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ValterRegisDeSouzaCardoso-DISSERT

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE LETRAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA 
 
 
 
 
VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO 
 
 
 
 
AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL / RN 
2017 
 
 
VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL 
 
 
 
 
 
 
Dissertação submetida ao Programa de 
Pós-graduação em Estudos da 
Linguagem da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte – PPgEL/UFRN, 
como requisito parcial para a obtenção do 
título de Mestre em Estudos da 
Linguagem, na área de concentração de 
Estudos Linguísticos do Texto. 
 
 
Orientador: Prof. Dr. João Gomes da 
Silva Neto 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL / RN 
2017 
 
 
VALTER RÉGIS DE SOUZA CARDOSO 
 
 
AS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS EM SENTENÇA JUDICIAL 
 
Relatório de Dissertação apresentado ao Programa de Pós-graduação em Estudos 
da linguagem (PPgEL), Departamento de Letras, da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como um dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em 
Estudos da Linguagem. Avaliado em ___/___/____ pela seguinte banca 
examinadora: 
 
 
___________________________________________________________________ 
Prof. Dr. João Gomes da Silva Neto 
Presidente / Orientador – UFRN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profa Dra Josilete Alves Moreira de Azevedo 
Examinadora Interna – UFRN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profª Dra Maria Eliete de Queiroz 
Examinadora Externa – UERN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profa Dra Maria das Graças Soares Rodrigues 
Examinadora interna (Suplente) – UFRN 
 
 
___________________________________________________________________ 
Profª Drª Rosangela Alves Dos Santos Bernardino 
Examinadora Externa (Suplente) – UERN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à maior parte de mim: 
minha esposa Marília Cardoso 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Toda a minha gratidão ao autor da minha vida e razão do meu viver, Deus. 
 
Ao amor da minha vida, Marília Cardoso, que em todo o tempo está comigo. 
 
À minha família. 
 
Ao professor João Neto pela confiança e incentivo, aliás, por tudo. 
 
Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos que 
deram apoio e, em especial, ao amigo Geonilson por simplesmente tudo. 
 
Às professoras Josilete Alves e Eliete Queiroz pelas valiosíssimas 
contribuições nos exames de qualificação e de defesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Somos tão adeptos da narrativa 
que ela parece ser quase tão natural 
quanto a própria linguagem. 
Jerome Bruner 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Neste trabalho, à luz da Análise Textual dos Discursos – abordagem desenvolvida 
por Adam (2011) – propomos estudar a estrutura composicional do gênero sentença 
judicial com foco na noção de plano de texto e de sequências textuais narrativas que 
se realizam em seu relatório – parte que contém uma espécie de sinopse do 
processo. Com o objetivo principal de analisar como essas sequências ocorrem, 
procuramos identificar quais elementos textuais e discursivos são utilizados em sua 
tessitura, descrever esses elementos textuais e os seus encadeamentos na 
organização das sequências narrativas, além de interpretar o papel dessas 
sequências textuais para a estruturação e a composição do gênero. De forma mais 
ampla, nossa pesquisa está fundamentada nos pressupostos gerais da Linguística 
Textual em autores como Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 2013), 
Marcuschi (2002; 2008; 2012) entre outros. O corpus desta pesquisa é composto por 
uma sentença de natureza criminal, retirada do Banco de Sentenças do site da 
Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN). Metodologicamente, essa pesquisa 
apresenta aspecto documental e se orienta pelos métodos do raciocínio indutivo e 
dedutivo, apresentando um caráter qualitativo e descritivo. Os resultados mostram 
que o relatório da sentença não se limita apenas a listar ou enumerar as ações 
praticadas pelas partes envolvidas no processo, mas possui um alto grau de 
narrativização, apresentando todos os momentos de uma sequência narrativa e que, 
em função das narrativas de nível global, existem as narrativas menores, as 
chamadas narrativas encaixadas, as quais desempenham um importante 
mecanismo de contextualização e detalhamento de ações relatadas. 
 
Palavras-chave: Análise Textual dos Discursos. Discurso jurídico. Sentença 
Judicial. Sequência Narrativa. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
In the present work, under the light of the Textual Discourse Analysis – approach 
developed by Adam (2011) – we propose to study the compositional structure of the 
genre judicial sentence, with a focus on the notion of text plan and on the narrative 
textual sequences that materialize in its report – part that contains a kind of synopsis 
of the process. With the main objective of analyzing how these sequences occur, we 
try to identify which textual and discursive elements are used in their structure, to 
describe these textual elements and their threads in the organization of narrative 
sequences, besides to interpret the function of these textual sequences for 
structuring and composition. In a broader sense, this research is grounded on the 
general propositions of the Text Linguistics in authors like Koch (1997; 1999; 2002; 
2004), Koch e Elias (2012; 2013), Marcuschi (2002; 2008; 2012) among others. The 
corpus of this research is composed of a single sentence of a criminal nature, 
extracted from the Sentence Database of the Federal Justice of Rio Grande do Norte 
(JFRN) website. Regarding the applied methodology, the present research is of 
documental nature, whilst guided by an inductive-deductive reasoning and being of a 
qualitative and descriptive character. Methodologically, this research presents a 
documentary aspect and is guided by the methods of inductive and deductive 
reasoning, presenting a qualitative and descriptive character. Results indicate that 
the sentence report does not limit itself only to the listing and enumerating of the 
actions put into practice by the concerned parties throughout the legal process, but 
that it possess a high level of narrativization, displaying all components of a narrative 
sequence. And, because of the narratives at the global level, there are the smaller 
narratives, the so-called embedded narratives, which play an important 
contextualization and detailing mechanism of reported actions. 
 
Keywords: Discourse Textual Analysis. Legal discourse. Narrative textual sequence. 
Judicial sentence. 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
ADF Análise do Discurso Francesa 
ATD Análise Textual dos Discursos 
CPC Código do Processo Civil 
CPP Código do Processo Penal 
GPATD Grupo de Pesquisa em Análise Textual dos Discursos 
JFRN Justiça Federal do Rio Grande do Norte 
L Linha(s) 
LT Linguística de Texto 
MPF Ministério Público Federal 
N Narrativa(s) 
NE Narrativa(s) encaixada(s) 
PF Polícia Federal 
PPgEL Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem 
Pn0 Entrada prefácio 
Pn1 Situação inicial (Orientação) 
Pn2 Nó (Desencadeador) 
Pn3 Re-ação ou Avaliação 
Pn4 Desenlace 
Pn5 Situação final 
PnΩ Avaliação final ou Moralidade 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS E ESQUEMAS 
 
 
Figura 1 Esquema 4 – Níveis ou planos de análise de discurso e níveis 
ou planos da análise textual.......................................................... 
 
46 
Figura 2 Esquema18 – Limites e núcleo do processo narrativo................. 60 
Figura 3 Esquema 19 – Relações simétricas entre as macroproposições 
narrativas...................................................................................... 
 
64 
Figura 4 Esquema 20 – Estrutura narrativa complexa................................ 65 
Figura 5 Relações simétricas na NE1......................................................... 91 
Figura 6 Marcadores linguísticos da Pn2 e da Pn4 da N1.......................... 96 
Esquema 1 Estrutura composicional do relatório da sentença estudada......... 119 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da primeira 
busca............................................................................................ 
 
72 
Quadro 2 Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da segunda 
busca............................................................................................ 
 
72 
Quadro 3 Resumo do quantitativo de sentenças judiciais da terceira 
busca............................................................................................ 
 
73 
Quadro 4 Plano de texto.............................................................................. 79 
Quadro 5 Plano de texto e transcrição do relatório da sentença................. 80 
Quadro 6 Narrativa global de JGL (N1)....................................................... 84 
Quadro 7 Narrativas encaixadas na Situação inicial da narrativa 1............ 86 
Quadro 8 Narrativa encaixada 1(NE1) : a primeira condenação de JGL.... 88 
Quadro 9 Narrativa encaixada 2 (NE2) : a segunda condenação de JGL.. 92 
Quadro 10 Resumo da N1............................................................................. 96 
Quadro 11 Narrativa global de GPS (N2)...................................................... 97 
Quadro 12 Narrativa encaixada 3 (NE3): a primeira condenação de GPS... 100 
Quadro 13 Narrativa encaixada 4 (NE4): a última prisão e fuga de GPS...... 104 
Quadro 14 Resumo da N2............................................................................. 108 
Quadro 15 Narrativa global de WPS (N3)...................................................... 109 
Quadro 16 Narrativa encaixada 5 (NE5)........................................................ 112 
Quadro 17 Resumo das ocorrências narradas no relatório........................... 117 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 CAPÍTULO I............................................................................................ 14 
 
1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 14 
 
 CAPÍTULO II .......................................................................................... 19 
 
2 ESTADO DA ARTE................................................................................ 19 
2.1 ESTUDO SOBRE A SEQUÊNCIA TEXTUAL NARRATIVA................... 19 
2.2 A SENTENÇA JUDICIAL........................................................................ 25 
2.3 ESTUDOS LINGUÍSTICOS SOBRE O GÊNERO SENTENÇA 
JUDICIAL................................................................................................ 
 
30 
 
 CAPÍTULO III ......................................................................................... 36 
 
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................. 36 
3.1 LINGUÍSTICA TEXTUAL......................................................................... 36 
3.1.1 Estudos da Linguística Textual no Brasil........................................... 42 
3.2 ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS................................................. 44 
3.2.1 Estrutura composicional: planos de textos........................................ 47 
3.2.2 Noção de sequências textuais............................................................. 49 
3.2.2.1 A sequência textual narrativa.................................................................. 52 
 
 CAPÍTULO IV ......................................................................................... 69 
 
4 METODOLOGIA..................................................................................... 69 
4.1 NATUREZA DA PESQUISA.................................................................... 69 
4.2 SELEÇÃO DO CORPUS......................................................................... 71 
4.3 CATEGORIAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE.............................. 74 
 
 
 
 
 
 
 CAPÍTULO V .......................................................................................... 77 
 
5 ANÁLISE................................................................................................. 77 
5.1 O ESTABELECIMENTO DO TEXTO...................................................... 77 
5.2 O PLANO DE TEXTO............................................................................. 79 
5.3 O RELATÓRIO........................................................................................ 80 
5.4 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 1 (N1)................................. 
 
83 
5.4.1 Narrativa encaixada 1 (NE1)................................................................. 86 
5.4.2 Narrativa encaixada 2 (NE2)................................................................. 91 
5.4.3 Continuação da análise da narrativa global 1 (N1)............................ 94 
5.5 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 2 (N2).................................. 
 
97 
5.5.1 Narrativa encaixada 3 (NE3)................................................................. 99 
5.5.2 Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Nó e a Re-
ação........................................................................................................ 
 
102 
5.5.3 Narrativa encaixada 4 (NE4)................................................................. 104 
5.5.4 Continuação da análise da narrativa global 2 (N2): o Desenlace e 
a Situação final...................................................................................... 
 
107 
5.6 IDENTIFICAÇÃO, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS 
MACROPROPOSIÇÕES DA NARRATIVA 3 (N3).................................. 
 
109 
5.6.1 Narrativa encaixada 5 (NE5)................................................................. 112 
5.7 SÍNTESE................................................................................................. 114 
 
 CAPÍTULO VI......................................................................................... 120 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 120 
 
 REFERÊNCIAS....................................................................................... 126 
 ANEXO 
 
14 
 
CAPITULO I 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Os textos oriundos da esfera jurídica possuem uma linguagem considerada 
bastante técnica e de difícil compreensão tanto por parte dos estudantes do Direito, 
quanto pelos chamados operadores do Direito e, principalmente, por parte daquelas 
pessoas que não têm familiaridade com tais textos por não fazerem parte de 
nenhum dos dois grupos anteriores. 
Uma das principais dificuldades encontradas pelas pessoas que se deparam 
com textos da esfera jurídica, de um modo geral, está em lidar com determinadas 
convenções de ordem estrutural e composicional no que se refere, principalmente, 
ao fator linguístico expresso nesses textos em forma de jargões, linguagem muito 
rebuscada e uso de arcaísmos, o que os tornam, de certa forma, restritos aos 
profissionais da área do Direito. Esses e outros fatores também de ordem linguística 
têm despertado o interesse de estudiosos de diversas áreas e de várias partes do 
Brasil, sob vários enfoques teóricos e metodológicos diferentes, como veremos mais 
adiante no capítulo do estado da arte.Esses textos oriundos da esfera jurídica que integram processos judiciais 
recebem o nome de peça e muitas dessas possuem uma configuração textual 
bastante prototípica, normatizada por documentos como o Código do Processo Civil 
(CPC) e o Código do Processo Penal (CPP), como é o caso da estrutura da 
sentença judicial, por exemplo, que é regulamentada pelos artigos 489 do CPC e 
381 do CPP. 
O gênero sentença judicial é peça integrante de um processo judicial e, como 
o próprio nome já sugere, pertence à esfera jurídica e sua finalidade específica é a 
solução de conflitos por parte do Estado. Ela é considerada o ponto máximo do 
processo decisório, ou seja, é a parte final ou o fechamento de um processo e nela o 
Estado, representado pela pessoa do juiz, deve expressar o justo (Cf. PISTORI, 
2005). 
Pelo que propõe o CPC e o CPP, a sentença possui, a priori, uma forma 
padronizada, pré-estabelecida, sendo composta, principalmente, por relatório, 
15 
 
fundamentação e decisão. E é mais precisamente na parte destinada ao relatório 
que nos debruçamos nas análises da estrutura composicional através da: 
identificação de elementos textuais e discursivos que são utilizados em sua 
tessitura; descrição desses elementos textuais e de seus encadeamentos na 
organização das sequências textuais narrativas e interpretação do papel dessas 
sequências textuais para a estruturação e a composição do gênero como um todo. 
O nosso objetivo nessa pesquisa restringe-se à análise dos aspectos 
composicionais da sentença judicial, com foco nas sequências narrativas contidas 
em seu relatório – lugar onde elas se encontram. Esse componente da sentença 
judicial é a parte destinada à síntese dos principais acontecimentos havidos no 
processo; é uma espécie de sinopse, na qual o juiz ‘relata’ o que julga relevante 
relatar para com isso conduzir seus argumentos, na parte destinada a 
fundamentação e em seguida a sua efetiva decisão no também chamado dispositivo. 
Analisamos, assim, a complexidade narrativa que se realiza nos relatórios das 
sentenças, a fim de verificar a importância dessas sequências na composição desse 
gênero e, com isso, contribuir para o entendimento da organização e estruturação 
composicional dessa importante peça processual, e também contribuir com 
pesquisas subsequentes no que se refere à abordagem e ao estudo de um gênero 
textual ainda pouco estudado fora do seu âmbito mais comum. 
Para tanto, a partir dos estudos do modelo prototípico de análise das 
macroproposições de base narrativa de Adam (2011), investigamos como ocorrem 
as sequências textuais narrativas no gênero forense sentença judicial. Ao 
previamente constatarmos que sequências textuais narrativas se realizam no interior 
das sentenças judiciais – sobretudo na parte destinada ao relatório, por motivos já 
explicitados – somos conduzidos a alguns questionamentos que, por sua vez, 
conduzem a pesquisa aos objetivos. 
Essa pesquisa é norteada pelas seguintes questões: 
 
• Como ocorrem as sequências narrativas no gênero sentença judicial? 
• Que elementos textuais e discursivos são utilizados nas estruturas que 
formam essas sequências narrativas no gênero sentença judicial? 
• Qual o papel da sequência narrativa na composição do gênero sentença 
judicial? 
 
16 
 
Assim, orientados por tais questionamentos, a pesquisa possui três objetivos 
que visam a dar conta dessas questões. 
 
• O objetivo principal é investigar como ocorrem as sequências narrativas no 
gênero sentença judicial, e para isso procuramos, mais especificamente: 
• Identificar e descrever que elementos textuais e discursivos são utilizados nas 
estruturas dessas sequências narrativas no gênero sentença judicial; 
• Interpretar qual o papel das sequências narrativas para a estruturação e 
composição do gênero sentença judicial. 
 
Essa pesquisa está fundamentada nos pressupostos gerais da Linguística 
Textual em autores como Koch (1997; 1999; 2002; 2004), Koch e Elias (2012; 
2013), Marcuschi (2002; 2006; 2008, 2012), entre outros e, mais precisamente, na 
Análise Textual dos Discursos (ATD) – uma abordagem teórica proposta pelo 
linguista francês Jean-Michel Adam (2011) – além dos trabalhos de Rodrigues, 
Passeggi e Silva Neto (2010; 2012) e Passeggi et. al. (2010) dentre outros. Sobre o 
estudo das sequências textuais narrativas, além de Adam (2011), fundamentamo-
nos também em Adam e Revaz (1997), Adam e Lorda (1999) e Adam e Heidmann 
(2011). 
No que se refere à abordagem do gênero sentença judicial, fundamentamo-
nos em obras que tratam especificamente do assunto como Santos (2011), Capez 
(2012) e Nucci (2014) – da literatura jurídica – Pistori (2005), Pimenta (2007), além 
do Código do Processo Penal (CPP) e do Código do Processo Civil (CPC). 
Metodologicamente, essa pesquisa caracteriza-se como documental e se 
orienta pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo, apresentando um caráter 
qualitativo e descritivo. 
O corpus dessa pesquisa é composto por uma única sentença judicial de 
natureza criminal, coletada do ‘Banco de Sentenças’ do site do Portal da Justiça 
Federal da 5º Região, mais precisamente, da Justiça Federal do Rio Grande do 
Norte (JFRN). Tal sentença é oriunda da 14º vara, que corresponde ao município 
de Natal – capital do estado – e trata do processo de três condenados pelo crime 
previsto no artigo 171 do Código Penal, o qual se refere ao crime de estelionato. 
Por serem três condenados, temos, nesse documento, três narrativas que ora 
17 
 
caminham individualmente, ora se entrecruzam para narrar as mesmas diligências e 
o mesmo fim para todos os criminosos. 
Acreditamos que uma abordagem dessa natureza em um gênero de tamanha 
importância na esfera jurídica pode trazer diversas implicações a respeito de sua 
estrutura composicional, no que se refere, por exemplo, aos encadeamentos das 
proposições enunciadas, assim como à organização e articulação dessas 
proposições na construção do todo do qual faz parte, o texto. 
Vale salientar que por se tratar de um documento de domínio público – que 
pode ser acessado em sites como o já mencionado e por qualquer pessoa sem a 
menor restrição – acreditamos que esse estudo pode trazer contribuições: para a 
compreensão do funcionamento desse documento enquanto peça processual para 
os interessados no assunto; esse estudo pode trazer mais esclarecimentos a 
respeito das relações existentes entre a sequência narrativa e a composição desse 
documento como um todo; pode também trazer esclarecimentos a respeito da 
função sociocomunicativa dessas sequências na sua construção, de modo que a 
aplicação dessa proposta de análise fundamentada no modelo de Adam (2011) 
também pode contribuir para estudos futuros sobre a aplicabilidade desses estudos 
sobre sequência narrativa em textos não literários, a exemplo do que propomos 
nessa pesquisa. 
Nosso trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo 
corresponde a esta introdução; na primeira seção do capítulo do estado da arte 
(2.1) fazemos um levantamento de trabalhos resultantes de pesquisas sobre a 
categoria da sequência narrativa conforme o modelo prototípico de análise das 
sequências narrativas proposto por Adam (1992; 2008; 2011) e Adam e Lorda1 
(1999); na segunda seção (2.2), definimos o gênero sentença e detalhamos sua 
composição, esclarecendo a sua relevância enquanto peça processual; e na 
terceira seção (2.3), fazemos um levantamento de trabalhos resultantes de 
pesquisas e fazemos também um levantamento sobre o gênero sentença judicial na 
perspectiva dos estudos linguísticos. 
No capítulo da fundamentação teórica (cap. 3), mostramos um sintético 
percurso histórico da evolução e consolidação da Linguística Textual como campo 
de pesquisa dos estudos linguísticos e de seu objeto de estudo (o texto), passando 
 
1 ADAM, J-M; LORDA, Clara Ubaldina.Lingüística de los textos narrativos. Barcelona: Ariel 
Lingüística, 1999. 
18 
 
para os estudos da Análise Textual dos Discursos até aos estudos da sequência 
narrativa. 
No capítulo da metodologia (cap. 4) situamos a nossa pesquisa quanto a sua 
natureza; detalhamos a seleção do corpus, assim como os procedimentos de 
análise e as categorias de análise adotados. 
No capítulo da análise (cap. 5), abordamos a estruturação composicional do 
gênero sentença judicial através da elaboração de planos de texto e de quadros de 
análises que evidenciam não só as macroproposições identificadas que formam as 
sequências textuais narrativas, como também as relações simétricas existentes 
entre essas macroproposições. 
Depois disso, apresentamos os resultados obtidos nas análises e tecemos 
comentários a respeito da abrangência da pesquisa, suas contribuições e seus 
possíveis desdobramentos em pesquisas subsequentes. Por último, apresentamos 
as referências utilizadas e citadas na pesquisa e, em anexo, a cópia digitada da 
sentença judicial selecionada como corpus dessa pesquisa. 
19 
 
CAPÍTULO II 
 
 
2 ESTADO DA ARTE 
 
 
Neste capítulo, iniciamos por conceituar, previamente, a categoria de análise 
sequência narrativa conforme o modelo prototípico de análise proposto por Adam 
(2011), situando-a nos estudos da Análise Textual dos Discursos, bem como 
apresentamos algumas pesquisas já concluídas que abordaram a referida categoria 
de análise e a suas respectivas contribuições para o estudo do texto. 
Na seção 2.2, conceituamos o gênero sentença judicial através de 
contribuições da literatura jurídica, apresentando informações de caráter mais geral 
que definem o gênero até as especificações das suas partes constitutivas e suas 
finalidades. 
Na seção 2.3, elucidamos a crescente abordagem do gênero sentença judicial 
em pesquisas de cunho linguístico e, em seguida, apresentamos algumas pesquisas 
já realizadas e suas respectivas contribuições para o estudo desse gênero. 
 
2.1 ESTUDOS SOBRE A SEQUÊNCIA TEXTUAL NARRATIVA 
 
Inserida no campo mais amplo da Análise do Discurso, a Linguística Textual 
e, mais precisamente, a Análise Textual dos Discursos, abordagem teórica 
desenvolvida por Adam (2011), vem se tornando cada vez mais conhecida no Brasil, 
sobretudo no que se refere às pesquisas realizadas sobre as sequências textuais 
(BEZERRA, BIASI-RODRIGUES e CAVALCANTE, 2009), que como constatou 
Passeggi et al. (2010, p. 263): “[...] constituem, hoje, uma categoria de análise 
consolidada e regularmente utilizada nas descrições de textos, de grande interesse 
pelas suas aplicações ao ensino de língua portuguesa e de língua estrangeira.”. 
Sobre as sequências textuais, Adam (2011) afirma que são constituídas por 
unidades mínimas de composição textual chamadas proposições, e que o conjunto 
dessas proposições, as macroproposições, que são hierarquicamente relacionadas 
e relativamente independentes, podem constituir unidades mais complexas de 
20 
 
análise: as chamadas sequências, que podem ser descritivas, dialogais, 
argumentativas, explicativas e narrativas. 
Desse modo, destacamos algumas pesquisas que foram realizadas conforme 
os pressupostos gerais da Linguística Textual e mais precisamente da Análise 
Textual dos Discursos, seguindo o modelo prototípico de análise das sequências 
textuais narrativas proposto por Adam (1992; 2008; 2011) e Adam e Lorda (1999). 
Silva (2007), em sua dissertação, analisou a ocorrência da sequência 
narrativa no gênero notícia conforme o protótipo narrativo de Adam (1992), a fim de 
verificar relações existentes entre a sequência narrativa e o gênero propriamente 
dito. 
Com um corpus composto por cinquenta (50) notícias divididas entre vinte e 
seis (26) policiais e vinte e quatro (24) não policiais – todas retiradas de periódicos 
dos jornais “O Povo” e “Folha de São Paulo” no período de setembro de 2005 a 
setembro de 2006 – a autora constatou, em sua análise, que as notícias podiam ser 
classificadas em ‘narrativas’ (todas as 26 notícias policiais e outras 8 não policiais) e 
‘expositivas’ (16 das 24 notícias não policiais), de modo que para esta classificação, 
ela utilizou-se dos pressupostos teóricos de Bronckart (1999). 
Nessa pesquisa, Silva (2007) constatou que as sequências narrativas 
presentes nas notícias apesar de não seguirem, necessariamente, a ordem 
prototípica proposta por Adam (1992), funcionaram como importantes organizadores 
textuais das notícias de cunho narrativo. Com essa pesquisa, a autora propôs uma 
importante reflexão sobre a aplicação do protótipo narrativo de Adam (1992) em um 
gênero não literário. 
A organização das sequências narrativas que estruturam os textos narrativos 
orais e escritos de produções de alunos de 3ª e 7ª séries do ensino fundamental é 
descrita e analisada com base no esquema prototípico de Adam e Lorda (1999) por 
Freitas (2009) em sua dissertação. 
Centrada na organização textual proposta por Adam e Lorda (1999), Freitas 
(2009) propôs que alunos em idades e níveis diferentes de escolaridade 
produzissem textos narrativos orais e escritos através de transposição feita pela 
leitura e compreensão de histórias em quadrinhos (HQs) de Maurício de Souza. Ao 
todo, a autora analisou trinta e duas (32) produções textuais divididas entre orais e 
escritas. 
21 
 
Para tratar da relação e da visão “não dicotômica” entre fala e escrita, a 
autora utilizou-se dos pressupostos de Marcuschi (2007), que considera tais 
modalidades em um contínuo fundadas nos gêneros textuais. Com base nos 
estudos de Perroni2 (1992), Freitas (2009) observou o processo de aquisição da 
narrativa por meio da interação verbal. E para a análise dos tempos verbais 
utilizados nas produções textuais narrativas, enquanto uma categoria da 
enunciação, Freitas fundamentou-se em Fiorin3 (2008). 
Entre as várias conclusões depreendidas ao término dessa pesquisa, Freitas 
(2009) constatou que o distanciamento entre o texto oral e o escrito mantém relação 
com o grau de escolaridade dos alunos envolvidos nas produções. Durante as 
análises, a autora também constatou que muitas das produções (tanto orais quanto 
escritas) não continham partes dessas cinco macroproposições de base narrativa, 
sobretudo, constatou a ausência da macroproposição da complicação ou do nó, que 
é o centro da narrativa. 
Oliveira (2010), em sua dissertação de mestrado, analisou quarenta e duas 
(42) produções textuais de cunho narrativo (contos populares) de alunos do 6º ano a 
fim de constatar se tais produções configuravam uma sequência narrativa conforme 
o protótipo narrativo proposto por Adam (1992; 2008) ou um script conforme o 
interacionismo sociodiscursivo (ISD) proposto por Bronckart (2007). 
A pesquisa teve como objetivo ampliar a compreensão dos alunos acerca da 
“infraestrutura” do texto narrativo, bem como esclarecer a diferença entre a 
sequência narrativa proposta por Adam (1992; 2008) e o script descrito por 
Bronckart (2007) para com isso ampliar a discussão acerca de propostas de 
produções textuais narrativas por parte de professores e propor uma reflexão teórica 
e prática capaz de nortear seus trabalhos com os alunos. 
Para obter os resultados, Oliveira (2010) utilizou-se de três categorias de 
análise, quais sejam tempos verbais, organizadores temporais e pronomes 
(BENVENISTE4, 2005; WEINRICH5, 1968; ADAM 1997; 2004; 2008; BRONCKART, 
2007). O material para análise (as produções textuais dos alunos) foi recolhido em 
 
2 PERRONI, M. C. O Desenvolvimento do discurso narrativo. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 
3
 FIORIN, J. L. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo.São Paulo: 
Ed. Ática, 2008. 
4
 BENVENISTE, Émile. As relações de tempo no verbo francês. In: Problemas de linguística geral I. 
Tradução Maria Glória Novak, Maria Luisa Neri. 5 ed. Campinas– SP: Pontes, 2005. p. 260-276. 
5 WEINRICH, Harald. Mundo comentado e mundo narrado. In: Estructura y función de los tiempos 
en lenguaje. Madrid: Gredos, 1968. p. 61-94. 
22 
 
três semanas de atividades em formato de oficinas, à luz das sequências didáticas 
propostas por Schneuwly e Dolz6 (2004), e foi dividido em produção inicial (PI) e 
produção final (PF). 
A autora concluiu que embora os alunos tivessem um conhecimento 
internalizado sobre a estrutura textual narrativa, eles não souberam fazer distinção 
entre o processo de intriga e o script, o que faz com que algumas de suas produções 
textuais fossem apenas enumerações de ações. 
Quanto às categorias adotadas para análise, Oliveira (2010) constatou que, 
nas produções textuais, os alunos utilizaram o tempo verbal adequado (pretérito 
perfeito do indicativo), mas que em alguns momentos também ocorreram alguns 
equívocos. Os organizadores temporais (segunda categoria adotada na análise) 
auxiliaram os tempos verbais com as locuções adverbiais e tiveram maior incidência 
nas produções. Na categoria pronome, as anáforas foram utilizadas para evitar 
repetições de termos; esse processo de retomada evitando repetições demonstrou, 
segundo a autora, uma noção de estruturação de ideias por parte dos alunos. 
Em sua dissertação, Santos (2011) investiga, de acordo com Hyland7 (2005a), 
como ocorrem os recursos metadiscursivos de interação na perspectiva das 
macrocategorias de engajamento (recurso metadiscursivo de interação que se 
relaciona ao modo pelo qual o escritor reconhece a presença do leitor, conduzindo-o 
através de sua argumentação, tendo em vista a interação) e de posicionamento em 
textos de sequência narrativa, ou seja, como um escritor se apresenta e se 
compromete por meio de julgamentos e opiniões. 
Como Hyland8 (2005b) teve como propósito a investigação dos recursos 
metadiscursivos de interação em textos de sequência argumentativa, a maioria dos 
estudos do metadiscurso são voltados para textos acadêmicos por ter uma 
sequência predominantemente argumentativa. Diante disso e partindo do 
pressuposto de que esse fenômeno é constituinte de qualquer texto, em sua 
pesquisa, Santos (2011) teve como um de seus objetivos principais mostrar que os 
recursos metadiscursivos de interação não ocorrem somente em textos 
argumentativos, mas também em textos de sequência predominantemente narrativa. 
 
6
 SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, São Paulo: Mercado 
de Letras, 2004. 
7
 HYLAND, Ken. Metadiscourse: exploring interaction in writing. Continuum: Londres, 2005 (a). 
8 _______. Stance and engagement: a model of interaction in academic discourse. In Discourse 
Studies. Vol. 7(2), p.173-192, 2005 (b). 
23 
 
O corpus dessa pesquisa é composto por dezesseis (16) textos divididos em 
quatro textos para cada gênero de sequência narrativa dominante, quais sejam: 
quatro fábulas, quatro lendas, quatro anedotas e quatro contos. Para análise das 
sequências dominantes, a autora utiliza-se dos pressupostos teóricos abordados em 
Adam (2008), mais precisamente em seu modelo prototípico de descrição das 
sequências narrativas de base. 
Nessa pesquisa, Santos (2011) ainda discute, brevemente, sobre os 
processos referenciais de anáfora, introdução referencial e dêixis, que se sobrepõem 
aos recursos metadiscursivos de interação. 
Após a análise, a autora além de constatar a sequência narrativa como 
dominante nos gêneros (fábula, lenda, anedota e conto), também percebeu a 
presença recorrente de recursos metadiscursivos de interação, o que permitiu a 
autora concluir que esse fenômeno não se manifesta somente em textos da esfera 
acadêmica, que são predominantemente argumentativos, como expôs a 
pesquisadora, mas em textos narrativos através das macrocategorias de 
posicionamento e de engajamento. 
Dentre os trabalhos desenvolvidos sobre a sequência narrativa, destacamos a 
relevância da pesquisa de Oliveira (2016), na qual a autora verificou a estrutura 
composicional narrativa em contos de fadas de Marina Colasanti, partindo da 
hipótese de que os contos de fadas dessa autora possuem regularidade no que se 
refere à estrutura composicional com planos de texto compostos por sequências 
narrativas completas, constituídas pelas cinco proposições narrativas de base 
conforme o modelo prototípico narrativo de Adam (2011). 
Para caracterizar a organização das sequências textuais narrativas em cada 
parte do plano de texto, Oliveira (2016) utilizou o conceito de “episódio” de Travaglia 
(2007a9; 199110), bem como todos os pressupostos da teoria tipológica geral de 
textos (TRAVAGLIA, 2007b11; 2007c12). Essa pesquisa possui caráter descritivo de 
 
9
 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A caracterização de categorias de textos: tipos, gêneros e espécies. 
Alfa: Revista de Linguística, v.51, p. 39-79, 2007a. 
10
 _______. Um estudo do textual-discursivo do verbo no português do Brasil. Campinas, 1991. 
264 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Estadual de Campinas. 
11
 _______. Das relações possíveis entre tipos na composição de gêneros. In: SIMPÓSIO 
INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE GÊNEROS TEXTUAIS, 4., 2007b, Tubarão. Anais... Tubarão: 
Universidade do Sul de Santa Catarina 2007b. v. 1. 1297-1306. 
12
 _______. Tipelementos e a construção de uma teoria tipológica geral de textos. In: FÁVERO, 
Leonor Lopes; BASTOS, Neusa M. de O. Barbosa; MARQUESI, Sueli Cristina (Org.). Língua 
Portuguesa, pesquisa e ensino. São Paulo: Educ/Fapesp, 2007c. v.2. 
24 
 
base interpretativa e seguiu os pressupostos gerais da Linguística Textual e, 
sobretudo, da Análise Textual dos Discursos. 
Norteada por essa prévia constatação a respeito da estrutura composicional 
dos contos de fadas de Marina Colasanti, bem como pelo objetivo maior de sua 
pesquisa, que foi verificar a estrutura composicional narrativa em tais contos, 
Oliveira (2016) identificou os planos de texto nesses contos de fadas, considerando 
como base as sequências textuais narrativas; descreveu a organização dessas 
sequências em cada parte do plano de texto desses contos; analisou as 
características dos planos de texto e das sequências textuais narrativas; e 
caracterizou a estrutura composicional dos contos de fadas de Marina Colasanti. 
O corpus dessa pesquisa é composto por seis contos de fadas de Marina 
Colasanti, de modo que dois desses são formados por sequências textuais 
narrativas completas; dois sem a macroproposição Situação Final e outros dois 
formados por mais de uma sequência textual narrativa. 
É importante ressaltar que ao todo, na escolha do corpus para a análise foram 
lidos e analisados previamente vinte e três contos de fadas da autora, divididos entre 
duas obras: dez contos no livro “Uma ideia toda azul” (COLASANTI, [1979] 2006b13) 
e outros treze contos no livro “Doze reis e a moça no labirinto do vento” 
(COLASANTI, [1982] 2006a14). 
Em relação às sequências textuais narrativas no nível global do texto 
conforme a proposta de Adam (1987b; 2011), Oliveira (2016) identificou três tipos de 
construções nos contos de Marina Colasanti. Em quatorze (14) contos analisados há 
as cinco macroproposições de base narrativa (Situação Inicial, Nó, Re-ação ou 
Avaliação, Desenlace e Situação Final). Em outros seis contos, a autora observou as 
quatro primeiras macroproposições de base narrativa, ou seja, exceto a Situação 
Final. E em outros três contos, a autora localizou mais de uma sequência textual 
narrativa no nível global. Desses vinte e três contos, a autora também constatou 
Entrada Prefácio (Pn0) no conto “Entre as folhas do verde O” e Avaliação Final 
(PnΩ) no conto “Uma concha à beira-mar”. 
Oliveira (2016) também observou que os planos de texto dos contos de fadas 
de Marina Colasanti apresentam sequências textuais narrativas em dois níveis:“global”, que apresenta regularidade nas macroproposições narrativas completas 
 
13 COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. 12.ed. São Paulo: Global, 2006a. 
14
 COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. 23.ed. São Paulo: Global 2006b. 
25 
 
(Situação Inicial, Nó, Re-ação ou Avaliação, Desenlace e Situação Final), e “local”, 
que apresenta: regularidade de aspectos ligados aos personagens (principalmente 
as femininas que são sujeitos sempre agentes das narrativas); regularidade na 
unidade temática, no que diz respeito à presença dos protagonistas em quase todos 
os episódios, e na maior parte dos contos; regularidade na organização do espaço 
(dividido sempre em interno e externo) e regularidade na temporalidade no que se 
refere aos acontecimentos narrados em ordem cronológica. 
A pesquisa da autora traz uma importante contribuição aos estudos das 
sequências narrativas ao intercruzar o modelo de Adam (2011) com a proposta de 
Travaglia (1991; 2007a; 2007b; 2007c) sobre a teoria geral dos textos com a noção 
de episódio. 
Até aqui, fizemos uma breve definição do conceito de sequência narrativa 
conforme Adam (2011), elucidando que esta constitui, atualmente, uma categoria de 
análise já consolidada e frequentemente utilizada nas descrições de textos de 
gêneros diversos. Também, como um complemento do que afirmamos inicialmente, 
destacamos alguns trabalhos (quatro dissertações de mestrado e uma tese de 
doutorado de diferentes instituições de Ensino Superior) que abordaram o assunto 
das sequências narrativas com diferentes objetivos e em diferentes gêneros. 
 
2.2 A SENTENÇA JUDICIAL 
 
Segundo Capez (2012, p. 529), no sentido estrito, ou em sentido próprio, 
sentença “[...] é a decisão definitiva que um juiz profere solucionando a causa. [...] é 
o ato pelo qual o juiz encerra o processo no primeiro grau de jurisdição, bem como 
seu respectivo ofício.”. Ainda para o autor, quanto à natureza jurídica, 
 
A sentença é uma manifestação intelectual lógica e formal emitida 
pelo Estado, por meio de seus órgãos jurisdicionais, com a finalidade 
de encerrar um conflito de interesses, qualificado por uma pretensão 
resistida, mediante a aplicação do ordenamento legal ao caso 
concreto. (CAPEZ, 2012, p. 528). 
 
Conforme consta no Dicionário Jurídico brasileiro (SANTOS 2011, p. 225), o 
termo ‘sentença’ é uma “[...] expressão, frase ou mesmo uma palavra que resume ou 
caracteriza um pensamento moral ou um julgamento de profundo alcance.”. 
26 
 
Abstendo-nos de discussões mais aprofundadas sobre terminologias, 
conceitos, e definições, explicamos, em linhas gerais, alguns tipos de sentença que 
constam nos principais manuais que tratam desse assunto, bem como no CPP e no 
CPC. É importante enfatizar que o nosso objetivo aqui é trazer uma sucinta 
explanação a respeito desse documento – considerado, na doutrina jurídica, como o 
ponto máximo do processo decisório. Entendemos que são muitos os fatores que 
podem ser determinantes na hora de classificar ou tipificar uma sentença judicial, e 
que na doutrina jurídica, em si, não há total consenso sobre as classificações desse 
documento. 
Segundo Santos (2011), a sentença se divide em: absolutória, declaratória, 
constitutiva, definitiva, terminativa, condenatória e interlocutória. Em seu livro 
(Dicionário jurídico brasileiro), o autor tece comentários e cita várias autoridades do 
Direito para definir cada uma delas (Cf. SANTOS, 2011). Já Capez (2011), em 
consonância com o CPP e o CPC, fala sobre as condenatórias, absolutórias e 
terminativas de mérito. 
De um modo geral, podemos dizer que a sentença se divide, em um primeiro 
momento, em duas classificações maiores: terminativas e definitivas. 
A sentença terminativa é responsável por encerrar o processo, sem que se 
tenha decidido a sua importância (consequências), ou seja, ocorre a extinção do 
processo sem a apreciação do mérito15. Em outras palavras, são as que se limitam a 
pôr fim ao processo, sem examinar a causa – só fazem coisa julgada formal16. E a 
sentença definitiva é aquela em que há resolução do mérito, ou seja, as que 
resolvem o mérito; fazem coisa julgada material17. 
Podemos dizer, ainda, que há subclassificações nas sentenças definitivas, 
são elas condenatórias, constitutivas e declaratórias. 
 
15
 Mérito – (Lat. meritu.) S.m. Aquilo que está contido na questão judicial, ou litígio; lastro de 
conhecimentos da causa. Questão ou questões fundamentais, de fato ou de direito, que constitui o 
principal objeto da lide. (SANTOS, 2011, p. 162 - Dicionário jurídico brasileiro). 
16
 A coisa julgada pode ser formal, quando a sentença não pode ser alterada dentro do mesmo 
processo, porém poderá ser discutida em outra ação, ou material, quando a sentença não pode ser 
alterada em nenhum outro processo. Disponível em: 
<http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1510/Coisa-julgada-Novo-CPC-Lei-n-13105-15>. 
Acesso em: 15 mai. 2016. (Cf. GUIMARÃES, 2004). 
17
 Ocorre quando a sentença judicial se torna irrecorrível, ou seja, não admite mais a interposição de 
qualquer recurso. Tem como objetivo dar segurança jurídica às decisões judiciais e evitar que os 
conflitos se perpetuem no tempo. Disponível em: 
<http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/1510/Coisa-julgada-Novo-CPC-Lei-n-13105-15>. 
Acesso em: 15 mai. 2016. 
27 
 
As sentenças condenatórias julgam procedentes, total ou parcialmente, a 
pretensão punitiva, ou seja, declaram a existência de um fato e condenam a parte 
vencida a uma obrigação de dar, fazer ou não fazer. É considerada um tipo 
complexo de sentença, de modo que a doutrina jurídica ainda atribui uma 
‘subespécie’, uma chamada de sentença mandamental18, que é a sentença que 
condena a parte vencida a cumprir, necessariamente, uma obrigação de fazer. 
As sentenças constitutivas criam, modificam ou extinguem um estado ou 
relação jurídica; asseguram um direito ao vencedor da ação, em outras palavras, 
extinguem uma situação jurídica anterior e criam uma nova. Essa sentença também 
declara a existência de união estável e constitui uma relação jurídica entre os 
parceiros assemelhada ao casamento. 
As sentenças declaratórias declaram “[...] a existência ou a inexistência de 
uma relação jurídica, ou seja, de um determinado direito pretendido pelo autor.” (Cf. 
SANTOS, 2011, p. 226). É importante ressaltar que todas as sentenças possuem 
caráter declaratório, mas as chamadas de meramente declaratórias são aquelas que 
têm na sua parte dispositiva apenas a declaração da existência de uma relação 
jurídica ou reconhecimento de um direito. 
Santos (2011, p. 226 apud REZENDE FILHO, 1962) ainda destaca que a 
sentença interlocutória “anula um processo apenas em parte ou decide questão 
emergente ou incidente19 de processo, de caráter ordinário, e as exceções de 
suspeição20 e incompetência [...]”. 
A sentença judicial é um gênero consolidado no meio jurídico e sua 
composição, quase sempre, segue um mesmo padrão. Segundo o artigo 381 do 
CPP, a sentença deverá conter: 
 
I – o nome das partes ou, quando não for possível, as indicações 
necessárias para identificá-las; 
II – a exposição sucinta da acusação e da defesa; 
 
18
 Disponível em: <https://www.passeidireto.com/quantas-especies-de-sentenca-existem-quais-sao-
elas.> Acesso em 15 mai. 2016. 
19
 Incidente, quando aparece no conflito da questão judicial e é solucionado antes do julgamento da 
ação principal: detenção pessoal, busca e apreensão. Incidente – Adj. 2g. Que incide; circunstancial. 
S.m. Circunstância acidental; sucesso de importância secundária que sobrevêm de uma questão ou 
debate; fato ou questão que coloca obstáculo ou embaraça a sequência normal de um processo. 
(SANTOS, 2011, p. 23, 121 – respectivamente). 
20
 Suspeição – S.f. Umdos gêneros de restrição que pode ser contraposto em revide ao juiz da 
causa, pelo fato de se duvidar de sua imparcialidade, da testemunha ou do perito (CPC, arts. 135 a 
138, III e §§, 312 a 314, 405; CPP, arts. 95, I, a 107). (SANTOS, 2011, p. 236). 
28 
 
III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a 
decisão; IV – a indicação dos artigos e leis aplicados; 
V – o dispositivo e 
VI – a data e assinatura do juiz. 
 
Circunstancialmente, a sentença é dividida em três partes, a saber, relatório, 
fundamentação e dispositivo ou decisão. O Capítulo XIII (Da sentença e da coisa 
julgada) do CPC e mais precisamente o art. 489 da segunda seção descreve os 
elementos essenciais da sentença judicial (as partes e o que deve conter em cada 
uma delas): 
 
I – o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e 
da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências 
havidas no andamento do processo; 
II – os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de 
direito; III – o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as 
partes lhe submeterem. 
 
Essas três partes fundamentais da sentença judicial possuem características 
linguístico-textuais sempre muito semelhantes, o que a caracteriza e a distingue dos 
demais gêneros do discurso jurídico. Além destes três componentes, é importante 
lembrar que a sentença judicial também possui assinatura e/ou autenticação e pode 
conter ementa que é uma espécie de preâmbulo. 
De forma mais detalhada, trazemos a definição de relatório que consta no 
Dicionário jurídico brasileiro. 
 
Relatório – S.m. Descrição escrita e minuciosa das atividades 
administrativas de uma organização pública ou de uma sociedade 
privada, ou dos trabalhos de um tribunal, turma, câmaras ou de uma 
assembleia; preâmbulo da sentença, no qual são mencionados: o 
nome das partes, a respectiva solicitação, a defesa e a 
fundamentação da solicitação respectiva. Exposição sumária da 
situação de fato da causa, que é submetida à deliberação do tribunal. 
Condensação do interrogatório, feito pelo juiz, do processo que vai 
ser narrado para a devida avaliação do júri. Narração, exposição das 
questões duvidosas existentes no recurso feitas pelo relator ante o 
órgão colegiado, escriturando-as nos devidos autos e depois fazendo 
a respectiva leitura quando do julgamento do recurso (CPC, arts. 
458, 549, 554; CPP, art. 466). (SANTOS, 2011, p. 215). 
 
Segundo Pereira (2014, p. 166), o juiz precisa seguir algumas etapas que são 
obrigatórias antes de proferir o seu posicionamento, isto é, sua decisão 
propriamente dita. Essas etapas compreendem apresentar “[...] o local social da 
29 
 
produção, bem como seu redator [...]”; e, no corpo do texto, expor o processo de 
forma contextualizada de modo a apresentar um resumo dos trâmites. 
Para Nucci (2014, p. 474), o relatório contém a “[...] descrição sucinta do 
alegado pela acusação, abrangendo desde a imputação inicial, até o exposto nas 
alegações finais, com identificação das partes envolvidas [...]”. 
É importante destacar ainda que o relatório da sentença judicial é um resumo 
do processo e não, necessariamente, um detalhamento das ações das partes 
envolvidas que deram origem ao processo. Esse tipo de detalhamento está presente 
nos depoimentos das partes envolvidas (vítima, testemunha e indiciado) e constam 
no inquérito policial – que tem por finalidade promover o levantamento de toda a 
materialidade delitiva que pode dar origem ou não a um determinado processo – e 
são chamados de termo de declaração e/ou depoimento (no caso da vítima e da 
testemunha) e auto de qualificação e interrogatório (no caso do 
indiciado/acusado/suspeito). 
Quanto à fundamentação, Capez (2012) assevera que 
 
O juiz tem liberdade para formar a sua convicção, não estando preso 
a qualquer critério legal de prefixação de valores probatórios. No 
entanto, essa liberdade não é absoluta, sendo necessária a devida 
fundamentação. O juiz, portanto, decide livremente de acordo com a 
sua consciência, devendo, contudo, explicitar motivadamente as 
razões de sua opção e obedecer a certos balizamentos legais, ainda 
que flexíveis. (CAPEZ, 2012, p. 399). 
 
Em outras palavras, a fundamentação é a parte da sentença em que o juiz 
utiliza-se de argumentos (leis) para justificar e dar base para a decisão ou 
dispositivo, ou seja, é nesse momento que o juiz evidencia as razões nas quais se 
baseia para dar o parecer final, sua decisão. Nesse texto há a predominância da 
sequência argumentativa. 
Ainda segundo o artigo 155 do CPP 
 
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova 
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua 
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na 
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e 
antecipadas. 
 
Nucci (2014, p. 474) concebe a fundamentação como a 
30 
 
 
[...] motivação do juiz para aplicar o direito ao caso concreto da 
maneira com o fez, acolhendo ou rejeitando a pretensão de punir do 
Estado; abrange os motivos de fato, advindos da prova colhida, e os 
motivos de direito, advindos da lei, interpretada pelo juiz. 
 
A decisão21, na doutrina jurídica – também chamada de conclusão, dispositivo 
ou dispositivos gerais – é a parte da sentença que contém efetivamente a conclusão 
do processo22. Nesse momento, o juiz, após ter relatado as principais ações do 
processo, sobretudo, as informações que considerou relevantes relatar, e após a 
indicação dos artigos de lei aplicados, ou seus argumentos de uma forma geral (na 
parte da fundamentação), decide. Para Capez (2012, p. 530 – grifos do autor), “É a 
parte do decisum em que o magistrado presta a tutela jurisdicional, viabilizando o jus 
puniendi do Estado.”, ou seja, o direito de punir. A princípio, essa parte da sentença 
mostra-se predominantemente composta pela sequência injuntiva23. 
 
2.3 ESTUDOS LINGUÍSTICOS SOBRE O GÊNERO SENTENÇA JUDICIAL 
 
Os gêneros forenses têm se tornado, cada dia mais, objetos de pesquisa e de 
análise no meio acadêmico, sobretudo no âmbito dos estudos linguísticos. A 
linguagem jurídica ou o ‘juridiquês’ – como é também conhecida na própria doutrina 
jurídica – tem intrigado pesquisadores de várias partes do Brasil e sob vários 
enfoques diferentes, principalmente, nos últimos dez anos. 
Dentre os gêneros forenses estudados no âmbito dos estudos linguísticos, a 
sentença judicial tem ocupado cada vez mais papel de destaque. O volume de 
estudo sobre esse gênero em pesquisas de cunho linguístico ainda é considerado 
pequeno – dadas às devidas proporções – por se tratar de um gênero pertencente à 
outra esfera de circulação, mas ainda assim, a sentença judicial tem despertado o 
interesse de estudiosos e pesquisadores de várias partes do Brasil e sob vários 
 
21
 Neste trabalho, optamos por usar o termo decisão por ser um termo mais utilizado pelos 
operadores do Direito; também porque o termo dispositivo, na doutrina jurídica, indica os artigos da 
constituição e possui amplo uso, ou seja, não está restrito à parte da sentença judicial que consta a 
decisão do juiz. 
22
 No caso de uma decisão proferida por um juiz de primeira instância, cabe recurso, podendo (o 
processo, a depender também do tipo ou de determinadas circunstâncias) chegar a instâncias 
superiores. 
23
 O termo “sequência injuntiva” aqui foi usado com base nos estudos das tipologias textuais, e não 
com base nos estudos das sequências propostos por Adam (2011), visto que o autor não reconhece 
esse tipo de sequência. 
31 
 
enfoques teóricos diferentes. Um dos motivos que podem explicar esse crescente 
interesse dos estudiosos por esse gênero pode ser o fato de este ser um gênero de 
domínio público e ser disponibilizado na internet através de bancos de sentença dos 
Tribunais de Justiça de todo o Brasil – o que facilitao seu acesso – e por ser a peça 
de maior relevância em um processo judicial e, linguisticamente, conter uma 
estrutura peculiar com uma diversidade de possibilidade de abordagens. 
Entre as pesquisas mais recentes realizadas sobre o gênero sentença, 
podemos citar a dissertação de mestrado de Pimenta (2007) na qual a autora 
investiga e caracteriza linguisticamente várias categorias de textos forenses de 
natureza criminal presentes nos processos penais, a fim de verificar os possíveis 
reflexos que esses textos exercem no gênero sentença judicial, por meio de marcas 
linguísticas. A pesquisa é norteada pelos estudos da Linguística Textual, pelos 
pressupostos teóricos dos Atos de Fala (AUSTIN24, 1962), da teoria da Ação 
Comunicativa (HABERMAS, 198325, 200326), das Comunidades Discursivas 
(SWALES27, 1990) e pelos estudos sobre tipos, gêneros e espécies conforme 
Travaglia ([2003] 2007a). 
A pesquisa de Pimenta (2007) é qualitativa e sua metodologia é analítico-
descritiva. O corpus é composto por dez processos criminais, os quais são 
criteriosamente analisados e caracterizados por meio de sua materialidade 
linguística. 
Nos resultados, a autora constatou que os gêneros que trazem as mais 
variadas versões dos fatos – como o boletim de ocorrência, o auto de depoimento e 
a declaração – interferem/afetam diretamente na decisão do juiz, ou seja, na 
sentença judicial. Isso é possível, segundo a autora, porque esses gêneros têm a 
função sócio-comunicativa de trazer a versão das partes para o fato. Para Pimenta 
(2007, p. 198), “[...] ganha o melhor argumento, o mais articulado, o mais 
convincente, o que menos dúvida deixa sobre sua veracidade [...]”. 
 
24 AUSTIN, J. L. How to do things with word. Oxford: Oxford University Press, 1962. 
25
 HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 
1993. 
26
 _______. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 
2003. 
27 SWALES, J. English in academy and research setting. Cambridge: Cambridge University Press, 
1990. 
32 
 
Os estudos da pesquisa de Pimenta (2007) sugerem uma reflexão sobre a 
classificação e tipologização de textos – por parte da comunidade discursiva forense 
– e uma contribuição para a construção de uma teoria tipológica geral de textos. 
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Grupo de 
Pesquisa em Análise Textual dos Discursos (GPATD) coordenado pelos professores 
Luis Passeggi, João Gomes da Silva Neto e Maria das Graças Soares Rodrigues 
desenvolve pesquisas em discursos jurídicos e políticos, seguindo os pressupostos 
gerais da Linguística Textual e, principalmente, dos estudos da Análise Textual dos 
Discursos que tem como seu principal nome o linguista francês Jean-Michel Adam 
(2011). 
A título de ilustração, destacamos algumas das publicações do GPATD sobre 
o estudo do discurso jurídico como, por exemplo, Rodrigues, Passeggi e Silva Neto 
(2014); Lopes (2014), Santos e Silva Neto (2014), Lourenço e Rodrigues (2013), 
Lourenço (2013) entre outros. 
Nos últimos anos, esse grupo desenvolveu uma quantidade considerável de 
trabalhos sobre o discurso jurídico, principalmente, sobre o gênero sentença judicial. 
Dentre as pesquisas já concluídas podemos destacar a tese de doutorado de 
Gomes (2014), o qual propôs estudar o fenômeno da Responsabilidade Enunciativa 
(doravante RE) em sentenças judiciais condenatórias a partir dos pressupostos 
teóricos gerais da Linguística Textual, da Análise Textual dos Discursos com Adam 
(2011), e da Linguística Enunciativa com Rabatel28 (2010) além de autores que 
versam sobre os gêneros forenses como Montolío29 (2011), Rodrigues, Passeggi e 
Silva Neto (2014) entre outros. 
O corpus dessa tese é formado por treze sentenças condenatórias coletadas 
até o ano de 2012 da comarca de Currais Novos/RN. O objetivo principal dessa 
pesquisa foi investigar a RE por meio de uma escala que compreende esse 
fenômeno a partir de quatro gradações, de modo que cada gradação consiste em 
um tipo especifico de ponto de vista (doravante PDV) com marcas que podem 
determinar a assunção ou o distanciamento desse PDV. 
Os resultados mostraram que o gênero sentença judicial condenatória 
apresenta uma heterogeneidade de PDV, o que permite, em alguns momentos, a 
 
28
 RABATEL. Schémas, techniques argumentatives de justification et figures de l’auteur (théoricien 
et/ou vulgarisateur). Revue d’antropologie dês connaissances. 2010. 
29 MONTOLÍO. (Ed.). Hacia la modernización del discurso jurídico. Barcelona: Publicacions i 
Edicions de la Universitat de Barcelona, 2011. 
33 
 
não assunção da RE por parte do juiz, ou seja, na análise foi possível identificar o 
PDV não só do juiz (presente predominante no dispositivo da sentença), mas de 
várias outras instâncias enunciativas, como Ministério Público, defesa, acusados 
(mais presentes no relatório da sentença), vítimas e testemunhas (mais presentes 
na fundamentação) entre outras. Esses PDV foram identificados na dimensão 
linguística do texto através de verbos, conectores, dêiticos espaciais e temporais, 
além de marcas de asserção e marcadores do discurso reportado, entre outros. 
Como foi possível observar diferentes PDV de diferentes instâncias 
enunciativas em diferentes partes da sentença (relatório, fundamentação e 
dispositivo), Gomes (2014) também constatou que em determinados momentos, o 
juiz utiliza-se desses outros PDV e se isenta da responsabilidade sobre o que diz, 
como se observa no relatório da sentença onde há os PDV da acusação e da 
defesa, por exemplo. Dessa forma, o autor conclui que “A sentença, portanto, 
constrói-se nesse jogo de assunção e/ou não assunção dos enunciados de acordo 
com a orientação argumentativa e com os objetivos do produtor do texto.” (GOMES, 
2014, p. 8). 
Lopes (2014), na sua dissertação de mestrado, propôs identificar e descrever 
o fenômeno da representação discursiva da vítima e do réu no gênero forense 
sentença judicial. A pesquisa segue os pressupostos gerais da LT, com foco na ATD 
– Adam ([2008] 2011) – e também é complementada por estudos do gênero com 
Bazerman30 (2005), Bakhtin31 (1992) e do discurso jurídico com Capez (2012) e 
Pimenta (2007), entre outros. 
Metodologicamente, a pesquisa é documental e apresenta um caráter 
qualitativo, descritivo e orienta-se pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo. O 
corpus da pesquisa é composto por uma única sentença judicial com a temática de 
violência contra a mulher. Essa sentença é de natureza penal e foi coletada no sítio 
eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). 
Antes de identificar e descrever as categorias semânticas da representação 
discursiva – referenciação, a predicação, a modificação e a localização espacial e 
temporal (ADAM, 2011) –, Lopes (2014) fez o reconhecimento do gênero (sentença 
judicial) elaborando o Plano de Texto e constatou que se trata de uma estrutura fixa, 
 
30
 BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Organização de Ângela Paiva 
Dionísio e Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2005. 
31
 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal.São Paulo: Martins Fontes, 1992. 
34 
 
prototípica e padronizada – seguindo a regulamentação legal –. Em sua análise, a 
autora também utilizou o esquema prototípico da sequência textual de Adam (2011) 
e constatou que além das sequências argumentativa, explicativa e descritiva há uma 
predominância da sequência textual narrativa. 
Com foco nas construções das representações discursivas da vítima e do réu 
a partir de Pontos de vista (PDV) de enunciadores diferentes, a autora constatou que 
esses PDV – mais presentes na fundamentação por ser um espaço destinado aos 
motivos e às informações de fato ede direito que norteiam as decisões do 
magistrado – podem tanto se aproximar quanto se distanciar de acordo com a 
orientação argumentativa do texto. Ou seja, “[...] os objetos [do discurso] são 
construídos a partir de um posicionamento do enunciador frente às razões que o 
motivam.” (LOPES, 2014, p. 94). A pesquisa trouxe uma importante reflexão a 
respeito da dimensão semântica do texto, sobretudo das representações dos objetos 
do discurso na sentença judicial, um dos mais importantes gêneros de um processo 
judicial. 
Fonseca (2016), em sua dissertação de mestrado, fez um estudo sobre a 
argumentação em uma sentença judicial de natureza condenatória extraída do site 
da Justiça Federal do Rio Grande do Norte (JFRN) com o objetivo de descrever e 
explicar o funcionamento dos operadores argumentativos na orientação 
argumentativa desse gênero. A pesquisa é de caráter documental e bibliográfico, 
orientada pelos métodos do raciocínio indutivo e dedutivo e também se apoia nos 
constructos teóricos da ATD (ADAM, 2011), além dos estudos da Retórica de 
Aristóteles32 (1959) entre outros autores que tratam especificamente da 
argumentação. 
Entre os resultados da pesquisa, foi possível constatar que muitos dos 
operadores argumentativos utilizados, sobretudo na fundamentação, evocam e são 
evocados por uma determinada Tradição Discursiva própria dos textos e do discurso 
jurídicos. Os resultados revelaram ainda que esses operadores argumentativos 
exerceram papéis preponderantes na organização da orientação argumentativa do 
texto e do discurso, orientando os coenunciadores para a conclusão desejada pelo 
enunciador, o juiz. Fonseca (2106, p. 7) destaca também “[...] que o uso dos 
 
32 ARISTÓTELES. Arte retórica e arte poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Difusão 
Europeia do Livro, 1959. (384-322 a.C). 
35 
 
operadores argumentativos permitiu construções silogísticas na forma de 
apresentação dos argumentos e na construção da argumentação.”. 
Silva (2016), em sua dissertação de mestrado, estuda o fenômeno da 
genericidade (ADAM; HEIDMANN, 2011b) com o objetivo de caracterizar o gênero 
sentença judicial a partir de sua estrutura composicional e, mais precisamente, do 
plano de texto (ADAM, 2011) em um diálogo com o campo de estudo das Tradições 
Discursivas (COSERIU33, 1980; KOCH, 1997; KABATEK34, 2003). 
O corpus da referida pesquisa é composto por quatro sentenças judiciais 
condenatórias de natureza criminal, coletadas do banco de sentenças do site do 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte (TJRN) no período de janeiro 
a março de 2014. 
Os resultados mostram que: “[...] a sentença judicial possui várias 
potencialidades genéricas que a atravessam em seus níveis textuais e transtextuais, 
estabelecendo um diálogo intergenérico [...]” (SILVA, 2016, p. 7); e mostram também 
que a estrutura composicional da sentença judicial, apesar de ser regulamentada 
pelo CPP e pelo CPC, que propõem sua estrutura fixa, é variável, o que torna o seu 
plano de texto variável e, às vezes, ocasional, mas que também possui elementos 
cristalizados e que segue uma tradição funcional e até mesmo institucional, 
mantendo aspectos de linguagem – no que se refere ao léxico formal, e estrutura 
composicional próprios. 
A pesquisa também sugere contribuições para os chamados operadores do 
Direito, uma vez que promove uma reflexão a respeito da materialidade linguística, 
e, mais precisamente, da estrutura composicional de um texto de domínio público 
que, como dito anteriormente, mesmo sendo balizado pelo CPP e pelo CPC, possui 
discrepâncias em seu plano de texto. 
Em suma, a pesquisa de Silva (2016), assim como as demais pesquisas até 
aqui apresentadas mostram um avanço nos estudos linguísticos por abordar a 
estrutura composicional e as dimensões da enunciação e da orientação 
argumentativa do gênero sentença judicial e por expandir os estudos desse gênero, 
sobretudo, na perspectiva da ATD. 
 
 
33
 COSERIU, Eugenio (1994): Textlinguistik. Eine Einführung, 3a ed. revisada, Tübingen, 
Francke,1994 (Tübingen, Narr, 1980). 
34 KABATEK, Johannes (2003): “La lingüística románica histórica: tradición e innovación em uma 
disciplina viva”, La Corónica 31.2, p. 35-40. 22. 
36 
 
CAPÍTULO III 
 
 
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
 
Neste capítulo, apresentamos os postulados teóricos nos quais nossa 
pesquisa está fundamentada. Para abordar a sequência narrativa no gênero 
sentença judicial, fizemos um breve percurso teórico descritivo que vai da Linguística 
Textual, passando pela ATD até as noções de sequências textuais para alguns 
autores de diferentes abordagens teóricas. A princípio, destacamos que a pesquisa 
fundamenta-se no quadro teórico geral da Linguística Textual e, mais 
especificamente, nos pressupostos da ATD, abordagem desenvolvida por Adam 
(2011) e estudada no Brasil pelos pesquisadores Rodrigues, Passeggi e Silva Neto 
(2010; 2012; 2014) dentre outros já citados (Ver seções 2.1 e 2.3). 
 
3.1 LINGUÍSTICA TEXTUAL 
 
Com a premissa de que a língua não funciona nem se realiza em unidades 
isoladas como palavras ou frases soltas, muito menos com simples morfemas ou 
fonemas, os postulados do alemão Harald Weinrich (1966; 1967) – que considerava 
toda linguística como necessariamente Linguística de Texto – ganharam destaque 
na Alemanha no século XX, mais precisamente em meados dos anos 60; era o início 
da Linguística de Texto35. 
A partir disso, a LT tornou-se um campo de pesquisa que, através de um 
amplo esforço teórico, procurou ultrapassar o nível das frases e incluir o sujeito e a 
situação comunicativa, o que, na visão estruturalista, não acontecia, visto que até 
então a língua era concebida como um sistema e como um código, ou seja, com 
uma função estritamente informativa. 
Com a evolução dos estudos da LT, o conceito de texto – seu objeto de 
estudo – passou por diversas definições as quais condiziam com a visão de seus 
 
35
 O termo “Linguística de Texto” foi utilizado pela primeira vez por Cosériu (1955), porém sem o 
sentido que possui nos dias de hoje. O termo foi usado só foi usado com o sentido que conhecemos 
nos dias atuais pelo alemão Harald Weinrich em 1966 e 1967. (Cf. KOCH, 1997). 
37 
 
estudiosos e suas respectivas correntes teóricas, o que resultava em concepções 
ora estruturalista ou gerativa, ora funcionalista. De acordo com dessa diversidade de 
concepções e correntes teóricas, “O texto era então concebido como ‘uma frase 
complexa’, ‘signo linguístico primário’ (HARTMANN36, 1968), ‘cadeia de 
pronominalizações ininterruptas’ (HARWEG37, 1968), ‘sequência coerente de 
enunciados’ (ISENBERG38, 1971), ‘cadeia de pressuposições’ (BELLERT39, 1970).” 
(KOCH, 2009, p. 3 – grifos da autora). 
Para Marcuschi40 (2012), a LT 
 
Configura uma linha de investigação interdisciplinar dentro da 
linguística e como tal exige métodos e categorias de várias 
procedências. Basicamente, trata dos processos e regularidades 
gerais e específicos segundo os quais se produz, constitui, 
compreende e descreve o fenômeno texto. (p. 17). 
 
A história da LT é marcada por três principais momentos41 que correspondem 
a três fases de maior destaque da sua evolução e consolidação como um campo de 
pesquisa e também da ampliação e definição de seu objeto de análise, a saber, o 
texto. 
Há divergências quanto às fases da LT, principalmente, no que se refere à 
ordem cronológica da primeira e da segunda fase42, porém, distanciando-nos desta 
discussão, destacamos o que nos parece ser a percepção da maioria dos estudiosos 
da área a respeito dessa divisão. Assim, podemos dizer que as três fases da LT são 
respectivamente: análise transfrástica, gramática de texto e teoria do texto.36
 HARTMANN , P. Zum Begriff des sprachlichen Zeichens Zertschnft furPhoneuc, 
Sprachwissenschaft und Kommunikationsforschung, v 21, p 205 22,1968. 
37
 HARWEG, R. Pronomina und Textkonstitution. Münch W Fink, 1968. 
38 ISENBERG, H. Der Begriff "Text" m der Sprachtheorie Deutsche Akademie zur Wissenschaften 
zu Berlin, Arbeitsgruppe Strukturelle Grammatik, Bencht, n 8, 1970. 
39
 BELLERT, I. On a condition of the coherence of texts. Semiótica, v.2, p.335-63, 1970. 
40
 Esta obra (MARCUSCHI, 2012) é uma versão revisada e modificada do texto que foi originalmente 
apresentado no IV Congresso Brasileiro de Língua Portuguesa na PUC-SP no ano de 1983. 
41
 A divisão da história da Linguística Textual e de suas respectivas fases na ampliação e definição de 
seu objeto de estudo não é consensual, pois há divergências entre autores quanto à afirmação de 
que, em ordem cronológica houve uma clara distinção entre o momento da análise transfrástica 
(primeiro momento) e o segundo momento conhecido como o da gramática de texto. 
42
 Em artigo publicado na revista Alfa em 1997, intitulado “Linguística Textual: retrospecto e 
perspectivas”, Koch concorda com Conte (1977) sobre os três momentos da evolução da LT (análise 
transfrástica, gramática de texto e teoria do texto) e ainda ressalta sua respectiva ordem cronológica. 
(Cf. KOCH, 1997, p. 68). Depois, em 2009, no livro “Introdução à Linguística Textual”, a autora coloca 
os dois primeiros momentos da LT (análise transfrástica e gramática de texto) como pertencentes ao 
mesmo momento dessa evolução. 
38 
 
No período conhecido como o da análise transfrástica, os estudos da LT 
debruçavam-se sobre os fenômenos das relações de complementaridades entre as 
frases (as chamadas relações transfrásticas ou interfrásticas), na intenção de 
ultrapassar os limites da frase, algo que não era possível de ser explicado pelas 
teorias tradicionais da linguística como a da sintaxe e/ou da semântica, pois se 
limitavam às análises frasais, ficando presas ao domínio da frase ou do período. 
Uma das principais preocupações dessa nova abordagem era dar conta do 
encadeamento de sentenças e das relações referenciais que se dava no contínuo do 
texto, entre as frases, e, mais precisamente, dar conta dos processos de 
correferência – os quais se limitavam aos estudos da anáfora e da catáfora – que é 
considerada um dos principais fatores de coesão textual (Cf. KOCH, 2009), mas que 
também não eram suficientes para dar conta da complexidade de outras relações 
existentes no texto. 
Ainda nessa fase, os estudiosos pensaram em elaborar regras para o 
encadeamento de frases, usando os métodos de análise sintática, porém na 
tentativa de ampliá-los para dar conta de sentenças maiores ou, ao menos, dar 
conta de pares de sentenças. Essa análise no nível interfrástico levou o texto a 
passar por novas definições, como Harweg (1968), que definiu texto como 
“sequência pronominal ininterrupta”, ou Isenberg (1970) que o definiu como 
“sequência coerente de enunciados”. Nesse período, tanto estudiosos de 
perspectiva estruturalista quanto gerativista se debruçaram sobre essas questões. 
(Cf. KOCH, 1997, p. 68). 
Nesse período, viu-se a necessidade de considerar que no interior no texto 
havia relações elípticas, anafóricas, e de concordância verbal entre outras relações 
que não podiam mais ser obsevadas de forma isolada; havia a necessidade de 
relacioná-las, considerá-las. Diante dessas constatações, viu-se, também, a 
necessidade de se desenvolver uma gramática que desse conta dessas relações. 
Foi então que se pensou em um modelo de gramática transfrástica ou o que seria a 
fase conhecida como a gramática de texto ou gramáticas textuais. 
O segundo período, conhecido como o período das gramáticas textuais, 
influenciado pela Gramática Gerativa de Noam Chomsky, é caracterizado por 
postular que o texto é muito mais do que a soma de frases, mas sim um signo 
linguístico primário e que sua compreensão depende de uma determinada 
capacidade dos falantes, algo como uma competência textual. Nessa perspectiva, a 
39 
 
competência textual permitiria aos falantes “[...] distinguir um texto coerente de um 
aglomerado aleatório de palavras e/ou sentenças, bem como parafrasear um texto, 
perceber se está completo ou não, resumi-lo, atribuir-lhe um título ou produzir um 
texto a partir de um título dado.” (KOCH, 1997, p. 69). 
Isso era o que Charolles (1989) concebia como capacidades textuais básicas 
que o usuário da língua possuía. Para o autor, essas capacidades podiam ser 
resumidas em três: capacidade formativa; capacidade transformativa e capacidade 
qualitativa. De forma sintética, podemos dizer que a capacidade formativa permitiria 
ao usuário da língua produzir, compreender e avaliar uma diversidade de textos, 
bem como dizer se esses estão bem ou mal formados; a capacidade transformativa 
tornaria o usuário apto a reformular, parafrasear, resumir e também avaliar a 
adequação desse texto em relação ao texto original; a capacidade qualitativa 
permitiria ao usuário identificar a tipologia do texto, ou seja, dizer se este era 
narrativo, argumentativo, descritivo, dialogal etc. 
Nessa fase, o texto, entendido como uma unidade linguística superior à frase, 
é considerado como “uma entidade do sistema linguístico” regida por normas 
gramaticais do texto, semelhantes às normas da gramática da frase – uma espécie 
de analogia. Basicamente, “[...] tratava-se de descrever categorias e regras de 
combinação da entidade T (texto) em L (determinada língua).” (KOCH, 2009, p. 5). 
Dessa forma, as diretrizes da gramática do texto seriam: 
 
a) verificar o que faz com que um texto seja um texto, ou seja, 
determinar seus princípios de constituição, os fatores responsáveis 
pela sua coerência, as condições em que se manifesta a 
textualidade; b) levantar critérios para delimitação de textos, já que a 
completude é uma de suas características essenciais; c) diferenciar 
as várias espécies de textos. (op. cit. p. 5) 
 
Como vimos, a segunda fase da LT foi diretamente influenciada pela 
perspectiva gerativista, por isso a gramática de texto era semelhante à gramática de 
frase proposta por Chomsky. Isso fez com que a gramática de texto fosse vista como 
um sistema finito de regras que permitiria aos usuários da língua afirmar se 
determinada sequência linguística era um texto ou não, pois todo e qualquer usuário 
possuía o conhecimento de um conjunto de regras que são internalizadas, uma 
espécie de ‘competência textual’. Podemos dizer que a fase da gramática de texto 
deixou uma espécie de ‘legado’; duas noções muito importantes a respeito dos 
40 
 
estudos do texto: a primeira é que o texto não é apenas uma continuidade de frases, 
ou seja, não se trata da soma das partes; a segunda noção é a de que o texto é uma 
unidade linguística mais elevada, formada por unidades menores e individuais 
passíveis de análises também individuais, mas que devem ser consideradas em um 
conjunto maior, ou seja, no todo. 
E por fim, o terceiro período, conhecido como o período da teoria do texto, 
passou a compreender o texto como um processo e não como um produto acabado. 
Esse terceiro período teve início quando estudiosos concluíram que era inviável 
elaborar uma gramática de texto no estilo das gramáticas de frase. Apesar de essa 
ideia mostrar-se ambiciosa, foi pouco produtiva, pois não foi possível estabelecer 
regras capazes de descrever todo e qualquer texto de uma determinada língua, ou 
seja, não consideraram a possibilidades de surgirem novos tipos de textos ou 
simplesmente surgirem textos que não se enquadrassem nessas regras gramaticais. 
Essas e outras questões foram responsáveis por levar estudiosos ao abandono 
desta tarefa, o que provocou o fim da segunda fase de desenvolvimento da LT, 
dando início à fase da teoria do texto. 
Nesse período, os estudiosos reconheceram que seu objeto de estudo, o 
texto,

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