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Saneamento Básico Fernanda Cunha Maia © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga Gerência Editorial Fernanda Migliorança Editoração Gráfica e Eletrônica Renata Galdino Supervisão da Disciplina Francisco Ferreira Martins Neto Revisão Técnica Bárbara Nardi Melo Francisco Ferreira Martins Neto Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Maia, Fernanda Cunha M217s Saneamento básico / Fernanda Cunha Maia. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 208 p. ISBN 978-85-522-1600-1 1. Sistema de abastecimento de água. 2. Sistema de abastecimento de esgoto. 3. Resíduos sólidos urbanos. I. Maia, Fernanda Cunha. II. Título. CDD 628 Sumário Unidade 1 Introdução ao saneamento e poluição aquática ........................................ 7 Seção 1 Saneamento e saúde pública ............................................................10 Seção 2 O meio aquático ................................................................................24 Seção 3 Poluição das águas ............................................................................40 Unidade 2 Águas para abastecimento ..........................................................................59 Seção 1 Os mananciais ...................................................................................61 Seção 2 Sistemas urbanos de água para abastecimento .............................78 Seção 3 Redes de distribuição de água .........................................................93 Unidade 3 Sistemas de tratamento para águas e esgotos ........................................111 Seção 1 Tratamento de águas para abastecimento ..................................112 Seção 2 Tratamento de Esgotos ..................................................................126 Seção 3 Reúso da água ................................................................................140 Unidade 4 Poluição atmosférica e terrestre ..............................................................157 Seção 1 A atmosfera ....................................................................................159 Seção 2 O solo ..............................................................................................174 Seção 3 Tratamento de resíduos sólidos ...................................................185 Palavras do autor Caro aluno, iniciaremos os nossos estudos na disciplina de Saneamento Básico. Este não é só a destinação correta dos nossos dejetos, como podemos pensar em um primeiro momento. O saneamento básico, dentre outras definições, significa tornar um ambiente habitável, englobando todas as relações entre o meio em que vivemos e a população contida nele. Dessa forma, podemos pensar assim: enquanto o médico é o responsável pela saúde de um certo número de pessoas, o engenheiro é o responsável pela saúde e desenvolvimento da comunidade como um todo, a partir do saneamento. Além disso, como consequências dos conhecimentos e das medidas pró-saneamento, teremos cidades cada vez mais sustentáveis, usos mais racionais dos nossos mananciais, controle e destinações corretas dos resíduos sólidos, dentre outros aspectos. Neste material, aprenderemos, primeiramente, sobre os conceitos de saneamento de forma geral e a relação direta entre este e a saúde pública. Na Unidade 1, compreenderemos os principais conceitos relacionados ao comportamento do meio aquático. Em seguida, na Unidade 2, abordaremos os estudos dos mananciais e começaremos a entender e dimensionar os sistemas urbanos de água para abastecimento. Já na Unidade 3, adentraremos nos tratamentos em si, entendo o funcionamento das chamadas estações de tratamento de água e esgoto. Por fim, na Unidade 4, estudaremos os conceitos relacionados à poluição atmosférica e terrestre, bem como os principais poluentes e tratamentos para ambas. Para finalizar esta unidade, teremos como destaque o tratamento de resíduos sólidos e os aterros sanitários. Sendo assim, como podemos observar, é de grande importância que o engenheiro civil entenda e aplique as concepções do saneamento nas suas atividades profissionais. Bons estudos! Unidade 1 Fernanda Cunha Maia Introdução ao saneamento e poluição aquática Convite ao estudo Frequentemente é comum associar as atividades de um engenheiro civil às construções. Quando nos tornamos estudantes de engenharia, começamos a entender a grandiosidade do curso e todas as suas ramifica- ções. Nesse contexto, somos apresentados ao saneamento e descobrimos que o engenheiro civil também pode ser o responsável por uma parte da saúde da população. Nesta unidade temos como objetivo principal conhecer os principais conceitos relacionados ao saneamento e, consequentemente, sua relação com a saúde pública. Além disso, conheceremos a dinâmica energé- tica das águas e os parâmetros que nos apresentam uma real situação do meio aquático e, por fim, compreenderemos, de forma aprofundada, a poluição das águas. Como resultados de aprendizagem devemos entender o conceito de saneamento básico e suas implicações para a saúde da população, além da dinâmica energética do meio, isto é, como funciona a autodepuração e a poluição das águas. Caro aluno, imagine que você é o engenheiro civil de uma empresa especializada em atividades e construções civis voltadas para a área de sanea- mento. Dentre todas as atividades que a empresa executa, estão também os serviços de consultoria em saneamento e meio ambiente. Recentemente, a empresa foi contratada para prestar consultorias em saneamento para a prefeitura da cidade de Assú (Figura 1.1.a, localizada no Rio Grande do Norte). Este município fica a 214 km de Natal (Figura 1.2.b), tem aproximadamente 60 mil habitantes, apresenta clima semiárido (quente e seco), índice pluviométrico de 600 mm anuais e, no que se refere à água de abastecimento, esta provém da barragem Armando Ribeiro Gonçalves (Rio Piranhas-Assú). O prefeito contratou a empresa para realizar uma verdadeira curadoria em termos de saneamento para a cidade de Assú. Figura 1.1 | Assú / RN: (A) Cidade; (B) Localização da cidade no estado do Rio Grande do Norte Fonte: (a) Praça São João Batista – Açu (RN). Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pra%.- C3%A7a_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_Batista_-_A%C3%A7u_(RN)_-_panoramio.jpg. Acesso em: 19 mar. 2019. Fonte: (b) Rio Grande do Norte Município. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:RioGrann- dedoNorte_Municip_Assu.svg. Acesso em: 19 mar. 2019. A B https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pra%C3%A7a_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_Batista_-_A%C3%A7u_(RN)_-_panoramio.jpg https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pra%C3%A7a_S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_Batista_-_A%C3%A7u_(RN)_-_panoramio.jpg https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:RioGrandedoNorte_Municip_Assu.svg https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:RioGrandedoNorte_Municip_Assu.svg Você e sua chefe foram designados para solucionar todos os problemas de Assú e terão que, dentre outros aspectos: 1. Analisar a qualidade da água de abastecimento: possívelmudança do manancial utilizado. A água está poluída? Como a autodepuração do rio ajudaria a população nesse caso? 2. Considerar uma possível mudança do tratamento que vem sendo realizado na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE): o mal cheiro da ETE está incomodando uma comunidade próxima ao local. O aparecimento de vetores no local se deve à presença da ETE? 3. Explicar aos moradores da cidade a importância dos cuidados com os resíduos sólidos produzidos, em especial, os provenientes da construção civil – atividade de destaque na cidade de Assú. Na unidade a seguir veremos os conceitos relacionados ao saneamento, com foco nas doenças ligadas a este, e à saúde. Por exemplo, a poluição das águas afetará a vida da população da cidade? Como o processo de autodepu- ração influenciará a escolha do manancial? E o aparecimento de vetores trará necessariamente doenças à comunidade? Teremos muitos desafios durante esta jornada de aprendizado. Vamos lá? 10 Seção 1 Saneamento e saúde pública Diálogo aberto Caro aluno, podemos imaginar pelo nosso conhecimento prévio que o saneamento (ou a falta dele) traz consequências seríssimas a uma comuni- dade. Sabemos que jogar o esgoto sem tratamento a um rio trará poluição a ele, e uma doença infecciosa pode ser transmitida, por exemplo, a uma população ribeirinha por este motivo. Você e sua chefe foram designados para solucionar todos os problemas de Assú. Ao começar a explorar todas as questões da cidade, foi descoberto mais um problema: Assú está passando por um surto de alguma doença infec- ciosa. Os sintomas começaram a surgir quando uma indústria de cerâmica se instalou há 20 km do centro da cidade e está descartando seus dejetos no Rio Piranhas-Assú em um local anterior ao ponto de captação da água da cidade. Os dejetos dessa indústria são compostos basicamente de metais ferrosos e não ferrosos, além do esgoto produzido pelas pessoas que traba- lham no local. Nesse período, a cidade estava passando por período chuvoso e alguns cidadãoes estavam reportando um grande número de ratos vistos no centro da cidade. Os sintomas dessa doença são: diarreia, vômito, febre alta, olhos verme- lhos, dores musculares e abdominais. Coincidentemente, todas as pessoas doentes moram no centro e tiveram suas casas alagadas ou contato direto com as águas das últimas chuvas. Nenhum funcionário da indústria ficou doente. A partir disso, você deverá elaborar uma cartilha informativa com o intuito de distribuir para a população, contendo as seguintes informações: • A relação direta entre saúde pública e saneamento. • O conceito de doenças infecciosas. Qual a doença que está afetando a população, bem como sua forma de contágio e prevenção. A seguir, veremos todos os conceitos relacionados ao saneamento e sua relação direta com a saúde da população, bem como o controle de vetores e a poluição dos corpos hídricos nessa empreitada. Lembre-se de que, nesse contexto, o papel do engenheiro civil é fundamental para solucionar essas questões! 11 Não pode faltar Ao procurarmos o conceito de saneamento na língua portuguesa, de acordo com o dicionário Aurélio (2018, [s.p.]), encontraremos a seguinte definição: “saneamento: sanar, tornar higiênico; salubrificar; remediar; tornar habitável. Tornar apto para a cultura, expurgar.” Se analisarmos todas as palavras anteriores em conjunto teremos sempre uma mesma ideia do significado de saneamento: ato de garantir e manter um ambiente sadio para um certo grupo de pessoas. Nesse sentido, para que um ambiente seja considerado saudável, temos que levar em consideração diversos aspectos relacionados a ele, incluindo fatores sociais, econômicos e ambientais. Em outras palavras, além da saúde física de uma população, um ambiente sadio engloba um todo, um conjunto de fatores básicos e direitos fundamentais da comunidade. Como poderemos entender o que é um meio ambiente sadio, sem antes compreender o que é o meio ambiente em si? Neste material, você verá o conceito de meio ambiente como um termo mais abrangente, sob uma ótica na qual o meio ambiente é a relação direta entre fatores naturais, artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todos os seus formatos (SILVA, 2008). Se analisarmos pelo ponto de vista da engenharia, para promover um meio ambiente sadio há um conjunto de ações operacionais que faz parte do saneamento básico. São elas: distribuição de água potável, tratamento de esgotos sanitários, limpeza urbana e destinação final de resíduos sólidos. Outro grande pilar do saneamento básico é a drenagem urbana de águas pluviais, abordado na disciplina Hidrologia e Drenagem (Figura 1.2). Figura 1.2 | Pilares do saneamento básico Fonte: elaborado pela autora. Quando nos referimos à saúde pública, estamos nos referindo ao conjunto de práticas a favor da saúde da população e, entre essas medidas, estão as de saneamento básico. Ao garantir a uma comunidade todos os quatro pilares 12 do saneamento básico bem estruturados, podemos observar a promoção da saúde pública, qualidade de vida e, consequentemente, melhora dos índices básicos de desenvolvimento humano. Uma regra que podemos adotar é: quanto mais se investe em saneamento básico, menores serão os gastos com a saúde da população. Exemplificando Após aprendermos o conceito do saneamento básico e todas as suas facetas, compreendemos o papel do engenheiro civil dentro desse contexto. É papel deste profissional o manejo correto dos recursos naturais disponíveis. A reutilização dos recursos disponíveis na natureza e a preservação do meio ambiente são consequências das nossas escolhas. Nossas ações, como engenheiros, serão responsáveis pela promoção do bem-estar, da qualidade de vida e do próprio desenvol- vimento da população. No Brasil, a Lei nº 11.445/2007, chamada de Lei Nacional do Saneamento Básico (BRASIL, 2007), é a responsável pelas diretrizes básicas do sanea- mento no país. A partir desta lei foi estabelecido que a acessibilidade dos serviços públicos do saneamento deveria ser generalizada, ou seja, que os quatro pilares do saneamento (que já citamos anteriormente) fossem direitos da população; e esses serviços devem ser interligados com outras medidas de política pública. Assim, no Brasil, o saneamento se torna um direito básico para todo cidadão. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010, p. 17), até 2007 cerca de 58% da população brasileira estava sem qualquer rede coletora de esgoto; nessa pesquisa, 15,3 milhões de pessoas que não tinham rede viviam só no Nordeste – local onde a situação era mais grave. Após mais de 10 anos da Lei Nacional do Saneamento Básico, a Secretária Nacional do Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional (SNS/ MDR) em conjunto com o Sistema Nacional de Informações (SNIS) vem publicando atualizações anuais da situação do saneamento brasileiro. Nos diagnósticos dos serviços de água e esgotos, do manejo de resíduos sólidos urbanos, de drenagem e manejo das águas pluviais urbanas é possível notar alguns progressos na área. Em relação ao esgotamento sanitário e ao índice de pessoas que são atendidas por uma rede coletora de esgoto, em 2017, houve um aumento para 60,2% da população atendida: isso quer dizer que em 10 anos o percentual da população atendida por uma rede coletora de esgoto aumentou 18,2% (Figura 1.3). file:///C:\Users\daniela.mandu\Documents\1_Macros\Seção_1.1\U1S1_Elaborar1.docx#tituloExemplificando 13 Em termos de abastecimento de água, o índice de distribuição em cidades tem valores acima de 90% no Distrito Federal e em mais 18 estados brasi- leiros: Pernambuco, Roraima, Paraná, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Goiás, Tocantins, São Paulo, Espirito Santo, Bahia, Sergipe, Piauí, Minas Gerais, Paraíba e Santa Catarina (SNIS, 2017). Em suma, 2.558 municípios brasileiros apresentam índice de atendimentourbano para 100% da população, isso significa 49,9% dos municípios da amostra. Contudo, em termos de eficiência desse sistema de abastecimento de água, ou seja, a quantidade de água potável que é perdida durante todo o percurso da estação de tratamento até casa do consumidor, podemos observar uma perda (desperdício) de 38,7% dessa água no país. Outros países do mundo apresentam índices por volta de 10% de perdas no sistema de abastecimento, como Alemanha e Japão, e até abaixo dos 10% de perdas, como Austrália e Nova Zelândia (SNIS, 2017, p. 53). Além disso, observamos diversas discre- pâncias nos dados divulgados, isto é, há uma diferença de quase 40% de perda entre a região Norte e Sudeste – regiões com maiores e menores perdas no país (dados divulgados pelas empresas privadas locais). Figura 1.3 | Índice de atendimento urbano no Brasil em 2017 (porcentagem) Fonte: SNIS (BRASIL, 2017, p. 48). 14 Nos resíduos sólidos, os dados divulgados em 2017 pelo SNIS no Brasil demonstram que 98,8% da população urbana tem coleta domiciliar. Esse índice apresenta uma taxa de cobertura do serviço regular de coleta domici- liar em relação à população urbana (considerando coleta direta e indireta). Embora o percentual indique um número alto de cobertura dos serviços de coleta de resíduos, estima-se que aproximadamente 2,3 milhões de habitantes urbanos não sejam atendidos por um serviço de coleta regular. Um parâmetro importante para avaliarmos as condições do saneamento de um país é o aparecimento de algumas doenças infecciosas, já que o modo de contágio destas está diretamente ligado aos sistemas de saneamento de uma cidade. Dessa forma, o índice de mortalidade causado pelas doenças também é considerado um reflexo da qualidade dos serviços de saneamento. Nesse contexto, podemos citar, por exemplo, o índice de mortalidade infantil (número de óbitos para crianças menores de um ano de idade por cada 1.000 crianças nascidas vivas), comumente utilizado como reflexo da disponibi- lidade e qualidade da infraestrutura socioeconômica de uma comunidade, tendo em vista que a população infantil é mais susceptível às condições do meio ambiente no qual está inserida. Reflita A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou uma nova publi- cação intitulada “Herdar um mundo sustentável: Atlas sobre a saúde das crianças e o meio ambiente” sobre os desafios contínuos e emergentes para a saúde ambiental das crianças. Nesse contexto, qual é a relação entre saneamento e saúde? Por que podemos associar a presença do saneamento básico à saúde pública de uma cidade? No Brasil, é divulgado anualmente uma evolução da mortalidade da população em um documento chamado “Tábua completa de mortalidade para o Brasil – 2017”. Nesse documento é possível ver uma nítida diminuição das taxas de mortalidade infantil ao longo dos anos (IBGE, 2017). Nas últimas décadas podemos observar uma grande diminuição das taxas de mortalidade infantil (Quadro 1.1). Todavia, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) indicam que uma em quatro mortes de crianças (até 5 anos) é consequência direta do meio ambiente insalubre. Dentro dessas doenças 361 mil crianças morrem por ano no mundo por diarreia conse- quente de águas poluídas, ou seja, apesar de observarmos avanços e mais acesso ao saneamento, ainda temos um grande desafio em termos de acessi- bilidade ao saneamento em um âmbito mundial. file:///C:\Users\daniela.mandu\Documents\1_Macros\Seção_1.1\U1S1_Elaborar1.docx#tituloReflita 15 Quadro 1.1 | Taxa de mortalidade infantil (por mil), taxa de mortalidade no grupo de 1 a 4 anos de idade (por mil) e taxa de mortalidade na infância (por mil) - Brasil - 1940/2017 Ano Taxa de mortalidade infantil (por mil) Taxa de mortalidade no grupo de 1 a 4 anos de idade (por mil) Taxa de mortalidade na infância (por mil) Das crianças que morreram antes dos 5 anos, qual é a chance de falecer (%)? Antes de 1 ano Entre 1 a 4 anos 1940 146,6 76,7 212,1 69,1 30,9 1950 136,2 65,4 192,7 70,7 29,3 1960 117,7 47,6 159,6 73,7 26,3 1970 97,6 31,7 126,2 77,3 22,7 1980 69,1 16,0 84,0 82,3 17,7 1991 45,1 13,1 57,6 78,3 21,7 2000 29,0 6,7 35,5 81,7 18,3 2010 17,2 2,64 19,8 86,9 13,1 2017 12,8 2,16 14,9 85,7 14,3 D%( / )1940 2017 -91,3 -97,2 -93,0 D( / )1940 2017 -133,8 -74,5 -197,2 Fonte: IBGE (2008, p. 7). Agora que aprendemos a relação entre saúde e saneamento, a seguir veremos quais são as principais doenças relacionadas à falta de saneamento. De acordo com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2010), as doenças são chamadas de Doenças Relacionadas a um Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI). Podemos concluir que as DRSAI são aquelas que apresentam: transmissão fecal-oral, transmissão por vetores, transmissão por contato com a água contaminada, doenças relacionadas à falta de higiene da população, helmintíases e teníases. Para classificar as doenças como sendo DRSAI, é necessário avaliar o comportamento do agente etiológico no meio ambiente, pois esse é o principal fator que determina se as ações de sanea- mento podem ou não influenciar o aparecimento dessas doenças em uma comunidade. Assim, a partir dessas classificações e do entendimento que o saneamento influencia diretamente na saúde de uma população, há a neces- sidade de utilizar outros fatores como parâmetros para a eficácia dessa infra- estrutura básica. Como exemplo, temos os índices de mortalidade infantil ou índice de mortalidade por doenças infecciosas tornando-se parâmetros da qualidade dos serviços de saneamento dos centros urbanos. A seguir, veja no Quadro 1.2 exemplos de DRSAI. 16 Quadro 1.2 | Exemplos de doenças infecciosas que têm relação com o saneamento inadequado (DRSAI) Doença Transmissão Sintomas Cólera Consumo de água contaminada Diarreia intensa e vômito Dengue Picada do mosquito infectado Dores abdominais, vômito e tonturas Diarreia infecciosa Contato com fezes contaminada Febre, diarreia e falta de apetite Doença do carrapato Picada do carrapato infectado Anemia, dor no corpo e falta de apetite Doença de Chagas Contato com fezes do inseto infectado Febre, dor no corpo, aumento do fígado, náuseas e diarreia Esquistossomose Contato com o caramujo infectado Febre, dermatite, tosse, diarreia, enjoos e vômito Febre tifoide Consumo de água contaminada Febre, vômito, diarreia e dor de cabeça Giardíase Contato com fezes contaminadas Dor abdominal, diarreia e febre Hepatite A Contato com fezes contaminadas Urina escura e amarelamento da pele Leptospirose Contato com urina de ratos infectados Febre alta, dores de cabeça, dor no corpo e vômito Fonte: elaborada pela autora. Os vetores são organismos que conduzem os agentes etimológicos e são responsáveis pelo aparecimento de algumas doenças infecciosas. Com a grande maioria da população vivendo em centros urbanos, os vetores são os responsáveis pelo aparecimento dessas doenças em cidades (como 17 a febre amarela, por exemplo). Assim, temos a necessidade do controle da população desses organismos: se controlarmos o aparecimento dos vetores e sua infestação, conseguiremos erradicar a doença correlata. São vetores: alguns mosquitos, moscas, carrapatos, besouros, pulgas (Figura 1.4), caracóis, vermes, baratas, ratos e entre outros. Figura 1.4 | Vetores: pulga andando na pele humana Fonte: Shutterstock. As medidas gerais de saneamento podem trazer uma diminuição da densidade populacional dos vetores, como uma rede de abastecimento de água com a etapa de desinfecção, tratamento e destinação final dos dejetos urbanos, coleta regular dos resíduos sólidos e até melhoria das moradias da população. Além disso, o meio ambiente também pode ser um fator contribuinte para a proliferação dos vetores, como a presença de água para desenvolvimento de larvas (podemos lembrar que o mosquito da dengue, nesse caso, precisa de água para seu desenvolvimento). Em outras palavras, alterando essas condições, alteraremos o desenvolvimentoe a reprodução dos vetores e, consequentemente, o seu aparecimento. De forma prática, temos o controle dos vetores de três formas: o controle biológico, o mecânico e o químico (Figura 1.5). 18 Figura 1.5 | Formas do controle de vetores Fonte: elaborado pela autora. Assimile Doença infecciosa: são chamadas doenças infecciosas todas aquelas transmissíveis de uma pessoa para outra através de um agente etioló- gico. Essas doenças podem ser transmitidas de diversas formas: por meio de vetores, da água contaminada, da comida, dentre outras. Agente etiológico: chamado também de agente infeccioso ou agente patogênico, trata-se do ser vivo que causará a doença. Comumente estão inseridos nas bactérias, nos vírus, nos fungos, nos protozoários e nos vermes (dos filos platelmintos e nematelmintos). Vetor: em saneamento chamamos de vetor o veículo (animal) portador do agente etiológico. Apesar de alguns deles conseguirem se proliferar nos próprios vetores, diferente dos agentes etiológicos, eles não trans- mitem a doença em si. Podem ser moluscos, artrópodes, entre outros animais. A dengue, por exemplo, tem o mosquito como vetor e um vírus como agente etiológico. Pesquise mais Aluno, aprofunde seus conhecimentos sobre a relação do saneamento com a saúde pública lendo o capítulo 1 da seguinte referência, dispo- nível na biblioteca virtual. PHILIPPI JR, A.; MALHEIROS, T. F. Saneamento e saúde pública: integrando homem e ambiente. In: PHILIPPI JR, A. Saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005. Capítulo 1, p. 3-31. [Minha Biblioteca]. Não esqueça de fazer o login na “Minha biblioteca”, na Biblioteca Virtual, antes de clicar no link. file:///C:\Users\daniela.mandu\Documents\1_Macros\Seção_1.1\U1S1_Elaborar1.docx#tituloPesquiseMais 19 Sem medo de errar Você e sua chefe foram designados para solucionar todos os problemas de Assú e, como primeira atividade, vocês devem elaborar uma cartilha infor- mativa com o intuito de distribuir para a população, destacando a relação direta entre saúde pública e saneamento, o conceito de doenças infecciosas e a doença que está afetando a população, bem como sua forma de contágio e prevenção. Conforme vimos nesta seção, as doenças infecciosas são aquelas trans- missíveis de uma pessoa para outra através de um agente etiológico. Estas podem ser transmitidas de diversas formas: por meio de vetores, da água contaminada, da comida, dentre outras. A falta de saneamento básico está diretamente ligada ao aparecimento de certas doenças infecciosas (aprendemos essa relação no início da Unidade 1), por isso, comumente associamos o saneamento e a saúde pública de uma população. É importante frisar que, quando bem estruturados, os pilares do saneamento (abastecimento de água, tratamento de esgotos, coleta de resíduos e drenagem de águas pluviais) funcionam como verdadeiros “termô- metros” da qualidade de vida de uma comunidade. Como os sintomas dessa doença temos: a diarreia, o vômito, a febre alta, os olhos vermelhos, as dores musculares e abdominais. Coincidentemente todas as pessoas doentes moram no centro e tiveram suas casas alagadas ou contato direto com as águas das últimas chuvas. Nenhum funcionário da indústria ficou doente. Nesse contexto, podemos concluir que as pessoas tiveram leptospirose por contato com a urina dos ratos infectados. Na cartilha é importante destacarmos qual é essa doença, as formas de prevenção e contágio. Cartilha: Leptospirose – Assú 2019 • Qual é a doença: leptospirose, uma doença infecciosa causada por uma bactéria presente na urina de ratos infectados. • Transmissão: ela é transmitida por meio do contato com a urina dos ratos, ou águas que tiveram contato com essa urina contaminada. • Tratamento dos doentes: o tratamento dos doentes é realizado com antibióticos específicos, repouso e hidratação. 20 • Como evitar a doença: deve-se evitar o contato com as águas da inundação e com os ratos, além de fazer o controle de vetores. Devemos também higienizar o domicilio após a inundação e, ao realizar a limpeza, utilizar desinfetantes e luvas. Avançando na prática Nova doença acomete população ribeirinha dos arredores de Assú Após o lançamento de sua cartilha a respeito da leptospirose, muitas pessoas dos arredores de Assú entraram em contato com você e sua equipe a respeito de outras possíveis doenças relacionadas à falta de saneamento básico. A população ribeirinha da cidade de Itajá, próxima a Assú, vem apresentando nos últimos 10 anos uma estabilização da mortalidade infantil, com índices de até 7 (por mil nascidos vivos, por ano) mortes no grupo de 1 a 4 anos de idade – índice alto para dados atuais. A cidade não tem rede coletora de esgoto nem sistema de coleta de resíduos sólidos. A maioria das pessoas utiliza poços ou água de rios sem tratamento para abastecimento de água potável das residências, não sendo vistos vetores na cidade. Como poderíamos descobrir o porquê desse alto índice de mortali- dade infantil que acomete a comunidade ribeirinha de Itajá? Indique alguns melhoramentos para que os índices de mortalidade infantil vistos atualmente sejam menores nos próximos anos. Resolução da situação-problema Se observarmos as características da comunidade ribeirinha da cidade de Itajá, podemos notar diversos pontos que podem contribuir para os altos índices de mortalidade infantil da comunidade. Conforme vimos ao longo desta seção, alguns pilares do saneamento provavelmente não estão sendo fornecidos à comunidade. Podemos, como engenheiros, analisar essas questões. Como melhoramento, deve-se fazer, primeiramente, uma análise da qualidade de água que a população vem consumindo, tanto a água dos poços (analisando o lençol freático utilizado por essas pessoas) quanto a água do rio que as pessoas utilizam como mananciais (mesmo sem o tratamento prévio). Provavelmente a água utilizada está contaminada em algum ponto: 21 seja pela ausência do tratamento de esgoto e água para abastecimento antes do consumo, seja pela ausência da coleta de resíduos sólidos (que podem também poluir um lençol freático). Como solução, é necessário um trata- mento prévio da água para consumo, ter uma rede e um tratamento do esgoto produzido pela comunidade e uma coleta de resíduos com uma destinação final adequada. Faça a valer a pena 1. Leia o trecho a seguir: Dirigentes da ONU pediram nesta sexta-feira (22), Dia Mundial da Água, que países “não deixem ninguém para trás” no acesso a serviços de água potável e saneamento básico. Atualmente, estima-se que 2,1 bilhões de pessoas no mundo vivam sem água própria para o consumo humano. Organização alerta que degradação ambiental, crescimento populacional e mudanças climáticas poderão agravar desafios de oferta e disponibilidade dos recursos hídricos. (ONUBR, 2019, [s.p.]) A disponibilidade de água potável, bem como os serviços básicos providos pelo saneamento básico são de extrema importância para a população mundial. Assinale a alternativa que indica corretamente os quatro pilares básicos, ou seja, os quatro principais serviços providos pela infraestrutura oferecida pelo saneamento básico. a. Saneamento ambiental, controle de vetores, controle de animais exóticos e distribuição de água. b. Abastecimento e distribuição de água, controle de vetores, drenagem de águas pluviais e coleta de resíduos sólidos. c. Saneamento ambiental, saneamento na construção civil, saneamento nos meios de transporte e saneamento em situações de emergência. d. Abastecimento e distribuição de água potável, drenagem de águas pluviais, coleta e destinação final de resíduos sólidos e tratamento de esgotos. e. Controle de vetores, distribuição de esgotos sanitários, saneamento nos meios de transporte e abastecimento de água potável para a população. 22 2. Leia o trecho a seguir: De janeiro até 16 de março deste ano (2019), o Amapá regis- trou queda nos casos confirmados de dengue,chikungunya e zika, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Os números são do Ministério da Saúde (MS) com destaque para a queda de diagnóstico de dengue de 81,5%, em compa- ração ao mesmo período de 2018. Os registros de dengue reduziram de 227 para 42. Nas confirmações de chikungunya, a queda foi de 40 para 17 casos, e de zika foram 6 casos em 2018 e 3 neste ano. Ainda não houve mortes, nem casos de microcefalia em 2019, segundo relatório. (G1, 2019, [s.p.]). Sabemos que o controle de vetores está diretamente associado ao aparecimento de certas doenças. A seguir, assinale a alternativa que apresenta corretamente as doenças transmitidas por vetores. a. Chikungunya, leptospirose e esquistossomose. b. Amebíase, rinite e leptospirose. c. Cólera, diarreia infecciosa e esquistossomose. d. Dengue, chikungunya e giardíase. e. Diarreia infecciosa, dengue e malária. 3. Leia o trecho a seguir: A melhora dos indicadores de saneamento das maiores cidades brasileiras tem sido mais lenta do que o necessário, segundo avaliação da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes). A visão é de que o Brasil ainda tem grandes problemas com relação a tratamento de esgoto e destinação de resíduos sólidos. A entidade publica nesta quarta-feira (13/06/2918) os dados atualizados do seu ranking de universalização de saneamento, que avalia a situação das cidades com mais de 100 mil habitantes a partir dos dados enviados ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do governo federal. A novidade 23 desse ano é a criação de um segundo ranking, que envolve as cidades de pequeno e médio porte que enviaram ao sistema todas as informações necessárias para construção da lista. (REVISTA VALOR, 2018, [s.p.]). A infraestrutura oferecida pelo saneamento básico tem como principal consequência o surgimento de um meio ambiente sadio, fato este que melhora as condições e a qualidade de vida da população. Sobre o saneamento básico e sua relação com a saúde pública, assinale a alternativa correta. a. O aparecimento de certas doenças infecciosas, de doenças transmitidas pela água e as doenças sexualmente transmissíveis podem ser evitadas pelo abaste- cimento de água potável e tratamento de esgotos. b. Apenas o tratamento de águas para abastecimento e esgotos sanitários é suficiente para que a população tenha o controle do aparecimento de doenças infecciosas relacionadas ao saneamento. c. O controle de vetores e uma infraestrutura de tratamento de águas e esgotos, juntamente de coleta e tratamento do lixo urbano, são importantes aliados para a saúde e qualidade de vida da população. d. O controle da drenagem de águas pluviais e a coleta dos resíduos sólidos são as principais medidas de saneamento básico e apresentam como principal consequência o controle total dos vetores. e. O abastecimento de água potável, coleta e tratamento dos resíduos sólidos, a drenagem urbana das águas pluviais e o controle das doenças infecciosas são ações denominadas pilares do saneamento básico. 24 Seção 2 O meio aquático Diálogo aberto Caro aluno, no nosso dia a dia, em locais próximos de onde vivemos é comum “ouvirmos falar” que um rio, um lago ou uma praia está apto ao banho. Porém, também é comum termos notícias de poluição de algum meio aquático. Mas como essa poluição ocorre? O que aconteceu nesse meio para que possamos classificar, ou identificar, um corpo hídrico como poluído? Nos próximos itens desta seção estudaremos especificamente as poluições das águas, ou seja, do meio aquático. Todavia, para entendermos como funciona a poluição aquática e, principalmente, como evitá-la, é necessário primeira- mente aprendermos como esse meio funciona. Dessa forma, compreende- remos toda a dinâmica que ocorre neste meio, as partes constituintes e tudo o que pode alterar o equilíbrio deste ecossistema. Voltando às suas questões como engenheiro de uma empresa que apresenta atividades na área do saneamento, temos os problemas que a cidade de Assú vem passando nessa área. Ao analisar as causas da doença que acometeu uma parte da população, você recebeu um relatório completo sobre a qualidade da água que está sendo utilizada para o abastecimento da população. Por meio das análises laboratoriais, foi possível entender que a água atende a todos os padrões de qualidade da água. Lembrando que as pessoas que ficaram doentes moravam somente em uma parte da cidade que tinha contato direto com os ratos. Além disso, lembre-se de que nenhum dos funcionários da indústria ficou doente. Um dos colaboradores da empresa lhe questiona sobre o porquê apenas parte da população ficou doente e se isso teria influência na distância do lançamento do efluente no rio. Assim, explique quais são as etapas da autode- puração e sua possível relação com o surto da doença que acometeu Assú. Como podemos imaginar, a poluição das águas é um assunto de muita relevância para a população em geral. Os engenheiros civis também são responsáveis pela manutenção e recuperação dos corpos hídricos ao redor do planeta. Nesse contexto, é imprescindível que entendamos como a poluição ocorre. A partir disso, vamos começar nossos estudos? 25 Não pode faltar Caro aluno, a adição de qualquer substância (ou forma energética) a um meio que tenha como resultado a impossibilidade da utilização deste pelas populações que ali vivem pode ser chamada de poluição. Além disso, temos presente, nesse contexto, o conceito de ecossistema, que é o conjunto das populações (fauna e flora) e o meio em que habitam vivendo juntos, por exemplo, os indivíduos de um certo espaço e o ambiente em que convivem. A poluição pode ocorrer em diversos ecossistemas e, de modo geral, pode ser encontrada em três meios: o meio aquático, o meio terrestre e o meio atmosférico. Dessa forma, aprenderemos, em especial, sobre a poluição das águas e, ao decorrer das próximas unidades, trataremos das poluições e de suas implicações no solo e no ar. A água é um composto químico formado por hidrogênio e oxigênio, mais especificamente de dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, que originam a molécula da água ( H O2 ). Esta é essencial para a vida na Terra e, por esse motivo, a Organização das Nações Unidas (ONU) declara que a água potável é um direito fundamental de todos os seres humanos, juntamente com o acesso aos serviços de saneamento (ONU, 1992a). Dentre os princípios recomendados pela Declaração de Dublin, tradu- zida por Gnadlinger (1992a, [s.p.]), sobre a água e desenvolvimento susten- tável da ONU, temos: Princípio nº 1: a água doce é um recurso finito e vulne- rável, essencial para sustentar a vida, o desenvolvimento e o meio ambiente. Como a água sustenta a vida, o gerenciamento eficaz dos recursos hídricos exige uma abordagem holística, ligando o desenvolvimento social e econômico à proteção dos ecossistemas naturais. A gestão eficaz liga os usos da terra e da água em toda a área de captação ou no aquífero de águas subterrâneas. Por esses motivos, é necessário entender a importância da água como um bem comum e a crescente preocupação mundial com esse recurso. Assim, compreenderemos como o meio aquático funciona. No entanto, faremos, primeiramente, uma breve revisão a respeito de alguns conceitos ecológicos relevantes. 26 Assimile O meio aquático é o lugar que tem a água como principal composto. Chamamos de meio aquático os rios, lagos, oceanos, mares, poços subterrâneos, entre outros, sendo muito importante para a manutenção da vida no planeta e considerado o local no qual diversos ecossistemas sobrevivem e cadeias alimentares (teia alimentar) se desenvolvem. Já a cadeia alimentar é a transmissão de energia em forma de matéria orgânica por meio da alimentação, funcionando, de forma sequencial, no que denominamos de cadeia. A cadeia alimentar, por sua vez, pode ocorrer em diversos ecossistemas, inclusive, no meio aquático, no qual observamos o desenvolvimentode teias alimentares completas. Os organismos chamados de autotróficos são aqueles que apresentam a habilidade de produzir o próprio alimento. Já todos os outros organismos vivos que habitam o planeta precisam de algum alimento, isto é, de algum tipo de energia para sobreviver. Esta energia pode ser em forma de luz; com esta, os seres autotróficos utilizam para produzir seu alimento em forma de fotossíntese. Esses seres, posteriormente, podem se transformar em alimento a ser consumido pelos seres heterotróficos (e esse será considerado também um tipo de “energia”), os quais também podem ser consumidos por outros seres heterotróficos. Com os seres autotróficos, obtemos a cadeia alimentar. Todos os seres que fazem parte desta são divididos em níveis tróficos. Nesse sentido, o primeiro nível trófico é composto pelos seres autotróficos (as plantas), e o segundo, pelos organismos que se alimentam somente dos seres autotróficos (os herbí- voros). Por fim, os organismos que se alimentam dos herbívoros fazem parte do terceiro nível trófico, podendo existir em uma cadeia alimentar diversos níveis (Figura 1.6). 27 Figura 1.6 | Exemplos de cadeia alimentar Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Simplik- fied_food_chain.svg. Acesso em: 25 abr. 2019. Conceituamos, em saneamento, os organismos que produzem seu próprio alimento (os autotróficos) de produtores. Nos ecossistemas aquáticos, os produtores são as plantas e constituem a base da cadeia alimentar nesse meio. Todos os seres que não conseguem produzir seu alimento, ou seja, os heterotróficos, podem ser também chamados de consumidores. E, por último, temos os decompositores, organismos que se alimentam a partir da decomposição da matéria orgânica presente nos seres que estão mortos. Nesse contexto, vale acrescentar que os seres decompositores estão presentes em todos os níveis tróficos. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Simplified_food_chain.svg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Simplified_food_chain.svg 28 A cadeia alimentar do meio aquático é composta por diversos organismos. Nesse meio encontramos plantas, vírus, fungos, bactérias, protozoários, peixes, anfíbios, mamíferos, crustáceos, algas, entre outros. Podemos classi- ficar os organismos aquáticos com base na região aquática em que vivem. Os denominados plânctons vivem sem locomoção própria, movimentan- do-se de acordo com o movimento das correntes, e podem ser divididos em fitoplâncton e zooplâncton, oriundos, respectivamente, do reino vegetal e animal. Já os néctons, diferentemente dos plânctons, são os próprios responsáveis pela sua locomoção no meio aquático, independentemente do movimento das correntes. Neste meio temos ainda a presença dos bentos, que vivem nos leitos (calhas) dos cursos d’água. O ambiente aquático: a dinâmica energética do meio aquático Como a inclusão de um certo material implicará em uma possível poluição do meio aquático? Vejamos agora como funciona a relação entre matéria orgânica e energia – e sua influência para a poluição do meio aquático. Primeiramente, precisamos relembrar o conceito de matéria orgânica (M.O.), que significa toda matéria de origem animal ou vegetal (originada dos produ- tores ou consumidores) que tem como base o carbono. Já o material mineral (M.M.), ou inorgânico, é aquele que tem, em sua composição, os minerais (e são disponibilizados em processos cíclicos na própria cadeia alimentar, pela ação dos organismos decompositores) e outros elementos químicos, por exemplo, potássio, nitrogênio, ferro, etc. A partir da energia na forma de luz associada à disponibilidade de gás carbônico e alguns materiais minerais, os produtores darão início à cadeia alimentar aquática por meio do processo de fotossíntese. Nesse sistema, as plantas aquáticas e alguns tipos de bactérias serão os produtores. No próximo nível da cadeia, teremos a atuação dos organismos consumidores, que utili- zarão a matéria orgânica proveniente dos produtores em conjunto com o oxigênio disponível no meio (dissolvido no meio aquático). Por fim, os decompositores transformarão a matéria orgânica presente nos produtores e consumidores em material mineral. Podemos observar como funciona essa dinâmica entre energia e matéria orgânica na Figura 1.7. 29 Figura 1.7 | Transferência de energia e matéria orgânica nos ecossistemas LUZ + CO2 M.O.M.M. Produtores Consumidores Decompositores M.O.M.O. M.O. O2 Fonte: elaborada pela autora. Por meio do fluxograma da Figura 1.8 e entendendo um pouco sobre a cadeia alimentar aquática, podemos observar que todo o sistema funciona como um ciclo, e todos os organismos e materiais (orgânicos e inorgânicos) habitam em equilíbrio. No meio aquático, diversos fatores influenciarão na cadeia alimentar e, consequentemente, na sua eficiência energética. Esses fatores são denominados de parâmetros e estão interligados. Qualquer alteração em apenas um destes pode desencadear o desequilíbrio do meio, a modificação de outros parâmetros e uma possível poluição. Os parâmetros são imprescindíveis para descobrirmos como funciona o meio aquático. Fatores como a disponibilidade de oxigênio dentro da água (chamado de saneamento de oxigênio dissolvido), a quantidade de alimentos (nutrientes) disponível e a intensidade da luz incidente são alguns exemplos. As características físicas e química também são consideradas como parâme- tros e podem influenciar na cadeia alimentar e na vida aquática como um todo. Dessa forma, o pH e a temperatura, por exemplo, são relevantes para a manutenção do equilíbrio do meio. 30 Nesse sentido, todos os materiais lançados no meio aquático, e aqui podemos estender essa questão a todos os meios, serão causadores de poluição? A resposta é não, para todos os meios. É necessário entendermos que nem sempre os materiais lançados nos ecossistemas serão ruins. Alguns podem afetar positivamente a população de um meio, mas ainda sim ser um tipo de poluição. Vejamos um exemplo: a eutrofização é um processo no qual a introdução de alguns nutrientes (matéria orgânica) terá como conse- quência o aumento significativo do número de algas em um ecossistema aquático. Este processo prejudicará outras populações e, dessa forma, pode ser considerado um tipo de poluição. Contudo, para as algas, é desejável ter essa oferta de nutrientes (motivo pelo qual elas crescem e se reproduzem). Sendo assim, a melhor resposta para a pergunta anterior é depende: a introdução desse material trará consequências maléficas para o sistema como um todo? Se a resposta for sim, esse material poderá ser chamado de poluente. Dado o conceito apresentado, a partir deste momento chamaremos de poluentes todos os materiais adicionados a um meio que causarão poluição neste. Uma observação importante: por um lado, se o meio apresentar um poluente que tem origem natural, ou seja, for oriundo de processos naturais, chamaremos esse fenômeno de contaminação. Por outro lado, se o poluente tiver efeito maléfico ao sistema e origem da interferência humana, ele será denominado poluição. Reflita Atualmente, a eutrofização é um dos grandes problemas que os ecossis- temas aquáticos vêm enfrentando. Causado pelo grande número de nutrientes oferecidos ao meio, este processo traz diversas consequên- cias maléficas. Mas podemos verificar algum ponto positivo no processo de eutrofização? Qual seria esse ponto? Ela sempre será causada pela interferência humana? Dois processos biológicos são importantes para entendermos o controle e a movimentação dos poluentes no meio aquático. Consequentemente, esses processos terão influência na quantidade de materiais orgânicos e inorgâ- nicos na cadeia alimentar aquática e, assim, consequências em uma futura poluição. Esses conceitos são chamados de bioacumulação e biomagnifi- cação, que, apesar de serem comumente utilizados como sinônimos, são diferentes. A bioacumulaçãopode ser definida como um processo biológico no qual determinada substância é absorvida por um ser vivo. Já na biomag- nificação, também um processo biológico, certa substância é absorvida 31 progressivamente pelos organismos ao longo da cadeia alimentar (ou em uma teia alimentar, que se trata de várias cadeias alimentares entrelaçadas). A principal diferença entre os dois é que a bioacumulação ocorre geral- mente em apenas um nível trófico, ou seja, as substâncias são absorvidas por um organismo a partir da disponibilidade no meio ambiente (de forma direta) ou por meio da ingestão de alimentos que contenha essa substância (de forma indireta). Já a biomagnificação é um conceito mais amplo, com o qual analisamos os níveis de certa substância em uma cadeia alimentar completa (ou várias), de forma que os “últimos” animais da cadeia alimentar, consumidores em níveis tróficos mais avançados, terão em seus órgãos e tecidos uma concentração do composto acumulada, proveniente da bioacu- mulação que ocorreu nos demais níveis tróficos. Muitas vezes, essa concen- tração do composto está até mais alta que as concentrações encontradas no meio em si, fato este que caracteriza a biomagnificação. Ao entendermos os conceitos de bioacumulação e biomagnificação, classificaremos os poluentes de acordo com sua capacidade de ser metaboli- zado por um organismo. Se uma certa substância for chamada de biodegra- dável, isso significa que ela poderá ser catalisada como fonte de carbono, ou seja, metabolizada por um organismo. A substância biodegradável é consi- derada inofensiva em termos de cadeia alimentar e biomagnificação. Já se o poluente for classificado como não biodegradável, isso significa que ele não será metabolizado por um organismo, podendo passar por diversos níveis tróficos sem que suas concentrações diminuam nas populações afetadas, fato este que caracteriza uma biomagnificação. A autodepuração Caro aluno, até o momento vimos como a dinâmica energética do meio aquático funciona e como a alteração desse equilíbrio pode trazer um quadro de poluição para aquele ecossistema. Agora, é importante aprendermos um conceito importantíssimo para a compreensão, o planejamento e a estratégia para uma possível recuperação da qualidade dos cursos d’água: a autodepu- ração. De acordo com Von Sperling (2005), o fenômeno de autodepuração pode ser entendido como o reestabelecimento natural do equilíbrio de um corpo d’água após ele ter recebido cargas poluidoras; geralmente esgotos sanitários, provenientes de um centro urbano. Em outras palavras, fazendo uma analogia, podemos entender a autodepuração como uma tentativa do corpo d’água de voltar ao seu estado, anterior àquela fonte poluidora. A autodepuração (Figura 1.8) parte de um pressuposto que um ecossis- tema aquático está em um estado de equilíbrio prévio, anterior a uma fonte 32 de poluição. Esse estado é composto pela estagnação dos seus parâmetros e pelo controle da população dos organismos que o compõem. Assim, o despejo de certa carga poluidora afetará negativamente esse equilíbrio, carac- terizando-se como uma poluição. As cargas poluidoras, principalmente os esgotos sanitários, terão impactos simultâneos nesse ecossistema, principal- mente nos diversos parâmetros que o compõe, alterando-os. Uma das principais e mais importantes alterações desse meio é a diminuição dos níveis de oxigênio dissolvido naquele sistema, componente importantíssimo para a manutenção da vida marinha e necessário para a respi- ração dos animais. Por esse motivo, este oxigênio tornou-se um parâmetro de qualidade da água, sendo utilizado para medir o grau de poluição de um corpo de água: quanto menor forem suas concentrações, maior será seu nível de poluição. Ao estudarmos o processo de autodepuração dos cursos d’água, outro parâmetro importante é a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), uma medida indireta da quantidade de matéria orgânica disponível para a degradação pela ação de bactérias. Ao fazer uma analogia, a DBO seria um indicativo da quantidade de matéria orgânica que estaria “sobrando” no meio analisado. Figura 1.8 | Processo de autodepuração Fonte: Braga et al. (2005, p. 90). 33 O processo de autodepuração pode ser dividido em quatro trechos, que podem ser observados ao longo do curso d’água e ao decorrer do tempo da poluição. A seguir, conheça cada um deles. • Zona de águas limpas: é a primeira zona do curso d’água, locali- zada antes da fonte de poluição. Tem como principais características as concentrações elevadas de oxigênio dissolvido e populações dos organismos aquáticos vivendo em equilíbrio. • Zona de degradação: a segunda zona do curso d’água durante o processo de autodepuração é a zona de degradação, marcada pelo lançamento da fonte poluidora. É definida pela diminuição da concentração do oxigênio dissolvido e, dessa forma, os organismos menos resistentes começam a morrer. • Zona de decomposição ativa: a zona de decomposição na autodepu- ração é marcada pela menor concentração de oxigênio dissolvido do processo. Os organismos aeróbios (que respiram utilizando o oxigênio dissolvido no meio) mais resistentes morrem e apenas algumas bacté- rias e alguns fungos sobrevivem. Os organismos que não utilizam o oxigênio dissolvido na sua respiração (denominados de anaeróbios) são os únicos que perduram nesta fase. • Zona de recuperação: zona na qual se inicia o processo de retomada do equilíbrio do ecossistema aquático. Há um aumento das concen- trações do oxigênio dissolvido e reaparecimento de organismos aquáticos. Após a zona de recuperação, é possível observar uma nova zona de águas limpas. Exemplificando Em 2018, os moradores de Bauru estavam pescando tilápia em um rio que recebia esgoto da cidade. Após muitas queixas, a prefeitura do município mudou o ponto de descarte do esgoto para mais longe. Assim, com o tempo, a qualidade da água deste rio vem melhorando, devido ao processo de autodepuração dos corpos hídricos. No entanto, essa mudança ainda não é o suficiente para que haja melhorias nesse caso, pois ainda que mais longe, o esgoto deveria ser tratado antes do lançamento em um corpo hídrico. 34 Pesquise mais Como vimos anteriormente, o processo de autodepuração é muito importante para o meio aquático, na recuperação de um curso d’água poluído. Por esse motivo, aprenderemos um pouco mais sobre esse assunto e como comumente ele é analisado na prática nos rios? Faça seu login na nossa biblioteca virtual e procure o seguinte artigo: SARDINHA, D. S. et al. Avaliação da qualidade da água e autodepuração do ribeirão do meio, Leme (SP). Eng. Sanit. Ambient., v. 13, n. 3, Rio de Janeiro, 2008. Sem medo de errar Caro aluno, nesta seção aprendemos o funcionamento do meio aquático, com ênfase em suas dinâmicas energéticas e no processo de autodepuração. Este processo é um importante aliado para a recuperação dos corpos hídricos e pode ser definidido como: o restabelecimento do equilíbrio aquático após o lançamento de uma carga poluidora. Assim, podemos dizer que a autode- puração é uma tentativa do corpo d’água voltar ao seu estado anterior à carga poluidora. Além disso, este processo pode ser dividido em quatro zonas principais, localizadas ao decorrer dos corpos hídricos. São as zona de águas limpas, zona de degradação, zona de decomposição ativa (ou degradação ativa) e zona de recuperação. Cada uma delas apresenta particularidades: • A zona de águas limpas, a primeira do processo, é localizada em uma posição anterior ao lançamento de uma fonte poluidora com níveis de oxigênio dissolvido altos e equilíbrio da fauna e flora. • A zona de degradação, a segunda do processo, é marcada pela diminuição da concentração do oxigênio dissolvido e, com isso, os organismos menos resistentes começam a morrer. • A zona de degradação ativa, a terceira do processo, é a que apresenta a menor concentração de oxigênio dissolvido no processo. Nela os animais mais resistentesmorrem e apenas algumas bactérias e fungos conseguem sobreviver. • Por fim, temos a zona de recuperação, a quarta do processo, na qual se inicia o processo de retomada do equilíbrio do ecossistema marinho. Nela há o aumento das concentrações do oxigênio dissolvido e reapa- recimento de organismos aquáticos. Após a zona de recuperação, é possível observar uma nova zona de águas limpas. 35 A partir do exposto, podemos fazer um paralelo com os problemas da questão do saneamento (mais especificamente com a questão do surto da doença infecciosa) na cidade de Assú e a autodepuração. Na questão, houve a suspeita de que os dejetos da indústria de cerâmica teriam contaminado a água de abastecimento da cidade. A partir de análises laboratoriais da água em diversos pontos de coleta após o despejo do esgoto proveniente da indús- tria e de acordo com os princípios da autodepuração, depois de uma certa distância da fonte poluidora, os corpos d’água tendem a se recuperar. Assim, observando a recuperação dos parâmetros de qualidade ao longo do curso d’água, poderíamos afirmar que talvez a poluição causada pela indústria não tivesse chegado aos consumidores por causa do processo de autodepuração. No entanto, para ter certeza de que as fontes poluidoras não apresentam mais influência na qualidade da água para abastecimento, é necessária uma análise completa de todos os parâmetros de qualidade da água ao decorrer das zonas da autodepuração e, em seguida, em uma nova zona de águas limpas. Assim, poderemos saber se o corpo hídrico obteve uma recuperação total dessa poluição. Avançando na prática A poluição e a dinâmica energética do meio aquático Comumente, como engenheiros, seremos responsáveis por analisar a causa de uma poluição de um corpo hídrico. Ao alterarmos o meio energé- tico, a dinâmica básica do meio aquático, todos os componentes desse ecossistema serão alterados e, consequentemente, observaremos a configu- ração de uma poluição. Nesse sentido, observe a Figura 1.7 e responda: o que aconteceria com o meio aquático se o sistema parasse de receber luz? Haveria algum tipo de poluição decorrente deste fato? 36 Figura 1.7 | Transferência de energia e matéria orgânica nos ecossistemas LUZ + CO2 M.O.M.M. Produtores ConsumidoresDecompositores M.O.M.O. M.O. O2 Fonte: elaborado pela autora. Resolução da situação-problema O sistema aquático está em equilíbrio. Se alterarmos qualquer parcela anteriormente apresentada, toda a cadeia alimentar será afetada. No caso da questão, se a luz fosse interrompida, os produtores, a base da cadeia alimentar, seriam os primeiros a sofrerem. Estes precisam de luz para sintetizar o próprio alimento e, sem essa energia, isso não será possível. Desprovidos de luz, os produtores começarão a morrer e, consequentemente, os próximos níveis tróficos também serão afetados e provavelmente morrerão. Dessa forma, estabelece-se um quadro de poluição. Faça a valer a pena 1. A preocupação com o meio aquático é cada dia maior no nosso planeta. A alteração do equilíbrio de um ecossistema aquático constitui uma realidade muito comum nos rios, trazendo malefícios para esse ecossistema e, consequentemente, para todas as teias alimentares que ali sobrevivem. Uma das alterações que pode ocorrer no meio aquático é causada pela inserção de um poluente de procedência natural ou de um poluente que tem origem de processos naturais dos seres vivos que 37 o compõem. Mesmo de origem natural, a inserção desse poluente causará desequi- líbrio, apresentando malefícios às populações que vivem nesse meio, por exemplo, o processo de eutrofização. O parágrafo anterior refere-se a um fenômeno que ocorre nos meios aquáticos. Assinale a alternativa que o apresenta corretamente. a. Poluição. b. Eutrofização. c. Contaminação. d. Autodepuração. e. Bioacumulação. 2. Leia o trecho a seguir: A agricultura moderna é responsável pela descarga de grandes quantidades de agrotóxicos, matéria orgânica e sedimentos em corpos hídricos. Essa poluição afeta bilhões de pessoas e gera custos anuais da ordem de bilhões de dólares, diz o estudo. “A agricultura é o maior produtor de águas residuais, por volume, e o gado gera muito mais excre- mentos que os humanos. À medida que se intensificou o uso da terra, os países aumentaram enormemente o uso de pesticidas sintéticos, fertilizantes e outros insumos”, disseram Eduardo Mansur, diretor da divisão de terras e águas da FAO, e Claudia Sadoff, diretora-geral do instituto, na introdução do relatório. (EXAME, 2018, [s.p.]) O meio aquático é um sistema muito sensível a alterações que trazem prejuízos a ele, caracterizando uma poluição. Sobre as seguintes afirmativas, relacionadas ao meio aquático, julgue-as em (V), para verdadeiras, ou (F), para falsas. ( ) A água é um bem infinito e a capacidade de autodepuração aquática é responsável por garantir a recuperação de todos os rios. Assim, podemos afirmar que não existe a poluição desse meio. ( ) A cadeia alimentar aquática é composta por produtores (seres autotróficos), consumidores (heterotróficos) e decompositores (que decompõem a matéria orgânica morta). 38 ( ) A bioacumulação pode ser definida como um processo biológico no qual determi- nada substância é absorvida por um ser vivo. Já na biomagnificação, também consi- derada um processo biológico, a substância é absorvida progressivamente ao longo da cadeia alimentar. ( ) Se o poluente for classificado como não biodegradável, isso significa que ele não será facilmente catabolizado por um organismo, podendo passar para diversos níveis tróficos sem que suas concentrações diminuam. A seguir, assinale a alternativa que apresenta a ordem correta. a. F – F – V – F. b. V – V – F – F. c. F – F – F – V. d. F – V – V – V. e. V – V – V – V. 3. Leia o trecho a seguir: Buscamos essa comparação para ver como como os picos climáticos impactam na qualidade da água e no controle de poluentes. Existe uma percepção de que as chuvas aumentam a capacidade de autodepuração dos poluentes nos rios. Mas a gente tem notado que, nos últimos anos, as chuvas têm influenciado negativamente a qualidade da água em regiões urbanas, principalmente nas áreas metropolitanas, como São Paulo”, explica Malu Magalhães, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. (EXAME, 2016, [s.p.]) O processo de autodepuração é muito importante para entendermos o comporta- mento dos rios diante de fontes poluidoras. A respeito do processo de autodepuração dos corpos hídricos, assinale a alternativa correta. a. A autodepuração é o processo de tentativa de recuperação dos corpos d’água pela volta do equilíbrio deste meio e caracteriza-se, principalmente, pela constância da concentração dos seus parâmetros de qualidade, inclusive, do oxigênio dissolvido. b. A zona de águas limpas é a zona anterior à fonte poluidora, na qual há um equilíbrio do ecossistema. Contudo, chamamos também de zona de águas 39 limpas aquela que vem logo após a de recuperação, na qual o ecossistema se restabelece. c. A zona de decomposição ativa, ou degradação ativa, é a zona na qual há a maior desarmonia no processo. Além disso, esta é caracterizada pela oscilação dos níveis de oxigênio dissolvido e é considerada aquela na qual apenas pequenos peixes sobrevivem. d. A zona de degradação é a zona na qual a fonte poluidora lança seus dejetos. Nesta etapa apenas os microrganismos sobrevivem e, além disso, esta zona é marcada por menores índices de oxigênio dissolvido no processo de autode- puração. e. A zona de recuperação apresenta uma ordem estabelecida. Ela fica entre a zona de decomposição e decomposição ativa e é marcada pela total presença da fauna e flora do local, com o oxigênio dissolvido em níveis mais altos do que antes da poluição. 40 Seção 3 Poluição das águas Diálogo aberto Caro aluno, é comum analisarmos a água por meio de algumas caracte- rísticas, sendo possível afirmarse ela está ou não apta ao consumo. Em outras palavras, intuitivamente, ao observar um curso d’água e suas características, por exemplo, odor ou cor, conseguimos fazer uma pré-avaliação da sua quali- dade. Contudo, será que realmente este liquido está poluído? Na seção anterior, você foi apresentado a um conceito muito importante para a análise da qualidade da água: parâmetros. Estes podem ser definidos como fatores, indicadores ou substâncias presentes na água. Além, podem ser as caraterísticas químicas, físicas e biológicas, formadas por meio de processos que acontecem durante todo o percurso que a água faz, desde a nascente até seu consumidor final, sendo alteradas todas as vezes que algum evento (substância ou forma energética) é adicionado a este trajeto. Nesta seção, nosso foco de estudo estará justamente relacionado aos parâmetros. Estudaremos também as causas e consequências das poluições no meio aquático, pois, com isso, verificaremos a existência dessa poluição com propriedade. A cidade de Assú vem apresentando diversos problemas em relação ao saneamento básico. Em consequência do surto da doença infecciosa já vista, muitas pessoas estão se recusando a utilizar a água distribuída pela conces- sionária da cidade, boicotando o seu uso. Elas acreditam que a indústria de cerâmica é a grande responsável por deixar as pessoas doentes. Todavia, os parâmetros de qualidade da água foram divulgados pela concessionária e ela não apresenta nenhum deles fora do padrão de potabilidade, determi- nados pela Portaria 2914 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Diante desse problema, você deverá incluir na cartilha (elaborada na Seção 1.1) também: O motivo pelo qual a água da concessionaria não está poluída. A partir disso, você deverá justificar sua resposta com base nas legislações vigentes no país em relação aos principais parâmetros para a distribuição de água para abastecimento (divulgados pela concessionária), relacionando-a com o tipo de dejeto descartado pela indústria (que contém níveis aceitáveis de metais ferrosos e não ferrosos). A água da concessionária está apta ao consumo humano, no que diz respeito à ausência de coliformes totais (em 95% das amostras em 100 mL). 41 Dessa forma, você deve incluir na cartilha a importância da relação deste parâmetro de qualidade da água para consumo humano com a transmissão de doenças infecciosas. A partir dos conteúdos que serão aprendidos nesta seção, analisaremos, como engenheiros, todas as questões envolvendo não só a qualidade da água, mas também a cidade de Assú. Vamos iniciar os nossos estudos? Não pode faltar Os parâmetros de qualidade da água podem ser definidos como fatores, indicadores ou substâncias presentes na água, e se alcançam valores superiores aos estabelecidos para determinado uso, podem ser interpretados como um indício de poluição. Por sua vez, essa poluição implicará ou não na classificação de uma água como própria ou imprópria para o consumo humano. Contudo, vale ressaltar que, além da classificação para o consumo humano, temos ainda outras relacionadas aos recursos aquáticos de acordo com os seus usos. Por exemplo, não precisamos de uma água potável para o resfriamento de torres em uma indústria. Vocabulário • Água potável: apresenta os parâmetros de qualidade atendidos por lei, ou seja, é a água que atende ao padrão de qualidade determinado no local. • Água para consumo humano: refere-se àquela propriamente consumida pela população. É a água potável designada para a ingestão, preparação de alimentos e higiene das pessoas. • Água tratada: refere-se àquela que passou por algum tipo de tratamento com o objetivo de contemplar os padrões de potabi- lidade. A água passará por uma série de processos físicos e (ou) químicos a fim de atender a esses padrões, que serão discutidos na Unidade 3. Assim, é estabelecido pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) (BRASIL, 2005), na Resolução nº 357, todas as classificações das águas doces, salinas e salobras, de acordo com o seu uso, elencadas no Quadro 1.2. 42 Quadro 1.2 | Resumo da classificação das águas e seus usos permitidos Fonte: elaborado pela autora. Por meio do Quadro 1.2, podemos refletir sobre os usos das águas e seus “graus” de qualidade. Os usos mais exigentes são atividades como a proteção e preservação dos ecossistemas aquáticos, além do consumo humano, que demandam uma qualidade da água “maior” para a proteção do ecossistema e saúde da população. Já os menos exigentes, por exemplo, atividades de navegação e paisagismo, podem utilizar águas com menor qualidade, ou seja, “mais poluídas”. Dessa maneira, os padrões apresentarão limites dos parâme- tros diferentes para cada uma das classificações, de acordo com o grau de exigência do uso. Por exemplo, conforme a Resolução n° 357 (BRASIL, 2005), o oxigênio dissolvido das águas doces, classe 1, deve ter, no mínimo, 6 mg/L em qualquer amostra. Já para águas salobras, classe 3, deve ter, no mínimo, 3 mg/L. Pesquise mais Caro aluno, veremos alguns dos principais parâmetros de qualidade da água, porém temos diversos outros, que podem ser (e são) analisados na prática antes do uso de um corpo hídrico, de acordo com a sua neces- sidade e classificação. Faça seu login na nossa biblioteca virtual e leia as páginas 150-155 e 427-433 no seguinte livro: PHILIPPI JR, A. (org.). Saneamento, saúde e ambiente: fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, SP: Manole, 2005. Adentrando na questão dos padrões de qualidade da água, por exemplo, vimos, na Seção 1.1, que baixas concentrações de oxigênio dissolvido são um indicativo de poluição dos corpos hídricos, tornando o ambiente inabitável para seres aquáticos. O oxigênio dissolvido é apenas um desses parâmetros 43 de qualidade da água. Muitas vezes, são medidos por meio de análises de amostras coletadas em um laboratório, ou por sondas que fazem essa medição in loco. Além do oxigênio dissolvido, temos diversos outros indicativos, por exemplo, pH, temperatura, cor, turbidez, gosto e odor, fluoreto, coliformes totais, cianotoxinas, dureza, manganês, amônia, nitrito, nitrato, etc. Assimile Alguns dos parâmetros são utilizados em conjunto para a determinação do Índice de Qualidade das Águas (IQA), recomendado pela Agência Nacional de Águas e adotado por diversos estados brasileiros. O IQA leva em consideração uma média ponderada dos resultados de nove parâmetros de qualidade em uma amostra e nos apresenta uma ideia de avaliação. Para conhecer seu cálculo, acesse o site do Portal da Quali- dade das Águas e procure por Indicadores de Qualidade – Índice de Qualidade das Águas (IQA). A seguir, vejamos como funciona a medição de alguns dos parâmetros da qualidade da água: • pH: trata-se de um indicador químico que demonstra o potencial hidrogeniônico de uma água, ou seja, mede o quanto ácida ou alcalina ela é. O pH é medido de 0 a 14; o pH 7 é considerado neutro, abaixo deste número consideramos uma amostra ácida, enquanto que acima consideramos uma amostra alcalina. Além disso, vale acrecentar que o pH das águas doces de classe 1 devem ser de 6,0 a 9,0. • Temperatura: a temperatura de um corpo hídrico influencia direta- mente na dissolução de alguns gases. Nesse aspecto, a temperatura se torna um importante parâmetro da qualidade da água. O exemplo mais importante que podemos citar é a influência desta no oxigênio dissolvido: quanto maior a temperatura da água, menor a concen- tração de oxigênio dissolvido. Não há uma medida de temperatura a ser seguida nas leis vigentes no país, sendo necessário seu acompa- nhamento em conjunto com outros parâmetros. • Oxigênio dissolvido: é um dos principais parâmetros de qualidade da água, uma vez que o ecossistema aquático depende dele para a sua sobrevivência. Os animais aquáticos necessitam desse oxigênio para realizar a sua respiração. Além disso, vale apresentar que este oxigênio tem sua origema partir de dois processos básicos: fotossíntese das plantas aquáticas e aeração por meio de contato com o ar atmosférico. 44 Alguns processos físicos, químicos e biológicos interferem na concen- tração do oxigênio dissolvido no meio aquático. Por fim, quanto à sua medição, esta acontece em mg/L, sendo 2 a 5 mg/L sua concentração mínima para a manutenção do ecossistema aquático. • Turbidez: é uma medida de passagem da luz através do meio aquático. Na prática, isso significa que a turbidez pode ser uma medida indireta da quantidade de partículas em suspensão que determinada amostra apresenta, caracterizando-a como mais ou menos turva. Além disso, a turbidez é mensurada por uma unidade especifica chamada de unidades nefelométricas, ou seja, Unidades de Turbidez (UNT). Nota-se que quanto mais calmo, quanto menor a velocidade de escoa- mento da água, menores serão suas medidas de turbidez. O contrário também é válido: geralmente, quanto mais agitado um curso d’água, maior serão suas medidas de turbidez. Por fim, vale acrescentar que este parâmetro pode ser acrescido com o lançamento de esgotos durante o trajeto do curso d’água e, no que se refere à turbidez de águas doces, classe 1, esta deve ser de até 40 UNT. • Coliformes: como vimos na seção anterior, o meio aquático é composto por diversos organismos, entre eles estão os microrga- nismos. Os coliformes são utilizados para observar a presença dos microrganismos em uma amostra e são divididos em dois grupos principais: os coliformes totais e os termotolerantes. Aqueles englobam um grupo maior de bactérias que não necessariamente transmitem doenças, já estes são utilizados como indicadores da presença de bactérias patogênicas, pois elas vivem normalmente no trato intes- tinal de animais de sangue quente. Como elas não vivem muito tempo fora do intestino, sua presença indica uma infecção por fezes recente. Medidos de forma quantitativa, os coliformes totais e termotolerantes apresentam exigências diferentes para cada tipo de uso. Para água doce de distribuição após o tratamento, os totais devem estar ausentes em 100 mL de todas as amostras (nas estações de tratamento). Já para amostras colhidas na rede, ou em reservatórios, devem ser ausentes em 95% das amostras de 100 mL. • DBO e DQO: as chamadas Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e a Demanda Química de Oxigênio (DQO) são medidas que indicam indiretamente a presença de matéria orgânica na água. Se lembrarmos da Figura 1.7, na seção anterior, podemos ver que o meio aquático tem uma dinâmica energética em equilíbrio. Quando temos um lançamento de esgoto com presença de matéria orgânica em um corpo hídrico, esse equilíbrio é alterado pela tentativa de voltar ao 45 equilíbrio pelo consumo dessa matéria orgânica pelos organismos presentes (necessitando, além da MO, oxigênio dissolvido) – esse desequilíbrio caracteriza uma situação de poluição. As medidas de DBO e DQO funcionam como um indicativo deste tipo de poluição (presença exacerbada de MO). A DBO e DQO medem o quanto de oxigênio é necessário para uma estabilização da MO que a amostra contém, sendo, geralmente, medidos em mg/L. Assim, as medidas de DBO e DQO indicam a demanda de oxigênio dissolvido que o meio apresenta em relação a MO que está “sobrando”. Nesse contexto, vale acrescentar que a principal diferença entre DBO e DQO é o tipo de MO que será estabilizada. A DBO estará ligada à estabilização da MO por meio da ação dos microrganismos, enquanto que a DQO incluirá, além dos microrganismos, a estabilização promovida por reações químicas (por isso, o nome demanda bioquímica de oxigênio). A DBO será um valor sempre menor que o da DQO e leva ao todo um período de 5 dias e uma temperatura de 20°C para estabilizar. As águas doces de classe I devem ter a DBO (5 dias a 20°C) de até 3 mg/L. Reflita Como vimos, temos diversos parâmetros de qualidade da água sendo analisados e vários outros que estão surgindo ao longo dos anos, por meio do surgimento de novas tecnologias e novos poluentes. Nesse contexto, como os agrotóxicos podem se tornar parâmetros da quali- dade da água? Como podemos medi-lo em um corpo hídrico? Parâmetros da qualidade da água: panorama internacional e legislação brasileira No Brasil, chamamos de padrão de qualidade da água, ou padrão de potabilidade, aquele que tem os valores dos parâmetros analisados dentro do que é estabelecido pela lei vigente. Além disso, denominamos de padrão organoléptico a água que apresenta os valores dos parâmetros relacionados aos sentidos sensoriais (cor, odor e sabor) dentro dos limites da lei vigente. Diferentemente do padrão de potabilidade, o organoléptico pode apontar que determinada água está apta ao consumo, no entanto, nem sempre ele indicará que esta estará livre de riscos à saúde. Por exemplo: imagine uma amostra que apresente coliformes totais, contudo permanece aparentemente apta ao uso (límpida, sem cheiro ou sabor). Nesse exemplo a amostra tem padrões organolépticos atendidos, porém está fora dos de potabilidade. 46 No Brasil, a partir de 1977 foi promulgada a primeira legislação que tinha como objetivo elaborar normas e padrões necessários para determinar a potabilidade da água. Este foi o primeiro decreto em relação ao assunto e estabeleceu ao Ministério da Saúde a competência de elaborar normas e fiscalizar sua obediência no país. Atualmente, temos em vigência algumas normas que estabelecem os padrões de potabilidade. A mais importante delas é a antiga Portaria n° 2.914, de 2011, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011), referida pela PRC n° 5, de 28 de setembro de 2017, Anexo XX, que dispõe, entre outros aspectos, os “procedimentos de controle de vigilância da qualidade de consumo humano e seu padrão de potabilidade” (BRASIL, 2011). Além disso, temos a Resolução n° 357, do Conama (BRASIL, 2005), que estabelece “a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como as condições e os padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências”, e é muito importante para entendermos as classificações dos corpos hídricos em relação a classes e usos, como vimos anteriormente. Todas essas normas/resoluções do nosso país estão passando por mudanças, sendo revisadas para novas atualizações com o objetivo de englobar parâmetros que vêm surgindo ao longo do tempo. Fora do país, mais precisamente nos Estados Unidos, as normas são elaboradas por agências especializadas e, posteriormente, tornam-se vigentes no país. Os padrões de potabilidade dos Estados Unidos apresentam um rigor maior em relação aos limites dos parâmetros adotados no Brasil, fato que se torna um grande desafio em termo de tratamento de água para abastecimento. Já na União Europeia observamos uma norma diretiva a todos os países constituintes, devendo todos serem responsáveis pelo cumprimento desta dentro dos limites de seu lugar de origem. Nesse contexto, observa-se uma linha mais restritiva em relação à concentração máxima de alguns parâme- tros nas águas para consumo humano (podemos comparar alguns parâme- tros e seus limites máximos para cada país na Quadro 1.3). Para a União Europeia, há um cuidado especial para as águas de abastecimento, bem como para a inclusão de parâmetros considerados recentes na literatura, como os pesticidas, por exemplo, parâmetro este que não é mencionado na Portaria n° 2.914 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). 47 Quadro 1.3 | Concentrações máximas para alguns parâmetros químicos de padrões de potabi- lidade em diversos países Parâmetros Brasil (mg/L) Canadá (mg/L) Singapura (mg/L) Israel (mg/L) Chile (mg/L) U.E. (mg/L) Arsênio 0,033 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 Bário 1,00 1,00 0,7 0,001 - - Fluoreto 1,40 1,50 0,70 - - 1,50 Benzeno 0,005 0,005 0,003 0,005 - 0,001 Cromo 0,05 0,05 - 0,05 0,05 0,05 Cianeto 0,022 0,2 0,07 - - 0,05 Mercúrio 0,002 0,001 0,006 0,001 0,001 0,001 Fonte: adaptada de Quirino (2017, p. 1150). Reflita No Brasil,
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