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USF_DIN_U14_Biologia_celular_e_genética_aluno

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BIOLOGIA CELULAR E 
GENÉTICA
GRASIELA DIAS DE CAMPOS SEVERI-AGUIAR 
1
UNIDADE 14
BASES GENÉTICAS DO CÂNCER 
HEREDITÁRIO
1. GENERALIDADES DO CÂNCER
O corpo humano é uma comunidade. Cada uma das trilhões de unidades vivas que 
formam essa comunidade, as células, desempenham funções específicas para o bom 
funcionamento e obedecem a regras que garantem o equilíbrio e o bem-estar geral.
Todavia, como ocorre em toda comunidade, há individualidades que transgridem as 
regras, evadindo todos os mecanismos de manutenção da homeostase, como os que 
controlam a proliferação e a morte celular. Isso ocorre quando as células sofrem muta-
ções em determinados genes que conferem vantagens a elas. 
Essas células se tornam capazes de sobreviver com mais facilidade e de proliferar mais 
rapidamente, formando um clone de si mesma. Elas escapam dos sinais para entrarem 
em senescência e em morte celular. Além disso, elas assumem características distintas 
daquelas das quais se originaram, vivendo às custas destas. Com o passar do tempo, 
com o aumento do número dessas células transformadas, os danos podem ser tão noci-
vos a ponto de causar a falência da comunidade toda. Isso tudo acontece porque algumas 
células sofrem mutações que conferem a elas essas características e potencialidades. 
Podemos elencar três principais especificidades das células tumorais:
a. Perda do controle da divisão celular.
As mutações sofridas pela célula permitem que a célula se divida sem controle origi-
nando neoplasias, que são novas formações de células, também conhecidas por tu-
mores. Essas células deixam de responder ao controle normal do ciclo de duplicações 
e passam a se dividir descontroladamente. Quando as células desses tumores não 
apresentam mutações que permitem que as células invadam outros tecidos, os tumores 
são chamados de tumores benignos.
C
O
M
PE
TÊ
N
C
IA
S
Criar o raciocínio lógico para a consolidação do aprendizado
Conteúdo programático
01. Generalidades do câncer
02. Oncogenes 
03. Genes supressores de tumor
2 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
A partir do momento que mutações ocorrem e passam a conferir às células do tumor 
a capacidade de invadir outros tecidos, esse tumor passa a ser um tumor maligno ou 
câncer (Figura 01). Sendo assim, podemos afirmar que o câncer é uma doença genéti-
ca, originada a partir de mutações em células normais.
Figura 01. Etapas do desenvolvimento de tumores e do câncer
Fonte: 123RF
Célula 
normal
Célula 
cancerosa Duplicação
mudança 
genética
Tumor maligno
b. Capacidade de invasão tecidual
As células malignas são capazes de se desprender do local onde estão, cair na corrente 
sanguínea ou em vasos linfáticos e penetrar em outros tecidos e órgãos, formando tumores 
secundários ou metástases (Figura 02). Elas se tornam invasivas e dificultam o controle 
da doença porque perdem uma característica das células normais, que é a de inibição por 
contato, não mais respondendo aos sinais das células vizinhas do local onde vivem.
Figura 02. Ganho de capacidade de invasão das células tumorais
Assim, por exemplo, células de um tumor maligno com origem no pulmão, podem che-
gar até um outro órgão como o fígado, formando um ou vários tumores secundários 
nesse órgão, as chamadas metástases (Figura 03).
Fo
nt
e:
 1
23
R
FCRESCIMENTO DO TUMOR MALIGNO
Células normais Células cancerosas
Membrana basal
U14
3Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Figura 03. Formação de metástases no fígado a partir de um tumor primário no pulmão
c. Angiogênese e autossustentação
Uma das vantagens conferidas pelas mutações sofridas pelas células tumorais é que elas 
passam a secretar citocinas, ou seja, substâncias indutoras, de tipos diferentes aos das 
células normais. É o caso dos indutores de angiogênese, como o TAF (Fator de Angio-
gênese Tumoral), que induzem a formação de novos vasos sanguíneos no local. Esses 
vasos aumentam o aporte de nutrientes e oxigênio nessa região, promovendo a nutrição 
e oxigenação dessas células, o que garante sua vitalidade, sustentação e replicação. 
Como mostrado na Figura 04, forma-se um ciclo em que quanto maior a demanda de 
oxigênio e nutrientes maior será o suprimento dessas moléculas. Dessa forma, elas 
conseguem se proliferar, possibilitando o aumento do tumor e o avanço da doença.
Fo
nt
e:
 1
23
R
F
Metástases
Carcinoma de pulmão
(tumor primário heterogênico)
Célula cancerosa
Vaso sanguíneo
Célula vermelha 
do sangueMetástase
Fígado
4 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Com relação à nomenclatura dos tipos de câncer, geralmente considera-se os tipos celulares 
ou o tipo de tecido dos quais tiveram origem para que sejam nomeados. Os carcinomas, 
por exemplo, derivam de células epiteliais e são os mais frequentes (Figura 5). Aqueles que 
derivam de tecido conjuntivo e de células musculares são chamados de sarcomas e, os que 
derivam de leucócitos e células hematopoiéticas, são as leucemias e os linfomas. 
Figura 04. Indução de angiogênese pelas células tumorais
Fo
nt
e:
 1
23
R
F
CÉLULAS TUMORAIS
Todas as células preci-
sam de suplemento de 
sangue, carregando nu-
trientes e oxigênio, mas 
o rápido crescimento das 
células tumorais precisa 
de mais sangue do que 
as células normais
Células tumorais
As células tumorais produzem uma 
substância chamada TAF (Fator de 
Angiogênese tumoral) que estimula 
o crescimento de vasos sanguíneos 
secundários no local do tumor
O aumento de suprimento de 
nutrientes permite o cresci-
mento das células tumorais 
muito mais rapidamente, 
disparando um círculo vicioso 
de demanda e suprimento
Figura 05. Tipos de tumores de pele, carcinoma espinocelular, carcinoma basocelular e melanoma
Fo
nt
e:
 1
23
R
FCarcinoma 
espinocelular
Carcinoma 
basocelular Melanoma
Epiderme
Hipoderme
Derme
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5Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Dentre os tumores de pele, o carcinoma basocelular é localmente agressivo, enquanto 
que o melanoma, o mais agressivo, pode invadir outros tecidos e metastizar no osso, 
no cérebro e no pulmão.
Os adenomas são tumores benignos que têm origem epitelial com estrutura glandular 
e seu tipo maligno é o adenocarcinoma. Os tumores benignos de origem cartilaginosa 
são os condromas ou condriomas e os malignos são os condrossarcomas. 
1.1. MUTAÇÃO, TUMORIGÊNESE E CARCINOGÊNESE
Todos os tecidos do corpo possuem células que se dividem e promovem o crescimento des-
se tecido e, também, a reposição de células que morrem. Essas células conservam um grau 
de potência, de se proliferam e diferenciarem, sendo pluripotentes. Já as células diferencia-
das dos tecidos são nulipotentes, ou seja, elas não apresentam capacidade de proliferação 
e diferenciação, como acontece com as células que se conservam indiferenciadas.
Conforme essas células se dividem elas podem sofrer mutações que são transmitidas 
para as células-filhas. Estas podem, por sua vez, sofrer novas mutações nas divisões 
celulares sucessivas, como já estudado anteriormente. Quando essas mutações afetam 
genes que alteram as propriedades supracitadas, ou que impedem o reparo do DNA, 
podem originar neoplasias. Por isso, o câncer é uma doença genética, decorrente de 
danos não reparados no material genético, no DNA das células, que se tornam células 
transformadas, com genótipo e fenótipo diferentes das células normais.
Mas você deve estar se questionando se as taxas de mutação são muito altas, ou se as 
mutações ocorrem com muita frequência. E a resposta que nos é dada pela ciência é de 
que não, as mutações não são frequentes e ocorrem numa taxa de mutações espontâ-
neas de 10-6 mutações por gene por divisão celular. Considerando isso e que o câncer 
não resulta de apenas uma mutação, mas do acúmulo de várias mutações, podemos 
entender o porquê que o câncer não é uma doença tão frequente.
Um exemplo que nos permite entender a relação das mutaçõescom o desenvolvimento 
do câncer, é o do câncer colorretal. Há um tipo que tem início com mutações que for-
mam pólipos, que são tumores benignos. As células tumorais desses pólipos podem 
sofrer mutações adicionais, com o passar do tempo, fenômeno conhecido como pro-
gressão tumoral, e originar um câncer intestinal ou retal, dependendo da localização. 
Os exames preventivos, como a colonoscopia e o exame de sangue oculto nas fezes, 
podem detectar precocemente a presença dos pólipos, que são excisados, impedindo 
a sua malignização e, consequentemente, a carcinogênese.
1.2. CÂNCER ESPORÁDICO E HEREDITÁRIO
Quando o câncer tem origem em mutações que acontecem de forma esporádica, ao 
longo da vida do indivíduo, esse tipo de câncer não é hereditário ou familial, como por 
exemplo o câncer de pele. Ao contrário, existem aqueles que são transmitidos ao longo 
das gerações, acometendo vários indivíduos de uma mesma família, que são hereditá-
rios ou familiais, como o câncer de mama. No que um difere do outro?
6 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
A linhagem de células de que tem origem. Se as mutações responsáveis pelo desenvol-
vimento do câncer ocorrem em células somáticas, sendo transmitidas apenas às célu-
las de que delas se originam, configura-se um câncer esporádico. Em geral, ele surge 
mais tarde na vida do indivíduo, porque é necessário um certo período de tempo para 
que as mutações aconteçam e se acumulem.
Usando como exemplo o câncer de pele, que geralmente é causado pela exposição 
à luz solar excessiva, muitos anos são necessários para que o câncer apareça. As 
mutações ocorrem e se acumulam nas células durante várias gerações celulares que 
formam o tumor e, depois, malignizam.
Além dos agentes físicos, como a radiação ultravioleta e o raio X, os cânceres espo-
rádicos podem ser induzidos por agentes químicos, como agroquímicos, drogas, entre 
outros, e agentes biológicos como alguns vírus. Esses agentes que induzem mutações 
causadoras de câncer são chamados carcinógenos.
Alguns vírus são atualmente associados a diversos tipos de cânceres. É o caso do vírus 
Epstein Barr (EPV), conhecido como o “vírus do beijo” por ser transmitido pela saliva, e 
que é relacionado ao câncer de boca e nasofaringe. Algumas linhagens do vírus do Pa-
piloma Humano (HPV), transmitido nas relações sexuais, é causador de câncer de colo 
uterino e de pênis. Ele penetra o endométrio uterino e se utiliza de suas células para 
fazer inúmeras cópias de si mesmo para infectar outras células uterinas (Figura 06).
Figura 06. O ciclo de vida do HPV
Fo
nt
e:
 1
23
R
F
Células escamosas
Zona mediana do 
epitélio uterino
Células basais
Membrana basal
Epitélio normal
1- O vírus invade as camadas epiteliais 3- HPV nas células epiteliais
4- Replicação viral2- célula basal infectada
Epitélio infectado 
pelo HPV
1
4
3
2
Ví
ru
s d
o p
apiloma humano
U14
7Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
A presença do HPV no colo ou cérvix uterina é detectada pelo exame de colpocitologia 
oncótica mundialmente conhecido como exame de Papanicolau, em que as células do 
epitélio do endométrio uterino são coletadas, distendidas numa lâmina e observadas ao 
microscópio (Figura 07). De acordo com o tipo de células encontradas pode-se graduar 
o nível de infecção viral e de comprometimento do endométrio do colo uterino.
Fo
nt
e:
 1
23
R
F
Figura 07. Morfologia das células epiteliais e do epitélio do colo uterino na presença do HPV
Atualmente, encontra-se disponível a vacina contra o HPV, que é oferecida na rede 
pública de saúde, que deve ser aplicada nas crianças, a partir dos nove anos, antes de 
terem tido a primeira relação sexual, buscando minimizar a disseminação do vírus e o 
desenvolvimento desses tipos de câncer.
Por outro lado, existem cânceres que derivam de mutações que ocorrem nas células da 
linhagem germinativa e que são passados para os descendentes, caso esteja presente 
no gameta que formará o zigoto, constituindo os cânceres hereditários ou familiais. Nes-
se caso, o indivíduo herda uma mutação de um de seus progenitores (pais), ou seja, a 
pessoa já nasce com uma mutação em um gene associado ao desenvolvimento de um 
determinado tipo de câncer. 
Alguns tipos de câncer, como o de mama, são classificados como hereditários. As muta-
ções que ocorrem nesses tipos de cânceres são rearranjos cromossômicos que ocorrem 
durante a meiose, formando gametas com variantes genéticas (rever esses conceitos). São 
exemplos as translocações e deleções envolvendo genes relacionados com o câncer.
Em casos recorrentes de um determinado tipo de câncer na família é possível fazer 
um teste genético para saber se o indivíduo, ou qualquer outro membro da sua família, 
é portador da mutação responsável pelo desenvolvimento do câncer. Foi exatamente 
isso que fez a atriz Angelina Jolie no ano de 2013. Sua avó e sua mãe morreram ainda 
jovens em decorrência do câncer de mama. Sabendo, pelo resultado do teste, que era 
Neoplasia Intraepitelial Cervical – (CIN)
Células 
cervicais na 
distensão
Células 
escamosas
Células 
basais
Normal CIN1 CIN2 CIN3
8 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
portadora da mutação no gene BRCA1, envolvido no desenvolvimento do câncer de 
mama e de ovário e, portanto, apresentando um risco maior de desenvolver esses tipos 
de câncer, ela decidiu se adiantar e fazer a prevenção. Ela optou pela mastectomia pro-
filática bilateral com a retirada da glândula mamária e a colocação de prótese bilateral. 
Dois anos depois, ela retirou também os ovários e as tubas uterinas.
Há que se considerar aqui um fato muito importante: a presença da mutação não garan-
te que o portador desenvolverá a doença. Portar a mutação significa ter risco aumen-
tado de desenvolver o câncer em fase ainda precoce da vida, mas não atesta que isso 
irá acontecer. 
Na verdade, portar a mutação indica uma predisposição aumentada de vir a desenvol-
ver certo tipo de câncer. O tipo de vida do portador é que poderá ou não ativar essa 
predisposição para a o desenvolvimento da doença. Hábitos alimentares, tabagismo, 
etilismo, estresse, entre outros, são fatores ativadores da predisposição.
No caso da atriz Angelina Jolie, embora portadora da mutação predisponente ao câncer 
de mama e ovário, existia a chance de ela não ter o câncer. Todavia, por ter experien-
ciado o sofrimento da mãe e da avó materna e ter recursos financeiros para a realização 
do teste genético, que é ainda muito custoso financeiramente, ela optou por fazê-lo e, 
depois, pela intervenção preventiva.
Tanto em cânceres esporádicos como nos hereditários, os genes envolvidos são cha-
mados genes críticos para o câncer, que são aqueles cujas alterações estão relacio-
nadas com a origem ou a progressão do câncer. Eles representam apenas 1% do nosso 
genoma. Os rearranjos envolvendo esses genes farão com que eles ganhem ou percam 
função e, como consequência, advirão alterações funcionais e morfológicas nas células 
portadoras, que culminarão na formação de neoplasias e câncer.
Os oncogenes são os genes mutantes de genes normais chamados protoncoge-
nes. Os protoncogenes são genes que existem no nosso genoma e que se mantêm 
silenciosos. Quando mutados, eles ganham a função que estava reprimida, que leva à 
promoção do desenvolvimento do câncer, como a da ativação da proliferação celular, 
e passam assim a serem chamados de oncogenes. A mutação em apenas um alelo 
no protoncogene é suficiente para a expressão da função, apresentando dominância 
(Figura 8).
Os genes supressores de tumor, como o próprio nome indica, apresentam a fun-
ção de impedir a formação de tumores e geralmente estão relacionados com o reparo 
do DNA, evitando o estabelecimento das mutações. Porém, quando esses genes são 
mutados, eles perdem a sua função, deixando de evitar o desenvolvimento do câncer. 
Frequentemente, ambos os alelos sofrem mutação para que o câncer se desenvolva,apresentando recessividade (Figura 08).
U14
9Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Nos itens a seguir entenderemos melhor os dois grupos de genes críticos para o câncer: 
os oncogenes e os genes supressores de tumor.
2. ONCOGENES
A descoberta dos oncogenes partiu de estudos com um tipo de câncer animal que 
acomete galinhas – o sarcoma de Rous. Ele é um tipo de câncer causado por um re-
trovírus, ou seja, um vírus que contém RNA. Esse vírus penetra nas células do tecido 
conjuntivo, induz essas células a produzirem DNA a partir do seu RNA e, quando o seu 
DNA é inserido no DNA das células hospedeiras, ele é passado para as células-filhas 
que são formadas. 
Essa inserção ocorre em um protoncogene, causando o ganho de função desse gene, 
que passa a agir como oncogene, induzido a proliferação celular e a neoplasia. Esse 
oncogene recebeu o nome de c-src. Muitos são os eventos que podem ativar um pro-
toncogene, levando-o à condição de oncogene (Figura 09).
Figura 08. Mutação de ganho e perda de função em genes críticos para o câncer
Fonte: Alberts et al. (2017, p.1105)
(A) Mutação de superatividade (ganho de função)
(B) Mutação de diminuição de atividade (perda de função)
Célula normal
Células em 
rota para o 
câncer
Evento de 
mutação
Inativa um 
gene supressor 
tumoral Mutação sem 
efeito em 
uma cópia do 
gene
Segundo 
evento de 
mutação
Inativa a 
segunda cópia 
do gene
Duas mutações de inativação 
eliminam funcionalmente o 
gene supressor de tumor, 
promovendo a transformação 
celular
Célula normal
Um único evento de mutação
Mutação de ativação permite 
que os oncogenes promovam a 
transformação celular
Cria um oncogene
10 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Fonte: Alberts et al. (2017, p. 1106)
Atualmente, são conhecidos muitos oncogenes: os da família ras e myc, o abl, entre 
outros. O gene myc codifica a proteína MYC que é um fator de transcrição que ativa 
genes necessários para a proliferação celular. Já é bastante conhecida a associação 
desse oncogene com o Linfoma de Burkitt.
Um exemplo bastante conhecido envolvendo oncogenes é o da Leucemia Mielóide Crô-
nica (LMC), que é um câncer que afeta os leucócitos. Na LMC estão envolvidos dois 
oncogenes: o abl e o bcr1. O abl codifica uma proteína cinase (quinase) que participa 
de uma via de ativação de proliferação celular. Quando ocorre a translocação entre 
esses genes, o gene abl fica permanentemente ativo, não ocorrendo a interrupção do 
processo de proliferação celular, originando o câncer.
O protoncogene abl está localizado no braço longo (q) do cromossomo 9 e o bcr1 no 
braço longo (q) do cromossomo 22. Para o surgimento da LMC esses cromossomos so-
frem quebras envolvendo os segmentos em que estão presentes esses protoncogenes 
e os fragmentos são translocados. O fragmento maior do cromossomo 22 se funde com 
o 9, e um fragmento menor do 9 se funde com o 22. Assim, é gerado um cromossomo 9 
menor que seu homólogo e um cromossomo 22 maior que seu homólogo, que recebeu 
o nome de cromossomo Filadélfia (Figura 10). O cromossomo Filadélfia, representa-
do pela translocação t(9;22)(q34;q11), possui um oncogene híbrido de abl e bcr1, com 
um fragmento de cada um deles, que expressa a proteína BCR-ABL anormal.
Figura 09. Tipos de acidentes que podem transformar um protoncogene em oncogene
Proto-oncogene
DELEÇÃO OU MUTAÇÃO 
PONTUAL NA SEQUÊNCIA 
CODIFICADORA
Proteína hiperativa 
produzida em 
quantidades normais
Proteína normal 
superproduzida
Sequências reguladoras 
de DNA vizinhas causam 
a superprodução de 
proteína normal
Fusão a gene 
ativamente transcrito 
produz proteína de 
fusão hiperativa
Proteína normal superproduzida
MUTAÇÃO 
REGULADORA AMPLIFICAÇAO DO GENE REARRANJO CROMOSSÔMICO
DNADNA ou
RNA
RNA
U14
11Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Figura 10. Translocação entre o cromossomo 9 e 
22 com a formação do cromossomo Filadélfia
A LMC tem como sintomas anemia profunda, esplenomegalia (aumento do baço), can-
saço, entre outros. A determinação da presença do cromossomo Filadélfia através de 
exames citogenéticos auxilia no prognóstico e no tratamento da doença.
Fonte: Alberts et al. (2017, p. 1094)
Cromossomo 
Filadélfia
9 22 9q+ 22q-
SA
IB
A 
M
A
IS
SOBRE LMC E FILADÉLFIA....
Vídeo 1: FORMAÇÃO DO CROMOSSOMO FILADELFIA. Acesse o link: https://www.
youtube.com/watch?v=_ImmQXhIui0. Acesso 30 maio 2022.
Vídeo 2: O que é a LMC? Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=vQpe-
ap_JJMU. Acesso 30 maio 2022.
3. GENES SUPRESSORES DE TUMOR
A identificação desses genes, os supressores de tumor, ocorreu a partir do estudo de síndro-
mes cancerosas raras. Foi o que aconteceu com o estudo de um caso raro de tumor humano 
que afeta crianças, o retinoblastoma. Esse tipo de câncer pode ser esporádico ou hereditário 
e resulta de mutações em células precursoras neurais presentes na retina ainda imatura.
Com o estudo do cariótipo dos portadores de retinoblastoma foi identificada uma de-
leção em uma das bandas do cromossomo 13. Essa banda foi isolada e identificado o 
gene, denominado de rb. Foi verificado que os portadores do tipo esporádico apresen-
tam apenas um dos alelos de rb mutado, enquanto no tipo hereditário, ambas os alelos 
são mutados.
https://www.youtube.com/watch?v=_ImmQXhIui0
https://www.youtube.com/watch?v=_ImmQXhIui0
https://www.youtube.com/watch?v=vQpeap_JJMU
https://www.youtube.com/watch?v=vQpeap_JJMU
12 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
O gene rb codifica a proteína Rb presentes em quase todas as células e que é contro-
ladora do ciclo celular, interrompendo a divisão celular. Quando perdida, em virtude da 
mutação, ocorre a perda de controle da proliferação celular.
Quando o indivíduo já nasce com um dos alelos mutados, a segunda mutação, que 
pode ocorrer por diferentes vias (Figura 11) fica mais fácil de ocorrer e o tumor aparecer 
logo nos primeiros anos de vida.
Figura 11. Formas possíveis de ocorrência da segunda mutação no gene rb para a formação 
do retinoblastoma
Fonte: Alberts et al. (2017, p. 1109)
Dois outros genes, o bcra1 (Breast Cancer gene 1) e o bcra2 (Breast Cancer gene 2) 
são genes que codificam proteínas que ajudam a reparar danos do DNA, sendo classi-
ficados também como genes supressores de tumor, evitando assim o desenvolvimento 
de câncer. 
Todos temos duas cópias desses genes, uma herdada da mãe e outra do pai. O bcra1 fica 
localizado no cromossomo 17 e o bcra2 no cromossomo 13 (Figura 12). O indivíduo que 
herda uma variante, portadora de uma mutação patológica, tem maior probabilidade de 
desenvolver a doença de forma mais grave em fases mais precoces da vida. Esse era o 
caso de Angelina Jolie, cuja mãe e avó morreram ainda jovens devido ao câncer de mama.
CÉLULA SADIA COM APENAS UMA CÓPIA NORMAL DO GENE Rb
POSSÍVEIS MANEIRAS DE ELIMINAÇÃO DO GENE Rb NORMAL
Mutação no lócus Rb no 
cromossomo materno
Não disjunção 
causa perda do 
cromossomo
Perda do 
cromossomo, e 
então duplicação 
cromossômica
Conversão do 
gene durante a 
recombinação 
mitótica
Deleção Mutação 
pontual
Evento de 
recombinação 
mitótica
Gene Rb normal no 
cromossomo paterno
U14
13Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
SA
IB
A 
M
A
IS
Existe também, a possibilidade de a mulher não herdar a mutação nos genes bcra, mas sofrer 
uma mutação nova, chamada de novo, ao longo de sua vida e vir a desenvolver o câncer 
esporádico. Nesse caso, a doença aparece mais tardiamente e de forma menos agressiva. 
Mulheres com histórico familial de câncer de mama podem procurar um serviço de 
aconselhamento genético para o encaminhamento correto e, se quiserem e puderem, 
podem fazer o teste genético para detecção de mutação nesses genes. Esse teste é 
realizado pela análise do DNA das células do sangue ou da saliva e tem alto custo, não 
sendo acessível para todas. 
Todavia, o acompanhamentoginecológico regular, com a realização de exames preven-
tivos, como a mamografia e o ultrassom das mamas, permite o diagnóstico precoce da 
doença e a intervenção mais eficaz.
Figura 12. Locus gênico dos cromossomos 13 e 17 mostrando a localização dos 
genes bcra1 e 2
Cromossomo 17 Cromossomo 13
BRCA Gene 1
BRCA Gene 2
Fonte: https://www.cancer.gov/news-events/cancer-currents-blog/2017/brca-mutation-cancer-
risk Acesso 27 maio 2022
SOBRE OS GENES BCRA....
Vídeo 1: O que é o teste genético BRCA 1 e BRCA 2? Acesse o link: https://www.
youtube.com/watch?v=y-I6hmfU4lk. Acesso 1 junho 2022. 
Vídeo 2: BRCA e a síndrome de câncer de mama e câncer de ovário hereditário. Acesse 
o link: https://www.youtube.com/watch?v=cmekpO1cS2M Acesso 1 junho 2022. 
Muitos outros genes supressores de tumor já foram descritos entre eles o p53 e o APC 
e sua associação com determinados tipos de câncer já está estabelecida. Mutações em 
protoncogenes e genes supressores de tumor são utilizadas como marcadores tumo-
rais e auxiliam na condução do tratamento e no prognóstico da doença. 
https://www.cancer.gov/news-events/cancer-currents-blog/2017/brca-mutation-cancer-risk
https://www.cancer.gov/news-events/cancer-currents-blog/2017/brca-mutation-cancer-risk
https://www.youtube.com/watch?v=y-I6hmfU4lk
https://www.youtube.com/watch?v=y-I6hmfU4lk
https://www.youtube.com/watch?v=cmekpO1cS2M
14 Biologia Celular e Genética
U14 Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Uma senhora de 62 anos foi diagnosticada com câncer de ovário. Foi realizada cirurgia gine-
cológica e a biópsia revelou após a avaliação anatomopatológica tratar de câncer de ovário 
epitelial (COE) em estágio III. Foi submetida à quimioterapia intravenosa, mas devido ao 
agravamento dos sintomas, foi administrado o quimioterápico carboplatina por via intraperito-
neal. Dois anos depois, após várias internações, a paciente veio a óbito.
O COE é um dos tipos de câncer ginecológico mais comuns. As formas mais agressivas da 
doença estão associadas a mutações no gene p53. A proteína P53 é um fator transcricional 
nuclear que participa de vários processos, como a ativação do reparo do DNA, a parada do 
ciclo celular e da proliferação celular, diferenciação, senescência e apoptose. Quando muta-
do, o gene p53 perde sua função, contribuindo, assim, para a origem e progressão do câncer.
Com relação ao gene p53, são feitas abaixo duas afirmativas:
I. O gene p53 é um gene supressor de tumor pois que a sua perda de função é que contri-
bui para a carcinogênese.
II. A mutação no gene p53 gera a produção de proteínas que induzem a proliferação celular 
e a formação de tumor.
Assinale a alternativa correta.
a. A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa. 
b. A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
c. As duas afirmativas são falsas.
d. As duas afirmativas são verdadeiras. 
e. A afirmativa II justifica a afirmativa I.
Atividade 1.
Atividade 2.
2. ATIVIDADES PROPOSTAS
Quimioterápicos são compostos utilizados para o tratamento de muitos cânceres. Eles po-
dem ser de vários tipos e administrados por diversas vias. Embora sejam utilizados para 
controlar o avanço da doença e, em muitos casos, a obtenção da cura, os quimioterápicos 
causam a morte das células cancerosas e, também, de muitas células saudáveis. Como con-
sequência da quimioterapia, surgem vários efeitos adversos como queda de cabelo, diarreia, 
gengivites, dermatites, anemia, redução de plaquetas, entre outros. Podemos afirmar que 
esses efeitos acontecem porque:
a. Eles agem mais diretamente nas células epiteliais e nas do sangue, causando mutações 
que induzem a morte dessas células.
b. São substâncias radioativas que causam quebras no DNA, matando as células.
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15Biologia Celular e Genética
Bases Genéticas do Câncer Hereditário
Atividade 3.
c. Eles agem interrompendo o ciclo celular, bloqueando a divisão celular e a proliferação, 
matando todas as células que estão se dividindo, inclusive as saudáveis.
d. Essas substâncias impedem que oxigênio e nutrientes cheguem até as células cancero-
sas fazendo com que elas morram por falta dessas moléculas.
e. Eles induzem a diferenciação das células cancerosas nesses tipos de células, como da 
pele, folículo piloso, medula óssea, fazendo com que estas substituam as células saudá-
veis nesses tecidos.
Paciente masculino, de 52 anos, chega ao consultório com queixa de obstrução intestinal aguda. 
Após procedimento para investigação de obstrução intestinal é realizada tomografia que detecta 
a presença de tumor de 5 cm de diâmetro no sigmóide, a presença de muitos pólipos colorretais 
e vários nódulos hepáticos. Foram solicitados vários exames séricos e realizada cirurgia para 
retirada do tumor e a colostomia. A biópsia revelou tratar de um adenocarcinoma invasivo. O pa-
ciente foi submetido à quimioterapia e radioterapia. Depois de dois anos foi realizada a reversão 
da colonoscopia e o paciente se encontra estável com acompanhamento de rotina.
Muitos casos de câncer colorretal têm origem a partir de polipose adenomatosa familiar (PAF) que 
é uma síndrome hereditária autossômica dominante em que ocorre a formação de múltiplos póli-
pos adenomatosos colorretais, que podem malignizar com o passar do tempo e originar o câncer.
Mutação no gene k-ras tem sido associada ao câncer colorretal e pacientes com essa muta-
ção não respondem à terapia inibidora com fator de crescimento epitelial, sendo necessária 
e utilização de outro quimioterápico. Sendo assim, a mutação funciona como um marcador 
para a condução do tratamento e prognóstico da doença. Ela acomete éxon 12 ou 13 e gera 
a troca do aminoácido glicina por ácido aspártico na proteína mutada, que ganha a função de 
favorecer a proliferação, o crescimento e a sobrevivência do tumor.
Com base nas informações acima é possível afirmar que:
a. Todo câncer colorretal deriva de mutação no gene k-ras.
b. Se o paciente apresentar a mutação no gene k-ras ele não vai sobreviver.
c. Os pólipos sempre originarão um câncer.
d. O gene k-ras é um supressor de tumor.
e. O gene k-ras é um oncogene.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTS, B., JOHNSON, A., LEWIS, J., MORGAN, D., RAFF, M., ROBERTS, K., WALTER, P., WILSON, J., 
HUNT, T. Molecular biology of the cell,.6. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Pags. 1091-1127.
GRIFFITHS, A. J. F., WESSLER, S. R., CARROLL, S. B., DOEBLEY, J. Introdução à Genética. 11.ed. Rio de 
Janeiro: Guanabara Koogan, 2016, p. 1409-1416.
SNUSTAD, Peter D.; SIMMONS, Michael J. Fundamentos de Genética. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara 
Koogan, 2017, p. 1498-1502.
https://www.cancer.gov/news-events/cancer-currents-blog/2017/brca-mutation-cancer-risk Acesso 27 
maio 2022
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