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a bailarina e o mal entendido

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Moraes, M. PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual. In: Moraes, M. e 
Kastrup, V. Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa com pessoas com deficiência 
visual. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2010. 
___________________________________________________________________________ 
 
PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual 
 
Marcia Moraes 
 
PÁGINA 26 
 
 A bailarina e o mal entendido promissor 
 O filósofo Gilles Deleuze (1988) afirmava que os homens raramente exercitam o 
pensamento e quando o fazem, é mais sob um choque, um golpe, do que no elã de um gosto. Pois 
bem leitor, te digo, se tenho pensado algo, é assim, no golpe, no atrito, no embate com o mundo, 
com os outros, com o campo de pesquisa. É no estranhamento do encontro com o outro que um 
pensamento pode advir. O pensamento não se reduz à recognição, ao reconhecimento de si mesmo 
ou de alguma forma dada e definida de antemão, mas ao invés disso, o pensar envolve outras 
aventuras, encontros inusitados com o mundo. De minha parte, considero que a vida seria 
muitíssimo tediosa se o tempo todo estivéssemos às voltas com o já sabido, a encontrar no mundo 
apenas aquilo que nos é familiar, aquilo que, de algum modo, já estava em nosso pensamento. 
 Faço minhas as palavras do filósofo quando diz que “há no mundo alguma coisa que força a 
pensar. Este algo é o objeto de um encontro fundamental e não de uma recognição. O que pode ser 
encontrado pode ser Sócrates, o templo ou o demônio” (Deleuze, 1988, p.231). No caso que ora lhe 
apresento, o encontro foi com a deficiência visual, ou antes, com a multiplicidade de modos de 
existir da deficiência visual. Por isso, leitor, convido-te a percorrer essas linhas para que 
acompanhes os problemas que as agitam, para que faças as suas interpelações, para que sublinhes os 
limites, contrassensos e disparates que esse texto porventura faça existir. 
 No percurso da pesquisa de campo na área da deficiência visual
1
 fui, desde o início, tomada 
pelo problema de como intervir num certo cenário 
PÁGINA 27 
levando em conta o referencial do outro
2
. Explico-me: em um momento inicial da pesquisa, quando 
 
1
 Refiro-me ao Projeto de Pesquisa e Extensão Perceber sem Ver, por mim coordenado, cujo início ocorreu no ano de 
2003 e que continua em andamento até os dias de hoje. O projeto é financiado pela Faperj e pelo Cnpq. 
2
 Na literatura brasileira sobre deficiência visual destaco Masini (1994) e Belarmino (2004) que apontam para este 
mesmo problema, lançando mão de discussões bastante pertinentes nesta área. Remeto o leitor também aos textos de 
Kastrup; Pozzana; Tsallis et al. incluídos nesta coletânea. 
 
fazia observações participantes num grupo de jovens e crianças cegas e com baixa visão, vinculados 
a uma Oficina de Teatro, deparei-me com um tipo de intervenção que, centrada no referencial do 
vidente , fazia fracassar uma jovem menina cega congênita, que representaria o personagem de 
uma bailarina numa peça teatral, naquele momento, ainda em fase de ensaios. A menina não tinha 
os mesmos referenciais do que os videntes acerca de uma bailarina e de nada adiantavam as 
intervenções meramente verbais e visuocêntricas
3
 que lhe apontavam as ações de seu personagem: 
girar, levantar os braços, agir com leveza. Ela fazia os movimentos na medida em que ouvia o que 
lhe era dito, mas logo vinham outras observações: “o braço não deve ser levantado assim, cuide de 
encolher a barriga, não, não é assim que a bailarina gira, preste atenção nos pés, bailarina anda na 
ponta dos pés...” Ou seja, a bailarina assentada no referencial vidente não era incorporada pela 
jovem menina. E, para ela, importava que a sua bailarina fosse bonita para quem enxerga, afinal, na 
plateia do teatro haveria pessoas cegas, com baixa visão e videntes. E era ela mesma quem dizia: 
“ah, eu não quero pagar mico não, minha mãe vai me assistir e eu quero estar bem bonita no 
palco!!” Isso me parecia bastante pertinente, a menina não queria fazer a bailarina de qualquer jeito, 
ela queria que a bailarina fizesse sentido para ela e para os videntes. Note, leitor, para ela e os 
videntes – este “e” faz toda diferença. Do que se trata? 
 Bom, se seguirmos pela língua portuguesa, trata-se de uma conjunção aditiva, o “e” indica 
uma relação de soma, de inclusão. Não vou me estender pelos meandros desta nossa língua tão 
difícil – nem tenho competência para isso! - mas, o que interessa é que a bailarina que a menina 
queria encenar devia articular, reunir cegos e videntes. Era, portanto, uma bailarina que estava num 
espaço entre cegos e videntes. Logo, com este singelo 
PÁGINA 28 
“e” a menina afirmava que a bailarina assentada apenas nos referenciais dos videntes não incluía os 
cegos – não permitia, portanto que o “e” entrasse em ação. O que parecia estar ocorrendo, ao 
contrário, era a lógica do “ou”, isto é, enquanto a bailarina lhe era apresentada exclusivamente pelo 
referencial do vidente, a menina falhava, era ineficiente, deficiente: ou fazia a bailarina tal como 
um vidente a faria, ou fracassava. O “ou” é uma conjunção de exclusão, conjunção alternativa, 
separa, segrega. 
 Por que retomo este episódio
4
 ? Porque foi a partir de encontros como este que comecei a 
me perguntar pela possibilidade de uma psicologia cujas intervenções estivessem no espaço do “e”, 
isto é, interessava-me interferir naquele cenário, mas construindo uma relação aditiva, que se 
produzisse a partir da interseção, levando em conta o referencial do outro, tomando como positiva a 
 
3
 Sobre o visuocentrismo, como um modo de agir e conhecer centrado no sentido da visão, veja Belarmino, 2004. 
4
 Para mais detalhes sobre este caso, ver Moraes (2008, 2007). 
 
pista que a menina dava: uma intervenção que pudesse se fazer no espaço entre cegos e videntes e 
não dos videntes para os cegos. 
 Foi a partir desta, e de outras situações, que comecei a buscar, como Moser (2000), um 
outro ponto de partida, a partir do qual fosse possível interferir nas definições do que é o normal e 
do que é o humano, do que é eficiente e deficiente. Sim, leitor, não era nada óbvio, nem tampouco 
“natural”, menos ainda “uma questão de fato indiscutível” que aquela menina não era eficiente para 
encarnar uma bailarina. Na relação entre aquela menina, a personagem da bailarina, o que lhe era 
exigido encenar, havia uma distância, um lapso, um mal entendido: a bailarina que ela encenava 
aparecia aos outros, aos videntes e àqueles que tinham baixa visão, como um equívoco. Mas tal 
equívoco longe de ser algo essencial, natural, auto evidente, era alguma coisa que era ordenada 
naquele cenário, naquela articulação singular que reunia cegos, videntes, pessoas com baixa visão, 
um personagem em vias de ser encarnado, o palco, o roteiro da peça, a plateia. Era neste arranjo 
heterogêneo de coisas e pessoas que a menina fracassava. Ali, naquele arranjo a menina era 
deficiente. O mal entendido que este arranjo articulava fazia-se notar já que a menina, quando 
interpelada a fazer “direito” a bailarina, dizia não entender o que era este “fazer direi- 
PÁGINA 29 
to”. Neste ponto, uma pista se abria. O mal entendido em questão estava em consonância com 
aquilo que Despret (1999) denomina mal entendido promissor. Para a autora, o mal entendido 
promissor é aquele 
que produz novas versões disto que o outro pode fazer existir . O mal 
entendido promissor, em outros termos, é uma proposição que, da maneira 
pela qual ela se propõe, cria a ocasião para uma nova versão possível do 
acontecimento (Despret, 1999, p. 328-330). 
 O fato de que a menina “não entendesse o que era fazer direito a bailarina”, não é, pois, sem 
importância. Tratava-se de um acontecimento relevante na medida em que abria a possibilidade para 
que a menina fosse interpelada não comoum sujeito dócil, passivo às intervenções. Como Despret 
(2009) sinaliza, pesquisar com o outro implica tomá-lo não como “alvo” de nossas intervenções. 
Não se trata de tomar o outro como um ser respondente, um sujeito qualquer que responde às 
intervenções do pesquisador. Ao contrário, o mal entendido promissor anuncia novas versões do que 
o outro pode fazer, isto é, ele anuncia que o outro que interrogamos é um expert, ele pode fazer 
existir outras coisas, no caso, outros modos de ordenar a deficiência visual em articulação com a 
bailarina, com o palco, com plateia. O mal entendido é promissor justamente porque abre outras 
vias de realização para um fenômeno, abre, enfim, uma bifurcação, ali onde parecia haver uma certa 
ordenação estável de coisas. O que se abre, portanto, é uma instabilidade, a possibilidade de uma 
 
deriva, de uma variação. Era o que estava em questão no episódio. A menina, de algum modo, 
resistia às intervenções, interrogava: “como assim, a bailarina é leve?”, “o que é esta leveza?”, 
“ponta do pé?, como é andar na ponta dos pés?”, estas eram algumas das muitas questões que ela 
levantava e que colocavam em xeque aquele modo de intervir, do vidente para o cego. Ou seja, o 
que estava em ação naquele cenário era uma redistribuição de expertise, já que o saber sobre a 
bailarina não estava apenas do lado daquele que propunha as intervenções, mas também do lado 
daquela a quem tais intervenções eram dirigidas. A menina ao ser interpelada pelo outro, interpela 
este outro de volta. Indica, 
PÁGINA 30 
 com isso quais são as questões que lhe devem ser formuladas para que ela possa de fato, performar 
uma bailarina. Interessante notar que se tomamos o mal entendido promissor como uma 
positividade do dispositivo de intervenção, o que ele produz é uma redistribuição das capacidades 
de agir: no lugar da distribuição assimétrica que separa o pesquisador do pesquisado, entra em cena 
uma outra distribuição da capacidade de agir, isto é, aquele que é interpelado, torna-se ativo no 
sentido de participar ativamente do dispositivo de intervenção. Assim, o mal entendido promissor 
longe de ser um parasita no dispositivo de intervenção, é aquilo mesmo que o move, é aquilo que 
nos coloca diante do fato de que a experiência de interrogar o outro envolve um processo de 
transformação que não se passa apenas para o interrogado, senão também para aquele que interroga. 
 O episódio da bailarina me permite retomar algumas questões presentes no debate acerca 
dos modos de intervir que nós, pesquisadores, adotamos. De um lado, uma intervenção que se faz 
sobre o outro. Neste tipo de dispositivo, mantemos com o outro uma relação no registro da 
docilidade, da passividade, do controle, da “ortopedia” (Despret, 2004a, 2004b, 2009) . Neste 
dispositivo, como disse, a capacidade de agir está do lado do pesquisador, já que é ele, em última 
instância, quem sabe quais são os fins daquela intervenção. De outro lado, um dispositivo de 
intervenção que se faz com o outro na medida em que é construído em articulação com aquilo que 
interessa ao outro. O que importa sublinhar, no entanto, é que em ambos os casos a relação 
pesquisador / pesquisado implica um processo de transformação. O que diferencia um modo ou 
outro de lidar com esta transformação é o que ele inclui e faz valer como positivo, como realidade, e 
o que ele exclui como parasita, como erro a corrigir. No primeiro caso, a jovem deve se conformar 
a um modelo de bailarina que guia e norteia as intervenções e o que nisso não se encaixa, deve ser 
descartado. No segundo caso, a menina é ativa, ela constrói junto com o outro a bailarina, ela dá 
pistas daquilo que pode vir a ser uma bailarina que seja construída no espaço do “e”, no espaço que 
está entre cegos e videntes. 
 A história da bailarina – e outras tantas – exigia que, como pesquisadora, eu buscasse táticas 
 
e arranjos teórico-práticos que problematizassem certas distribuições de eficiência e deficiência. O 
que quero dizer com “distribuições de eficiência e deficiência”? Quero dizer, leitor, que 
PÁGINA 31 
eficiência e deficiência não são duas realidades dadas em si mesmas, já delimitadas de antemão. Ser 
deficiente não é algo que uma pessoa é, em si mesma. Mas algo que ela se torna, quando articulada 
em certas práticas. Logo, do ponto de vista que adoto neste texto, carece de sentido falar de 
deficiência longe das práticas nas quais ela é produzida e articulada. No episódio da bailarina, o que 
ocorria era que, naquele tipo de prática, ela era feita deficiente, não eficiente para encarnar aquele 
personagem que lhe era designado. Poderia ser diferente? Sim, poderia. Como reencenar esta 
distribuição da eficiência e da deficiência? Como interferir para subverter o que conta como 
eficiência, como normalidade? Onde, e de que modo, a deficiência é produzida, colocada em ação? 
Estas são as questões que orientam a escrita deste artigo. 
 Penso que a esta altura, você leitor, estará a se perguntar: “que diabos queres dizer com 
'distribuição da eficiência e da deficiência'? Uma pessoa deficiente é uma pessoa deficiente, não? E 
distribuição: o que é isso? Conheço distribuição de doces em dia de Cosme e Damião, com carros 
pelas ruas, crianças correndo, alegres, dentes à mostra, mãozinhas cheinhas de balas e outras 
gulodices; distribuição de renda, coisa complicada em nosso país, apesar de nosso atual líder andar 
por aí a dizer 'que nunca antes neste país...'; distribuição de senhas, chatice em tudo o que é banco; 
mas distribuição de eficiência e deficiência...o que tudo isso significa, afinal?” 
 Querido leitor, quantas perguntas! Noto que exiges que eu caminhe passo a passo, cobras 
explicações cuidadosas, cautelosas. Concordo contigo: a viagem deve ser mais lenta, a fim de 
termos tempo para construímos juntos algo a ser por nós partilhado. 
 Do realismo euro-americano à guinada prática: a política ontológica 
 A fim de dar conta das questões que levantei no item anterior, faz-se necessário avançar um 
pouco mais nas reflexões acerca dos modos de intervir e pesquisar. Law (2003, 2004) aponta que os 
métodos de pesquisa em ciências - tanto humanas quanto naturais - têm sido fortemente 
 
PÁGINA 32 
marcados por um certo realismo, que o autor denomina de “realismo euro-americano”. Trata-se, 
com esta expressão, de sublinhar alguns princípios gerais que orientam e embasam certos modos de 
pesquisar. Seguramente, Law (2003) pretende indicar modos de pesquisar e de lidar com o tema do 
conhecimento que se afastam de tal realismo. No entanto, quando aponta para as suposições que 
neste último subjazem, o autor sublinha também os pressupostos que se fazem notar tanto em nossa 
vida cotidiana, quanto em muitos métodos, projetos e relatos de pesquisa. Se o autor delimita 
 
algumas pressuposições deste realismo, é para colocar em questão o que conta ou não como 
realidade. E é justamente este ponto que me interessa na argumentação de Law (2003, 2004), 
porque, note leitor, o que este autor sublinha é que o que conta ou não como realidade é variável, 
não está dado de antemão. Trata-se, em suma, de um enfoque que aposta numa concepção de 
realidade que é construída em certas práticas. Assim, ao descrever as pressuposições do realismo 
euro-americano, Law (2003) vai sinalizar que tais pressuposições constroem “uma certa” realidade, 
mas não “a” realidade. 
 De um modo geral, o realismo euro-americano tem como eixo principal a concepção de que 
há uma realidade lá fora, independente de nós e de nossas ações. A esta suposição geral, 
acrescentam-se outras, como decorrência: 
a) a realidade lá fora é anterior à nós, isto é, o real sempre precede a qualquer tentativa de 
conhecê-lo; 
b) o real é preciso, delimitado e definido; 
c) a realidade lá fora é uma só, única. Uma só realidade, passível de ser conhecida de muitas 
perspectivas. Estas diferentes perspectivas são,isso é importante, diferentes modos de 
conhecer algo que é único. O mundo lá fora permanece o mesmo, a despeito de ser 
conhecido de muitos modos. 
 Assim, para o realismo euro-americano há a possibilidade de que o real seja conhecido, 
plenamente conhecido, por um sujeito do conhecimento asséptico, capaz de abordar o real, sem nele 
se misturar, garantindo, ao contrário, que o resultado do seu conhecimento será preciso, delimitado, 
PÁGINA 33 
 definido, independente e anterior à qualquer intervenção. Law (2003, 2004) afirma que os métodos 
de pesquisa em ciências sociais, estão, em geral, comprometidos senão com todo o pacote do 
realismo euro-americano, pelo menos, com partes dele. 
 Pois é justamente neste ponto que Law (2003, 2004) pretende fazer diferença e é por isso 
que o trabalho do autor me interessa. A questão que ele levanta é: o que fazemos quando em nossas 
práticas de pesquisa lidamos com realidades que são múltiplas, heterogêneas, fugidias, complexas? 
Como lidamos– metodologicamente – com o que é fugidio, híbrido, isto é, com aquilo que não se 
encaixa com o realismo euro-americano
5
 ? 
 O que está em jogo? A questão levantada por Law (2003) aponta para o fato de que quando 
o conhecimento está centrado nos limites do realismo euro-americano, aquilo que no campo de 
 
5
 Neste ponto é importante considerar que as argumentações de Law não seriam possíveis sem a contribuição de 
autores como Latour (1987, 1994, 1997, 2001, 2002a, 2002b, 2002c) e Foucault (1984, 2000), os quais, cada um a 
seu modo, problematizam e colocam em xeque isso que se definiu como realismo euro-americano. 
 
pesquisa aparece como fugidio é alterizado, é tornado outro por relação ao que se espera do objeto: 
que ele seja claro, definido, independente. Ora, dito de outro modo, é o pacote do realismo euro-
americano que faz partes da realidade aparecerem como confusas. Mas há nisso algo mais – e de 
suma importância. É que isso que aparece como confuso é permanentemente excluído do campo de 
pesquisa: seja porque é atribuído a uma falha no conhecer – isto é, há algo que é híbrido, mas que 
não é conhecido por uma falha técnica, porque o método não o alcança-, seja porque o que é híbrido 
está no lugar do erro a ser controlado, domesticado com o refinamento do método. Assim, Law 
(2003) salienta que quando assumimos o pacote do realismo euro-americano, estamos implicados 
numa política que sistematicamente exclui aquilo que escapa aos seus quadros de referência. 
 Tais discussões sobre método estão intimamente ligadas a formas muito distintas de lidar 
com as questões da presença, ausência e alterização. Presença diz respeito ao que comparece em 
nossos relatos de pesquisa. Ausência é aquilo que mesmo não estando de fato presente, é um pano 
de fundo, uma co-presença. E alteridade ou alterização é o que é tornado outro, excluído, deixado 
de fora. O manejo da presença, da ausência e da 
PÁGINA 34 
alterização faz toda a diferença. O que deixamos de fora dos nossos relatos? Por que o fazemos? O 
que incluímos? Por que incluímos em nossos textos estes e não aqueles outros relatos? Para Law 
(2004) tais perguntas são capitais nos debates sobre método. 
 Mas nesse ponto uma advertência se faz necessária: isto não é uma reclamação, uma queixa. 
Aquilo que conhecemos é relacionado com, dependente de e produzido com o que não conhecemos. 
Falar em método de pesquisa é, para Law (2003, 2004), implicar-se numa articulação de presença, 
ausência e alterização. O problema está quando se pretende que tudo pode se tornar presente e 
conhecido. Porque nesse caso, supõe-se, de um lado, a possibilidade de um sujeito do conhecimento 
que pode tudo ver, tudo saber, tudo conhecer. E de outro lado, uma realidade que um dia será 
totalmente conhecida. Estas duas suposições correlatas estão embutidas no pacote do realismo euro-
americano, que Law (2003, 2004) quer subverter. 
 Disso o autor retira algumas conclusões: 
a) no realismo euro-americano o processo de articular presença, ausência, alterização é sempre 
reprimido, numa política de sistemática exclusão. 
b) se o conhecer lida com uma realidade que existe lá fora, dada de antemão, então o caráter 
produtivo de nossas práticas também desaparece. Isto é, no realismo euro-americano o conhecer é 
um processo desinteressado que em nada contribui para a construção da realidade. Mas, se 
atentamos para o método como um processo que articula presença, ausência e alterização, diz 
Law(2003), há nisso uma performatividade, uma produtividade. Nossas práticas são performativas. 
 
c) logo, como consequência do que foi dito nos itens anteriores, podemos perguntar se as realidades 
são construídas, são feitas, então, que realidades estão sendo feitas em nossas práticas de pesquisa? 
Fique atento, leitor, porque esta é uma questão eminentemente política. 
PÁGINA 35 
 Este é um ponto de virada importantíssimo que marca os trabalhos de Law (1997, 1999, 
2003, 2004), Moser (2000), Mol (2002, 1999) entre outros autores. As práticas são performativas, 
isto é, fazem existir realidades que não estavam dadas antes e que não existem em nenhum outro 
lugar senão nestas e por estas práticas. Aqui há uma guinada, uma virada sinalizada por outros 
autores como uma virada para a prática
6
. O que está em jogo é colocar as práticas em primeiro 
plano, entendendo que 
a prática designa as ciências 'se fazendo', ela engloba o ajuste de 
instrumentos, a escritura de artigos, as relações de cada praticante com os 
colegas, mas também com tudo isto que e todos aqueles que contam ou 
poderiam contar em sua paisagem. Nada está pronto. Tudo está por negociar, 
por ajustar, alinhar e o termo prática designa a maneira pela qual tais 
negociações, ajustes, alinhamentos constringem e especificam as atividades 
individuais sem por isso determiná-las (Stengers, 2006, p. 62-3). 
 
 Ora, o que Stengers sinaliza é que nada está pronto, a realidade é construída, é performada 
nas e pelas práticas. Há uma subversão do realismo euro-americano. Não há uma realidade lá fora, 
dada. O que conta ou não como realidade é produzido, feito. Ou antes, o que está sendo afirmado é 
que o próprio realismo euro-americano é construído, performado em certas práticas de pesquisa, e 
outras práticas cotidianas, que o fazem existir dia após dia, momento após momento. O termo em 
inglês para indicar este caráter performativo das práticas é enact, termo que aponta para dois 
sentidos distintos: como encenar, representar um papel; e como fazer existir, promulgar, fazer, no 
sentido, por exemplo quando dizemos que “o 
PÁGINA 36 
congresso nacional promulgou (fez existir) uma nova lei”
7
. Nas palavras de Mol: “É possível dizer 
que nas práticas os objetos são feitos [enacted] (...) isto sugere também que em ato, e apenas aqui e 
acolá, alguma coisa é – sendo feita [being enacted]” (Mol, 2002, p32-33). Então, quando Law 
(2003, 2004), Mol (2002) e outros autores sublinham o caráter performativo das práticas é para 
 
6
 Stengers comenta sobre a guinada prática: “Após a virada linguística fala-se hoje na América da virada prática (...) 
trata-se destacadamente de deixar de lado a relação polêmica organizada em torno das vinhetas epistemológicas 
confrontando fatos prontos e as teorias”. Stengers, 2006, p. 61 
7 Ver: http://dictionary.reference.com/browse/enact 
http://dictionary.reference.com/browse/enact
 
marcar que a realidade é feita, não está dada. E mais do que isso, o que tais autores colocam em 
cena com esta subversão do realismo euro-americano é que há uma dimensão política em tal 
subversão. Se dissemos que a realidade é construída, imediatamente outra questão se faz pertinente: 
que realidade? Há aí uma implicação recíproca entre o real e o político: uma política ontológica. 
 Política ontológica é uma expressão utilizadapor Mol (1999) e por Law (2003). Nas 
palavras de Mol: 
a combinação dos termos ontologia e política sugere-nos que as condições 
de possibilidade não são dadas à partida. Que a realidade não precede as 
práticas banais nas quais interagimos com ela, antes sendo modelada por 
estas práticas. O termo política, portanto, permite sublinhar este modo ativo, 
este processo de modelação, bem como o seu caráter aberto e contestado 
(Mol, 1999, p. 2). 
 
 A realidade é, portanto, feita, construída em práticas situadas histórica, cultural e 
materialmente. Assim, sublinha Mol, melhor seria falar em ontologias, no plural, para marcar que as 
realidades são múltiplas. Não são plurais, são múltiplas. Não é que existam muitas formas de lidar e 
de falar sobre a realidade – porque neste caso, haveria, como dissemos acima, uma única realidade, 
perspectivada diferentemente. Falar de multiplicidade, implica para Mol, um outro conjunto de 
metáforas. É preciso falar em intervenção e fazer existir (enact). Estas duas metáforas permitem 
falar de uma realidade que é feita e não observada de longe. 
 
 
PÁGINA 37 
 
Permitem ainda falar de intervenção, interferência naquilo que Law indicou quando mencionou o 
manejo da presença, da ausência e da alterização. Se interferimos no mundo em que vivemos é para 
subverter o que conta como presença e o que é alterizado, tornado Outro. A intervenção nos coloca 
diante do fato de que nossas práticas não são neutras, elas são vetores que produzem realidades. 
 
Da cegueira como déficit à multiplicidade das cegueiras 
 O que tudo isso tem a ver com as pesquisas que realizo no campo da deficiência visual? 
Bom, leitor, como se diz no populacho, tem tudo a ver. Nas primeiras linhas deste texto, eu 
interrogava a possibilidade de subverter um certo ordenamento que faz existir a deficiência como 
falta, como fracasso, como ineficiência. Onde esta realidade da deficiência como fracasso é 
 
produzida? Em que arranjos materiais ela é feita? No caso da bailarina, vimos que uma intervenção 
dirigida dos videntes para os cegos produzia a deficiência como ineficiência, ou com outras 
palavras, as singularidades, os interesses da menina no fazer a bailarina eram alterizados, deixados 
de lado, corrigidos. 
 Tal concepção de deficiência como déficit é feita em diversas outras práticas cotidianas, em 
relatos de pesquisa, em publicações sobre deficiência visual. A fim de seguirmos algumas destas 
práticas, destaco o livro de Carroll (1968), intitulado Cegueira. Analisando o sumário, vemos que o 
autor define a cegueira através de 20 perdas agrupadas em 6 blocos: perdas básicas em relação à 
segurança, perdas nas habilidades básicas, perdas na comunicação, perdas na apreciação, perdas 
relacionadas à ocupação e à situação financeira, perdas que implicam a personalidade como um 
todo. A segunda parte do livro é dedicada a indicar os modos de reabilitar e restaurar as perdas 
vividas pelos cegos. E sobre esta reabilitação da pessoa que adquiriu a cegueira, o autor afirma que 
“a esperança de funcionamento normal como ser humano, deve substituir a esperança de visão 
normal e a pessoa que ficou cega deverá ser auxiliada a recuperar as habilidades primárias” 
(Carroll, 1968, p.84). O que me interessa destacar 
PÁGINA 38 
com a citação deste texto é que nele é colocada em ação uma concepção de cegueira que retoma 
alguns pontos do pacote do realismo euro-americano. Porque nele a cegueira: 
a) tem contornos bem definidos, delimitados através de 20 perdas; 
b) está atrelada a uma estratégia de intervenção pautada em princípios de reabilitação e restauração, 
tomando como norte o “funcionamento normal como ser humano”(Caroll, 1968, p,84). 
 Que realidade é produzida aí? Uma realidade da cegueira como algo dado, marcado pela 
perda de uma função sensorial e que convoca a uma prática restauradora, orientada por uma 
ambição de reconduzir a pessoa cega a uma normalidade perdida. Ora, leitor, parece-me que este 
discurso nos conduz a um tipo de prática de intervenção no cenário da deficiência visual que retoma 
aquela assimetria de que lhe falava no início do texto. Isto é, aquele que intervem para restaurar as 
perdas que marcam a cegueira, está no lugar de quem detém o saber sobre o outro, sobre a pessoa 
com deficiência visual. Numa intervenção assim ordenada, acaba-se por produzir uma distribuição 
assimétrica de eficiência e deficiência, isto é, aquele que intervem, o faz em nome da eficiência a 
ser alcançada; aquele que é “alvo” da intervenção aparece como alguém a quem falta eficiência. 
 Moser (2000) indica que as práticas de reabilitação das pessoas com deficiência são, muitas 
vezes, orientadas por um princípio de normalização, por uma ambição de restituir às pessoas com 
deficiência, a normalidade perdida. Orientadas por este parâmetro ideal de normalidade, as práticas 
de reabilitação, inseridas no discurso da inclusão, não cessam de produzir, paradoxalmente, 
 
exclusão, marginalização e subalternização das pessoas com deficiência. “Medidas contra esta 
norma, as pessoas com deficiência serão sempre constituídas como Outro, como deficiente e 
dependente; elas nunca serão eficientes para qualificar-se como pessoas eficientes e competentes” 
(Moser, 2000, p.201). 
 Não se trata com isso de dizer que a reabilitação é nociva ou que toda reabilitação deve ser 
descartada. Trata-se sim de indicar que em certas 
PÁGINA 39 
práticas orientadas pela ambição de fazer a pessoa com deficiência retornar à norma
8
, aí, nestas 
práticas, a deficiência é alterizada, é produzida como Outro – no sentido também sublinhado por 
Law (2003) – frente a uma normalidade a ser alcançada. Nestas práticas, a deficiência é portanto 
feita, ordenada, como ineficiência, como falta, déficit. Resgato uma frase que está no início deste 
texto e que diz que a deficiência não é algo que uma pessoa é, nela mesma, mas algo em que ela se 
torna. Se colocamos as práticas em primeiro plano, é possível seguir os múltiplos arranjos que 
fazem existir as cegueiras. Entendendo, leitor, que tal afirmação é ontológica, isto é, as cegueiras 
não existem em nenhum outro lugar senão em tais práticas, as cegueiras são feitas, dia após dia, 
hora após hora, em cada arranjo, em cada ordenamento que reúne coisas, pessoas, bengalas, 
tecnologias assistivas, políticas públicas. Insisto que não se trata de dizer que as cegueiras são 
plurais. Porque dizer que são plurais é considerar ainda uma realidade feita de pequenas unidades 
separadas, discretas. O que é afirmado, ao contrário, é a multiplicidade das cegueiras. Por que 
multiplicidade? Porque tais modos de ordenar, de articular as cegueiras, se conectam, ora 
sobrepondo-se um ao outro, ora entrando em tensão, ora se coordenando e se conjugando. 
 Para esclarecer o que quero dizer, sigo as conexões do texto de Carroll (1968) e noto que ele 
é base para outro texto, o Programa de Capacitação de Recursos do Ensino Fundamental: 
deficiência visual, documento publicado pelo Ministério da Educação/Secretaria de Educação 
Especial ( MEC/SEE, Brasil, 2001), este último, referência necessária no campo da edu- 
PÁGINA 40 
cação e da reabilitação da pessoa com deficiência visual no Brasil. Ora, o texto de Carroll (1968) 
não é “apenas um texto”. É uma materialidade que produz efeitos, conecta-se, articula-se com 
outros textos, com outras práticas, produz enfim, uma certa realidade da cegueira . Isto é, se 
 
8
 Martins (2006) retoma Foucault (1984) para traçar a história destas práticas de reabilitação em suas articulações com 
a hegemonia da normalidade que, desde o século XVIII, marca as apreensões socioculturais da cegueira como 
deficiência visual. Neste sentido, o autor afirma que a partir do século XVIII “identifica-se o nascimento de um 
investimento na cegueira marcado claramente pelos discursos e práticas da medicina, vocacionadoa negligenciar as 
condições sociais mais amplas da vivência da cegueira e a privilegiar os discursos de profissionais em detrimento da 
reflexividade das pessoas cegas. Estamos perante uma lógica médica que funda um investimento de saberes sobre a 
cegueira que, na impossibilidade da cura, propõe a reabilitação e, na impossibilidade da adesão à norma, propõe a 
possível supressão do desvio, com a perene subalternidade que daí advém”. (Martins, 2006, p. 85) 
 
seguimos as conexões do texto citado, vemos que ele é articulado a outras práticas, a outros 
cenários e que, por esta via, ele, de algum modo, concorre para estender a concepção de cegueira 
como déficit. A cegueira performada no texto de Caroll (1968) não vem sozinha: ela traz consigo 
modos e modulações de outros objetos e práticas. É justamente aí que se coloca a questão: há uma 
multiplicidade marcada por pontos de conexões, por articulações que alargam, ampliam uma certa 
concepção de cegueira . Sem dúvida, tais deslocamentos – traduções, como Latour (2001) os 
denomina – implicam derivas, traições, desvios. As conexões do texto de Carroll (1968) com o 
documento citado acima, publicado em 2001 pelo MEC/SEE, implicam desvios. Sublinhamos dois 
importantes deslocamentos que se fazem notar nas articulações entre estes dois textos. O primeiro 
diz respeito à própria concepção de cegueira. 
 No trabalho de Carroll (1968), a concepção de cegueira está diretamente atrelada a um 
discurso biomédico que a circunscreve ao corpo biológico e à falta da visão. Tudo o mais que 
caracteriza a cegueira é, em última instância, causado por esta marca corporal, ou seja, é um corpo 
“defeituoso” que produz todos os efeitos que o texto mapeia: perda da autoestima, perda da 
mobilidade, etc. Já no trabalho produzido pelo MEC/SEE, à esta concepção biomédica de cegueira, 
é acrescida outra, social, que se faz notar em certas passagens do texto, como por exemplo, quando 
se afirma, a respeito das atividades de Educação Física com pessoas com deficiência visual, que: 
 
podemos querer enquadrar as pessoa em padrões de movimento, mas esse 
objetivo, uma vez alcançado, reduzirá o papel da Educação Física frente ao 
projeto pedagógico que busca a formação do homem, sua autenticidade, 
originalidade, independência, flexibilidade e maneira particular de ser e 
estar no mundo .... cabe dar conta do homem intergral (Brasil, 2001, p.160). 
 
PÁGINA 41 
 E mais adiante: 
... as atividades propostas não devem ser desenvolvidas como treinamento 
ou mera instrução. Devem contemplar o nível de desenvolvimento, a 
liberdade de ação autoiniciada, privilegiando o movimento criativo. Dessa 
forma, elas favorecerão as descobertas e as oportunidades de integração 
social (Brasil, 2001,p.164). 
 Assim, ainda que tomando como base o texto de Carroll (1968), o documento de 2001 
produz um importante deslocamento da concepção de cegueira, fazendo-a existir numa versão 
biopsicossocial. É precisamente por isso que, num segundo deslocamento em relação ao texto de 
 
Carroll, este documento inclui as narrativas das pessoas com deficiência visual, o que aponta para 
um modo de ordenar a questão da deficiência visual levando em conta a participação e a 
reflexividade das pessoas que não enxergam. Neste ponto, parece-me que este texto abre a 
possibilidade de que a eficiência e a deficiência sejam diferentemente ordenadas e distribuídas já 
que há mais atores em cena: o contexto social, as ações autoiniciadas, a criatividade, as narrativas 
das pessoas cegas e com baixa visão, são atores importantes nesta novo ordenamento da deficiência 
visual. E, mais uma vez, insisto, leitor, que este documento de 2001 é um texto de base para as 
práticas de reabilitação com pessoas com deficiência visual. Então, nesse texto, a deficiência já não 
é mais circunscrita ao corpo individual, mas é ampliada, envolve outros agentes, outros atores. 
 No volume que está em suas mãos, você, leitor, encontrará diversos textos que fazem 
proliferar outras cegueiras, longe da concepção que a reduz a um deficit ou falta. O que pulsa nos 
trabalhos que estão neste livro é a afirmação da multiplicidade das cegueiras, a potência inventiva 
das variações dos modos de existir sem ver. O que move as pesquisas realizadas pelos autores que 
se reúnem nesta coletânea é afirmar a possibilidade de intervir no cenário da deficiência visual para 
subverter o pacote do realismo euro-americano, propondo dispositivos de intervenção que 
redistribuam eficiência e deficiência de modo mais simétrico. Intervenções que nos ativem a todos, 
que tome as pessoas cegas como experts, como 
PÁGINA 42 
parceiras na construção do conhecimento. Trata-se de afirmar a pesquisa como uma prática 
performativa que se faz com o outro e não sobre o outro. A expressão “PesquisarCOM”
9
 tem a 
dimensão de um verbo mais do que de um substantivo. Indica que para sabermos o que é cegar é 
preciso acompanharmos este processo em ação, se fazendo, na prática cotidiana daquelas pessoas 
que o vivenciam. O pesquisar com o outro implica uma concepção de pesquisa que é engajada, 
situada. Pesquisar é engajar-se no jogo da política ontológica. Que realidades produzimos com 
nossas pesquisas? 
 Seguir os modos de ordenar a deficiência visual, acompanhar as versões de deficiência que 
são feitas (enacted) cotidianamente, seguir as pistas que tais versões abrem, trilhar pelas 
bifurcações, pelas variações, eis alguns dos pontos que norteiam o pesquisar com o outro e não 
sobre o outro. Interpelar o outro não como sujeito dócil, como um sujeito qualquer, mas antes, como 
um expert, como alguém que pode conosco formular as questões que interessam no campo da 
deficiência visual. Criar dispositivos de intervenção que ativem os outros, que nos engaje a todos 
num processo de transformação. Engajar-se na política ontológica é também tomar uma posição 
 
9
 Cf também Moraes, 2008; Alvarez e Passos, 2009; Pozzana e Kastrup, 2009. 
 
epistemológica, porque se trata de afirmar um conhecer situado, performativo, não neutro. Como 
subverter a concepção de deficiência como falta? Pelo que dissemos aqui, o que está em jogo não é 
o inconformismo. A subversão, a resistência se faz nas práticas: justamente ali onde são tecidas, 
encenadas as múltiplas concepções de deficiência. Se a realidade não está dada, se não há uma 
realidade da cegueira, única, dada, “lá fora”, onde e como poderia ser diferente? Os textos 
reunidos neste volume procuram tecer outras versões de deficiência. E ainda, nas conexões que este 
livro fará com outros livros, com outras práticas. Fazer existir a variação é uma questão política, 
uma questão de política ontológica. Em que mundo queremos viver? Que realidades queremos 
produzir? Fazer existir a diferença, a multiplicidade, neste momento usando computador, internet, 
papéis, textos, é um modo de resistir à normalização, aos processos que fazem existir a deficiência 
como falta. 
PÁGINA 43 
Política ontológica e deficiência visual: por um outro mundo comum 
 No campo da política ontológica da deficiência, em particular da deficiência visual, não 
podemos deixar de reconhecer o importante papel que os Estudos sobre Deficiência (Disability 
Studies) (Oliver, 1996) desempenharam a partir dos anos 70 do século XX
10
. Trata-se de um 
movimento social, político e intelectual que ocorreu primeiramente nos países de língua inglesa e 
que consistiu numa insurgência das pessoas com deficiência contra qualquer concepção 
individualizante e biologizante da deficiência. A concepção de deficiência proposta por este 
movimento é a de um modelo social, isto é, a deficiência longe de ser uma falta ou uma falha 
corporal, é o efeito de uma opressão social, de uma sociedade excludente. O que se vê, no século 
XX, é uma passagem de uma sintaxe biomédica, para outra, de viés político-emancipatório: a 
deficiênciapassa a ser tematizada no campo dos direitos humanos. 
 Esse deslocamento de uma concepção de deficiência para outra se faz notar na articulação 
entre as publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito do tema e o movimento 
dos Estudos sobre Deficiência. A OMS publicou, nos anos 80 do século XX, um documento 
intitulado International Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps (ICIDH), que 
foi revisto com a publicação, em 2001, de outro texto sobre o assunto, o International Classification 
of Functioning, Disability and Health (ICF)
11
. Que mudanças existem entre um documento e outro? 
E que relevância isso tem para o que discutimos nesse texto? 
 O ICIDH, de 1980, estabelece uma relação de causalidade entre as perdas ou anormalidades 
 
10
 Cf. o capítulo de Bruno Sena Martins. 
11
 Para a argumentação que se segue foi fundamental a leitura de Diniz, Medeiros e Squinca (2007) e Farias e 
Buchalla (2005. 
 
corporais (impairments), as restrições de habilidades provocadas pelas lesões (disabilities) e as 
desvantagens sociais que daí resultam (handicaps). Assim, leitor, para resumir, conforme este 
documento a deficiência seria entendida no seguinte esquema: 
 anormalidades corporais (impairment) ⇛ restrições de habilidades (disability) ⇛ 
desvantagem social (handicap). 
PÁGINA 44 
 Ora, o que está dito no esquema acima é que um corpo com lesões tem restrições de 
habilidades que levam a desvantagens sociais. Mas, observe, leitor, o que move esta cadeia causal é 
o corpo com lesão. Neste enfoque, portanto, a deficiência está situada no corpo, marcado pela lesão 
ou pela anormalidade. Este é o ponto de origem da deficiência, o que causa, em última instância as 
disabilidades e as desvantagens sociais. Os Estudos sobre Deficiência (Oliver, 1996) se insurgem 
precisamente contra esta concepção de deficiência e contra a lógica causal que ela coloca em ação: 
na perspectiva de tais estudos, as desvantagens sociais não são causadas pelas lesões corporais, mas 
antes, por uma opressão social dirigida às pessoas com deficiência. É importante sinalizar que tais 
documentos da OMS visam construir uma linguagem universal no que toca ao tema em questão, 
permitindo, por exemplo, a comparação entre dados de diferentes países, criando um solo comum 
para a concessão de benefícios, para o organização de serviços de saúde e cuidado. Assim, a 
revisão da concepção de deficiência presente no ICF é fundamental porque desnaturaliza e politiza a 
questão. Sem dúvida, como indicam Diniz, Medeiros e Squinca (2007), o ICF é um dos efeitos da 
força política dos Estudos sobre Deficiência: com a revisão do documento da OMS, passou-se de 
uma classificação que tinha por base os corpos com lesões, para uma concepção onde o que está 
em jogo é a relação entre o individuo e a sociedade. Assim, a deficiência deixa de estar atrelada a 
uma tragédia individual que se inscreve no corpo, para ser um efeito das relações entre o individuo 
e o seu ambiente social. No enfoque do modelo social, o ICIDH despolitizava a deficiência porque a 
reduzia, no final das contas, ao corpo, ao biológico. As desvantagens sociais, tinham, no documento 
de 1980, um papel secundário. Assim, no documento de 2001 a revisão de termos ganha relevância 
política porque o que está em jogo é refazer as condições a partir das quais a deficiência é feita, é 
produzida como realidade. Não mais uma realidade estritamente biológica, mas antes de tudo, uma 
realidade complexa, em que o biológico e o social interagem. Diniz, Medeiros e Squinca (2007) 
salientam que no novo vocabulário proposto, deficiência
12
 (disability) passa a ser 
 
12
 A tradução destes termos para o português é controvertida. Farias e Buchalla (2005) apresentam uma definição de 
termos distinta daquela proposta por Diniz, Medeiros e Squinca (2007). Estes últimos autores criticam a tradução do 
ICF para o português, coordenada por Buchalla, na opção que se fez por traduzir disability por incapacidade. Para 
 
PÁGINA 45 
um conceito guarda-chuva porque reúne as lesões corporais, as limitações de atividades e as 
restrições na participação. Mas o ponto fundamental é que deficiência (disabiltiy) passa a estar 
atrelada a uma experiência sociológica, política, de opressão. Note, então, querido leitor, temos aí 
uma mudança de rumo, uma virada: a deficiência é efeito, é o resultado de uma sociedade que 
exclui e oprime. Está claro para você, leitor, que essa controvérsia, que envolve também a escolha 
de termos, não é arbitrária, não é de modo algum, algo a ser desconsiderado? Na escolha dos 
termos, há um jogo político fortíssimo articulado a um embate sobre o que contará ou não como 
realidade: política ontológica. 
 Assim, na língua inglesa a expressão “disabled people” ganha força política porque reforça a 
ideia de “pessoas tornadas deficientes” por condições sociais opressoras. Este modelo social coloca 
em ação outros atores inserindo no debate político a voz da pessoa com deficiência. Interessante 
notar que Oliver (1996) aponta que o modelo biomédico, individualizante da deficiência está 
inserido numa certa lógica de cuidado e de assistência que toma a pessoa com deficiência como 
objeto passivo, alvo de intervenções cujas autorias tendem a fugir-lhes. Assim, Oliver (1996) 
destaca que em muitas das práticas de cuidado vigentes ainda no século XX, as pessoas com 
deficiência tomam o lugar do doente/paciente. É neste sentido que ele afirma que a própria noção de 
reabilitação está, muitas vezes, imbuída de valores individualizantes e biologizantes fazendo-se 
notar nas práticas de psicólogos, médicos, assistentes sociais e outros agentes de cuidado que 
tomam o outro como alvos de suas intervenções. 
 Desse modo, Oliver (1996) e outros autores no campo dos Estudos sobre Deficiência, 
entram no jogo da política ontológica para definir uma outra 
PÁGINA 46 
realidade da deficiência, de modo a produzir diferentemente as distribuições de eficiência e 
deficiência. Não se trata mais de demandar benefícios assistencialistas, mas de lutar por plenos 
direitos, por igualdade de oportunidades de trabalho, de educação. Na esteira deste movimento, 
produziram-se outras realidades para a deficiência. 
 No entanto, ainda que considerando a extrema relevância política do modelo social da 
deficiência, o que me parece um desafio ainda aberto é lidarmos com este tema não mais buscando 
apenas uma identidade, seja ela natural, biológica ou social. Porque se é certo que os Estudos sobre 
 
Diniz, Medeiros e Squinca (2007), o uso termo disability não foi casual, foi uma provocação à tradição biomédica 
que durante séculos circunscrevia a deficiência como desvio por relação à norma. Para estes autores, havia um 
objetivo político por traz da escolha do termo disability para compor o ICF: a questão era desestabilizar a hegemonia 
biomédica. Neste sentido, discordando de Farias e Buchalla (2005), Diniz, Medeiros e Squinca (2007) propõe a 
tradução de disability por deficiência. Em nossos trabalhos, optamos também por esta tradução. 
 
Deficiência deslocam a questão da deficiência para outro cenário, também é certo que este 
movimento ainda se pauta numa concepção de deficiência cujo norte é uma identidade social: a 
sociedade é que é excludente. A pergunta que levantei neste texto consistiu justamente em 
interrogar o campo dos estudos e das práticas no campo da deficiência, em particular da deficiência 
visual, longe de qualquer princípio identitário, longe de qualquer essencialismo. 
 A guinada para a prática, de que falei anteriormente, nos coloca diante do desafio 
metodológico e político de lidar com a deficiênciacomo multiplicidade, de seguir seus 
ordenamentos em ação, ali e acolá, e de fazer existir outras definições de homem e de norma, 
definições mais amplas, mais heterogêneas, mais hibridas. Se, neste momento em que me aproximo 
da conclusão deste artigo, retomo a pergunta que levantei no início – que realidade fazemos existir 
com nossas práticas? - é para afirmar que o que pulsa nas pesquisas que realizo, e naquelas que 
estão neste livro, não é a ambição de encontrar uma definição última de deficiência visual, não é o 
desejo de demarcar o “universo” da deficiência visual. Mas antes, o que fervilha entre estas linhas é 
a afirmação de um multiverso, isto é, um mundo livre das unificações prematuras (Latour, 2002b), 
mundo comum porque múltiplo e heterogêneo. A composição deste mundo comum nos engaja na 
difícil tarefa de produzi-lo, a cada dia, em nossas práticas de pesquisa, nos momentos em que 
decidimos o que conta ou não como “dado” de pesquisa, no momento em que nos engajamos na 
prática de relatar aquilo que nós pesquisamos. Pesquisar é, neste sentido, engajar-se numa política 
ontológica que, em última instância, produz o mundo em que vivemos. 
PÁGINA 47 
 Por isso, leitor, o convite que te faço é ambicioso: convido-te a ler os textos que se seguem, 
ciente de que eles foram tecidos, amarrados, conectados por um coletivo que se colocou como 
desafio refazer as condições de pesquisar no campo da deficiência, entendendo que o que está em 
jogo não é tanto observar o objeto de estudo, mas performá-lo, fazê-lo existir. 
 
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