAPÍTULO I............................................................................................ 14 
 
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 14 
 
 CAPÍTULO II .......................................................................................... 19 
 
2 ESTADO DA ARTE................................................................................ 19 
2.1 ESTUDO SOBRE A SEQUÊNCIA TEXTUAL NARRATIVA................... 19 
2.2 A SENTENÇA JUDICIAL........................................................................ 25 
2.3 ESTUDOS LINGUÍSTICOS SOBRE O GÊNERO SENTENÇA 
JUDICIAL................................................................................................ 
 
30 
 
 CAPÍTULO III ......................................................................................... 36 
 
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................. 36 
3.1 LINGUÍSTICA TEXTUAL......................................................................... 36 
3.1.1 Estudos da Linguística Textual no Brasil........................................... 42 
3.2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS................................................. 44 
3.2.1 Estrutura composicional: planos de textos........................................ 47 
3.2.2 Noção de sequências textuais............................................................. 49 
3.2.2.1 A sequência textual narrativa.................................................................. 52 
 
 CAPÍTULO IV ......................................................................................... 69 
 
4 METODOLOGIA..................................................................................... 69 
4.1 NATUREZA DA PESQUISA.................................................................... 69 
4.2 SELEÇÃO DO CORPUS......................................................................... 71 
4.3 CATEGORIAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE.............................. 74 
 
 
 
 
 
 
 CAPÍTULO V .......................................................................................... 77 
 
5 ANÁLISE................................................................................................. 77 
5.1 O ESTABELECIMENTO DO TEXTO...................................................... 77 
5.2 O PLANO DE TEXTO............................................................................. 79 
5.3 O RELATÓRIO........................................................................................ 80 
5.4 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 1 (N1)................................. 
 
83 
5.4.1 Narrativa encaixada 1 (NE1)................................................................. 86 
5.4.2 Narrativa encaixada 2 (NE2)................................................................. 91 
5.4.3 Continuação da análise da narrativa global 1 (N1)............................ 94 
5.5 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 2 (N2).................................. 
 
97 
5.5.1 Narrativa encaixada 3 (NE3)................................................................. 99 
5.5.2 Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Nó e a Re-
ação........................................................................................................ 
 
102 
5.5.3 Narrativa encaixada 4 (NE4)................................................................. 104 
5.5.4 Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Desenlace e 
a Situação final...................................................................................... 
 
107 
5.6 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 3 (N3).................................. 
 
109 
5.6.1 Narrativa encaixada 5 (NE5)................................................................. 112 
5.7 SÍNTESE................................................................................................. 114 
 
 CAPÍTULO VI......................................................................................... 120 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 120 
 
 REFERÊNCIAS....................................................................................... 126 
 ANEXO 
 
14 
 
CAPITULO I 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Os textos oriundos da esfera jurídica possuem uma linguagem considerada 
bastante técnica e de difícil compreensão tanto por parte dos estudantes do Direito, 
quanto pelos chamados operadores do Direito e, principalmente, por parte daquelas 
pessoas que não têm familiaridade com tais textos por não fazerem parte de 
nenhum dos dois grupos anteriores. 
Uma das principais dificuldades encontradas pelas pessoas que se deparam 
com textos da esfera jurídica, de um modo geral, está em lidar com determinadas 
convenções de ordem estrutural e composicional no que se refere, principalmente, 
ao fator linguístico expresso nesses textos em forma de jargões, linguagem muito 
rebuscada e uso de arcaísmos, o que os tornam, de certa forma, restritos aos 
profissionais da área do Direito. Esses e outros fatores também de ordem linguística 
têm despertado o interesse de estudiosos de diversas áreas e de várias partes do 
Brasil, sob vários enfoques teóricos e metodológicos diferentes, como veremos mais 
adiante no capítulo do estado da arte.Esses textos oriundos da esfera jurídica que integram processos judiciais 
recebem o nome de peça e muitas dessas possuem uma configuração textual 
bastante prototípica, normatizada por documentos como o Código do Processo Civil 
(CPC) e o Código do Processo Penal (CPP), como é o caso da estrutura da 
sentença judicial, por exemplo, que é regulamentada pelos artigos 489 do CPC e 
381 do CPP. 
O gênero sentença judicial é peça integrante de um processo judicial e, como 
o próprio nome já sugere, pertence à esfera jurídica e sua finalidade específica é a 
solução de conflitos por parte do Estado. Ela é considerada o ponto máximo do 
processo decisório, ou seja, é a parte final ou o fechamento de um processo e nela o 
Estado, representado pela pessoa do juiz, deve expressar o justo (Cf. PISTORI, 
2005). 
Pelo que propõe o CPC e o CPP, a sentença possui, a priori, uma forma 
padronizada, pré-estabelecida, sendo composta, principalmente, por relatório, 
15 
 
fundamentação e decisão. E é mais precisamente na parte destinada ao relatório 
que nos debruçamos nas análises da estrutura composicional através da: 
identificação de elementos textuais e discursivos que são utilizados em sua 
tessitura; descrição desses elementos textuais e de seus encadeamentos na 
organização das sequências textuais narrativas e interpretação do papel dessas 
sequências textuais para a estruturação e a composição do gênero como um todo. 
O nosso objetivo nessa pesquisa restringe-se à análise dos aspectos 
composicionais da sentença judicial, com foco nas sequências narrativas contidas 
em seu relatório – lugar onde elas se encontram. Esse componente da sentença 
judicial é a parte destinada à síntese dos principais acontecimentos havidos no 
processo; é uma espécie de sinopse, na qual o juiz ‘relata’ o que julga relevante 
relatar para com isso conduzir seus argumentos, na parte destinada a 
fundamentação e em seguida a sua efetiva decisão no também chamado dispositivo. 
Analisamos, assim, a complexidade narrativa que se realiza nos relatórios das 
sentenças, a fim de verificar a importância dessas sequências na composição desse 
gênero e, com isso, contribuir para o entendimento da organização e estruturação 
composicional dessa importante peça processual, e também contribuir com 
pesquisas subsequentes no que se refere à abordagem e ao estudo de um gênero 
textual ainda pouco estudado fora do seu âmbito mais comum. 
Para tanto, a partir dos estudos do modelo prototípico de análise das 
macroproposições de base narrativa de Adam (2011), investigamos como ocorrem 
as sequências textuais narrativas no gênero forense sentença judicial. Ao 
previamente constatarmos que sequências textuais narrativas se realizam no interior 
das sentenças judiciais – sobretudo na parte destinada ao relatório, por motivos já 
explicitados – somos conduzidos a alguns questionamentos que, por sua vez, 
conduzem a pesquisa aos objetivos. 
Essa pesquisa é norteada pelas seguintes questões: 
 
• Como ocorrem as sequências narrativas no gênero sentença judicial? 
• Que elementos textuais e discursivos são utilizados nas estruturas que 
formam essas sequências narrativas no gênero sentença judicial? 
• Qual o papel da sequência narrativa na composição do gênero sentença 
judicial? 
 
16 
 
Assim, orientados por tais questionamentos, a pesquisa possui três objetivos 
que visam a dar conta dessas questões. 
 
• O objetivo principal é investigar como ocorrem as sequências narrativas no 
gênero sentença judicial, e para isso procuramos, mais especificamente: 
• Identificar e descrever que elementos textuais e discursivos são utilizados nas 
estruturas dessas sequências narrativas no gênero sentença judicial; 
• Interpretar qual o papel das sequências narrativas para a estruturação e 
composição do gênero sentença judicial. 
 
Essa pesquisa está fundamentada nos pressupostos gerais da Linguística 
Textual em autores como Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 
2013), Marcuschi (2002; 2006; 2008, 2012), entre outros e, mais precisamente, na 
Análise Textual dos Discursos (ATD) – uma abordagem teórica proposta pelo 
linguista francês Jean-Michel Adam (2011) – além dos trabalhos de Rodrigues, 
Passeggi e Silva Neto (2010; 2012) e Passeggi et. al. (2010) dentre outros. Sobre o 
estudo das sequências textuais narrativas, além de Adam (2011), fundamentamo-
nos também em Adam e Revaz (1997), Adam e Lorda (1999) e Adam e Heidmann 
(2011). 
No que se refere à abordagem do gênero sentença judicial, fundamentamo-
nos em obras que tratam especificamente do assunto como Santos (2011), Capez 
(2012) e Nucci (2014) – da literatura jurídica – Pistori (2005), Pimenta (2007), além 
do Código do Processo Penal (CPP) e do Código do Processo Civil (CPC). 
Metodologicamente, essa pesquisa caracteriza-se como documental e se 
orienta pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo, apresentando um caráter 
qualitativo e descritivo. 
O corpus dessa pesquisa é composto por uma única sentença judicial de 
natureza criminal, coletada do ‘Banco de Sentenças’ do site do Portal da Justiça 
Federal da 5º Região, mais precisamente, da Justiça Federal do Rio Grande do 
Norte (JFRN). Tal sentença é oriunda da 14º vara, que corresponde ao município 
de Natal – capital do estado – e trata do processo de três condenados pelo crime 
previsto no artigo 171 do Código Penal, o qual se refere ao crime de estelionato. 
Por serem três condenados, temos, nesse documento, três narrativas que ora 
17 
 
caminham individualmente, ora se entrecruzam para narrar as mesmas diligências e 
o mesmo fim para todos os criminosos. 
Acreditamos que uma abordagem dessa natureza em um gênero de tamanha 
importância na esfera jurídica pode trazer diversas implicações a respeito de sua 
estrutura composicional, no que se refere, por exemplo, aos encadeamentos das 
proposições enunciadas, assim como à organização e articulação dessas 
proposições na construção do todo do qual faz parte, o texto. 
Vale salientar que por se tratar de um documento de domínio público – que 
pode ser acessado em sites como o já mencionado e por qualquer pessoa sem a 
menor restrição – acreditamos que esse estudo pode trazer contribuições: para a 
compreensão do funcionamento desse documento enquanto peça processual para 
os interessados no assunto; esse estudo pode trazer mais esclarecimentos a 
respeito das relações existentes entre a sequência narrativa e a composição desse 
documento como um todo; pode também trazer esclarecimentos a respeito da 
função sociocomunicativa dessas sequências na sua construção, de modo que a 
aplicação dessa proposta de análise fundamentada no modelo de Adam (2011) 
também pode contribuir para estudos futuros sobre a aplicabilidade desses estudos 
sobre sequência narrativa em textos não literários, a exemplo do que propomos 
nessa pesquisa. 
Nosso trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo 
corresponde a esta introdução; na primeira seção do capítulo do estado da arte 
(2.1) fazemos um levantamento de trabalhos resultantes de pesquisas sobre a 
categoria da sequência narrativa conforme o modelo prototípico de análise das 
sequências narrativas proposto por Adam (1992; 2008; 2011) e Adam e Lorda1 
(1999); na segunda seção (2.2), definimos o gênero sentença e detalhamos sua 
composição, esclarecendo a sua relevância enquanto peça processual; e na 
terceira seção (2.3), fazemos um levantamento de trabalhos resultantes de 
pesquisas e fazemos também um levantamento sobre o gênero sentença judicial na 
perspectiva dos estudos linguísticos. 
No capítulo da fundamentação teórica (cap. 3), mostramos um sintético 
percurso histórico da evolução e consolidação da Linguística Textual como campo 
de pesquisa dos estudos linguísticos e de seu objeto de estudo (o texto), passando 
 
1 ADAM, J-M; LORDA, Clara Ubaldina.Lingüística de los textos narrativos. Barcelona: Ariel 
Lingüística, 1999. 
18 
 
para os estudos da Análise Textual dos Discursos até aos estudos da sequência 
narrativa. 
No capítulo da metodologia (cap. 4) situamos a nossa pesquisa quanto a sua 
natureza; detalhamos a seleção do corpus, assim como os procedimentos de 
análise e as categorias de análise adotados. 
No capítulo da análise (cap. 5), abordamos a estruturação composicional do 
gênero sentença judicial através da elaboração de planos de texto e de quadros de 
análises que evidenciam não só as macroproposições identificadas que formam as 
sequências textuais narrativas, como também as relações simétricas existentes 
entre essas macroproposições. 
Depois disso, apresentamos os resultados obtidos nas análises e tecemos 
comentários a respeito da abrangência da pesquisa, suas contribuições e seus 
possíveis desdobramentos em pesquisas subsequentes. Por último, apresentamos 
as referências utilizadas e citadas na pesquisa e, em anexo, a cópia digitada da 
sentença judicial selecionada como corpus dessa pesquisa. 
19 
 
CAPÍTULO II 
 
 
2 ESTADO DA ARTE 
 
 
Neste capítulo, iniciamos por conceituar, previamente, a categoria de análise 
sequência narrativa conforme o modelo prototípico de análise proposto por Adam 
(2011), situando-a nos estudos da Análise Textual dos Discursos, bem como 
apresentamos algumas pesquisas já concluídas que abordaram a referida categoria 
de análise e a suas respectivas contribuições para o estudo do texto. 
Na seção 2.2, conceituamos o gênero sentença judicial através de 
contribuições da literatura jurídica, apresentando informações de caráter mais geral 
que definem o gênero até as especificações das suas partes constitutivas e suas 
finalidades. 
Na seção 2.3, elucidamos a crescente abordagem do gênero sentença judicial 
em pesquisas de cunho linguístico e, em seguida, apresentamos algumas pesquisas 
já realizadas e suas respectivas contribuições para o estudo desse gênero. 
 
2.1 ESTUDOS SOBRE A SEQUÊNCIA TEXTUAL NARRATIVA 
 
Inserida no campo mais amplo da Análise do Discurso, a Linguística Textual 
e, mais precisamente, a Análise Textual dos Discursos, abordagem teórica 
desenvolvida por Adam (2011), vem se tornando cada vez mais conhecida no Brasil, 
sobretudo no que se refere às pesquisas realizadas sobre as sequências textuais 
(BEZERRA, BIASI-RODRIGUES e CAVALCANTE, 2009), que como constatou 
Passeggi et al. (2010, p. 263): “[...] constituem, hoje, uma categoria de análise 
consolidada e regularmente utilizada nas descrições de textos, de grande interesse 
pelas suas aplicações ao ensino de língua portuguesa e de língua estrangeira.”. 
Sobre as sequências textuais, Adam (2011) afirma que são constituídas por 
unidades mínimas de composição textual chamadas proposições, e que o conjunto 
dessas proposições, as macroproposições, que são hierarquicamente relacionadas 
e relativamente independentes, podem constituir unidades mais complexas de 
20 
 
análise: as chamadas sequências, que podem ser descritivas, dialogais, 
argumentativas, explicativas e narrativas. 
Desse modo, destacamos algumas pesquisas que foram realizadas conforme 
os pressupostos gerais da Linguística Textual e mais precisamente da Análise 
Textual dos Discursos, seguindo o modelo prototípico de análise das sequências 
textuais narrativas proposto por Adam (1992; 2008; 2011) e Adam e Lorda (1999). 
Silva (2007), em sua dissertação, analisou a ocorrência da sequência 
narrativa no gênero notícia conforme o protótipo narrativo de Adam (1992), a fim de 
verificar relações existentes entre a sequência narrativa e o gênero propriamente 
dito. 
Com um corpus composto por cinquenta (50) notícias divididas entre vinte e 
seis (26) policiais e vinte e quatro (24) não policiais – todas retiradas de periódicos 
dos jornais “O Povo” e “Folha de São Paulo” no período de setembro de 2005 a 
setembro de 2006 – a autora constatou, em sua análise, que as notícias podiam ser 
classificadas em ‘narrativas’ (todas as 26 notícias policiais e outras 8 não policiais) e 
‘expositivas’ (16 das 24 notícias não policiais), de modo que para esta classificação, 
ela utilizou-se dos pressupostos teóricos de Bronckart (1999). 
Nessa pesquisa, Silva (2007) constatou que as sequências narrativas 
presentes nas notícias apesar de não seguirem, necessariamente, a ordem 
prototípica proposta por Adam (1992), funcionaram como importantes organizadores 
textuais das notícias de cunho narrativo. Com essa pesquisa, a autora propôs uma 
importante reflexão sobre a aplicação do protótipo narrativo de Adam (1992) em um 
gênero não literário. 
A organização das sequências narrativas que estruturam os textos narrativos 
orais e escritos de produções de alunos de 3ª e 7ª séries do ensino fundamental é 
descrita e analisada com base no esquema prototípico de Adam e Lorda (1999) por 
Freitas (2009) em sua dissertação. 
Centrada na organização textual proposta por Adam e Lorda (1999), Freitas 
(2009) propôs que alunos em idades e níveis diferentes de escolaridade 
produzissem textos narrativos orais e escritos através de transposição feita pela 
leitura e compreensão de histórias em quadrinhos (HQs) de Maurício de Souza. Ao 
todo, a autora analisou trinta e duas (32) produções textuais divididas entre orais e 
escritas. 
21 
 
Para tratar da relação e da visão “não dicotômica” entre fala e escrita, a 
autora utilizou-se dos pressupostos de Marcuschi (2007), que considera tais 
modalidades em um contínuo fundadas nos gêneros textuais. Com base nos 
estudos de Perroni2 (1992), Freitas (2009) observou o processo de aquisição da 
narrativa por meio da interação verbal. E para a análise dos tempos verbais 
utilizados nas produções textuais narrativas, enquanto uma categoria da 
enunciação, Freitas fundamentou-se em Fiorin3 (2008). 
Entre as várias conclusões depreendidas ao término dessa pesquisa, Freitas 
(2009) constatou que o distanciamento entre o texto oral e o escrito mantém relação 
com o grau de escolaridade dos alunos envolvidos nas produções. Durante as 
análises, a autora também constatou que muitas das produções (tanto orais quanto 
escritas) não continham partes dessas cinco macroproposições de base narrativa, 
sobretudo, constatou a ausência da macroproposição da complicação ou do nó, que 
é o centro da narrativa. 
Oliveira (2010), em sua dissertação de mestrado, analisou quarenta e duas 
(42) produções textuais de cunho narrativo (contos populares) de alunos do 6º ano a 
fim de constatar se tais produções configuravam uma sequência narrativa conforme 
o protótipo narrativo proposto por Adam (1992; 2008) ou um script conforme o 
interacionismo sociodiscursivo (ISD) proposto por Bronckart (2007). 
A pesquisa teve como objetivo ampliar a compreensão dos alunos acerca da 
“infraestrutura” do texto narrativo, bem como esclarecer a diferença entre a 
sequência narrativa proposta por Adam (1992; 2008) e o script descrito por 
Bronckart (2007) para com isso ampliar a discussão acerca de propostas de 
produções textuais narrativas por parte de professores e propor uma reflexão teórica 
e prática capaz de nortear seus trabalhos com os alunos. 
Para obter os resultados, Oliveira (2010) utilizou-se de três categorias de 
análise, quais sejam tempos verbais, organizadores temporais e pronomes 
(BENVENISTE4, 2005; WEINRICH5, 1968; ADAM 1997; 2004; 2008; BRONCKART, 
2007). O material para análise (as produções textuais dos alunos) foi recolhido em 
 
2 PERRONI, M. C. O Desenvolvimento do discurso narrativo. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 
3
 FIORIN, J. L. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo.São Paulo: 
Ed. Ática, 2008. 
4
 BENVENISTE, Émile. As relações de tempo no verbo francês. In: Problemas de linguística geral I. 
Tradução Maria Glória Novak, Maria Luisa Neri. 5 ed. Campinas– SP: Pontes, 2005. p. 260-276. 
5 WEINRICH, Harald. Mundo comentado e mundo narrado. In: Estructura y función de los tiempos 
en lenguaje. Madrid: Gredos, 1968. p. 61-94. 
22 
 
três semanas de atividades em formato de oficinas, à luz das sequências didáticas 
propostas por Schneuwly e Dolz6 (2004), e foi dividido em produção inicial (PI) e 
produção final (PF). 
A autora concluiu que embora os alunos tivessem um conhecimento 
internalizado sobre a estrutura textual narrativa, eles não souberam fazer distinção 
entre o processo de intriga e o script, o que faz com que algumas de suas produções 
textuais fossem apenas enumerações de ações. 
Quanto às categorias adotadas para análise, Oliveira (2010) constatou que, 
nas produções textuais, os alunos utilizaram o tempo verbal adequado (pretérito 
perfeito do indicativo), mas que em alguns momentos também ocorreram alguns 
equívocos. Os organizadores temporais (segunda categoria adotada na análise) 
auxiliaram os tempos verbais com as locuções adverbiais e tiveram maior incidência 
nas produções. Na categoria pronome, as anáforas foram utilizadas para evitar 
repetições de termos; esse processo de retomada evitando repetições demonstrou, 
segundo a autora, uma noção de estruturação de ideias por parte dos alunos. 
Em sua dissertação, Santos (2011) investiga, de acordo com Hyland7 (2005a), 
como ocorrem os recursos metadiscursivos de interação na perspectiva das 
macrocategorias de engajamento (recurso metadiscursivo de interação que se 
relaciona ao modo pelo qual o escritor reconhece a presença do leitor, conduzindo-o 
através de sua argumentação, tendo em vista a interação) e de posicionamento em 
textos de sequência narrativa, ou seja, como um escritor se apresenta e se 
compromete por meio de julgamentos e opiniões. 
Como Hyland8 (2005b) teve como propósito a investigação dos recursos 
metadiscursivos de interação em textos de sequência argumentativa, a maioria dos 
estudos do metadiscurso são voltados para textos acadêmicos por ter uma 
sequência predominantemente argumentativa. Diante disso e partindo do 
pressuposto de que esse fenômeno é constituinte de qualquer texto, em sua 
pesquisa, Santos (2011) teve como um de seus objetivos principais mostrar que os 
recursos metadiscursivos de interação não ocorrem somente em textos 
argumentativos, mas também em textos de sequência predominantemente narrativa. 
 
6
 SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado 
de Letras, 2004. 
7
 HYLAND, Ken. Metadiscourse: exploring interaction in writing. Continuum: Londres, 2005 (a). 
8 _______. Stance and engagement: a model of interaction in academic discourse. In Discourse 
Studies. Vol. 7(2), p.173-192, 2005 (b). 
23 
 
O corpus dessa pesquisa é composto por dezesseis (16) textos divididos em 
quatro textos para cada gênero de sequência narrativa dominante, quais sejam: 
quatro fábulas, quatro lendas, quatro anedotas e quatro contos. Para análise das 
sequências dominantes, a autora utiliza-se dos pressupostos teóricos abordados em 
Adam (2008), mais precisamente em seu modelo prototípico de descrição das 
sequências narrativas de base. 
Nessa pesquisa, Santos (2011) ainda discute, brevemente, sobre os 
processos referenciais de anáfora, introdução referencial e dêixis, que se sobrepõem 
aos recursos metadiscursivos de interação. 
Após a análise, a autora além de constatar a sequência narrativa como 
dominante nos gêneros (fábula, lenda, anedota e conto), também percebeu a 
presença recorrente de recursos metadiscursivos de interação, o que permitiu a 
autora concluir que esse fenômeno não se manifesta somente em textos da esfera 
acadêmica, que são predominantemente argumentativos, como expôs a 
pesquisadora, mas em textos narrativos através das macrocategorias de 
posicionamento e de engajamento. 
Dentre os trabalhos desenvolvidos sobre a sequência narrativa, destacamos a 
relevância da pesquisa de Oliveira (2016), na qual a autora verificou a estrutura 
composicional narrativa em contos de fadas de Marina Colasanti, partindo da 
hipótese de que os contos de fadas dessa autora possuem regularidade no que se 
refere à estrutura composicional com planos de texto compostos por sequências 
narrativas completas, constituídas pelas cinco proposições narrativas de base 
conforme o modelo prototípico narrativo de Adam (2011). 
Para caracterizar a organização das sequências textuais narrativas em cada 
parte do plano de texto, Oliveira (2016) utilizou o conceito de “episódio” de Travaglia 
(2007a9; 199110), bem como todos os pressupostos da teoria tipológica geral de 
textos (TRAVAGLIA, 2007b11; 2007c12). Essa pesquisa possui caráter descritivo de 
 
9
 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de categorias de textos: tipos, gêneros e espécies. 
Alfa: Revista de Linguística, v.51, p. 39-79, 2007a. 
10
 _______. Um estudo do textual-discursivo do verbo no português do Brasil. Campinas, 1991. 
264 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas. 
11
 _______. Das relações possíveis entre tipos na composição de gêneros. In: SIMPÓSIO 
INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE GÊNEROS TEXTUAIS, 4., 2007b, Tubarão. Anais... Tubarão: 
Universidade do Sul de Santa Catarina 2007b. v. 1. 1297-1306. 
12
 _______. Tipelementos e a construção de uma teoria tipológica geral de textos. In: FÁVERO, 
Leonor Lopes; BASTOS, Neusa M. de O. Barbosa; MARQUESI, Sueli Cristina (Org.). Língua 
Portuguesa, pesquisa e ensino. São Paulo: Educ/Fapesp, 2007c. v.2. 
24 
 
base interpretativa e seguiu os pressupostos gerais da Linguística Textual e, 
sobretudo, da Análise Textual dos Discursos. 
Norteada por essa prévia constatação a respeito da estrutura composicional 
dos contos de fadas de Marina Colasanti, bem como pelo objetivo maior de sua 
pesquisa, que foi verificar a estrutura composicional narrativa em tais contos, 
Oliveira (2016) identificou os planos de texto nesses contos de fadas, considerando 
como base as sequências textuais narrativas; descreveu a organização dessas 
sequências em cada parte do plano de texto desses contos; analisou as 
características dos planos de texto e das sequências textuais narrativas; e 
caracterizou a estrutura composicional dos contos de fadas de Marina Colasanti. 
O corpus dessa pesquisa é composto por seis contos de fadas de Marina 
Colasanti, de modo que dois desses são formados por sequências textuais 
narrativas completas; dois sem a macroproposição Situação Final e outros dois 
formados por mais de uma sequência textual narrativa. 
É importante ressaltar que ao todo, na escolha do corpus para a análise foram 
lidos e analisados previamente vinte e três contos de fadas da autora, divididos entre 
duas obras: dez contos no livro “Uma ideia toda azul” (COLASANTI, [1979] 2006b13) 
e outros treze contos no livro “Doze reis e a moça no labirinto do vento” 
(COLASANTI, [1982] 2006a14). 
Em relação às sequências textuais narrativas no nível global do texto 
conforme a proposta de Adam (1987b; 2011), Oliveira (2016) identificou três tipos de 
construções nos contos de Marina Colasanti. Em quatorze (14) contos analisados há 
as cinco macroproposições de base narrativa (Situação Inicial, Nó, Re-ação ou 
Avaliação, Desenlace e Situação Final). Em outros seis contos, a autora observou as 
quatro primeiras macroproposições de base narrativa, ou seja, exceto a Situação 
Final. E em outros três contos, a autora localizou mais de uma sequência textual 
narrativa no nível global. Desses vinte e três contos, a autora também constatou 
Entrada Prefácio (Pn0) no conto “Entre as folhas do verde O” e Avaliação Final 
(PnΩ) no conto “Uma concha à beira-mar”. 
Oliveira (2016) também observou que os planos de texto dos contos de fadas 
de Marina Colasanti apresentam sequências textuais narrativas em dois níveis:“global”, que apresenta regularidade nas macroproposições narrativas completas 
 
13 COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. 12.ed. São Paulo: Global, 2006a. 
14
 COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. 23.ed. São Paulo: Global 2006b. 
25 
 
(Situação Inicial, Nó, Re-ação ou Avaliação, Desenlace e Situação Final), e “local”, 
que apresenta: regularidade de aspectos ligados aos personagens (principalmente 
as femininas que são sujeitos sempre agentes das narrativas); regularidade na 
unidade temática, no que diz respeito à presença dos protagonistas em quase todos 
os episódios, e na maior parte dos contos; regularidade na organização do espaço 
(dividido sempre em interno e externo) e regularidade na temporalidade no que se 
refere aos acontecimentos narrados em ordem cronológica. 
A pesquisa da autora traz uma importante contribuição aos estudos das 
sequências narrativas ao intercruzar o modelo de Adam (2011) com a proposta de 
Travaglia (1991; 2007a; 2007b; 2007c) sobre a teoria geral dos textos com a noção 
de episódio. 
Até aqui, fizemos uma breve definição do conceito de sequência narrativa 
conforme Adam (2011), elucidando que esta constitui, atualmente, uma categoria de 
análise já consolidada e frequentemente utilizada nas descrições de textos de 
gêneros diversos. Também, como um complemento do que afirmamos inicialmente, 
destacamos alguns trabalhos (quatro dissertações de mestrado e uma tese de 
doutorado de diferentes instituições de Ensino Superior) que abordaram o assunto 
das sequências narrativas com diferentes objetivos e em diferentes gêneros. 
 
2.2 A SENTENÇA JUDICIAL 
 
Segundo Capez (2012, p. 529), no sentido estrito, ou em sentido próprio, 
sentença “[...] é a decisão definitiva que um juiz profere solucionando a causa. [...] é 
o ato pelo qual o juiz encerra o processo no primeiro grau de jurisdição, bem como 
seu respectivo ofício.”. Ainda para o autor, quanto à natureza jurídica, 
 
A sentença é uma manifestação intelectual lógica e formal emitida 
pelo Estado, por meio de seus órgãos jurisdicionais, com a finalidade 
de encerrar um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão 
resistida, mediante a aplicação do ordenamento legal ao caso 
concreto. (CAPEZ, 2012, p. 528). 
 
Conforme consta no Dicionário Jurídico brasileiro (SANTOS 2011, p. 225), o 
termo ‘sentença’ é uma “[...] expressão, frase ou mesmo uma palavra que resume ou 
caracteriza um pensamento moral ou um julgamento de profundo alcance.”. 
26 
 
Abstendo-nos de discussões mais aprofundadas sobre terminologias, 
conceitos, e definições, explicamos, em linhas gerais, alguns tipos de sentença que 
constam nos principais manuais que tratam desse assunto, bem como no CPP e no 
CPC. É importante enfatizar que o nosso objetivo aqui é trazer uma sucinta 
explanação a respeito desse documento – considerado, na doutrina jurídica, como o 
ponto máximo do processo decisório. Entendemos que são muitos os fatores que 
podem ser determinantes na hora de classificar ou tipificar uma sentença judicial, e 
que na doutrina jurídica, em si, não há total consenso sobre as classificações desse 
documento. 
Segundo Santos (2011), a sentença se divide em: absolutória, declaratória, 
constitutiva, definitiva, terminativa, condenatória e interlocutória. Em seu livro 
(Dicionário jurídico brasileiro), o autor tece comentários e cita várias autoridades do 
Direito para definir cada uma delas (Cf. SANTOS, 2011). Já Capez (2011), em 
consonância com o CPP e o CPC, fala sobre as condenatórias, absolutórias e 
terminativas de mérito. 
De um modo geral, podemos dizer que a sentença se divide, em um primeiro 
momento, em duas classificações maiores: terminativas e definitivas. 
A sentença terminativa é responsável por encerrar o processo, sem que se 
tenha decidido a sua importância (consequências), ou seja, ocorre a extinção do 
processo sem a apreciação do mérito15. Em outras palavras, são as que se limitam a 
pôr fim ao processo, sem examinar a causa – só fazem coisa julgada formal16. E a 
sentença definitiva é aquela em que há resolução do mérito, ou seja, as que 
resolvem o mérito; fazem coisa julgada material17. 
Podemos dizer, ainda, que há subclassificações nas sentenças definitivas, 
são elas condenatórias, constitutivas e declaratórias. 
 
15
 Mérito – (Lat. meritu.) S.m. Aquilo que está contido na questão judicial, ou litígio; lastro de 
conhecimentos da causa. Questão ou questões fundamentais, de fato ou de direito, que constitui o 
principal objeto da lide. (SANTOS, 2011, p. 162 - Dicionário jurídico brasileiro). 
16
 A coisa julgada pode ser formal, quando a sentença não pode ser alterada dentro do mesmo 
processo, porém poderá ser discutida em outra ação, ou material, quando a sentença não pode ser 
alterada em nenhum outro processo. Disponível em: 
<http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1510/Coisa-julgada-Novo-CPC-Lei-n-13105-15>. 
Acesso em: 15 mai. 2016. (Cf. GUIMARÃES, 2004). 
17
 Ocorre quando a sentença judicial se torna irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de 
qualquer recurso. Tem como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os 
conflitos se perpetuem no tempo. Disponível em: 
<http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1510/Coisa-julgada-Novo-CPC-Lei-n-13105-15>. 
Acesso em: 15 mai. 2016. 
27 
 
As sentenças condenatórias julgam procedentes, total ou parcialmente, a 
pretensão punitiva, ou seja, declaram a existência de um fato e condenam a parte 
vencida a uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. É considerada um tipo 
complexo de sentença, de modo que a doutrina jurídica ainda atribui uma 
‘subespécie’, uma chamada de sentença mandamental18, que é a sentença que 
condena a parte vencida a cumprir, necessariamente, uma obrigação de fazer. 
As sentenças constitutivas criam, modificam ou extinguem um estado ou 
relação jurídica; asseguram um direito ao vencedor da ação, em outras palavras, 
extinguem uma situação jurídica anterior e criam uma nova. Essa sentença também 
declara a existência de união estável e constitui uma relação jurídica entre os 
parceiros assemelhada ao casamento. 
As sentenças declaratórias declaram “[...] a existência ou a inexistência de 
uma relação jurídica, ou seja, de um determinado direito pretendido pelo autor.” (Cf. 
SANTOS, 2011, p. 226). É importante ressaltar que todas as sentenças possuem 
caráter declaratório, mas as chamadas de meramente declaratórias são aquelas que 
têm na sua parte dispositiva apenas a declaração da existência de uma relação 
jurídica ou reconhecimento de um direito. 
Santos (2011, p. 226 apud REZENDE FILHO, 1962) ainda destaca que a 
sentença interlocutória “anula um processo apenas em parte ou decide questão 
emergente ou incidente19 de processo, de caráter ordinário, e as exceções de 
suspeição20 e incompetência [...]”. 
A sentença judicial é um gênero consolidado no meio jurídico e sua 
composição, quase sempre, segue um mesmo padrão. Segundo o artigo 381 do 
CPP, a sentença deverá conter: 
 
I – o nome das partes ou, quando não for possível, as indicações 
necessárias para identificá-las; 
II – a exposição sucinta da acusação e da defesa; 
 
18
 Disponível em: <https://www.passeidireto.com/quantas-especies-de-sentenca-existem-quais-sao-
elas.> Acesso em 15 mai. 2016. 
19
 Incidente, quando aparece no conflito da questão judicial e é solucionado antes do julgamento da 
ação principal: detenção pessoal, busca e apreensão. Incidente – Adj. 2g. Que incide; circunstancial. 
S.m. Circunstância acidental; sucesso de importância secundária que sobrevêm de uma questão ou 
debate; fato ou questão que coloca obstáculo ou embaraça a sequência normal de um processo. 
(SANTOS, 2011, p. 23, 121 – respectivamente). 
20
 Suspeição – S.f. Umdos gêneros de restrição que pode ser contraposto em revide ao juiz da 
causa, pelo fato de se duvidar de sua imparcialidade, da testemunha ou do perito (CPC, arts. 135 a 
138, III e §§, 312 a 314, 405; CPP, arts. 95, I, a 107). (SANTOS, 2011, p. 236). 
28 
 
III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a 
decisão; IV – a indicação dos artigos e leis aplicados; 
V – o dispositivo e 
VI – a data e assinatura do juiz. 
 
Circunstancialmente, a sentença é dividida em três partes, a saber, relatório, 
fundamentação e dispositivo ou decisão. O Capítulo XIII (Da sentença e da coisa 
julgada) do CPC e mais precisamente o art. 489 da segunda seção descreve os 
elementos essenciais da sentença judicial (as partes e o que deve conter em cada 
uma delas): 
 
I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e 
da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências 
havidas no andamento do processo; 
II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de 
direito; III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as 
partes lhe submeterem. 
 
Essas três partes fundamentais da sentença judicial possuem características 
linguístico-textuais sempre muito semelhantes, o que a caracteriza e a distingue dos 
demais gêneros do discurso jurídico. Além destes três componentes, é importante 
lembrar que a sentença judicial também possui assinatura e/ou autenticação e pode 
conter ementa que é uma espécie de preâmbulo. 
De forma mais detalhada, trazemos a definição de relatório que consta no 
Dicionário jurídico brasileiro. 
 
Relatório – S.m. Descrição escrita e minuciosa das atividades 
administrativas de uma organização pública ou de uma sociedade 
privada, ou dos trabalhos de um tribunal, turma, câmaras ou de uma 
assembleia; preâmbulo da sentença, no qual são mencionados: o 
nome das partes, a respectiva solicitação, a defesa e a 
fundamentação da solicitação respectiva. Exposição sumária da 
situação de fato da causa, que é submetida à deliberação do tribunal. 
Condensação do interrogatório, feito pelo juiz, do processo que vai 
ser narrado para a devida avaliação do júri. Narração, exposição das 
questões duvidosas existentes no recurso feitas pelo relator ante o 
órgão colegiado, escriturando-as nos devidos autos e depois fazendo 
a respectiva leitura quando do julgamento do recurso (CPC, arts. 
458, 549, 554; CPP, art. 466). (SANTOS, 2011, p. 215). 
 
Segundo Pereira (2014, p. 166), o juiz precisa seguir algumas etapas que são 
obrigatórias antes de proferir o seu posicionamento, isto é, sua decisão 
propriamente dita. Essas etapas compreendem apresentar “[...] o local social da 
29 
 
produção, bem como seu redator [...]”; e, no corpo do texto, expor o processo de 
forma contextualizada de modo a apresentar um resumo dos trâmites. 
Para Nucci (2014, p. 474), o relatório contém a “[...] descrição sucinta do 
alegado pela acusação, abrangendo desde a imputação inicial, até o exposto nas 
alegações finais, com identificação das partes envolvidas [...]”. 
É importante destacar ainda que o relatório da sentença judicial é um resumo 
do processo e não, necessariamente, um detalhamento das ações das partes 
envolvidas que deram origem ao processo. Esse tipo de detalhamento está presente 
nos depoimentos das partes envolvidas (vítima, testemunha e indiciado) e constam 
no inquérito policial – que tem por finalidade promover o levantamento de toda a 
materialidade delitiva que pode dar origem ou não a um determinado processo – e 
são chamados de termo de declaração e/ou depoimento (no caso da vítima e da 
testemunha) e auto de qualificação e interrogatório (no caso do 
indiciado/acusado/suspeito). 
Quanto à fundamentação, Capez (2012) assevera que 
 
O juiz tem liberdade para formar a sua convicção, não estando preso 
a qualquer critério legal de prefixação de valores probatórios. No 
entanto, essa liberdade não é absoluta, sendo necessária a devida 
fundamentação. O juiz, portanto, decide livremente de acordo com a 
sua consciência, devendo, contudo, explicitar motivadamente as 
razões de sua opção e obedecer a certos balizamentos legais, ainda 
que flexíveis. (CAPEZ, 2012, p. 399). 
 
Em outras palavras, a fundamentação é a parte da sentença em que o juiz 
utiliza-se de argumentos (leis) para justificar e dar base para a decisão ou 
dispositivo, ou seja, é nesse momento que o juiz evidencia as razões nas quais se 
baseia para dar o parecer final, sua decisão. Nesse texto há a predominância da 
sequência argumentativa. 
Ainda segundo o artigo 155 do CPP 
 
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova 
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua 
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na 
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e 
antecipadas. 
 
Nucci (2014, p. 474) concebe a fundamentação como a 
30 
 
 
[...] motivação do juiz para aplicar o direito ao caso concreto da 
maneira com o fez, acolhendo ou rejeitando a pretensão de punir do 
Estado; abrange os motivos de fato, advindos da prova colhida, e os 
motivos de direito, advindos da lei, interpretada pelo juiz. 
 
A decisão21, na doutrina jurídica – também chamada de conclusão, dispositivo 
ou dispositivos gerais – é a parte da sentença que contém efetivamente a conclusão 
do processo22. Nesse momento, o juiz, após ter relatado as principais ações do 
processo, sobretudo, as informações que considerou relevantes relatar, e após a 
indicação dos artigos de lei aplicados, ou seus argumentos de uma forma geral (na 
parte da fundamentação), decide. Para Capez (2012, p. 530 – grifos do autor), “É a 
parte do decisum em que o magistrado presta a tutela jurisdicional, viabilizando o jus 
puniendi do Estado.”, ou seja, o direito de punir. A princípio, essa parte da sentença 
mostra-se predominantemente composta pela sequência injuntiva23. 
 
2.3 ESTUDOS LINGUÍSTICOS SOBRE O GÊNERO SENTENÇA JUDICIAL 
 
Os gêneros forenses têm se tornado, cada dia mais, objetos de pesquisa e de 
análise no meio acadêmico, sobretudo no âmbito dos estudos linguísticos. A 
linguagem jurídica ou o ‘juridiquês’ – como é também conhecida na própria doutrina 
jurídica – tem intrigado pesquisadores de várias partes do Brasil e sob vários 
enfoques diferentes, principalmente, nos últimos dez anos. 
Dentre os gêneros forenses estudados no âmbito dos estudos linguísticos, a 
sentença judicial tem ocupado cada vez mais papel de destaque. O volume de 
estudo sobre esse gênero em pesquisas de cunho linguístico ainda é considerado 
pequeno – dadas às devidas proporções – por se tratar de um gênero pertencente à 
outra esfera de circulação, mas ainda assim, a sentença judicial tem despertado o 
interesse de estudiosos e pesquisadores de várias partes do Brasil e sob vários 
 
21
 Neste trabalho, optamos por usar o termo decisão por ser um termo mais utilizado pelos 
operadores do Direito; também porque o termo dispositivo, na doutrina jurídica, indica os artigos da 
constituição e possui amplo uso, ou seja, não está restrito à parte da sentença judicial que consta a 
decisão do juiz. 
22
 No caso de uma decisão proferida por um juiz de primeira instância, cabe recurso, podendo (o 
processo, a depender também do tipo ou de determinadas circunstâncias) chegar a instâncias 
superiores. 
23
 O termo “sequência injuntiva” aqui foi usado com base nos estudos das tipologias textuais, e não 
com base nos estudos das sequências propostos por Adam (2011), visto que o autor não reconhece 
esse tipo de sequência. 
31 
 
enfoques teóricos diferentes. Um dos motivos que podem explicar esse crescente 
interesse dos estudiosos por esse gênero pode ser o fato de este ser um gênero de 
domínio público e ser disponibilizado na internet através de bancos de sentença dos 
Tribunais de Justiça de todo o Brasil – o que facilitao seu acesso – e por ser a peça 
de maior relevância em um processo judicial e, linguisticamente, conter uma 
estrutura peculiar com uma diversidade de possibilidade de abordagens. 
Entre as pesquisas mais recentes realizadas sobre o gênero sentença, 
podemos citar a dissertação de mestrado de Pimenta (2007) na qual a autora 
investiga e caracteriza linguisticamente várias categorias de textos forenses de 
natureza criminal presentes nos processos penais, a fim de verificar os possíveis 
reflexos que esses textos exercem no gênero sentença judicial, por meio de marcas 
linguísticas. A pesquisa é norteada pelos estudos da Linguística Textual, pelos 
pressupostos teóricos dos Atos de Fala (AUSTIN24, 1962), da teoria da Ação 
Comunicativa (HABERMAS, 198325, 200326), das Comunidades Discursivas 
(SWALES27, 1990) e pelos estudos sobre tipos, gêneros e espécies conforme 
Travaglia ([2003] 2007a). 
A pesquisa de Pimenta (2007) é qualitativa e sua metodologia é analítico-
descritiva. O corpus é composto por dez processos criminais, os quais são 
criteriosamente analisados e caracterizados por meio de sua materialidade 
linguística. 
Nos resultados, a autora constatou que os gêneros que trazem as mais 
variadas versões dos fatos – como o boletim de ocorrência, o auto de depoimento e 
a declaração – interferem/afetam diretamente na decisão do juiz, ou seja, na 
sentença judicial. Isso é possível, segundo a autora, porque esses gêneros têm a 
função sócio-comunicativa de trazer a versão das partes para o fato. Para Pimenta 
(2007, p. 198), “[...] ganha o melhor argumento, o mais articulado, o mais 
convincente, o que menos dúvida deixa sobre sua veracidade [...]”. 
 
24 AUSTIN, J. L. How to do things with word. Oxford: Oxford University Press, 1962. 
25
 HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 
1993. 
26
 _______. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 
2003. 
27 SWALES, J. English in academy and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 
1990. 
32 
 
Os estudos da pesquisa de Pimenta (2007) sugerem uma reflexão sobre a 
classificação e tipologização de textos – por parte da comunidade discursiva forense 
– e uma contribuição para a construção de uma teoria tipológica geral de textos. 
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Grupo de 
Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (GPATD) coordenado pelos professores 
Luis Passeggi, João Gomes da Silva Neto e Maria das Graças Soares Rodrigues 
desenvolve pesquisas em discursos jurídicos e políticos, seguindo os pressupostos 
gerais da Linguística Textual e, principalmente, dos estudos da Análise Textual dos 
Discursos que tem como seu principal nome o linguista francês Jean-Michel Adam 
(2011). 
A título de ilustração, destacamos algumas das publicações do GPATD sobre 
o estudo do discurso jurídico como, por exemplo, Rodrigues, Passeggi e Silva Neto 
(2014); Lopes (2014), Santos e Silva Neto (2014), Lourenço e Rodrigues (2013), 
Lourenço (2013) entre outros. 
Nos últimos anos, esse grupo desenvolveu uma quantidade considerável de 
trabalhos sobre o discurso jurídico, principalmente, sobre o gênero sentença judicial. 
Dentre as pesquisas já concluídas podemos destacar a tese de doutorado de 
Gomes (2014), o qual propôs estudar o fenômeno da Responsabilidade Enunciativa 
(doravante RE) em sentenças judiciais condenatórias a partir dos pressupostos 
teóricos gerais da Linguística Textual, da Análise Textual dos Discursos com Adam 
(2011), e da Linguística Enunciativa com Rabatel28 (2010) além de autores que 
versam sobre os gêneros forenses como Montolío29 (2011), Rodrigues, Passeggi e 
Silva Neto (2014) entre outros. 
O corpus dessa tese é formado por treze sentenças condenatórias coletadas 
até o ano de 2012 da comarca de Currais Novos/RN. O objetivo principal dessa 
pesquisa foi investigar a RE por meio de uma escala que compreende esse 
fenômeno a partir de quatro gradações, de modo que cada gradação consiste em 
um tipo especifico de ponto de vista (doravante PDV) com marcas que podem 
determinar a assunção ou o distanciamento desse PDV. 
Os resultados mostraram que o gênero sentença judicial condenatória 
apresenta uma heterogeneidade de PDV, o que permite, em alguns momentos, a 
 
28
 RABATEL. Schémas, techniques argumentatives de justification et figures de l’auteur (théoricien 
et/ou vulgarisateur). Revue d’antropologie dês connaissances. 2010. 
29 MONTOLÍO. (Ed.). Hacia la modernización del discurso jurídico. Barcelona: Publicacions i 
Edicions de la Universitat de Barcelona, 2011. 
33 
 
não assunção da RE por parte do juiz, ou seja, na análise foi possível identificar o 
PDV não só do juiz (presente predominante no dispositivo da sentença), mas de 
várias outras instâncias enunciativas, como Ministério Público, defesa, acusados 
(mais presentes no relatório da sentença), vítimas e testemunhas (mais presentes 
na fundamentação) entre outras. Esses PDV foram identificados na dimensão 
linguística do texto através de verbos, conectores, dêiticos espaciais e temporais, 
além de marcas de asserção e marcadores do discurso reportado, entre outros. 
Como foi possível observar diferentes PDV de diferentes instâncias 
enunciativas em diferentes partes da sentença (relatório, fundamentação e 
dispositivo), Gomes (2014) também constatou que em determinados momentos, o 
juiz utiliza-se desses outros PDV e se isenta da responsabilidade sobre o que diz, 
como se observa no relatório da sentença onde há os PDV da acusação e da 
defesa, por exemplo. Dessa forma, o autor conclui que “A sentença, portanto, 
constrói-se nesse jogo de assunção e/ou não assunção dos enunciados de acordo 
com a orientação argumentativa e com os objetivos do produtor do texto.” (GOMES, 
2014, p. 8). 
Lopes (2014), na sua dissertação de mestrado, propôs identificar e descrever 
o fenômeno da representação discursiva da vítima e do réu no gênero forense 
sentença judicial. A pesquisa segue os pressupostos gerais da LT, com foco na ATD 
– Adam ([2008] 2011) – e também é complementada por estudos do gênero com 
Bazerman30 (2005), Bakhtin31 (1992) e do discurso jurídico com Capez (2012) e 
Pimenta (2007), entre outros. 
Metodologicamente, a pesquisa é documental e apresenta um caráter 
qualitativo, descritivo e orienta-se pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo. O 
corpus da pesquisa é composto por uma única sentença judicial com a temática de 
violência contra a mulher. Essa sentença é de natureza penal e foi coletada no sítio 
eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). 
Antes de identificar e descrever as categorias semânticas da representação 
discursiva – referenciação, a predicação, a modificação e a localização espacial e 
temporal (ADAM, 2011) –, Lopes (2014) fez o reconhecimento do gênero (sentença 
judicial) elaborando o Plano de Texto e constatou que se trata de uma estrutura fixa, 
 
30
 BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Organização de Ângela Paiva 
Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2005. 
31
 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal.São Paulo: Martins Fontes, 1992. 
34 
 
prototípica e padronizada – seguindo a regulamentação legal –. Em sua análise, a 
autora também utilizou o esquema prototípico da sequência textual de Adam (2011) 
e constatou que além das sequências argumentativa, explicativa e descritiva há uma 
predominância da sequência textual narrativa. 
Com foco nas construções das representações discursivas da vítima e do réu 
a partir de Pontos de vista (PDV) de enunciadores diferentes, a autora constatou que 
esses PDV – mais presentes na fundamentação por ser um espaço destinado aos 
motivos e às informações de fato ede direito que norteiam as decisões do 
magistrado – podem tanto se aproximar quanto se distanciar de acordo com a 
orientação argumentativa do texto. Ou seja, “[...] os objetos [do discurso] são 
construídos a partir de um posicionamento do enunciador frente às razões que o 
motivam.” (LOPES, 2014, p. 94). A pesquisa trouxe uma importante reflexão a 
respeito da dimensão semântica do texto, sobretudo das representações dos objetos 
do discurso na sentença judicial, um dos mais importantes gêneros de um processo 
judicial. 
Fonseca (2016), em sua dissertação de mestrado, fez um estudo sobre a 
argumentação em uma sentença judicial de natureza condenatória extraída do site 
da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN) com o objetivo de descrever e 
explicar o funcionamento dos operadores argumentativos na orientação 
argumentativa desse gênero. A pesquisa é de caráter documental e bibliográfico, 
orientada pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo e também se apoia nos 
constructos teóricos da ATD (ADAM, 2011), além dos estudos da Retórica de 
Aristóteles32 (1959) entre outros autores que tratam especificamente da 
argumentação. 
Entre os resultados da pesquisa, foi possível constatar que muitos dos 
operadores argumentativos utilizados, sobretudo na fundamentação, evocam e são 
evocados por uma determinada Tradição Discursiva própria dos textos e do discurso 
jurídicos. Os resultados revelaram ainda que esses operadores argumentativos 
exerceram papéis preponderantes na organização da orientação argumentativa do 
texto e do discurso, orientando os coenunciadores para a conclusão desejada pelo 
enunciador, o juiz. Fonseca (2106, p. 7) destaca também “[...] que o uso dos 
 
32 ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão 
Europeia do Livro, 1959. (384-322 a.C). 
35 
 
operadores argumentativos permitiu construções silogísticas na forma de 
apresentação dos argumentos e na construção da argumentação.”. 
Silva (2016), em sua dissertação de mestrado, estuda o fenômeno da 
genericidade (ADAM; HEIDMANN, 2011b) com o objetivo de caracterizar o gênero 
sentença judicial a partir de sua estrutura composicional e, mais precisamente, do 
plano de texto (ADAM, 2011) em um diálogo com o campo de estudo das Tradições 
Discursivas (COSERIU33, 1980; KOCH, 1997; KABATEK34, 2003). 
O corpus da referida pesquisa é composto por quatro sentenças judiciais 
condenatórias de natureza criminal, coletadas do banco de sentenças do site do 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte (TJRN) no período de janeiro 
a março de 2014. 
Os resultados mostram que: “[...] a sentença judicial possui várias 
potencialidades genéricas que a atravessam em seus níveis textuais e transtextuais, 
estabelecendo um diálogo intergenérico [...]” (SILVA, 2016, p. 7); e mostram também 
que a estrutura composicional da sentença judicial, apesar de ser regulamentada 
pelo CPP e pelo CPC, que propõem sua estrutura fixa, é variável, o que torna o seu 
plano de texto variável e, às vezes, ocasional, mas que também possui elementos 
cristalizados e que segue uma tradição funcional e até mesmo institucional, 
mantendo aspectos de linguagem – no que se refere ao léxico formal, e estrutura 
composicional próprios. 
A pesquisa também sugere contribuições para os chamados operadores do 
Direito, uma vez que promove uma reflexão a respeito da materialidade linguística, 
e, mais precisamente, da estrutura composicional de um texto de domínio público 
que, como dito anteriormente, mesmo sendo balizado pelo CPP e pelo CPC, possui 
discrepâncias em seu plano de texto. 
Em suma, a pesquisa de Silva (2016), assim como as demais pesquisas até 
aqui apresentadas mostram um avanço nos estudos linguísticos por abordar a 
estrutura composicional e as dimensões da enunciação e da orientação 
argumentativa do gênero sentença judicial e por expandir os estudos desse gênero, 
sobretudo, na perspectiva da ATD. 
 
 
33
 COSERIU, Eugenio (1994): Textlinguistik. Eine Einführung, 3a ed. revisada, Tübingen, 
Francke,1994 (Tübingen, Narr, 1980). 
34 KABATEK, Johannes (2003): “La lingüística románica histórica: tradición e innovación em uma 
disciplina viva”, La Corónica 31.2, p. 35-40. 22. 
36 
 
CAPÍTULO III 
 
 
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
 
Neste capítulo, apresentamos os postulados teóricos nos quais nossa 
pesquisa está fundamentada. Para abordar a sequência narrativa no gênero 
sentença judicial, fizemos um breve percurso teórico descritivo que vai da Linguística 
Textual, passando pela ATD até as noções de sequências textuais para alguns 
autores de diferentes abordagens teóricas. A princípio, destacamos que a pesquisa 
fundamenta-se no quadro teórico geral da Linguística Textual e, mais 
especificamente, nos pressupostos da ATD, abordagem desenvolvida por Adam 
(2011) e estudada no Brasil pelos pesquisadores Rodrigues, Passeggi e Silva Neto 
(2010; 2012; 2014) dentre outros já citados (Ver seções 2.1 e 2.3). 
 
3.1 LINGUÍSTICA TEXTUAL 
 
Com a premissa de que a língua não funciona nem se realiza em unidades 
isoladas como palavras ou frases soltas, muito menos com simples morfemas ou 
fonemas, os postulados do alemão Harald Weinrich (1966; 1967) – que considerava 
toda linguística como necessariamente Linguística de Texto – ganharam destaque 
na Alemanha no século XX, mais precisamente em meados dos anos 60; era o início 
da Linguística de Texto35. 
A partir disso, a LT tornou-se um campo de pesquisa que, através de um 
amplo esforço teórico, procurou ultrapassar o nível das frases e incluir o sujeito e a 
situação comunicativa, o que, na visão estruturalista, não acontecia, visto que até 
então a língua era concebida como um sistema e como um código, ou seja, com 
uma função estritamente informativa. 
Com a evolução dos estudos da LT, o conceito de texto – seu objeto de 
estudo – passou por diversas definições as quais condiziam com a visão de seus 
 
35
 O termo “Linguística de Texto” foi utilizado pela primeira vez por Cosériu (1955), porém sem o 
sentido que possui nos dias de hoje. O termo foi usado só foi usado com o sentido que conhecemos 
nos dias atuais pelo alemão Harald Weinrich em 1966 e 1967. (Cf. KOCH, 1997). 
37 
 
estudiosos e suas respectivas correntes teóricas, o que resultava em concepções 
ora estruturalista ou gerativa, ora funcionalista. De acordo com dessa diversidade de 
concepções e correntes teóricas, “O texto era então concebido como ‘uma frase 
complexa’, ‘signo linguístico primário’ (HARTMANN36, 1968), ‘cadeia de 
pronominalizações ininterruptas’ (HARWEG37, 1968), ‘sequência coerente de 
enunciados’ (ISENBERG38, 1971), ‘cadeia de pressuposições’ (BELLERT39, 1970).” 
(KOCH, 2009, p. 3 – grifos da autora). 
Para Marcuschi40 (2012), a LT 
 
Configura uma linha de investigação interdisciplinar dentro da 
linguística e como tal exige métodos e categorias de várias 
procedências. Basicamente, trata dos processos e regularidades 
gerais e específicos segundo os quais se produz, constitui, 
compreende e descreve o fenômeno texto. (p. 17). 
 
A história da LT é marcada por três principais momentos41 que correspondem 
a três fases de maior destaque da sua evolução e consolidação como um campo de 
pesquisa e também da ampliação e definição de seu objeto de análise, a saber, o 
texto. 
Há divergências quanto às fases da LT, principalmente, no que se refere à 
ordem cronológica da primeira e da segunda fase42, porém, distanciando-nos desta 
discussão, destacamos o que nos parece ser a percepção da maioria dos estudiosos 
da área a respeito dessa divisão. Assim, podemos dizer que as três fases da LT são 
respectivamente: análise transfrástica, gramática de texto e teoria do texto.36
 HARTMANN , P. Zum Begriff des sprachlichen Zeichens Zertschnft furPhoneuc, 
Sprachwissenschaft und Kommunikationsforschung, v 21, p 205 22,1968. 
37
 HARWEG, R. Pronomina und Textkonstitution. Münch W Fink, 1968. 
38 ISENBERG, H. Der Begriff "Text" m der Sprachtheorie Deutsche Akademie zur Wissenschaften 
zu Berlin, Arbeitsgruppe Strukturelle Grammatik, Bencht, n 8, 1970. 
39
 BELLERT, I. On a condition of the coherence of texts. Semiótica, v.2, p.335-63, 1970. 
40
 Esta obra (MARCUSCHI, 2012) é uma versão revisada e modificada do texto que foi originalmente 
apresentado no IV Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa na PUC-SP no ano de 1983. 
41
 A divisão da história da Linguística Textual e de suas respectivas fases na ampliação e definição de 
seu objeto de estudo não é consensual, pois há divergências entre autores quanto à afirmação de 
que, em ordem cronológica houve uma clara distinção entre o momento da análise transfrástica 
(primeiro momento) e o segundo momento conhecido como o da gramática de texto. 
42
 Em artigo publicado na revista Alfa em 1997, intitulado “Linguística Textual: retrospecto e 
perspectivas”, Koch concorda com Conte (1977) sobre os três momentos da evolução da LT (análise 
transfrástica, gramática de texto e teoria do texto) e ainda ressalta sua respectiva ordem cronológica. 
(Cf. KOCH, 1997, p. 68). Depois, em 2009, no livro “Introdução à Linguística Textual”, a autora coloca 
os dois primeiros momentos da LT (análise transfrástica e gramática de texto) como pertencentes ao 
mesmo momento dessa evolução. 
38 
 
No período conhecido como o da análise transfrástica, os estudos da LT 
debruçavam-se sobre os fenômenos das relações de complementaridades entre as 
frases (as chamadas relações transfrásticas ou interfrásticas), na intenção de 
ultrapassar os limites da frase, algo que não era possível de ser explicado pelas 
teorias tradicionais da linguística como a da sintaxe e/ou da semântica, pois se 
limitavam às análises frasais, ficando presas ao domínio da frase ou do período. 
Uma das principais preocupações dessa nova abordagem era dar conta do 
encadeamento de sentenças e das relações referenciais que se dava no contínuo do 
texto, entre as frases, e, mais precisamente, dar conta dos processos de 
correferência – os quais se limitavam aos estudos da anáfora e da catáfora – que é 
considerada um dos principais fatores de coesão textual (Cf. KOCH, 2009), mas que 
também não eram suficientes para dar conta da complexidade de outras relações 
existentes no texto. 
Ainda nessa fase, os estudiosos pensaram em elaborar regras para o 
encadeamento de frases, usando os métodos de análise sintática, porém na 
tentativa de ampliá-los para dar conta de sentenças maiores ou, ao menos, dar 
conta de pares de sentenças. Essa análise no nível interfrástico levou o texto a 
passar por novas definições, como Harweg (1968), que definiu texto como 
“sequência pronominal ininterrupta”, ou Isenberg (1970) que o definiu como 
“sequência coerente de enunciados”. Nesse período, tanto estudiosos de 
perspectiva estruturalista quanto gerativista se debruçaram sobre essas questões. 
(Cf. KOCH, 1997, p. 68). 
Nesse período, viu-se a necessidade de considerar que no interior no texto 
havia relações elípticas, anafóricas, e de concordância verbal entre outras relações 
que não podiam mais ser obsevadas de forma isolada; havia a necessidade de 
relacioná-las, considerá-las. Diante dessas constatações, viu-se, também, a 
necessidade de se desenvolver uma gramática que desse conta dessas relações. 
Foi então que se pensou em um modelo de gramática transfrástica ou o que seria a 
fase conhecida como a gramática de texto ou gramáticas textuais. 
O segundo período, conhecido como o período das gramáticas textuais, 
influenciado pela Gramática Gerativa de Noam Chomsky, é caracterizado por 
postular que o texto é muito mais do que a soma de frases, mas sim um signo 
linguístico primário e que sua compreensão depende de uma determinada 
capacidade dos falantes, algo como uma competência textual. Nessa perspectiva, a 
39 
 
competência textual permitiria aos falantes “[...] distinguir um texto coerente de um 
aglomerado aleatório de palavras e/ou sentenças, bem como parafrasear um texto, 
perceber se está completo ou não, resumi-lo, atribuir-lhe um título ou produzir um 
texto a partir de um título dado.” (KOCH, 1997, p. 69). 
Isso era o que Charolles (1989) concebia como capacidades textuais básicas 
que o usuário da língua possuía. Para o autor, essas capacidades podiam ser 
resumidas em três: capacidade formativa; capacidade transformativa e capacidade 
qualitativa. De forma sintética, podemos dizer que a capacidade formativa permitiria 
ao usuário da língua produzir, compreender e avaliar uma diversidade de textos, 
bem como dizer se esses estão bem ou mal formados; a capacidade transformativa 
tornaria o usuário apto a reformular, parafrasear, resumir e também avaliar a 
adequação desse texto em relação ao texto original; a capacidade qualitativa 
permitiria ao usuário identificar a tipologia do texto, ou seja, dizer se este era 
narrativo, argumentativo, descritivo, dialogal etc. 
Nessa fase, o texto, entendido como uma unidade linguística superior à frase, 
é considerado como “uma entidade do sistema linguístico” regida por normas 
gramaticais do texto, semelhantes às normas da gramática da frase – uma espécie 
de analogia. Basicamente, “[...] tratava-se de descrever categorias e regras de 
combinação da entidade T (texto) em L (determinada língua).” (KOCH, 2009, p. 5). 
Dessa forma, as diretrizes da gramática do texto seriam: 
 
a) verificar o que faz com que um texto seja um texto, ou seja, 
determinar seus princípios de constituição, os fatores responsáveis 
pela sua coerência, as condições em que se manifesta a 
textualidade; b) levantar critérios para delimitação de textos, já que a 
completude é uma de suas características essenciais; c) diferenciar 
as várias espécies de textos. (op. cit. p. 5) 
 
Como vimos, a segunda fase da LT foi diretamente influenciada pela 
perspectiva gerativista, por isso a gramática de texto era semelhante à gramática de 
frase proposta por Chomsky. Isso fez com que a gramática de texto fosse vista como 
um sistema finito de regras que permitiria aos usuários da língua afirmar se 
determinada sequência linguística era um texto ou não, pois todo e qualquer usuário 
possuía o conhecimento de um conjunto de regras que são internalizadas, uma 
espécie de ‘competência textual’. Podemos dizer que a fase da gramática de texto 
deixou uma espécie de ‘legado’; duas noções muito importantes a respeito dos 
40 
 
estudos do texto: a primeira é que o texto não é apenas uma continuidade de frases, 
ou seja, não se trata da soma das partes; a segunda noção é a de que o texto é uma 
unidade linguística mais elevada, formada por unidades menores e individuais 
passíveis de análises também individuais, mas que devem ser consideradas em um 
conjunto maior, ou seja, no todo. 
E por fim, o terceiro período, conhecido como o período da teoria do texto, 
passou a compreender o texto como um processo e não como um produto acabado. 
Esse terceiro período teve início quando estudiosos concluíram que era inviável 
elaborar uma gramática de texto no estilo das gramáticas de frase. Apesar de essa 
ideia mostrar-se ambiciosa, foi pouco produtiva, pois não foi possível estabelecer 
regras capazes de descrever todo e qualquer texto de uma determinada língua, ou 
seja, não consideraram a possibilidades de surgirem novos tipos de textos ou 
simplesmente surgirem textos que não se enquadrassem nessas regras gramaticais. 
Essas e outras questões foram responsáveis por levar estudiosos ao abandono 
desta tarefa, o que provocou o fim da segunda fase de desenvolvimento da LT, 
dando início à fase da teoria do texto. 
Nesse período, os estudiosos reconheceram que seu objeto de estudo, o 
texto,deveria ser estudado dentro de seu contexto de produção, considerando 
assim os resultados das operações linguísticas e sociocomunicativas. 
Na década de 80, à LT foram agregados os estudos sobre coesão e 
coerência textuais, o que, de forma significativa, ampliaram a noção de coerência 
que foi postulada anteriormente, uma vez que essa passou a ser entendida como 
um fenômeno muito mais amplo do que uma qualidade ou uma propriedade do texto, 
ou seja, a coerência passou a ser entendida como algo que se constrói em uma 
determinada situação de interação, uma relação autor – texto – leitor “[...] em função 
da atuação de uma complexa rede de fatores, de ordem linguística, sociocognitiva e 
interacional.” (KOCH, 1997, p. 74). 
Como pudemos observar, a LT, que começou com a análise transfrástica e 
passou por algumas tentativas de elaboração de uma gramática de texto, em sua 
trajetória passou por diversas revisões, reformulações e ampliações até consagrar e 
expandir o seu objeto de estudo. Atualmente os estudos da LT se debruçam não 
apenas no texto em si, mas no contexto – no sentido que envolve relações 
situacionais, sociocognitivas e culturais na produção de textos. Outra preocupação 
da LT passou a ser a “[...] interferência [da coerência] na constituição, no 
41 
 
funcionamento e, de modo especial, no processamento estratégico-interacional dos 
textos, vistos como uma forma básica de interação por meio da linguagem.” (op. cit. 
p. 75). 
Nessa nova perspectiva, segundo Koch e Elias (2013, p. 07) 
 
[...] o texto é o lugar de interação de sujeitos sociais, os quais, 
dialogicamente, nele se constituem e são constituídos; e que, por 
meio de ações linguísticas e sociocognitivas, constroem objetos de 
discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas 
entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas 
possibilidades de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição. 
 
A fim de situarmos a nossa pesquisa, explicitamos aqui um breve histórico da 
LT, descrevendo de forma concisa os principais momentos de sua evolução, 
ampliação e definição de seu objeto de estudo e de sua consolidação como um 
campo de pesquisa dos estudos linguísticos. Como dissemos no início dessa seção, 
há divergências sobre essas três fases de desenvolvimento da LT, bem como sobre 
a ordem cronológica aqui apresentada. Porém, deixando de lado essas discussões 
pormenorizadas, é importante destacar que adotamos e descrevemos essas três 
fases e em ordem cronológica pelo fato de ser a descrição mais recorrente entre os 
estudiosos e, consequentemente, mais reproduzido em trabalhos que abordam o 
assunto. 
 
3.1.1 Estudos da Linguística Textual no Brasil 
 
Segundo Koch (1999), os primeiros trabalhos dedicados aos estudos 
linguísticos do texto no Brasil foram registrados no final da década de 70 com a 
tradução de duas obras: “Semiótica Narrativa e Textual”, de Chabrol et al. (1977) e 
“Linguística e Teoria do Texto”, de Schmidt (1978), além da publicação, em Portugal, 
do livro “Pragmática Linguística e Ensino de Português”, de Fonseca e Fonseca 
(1977) que, segundo Koch (1999, p. 167), “[...] defendia a aplicação dos princípios 
da Pragmática Linguística ao ensino de língua materna e, em decorrência, a 
necessidade de um enfoque textual, como já era comum em outros países da 
Europa.”. 
Sobretudo, é no início dos anos 80 que os estudos da Linguística Textual 
ganham forma e começam a se multiplicar, sobretudo, após a publicação do artigo 
42 
 
intitulado “Por uma Gramática Textual”, de Neis (1981), seguido dos livros 
“Linguística Textual: introdução”, de Fávero e Koch (1983) e “Linguística Textual: o 
que é e como se faz?”, do professor Marcuschi (1983). Isso fez com que 
pesquisadores e estudiosos de todo o Brasil se interessassem pelo assunto, o que 
resultou em publicações de alguns artigos em revistas e Anais de eventos. 
Sobre esse crescente campo de estudo no Brasil e sua disseminação, Koch 
(1999, p. 168) reitera que 
 
Em várias universidades brasileiras vão-se formando núcleos de 
pesquisa sobre texto. A pesquisa na área frutifica em cursos de 
extensão, aperfeiçoamento e especialização, ministrados em 
diversos pontos do país, bem como em dissertações de mestrado e 
teses de doutorado, cujos autores, subsequentemente, vão 
implantando esse tipo de enfoque em suas instituições de origem. 
 
Segundo a autora, as primeiras pesquisas realizadas sobre texto no Brasil 
foram inspiradas por estudos feitos na Alemanha (Weinrich, Dressler, Beaugrande & 
Dressler entre outros), Holanda (Van Dijk), França (Charolles e Adam, entre outros), 
Inglaterra (Halliday e Hassan), e EUA (tanto por linguistas quanto por pesquisadores 
de outras áreas). 
Nesse trabalho de Koch, publicado em 1999, a autora divide a história da LT 
no Brasil em três momentos. O primeiro deles ocorre na metade da década de 80 
com a publicação dos trabalhos citados anteriormente. Nesse momento, grande 
parte dos trabalhos desenvolvidos tinham como referência os estudos de Halliday e 
Hasan43 (1976) os quais versavam sobre a coesão além dos estudos de Beaugrande 
e Dressler44 (1981) no que se refere aos fatores de textualidade. 
É importante ressaltar que os trabalhos desenvolvidos aqui no Brasil não se 
limitavam apenas às revisões críticas desses autores, mas traziam também 
contribuições para o desenvolvimento desse novo campo de estudo linguístico. Um 
exemplo dessas contribuições foi a revisão da noção de coerência, a qual deveria 
deixar de ser considerada como um fator de textualidade, e ser entendida como um 
“macrofator”, ou seja, entender a coerência como “[...] resultante da atuação 
conjunta de todos os demais fatores e, portanto, decisiva para a caracterização da 
textualidade [...]” (KOCH, 1999, p. 169). 
 
43
 HALLIDAY, M; HASAN, H. Cohesion m Enghsh. London Longman, 1976. 
44 BEAUGRANDE, R.; DRESSLER, W. U. Einfhrung in die Textlinguistik. Tubingen: Niemeyer, 
1981. 
43 
 
A segunda fase da LT no Brasil é marcada pelas obras “A Coesão Textual”, 
de Koch (1989) e por outros dois livros, resultantes da parceria entre Koch e 
Travaglia: o primeiro é “Texto e Coerência”, também publicado em 1989, e o 
segundo, publicado em 1990, é “A Coerência Textual”, nesses últimos, os autores 
concebem a “[...] coerência como um princípio de interpretabilidade do texto [...]” 
(KOCH, 1999, p. 170). 
O terceiro momento da LT no Brasil corresponde, segundo Koch (1999, p. 
171), ao “momento atual”, que tem início nos anos 90, mais precisamente com a “[...] 
forte inclinação para a adoção de uma perspectiva sociointeracional no tratamento 
da linguagem [...]”, presente nas obras de Geraldi, (1991) e Koch (1992), bem como 
“[...] para o estudo dos processos e estratégias sócio-cognitivos envolvidos no 
processamento textual [...]” (Cf. MARCUSCHI, 1994). 
Essas novas perspectivas de abordagens dos fenômenos textuais levou a 
linguística a um “diálogo” com diversas outras áreas do conhecimento, como “[...] 
Psicologia Cognitiva, a Inteligência Artificial, a Neuropsicologia, a Antropologia, a 
Sociologia Interacional e as Ciências Cognitivas de modo geral.” (KOCH, 1999, p. 
171). 
Segundo a autora 
 
Os principais objetos de pesquisa, dentro do enfoque mencionado, 
têm sido a estrutura e o funcionamento da memória, bem como as 
formas de representação dos conhecimentos, seu acessamento, 
utilização, recuperação e atualização, por ocasião do processamento 
de textos; as principais estratégias de ordem sócio-cognitiva, 
interacional e textual postas em ação durante o processo de 
produção/ intelecção; e, ainda, as estratégias de ‘balanceamento' do 
implícito/explícito. (KOCH, 1999, p. 171 – grifos da autora). 
 
Ainda em seu artigo, a autora conclui que a LT, bem como os estudos sobre o 
texto vêm ganhando cada vez mais espaço em eventos e em produções gerais 
(artigos,capítulos de livro, dissertações, teses etc.) em diversas partes do Brasil, 
mostrando ser uma área bastante promissora e já consolidada no âmbito dos 
estudos linguísticos, tanto em pesquisas voltadas para textos falados quanto 
escritos, o que “[...] vêm dando origem a um acervo bibliográfico respeitável, tanto 
em termos quantitativos, como qualitativos.” (KOCH, 1999, p. 175). 
Procurando mensurar a crescente disseminação da LT no Brasil, Silva (2003) 
fez um levantamento de trabalhos publicados no GEL (Grupo de Estudos 
44 
 
Linguísticos do Estado de São Paulo) em um recorte de 10 anos, mais precisamente 
do ano de 1991 ao ano 2000. 
Nessa pesquisa de caráter quantitativo, a autora contabilizou 49 trabalhos 
entre 1.506 publicados nesse decênio, o que corresponde a 3,25% do total. Desses 
49 trabalhos, 32 deles foram voltados ao estudo da coesão e da coerência, o que 
corresponde a 65% do total apresentado. 
A fim de justificar esses dados, a autora da pesquisa ressalta que a 
preferência sobre os estudos de coesão deve-se ao fato de essa estar presente 
desde o início da LT no Brasil, ou seja, desde a sua primeira fase. 
 
3.2 A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS 
 
Adam (2011) propõe “[...] uma teoria da produção co(n)textual de sentido que 
deve, necessariamente, ser fundamentada na análise de textos concretos45 [...]” e 
nessa perspectiva sua obra é caracterizada por duas aspectos centrais, a saber, a 
elaboração de um quadro teórico e sua constante fundamentação em análises 
empíricas. 
Os estudos da Análise Textual dos Discursos (ATD), pensados com o objetivo 
de “[...] responder à demanda de propostas concretas para análise de textos [...]” 
através de uma abordagem teórica e descritiva, vêm se mostrando uma grande 
contribuição para a articulação entre texto, discurso e gênero, de modo que essas 
contribuições vêm ajudando a redefinir os campos da Linguística de Texto e da 
Análise do Discurso (AD) – tornando-se uma ligação entre ambas, o que antes (texto 
e discurso) era visto de forma dissociada (Cf. PASSEGGI et al., 2010, p. 263, 264). 
Adam (2011, p. 14) propõe uma abordagem de texto e discurso de forma articulada, 
situando a “[...] linguística textual como um subdomínio da área mais ampla da 
análise das práticas discursivas, postulando ao mesmo tempo, uma separação e 
uma complementaridade.” Assim, ao ser colocada como um subdomínio do campo 
mais amplo da AD, a ATD visa em seu escopo 
 
45 Essa afirmação sobre a proposta da ATD foi feita na apresentação da edição brasileira da tradução 
do livro “Linguística Textual: introdução a Análise Textual dos Discursos” (ADAM, 2011), mais 
precisamente na página 13. Em outro momento (na página 23), o próprio autor, Adam, tece as 
mesmas palavras definindo LT ao dizer que é “uma teoria da produção co(n)textual de sentido, que 
deve fundar-se na análise de textos concretos.” Segundo Passeggi et al., (2010, p. 264), “muitas das 
afirmações de Adam referentes à Linguística Textual caracterizam, na realidade, sua proposta de 
Análise Textual dos Discursos. 
45 
 
 
[...] teorizar e descrever os encadeamentos de enunciados 
elementares no âmbito da unidade de grande complexidade que 
constitui um texto. [...] [e] concerne tanto à descrição e à definição 
das diferentes unidades como às operações, em todos os níveis de 
complexidade que são realizadas sobre os enunciados. (ADAM, 
2011, p. 63). 
 
Podemos dizer que o objeto de estudo da AD (de linha francesa) é o discurso 
e que o texto é a materialidade linguística necessária para investigá-lo. Já a LT tem 
o texto como seu objeto de estudo, e nele se estuda a sua composicionalidade, as 
operações referenciais, e, consequentemente, as relações de sentido construídas 
pelos usos dos conectivos que também promovem o encadeamento da trama do 
texto, ou seja, a textualidade que faz com que um texto seja efetivamente um texto. 
Jurach (2015) destaca que 
 
[...] apesar do enquadramento que demonstra a relação intrínseca 
entre texto e discurso, o objeto predominante no estudo de Adam 
(2011) fica claro no próprio subtítulo do livro: trata-se de uma análise 
textual dos discursos, ou seja, o trato das sequências textuais e das 
estruturas composicionais está em relevância e é posto numa 
relação de motivação e funcionamento conforme os diferentes atos 
de discurso. (JURACH, 2015, p. 98). 
 
Ainda nesse artigo a autora discute quais traços da AD de linha francesa são 
enfocados por Adam (2011) na constituição da ATD de modo a não haver 
contradições teóricas. Nesse trabalho, Jurach (2015) retoma definições de contexto, 
formação discursiva e interdiscurso e faz comparações com o tratamento que essas 
noções recebem na ATD, 
É importante ressaltar que mesmo afirmando que as noções de análise do 
discurso são provenientes e delineadas pelos estudos de Maingueneau (1991, 
1995), Adam (2011) não explora os conceitos desse autor, ao invés disso, discorre 
sobre alguns conceitos de Pêcheux (1969) e Foucault (1969), fazendo seus devidos 
recortes e estabelecendo as diferenças de sua abordagem, como é o caso dos 
conceitos de plano de análise de discurso, nos quais “Adam (2011) coloca-os em 
uma relação, intermediada pela interação social, com a pragmática representada [...] 
pela ‘ação de linguagem [...]’, a qual, por uma linha vertical [...], aponta para os dois 
polos na relação entre discurso e texto.” (JURACH, 2015, p. 98) como podemos 
observar na figura baixo. 
46 
 
 
Figura 1 – Esquema 4: Níveis ou planos da análise de discurso e níveis ou 
planos da análise textual 
 
 
Fonte: Adam (2011, p. 61). 
 
Esse esquema nos permite compreender que o autor além de sintetizar a 
proposta de sua análise, no que se refere às relações de complementaridade entre a 
LT e a AD, visa à análise da “[...] complexidade da textualidade, no interior da LT, 
como um processo no interior de operações discursivas.” Ou seja, compreende que 
para analisar um discurso é necessário considerar que “[...] toda produção textual 
está inserida em um espaço de interação social e de práticas discursivas 
institucionalizadas que atuam na constituição dos textos.” (JURACH, 2015, p. 106). 
Descrevendo resumidamente o referido esquema, podemos dizer que, no 
nível do discurso, tudo começa com uma Ação de Linguagem ou um objetivo 
(expresso linguisticamente por atos de discurso ou por uma orientação 
argumentativa) que se realiza através de uma Interação Social (N1) e passa por uma 
Formação Sociodiscursiva, ou seja, pelo que pode e deve ser dito, que por sua vez, 
utiliza-se de um dialeto social ou um Socioleto em seu Interdiscurso mediado por um 
gênero. (Cf. PASSEGGI et al., 2010, p. 266). 
47 
 
 De acordo com Adam (2011, p. 63) “Toda ação de linguagem inscreve-se [...] 
em um dado setor do espaço social, que deve ser pensado como uma formação 
sociodiscursiva, ou seja, como um lugar social associado a uma língua (socioleto) e 
a gêneros de discurso.”. 
Observamos que, para o referido autor, as ações de linguagem são realizadas 
através de textos, os quais se desenvolvem por meio da interação social, diferente 
da noção proposta pela ADF de base pecheutiana a qual postula um assujeitamento 
ideológico. 
Para Jurach (2015, p. 106) a ligação entre a LT e a AD não está relacionada 
às questões de ideologia e de interpelação ideológica, mas sim às “[...] 
possibilidades de reflexão sobre o estatuto do texto no interior de uma pragmática 
textual, ou seja, do entendimento de que a linguagem é indissociável da ação e que 
o discurso está relacionado à ação e aos tipos de discursos institucionalizados.”. 
É importante ressaltar que os gêneros, nesse esquema, estão no centro da 
articulação entre texto e discurso. Segundo Passeggi et al. (2011, p. 266) o gênero 
“[...] poderia estar situado na fronteira texto/discurso.”. 
Nos níveis ou planos de análise textual, que vai do N4 ao N8,temos os níveis 
da Textura (N4) relacionado às proposições enunciadas e aos períodos; a Estrutura 
composicional (N5) relacionada às sequências textuais e aos planos de texto; a 
Semântica (N6) relacionada à representação discursiva; a Enunciação (N7) 
relacionada à responsabilidade enunciativa e à coesão polifônica; e, por último, os 
Atos de discurso (N8) referentes ao ilocucionário e à orientação argumentativa. 
Nossa pesquisa está inserida na perspectiva dos níveis ou planos da análise 
textual, mais precisamente no nível 5 (N5), o qual corresponde à “estrutura 
composicional (sequências e planos de texto)”, a partir do qual tomamos como 
categoria de análise a sequência narrativa para analisarmos a estrutura 
composicional do relatório da sentença judicial. 
 
3.2.1 Estrutura composicional: planos de textos 
 
Os planos de textos juntamente com as sequências textuais fazem parte da 
estruturação sequencial composicional de um texto. Para Adam (2011, p. 257 – 
grifos do autor), “Os planos de texto desempenham um papel fundamental na 
composição macrotextual do sentido. Correspondem ao que a retórica colocava na 
48 
 
disposição, parte da arte de escrever e da arte oratória que regrava a ordenação 
dos agrupamentos tirados da invenção.” Dessa forma, o plano de texto diz respeito à 
organização do texto; como o texto se organiza e como suas partes estão 
distribuídas; como ele é constituído; quais são sua partes identificáveis ou não – isso 
porque um plano de texto pode ser fixo/convencional ou ocasional. 
Segundo o autor 
 
Um plano de texto pode ser convencional, isto é fixado pelo estado 
histórico de um gênero ou subgênero do discurso. Mas o plano de 
texto de um editorial, de uma canção ou de um poema, o texto de 
uma publicidade, de um discurso político, de uma novela ou de um 
romance é com frequência, ocasional, inesperado, deslocado em 
relação a um gênero ou subgênero do discurso. O papel de um 
sumário e, às vezes, dos entretítulos de um artigo ou dos capítulos 
de um romance é explicar, a estrutura composicional de um dado 
texto. (ADAM, 2011, p. 258 – grifos do autor). 
 
Para o autor, um plano de texto considerado convencional ou fixo diz respeito 
a uma estrutura – como o próprio nome já sugere – institucionalizada historicamente 
sob a forma de gênero do discurso, e esses gêneros são reconhecíveis a partir de 
um sistema de conhecimento de determinado grupo social o que implica dizer que 
segue uma estrutura padrão, estabelecida por critérios institucionais. Nessa 
perspectiva, os planos de textos são responsáveis por permitir a (re)construção e a 
organização global de um texto, constituindo-se assim como um fator unificador da 
estrutura composicional de um texto e desempenhando um importante papel na 
composição macrotextual do sentido. 
Sobre os planos de textos considerados ocasionais, Adam (2011) cita como 
exemplo gêneros como editoriais, canções, poemas, novelas e romances entre 
outros por serem gêneros que, necessariamente, não obedecem às regras de 
composição, o que torna seus planos de textos inesperados e deslocados em 
relação a um gênero ou subgênero do discurso. 
Segundo Marquesi (2016, p. 116), na perspectiva da ATD, “[...] o plano de 
texto é responsável por organizar as sequências textuais e, consequentemente, as 
informações para que as intenções de produção sejam entendidas e 
materializadas.”. Para a autora, “[...] tanto o plano de texto como as sequências 
textuais concorrem, conjuntamente, para que o texto constitua um todo com 
sentido.”. 
49 
 
Adam (2011), por sua vez, compara a noção de plano de texto com a noção 
de sumário. O papel de um sumário, por exemplo, em artigo, dissertação, tese, ou 
livro de natureza diversa, é imprescindível para que o leitor/ouvinte tenha uma visão 
geral do texto/trabalho que o sucede. Mais precisamente, através de um sumário 
vemos as partes que constitui o todo, ou seja, é através da ordem ou sequência em 
que são dispostos os títulos das seções que temos uma visão geral de como o 
texto/trabalho está organizado e, assim depreendemos a sua composição através de 
sua estrutura e até o seu propósito comunicativo ou sua orientação argumentativa. 
Se tomarmos como exemplo o sumário desta dissertação e observarmos a 
ordem e a distribuição dos títulos das seções (primárias, secundárias etc.) – desde a 
introdução até as considerações finais – temos uma visão geral de como o trabalho 
está estruturado e, consequentemente, temos uma visão macro de sua finalidade, 
que é o estudo da realização da sequência narrativa – conforme o modelo de análise 
de Adam (2011) – no gênero sentença judicial. 
Semelhante a isso, acontece com artigos acadêmicos, os quais não possuem 
sumário, mas que são organizados em blocos ou seções separados por seus 
“entretítulos” o que também contribui para uma visão geral de como o texto está 
organizado e do que especificamente trata. Ou seja, tanto o sumário quanto os 
entretítulos usados em textos de natureza diversa são exemplos de um 
detalhamento do todo – exemplos de um plano de texto. 
Dessa forma, observando a necessidade e a importância da aplicação da 
noção de plano de texto para o estudo da estrutura composicional de um texto, 
utilizamo-nos desta noção na análise da composição do gênero sentença judicial. 
Acreditamos que através do plano de texto podemos ter uma visão mais ampla e da 
organização estrutural e composicional do gênero e temos também uma visão geral 
de sua composição no que se refere às sequências textuais que o constitui. 
 
3.2.2 Noção de sequências textuais 
 
No âmbito dos estudos linguísticos, muitas são as abordagens a respeito das 
estruturas composicionais dos textos e do seu modo de organização interna. 
Segundo Cavalcante (2016, p. 62), essas estruturas que constituem “[...] uma forma 
de composição com uma função específica [...]” como, narrar, argumentar, 
descrever, instruir, explicar e apresentar uma conversa podem ser chamadas de 
50 
 
sequências ou de tipos (tipologias) textuais. A escolha dessas e outras terminologias 
varia de acordo com as abordagens teóricas e, consequentemente, de acordo com 
os critérios utilizados para estabelecer os seus respectivos níveis de análise 
(semântico, linguístico, etc.). 
Apesar de serem inúmeras as abordagens, o que não podemos deixar de 
observar é que há também bastantes traços convergentes entre elas e isso é 
decorrente da heterogeneidade de que os textos são constituídos, bem como de sua 
multiplicidade. A fim de compreendermos como os textos se estruturam e se 
organizam internamente, nesta seção apresentamos a noção de sequências ou tipos 
textuais na concepção de alguns autores. 
Para Bronckart (1999), uma sequência textual é constituída por unidades 
estruturais relativamente autônomas. Para o autor, essas unidades são formadas 
por fases, que pode ser desde uma única proposição a um conjunto delas. 
Rodrigues (2014, p. 21) observa que “O modo de organização do discurso 
postulado por Charaudeau ([1992] 2008) corresponde ao que Adam (2008, 1992) 
designa por sequência e Werlich (1973), por tipo textual.”. 
Adam (2011), a partir da abordagem explicitada no quadro teórico da ATD, 
situa as sequências textuais como 
 
[...] unidades textuais complexas, compostas de um número limitado 
de conjunto de proposições-enunciados: as macroproposições. A 
macroproposição é uma espécie de período cuja propriedade 
principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, 
ocupando posições precisas dentro de um todo ordenado da 
sequência. (ADAM, 2011, p. 205). 
 
Para Adam (loc. cit.) “[...] as macroproposições que entram na composição de 
uma sequência dependem de combinações pré-formatadas de proposições.” E é 
justamente dessas diferentes combinações que resultam nas chamadas sequências 
que podem ser descritivas, dialogais, explicativas, argumentativas e narrativas. Ou 
seja, para oautor, o agrupamento das proposições, que são unidades textuais 
mínimas, formam estruturas maiores chamadas macroproposições, que constitui seu 
sentido em relação às outras, no que chama de “unidade hierárquica da sequência”. 
Antes de chegarmos à definição do termo sequência, elucidamos a distinção 
que o autor faz justamente entre uma sequência e um período. Para o autor “As 
proposições-enunciados estão sujeitas a dois grandes tipos de agrupamentos que 
51 
 
as mantêm juntas. [São elas, as] unidades textuais frouxamente tipificadas, os 
períodos, e [as] unidades mais complexas, tipificadas, as sequências [...].” (ADAM, 
2011, p. 204 – grifos do autor). 
Para o autor, os períodos possuem uma “[...] amplitude potencialmente menor 
que as sequências [...]”, mas a diferença entre ambos não reside na extensão ou no 
“volume” e sim na “[...] complexidade do todo formado pela organização das 
proposições-enunciados.”. O autor explica que “[...] os períodos são unidades que 
entram diretamente na composição das partes de um plano de texto [...]” (Ibid., p. 
204-205.). 
Adam (op. cit., p. 105-106) considera as proposições-enunciado ou 
proposições-enunciadas como unidades textuais mínimas. O autor rejeita a noção 
de frase (conforme compreendida pela gramática) por entender que seus “[...] limites 
não são verificáveis e cujas descrições são igualmente imprecisas”. Para ele, faz-se 
necessário o entendimento de uma unidade textual mínima “[...] que marque a 
natureza do produto de uma enunciação (enunciado) e de acrescentar isso à 
designação de uma microunidade sintático-semântica [...]” o que, na sua visão, o 
conceito de proposição os faz muito bem. 
O autor ainda enfatiza que ao falar de proposição-enunciado, não está 
definindo-a como “[...] unidade virtual como a proposição dos lógicos ou dos 
gramáticos [mas sim a define como] uma unidade textual de base, efetivamente 
realizada e produzida por um ato de enunciação, portanto, [...] um enunciado 
mínimo.” (Ibid., p. 106 – grifos do autor). 
Sobre as sequências textuais, Adam (op. cit.) afirma que são constituídas por 
unidades mínimas de composição textual chamadas proposições, e que o conjunto 
dessas proposições, as macroproposições, que são hierarquicamente relacionadas 
e relativamente independentes, podem constituir unidades mais complexas de 
análise; as chamadas sequências, que, por sua vez, podem ser descritivas, 
dialogais, argumentativas, explicativas e narrativas. 
A sequência é considerada uma estrutura por ser uma rede relacional 
hierárquica e também uma entidade relativamente autônoma. Ou seja, a sequência 
é uma rede relacional hierárquica porque é formada por partes (macroproposições) 
que se ligam entre si e ao mesmo tempo são ligadas ao todo que elas constituem. E 
é relativamente autônoma porque apesar de ter uma organização interna que lhe é 
52 
 
própria há uma relação de dependência com o conjunto maior do qual faz parte (o 
texto). 
Para Adam (2011, p. 205), as sequências textuais são reconhecíveis através 
de “relações macrossemânticas memorizadas por impregnação cultural”, ou seja, 
através de “esquemas de reconhecimento de estruturação da informação textual” 
compreendidos e partilhados pela escuta de textos, pela leitura e pela escrita. Ou 
seja, através da escrita, da leitura e da escuta de textos, memorizamos esses 
esquemas a partir dos quais somos capazes de reconhecer e identificar certas 
estruturas (sequências). 
 
3.2.2.1 A sequência textual narrativa 
 
Antes de discorrermos sobre os pressupostos teóricos da ATD no que se 
refere à estruturação e definição das sequências textuais narrativas conforme o 
modelo prototípico de análise das sequências narrativas de Adam (2011) – as quais 
tomamos como base para análise das sequências narrativas no gênero sentença 
judicial – é importante salientarmos o início dos estudos da narrativa. O nosso 
objetivo nesta seção não é problematizar o conceito de sequência narrativa, mas sim 
mostrar, de forma sintética, a origem desses estudos e as contribuições de alguns 
dos principais autores para a consolidação dessa categoria de análise para os 
estudos linguísticos. 
Ao nos debruçarmos sobre os estudos da narrativa, ressaltamos a relevância 
dos estudos de Aristóteles (1992) pelo fato desse autor ter discorrido de maneira tão 
profunda sobre o que denominou tragédia, que até os dias de hoje suas 
considerações, definições e reflexões permanecem como ponto de partida para os 
estudos da narrativa. 
Os estudos sobre a narrativa foram retomados por Vladimir Propp ([1928] 
1983) em um trabalho em que propôs o que ele chamou de morfologia dos contos 
de fada. Trata-se de uma análise descritiva de contos de fada russo, mais 
precisamente contos folclóricos ou contos de magia, (chamados pelo autor de 
contos maravilhosos) nos quais o autor se debruçou na descrição de suas partes e 
como essas partes eram constituídas, observando as relações dessas partes ligadas 
entre si e na constituição do todo. 
53 
 
Em suas conclusões, o autor constatou que, os contos possuíam ações 
sempre muito características e, por vezes repetitivas, o que o levou a entender que 
os contos emprestam suas ações a personagens diferentes – uma forma clara de 
afirmar que há uma espécie de “fórmula” ou um “modelo” preestabelecido ou 
convencional no que se refere às ações e às funções das personagens, em suma, 
às estruturas desses contos. 
Bremond (1966), em uma revisão aprofundada dos trabalhos de Propp ([1928] 
1983), propôs uma estrutura triádica – um modelo para analisar os enunciados 
narrativos – que consistia em um esquema narrativo mais abrangente, aplicável a 
toda e qualquer narrativa, diferente de Propp que fez uma análise específica de 
cunho descritivo apenas dos contos de fadas russos. Basicamente, Bremond (op. 
cit.) divide uma estrutura narrativa em ‘antes’, ‘durante’ e ‘depois’ o que corresponde 
à ordem cronológica de um evento, ou seja, o começo, o desenvolvimento e o 
término respectivamente. 
Porém em análises fundamentadas no modelo triádico de Bremond (1966; 
1973), Adam (1987b) observa que na leitura de textos (narrativos) existe uma 
espécie de processo de vai e vem, em oposição a um processo cognitivo somente 
linear. O autor reconhece ainda que esse processo de vai e vem busca identificar 
termos antecedentes e suas consequências; os agentes, suas ações e as 
consequências dessas ações. Essas reflexões feitas pelo autor levaram-no à 
elaboração dos conceitos que fundamentam a sua proposta analítica de um 
protótipo narrativo e, consequentemente, da definição de conceitos chave, como 
proposição narrativa, macroproposição narrativa, e sequência narrativa. 
Segundo Vieira (2001, p. 602) “Os conceitos de macroestrutura narrativa e de 
macroproposição narrativa foram cunhados por Adam (1984 e 1985)46 e aplicados 
às teorias do enunciado narrativo de diversos autores.”. 
Por seu turno, Labov e Waletzky (1967) propuseram uma estrutura narrativa 
com cinco momentos (Orientação, Complicação, Avaliação ou Ação, Resolução e 
Conclusão ou Moral). Grosso modo, podemos descrever esses momentos presentes 
em um texto narrativo da seguinte forma: a Orientação encontra-se no início da 
narrativa e trata dos elementos contextualizadores como o espaço, o tempo, as 
personagens e suas características; a Complicação é o momento em que ocorre 
 
46
 Referência citada conforme Vieira (2011). 
54 
 
alguma situação que modifica o estado inicial das coisas – é o que dá início à 
narrativa propriamente dita; a Ação se refere à transformação de uma nova situação 
(provocada pela complicação) e a Avaliação se refere às reações/atitudes das 
personagens em resposta também a essa complicação; o novo estado em que 
chega a narrativa é chamado de Resultado – uma espécie de contraponto com o 
estado inicial da estória; a Conclusãoou a Moral é a elaboração final da narrativa 
com base nas consequências da estória. 
O modelo de análise do texto narrativo proposto por esses autores é 
frequentemente utilizado por pesquisadores que trabalham com a narrativa oral. 
Nesse trabalho de 1967, por exemplo, os autores coletaram uma grande quantidade 
de narrativas orais de crianças e adultos para fazer suas análises. Labov e Waletzky 
(op. cit., p. 27) definem uma narrativa mínima como “[...] uma sequência de duas 
proposições narrativas restritas, temporalmente ordenadas, de maneira que uma 
mudança em sua ordem resultará na mudança na sequência temporal da 
interpretação semântica original [...]”. 
Ressaltamos, ainda que, na Sociolinguística, Labov (1972, 1997) desenvolveu 
uma das abordagens mais influentes das já propostas nos estudos da linguagem 
para o estudo da narrativa. Para o autor, a narrativa é “[...] um método de recapitular 
a experiência passada, combinando uma sequência verbal de orações na ordem em 
que os eventos ocorreram [...]” (LABOV, 1972, p. 359-360). 
Nessa perspectiva, uma narrativa mínima deve conter, ao menos, uma 
sequência de duas orações narrativas, que expressem complicação e resolução, 
independentes e temporalmente ordenadas, ou seja, entre essas duas orações deve 
haver uma espécie de juntura ou sucessão temporal. Entretanto, o autor destaca 
que uma estrutura narrativa pode ser composta por outros elementos além das 
orações narrativas, como: resumo, orientação, complicação, avaliação, resultado ou 
resolução e coda. 
Para Bruner (2014, p. 30) a coda é “[...] uma avaliação retrospectiva do que o 
todo poderia significar – um recurso que também devolve o espectador ou o leitor do 
tempo e do espaço da narrativa para o aqui e o agora da narração.” 
Rodrigues (2014, p. 19) salienta ainda que a proposta de análise das 
sequências narrativas proposta por Adam (1992; 2011) é bastante próxima do 
modelo proposto por Labov (1972), diferenciando-se, basicamente, na seção “coda”. 
55 
 
Segundo Cunha (2015), Labov (1972) entende que a orientação, 
necessariamente, não deve se fazer presente apenas no início do texto, mas 
distribuída por todo ele por ser considerada como uma espécie de oração livre; e a 
avaliação, no entendimento do autor, passa a ser o terceiro elemento mais 
importante da narrativa (depois da complicação e da resolução), pois indica a sua 
razão de ser, ou seja, o motivo que justifica a estória estar sendo narrada. A 
avaliação, assim, não se refere apenas às reações/atitudes das personagens em 
resposta a uma complicação, ela passa a ser uma suspensão da ação iniciada na 
complicação, mas, sobretudo passa a ser um recurso usado pelo narrador para 
chamar a atenção do ouvinte a respeito dos acontecimentos centrais, já expressos 
em um primeiro momento, e em virtude do suspense criado, pode trazer a resolução 
com uma força maior. Para o autor, tanto as orações narrativas quanto as chamadas 
orações livres possuem uma espécie de força avaliativa, e isso é possível através de 
elementos dêiticos, comparadores, correlativos e explicativos, ou seja, através das 
escolhas lexicais feitas. 
Para Cunha (2015), o resumo é entendido como sendo a parte do texto 
narrativo que 
 
[...] sinaliza para o ouvinte que um turno de maior extensão se inicia, 
bem como [sinaliza] a natureza narrativa desse turno. Além disso, ele 
expressa o ponto (o interesse, o objetivo) da história que será 
contada. [...] a coda sinaliza o final da sequência de ações que se 
iniciou na complicação e permite ao locutor passar do mundo da 
narrativa para o mundo da interação. (Ibid., p. 42 – grifo do autor). 
 
Todorov ([1971] 2003), também, por sua vez, aponta para a divisão do 
enunciado narrativo em cinco momentos. Para ele 
 
A intriga mínima completa consiste na passagem de um equilíbrio 
para outro. Uma narrativa ideal começa com uma situação estável 
que uma força qualquer vem perturbar. Disso resulta um estado de 
desequilíbrio; pela ação de uma força com sentido contrário, o 
equilíbrio é restabelecido; o segundo equilíbrio é semelhante ao 
primeiro, mas os dois nunca são idênticos. Há, por conseguinte, dois 
tipos de episódios numa narrativa: os que descrevem um estado (de 
equilíbrio ou de desequilíbrio) e os que descrevem a passagem de 
um estado para outro. (Ibid., p. 169-170). 
 
56 
 
Como podemos observar, há convergências entre Labov e Waletzky (1967), 
Labov (1972; 1997) e Todorov ([1971] 2003) no que se refere às descrições dos 
momentos de uma narrativa, principalmente no que se refere ao desenrolar de uma 
intriga, ou seja, da quebra de uma situação de equilíbrio ao desfecho ou à resolução 
dessa intriga, ou seja, para esses autores, a intriga (complicação ou perturbação) é 
condição para se instaurar a narrativa. 
Adam (1985) considera que a questão de um estado de equilíbrio, citada por 
Todorov (op. cit.), não é obrigatória para iniciar uma narrativa, de modo que ela (a 
narrativa) também pode começar como um estado de “desequilíbrio”. Nessa 
perspectiva, para Adam (op. cit.), o que define efetivamente uma sequência narrativa 
elementar é a mudança de estado de coisa e isso passa de uma situação de “Estado 
inicial” para uma situação de “Estado final” intermediado por uma “Transformação 
ativa ou passiva”. Ou seja, um antes, um durante e um depois. 
Bruner (2014, p. 26-27 – grifo do autor) assevera que 
 
[...] uma história deve começar com uma ruptura na ordem esperada 
das coisas – a peripeteia de Aristóteles. Algo de errado acontece; se 
não, não há nada a ser dito. A história abrange os esforços de se 
lidar com essa ruptura e com as suas consequências. Finalmente, 
deve haver um desfecho, algum tipo de resolução. 
 
Segundo Cunha (2015), a proposta de Adam (1992) busca contribuições em 
alguns dos autores citados anteriormente e também em estudiosos da cognição para 
defender a ideia de que para possibilitar a identificação de determinados tipos de 
sequências, ativamos conhecimentos sobre esquemas sequenciais prototípicos 
tanto para compreendermos quanto para produzirmos um texto. 
Entendemos que em alguns pontos a proposta de análise da sequência 
narrativa proposta por Adam (2011) se assemelha ao modelo narrativo de 
experiência pessoal proposto por Labov (1997), porém concordamos com Rodrigues 
(2016, p. 133) ao entender que essas propostas 
 
[...] não se equivalem indistintamente porque, ao certo, a proposta de 
Labov (1997) foi elaborada a partir de experiências vicárias do 
enunciador. [...] Diferentemente, a sequência narrativa proposta por 
Adam (2011b) perpassa as experiências pessoais, a biografia do 
enunciador. 
 
57 
 
As abordagens das chamadas tipologias textuais, predominante nas décadas 
de 70 e 80, postulavam que os textos podiam ser classificados de forma genérica 
como, narrativo, descritivo ou argumentativo, conforme suas homogeneidades, ou 
seja, essas classificações eram dadas por entender que os textos possuíam uma 
homogeneidade composicional no que se refere às produções discursivas. 
Na contramão desse pensamento, Adam (1999) defende a hipótese de que 
um texto é uma estrutura complexa e que por isso não pode ser considerado 
homogêneo, sobretudo no que se refere ao seu tipo, ou seja, que na composição de 
um determinado texto há diversas sequências que podem ser mais ou menos 
prototípicas em relação a diferentes protótipos sequenciais de base. E é com base 
nisso, que o autor afirma que dada a predominância de determinada sequência 
prototípica em um determinado texto poderá se dizer que este é mais ou menos 
narrativo, mais ou menos argumentativo, mais ou menos explicativo, mais ou menos 
dialogal ou mais ou menos descritivo. 
Também é importante acrescentar que, para Adam (op. cit.), as sequências 
prototípicas são formadas por um conjunto de macroproposições e estas 
(macroproposições são formadas) por proposições (enunciado ou enunciadas) 
hierarquicamenteorganizadas, e que a natureza dessas macroproposições é o que 
permite definir ou caracterizar os protótipos. Esse olhar atento à complexidade da 
organização interna dos textos é considerado pelo próprio autor como o grande 
mérito de sua proposta. 
Como já mencionado anteriormente, os estudos que deram origem ao 
protótipo da sequência narrativa proposto por Adam (1992; 1999) foram 
influenciados pelos estudos da narratologia literária clássica (Aristóteles, Propp, 
Bremond, entre outros), mas, sobretudo pelos estudos de Labov (1972) e, com base 
nesses estudos, Adam (1992; 1999) propõe os seguintes critérios, os quais acredita 
serem necessários para se definir toda e qualquer sequência narrativa: 
a) Sucessão de acontecimentos: ou seja, para que ocorra uma narrativa é 
necessário que haja uma série de acontecimentos relatados pelo narrador, 
ordenados em ordem cronológica; 
b) Unidade temática: ou seja, uma narrativa precisa ter um direcionamento no 
que se refere ao tema e, a garantia dessa unidade é dada por um personagem 
humano ou que possua características humanas realizando uma série de ações em 
58 
 
um tempo passado (o que corresponde ao critério “Sucessão de acontecimentos”) e 
que também possua características (predicados); 
c) Predicados transformados: ou seja, durante a narrativa o personagem deve 
sofrer mudança dos predicados que lhes foram primeiramente atribuídos. É 
importante ressaltar que essa transformação não significa a ‘inversão’ de suas 
características, como por exemplo, a narrativa descrever a personagem como triste 
e ao término esse personagem encontrar-se feliz; 
d) Um processo: para que haja mudança nos predicados da personagem e 
para que a narrativa ocorra com uma unidade temática, é necessário que haja um 
processo, ou seja, um ‘durante’, algo entre o início e o fim; 
e) A causalidade narrativa de uma intriga: ou seja, entre os acontecimentos 
temporais, a narrativa deve ser permeada por acontecimentos de natureza causal, 
ou seja, acontecimentos que funcionem como uma espécie de reação ou uma 
resposta a acontecimentos anteriores, o que faz com que a narrativa possua tensão 
própria; 
f) Uma avaliação final (explícita ou inferida): toda narrativa é permeada por 
uma intenção, um objetivo (do narrador) de produzir algum efeito sobre seu 
“narratário”, quer seja fazê-lo crer, quer seja fazê-lo saber algo. É esse objetivo que 
justifica tanto o porquê de se contar determinada história quanto o porquê de se dá 
sentido a ela, e esse objetivo pode ser explicitado ou inferido no texto através do que 
o autor chama de “avaliação final” ou moral. 
Adam (2009), ao observar que uma narrativa não consiste apenas em 
macroproposições de base narrativa que corroboram para as sucessões de 
acontecimentos, conclui que essa estrutura não é homogênea. O autor destaca o 
papel da interação através das macroproposições de ordem descritiva (lugares e 
personagens), ao observar que isso indica uma necessidade pragmática (por parte 
do narrador), uma espécie de vontade de ser compreendido, e mais do que isso, de 
convencer o leitor ou o ouvinte e até mesmo de justificar por que a história deve ser 
narrada (moral). 
O autor também parte do princípio dialógico de Bakhtin ([1979] 2003), o qual 
compreende que o discurso é sempre produzido para o outro. 
Por considerar a dimensão pragmática nas estruturas narrativas, Adam (2009) 
diverge das concepções dos estruturalistas, os quais defendiam que uma narrativa 
seria indiferente ao contexto. 
59 
 
Para Adam (2011, p. 207) as sequências narrativas, assim como as outras 
sequências, são “[...] atos de discurso não-primitivos [...], mas intermediados entre o 
objetivo ilocucional primário da asserção [...] e o objetivo último do ato assertivo [...]”. 
Para ele, em sentido mais amplo, toda narrativa pode ser considerada 
 
[...] uma exposição de ‘fatos’ reais ou imaginários, mas essa 
designação geral de ‘fatos’ abrange duas realidades distintas: 
eventos e ações. A ação se caracteriza pela presença de um agente 
– ator humano ou antropomórfico – que provoca ou tenta evitar uma 
mudança. O evento acontece sob o efeito de causas, sem 
intervenção intencional de um agente. (Ibid., p. 225, grifos do autor). 
 
O referido autor justifica que essa teoria das sequências surgiu como reação 
à excessiva generalidade das tipologias de texto. E ao descrever as formas tidas 
como elementares de textualização, a saber, as narrativas, descritivas, 
argumentativas, explicativas ou dialogais, afirma que suas propostas “[...] 
inscreviam-se no prolongamento linguístico da teoria psicocognitiva dos esquemas 
[...]”, que tem sua origem nos trabalhos de autores como Sir Frederic Bartlett (1932) 
e desenvolvida, principalmente por Walter Kintsch; Teun A. Van Dijk (1983), além de 
Fayol (1985; 1997) e Coirier et al. (1996). Adam (2011) explica ainda que 
 
Segundo essa teoria, em um primeiro nível, um sentido ou uma 
representação proposicional e um valor ilocucionário são atribuídos 
às proposições. Em um segundo nível, em ciclos de processamento, 
esses conjuntos de proposições são condensados para serem 
armazenados na memória de trabalho e permitirem o 
prosseguimento de enunciados seguintes. O estabelecimento desses 
agrupamentos semânticos é facilitado em um último nível, pelo 
reconhecimento de organizações convencionais esquemáticas que T. 
A. Van Dijk propôs chamar ‘superestruturas’. (Ibid., p. 206 – grifo do 
autor). 
 
Adam (2011) critica o termo “superestruturas” usado por van Dijk (1983) para 
sequências como narração e argumentação, bem como para gêneros textuais como 
o soneto ou plano de um artigo científico. Adam (2011) ressalta que essa noção 
engloba assim “unidades textuais demasiadamente diferentes”, e por esse motivo 
afirma que “Os conceitos de plano de texto […] e de sequência têm por objetivo 
esclarecer a natureza desses dois níveis de agrupamento das unidades textuais.” 
(ADAM, 2011, p. 206). 
60 
 
O autor ainda destaca a relevância de sua abordagem quando cita o fato de 
que narrar, descrever, argumentar e explicar “[…] são macroações sociodiscursivas 
que as teorias clássicas dos atos de discurso não permitem descrever.” e continua 
frisando que “Apesar de se tratar de capacidades cognitivas e pragmáticas 
fundamentais na gestão das relações interpessoais, essas competências estão 
longe de ocupar um lugar importante na teoria dos atos de discursos.” (p. 207). 
Para Adam, (2011, p. 225) “As diferentes formas de construção da narrativa 
dependem de seu grau de narrativização.” Segundo o autor, uma narrativa pode ser 
constituída de diferentes formas e isso diz respeito ao seu grau de narrativização ou 
a sua complexidade narrativa. Uma narrativa que apenas elenca uma série de ações 
ou eventos possui um baixo grau de narrativização, já uma narrativa que possui 
todas as cinco macroproposições narrativas de base constitui uma narrativa com um 
alto grau de narrativização. Essas macroproposições narrativas de base (Pn) 
correspondem, segundo Adam (op. cit., p. 226) “[...] aos cinco momentos (m) do 
aspecto: antes do processo (m1), o início do processo (m2), o curso do processo 
(m3), o fim do processo (m4) e, por ultimo, depois do processo (m5).”. Assim, a fim 
de visualizarmos os limites e o núcleo do processo narrativo expomos o esquema 18 
de Adam (2011) através da figura 2: 
 
Figura 2 – Esquema 18: Limites e núcleo do processo narrativo 
 
 
Fonte: Adam (2011, p. 226). 
 
A “Pn1” corresponde ao momento da Situação Inicial do enredo. É a primeira 
macroproposição e corresponde ao primeiro momento da narrativa, ou seja, ao 
61 
 
momento anterior ao processo propriamente narrativo. É a parte do texto que situa o 
leitor sobre as personagens ou sobre os participantes da narrativa e sobre o seu 
estado comportamental dentro de uma história, bem como sobre o lugar e o tempo 
em que essa história acontece. As informaçõescontidas nessa macroproposição, 
geralmente, respondem questões como “quem?” “o quê?” “onde?” e “quando?”. A 
Pn1 também é responsável pela apresentação de um estado de coisas equilibrado, 
porém não em si mesmo, mas em relação contrária a um desequilíbrio, a uma 
perturbação que venha alterar sua condição, que seria a Pn2 ou o Nó. 
A “Pn2” ou o Nó é a segunda macroproposição e corresponde ao segundo 
momento da narrativa ou o início efetivo do processo narrativo. O Nó é o 
desencadeador da intriga da narrativa – por isso indispensável – pois é o momento 
da complicação, transformação do estado de equilíbrio; nesse momento inicia-se o 
processo propriamente dito da narrativa, no qual se dá a trama, e pode se criar uma 
espécie de tensão. Esse momento também é responsável pela causalidade narrativa 
de uma colocação em intriga, por meio da “quebra” de uma situação inicial 
equilibrada. Silva (2012, p.135) considera que a complicação provocada pelo Nó é 
“[...] considerada a macroproposição narrativa por excelência”. 
A “Pn3” é a terceira macroproposição e corresponde ao terceiro momento da 
narrativa, entendido por Adam (2011) como o curso do processo narrativo. Esse 
momento corresponde à Re-ação ou à Avaliação dos envolvidos na narrativa (seja 
de quem age, seja de quem sofre, ou de quem comenta a ação vivida/presenciada) 
em resposta ao Nó que se estabeleceu no enredo. Ou seja, a Re-ação (Pn3) 
consiste na ação ou na reação da personagem e a Avaliação (também Pn3) consiste 
no fato de a personagem, ao invés de agir, apenas avaliar a situação provocada pelo 
Nó (Pn2); ambos estão no centro da narrativa e funcionam como uma resposta, uma 
espécie de consequência provocada pela Pn2. 
A “Pn4” é a quarta macroproposição e corresponde ao quarto momento da 
narrativa. É nesse momento que ocorre o Desenlace dos acontecimentos; é a 
resolução ou a solução do conflito criado pela quebra do estado de equilíbrio. Esse 
momento marca o fim do processo narrativo e representa a introdução de 
acontecimentos que reduzem ou solucionam a situação de tensão ou de conflito 
criada no Nó (Pn2). Segundo Adam e Revaz (1997, p. 80), 
 
62 
 
Se o desenlace está claramente expresso, a Situação final não tem 
forçosamente necessidade de ser explicitada. Ao invés, o impasse 
pode ser estabelecido muito excepcionalmente sobre o Desenlace, 
na condição de a Situação final estar determinada. Em contrapartida, 
o Nó desencadeador da acção apresenta um caráter obrigatório. 
 
A “Pn5” ou a fase de Situação Final é a quinta macroproposição e 
corresponde ao quinto momento da narrativa ou ao momento depois do processo. 
Essa macroproposição é a parte textual que marca o final da narrativa. Momento em 
que a nova situação de equilíbrio é instaurada. A Situação final também explicita o 
novo estado equilibrado, que não é necessariamente “positivo” para a personagem 
principal; esse momento é alcançado na fase de resolução da intriga e é também o 
momento em que a narrativa efetivamente se encerra. 
Um outro ponto importante que os autores abordam é a diferença entre a 
estrutura da intriga e tensão dramática. Isso porque Bourneuf e Ouellet (1989 apud 
ADAM; REVAZ, 1997, p. 82) ao afirmar que “A intriga, enquanto encadeamento de 
factos, assenta na presença de uma tensão interna entre esses factos.” consideram 
a tensão como um elemento constitutivo da intriga. Para Adam e Revaz (1997), 
considerar a tensão como parte constitutiva da intriga é uma fazer “confusão”, pois 
são noções diferentes, de modo que os autores entendem que a tensão dramática 
está associada a uma noção essencialmente semântica, enquanto que a noção de 
estrutura de intriga é puramente composicional. Por isso há narrativas que podem 
conter uma intriga sem necessariamente conter uma tensão dramática, assim como, 
por outro lado, um texto pode apresentar uma dimensão dramática sem 
necessariamente ocorrer uma intriga. Isso ocorre quando “[...] os acontecimentos 
são relatados linearmente e nenhum acontecimento particular constitui o nó.” (p. 82). 
Quanto à identificação dessas macroproposições na superfície textual, 
segundo Adam (2011, p. 228 – grifos do autor) 
 
A aplicação do esquema de enredo é um processo interpretativo de 
construção de sentido. Esse processo, guiado pela segmentação e 
por marcas linguísticas muito diversas, é submetido a escolhas e 
decisões de estruturação centradas na identificação de um núcleo e 
um desenlace. 
 
Para o autor, identificar as macroproposições narrativas em uma dada 
sequência textual narrativa é uma questão de interpretação, e isso se dá por meio 
da interação com o texto, ou seja, através da produção/construção de sentidos que 
63 
 
se faz pelo uso de diferentes marcas linguísticas e também através de processos de 
segmentação na superfície textual. Para ele, esse processo de identificação das 
macroproposições é feito, essencialmente com base na identificação de, ao menos, 
dois momentos, o núcleo (Nó) e o desenlace. 
Adam (2011) também chama a atenção para uma espécie de par opositivo na 
sequência narrativa. Mais precisamente o autor evidencia duas relações simétricas 
entre as cinco macroproposições narrativas: a primeira se dá entre o Nó (Pn2) e o 
Desenlace (Pn4) e a segunda se dá ente a Situação inicial (Pn1) e a Situação final 
(Pn5). O que podemos observar é que essas relações simétricas trazem uma 
espécie de contraste entre momentos específicos da narrativa, como é caso do Nó 
(Pn2), que corresponde a uma força que vem perturbar o estado de equilíbrio de 
coisas (Pn1), e o Desenlace (Pn4) que, intermediado pela Re-ação ou Avaliação 
(Pn3), é justamente o momento em que se instaura uma nova situação resultante 
dessa Re-ação já em resposta ao Nó (Pn2) criado. 
A segunda relação simétrica traz o contraste ente a Situação inicial (Pn1), que 
é o momento inicial da narrativa, no qual há uma situação de equilíbrio – não em si, 
mas em oposição ao Nó (Pn2) – e a Situação final (Pn5), que, apesar de também 
trazer uma situação de equilíbrio, “[...] mostra o quadro narrativo após as 
modificações ocasionadas no decorrer do processo narrado.” (OLIVEIRA, 2016, p. 
84). Essa revisão da complexidade da narrativa é uma espécie de ponderação aos 
postulados de Aristóteles (1992), o qual falava de um início, um meio e um fim em 
uma narrativa. Basicamente, a forma da intriga clássica, proposta por Aristóteles, é 
composta por três momentos: o prólogo ou uma exposição de um determinado 
assunto, um nó e um desenlace. Esses três momentos caracterizavam uma ação 
épica ou trágica. 
A fim de ilustrar essas relações simétricas entre as macroproposições citadas, 
a saber entre a Pn1 e a Pn5 e também entre a Pn2 de a Pn4, Adam (2011) propõe 
então o resultado de duas tríades encaixadas, como podemos observar na figura 3: 
 
 
 
 
 
 
64 
 
Figura 3 – Esquema 19: Relações simétricas entre as macroproposições narrativas 
 
 
Fonte: Adam (2011, p. 228) 
 
Além das cinco macroproposições de base narrativa apresentadas, Adam 
considera a existência de casos de uma Entrada prefácio (Pn0) e de uma Avaliação 
final (PnΩ) ou Moralidade. Segundo o autor, “A inscrição de uma sequência narrativa 
em um cotexto dialogal (oral, teatral ou de uma narração encaixada em outra) 
traduz-se pelo acréscimo, na abertura, de uma Entrada prefácio ou de um simples 
Resumo [...]”. Para ele, ao término da narração, a Avaliação final “assume a forma 
da Moralidade das fábulas, ou se traduz a um simples Encerramento.” (Ibid., p. 229 
– grifos do autor). 
É importante destacar que essas macroproposições que garantem a entrada 
e a saída do mundo narrado já haviam sido descritas por Labov e Waletzky (1967) e, 
posteriormente, foram detalhadas em Adam (1994, p. 182-187). (Cf. ADAM, 2011, p. 
229). 
Com vistas a complementar o esquema anterior, o qual mostra cinco 
macroproposições de base narrativa, Adam (2011) propõe o seguinteesquema 
ampliado para dar conta de uma trama de alto grau de complexidade. Esse 
esquema, além das cinco macroproposições já citadas, inclui a Entrada prefácio 
(Pn0) e a Avaliação final ou Moralidade (PnΩ) e suas respectivas relações simétricas 
evidenciadas através de setas horizontais. 
 
 
 
 
 
 
65 
 
Figura 4 – Esquema 20: Estrutura narrativa complexa 
 
Fonte: Adam (2011, p. 229) 
 
Como já exposto anteriormente, um texto narrativo nem sempre comportará 
todas as cinco macroproposições narrativas de base, como também nem sempre 
conterá a Entrada prefácio ou Resumo (Pn0) e o Encerramento ou Avaliação final 
(PnΩ). Também é importante esclarecer que um texto chamado narrativo, 
necessariamente, não é composto apenas por macroproposições narrativas, mas é 
chamado de narrativo por constatar que em sua estrutura há a predominância de 
macroproposições de natureza narrativa. 
Sobre o “efeito dominante”, Adam (2011, p. 276) afirma que esse “[...] é, em 
termos de sequências, determinado seja pelo maior número de sequências de um 
certo tipo que aparecem no texto, seja pelo tipo de sequência encaixante (que abre 
e fecha um texto).”. 
Para Adam (2011), um texto narrativo não é em si homogêneo. Ele pode ser, 
sim, predominantemente narrativo (composto por uma estrutura hierárquica 
complexa), o que implica a presença de outras formas de construções sequenciais 
ou não. Essa heterogeneidade nos textos pode se manifestar em forma de 
sequências encaixadas e, nesse caso, um texto predominantemente narrativo pode 
66 
 
conter, em níveis menores, sequências narrativas encaixadas em sua composição 
(ADAM; HEIDEMANN, 2011; ADAM; REVAZ, 1997; ADAM, 2011). Sobre a narrativa 
encaixada, Adam (2011, p. 273-274) afirma que 
 
[...] pertence a um tipo particular da tradição oral: o conto etiológico, 
gênero narrativo determinado por um objetivo ilocucionário 
explicativo. Os contos etiológicos têm por finalidade dar uma 
resposta às perguntas que o homem se faz sobre as ações 
humanas, tanto as mais comuns como as mais extraordinárias. Pela 
narrativa, é o agir humano que encontra uma explicação [...]. 
 
Para Adam e Revaz (1997, p. 104), em se tratando da parte narrativa do 
discurso, na perspectiva da retórica antiga, a narratio possui a função de convencer. 
Segundo Aristóteles “Ela consiste em dizer tudo o que puder esclarecer o facto em 
causa ou tudo o que fizer crer que ele foi consumado, prejudicial ou ilegal ou como 
se queira apresentá-lo.” (ARISTÓTELES, Retórica, livro III, 1417 a apud ADAM; 
REVAZ, 1997, p. 104). 
Para os autores, “Toda a enunciação narrativa é determinada pelo fim em 
vista. A parte informativa da narrativa é acompanhada de três grandes finalidades: 
RECREATIVA, EXPLICATIVA e ARGUMENTATIVA.” (ADAM; REVAZ, 1997, p. 105 
– grifos dos autores). Como a sentença judicial claramente não se utiliza da 
finalidade recreativa da narrativa, elucidamos aqui nesta seção quais seriam então 
seus aspectos explicativos e argumentativos. 
Adam e Revaz (1997, p. 106) falam de uma categoria de narrativa que tem 
por finalidade explicar os enigmas do mundo. Para os autores, as narrativas 
presentes nos mitos, nas lendas ou nos contos são chamadas de narrativas 
etiológicas. Os autores entendem que “A característica desse tipo de narrativa é a 
coexistência de dois mundos distintos [...]”, a saber, um real e outro fictício. Nessa 
perspectiva, ao mundo real referem-se os enigmas que têm para se resolver. 
Segundo os autores, os contos etiológicos, às vezes, começam por questões 
localizadas no “aqui-agora”. Já no que se refere ao mundo fictício, são elaboradas 
as respostas para os enigmas. 
Sobre a narrativa com finalidade argumentativa, os autores advertem que ela 
tem sua origem em uma das figuras antigas de retórica, o chamado exemplum ou 
simplesmente ‘exemplo’ que é um meio de persuadir. Aristóteles, no livro Retórica 
(livro I, cap. 2 apud ADAM; REVAZ, 1997, p. 107) afirma que “Todos os oradores, de 
67 
 
facto, para persuadirem, fazem demonstrações através de exemplos ou de 
antitemas; não há outros meios senão estes.”. Adam e Revaz (1997) explicam ainda 
que o exemplo age pela indução, ou seja, pela analogia, que pode ser real ou 
fictícia; já o antitema “faz apelo pelo raciocínio dedutivo.”. 
Como anteriormente já foi explicitado, a sentença judicial é um documento 
através do qual o Estado, representado pela pessoa do juiz de Direito, procura 
decidir o justo. Não podemos negar que, independente de ser uma sentença judicial 
ou um resumo de uma determinada partida de futebol, a forma como um discurso é 
organizado diz muito de sua visada argumentativa, ou seja, a fim de conduzir o leitor 
e/ou ouvinte a um determinado juízo de valor ou assumir uma determinada posição, 
o orador (em seu sentido mais amplo) apresenta os fatos sob uma determinada 
perspectiva com o intuito de convencê-lo, ou seja, nessa exposição de fatos é 
comum que alguns desses fatos sejam destacados enquanto que outros sejam 
omitidos. 
Entretanto, nosso foco aqui neste trabalho não é discorrer sobre o aspecto 
argumentativo da sentença judicial, mas sim apresentar a sua estrutura 
composicional e sua organização através da elaboração de um plano de texto e, 
sobretudo, das realizações das sequências textuais narrativas presentes em seu 
relatório. 
Nessa direção, adiantamos que ao usarmos o termo ‘sequências narrativas’ 
(no plural), não nos referimos apenas ao fato de termos três sentenças judiciais 
como corpus dessa pesquisa e consequentemente, seus respectivos três relatórios, 
mas nos referimos, sobretudo, ao fato de um mesmo relatório comportar mais de 
uma sequência narrativa. Dito de outra forma, entendemos que, em um nível global, 
uma sequência narrativa se configura na estrutura composicional do relatório da 
sentença, mas que, além dessa narrativa de nível global, existem sequências 
narrativas menores, as chamadas narrativas encaixadas que funcionam como um 
importante fator de organização textual do relatório e do gênero sentença judicial 
como um todo. 
Nesta seção fizemos uma breve revisão a cerca dos estudos da narrativa que 
serviram como base e que deram origem ao protótipo de análise das sequências 
narrativas proposta por Adam (1992; 1999; 2008; 2011). Nesse percurso histórico e 
teórico, elucidamos a origem dos estudos da narrativa com Aristóteles ([335 a. C.] 
2007), Propp ([1928] 1983), Bremond (1966), Labov e Waletzky (1967), Labov 
68 
 
(1972; 1997) e Todorov (1971; 1973) e suas respectivas considerações a cerca do 
texto narrativo. Como vimos, esses estudos foram de fundamental importância para 
o desenvolvimento da proposta de análise das sequencias textuais desenvolvida por 
Adam. 
Como já exposto, o objetivo dessa pesquisa é analisar como ocorrem as 
sequências narrativas no gênero sentença judicial à luz dos estudos da Análise 
Textual dos Discursos – sobretudo com base no modelo de análise das 
macroproposições de base narrativa proposto por Adam (2011). Para o autor, as 
sequências textuais narrativas podem ser constituídas por cinco ou mais 
macroproposições narrativas de base, as quais correspondem aos cinco ou mais 
momentos de um processo narrativo. Segundo o autor, uma narrativa composta por 
cinco macroproposições possui um alto grau de narrativização; diferente de uma 
narrativa com um baixo grau de narrativização que apenas elenca ações e eventos 
sem problematizá-los. 
 
 
69 
 
CAPÍTULO IV 
 
 
4 METODOLOGIA 
 
 
Neste capítulo, especificamos a natureza da pesquisa; esclarecemos os 
procedimentos e os critérios utilizados na coleta do texto/documento (sentença 
judicial) e detalhamos as categorias e os procedimentos de análise utilizados. 
 
4.1 NATUREZA DA PESQUISA 
 
A pesquisa possui caráter documental e se orienta pelos métodos do 
raciocínio indutivo e dedutivo, apresentando um caráter qualitativo e descritivo. 
O caráterdocumental da pesquisa reside no fato de trabalharmos com 
documentos legais (Cf. CORSETTI, 2006). O corpus desta pesquisa é composto por 
uma única peça processual conhecida na doutrina jurídica como sentença judicial. 
Para as análises, tal documento passou por um tratamento específico que, entre 
outros procedimentos, incluiu o apagamento dos nomes das partes envolvidas, a fim 
de manter-lhes a identidade preservada. 
Quanto ao método do raciocínio indutivo, Severino (2007, p. 89) afirma que 
consiste em “[...] uma forma de raciocínio em que o antecedente são dados e fatos 
particulares e o consequente uma afirmação mais universal.” Ou seja, partimos de 
fatos mais particulares para chegarmos à conclusões mais gerais. Isso implica dizer 
que os resultados obtidos ao fim dessa análise permitirão uma interpretação mais 
ampla a respeito da estruturação composicional da sentença judicial. 
De acordo com os estudos clássicos sobre o método dedutivo, este é definido 
como sendo um procedimento de estudo que vai do geral para o específico, ou seja, 
parte-se de princípios já estabelecidos (tidos como verdadeiros e inquestionáveis) 
para se chegar a determinadas conclusões. 
Ainda sobre esse método, Severino (2007, p. 88) afirma que “[...] é um 
raciocínio cujo antecedente é constituído de princípios universais, plenamente 
inteligíveis; através dele se chega a um consequente menos universal.”. 
70 
 
Nessa perspectiva, partimos de premissas de que a tessitura do relatório da 
sentença é composta por proposições narrativas a fim de aprofundarmos as análises 
e constatar como essas proposições se encadeiam e como formam as chamadas 
sequências textuais: se com simples encadeamento de enunciados ou com um alto 
grau de narrativização, por exemplo. Dessa forma, partimos do que já é conhecido e 
do que já foi constatado em outras pesquisas, a saber, que – grosso modo – existe 
uma narrativa do processo no relatório da sentença. E a partir disso e através de 
uma análise minuciosa com a aplicação de um modelo de análise específico, 
pretendemos chegar a conclusões mais específicas e ainda pouco exploradas. 
A abordagem da pesquisa apresenta um caráter qualitativo, o que nos 
possibilita uma análise mais detalhada do material, e também nos possibilita 
pormenorizar com mais detalhes as interpretações de como se processa e se 
desenvolve o fenômeno da sequência narrativa no gênero. Segundo Oliveira (2016, 
p. 37), a pesquisa ou a abordagem qualitativa é “[...] um processo de reflexão de 
análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão 
detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua 
estruturação.”. 
Quanto à pesquisa descritiva, Charoux (2004) afirma que essa 
 
[...] busca descrever/narrar/classificar características de uma 
situação e estabelece conexões entre a base teórico-conceitual 
existente ou de outros trabalhos já realizados sobre o assunto e os 
fatos coletados. Esse tipo de pesquisa pressupõe uma boa base de 
conhecimentos anteriores sobre o problema estudado, já que a 
situação-problema é conhecida, bastando descrever seu 
comportamento. As respostas encontradas nesse tipo de pesquisa 
informam como determinado problema ocorre. (CHAROUX, 2004, p. 
39, grifos da autora). 
 
Segundo Rudio (1985, p. 57), “Descrever é narrar o que acontece.” Para o 
autor, a “[...] pesquisa descritiva está interessada em descobrir e observar 
fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los.”. 
Assim, para obtermos um detalhamento maior e mais aprofundado sobre os 
estudos da sequência narrativa proposta por Adam (2011) e, consequentemente, a 
aplicabilidade de seu modelo prototípico no relatório do gênero sentença judicial, 
debruçamos-nos em pesquisas já realizadas sobre o assunto, em artigos, capítulos 
71 
 
de livros, dissertações, teses e em periódicos em geral disponíveis na internet e em 
publicações impressas. 
 
4.2 SELEÇÃO DO CORPUS 
 
O corpus desta pesquisa é composto por uma sentença de natureza criminal, 
coletada do Banco de Sentenças do site do Portal da Justiça Federal da 5º Região – 
Rio Grande do Norte (JFRN). A seleção do corpus desta pesquisa deu-se em quatro 
momentos, e, em cada um desses momentos, foram adotados novos critérios com 
vistas a delimitar e reduzir o número de sentenças consideradas necessárias para 
análise e obtenção dos resultados pretendidos. 
Antes de tudo, ao entrarmos no sítio da JFRN e clicarmos na opção Banco de 
Sentenças, fomos direcionados a uma página, a qual solicitou informações sobre 
Vara, Classe, Data da Sentença, Magistrado e Palavras-Chave para que assim 
pudéssemos fazer um recorte, ao máximo preciso, do que buscávamos encontrar. 
Consideramos o preenchimento dessas informações como o primeiro momento da 
seleção do nosso corpus de pesquisa. 
No caso do estado do Rio Grande do Norte, ao todo são oito (8) varas 
distribuídas por cidades como Natal (capital do estado), Ceará-Mirim (município da 
região metropolitana da capital), Mossoró, Caicó, Assu e Pau dos Ferros (todas do 
interior do estado). No momento de preenchimento da opção Vara optamos por 
‘todas’. Quanto à Classe da sentença, optamos por ‘ações criminais’. Como a 
seleção do corpus ocorreu no dia 05 de maio de 2015, procuramos fazer um recorte 
de exatos doze (12) meses, ou seja, do período de 05 de maio de 2014 a 05 de maio 
de 2015 – esse foi o único item de preenchimento obrigatório. No item Magistrados, 
escolhemos a opção ‘todos’, que, inclusive, assim como a opção ‘vara’ estava 
preenchido automaticamente. Não usamos nenhuma ‘palavra-chave’. 
Com essas informações, a pesquisa nos direcionou a uma página com oitenta 
e uma (81) sentenças datadas de 21 de maio de 2014 a 27 de abril de 2015; a 
maioria da cidade do Natal (51 ao todo, divididas entre a 2º vara [23] e a 14º vara 
[28]) e de Mossoró (19 ao todo, divididas entre a 8º vara [07] e a 10º vara [12]). A fim 
de sintetizar as informações preliminares desse primeiro momento da pesquisa, 
mostramos, através de um quadro resumo, as varas, as suas respectivas cidades e 
a quantidade de sentenças encontradas em cada uma delas. 
72 
 
Quadro1: Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da primeira busca 
 
 
Vara 
 
 
Cidade 
 
Nº de Sentenças 
 
2º 
 
Natal 
 
23 
 
8º 
 
Mossoró 
 
07 
 
9º 
 
Caicó 
 
07 
 
10º 
 
Mossoró 
 
12 
 
11º 
 
Assu 
 
02 
 
12º 
 
Pau dos Ferros 
 
01 
 
14º 
 
Natal 
 
28 
 
15º 
 
Ceará-Mirim 
 
01 
 
Dado o considerável número de sentenças disponíveis nesse primeiro 
momento da seleção do corpus, procuramos, no segundo momento, fazer um 
recorte, no que se refere ao ano. Dessa forma, procuramos as sentenças datadas 
apenas do ano de 2015, mais precisamente, de primeiro de janeiro ao dia cinco de 
maio (data da coleta do copus) e com esse novo recorte, encontramos 26 
sentenças, das quais 16 eram oriundas da 14º vara (Natal), como ilustramos no 
quadro resumo a seguir. 
 
Quadro 2: Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da segunda busca 
 
 
Vara 
 
 
Cidade 
 
Nº de Sentenças 
 
2º 
 
Natal 
 
01 
 
8º 
 
Mossoró 
 
02 
 
9º 
 
Caicó 
 
00 
 
10º 
 
Mossoró 
 
04 
 
11º 
 
Assu 
 
02 
 
12º 
 
Pau dos Ferros 
 
00 
 
14º 
 
Natal 
 
16 
 
15º 
 
Ceará-Mirim 
 
01 
 
73 
 
Constatado um número significativamente menor neste segundo momento da 
seleção do corpus, visualizamos previamente todas as sentenças e procuramos 
estabelecer alguns parâmetros para ajudar em nossa delimitação – o que nos levou 
para o terceiro momento dessa seleção. 
Nesse momento, usamos o critério estrutural das sentenças, mais 
precisamente, procuramos as que possuíssem um padrão conforme descrito no 
artigo 381 do CPP e o artigo 489 do CPC (ver página 21 – Seção 2.2) os quais 
estabelecem o que imprescindivelmente deve conter nelas: relatório, fundamentaçãoe dispositivo. 
Embora tenhamos encontrado pouco mais de quatro sentenças com essas 
partes, optamos por aquelas que as dispuseram de forma mais clara, ou seja, com 
os respectivos nomes (relatório, fundamentação e dispositivo) no corpo do próprio 
documento. Além disso, também observamos que muitas sentenças não possuíam 
uma identificação ou uma caracterização própria enquanto documento, ou seja, não 
possuíam sequer uma espécie de timbre ou cabeçalho o que também consideramos 
como critério nessa seleção por entendermos que, em consonância com o CPP, o 
documento precisa também identificar a(s) parte(s) envolvida(s) etc. Nesse caso, 
selecionamos as sentenças que possuíam, ao menos, essas quatro partes bem 
definidas (timbre, relatório, fundamentação e decisão) para uma leitura preliminar, o 
que resultou no número de três (3) sentenças distribuídas da seguinte forma: uma 
da 10º vara (Mossoró) uma da 14º vara (Natal), e outra da 15º vara (Ceará-Mirim) 
como podemos observar no seguinte quadro resumo. 
 
Quadro 3: Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da terceira busca 
 
 
Vara / Local 
 
 
Data da sentença 
 
10º Mossoró 
 
21/01/2015 
 
14º Natal 
 
27/02/2015 
 
15º Ceará-Mirim 
 
13/03/2015 
 
Lidas preliminarmente cada uma dessas sentenças, optamos por escolher 
como corpus a que nos oferecesse maior volume textual ou a que nos pudesse 
oferecer um maior volume de análise. Assim, observamos que, entre as três 
74 
 
sentenças, uma delas – a da 14º vara que corresponde ao município de Natal – 
tratou do processo de três condenados pelo mesmo crime, o que 
consequentemente, trouxe em sua constituição três relatos ao mesmo tempo 
distintos e intercruzados. Dessa forma, dada a sua materialidade linguística, 
distribuição das informações e seu conteúdo como um todo, adotamo-la como 
corpus para essa pesquisa. 
 
4.3 CATEGORIAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE 
 
Com base em Adam (2011), adotamos como categorias de análise as 
macroproposições narrativas de base, a saber: a Situação inicial (Pn1), o Nó (Pn2), 
a Re-ação ou Avaliação (Pn3), o Desenlace (Pn4) e a Situação final (Pn5). Assim 
sendo, a análise ocorreu da seguinte forma: 
1º fizemos o estabelecimento do texto e explicitamos o objeto de análise; 
2º a fim de termos uma visão global do texto, elaboramos o plano de texto, a 
partir do qual pudemos visualizar as sequências narrativas; 
3º produzimos um quadro com duas colunas e reescrevemos todo o relatório 
da sentença e o dispomos enumerado em linhas com vistas a identificar as 
narrativas globais presentes e facilitar a visualização de cada trecho usado na 
identificação das macroproposições; 
4º através de quadro(s) com duas colunas, identificamos as 
macroproposições narrativas de base e, em seguida, fizemos a descrição e a 
interpretação dos componentes narrativos. 
Na exposição do plano de texto da sentença judicial, através de um quadro 
com colunas e cores diferentes, apresentamos como o documento se distribui, 
sinalizando suas partes constitutivas (caracterização do documento, relatório, 
fundamentação, dispositivo e outros detalhamentos). 
É importante ressaltar que a transcrição da sentença judicial que consta no 
anexo passou por adaptações, somente no que se refere à formatação da página 
(espaçamentos), ao tamanho da fonte e espaçamento entre linhas. De modo que 
não houve, portanto, quaisquer outras adaptações ortográficas ou quaisquer outras 
de natureza gramatical que modificassem o conteúdo linguístico do texto. As 
adaptações de formatação foram feitas apenas para comportar o texto do 
documento em um espaço reduzido. 
75 
 
Embora se trate de um documento do domínio público, nas transcrições, 
optamos por substituir os nomes das partes envolvidas pelo uso de suas iniciais a 
fim de preservar-lhes a identidade, assim como também ocultamos quaisquer outras 
informações que possam identificá-las. 
Quanto aos números citados no processo que se referem à identificação de 
folhas e quaisquer outros números que identifiquem outros processos mencionados, 
utilizamos a letra X (maiúscula) para substituí-los, mantendo apenas as datas 
originais para fins de análise. 
Para melhor identificação das sequências textuais narrativas, no terceiro 
momento da análise, reproduzimos o relatório da sentença e enumeramos cada uma 
de suas linhas, observando a formatação da página. Destacamos que essa 
enumeração não coincide, necessariamente, com a disposição das linhas no texto 
original e também pode não coincidir com o texto do documento apresentado em 
anexo. 
Para identificação das linhas, usamos a letra L (maiúscula e em negrito) entre 
colchetes e seguida de um número cardinal do lado esquerdo dos excertos: [L1], 
[L2], [L10] etc. 
Os quadros que abrigam trechos do relatório, dividindo-os em 
macroproposições, possuem duas colunas: a coluna da direita contém os trechos do 
relatório, mais precisamente a localização das ocorrências; já a coluna da esquerda 
contém o nome das proposições narrativas (Situação inicial, Nó, Re-ação etc.). 
Esses trechos do relatório usados e distribuídos nos quadros das macroproposições 
(lado direito) são transcritos sem aspas e precedidos apenas da identificação das 
linhas em que se encontram ([L1], [L2], [L10] etc.). 
A fim de destacarmos trechos que expressam ações centrais em cada uma 
das macroproposições narrativas expressas nos quadros de análise, utilizamos o 
recurso de sublinhar e colorir (em tom de amarelo claro). 
Nos nossos quadros, utilizamos duas cores diferentes para identificarmos as 
relações simétricas existentes envolvendo quatro das cinco macroproposições. Em 
tons claros, utilizamos a cor azul para identificar o par Pn1 (Situação inicial) e Pn5 
(Situação final) e a cor vermelha para identificar o par Pn2 (Nó) e Pn4 (Desenlace). 
A Pn3 (Re-ação ou Avaliação) permanecerá em branco. 
Cada sequência narrativa identificada no relatório da sentença foi analisada 
em um quadro com duas colunas. Primeiro identificamos as narrativas em nível 
76 
 
global e em seguida as narrativas encaixadas. Entre a análise de uma narrativa de 
nível global e outra abrimos espaço para detalhamento das narrativas encaixadas. 
Para a expressão narrativa(s) encaixada(s) usamos as letras NE (maiúsculas). 
Para nos referirmos à ordem em que as narrativas encaixadas aparecem no 
relatório, usamos um número cardinal sucedido das letras NE. Assim, para a 
primeira narrativa encaixada encontrada no relatório, usamos o código NE1, para a 
segunda narrativa encaixada encontrada usamos NE2 e assim sucessivamente. 
Na descrição e interpretação das macroproposições narrativas de base, 
utilizamos, conforme Adam (2011), o termo “Pn”, acompanhado de um número de 1 
a 5. Assim, utilizamos Pn1 para a Situação inicial ou Orientação, Pn2 para o Nó ou 
Desencadeador, Pn3 para Re-ação ou Avaliação, Pn4 para o Desenlace ou 
Resolução e Pn5 para a Situação final. 
Como o relatório dessa sentença judicial possui mais de uma narrativa em 
nível global, ou seja, trata do processo de mais de um condenado, para a narrativa 
do primeiro condenado usamos o código N1, para a narrativa do segundo 
condenado citado no mesmo relatório foi usado o código N2 e para o terceiro 
condenado, N3. 
Na primeira linha horizontal dos quadros usados para separar as 
macroproposições das narrativas encaixadas usamos o símbolo “ < ” (sem aspas) 
para indicar a relação de encaixe do menor (lado esquerdo) para o maior (lado 
direito), ou seja, quando identificamos uma narrativa encaixada dentro de uma 
macroproposição de nível global ou em linhas específicas do relatório, iniciamos 
pela codificação dessa narrativa encaixada e seguimos pela macroproposição de 
nível global e/ou pelas linhas do relatório da sentença judicial. 
Os momentos ou as fases da narrativa que não são identificados nem nas 
narrativas encaixadas nem no relatório da sentença são acrescentados(as)aos 
quadros de análise a través de inferências mediante o co(n)texto. Ou seja, quando 
alguma fase ou algum momento da narrativa não estiver explícito nem na proposição 
narrativa destacada nem no próprio relatório como um todo, completamo-la com 
inferências através da expressão [Por inferência] (entre colchetes e em negrito] – 
seguido do trecho inferido. 
 
77 
 
CAPÍTULO V 
 
 
5 ANÁLISE 
 
 
Neste capítulo, mostramos a análise da sentença judicial conforme descrito 
no capítulo anterior. Dessa forma, a análise dessa sentença está organizada em 
quatro momentos/procedimentos, a saber: estabelecimento do texto, plano de texto, 
relatório e identificação descrição e interpretação das macroproposições narrativas, 
que se repete a cada nova sequência narrativa identificada. 
Antes de darmos início a análise do texto, reiteramos que o nosso foco está 
nas sequências narrativas que se realizam na parte destinada ao relatório, pois, 
como exposto na seção 2.2 (ver página 28), é a parte da sentença que contém “[...] 
o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo.” (ver art. 
489 do CPC). 
Enfatizamos, ainda, que esse “registro” sintetiza a narrativa do fluxo 
processual, que, por sua vez, traz apontamentos e implicações – resultantes das 
tomadas de decisões ao longo de um ou mais processos – para cada um dos 
condenados citados. O relatório dessa sentença, sucintamente, narra os trâmites 
processuais e também decisões que envolvem os três condenados, o que, 
consequentemente, implica desdobramentos (dessas decisões) nas suas vidas – 
dentro e fora dos limites processuais. 
 
5.1 O ESTABELECIMENTO DO TEXTO 
 
Como já exposto no capítulo anterior, a sentença judicial que corresponde a 
nosso corpus é de natureza criminal e foi coletada no banco de sentenças do site da 
Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN) no dia 05 de maio de 2015 e data do 
dia 25 de fevereiro do mesmo ano. Essa sentença é oriunda da 14º vara, que 
corresponde ao município de Natal. Ela é de autoria do Ministério Público Federal e 
trata da resolução do processo de três condenados: JGL, GPS e WPS 
(respectivamente) o que resulta em uma narrativa para cada um deles (as narrativas 
em nível global). JGL, GPS e WPS foram condenados a pena privativa de 
78 
 
liberdade47 de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime 
previsto no art. 171 do Código Penal48 (Estelionato). 
As duas primeiras narrativas referentes aos dois primeiros condenados dessa 
sentença tratam, basicamente, da condenação, da prisão, da fuga e de tentativas de 
captura deles por parte da Polícia Federal em decorrência do não comparecimento à 
unidade prisional onde cumpriam pena em regime semiaberto49, ou seja, deixaram 
de se apresentar – o que é considerado fuga. O caso de WPS é diferente: ele 
também foi qualificado e condenado pelo mesmo crime, mas sequer foi preso. Em 
resumo, os apenados estiveram foragidos por tempo suficiente para que houvesse 
prescrição de suas penas, ou seja, sua extinção e consequente arquivamento de 
seus processos. 
A sentença possui vinte e quatro parágrafos distribuídos nas suas três 
principais partes, a saber, relatório (do parágrafo 1 ao 11), fundamentação (do 
parágrafo 12 ao 20), e dispositivo (do parágrafo 20 ao 24). O relatório da sentença 
possui 26 linhas, das quais 25 trazem o registro das principais ocorrências havidas 
no processo, correspondentes aos três condenados (JGL, GPS e WPS), de modo 
que a vigésima sexta linha traz dois termos encapsuladores: um anafórico e outro 
catafórico como veremos mais adiante. A parte destinada a fundamentação traz 
referências às leis que fundamentam a decisão (dispositivo) do juiz que, por sua vez, 
é a mesma para todos os três condenados mencionados no texto. 
 
 
 
 
 
47
 Conforme o artigo 33 do Código Penal, § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser 
executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes 
critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: 
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; 
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), 
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; 
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o 
início, cumpri-la em regime aberto. 
48
 Art. 171 do Código Penal - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, 
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. 
49
 Segundo o artigo 35 do Código Penal que trata das Regras do regime semiaberto, 
§ 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, 
industrial ou estabelecimento similar. 
§ 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, 
de instrução de segundo grau ou superior. 
79 
 
5.2 O PLANO DE TEXTO 
 
A fim de termos uma visão mais geral de como se estrutura essa sentença, 
elaboramos seu plano de texto para também mostrarmos como esse texto é 
composto e quais são suas principais partes constitutivas. Nessa sentença, 
podemos citar: o peritexto com timbre, data, nomes das partes envolvidas (autor e 
condenados), etc.; o relatório com três narrativas globais; a fundamentação em que 
o juiz utiliza-se de argumentos para respaldar sua decisão; o dispositivo ou a 
decisão onde o juiz profere seu parecer final e a assinatura e/ou a autenticação. 
 
Quadro 4: Plano de texto 
 
 
PERITEXTO 
 
 
Timbre 
 
“JFRN – Justiça Federal no Rio Grande do Norte” 
 
 
Identificação/caracterização do 
documento 
 
 
Número do processo, o nome das partes 
envolvidas (autor e condenados), tipo e nome do 
documento. 
 
 
RELATÓRIO 
 
 
Resumo/síntese das ocorrências 
 
 
[N1] O primeiro condenado (JGL) 
 
 
“1. JGL, qualificado nos autos, foi condenado 
[...].” 
 
[N2] O segundo condenado (GPS) 
 
 
“4. Por seu turno, GPS, também qualificado nos 
autos, foi igualmente condenado [...].” 
 
 
[N3] O terceiro condenado (WPS) 
 
 
“7. Finalmente, WPS, também qualificado nos 
autos e igualmente condenado [...].” 
 
 
Os três condenados (JGL, GPS e 
WPS) 
 
 
“8. A sentença que apenou os condenados 
transitou em julgado em [...].” 
 
 
FUNDAMENTAÇÃO 
 
 
Os fundamentos da decisão. 
80 
 
 
DISPOSITIVO 
 
 
Decisão do Juiz 
“21. Ante o exposto, DECLARO EXTINTA A PUNIBILIDADE das penas impostas a JGL, 
GPS, e WPS [...].” 
 
 
AUTENTICAÇÃO/ASSINATURA 
 
 
Local, data e assinatura do juiz 
 
 
 
5.3 O RELATÓRIO 
 
Para melhor visualização e localização das macroproposições narrativas que 
mais adiante estão organizadas em quadros de análise, o relatório foi enumerado 
em linhas de 1 a 25 ([L1], [L2]... [L25]). Enfatizamos, contudo, que essa numeração 
é meramente ilustrativa e demarcatória, e serve apenas ao propósito de 
localizar/identificar trechos das narrativas e, por essa razão, pode não estar em 
consonância com a ordem das linhas apresentadas no texto em anexo. 
No plano de texto que apresentamos a seguir, dispomos o relatório da 
sentença na íntegra e destacamos através de duas colunas a ordem das narrativas 
referentes a cada um dos condenados citados (na coluna da esquerda); e onde 
essas narrativas estão localizadas (na coluna da direita). Ainda nessa disposição do 
relatório (coluna da direita), destacamos – através do recurso de sublinhar e colorir 
(em tom amarelo claro)– trechos que sintetizam, em linhas gerais, as proposições 
narrativas referentes a cada um desses condenados, com vistas a facilitar a 
identificação. 
 
Quadro 5 - Planode texto e transcrição do relatório da sentença 
 
 
NARRATIVAS 
 
 
REGISTRO DAS OCORRÊNCIAS 
 
 
Narrativa 1 (JGL) 
 
[L1] JGL, qualificado nos autos, foi condenado a pena privativa de 
liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) [L2] meses de reclusão pela 
prática do crime previsto no art. 171 do Código Penal (fls. 
81 
 
X.030/X.056).[L3] Em decisão de fls. X.553/X.557 a pena do referido 
condenado foi unificada, tendo em vista sua condenação [L4] no 
processo nº XX.0005570-9 pelo crime de falsidade ideológica, no qual 
foi condenado a pena de 02 (dois) [L5] anos e 08 (oito) meses de 
reclusão, de forma que sua pena unificada restou totalizada em 04 
(quatro) anos, [L6] 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias. [L7] O aludido 
condenado foi preso em 14.10.1997, tendo, entretanto, empreendido 
fuga na data de 03.03.1999, [L8] já que cumpria pena em regime 
semi-aberto e deixou de se apresentar. Cumpriu, portanto, apenas 01 
(um) [L9] ano, 04 e (quatro) meses e 17 (dezessete) dias de reclusão, 
se encontrando foragido desde o dia da fuga. 
 
 
 
 
 
 
 
Narrativa 2 (GPS) 
 
[L10] Por seu turno, GPS, também qualificado nos autos, foi 
igualmente condenado a pena privativa de [L11] liberdade de 03 
(três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime 
previsto no art. 171 do [L12] Código Penal (fls. X.030/X.056). [L13] 
Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1992, porém, 
beneficiado pelo regime semi-aberto, deixou [L14] de se apresentar 
em 23.03.1992. Foi preso novamente em 03.06.1996, entretanto, mais 
uma vez, deixou de [L15] se apresentar em 29.08.1997, encontrando-
se foragido desde então. [L16] Cumpriu 02 (dois) anos, 04(quatro) 
meses e 11 (onze) dias do total da pena, restando, ainda, o tempo de 
11 [L17] (onze) meses e 19 (dezenove) dias a cumprir. 
 
 
 
 
Narrativa 3 (WPS) 
 
[L18] Finalmente, WPS, também qualificado nos autos e igualmente 
condenado a pena privativa de liberdade [L19] de 03 (três) anos e 
04(quatro) meses de reclusão pela prática do crime previsto no art. 
171 do Código Penal [L20] (fls. X.030/X.056), jamais foi capturado, 
sem que tenha cumprido qualquer tempo de encarceramento. 
 
 
 
 
Partes comuns 
às três narrativas 
 
[L21] A sentença que apenou os condenados transitou em 
julgado em 12 de novembro de 1991, conforme [L22] certidão de 
fls. X.146. [L23] Várias tentativas de captura dos foragidos foram 
efetivadas pela Polícia Federal, porém sem sucesso. [L24] Em 
Manifestação de fl. X.630, o Ministério Público Federal pugnou pelo 
reconhecimento da prescrição da [L25] pretensão executória dos 
condenados e consequente arquivamento dos autos. 
 
 
Antes de procedermos à identificação, descrição e interpretação das 
macroproposições que constituem essas três narrativas de nível global e suas 
respectivas narrativas encaixadas, chamamos atenção para o esclarecimento de 
dois termos que embora graficamente estejam situados no relatório dessa sentença 
não fazem parte dele. Trata-se das expressões localizadas no que seria a L26 – 
parágrafo 11 – “Relatado. Decido.” (ver o anexo). 
82 
 
As expressões “Relatado. Decido.” exercem fundamental importância no que 
diz respeito à organização textual do gênero. Trata-se de expressões de natureza 
gramatical diferente, mais precisamente, trata-se de uma expressão nominal na 
forma de verbo no particípio e um verbo na primeira pessoa do singular 
(respectivamente) o qual identifica, com clareza, quem o produziu, o juiz. 
Com base em Koch e Elias (2013), podemos dizer que a expressão 
“Relatado” funciona como um encapsulador ou como uma sumarização de todo o 
relatório. Além de encapsular todo o conteúdo anterior, essa expressão também 
sinaliza a própria natureza do documento, nomeando-o (relatório), através do que as 
autoras chamam de categorização metaenunciativa, que é, justamente, essa 
retomada de toda a sua materialidade, de todo o seu conteúdo. 
Apesar de, graficamente, a expressão “Relatado” está situada nos limites do 
relatório, essa expressão em si já não faz parte do relatório propriamente dito, uma 
vez que não traz nenhuma espécie de informação de nenhuma das partes 
envolvidas no processo, apenas o arremata, encerra-o. 
Segundo as autoras, 
 
Esta é uma função própria particularmente das nominalizações, que 
[...] sumarizam as informações contidas em segmentos precedentes 
do texto (informações suporte), encapsulando-as sob a forma de uma 
expressão nominal, isto é, transformando-as em objetos de discurso. 
(KOCH; ELIAS, 2013, p. 138 – grifo das autoras). 
 
Para as autoras, o uso dessas expressões nominais encapsuladoras podem 
indicar uma mudança de estágio, ou até mesmo um fechamento de um estágio 
anterior produzido pelo autor do texto. O que, por sua vez, permite inserir, mudar ou 
desviar um determinado tópico ou, até mesmo, promover ligações entre tópicos e 
subtópicos. Ou seja, esse recurso permite “[...] dois grandes movimentos de 
construção textual: retroação e progressão.” (Ibid., p. 140 – grifos das autoras). 
No caso da sentença judicial, essa expressão (Relatado) sinaliza o 
encerramento efetivo da parte destinada ao relatório do processo, o que, 
consequentemente, direciona o texto para um novo tópico em um novo parágrafo 
que é a fundamentação. 
Por sua vez, a expressão “Decido” também não faz parte do relatório 
propriamente dito, apesar de graficamente estar situada nele. Essa expressão, que 
não é nominal, faz um movimento inverso ao da expressão “Relatado”, no sentido 
83 
 
de funcionar como uma catáfora, um recurso de progressão textual, ou seja, sugere 
a inserção de um novo tópico. 
Como já explicitado, essa sentença possui suas partes muito bem marcadas 
(critério, inclusive, de seleção do corpus dessa pesquisa), a saber: relatório, 
fundamentação e decisão, e cada uma dessas partes, como exposto na seção 2.2, 
possui suas características e finalidade próprias, inclusive explicitadas nos 
documentos oficiais (CPP e CPC). Porém um fato que nos chama atenção e que é 
importante elucidar é que, na sequência da exposição dos componentes da 
sentença, depois do relatório vem a fundamentação e não a decisão, entretanto, a 
expressão verbal “Decido” faz um apontamento direto para a decisão do processo e, 
com isso, antecipa inclusive a conclusão do processo e da sentença propriamente 
dita. 
Ao observarmos o último conteúdo proposicional do relatório que antecede 
essa expressão anteriormente mencionada: “Em Manifestação de fl. X.630, o 
Ministério Público Federal pugnou pelo reconhecimento da prescrição da pretensão 
executória dos condenados e consequente arquivamento dos autos.” entendemos 
que há uma espécie de antecipação do que ocorre na decisão, ou seja, do que é 
decidido. Dessa forma, entendemos que a expressão “Decido” tanto ratifica, 
antecipadamente, a decisão do magistrado, quanto fecha o relatório do processo e 
conduz o texto para o finalmente, que é a decisão. Por essa razão, para fins de 
identificação das macroproposições narrativas, não consideramos nem a expressão 
“Relatado” nem a expressão “Decido” como constituintes do texto destinado ao 
relatório da sentença. 
 
5. 4 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 1 (N1) 
 
A seguir, apresentamos a identificação, a descrição e a interpretação dos 
componentes dessa primeira narrativa de nível global e suas respectivas narrativas 
encaixadas. Nos quadros de análise que se seguem, optamos por preenchê-los com 
todas as proposições narrativas referentes a cada um dos momentos sinalizados na 
coluna da esquerda (Situação inicial, Nó etc.), destacando apenas os trechos que 
melhor representam ou sintetizam o momento em destaque. Assim, preenchemos os 
84 
 
quadros com todas as proposições narrativas relacionadas ao condenado citado, 
destacando o núcleo de cada um desses momentos da narrativa. 
Elucidamos, contudo, que não há um padrão do ponto devista frasal para a 
seleção desses trechos em destaque, pois em todas as ocorrências apenas 
consideramos o nível de informatividade e sua relação com o conjunto da narrativa. 
Dessa forma, antecipamos que há trechos destacados que se apresentam na forma 
de frases verbais, mas que também observamos a ocorrência de expressões não 
verbais – resultado de inferências – e também de palavras chave como núcleo de 
determinados momentos narrados como é o caso da expressão “porém sem 
sucesso” na L23 entre outras expressões nominais. 
 
Quadro 6: Narrativa global de JGL (N1) 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NO RELATÓRIO DA SENTENÇA 
 
 
 
 
 
 
Situação inicial 
(Orientação) 
(Pn1) 
 
 
 
 
 
 
[L1] JGL, qualificado nos autos, foi condenado a pena privativa de 
liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) [L2] meses de reclusão pela 
prática do crime previsto no art. 171 do Código Penal (fls. X.030/X.056). 
[L3] Em decisão de fls. X.553/X.557 a pena do referido condenado foi 
unificada, tendo em vista sua condenação [L4] no processo nº 
XX.0005570-9 pelo crime de falsidade ideológica, no qual foi 
condenado a pena de 02 (dois) [L5] anos e 08 (oito) meses de 
reclusão, de forma que sua pena unificada restou totalizada em 04 
(quatro) anos, [L6] 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias. [L21] A sentença 
que apenou os condenados transitou em julgado em 12 de novembro 
de 1991, conforme [L22] certidão de fls. X.146. [L7] O aludido 
condenado foi preso em 14.10.1997 [...]. 
 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[L7] [...] tendo, entretanto, empreendido fuga na data de 03.03.1999, 
[L8] já que cumpria pena em regime semi-aberto e deixou de se 
apresentar. 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
 [L23] Várias tentativas de captura dos foragidos foram efetivadas pela 
Polícia Federal [...]. 
 
Desenlace 
(Resolução) 
(Pn4) 
 
 
[L23] [...] porém sem sucesso. [L8] Cumpriu, portanto, apenas 01 (um) 
[L9] ano, 04 (quatro) meses e 17 (dezessete) dias de reclusão, se 
encontrando foragido desde o dia da fuga. 
 
 
85 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
[L24] Em Manifestação de fl. X.630, o Ministério Público Federal 
pugnou pelo reconhecimento da prescrição da [L25] pretensão 
executória dos condenados e consequente arquivamento dos autos. 
 
 
Como podemos observar, as linhas de 1 a 8 somadas às linhas 22 a 25 
constituem a narrativa do fluxo processual que envolve JGL com cinco momentos 
(Pn1, Pn2, Pn3, Pn4 e Pn5), desde a sua qualificação nos autos pelo crime previsto 
no art. 171 (falsidade ideológica), passando pela respectiva condenação, prisão e 
fuga, até a prescrição de sua pena e o arquivamento do processo que o envolve. 
É importante elucidar que, a princípio, mesmo havendo uma sequência de 
ações e reações no que consideramos ser a Pn1 (situação inicial) dessa N1 – 
quando é posto que JGL foi qualificado, condenado e preso (inclusive, mais de uma 
vez) – entendemos que as informações relacionadas a JGL funcionam como um 
mecanismo de contextualização e orientação necessário para o desenvolvimento 
dessa narrativa do ponto de vista processual e também do ponto de vista 
sequencial, de modo que visam a responder ao menos quatro perguntas essenciais 
e que servem para situar o leitor nesse processo narrativo no que diz respeito à 
personagem envolvida na trama, a saber, “quem?” (JGL); o quê? (foi qualificado, 
condenado e preso); por quê? (pelo crime de falsidade ideológica) e quando? 
(14/10/1997) – uma espécie de movimento retórico comum às narrativas. 
Concluímos, assim, que todas essas e outras informações constituem um 
conjunto de proposições enunciadas que configura a Pn1 dessa N1, tendo em vista 
que a fuga do referido condenado (JGL), logo em seguida, é o que consideramos ser 
o estopim (Pn2) dessa sequência narrativa com cinco momentos bem definidos, ou 
seja, é após a fuga de JGL que se inicia não só mais um processo do ponto de vista 
judicial (inclusive, esse mesmo que deu origem a essa sentença) como também se 
inicia o primeiro elemento – Nó – do núcleo de uma sequência narrativa conforme 
postula Adam (2011). 
Ao afirmarmos que o fato de JGL deixar de se apresentar (fugir) constitui o 
início de mais um processo judicial (o terceiro), fazemo-lo com base nas próprias 
informações dispostas nessa Pn1, que, como podemos observar, falam de duas 
condenações de JGL: a primeira condenação – narrada em segundo plano – foi a de 
86 
 
2 anos e 8 meses (L3 a L10) e a segunda condenação – narrada em primeiro plano 
– foi de 3 anos e 4 meses (L1 e L2). 
Considerando isso, observamos que a série de ocorrências narradas nessa 
Pn1, configura duas narrativas encaixadas, as quais passamos a identificar, 
descrever e interpretar. Após a análise dessas duas narrativas encaixadas, 
retomamos a análise das macroproposições dessa primeira narrativa de nível global 
na seção 5.4.3. 
 
5.4.1 Narrativa encaixada 1 (NE1) 
 
Para melhor acompanharmos a análise das narrativas encaixadas presentes 
na Pn1 dessa N1, reproduzimos abaixo toda a Situação inicial a fim de, em seguida, 
identificarmos os seus componentes narrativos. 
 
Quadro 7: Narrativas encaixadas na Situação inicial da narrativa 1 
 
 
NARRATIVAS 
 
 
SITUAÇÃO INICIAL DA NARRATIVA 1 
 
Narrativa 
encaixada 1 
(em laranja) 
 
 
 
 
Narrativa 
encaixada 2 
(em verde) 
 
[L1] JGL, qualificado nos autos, foi condenado a pena privativa de 
liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) [L2] meses de reclusão pela 
prática do crime previsto no art. 171 do Código Penal (fls. X.030/X.056). 
[L3] Em decisão de fls. X.553/X.557 a pena do referido condenado foi 
unificada, tendo em vista sua condenação [L4] no processo nº 
XX.0005570-9 pelo crime de falsidade ideológica, no qual foi condenado 
a pena de 02 (dois) [L5] anos e 08 (oito) meses de reclusão, de forma 
que sua pena unificada restou totalizada em 04 (quatro) anos, [L6] 05 
(cinco) meses e 10 (dez) dias. [L21] A sentença que apenou os 
condenados transitou em julgado em 12 de novembro de 1991, 
conforme [L22] certidão de fls. X.146. [L7] O aludido condenado foi 
preso em 14.10.1997, [...]. 
 
 
A partir das informações presentes nessa Pn1 da N1, constatamos que JGL 
foi condenado por duas vezes em um período de sete anos pela prática do mesmo 
crime (falsidade ideológica) o que, nesse caso, resulta em duas narrativas: uma para 
cada processo referente ao crime cometido. É importante dizer que os crimes 
cometidos por JGL estão discriminados no relatório da sentença por meio de 
expressões nominais, como destacamos nos excertos abaixo: 
87 
 
 
[L1] “JGL, qualificado nos autos, foi condenado a pena privativa de liberdade de 03 
(três) anos e 04 (quatro) [L2] meses de reclusão pela prática do crime [...]” 
 
[L3] “[...] a pena do referido condenado foi unificada, tendo em vista sua condenação 
[L4] no processo nº XX.0005570-9 pelo crime de falsidade ideológica [...]” 
 
Outro detalhe importante para destacarmos é que a primeira condenação de 
JGL é narrada apenas nas L3 e L4, enquanto que a sua segunda condenação logo é 
apresentada na primeira linha do relatório. Entendemos que a exposição da 
narrativa da primeira condenação de JGL surge como uma necessidade de 
argumentar sobre o motivo do aumento de sua pena, ou seja, a narrativa da primeira 
condenação de JGL é trazida à tona em função da segunda, porém seguindo a 
ordem cronológica dos acontecimentos, iniciamos nossas análises pela primeira 
condenação de JGL. 
Optando pela exposição das análises seguindo a ordem cronológica dos 
acontecimentos, iniciamos pela narrativa da primeira condenação de JGL e em 
seguida apresentamos a análise da narrativa de sua segunda condenação. Tendo 
em vista que há uma relação de causa e consequência estabelecida entre essas 
duas narrativas encaixadas, mais precisamente, o caso do aumento da pena de JGL 
– resultado da soma das duas condenações narradas – apresentamos primeiro a 
causa e em seguida– no item 5.4.2 – apresentarmos a consequência do aumento 
de sua pena. 
A NE1 destacada na cor laranja no quadro 7 ocorre nos limites entre as 
expressões que demarcam a sua inserção “tendo em vista” (L3) e o seu fim que é 
antes da expressão “de forma que” (L5), restando como narrativa encaixada apenas 
o trecho “[...] sua condenação [L4] no processo nº XX.0005570-9 pelo crime de 
falsidade ideológica, no qual foi condenado a pena de 02 (dois) [L5] anos e 08 (oito) 
meses de reclusão [...]” e acrescido das L21 e 22 as quais tratam do trânsito da 
sentença em julgado na data de 1991, que se apresenta como uma informação 
secundária e genérica, visto que, ao trazer uma expressão no plural, refere-se a 
todos os condenados envolvidos nesse mesmo processo judicial. 
Feito esse recorte, podemos agora visualizar o conteúdo do que foi 
considerado como a NE1 que esclarece o motivo do aumento da pena de JGL. 
88 
 
Observemos agora como se distribuem as proposições narrativas dessa NE1 
 
Quadro 8: Narrativa encaixada 1(NE1) : a primeira condenação de JGL 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NA NE1 < PN1 < N1 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
 
[Por inferência] JGL estava em liberdade, embora já tivesse 
cometido o [L4] crime de falsidade ideológica [...].. 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[Por inferência] [JGL foi denunciado e processado pelo] [L4] crime 
de falsidade ideológica [...]. 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
[Por inferência] por parte do poder público, diligências ou ações 
processuais foram tomadas (depoimentos, oitivas em geral etc.). 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
 
[L21] A sentença [...] transitou em julgado em 12 de novembro de 
1991, conforme [L22] certidão de fls. X.146. [L4] [JGL] foi 
condenado a pena de 02 (dois) [L5] anos e 08 (oito) meses de 
reclusão [...]. 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
[Por inferência] JGL foi preso. 
 
Antes de tudo, é importante destacar a presença do operador argumentativo 
“tendo em vista” (L3) na introdução dessa NE1, pois é a partir dessa expressão que 
o juiz narra para justificar; para fundamentar o porquê da pena de JGL ter sido 
unificada. Nesse caso, observamos que, de uma forma mais ampla/global, a 
Situação inicial da N1 é enriquecida com um argumento, um fundamento; por uma 
sequência argumentativa não prototípica, mas um relato que funciona como uma 
caracterização inicial: a orientação da história – no sentido de que a história é 
orientada na perspectiva das penas unificadas. 
A expressão “tendo em vista” traz consigo um encadeamento de proposições 
enunciadas que dão origem a NE1 dessa sentença com pelo menos dois momentos 
explícitos, a saber, o Nó e o Desenlace. As demais fases da narrativa (Pn1, Pn3 e 
Pn5) são recuperadas através de inferências realizadas a partir do conhecimento 
89 
 
sobre a tramitação processual e também de informações constantes no próprio 
relatório dessa sentença. 
A Situação inicial ou a Pn1 dessa NE1, por inferência, trata do fato de JGL 
estar em liberdade, embora já tenha cometido um delito. Entendemos que o 
processo – tanto do ponto de vista narrativo quanto jurídico, nesse caso, tem 
efetivamente início com a consolidação da denuncia e/ou da abertura do processo 
pela prática do crime cometido (Pn2). 
Sobre a inferência da Pn1 nessa NE1, é importante esclarecer que: em um 
primeiro momento, essa situação inicial (o crime e a liberdade) ainda não está nos 
domínios jurídicos, de modo que ainda se trata de um cidadão (JGL) que, aos olhos 
da sociedade e/ou aos seus próprios olhos, tinha cometido um crime ou – grosso 
modo – tinha feito uma coisa errada e estava solto, o que significa dizer duas coisas: 
primeiro, JGL estava solto, mas não pelo fato de ser inocente, mas sim pelo fato de, 
até então, não ter sido denunciado, processado, condenado etc.; segundo, que 
esse caso só passa a ser uma situação jurídica ou policial, quando há uma 
intervenção pública (Pn2), ou seja, quando é feita uma denúncia, por exemplo. 
Considerando o trâmite processual, utilizamos a conjunção subordinativa (adverbial) 
concessiva – embora – justamente por admitir uma espécie de contradição ou de um 
fato inesperado no desenrolar dessa narrativa, ou seja, essa ideia de concessão 
está diretamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa entre cometer um 
crime e estar em liberdade. 
Feita a denúncia, diligências (por parte do poder público) são tomadas. Entre 
as possíveis diligências tomadas está a constituição de um inquérito policial, por 
exemplo, e seus respectivos desdobramentos (oitivas em geral, declarações, 
depoimentos etc.). Esses desdobramentos, por sua vez, são utilizados para o devido 
levantamento de suposta materialidade delitiva. Apurada essa materialidade, esse 
inquérito deixa de ser um procedimento administrativo e ou policial e passa a ser um 
efetivo processo judicial e assim os referidos procedimentos são chamados, então, 
de peças processuais das quais a sentença judicial é a última delas. 
A sentença judicial – produzida pelo próprio juiz de Direito que analisa o 
processo como um todo – é uma peça processual que traz, em uma de suas partes, 
uma síntese de todo um processo (o relatório). Por trazer apenas uma síntese de 
todo o processo, é comum que apenas alguns fatos – os mais relevantes e 
imprescindíveis para a sua decisão – sejam relatados ou narrados, o que faz com 
90 
 
que determinados detalhes (procedimentos e fatos) não sejam mencionados. Por 
essa razão, na constituição das fases dessa narrativa fazem-se necessárias as 
inferências, como é o caso, por exemplo, da reconstituição da Pn1, da Pn3 e da Pn5 
dessa NE1. 
Em síntese, considerando que o Nó ou a Pn2 seja o fato de JGL ter sido 
denunciado e processado pelo crime cometido (L4), a Re-ação ou Avaliação ou 
Pn3, por inferência, diz respeito às ações processuais: diligências em geral; 
depoimentos; oitivas etc., ou seja, as ações tomadas pelo poder público. 
O desenlace ou a Pn4, em relação simétrica com a Pn2, informa a 
condenação de JGL que corresponde à pena de 2 anos e 8 meses de reclusão (L4 e 
5). 
Como ser condenado não implica, necessariamente, ser preso, pois se trata 
de outra etapa do processo judicial que envolve diversas diligências tomadas por 
parte do poder público, entendemos – por inferência mediante o cotexto – que a 
primeira prisão de JGL é a Situação final ou Pn5 dessa NE1. Ou seja, quando nas 
L5 e L6 diz “de forma que sua pena unificada restou totalizada em 04 (quatro) anos, 
05 (cinco) meses e 10 (dez) dias” temos a informação que JGL foi preso em um 
primeiro momento em consequência desse crime, por isso a soma da unificação de 
sua pena é detalhada. 
Outro detalhe importante a ser considerado nessa inferência é o fato de que 
sua pena totalizada, caso não tivesse sido preso, ou seja, se ele nunca tivesse 
cumprido nenhum período dessa pena, seria totalizada em 6 anos e não em 4 anos, 
5 meses e 10 dias como foi colocada pelo juiz nesse relatório, o que evidencia sua 
primeira prisão efetivada em virtude desse primeiro crime comprovadamente 
cometido e, consequentemente, parte de sua pena total já ter sido cumprida. 
Também é importante ressaltar que a informação de que JGL foi preso em 
consequência desse primeiro crime cometido está no texto do relatório, apenas não 
está explicitada nessa NE, na verdade, está explicitada nas linhas 7 e 8 quando 
narra que ele empreendeu fuga, porque deixou de se apresentar já que cumpria 
pena em regime semiaberto. 
Observe que trechos da L4 estão presentes, juntamente com algumas 
inferências em três dos cinco momentos dessa NE. Isso decorre da quantidade de 
informação presente nesse trecho do relatório. De modo que nessa única linha 
temos três informações: o crime, o processo e a condenação de JGL. Dessas três 
91 
 
informações, apenas a condenação de JGL é narrada através de uma expressão 
verbal “foicondenado”; enquanto que as demais estão expressas de forma nominal, 
por isso faz-se necessária a utilização de algumas inferências para que seja feita a 
reconstituição de outros momentos dessa narrativa encaixada. 
A fim de ilustrarmos o percurso dessa narrativa encaixada, produzimos a 
figura 5, na qual sinalizamos trechos de cada um dos momentos (Pn1, Pn2, Pn3 
etc.) e as relações simétricas existentes entre cada uma delas. 
 
Figura 5: Relações simétricas na NE1 
 
 
 
Através dessa figura podemos ver a síntese das ocorrências apresentadas 
nessa NE, bem como as relações simétricas entre a Pn1 e a Pn5 e entre a Pn2 e a 
Pn4 intermediada pelas ações processuais que correspondem à Pn3. 
 
5.4.2 Narrativa encaixada 2 (NE2) 
 
Como pudemos observar no quadro 7, a narrativa encaixada 2, para atender 
a um detalhamento ou a uma explicação do motivo do aumento da pena do referido 
condenado, é enxertada pela narrativa encaixada 1, de modo que, recortando toda 
essa NE1, observamos que a NE2 segue uma continuidade linear, como podemos 
observar no seguinte excerto: 
 
[L1] JGL, qualificado nos autos, foi condenado a pena privativa de liberdade de 03 (três) 
anos e 04 (quatro) [L2] meses de reclusão pela prática do crime previsto no art. 171 do 
Código Penal (fls. X.030/X.056). [L3] Em decisão de fls. X.553/X.557 a pena do referido 
92 
 
condenado foi unificada, [tendo em vista a narrativa encaixada 1] de forma que sua pena 
unificada restou totalizada em 04 (quatro) anos, [L6] 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias.[L7] 
O aludido condenado foi preso em 14.10.1997, [...]. 
 
Ou seja, destacando o trecho entre colchetes e em negrito – o qual 
corresponde a NE1 – podemos ver que a NE2 segue seu fluxo normalmente, como 
se não houvesse nenhuma interrupção. Dessa forma, considerando esse trecho, o 
qual corresponde a narrativa encaixada 2 (NE2), identificamos seus componentes 
narrativos e os dispomos no quadro 9 a seguir para fazermos as respectivas 
descrições e interpretações de seus componentes narrativos. 
 
Quadro 9: Narrativa encaixada 2 (NE2) : a segunda condenação de JGL 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NA NE2 < PN1 < N1 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
 
[Por inferência] JGL já estava preso por conta da sua primeira 
condenação. 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[L2] [JGL tornou a cometer o] crime previsto no art. 171 do Código 
Penal (fls. X.030/X.056). 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
[L1] [JGL foi] qualificado nos autos, [e] foi condenado a pena 
privativa de liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) [L2] meses de 
reclusão [...]. 
 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
[L3] Em decisão de fls. X.553/X.557 a pena do referido condenado 
foi unificada [...]. 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
[L7] O aludido condenado foi preso em 14.10.1997, [...]. 
 
 
Como podemos observar, as informações que, na narrativa global de JGL 
(N1), funcionam como uma situação inicial em oposição a sua fuga (Pn2 – L7), 
agora desmembradas, constituem uma nova narrativa – a segunda narrativa 
93 
 
encaixada – com a finalidade de detalhar e enriquecer os motivos que levaram JGL 
a sua segunda condenação e ao consequente aumento de sua pena. 
Como já exposto anteriormente, os relatórios das sentenças trazem, por parte 
do juiz, apenas uma sinopse de todo um processo judicial que envolve o(s) 
condenado(s), mais precisamente, uma síntese daquilo que o próprio juiz julga 
importante ser relatado para justificar sua decisão e, por essa razão, é comum que 
alguns desses relatórios comecem por citar o crime que o condenado ou o réu 
cometeu e que, consequentemente, deu origem ao processo judicial. 
Como também já explicitado em outra ocasião, a situação inicial de uma 
narrativa é marcada por uma situação de equilíbrio, não em si mesmo, mas em 
oposição a uma complicação na própria estrutura narrativa. Essa complicação ou o 
Nó ocorre na narrativa em forma de um conflito que vem desequilibrar, 
desestabilizar, complicar, enfim, desencadear (re)ações por parte dos envolvidos na 
trama. 
A Situação inicial (Pn1) dessa NE1, por inferência (mediante a materialidade 
linguística explícita), constitui o fato de JGL estar cumprindo pena em regime 
semiaberto como mostra a L7, o que implica a sua condenação e prisão em 
consequência do primeiro processo judicial narrado a partir da L3. Essa Pn1 cria 
uma relação simétrica com a Pn5 que coloca JGL como “preso” novamente. 
Por inferência também, podemos entender que a Pn1 dessa NE pode ser 
considerada como um provável não envolvimento de JGL com o crime ou ainda a 
não comprovação desse envolvimento na prática delituosa citada, visto que tudo 
isso (o processo que resultou na sua segunda condenação) se dá por intermédio de 
uma intervenção social (que pode ser através de um cidadão, da Policia, ou do 
Ministério Público etc.) através de denúncias, por exemplo, que implicam 
investigações, oitivas etc. 
Essa segunda inferência se opõe ao fato de, no Nó ou Pn2, JGL cometer um 
crime (ou, juridicamente, ter a comprovação deste), criando assim uma oposição ou 
uma quebra no que seria a situação de equilíbrio dessa NE1. Ou seja, efetivamente, 
é a partir dessa reincidência que se instaura um novo processo tanto do ponto de 
vista jurídico quanto do ponto de vista narrativo. 
A Re-ação ou Avaliação ou Pn3 é uma clara reação do poder público em 
resposta ao crime cometido por JGL, quando na narrativa é posto que ele foi “[L1] 
94 
 
[...] qualificado nos autos, [e] foi condenado a pena privativa de liberdade de 03 
(três) anos e 04 (quatro) [L2] meses de reclusão [...]”. 
O Desenlace ou Pn4 dessa NE traz efetivamente uma resolução ao conflito 
(Nó – Pn2) que se estabeleceu quando JGL tornou a cometer o mesmo crime que 
deu origem a sua primeira condenação. Essa resolução mostra um aumento de sua 
pena que, nesse caso, é resultado da unificação desta pena e daquela citada na 
NE1. 
A Situação final ou Pn5 narra o efetivo fim da NE2 com a prisão de JGL na 
data de 14 de outubro de 1997. A Pn5, diferente da clara mudança no estado de 
coisas que observamos na NE1, quando temos o par opositivo “solto” x “preso” (Pn1 
e Pn5, respectivamente), essa NE2 mostra uma relação de continuidade entre a Pn1 
e a Pn5, de modo que JGL inicia a narrativa estando preso e continua preso no 
último momento dessa narrativa. 
Em resumo, JGL já estava cumprindo pena no regime semiaberto (Pn1), de 
modo que voltando a cometer um crime (L2 - Pn2), foi novamente processado, 
qualificado, condenado (L1 - Pn3), teve a sua pena unificada (L3 e L6 - Pn4) e foi 
novamente preso (L21, 22 e 7). 
 
5.4.3 Continuação da análise da narrativa global 1 (N1) 
 
Voltando para a primeira narrativa de nível global (N1) dessa sentença, 
entendemos que mesmo diante dessa série de acontecimentos iniciais analisados, 
parece haver um estado de equilíbrio não em si, mas em oposição a L7 a qual narra 
a fuga de JGL. Ou seja, embora JGL tenha participado de uma série de ações como: 
ter sido qualificado nos autos dos processos, condenado e preso por duas vezes 
pelo crime de falsidade ideológica, a situação parece estar dentro de uma relativa 
normalidade do ponto de vista jurídico. 
Em outras palavras, podemos dizer que mesmo JGL sendo reincidente na 
prática do crime de estelionato e, consequentemente, sendo condenado e preso, o 
fato é que ele está preso, e isso é o que garante um estado de equilíbrio, porém não 
um equilíbrio em si, pois como vimos, nas análises, JGL passou por dois Nós, ou 
seja, dois conflitos (suas condenações), porém um equilíbrio em relação a sua fuga 
narrada na L7. 
95 
 
Esse estado de equilíbrio (Pn1), que vai da L1 a L7 e mais as L21 e L22, é 
notadamente interrompido na própria L7 com a expressão “entretanto” entre a 
locução verbal “tendo empreendido” que marca efetivamente o início da trama 
narrativa, ou seja, o Nó. 
Linguisticamente,a conjunção coordenativa sindética adversativa “entretanto” 
é uma palavra com valor semântico de oposição que, por excelência, indica uma 
quebra de expectativa, ou mais precisamente, no caso dessa narrativa, uma quebra 
na linearidade das ações apresentadas no primeiro momento. Assim, na L7 temos 
que JGL, que cumpria pena em regime semiaberto, “deixou de se apresentar” no dia 
03 de março de 1999, o que foi considerado como fuga, ocorrendo assim a Pn2, ou 
o núcleo dessa trama. 
A Pn3, que diz respeito à perspectiva dos envolvidos na narrativa diante da 
complicação que surgiu na Pn2, neste caso, manifesta-se através de uma clara 
reação da Polícia Federal que, em virtude da fuga de JGL, efetivou “Várias tentativas 
de captura dos foragidos” 50 (L23). Observe que na continuação dessa mesma linha, 
mais precisamente o final dessa proposição traz uma informação que não só 
introduz a Pn4 dessa narrativa, como também sinaliza para o efetivo insucesso da 
Polícia Federal, pois ao dizer que essas tentativas de captura dos foragidos foram 
“sem sucesso” (L23), já entendemos que o condenado continua foragido e essa 
informação que traz essa quebra de expectativa quanto ao insucesso dessas 
tentativas de captura, é a palavra “porém” que claramente sinaliza a Pn4, 
provocando uma quebra de expectativa – que seria a expectativa de que JGL fosse 
novamente preso. 
Dessa forma, observando a primeira proposição da Pn4 (porém sem 
sucesso), podemos dizer que o Desenlace dessa narrativa é ainda ratificado pelo 
uso da expressão “portanto” (L8) localizada depois do verbo da primeira proposição 
(Cumpriu) da Pn4 quando diz que o réu “[L8] Cumpriu, portanto, apenas 01 (um) [L9] 
ano, 04 (quatro) meses e 17 (dezessete) dias de reclusão, se encontrando foragido 
desde o dia da fuga.” Observe que a ocorrência da expressão conclusiva “portanto”, 
só reforça a ideia de resolução dessa trama narrativa. Da mesma forma, podemos 
 
50
 A expressão encontra-se no plural porque, como exposto anteriormente, o relatório dessa sentença 
judicial trata do processo de outros dois condenados (GPS e WPS). A expressão “dos foragidos” foi 
utilizada na L23 quando a sinopse do processo já não tratava do condenado (JGL) de forma 
individual, mas tratava de todos os condenados, visto que o relatório já caminhava para a sua 
conclusão. E como todos os condenados eram foragidos do sistema prisional, o juiz usa a expressão 
para englobá-los já que todos estão na mesma situação. 
96 
 
dizer que a proposição “se encontrando foragido desde o dia da fuga” também 
reforça a inferência feita no parágrafo anterior quando dissemos que a expressão 
“porém sem sucesso” já nos sinalizava o desfecho dessa trama narrativa. 
A Situação Final (Pn5), como o próprio nome já sugere – parte do enredo que 
marca o final da narrativa – narra o momento em que o novo estado de equilíbrio é 
instaurado. É importante destacar que esse novo estado não é necessariamente 
positivo (pelo menos para uma das partes), ou semelhante ao estado de equilíbrio 
apresentado na Situação inicial da narrativa. No caso dessa N1, a trama é 
encerrada com a informação de que a pena de JGL foi extinta e o seu processo foi 
arquivado (L25). 
Visualizando a distribuição dos cinco momentos dessa primeira narrativa, 
elaboramos a figura abaixo a qual mostra de forma sintética a localização em linhas 
de cada um desses cinco momentos, com ênfase nos marcadores linguísticos que 
introduzem as macroproposições Pn2 e Pn4. 
 
Figura 6: Marcadores linguísticos da Pn2 e da Pn4 da N1 
 
 
 
O resumo das ocorrências das macroproposições narrativas relacionadas ao 
primeiro condenado (N1) distribui-se da seguinte forma: 
 
Quadro 10: Resumo da N1 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
RESUMO DAS OCORRÊNCIAS DA N1 
 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
 
JGL, por duas vezes, foi qualificado nos autos pelo crime de 
falsidade ideológica, condenado e preso. Por ser reincidente, teve 
sua pena unificada (o que a aumentou para 4 anos, 5 meses e 10 
dias). JGL foi preso [pela segunda vez] no dia 14.10.1997. 
 
97 
 
 
Nó (Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
JGL fugiu (deixou de se apresentar) no dia 03.03.1999. 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
 A Polícia Federal tentou capturá-lo por várias vezes. 
 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
 
Porém não sendo capturado, JGL está foragido desde o dia da 
fuga. 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
Dado o extenso tempo em que o então condenado esteve foragido, 
o Ministério Público Federal extinguiu sua pena e arquivou o 
processo. 
 
 
 
5. 5 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 2 (N2) 
 
Através do quadro 11, apresentamos a identificação dos componentes 
narrativos da segunda narrativa de nível global – narrativa do fluxo processual que 
envolve GPS – identificada no relatório dessa sentença. 
Nesse primeiro momento, após a referida identificação dos componentes 
narrativos, fazemos a descrição e a interpretação apenas da Situação inicial (Pn1) e 
iniciamos as análises das narrativas encaixadas 3 e 4 nas seções 5.5.1 e 5.5.2. 
Apresentadas as análises dessas NE, prosseguimos na descrição e interpretação 
dos demais componentes da N2 na seção 5.5.3. 
 
Quadro 11: Narrativa global de GPS (N2) 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NO RELATÓRIO DA SENTENÇA 
 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
[L10] Por seu turno, GPS, também qualificado nos autos, foi 
igualmente condenado a pena privativa de [L11] liberdade de 03 
(três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime 
previsto no art. 171 do [L12] Código Penal (fls. X.030/X.056). [L21] 
A sentença que apenou os condenados transitou em julgado em 12 
de novembro de 1991, conforme [L22] certidão de fls. X.146. [L13] 
Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1992. 
98 
 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[L13] [...] porém, beneficiado pelo regime semi-aberto, deixou [ L14] 
de se apresentar em 23.03.1992. 
 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
[L14] Foi preso novamente em 03.06.1996, entretanto, mais uma 
vez, deixou de [L15] se apresentar em 29.08.1997 [...] [L23] Várias 
tentativas de captura dos foragidos foram efetivadas pela Polícia 
Federal [...]. 
 
 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
 
[L23] [...] porém sem sucesso. [L16] Cumpriu 02 (dois) anos, 04 
(quatro) meses e 11 (onze) dias do total da pena, restando, ainda, o 
tempo de 11 [L17] (onze) meses e 19 (dezenove) dias a cumprir. 
[L15] [...] encontrando-se foragido desde então. 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
[L24] Em Manifestação de fl. X.630, o Ministério Público Federal 
pugnou pelo reconhecimento da prescrição da [L25] pretensão 
executória dos condenados e consequente arquivamento dos autos. 
 
 
No primeiro momento desta N2, após uma já familiar série de ações 
(qualificado e condenado), GPS também é preso e tem-se aí, no conjunto dessas 
ocorrências, a Pn1. Semelhante ao que observamos na Pn1 da N1, as informações 
presentes nessa macroproposição também respondem às mesmas perguntas 
essenciais para contextualizar a narrativa e/ou situar o leitor no processo narrativo, 
quais sejam: Quem?, O quê?, Por quê? e Quando?, que, neste caso, correspondem 
respectivamente a GPS que foi qualificado, condenado e preso pelo crime de 
estelionato em 07 de fevereiro de 1992. Assim, também semelhante ao que vimos 
na Pn1 da N1, a Pn1 dessa N2 também possui uma série de acontecimentos que 
devem ser analisados à parte por constituir a narrativa encaixada de número 3 (NE3) 
dessa sentença. 
Antes de passarmos para a análise dessa NE3, destacamos que, em um nível 
global, essas ações iniciais que envolvem GPS são consideradas como a Situação 
inicial ou Pn1 dessa N2 pelo contraste criado com a Pn2 dessa mesma narrativa 
quando diz que “porém, beneficiado pelo regime semi-aberto, deixou de se 
apresentar em 23.03.1992.” (L13e 14). Ou seja, partindo da noção de equilíbrio, em 
um nível global, observamos que é a partir desse momento que se desencadeia uma 
série de ações e de reações que efetivamente marcam o início desse processo 
narrativo. 
99 
 
Por outro lado, embora haja, ao que parece em um primeiro momento, uma 
situação de equilíbrio – não em si, mas tomando como base a sua fuga narrada nas 
L13 e 14 – a Pn1 dessa narrativa também apresenta uma série de ações envolvendo 
GPS, formando uma narrativa encaixada, a qual passamos a detalhar na seção 
seguinte. 
 
5.5.1 Narrativa encaixada 3 (NE3) 
 
Para facilitar a descrição e a interpretação dos componentes dessa NE3, 
reproduzimos abaixo a Pn1 dessa N2 e, em seguida o quadro 12 através do qual 
identificamos os componentes narrativos. 
 
 
[L10] Por seu turno, GPS, também qualificado nos autos, foi igualmente condenado a pena 
privativa de [L11] liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática 
do crime previsto no art. 171 do [L12] Código Penal (fls. X.030/X.056). [L21] A sentença 
que apenou os condenados transitou em julgado em 12 de novembro de 1991, conforme 
[L22] certidão de fls. X.146. [L13] Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1992 [...]. 
 
 
É importante observar que dada a natureza e a finalidade do texto do 
documento sentença judicial, o qual visa em seu relatório fazer uma sintética 
apresentação das partes mais relevantes do processo, faz-se necessário – nessa 
análise – o recurso da inferência na reconstituição de determinados momentos 
dessa narrativa, como podemos, mais adiante, observar na Pn1, Pn2 e Pn3. 
O objetivo dessa reconstituição narrativa através do uso de inferências não 
está em, forçosamente, criar momentos (Pn1, Pn2 etc.) para defender a ideia de que 
há uma narrativa com alto grau de narrativização, mas sim em mostrar, 
minimamente, que nessa síntese do processo apresentada no relatório da sentença 
alguns acontecimentos/ocorrências não são mencionados, porém podem ser 
identificados. 
Entendemos que a natureza do documento permite essa síntese de 
informações e, no quadro de identificação das proposições narrativas, ao 
enxertarmos o texto original com inferências, não estamos sugerindo que o texto do 
relatório esteja incompleto ou que seja falho ou ineficiente no seu grau de 
informatividade, de modo que inferimos apenas para mostrar detalhes que podem 
100 
 
ser resgatados na leitura do próprio texto. E que esses “detalhes” são informações 
que, em alguns momentos, mesmo estando fora do trâmite processual fazem parte 
da narrativa que envolve o condenado, como podemos observar no quadro abaixo. 
 
Quadro 12 Narrativa encaixada 3 (NE3): a primeira condenação de GPS 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NA NE3 < PN1 < N2 
 
Situação inicial 
(Orientação) 
(Pn1) 
 
 
 
[Por inferência] GPS havia comedido um crime e estava em liberdade. 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[Por inferência] GPS foi denunciado e processado [L11] [...] pela 
prática do crime previsto no art. 171 do [L12] Código Penal (fls. 
X.030/X.056). 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
[Por inferência] ações processuais [L10] [Foi] qualificado nos autos 
[...] 
 
 
Desenlace 
(Resolução) 
(Pn4) 
 
[L21] A sentença que apenou os condenados transitou em julgado em 
12 de novembro de 1991, conforme [L22] certidão de fls. X.146. [L10] 
[GPS] foi igualmente condenado a pena privativa de [L11] liberdade de 
03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão [...] 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
[L13] Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1992 
 
Ao narrar que GPS foi “[L10] [...] qualificado nos autos, foi igualmente 
condenado a pena privativa de [L11] liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses 
de reclusão pela prática do crime previsto no art. 171 [...].” destacamos três 
informações: a primeira delas é que GPS cometeu um crime, entretanto, na ordem 
em que as informações estão dispostas no relatório da sentença, essa é a terceira 
informação, precedida então de sua qualificação nos autos e de sua condenação. 
Semelhante ao raciocínio utilizado na interpretação da NE1, localizada na N1, 
no que se refere à identificação da Situação inicial ou Pn1, também por inferência, 
entendemos que esta corresponde ao estado de liberdade de GPS, uma vez que na 
101 
 
Pn2, também por inferência entendemos que ele é processado e passa, só então, a 
responder pelo crime praticado. 
Como todo o processo judicial gira em torno do(s) crime(s) cometido(s), é 
comum entendermos que é a partir dele(s) ou, mais precisamente, da denúncia 
dele(s) que o processo judicial e também, nesse caso, o narrativo se iniciam. 
Quando aqui falamos em ‘início do processo narrativo’, fazemos menção ao que 
afirma Adam (2011, p. 226) sobre a Pn2. Para o autor, o momento 2 (m2), também 
conhecido como Nó ou Desencadeador, é o que marca o início do processo 
narrativo, uma vez que a Situação inicial (Pn1 – e momento 1) corresponde ao 
momento do aspecto antes do processo narrativo. 
Dito de outra forma, a Pn2 dessa NE3, através de inferências, mostra a 
entrada de GPS no processo judicial e, do ponto de vista do relatório da sua 
sentença, mostra também o início da narrativa processual que o envolve. 
A Pn3 mais uma vez, por inferência, sugere ações e tramitações processuais; 
entre elas, as oitivas e a sua qualificação nos autos (L10) que é em outras palavras 
a sua identificação no processo (nome completo, filiação, profissão, endereço, 
identidade, CPF, etc.). Assim, a Pn3 mostra uma clara reação por parte do poder 
público na tomada de diligências para a devida apuração dos fatos que deram 
origem ao referido processo. 
Ao que parece, os fatos foram comprovados e GPS teve a sentença em seu 
desfavor. Com trânsito em julgado (L21), a sentença condenou GPS a pena privativa 
de liberdade por um período de 3 anos e 4 meses de reclusão, fazendo disso a 
resolução do processo (Pn4). Se pensarmos na relação simétrica existente entre a 
Pn2 e a Pn4, veremos a simetria entre o fato de GPS ser processado e o fato de ele 
ser condenado pelo crime que cometeu. 
A Pn5, por sua vez, traz o momento em que GPS é preso, mesmo que em um 
primeiro momento como está expresso na L13. Do ponto de vista da simetria entre a 
Pn1 e a Pn5 observamos que GPS estava solto, mesmo já tendo cometido o crime – 
antes do processo jurídico e narrativo, Pn1 – e por hora está preso – depois do 
processo jurídico e narrativo, Pn5. 
Como já enfatizamos anteriormente, a condenação de uma pessoa não 
implica necessariamente a sua prisão, pois para que isso ocorra se faz necessária 
uma série de diligências por parte do poder público. 
102 
 
Elucidamos que a Pn5 dessa NE3 é provisória, e o que nos permite afirmar 
isso é a ‘pista linguística’ dada ao fim dessa proposição quanto diz que “[L13] Foi 
preso em um primeiro momento em 07.02.1992 [...]” o que nos permite concluir 
que após essa prisão houve, pelo menos, uma fuga e uma nova captura como 
veremos mais adiante na NE4. 
Concluídas as considerações a respeito dessa NE3, voltamos à análise da 
N2. 
 
5.5.2 Continuação da análise da narrativa global 2 (N2) : o Nó e a Re-ação 
 
No que identificamos ser a Pn2 (ver página 98), destacamos duas 
informações importantes: GPS foi beneficiado pelo regime semiaberto e deixou de 
se apresentar. 
Talvez não tão explícita quanto à relação de causa-consequência expressa no 
Nó da N1, quando o narrador (juiz) faz uso da expressão “já que” (L8), a Pn2 dessa 
N2 também mostra a mesma relação quanto ao fato de cumprir pena em regime 
semiaberto e o fato de deixar de se apresentar, o que é considerado como fuga. O 
que vemos é que nos dois casos narrados os condenados aproveitaram-se da 
oportunidade do regime semiaberto para fugir e isso é claramente ressaltado no 
texto. 
Para melhor compreendermos essas duas ocorrências, reproduzimos abaixo 
as partes finais daPn1 das duas primeiras narrativas em nível global (N1 e N2) e a 
Pn2 também de ambas as narrativas para, em seguida, tecermos algumas 
considerações a respeito das relações de causa-consequência explicita e implícita, 
respectivamente: 
 
N1 – “[L7] O aludido condenado foi preso em 14.10.1997, tendo, entretanto, 
empreendido fuga na data de 03.03.1999, [L8] já que cumpria pena em regime semi-
aberto e deixou de se apresentar.” 
 
N2 – “[L13] Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1992, porém, beneficiado 
pelo regime semi-aberto, deixou [L14] de se apresentar em 23.03.1992.” 
 
103 
 
A relação causa-consequência é marcada na N1 pelo uso da locução 
conjuntiva adverbial51 “já que” ao estabelecer que a fuga seja a consequência da 
causa de estar cumprindo pena em regime semiaberto. 
No caso do Nó da N2, a situação de fuga se repete pelo mesmo motivo, 
porém narrada sem o uso da locução adverbial conjuntiva usada na N1 (“já que”), o 
que, aparentemente, não deixa explícita a relação de causa-consequência. 
Entretanto o uso da conjunção adversativa “porém” (L13) não só anuncia uma 
quebra no equilíbrio da N2, como também remete a mesma situação de instauração 
do conflito evidenciado no Nó da N1 com uma também conjunção adversativa na 
forma de “entretanto”. Essas segmentações das proposições feitas através dos 
conectivos “entretanto” (N1) e “porém” (N2) sugerem uma situação que se repete e 
que, consequentemente, também remetem à relação de causa-consequência 
explicitamente usada na N1. Ou seja, embora a locução conjuntiva adverbial “já que” 
não esteja presente na N2, o motivo da fuga é o mesmo, por isso a relação causa-
consequência também existe, porém implícita. 
Ressaltados esses pontos, retomamos a descrição dos demais componentes 
dessa N2 ratificando que o Nó desencadeador dessa trama da narrativa é o 
momento em que, também cumprindo pena em regime semiaberto, GPS deixa de 
apresentar-se. Ou seja, do momento em que GPS cometeu um crime até as várias 
diligências tomadas por parte do poder público que resultaram em sua prisão é um 
estado de equilíbrio, não em si, mas em oposição ao que é posto logo em seguida 
que é a sua fuga. 
A fuga de GPS faz com que a Polícia Federal empreenda nova busca para 
prendê-lo, o que se mostra ser uma clara reação (Pn3) do poder público. 
Até aqui, temos a confirmação do que constatamos anteriormente em relação 
à pista linguística deixada pelo narrador ao dizer no final da Pn1 que GPS “[L13] Foi 
preso em um primeiro momento em 07.02.1992 [...]”. Ou seja, como dissemos 
anteriormente, dizer “em um primeiro momento” implica, no mínimo, um segundo 
momento que é o que até aqui ocorreu. 
Até aqui, todas as três narrativas encaixadas (NE1, NE2 e NE3) que 
analisamos foram identificadas no interior das Situações iniciais (Pn1) das duas 
 
51
 Segundo Bechara (2009, p. 243) “Alguns advérbios [...] precedem o transpositor que para marcar a 
circunstância, formando o que a gramática tradicional chama de locuções conjuntivas adverbiais. A 
rigor, trata-se de um grupo de palavras que, por hipotaxe, funciona como conjunção [...]” 
104 
 
primeiras narrativas de nível global (N1 e N2). Porém a narrativa encaixada que 
identificamos a seguir é composta por trechos da Pn5 e da Pn4 da N2. 
Mais precisamente, consideramos a integralidade do conteúdo das linhas 15 e 
23, as quais, na N2 estão fragmentadas e compõem partes dessas duas 
macroproposições citadas (Pn3 e Pn4). Observamos que o conteúdo dessas linhas, 
somadas a L14, constituem uma narrativa com um alto grau de narrativização. Após 
a análise dessa que configura a NE4, continuamos a análise dos elementos da N2 
com a descrição e a interpretação do Desenlace (Pn4) e da Situação final (Pn5) na 
seção 5.5.4. 
 
5.5.3 Narrativa encaixada 4 (NE4) 
 
[L14] Foi preso novamente em 03.06.1996, entretanto, mais uma vez, deixou de [L15] se 
apresentar em 29.08.1997, encontrando-se foragido desde então. [L23] Várias tentativas de 
captura dos foragidos foram efetivadas pela Polícia Federal, porém sem sucesso. 
 
As proposições enunciadas contidas nessa Pn3 constituem a NE4 e são 
identificadas no seguinte quadro. 
 
Quadro 13: Narrativa encaixada 4 (NE4): a última prisão e fuga de GPS 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NA NE4 < L14, 15 e 20 < N2 
 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
 
[L14] Foi preso novamente em 03.06.1996 [...] 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[L14] [...] entretanto, mais uma vez, deixou de [L15] se apresentar 
em 29.08.1997 [...] 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
[L23] Várias tentativas de captura dos foragidos foram efetivadas 
pela Polícia Federal [...] 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
 
[L23] [As tentativas de captura efetivadas pela Polícia Federa foram] 
porém sem sucesso. 
105 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
[L15] [...] encontrando-se foragido desde então. 
 
A Pn1 dessa NE4 começa com a informação de que GPS “novamente preso” 
(L14) em oposição a sua nova fuga (Pn2 – L14). É importante entender que existem 
informações a respeito dessa segunda prisão do referido condenado que não foram 
expressas no relatório da sentença e isso é, de certa forma, previsível dada a 
própria natureza do texto, como já observamos em outro momento. Ou seja, a 
informação da prisão do condenado – considerando a forma como foi posta no 
relatório (L14) – implica uma série de diligências como forma de reação por parte do 
poder público, no sentido, por exemplo, de expedição de mandados de prisão etc. o 
que tornaria essa explicitação desnecessária. No entanto, no caso do relatório dessa 
sentença, informações mais detalhadas como essa se tornam desnecessárias uma 
vez que posteriormente, mais precisamente na L23, são relatadas as “Várias 
tentativas de captura dos foragidos [que] foram efetivadas pela Polícia Federal [...]” o 
que nos faz compreender o uso de uma estratégia de progressão textual com vistas 
a evitar a repetição de determinadas estruturas, por exemplo. 
Dessa forma, considerando a nova prisão de GPS – após 4 anos, 2 meses e 
10 dias como fugitivo da justiça – como o novo estado de equilíbrio dessa NE4 ou 
mais especificamente a Pn1, percebemos que sua segunda fuga (Pn2 - L14) 
representa uma nova ocorrência que, por sua vez, desencadeia uma série de novos 
desdobramentos. 
Entre os desdobramentos desencadeados pela fuga de GPS – após cumprir 
mais 1 ano, 2 meses e 25 dias de encarceramento – estão as “Várias tentativas de 
captura [...] efetivadas pela Polícia Federal [...]” (Pn3 – L 23). Essa reação por parte 
do poder público, como vimos, já é o resultado de ações processuais as quais não 
foram expressas no relatório dessa sentença, assim como a segunda prisão do 
referido condenado que também não é detalhada nesse texto. Sem dúvida esses 
detalhes enriqueceriam a narrativa jurídica, porém como já elucidamos, essa não é a 
finalidade desse texto do documento. 
Das duas fugas empreendidas por GPS (a primeira em 23/03/1992 e a 
segunda em 29/08/1997), um fato nos chama a atenção: o motivo. Ao observarmos 
as expressões “deixou de se apresentar” presentes na L13 e na L15 entendemos 
106 
 
que o motivo é o mesmo: o fato de ser beneficiado pelo regime semiaberto. Embora 
essa explicação esteja explícita apenas na L13, facilmente constatamos que o 
motivo da segunda fuga de GPS foi o mesmo, uma vez que é descrito com as 
mesmas expressões “deixou de se apresentar”. 
O relatório dessa sentença também não detalha os trâmites processuais que 
deram origem ao benefício do regime semiaberto cedido a GPS em nenhuma das 
duas ocorrências relatadas, mas o fato é que as duas fugas se deram pelo mesmo 
motivo: na primeira prisão, GPS cumpriu apenas 44 dias de encarceramento quando 
deixou de se apresentar; na segunda captura, ele cumpriu pouco mais de um ano e 
mais uma vez deixou de se apresentar. 
Noque se refere a não repetição do motivo da fuga, mais uma vez inferimos 
que houve uma atenção por parte do juiz em não relatar o que já havia sido 
detalhado na L13. Ao invés disso, usou uma expressão que sinaliza o mesmo 
motivo, criando assim mais uma vez uma relação de causa-consequência entre o 
fato de cumprir pena em regime semiaberto e deixar de se apresentar. Dessa forma, 
prevendo a clareza da exposição dos fatos no relatório a respeito do motivo da 
segunda fuga de GPS, o juiz sintetiza essa informação sem precisar repeti-la. 
Através do recurso de retomada, reconstruímos a proposição narrativa que 
encerra o processo narrativo dessa NE4 a qual narrar o insucesso da Polícia Federal 
em tentar capturar GPS (Pn4). 
No que se refere às relações simétricas entre a Pn2 e a Pn4, detalhamos que 
na Pn2 GPS havia deixado de se apresentar, já a Pn4 mostra GPS como um claro 
fugitivo da justiça. Embora – ao que pareça – juridicamente o fato de um prisioneiro 
deixar de se apresentar seja considerado fuga, é importante destacar que, há uma 
diferença entre não comparecer a unidade prisional (Pn2) – por motivo diverso – e 
efetivamente fugir como é descrito na Pn3 e ratificado na Pn4 quando diz que as 
várias tentativas de captura – efetivadas pela Polícia Federal – foram sem sucesso 
(L23). 
A Pn5, por sua vez, mostra um desdobramento do que já foi evidenciado na 
Pn4 ao ratificar o insucesso da Polícia Federal em capturar GPS. Assim, a 
informação de que a PF não conseguiu capturar GPS (Pn4) é reforçada com a 
conclusão de que ele continua foragido desde o dia da sua última fuga (19/08/1997). 
107 
 
As relações simétricas entre a Pn1 e a Pn5 mostram uma mudança de estado 
de coisas, de modo que, antes do processo narrativo (Pn1), GPS encontra-se preso 
(L14) e depois do processo narrativo (Pn5) ele encontra-se foragido (L15). 
Encerradas as considerações a respeito dessa NE4, retomamos às 
descrições e interpretações dos componentes da narrativa global 2 (N2), 
continuando pela Pn4. 
 
5.5.4 Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Desenlace e a 
Situação final 
 
A Pn4 dessa N2 traz um apanhado geral do tempo em que GPS permaneceu 
preso, bem como do tempo que lhe restava cumprir ao relatar que “[L16] Cumpriu 02 
(dois) anos, 04 (quatro) meses e 11 (onze) dias do total da pena, restando, ainda, o 
tempo de 11 [L17] (onze) meses e 19 (dezenove) dias a cumprir”. Semelhante à Pn4 
da N1 (ver página 84), GPS também não cumpriu toda pena e se encontra foragido. 
Um detalhe importante a respeito do cálculo da pena cumprida por GPS deve 
ser aqui elucidado. Apesar de o relatório da sentença, mais precisamente a Pn4 
dessa N2, calcular que o referido condenado cumpriu pouco mais que 2 anos e 4 
meses do total de sua pena, os números mostram que, na verdade, foram cumpridos 
apenas algo em torno de 1 ano e 4 meses, ou seja 1 ano a menos do que o tempo 
afirmado pelo juiz. 
A título de observação e esclarecimentos do que acima afirmamos, abaixo 
reproduzimos os excertos do texto do relatório que tratam das datas de prisão e de 
fuga de GPS e a partir desses excertos e das observações que, em seguida 
tecemos, sugerimos duas possibilidades que podem justificar a imprecisão desses 
cálculos. 
 
L13 e 14 – “Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1997, porém beneficiado 
pelo regime semi-aberto, deixou de se apresentar em 23.03.1992.”. 
Observação 1: em consulta ao calendário, observamos que nessa primeira prisão 
de GPS foram cumpridos 44 dias de encarceramento. 
 
L14 e 15 – “Foi preso novamente em 03.06.1996, entretanto, mais uma vez, deixou 
de se apresentar em 29.08.1997 [...].”. 
108 
 
Observação 2: Nessa segunda prisão de GPS, ele cumpriu 1 ano, 2 meses e 25 
dias. 
 
A soma do tempo de encarceramento de GPS, como podemos observar, não 
condiz com o tempo que o juiz detalhou no relatório quando afirma nas L17 e 18 que 
GPS “Cumpriu 02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 11 (onze) dias do total da pena, 
restando, ainda, o tempo de 11 (onze) meses e 19 (dezenove) dias a cumprir.” 
(grifos nossos). 
Diante disso, podemos considerar duas possibilidades que podem justificar a 
referida informação dada pelo magistrado no relatório: a primeira delas é que houve 
um equívoco na informação das datas na elaboração do texto, de modo que 1 (um) 
ano tenha sido suprimido nessa contagem; a segunda possibilidade é que houve um 
equívoco na soma do tempo de encarceramento do condenado. 
O nosso foco aqui não é discorrer a respeito de nenhuma dessas 
possibilidades. Tecemos tais observações apenas a título de observação e também 
para mostrar que alguns leitores ao se depararem com essa imprecisão nas 
informações também podem levantar esses mesmos questionamentos. 
Assim, continuando com o estudo das sequências, a Pn5 dessa narrativa, 
semelhante ao que aconteceu na Pn5 da N1, narra a “prescrição da pretensão 
executória dos condenados e consequente arquivamento dos autos”, ou seja, a 
extinção da pena de GPS. 
 
Quadro 14: Resumo da N2 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
RESUMO DAS OCORRÊNCIAS DA N2 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
 
GPS foi qualificado nos autos, foi condenado pela prática do crime 
previsto no art. 171 e foi preso em um primeiro momento em 
07.02.1992 [...]. 
 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
Beneficiado pelo regime semi-aberto, deixou de se apresentar em 
23.03.1992. 
 
Re-ação ou 
 
Foi preso novamente em 03.06.1996, entretanto, mais uma vez, 
109 
 
 
Avaliação (Pn3) 
deixou de se apresentar em 29.08.1997, encontrando-se foragido 
desde então. Várias tentativas de captura foram efetivadas pela 
Polícia Federal, porém sem sucesso. 
 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
 
Cumpriu apenas uma parte da pena, restando, ainda, o tempo de 11 
meses e 19 dias a cumprir. 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
O Ministério Público Federal extinguiu a pena e arquivou o processo. 
 
 
5. 6 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 3 (N3) 
 
Nesta seção, debruçamo-nos na análise da terceira narrativa de nível global 
(N3), a qual trata da narrativa processual de WPS. Além dessa narrativa global, 
mostramos também um desdobramento na forma de uma narrativa encaixada – a 
NE5 – a última desse relatório. 
 
Quadro 15: Narrativa global de WPS (N3) 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NO RELATÓRIO DA SENTENÇA 
 
 
 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
[L18] Finalmente, WPS, também qualificado nos autos e 
igualmente condenado a pena privativa de liberdade [L19] de 03 
(três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime 
previsto no art. 171 do Código Penal [L20] (fls. X.030/X.056), [...] 
[L21] A sentença que apenou os condenados transitou em julgado 
em 12 de novembro de 1991, conforme [L22] certidão de fls. 
X.146. 
 
 
Nó (Desencadeador) 
(Pn2) 
 
[Por inferência] WPS não se apresentou a unidade prisional, ou 
não foi preso/capturado em um primeiro momento. 
 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
[L23] Várias tentativas de captura dos foragidos foram efetivadas 
pela Polícia Federal [...]. 
 
Desenlace 
 
[L23] [...] porém sem sucesso. [L20] [WPS] jamais foi capturado 
110 
 
(Resolução) (Pn4) 
 
sem que tenha cumprido qualquer tempo de encarceramento; 
 
 
Situação final (Pn5) 
 
[L24] Em Manifestação de fl. X.630, o Ministério Público Federal 
pugnou pelo reconhecimento da prescrição da [L25] pretensão 
executória dos condenados e consequente arquivamento dos 
autos. 
 
 
Essa NE3 possui características semelhantes e ao mesmo tempo peculiares 
às narrativas anteriores (N1 e N2). 
Semelhante aos outros dois condenados, WPS também foi qualificado nos 
autos do processo e condenado a pena privativa de liberdade de três anos e quatro 
meses pela prática do crime previsto no artigo 171 do Código Penal (L18 e19), além 
disso, a sentença que afirmou a sua condenação transitou em julgado noano de 
1991 (Pn1 – L21), porém, diferente dos dois primeiros condenados, WPS “[...] jamais 
foi capturado [...]” (L20). 
A informação de que WPS “jamais foi capturado” (Pn4), sugere e, ao mesmo 
tempo, sintetiza uma série de ações tanto por parte do poder público, no que se 
refere às tentativas de captura do foragido, quanto por parte do condenado, no 
sentido, por exemplo, de fugir, esconder-se ou algo dessa natureza. Em suma, após 
a condenação de WPS (Pn1), é esperado que ele seja preso, porém ao ser narrado 
que as “Várias tentativas de captura [que] foram efetivadas pela Polícia Federal 
[foram] sem sucesso (Pn4) constatamos que isso não aconteceu, pois em nenhuma 
dessas tentativas, a Polícia Federal conseguiu capturá-lo. 
Outro ponto importante deve ser elucidado: a informação expressa na L23 
(Pn3) faz uma espécie de sumarização de uma série de diligências tomadas por 
parte do poder público. Ou seja, ao narrar que várias tentativas de captura foram 
efetivadas pela PF, temos a informação, por inferência, que houve um primeiro 
momento – após o trâmite da sentença em julgado – em que se buscou a prisão de 
WPS (Pn2), porém não ocorrendo, novas tentativas então foram efetivadas, ou seja, 
as buscas continuaram por tempo e tentativas não estipulados no relatório da 
sentença. 
Dessa forma, o Nó desencadeador da trama narrativa que envolve WPS, por 
inferência, é iniciado pela sua não prisão após ter a sentença com trânsito em 
julgado ao seu desfavor, o desencadeia uma serie de novas tentativas de captura. 
111 
 
Por nunca ter sido capturado, WPS nunca cumpriu qualquer tempo de 
encarceramento (Pn4), encontrando-se assim foragido da justiça. Entretanto, “Em 
Manifestação de fl. [...], o Ministério Público Federal pugnou pelo reconhecimento da 
prescrição da pretensão executória dos condenados e consequente arquivamento 
dos autos.” (L24 e 25), o que significa dizer que assim como os demais condenados 
(pelo crime previsto no art. 171 do Código Penal) e também fugitivos, WPS teve sua 
pena extinta e seu processo arquivado. 
Em comparação com os demais condenados no mesmo processo, o fato de 
WPS não ter sido preso provoca uma espécie de quebra de paralelismo em relação 
às narrativas anteriores. Já o caso da sua não captura narrada na L20 – logo após 
sua qualificação nos autos e sua condenação – por si só, antecipa e encerra a 
narrativa de uma forma preliminar, no sentido em que pré anuncia, pelo menos, dois 
dos cinco momentos dessa narrativa, a saber, a Pn2 e a Pn3, além da Pn2 em um 
nível global. 
À exceção da não prisão de WPS, a Pn1 dessa N3 traz elementos linguísticos 
semelhantes aos identificados nas mesmas macroproposições iniciais anteriores das 
N1 e N2. Mais precisamente, os elementos linguísticos contextualizadores da trama 
narrativa estão dispostos nessa Pn1 também de modo a responder a, pelo menos, 
três perguntas: quem? WPS; o quê? Praticou um crime, foi qualificado nos autos e 
condenado a pena de três anos e quatro meses; Por quê/Por qual motivo? pela 
prática do crime prevista no artigo 171 do Código; Quando? Em dezembro de 1991. 
O estado de equilíbrio dessa narrativa existe, porém não em si mesmo, pois 
como enfatizado anteriormente, a narrativa do processo jurídico expressa no 
relatório dessa sentença judicial já começa pela informação do crime cometido 
pelo(s) condenado(s). O equilíbrio existe em oposição ao Nó que, nessa narrativa, é 
o fato de WPS não ter sido capturado pela PF (Pn2), a princípio, em um primeiro 
momento, o que gera reações. 
A Pn4 dessa N3 narra o insucesso das tentativas de captura empreendidas 
pela PF. As demais informações dessa macroproposição narrativa apenas ratificam 
esse insucesso e ainda destacam o fato de o condenado jamais ter sido capturado. 
Quanto à Pn5, o Ministério Público também pugnou pela extinção da pena e 
pelo arquivamento do processo do referido condenado. Nesse caso, independente 
de WPS cumprir ou não qualquer tempo de encarceramento assim como os demais, 
a decisão foi a mesma. 
112 
 
Destacando o parágrafo 7 desse relatório, observamos a ocorrência de uma 
nova narrativa. Trata-se das linhas 18, 19 e 20, as quais constituem uma nova 
narrativa encaixada, a NE5. 
Reiteramos que a ocorrência de uma narrativa encaixada não está limitada a 
constituir uma única macroproposição ou um único momento ou fase de uma 
narrativa de nível global. A exemplo disso, a NE5 é formada por um único parágrafo 
do relatório que sintetiza uma parte considerável de toda a narrativa do fluxo 
processual que envolve o referido condenado. 
O parágrafo 7 é responsável por apresentar explicitamente dois dos cinco 
momentos da narrativa de nível global de WPS, a saber, a Pn1 e a Pn4, entretanto, 
através de inferências podemos reconstruir essa NE com cinco momentos, ou seja, 
com um alto grau de narrativização. 
 
5.6.1 Narrativa encaixada 5 (NE5) 
 
Com vistas a facilitar a análise da NE5, reproduzimos abaixo o parágrafo com 
suas respectivas linhas demarcadas para, em seguida, identificarmos seus 
componentes narrativos. 
 
[L18] Finalmente, WPS, também qualificado nos autos e igualmente condenado a 
pena privativa de liberdade [L19] de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão 
pela prática do crime previsto no art. 171 do Código Penal [L20] (fls. X.030/X.056), 
jamais foi capturado, sem que tenha cumprido qualquer tempo de encarceramento 
 
Considerando esse sétimo parágrafo do relatório como continente de uma 
narrativa encaixada, distribuímos no quadro a seguir suas proposições narrativas e 
suas respectivas localizações em linhas. 
 
Quadro 16: Narrativa encaixada 5 (NE5) 
 
 
PROPOSIÇÕES 
NARRATIVAS 
 
 
OCORRÊNCIAS NA NE5 < L18, 19 e 20 < N3 
Situação inicial 
(Orientação) (Pn1) 
 
[Por inferência] WPS havia cometido o crime e estava em liberdade. 
113 
 
 
Nó 
(Desencadeador) 
(Pn2) 
 
 
[Por inferência] WPS foi processado pelo [L19] crime previsto no 
art. 171 do Código Penal 
 
Re-ação ou 
Avaliação (Pn3) 
 
 
[Por inferência] Ações processuais: oitivas em geral; idas e vindas 
do processo etc. [L18] [...] WPS, também qualificado nos autos [...] 
 
Desenlace 
(Resolução) (Pn4) 
 
[L18] WPS [foi] igualmente condenado a pena privativa de liberdade 
[L19] de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão [e, por 
inferência] teve seu mandado de prisão expedido. 
 
 
Situação final 
(Pn5) 
 
 
[L20] [WPS] jamais foi capturado, sem que tenha cumprido qualquer 
tempo de encarceramento. 
 
 
Semelhante às inferências feitas na identificação das situações iniciais das 
narrativas anteriores, principalmente, no que se refere às narrativas encaixadas, 
entendemos que a Pn1 – não explicitada nessa narrativa – refere-se à liberdade de 
WPS, embora este já tivesse praticado o crime pelo qual, posteriormente, foi 
acusado no processo. 
Como também já explicitado em análises anteriores, a Pn2 desse processo 
narrativo narra o fato de WPS ter sido processado pelo crime previsto no artigo 171 
do Código Penal. Para a identificação dessa proposição narrativa, unimos uma 
inferência a uma informação constante no próprio relatório (L19). 
Como resultado da abertura de um processo judicial, inferimos que a Pn3 
dessa narrativa diz respeito às ações processuais em geral, entre as quais, a 
qualificação de WPS nos autos do processo (L18) e as oitivas em geral, ou seja, 
todo o trâmite processual que resultou posteriormente na sua condenação (Pn4). 
A Pn4 dessa NE, assim como as demais resoluções dos processos dos 
outros dois condenados, estabelece uma clara relação simétrica com a Pn2. O fato 
de WPS ter sido condenado contrasta com o fato de, em um primeiro momento, ter 
sido processado, o que por sua vez, nos faz concluir que através dos trâmites 
processuais apurou-se a materialidade delitiva e consequente comprovação de sua 
autoria na prática do crime pelo qual foi processado e respectivamente condenado.Como ser condenado não implica ser preso, uma das ações resultantes dessa 
primeira parte do Desenlace, por inferência, foi a expedição de um mandado de 
114 
 
prisão contra o então condenado. Em narrativas encaixadas anteriores (NE1, NE2 e 
NE3), as prisões foram efetivadas após as condenações, o que nos permitiu 
interpretar esse momento como a Situação final (Pn5) de todas elas. Entretanto, o 
caso de WPS é diferente, pois a Pn5 ou Situação final dessa NE5 é finalizada com a 
informação de que ele “jamais foi capturado, sem que tenha cumprido qualquer 
tempo de encarceramento.” (L20). 
 
5. 7 SINTESE 
 
Como até aqui temos observado, as linhas 21, 22, 23, 24 e 25 (parágrafos 8, 
9 e 10) ocuparam as mesmas posições nos quadros de identificação das 
macroproposições narrativas dos três condenados em suas respectivas narrativas 
globais. 
As L21 e 22 em todas as ocorrências, em nível global, constituíram parte da 
Pn1, pois narraram a informação do trânsito em julgado da sentença que apenou os 
condenados (JGL, GPS e WPS) pelo crime cometido. 
Entendemos que a informação do status da sentença constitui parte da Pn1 
da narrativa dos três condenados porque ela reforça que, em um primeiro momento, 
o processo que decidiu pelas suas condenações foi dado como encerrado. Ou seja, 
como interpretamos que a qualificação nos autos e a condenação pelo crime 
previsto no art. 171 co Código Penal pertencem ao estado inicial do processo de 
cada um dos três condenados em oposição às fugas realizadas, o trânsito da 
sentença em julgado apenas ratifica o que já foi posto, a saber, a condenação dos 
três. 
Na L23 do relatório dessa sentença, vimos que “Várias tentativas de captura 
dos foragidos foram efetivadas pela Polícia Federal”. Em todas as narrativas de nível 
global (N1, N2 e N3), essa informação foi identificada como constituindo a Pn3, pois 
se mostrou como uma clara reação do poder público ao fato de os condenados 
terem fugido ou deixado de se apresentar, de modo que os dois primeiros (JGL e 
GPS) já haviam sido presos, mas WPS não. 
Embora o relatório da sentença tenha narrado as diferenças existentes nos 
processos individuais de cada um dos três condenados, um acontecimento é comum 
a todos: mais cedo ou mais tarde, deixaram de se apresentar, por isso a tentativa de 
115 
 
prendê-los – narrada na L23 – serviu a todos e foi considerada a Re-ação comum a 
todas as narrativas globais. 
É importante destacar que em todas as narrativas de nível global houve 
situações narradas que de alguma forma anteciparam o que, posteriormente, 
narraria a L23, ou seja, todas as narrativas, ao tratar dos condenados de forma 
individual (dos parágrafos 1 - 7) deram pistas de que todos se encontravam 
foragidos, o que também antecipou, de certa forma o insucesso das tentativas de 
captura empreendidas pela PF que é narrado na L23. 
Entretanto, considerando toda a tessitura do relatório, entendemos que, do 
ponto de vista da "progressão referencial e tópica" (Cf. MARCUSCHI, 2006), embora 
tenha havido uma antecipação de uma informação posteriormente narrada – como 
houve em todas as narrativas – entendemos que não houve uma repetição ou uma 
redundância, pois a informação narrada na L23 só reforçou e enfatizou as diligências 
tomadas por parte do poder público na tentativa de efetivar as prisões dos então 
condenados no processo. 
A fim de ilustrar as antecipações da informação do insucesso da PF no que se 
refere às tentativas de captura dos condenados na L23, lembramos que após narrar 
que JGL deixou de se apresentar, o texto sumariza sua situação ao dizer que 
“Cumpriu, portanto apenas 1 (um) ano [...]” (L8 e 9). Semelhantemente ocorreu com 
a narrativa de GPS, quando depois de narrar sua fuga (L14 e 15) é posto na L16 e 
17 que ainda há pena a cumprir. Já o caso de WPS na L20 reitera-se que ele 
“jamais foi capturado”. Ou seja, esses trechos antecipam a informação do insucesso 
das tentativas de captura empreendidas pela PF narrada na L23. 
Quanto à proposição “porém sem sucesso” presente no início da Pn4 – em 
todos os casos narrados – sempre aponta para a resolução da narrativa, 
antecipando assim o seu desenlace em uma perspectiva global. 
Já as últimas linhas do relatório (L24 e 25), localizadas no parágrafo 10, foram 
destinadas a tratar do efetivo encerramento da narrativa do fluxo processual dos três 
condenados e também o efetivo encerramento das ações processuais anteriores a 
decisão, o que nos leva a ter a mesma Situação final (Pn5) para todos. Como vimos, 
a Pn5 tratou da prescrição de suas penas e o respectivo arquivamento dos 
processos, o que significa dizer que a extinção da punibilidade dos contraventores 
ou criminosos (JGL, GPS e WPS), deu-se em razão de não terem sido efetivadas as 
prisões em tempo hábil no referido processo. 
116 
 
Constatamos também que, por se tratar de narrativas processuais de 
condenados pelo mesmo crime (171 – estelionato), o juiz – através do relatório 
dessa sentença – conduziu as informações desses processos de forma bastante 
semelhante no que se refere à disposição dos acontecimentos que trataram das 
ações praticadas pelos condenados e pelo poder público. 
Pudemos constatar também que o relatório dessa sentença conduziu as 
narrativas dos processos dos condenados de duas formas: individual e 
coletivamente. Ao tratar as narrativas dos processos de cada um dos condenados 
individualmente, o juiz enfatizou as particularidades de suas ações, o que 
contribuiu para diferenciar cada uma das três narrativas entre si no relatório dessa 
sentença, por exemplo, os dois primeiros condenados citados no relatório passaram 
pelas mesmas situações desde o crime cometido até as suas prisões, já o caso de 
WPS é diferente, pois ele sequer foi preso, o que tornou a sua narrativa mais curta 
que a dos demais. Porém, mesmo os dois primeiros condenados tendo passado 
pela prisão, suas narrativas são diferentes, pois o primeiro condenado tornou-se 
reincidente e teve sua pena agravada, já o segundo condenado não. Apesar de 
ambos cumprirem pena em regime semiaberto, o primeiro condenado deixou de se 
apresentar uma única vez, enquanto que o segundo condenado, por duas vezes 
fugiu. 
Ao afirmar que o relatório dessa sentença também conduziu as narrativas dos 
condenados de forma coletiva, chamamos atenção para as suas últimas 5 linhas do 
texto do relatório. Com vistas a não se utilizar de repetições e, com isso deixar o 
texto, de certa forma, cansativo ou redundante, nas ultimas linhas do relatório (L21, 
22, 23, 24 e 25) ou mais precisamente nos parágrafos 8, 9 e 10, o juiz fez uso de 
expressões no plural para se referir às informações relacionadas aos três 
condenados. Dessa forma, uma parte da Situação inicial (Pn1 – L21 e 22), a Re-
ação (Pn3 – L23), a primeira proposição do Desenlace (Pn4 – L23) e a Situação final 
(Pn5 – L24-25) foram comuns as três narrativas globais e, por essa razão, os 
trechos do relatório referentes a esses momentos foram dispostos nos quadros de 
análises também de cada uma dessas narrativas. 
No quesito estrutural, os sete primeiros parágrafos desse relatório trazem, em 
linhas preliminares, as narrativas dos três condenados, mais precisamente, a maior 
parte da Situação inicial (Pn1), o Nó (Pn2) e o Desenlace (Pn4), restando aos 
117 
 
parágrafos restantes (8, 9 e 10) uma parte final da Situação inicial (Pn1), a Re-ação 
(Pn3), um pequeno trecho do Desenlace (Pn4) e a Situação final (Pn5). 
Em síntese, mostramos, no quadro a seguir, um resumo dos trâmites 
processuais narrados no relatório dessa sentença, a partir do qual podemos 
visualizar os principais acontecimentos que envolvem as personagens (os 
condenados) citadas no texto. 
No quadro, utilizamos as informações do relatório em forma de orações tendo 
os condenados como sujeito. Dessa forma, na coluna da esquerda, apresentamos 
as ações e nas demais colunas da direitaelencamos os condenados que estão 
relacionados a essas ações. 
 
Quadro 17: Resumo das ocorrências narradas no relatório 
 
 
OCORRÊNCIAS NARRADAS NO PROCESSO 
 
 
CONDENADOS 
 
Foi processado pelo crime previsto no art. 171 do 
Código Penal 
 
JGL 
 
GPS 
 
WPS 
 
Foi qualificado nos autos 
 
JGL 
 
GPS 
 
WPS 
 
Foi condenado a pena privativa de liberdade 
 
JGL 
 
GPS 
 
WPS 
 
Foi preso 
 
JGL 
 
GPS 
 
 
Empreendeu fuga 
 
JGL 
 
GPS 
 
WPS 
 
Foi novamente preso pela Polícia Federal 
 
GPS 
 
 
Empreendeu nova fuga 
 
GPS 
 
 
Encontra-se foragido 
 
JGL 
 
GPS 
 
WPS 
 
Teve o processo arquivado e a pena extinta 
 
JGL 
 
GPS 
 
WPS 
 
Através desse quadro podemos ter uma visão mais sistematizada dos 
principais acontecimentos do processo. Os casos de JGL e GPS são os mais 
semelhantes (considerando os acontecimentos expostos no quadro acima), pois 
ambos foram qualificados, condenados, presos, fugiram, não foram capturados e 
tiveram suas penas extintas. No caso de GPS, a fuga aconteceu por duas vezes, na 
última, não foi preso. O relato de WPS é mais curto em comparação aos demais: ele 
118 
 
foi qualificado e condenado a pena privativa de liberdade como os outros, porém 
mesmo nunca sendo capturado, também teve a extinção de sua pena. 
Quanto ao grau de narrativização, todas as narrativas de nível global 
possuem todas as cinco macroproposições narrativas de base que correspondem 
aos cinco momentos da narrativa propostos por Adam (2011), quais sejam: Situação 
Inicial (Pn1), Nó ou Desencadeador (Pn2), Re-ação ou Avaliação (Pn3), Desenlace 
ou Resolução (Pn4) e a Situação Final (Pn5). Já as narrativas menores – as 
encaixadas – que integram as narrativas de nível global, foram constituídas por 
encadeamentos menores de proposições enunciadas. Além disso, parte dos 
momentos que constituíram as narrativas encaixadas foram recuperados através de 
inferência. 
A fim de termos uma visão geral das ocorrências das narrativas, bem como 
de seus encadeamentos entre si, suas relações de complementaridade e suas 
respectivas localizações no relatório, apresentamos um esquema que mostra a 
estrutura composicional de todo o relatório dessa sentença. 
Através desse esquema seguinte, temos uma visão sistematizada das três 
narrativas globais – a saber, N1 (JGL), N2 (GPS) e N3 (WPS) – e de suas 
respectivas narrativas encaixadas, que, ao todo se somam cinco: duas na primeira 
narrativa global, duas na segunda e uma na terceira. 
A narrativa1 (JGL) é formada por cinco macroproposições narrativas de base 
(Pn1, Pn2, Pn3, Pn4 e Pn5) e ocorre nas linhas 1 a 8 e nas linhas 23 a 25. A Pn1 
dessa narrativa apresenta duas narrativas encaixadas (NE1 e NE2): na NE1 
utilizamos a inferência em quatro dos cinco momentos dessa narrativa, de modo que 
na Pn1 e na Pn2 a inferência serviu como um complemento da proposição; na NE2 
apenas a Pn1 foi inferida. 
A narrativa 2 (GPS) também é formada por cinco macroproposições 
narrativas e ocorre entre os limites das linhas 10 a 17 e das linhas 23 a 25. Essa 
narrativa global possui duas narrativas encaixadas: uma delas presente na Pn1 e 
outra é formada por trechos da Pn3 e da Pn4, ou mais precisamente é formada no 
parágrafo 7 do relatório o qual compreende as linhas 14 e 15, somada a L23. A Pn1 
dessa N2 constitui a narrativa encaixada 3 (NE3), a qual é composta por quatro 
momentos explícitos da narrativa (Pn2, Pn3, Pn4 e Pn5), sendo inferida a Pn1. A 
Pn4 dessa N2 constitui a narrativa encaixada 4 (NE4) e é composta pelos cinco 
119 
 
momentos da narrativa de maneira explícita, ou seja, teve todos os seus momentos 
expressos na materialidade linguística. 
A narrativa 3 (WPS) é formada por quatro macroproposições narrativas 
explícitas (Pn1, Pn3, Pn4 e Pn5) e uma implícita ou inferida (Pn2) e ocorre entre as 
linhas 18 a 25. Essa N3 possui, na composição das linhas 18, 19 e 20, mais um 
encadeamento de proposições enunciadas que configuram a narrativa encaixada 5 
(NE5): composta por quatro dos cinco momentos de uma narrativa com alto grau de 
narrativização; intercalada ou complementada por inferências no Nó (Pn2), na Pn3 
(Re-ação ou Avaliação) e na Pn4 (Desenlace). 
 
Esquema 1 – Estrutura composicional do relatório da sentença estudada 
 
 
Fonte: dados da pesquisa 
 
120 
 
CAPÍTULO VI 
 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
O relatório da sentença, que é a parte que contém a sinopse do processo, é 
por excelência um texto predominantemente composto por macroproposições de 
base narrativa. Apesar de ser um sintético resumo do processo, o relatório traz as 
informações mais relevantes dos autos, ou seja, é no relatório que o juiz relata ou 
narra apenas aquilo o que julga importante relatar ou narrar, como elucidamos nas 
análises o uso dos termos “Relatado. Decido”, os quais reforçam essa assertiva. 
Mesmo sendo uma sinopse do processo, o relatório dessa sentença não se 
limitou apenas a elencar ou enumerar as ações das partes envolvidas, pois como 
pudemos observar ocorreu uma intriga em cada uma das narrativas que envolveram 
cada um dos condenados citados (JLG, GPS e WPS). 
No relatório dessa sentença, o Nó desencadeador da trama narrativa (Pn2) 
ocorreu da mesma forma para todos os três condenados, a saber, por meio da fuga: 
mostrada na forma do não comparecimento na unidade prisional, tanto nos casos 
dos que cumpriam pena em regime semiaberto e deixaram de se apresentar (JGL e 
GPS) como também no caso do que sequer foi preso, como WPS. Porém em todas 
as ocorrências a reação (Pn3) foi a mesma: as tentativas de captura dos foragidos 
empreendidas pela Polícia Federal. 
As ocorrências narradas nesse relatório nos apresentam não apenas uma, 
mas três narrativas com um alto grau de narrativização. Narrativas que ora se 
mostram ser independentes umas das outras, ora mostram complementaridade 
entre si. 
Preliminarmente, tomando os resultados da sentença analisada para 
obtenção das respostas às questões de pesquisa, quanto à questão: “Como ocorrem 
as sequências narrativas no gênero sentença judicial?” concluímos que, com vistas 
a não repetição de expressões ou estruturas (como no caso da última parte da Pn1, 
da Pn3 e da Pn5), a narrativa foi conduzida de forma individual, tratando as 
especificidades de cada um dos condenados de forma separada e, 
121 
 
consequentemente, diferindo-os uns dos doutros; e de forma coletiva, em 
determinados momentos, narrando as mesmas tomadas de decisão para todos. 
Outro ponto a se considerar é a presença das cinco macroproposições 
narrativas em todas as narrativas de nível global, o que mostra narrativas com um 
alto grau de narrativização, e com isso mostra também que não há apenas uma 
soma ou uma enumeração de ações, mas uma intriga para cada uma dessas 
narrativas e consequentemente transformação de um estado de coisas. 
Sobre o “efeito dominante” (ADAM, 2011, p. 276), vimos que o relatório da 
sentença estudada é um texto predominantemente composto por proposições e 
sequências narrativas, as quais se dão na forma de sequências encaixadas, que 
permeiam todo o texto, dando-nos detalhes importantes para o entendimento da 
narrativa como um todo e também de sequências encaixantes, que abrem e fecham 
o texto. Dessa forma, observamos que na composição das narrativas de nível global 
(N1, N2 e N3) há outras narrativas menores, as chamadas narrativas encaixadas, as 
quais realizaram uma função indispensável à estrutura composicional das narrativas 
das quais fazem parte, assim como também são indispensáveis ao relatório em si e 
indispensáveis à sentença como um todo. 
Observamos que as narrativas encaixadas desempenham, sobretudo, um 
importante papel na construção dos sentidos, pois detalham ações e origens de 
acontecimentos narrados de forma mais sintética e ao fazerem isso, funcionam 
também como um fator de argumentação, como vimos na NE2. 
À exceçãoda N3, as demais narrativas de nível global tiveram, 
explicitamente, todas as suas macroproposições identificadas no relatório. Já no 
caso da Pn2 da N3, usamos o recurso da inferência para identificar o Nó, de modo 
que este estava implícito no contexto das demais ocorrências, o que, mesmo assim, 
nos faz entender ser uma narrativa com alto grau de narrativização. 
Quanto à questão: “Que elementos textuais e discursivos são utilizados nas 
sequências narrativas no gênero sentença judicial?” identificamos construções 
semelhantes em todos os momentos das narrativas dos três condenados. A Pn1, por 
exemplo, ocorreu da mesma forma para todos, no sentido de brevemente 
contextualizar/introduzir a narrativa ao expor o nome das partes envolvidas e o(s) 
motivo(s) que os levaram a responder aos processos, bem como o status da 
sentença com trânsito em julgado e a efetivação de algumas prisões. Nesses casos, 
consideramos os elementos “quem? o quê? por quê? e quando?” como elementos 
122 
 
linguísticos de identificação da Pn1, ou seja, constituintes da orientação da narrativa 
que funcionaram como uma espécie de movimento retórico característico desse 
texto. 
Observamos também em algumas passagens da Pn1 para a Pn2 a presença 
de expressões adversativas na forma “porém” (L13) e “entretanto” (L7 e 14). Essas 
expressões constituíram a Pn2 das duas primeiras narrativas globais e também da 
NE4. Observamos que essas expressões foram responsáveis por quebras nos 
estados de equilíbrio e consequente marcas desencadeadoras da trama narrativa. 
Todavia, enfatizamos que a passagem da Pn1 (Situação inicial) para a Pn2 
(Nó) não ocorreu apenas com o uso de expressões dessa natureza; em alguns 
casos, a passagem de uma macroproposição para outra ou de um momento da 
narrativa para outro, por vezes, não trouxe, em si, uma marca linguística explícita e 
em casos assim a interpretação ou a identificação de uma macroproposição foi feita 
com base no co(n)texto, nas relações de sentido estabelecidas entre as partes do 
todo. 
Por outro lado, a mesma expressão “porém” presente na L20 introduziu a Pn4 
na NE4, mostrando um Desenlace inesperado; uma quebra de expectativa, uma vez 
que nesse momento introduziu uma proposição enunciada que narrou o fracasso da 
PF em capturar os foragidos. Outra ocorrência de uma marca linguística e discursiva 
na tessitura de uma das narrativas é a expressão conclusiva “portanto” presente na 
L8 que introduziu um desfecho, um Desenlace para a primeira narrativa global ao 
concluir que a pena do condenado não havia sido cumprida por completo. 
Macroproposições como a Pn3 e a Pn5 não apresentaram nenhuma marca 
linguístico-discursiva específica. Suas identificações foram feitas com base em 
relações de sentido em relação com outras macroproposições e, no caso específico 
da Pn5, com base, sobretudo, na relação simétrica com a Pn1. 
Quanto à questão: “Qual o papel da sequência narrativa na composição do 
gênero sentença judicial?” entendemos que o uso desse recurso textual (narrativo) é 
a forma mais satisfatória de cumprir o que é exposto no primeiro parágrafo do artigo 
489 do CPC quando diz que “o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma 
do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências 
havidas no andamento do processo” ou o que propõe o segundo parágrafo do artigo 
381 do CPP quando diz que a sentença deverá conter: “a exposição sucinta da 
acusação e da defesa”. 
123 
 
Por se tratar de uma única sentença judicial analisada, não podemos fazer 
generalizações no que se refere à estrutura composicional (plano de texto e 
sequências textuais) de toda e qualquer sentença – visto, também, que esse não é o 
objetivo dessa pesquisa. Porém em nossas análises, observamos que apesar de a 
sentença judicial ser um documento da esfera jurídica normatizado pelos CPP e 
CPC, ela nem sempre segue as normas de produção ou de conteúdo que lhes são 
impostas e, como prova do que aqui afirmamos relembramos o processo de seleção 
do corpus dessa pesquisa. 
Também em nossas análises, observamos que é importante conceber a 
possibilidade de se reconhecer a existência de duas situações finais (Pn5) para 
essas narrativas processuais: a primeira, considerando a perspectiva do condenado, 
é encerrada no momento de sua fuga, pois dessa forma ele já deixa de participar 
dessa narrativa, ou seja, para ele o processo acabou – encontrando-se ele em uma 
espécie de ‘liberdade’; a segunda Pn5, considerando a perspectiva do processo em 
si, esse processo deve seguir o seu trâmite normalmente, que, assim, culmina com a 
prescrição da pena do referido condenado. 
Em determinado momento de nossas análises (p. 92), destacamos o fato de a 
narrativa processual coincidir com determinadas definições da sequência narrativa 
conforme o modelo de Adam (2011). Isso se dá pelo fato de o autor considerar a 
Situação Inicial ou Pn1 como um momento antes do processo narrativo e a Situação 
final ou Pn5 como o momento depois desse processo. Ou seja, o autor considera a 
Pn1 e a Pn5 como momentos que marcam e delimitam os limites do processo 
narrativo, mas é o Nó ou Pn2 que efetivamente inicia esse processo e é seguido 
pela Re-ação ou Avaliação ou Pn3 e pelo Desenlace ou Pn4 que encerra esse 
processo, demarcando o seu final. Esses três momentos são, para Adam (2011), o 
núcleo do processo narrativo. (Ver seção 3.2.1.2 - pág. 54 e ADAM, 2011, p. 225). 
Assim, o que comparamos com a narrativa processual é que em algumas 
ocasiões o processo, do ponto de vista jurídico, teve efetivo início com a denúncia, o 
que em três ocorrências consideramos como o Nó, como foram os casos das 
narrativas encaixadas 1, 3 e 5, nas quais, por inferência assim o deduzimos. 
Entendemos que o relatório da sentença judicial tem por finalidade trazer a 
narrativa do fluxo processual do(s) réu(s). Dessa forma, concluímos que essa 
narrativa limita-se a narrar o trâmite processual até a condenação do então réu, de 
modo que uma sentença não vai trazer a informação da prisão desse já condenado, 
124 
 
pois esse é um procedimento que já não compete a esse documento; desse 
documento saem deliberações para a prisão, mas ele não garante e não registra 
essa prisão. 
Entretanto, a sentença que analisamos falou sobre a (não) prisão dos 
condenados porque tratou de narrativas de outros processos, ou seja, de algo que já 
se efetivou e trouxe esses acontecimentos para o texto desse último documento, em 
especial, por necessidade de constatar o cálculo da pena cumprida e do tempo em 
que estiveram foragidos para poder deliberar suas efetivas sentenças, que no caso 
foi de prescrição e arquivamento dos autos. Por essa razão, entendemos e 
afirmamos que nas análises das narrativas encaixadas 1, 3 e 5 a prisão dos 
condenados expressa um momento depois do processo jurídico e que, por sua vez, 
coincide com o que afirma Adam (2011) sobre o que considera ser a Situação final 
ou Pn5 que é o momento depois do processo narrativo propriamente dito. 
Da mesma forma, ao afirmarmos que o fato de GPS estar solto mesmo já 
tendo cometido o crime é um momento antes do processo jurídico, entendemos que 
o processo jurídico tem início com a denúncia ou com a abertura do processo 
propriamente dito (inquérito, por exemplo). Obviamente, o crime é o ponto de partida 
para a denúncia e para abertura desse processo judicial, e por essa razão é um 
elemento imprescindível para a narrativa do fluxo processual, que como já 
elucidamos, ocorre em torno desse crime. Em analogia ao estudo das sequências 
narrativas de Adam (2011), comparamos isso ao que o autor concebe como 
Situação inicial ou Orientação, ou seja, o momento que antecede o processo 
narrativo propriamente dito. 
Observamos também que o relatório dessa sentença não narrou apenas três 
processos, nesse caso, o processo de JGL, GPS e WPS, mas sim narrou vários 
processosenvolvendo esses três já condenados. Na narrativa processual de JGL, 
por exemplo, é possível identificar a soma de outros dois processos, inclusive a 
soma de sua pena é enfatizada. O caso de GPS é semelhante, uma vez que são 
narradas duas prisões: uma pela primeira sentença com trânsito em julgado (crime 
de estelionato ) e a segunda por não comparecer a unidade prisional – fato de estar 
cumprindo pena em regime semiaberto – e ser capturado pela Polícia Federal. 
Assim, entendemos que uma sentença judicial pode narrar tanto um único processo 
quanto pode narrar vários relacionados a um mesmo condenado. 
125 
 
Entendemos que para fazer considerações mais gerais a respeito do gênero 
(conteúdo, estrutura etc.), seria necessário um número maior de textos. Ao que nos 
propomos, acreditamos que esta pesquisa traz avanços significativos acerca do 
estudo tanto da sequência narrativa conforme o modelo proposto por Adam (2011), 
como também avanços sobre o entendimento do gênero sentença. Esperamos, com 
essa proposta, ter contribuído com os estudos linguísticos do texto e do discurso e 
com os estudos jurídicos. 
 
126 
 
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análise semântico-pragmática dos modalizadores. 2012. Dissertação (Mestrado em 
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Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/prc/v14n3/7845.pdf>. Acesso em: 25 mai. 
2016. 
 
http://www.scielo.br/pdf/prc/v14n3/7845.pdf
131 
 
ANEXO – Sentença Judicial 
 
JFRN – Justiça Federal no Rio Grande do Norte 
 
PODER JUDICIÁRIO 
JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU 
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO GRANDE DO NORTE 
14ª VARA FEDERAL 
 
Processo: xxxxxx-xx.xxxx.x.xx.xxxx 
 
Classe 103 - Execução Penal 
Processo nº: xxxxxx-xx.xxxx.x.xx.xxxx 
Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 
Condenado(s): JGL, GPS e WPS 
TIPO "E" 
 
SENTENÇA 
(RESOLUÇÃO CJF Nº 535, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2006) 
 
I – RELATÓRIO 
1. JGL, qualificado nos autos, foi condenado a pena privativa de liberdade de 03 (três) anos e 
04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime previsto no art. 171 do Código Penal (fls. 
X.030/X.056). 
2. Em decisão de fls. X.553/X.557 a pena do referido condenado foi unificada, tendo em vista 
sua condenação no processo nº XX.0005570-9 pelo crime de falsidade ideológica, no qual foi 
condenado a pena de 02 (dois) anos e 08 (oito) meses de reclusão, de forma que sua pena 
unificada restou totalizada em 04 (quatro) anos, 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias. 
3. O aludido condenado foi preso em 14.10.1997, tendo, entretanto, empreendido fuga na 
data de 03.03.1999, já que cumpria pena em regime semi-aberto e deixou de se apresentar. 
Cumpriu, portanto, apenas 01 (um) ano, 04 (quatro) meses e 17 (dezessete) dias de reclusão, 
se encontrando foragido desde o dia da fuga. 
4. Por seu turno, GPS, também qualificado nos autos, foi igualmente condenado a pena 
privativa de liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime 
previsto no art. 171 do Código Penal (fls. X.030/X.056). 
5. Foi preso em um primeiro momento em 07.02.1992, porém, beneficiado pelo regime semi-
aberto, deixou de se apresentar em 23.03.1992. Foi preso novamente em 03.06.1996, 
entretanto, mais uma vez, deixou de se apresentar em 29.08.1997, encontrando-se foragido 
desde então. 
6. Cumpriu 02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 11 (onze) dias do total da pena, restando, 
ainda, o tempo de 11 (onze) meses e 19 (dezenove) dias a cumprir. 
7. Finalmente, WPS, também qualificado nos autos e igualmente condenado a pena privativa 
de liberdade de 03 (três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão pela prática do crime previsto 
no art. 171 do Código Penal (fls. X.030/X.056), jamais foi capturado, sem que tenha cumprido 
qualquer tempo de encarceramento. 
8. A sentença que apenou os condenados transitou em julgado em 12 de novembro de 1991, 
conforme certidão de fls. X.146. 
9. Várias tentativas de captura dos foragidos foram efetivadas pela Polícia Federal, porém 
sem sucesso. 
10. Em Manifestação de fl. X.630, o Ministério Público Federal pugnou pelo reconhecimento 
da prescrição da pretensão executória dos condenados e consequente arquivamento dos 
autos. 
11. Relatado. Decido. 
 
132 
 
II – FUNDAMENTAÇÃO 
12. Tendo em vista que os acusados foram condenados à pena privativa de liberdade de 03 
(três) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, aplica-se à espécie, a priori, o prazo 
prescricional da pretensão executória de oito anos (art. 110 c/c art. 109, inciso IV, do Código 
Penal). 
13. Saliente-se que, no caso do condenado JGL, em que pese sua pena ter sido unificada em04 (quatro) anos, 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias, o prazo prescricional se mantém em oito 
anos, uma vez que o referido condenado já cumpriu parte da pena, havendo resquício de 03 
(três) anos, e 23 (vinte e três), que deve regular, doravante, o prazo prescricional, por 
obediência ao art. 113 do Código Penal: 
Art. 113 - No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento condicional, a 
prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena. 
14. É verdade que o condenado é reincidente, haja vista a unificação das penas, o que gera 
aumento de um terço do prazo prescricional nos termos do art. 110 do CP: 
Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela 
pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de 
um terço, se o condenado é reincidente. 
15. Entretanto, ainda assim resta certo que o prazo prescricional total já expirou, uma vez que 
totalizaria 10 (dez) anos e 08 (oito) meses e, como a fuga do condenado se deu em 
03.03.1999, a prescrição ocorreu em 04.11.2009. 
16. No caso de GPS a incidência da prescrição da pretensão executória é mais aparente 
ainda, uma vez que o referido condenado efetivamente cumpriu 02 (dois) anos, 04 (quatro) 
meses e 11 (onze) dias do total da pena, restando, apenas, o tempo de 11 (onze) meses e 19 
(dezenove) dias a cumprir, de forma que o prazo prescricional, nesta hipótese, é de 03 (três) 
anos, conforme se depreende dos artigos 110, 109, VI e 113 do Código Penal. 
17. Uma vez que o condenado se evadiu desde 29.08.1997, a prescrição já operou seus 
efeitos desde a longínqua data de 20.08.2000. 
18. Finalmente, no caso do condenado WPS, tendo a sentença transitado em julgado para a 
acusação em 12.11.1991, e não tendo se configurado qualquer das causas interruptivas 
enumeradas no art. 117 do Código Penal, já que o condenado jamais foi capturado, a 
prescrição da pretensão executória se operou em 13/11/1999, nos termos do art. 112, inciso I, 
do Código Penal. 
19. Ressalte-se que ocorrendo a prescrição se extingue a punibilidade, nos termos do art. 
107, IV, do Código Penal. 
20. Assim, seguindo a manifestação apresentada pelo Ministério Público Federal, impõe-se o 
reconhecimento da extinção da punibilidade dos apenados, nos termos do art. 107, IV, do 
Código Penal. 
III – DISPOSITIVO 
21. Ante o exposto, DECLARO EXTINTA A PUNIBILIDADE das penas impostas a JGL, GPS 
e WPS, tendo em vista a ocorrência da prescrição da pretensão executória relativa aos 
presentes fatos. 
22. Façam-se as anotações pertinentes. Intimem-se as partes. 
23. Após, nada mais sendo requerido, arquivem-se os autos. 
24. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se 
Natal/RN, 25 de fevereiro de 2015. 
 
FEGF 
Juiz Federal 
 
(ambn) 
Processo n. xxxxxx-xx.xxxx.x.xx.xxxx 
 
	JFRN – Justiça Federal no Rio Grande do Norte 
	Processo: xxxxxx-xx.xxxx.x.xx.xxxx

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