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aula_04_vitimologia

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Criminologia | 
Introdução 
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DISCIPLINA 
CRIMINOLOGIA 
 
CONTEÚDO 
Vitimologia 
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Introdução 
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Introdução 
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Sumário 
Sumário ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3 
1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
2 Vitimologia -------------------------------------------------------------------------------------------------- 4 
2.1 Conceito de vítima ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 
2.2 Contribuições da vitimologia ----------------------------------------------------------------------------------------- 8 
2.3 Tipologia das vítimas ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 9 
3 Processo de vitimização e a ciência penal --------------------------------------------------------- 12 
4 Vitimologia e justiça criminal ------------------------------------------------------------------------- 14 
5 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 
6 Referências Bibliográficas ------------------------------------------------------------------------------ 16 
 
 
 
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Introdução 
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1 Introdução 
Os primeiros estudos a respeito da vitimologia surgem nos períodos pós-guerra, pois 
diante de tantas atrocidades e injustiças cometidas na Primeira e, principalmente, na 
Segunda Guerra Mundial, os estudiosos passaram a se perguntar qual o papel da 
vítima na conduta criminosa. 
 
Assim, o pioneiro nos estudos a respeito do comportamento da vítima foi o 
criminólogo Hans Von Hentig, com a obra intitulada “The criminal and victim” 
publicada em 1940. No entanto, foi somente a partir de 1956, com a divulgação dos 
textos antes publicados pelo advogado e criminólogo israelita Benjamin Mendelsohn, 
que as pesquisas acerca da vitimologia se consolidaram no âmbito criminológico. 
Inclusive, o termo “vitimologia”, foi utilizado inicialmente por Mendelsohn em 1945, 
quando publicou um de seus primeiros estudos a respeito da matéria. 
 
Posterior a isso, em 1958, o assunto foi amplamente discutido no simpósio de 
Criminologia realizado na Universidade de Bruxelas, na Bélgica, e, a partir de então 
tem despertado um interesse cada vez maior da academia, sendo objeto de muitas 
pesquisas não só na área criminológica, mas em diversas ciências. 
 
2 Vitimologia 
A vitimologia pode ser definida como uma forma de extensão da criminologia, cujo 
objeto de estudo são as causas da vitimização criminal e as consequências diretas e 
indiretas, que a ação delituosa representa na vida das pessoas envolvidas. Além disso, 
a vitimologia analisa as reações presentes na sociedade quando o assunto é a 
vitimização criminal, especialmente no que diz respeito a polícia e o sistema judicial, 
bem como os trabalhadores voluntários profissionais envolvidos. 
 
O termo vitimologia foi utilizado em primeiro lugar pelo advogado e criminólogo 
israelita Benjamin Mendelsohn, mas a expressão só ganhou notoriedade no âmbito 
internacional e tornou-se relevante para o estudo da criminologia com a publicação 
do trabalho de Hans Von Hentig intitulada como “The criminal and victim” em 1940 e 
posteriormente, já em 1956, com a divulgação dos textos escritos publicados por 
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Vitimologia 
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Mendelsohn. Conforme destaca Nestor Sampaio (2020), foi a partir deste momento 
que surgem diversos estudos a respeito do comportamento da vítima e suas 
implicações na criminologia, que anteriormente, devido a influência das escolas 
clássicas e positivas, só se importavam com o delito, o delinquente e a pena. 
 
Heiting aborda o tema de forma dinâmica e interacionista, desafiando a concepção 
de vítima como fator passivo. O autor enfatiza que as vítimas poderiam ostentar 
algumas características específicas, capazes de precipitar as condutas criminosas. 
Entretanto, o criminólogo também destaca a necessidade de analisar as variantes 
existentes entre vítima e agressor, ou seja, por menor que seja a influência da vítima 
no resultado da ação criminosa, no processo penal isso pode afetar a decisão da pena, 
dado que se considera a máxima do “in dubio pro reo”. 
 
Por outro lado, “Benjamin Mendelsohn situa a Vitimologia como uma ciência que ele 
entende distinta da Criminologia. Dele divergem com veemência Fritz Paasch, Paul 
Cornil e Vexliard, que negam que a Vitimologia seja uma ciência” (FERNANDES e 
FERNANDES, 2010, p. 480). Assim, para o advogado israelense, a vitimologia é na 
realidade uma matéria que integra várias ciências, como o direito, a psicologia, mas 
que não se confunde com nenhuma delas, trata-se de uma ciência biopsicossocial, 
que tem o intuito de analisar o comportamento da vítima relacionando os critérios 
biopsicológicos e sociais com as problemáticas da criminalidade, considerando 
sempre os aspectos terapêutico, vitimal e preventivo. 
 
Assim, após a realização do 1º Simpósio Internacional de Vitimologia, na cidade de 
Jerusalém em Israel no ano de 1973, “sob a supervisão do famoso criminólogo chileno 
Israel Drapkin, impulsionaram-se os estudos e a atenção comportamentais, buscando 
traçar perfis de vítimas potenciais, com a interação do direito penal, da psicologia e 
da psiquiatria”. Porém, a vitimologia atualmente é um campo de estudo orientado 
para a formulação de políticas públicas. Não podendo ser definida em termos de 
direito penal, mas sim de direitos humanos (individuais). Desta forma, a vitimologia 
deve entendida como o estudo das consequências dos abusos praticados em face dos 
direitos humanos,ainda que realizados por cidadãos ou por agentes do governo. 
 
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2.1 Conceito de vítima 
Um aspecto que merece destaque no estudo da vitimologia é o significado da palavra 
“vítima”. Na declaração da ONU de 1985, a expressão vítimas, está associada a pessoas 
que sofreram algum dano, de forma individual ou coletiva, físico ou mental, com 
caráter econômico ou que representem uma restrição substancial dos seus direitos 
fundamentais, através de atos que violam as normas penais, incluindo aquelas que 
prescrevem abuso do poder. 
 
Isto é, o conceito de vítima na ciência da vitimologia é diferente daquele utilizado no 
direito penal, por exemplo. Para este último, chamamos de vítima o sujeito passivo da 
conduta criminosa, aquele que sofre um prejuízo, que é afetado pela ação delituosa. 
Em contrapartida, no estudo da vitimologia, entende-se como vítima toda pessoa, seja 
física ou jurídica, prejudicada pela conduta delitiva, ou seja, o conceito de vítima 
apresentado no direito penal é mais restrito do que o apresentado na vitimologia 
(OLIVEIRA, 2020). 
 
No entanto, embora atualmente tenha um papel fundamental no estudo da 
criminologia e em outras ciências, o estudo a respeito do comportamento da vítima 
nem sempre foi considerado relevante, de modo que a história aponta basicamente 
três fases principais no estudo das vítimas, são elas (PENTEADO FILHO, 2020): 
 
IDADE DE OURO 
A chamada idade de ouro no estudo da vítima ocorre na Idade Antiga, enquanto 
imperava a vingança privada com a tão famosa regra do “olho por olho, dente por 
dente”. 
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Durante este período o protagonismo da vítima era evidente e ela tinha o direito de 
revidar a agressão ou o dano suportado na mesma intensidade que sofreu, ou, em 
alguns casos, até de forma mais intensa. Essa máxima perdurou até a ascensão da 
monarquia, quando a vingança privada abriu espaço para a vingança pública e a 
fúria da vítima foi substituída pela ira do monarca. 
 
NEUTRALIZAÇÃO 
A neutralização da vítima é iniciada com a ascensão da monarquia e consolidada 
com a transferência do monopólio da jurisdição penal para as mãos do Estado. O 
período de neutralização entende que a resposta ao crime deve ser imparcial e 
desapaixonada, despersonalizado à rivalidade existente entre a vítima e o criminoso. 
Além disso, é justamente neste período em que há um aumento da força estatal na 
busca pela tutela jurisdicional, através de ações penais públicas, quando o Poder 
Público faz as vezes da vítima na busca pela reparação do dano, com a consequente 
penalização do indivíduo (a busca por “justiça”). 
 
REVALORIZAÇÃO 
O redescobrimento da vítima é um fenômeno pós-segunda guerra mundial, que 
ocorre após o movimento nazistas juntamente com o massacre das vítimas do 
holocausto no século XX. O movimento de revalorização é proposto a partir das 
escolas clássicas e positivas do direito penal, influenciado pelo movimento de 
macrovitimização e pelos estudos acadêmicos desenvolvidos na época, incluindo o 
Congresso Internacional de Vitimologia realizado em Israel no ano 1973. A partir de 
então, as vítimas ganharam uma grande importância não só para o estudo da 
criminologia, como também para outras ciências. 
 
Assim, é possível afirmar que, por um longo período, as ciências criminais – direito 
penal, criminologia e as políticas criminais – deixaram o comportamento da vítima de 
lado, mantendo sua atenção voltada quase que exclusivamente para o criminoso, 
assumindo um caráter severo e vingativo. No entanto, após o movimento de 
macrovitimização desencadeado no século XX, em função das duas Grandes Guerras, 
há a revalorização da vítima, de modo que esse redescobrimento não está associado 
à vingança privada e nem a quebra as garantias para os delinquentes, muito pelo 
contrário, o estudo da vitimologia garante um novo status a vítima, contribuindo para 
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que ela redefina suas relações com todo o sistema criminal. 
 
2.2 Contribuições da vitimologia 
A vitimologia, tem contribuído para a compreensão do fenômeno da criminalidade, 
sendo utilizada para melhorar o enfrentamento das ciências criminais, a partir da 
introdução do enfoque sobre as vítimas atingidas e dos danos produzidos. Nas 
palavras de Sergio Salomão (2020, p. 63) a premissa essencial da vitimologia é 
“questionar a aparente simplicidade em relação à vítima e mostrar, ao mesmo tempo, 
que o estudo da vítima é complexo, seja na esfera do indivíduo, seja na inter-relação 
existente entre autor e vítima”. 
 
Neste aspecto, a primeira observação feita por Garcia-Pablos (2013, p. 63), diz respeito 
à compreensão da dinâmica criminal e da interação entre o delinquente e a vítima. 
Assim, através de seus estudos constatou que, em determinadas situações, o 
comportamento da vítima pode interferir para o desencadear da ação, ainda que de 
forma indireta. O autor considera ainda que, “as pesquisas de vitimização permitem 
avaliar cientificamente a criminalidade real, sendo a técnica mais adequada para 
quantificá-la e identificar suas variáveis”. 
 
Além disso, a análise sobre a vítima também se faz relevante para prevenir os crimes 
em si, pois, conforme destaca Natacha Alves (2020, p. 135) é a partir da análise do 
comportamento da vítima com relação ao autor do fato, que podemos identificar o 
grau de sua contribuição para o resultado danoso e assim compreender o fenômeno 
criminal como um todo, propiciando o desenvolvimento de meios mais efetivos no 
combate à criminalidade. A criminóloga defende ainda que, é a partir desta 
perspectiva, analisando a criminalidade real sob a ótica da vítima, que obtemos 
informações sobre a cifra negra. 
 
Outro elemento importante, considerado no estudo da vitimologia é o medo coletivo, 
a preocupação do indivíduo em ser a próxima vítima. A percepção do sentimento 
individual é fundamental para que o sujeito reconheça a presença do risco e oriente 
sua conduta para minimizar os efeitos de uma eventual ação criminosa. Além disso, a 
sensação de insegurança coletiva requer que o poder público adote um sistema de 
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políticas criminais mais repressoras, que acabam por mitigar alguns benefícios os 
cidadãos em prol de segurança. Assim, além da insegurança o medo gera no indivíduo 
uma sensação de aprisionamento, sendo por si só um fator de vitimização. 
 
No mais, é válido destacar que, influenciado pelas escolas penais clássicas, as políticas 
públicas tradicionais utilizadas para o combate da criminalidade, geralmente, estão 
atentas apenas a ressocialização do delinquente, negligenciando as vítimas que 
também precisam de uma reintrodução ao convívio social. Ainda, conforme destacam 
Newton e Valter Fernandes (2010, p. 482) após a análise de “estudos encetados por 
juristas, psiquiatras, psicólogos e sociólogos, confirmou-se que, em certos casos, 
igualmente o criminoso pode sofrer os efeitos ou consequências do delito, figurando, 
de alguma maneira, como vítima do fato típico de que foi protagonista”. Isto é, no 
final das contas, ainda é possível que além da vítima direta o autor do fato também 
saia prejudicado com o resultado da conduta criminosa. 
 
Por fim, o conselho da União Europeia, publicou uma Decisão referencial sobre a 
presença das vítimas nos procedimentos criminais, assegurando que as vítimas da 
criminalidade sejam reconhecidas e tratadas com máximo respeito, recebendo 
proteção e apoio de forma adequada, bem como garantindo a todas o acesso a justiça. 
Na decisão, a União Europeia pede que a justiça mantenha uma boa comunicação 
com a vítima em todas as fases da persecução penal. 
 
 
Figura 1 – O papel da vítima nos procedimentos criminais. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
2.3 Tipologia das vítimasBenjamin Mendelsohn foi um dos precursores no estudo da vitimologia, o criminólogo 
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defendia que o estudo da vitimologia deveria estar associado a análise do 
comportamento do sujeito passivo, com o intuito de verificar se ele, de alguma forma, 
ainda que de modo subconsciente ou por inclinação, não se tornou vítima 
(FERNANDES e FERNANDES, 2010, p. 484). 
 
Assim, é com base neste aspecto que Mendelsohn propõe a classificação das vítimas, 
sob o ponto de vista tipológico. O autor fundamenta sua classificação na correlação 
de culpa, considerando o grau de culpabilidade entre a vítima e o delinquente infrator, 
determina a tipologia, relacionando a pena com a atitude da vítima. Além disso, o 
criminólogo sustenta uma relação inversa entre a culpabilidade do agressor e a 
culpabilidade do ofendido, de modo que a maior culpabilidade de um representa a 
menor culpabilidade do outro. 
 
 
 
Desta forma, considerando a classificação proposta por Mendelsohn que tem por base 
a participação ou a provocação da vítima, temos: 
1. Vítima ideal ou completamente inocente: essa categoria é representada por 
aquelas vítimas que não concorrem para o resultado criminoso, a participação 
é nula ou insignificante. As vítimas ideais são aquelas pessoas que nada fazem 
para desencadear a situação criminal que as prejudicou. 
2. Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância: as vítimas de 
culpabilidade menor são aquelas que, de forma involuntária, por ignorância ou 
Agressor Vítima
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simples negligência colaboram para a ação criminosa, dando causa a sua 
própria vitimização. 
3. Vítima tão culpável quanto o infrator ou vítima voluntária: neste caso o 
comportamento da vítima é essencial para a realização da conduta criminosa, 
por isso ela é tão culpável quanto o próprio infrator (ex.: aborto consentido). 
4. Vítima mais culpável que o infrator: essa categoria é representada pelas 
vítimas provocadoras, aquelas que dão causa a infração penal. 
● Vítima provocadora: como o próprio nome já diz, a vítima provocadora 
é aquela que incita e provoca o infrator, para que este cometa um crime. 
Neste caso, o estímulo da vítima é tanto que cria e favorece a explosão 
do delinquente, culminando em uma descarga de energia, ou seja, na 
conduta criminosa. 
5. Vítima mais culpável ou unicamente culpável: as vítimas mais ou unicamente 
culpáveis pela infração penal podem ser classificadas em duas subespécies, as 
vítimas infratoras e as vítimas simuladoras ou imaginárias. 
● Vítima infratora: cometendo uma infração o agressor, em algumas 
situações, também poderá se tornar vítima, exclusivamente culpável ou 
ideal, é o caso, por exemplo, da legítima defesa, em que o acusado deve 
ser absolvido. 
● Vítima simuladora: a vítima simuladora é representada pelo acusador 
que irresponsavelmente joga a culpa sobre o acusado, recorrendo a 
qualquer manobra com a intenção de fazer justiça ao erro cometido (ex.: 
denunciação caluniosa). 
 
Assim, Meldelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas não apenas no 
grupo tipológico, mas, também com relação pena aplicada ao sujeito infrator, de 
modo que o primeiro grupo é composto pela vítima inocente, também chamada de 
vítima ideal, que não provoca e nem concorre para o resultado criminoso. Já, no 
segundo grupo estão compreendidas as vítimas que concorrem para o resultado 
criminoso, existindo na conduta uma culpabilidade recíproca, de modo que o sujeito 
infrator deve ter a pena atenuada. Por fim, são consideradas no terceiro grupo 
aquelas vítimas que cometem por si só a infração, isentando o criminoso da pena 
aplicada. 
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Figura 2 – Classificação das vítimas segundo Meldelsohn. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
3 Processo de vitimização e a ciência penal 
À medida que o papel da vítima foi se tornando mais relevante no direito e no estudo 
da criminologia, diversos teóricos se debruçaram sobre o tema. Um exemplo disso é 
o professor Edmundo de Oliveira que, em uma de suas muitas pesquisas concluiu pela 
existência do chamado iter victimae ou processo de vitimização, trata-se de um 
“conjunto de etapas que se operam cronologicamente no desenvolvimento da 
vitimização" (OLIVEIRA, 2001, p. 103-104). 
 
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Segundo a esquematização elaborada por Edmundo em sua obra, a primeira fase do 
“iter victimae” é denominada intuição, ocorre quando se planta na mente da vítima a 
ideia de que ela será prejudicada, hostilizada ou imolada pelo agressor. Após a 
projeção da vítima, inicia-se a segunda fase, momento em que o sujeito esboça certa 
preocupação em tomar as medidas necessárias para evitar o ato criminoso ou ajustar 
seu comportamento diante da iminente situação. 
 
Posteriormente, a vítima chega a fase de “conatus proximus” (início da execução), 
oportunidade em que o indivíduo começa a arquitetar sua defesa ou direcionar seu 
comportamento para cooperar com a ação do ofensor que se realizará em seguida. 
Iniciada a execução, a vítima deixa de manifestar esforços para se desvencilhar a 
situação e, é definitivamente atingida pelo agressor. No último ponto, há a 
consumação da conduta criminosa ou, ao menos, a tentativa, quando o agressor não 
alcança seu propósito em virtude de algum impedimento alheio à sua vontade. 
 
 
Figura 3 – Processo de vitimização. 
Fonte: Núcleo Editorial Focus. 
 
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Vitimologia e justiça criminal 
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Por fim, é válido destacar, neste aspecto, a importância do art. 59 do Código 
Penal, que passou a considerar o comportamento da vítima como uma das 
circunstâncias judiciais analisadas na dosimetria da pena. Durante a fixação da 
pena, o juiz deve considerar em um primeiro momento as circunstâncias 
atenuantes e agravantes (art. 59), e posteriormente as causas de aumento e 
diminuição (arts. 61 e 62), obtendo a pena final. 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como 
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para 
reprovação e prevenção do crime. 
 
4 Vitimologia e justiça criminal 
Conforme falamos no decorrer do material, o papel da vítima hoje, tanto na 
criminologia quanto no estudo das ciências criminais, tem se tornado de fundamental 
importância, por isso é necessário que ajam meios para prevenir a delinquência, bem 
como programas de assistência e proteção às vítimas. 
 
Além disso, “no Brasil, as ações afirmativas de tutela de vítimas da violência são ainda 
extremamente tímidas, na medida em que se vive uma crise de valores morais, 
culturais e da própria autoridade constituída, com escândalos de corrupção grassando 
nos três poderes da República” (PENTEADO FILHO, 2020, p. 118). 
 
Desta forma, é notório que alguns grupos de pessoas são mais suscetíveis a se 
tornarem vítimas do que outras, devido às suas características, condições sociais ou, 
até mesmo, em virtude da sua profissão. Assim, neste sentido, destaca Natacha Alves 
(2020, p. 149) que, 
Face à constatação desses fatores de vulnerabilidade e da identificação de grupos sociais com 
maior risco de vitimização, torna-se relevante a instituição de "programas de prevenção 
vitimária" com o escopo de informar e conscientizar tais indivíduos acerca dos riscos 
assumidos, estimulando a defesa de seus interesses. 
 
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Conclusão 
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Portanto, diante do aumento crescente da criminalidade e, consequentemente, da 
vitimização, é essencial que “que as vítimas recebam assessoramento jurídico e 
atendimento multidisciplinar por assistente social, psicólogo, médico,bem como haja 
a implementação de políticas públicas em prol das vítimas da criminalidade” 
(OLIVEIRA, 2020, p. 150), pois, ainda que para as políticas públicas a figura do 
delinquente esteja em evidencia quando falamos sobre infrações penais, as vítimas 
também exigem cuidado e merecem ser amparadas. 
 
5 Conclusão 
Os estudos a respeito da vitimização como uma ciência autônoma, vinculada a matéria 
da criminologia, é intensificado nas décadas de 40 e 50, logo após a Segunda Grande 
Guerra, com as diversas pesquisas encabeçadas pelos criminólogos Hans Von Hentig 
e Benjamin Mendelsohn. No entanto, ao longo da história, o comportamento da 
vítima nem sempre foi considerado relevante e pode ser classificado em três 
momentos distintos: idade de ouro, neutralização e revalorização. 
 
Assim, no decorrer do tempo, ainda que tenha passado por um período de 
neutralização, os estudos a respeito do comportamento da vítima vêm se 
intensificando cada vez mais, servindo, agora, como base não só para as ciências 
penais, mas também para outras áreas, como a psicologia e psiquiatria, pois, assim 
como os criminosos que precisam ser ressocializados, as vítimas também precisam de 
apoio para retornarem com suas vidas em sociedade. 
 
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Referências Bibliográficas 
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6 Referências Bibliográficas 
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ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. 
MOLINA, Antonio García-Pablos de. O que é Criminologia? Trad. Danilo Cymrot. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. 
OLIVEIRA, Edmundo. Vitimologia e direito penal: o crime precipitado pela vítima. 2 
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OLIVEIRA, Natacha Alves de. Criminologia. 2 ed. sinopses para concursos. Salvador: 
Editora JusPodivm, 2020. 
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. 10 ed. 
São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 
SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia da Repressão [recurso eletrônico]: crítica 
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SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 8 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: 
Thomson Reuters Brasil, 2020. 
MOLINA, Antonio García-Pablos de. O que é Criminologia? Trad. Danilo Cymrot. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. 
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Acesso em: 30 mai. 21. 
VIANA, Eduardo. Criminologia. 6 ed. rev., atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2018. 
Vítimas de crimes em acções penais. Portal Europeu da Justiça, 2019. Disponível em: 
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3%A0%20justi%C3%A7a. Acesso em: 30 mai. 21. 
 
 
 
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Referências Bibliográficas 
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	Sumário
	1 Introdução
	2 Vitimologia
	2.1 Conceito de vítima
	2.2 Contribuições da vitimologia
	2.3 Tipologia das vítimas
	3 Processo de vitimização e a ciência penal
	4 Vitimologia e justiça criminal
	5 Conclusão
	6 Referências Bibliográficas

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