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CAROLINA-PAES-BARRETO-DA-SILVA

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
DOUTORADO EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
CAROLINA PAES BARRETO DA SILVA 
 
 
 
 
 
AUTORRETRATO E RETRATOS DE UM PUBLICISTA: 
ANTÔNIO BORGES DA FONSECA NAS TRAMAS DE DISCURSOS DA 
IMPRENSA PERNAMBUCANA E DA INSURREIÇÃO PRAIEIRA (1841-1852) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2021 
 
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CAROLINA PAES BARRETO DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AUTORRETRATO E RETRATOS DE UM PUBLICISTA: 
ANTÔNIO BORGES DA FONSECA NAS TRAMAS DE DISCURSOS DA 
IMPRENSA PERNAMBUCANA E DA INSURREIÇÃO PRAIEIRA (1841-1852) 
 
 
 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada à Banca 
Examinadora da Universidade Federal 
Fluminense, como exigência parcial para 
obtenção do título de doutor em História, junto 
ao Programa de Pós-Graduação em História. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Gladys Sabina Ribeiro 
 
 
 
 
 
 
NITERÓI 
2021 
 
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CAROLINA PAES BARRETO DA SILVA 
 
AUTORRETRATO E RETRATOS DE UM PUBLICISTA: 
ANTÔNIO BORGES DA FONSECA NAS TRAMAS DE DISCURSOS DA 
IMPRENSA PERNAMBUCANA E DA INSURREIÇÃO PRAIEIRA (1841-1852) 
 
Tese de Doutorado apresentada à Banca 
Examinadora da Universidade Federal 
Fluminense, como exigência parcial para 
obtenção do título de doutor em História, junto 
ao Programa de Pós-Graduação em História. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
__________________________________________________ 
Profa. Dra. Gladys Sabina Ribeiro (Orientadora) 
Universidade Federal Fluminense 
__________________________________________________ 
Profa. Dra. Izabel Andrade Marson 
Universidade Estadual de Campinas 
__________________________________________________ 
Prof. Dr. Marcello Otávio Neri de Campos Basile 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
__________________________________________________ 
Prof. Dr. Marcus Joaquim Maciel de Carvalho 
Universidade Federal de Pernambuco 
__________________________________________________ 
Profa. Dra. Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira 
Universidade Estadual do Rio de Janeiro 
 
 
 
 
 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Eu aprendi qual é o valor de um sonho alcançar. Eu entendi que no caminho pedras 
terá. Eu vi em campo aberto se erguer construção. E foi com muitas pedras, e foi com 
muitas mãos. Eu vi o meu limite vir diante de mim. Eu enfrentei batalhas que eu não 
venci. Mas o troféu não é de quem não fracassou. Eu tive muitas quedas, mas não 
fiquei no chão. E ao olhar pra trás, tudo que passou, venho agradecer quem comigo 
estava. Ergo minhas mãos pra reconhecer. E hoje eu sou quem eu sou, pois Sua mão 
me acompanhava. Mas eu sei, não é o fim, é só o começo da jornada. Eu abro o meu 
coração pra minha nova história...1 
 
Não é tarefa simples para quem decide atuar na docência e na pesquisa. Desde os 
tempos da graduação, esses dois segmentos me fascinavam. Sentia tanto a necessidade de 
lecionar na Educação Básica, conhecer o cotidiano da escola pública, como o desejo de 
ampliar os meus conhecimentos na área de pesquisa histórica. A minha carreira 
profissional foi marcada por essas duas paixões. Porém, não imaginava que o meu 
propósito em trilhar nesses dois caminhos faria com que a minha vida passasse por tantas 
mudanças e provações. Os dilemas da realidade dos mundos da educação e da pesquisa 
vieram à baila durante os anos de elaboração desta tese. Estar em sala de aula todos os 
dias é um grande desafio para o professor. Conviver com questionamentos, ansiedade e 
insegurança, para o pesquisador, especialmente para o aluno de pós-graduação. Se não 
fosse a determinação e a persistência, não só de minha parte, mas também daqueles que 
estiveram ao meu lado, não conseguiria concluir essa etapa de minha trajetória acadêmica. 
Por esses motivos, quero expressar a minha gratidão a Deus. Em meio às 
dificuldades que surgiram ao longo dos anos dedicados a este trabalho, Ele me fez 
entender que os momentos de crise foram uma oportunidade para que eu aprendesse a 
permanecer firme em meus objetivos e a fortalecer a minha confiança. Manter-se 
resiliente em tempos de adversidade exige coragem. E a minha coragem veio do Senhor. 
Foi a Sua presença consoladora que me impulsionou a não me entregar e a prosseguir. 
À minha família, eu agradeço pelo apoio, paciência e compreensão. Cada um, à sua 
maneira, contribuiu para a realização do meu sonho, de ser doutora em História. O meu 
esposo, Geovani Pereira de Oliveira, sempre foi atento em ouvir as minhas preocupações, 
e respondia-me com palavras de amor e serenidade. A minha mãe, Elizabete Paes Barreto, 
é a minha maior incentivadora e torcedora. Em nenhum instante, por mais que as 
circunstâncias se apresentassem difíceis, ela deixou de acreditar em mim e nos meus 
projetos. O meu pai, Wilson Sabino da Silva, é o meu maior exemplo de honestidade e 
 
1 Trecho da música “É só o começo”, do grupo Vocal Livre. Composição de Pedro Valença. 
 
5 
 
profissionalismo. A minha irmã, Marcelle Paes Barreto, proporcionou-me momentos de 
leveza e alegria, com seu humor inteligente e sua visão descontraída sobre a vida. 
Sinto-me honrada de ter sido orientanda, de longa data, da Profa. Dra. Gladys 
Sabina Ribeiro, a qual me deu a oportunidade de participar, como bolsista de iniciação 
científica, de seu projeto Nação e cidadania em alguns jornais cariocas: 1822-1834. 
Talvez, se eu não tivesse vivido essa experiência, não teria o privilégio de ingressar no 
mestrado. Depois de ter concluído o curso, dediquei-me exclusivamente ao magistério, 
durante cinco anos. Não satisfeita em apenas lecionar, nos Ensinos Fundamental e Médio, 
expressei à professora Gladys o meu interesse em dar continuidade aos meus estudos 
sobre Antônio Borges da Fonseca. E, prontamente, ela aceitou em me orientar, mesmo 
sabendo que eu havia ficado um bom tempo afastada do meio universitário. Mais do que 
orientadora, a professora Gladys demonstrou ser amiga, incentivando-me a não desistir; 
revelando-me que acreditava na minha capacidade em ser historiadora. 
Não poderia deixar de mencionar os professores que fizeram parte da Banca de 
Qualificação, cujas sugestões foram decisivas para o desenvolvimento deste estudo. Ao 
Prof. Dr. Marcello Otávio Neri de Campos Basile, agradeço pela leitura atenta e crítica 
de minha pesquisa. À Profa. Dra. Tania Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira, 
agradeço pela sua generosidade intelectual e por ter dado conselhos valiosos no intuito de 
agilizar o rumo de meu trabalho. 
 No âmbito do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal 
Fluminense, tive a satisfação de cursar a disciplina Mídia e poder: elites intelectuais e 
imprensa no Brasil, ministrada pelo Prof. Dr. Humberto Fernandes Machado. Ao 
professor, agradeço pelas indicações de leitura e pelos debates construtivos, levantados 
em sala de aula. Sem dúvida, eles foram essenciais para a compreensão do meu objeto de 
pesquisa. Também agradeço à Comissão de Planejamento Acadêmico, por ter depositado 
confiança no meu trabalho e flexibilizado o prazo para a defesa desta tese. 
Agradeço aos funcionários da Biblioteca Nacional e do Instituto Histórico e 
Geográfico Brasileiro, por terem sido solícitos e atenciosos na minha busca pela 
documentação. Também agradeço aos funcionários do Arquivo Público Estadual Jordão 
Emerenciano, que, por telefone e e-mail, procuraram, gentilmente, responder as minhas 
dúvidas sobre os jornais. Sem a colaboração dessas instituições, o andamento desta 
pesquisa seria inviável. 
Por fim, agradeço à Universidade Federal Fluminense, por ter contribuído para o 
crescimento de minha formação intelectual e profissional. 
 
6 
 
RESUMO 
 
O paraibano Antônio Borges da Fonseca (1808-1872) foi um longevo redatorque 
desempenhou uma ação combatente na imprensa brasileira do século XIX. Na Corte do 
Rio de Janeiro, em 1830 e 1831, tornou-se conhecido por meio de seu jornal O Repúblico 
e de sua participação nas agitações de rua que antecederam a Abdicação de D. Pedro I. 
Na província de Pernambuco, ao longo da década de 1840, destacou-se como um dos 
principais defensores da nacionalização do comércio a retalho e da convocação de uma 
Assembleia Constituinte, conquistando ampla simpatia dos segmentos populares 
recifenses. A sua personalidade fez-se ainda mais emblemática em 1848 e 1849, quando 
se envolveu na Insurreição Praieira e escreveu o Manifesto ao Mundo. Tido como 
exaltado e republicano, suscitou virulentas polêmicas na imprensa pernambucana: 
recebia, de um lado, críticas e ataques de seus opositores, e, de outro, elogios e louvores 
de seus seguidores. Partindo da premissa de que os redatores do Brasil Oitocentista 
utilizavam largamente o estilo retórico para desqualificar os seus oponentes, legitimar as 
suas ideias e criar uma imagem de si, a presente tese tem como principal objetivo analisar 
os discursos elaborados por Borges da Fonseca acerca de sua figura pública, bem como 
por seus adversários e correligionários, entre 1841 e 1852. Ao contrário das biografias 
que traçaram uma visão linear da vida e do pensamento político de Borges da Fonseca, 
este trabalho defende o pressuposto de que o ideário do publicista foi (re)construído no 
âmbito das tramas da política imperial e pernambucana e de sua aproximação com as 
camadas subalternas do Recife. Foi no palco das disputas políticas e eleitorais e dos 
protestos de rua da capital de Pernambuco que o jornalista apresentou para os seus 
contemporâneos os seus retratos. Portanto, através da investigação de seus argumentos 
retóricos, propagados por seus jornais e folhetos, faz-se oportuno conhecê-lo de forma 
mais inteligível, desnudando o personagem que foi ora depreciado, ora aclamado. 
 
Palavras-chave: Antônio Borges da Fonseca. Imprensa. Retórica. Imagem de si. 
Insurreição Praieira. 
 
 
 
 
 
 
7 
 
ABSTRACT 
 
The paraibano Antônio Borges da Fonseca (1808-1872) was a long-lived writer 
who played a fighting role in the 19th century Brazilian press. At the Court of Rio de 
Janeiro, in 1830 and 1831, he became known through his newspaper O Republico and his 
participation in the street unrest that preceded the abdication of D. Pedro I. In the province 
of Pernambuco, throughout the 1840s, he stood out as one of the main defenders of the 
nationalization of retail trade and of the convening of a Constituent Assembly, winning 
wide sympathy from the popular segments of Recife. His personality became even more 
emblematic in 1848 and 1849, when he became involved in the Praieira Insurrection and 
wrote the Manifesto to the World. Considered as exalted and republican, it provoked 
virulent polemics in the Pernambuco press: on the one hand, he received criticism and 
attacks from his opponents, and, on the other, praise from his followers. Starting from the 
premise that the writers of 19th century Brazil largely used the rhetorical style to 
disqualify their opponents, legitimize their ideas and create an image of themselves, the 
present thesis has as main objective to analyze the speeches elaborated by Borges da 
Fonseca about his a public figure, as well as by his opponents and supporters, between 
1841 and 1852. Contrary to the biographies that traced a linear vision of Borges da 
Fonseca's life and political thought, this work defends the assumption that the publicist's 
idea was (re) built within the framework of imperial and Pernambuco politics and its 
approximation with the subordinate layers of Recife. It was on the stage of political and 
electoral disputes and street protests in the capital of Pernambuco that the journalist 
presented his portraits to his contemporaries. Therefore, through the investigation of his 
rhetorical arguments, propagated by his newspapers and pamphlets, it is opportune to get 
to know him in a more intelligible way, stripping the character who was sometimes 
disparaged, now acclaimed. 
 
Key words: Antônio Borges da Fonseca. Press. Rhetoric. Self-image. Praieira 
Insurrection 
 
 
 
 
 
 
8 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 01 ....................................................................................................................... 129 
Figura 02 ....................................................................................................................... 167 
Figura 03 ....................................................................................................................... 185 
Figura 04 ....................................................................................................................... 232 
Figura 05 ....................................................................................................................... 237 
Figura 06 ....................................................................................................................... 294 
Figura 07 ....................................................................................................................... 301 
Figura 08 ....................................................................................................................... 302 
Figura 09 ....................................................................................................................... 309 
Figura 10 ....................................................................................................................... 336 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12 
 
PRIMEIRA PARTE. ANTÔNIO BORGES DA FONSECA: DO 
AUTORRETRATO PARA OS RETRATOS ............................................................. 32 
 
CAPÍTULO I. As anotações de um publicista: a trajetória e o autorretrato de 
Antônio Borges da Fonseca no Manifesto Político de 1867 ........................................ 33 
1.1. As experiências políticas e a carreira jornalística de Antônio Borges da Fonseca no 
final do Primeiro Reinado e nas Regências (1828-1840) ................................................ 35 
1.2. A ação política e panfletária de Antônio Borges da Fonseca em Pernambuco durante 
o movimento praieiro (1842-1849) ................................................................................. 50 
1.3. A vida e as estratégias políticas de Antônio Borges da Fonseca após o movimento 
praieiro (1850-1867) ....................................................................................................... 65 
 
CAPÍTULO II. Os retratos de Antônio Borges da Fonseca: dos relatos dos 
contemporâneos da Insurreição Praieira à historiografia recente ............................ 75 
2.1. Os relatos dos repressores da Insurreição Praieira e suas repercussões nos trabalhos 
do final do século XIX .................................................................................................... 76 
2.2. Os trabalhos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) entre o final do 
século XIX e início do XX ............................................................................................. 89 
2.3. A Conferência do Centenário da Insurreição Praieira em 1948 ............................ 100 
2.4. Os trabalhos de perspectiva marxista e a historiografia da imprensa brasileira na 
década de 1960 ............................................................................................................. 105 
2.5. As biografias na década de 1990 ............................................................................ 117 
2.6. A recente historiografia da Insurreição Praieira ...................................................119 
 
SEGUNDA PARTE. A AÇÃO PANFLETÁRIA DE ANTÔNIO BORGES DA 
FONSECA NA IMPRENSA PERNAMBUCANA: AS NUANCES DO 
AUTORRETRATO E DOS RETRATOS (1841-1847) ............................................ 125 
 
CAPÍTULO III. A “Abelha” e o “Repúblico” de volta a Pernambuco .................... 126 
 
10 
 
3.1. Os discursos e os combates políticos de Antônio Borges da Fonseca n’O Correio de 
Norte (1841-1842) ........................................................................................................ 127 
3.1.1. Os embates d’O Correio do Norte com A Ordem e o Diário de Pernambuco sobre 
a reforma do Código do Processo Criminal ................................................................... 132 
3.1.2. O discurso antilusitano d’O Correio do Norte ..................................................... 148 
3.2. O Nazareno e O Verdadeiro Regenerador nos jornais defensores e opositores a 
Antônio Borges da Fonseca (1843-1847) ..................................................................... 158 
3.2.1. Antônio Borges da Fonseca na política oposicionista ao lado dos praieiros ....... 158 
3.2.2. Antônio Borges da Fonseca na política oposicionista ao lado dos guabirus ....... 173 
 
CAPÍTULO IV. O julgamento do “Nazareno” ......................................................... 188 
4.1. Leis, liberdade e delito de imprensa na primeira metade do Brasil Oitocentista .... 189 
4.1.1. O “Lidador” em defesa do “Nazareno”, de abril a junho de 1847 ...................... 200 
4.2. O “injuriador” do Imperador e “separatista” no Tribunal do Júri de Pernambuco, em 
9 de agosto de 1847 ....................................................................................................... 204 
4.2.1. A acusação ao “Nazareno” .................................................................................. 204 
4.2.2. A defesa do “Nazareno” ...................................................................................... 210 
4.2.3. Os significados de “soberania” e “constituição” nos discursos contra e a favor do 
“Nazareno” ................................................................................................................... 220 
4.2.4. A condenação e o fim do “Nazareno” ................................................................. 230 
 
TERCEIRA PARTE. A AÇÃO COMBATENTE DE ANTÔNIO BORGES DA 
FONSECA NO MOVIMENTO PRAIEIRO: A EXPRESSIVIDADE DO 
AUTORRETRATO E DOS RETRATOS (1847-1852) ............................................ 235 
 
CAPÍTULO V. O “Tribuno” no cárcere ................................................................... 236 
5.1. Os discursos de Antônio Borges da Fonseca contra a polícia, a imprensa e os 
deputados praieiros nas eleições de 1847 ...................................................................... 241 
5.2. O público-alvo de Antônio Borges da Fonseca em 1847: os homens livres e libertos 
...................................................................................................................................... 259 
5.3. A liderança de Antônio Borges da Fonseca no “partido democrata” ou “popular” no 
final de 1847 e início de 1848: reivindicações, alianças políticas e protestos republicanos 
...................................................................................................................................... 275 
 
 
11 
 
CAPÍTULO VI. O “mártir da liberdade” e o “chefe” dos republicanos nos mata-
marinheiros de 26 e 27 de junho de 1848 e na Insurreição Praieira ......................... 295 
6.1. Afonso de Albuquerque Melo em defesa do “mártir da liberdade” ........................ 296 
6.2. “Incitador” ou “moralizador” da “populaça”? Os relatos sobre a participação de 
Antônio Borges da Fonseca nos mata-marinheiros de 26 e 27 de junho de 1848 ......... 310 
6.3. O “precursor” da Assembleia Constituinte nos escritos de Afonso de Albuquerque 
Melo antes e depois da Insurreição Praieira ................................................................ 324 
6.4. As cartas de um “revolucionário”: as considerações de Antônio Borges da Fonseca 
sobre a República, a Monarquia e a Assembleia Constituinte ....................................... 337 
 
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 344 
 
FONTES E BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 351 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
 
[...] Para a mais amarga das ironias, não foi somente no momento do processo da 
“Rebelião” que Borges prestou utilidade a Nabuco e a Figueira de Mello, e atente-se 
para os múltiplos ideais e personagens que ele podia personificar. Lá em 1849, o 
protótipo da desordem e da anarquia: um ano antes (quase exatamente) o símbolo do 
sistema constitucional. Tudo é possível no imaginário político inerente à luta 
burguesa: todos os papéis se equivalem, já que pessoas e ideias não são percebidas 
pelo que são, mas pelo que possam vir a representar.1 
 
O paraibano Antônio Borges da Fonseca (1808-1872) foi um redator que exerceu 
uma marcante atividade jornalística no Império brasileiro. Podemos dizer que o seu 
itinerário se entrelaçou com a história da imprensa do Brasil Oitocentista: no final do 
Primeiro Reinado, em 1828 a 1831, fundou A Gazeta Paraibana, em sua província natal; 
A Abelha Pernambucana, em Pernambuco; e O Repúblico, no Rio de Janeiro. Na 
Regência, em 1832, deu continuidade à redação deste último jornal, em Pernambuco e na 
Paraíba; e, em 1834 e 1837, no Rio de Janeiro. No Segundo Reinado, em 1841 a 1852, 
publicou várias folhas, como O Correio do Norte, O Nazareno, O Verdadeiro 
Regenerador, O Eleitor, O Tribuno e A Revolusão de Novembro, e adquiriu a sua própria 
oficina gráfica, a Typographia Social Nazarena, em Pernambuco. Em 1853 a 1855, 
redigiu novamente O Repúblico, no Rio de Janeiro. E, por fim, em 1867 e 1869, voltou a 
escrever O Tribuno, em Pernambuco.2 As atividades de Borges da Fonseca não ficaram 
circunscritas à imprensa. O redator também atuou em movimentos políticos e sociais: 
participou ativamente dos episódios das Noites das Garrafadas e do Sete de Abril, em 
1831, e da Insurreição Praieira, em 1848 e 1849. Borges era uma figura multifacetada, 
que procurava atender tudo o que pretendia desempenhar: foi jornalista, publicista, 
panfletário, tipógrafo, combatente militar e um expressivo político liberal. 
Este breve resumo da trajetória política de Borges da Fonseca leva-nos a pensar que 
o perfil do redator paraibano é bastante atípico e instigante. Diferentemente de outros 
jornalistas que, em sua maioria, seguiam a carreira de bacharéis, ocupavam cargos 
políticos ou públicos e ascendiam dentro do aparato do Estado imperial, Borges operou, 
de maneira ativa e contínua, na imprensa periódica. É de fascinar a um historiador da 
 
1 MARSON, Izabel Andrade. O Império do Progresso: a Revolução Praieira em Pernambuco (1842-1855). 
São Paulo: Editora Brasiliense, 1987, p. 357. 
2 CARVALHO, Alfredo. Annaes da imprensa periódica pernambucana de 1821 a 1908. Recife, Tipografia 
do Jornal do Recife, 1908; VIANA, Hélio. Contribuição à história da imprensa: 1812-1869. Rio de Janeiro: 
Imprensa Nacional, 1945. NASCIMENTO, Luís do. História da imprensa de Pernambuco (1821-1954). 
Recife: Imprensa Universitária / Universidade Federal de Pernambuco, 1966. (Diários do Recife: 1829-
1900, v. 2). Idem. Op. cit. 1969. (Periódicos do Recife:1821-1850, v. 4). 
13 
 
primeira metade do século XIX brasileiro as constantes publicações e mobilidades que 
um homem daquele tempo conseguiu realizar em três províncias do Império. As idas e 
vindas de Borges entre Paraíba, Pernambuco e Rio de Janeiro eram um meio de ele 
estabelecer relações entre as instituições locais ecentrais, interligar os debates políticos 
por essas regiões e, sobretudo, atrair leitores e simpatizantes. A sua atividade política, 
desse modo, não se limitou aos lugares em que seus escritos foram publicados, 
ultrapassou os limites provinciais, contribuindo para o alargamento daquilo que Marco 
Morel denominou de “espaços públicos”.3 Borges se destacou politicamente por conta de 
sua atuação na imprensa, em um espaço público que, durante o século XIX, se fortaleceu 
como extensão dos trabalhos no Parlamento e como lugar de luta política. Todavia, a ação 
do redator, para além de se desenrolar na imprensa, se efetivou em manifestações e 
protestos de rua, em um outro espaço que também se tornou “locus privilegiado de se 
fazer política” para diferentes atores políticos e sociais.4 
Borges da Fonseca apareceu no cenário público do Império brasileiro em um 
contexto de crise política, que desembocou na Abdicação de D. Pedro I. Segundo Morel 
e Mariana Barros, tal conjuntura contribuiu para “uma verdadeira explosão da palavra 
pública”.5 A discussão política atingiu um tom mais alto. Difundiam-se na Corte do Rio 
de Janeiro e nas províncias associações legais, maçônicas, filantrópicas e patrióticas. 
Proliferavam folhas volantes, cartazes, manuscritos, brochuras, manifestos, proclamações 
e denúncias. Foi dentro desses espaços públicos que começou a se afirmar como 
hegemônico o conceito moderno de “opinião pública”.6 Na época da Independência, o 
termo era entendido como a “Rainha do mundo”; a soberana no reino da sabedoria, da 
 
3 Marco Morel, ao estudar as transformações dos espaços públicos no período da Independência e no início 
da construção do Estado nacional brasileiro, tomou como uma de suas principais referências teóricas o 
conceito de esfera pública do filósofo alemão Jürgen Habermas. Fundamentando-se nas ideias deste autor, 
Morel esclareceu que a expressão espaço público em seu trabalho teria três conotações: 1) “cena ou esfera 
pública, onde interagem diferentes atores, e que não se confunde com o Estado”; 2) “esfera literária e 
cultural, que não é isolada do restante da sociedade e resulta da expressão letrada ou oral de agentes 
históricos diversificados”; e 3) “espaços físicos ou locais onde se configuram estas cenas e esferas”. Ver: 
MOREL, Marco. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na 
cidade imperial (1820-1840). Rio de Janeiro: Revan/Faperj, 2005; HABERMAS, Jürgen. Mudança 
estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Rio de Janeiro: 
Tempo Brasileiro, 1984. 
4 MOREL, Marco. “A política nas ruas: os espaços públicos na cidade imperial do Rio de Janeiro”. Estudos 
Ibero-Americanos. PUCRS, v. XXIV, n. 1, junho 1998, p. 73. 
5 MOREL, Marco; BARROS, Mariana Monteiro de. Palavra, imagem e poder: o surgimento da imprensa 
no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 30. 
6 Ibidem, p. 21-22. Para Morel e Barros, o conceito de “opinião pública” trata-se de palavras, de um 
poderoso instrumento de combate, de um recurso para legitimação de práticas políticas; remete a uma 
expressão que desempenhou papel de destaque na constituição dos espaços públicos e de uma nova 
legitimidade política nas sociedades ocidentais a partir de meados do século XVIII. 
14 
 
prudência e da razão; um saber político que competia somente àqueles que 
desempenhavam elevados cargos na administração e na burocracia estatal. No entanto, 
em 1831, passou a ser mais relacionado à ideia de “Tribunal”. Tratava-se, agora, da 
expressão da vontade da maioria dos membros de uma sociedade; da adequada 
participação política praticada pelos cidadãos, para que a informação sobre as coisas 
públicas circulasse o mais livremente possível. Os porta-vozes dessa opinião pretendiam 
utilizá-la como instrumento para intervenção direta na vida pública, nas instituições, 
atuando de maneira normativa junto às autoridades.7 Não obstante, conforme Morel e 
Barros, a opinião pública estava longe de ser homogênea, posto que existiam diversas 
motivações que levavam os homens de letras – conhecidos como redatores, gazeteiros ou 
panfletários – a procurar diferentes perfis de leitores. Havia aqueles que priorizavam uma 
espécie de diálogo com um público ilustrado e poderoso, formado por homens instruídos 
e ricos proprietários, e outros que, imbuídos pela crença de que estariam em uma missão 
pedagógica e civilizadora, ou de propagar as “novas ideias liberais”, buscavam um 
público considerado rude, iletrado, pobre e sem instrução.8 
Em virtude de Borges da Fonseca ter se aproximado deste último tipo de público e 
ter usado a imprensa como um mecanismo de mobilização política, foram atribuídas a ele 
várias representações. Aqui, vale a pena destacar o conceito de “representações coletivas” 
proposto por Roger Chartier.9 Francismar Alex L. de Carvalho, procurando demonstrar 
as potencialidades e os limites das abordagens teórico-metodológicas elaboradas pelo 
historiador francês, apontou que Chartier entende que as representações se constituem 
através de várias determinações sociais para, em seguida, tornarem-se matrizes de 
classificação e ordenação do próprio real. Elas são categorias e divisões que organizam a 
apreensão do mundo social.10 Dessa forma, o conceito de “representações”, formulado 
por Chartier, permite o pesquisador avaliar o ser-percebido que um indivíduo ou um 
grupo constrói e propõe para si mesmo e para os outros. Esses indivíduos ou grupos, ao 
se colocarem no campo da luta simbólica, tentam determinar a sua concepção de mundo 
social. Daí as representações não serem discursos neutros, uma vez que elas são 
produzidas por estratégias e práticas tendentes a impor uma autoridade, um apreço ou a 
 
7 Ibidem, p. 28-31. 
8 Ibidem, p. 31-44. 
9 CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difusão Editora, 1988; 
Idem. CHARTIER, Roger. “O mundo como representação”. Estudos Avançados. Campinas: Unicamp. 
11(5), 1991. p. 173-191. 
10 CARVALHO, Francismar Alex Lopes de. “O conceito de representação coletivas segundo Roger 
Chartier”. Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 9, n. 1, 2005, p. 151. 
15 
 
legitimar escolhas. Entretanto, a imposição de uma representação não significa que a sua 
aceitação seja unívoca: pode existir uma pluralidade de leituras. Entre a representação 
proposta e o sentido construído, as discordâncias são possíveis. Embora as representações 
aspirem à universalidade, elas são variáveis conforme as disposições dos grupos sociais.11 
Partindo das considerações de Chartier, podemos afirmar que as representações de 
Borges da Fonseca continham interpretações e significados diferentes. Isso dependia das 
intenções de quem as forjavam. Se os meios de comunicação do século XXI fazem uso 
de diversos recursos audiovisuais para polemizar as atitudes de figuras públicas e 
políticas, os escritores de jornais, folhetos e panfletos da primeira metade do século XIX 
lançavam mão das palavras. Nas ruas, por sua vez, principalmente nas do Rio de Janeiro 
e do Recife, elas eram bradadas e vociferadas pelas camadas subalternas, conhecidas 
como “povo”, “plebe” ou “populaça”. Foram as palavras que delinearam as 
representações – ou os retratos, as imagens – de Borges da Fonseca. Dependendo de quem 
as escrevia ou esbravejava, o redator podia ser taxado tanto de “anarquista”, “demagogo” 
e “agitador” como de “mártir da liberdade”, “republicano” e “defensor do povo”. Para 
tanto, tais epítetos negativos ou positivos podiam ser anunciados por uma mesma pessoa, 
como apontou Izabel Marson, no trecho destacado da primeira página desta Introdução. 
Em 1848, o mesmo José Thomaz Nabuco de Araújo que, enquanto jornalista, havia 
defendido Borges em nome da liberdade de imprensa,em 1849, na posição de juiz, o 
condenou como “rebelde”. Percebe-se, então, que as palavras estavam entrelaçadas em 
complexas tramas e tessituras políticas. 
A presente tese tem como tema a construção da imagem de si e das imagens de 
Antônio Borges da Fonseca na imprensa pernambucana, nos anos anteriores e posteriores 
à Insurreição Praieira, entre 1841 e 1852. 1841 foi delimitado como marco inicial, por 
ser tratar de um ano em que Borges da Fonseca reapareceu na cena pública da província 
de Pernambuco, escrevendo O Correio do Norte. E, como marco final, 1852, ano em que 
o publicista recebeu anistia do crime de “rebelião” e passou a dirigir A Revolusão de 
Novembro. Uma das principais hipóteses deste trabalho é a de que as imagens de Borges 
da Fonseca – elaboradas em textos por si mesmo, pelos seus defensores e pelos seus 
adversários – foram cristalizadas ao longo da década de 1840, na província de 
Pernambuco. Tais representações foram fixadas na memória historiográfica brasileira: 
nas obras dos historiadores que se debruçaram nos relatos dos repressores da “rebelião 
 
11 Ibidem, p. 152-155. 
16 
 
praieira”, a exemplo de Alfredo de Carvalho12 e Hélio Viana13, o redator apareceu como 
um frenético “panfletário”, no sentido negativo do termo, que não possuía uma coerência 
em suas propostas políticas. Já nas biografias que tentaram resgatar a vida política do 
paraibano, como a de Mário Márcio de Almeida Santos14 e Maria Lúcia Ricci15, ao se 
embasarem nos próprios discursos de Borges, sem perceber que o jornalista tinha uma 
intenção de criar uma autoimagem, o apresentaram como o grande paladino da causa 
republicana e democrática. De fato, Borges definiu um estilo político mais veemente, 
inflamado, contestador e panfletário na década de 1840. No entanto, não foi em todos os 
contextos políticos que pregou o fim da Monarquia e tampouco uma transformação 
profunda da sociedade brasileira. É preciso, dessa forma, iluminar as outras facetas do 
redator e os outros fragmentos de sua trajetória política. 
Tendo em mente que Borges da Fonseca estava imerso em uma batalha de palavras, 
onde cada publicista, ao escrever o seu texto, desejava traçar para si e para outros uma 
imagem, e para isso se valia de variadas estratégias linguísticas, esta pesquisa 
fundamenta-se nos trabalhos sobre a retórica. Quem nos forneceu significativos caminhos 
para a análise do discurso retórico nos jornais do século XIX foi José Murilo de 
Carvalho.16 Ao indicar a possibilidade de usar a retórica como ferramenta de análise na 
prática da História Intelectual, Carvalho destacou a recente preocupação de estudos da 
área da filosofia e da crítica literária em recuperar a dimensão da retórica no discurso. 
Segundo este historiador, Chaïm Perelman foi um dos principais precursores em 
demonstrar que a retórica está “dentro do domínio da lógica na medida em que recorre a 
argumentos que vão além da estrita racionalidade”.17 Ela não procura apenas convencer, 
“operação que se faz mediante a raciocínios lógicos”, mas também persuadir e conduzir 
à ação.18 Apoiando-se nas ideias de Perelman, Carvalho destacou três importantes 
características da retórica que podem ser profícuas para os pesquisadores que estudam 
textos do século XIX. A primeira é a estreita ligação entre os argumentos e a pessoa do 
orador. Um dos mais consideráveis elementos de convicção é a autoridade do orador, que 
 
12 CARVALHO, Alfredo. Op. cit. 
13 VIANA, Hélio. Op. cit. 
14 SANTOS, Mário Márcio de Almeida. Um homem contra o Império: Antônio Borges da Fonseca. Paraíba: 
Ed. A União / Conselho Estadual de Cultura, 1994. 
15 RICCI, Maria Lúcia de Souza Rangel. A atuação política de um publicita: Antônio Borges da Fonseca. 
Campinas: Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 1995. 
16 CARVALHO, José Murilo de. “História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura”. Topoi, 
n. 1, Rio de Janeiro, setembro de 2000. 
17 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação. A nova retórica. São 
Paulo: Martins Fontes, 1996 apud ibidem, p. 137. 
18 Ibidem, p. 137. 
17 
 
deve ser marcada pela competência, prestígio e honestidade. Se a autoridade do orador 
não for o suficiente para sustentar os seus argumentos, ele pode recorrer a de outros. A 
segunda refere-se ao campo de argumentação. Se na lógica ele é fechado dentro de um 
sistema, na retórica é sempre aberto. Por isso, a necessidade de o orador persuadir o seu 
auditório fazendo uso, por exemplo, de repetições, redundâncias e figuras de linguagens. 
E a terceira diz respeito ao auditório. Para que a persuasão do orador seja eficaz, é preciso 
que ele conheça o seu público, a fim de que utilize os argumentos e estilos adequados.19 
Buscando as raízes históricas do estilo retórico nos escritos brasileiros do século 
XIX, Carvalho apontou que muitos membros da elite política e intelectual brasileira 
estudaram em duas instituições portuguesas que receberam uma grande influência da 
tradição escolástica jesuítica: a Universidade de Coimbra e o Colégio de Artes. Em ambas 
as instituições, a retórica era uma matéria obrigatória, além do estudo da Bíblia e da 
ortodoxia: Santo Tomás e Aristóteles. A dominação jesuítica no ensino português durou 
até 1759, quando o marquês de Pombal expulsou a ordem religiosa do país e buscou 
efetivar uma renovação no método de estudo, introduzindo novas disciplinas, como a 
matemática e a filosofia, na Universidade de Coimbra. No entanto, mesmo que esta 
instituição tivesse passado por uma reforma, a retórica não foi excluída de seus cursos: o 
que se pretendia era modificar o seu conteúdo e ampliar o seu alcance. Baseada na obra 
do frade oratoriano Luís Antônio Verney – Verdadeiro Método de Estudar –, a nova 
concepção da retórica era, na verdade, um ataque ao mau gosto da oratória portuguesa, 
do excesso de citações de frases, de autores e das repetições, da exibição da erudição e da 
imperícia na elocução. A retórica só seria útil se fosse aplicada em todas as circunstâncias 
da vida como a arte de persuadir.20 
Carvalho também assinalou que a tradição da retórica lusitana se revelou ainda mais 
importante no Brasil após a chegada da Corte de D. João VI, em 1808. Um dos principais 
conselheiros do príncipe regente, Silvestre Pinheiro Ferreira, abriu na Colônia um curso 
de filosofia e de teórica do discurso e da linguagem, além de ter escrito um compêndio, 
publicado entre 1813 e 1820, sob o título de Preleções Philosophicas. Neste livro 
reforçava a ideia de que a arte de pensar não poderia estar separada da arte de falar com 
clareza: a retórica não devia ser enfeite, e sim instrumento de argumentação e persuasão. 
Ligado à tradição romana da retórica cívica, Silvestre Pinheiro pôs em evidência a 
necessidade da virtude, da bondade e da prudência do orador. Se os costumes do orador 
 
19 Ibidem, p. 137-138. 
20 Ibidem, p. 130-133. 
18 
 
não fossem recomendáveis, ele não passaria de um rábula e não convenceria ninguém. 
Ou seja, na retórica, a qualidade moral do orador valia tanto quanto a de seus 
argumentos.21 Daí se explica a tentativa de muitos jornalistas brasileiros do século XIX 
em desqualificar moralmente os seus opositores. Apesar de alguns deles não terem 
cursado as aulas régias ou o ensino superior em Coimbra, adquiriam noções de retórica, 
pois estas eram essenciais nos embates políticos travados nos jornais. Os homens que 
atuavam na imprensa, além de discutirem questões que abrangiam valores e princípios, 
também debatiam a sua própria ação política e a ação política de seus oponentes.22 
Assim, ao analisar o modo retórico de argumentar dos escritores brasileiros, 
Carvalho trouxe-nos uma nova explicação sobre o fenômeno da violência dalinguagem 
nos jornais do século XIX. O autor elucidou que a interpretação partilhada pela maioria 
dos analistas para esse fenômeno seria a falta de experiência dos redatores em matéria de 
debate político democrático. As práticas do debate privado eram frequentemente 
transferidas para o debate público, em forma de ataques pessoais. Contudo, para ele, 
embora essa exposição seja plausível, não é totalmente satisfatória, posto que, se 
observarmos o fenômeno da violência verbal pelo prisma da retórica, a imagem negativa 
dos ataques pessoais, exposta como imaturidade, falta de educação e incivilidade, pode 
ser matizada. Na concepção adotada pela reforma pombalina, tributária da tradição cívica 
romana, o argumento retórico não se separava da autoridade do orador; a virtude do 
orador era uma exigência para garantia da capacidade persuasiva do argumento.23 A 
agressão pessoal direta, dessa maneira, pode ser tratada como indicadora de um estilo 
específico de argumentação. Basta que os historiadores desloquem seu exame para o 
interior dos textos com o intuito de investigar em que medida as regras do argumento 
retórico se fazem presentes. A atenção deve ser dirigida, sobretudo, para a elocução, isto 
é, para o modo de dizer, o estilo. É na elocução que se encontram os instrumentos de 
persuasão, como o uso das figuras de linguagem: a paródia, a ironia, o sarcasmo, a 
antífrase, a hipérbole, entre outras.24 
A utilização da retórica como instrumento de análise de textos do século XIX não 
se esgota nos aspectos apresentados por Carvalho. Ruth Amossy, especialista em análise 
do discurso, demonstrou que os novos estudos da teoria da argumentação, convocando a 
 
21 Ibidem, p. 133-135. 
22 Ibidem, p. 135. 
23 Ibidem, p. 140. 
24 Ibidem, p. 145-146. 
19 
 
Retórica de Aristóteles, têm privilegiado a noção de lugar-comum e de ethos para 
examinar a força persuasiva do discurso.25 Assim como Carvalho, Amossy também 
ressaltou que a retórica, na Antiguidade, era uma teoria da fala eficaz e uma aprendizagem 
da arte de persuadir. Com o passar do tempo, entretanto, tornou-se, progressivamente, 
uma arte do bem dizer, reduzindo-se a um arsenal de figuras. Voltada para os ornamentos 
do discurso, esqueceu-se de sua vocação primeira: imprimir ao verbo a capacidade de 
provocar a convicção.26 Fruto da polis grega, da cidade livre, onde as decisões públicas 
convocavam o debate, a retórica permitia o bom andamento da justiça (por meio do 
manuseio da controvérsia) e da democracia (pela prática da palavra pública). Por isso que 
tinha como alvo tanto o judiciário e o deliberativo – o político no sentido amplo, que 
abrangia tudo aquilo que demandava uma decisão para o futuro – quanto o epidíctico – o 
discurso pronunciado em cerimônias. Com essa tripla dimensão, ela foi conceitualizada, 
formalizada e regulamentada por Aristóteles. Na concepção advinda do filósofo grego, a 
retórica estava presente em todos os domínios humanos em que era preciso adotar uma 
opinião, tomar uma decisão, não com base em uma verdade absoluta, ou por meio de vias 
coercitivas, mas se fundamentando no que parecia plausível e razoável de crer e fazer. 
Tal ponto de vista explica a centralidade, na teoria aristotélica, das noções de lugar-
comum – a disposição do auditório – e de ethos – a imagem que o orador projeta de si 
mesmo em seu discurso e que contribui fortemente para assegurar sua credibilidade e sua 
autoridade.27 
De acordo com Amossy, Chäim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, ao retomarem 
as perspectivas aristotélicas sobre a importância dos lugares-comuns no discurso, deram 
uma importante contribuição para a nova retórica. Os dois autores revelaram a concepção 
de que o orador e o auditório exercem uma influência mútua um sobre o outro. O orador 
seria tanto aquele que pronuncia o discurso quanto aquele que o escreve. E o auditório “o 
conjunto daqueles que o orador quer influenciar com sua argumentação”.28 Dentro desta 
perspectiva, o auditório é uma entidade variável: pode ser formado por uma única pessoa 
ou por uma numerosa assembleia, determinado ou indeterminado, presente ou ausente, 
pois é o orador que o constrói. Por outro lado, o orador tem a necessidade de adaptar-se 
 
25 AMOSSY, Ruth. A argumentação no discurso. São Paulo: Contexto, 2020. 
26 Ibidem, p. 7. 
27 Ibidem, p. 15-18. 
28 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Traité de l’argumentation. La nouvelle 
rhétorique. Bruxelles: Éditions de l’Université de Bruxelles, 1970, p. 22 apud AMOSSY, Ruth. Op. cit., p. 
52. 
20 
 
às crenças e valores de seu auditório. O orador só conquistará a adesão se basear o seu 
discurso em premissas já aprovadas por seu público. Desse modo, ele deve conhecer o 
nível de educação de seus interlocutores, o meio social do qual fazem parte e as funções 
que assumem na sociedade. É somente quando consegue ter uma ideia de seu auditório 
que pode tentar aproximá-lo de seus próprios pontos de vista e levá-lo à ação.29 
Amossy ainda enfatizou que as novas abordagens da retórica, ao resgatarem o ethos 
aristotélico, também têm indicado a importância da imagem de si que orador constrói em 
seu discurso.30 Aquele que toma a palavra ou a pena, para exercer influência, procura ter 
uma ideia da maneira como o seu auditório o percebe. Neste sentido, para legitimar o seu 
dizer, o orador apoia-se em quatro elementos preexistentes: 1) a sua reputação, a imagem 
prévia que o seu auditório tem de si; 2) o seu status, o prestígio devido às suas funções 
ou a seu nascimento; 3) as suas qualidades próprias, a sua personalidade; e 4) o seu modo 
de vida, o exemplo que dá por seu comportamento. Enquanto os dois primeiros aspectos 
tangem à questão de status social e institucional, os dois últimos relacionam-se à questão 
de moral. De um lado, estima-se que a autoridade depende do que o orador representa na 
sociedade em que vive e no interior da qual exerce sua influência. De outro, enfatiza-se a 
ética, fazendo com que a eficácia retórica dependa da moral e das práticas de vida daquele 
que quer persuadir. Assim, o ethos é elaborado tanto com base no papel que o orador 
exerce no espaço social como na representação coletiva que circula sobre sua pessoa. O 
orador deixa no discurso traços tangíveis de sua imagem de si, que podem ser 
identificadas, ora nas marcas linguísticas, ora na situação de enunciação.31 
Amparando-nos nas considerações de Carvalho e Amossy, asseveramos que Borges 
da Fonseca tinha conhecimento de retórica. A sua procedência familiar e intelectual revela 
esta asserção. Segundo alguns de seus primeiros biógrafos, como Sacramento Blake e 
Hélio Viana, Borges era descendente de ilustres servidores da Coroa portuguesa. Muitos 
de sua ascendência conquistaram posição destacada na atividade política e intelectual do 
nordeste brasileiro: um de seus antepassados, igualmente de nome Antônio Borges da 
Fonseca, governou a Paraíba entre 1745 e 1753. Um outro ancestral, Antônio José 
 
29 AMOSSY, Ruth. Op. cit., p. 52-58. 
30 Entre os trabalhos que estudaram o ethos aristotélico, Ruth Amossy citou, principalmente, os de 
BENVENISTE, Émille. Problemas de linguística geral I. São Paulo: Nacional/Edusp, 1976; Idem. 
Problemas de linguística geral II. Campinas: Pontes, 1989; MAINGUENEAU, Dominique. Pragmática 
para o discurso literário. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Idem. Termos-chave da análise do discurso; 
Belo Horizonte: Ed. UGMG, 1998; GOFFMAN. Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 
Petrópolis: Vozes, 1975; e BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Edusp, 2008. 
31 AMOSSY, Ruth. Op. cit., p. 89-92. 
21 
 
Vitoriano Borges da Fonseca, governou o Ceará entre 1765 e 1781, e foi autor da 
Nobiliarquia Pernambucana,um manual que pontificava as árvores genealógicas mais 
notáveis da região. Um terceiro, de mesmo nome do precedente, comandou o 
destacamento revolucionário de Alagoas em 1817, e fez parte do Governo Provisório de 
Pernambuco em 1821, criado em consequência da deposição de Luís do Rego Barreto.32 
Então, parece-nos que a origem familiar de Borges favoreceu que ele vivesse em um 
ambiente político e ilustrado. 
Blake e Viana também apontaram que Borges da Fonseca estudara no Seminário 
Episcopal de Olinda, instituição de formação liberal e a mais importante de ensino em 
Pernambuco.33 Todavia, Santos enfatizou que este dado foi um dos mitos que se construiu 
em torno do jornalista. Era bem possível que este projeto tivesse existido, mas a ideia não 
se concretizara, uma vez que a mãe do paraibano era uma índia e o Direito Eclesiástico 
era contra o ingresso de filhos ilegítimos em escolas de formação sacerdotal.34 Já Ricci 
registrou que Borges teria ingressado, aos 12 anos de idade, no Liceu Pernambucano, 
estabelecimento educacional que havia sofrido uma reforma de direção no início dos anos 
de 1820. O novo diretor do Liceu, o padre Laurentino Antônio Moreira de Carvalho, era 
membro da Congregação do Oratório de São Felipe Nery: instituição religiosa que esteve 
intimamente ligada à luta contra às concepções filosóficas e pedagógicas dos jesuítas. Os 
professores que passaram a fazer parte do novo corpo docente da escola eram destacados 
nomes não só do magistério, como também do meio político e literário de Pernambuco. 
Borges teria se formado em 1826. Dois anos depois, em 1828, teria se tornado mestre de 
primeiras letras na Paraíba.35 
Ainda sobre a formação intelectual de Borges da Fonseca, Santos destacou que o 
redator, em torno de seus 45 anos de idade, acalentava o desejo de ter um título de 
bacharel ou de doutor em Direito. Como não queria cursar na Academia de Olinda, foi 
para a Europa em busca de um certificado, em 1857. Ao pesquisar várias cartas escritas 
por Borges, publicadas n’O Povo, Santos salientou que, quando o publicista esteve na 
França, os seus amigos, de uma pequena colônia luso-brasileira de Paris, o aconselharam 
ir para a Alemanha para obter o título, pois o país ainda não era unificado e na maioria de 
 
32 BLAKE, Augusto Vitorino A. Sacramento. Diccionário Bibliográphico Brazileiro. Rio de Janeiro, 
Conselho Federal de Cultura, 1970 (ed. Fac-similar da original de 1883-1902), v. 1, p. 6-23; VIANA, Hélio. 
Op. cit., p. 535-536. 
33 BLAKE, Augusto Vitorino A. Sacramento. Op. cit., p. 6-23; VIANA, Hélio. Op. cit., p. 535-536. 
34 SANTOS, Mário Márcio de Almeida. Op. cit., p. 23-24. 
35 RICCI, Maria Lúcia de Souza Rangel. Op. cit., p. 87. 
22 
 
seus reinos e principados existia uma universidade. Teria sido, então, dessa maneira que 
Borges pode ter conquistado o certificado de Doutor em Direito.36 O Povo, ao saber da 
notícia, logo escreveu uma nota dizendo que ele cursara Direito na Universidade de 
Rostock, no Mecklemburg, e que a razão determinante da concessão do título teria sido 
“a apresentação feita pelo Sr. Borges da Fonseca de uma dissertação”, para uma 
congregação, com “um primor de lógica e erudição”.37 Os correligionários do redator 
prestaram-lhe homenagens, porém os seus adversários mencionaram que ele não passava 
de um “rábula”.38 Segundo Santos, Borges usara de todos os meios para que acreditassem 
na autenticidade do título que recebera. Um doutoramento na Alemanha lhe daria mais 
respeitabilidade e seria mais impressionante do que um bacharelado pela Academia de 
Olinda.39 No entanto, é difícil imaginar uma pessoa que não sabia falar e escrever alemão 
ter defendido uma dissertação com “primor de lógica e erudição”. Dissertação esta que 
nunca foi publicada pelo paraibano. 
Aliás, Borges da Fonseca não fazia uso da erudição em seus jornais. A sua escrita 
valorizava mais a forma como as pessoas falavam no cotidiano do que em um conjunto 
de regras ortográficas. No primeiro número d’O Repúblico, por exemplo, publicado em 2 
de outubro de 1830, no Rio de Janeiro, ele afirmou que não seguiria “a ortografia 
filosófica ou da pronunciação” e que, naquela ocasião, desprezaria o “sedilho”.40 Ora, a 
marca que o redator paraibano desejava imprimir era esta: a ideia de que a sua linguagem 
era simples, própria, popular, para que a gente comum pudesse compreendê-la. E à 
medida que a sua posição de jornalista foi se afirmando, ele foi dando mais vigor a seu 
estilo retórico: a sua particularidade na imprensa seria manifestada pela entonação 
calorosa e severa de seus argumentos. A partir do início da década de 1840, Borges passou 
a projetar, veementemente, em seus discursos a imagem de um jornalista íntegro e de um 
tribuno por excelência, que possuía o prestígio capaz de garantir a audiência das camadas 
mais pobres da população recifense. Com frequência, apresentava-se para os seus 
 
36 SANTOS, Mário Márcio de Almeida. Op. cit., p. 270-273. 
37 O Povo, 05/09/1858 apud ibidem, p. 273-274. 
38 Santos destacou o seguinte trecho d’O Imparcial, jornal opositor a Borges da Fonseca: “Consta que anda 
por esta cidade o antigo rábula Borges da Fonseca especulando com a credulidade deste bom povo, a fim 
de ver se consegue uma nova pescaria, que lhe farte a fome canina! É um gosto vê-lo na roda-viva em que 
se acha de Escada para esta cidade, ora para Igarassu, ora para Olinda, etc., a catar de inexperientes que 
levando-se por suas lábias, caem na corriola de lhe entregar uma outra questãozinha, pois que as grandes 
ninguém ainda renunciou ao bom senso para ir entregar ao rábula pedante, que vive a empanzinar a gente 
com um título de Dr. que comprou na Europa, e que em vez de lhe dar ciência, aumentou-lhe a insolência 
e impostura”. O Imparcial, 06/08/1859 apud ibidem, p. 274. 
39 Ibidem, p. 271-275. 
40 O Repúblico, nº 01, 02/10/1830. 
23 
 
contemporâneos como um legítimo porta-voz dos ideais republicanos e democráticos. Tal 
mito acabou por ser consagrado na Insurreição Praieira, fazendo com que os seus 
biógrafos o reputassem como um eterno radical e republicano, desconsiderando a 
percepção de que o seu pensamento político foi construído a partir de suas experiências 
vividas em diferentes contextos políticos do Império brasileiro. 
Em dissertação de mestrado, estudando as ideias políticas de Borges da Fonseca no 
final do Primeiro Reinado e no início da Regência, por meio da análise da primeira, 
segunda e quarta fases d’O Repúblico (1830-1831; 1831-1832; 1837), desvelamos que o 
jornalista paraibano seguia as dinâmicas das lutas políticas de sua época.41 Em fins de 
1830, ele se colocou em aberta oposição a D. Pedro I, defendendo a Constituição e o 
reforço do Poder Legislativo frente à atuação do poder monárquico. Demonstrava o receio 
de que o Imperador se tornasse um tirano e limitasse a representatividade da Assembleia 
Legislativa. Declarava-se a favor de um regime representativo que garantisse uma maior 
autonomia das províncias do Império, especialmente as do Norte. Para tanto, as suas 
propostas de autonomia provincial não se confundiam necessariamente com projetos de 
República. O sistema federalista seria vantajoso para a Monarquia constitucional 
brasileira, se esta adotasse, a partir da reforma da Constituição, o modelo norte-
americano, no que tange à federação, sem colocar em risco a unidade nacional. Mesmo 
proferindo discursos inflamados alguns dias antes e depois do Sete de Abril, o publicista 
ressaltava que o Brasil ainda não estava preparado para receber o sistema republicano, 
pois, ao seu ver, o país, até aquele momento, vivia sob uma ineficiente educação 
política.42 Neste sentido, no final de 1831 e início de 1832, o grande foco da atenção de 
Borges ainda era discutir as questões relativas às reformas constitucionais,porém estas 
deveriam ser realizadas com o objetivo de sustentar a Monarquia e conservar a ordem 
social.43 Contudo, em 1837, às vésperas do Regresso Conservador, Borges anunciou que 
as reformas tão pretendidas para a ampliação da autonomia provincial seriam revertidas. 
Ao entender que a “revolução”, iniciada em 7 de abril de 1831, não se completaria no 
Brasil, declarou abertamente que preferia a República.44 
 
41 SILVA, Carolina Paes Barreto da. A trajetória d’O Repúblico nas Regências: os discursos impressos de 
Antônio Borges da Fonseca sobre a política imperial (1830-1837). Dissertação (Mestrado), Departamento 
de História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. 
42 Ibidem, Capítulo 2. 
43 Ibidem, Capítulo 3. 
44 Ibidem, p. 152-157. 
24 
 
A partir dessas ponderações, constatamos que o essencial nos estudos sobre Borges 
da Fonseca não se concentra em desvendar se ele era monarquista ou republicano, e sim 
em privilegiar as suas percepções e lógicas diante das tensões políticas e sociais ocorridas 
no Império brasileiro. Com base nessa premissa, o conceito de “cultura política” tornou-
se primordial para este trabalho, pois possibilita o entendimento dos sentidos que um 
determinado indivíduo ou grupo atribui a uma dada realidade social. Segundo Serge 
Berstein, a cultura política procura “compreender as motivações dos atos dos homens em 
um determinado momento da história, por referência ao sistema de valores, de normas, 
de crenças que partilham, em função da sua leitura do passado, das suas aspirações para 
o futuro, das suas representações da sociedade”.45 O interesse na identificação de uma 
cultura política é duplo para o historiador, porque permite descobrir, pelo discurso, as 
raízes e as filiações dos indivíduos, reconstituir a coerência dos seus comportamentos 
pela descoberta de suas motivações, e entender a coesão de grupos organizados à volta de 
uma cultura (ideias, crenças, gestos, símbolos, mitos, ideologias, vocabulário etc.).46 
Nesse sentido, para a compreensão da trajetória e das ideias políticas de Borges da 
Fonseca faz-se necessário vinculá-las ao processo de formação do Estado nacional 
brasileiro. Vale lembrar que, segundo Gladys Sabina Ribeiro, os Estados nacionais e os 
nacionalismos são construções históricas.47 Ao estudar a constituição de uma identidade 
nacional no Brasil, a autora revelou que a nacionalidade brasileira não era ainda um tema 
amadurecido no Sete de Setembro, nem mesmo inteiramente delimitado no Sete de Abril. 
Nas primeiras décadas do país recém-criado, tentou-se forjar uma “consciência nacional”, 
bem como construir um Estado amplo, que abrangeria todo o seu território e as suas 
diversidades regionais, delineado a partir de elementos jurídicos e da definição dos 
poderes e da cidadania.48 No decorrer do processo de criação de mecanismos legais para 
o Brasil, foram discutidas questões concernentes ao papel do Estado: se este seria fruto 
da encarnação da soberania da nação ou do espaço da manifestação da soberania do povo. 
Tais concepções sobre a fonte de poder foram interpretadas tanto pelas classes 
 
45 SERGE, Berstein. “A cultura política”. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI Jean-François (org.). Para 
uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998, p. 363. 
46 Ibidem, p. 362. 
47 Ribeiro fundamentou-se nos pressupostos teóricos de Eric Hobsbawm e Benedict Anderson. O primeiro 
autor ressaltou que a Nação é uma entidade social apenas quando relacionada a uma certa forma de Estado 
territorial moderno, e não faz sentido discuti-la fora desta relação. Já o segundo indicou que a Nação é uma 
abstração, uma “comunidade política imaginada”. Ver: HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismos 
desde 1870 – programa mito e verdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 17; ANDERSON, Benedict. 
Nação e consciência nacional. São Paulo: Editora Ática, 1989, p. 14. 
48 RIBEIRO, Gladys Sabina. A liberdade em construção: identidade nacional e conflitos antilusitanos no 
Primeiro Reinado. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002, p. 19-20. 
25 
 
dominantes, na cena política mais formal, quanto pelas populares, em manifestações de 
rua. Nestas manifestações, ocorridas no Rio de Janeiro, ao longo dos anos de 1822 a 1834, 
o antilusitanismo surgiu com força, exteriorizando as disputas de nacionalidades em 
formação e as divergências de conteúdo político mais amplo, que traziam em si não só 
propostas de liberdade como também questões relacionadas ao mercado de trabalho, 
marcadas pela aguda disputa entre homens livres e libertos e portugueses.49 
Alguns autores atribuíram a Borges da Fonseca a liderança da “populaça” nos 
conflitos de rua que antecederam a Abdicação de D. Pedro I.50 Todavia, para Ribeiro, os 
homens ditos “exaltados” não dariam conta das insatisfações reveladas nas Noites das 
Garrafadas e no Sete de Abril: os populares tinham ideias próprias, construídas a partir 
de suas vivências e de suas leituras de liberdade. A retomada, na Regência, de problemas 
não resolvidos na época da Independência deu margem para que uma grande quantidade 
de mulatos, pretos e pardos e de homens livres pobres reivindicassem pela ampliação de 
seus direitos civis.51 Dessa forma, os exaltados discutiam em seus jornais ideias que há 
muito estavam sendo gestadas nas ruas, onde os indivíduos aprendiam princípios liberais, 
com a experiência política do Primeiro Reinado, divulgados desde a Revolução do Porto. 
Mais do que guiar o “povo”, os exaltados aproveitavam momentos de reivindicações 
múltiplas e de crises políticas para propagarem os seus projetos de Brasil. Assim, “a sua 
radicalidade era a mesma que era vivenciada nas ruas; era a radicalidade das ruas”.52 
As considerações de Ribeiro nos propiciaram um interessante caminho para 
entender as ideias políticas de Borges da Fonseca nos primeiros anos do Segundo 
Reinado: o jornalista incorporou em seus discursos as principais demandas dos 
trabalhadores urbanos do Recife, os quais enfrentavam uma intensa concorrência com os 
portugueses por um espaço no mercado de trabalho. É pertinente sublinhar que Borges 
viveu em uma província onde o sentimento antilusitano era demasiadamente flagrante. 
Procurando observar algumas facetas do antilusitanismo em Pernambuco, entre os anos 
de 1830 e 1870, Bruno Câmara afirmou que esse sentimento era recorrente na região e 
 
49 Ibidem, p. 243-247. 
50 VIANA, Hélio. Op. cit.; SOUSA, Octávio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do Brasil. 
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988, v. 9; SANTOS, Mário 
Márcio de Almeida. Op. cit.; RICCI, Maria Lúcia de Souza Rangel. Op. cit. 
51 RIBEIRO, Gladys Sabina. “A radicalidade dos exaltados em questão: jornais e panfletos no período de 
1831 a 1834”. In: RIBEIRO, Gladys Sabina; FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz (org.). 
Linguagens e práticas da cidadania no século XIX. São Paulo: Alameda: 2010, p. 83-88. 
52 Ibidem, p. 89-90. 
26 
 
que ganhou mais proporção em determinados momentos de convulsão social e política.53 
O antilusitanismo manifestou-se em violentos conflitos de rua conduzidos pelo povo 
comum e pela imprensa ligada às facções políticas em disputa pelo poder, cujas pautas, 
de ampla popularidade, visavam o projeto da nacionalização do comércio a retalho. 
Também esteve relacionado à construção de uma identidade local, fazendo com que o 
nacionalismo se desenvolvesse na província de maneira distinta das outras do Império. O 
passado pernambucano constituiu um elemento central na gestão dessa identidade 
histórica, que foi aproveitada pelos liberais na luta contra os portugueses.54 
Borges da Fonseca foi um dos principais redatores a desempenhar uma atividade 
destacada na imprensapernambucana, nos anos de 1840, difundindo os princípios da 
cultura política do constitucionalismo liberal. Todavia, é importante ressaltar que o 
redator também estava imerso na cultura política das camadas subalternas. Segundo Iara 
Lis Schiavinatto, esta cultura política se expressava no cotidiano imediato, em uma ação 
mais urgente, porque os populares procuravam preservar práticas que assegurassem 
trabalhos e combatessem o desemprego para os brasileiros.55 Na falta de recursos 
materiais para garantir algumas condições de vida, e devido às restrições constitucionais 
para embrenhar no jogo da representação e do sistema eleitoral, parte dos trabalhadores 
urbanos da província de Pernambuco – como caixeiros, soldados, pequenos negociantes 
e homens de ofício – deparava-se na circunstância de negociar suas reivindicações. E 
estas apareciam nos jornais de Borges.56 Em O Nazareno, O Verdadeiro Regenerador e 
O Tribuno, o jornalista postulava que os homens livres e libertos tivessem o direito ao 
trabalho, de votar livremente, de expressar a sua opinião, de ter instrução primária 
gratuita, de exercer a sua própria religião, de não ser preso sem julgamento. No entanto, 
embora defendesse um alargamento dos direitos civis e políticos desses segmentos 
sociais, as suas propostas não significavam necessariamente que eles fossem incluídos na 
condução da política. 
Em O Tempo Saquarema, Ilmar Rohloff de Mattos levantou algumas observações 
a respeito dos liberais exaltados.57 Segundo o autor, eles eram adeptos a uma liberdade 
 
53 CÂMARA, Bruno Augusto Dornelas. O “retalho do comércio: a política partidária, a comunidade 
portuguesa e a nacionalização do comércio a retalho, Pernambuco (1830-1870). Tese (Doutorado) – 
Departamento de História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012, p. 22-23. 
54 Ibidem, p. 23-31. 
55 SCHIAVINATTO, Iara Lis. “Entre história e historiografia: alguns apontamentos sobre a cultura política, 
1820-1840. Almanack Brasiliense. São Paulo, n. 8, nov. 2008, p. 44. 
56 Idem. 
57 MATTOS, Ilmar Rohloff. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987, p. 116-154. 
27 
 
antiga. Com os olhos voltados na Europa, retomaram a reconstrução que os 
revolucionários de 1789 haviam feito do passado romano: a recuperação do modelo de 
uma República que afirmava encontrar no povo o princípio político ou legislador. Este 
modelo de República implicava a existência de um conjunto de dispositivos institucionais 
e legais que garantisse à plebe a expressão de suas reivindicações sem que ela própria 
assumisse a direção política e o Poder Judiciário.58 Assim como os moderados, os 
exaltados também sustentavam como premissa da liberdade a prevalência da 
representação nacional, permanentemente ameaçada pela presença do elemento 
português, visto como absolutista e recolonizador. A liberdade só seria garantida se a 
Coroa e o Poder Executivo se subordinassem à representação nacional. Era nessa questão 
que eles julgavam encontrar sua força, porque a Câmara dos Deputados, enquanto 
representação nacional, aparecia como a expressão do “contrato social”, conforme 
formulado por Jean-Jacques Rousseau. Contudo, aí também residia uma das razões de sua 
fraqueza: a sua concepção de liberdade não deixava de pressupor uma igualdade, 
conduzindo ao aniquilamento das diferenças que deveriam distinguir o interior do 
“mundo do governo”, segundo os próprios reconheciam. A presença da plebe desunia, 
então, os exaltados, uma vez que a associação entre a liberdade e a igualdade tornava 
tênues os limites entre a revolução de cunho republicano e a “desordem”.59 
Borges da Fonseca pretendeu evidenciar, na imprensa pernambucana, a imagem de 
que sempre tinha sido um implacável defensor da República democrática. No entanto, o 
seu ideário republicano não estava pronto e definido desde a época em que escreveu O 
Repúblico, na Corte do Rio de Janeiro, em 1830, tampouco quando retornou para 
Pernambuco, fundando O Correio do Norte, em 1841. Como um homem que tinha os 
olhos para o seu contexto político, Borges reverberava e tirava partido do que via nas 
províncias do Norte e no Império. Mudava conforme as suas conveniências ou convicções 
políticas. As suas propostas políticas eram elásticas: oscilavam entre o reformismo, em 
momentos em que defendia uma remodelação nas instituições monárquicas, e o 
radicalismo, quando se aproximava das camadas subalternas e desejava a República como 
forma de governo. Portanto, os seus discursos eram atos políticos: eram recriados e 
adaptados em diferentes situações ou circunstâncias políticas. 
Seguindo esse ponto de vista, o presente trabalho se inspira tanto na História das 
Linguagens Políticas de Quentin Skinner quanto na História Conceitual de Reinhart 
 
58 Ibidem, p. 136. 
59 Ibidem, p. 140-141. 
28 
 
Koselleck. A abordagem teórico-metodológica de Skinner enfatiza que o significado de 
um texto não pode ser interpretado fora do contexto histórico no qual foi produzido, visto 
que o autor, ao elaborar o seu discurso, está realizando uma ação ou engajado em alguma 
atividade.60 Já a de Koselleck destaca que os conceitos são modificados pelos homens 
que deles usufruem e expressam as tensões sociais e políticas de um certo período.61 
Usando esses referenciais teórico-metodológicos, investigamos o uso que Borges da 
Fonseca fez dos conceitos de constituição, povo, liberdade, soberania, república e 
revolução, observando se estes termos receberam ou não alterações de significados entre 
os anos que antecederam e sucederam à Insurreição Praieira. Também procuramos 
verificar se estas noções sofreram mudança para o próprio Borges. Partimos da premissa 
de que as experiências vividas pelo jornalista fizeram com que ele apreendesse e 
produzisse novas formas de pensamento político, uma vez que as palavras se transformam 
em conceitos no tempo e os agentes sociais bebem de uma ou mais culturas políticas. Os 
impactos dos acontecimentos ou das disputas políticas nas quais Borges esteve inserido 
produziram mudanças nos sentidos dos termos que ele utilizava ou geraram uma 
associação de conteúdos diversos, visto que os conceitos são sempre polissêmicos, podem 
ter vários sentidos e usos distintos em um mesmo contexto. 
Por fim, esta pesquisa se enquadra na perspectiva da História Política Renovada, ao 
chamar a atenção para as novas reflexões sobre a biografia. É importante frisar que, a 
partir das décadas de 1970 e 1980, os estudos das trajetórias individuais têm buscado 
captar a realidade dos problemas sociais através do concreto de uma vida. Dois estudiosos 
levantaram discussões teórico-metodológicas importantes para se pensar nas relações 
entre biografia e escrita da História. O primeiro foi o sociólogo Pierre Bourdieu. Para este 
autor, os pesquisadores, ao escreverem biografias, devem estar atentos aos perigos de 
formatar os seus personagens e de apresentar uma vida marcada por regularidades, 
repetições e permanências. Para fugir de um relato coerente, de uma sequência de 
acontecimentos com significado e direção – a “ilusão biográfica” –, é preciso reconstituir 
o contexto, a “superfície social” sobre a qual age o indivíduo.62 O segundo foi o 
 
60 SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Cia das Letras, 1996; 
KUNHAVALIK, Pedro. “Retórica e história do pensamento político em Quentin Skinner”. Diálogos, n. 
33, dez./2016, p. 127-139. 
61 KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos modernos. Rio de 
Janeiro: Contraponto/Editora PUC-Rio, 2006; Idem. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do 
mundo burguês. Rio de Janeiro: Editora UERJ/Contraponto, 1999. 
62 BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica”. In: AMADO, J. e FERREIRA,M. (org.). Usos & abusos da 
História Oral. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1996. 
29 
 
historiador Giovanni Levi, cujo trabalho pontuou abordagens significativas para analisar 
a ação dos sujeitos históricos em sociedade. Conforme Levi, a biografia pode apresentar 
algumas vantagens que permitem ao pesquisador observar o processo histórico a partir de 
um ângulo privilegiado. Ela é um importante mecanismo de entendimento das liberdades 
de escolhas individuais, das liberdades de ação, mesmo que restritas, incertas e instáveis, 
dentro de um contexto normativo, que não é absoluto, mas sim contraditório, abrindo, 
assim, uma brecha para as estratégias de ação dos agentes históricos.63 Através das 
reflexões desses dois autores, a trajetória de Borges da Fonseca foi utilizada para a 
compreensão do desenvolvimento da imprensa brasileira no século XIX. 
A presente tese está dividida em três partes. Cada parte contém dois capítulos. Na 
Primeira Parte – Antônio Borges da Fonseca: do autorretrato para os retratos –, 
composta pelo Capítulo I – As anotações de um publicista: a trajetória e o 
autorretrato de Antônio Borges da Fonseca no Manifesto Político de 1867 – e pelo 
Capítulo II – Os retratos de Antônio Borges da Fonseca: dos relatos dos 
contemporâneos da Insurreição Praieira à historiografia recente –, demonstramos 
como a imagem de si do redator foi construída em seu escrito autobiográfico e 
reproduzida, mais tarde, pelos estudiosos que se debruçaram em examinar a sua trajetória 
e ideias políticas. Também procuramos analisar que os retratos criados pelos 
contemporâneos de Borges foram aproveitados em alguns trabalhos historiográficos que 
não levaram em consideração as razões pelas quais eles foram elaborados na época. 
Portanto, encontra-se, de um lado, versões que tenderam desqualificar o jornalista, 
considerando-o como um “agitador” e “desordeiro”, e, de outro, interpretações que o 
aclamaram como um verdadeiro herói republicano e popular, e até mesmo socialista. 
Na Segunda Parte – A ação panfletária de Antônio Borges da Fonseca na 
imprensa pernambucana: as nuances do autorretrato e dos retratos (1841-1847) –, 
buscamos analisar como as imagens de Borges foram delineadas por meio dos debates 
travados entre os jornais. No Capítulo III – A “Abelha” e o “Repúblico” de volta a 
Pernambuco –, investigamos as principais propostas políticas do publicista no início do 
Segundo Reinado: tentamos compreender o seu posicionamento sobre a reforma do 
Código do Processo Criminal, o governo de D. Pedro II e a política provincial de 
Pernambuco, bem como a sua apreciação acerca das denúncias que levantaram a seu 
respeito: o incitamento de desmembração do Império, de formação de Repúblicas e de 
 
63 LEVI, Giovanni. “Usos da biografia”. In: AMADO, J. e FERREIRA, M. (org.). Op. cit. 
30 
 
lusofobia. Também procuramos observar o papel exercido por ele dentro das disputas 
partidárias da província e os perfis que praieiros e guabirus traçaram sobre a sua figura 
pública. Já no Capítulo IV – O julgamento do “Nazareno” –, refletimos como se deu o 
desenvolvimento da legislação da imprensa brasileira no século XIX, por intermédio do 
caso de Borges, da sua condenação por crime de imprensa. Em seguida, examinamos as 
principais impressões do jornalista em torno dos termos de liberdade, constituição e 
soberania. 
Por fim, na Terceira Parte – A ação combatente de Antônio Borges da Fonseca 
no movimento praieiro: a expressividade do autorretrato e dos retratos (1847-1852) 
–, procuramos observar como a figura pública de Borges ganhou mais notoriedade no 
cenário pernambucano. No Capítulo V – O “Tribuno” no cárcere –, demonstramos que 
o redator, mesmo estando na prisão, utilizou de seus argumentos retóricos para fazer 
oposição às lideranças praieiras, estabelecer alianças políticas e traçar interseções com o 
seu público-alvo (os homens livres e libertos do Recife), no contexto das eleições gerais 
de 1847. Por último, no Capítulo VI – O “mártir” e o “chefe” dos republicanos nos 
mata-marinheiros de 26 e 27 de junho de 1848 e na Insurreição Praieira – 
examinamos, a partir dos relatos do amigo e correligionário de Borges, Afonso de 
Albuquerque Melo, as diversas versões que surgiram a respeito da ação do paraibano em 
um dos maiores conflitos antilusitanos ocorridos na província. Além disso, buscamos 
perceber o entendimento que Borges tinha a respeito da Assembleia Constituinte, uma 
das principais marcas de suas reivindicações, bem como a sua compreensão dos conceitos 
de república e revolução, após à resistência armada, no início dos anos de 1850. 
Com relação às fontes primárias, priorizamos consultar as folhas escritas por 
Borges da Fonseca, como O Correio do Norte (1841-1842), O Nazareno (1843-1848), O 
Verdadeiro Regenerador (1844-1845), O Eleitor (1846), a primeira fase d’O Tribuno 
(1847-1848) e A Revolusão de Novembro (1852). Entretanto, a maioria das edições desses 
jornais não está disponível para pesquisa. Encontramos apenas um número d’O Nazareno 
e d’A Revolusão de Novembro. Não existe nenhuma edição acessível para manuseio d’O 
Verdadeiro Regenerador. A primeira fase d’O Tribuno também está incompleta. Além 
dos jornais de Borges e de seu escrito autobiográfico – Manifesto Político. Apontamentos 
de minha vida política e da vida política do Dr. Urbano Sabino Pessoa de Mello –, 
pesquisamos o Diário de Pernambuco (1841;1844;1848), A Ordem (1841), O Artilheiro 
(1843), O Paisano (1843), o Diário Novo (1843-1846), O Regenerador Brasileiro (1844), 
O Cometa (1844), O Guararapes (1844), O Azorrague (1845), O Arara (1845), A 
31 
 
Carranca (1845), O Lidador (1847), A Mentira (1848), O Advogado do Povo (1848) e A 
Revolução de Novembro (1850-1851). Como não tivemos acesso ao Nazareno, 
recorremos à transcrição do folheto Alegações em Acusação e Defesa do Nazareno em 
Sessão dos Jurados de 10 de agosto de 1847, escrito pelo próprio Borges. Uma parte 
dessas fontes está localizada na Seção de Obras Raras da Biblioteca Nacional (BN), a 
outra no Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano de Pernambuco (APEJE). 
Também acrescentamos para pesquisa a Coleção das Leis do Império. Sobre as citações 
desses documentos, foram atualizadas a grafia, porém mantidas a pontuação, a 
concordância e as palavras escritas em letras maiúsculas ou em itálico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PRIMEIRA PARTE 
 
ANTÔNIO BORGES DA FONSECA: 
DO AUTORRETRATO PARA OS RETRATOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
CAPÍTULO I 
 
AS ANOTAÇÕES DE UM PUBLICISTA: A TRAJETÓRIA E O 
AUTORRETRATO DE ANTÔNIO BORGES DA FONSECA NO MANIFESTO 
POLÍTICO DE 1867 
 
Em 20 de fevereiro de 1867, saiu a lume, no Recife, o Manifesto Político: 
apontamentos de minha vida política e da vida política do dr. Urbano Sabino Pessoa de 
Mello, escrito pelo redator Antônio Borges da Fonseca. Este pequeno livro, com pouco 
menos de quarenta páginas, era uma espécie de autobiografia, de caráter político. O 
propósito de Borges da Fonseca, por meio deste registro, foi reconstruir a sua experiência 
política usando episódios nos quais foi ator e testemunha. Todavia, ao longo de sua 
narrativa, para além de evidenciar a sua trajetória política, percebe-se uma outra intenção: 
a tentativa do autor criar uma versão de si mesmo, de avivar de maneira intensa a sua 
imagem. Observa-se o seu grande esforço em difundir e cristalizar uma identidade de si. 
Assim, no Manifesto Político, Borges buscou mostrar que, entre os anos de 1830 e 1860, 
se projetou como tribuno, advogado, revolucionário, republicano e líder popular. 
Em seu relato autobiográfico, Borges da Fonseca revelou que as suas esperanças 
em se candidatar deputado geral se renovariam em 1867, uma vez que, nesse ano, haveria 
novas

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