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ENCONTRO INESPERADO De repente CEO e pai Copyright © 2022 by Gabi Verran Capa: Lysa Moura Diagramação: Guilherme Stumpf Revisão e Preparação de Texto: Mariana Rocha Leitura crítica/Beta: Intense Assessoria Todos os direitos reservados a Gabi Verran 2022. Publicado de forma independente por Gabi Verran pela Amazon. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são prhálitoodutos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento por escrito do autor. Criado no Brasil. Ela pega e não se apega; Ele é tranquilo e sonhador; Ela achou que era só mais uma noite; Ele teve sua vida virada de cabeça para baixo; Dois opostos que se esbarram. Uma atração irresistível. E o destino no caminho mostrando que nem sempre as coisas acontecem como planejamos. Amanda estava cansada dos seus relacionamentos amorosos fracassados e monótonos, então decidiu curtir a vida de solteira. Gustavo sempre acreditou no amor, só que as garotas parecem fugir do seu papo sério. Então, em uma festa, o “acaso” resolveu juntá-los e bastou uma simples troca de olhares para que tivessem uma noite inesquecível. Ambos são bem-sucedidos em suas profissões, mas Gustavo nunca se imaginou isolado no andar da presidência da empresa de marketing que divide com seu primo. Até o dia que acabou se tornando o CEO da G&R Marketing. E Amanda, que queria só diversão, descobre que está grávida de um “quase” desconhecido. E agora? Descubra o final desta história que com certeza irá mudar sua visão sobre o amor. Oi, pessoal, tudo bem? Decidi relançar a história de Amanda e Gustavo por acreditar que ela ainda tinha muitos leitores para alcançar e também alguns pontos para serem modificados. Assim quero agradecer por ter baixado o livro e dado uma oportunidade para conhecerem a história repaginada deles. Irei torcer para que sua experiência com a leitura seja incrível, com direito a diversas emoções que tentei transmitir ao longo das páginas. Só gostaria de dizer, antes de você começar, que vale lembrar que esta é uma obra de ficção e, que por mais que pesquisas tenham sido realizadas de determinados assuntos sérios citados, alguns detalhes podem não corresponder totalmente com a realidade, pois quis contá-los assim. No entanto, caso você ache que algum erro grave tenha sido feito sobre a abordagem de determinado assunto, por favor não deixe de me procurar para que eu arrume. Esse livro tem conteúdo adulto, desta forma sua leitura é recomendada para maiores de 18 anos. Um beijo da amiga Autora Gabi Verran. “Para minha grande amiga, cuja a força sempre foi fonte de inspiração para mim. Vanessa, esta história é para você.” Amanda Sempre pensei que, quando tivesse meus vinte e sete anos, já estaria casada há, pelo menos, uns quatro anos. Teria dois filhos. Moraria em uma casa com um jardim bonito. Teria um cachorro e um emprego onde seria realizada financeiramente e profissionalmente. É, desde nova, planejei o futuro com a vida perfeita, como nos filmes que cresci assistindo com famílias “comercial de margarina”. Mas ninguém me contou que a vida real é bem diferente e agora estou aqui, sentada na tampa de um assento sanitário de um banheiro público de um supermercado, esperando os cinco minutos mais longos da minha vida e me perguntando: “Amanda, que merda você fez?” ... Gustavo Não acreditei no que estava acontecendo, justo agora ela tinha que reaparecer na minha vida? Eu me apaixonei por ela, fiquei mal quando me dispensou e vê-la novamente mexeu comigo, ela está aqui, ela diz que nunca me esqueceu e que está pronta para um relacionamento sério. Mas agora estou esperando neste corredor do hospital, sem saber o que o médico me dirá quando sair da sala de cirurgia. Minha vida virou de pernas para o ar nos últimos meses e meu único desejo é que elas se salvem. Amanda Comecei a namorar muito nova, quando tinha quinze anos, o Pedro foi meu primeiro amor, ao lado dele, me descobri mulher, descobri os prazeres do sexo, estávamos com os hormônios à flor da pele e sempre fazíamos loucuras. Ele era um ano mais novo que eu, nos conhecemos no colégio. Ele era um garoto bem normal, tinha cabelos pretos, olhos castanhos e um nariz levemente comprido. Não, ele não era um modelo de beleza, mas, aos 14 anos, os garotos ainda estavam em desenvolvimento. Eu era completamente apaixonada por ele, namoramos por cinco anos e, na minha cabeça, iríamos ficar o resto da vida juntos. Sim, desde pequena eu tinha minha vida dos sonhos planejada, Pedro e eu já tínhamos escolhido os nomes dos nossos dois filhos. Nossas famílias eram amigas, nossos amigos eram amigos, não tinha como dar errado, era a coisa mais certa na minha cabeça: Pedro e eu éramos para sempre. Até o dia que comecei a descobrir uma mentira ali, uma saída sem avisar aqui, uma foto dele na rua beijando outra garota… Sim, durante todo o relacionamento que eu considerava ser o “conto de fadas”, o safado do meu ex me chifrou com Deus e todo mundo, inclusive, com uma garota que eu considerava minha amiga. Hoje consigo ver como era cega, consigo me lembrar de momentos que era nítido que havia traições e mentiras, mas que, na época, eu não via, talvez por amor, talvez por ingenuidade, talvez por burrice. Eu demorei, sim, para descobrir, mas também, depois que descobri, risquei ele completamente da minha vida. Sempre fui uma pessoa muito racional, sim, eu estava apaixonada por ele, sim, sofri por ter descoberto que fui enganada, mas eu me amava muito mais. Chorei durante exatos três dias. Quando todas as lágrimas possíveis acabaram, me levantei, olhei no espelho e disse: “Amanda, bem-vinda novamente, a partir de agora você é uma nova mulher.” E assim, aos meus vinte anos, após a primeira “desilusão” amorosa, estava pronta para curtir a vida. Só que, é como dizem por aí: “As coisas não são como a gente quer…” E exatos dois meses depois, lá estava eu apresentando meu novo namorado para toda a minha grande família. E, quando eu digo grande, não é exagero, tenho onze tios por parte de mãe e cinco por parte de pai. Cada um tem pelo menos dois filhos, então imagine como são as festas da minha família, meus aniversários nunca foram comemorados em casa, pois nunca caberia nem metade dos parentes. Conheci o João por uma amiga minha da faculdade, ele tinha um estilo surfista, cabelos loiros com as pontas levemente queimadas pelo sol, sua pele era bronzeada, quase que um dourado, seu corpo era magro, mas com músculos bem definidos, o sorriso dele era o que mais chamava a atenção, como brincava, ele tinha um sorriso “Colgate”. Ele era calmo e engraçado. Nos demos bem logo de cara. Aos finais de semana, ele pegava o carro, me buscava em casa e íamos para a praia. Ele me ensinou a surfar, quer dizer, ele tentou muito me ensinar, mas eu não tinha muito jeito para surfista. Eu tinha 1,62 m de altura, pesava na época uns 65 quilos, mas, mesmo com a academia, meu porte físico não era tão atlético. Nunca liguei muito para minha aparência, eu me achava bonita e isso me bastava, talvez para algumas pessoas poderia parecer prepotente ou metida, mas não era isso, eu simplesmente me achava linda e me amava, e isso foi o problema que ocasionou o fim de mais um relacionamento. Estava com João há uns cinco meses e o que antes era só risadas e alegria começou a se tornar sufocante e opressivo. O João se mostrou extremamente ciumento, começou a implicar com minhas roupas, meu jeito de andar e até mesmo de falar. Sempre fui muito expressiva, me dava bem com todo mundo, tinha amigos homens e me divertia com eles. Mas, desde que comecei a namorar o João, meus amigos começaram a se afastar e, quando me dei conta, não estava falando com mais ninguém, apenas com meus pais, pois morava com eles ecom meu namorado. Só que um dia ele fez uma cena que foi a gota d'água para mim: “Estava terminando de me arrumar para sair com João, era sexta-feira e havia conseguido convencê-lo a me levar para jantar fora. Resolvi caprichar no visual naquela noite, coloquei um vestido preto tomara que caia, ajustado no corpo, afinal, eu fazia academia todos os dias para poder usar uma roupa assim, o pensamento me fez sorrir. Passei uma maquiagem leve no rosto, nunca gostei de nada muito carregado, minha pele era muito clara, então era difícil acertar o tom da base, na maioria das vezes ficava parecendo um fantasma. Coloquei um colar de pérolas e um par de brincos para combinar. E, nos pés, um salto scarpin, João era bem mais alto que eu, então eu podia abusar na altura dos saltos. Terminei minha produção e esperei ele chegar. Depois de uns quinze minutos esperando, ouvi a buzina do carro do lado de fora de casa. Peguei minha bolsa em cima da cama e fui. Assim que entrei no carro, fui dar um beijo no João, mas ele se afastou quando me aproximei: — Que foi amor? — perguntei. — Que roupa é essa, Amanda? — Por quê? — Você está parecendo uma puta. Não acreditei no que ele tinha acabado de me chamar, “puta”? Por usar um vestido? Quem ele pensa que era? — Você está brincando, né? — Eu não estou rindo, vai agora lá para dentro e troca essa roupa, não vou te levar em nenhum lugar vestida assim. — Realmente, João, você não me vai me levar em nenhum lugar. Nem hoje, nem nunca mais. Eu não fui criada para ser submissa de homem nenhum. Eu me visto da forma que eu quiser, se eu quiser andar pelada na rua, o problema é meu. — Amanda, gracinha, nem corpo você tem para essa roupa — João falou em tom de deboche. Quem aquele filho da mãe pensava que era para me tratar assim? — Vai para o quinto dos infernos, seu machista de merda. — Saí do carro e bati a porta. — E nunca mais apareça na minha frente, seu bosta. — Quem ele pensava que era para falar assim comigo??? Naquele momento, percebi que não o amava, nunca o amei, simplesmente engatei um relacionamento com ele por não saber ser sozinha. Por estar acostumada a namorar. Minha vontade foi de gritar e xingar ainda mais ele. Mas não daria espetáculo na rua, ele não valia a pena. Dei as costas e voltei para dentro de casa. Um minuto depois ouvi o barulho dos pneus do carro cantando quando ele arrancou para sair. Depois que a adrenalina baixou, peguei meu celular, liguei para uma amiga e me acabei na noite. Talvez algumas garotas preferissem ficar em casa choramingando por terminar um relacionamento dessa forma, mas eu não. Se pelo Pedro que foi meu primeiro amor, o cara que realmente balançou meu coração, eu logo segui em frente; com o João, não seria diferente. A real é que João não chegou nem perto de me fazer me apaixonar. Resultado na noite? Acordei no dia seguinte na cama de um cara que conheci na balada”. Depois que terminei com o João, me senti mais leve, voltei a sair com meus amigos, todos eles me deram os parabéns pelo término e falaram que nunca gostaram dele, pois ele parecia ser extremamente machista. E tive que concordar, aos poucos o João mostrou sua verdadeira face e dei graças a Deus por ter terminado cedo, jamais conseguiria viver ao lado de alguém assim. ... Uns meses depois, estava focada na minha faculdade e no meu estágio em uma multinacional, queria ser efetivada assim que me formasse. Então, quase não estava saindo muito, saía uma vez ou outra nos finais de semana, mas estava cada vez mais raro. Um dia estava terminando um relatório no estágio quando minha chefe me chamou na sala dela, fiquei um pouco apreensiva, pois ela nunca havia feito isso. Larguei o relatório em cima da mesa e fui até sua sala. Após bater na porta, escuto ela falar: — Pode entrar. — Com licença, Sra. Carina, boa tarde. — Boa tarde, Amanda, tudo bem? Entra e sente-se aqui. — Então, assim que entrei completamente na sala, notei que havia um rapaz sentado na outra cadeira em frente à mesa da minha chefe, me questionei mentalmente quem seria, pois não me lembrava de tê-lo visto na empresa. E com certeza, se eu tivesse cruzado com ele, o teria notado, pois ele era muito atraente. Alto, loiro de olhos verdes e porte atlético. Acenei para ele com a cabeça em forma de cumprimento e me sentei ao seu lado, conforme a orientação da minha chefe. — Então, Amanda, eu te chamei aqui, pois queria primeiro lhe apresentar ao André, ele é o novo estagiário do setor, está no último ano do mesmo curso que você. — Oi, bem-vindo — falei, tentando soar o mais casual possível. — Olá, prazer, muito obrigado, Amanda — respondeu ele com uma voz que soou muito sexy, grossa e firme, pensei em como seria ouvir ele sussurrar no meu ouvido. Sacudi a cabeça para afastar tais pensamentos e me concentrar no presente. Sua voz contrastava com sua fisionomia, tinha um estilo meio “mauricinho”, parecia ser muito certinho. — Bom, a segunda coisa que gostaria de te pedir, Amanda, é para apresentar a empresa para o André e treiná-lo, vocês irão trabalhar juntos. Sua supervisora direta elogiou muito o seu trabalho e disse também que seria muito bom se tivesse alguém trabalhando contigo, pois assim podem dividir um pouco do volume de trabalho, tendo em vista que nos próximos meses receberemos novos contratos, o que tende a aumentar bastante a carga. Assim, gostaria de saber se posso contar com você para isso. — Claro, eu agradeço muito o elogio e a oportunidade de fazer parte deste time. No que depender de mim, eu e o André seremos uma bela dupla — falei isso com sinceridade, estava feliz com o reconhecimento por parte dos meus superiores e saber que teria alguém ao meu lado para poder ser um apoio me deixava animada. Olhei para André, que estava sorrindo, “que sorriso lindo”, ele me deu uma piscadela, como se já fôssemos uma dupla. Acho que seria muito interessante trabalhar com ele. — Bom, crianças, era isso, Amanda, por favor, faça o tour com o André e depois, se der tempo comece a passar um pouco da sua rotina. André, bem-vindo. — Claro, senhora, obrigada mais uma vez — disse. — Obrigado, Sra. Carina, pela oportunidade, acredito que eu e a Amanda nos daremos muito bem. Podemos começar? — disse André já se levantando, ao fazer isso e passar por mim, um aroma gostoso e marcante invadiu minhas narinas, “nossa, que homem cheiroso”, era uma mistura de loção de barbear com sabonete, um aroma que sempre me atraiu. Concordei e fui apresentar para ele a empresa, que era gigante, e acreditava que não daria tempo de conhecermos tudo naquela tarde. Amanda Quatro anos depois… O dia na empresa foi corrido, mas eu amava a adrenalina de fechamento de mês, diferentemente do resto da minha equipe, que parecia louca, correndo de lá para cá. Eu estava no cargo de analista financeira desde que terminei meu curso de Gestão Financeira, fui promovida há três anos, amava a empresa. Tudo o que aprendi desde minha época como estagiária era exatamente o que sempre quis profissionalmente. Depois de bater meu ponto, fui para o vestiário me trocar. Todos os dias, depois do trabalho, eu ia para a academia do shopping, que fica a poucos metros da empresa. Desde que terminei meu último relacionamento, esta era a minha rotina: trabalhar, malhar, dormir e, nos finais de semana, ir para as baladas para beijar na boca e curtir a vida. Fazia um ano que estava solteira, e tenho que admitir que estou na melhor fase da minha vida. Emendei um namoro atrás do outro, o último com o André, eu realmente não sei nem explicar como durou tanto. Namoramos durante três anos e, como trabalhávamos juntos e eu praticamente dormia todos os dias na sua casa, parecíamos que já estávamos vivendo como se fôssemos casados. Talvez eu tenha demorado tanto tempo para romper nossa relação pois eu realmente tinha um carinho por ele, o André sempre foi maravilhoso para mim e me mimava, e eu por não saber ser realmente sozinha, acabei me agarrando a uma relação que estava fadada a dar errado. Pois por mais que eu nutrisse um carinhoenorme por ele, nunca senti que realmente fosse amor. André era cinco anos mais velho que eu, herdeiro de uma família rica, dona de uma das maiores vinícolas do Brasil, ele morava sozinho em um apartamento de luxo no bairro mais nobre da nossa cidade, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Então, o estágio para ele era apenas um hobby e uma maneira de aprender um pouco mais sobre gestão financeira para o dia que assumisse os negócios da família ter uma boa carga de conhecimento. A gente se dava bem, talvez ao longo da minha vida, fora a Bia, ele tenha sido o meu melhor amigo, aquele com quem eu dividia tudo. Ou melhor, quase tudo, pois não dividi realmente o que sentia por ele. Logo de cara O André conquistou toda a minha família. Já eu não posso dizer que agradei meus sogros da mesma forma. Assim como eu, ele era filho único e, desde pequeno, foi mimado e protegido pelos pais, principalmente por sua mãe. Ela até tentava ser simpática nas poucas vezes que íamos para o interior do estado, onde eles moravam, mas nunca senti muito acolhimento por parte dela. André vivia dizendo que era o jeito dela, mas meu sexto sentido nunca falhou. E nosso relacionamento foi amadurecendo com o passar do tempo, nós tínhamos afinidade, gostos parecidos, nossos grupos de amigos se davam bem. Tudo era calmo e tranquilo. Calmo e tranquilo até demais. Eu sempre fui muito ativa, sempre amei viajar, já o André era muito caseiro, no máximo gostava de uma vez ou outra sair para ir jantar ou, em ocasiões muito especiais, íamos em algum barzinho mais badalado. Fora isso, nossa rotina se resumia em faculdade (quando eu ainda não havia terminado meu curso), trabalho e casa, onde passamos a maior parte do tempo largados no sofá da sala assistindo a séries e comendo besteiras. Nem o sexo era ardente como foi um dia, bem no início do relacionamento. Simplesmente o meu relacionamento com o André era monótono e, aos poucos, fui percebendo que não era isso que eu queria para mim, eu não queria essa calmaria. Eu tinha vinte e cinco, prestes a completar 26 anos, eu queria curtir, conhecer o mundo, fazer história. Eu queria noites de sexo louco e selvagem. Eu queria viver, simplesmente viver para que, quando fosse velha, tivesse boas histórias para contar para os meus netos. E o mais importante de tudo, eu queria amar de verdade, e se tivesse continuado com André, isso não aconteceria. Então, em uma sexta-feira à noite, depois de uma semana cansativa no trabalho, eu o chamei para irmos a um restaurante jantar, depois de muita insistência para convencê-lo a sair de casa, ele foi e, quando estávamos terminando de comer as sobremesas, eu declarei: — André, eu quero terminar. — A princípio, ele achou que eu estivesse falando da sobremesa, depois que ele notou que eu estava séria, quase derrubando uma lágrima, afinal, apesar de tudo, eu o amava. Não nutria mais paixão de homem e mulher, o amor que eu tinha era de carinho, de companheirismo. Ele era um bom namorado, mas simplesmente não era bom para mim. Pelo menos, não naquele momento. — Como assim, amor, eu fiz alguma coisa que te chateou? Você conheceu outra pessoa? — Não, simplesmente percebi que não é isso que quero para a minha vida agora. Eu sou nova, estou no cargo que sempre sonhei, ganhando um bom salário, eu quero curtir a vida antes que o tempo passe. Eu quero viajar, quero conhecer o mundo, quero conhecer pessoas, ter histórias para contar. — Mas isso nós podemos fazer juntos, Amanda, eu estava esperando nosso aniversário de namoro mês que vem para fazer o pedido de casamento… estava organizando uma viagem legal para a Europa, como você sempre sonhou… — disse ele com a voz já embargada. — Me perdoa André, me perdoa mesmo, você é um cara maravilhoso, até hoje o melhor que já conheci. Não tenho dúvidas que esse seria o pedido perfeito, o sonho de muitas mulheres, mas não é o meu. Não na fase em que estou. Espero de coração que entenda, e desejo toda a felicidade do mundo para você. Sempre. Depois, me levantei da mesa, chamei um Uber e fui embora. Ele nunca mais me procurou, mandou um amigo entregar as minhas coisas que haviam ficado no apartamento dele. Também pediu demissão da empresa e um tempo depois fiquei sabendo que havia se mudado para casa dos pais e assumido o comando da vinícola da família. Não o julgo, provavelmente faria o mesmo. Pode parecer que fui fria na maneira como terminei com André, mas eu não encontrei um jeito mais fácil, assim cortei o mal pela raiz. Sei que o magoei, mas seria pior se tivesse continuado em um relacionamento sem amor. Sempre fui muito mais razão do que emoção, sempre fui muito franca e sincera com meus sentimentos. E no fundo, André sabia que fiz o certo, não tenho dúvidas que ele encontraria a pessoa certa, a mulher que o amaria da forma que ele merece. Mas essa pessoa não era eu e, no fundo, eu também torcia para quem sabe um dia encontrar meu verdadeiro amor. Então, eu estava fazendo exatamente tudo o que falei que faria, estava trabalhando, viajando sempre que possível, principalmente com minha prima e melhor amiga, Bianca, uma solteira convicta e, conhecendo muitas pessoas, na sua maioria homens, com os quais eu fazia todas as fantasias sexuais que sempre sonhei, eu teria, sim, muitas histórias para contar para meus netos, mas algumas seriam censuradas para menores de 18 anos. ... Gustavo Juli: Guto, eu gosto muito de você, mas não quero relacionamento sério agora. Espero que a gente possa continuar amigos. Beijos se cuida gato. :* Li a mensagem da Juliana no meu celular, nós estávamos ficando há mais de cinco meses e, para mim, já era namoro. Achei normal convidá-la para almoçar na casa dos meus pais no domingo, durante nosso passeio para Caxias do Sul, que já estava planejando há duas semanas. Mas, pelo jeito, ela não está na mesma vibe. Estou com 27 anos e até hoje não tive nenhum relacionamento sério, não sei se o problema sou eu ou simplesmente as mulheres de hoje em dia não querem namorar. Sempre fui muito tranquilo, me considero um bom partido, tenho uma aparência acima da média, não sou um desses que vive dentro de uma academia malhando os músculos, mas sempre cuidei da minha saúde. Tenho gostos variados, bom, para falar a verdade, as pessoas costumam dizer que sou um pouco nerd, mas não me vejo assim. Gosto, sim de ler, assistir a séries, gosto de filmes de super- heróis, mas também não perco um jogo de futebol, principalmente do meu colorado. Resolvi nem responder à mensagem da Juliana, se ela não quer nada sério, também não vou ficar insistindo. Eu estava curtindo a companhia dela, mas ainda não sentia que era ela a pessoa certa. Eu era romântico e queria viver um amor épico. Ou será que só as mulheres tinham direito a esse tipo de sonho? Juliana era linda, a conheci em um show do Ed Sheeran que teve aqui em Porto Alegre, então dá para imaginar que eu achei mágico o nosso encontro, o cara é um dos cantores mais românticos da atualidade. Lembro exatamente do momento em que nossos olhares se cruzaram, a Juli se destacava na multidão que enchia a Arena do Grêmio, ela estava linda, seus cabelos loiros e lisos estavam presos em um rabo de cavalo despojado. Uma maquiagem leve realçava os azuis de seus lindos olhos. Ela estava com uma calça preta e camiseta branca básica, que se ajustava no https://gauchazh.clicrbs.com.br/search/?q=Ed%20Sheeran&period=any seu corpo esguio. Me aproximei dela e da amiga que a acompanhava, eu havia ido sozinho, nunca tive muito amigos, mas isso não era problema, sempre curti minha própria companhia. Ela abriu um sorriso e, no meio do refrão da música “Kiss Me”, nos beijamos, música perfeita, momento perfeito, garota perfeita... “Kiss me like you wanna be loved You wanna be loved, you wanna be loved This feels like falling in love Falling in love, we're falling in love” Bom poderia ter sido a garota perfeita, mas... Agora me restariam apenas lembranças. Resolvi sair logo da cama e dar uma corrida no Parque da Redenção. Era manhã de sábado e o céu estavalindo, com um sol gostoso. O parque ficava há uns 10 km de casa, então iria de carro até lá. Eu morava sozinho desde meus 17 anos, quando me mudei de Caxias do Sul para Porto Alegre para trabalhar. ... Depois de umas duas horas de corrida intercalada com caminhada, resolvi comprar uma água em uma das barraquinhas espalhadas pelo parque. Peguei minha garrafinha de água e me sentei embaixo de uma árvore para esticar um pouco as pernas e recuperar o fôlego, o dia estava quente. Peguei meu celular para conferir a hora e tinha uma mensagem do meu primo Ricardo: Ricardo: Fala, Guto, o que tu vai fazer hoje à noite? Eu: E aí, Rick, tô de boa, e tu? Bah, hoje estava pensando em ficar em casa… Ricardo: Tô bem, nada disso, irmão. Às onze, passo na tua casa para te pegar, vamos para uma balada top na casa de um colega meu da academia. Eu: Ah, mano, não tô muito em clima de balada hoje… Ricardo: Nem hoje nem nunca, né, seu velho?! Não aceito não. Até às onze. Eu: Ok, mas se estiver ruim, pego um Uber e volto pra casa, você gostando ou não. Era quase impossível falar não para o Ricardo. Ele era mais que apenas meu primo, era meu melhor amigo e sócio. Tínhamos uma empresa de marketing digital desde nossos 17 anos, éramos pioneiros no mercado, e atualmente nossa empresa era referência nacional, tínhamos uma vasta carteira de clientes, desde pequenas empresas até as multinacionais. Ricardo era o CEO da G&R Marketing, ele desempenhava o papel de executivo com excelência. Já eu era o vice-presidente e diretor-geral de projetos, gostava mesmo era de ficar com as equipes desenvolvendo os programas. Ricardo tentou por diversas vezes me convencer a ficar com ele no andar da presidência, mas não era o meu perfil. Preferia ficar com as máquinas e com o pessoal da programação, ensinando e aprendendo, era o que me fazia feliz. Sempre acreditei que todos os dias podemos aprender algo novo. Depois de enviar mensagem para ele, resolvi voltar para casa, iria dormir bastante até a hora da tal festa, vá que eu encontre alguém legal, talvez valesse a pena dar uma chance para o destino. https://zmes.marketing/ Amanda — Bi, de quem é a festa que vamos hoje mesmo? — perguntei para a minha prima, que estava acabando de sair do banho, enquanto eu estava fechando meu sutiã. — É do Beto, um cara da academia, ele é um gato, espero ficar com ele hoje. — Bianca era muito bonita, diferente de mim, era alta e magra, tinha cabelos longos e loiros e olhos verdes. Para ela, ficar com quem tinha vontade era fácil. Perdi as contas de quantos crushes dela já conheci, desde o colégio ela é assim. E não pretende se amarrar tão cedo, mesmo já tendo 30 anos. — É óbvio que você vai ficar com ele, espero me arranjar também, não estou a fim de ficar sozinha por lá. Se não achar ninguém interessante, volto para casa, tu já sabe. — Mandi, relaxa, o Beto tem vários amigos gatos, você vai se dar bem. Ei, vai com o vestido preto mesmo? — “Mandi era meu apelido”. — Sim, ele fica bem em mim, realça minhas curvas. — Sempre fui bem neutra no que se refere a roupas, nunca liguei muito para moda, vestia o que me caia bem. Para esta noite, escolhi um dos meus vestidos básicos, ele era ajustado no corpo, dois palmos acima dos joelhos, com mangas longas. Como era outono, a noite em Porto Alegre sempre tinha um ventinho gelado. Após terminarmos de nos arrumar, chamamos um Uber para nos levar a festa, como sabíamos que beberíamos, não iríamos dirigindo. ... Chegamos no bairro Bela Vista, um dos bairros mais nobres da cidade, a festa seria em uma casa dentro de um condomínio fechado. Bianca é endocrinologista, e assim tinha muitos amigos médicos e ricos. Apesar de ter nascido em berço de ouro, pois seu padrasto era um dos mais renomados médicos cirurgiões cardíacos do país e a criou como se fosse sua filha de sangue, ela não era nem um pouco mimada e esnobe. Bianca tinha todos os motivos para ter sido uma adolescente rebelde, afinal, seu pai biológico abandonou sua mãe quando ainda estava grávida. Anos depois, reapareceu e aplicou um golpe na família, sumindo novamente no mundo. Nessa época, Bianca estava no início da adolescência, mas nem por isso se revoltou, pelo contrário, continuou estudando e com o objetivo de ser uma grande médica, assim como seu pai postiço, o tio Nando. Ele e a mãe dela se conheceram por acaso no hospital na época em que ele fazia residência e a tia Tânia, o pré-natal de Bianca, foi amor à primeira vista. E desde então estão juntos, ele tentou ajudar na reaproximação de Bianca com seu verdadeiro pai, o que lhe custou milhares de reais perdidos no golpe, mesmo assim ele não as deixou e jamais falou qualquer coisa contra o safado do pai de Bi. Tio Nando era um homem muito bom e, a meu ver, raro. — Chegamos, top o lugar, né? — disse Bianca assim que passamos pela guarita na entrada do condomínio. — Sim, esse Beto é médico também? — Sim, mas não estudei com ele, nos conhecemos na academia mesmo, ele é dois anos mais velho, é ginecologista. — Hum, entendi tudo, você quer é uma consulta grátis hoje, né? — Só você, né, Amandinha, claro que não, quer dizer, não me importarei se ele quiser me examinar. — E riu. — Você não presta, Bianca. — Ah, prima, relaxa, a vida é curta demais para desperdiçarmos as oportunidades. Chegamos na casa do tal Beto, a música vinha da parte de trás da mansão, entramos pela lateral da casa, seguindo o fluxo das pessoas. Ao chegarmos na área da piscina, fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que estavam lá, tinha muita gente. A decoração era meio havaiana, bem no estilo tropical, o que me fez repensar meu modelito escolhido. — Acho que não vim com a roupa certa — cochichei perto do ouvido da Bianca, que mal havia chegado e já estava cumprimentando meio mundo. Realmente minha prima era muito popular. — Capaz, Amanda, você está um arraso. Olha o Beto lá, vem quero te apresentar ele. — Olhei para a direção que ela apontava e avistei o tal Beto, ele estava perto de um balcão, onde um barman preparava drinks coloridos com frutas, enfeitando os copos. O Beto era alto, moreno, corpo bem esculpido e seu rosto me lembrava o do ator Raphael Vianna, tive que concordar com a Bianca, o cara era um gato. — Oi, Beto, mais uma vez, obrigada pelo convite, esta aqui é a minha prima Amanda. Amanda, este é o Roberto, para os íntimos, Beto. — Oi, prazer, Beto, bela casa — falei enquanto ele me cumprimentava com um abraço e um beijo no rosto. — Oi, Amanda, o prazer é meu. Sabe que foi difícil convencer sua prima a aceitar o convite, ela não é fácil, hein? — Ri mentalmente, pois, se tinha uma coisa que a Bianca não era, era difícil, mas se ela queria fazer papel de difícil, então a ajudaria. — A Bi é assim mesmo, não dá muita moral não, mas vale a pena. — E riu. — Tenho certeza de que vale — ele disse envolvendo o braço ao redor da cintura da Bianca. Pelo jeito, fiquei de vela logo no início da festa. — Bi, vou dar uma circulada por aí, tá? Depois nos vemos — falei já me afastando, ao cruzar a piscina, virei de costas e vi que os dois já estavam se beijando, pensei: “Essa foi rápida”. Resolvi fazer um tour por dentro da casa, já que a porta da varanda estava aberta, pensei que não teria problema. ... Gustavo A festa para a qual o Ricardo me levou estava um saco, sempre as mesmas pessoas superficiais de sempre. Ele logo me deu um perdido e se agarrou em uma das suas “amigas”. O Rick era gente boa, mas um solteiro convicto, eu apostava que, quando ele se apaixonasse, ficaria de quatro pela mulher. Circulei um pouco pela área da piscina, mas a música que estava tocando não fazia nenhum pouco meu estilo, na real, não sabia nem que banda era aquela. Resolvi que iria embora mesmo, não estava em clima de festa. Antes de ir, só daria um tchau para o Rick, depois chamaria um Uber. Ele veio dirigindo, então eu voltaria sozinho. Cheguei perto do sofá que ele estava sentado com a loira quase que em cima do colo dele e me abaixei para que ele pudesse me ouvir: — Mano, tôindo. — Cara, mas já? Tá cheio de guria linda aqui, aproveita um pouco. — Não tô no clima, amanhã quero acordar cedo para correr no parque, vou nessa. Aproveita a noite aí. — Beleza, te ligo amanhã. — Valeu. Mal me levantei e ele já voltou toda a sua atenção para a sua acompanhante, mas não posso julgá-lo, realmente a mulher era uma gata, o tipo de mulher que vira a cabeça de um homem, apesar de não fazer meu estilo. Entrei na casa pela porta da varanda e ia em direção à porta da frente quando uma porta lateral se abre e uma moça acaba esbarrando em mim, o que acaba nos levando para o chão. — Meu Deus, que susto, você está bem? — pergunto ainda tentando processar o que havia acontecido. — Me perdoa, acabei me desequilibrando na hora que ia saindo do banheiro — disse a moça, que a esta altura estava com o rosto completamente corado. Ela se levantou rapidamente, e começou a ajeitar seu vestido que subiu um pouco demais na queda, revelando suas coxas bem definidas. Então, me levantei e senti meu cotovelo latejar, acho que cai por cima dele. — Você se machucou? Nossa, que vergonha, normalmente não sou desajeitada assim e olha que nem bebi hoje. — Não esquenta, não foi nada, acontece. — Então nossos olhos se encontraram e nesse momento me esqueci completamente da dor no meu cotovelo. Ela tinha os olhos de um castanho-mel que nunca havia visto, um olhar que parecia me despir. Ela era linda, com sua pele clara e cabelos castanhos um pouco abaixo dos ombros. — Mais uma vez me perdoa — disse, me despertando. — Qual seu nome? — Ah é, Gustavo, muito prazer, e o seu? — Amanda. Bom, Gustavo, eu já estava de saída, novamente me desculpa, espero que esteja bem mesmo. — Já vai embora? Ainda tá tão cedo. — Não quis falar que eu também já estava de saída, pois na mesma hora que coloquei meus olhos nela resolvi que a noite começou a ficar interessante. — Ah, eu já ia, não me enturmei muito bem. E minha prima está com o dono da festa lá fora, curtindo. — Então por que a gente não pega alguma coisa para bebermos e conversamos um pouco? Meu primo também tá ocupado. Na real, eu também estava indo embora, mas agora posso desfrutar da sua companhia. — Hum, bom, Gustavo, acho que podemos, sim. O que você gosta de beber? — Se eu te falar que ainda não bebi nada esta noite, você vai rir da minha cara? — Não, até porque eu também ainda não coloquei uma gota na boca. — ela lança um sorriso provocante. — Se não se importar posso ir lá fora buscar um drink para nós. — Adoraria, deixo você escolher o primeiro. — digo também em tom sugestivo de que nossa noite estava apenas começando. — Espera aqui então que já volto, aí procuramos um cômodo mais “tranquilo”. — Apenas concordei com a cabeça e vi a bela Amanda atravessando a área da piscina até alcançar o balcão principal, onde o barman estava preparando diversos drinks tropicais. Essa mulher era diferente e gata, muito gata, acho que, afinal, estava começando a valer a pena ter vindo. Uns minutos depois ela entra novamente na casa segurando dois drinks azulados: — Escolhi dois coquetéis com curaçau blue, espero que goste. — Nunca tomei, mas estão bonitos, obrigado. — agradeço roçando levemente nossas mãos enquanto pego o copo da sua. Dou um gole na bebida que desce suavemente pela garganta, ela é doce, um sinal de aperta para uma bela ressaca no dia seguinte. — Vem comigo, o Beto disse que podemos ficar no andar de cima conversando, lá é mais calmo. — Quem é Beto? — Ora, Beto é o dono da festa, tu não conhece? É um penetra? — ela questiona com um olhar interrogativo, mas seu sorriso denuncia sua malícia. — Eu vim com meu primo, ele que é amigo do dono da festa, não me lembrava seu nome. — Huuum, sei. Ela pegou na minha mão e me guiou até a direção das escadas. Normalmente eu que “chegava” nas mulheres, mas já havia percebido que Amanda não era “qualquer” mulher. Ela tinha presença, daquelas que sabem exatamente o que querem, talvez até um pouco intimidadora, mas isso só fez com que me sentisse ainda mais atraído por ela. Afinal uma mulher assim era difícil de se “domar” e isso era realmente instigante, para não dizer, excitante. Subimos as escadas e chegamos ao andar superior, a casa era extremamente luxuosa. Logo avistamos uma porta aberta, Amanda soltou minha mão e espiou por entre a porta. — Perfeito, vem cá, Guto, é uma biblioteca. — Ouvir ela me chamar pelo meu apelido teve um efeito direto no meu pau, eu estava há algum tempo sem nenhum tipo de contato físico e isso me provocou. Apenas minha família e poucos amigos me chamavam assim e ouvir meu apelido saindo daquela boca carnuda e com aquela voz sexy, meio rouca, mexeu comigo. Ela entrou e a segui. Assim que entrei vi que não era uma biblioteca, era “A” biblioteca. O cômodo era amplo, todas as paredes tinham estantes cheias de livros que iam do chão ao teto. No centro, um grande tapete com pelo alto, que parecia ser muito macio e confortável, também tinha um sofá, que mais lembrava uma grande cama, bem, no centro, o que passava um grande ar de aconchego e tranquilidade. Eu poderia perfeitamente passar horas e horas naquele lugar com um livro nas mãos. Apesar de ter uma vida financeira bem confortável nunca pensei em ter uma casa grande, bem não antes de me casar e formar uma família. E quando isso acontecesse sem dúvida eu gostaria de ter um cômodo assim. — Uau, que lugar incrível. Amo livros e você? Gosta de ler? — Amanda me perguntou enquanto andava pelo cômodo, passando sua delicada mão esquerda pelos milhares de livros, perfeitamente dispostos nas prateleiras das estantes. — Amo, sou meio nerd, é o que dizem por aí. — Não tem muita cara de nerd — ela diz, parando de repente. Caminho em sua direção, chegando em sua frente. Ela é quase da minha altura, o que devo atribuir aos saltos altos que está usando. Então, a encaro, seu olhar é instigante, questiono: — E do que eu tenho cara, então? — Neste exato momento, diria que de safado. — E você gosta? — Só poderei responder depois. — Depois do quê? — pergunto, chegando ainda mais perto, ficando apenas a milímetros de distância de sua boca. Ela lança mais um sorriso provocativo que faz meu que faz meu pau latejar apertado dentro das calças, e ao invés de responder, “escapa” num saltinho e vai até a janela grande que estava iluminada pela luz da lua cheia. — É linda, não é? — pergunta num tom mais suave que o de minutos antes, o que me faz perceber que talvez toda a “pose” de mulher fatal, não passe disto, “pose”. — É sim. Uma das mais lindas que já vi. Ela vira-se e esbarra comigo, me aproximei dela novamente, como se ela fosse um imã que me puxa. Seu perfume invade minhas narinas, frutado e refrescante, dou mais um passo em sua direção, deixando nossos corpos quase colados. Consigo sentir o calor vindo do seu corpo, e escuto as batidas aceleradas dos nossos corações. O ar começa a ficar mais pesado, fazendo com que nossas respirações fiquem mais ofegantes. — Você não respondeu minha pergunta. — sussurro no seu ouvido, sentindo sua pele se arrepiar com a minha proximidade. — Com você assim tão perto, fica um pouco difícil responder... — É mesmo? Quer que eu me afaste então? — pergunto roçando meu nariz por sua orelha e descendo levemente por seu pescoço. — Não. — Ela encurta a quase inexistente distância que tinha entre nós e me beija. Seu gosto está doce pelo drink que acabamos de tomar, ela é quente, sua pele é macia. Nosso beijo se encaixa perfeitamente. Então, a pego no colo e a prenso contra a janela fechada. Sinto o calor no meio de suas pernas, minha ereção fica ainda mais apertada dentro das minhas calças, chega a ser doloroso. — Você é muito gostosa, Amanda —ela morde minha orelha. Então, com ela no meu colo, a levo até o sofá, no centro da biblioteca. Coloco-a delicadamente sobre ele. Ela me encara e vejo desejo em seu olhar. Essa mulher é uma perdição, fico na dúvida se paro por aqui ou se me perco completamente em seus braços. Eu não sou o tipo de cara que transa na primeira noite, sempre fui muito cavalheiro,mas essa mulher mexeu completamente comigo. Ela então lança um olhar como se pedisse para eu continuar dissipando as minhas dúvidas. Antes de continuar, caminho apressadamente até a porta, que estava entreaberta e a fecho, trancando-a. Viro novamente em direção ao sofá e a vejo começar a abaixar as mangas do seu vestido preto, revelando um sutiã da mesma cor, tomara que caia. Fico admirando o espetáculo, ela se levanta levemente para retirar o vestido por completo, ficando ali, deitada apenas de sutiã e sua minúscula calcinha de renda combinando. Não digo nada, apenas a admiro de cima a baixo. Apago uma das luzes principais, deixando apenas a iluminação amarelada das estantes, o que torna o ambiente ainda mais aconchegante. Caminho de volta em direção a ela, parando em sua frente, tiro minha camisa. Ela em nenhum momento desvia seu olhar do meu. É como se estivéssemos hipnotizados. Coloco as mãos para desabotoar minha calça, mas ela se aproxima e deposita suas mãos sobre as minhas, me parando. — Vem cá. — me puxa para mais um beijo ardente. O beijo ganha intensidade, me jogo em cima dela, passo minha língua por seu pescoço, descendo pelo seu colo, chegando na altura dos seus seios. Paro ali, e volto a olhá-la, num pedido silencioso de “permissão” que prontamente é respondido, abaixo ambos os lados do fino tecido reandado, revelando os seios empinados, passo a ponta da minha língua pelo bico já endurecido e o chupo levemente. Sinto Amanda se contorcer embaixo de mim, o que me estimulada para intensificar, e fico um tempo me deliciando e revezando entre um seio e outro. Até que com sua voz rouca e claramente excitada Amanda fala: — Minha vez Guto. Ela coloca suas mãos nos meus ombros e num impulso rápido inverte nossos corpos, ficando em cima de mim. Repetindo meus primeiros movimentos, começa a beijar meu pescoço, descendo pelo meu peito, abdômen, pegando a fivela do meu cinto e de abrindo minha calça. — Acho que alguém aqui precisa “respirar” um pouco. — Antes que eu pudesse falar, ela pega e tira minha calça e cueca juntas, nossa, que sensação boa, liberdade, estava explodindo. E logo ela o encara e depois, com um sorriso malicioso, me lança um olhar sugestivo, cara essa mulher vai me fazer gozar só com o olhar, porra. Decido pegá-la de surpresa, e antes que ela faça o que pretendia fazer a jogo delicadamente de volta no sofá, sou um cavalheiro, e como tal o prazer de uma dama vem primeiro. — Primeiro as damas, minha cara. Sua pele é uma seda. Vou passando minha boca por sua barriga até chegar no meio de suas pernas. Inspiro profundamente, sentindo o cheiro da sua excitação, retiro delicadamente o pequeno pedaço de tecido que cobre sua intimidade, o jogando no chão, junto com as outras peças de roupas. Passo meu dedo indicador por sua entrada, sentindo o pulsar dos músculos, Amanda instintivamente projete levemente o quadril em minha direção, eu inclino meu tronco e a beijo novamente, enquanto meu dedo a invade. Ela está molhada e ele desliza dentro dela. Afasto nossas bocas, pois quero sentir todo o seu gosto. Passando meu nariz por sua boceta, mergulho minha língua por entre seus grandes lábios e começo a estimulá-la ainda mais. Entre lambidas, beijos, chupadas e leves mordidas, sinto Amanda chegar ao seu ápice e sorrio satisfeito após lamber o restante do seu orgasmo. Levanto novamente meu tronco e a encontro me encarando com os olhos brilhando com o efeito do recém orgasmo. — Minha vez. — Ela faz o mesmo ritual que eu fiz, só que desta vez não a detenho quando chega ao meu pau. Ela o engole, me fazendo contorcer embaixo dela e gemer. Se ela continuasse, não conseguiria segurar por muito tempo. — Eu quero estar dentro de você... — falo ofegando, enquanto ela me masturba. — Também te quero, todo, dentro de mim. — e assim num movimento rápido, ela senta no meu pau que a invade e a preenche por inteiro. — Você é muito, muito gostosa, está toda molhada — sussurro e começo a me movimentar, fazendo ela cavalgar em mim. — Isso, ah, que gostoso… — ela diz rebolando e me levando a loucura. — Gosta assim? Fala para mim, Amanda, quero te ouvir, gostosa. — Sim, assim, Guto, hum… — Amanda, você é uma delícia mulher, estou louco de tanto tesão… — Então me fode gostoso… — Tu gosta, não é? Ah, mulher, eu vou te foder gostoso e tu vai gozar de novo comigo. — Ela apenas choraminga mas não para de cavalgar em mim e eu intensifico as estocadas. Não demora muito e nos perdemos um no outro, já não conseguindo mais me segurar, gozo e sinto que ela chegou no clímax também. Deposito um último beijo em sua boca, antes dela sair de cima de mim e se deitar ao meu lado. O cômodo está silencioso, sendo que escutamos apenas o barulho de nossas respirações ofegantes. Essa garota é a melhor que já conheci. Amanda Estávamos ainda deitados recuperando o fôlego quando escutamos uma batida na porta seguida de uma voz questionando. — Oi, quem está aí? — Acho que era a voz do Beto. Olho assustada para o Gustavo, que já está se levantando e vestindo a calça. — Fica tranquila, vou abrir para ver quem é, pode se arrumar — ele me diz, acaba de vestir a camisa e vai em direção à porta. Ele a destranca, abrindo apenas o suficiente para que conseguisse sair da sala. Me apresso para me vestir antes de ele voltar. O sexo foi muito gostoso, fiquei feliz de ter encontrado um gato desses antes de ir embora, ele me tratou muito bem, um verdadeiro cavalheiro. Não demorou muito para que ele voltasse, ainda bem que eu já estava vestida e terminando de calçar meu sapato. — Era o Beto, sua prima queria confirmar se você estava ainda aqui ou se tinha ido para casa. — Ela está ali fora ainda? — Não, antes de eu fechar a porta, os vi entrando em outra ali na frente; pelo clima, acho que ela não vai embora tão cedo. — Claro que ela iria passar a noite toda ali, mas eu não, já curti, agora quero ir embora. — Você já quer ir embora? Eu posso te acompanhar, se quiser, mora em que bairro? Sei que pode parecer errado, até mesmo vulgar, mas eu não queria que ele me acompanhasse, muito menos que virasse um “contatinho”. Por mais que eu saiba que esses encontros às vezes acontecem e que é só sexo, sei lá, senti uma energia diferente e não estou pronta para embarcar em nada sério. Melhor que ele pense que sou apenas mais uma que aproveitou o momento, ele não me conhece realmente, então não posso me importar com o que ele ache de mim. Há um ano estou seguindo fielmente meu lema: “Pegar e não se apegar”. Eu saio, fico com quem eu quiser caso pinte um clima e fim de papo. Até hoje dei meu número apenas para um cara e só porque ele insistiu muito e eu estava meio bêbada. Tanto que, no dia seguinte, quando ele não parava de me ligar, bloqueei ele no WhatsApp. — Capaz, Gustavo, não precisa, vou de Uber. — Bom, então, pelo menos me passa seu número, a gente pode conversar, quem sabe marcar alguma coisa… — Assim, por favor, não me entenda mal, eu gostei muito da nossa noite e você parece ser um cara muito do bem, mas eu não estou buscando nenhum tipo de relacionamento, ok? Obrigada pela noite, pela companhia, mas vou indo. — Me aproximo dele, ele está com a cara de quem não está acreditando no que eu acabei de dizer, afinal, normalmente são os homens que saem correndo depois de uma transa. Decido dar um último beijo para que ele não fique achando que não gostei dele, pois eu gostei, gostei até demais. Só não quero relacionamentos agora, só isso. Pego sua cabeça e lhe dou um beijo rápido, mas marcante. — Tchau, Guto, foi realmente um prazer. Pego minha bolsa de mão que deixei na entrada da biblioteca, abro a porta e saio sem olhar para trás, e sigo para a entrada para chamar meu Uber. ... Acordo com meu celular tocando, olho pela tela e vejo que é a Bia, “Que horas são”? Me pergunto, arrastando o dedo pela tela para atender a chamada de vídeo. — Bom dia, princesa, dormiu bem? — fala Bianca, já de banho tomado, bebendo seu suco verde matinal. — Guria, tu não tem sono? — questiono, me espreguiçando. — Não quandopasso uma boa noite, estou com a corda toda. Amanda, minha noite foi fantástica, sério, o Beto é incrível. Ele não é só um gato, gostoso, com um pau maravilhoso. Ele também é engraçado, querido, carinhoso. Eu gozei cinco vezes, sério, ele foi minha melhor transa da vida. — Uau, que isso, hein? Nunca te vi assim antes, será que finalmente achamos alguém capaz de te fisgar? — Ah, prima, pior que acho que sim. Sério, o Beto é demais. — Vai com calma, Bia, tu nunca ficou assim, cuida para não se magoar. — Eu sei, mas eu senti algo diferente com ele, parece que encaixou perfeitamente, sabe? Bom, eu acordei com ele me ligando para dar bom-dia e me contar uma coisa que aconteceu. Ele queria que eu tivesse dormido lá, mas insisti em vir para casa. Então, ele fez questão de me trazer, acredita? Ele disse que não tinha bebido quase nada e, como já era de madrugada, não queria que eu ficasse andando sozinha de Uber. Ele deixou a festa aos cuidados de um dos amigos e me trouxe para casa. — Nossa, esse aí é bom, hein? — É sim. Tá, mas e você? Com quem tu ficou? Tu me disse que estava indo embora e de repente diz que ia subir para ficar mais "à vontade" com um cara. — Então, esbarrei nele quando estava saindo do banheiro para vir para casa. Na verdade, acabei caindo sobre ele. Um vexame. Mas, quando olhei em seus olhos, molhei a calcinha. O cara era um Deus grego. Loiro, com olhos azuis, sorriso manso. Ele foi mega simpático, aí uma coisa levou a outra… — Vocês transaram, né? Eu vi quando ele saiu da biblioteca abotoando a camisa, eu e o Beto estávamos indo para o quarto dele. Eu ia pedir para falar contigo, mas imaginei que você não estaria vestida. — Ainda bem que tu me conhece. É, então, acabou rolando. — falo levantando da cama, quando só então me dou conta da grande burrada que eu tinha feito. — PUTA MERDA! — Que foi? — Bia questiona sem entender minha reação. — Esqueci de usar camisinha, Deus como sou burra. — me amaldiçoo mil vezes, nunca fui esse tipo de garota, na real sempre andava prevenida e até julgava minhas amigas quando me confessavam que acabavam esquecendo de se prevenir. Como eu pude esquecer isso? Onde estava com a cabeça? — Estava tão bom assim que te fez esquecer que existem milhares de doenças sexualmente transmissíveis? — óbvio que como minha melhor amiga e médica ela me daria um grande e merecido sermão. — Eu sei, vacilei, tu sabe que não sou assim, mas aconteceu... — Vê se agora toma uma pílula do dia seguinte e depois trate de marcar um exame de sangue. E nunca mais faça isso. — Tá bom mãe. — Não faça piada com isso, mas, tirando a falha terrível. Como foi? Aliás, não sei se realmente preciso perguntar, pois se te fez esquecer até a camisinha, deve ter sido quente. Foi? — Foi legal. — tento soar indiferente, não quero que ela fique me fazendo um milhão de perguntas. — Sério, Amanda? Foi legal? — fala como se não acreditasse no que estava ouvindo. — Foi, muito, na verdade, fazia tempo que não era tão… como posso dizer… tão… — Opa, acho que não sou a única encantada com a noite aqui, está até sem palavras. Qual o nome dele? — Gustavo, e não tô encantada, sabe como sou, só queria dizer que foi muito bom. — E dessa vez pegou o contato dele? — Claro que não, tu sabe que eu pego… — E não me apego… Sim, prima, eu sei, aliás, eu te ensinei isso. Mas, se o cara era legal, às vezes valia a pena um segundo encontro, não acha? — Guria, quem é você e o que fez com a minha prima Bianca? Aquela que é uma solteira convicta… — Acho que ela aposentou as chuteiras… ou pelo menos está torcendo para aposentar… — Guria, acho que o cupido te pegou de jeito mesmo, perdi minha parceira de guerra. Ei, o que vai fazer hoje? — Então, com a minha empolgação, acabei esquecendo de te falar uma coisa importante… parece que um dos amigos do Beto sofreu um acidente durante a madrugada depois de sair da festa… estou esperando o Beto me ligar para saber como o guri está, mas, pelo que ele me contou, parece sério. — Meu Deus, e tu me fala isso assim? Guria, tu nasceu para ser médica mesmo, é muito fria. — Não fala assim, não sou fria, sou racional. Acidentes acontecem, não gosto de ver as pessoas sofrendo ou morrendo, mas aprendi que faz parte da vida. Afinal, é a única certeza que temos: todos iremos morrer um dia. — Meu Deus. — De repente os lindos olhos do Guto invadem minha mente. — E se for o Guto? Bianca, por favor, liga agora para o Beto e pergunta o nome desse amigo… — Calma, o nome do cara não é Gustavo, é Ricardo, ele também faz academia com a gente. ... Gustavo — Lamento, rapaz, mas o Sr. Ricardo, entrou em coma e não temos previsão de quanto tempo ele demorará para retornar ou se haverão sequelas. — diz o médico que acaba de sair da sala de cirurgia. — Como assim? Meu primo vai morrer? É isso, doutor? — No momento ele está em um estado de sono profundo, mas não temos como saber ainda o acontecerá. Os próximos dias serão decisivos. Qualquer coisa nossa assistente social pode conversar com você — diz o médico já se afastando e entrando em uma sala ao final do corredor. Meu Deus, como contarei isso para os meus tios? O Ricardo era o menino de ouro da Tia Sonia, por que ele, Deus? Ele precisa acordar, não dou conta sozinho. Tudo aconteceu tão rápido, depois que a Amanda foi embora, me deixando plantado sem entender nada na biblioteca, acabei de calçar meus sapatos e fui para casa. Nem fui procurar pelo Rick, pois, naquela altura, ele já devia ter encontrado uma cama para ficar com a mulher que estava beijando mais cedo. Cheguei em casa, tomei um banho e estava repassando a noite na minha cabeça, tentando entender se fiz ou falei alguma coisa que possa ter “espantado” a Amanda. Eu já tinha conhecido algumas gurias que não queriam relacionamentos sérios, mas não como ela. A gente mal tinha acabado de transar e, a meu ver, foi a melhor transa da minha vida, e a guria saiu correndo como o diabo foge da cruz. Será que só eu gostei tanto assim do sexo? Será que fantasiei demais? Não, eu sempre fui muito atento e percebi que ela se entregou completamente e que gostou tanto quanto eu. Certas coisas não se podem fingir. E teve o beijo também, ela me deu um beijo quente de despedida, senti como se o beijo falasse por ela: “foi muito bom”. Mas se ela também curtiu, por que não me passar nem seu telefone? “Guria estranha essa…, mas definitivamente maravilhosa e inesquecível”. Estava terminando de me secar quando escuto meu celular tocar, deveria ser umas três, três e meia da manhã, o que despertou um sinal de alerta no meu corpo, algo de errado aconteceu. Olhei na tela e era um número desconhecido, atendi: — Alô. — Alô, boa noite, o senhor conhece o Ricardo Medeiros? — Sim, é meu primo, quem está falando? — Aqui é o policial Silva, como você se chama? — Gustavo, aconteceu alguma coisa com ele, policial? — Infelizmente sim, senhor, seu primo sofreu um grave acidente de carro, localizamos seu celular nos escombros e seu número era a última chamada realizada. — Meu Deus, ele está bem? Onde ele está? Estou indo aí. — Por favor, fique calmo, ele foi levado para a Santa Clara de Misericórdia, o senhor sabe o endereço? — Sim, sim, sei, estou indo para lá. — Ok, senhor, depois precisarei de alguns dados para colocarmos no boletim. Infelizmente já temos uma vítima fatal. A passageira que estava no carona do carro do seu primo morreu na hora. O senhor a conhecia? — Meu Deus, não, quer dizer, deve ser a guria que estava na festa com ele, a vi de vista. — Entendo, bom, peço que salve esse número do qual lhe liguei e que, assim que puder, me ligue. Desejo melhoras para seu primo. — Ok, obrigado. Desliguei, peguei minha carteira em cima da mesa da cozinha, calcei meu tênis o mais rápido que pude e desci para a garagem para pegar meu carro e ir para o hospital. — Tio, boa noite… Estou ligando, pois tenho uma notícia para dar para vocês… Não sei uma maneira mais fácil de contar… O Rick sofreu um acidente e ele se machucou muito… Tio, eu sinto muito, o Rick é meu irmão,meu melhor amigo… Tio, ele está em coma e o médico não tem previsão de melhora… nem sei o que pensar ou fazer. — Ouvir o choro de desespero do meu tio do outro lado da linha arrasou meu coração. Comecei a chorar até que uma das enfermeiras viu meu estado e me trouxe algum tipo de calmante e um copo d'água. Eu precisaria ser forte, tinha muitas coisas para resolver e meus tios precisariam de apoio. Meus tios e o Ricardo, pois não descansaria até vê-lo curado. Depois de o remédio fazer efeito, me senti um pouco mais tranquilo, consegui ligar para os meus pais. Eles iriam trazer meus tios de Caxias para Porto Alegre. Assinei também a papelada do hospital. Ricardo sempre foi extremamente organizado e muito cauteloso, de tal forma que as coisas se resolveram rápido. Depois de falar com o policial que me deu a notícia do acidente, decidi ir para casa, tomar um banho e trocar de roupa para depois receber meus pais e meus tios no hospital. Pelo que entendi, Ricardo acabou se perdendo em uma curva, o que ocasionou o capotamento do carro por três vezes, após a colisão com um poste de energia. A guria que estava com ele chamava-se Camila, tinha apenas 24 anos, seus pais estavam tão desolados quanto nós. Eu conhecia Rick, não acredito que estivesse embriagado, algo deve tê-lo distraído, mas, mesmo assim, o laudo com a informação se havia substâncias entorpecentes no seu sangue só sairia em algumas semanas. Não queria nem pensar em como seria na empresa, a essa altura, todos já deveriam estar sabendo que o CEO da G&R Marketing havia sofrido um grave acidente e estava em coma. Eu precisaria pensar nos rumos que iria tomar na empresa, provavelmente contrataria um CEO experiente para ocupar o cargo até que o Ricardo se recuperasse. Mas deixaria para analisar isso com os advogados e o conselho diretor durante a semana. Agora tudo que eu queria era o abraço da minha família, já que do meu melhor amigo, do meu irmão de alma, eu não teria por só Deus sabe quanto tempo. Amanda Depois de conversar com a Bia, uma sensação ruim tomou conta de mim, não conseguia parar de pensar no Gustavo. Isso era estranho, não sabia explicar, mas algo nele era diferente. Ah, que bobagem, deve ser apenas pelo susto de acordar, receber uma notícia assim. Espero que o guri que se acidentou esteja bem, penso na família do rapaz, nossa, nem imagino a aflição pela qual estão passando. Decido me levantar, pois não conseguirei voltar a dormir, tomo um banho e programo a cafeteira para passar um café quentinho, amo café preto e não consigo começar meu dia sem beber pelo menos uma xícara. Enquanto isso, pego meu celular para olhar as últimas notícias, tenho que me lembrar de depois ir na farmácia comprar uma pílula, como a Bia aconselhou, não consigo nem imaginar o surto que teria se ficasse grávida. Depois de olhar os stories da maioria dos meus contatos, me bate uma curiosidade e decido procurar o Instagram do Guto, stalkear um pouquinho não tem nada demais, né? Digito na busca Gustavo… como imaginei, aparecem vários perfis, fui rolando e olhando as fotos até que vi um perfil que me chamou a atenção: “É ele, jamais esquecerei esses olhos azuis”. Abri “@gustavo_medeiros”, droga, o perfil era privado. Será que solicito para seguir? Não, não posso fazer isso, vai contra minhas regras. A cafeteira apita, me avisando que o café está pronto, o que acaba me assustando e sem querer meu dedo esbarra na tela e clica em “seguir”. Merda, agora ele receberá a notificação. Mas talvez dê tempo de cancelar. Antes que eu pudesse cancelar, meu celular vibra indicando uma nova notificação: “@gustavo_medeiros aceitou sua solicitação para seguir". E uma nova em seguida: “@gustavo_medeiros começou a te seguir”. Ah, meu Deus, ele me seguiu, abro o perfil dele e não tem tantas fotos, ele parece ser um cara discreto, vejo que tem um novo Stories, clico para visualizar, então aparece a seguinte mensagem: “Vai dar tudo certo, meu irmão, estou com você até o fim, amo você”. Meu coração acelera, será que o rapaz do acidente era irmão dele? Me recordo dele comentar que tinha ido à festa com o primo, mas não lembro o nome do rapaz. Será que mando um direct para ele? Decido antes ligar para Bianca e ver se ela tem mais informações sobre o rapaz. Ela logo me atende: — Oi, prima. — Oi, Bi, ei, alguma novidade sobre o guri do acidente? — Ah, prima, sim, infelizmente ele entrou em coma e não há previsão de quando ou se acordará. — Meu Deus, que tristeza. — Pois é, o Ricardo é um cara muito gente boa, conversei algumas vezes com ele na academia, e a guria que estava com ele faleceu, ela tinha 24 anos. — Nossa, que horror, Bi, você sabe me dizer se o Ricardo tem irmão? — Não, ele era filho único, ah, o Beto me falou que ele foi na festa com o primo, o Gustavo. Será que é o seu Gustavo? — Ele não é meu, mas acho que é o mesmo. Acabei de adicionar o Guto no Instagram e tinha um Stories: “Vai dar tudo certo, meu irmão, estou com você até o fim, amo você”, deve ser por conta do primo. — Você o adicionou? — Sim. — E vai falar com ele? — Não. Quer dizer, não sei. Será que devo? Afinal, ele deve estar com a cabeça cheia, mas eu estava na mesma festa, e… — Calma, Amanda, respira, você está muito nervosa. O Beto perguntou se posso acompanhá-lo ao hospital para visitar o Ricardo, mesmo que ele esteja em coma, o Beto quer prestar apoio à família. Eu disse que iria, vamos lá por umas 14h, quer vir conosco? Provavelmente o tal Gustavo estará lá, assim você pode falar com ele pessoalmente. — Não sei, acho que é um momento muito família, não sei como ele iria reagir. E, também, não gosto desses ambientes, você sabe que não lido muito bem com hospitais, doenças, morte... Desde o velório da vovó, volta e meia tenho pesadelos. — Bom, prima, você que decide, mas acho que seria legal da sua parte, afinal, vocês passaram a noite juntos, agora se adicionaram e o cara acabou de saber que seu primo está em estado grave, pense se fosse a gente? Depois você fala que eu que sou fria… — Tá bom, você está certa, nós estávamos na mesma festa, e não consigo nem imaginar passar por algo parecido. Você vai direto ou o Beto vai te buscar? — Ele vem me buscar, passamos aí para você ir com a gente. — Ok, espero vocês, então. Beijo. — Beijo. Não sei se fiz bem em aceitar, mas não sabia explicar o motivo por estar tão sensível, talvez fossem os hormônios…Olho novamente o perfil dele, abro uma foto que ele está com outro rapaz, os dois estão descontraídos sorrindo, com um pôr do sol do Guaíba como plano de fundo, na legenda, a frase: “melhor sócio, amigo e irmão que Deus me deu @ricardo_medeiros”. Era ele, então, e pelo jeito realmente os dois são muito próximos, nem imagino a dor que o Guto deve estar sentindo, não sei o que seria a minha vida se algo assim acontecesse com a Bianca, Assim, tomada por uma onda de forte emoção, clico em “enviar mensagem”, a tela se abre e digito: “Oi, Guto, sou a Amanda, da festa do Beto, achei seu perfil e resolvi te adicionar. Gostaria de poder perguntar se está tudo bem, mas as notícias correm rápido e infelizmente sei que acaba seu primo sofreu um grave acidente. Quero que saiba que sinto muito e que estou orando para que a recuperação dele seja breve. Caso precise de uma amiga, pode contar comigo. Me desculpe pela forma que fui embora, não é nada com você. Fica com Deus, abraços, Mandi”. Não demora muito e ele visualiza a mensagem: @gustavo_medeiros está digitando… O que será que ele irá dizer? ... Gustavo Desliguei a ligação com minha mãe, ela avisou que chegariam perto das 13h, e iriam direto para o hospital. Ouvi uma nova notificação vindo do meu celular, o peguei para conferir e me surpreendi ao ver a solicitação de amizade na minha conta do Instagram: "@mandibarros enviou uma solicitação para segui-lo". A princípio, não reconheci o nome, então cliquei no perfil e meu coração acelerou quando vi quem era: Amanda. Aceitei a solicitação e a segui de volta. Não entendi por que de ela me procurar depois da formaque foi embora, mas fazia tempo que havia perdido as esperanças de entender as mulheres. E confesso que, apesar do momento pelo qual estava passando, fico feliz em ter o contato dela. Olhei um pouco seu feed de notícias, ela era realmente "festeira" e alegre. Pelas fotos, vivia viajando e tinha muitos amigos, não vi nenhuma foto com algum cara que pudesse ser seu namorado, pois, da maneira que ela saiu correndo depois da festa e sem deixar nenhum contato, pensei que talvez fosse comprometida, mas, pelo jeito, era mais uma solteira convicta mesmo, acho que ela se daria muito bem com Rick. Lembrar dele apertou novamente meu coração, ainda não estava conseguindo acreditar no que está acontecendo, Rick em coma, sem previsão de alta ou melhora, sem saber como será quando e se acordar... a simples ideia dele nunca acordar aperta meu coração, como seria se eu nunca mais o visse, nunca mais recebesse suas mensagens debochadas, nem seus e-mails me dando "ordens" como se realmente mandasse em mim e não fôssemos sócios igualitários na empresa. Rick é o cara mais incrível que já conheci, todos gostam dele, ele é carismático, inteligente, engraçado, é o cara que não importasse o que fosse, sabia que poderia contar. Lembro dos conselhos que ele me deu antes da minha primeira vez… eu tinha 17 anos, estava saindo com a Beca há um mês e estava realmente apaixonado. Bom, na real, eu já era apaixonado por ela desde o quinto ano do Ensino Fundamental. Seus lindos cabelos ruivos cacheados nas pontas, sua pele clara com sardas delicadas espalhadas pelo seu rosto pequeno e seus lindos olhos castanhos faziam minhas pernas balançarem. Estudávamos juntos, eu, ela e o Rick, e éramos quase que inseparáveis. Antes de sair com ela pela primeira vez, ela me confessou que havia sido apaixonada pelo Rick, mas que aquilo fazia muito tempo e que eles nunca tiveram nada, pois Rick sempre falou que a via como uma irmã. Então, um dia em uma festa no final do terceirão, resolvi "arriscar" e pedi para ficar com ela. E, para minha alegria e surpresa, ela aceitou. E, depois da festa, começamos a sair quase que todos os dias, e um dia comentei com Rick que está a pronto para a minha primeira vez e que queria que fosse com a Beca, afinal, ela era a garota dos meus sonhos: — Mano, amanhã vou sair com a Beca e tô muito a fim de… bem, tu sabe, né… — Olha só, meu priminho quer transar… — Rick falou enquanto dava pause no nosso jogo de futebol no Playstation. — Ah, não fala assim, tu sabe que sou apaixonado pela Beca desde pequeno, eu e ela já conversamos sobre isso, e… — É a primeira vez dela também? — Sim, e isso me deixa ainda mais ansioso, eu quero que seja perfeito. — Mano, relaxa, se você se colocar pressão, não vai ser legal, nem para você e muito menos para ela. Tem que ser natural… leva ela no cinema, depois jantem em algum lugar, uma comida leve… e depois a convide para ir para um lugar mais tranquilo… tem um motel bem bacana perto do Praia de Belas… se bem que você não tem identidade falsa… você não é dessas coisas, mal sai para as festas da turma… Cara, pode trazer ela aqui em casa, eu invento alguma coisa para o papai e a mamãe, e tu pode ficar tranquilo com ela aqui. Compre umas velas, algumas rosas, e espalhe pelo quarto, na verdade, eu vou deixar tudo pronto para você… aí você chega, dá play no rádio e aí relaxa e deixa rolar. E, claro, não se esquece da camisinha, você não vai querer engravidar a garota na primeira vez da vida de vocês. — Tô mais nervoso ainda, e se ela não curtir? — Mano, tu é um cara gente boa, boa-pinta e você se conhecem há anos… vai ser legal, acredite mais em você cara. Segui todos os conselhos dele e realmente foi uma noite inesquecível. Pena que depois não durou muito, a Beca decidiu que era nova demais para namorar e pediu que continuássemos como sempre fomos: amigos. Depois que nos formamos no Ensino Médio, ela se mudou para Curitiba e foi cursar faculdade de Veterinária. Às vezes trocamos mensagens, mas a amizade nunca voltou a ser a mesma. Demorei muito para esquecê-la. Outra notificação no meu celular me chama de volta para a realidade, é um direct da Amanda. "O que será que ela escreveu?" “Oi, Guto, sou a Amanda, da festa do Beto, achei seu perfil e resolvi te adicionar. Gostaria de poder perguntar se está tudo bem, mas as notícias correm rápido e infelizmente sei que acaba seu primo sofreu um grave acidente. Quero que saiba que sinto muito e que estou orando para que a recuperação dele seja breve. Caso precise de uma amiga, pode contar comigo. Me desculpe pela forma que fui embora, não é nada com você. Fica com Deus, abraços, Mandi”. Ah, ela já sabe do acidente do Rick, achei a mensagem dela carinhosa, ela não precisaria ter mandado nada, mas mandou. Meu coração não costumava me enganar, ela era diferente. Resolvi responder, agradecendo. "Olá, Amanda, agradeço por sua mensagem… na real, ainda não estou acreditando que isso esteja acontecendo. Como você ficou sabendo? "Oi, a minha prima, que estava com o Beto, me acordou para me contar, a princípio, não sabia que era seu primo, mas depois ligamos os pontos. Como você está?" "Como se tivesse passado um caminhão por cima de mim…" ":( Sinto muito. Não perca a fé, Deus sabe o que faz. Seu primo ficará bem e logo estará com você de novo. Tenha fé.". "Obrigado. Eu tenho que ir, preciso resolver algumas coisas antes dos meus pais e tios chegarem. Obrigado mais uma vez e se cuida". "Você também. Beijo se cuida:*" Gostaria de ficar conversando com ela, poderia ter sido tão diferente. Mas não era o momento. Eu tinha uma grande missão nas mãos agora e isso exigiria toda a minha atenção. Amanda Resolvi, nos últimos minutos, que não iria no hospital, não havia sentido eu ir até lá. Eu já havia mandado mensagem lamentando o ocorrido, não tinha por que eu ir, poderia dar a entender que estava interessada nele e não era isso. Claro que eu não sou nenhuma pedra de gelo sem sentimentos, eu achei o Guto um cara legal, eu realmente senti algo diferente quando ficamos, ele me fez sentir diferente, não sei se foi a conexão imediata, mas, algo me abalou, mas ainda assim, não posso abrir mão da vida que eu vinho levando, estou feliz sozinha, e não quero dar brechas para ninguém mais entrar no meu mundo agora. Passei o resto do sábado largada no sofá, lendo meus livros de suspense no meu kindle, nada de romances, não tinha paciência para os mesmos clichês de sempre, a mocinha virgem e inocente que se apaixona pelo mocinho difícil, que, no final, se mostra um bobão que fica de quatro pela garota. A vida não era assim, não existem príncipes encantados que chegam para salvar seu dia, então, eu não gostava de ficar fantasiando. Preferia um bom livro de mistério policial, um crime, uma vítima, um predador à solta e um protagonista inteligente. Isso sim era história. Já passavam das oito da noite quando meu celular toca, era a Bia, atendo a chamada de vídeo: — Oiii, o que tá fazendo? — pergunta, percebo que ela não está em sua casa, pois o ambiente não me é familiar. — Tô lendo, onde tu tá? — Na casa do Beto, liguei para ver se não quer vir aqui jantar com a gente. — E ficar segurando vela? Meu sonho — falo, bufando enquanto reviro meus olhos. Apesar de amar o gesto, Bia nunca me deixa de fora de nada da sua vida, sempre tenta me incluir em tudo, mesmo que seja para segurar vela em um sábado à noite. Mas eu tenho noção, bom senso e não aceitaria isso apenas por educação. — Nada a ver, Mandi, nós aproveitamos bastante desde que voltamos do hospital... — E como foi? Quero dizer, claro deve ter sido pesado, mas... você conheceu o Guto? — Sim, Mandi, foi muito pesado, mas ainda assim, todos tem muita fé que logo o Ricardo acordará. Depois de lá passamos no velório da Camila, então pode imaginar o quanto nosso dia foi longo. Conheci o Guto, ele estava bem abatido, mas, mesmo com os olhos inchados, ele é simplesmente um gato. Você deveria ter ido para consolar ele... — Não, não tinha nada a ver, eu deium perdido nele ontem e hoje iria aparecer no hospital para visitar o primo dele que eu nem conheço? Não. Eu mandei mensagem e é melhor assim. — Mandi, um dia você vai ter que abrir de novo seu coração, não vai querer ficar sozinha para o resto da vida né? — Meu Deus, o que esse Beto fez contigo? Quem é você? — Eu não fiz nada, quer dizer nada que ela não tenha gostado. — Nesse momento, me assusto com a voz grossa que responde à pergunta que era direcionada para a minha prima. Então, ela começa a rir ao ver minha surpresa e vira o celular, mostrando que o Beto estava ali o tempo inteiro, bem na frente dela. Ele acena com um sorriso no rosto que deve ser por ver que eu estou vermelha feito um pimentão. Aceno timidamente para ele. — Oi, Beto, tudo bem? Me desculpa não sabia que estava aí... — Não quer mesmo vir aqui? Eu não vejo problema em um jantar à luz de velas... — ele fala em tom irônico, o que me faz rir, ele realmente é um cara engraçado. — Obrigada mesmo, mas fica para um outro dia, não estou a fim de me vestir de castiçal hoje. — Bom, então amanhã nos vemos, beijo, priminha, se cuida, amo você — diz Bia. — Boa noite, se cuidem também, juízo, crianças. Amo você, Bia. Prazer falar com você de novo, Beto. — Ela vira de novo o celular para eu ver o Beto se despedindo com uma piscada de olho e mandando um beijo. Ele era um gato mesmo e combina muito com a Bianca, formam um belo casal. Quem diria que minha prima iria se apaixonar, fico muito feliz por ver o riso fácil e leve no seu rosto e o brilho nos olhos. Depois de desligar, pego o celular e fico navegando por um tempo pelas notícias de fofoca até adormecer. “Acordo em um lugar muito claro, sinto frio no corpo, percebo que estou em um quarto de hospital, ligada a um aparelho que fica apitando e monitorando meus batimentos cardíacos. Onde estou? O que estou fazendo aqui? Tento levantar minhas mãos, pois não estou sentindo o restante do meu corpo, mas não tenho forças... então me desespero e tento gritar para chamar alguém para me ajudar, mas minha voz não sai. Onde estou? O que está acontecendo?” Dou um grito e acordo no meu sofá com o meu apartamento completamente escuro, acendo o abajur que fica na mesinha ao lado e percebo que estou suando frio, minhas mãos estão geladas e meu coração acelerado. “Que pesadelo horrível”. Nunca sonhei com nada parecido antes; na realidade, nunca me lembro dos meus sonhos. Acho que o acidente do primo do Guto mexeu muito com o meu emocional, não sou acostumada com essas coisas, a morte da menina que estava com ele também, tão nova... a única perda que tive até hoje foi da minha avó e não lidei nada bem com isso. Tanto que precisei fazer terapia por alguns meses para me ajudar a aceitar sua morte. Vovó Bina era a melhor pessoa do mundo, mãe do meu pai, era o doce em forma de gente. Lembro-me com carinho das tantas vezes que corria para sua casa, que era na parte de trás do terreno que eu morava com meus pais e, ao chegar na porta, antes mesmo de abri-la, sentia o cheirinho do bolo de chocolate que só ela sabia fazer. Minha boca saliva com a simples lembrança. Perder ela foi muito doloroso, ainda mais pela forma que foi, um câncer maligno no estômago, que a levou rápido demais. Faz três anos que ela partiu, mas, para mim, ainda é difícil aceitar que jamais verei ela novamente. Me levanto do sofá e estico meus braços para me espreguiçar, pego o celular, que acabou caindo no chão enquanto eu dormia, e confiro que são quatro horas da manhã. Vou no banheiro, faço um xixi e vou para a cama, tentar dormir de novo, mas com receio de ter outro pesadelo. Então, antes de fechar meus olhos, decido fazer a oração que Vovó Bina me ensinou desde pequena: “Com Deus me deito, com Deus me levanto, com a graça de Deus e do Espírito Santo. Amém”. Imediatamente, como se fosse “mágica”, meu corpo relaxa e meus olhos se fecham. Adormeço num sono calmo e sereno. ... A semana é agitada na empresa, mas graças à Deus já é sexta-feira de novo, último dia do mês, fechamento das folhas para pagamentos dos fornecedores e minha equipe está a mil por hora. O último mês passou rápido, e eu trabalhei mais do que nunca para colocar tudo em dia, já que a partir de hoje, às 18h, estarei de férias. Serão 20 dias de sossego, sombra e água fresca. Planejei essas férias todos os dias no último ano, estava ansiosa e animada para finalmente conhecer a Bahia. Fiz um cronograma para todos os dias, listando todos os pontos turísticos que quero conhecer. A Bia ia comigo, só que não mais sozinha como era o plano inicial. Ela e Beto estavam firmes. No último mês, os dois simplesmente não se desgrudaram um dia sequer, e eu já estava me acostumando com nossa nova dinâmica. O Beto era maravilhoso e, assim como Bia, sempre procurava me incluir. No último mês, me apresentou para dois dos seus melhores amigos, mas fiquei apenas com um deles, o Rafael, mas definitivamente ele não era para mim. Arquiteto, de 34 anos, divorciado há 2 anos e pai de uma linda menina que 4 anos. Poderia ser um cara incrível, mas era muito chato. Diferente do Beto, ele era um cara prepotente e metido. Sabe aquele tipo de pessoa que acha que tudo que faz ou fala é simplesmente o melhor? Então, é o Rafael. E o pior é que nem de longe eu o achei atraente. Era alto, forte, moreno, mas sua voz era meio estridente, seu nariz empinado demais e o pior: era fumante. Homem, para mim, tem que ser cheiroso, senão não rola e por mais que a pessoa passe perfume, lave as mãos e a boca, quando são fumantes sempre acabamos sentindo. Troquei apenas um beijo com ele em um jantar que Beto organizou para nos apresentar em sua casa. Nós estávamos no andar de cima na sala de TV, Beto e Bia tinham ido para o quarto, sim, eles não faziam a menor cerimônia para se trancarem no quarto e transar. Rafael tomou a iniciativa e me beijou, mas eu tive que segurar a ânsia para não vomitar quando senti o gosto de cigarro na sua boca. Me afastei o mais rápido que pude dele e pedi licença, dizendo que precisava ir ao banheiro. Ao sair da sala e fechar a porta atrás de mim, avistei, do outro lado do corredor, uma porta já conhecida, e cai na asneira de ir lá. Assim que abri a porta da biblioteca, foi impossível não me lembrar do Gustavo, da forma como ele me pegou no colo, de como me fez tremer as pernas em cima do sofá de centro. Mesmo depois deste tempo, as sensações estão presentes em mim, não consigo esquecer aquela noite. Foi a última noite que transei. Achava que hoje iria rolar, mas aqui estou eu, fugindo do cara fumante. O Guto era tão cheiroso, o beijo dele era tão doce, só de lembrar meu coração começa a bater um pouco mais acelerado, o calor invade o meio das minhas pernas: “Porra, eu tô excitada com uma lembrança?” O que será que ele fez que me deixou assim? Tão enfeitiçada? Balanço a cabeça tentando evitar esses pensamentos e a lembrança do Gustavo, realmente eu preciso transar. Saio rapidamente da biblioteca e bato na porta do quarto do Beto. Ele demora alguns minutos até abrir a porta apenas de cueca, fico vermelha e viro meus olhos para cima para evitar olhar o volume no meio de suas pernas, mas depois iria tirar um sarro da Bia. Falei que não curti seu amigo e pedi socorro para me “livrar” dele. Graças a Deus ele foi um amor, disse que eu podia ir para o quarto de hóspedes e dormir tranquila que ia mandar o amigo pastar. Depois daquela noite, nunca mais tive notícias do Rafael, e o Beto desistiu de tentar me arranjar um par. O que eu achei ótimo, pois iriámos para a Bahia e eu queria era aproveitar, Deus me livre ir com alguém a tiracolo nessa viagem que estava esperando por tanto tempo. Embarcaríamos no domingo e ficaríamos dez dias lá. Mal via a hora. Bati meu ponto exatamente às 18h e já estava indo para o estacionamento pegar o meu carro quando escuto minha chefe me chamar: — Amanda, que bom que ainda não foi embora. Por favor, pode vir comigo até a minha sala por 5 minutinhos? — Claro, Sra. Carina. — A acompanho até sua sala e começo a ficar um pouco nervosa
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