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Encontro Inesperado - Gabi Verran

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ENCONTRO INESPERADO
De repente CEO e pai
Copyright © 2022 by Gabi Verran
Capa: Lysa Moura
Diagramação: Guilherme Stumpf
Revisão e Preparação de Texto: Mariana Rocha
Leitura crítica/Beta: Intense Assessoria
 
Todos os direitos reservados a Gabi Verran 2022.
Publicado de forma independente por Gabi Verran pela Amazon.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são prhálitoodutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível —
sem o consentimento por escrito do autor.
Criado no Brasil.
 
 
 
 
 
 
 
 
Ela pega e não se apega;
Ele é tranquilo e sonhador;
Ela achou que era só mais uma noite;
Ele teve sua vida virada de cabeça para baixo;
Dois opostos que se esbarram.
Uma atração irresistível.
 
E o destino no caminho mostrando que nem sempre as
coisas acontecem como planejamos.
Amanda estava cansada dos seus relacionamentos
amorosos fracassados e monótonos, então decidiu curtir a vida de
solteira.
Gustavo sempre acreditou no amor, só que as garotas
parecem fugir do seu papo sério.
Então, em uma festa, o “acaso” resolveu juntá-los e bastou
uma simples troca de olhares para que tivessem uma noite
inesquecível.
Ambos são bem-sucedidos em suas profissões, mas Gustavo
nunca se imaginou isolado no andar da presidência da empresa de
marketing que divide com seu primo. Até o dia que acabou se
tornando o CEO da G&R Marketing.
E Amanda, que queria só diversão, descobre que está
grávida de um “quase” desconhecido.
E agora?
Descubra o final desta história que com certeza irá mudar sua
visão sobre o amor.
 
 
 
 
 
 
Oi, pessoal, tudo bem?
Decidi relançar a história de Amanda e Gustavo por acreditar
que ela ainda tinha muitos leitores para alcançar e também alguns
pontos para serem modificados.
Assim quero agradecer por ter baixado o livro e dado uma
oportunidade para conhecerem a história repaginada deles. Irei
torcer para que sua experiência com a leitura seja incrível, com
direito a diversas emoções que tentei transmitir ao longo das
páginas.
Só gostaria de dizer, antes de você começar, que vale
lembrar que esta é uma obra de ficção e, que por mais que
pesquisas tenham sido realizadas de determinados assuntos sérios
citados, alguns detalhes podem não corresponder totalmente com a
realidade, pois quis contá-los assim. No entanto, caso você ache
que algum erro grave tenha sido feito sobre a abordagem de
determinado assunto, por favor não deixe de me procurar para que
eu arrume.
Esse livro tem conteúdo adulto, desta forma sua leitura é
recomendada para maiores de 18 anos.
Um beijo da amiga 
Autora Gabi Verran.
 
 
 
 
 
“Para minha grande amiga, cuja a força sempre foi fonte
de inspiração para mim. Vanessa, esta história é para você.”
 
Amanda
 
Sempre pensei que, quando tivesse meus vinte e sete anos,
já estaria casada há, pelo menos, uns quatro anos. Teria dois filhos.
Moraria em uma casa com um jardim bonito. Teria um cachorro e
um emprego onde seria realizada financeiramente e
profissionalmente.
É, desde nova, planejei o futuro com a vida perfeita, como
nos filmes que cresci assistindo com famílias “comercial de
margarina”.
Mas ninguém me contou que a vida real é bem diferente e
agora estou aqui, sentada na tampa de um assento sanitário de um
banheiro público de um supermercado, esperando os cinco minutos
mais longos da minha vida e me perguntando:
“Amanda, que merda você fez?”
 
...
 
Gustavo
 
Não acreditei no que estava acontecendo, justo agora ela
tinha que reaparecer na minha vida?
Eu me apaixonei por ela, fiquei mal quando me dispensou e
vê-la novamente mexeu comigo, ela está aqui, ela diz que nunca me
esqueceu e que está pronta para um relacionamento sério.
Mas agora estou esperando neste corredor do hospital, sem
saber o que o médico me dirá quando sair da sala de cirurgia.
Minha vida virou de pernas para o ar nos últimos meses e
meu único desejo é que elas se salvem.
 
Amanda
 
Comecei a namorar muito nova, quando tinha quinze anos, o
Pedro foi meu primeiro amor, ao lado dele, me descobri mulher,
descobri os prazeres do sexo, estávamos com os hormônios à flor
da pele e sempre fazíamos loucuras. Ele era um ano mais novo que
eu, nos conhecemos no colégio. Ele era um garoto bem normal,
tinha cabelos pretos, olhos castanhos e um nariz levemente
comprido. Não, ele não era um modelo de beleza, mas, aos 14
anos, os garotos ainda estavam em desenvolvimento. Eu era
completamente apaixonada por ele, namoramos por cinco anos e,
na minha cabeça, iríamos ficar o resto da vida juntos. Sim, desde
pequena eu tinha minha vida dos sonhos planejada, Pedro e eu já
tínhamos escolhido os nomes dos nossos dois filhos. Nossas
famílias eram amigas, nossos amigos eram amigos, não tinha como
dar errado, era a coisa mais certa na minha cabeça: Pedro e eu
éramos para sempre.
Até o dia que comecei a descobrir uma mentira ali, uma saída
sem avisar aqui, uma foto dele na rua beijando outra garota… Sim,
durante todo o relacionamento que eu considerava ser o “conto de
fadas”, o safado do meu ex me chifrou com Deus e todo mundo,
inclusive, com uma garota que eu considerava minha amiga. Hoje
consigo ver como era cega, consigo me lembrar de momentos que
era nítido que havia traições e mentiras, mas que, na época, eu não
via, talvez por amor, talvez por ingenuidade, talvez por burrice.
Eu demorei, sim, para descobrir, mas também, depois que
descobri, risquei ele completamente da minha vida. Sempre fui uma
pessoa muito racional, sim, eu estava apaixonada por ele, sim, sofri
por ter descoberto que fui enganada, mas eu me amava muito mais.
Chorei durante exatos três dias. Quando todas as lágrimas
possíveis acabaram, me levantei, olhei no espelho e disse:
“Amanda, bem-vinda novamente, a partir de agora você é uma nova
mulher.”
E assim, aos meus vinte anos, após a primeira “desilusão”
amorosa, estava pronta para curtir a vida. Só que, é como dizem por
aí: “As coisas não são como a gente quer…” E exatos dois meses
depois, lá estava eu apresentando meu novo namorado para toda a
minha grande família.
E, quando eu digo grande, não é exagero, tenho onze tios por
parte de mãe e cinco por parte de pai. Cada um tem pelo menos
dois filhos, então imagine como são as festas da minha família,
meus aniversários nunca foram comemorados em casa, pois nunca
caberia nem metade dos parentes.
Conheci o João por uma amiga minha da faculdade, ele tinha
um estilo surfista, cabelos loiros com as pontas levemente
queimadas pelo sol, sua pele era bronzeada, quase que um
dourado, seu corpo era magro, mas com músculos bem definidos, o
sorriso dele era o que mais chamava a atenção, como brincava, ele
tinha um sorriso “Colgate”. Ele era calmo e engraçado. Nos demos
bem logo de cara. Aos finais de semana, ele pegava o carro, me
buscava em casa e íamos para a praia. Ele me ensinou a surfar,
quer dizer, ele tentou muito me ensinar, mas eu não tinha muito jeito
para surfista. Eu tinha 1,62 m de altura, pesava na época uns 65
quilos, mas, mesmo com a academia, meu porte físico não era tão
atlético. Nunca liguei muito para minha aparência, eu me achava
bonita e isso me bastava, talvez para algumas pessoas poderia
parecer prepotente ou metida, mas não era isso, eu simplesmente
me achava linda e me amava, e isso foi o problema que ocasionou o
fim de mais um relacionamento.
Estava com João há uns cinco meses e o que antes era só
risadas e alegria começou a se tornar sufocante e opressivo. O João
se mostrou extremamente ciumento, começou a implicar com
minhas roupas, meu jeito de andar e até mesmo de falar. Sempre fui
muito expressiva, me dava bem com todo mundo, tinha amigos
homens e me divertia com eles. Mas, desde que comecei a namorar
o João, meus amigos começaram a se afastar e, quando me dei
conta, não estava falando com mais ninguém, apenas com meus
pais, pois morava com eles ecom meu namorado.
Só que um dia ele fez uma cena que foi a gota d'água para
mim:
 
“Estava terminando de me arrumar para sair com João, era
sexta-feira e havia conseguido convencê-lo a me levar para jantar
fora. Resolvi caprichar no visual naquela noite, coloquei um vestido
preto tomara que caia, ajustado no corpo, afinal, eu fazia academia
todos os dias para poder usar uma roupa assim, o pensamento me
fez sorrir. Passei uma maquiagem leve no rosto, nunca gostei de
nada muito carregado, minha pele era muito clara, então era difícil
acertar o tom da base, na maioria das vezes ficava parecendo um
fantasma. Coloquei um colar de pérolas e um par de brincos para
combinar. E, nos pés, um salto scarpin, João era bem mais alto que
eu, então eu podia abusar na altura dos saltos. Terminei minha
produção e esperei ele chegar. Depois de uns quinze minutos
esperando, ouvi a buzina do carro do lado de fora de casa. Peguei
minha bolsa em cima da cama e fui.
Assim que entrei no carro, fui dar um beijo no João, mas ele
se afastou quando me aproximei:
— Que foi amor? — perguntei.
— Que roupa é essa, Amanda?
— Por quê?
— Você está parecendo uma puta.
Não acreditei no que ele tinha acabado de me chamar,
“puta”? Por usar um vestido? Quem ele pensa que era?
— Você está brincando, né?
— Eu não estou rindo, vai agora lá para dentro e troca essa
roupa, não vou te levar em nenhum lugar vestida assim.
— Realmente, João, você não me vai me levar em nenhum
lugar. Nem hoje, nem nunca mais. Eu não fui criada para ser
submissa de homem nenhum. Eu me visto da forma que eu quiser,
se eu quiser andar pelada na rua, o problema é meu.
— Amanda, gracinha, nem corpo você tem para essa roupa
— João falou em tom de deboche. Quem aquele filho da mãe
pensava que era para me tratar assim?
— Vai para o quinto dos infernos, seu machista de merda. —
Saí do carro e bati a porta. — E nunca mais apareça na minha
frente, seu bosta. — Quem ele pensava que era para falar assim
comigo??? Naquele momento, percebi que não o amava, nunca o
amei, simplesmente engatei um relacionamento com ele por não
saber ser sozinha. Por estar acostumada a namorar. Minha vontade
foi de gritar e xingar ainda mais ele. Mas não daria espetáculo na
rua, ele não valia a pena. Dei as costas e voltei para dentro de casa.
Um minuto depois ouvi o barulho dos pneus do carro cantando
quando ele arrancou para sair. Depois que a adrenalina baixou,
peguei meu celular, liguei para uma amiga e me acabei na noite.
Talvez algumas garotas preferissem ficar em casa choramingando
por terminar um relacionamento dessa forma, mas eu não. Se pelo
Pedro que foi meu primeiro amor, o cara que realmente balançou
meu coração, eu logo segui em frente; com o João, não seria
diferente. A real é que João não chegou nem perto de me fazer me
apaixonar. Resultado na noite? Acordei no dia seguinte na cama de
um cara que conheci na balada”.
 
Depois que terminei com o João, me senti mais leve, voltei a
sair com meus amigos, todos eles me deram os parabéns pelo
término e falaram que nunca gostaram dele, pois ele parecia ser
extremamente machista. E tive que concordar, aos poucos o João
mostrou sua verdadeira face e dei graças a Deus por ter terminado
cedo, jamais conseguiria viver ao lado de alguém assim.
 
...
 
Uns meses depois, estava focada na minha faculdade e no
meu estágio em uma multinacional, queria ser efetivada assim que
me formasse. Então, quase não estava saindo muito, saía uma vez
ou outra nos finais de semana, mas estava cada vez mais raro.
Um dia estava terminando um relatório no estágio quando
minha chefe me chamou na sala dela, fiquei um pouco apreensiva,
pois ela nunca havia feito isso. Larguei o relatório em cima da mesa
e fui até sua sala. Após bater na porta, escuto ela falar:
— Pode entrar.
— Com licença, Sra. Carina, boa tarde.
— Boa tarde, Amanda, tudo bem? Entra e sente-se aqui. —
Então, assim que entrei completamente na sala, notei que havia um
rapaz sentado na outra cadeira em frente à mesa da minha chefe,
me questionei mentalmente quem seria, pois não me lembrava de
tê-lo visto na empresa. E com certeza, se eu tivesse cruzado com
ele, o teria notado, pois ele era muito atraente. Alto, loiro de olhos
verdes e porte atlético. Acenei para ele com a cabeça em forma de
cumprimento e me sentei ao seu lado, conforme a orientação da
minha chefe. — Então, Amanda, eu te chamei aqui, pois queria
primeiro lhe apresentar ao André, ele é o novo estagiário do setor,
está no último ano do mesmo curso que você.
— Oi, bem-vindo — falei, tentando soar o mais casual
possível.
— Olá, prazer, muito obrigado, Amanda — respondeu ele
com uma voz que soou muito sexy, grossa e firme, pensei em como
seria ouvir ele sussurrar no meu ouvido. Sacudi a cabeça para
afastar tais pensamentos e me concentrar no presente. Sua voz
contrastava com sua fisionomia, tinha um estilo meio “mauricinho”,
parecia ser muito certinho.
— Bom, a segunda coisa que gostaria de te pedir, Amanda, é
para apresentar a empresa para o André e treiná-lo, vocês irão
trabalhar juntos. Sua supervisora direta elogiou muito o seu trabalho
e disse também que seria muito bom se tivesse alguém trabalhando
contigo, pois assim podem dividir um pouco do volume de trabalho,
tendo em vista que nos próximos meses receberemos novos
contratos, o que tende a aumentar bastante a carga. Assim, gostaria
de saber se posso contar com você para isso.
— Claro, eu agradeço muito o elogio e a oportunidade de
fazer parte deste time. No que depender de mim, eu e o André
seremos uma bela dupla — falei isso com sinceridade, estava feliz
com o reconhecimento por parte dos meus superiores e saber que
teria alguém ao meu lado para poder ser um apoio me deixava
animada. Olhei para André, que estava sorrindo, “que sorriso lindo”,
ele me deu uma piscadela, como se já fôssemos uma dupla. Acho
que seria muito interessante trabalhar com ele.
— Bom, crianças, era isso, Amanda, por favor, faça o tour
com o André e depois, se der tempo comece a passar um pouco da
sua rotina. André, bem-vindo.
— Claro, senhora, obrigada mais uma vez — disse.
— Obrigado, Sra. Carina, pela oportunidade, acredito que eu
e a Amanda nos daremos muito bem. Podemos começar? — disse
André já se levantando, ao fazer isso e passar por mim, um aroma
gostoso e marcante invadiu minhas narinas, “nossa, que homem
cheiroso”, era uma mistura de loção de barbear com sabonete, um
aroma que sempre me atraiu. Concordei e fui apresentar para ele a
empresa, que era gigante, e acreditava que não daria tempo de
conhecermos tudo naquela tarde.
Amanda
 
Quatro anos depois…
 
O dia na empresa foi corrido, mas eu amava a adrenalina de
fechamento de mês, diferentemente do resto da minha equipe, que
parecia louca, correndo de lá para cá. Eu estava no cargo de
analista financeira desde que terminei meu curso de Gestão
Financeira, fui promovida há três anos, amava a empresa. Tudo o
que aprendi desde minha época como estagiária era exatamente o
que sempre quis profissionalmente.
Depois de bater meu ponto, fui para o vestiário me trocar.
Todos os dias, depois do trabalho, eu ia para a academia do
shopping, que fica a poucos metros da empresa. Desde que
terminei meu último relacionamento, esta era a minha rotina:
trabalhar, malhar, dormir e, nos finais de semana, ir para as baladas
para beijar na boca e curtir a vida.
Fazia um ano que estava solteira, e tenho que admitir que
estou na melhor fase da minha vida. Emendei um namoro atrás do
outro, o último com o André, eu realmente não sei nem explicar
como durou tanto. Namoramos durante três anos e, como
trabalhávamos juntos e eu praticamente dormia todos os dias na
sua casa, parecíamos que já estávamos vivendo como se fôssemos
casados. Talvez eu tenha demorado tanto tempo para romper nossa
relação pois eu realmente tinha um carinho por ele, o André sempre
foi maravilhoso para mim e me mimava, e eu por não saber ser
realmente sozinha, acabei me agarrando a uma relação que estava
fadada a dar errado. Pois por mais que eu nutrisse um carinhoenorme por ele, nunca senti que realmente fosse amor.
André era cinco anos mais velho que eu, herdeiro de uma
família rica, dona de uma das maiores vinícolas do Brasil, ele
morava sozinho em um apartamento de luxo no bairro mais nobre
da nossa cidade, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Então, o
estágio para ele era apenas um hobby e uma maneira de aprender
um pouco mais sobre gestão financeira para o dia que assumisse os
negócios da família ter uma boa carga de conhecimento.
A gente se dava bem, talvez ao longo da minha vida, fora a
Bia, ele tenha sido o meu melhor amigo, aquele com quem eu
dividia tudo. Ou melhor, quase tudo, pois não dividi realmente o que
sentia por ele. Logo de cara O André conquistou toda a minha
família. Já eu não posso dizer que agradei meus sogros da mesma
forma. Assim como eu, ele era filho único e, desde pequeno, foi
mimado e protegido pelos pais, principalmente por sua mãe. Ela até
tentava ser simpática nas poucas vezes que íamos para o interior do
estado, onde eles moravam, mas nunca senti muito acolhimento por
parte dela. André vivia dizendo que era o jeito dela, mas meu sexto
sentido nunca falhou.
E nosso relacionamento foi amadurecendo com o passar do
tempo, nós tínhamos afinidade, gostos parecidos, nossos grupos de
amigos se davam bem. Tudo era calmo e tranquilo. Calmo e
tranquilo até demais. Eu sempre fui muito ativa, sempre amei viajar,
já o André era muito caseiro, no máximo gostava de uma vez ou
outra sair para ir jantar ou, em ocasiões muito especiais, íamos em
algum barzinho mais badalado. Fora isso, nossa rotina se resumia
em faculdade (quando eu ainda não havia terminado meu curso),
trabalho e casa, onde passamos a maior parte do tempo largados
no sofá da sala assistindo a séries e comendo besteiras. Nem o
sexo era ardente como foi um dia, bem no início do relacionamento.
Simplesmente o meu relacionamento com o André era monótono e,
aos poucos, fui percebendo que não era isso que eu queria para
mim, eu não queria essa calmaria. Eu tinha vinte e cinco, prestes a
completar 26 anos, eu queria curtir, conhecer o mundo, fazer
história. Eu queria noites de sexo louco e selvagem. Eu queria viver,
simplesmente viver para que, quando fosse velha, tivesse boas
histórias para contar para os meus netos. E o mais importante de
tudo, eu queria amar de verdade, e se tivesse continuado com
André, isso não aconteceria.
Então, em uma sexta-feira à noite, depois de uma semana
cansativa no trabalho, eu o chamei para irmos a um restaurante
jantar, depois de muita insistência para convencê-lo a sair de casa,
ele foi e, quando estávamos terminando de comer as sobremesas,
eu declarei:
— André, eu quero terminar. — A princípio, ele achou que eu
estivesse falando da sobremesa, depois que ele notou que eu
estava séria, quase derrubando uma lágrima, afinal, apesar de tudo,
eu o amava. Não nutria mais paixão de homem e mulher, o amor
que eu tinha era de carinho, de companheirismo. Ele era um bom
namorado, mas simplesmente não era bom para mim. Pelo menos,
não naquele momento.
— Como assim, amor, eu fiz alguma coisa que te chateou?
Você conheceu outra pessoa?
— Não, simplesmente percebi que não é isso que quero para
a minha vida agora. Eu sou nova, estou no cargo que sempre
sonhei, ganhando um bom salário, eu quero curtir a vida antes que o
tempo passe. Eu quero viajar, quero conhecer o mundo, quero
conhecer pessoas, ter histórias para contar.
— Mas isso nós podemos fazer juntos, Amanda, eu estava
esperando nosso aniversário de namoro mês que vem para fazer o
pedido de casamento… estava organizando uma viagem legal para
a Europa, como você sempre sonhou… — disse ele com a voz já
embargada.
— Me perdoa André, me perdoa mesmo, você é um cara
maravilhoso, até hoje o melhor que já conheci. Não tenho dúvidas
que esse seria o pedido perfeito, o sonho de muitas mulheres, mas
não é o meu. Não na fase em que estou. Espero de coração que
entenda, e desejo toda a felicidade do mundo para você. Sempre.
Depois, me levantei da mesa, chamei um Uber e fui embora.
Ele nunca mais me procurou, mandou um amigo entregar as minhas
coisas que haviam ficado no apartamento dele. Também pediu
demissão da empresa e um tempo depois fiquei sabendo que havia
se mudado para casa dos pais e assumido o comando da vinícola
da família. Não o julgo, provavelmente faria o mesmo.
Pode parecer que fui fria na maneira como terminei com
André, mas eu não encontrei um jeito mais fácil, assim cortei o mal
pela raiz. Sei que o magoei, mas seria pior se tivesse continuado em
um relacionamento sem amor. Sempre fui muito mais razão do que
emoção, sempre fui muito franca e sincera com meus sentimentos.
E no fundo, André sabia que fiz o certo, não tenho dúvidas que ele
encontraria a pessoa certa, a mulher que o amaria da forma que ele
merece. Mas essa pessoa não era eu e, no fundo, eu também torcia
para quem sabe um dia encontrar meu verdadeiro amor.
Então, eu estava fazendo exatamente tudo o que falei que
faria, estava trabalhando, viajando sempre que possível,
principalmente com minha prima e melhor amiga, Bianca, uma
solteira convicta e, conhecendo muitas pessoas, na sua maioria
homens, com os quais eu fazia todas as fantasias sexuais que
sempre sonhei, eu teria, sim, muitas histórias para contar para meus
netos, mas algumas seriam censuradas para menores de 18 anos.
 
...
 
 
Gustavo
 
Juli: Guto, eu gosto muito de
você, mas não quero
relacionamento sério agora.
Espero que a gente possa
continuar amigos. Beijos se
cuida gato. :*
 
Li a mensagem da Juliana no meu celular, nós estávamos
ficando há mais de cinco meses e, para mim, já era namoro. Achei
normal convidá-la para almoçar na casa dos meus pais no domingo,
durante nosso passeio para Caxias do Sul, que já estava planejando
há duas semanas. Mas, pelo jeito, ela não está na mesma vibe.
Estou com 27 anos e até hoje não tive nenhum
relacionamento sério, não sei se o problema sou eu ou
simplesmente as mulheres de hoje em dia não querem namorar.
Sempre fui muito tranquilo, me considero um bom partido, tenho
uma aparência acima da média, não sou um desses que vive dentro
de uma academia malhando os músculos, mas sempre cuidei da
minha saúde. Tenho gostos variados, bom, para falar a verdade, as
pessoas costumam dizer que sou um pouco nerd, mas não me vejo
assim. Gosto, sim de ler, assistir a séries, gosto de filmes de super-
heróis, mas também não perco um jogo de futebol, principalmente
do meu colorado.
Resolvi nem responder à mensagem da Juliana, se ela não
quer nada sério, também não vou ficar insistindo. Eu estava curtindo
a companhia dela, mas ainda não sentia que era ela a pessoa certa.
Eu era romântico e queria viver um amor épico. Ou será que só as
mulheres tinham direito a esse tipo de sonho?
Juliana era linda, a conheci em um show do Ed Sheeran que
teve aqui em Porto Alegre, então dá para imaginar que eu achei
mágico o nosso encontro, o cara é um dos cantores mais
românticos da atualidade. Lembro exatamente do momento em que
nossos olhares se cruzaram, a Juli se destacava na multidão que
enchia a Arena do Grêmio, ela estava linda, seus cabelos loiros e
lisos estavam presos em um rabo de cavalo despojado. Uma
maquiagem leve realçava os azuis de seus lindos olhos. Ela estava
com uma calça preta e camiseta branca básica, que se ajustava no
https://gauchazh.clicrbs.com.br/search/?q=Ed%20Sheeran&period=any
seu corpo esguio. Me aproximei dela e da amiga que a
acompanhava, eu havia ido sozinho, nunca tive muito amigos, mas
isso não era problema, sempre curti minha própria companhia. Ela
abriu um sorriso e, no meio do refrão da música “Kiss Me”, nos
beijamos, música perfeita, momento perfeito, garota perfeita...
 
“Kiss me like you wanna be loved
You wanna be loved, you wanna be loved
This feels like falling in love
Falling in love, we're falling in love”
 
Bom poderia ter sido a garota perfeita, mas...
Agora me restariam apenas lembranças. Resolvi sair logo da
cama e dar uma corrida no Parque da Redenção. Era manhã de
sábado e o céu estavalindo, com um sol gostoso. O parque ficava
há uns 10 km de casa, então iria de carro até lá.
Eu morava sozinho desde meus 17 anos, quando me mudei
de Caxias do Sul para Porto Alegre para trabalhar.
 
...
 
Depois de umas duas horas de corrida intercalada com
caminhada, resolvi comprar uma água em uma das barraquinhas
espalhadas pelo parque. Peguei minha garrafinha de água e me
sentei embaixo de uma árvore para esticar um pouco as pernas e
recuperar o fôlego, o dia estava quente. Peguei meu celular para
conferir a hora e tinha uma mensagem do meu primo Ricardo:
 
Ricardo: Fala, Guto, o que
tu vai fazer hoje à noite?
Eu: E aí, Rick, tô de boa,
e tu? Bah, hoje estava
pensando em ficar em
casa…
Ricardo: Tô bem, nada
disso, irmão. Às onze, passo
na tua casa para te pegar,
vamos para uma balada top
na casa de um colega meu
da academia.
Eu: Ah, mano, não tô
muito em clima de balada
hoje…
Ricardo: Nem hoje nem
nunca, né, seu velho?! Não
aceito não. Até às onze.
Eu: Ok, mas se estiver
ruim, pego um Uber e
volto pra casa, você
gostando ou não.
 
Era quase impossível falar não para o Ricardo. Ele era mais
que apenas meu primo, era meu melhor amigo e sócio. Tínhamos
uma empresa de marketing digital desde nossos 17 anos, éramos
pioneiros no mercado, e atualmente nossa empresa era referência
nacional, tínhamos uma vasta carteira de clientes, desde pequenas
empresas até as multinacionais. Ricardo era o CEO da G&R
Marketing, ele desempenhava o papel de executivo com excelência.
Já eu era o vice-presidente e diretor-geral de projetos, gostava
mesmo era de ficar com as equipes desenvolvendo os programas.
Ricardo tentou por diversas vezes me convencer a ficar com ele no
andar da presidência, mas não era o meu perfil. Preferia ficar com
as máquinas e com o pessoal da programação, ensinando e
aprendendo, era o que me fazia feliz. Sempre acreditei que todos os
dias podemos aprender algo novo.
Depois de enviar mensagem para ele, resolvi voltar para
casa, iria dormir bastante até a hora da tal festa, vá que eu encontre
alguém legal, talvez valesse a pena dar uma chance para o destino.
https://zmes.marketing/
 
Amanda
 
— Bi, de quem é a festa que vamos hoje mesmo? —
perguntei para a minha prima, que estava acabando de sair do
banho, enquanto eu estava fechando meu sutiã.
— É do Beto, um cara da academia, ele é um gato, espero
ficar com ele hoje. — Bianca era muito bonita, diferente de mim, era
alta e magra, tinha cabelos longos e loiros e olhos verdes. Para ela,
ficar com quem tinha vontade era fácil. Perdi as contas de quantos
crushes dela já conheci, desde o colégio ela é assim. E não
pretende se amarrar tão cedo, mesmo já tendo 30 anos.
— É óbvio que você vai ficar com ele, espero me arranjar
também, não estou a fim de ficar sozinha por lá. Se não achar
ninguém interessante, volto para casa, tu já sabe.
— Mandi, relaxa, o Beto tem vários amigos gatos, você vai se
dar bem. Ei, vai com o vestido preto mesmo? — “Mandi era meu
apelido”.
— Sim, ele fica bem em mim, realça minhas curvas. —
Sempre fui bem neutra no que se refere a roupas, nunca liguei muito
para moda, vestia o que me caia bem. Para esta noite, escolhi um
dos meus vestidos básicos, ele era ajustado no corpo, dois palmos
acima dos joelhos, com mangas longas. Como era outono, a noite
em Porto Alegre sempre tinha um ventinho gelado.
Após terminarmos de nos arrumar, chamamos um Uber para
nos levar a festa, como sabíamos que beberíamos, não iríamos
dirigindo.
 
...
 
Chegamos no bairro Bela Vista, um dos bairros mais nobres
da cidade, a festa seria em uma casa dentro de um condomínio
fechado. Bianca é endocrinologista, e assim tinha muitos amigos
médicos e ricos. Apesar de ter nascido em berço de ouro, pois seu
padrasto era um dos mais renomados médicos cirurgiões cardíacos
do país e a criou como se fosse sua filha de sangue, ela não era
nem um pouco mimada e esnobe. Bianca tinha todos os motivos
para ter sido uma adolescente rebelde, afinal, seu pai biológico
abandonou sua mãe quando ainda estava grávida. Anos depois,
reapareceu e aplicou um golpe na família, sumindo novamente no
mundo. Nessa época, Bianca estava no início da adolescência, mas
nem por isso se revoltou, pelo contrário, continuou estudando e com
o objetivo de ser uma grande médica, assim como seu pai postiço, o
tio Nando. Ele e a mãe dela se conheceram por acaso no hospital
na época em que ele fazia residência e a tia Tânia, o pré-natal de
Bianca, foi amor à primeira vista. E desde então estão juntos, ele
tentou ajudar na reaproximação de Bianca com seu verdadeiro pai,
o que lhe custou milhares de reais perdidos no golpe, mesmo assim
ele não as deixou e jamais falou qualquer coisa contra o safado do
pai de Bi. Tio Nando era um homem muito bom e, a meu ver, raro.
— Chegamos, top o lugar, né? — disse Bianca assim que
passamos pela guarita na entrada do condomínio.
— Sim, esse Beto é médico também?
— Sim, mas não estudei com ele, nos conhecemos na
academia mesmo, ele é dois anos mais velho, é ginecologista.
— Hum, entendi tudo, você quer é uma consulta grátis hoje,
né?
— Só você, né, Amandinha, claro que não, quer dizer, não
me importarei se ele quiser me examinar. — E riu.
— Você não presta, Bianca.
— Ah, prima, relaxa, a vida é curta demais para
desperdiçarmos as oportunidades.
Chegamos na casa do tal Beto, a música vinha da parte de
trás da mansão, entramos pela lateral da casa, seguindo o fluxo das
pessoas. Ao chegarmos na área da piscina, fiquei impressionada
com a quantidade de pessoas que estavam lá, tinha muita gente. A
decoração era meio havaiana, bem no estilo tropical, o que me fez
repensar meu modelito escolhido.
— Acho que não vim com a roupa certa — cochichei perto do
ouvido da Bianca, que mal havia chegado e já estava
cumprimentando meio mundo. Realmente minha prima era muito
popular.
— Capaz, Amanda, você está um arraso. Olha o Beto lá, vem
quero te apresentar ele. — Olhei para a direção que ela apontava e
avistei o tal Beto, ele estava perto de um balcão, onde um barman
preparava drinks coloridos com frutas, enfeitando os copos. O Beto
era alto, moreno, corpo bem esculpido e seu rosto me lembrava o
do ator Raphael Vianna, tive que concordar com a Bianca, o cara
era um gato.
— Oi, Beto, mais uma vez, obrigada pelo convite, esta aqui é
a minha prima Amanda. Amanda, este é o Roberto, para os íntimos,
Beto.
— Oi, prazer, Beto, bela casa — falei enquanto ele me
cumprimentava com um abraço e um beijo no rosto.
— Oi, Amanda, o prazer é meu. Sabe que foi difícil convencer
sua prima a aceitar o convite, ela não é fácil, hein? — Ri
mentalmente, pois, se tinha uma coisa que a Bianca não era, era
difícil, mas se ela queria fazer papel de difícil, então a ajudaria.
— A Bi é assim mesmo, não dá muita moral não, mas vale a
pena. — E riu.
— Tenho certeza de que vale — ele disse envolvendo o braço
ao redor da cintura da Bianca. Pelo jeito, fiquei de vela logo no início
da festa.
— Bi, vou dar uma circulada por aí, tá? Depois nos vemos —
falei já me afastando, ao cruzar a piscina, virei de costas e vi que os
dois já estavam se beijando, pensei: “Essa foi rápida”. Resolvi fazer
um tour por dentro da casa, já que a porta da varanda estava
aberta, pensei que não teria problema.
 
...
 
Gustavo
 
A festa para a qual o Ricardo me levou estava um saco,
sempre as mesmas pessoas superficiais de sempre. Ele logo me
deu um perdido e se agarrou em uma das suas “amigas”. O Rick era
gente boa, mas um solteiro convicto, eu apostava que, quando ele
se apaixonasse, ficaria de quatro pela mulher.
Circulei um pouco pela área da piscina, mas a música que
estava tocando não fazia nenhum pouco meu estilo, na real, não
sabia nem que banda era aquela. Resolvi que iria embora mesmo,
não estava em clima de festa. Antes de ir, só daria um tchau para o
Rick, depois chamaria um Uber. Ele veio dirigindo, então eu voltaria
sozinho. Cheguei perto do sofá que ele estava sentado com a loira
quase que em cima do colo dele e me abaixei para que ele pudesse
me ouvir:
— Mano, tôindo.
— Cara, mas já? Tá cheio de guria linda aqui, aproveita um
pouco.
— Não tô no clima, amanhã quero acordar cedo para correr
no parque, vou nessa. Aproveita a noite aí.
— Beleza, te ligo amanhã.
— Valeu.
Mal me levantei e ele já voltou toda a sua atenção para a sua
acompanhante, mas não posso julgá-lo, realmente a mulher era
uma gata, o tipo de mulher que vira a cabeça de um homem, apesar
de não fazer meu estilo.
Entrei na casa pela porta da varanda e ia em direção à porta
da frente quando uma porta lateral se abre e uma moça acaba
esbarrando em mim, o que acaba nos levando para o chão.
— Meu Deus, que susto, você está bem? — pergunto ainda
tentando processar o que havia acontecido.
— Me perdoa, acabei me desequilibrando na hora que ia
saindo do banheiro — disse a moça, que a esta altura estava com o
rosto completamente corado. Ela se levantou rapidamente, e
começou a ajeitar seu vestido que subiu um pouco demais na
queda, revelando suas coxas bem definidas. Então, me levantei e
senti meu cotovelo latejar, acho que cai por cima dele. — Você se
machucou? Nossa, que vergonha, normalmente não sou
desajeitada assim e olha que nem bebi hoje.
— Não esquenta, não foi nada, acontece. — Então nossos
olhos se encontraram e nesse momento me esqueci completamente
da dor no meu cotovelo. Ela tinha os olhos de um castanho-mel que
nunca havia visto, um olhar que parecia me despir. Ela era linda,
com sua pele clara e cabelos castanhos um pouco abaixo dos
ombros.
— Mais uma vez me perdoa — disse, me despertando. —
Qual seu nome?
— Ah é, Gustavo, muito prazer, e o seu?
— Amanda. Bom, Gustavo, eu já estava de saída, novamente
me desculpa, espero que esteja bem mesmo.
— Já vai embora? Ainda tá tão cedo. — Não quis falar que eu
também já estava de saída, pois na mesma hora que coloquei meus
olhos nela resolvi que a noite começou a ficar interessante.
— Ah, eu já ia, não me enturmei muito bem. E minha prima
está com o dono da festa lá fora, curtindo.
— Então por que a gente não pega alguma coisa para
bebermos e conversamos um pouco? Meu primo também tá
ocupado. Na real, eu também estava indo embora, mas agora posso
desfrutar da sua companhia.
— Hum, bom, Gustavo, acho que podemos, sim. O que você
gosta de beber?
— Se eu te falar que ainda não bebi nada esta noite, você vai
rir da minha cara?
— Não, até porque eu também ainda não coloquei uma gota
na boca. — ela lança um sorriso provocante. — Se não se importar
posso ir lá fora buscar um drink para nós.
— Adoraria, deixo você escolher o primeiro. — digo também
em tom sugestivo de que nossa noite estava apenas começando.
— Espera aqui então que já volto, aí procuramos um cômodo
mais “tranquilo”. — Apenas concordei com a cabeça e vi a bela
Amanda atravessando a área da piscina até alcançar o balcão
principal, onde o barman estava preparando diversos drinks
tropicais. Essa mulher era diferente e gata, muito gata, acho que,
afinal, estava começando a valer a pena ter vindo.
Uns minutos depois ela entra novamente na casa segurando
dois drinks azulados:
— Escolhi dois coquetéis com curaçau blue, espero que
goste.
— Nunca tomei, mas estão bonitos, obrigado. — agradeço
roçando levemente nossas mãos enquanto pego o copo da sua.
Dou um gole na bebida que desce suavemente pela garganta, ela é
doce, um sinal de aperta para uma bela ressaca no dia seguinte.
— Vem comigo, o Beto disse que podemos ficar no andar de
cima conversando, lá é mais calmo.
— Quem é Beto?
— Ora, Beto é o dono da festa, tu não conhece? É um
penetra? — ela questiona com um olhar interrogativo, mas seu
sorriso denuncia sua malícia.
— Eu vim com meu primo, ele que é amigo do dono da festa,
não me lembrava seu nome.
— Huuum, sei.
Ela pegou na minha mão e me guiou até a direção das
escadas. Normalmente eu que “chegava” nas mulheres, mas já
havia percebido que Amanda não era “qualquer” mulher. Ela tinha
presença, daquelas que sabem exatamente o que querem, talvez
até um pouco intimidadora, mas isso só fez com que me sentisse
ainda mais atraído por ela. Afinal uma mulher assim era difícil de se
“domar” e isso era realmente instigante, para não dizer, excitante.
Subimos as escadas e chegamos ao andar superior, a casa
era extremamente luxuosa. Logo avistamos uma porta aberta,
Amanda soltou minha mão e espiou por entre a porta.
— Perfeito, vem cá, Guto, é uma biblioteca. — Ouvir ela me
chamar pelo meu apelido teve um efeito direto no meu pau, eu
estava há algum tempo sem nenhum tipo de contato físico e isso me
provocou. Apenas minha família e poucos amigos me chamavam
assim e ouvir meu apelido saindo daquela boca carnuda e com
aquela voz sexy, meio rouca, mexeu comigo. Ela entrou e a segui.
Assim que entrei vi que não era uma biblioteca, era “A” biblioteca. O
cômodo era amplo, todas as paredes tinham estantes cheias de
livros que iam do chão ao teto. No centro, um grande tapete com
pelo alto, que parecia ser muito macio e confortável, também tinha
um sofá, que mais lembrava uma grande cama, bem, no centro, o
que passava um grande ar de aconchego e tranquilidade. Eu
poderia perfeitamente passar horas e horas naquele lugar com um
livro nas mãos. Apesar de ter uma vida financeira bem confortável
nunca pensei em ter uma casa grande, bem não antes de me casar
e formar uma família. E quando isso acontecesse sem dúvida eu
gostaria de ter um cômodo assim.
— Uau, que lugar incrível. Amo livros e você? Gosta de ler?
— Amanda me perguntou enquanto andava pelo cômodo, passando
sua delicada mão esquerda pelos milhares de livros, perfeitamente
dispostos nas prateleiras das estantes.
— Amo, sou meio nerd, é o que dizem por aí.
— Não tem muita cara de nerd — ela diz, parando de
repente. Caminho em sua direção, chegando em sua frente. Ela é
quase da minha altura, o que devo atribuir aos saltos altos que está
usando. Então, a encaro, seu olhar é instigante, questiono:
— E do que eu tenho cara, então?
— Neste exato momento, diria que de safado.
— E você gosta?
— Só poderei responder depois.
— Depois do quê? — pergunto, chegando ainda mais perto,
ficando apenas a milímetros de distância de sua boca.
Ela lança mais um sorriso provocativo que faz meu que faz
meu pau latejar apertado dentro das calças, e ao invés de
responder, “escapa” num saltinho e vai até a janela grande que
estava iluminada pela luz da lua cheia.
— É linda, não é? — pergunta num tom mais suave que o de
minutos antes, o que me faz perceber que talvez toda a “pose” de
mulher fatal, não passe disto, “pose”.
— É sim. Uma das mais lindas que já vi.
Ela vira-se e esbarra comigo, me aproximei dela novamente,
como se ela fosse um imã que me puxa. Seu perfume invade
minhas narinas, frutado e refrescante, dou mais um passo em sua
direção, deixando nossos corpos quase colados. Consigo sentir o
calor vindo do seu corpo, e escuto as batidas aceleradas dos
nossos corações. O ar começa a ficar mais pesado, fazendo com
que nossas respirações fiquem mais ofegantes.
— Você não respondeu minha pergunta. — sussurro no seu
ouvido, sentindo sua pele se arrepiar com a minha proximidade.
— Com você assim tão perto, fica um pouco difícil
responder...
— É mesmo? Quer que eu me afaste então? — pergunto
roçando meu nariz por sua orelha e descendo levemente por seu
pescoço.
— Não. — Ela encurta a quase inexistente distância que tinha
entre nós e me beija. Seu gosto está doce pelo drink que acabamos
de tomar, ela é quente, sua pele é macia. Nosso beijo se encaixa
perfeitamente. Então, a pego no colo e a prenso contra a janela
fechada. Sinto o calor no meio de suas pernas, minha ereção fica
ainda mais apertada dentro das minhas calças, chega a ser
doloroso.
— Você é muito gostosa, Amanda —ela morde minha orelha.
Então, com ela no meu colo, a levo até o sofá, no centro da
biblioteca. Coloco-a delicadamente sobre ele. Ela me encara e vejo
desejo em seu olhar. Essa mulher é uma perdição, fico na dúvida se
paro por aqui ou se me perco completamente em seus braços. Eu
não sou o tipo de cara que transa na primeira noite, sempre fui
muito cavalheiro,mas essa mulher mexeu completamente comigo.
Ela então lança um olhar como se pedisse para eu continuar
dissipando as minhas dúvidas. Antes de continuar, caminho
apressadamente até a porta, que estava entreaberta e a fecho,
trancando-a. Viro novamente em direção ao sofá e a vejo começar a
abaixar as mangas do seu vestido preto, revelando um sutiã da
mesma cor, tomara que caia. Fico admirando o espetáculo, ela se
levanta levemente para retirar o vestido por completo, ficando ali,
deitada apenas de sutiã e sua minúscula calcinha de renda
combinando. Não digo nada, apenas a admiro de cima a baixo.
Apago uma das luzes principais, deixando apenas a iluminação
amarelada das estantes, o que torna o ambiente ainda mais
aconchegante. Caminho de volta em direção a ela, parando em sua
frente, tiro minha camisa. Ela em nenhum momento desvia seu olhar
do meu. É como se estivéssemos hipnotizados. Coloco as mãos
para desabotoar minha calça, mas ela se aproxima e deposita suas
mãos sobre as minhas, me parando.
— Vem cá. — me puxa para mais um beijo ardente. O beijo
ganha intensidade, me jogo em cima dela, passo minha língua por
seu pescoço, descendo pelo seu colo, chegando na altura dos seus
seios. Paro ali, e volto a olhá-la, num pedido silencioso de
“permissão” que prontamente é respondido, abaixo ambos os lados
do fino tecido reandado, revelando os seios empinados, passo a
ponta da minha língua pelo bico já endurecido e o chupo levemente.
Sinto Amanda se contorcer embaixo de mim, o que me estimulada
para intensificar, e fico um tempo me deliciando e revezando entre
um seio e outro. Até que com sua voz rouca e claramente excitada
Amanda fala:
— Minha vez Guto.
Ela coloca suas mãos nos meus ombros e num impulso
rápido inverte nossos corpos, ficando em cima de mim. Repetindo
meus primeiros movimentos, começa a beijar meu pescoço,
descendo pelo meu peito, abdômen, pegando a fivela do meu cinto
e de abrindo minha calça.
— Acho que alguém aqui precisa “respirar” um pouco. —
Antes que eu pudesse falar, ela pega e tira minha calça e cueca
juntas, nossa, que sensação boa, liberdade, estava explodindo. E
logo ela o encara e depois, com um sorriso malicioso, me lança um
olhar sugestivo, cara essa mulher vai me fazer gozar só com o olhar,
porra. Decido pegá-la de surpresa, e antes que ela faça o que
pretendia fazer a jogo delicadamente de volta no sofá, sou um
cavalheiro, e como tal o prazer de uma dama vem primeiro.
— Primeiro as damas, minha cara.
Sua pele é uma seda. Vou passando minha boca por sua
barriga até chegar no meio de suas pernas. Inspiro profundamente,
sentindo o cheiro da sua excitação, retiro delicadamente o pequeno
pedaço de tecido que cobre sua intimidade, o jogando no chão,
junto com as outras peças de roupas. Passo meu dedo indicador por
sua entrada, sentindo o pulsar dos músculos, Amanda
instintivamente projete levemente o quadril em minha direção, eu
inclino meu tronco e a beijo novamente, enquanto meu dedo a
invade. Ela está molhada e ele desliza dentro dela. Afasto nossas
bocas, pois quero sentir todo o seu gosto. Passando meu nariz por
sua boceta, mergulho minha língua por entre seus grandes lábios e
começo a estimulá-la ainda mais. Entre lambidas, beijos, chupadas
e leves mordidas, sinto Amanda chegar ao seu ápice e sorrio
satisfeito após lamber o restante do seu orgasmo. Levanto
novamente meu tronco e a encontro me encarando com os olhos
brilhando com o efeito do recém orgasmo.
— Minha vez. — Ela faz o mesmo ritual que eu fiz, só que
desta vez não a detenho quando chega ao meu pau. Ela o engole,
me fazendo contorcer embaixo dela e gemer. Se ela continuasse,
não conseguiria segurar por muito tempo.
— Eu quero estar dentro de você... — falo ofegando,
enquanto ela me masturba.
— Também te quero, todo, dentro de mim. — e assim num
movimento rápido, ela senta no meu pau que a invade e a preenche
por inteiro.
— Você é muito, muito gostosa, está toda molhada —
sussurro e começo a me movimentar, fazendo ela cavalgar em mim.
— Isso, ah, que gostoso… — ela diz rebolando e me levando
a loucura.
— Gosta assim? Fala para mim, Amanda, quero te ouvir,
gostosa.
— Sim, assim, Guto, hum…
— Amanda, você é uma delícia mulher, estou louco de tanto
tesão…
— Então me fode gostoso…
— Tu gosta, não é? Ah, mulher, eu vou te foder gostoso e tu
vai gozar de novo comigo. — Ela apenas choraminga mas não para
de cavalgar em mim e eu intensifico as estocadas.
Não demora muito e nos perdemos um no outro, já não
conseguindo mais me segurar, gozo e sinto que ela chegou no
clímax também. Deposito um último beijo em sua boca, antes dela
sair de cima de mim e se deitar ao meu lado. O cômodo está
silencioso, sendo que escutamos apenas o barulho de nossas
respirações ofegantes. Essa garota é a melhor que já conheci.
 
Amanda
 
Estávamos ainda deitados recuperando o fôlego quando
escutamos uma batida na porta seguida de uma voz questionando.
— Oi, quem está aí? — Acho que era a voz do Beto. Olho
assustada para o Gustavo, que já está se levantando e vestindo a
calça.
— Fica tranquila, vou abrir para ver quem é, pode se arrumar
— ele me diz, acaba de vestir a camisa e vai em direção à porta. Ele
a destranca, abrindo apenas o suficiente para que conseguisse sair
da sala. Me apresso para me vestir antes de ele voltar. O sexo foi
muito gostoso, fiquei feliz de ter encontrado um gato desses antes
de ir embora, ele me tratou muito bem, um verdadeiro cavalheiro.
Não demorou muito para que ele voltasse, ainda bem que eu já
estava vestida e terminando de calçar meu sapato. — Era o Beto,
sua prima queria confirmar se você estava ainda aqui ou se tinha ido
para casa.
— Ela está ali fora ainda?
— Não, antes de eu fechar a porta, os vi entrando em outra
ali na frente; pelo clima, acho que ela não vai embora tão cedo. —
Claro que ela iria passar a noite toda ali, mas eu não, já curti, agora
quero ir embora. — Você já quer ir embora? Eu posso te
acompanhar, se quiser, mora em que bairro?
Sei que pode parecer errado, até mesmo vulgar, mas eu não
queria que ele me acompanhasse, muito menos que virasse um
“contatinho”. Por mais que eu saiba que esses encontros às vezes
acontecem e que é só sexo, sei lá, senti uma energia diferente e
não estou pronta para embarcar em nada sério. Melhor que ele
pense que sou apenas mais uma que aproveitou o momento, ele
não me conhece realmente, então não posso me importar com o
que ele ache de mim. Há um ano estou seguindo fielmente meu
lema: “Pegar e não se apegar”. Eu saio, fico com quem eu quiser
caso pinte um clima e fim de papo. Até hoje dei meu número apenas
para um cara e só porque ele insistiu muito e eu estava meio
bêbada. Tanto que, no dia seguinte, quando ele não parava de me
ligar, bloqueei ele no WhatsApp.
— Capaz, Gustavo, não precisa, vou de Uber.
— Bom, então, pelo menos me passa seu número, a gente
pode conversar, quem sabe marcar alguma coisa…
— Assim, por favor, não me entenda mal, eu gostei muito da
nossa noite e você parece ser um cara muito do bem, mas eu não
estou buscando nenhum tipo de relacionamento, ok? Obrigada pela
noite, pela companhia, mas vou indo. — Me aproximo dele, ele está
com a cara de quem não está acreditando no que eu acabei de
dizer, afinal, normalmente são os homens que saem correndo
depois de uma transa. Decido dar um último beijo para que ele não
fique achando que não gostei dele, pois eu gostei, gostei até
demais. Só não quero relacionamentos agora, só isso. Pego sua
cabeça e lhe dou um beijo rápido, mas marcante. — Tchau, Guto, foi
realmente um prazer.
Pego minha bolsa de mão que deixei na entrada da
biblioteca, abro a porta e saio sem olhar para trás, e sigo para a
entrada para chamar meu Uber.
 
...
 
Acordo com meu celular tocando, olho pela tela e vejo que é
a Bia, “Que horas são”? Me pergunto, arrastando o dedo pela tela
para atender a chamada de vídeo.
— Bom dia, princesa, dormiu bem? — fala Bianca, já de
banho tomado, bebendo seu suco verde matinal.
— Guria, tu não tem sono? — questiono, me espreguiçando.
— Não quandopasso uma boa noite, estou com a corda
toda. Amanda, minha noite foi fantástica, sério, o Beto é incrível. Ele
não é só um gato, gostoso, com um pau maravilhoso. Ele também é
engraçado, querido, carinhoso. Eu gozei cinco vezes, sério, ele foi
minha melhor transa da vida.
— Uau, que isso, hein? Nunca te vi assim antes, será que
finalmente achamos alguém capaz de te fisgar?
— Ah, prima, pior que acho que sim. Sério, o Beto é demais.
— Vai com calma, Bia, tu nunca ficou assim, cuida para não
se magoar.
— Eu sei, mas eu senti algo diferente com ele, parece que
encaixou perfeitamente, sabe? Bom, eu acordei com ele me ligando
para dar bom-dia e me contar uma coisa que aconteceu. Ele queria
que eu tivesse dormido lá, mas insisti em vir para casa. Então, ele
fez questão de me trazer, acredita? Ele disse que não tinha bebido
quase nada e, como já era de madrugada, não queria que eu
ficasse andando sozinha de Uber. Ele deixou a festa aos cuidados
de um dos amigos e me trouxe para casa.
— Nossa, esse aí é bom, hein?
— É sim. Tá, mas e você? Com quem tu ficou? Tu me disse
que estava indo embora e de repente diz que ia subir para ficar mais
"à vontade" com um cara.
— Então, esbarrei nele quando estava saindo do banheiro
para vir para casa. Na verdade, acabei caindo sobre ele. Um
vexame. Mas, quando olhei em seus olhos, molhei a calcinha. O
cara era um Deus grego. Loiro, com olhos azuis, sorriso manso. Ele
foi mega simpático, aí uma coisa levou a outra…
— Vocês transaram, né? Eu vi quando ele saiu da biblioteca
abotoando a camisa, eu e o Beto estávamos indo para o quarto
dele. Eu ia pedir para falar contigo, mas imaginei que você não
estaria vestida.
— Ainda bem que tu me conhece. É, então, acabou rolando.
— falo levantando da cama, quando só então me dou conta da
grande burrada que eu tinha feito. — PUTA MERDA!
— Que foi? — Bia questiona sem entender minha reação.
— Esqueci de usar camisinha, Deus como sou burra. — me
amaldiçoo mil vezes, nunca fui esse tipo de garota, na real sempre
andava prevenida e até julgava minhas amigas quando me
confessavam que acabavam esquecendo de se prevenir. Como eu
pude esquecer isso? Onde estava com a cabeça?
— Estava tão bom assim que te fez esquecer que existem
milhares de doenças sexualmente transmissíveis? — óbvio que
como minha melhor amiga e médica ela me daria um grande e
merecido sermão.
— Eu sei, vacilei, tu sabe que não sou assim, mas
aconteceu...
— Vê se agora toma uma pílula do dia seguinte e depois trate
de marcar um exame de sangue. E nunca mais faça isso.
— Tá bom mãe.
— Não faça piada com isso, mas, tirando a falha terrível.
Como foi? Aliás, não sei se realmente preciso perguntar, pois se te
fez esquecer até a camisinha, deve ter sido quente. Foi?
— Foi legal. — tento soar indiferente, não quero que ela fique
me fazendo um milhão de perguntas.
— Sério, Amanda? Foi legal? — fala como se não
acreditasse no que estava ouvindo.
— Foi, muito, na verdade, fazia tempo que não era tão…
como posso dizer… tão…
— Opa, acho que não sou a única encantada com a noite
aqui, está até sem palavras. Qual o nome dele?
— Gustavo, e não tô encantada, sabe como sou, só queria
dizer que foi muito bom.
— E dessa vez pegou o contato dele?
— Claro que não, tu sabe que eu pego…
— E não me apego… Sim, prima, eu sei, aliás, eu te ensinei
isso. Mas, se o cara era legal, às vezes valia a pena um segundo
encontro, não acha?
— Guria, quem é você e o que fez com a minha prima
Bianca? Aquela que é uma solteira convicta…
— Acho que ela aposentou as chuteiras… ou pelo menos
está torcendo para aposentar…
— Guria, acho que o cupido te pegou de jeito mesmo, perdi
minha parceira de guerra. Ei, o que vai fazer hoje?
— Então, com a minha empolgação, acabei esquecendo de
te falar uma coisa importante… parece que um dos amigos do Beto
sofreu um acidente durante a madrugada depois de sair da festa…
estou esperando o Beto me ligar para saber como o guri está, mas,
pelo que ele me contou, parece sério.
— Meu Deus, e tu me fala isso assim? Guria, tu nasceu para
ser médica mesmo, é muito fria.
— Não fala assim, não sou fria, sou racional. Acidentes
acontecem, não gosto de ver as pessoas sofrendo ou morrendo,
mas aprendi que faz parte da vida. Afinal, é a única certeza que
temos: todos iremos morrer um dia.
— Meu Deus. — De repente os lindos olhos do Guto invadem
minha mente. — E se for o Guto? Bianca, por favor, liga agora para
o Beto e pergunta o nome desse amigo…
— Calma, o nome do cara não é Gustavo, é Ricardo, ele
também faz academia com a gente.
 
...
 
Gustavo
 
— Lamento, rapaz, mas o Sr. Ricardo, entrou em coma e não
temos previsão de quanto tempo ele demorará para retornar ou se
haverão sequelas. — diz o médico que acaba de sair da sala de
cirurgia.
— Como assim? Meu primo vai morrer? É isso, doutor?
— No momento ele está em um estado de sono profundo,
mas não temos como saber ainda o acontecerá. Os próximos dias
serão decisivos. Qualquer coisa nossa assistente social pode
conversar com você — diz o médico já se afastando e entrando em
uma sala ao final do corredor. Meu Deus, como contarei isso para os
meus tios? O Ricardo era o menino de ouro da Tia Sonia, por que
ele, Deus? Ele precisa acordar, não dou conta sozinho.
Tudo aconteceu tão rápido, depois que a Amanda foi embora,
me deixando plantado sem entender nada na biblioteca, acabei de
calçar meus sapatos e fui para casa. Nem fui procurar pelo Rick,
pois, naquela altura, ele já devia ter encontrado uma cama para ficar
com a mulher que estava beijando mais cedo.
Cheguei em casa, tomei um banho e estava repassando a
noite na minha cabeça, tentando entender se fiz ou falei alguma
coisa que possa ter “espantado” a Amanda. Eu já tinha conhecido
algumas gurias que não queriam relacionamentos sérios, mas não
como ela. A gente mal tinha acabado de transar e, a meu ver, foi a
melhor transa da minha vida, e a guria saiu correndo como o diabo
foge da cruz.
Será que só eu gostei tanto assim do sexo? Será que
fantasiei demais? Não, eu sempre fui muito atento e percebi que ela
se entregou completamente e que gostou tanto quanto eu. Certas
coisas não se podem fingir. E teve o beijo também, ela me deu um
beijo quente de despedida, senti como se o beijo falasse por ela: “foi
muito bom”. Mas se ela também curtiu, por que não me passar nem
seu telefone? “Guria estranha essa…, mas definitivamente
maravilhosa e inesquecível”.
Estava terminando de me secar quando escuto meu celular
tocar, deveria ser umas três, três e meia da manhã, o que despertou
um sinal de alerta no meu corpo, algo de errado aconteceu. Olhei na
tela e era um número desconhecido, atendi:
— Alô.
— Alô, boa noite, o senhor conhece o Ricardo Medeiros?
— Sim, é meu primo, quem está falando?
— Aqui é o policial Silva, como você se chama?
— Gustavo, aconteceu alguma coisa com ele, policial?
— Infelizmente sim, senhor, seu primo sofreu um grave
acidente de carro, localizamos seu celular nos escombros e seu
número era a última chamada realizada.
— Meu Deus, ele está bem? Onde ele está? Estou indo aí.
— Por favor, fique calmo, ele foi levado para a Santa Clara de
Misericórdia, o senhor sabe o endereço?
— Sim, sim, sei, estou indo para lá.
— Ok, senhor, depois precisarei de alguns dados para
colocarmos no boletim. Infelizmente já temos uma vítima fatal. A
passageira que estava no carona do carro do seu primo morreu na
hora. O senhor a conhecia?
— Meu Deus, não, quer dizer, deve ser a guria que estava na
festa com ele, a vi de vista.
— Entendo, bom, peço que salve esse número do qual lhe
liguei e que, assim que puder, me ligue. Desejo melhoras para seu
primo.
— Ok, obrigado.
Desliguei, peguei minha carteira em cima da mesa da
cozinha, calcei meu tênis o mais rápido que pude e desci para a
garagem para pegar meu carro e ir para o hospital.
— Tio, boa noite… Estou ligando, pois tenho uma notícia para
dar para vocês… Não sei uma maneira mais fácil de contar… O
Rick sofreu um acidente e ele se machucou muito… Tio, eu sinto
muito, o Rick é meu irmão,meu melhor amigo… Tio, ele está em
coma e o médico não tem previsão de melhora… nem sei o que
pensar ou fazer. — Ouvir o choro de desespero do meu tio do outro
lado da linha arrasou meu coração. Comecei a chorar até que uma
das enfermeiras viu meu estado e me trouxe algum tipo de calmante
e um copo d'água. Eu precisaria ser forte, tinha muitas coisas para
resolver e meus tios precisariam de apoio. Meus tios e o Ricardo,
pois não descansaria até vê-lo curado. Depois de o remédio fazer
efeito, me senti um pouco mais tranquilo, consegui ligar para os
meus pais. Eles iriam trazer meus tios de Caxias para Porto Alegre.
Assinei também a papelada do hospital. Ricardo sempre foi
extremamente organizado e muito cauteloso, de tal forma que as
coisas se resolveram rápido.
Depois de falar com o policial que me deu a notícia do
acidente, decidi ir para casa, tomar um banho e trocar de roupa para
depois receber meus pais e meus tios no hospital. Pelo que entendi,
Ricardo acabou se perdendo em uma curva, o que ocasionou o
capotamento do carro por três vezes, após a colisão com um poste
de energia. A guria que estava com ele chamava-se Camila, tinha
apenas 24 anos, seus pais estavam tão desolados quanto nós. Eu
conhecia Rick, não acredito que estivesse embriagado, algo deve
tê-lo distraído, mas, mesmo assim, o laudo com a informação se
havia substâncias entorpecentes no seu sangue só sairia em
algumas semanas.
Não queria nem pensar em como seria na empresa, a essa
altura, todos já deveriam estar sabendo que o CEO da G&R
Marketing havia sofrido um grave acidente e estava em coma. Eu
precisaria pensar nos rumos que iria tomar na empresa,
provavelmente contrataria um CEO experiente para ocupar o cargo
até que o Ricardo se recuperasse. Mas deixaria para analisar isso
com os advogados e o conselho diretor durante a semana. Agora
tudo que eu queria era o abraço da minha família, já que do meu
melhor amigo, do meu irmão de alma, eu não teria por só Deus sabe
quanto tempo.
 
Amanda
 
Depois de conversar com a Bia, uma sensação ruim tomou
conta de mim, não conseguia parar de pensar no Gustavo. Isso era
estranho, não sabia explicar, mas algo nele era diferente. Ah, que
bobagem, deve ser apenas pelo susto de acordar, receber uma
notícia assim. Espero que o guri que se acidentou esteja bem,
penso na família do rapaz, nossa, nem imagino a aflição pela qual
estão passando.
Decido me levantar, pois não conseguirei voltar a dormir,
tomo um banho e programo a cafeteira para passar um café
quentinho, amo café preto e não consigo começar meu dia sem
beber pelo menos uma xícara. Enquanto isso, pego meu celular
para olhar as últimas notícias, tenho que me lembrar de depois ir na
farmácia comprar uma pílula, como a Bia aconselhou, não consigo
nem imaginar o surto que teria se ficasse grávida. Depois de olhar
os stories da maioria dos meus contatos, me bate uma curiosidade e
decido procurar o Instagram do Guto, stalkear um pouquinho não
tem nada demais, né? Digito na busca Gustavo… como imaginei,
aparecem vários perfis, fui rolando e olhando as fotos até que vi um
perfil que me chamou a atenção: “É ele, jamais esquecerei esses
olhos azuis”. Abri “@gustavo_medeiros”, droga, o perfil era privado.
Será que solicito para seguir? Não, não posso fazer isso, vai contra
minhas regras. A cafeteira apita, me avisando que o café está
pronto, o que acaba me assustando e sem querer meu dedo esbarra
na tela e clica em “seguir”. Merda, agora ele receberá a notificação.
Mas talvez dê tempo de cancelar.
Antes que eu pudesse cancelar, meu celular vibra indicando
uma nova notificação:
“@gustavo_medeiros aceitou sua solicitação para seguir".
E uma nova em seguida:
“@gustavo_medeiros começou a te seguir”.
Ah, meu Deus, ele me seguiu, abro o perfil dele e não tem
tantas fotos, ele parece ser um cara discreto, vejo que tem um novo
Stories, clico para visualizar, então aparece a seguinte mensagem:
“Vai dar tudo certo, meu irmão, estou com você até o fim, amo
você”. Meu coração acelera, será que o rapaz do acidente era irmão
dele? Me recordo dele comentar que tinha ido à festa com o primo,
mas não lembro o nome do rapaz. Será que mando um direct para
ele?
Decido antes ligar para Bianca e ver se ela tem mais
informações sobre o rapaz. Ela logo me atende:
— Oi, prima.
— Oi, Bi, ei, alguma novidade sobre o guri do acidente?
— Ah, prima, sim, infelizmente ele entrou em coma e não há
previsão de quando ou se acordará.
— Meu Deus, que tristeza.
— Pois é, o Ricardo é um cara muito gente boa, conversei
algumas vezes com ele na academia, e a guria que estava com ele
faleceu, ela tinha 24 anos.
— Nossa, que horror, Bi, você sabe me dizer se o Ricardo
tem irmão?
— Não, ele era filho único, ah, o Beto me falou que ele foi na
festa com o primo, o Gustavo. Será que é o seu Gustavo?
— Ele não é meu, mas acho que é o mesmo. Acabei de
adicionar o Guto no Instagram e tinha um Stories: “Vai dar tudo
certo, meu irmão, estou com você até o fim, amo você”, deve ser por
conta do primo.
— Você o adicionou?
— Sim.
— E vai falar com ele?
— Não. Quer dizer, não sei. Será que devo? Afinal, ele deve
estar com a cabeça cheia, mas eu estava na mesma festa, e…
— Calma, Amanda, respira, você está muito nervosa. O Beto
perguntou se posso acompanhá-lo ao hospital para visitar o Ricardo,
mesmo que ele esteja em coma, o Beto quer prestar apoio à família.
Eu disse que iria, vamos lá por umas 14h, quer vir conosco?
Provavelmente o tal Gustavo estará lá, assim você pode falar com
ele pessoalmente.
— Não sei, acho que é um momento muito família, não sei
como ele iria reagir. E, também, não gosto desses ambientes, você
sabe que não lido muito bem com hospitais, doenças, morte...
Desde o velório da vovó, volta e meia tenho pesadelos.
— Bom, prima, você que decide, mas acho que seria legal da
sua parte, afinal, vocês passaram a noite juntos, agora se
adicionaram e o cara acabou de saber que seu primo está em
estado grave, pense se fosse a gente? Depois você fala que eu que
sou fria…
— Tá bom, você está certa, nós estávamos na mesma festa,
e não consigo nem imaginar passar por algo parecido. Você vai
direto ou o Beto vai te buscar?
— Ele vem me buscar, passamos aí para você ir com a
gente.
— Ok, espero vocês, então. Beijo.
— Beijo.
Não sei se fiz bem em aceitar, mas não sabia explicar o
motivo por estar tão sensível, talvez fossem os hormônios…Olho
novamente o perfil dele, abro uma foto que ele está com outro
rapaz, os dois estão descontraídos sorrindo, com um pôr do sol do
Guaíba como plano de fundo, na legenda, a frase: “melhor sócio,
amigo e irmão que Deus me deu @ricardo_medeiros”. Era ele,
então, e pelo jeito realmente os dois são muito próximos, nem
imagino a dor que o Guto deve estar sentindo, não sei o que seria a
minha vida se algo assim acontecesse com a Bianca, Assim,
tomada por uma onda de forte emoção, clico em “enviar
mensagem”, a tela se abre e digito:
 
“Oi, Guto, sou a Amanda, da
festa do Beto, achei seu perfil
e resolvi te adicionar.
Gostaria de poder perguntar
se
está tudo bem, mas as
notícias correm rápido e
infelizmente sei que acaba
seu primo sofreu um grave
acidente. Quero que saiba
que sinto muito e que estou
orando para que a
recuperação dele seja breve.
Caso precise de uma amiga,
pode contar comigo. Me
desculpe pela forma que fui
embora, não é nada com
você. Fica com Deus,
abraços, Mandi”.
 
Não demora muito e ele visualiza a mensagem:
 
@gustavo_medeiros está digitando…
 
O que será que ele irá dizer?
...
Gustavo
 
Desliguei a ligação com minha mãe, ela avisou que
chegariam perto das 13h, e iriam direto para o hospital. Ouvi uma
nova notificação vindo do meu celular, o peguei para conferir e me
surpreendi ao ver a solicitação de amizade na minha conta do
Instagram:
 
"@mandibarros enviou uma solicitação para segui-lo".
 
A princípio, não reconheci o nome, então cliquei no perfil e
meu coração acelerou quando vi quem era: Amanda.
Aceitei a solicitação e a segui de volta. Não entendi por que
de ela me procurar depois da formaque foi embora, mas fazia
tempo que havia perdido as esperanças de entender as mulheres. E
confesso que, apesar do momento pelo qual estava passando, fico
feliz em ter o contato dela. Olhei um pouco seu feed de notícias, ela
era realmente "festeira" e alegre. Pelas fotos, vivia viajando e tinha
muitos amigos, não vi nenhuma foto com algum cara que pudesse
ser seu namorado, pois, da maneira que ela saiu correndo depois da
festa e sem deixar nenhum contato, pensei que talvez fosse
comprometida, mas, pelo jeito, era mais uma solteira convicta
mesmo, acho que ela se daria muito bem com Rick.
Lembrar dele apertou novamente meu coração, ainda não
estava conseguindo acreditar no que está acontecendo, Rick em
coma, sem previsão de alta ou melhora, sem saber como será
quando e se acordar... a simples ideia dele nunca acordar aperta
meu coração, como seria se eu nunca mais o visse, nunca mais
recebesse suas mensagens debochadas, nem seus e-mails me
dando "ordens" como se realmente mandasse em mim e não
fôssemos sócios igualitários na empresa. Rick é o cara mais incrível
que já conheci, todos gostam dele, ele é carismático, inteligente,
engraçado, é o cara que não importasse o que fosse, sabia que
poderia contar.
Lembro dos conselhos que ele me deu antes da minha
primeira vez… eu tinha 17 anos, estava saindo com a Beca há um
mês e estava realmente apaixonado. Bom, na real, eu já era
apaixonado por ela desde o quinto ano do Ensino Fundamental.
Seus lindos cabelos ruivos cacheados nas pontas, sua pele clara
com sardas delicadas espalhadas pelo seu rosto pequeno e seus
lindos olhos castanhos faziam minhas pernas balançarem.
Estudávamos juntos, eu, ela e o Rick, e éramos quase que
inseparáveis. Antes de sair com ela pela primeira vez, ela me
confessou que havia sido apaixonada pelo Rick, mas que aquilo
fazia muito tempo e que eles nunca tiveram nada, pois Rick sempre
falou que a via como uma irmã. Então, um dia em uma festa no final
do terceirão, resolvi "arriscar" e pedi para ficar com ela. E, para
minha alegria e surpresa, ela aceitou. E, depois da festa,
começamos a sair quase que todos os dias, e um dia comentei com
Rick que está a pronto para a minha primeira vez e que queria que
fosse com a Beca, afinal, ela era a garota dos meus sonhos:
 
— Mano, amanhã vou sair com a Beca e tô muito a fim de…
bem, tu sabe, né…
— Olha só, meu priminho quer transar… — Rick falou
enquanto dava pause no nosso jogo de futebol no Playstation.
— Ah, não fala assim, tu sabe que sou apaixonado pela Beca
desde pequeno, eu e ela já conversamos sobre isso, e…
— É a primeira vez dela também?
— Sim, e isso me deixa ainda mais ansioso, eu quero que
seja perfeito.
— Mano, relaxa, se você se colocar pressão, não vai ser
legal, nem para você e muito menos para ela. Tem que ser natural…
leva ela no cinema, depois jantem em algum lugar, uma comida
leve… e depois a convide para ir para um lugar mais tranquilo… tem
um motel bem bacana perto do Praia de Belas… se bem que você
não tem identidade falsa… você não é dessas coisas, mal sai para
as festas da turma… Cara, pode trazer ela aqui em casa, eu invento
alguma coisa para o papai e a mamãe, e tu pode ficar tranquilo com
ela aqui. Compre umas velas, algumas rosas, e espalhe pelo quarto,
na verdade, eu vou deixar tudo pronto para você… aí você chega,
dá play no rádio e aí relaxa e deixa rolar. E, claro, não se esquece
da camisinha, você não vai querer engravidar a garota na primeira
vez da vida de vocês.
— Tô mais nervoso ainda, e se ela não curtir?
— Mano, tu é um cara gente boa, boa-pinta e você se
conhecem há anos… vai ser legal, acredite mais em você cara.
 
Segui todos os conselhos dele e realmente foi uma noite
inesquecível. Pena que depois não durou muito, a Beca decidiu que
era nova demais para namorar e pediu que continuássemos como
sempre fomos: amigos. Depois que nos formamos no Ensino Médio,
ela se mudou para Curitiba e foi cursar faculdade de Veterinária. Às
vezes trocamos mensagens, mas a amizade nunca voltou a ser a
mesma. Demorei muito para esquecê-la.
Outra notificação no meu celular me chama de volta para a
realidade, é um direct da Amanda. "O que será que ela escreveu?"
 
“Oi, Guto, sou a Amanda,
da festa do Beto, achei
seu perfil e resolvi te
adicionar. Gostaria de
poder perguntar se está
tudo bem, mas as
notícias correm rápido e
infelizmente sei que
acaba seu primo sofreu
um grave acidente.
Quero que saiba que
sinto muito e que estou
orando para que a
recuperação dele seja
breve. Caso precise de
uma amiga, pode contar
comigo. Me desculpe
pela forma que fui
embora, não é nada com
você. Fica com Deus,
abraços, Mandi”.
 
Ah, ela já sabe do acidente do Rick, achei a mensagem dela
carinhosa, ela não precisaria ter mandado nada, mas mandou. Meu
coração não costumava me enganar, ela era diferente. Resolvi
responder, agradecendo.
 
"Olá, Amanda, agradeço por
sua mensagem… na real,
ainda não estou acreditando
que isso esteja
acontecendo. Como você
ficou sabendo?
 
"Oi, a minha prima, que
estava
com o Beto, me acordou
para me
contar, a princípio, não
sabia
que era seu primo, mas
depois
ligamos os pontos.
Como você está?"
 
"Como se tivesse passado
um caminhão por cima de
mim…"
":(
Sinto muito.
Não perca a fé, Deus
sabe o que faz. Seu
primo ficará bem e logo
estará com você de novo.
Tenha fé.".
 
"Obrigado.
Eu tenho que ir, preciso
resolver algumas coisas
antes dos meus pais e tios
chegarem.
Obrigado mais uma vez e se
cuida".
 
"Você também.
Beijo se cuida:*"
 
Gostaria de ficar conversando com ela, poderia ter sido tão
diferente. Mas não era o momento. Eu tinha uma grande missão nas
mãos agora e isso exigiria toda a minha atenção.
 
Amanda
 
Resolvi, nos últimos minutos, que não iria no hospital, não
havia sentido eu ir até lá. Eu já havia mandado mensagem
lamentando o ocorrido, não tinha por que eu ir, poderia dar a
entender que estava interessada nele e não era isso.
Claro que eu não sou nenhuma pedra de gelo sem
sentimentos, eu achei o Guto um cara legal, eu realmente senti algo
diferente quando ficamos, ele me fez sentir diferente, não sei se foi
a conexão imediata, mas, algo me abalou, mas ainda assim, não
posso abrir mão da vida que eu vinho levando, estou feliz sozinha, e
não quero dar brechas para ninguém mais entrar no meu mundo
agora.
Passei o resto do sábado largada no sofá, lendo meus livros
de suspense no meu kindle, nada de romances, não tinha paciência
para os mesmos clichês de sempre, a mocinha virgem e inocente
que se apaixona pelo mocinho difícil, que, no final, se mostra um
bobão que fica de quatro pela garota. A vida não era assim, não
existem príncipes encantados que chegam para salvar seu dia,
então, eu não gostava de ficar fantasiando. Preferia um bom livro de
mistério policial, um crime, uma vítima, um predador à solta e um
protagonista inteligente. Isso sim era história. Já passavam das oito
da noite quando meu celular toca, era a Bia, atendo a chamada de
vídeo:
— Oiii, o que tá fazendo? — pergunta, percebo que ela não
está em sua casa, pois o ambiente não me é familiar.
— Tô lendo, onde tu tá?
— Na casa do Beto, liguei para ver se não quer vir aqui jantar
com a gente.
— E ficar segurando vela? Meu sonho — falo, bufando
enquanto reviro meus olhos. Apesar de amar o gesto, Bia nunca me
deixa de fora de nada da sua vida, sempre tenta me incluir em tudo,
mesmo que seja para segurar vela em um sábado à noite. Mas eu
tenho noção, bom senso e não aceitaria isso apenas por educação.
— Nada a ver, Mandi, nós aproveitamos bastante desde que
voltamos do hospital...
— E como foi? Quero dizer, claro deve ter sido pesado,
mas... você conheceu o Guto?
— Sim, Mandi, foi muito pesado, mas ainda assim, todos tem
muita fé que logo o Ricardo acordará. Depois de lá passamos no
velório da Camila, então pode imaginar o quanto nosso dia foi longo.
Conheci o Guto, ele estava bem abatido, mas, mesmo com os olhos
inchados, ele é simplesmente um gato. Você deveria ter ido para
consolar ele...
— Não, não tinha nada a ver, eu deium perdido nele ontem e
hoje iria aparecer no hospital para visitar o primo dele que eu nem
conheço? Não. Eu mandei mensagem e é melhor assim.
— Mandi, um dia você vai ter que abrir de novo seu coração,
não vai querer ficar sozinha para o resto da vida né?
— Meu Deus, o que esse Beto fez contigo? Quem é você?
— Eu não fiz nada, quer dizer nada que ela não tenha
gostado. — Nesse momento, me assusto com a voz grossa que
responde à pergunta que era direcionada para a minha prima.
Então, ela começa a rir ao ver minha surpresa e vira o celular,
mostrando que o Beto estava ali o tempo inteiro, bem na frente dela.
Ele acena com um sorriso no rosto que deve ser por ver que eu
estou vermelha feito um pimentão. Aceno timidamente para ele.
— Oi, Beto, tudo bem? Me desculpa não sabia que estava
aí...
— Não quer mesmo vir aqui? Eu não vejo problema em um
jantar à luz de velas... — ele fala em tom irônico, o que me faz rir,
ele realmente é um cara engraçado.
— Obrigada mesmo, mas fica para um outro dia, não estou a
fim de me vestir de castiçal hoje.
— Bom, então amanhã nos vemos, beijo, priminha, se cuida,
amo você — diz Bia.
— Boa noite, se cuidem também, juízo, crianças. Amo você,
Bia. Prazer falar com você de novo, Beto. — Ela vira de novo o
celular para eu ver o Beto se despedindo com uma piscada de olho
e mandando um beijo. Ele era um gato mesmo e combina muito
com a Bianca, formam um belo casal. Quem diria que minha prima
iria se apaixonar, fico muito feliz por ver o riso fácil e leve no seu
rosto e o brilho nos olhos.
Depois de desligar, pego o celular e fico navegando por um
tempo pelas notícias de fofoca até adormecer.
“Acordo em um lugar muito claro, sinto frio no corpo, percebo
que estou em um quarto de hospital, ligada a um aparelho que fica
apitando e monitorando meus batimentos cardíacos. Onde estou? O
que estou fazendo aqui? Tento levantar minhas mãos, pois não
estou sentindo o restante do meu corpo, mas não tenho forças...
então me desespero e tento gritar para chamar alguém para me
ajudar, mas minha voz não sai. Onde estou? O que está
acontecendo?”
Dou um grito e acordo no meu sofá com o meu apartamento
completamente escuro, acendo o abajur que fica na mesinha ao
lado e percebo que estou suando frio, minhas mãos estão geladas e
meu coração acelerado. “Que pesadelo horrível”. Nunca sonhei com
nada parecido antes; na realidade, nunca me lembro dos meus
sonhos. Acho que o acidente do primo do Guto mexeu muito com o
meu emocional, não sou acostumada com essas coisas, a morte da
menina que estava com ele também, tão nova... a única perda que
tive até hoje foi da minha avó e não lidei nada bem com isso. Tanto
que precisei fazer terapia por alguns meses para me ajudar a aceitar
sua morte. Vovó Bina era a melhor pessoa do mundo, mãe do meu
pai, era o doce em forma de gente. Lembro-me com carinho das
tantas vezes que corria para sua casa, que era na parte de trás do
terreno que eu morava com meus pais e, ao chegar na porta, antes
mesmo de abri-la, sentia o cheirinho do bolo de chocolate que só ela
sabia fazer. Minha boca saliva com a simples lembrança.
Perder ela foi muito doloroso, ainda mais pela forma que foi, um
câncer maligno no estômago, que a levou rápido demais. Faz três
anos que ela partiu, mas, para mim, ainda é difícil aceitar que jamais
verei ela novamente.
Me levanto do sofá e estico meus braços para me
espreguiçar, pego o celular, que acabou caindo no chão enquanto
eu dormia, e confiro que são quatro horas da manhã. Vou no
banheiro, faço um xixi e vou para a cama, tentar dormir de novo,
mas com receio de ter outro pesadelo. Então, antes de fechar meus
olhos, decido fazer a oração que Vovó Bina me ensinou desde
pequena:
 
“Com Deus me deito, com Deus me levanto,
com a graça de Deus e do Espírito Santo.
Amém”.
 
Imediatamente, como se fosse “mágica”, meu corpo relaxa e
meus olhos se fecham. Adormeço num sono calmo e sereno.
 
...
 
A semana é agitada na empresa, mas graças à Deus já é
sexta-feira de novo, último dia do mês, fechamento das folhas para
pagamentos dos fornecedores e minha equipe está a mil por hora.
O último mês passou rápido, e eu trabalhei mais do que
nunca para colocar tudo em dia, já que a partir de hoje, às 18h,
estarei de férias. Serão 20 dias de sossego, sombra e água fresca.
Planejei essas férias todos os dias no último ano, estava
ansiosa e animada para finalmente conhecer a Bahia. Fiz um
cronograma para todos os dias, listando todos os pontos turísticos
que quero conhecer. A Bia ia comigo, só que não mais sozinha
como era o plano inicial. Ela e Beto estavam firmes. No último mês,
os dois simplesmente não se desgrudaram um dia sequer, e eu já
estava me acostumando com nossa nova dinâmica. O Beto era
maravilhoso e, assim como Bia, sempre procurava me incluir.
No último mês, me apresentou para dois dos seus melhores
amigos, mas fiquei apenas com um deles, o Rafael, mas
definitivamente ele não era para mim. Arquiteto, de 34 anos,
divorciado há 2 anos e pai de uma linda menina que 4 anos. Poderia
ser um cara incrível, mas era muito chato. Diferente do Beto, ele era
um cara prepotente e metido. Sabe aquele tipo de pessoa que acha
que tudo que faz ou fala é simplesmente o melhor? Então, é o
Rafael. E o pior é que nem de longe eu o achei atraente. Era alto,
forte, moreno, mas sua voz era meio estridente, seu nariz empinado
demais e o pior: era fumante. Homem, para mim, tem que ser
cheiroso, senão não rola e por mais que a pessoa passe perfume,
lave as mãos e a boca, quando são fumantes sempre acabamos
sentindo. Troquei apenas um beijo com ele em um jantar que Beto
organizou para nos apresentar em sua casa. Nós estávamos no
andar de cima na sala de TV, Beto e Bia tinham ido para o quarto,
sim, eles não faziam a menor cerimônia para se trancarem no
quarto e transar. Rafael tomou a iniciativa e me beijou, mas eu tive
que segurar a ânsia para não vomitar quando senti o gosto de
cigarro na sua boca. Me afastei o mais rápido que pude dele e pedi
licença, dizendo que precisava ir ao banheiro. Ao sair da sala e
fechar a porta atrás de mim, avistei, do outro lado do corredor, uma
porta já conhecida, e cai na asneira de ir lá.
Assim que abri a porta da biblioteca, foi impossível não me
lembrar do Gustavo, da forma como ele me pegou no colo, de como
me fez tremer as pernas em cima do sofá de centro. Mesmo depois
deste tempo, as sensações estão presentes em mim, não consigo
esquecer aquela noite. Foi a última noite que transei. Achava que
hoje iria rolar, mas aqui estou eu, fugindo do cara fumante. O Guto
era tão cheiroso, o beijo dele era tão doce, só de lembrar meu
coração começa a bater um pouco mais acelerado, o calor invade o
meio das minhas pernas: “Porra, eu tô excitada com uma
lembrança?” O que será que ele fez que me deixou assim? Tão
enfeitiçada? Balanço a cabeça tentando evitar esses pensamentos e
a lembrança do Gustavo, realmente eu preciso transar. Saio
rapidamente da biblioteca e bato na porta do quarto do Beto. Ele
demora alguns minutos até abrir a porta apenas de cueca, fico
vermelha e viro meus olhos para cima para evitar olhar o volume no
meio de suas pernas, mas depois iria tirar um sarro da Bia. Falei
que não curti seu amigo e pedi socorro para me “livrar” dele. Graças
a Deus ele foi um amor, disse que eu podia ir para o quarto de
hóspedes e dormir tranquila que ia mandar o amigo pastar.
Depois daquela noite, nunca mais tive notícias do Rafael, e o
Beto desistiu de tentar me arranjar um par. O que eu achei ótimo,
pois iriámos para a Bahia e eu queria era aproveitar, Deus me livre ir
com alguém a tiracolo nessa viagem que estava esperando por
tanto tempo. Embarcaríamos no domingo e ficaríamos dez dias lá.
Mal via a hora.
Bati meu ponto exatamente às 18h e já estava indo para o
estacionamento pegar o meu carro quando escuto minha chefe me
chamar:
— Amanda, que bom que ainda não foi embora. Por favor,
pode vir comigo até a minha sala por 5 minutinhos?
— Claro, Sra. Carina. — A acompanho até sua sala e
começo a ficar um pouco nervosa

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