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AULA 1 CONTABILIDADE INTERNACIONAL Profª Ivanes da Glória Mattos 2 INTRODUÇÃO Esta é a disciplina de Contabilidade Internacional, que busca demonstrar os principais aspectos e técnicas para padronizar os relatórios contábeis às normas internacionais de relatórios financeiros, de modo a proporcionar o entendimento e análise destes pelos interessados. Nos anos de 1970, nasceram as Normas Internacionais de Contabilidade – IAS, para mais tarde, em 2001, passarem a ser chamadas de International Financial Reporting Standarts (IFRS) – Normas Internacionais de Relatórios Financeiros, que são regras, fundamentos e princípios que unificam os padrões contábeis. Com o processo da globalização, que tem como objetivo diminuir as barreiras existentes entre os países, a contabilidade passou a exercer um novo papel, que é o de buscar um consenso sobre as informações financeiras e, para tanto, foi necessário adequar as demonstrações para uma linguagem universal dos negócios. Dentro desse contexto, a Lei n. 11.638/2007 estabeleceu as bases para que as IFRS possam ser aplicadas pelas empresas brasileiras. Para as empresas mundiais, a adoção de normas internacionais de contabilidade traz vantagens econômicas na forma de atração de maior volume de investimentos, uma vez que as informações contábeis passam a ser mais confiáveis e comparáveis para resistir à variedade de transações e operações do mercado internacional. O foco da nossa disciplina será o conhecimento das normas internacionais de contabilidade, o processo de sua aplicação e a interação com os pronunciamentos técnicos emitidos pelos Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Nesta aula, vamos abordar os seguintes assuntos: 1. Organismos responsáveis pela contabilidade no mundo; 2. Causas das divergências na contabilidade; 3. Processo de harmonização no Brasil; 4. Comitê de pronunciamentos contábeis; 5. Vantagens e desvantagens da harmonização das normas. TEMA 1 – ORGANISMOS RESPONSÁVEIS PELA CONTABILIDADE NO MUNDO O avanço da globalização da economia fez com que a interdependência dos negócios entre os países se tornasse cada vez maior, de modo a exigir dos dguimaraes Realce 3 envolvidos permanentes atenção às mudanças e à normatização das informações contábeis e financeiras. A observância dos princípios, regras e procedimentos contábeis ajuda os interessados no processo de tomada de decisões, desde que estas sejam transparentes e claras, para evitar diferentes interpretações que possam diminuir a credibilidade dos relatórios econômicos e financeiros. Muito embora cada país tenha as suas normas e procedimentos contábeis que devem ser adotados internamente, são grandes as dificuldades de transpor as contas da empresa de um país para outro. Por isso, foi necessário às empresas adotar uma harmonização das normas brasileiras às normas dos outros países, com a elaboração de demonstrações contábeis com regras uniformes e homogêneas para que todos os interessados possam se utilizar de informações comparáveis e confiáveis nos seus processos de decisão. Para viabilizar essa harmonização global, o International Accounting Standards Board – IASB emitiu um conjunto de normas contábeis denominado International Financial Reporting Standards – IFRS. A adoção das Normas Internacionais de Contabilidade permite solucionar vários problemas para os investidores que pretendem realizar transações e investimentos externos, uma vez que cada país possui seus princípios e técnicas e que causam entraves para o entendimento e adaptação dos relatórios contábeis. Dentro do contexto da globalização, a contabilidade é fundamental, pois ela traz os elementos necessários para formar um entendimento comum das informações de natureza financeira, econômica e patrimonial, ou seja, é um tipo de linguagem universal dos negócios. Assim, quanto às normas internacionais de contabilidade, é possível elencar a participação dos seguintes órgãos: • International Accounting Standards Board (IASB); • Financial accounting standards board (FASB); • The international organization of securities commission (IOSCO); • Organization for economic cooperation and development (OECD). 1.1 International Accounting Standards Board (IASB) O IASB é uma organização internacional sem fins lucrativos do setor privado que, no âmbito normativo e regulatório, cria, publica, atualiza e dissemina dguimaraes Realce 4 as normas internacionais de contabilidade, sempre buscando a convergência dos relatórios financeiros com as normas nacionais de cada país. Essa organização, inicialmente criada pelo acordo entre 09 países, no ano de 1973, ainda com o nome de IASC (International Accounting Standards Committee), comissão esta que foi a primeira tentativa de normalização contábil internacional e emitia os pronunciamentos sobre as normas internacionais de contabilidade – IAS (Internnational Accounting Standards). A partir de abril de 2001, a organização passou a se chamar de IASB – International Accounting Standards Board (Quadro Internacional de Normas Contábeis) e já contava com a adesão de profissionais de outros países, cujo objetivo principal é desenvolver, com base em princípios claramente articulados, um conjunto único de normas de contabilidade de alta qualidade, de fácil compreensão e execução e aceitos mundialmente. Atualmente, a sede do IASB está localizada em Londres e conta com a experiência de mais de 140 diferentes entidades profissionais da contabilidade, originárias do mundo todo, inclusive do Brasil, por meio do IBRACON – Instituto dos auditores independentes do Brasil e do CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Segundo Müller (2019), os principais objetivos do IASB são os seguintes: 1. Elaborar e publicar, notoriamente, normas contábeis internacionais, que deverão ser observadas nos relatórios contábeis; 2. Promover a aceitação e a adoção pra´ticas de tais normas em escala mundial. Cabe às organizações profissionais membros do IASB colaborar com o fiel cumpriemento das suas normas, zelar para que as publicações respeitem tais normativas e observar, junto aos órgãos responsáveis em cada país, para que os relatórios contábeis sejam publicados e se ajustem de acordo com as normas internacionais. O conjunto de normas contábeis e criadas pelo IASB é denominado International Financial Reporting Standards – IFRS (ou Normas Internacionais de Relatório Financeiro) e cada uma delas trata de assuntos específicos, porém em algumas situações é harmonizar a situação adotando-se mais de uma norma. Até agora, o IASB publicou 41 Normas Internacionais de Contabilidade, sendo que algumas já foram revogadas e as que permanecem em vigor em 2020 são 32, as quais são constantemente revisadas. dguimaraes Realce dguimaraes Realce 5 No Brasil, as principais entidades que participam da convergência contábil por meio de suas normatizações são: o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Banco Central do Brasil (Bacen) e o Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes (Ibracon) De acordo com Müller, Scherer e Cordeiro (2019), as normas internacionais de contabilidade já criadas e que se encontram em vigor no ano de 2020 são as seguintes: • IAS 1 – Apresentação das demonstrações contábeis; • IAS 2 – Estoques – Inventários; • IAS 7 – Demonstração dos fluxos de caixa (das mutações na posição financeira); • IAS 8 – Práticas contábeis, mudanças de estimativas contábeis e erros; • IAS 10 – Contingências e eventos ocorridos após a data do balanço; • IAS 11 – Contratos de construção; • IAS 12 – Contabilização do Imposto de renda; • IAS 16 – Ativo imobilizado; • IAS 17 – Arrendamentos; • IAS 18– Receitas; • IAS 19 – Custos de benefícios de aposentadoria a empregados; • IAS 20 – Subvenções governamentais e divulgação da assistência governamental; • IAS 21 – Efeitos de mudanças em taxas de câmbio estrangeiras; • IAS 23 – Custo de empréstimos – capitalização dos encargos financeiros; • IAS 24 – Divulgação de partes relacionadas; • IAS 26 – Contabilização e demonstração financeira de planos de benefício de aposentadoria; • IAS 27 – Demonstrações contábeis consolidadas e contabilização de investimentos em subsidiárias; • IAS 28 – Contabilização de investimentos em associadas – Sociedades coligadas; • IAS 29 – Demonstrações contábeis em economias hiperinflacionárias; • IAS 30 – Divulgações nas demonstrações contábeis de bancos e instituições financeiras similares; 6 • IAS 31 – Participação em empreendimentos em conjunto (joint ventures); • IAS 32 – Instrumentos financeiros: divulgação e apresentação; • IAS 33 – Lucro por ação; • IAS 34 – Relatórios financeiros provisórios (intermediários); • IAS 36 – Redução no valor recuperável de ativos (descapitalização de ativos); • IAS 37 – Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes; • IAS 38 – Ativos intangíveis; • IAS 39 – Instrumentos financeiros: reconhecimento e mensuração; • IAS 40 – Propriedades para investimento (investimentos em imóveis); • IAS 41 – Agricultura; • IFRS 1 – Adoção de IFRS pela primeira vez; • IFRS 2 – Pagamentos baseados em ações; • IFRS 3 – Combinação de negócios; • IFRS 4 – Contratos de seguro; • IFRS 5 – Ativos não correntes mantidos para venda e operações descontinuadas; • IFRS 6 – Exploração e avaliação de recursos minerais; • IFRS 7 – Instrumentos financeiros: evidenciação; • IFRS 8 – Informações por segmento; • FRS 9 – Instrumentos financeiros; • IFRS 10 – Demonstrações consolidadas; • IFRS 11 – Negócios em conjunto; • IFRS 12 – Divulgação de participações em outras entidades; • IFRS 13 – Mensuração do valor justo; • IFRS 15 – Receita de contrato com cliente; • IFRS for SMES – Contabilidade para pequenas e médias empresas com glossário de termos. 1.2 Financial Accounting Standards Board (FASB) FASB é o conselho de padrões de contabilidade financeira que foi criado em 1973, e trata-se de uma instituição sem fins lucrativos com a finalidade de unificar os procedimentos contábeis financeiros das empresas privadas e não dguimaraes Realce 7 governamentais. Por se tratar de uma entidade independente seus membros não podem estar vinculados ao mercado de ações. De acordo com Müller, Scherer e Cordeiro (2019, p. 130): A missão do FASB é, basicamente, estabelecer e aperfeiçoar padrões (práticas) de contabilidade e divulgação financeira. Deve-se observar que o estabelecimento desses padrões é tido como fundamental para o correto funcionamento dos mercados de capitais norte-americanos. O FASB emite os seguintes documentos: a. SFAS (Statement of financial accounting standards) é um pronunciamento sobre procedimentos de contabilidade financeira, que estabelece métodos e procedimentos para questões contábeis específicas, criando oficialmente, princípios de contabilidade geralmente aceitos. (GAAP); b. FASIS (Fasba Interpretations – Interpretações do FASB), que modificam ou ampliam tratados em pronunciamentos do FASB; c. Technical bulletins (boletins técnicos), que orientam sobre problemas contábeis e demonstrações financeiras 1.3 The International Organization of Securities Commission (IOSCO) – Organização Mundial das Comissões de Valores Mobiliários O IOSCO tem como objetivos incentivar e promover o desenvolvimento e a integridade do mercado de capitais por meio da aplicação das normas de contabilidade internacionais. Para Niyama (2010), seus objetivos são: a. Auxiliar para a promoção de altos padrões de regulamentação de mercado de capitais, refletindo um mercado justo, eficiente e sadio; b. Fomentar a troca de informações e experiências visando ao desenvolvimento do mercado de capitais domésticos; c. Estabelecer padrões e efetivo monitoramento de transações internacionais, envolvendo títulos; d. Fomentar a integridade do mercado por meio de uma rigorosa aplicação de padrões regulatórios. dguimaraes Realce dguimaraes Realce 8 1.4 Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) – Organização para Desenvolvimento e Cooperação Econômica O OECD (Organização Econômica Intergovernamental) foi fundada em 1961 com o objetivo de incentivar o progresso econômico e o comércio mundial, bem como atuar como mediador para que os países membros possam se consultar a respeito de problemas econômicos preocupantes, por exemplo, balança de pagamentos (Niyama, 2010). As suas publicações, voltadas à harmonização contábil, são feitas por um grupo de trabalho e tratam de padrões contábeis, questões econômicas e sociais, tais como macroeconômicas, comércio, educação e ciência. TEMA 2 – CAUSAS DAS DIVERGÊNCIAS NA CONTABILIDADE ENTRE AS NORMAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS Cada país é influenciado pelos seus valores culturais e pelas suas estruturas políticas e econômicas, o que se reflete em todas as áreas da gestão dos negócios, inclusive na contabilidade. É nela que os principais agentes econômicos, financeiros e fiscais se baseiam para avaliar as informações sobre os resultados dos negócios, os riscos para realizar investimentos, a arrecadação de tributos e o cumprimento das obrigações legais. Porém, a linguagem da contabilidade não é igual para todos os países, uma vez que cada um tem suas técnicas e práticas contábeis próprias e segue sua legislação interna. Mas com o processo da globalização a contabilidade passou a exercer um novo papel que é o de buscar um consenso sobre as informações financeiras e a harmonização contábil internacional, cujo processo tem como objetivos a compreensão de uma linguagem única e a comparabilidade das demonstrações financeiras. Apesar das divergências, para Niyama (2010), é possível um agrupamento de técnicas e práticas contábeis que permitam compreender melhor as causas dessas diferenças internacionais em busca de harmonização. Mas quais são as principais causas das divergências internacionais nos procedimentos utilizados para preparação e apresentação das demonstrações financeiras das empresas (financial reporting)? Vários autores já escreveram sobre estas causas e selecionamos a opinião de Niyama (2005), que resumiu as várias opiniões da seguinte forma: dguimaraes Realce dguimaraes Realce 9 • Características, natureza e tipo de sistema legal vigente; • Forma de captação de recursos pelas empresas, se vinculadas ao mercado de capitais ou ao mercado de crédito bancário com fonte governamental; • Nível de influência, credibilidade e status (amadurecimento) da profissão contábil; • Acidentes de percurso, invasões, localização geográfica, herança de ser colônia, linguagem etc.; • Nível de inflação, que pode ser alta ou baixa TEMA 3 – PROCESSO DE HARMONIZAÇÃO NO BRASIL Com a globalização e o ingresso dos países no mercado de negócios mundial, surgiu a necessidade de eles adequarem suas normas e técnicas contábeis para um sistema padronizado e unificado, possibilitando uma melhor compreensão das demonstrações financeiras e a comparabilidade destas entre os diversos interessados que prezam por uma boa gestão empresarial. Conforme já visto anteriormente nesta aula, a grande dificuldade para uma perfeita padronização das informações contábeis reside no fato de que cada país adota as suas regras e procedimentos contábeis, de acordo com os movimentos sociais, políticos, econômicos e fiscais locais, o que dificulta a transposição das contas das empresas de um país para outro, tanto no aspecto da entrada em novos mercados quanto para efeitos de consolidação das informações. No Brasil, o primeiro passo para aharmonização das normas internas aos padrões internacionais de contabilidade ocorreu com a publicação da Lei n. 11.638/07, que estabeleceu as bases para a padronização dos demonstrativos contábeis ao padrão internacional. Essa lei trouxe disposições para as sociedades de grande porte relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras, inclusive na harmonização com as normas e padrões contábeis internacionais. O termo harmonização contábil é utilizado para denominar o processo de conformidade das normas brasileiras às normas internacionais, para tornar a contabilidade mais compreensível e útil no processo de tomada de decisões dos países signatários das normas, o que não significa que não haverá mais diferenças. Portanto, a harmonização busca diminuir as divergências entre as práticas contábeis dos países, mas sem ignorar as diferenças existentes entre eles. 10 TEMA 4 – COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi criado pela Resolução CFC n. 1.055/2005, de 7 de outubro de 2005, cujo objetivo está previsto no art. 3º da norma: Art. 3º O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) tem por objetivo o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (Brasil, 2005) Segundo Rios e Marion (2020): Por meio de pronunciamentos e outras orientações técnicas, cabe ao CPC produzir e divulgar princípios, normas e padrões de contabilidade que caminhem na mesma direção do padrão internacional, representado pelas normas IFRS (International Financial Reporting Standard), emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB). em suas respectivas áreas de atuação, a CVM, o BACEN e demais órgãos e agências reguladoras podem adotar, no todo ou em parte, essas orientações técnicas. Ainda, de acordo com a Resolução n. 1.055/2005, os principais objetivos da harmonização das normas contábeis são: a. A redução de riscos nos investimentos internacionais (quer os sob a forma de empréstimo financeiro quer os sob a forma de participação societária), bem como os créditos de natureza comercial, redução de riscos essa derivada de um melhor entendimento das demonstrações contábeis elaboradas pelos diversos países por parte dos investidores, financiadores e fornecedores de crédito; b. A maior facilidade de comunicação internacional no mundo dos negócios com o uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea; c. A redução do custo do capital que deriva dessa harmonização, o que no caso é de interesse, particularmente, vital para o Brasil. (Brasil, 2005) Até o final do ano de 2020, o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) já emitiu 51 pronunciamentos técnicos, com as orientações e padrões exigíveis para o alinhamento da contabilidade do Brasil às normas internacionais de relatórios financeiros. TEMA 5 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DA HARMONIZAÇÃO DAS NORMAS Já vimos que a adoção das normas internacionais de contabilidade traz para as empresas maior transparência da contabilidade, melhor gestão e poder 11 de decisão, uniformização dos relatórios econômicos e financeiros, além de uma realidade econômica mais eficiente. Há, entretanto, segundo autores, vantagens e desvantagens na adoção da harmonização contábil. Dentre as vantagens, citam-se: a. A apresentação de relatórios contábeis em padrões internacionais dá aos investidores maior segurança e transparência na avaliação dos riscos do investimento, eis que facilita a leitura das informações presentes das demonstrações financeiras; b. Com a adoção das normas internacionais de contabilidade a empresa mostra melhor ampliação e consistência da realidade financeira da empresa; c. A convergência das normas contábeis aos padrões internacionais melhora o processo de comunicação internacional no mundo dos negócios e pode gerar um aumento na atração de recursos externos; d. A harmonização das normas facilita as negociações internacionais, tanto em relação à fixação de preços como na decisão de obtenção de recursos econômicos nos mercados financeiros internacionais; e. A padronização dos relatórios financeiros reduz os custos de elaboração das demonstrações financeiras e de gerenciamento dos sistemas contábeis, para aqueles países que buscam financiamentos; f. Comparabilidade na avaliação do desempenho e da situação competitiva das empresas em nível mundial. Como desvantagens na adoção da harmonização contábil, citam-se: a. A adoção de um único padrão reduz as opções de escolha de práticas contábeis apropriadas de cada país signatário e implica o afastamento de práticas contábeis bem fundamentadas; b. As práticas contábeis, os estudos e as pesquisas da área são deixadas de lado pelos países, o que prejudica às discussões da academia contábil e as técnicas utilizadas podem ser esquecidas; c. Não se aplicam as normas específicas de cada país, de acordo às suas especificidades culturais, legais, políticas, econômicas e financeiras; d. Pode ser considerado como um meio de imposição da vontade dos países economicamente desenvolvidos sobre aqueles em desenvolvimento. 12 Como visto, entre as vantagens e desvantagens prevalece a ideia principal de que a adoção das normas internacionais de contabilidade traz benefícios econômicos e financeiros para os negócios, bem como a abertura de novas possibilidades de investimentos por grupos estrangeiros, pois as demonstrações financeiras harmonizadas dão maior transparência, credibilidade e confiabilidade das transações e operações realizadas pela empresa e reduz os riscos para os investidores. 13 REFERÊNCIAS MÜLLER, A. N.; SCHERER, L. M.; CORDEIRO, C. M. R. Contabilidade avançada e Internacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. NIYAMA, J. K. Contabilidade internacional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. NIYAMA, J. K.; COSTA, P. S.; AQUINO, D. R. B. A. Principais causas das diferenças internacionais no financial reporting: uma pesquisa empírica em instituições de ensino superior do Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. ConTexto, Porto Alegre, v. 5, n. 8, 2. sem. 2005. BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução CFC n. 1.055/2005 de 7 de outubro de 2005. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 24 out. 2005. RIOS, R. P.; MARION, J. C. Contabilidade avançada de acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade e as Normas Internacionais (NBC) e Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS). 2. ed. São Paulo: Atlas, 2020. AULA 2 CONTABILIDADE INTERNACIONAL Profª Ivanes da Glória Mattos 2 INTRODUÇÃO Estimados alunos! Continuando com nosso aprofundamento na Contabilidade Internacional, lembramos que o processo de globalização mundial promoveu a necessidade de harmonização da contabilidade em todos os países signatários e interessados na unificação das demonstrações financeiras. Esse processo exige dos profissionais da área conhecimentos das particularidades de cada país para gerar demonstrações contábeis e financeiras com um mesmo padrão de regras, o que facilita a transparência e entendimento das informações nelas contidas. A evolução da contabilidade retrata o desenvolvimento econômico dos negócios de cada país e estes sofrem a influência de diversos fatores, tais como os valores culturais, a estrutura política, econômica e social, que também refletem nas técnicas e práticas contábeis. Assim, a evolução dos negócios também está vinculada ao nível de desenvolvimento econômico de cada país. Os investidores são atraídos por mercados e economias que conhecem e têm confiança. Dessaforma, as informações e as demonstrações financeiras globais têm maior relevância em detrimento das particularidades nacionais. A partir de agora, começaremos a nos envolver com as normas específicas de cada um dos itens do patrimônio e dos resultados das empresas e, assim, veremos nesta aula: • Estrutura conceitual; • Ajuste a valor presente; • Cálculos do ajuste a valor presente; • Valor justo; • Estoques. TEMA 1 – ESTRUTURA CONCEITUAL A Estrutura Conceitual ganhou importância como documentação indicadora de conceitos e diretrizes que direcionam a elaboração de demonstrações contábil- financeiras no ano de 1998, em vários países da Europa, por meio da International Accounting Standards Committee (IASC) – Comissão de Normas Internacionais de Contabilidade – que emitia os pronunciamentos IAS. O IASB é o organismo substituto do IASC. 3 Aqui em nosso país, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) publicou a Resolução n. 1.374 de 2011, da Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral (NBC TG) que se tornou o marco regulatório mais importante para a regulação da estruturação e divulgação de relatórios contábil-financeiros. Essa normativa implantou a Estrutura Conceitual para a elaboração e divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. A Resolução n. 1.374/2011 é dividida em quatro capítulos, porém os de n. 2 e 4 ainda carecem de revisão e complemento pelo CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. De tal forma, nesta aula, iremos tratar apenas dos Capítulos 1 e 3. No primeiro capítulo, é tratado sobre o “Objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de propósito geral”, e no terceiro capítulo, são tratadas as “Características qualitativas da informação contábil- financeira útil”. O objetivo da Resolução “é ter bases sólidas para normas contábeis futuras que sejam baseadas em princípios, tenham consistência interna e possam convergir para a adoção internacional pelo maior número de países” (Müller; Scherer; Cordeiro, 2019). O Capitulo 1 da Resolução 1.374/2011 do CPC é dividido em três partes: 1. Objetivo do relatório contábil-financeiro de propósito geral; 2. Recursos econômicos, reinvindicações e suas mudanças; 3. Performance financeira refletidas pelo regime de competência e pelos fluxos de caixa. Já no Capítulo 3, que trata das Características Qualitativas da Informação Contábil-Financeira útil, merecem destaque (Müller; Scherer; Cordeiro, 2019): • As características qualitativas fundamentais: relevância e representação fidedigna; • A característica qualitativa de melhora: comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade. Quanto à Estrutura Conceitual, que está prevista no Capítulo 1, ela dita as bases que fundamentam a elaboração das demonstrações contábeis-financeiras destinadas aos usuários externos à empresa, como investidores e agências reguladoras. O CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis, para promover a adequação das demonstrações financeiras às Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) emitidas pelo IASB, adota a Estrutura Conceitual para 4 Relatórios Financeiros no desenvolvimento dos seus Pronunciamentos Contábeis. Segundo a OB1 do Capítulo 1, contida na Resolução, a Estrutura Conceitual aborda: • O objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro; • As características qualitativas da informação contábil-financeira útil; • A definição, o reconhecimento e a mensuração dos elementos a partir dos quais As demonstrações contábeis são elaboradas; e • Os conceitos de capital e de manutenção de capital. Quanto às finalidades da Estrutura Conceitual, citam-se: • Auxiliar o desenvolvimento de novos Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações e a revisão dos já existentes, para eles terem bases em conceitos sólidos e confiáveis. • Auxiliar os responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis a desenvolver políticas contábeis consistentes e baseadas nas referidas normas, bem como amparar os usuários a entender e interpretar os pronunciamentos. • Promover a harmonização das normas contábeis e dos procedimentos relacionados à apresentação das demonstrações financeiras. A Estrutura Conceitual pode ser revisada de tempos em tempos, de acordo com as necessidades e experiências na sua utilização, pois ela deve sempre estar em busca do cumprimento da sua missão declarada pelas IFRS Fundação e do IASB, que é de desenvolver pronunciamentos que tragam clareza na prestação de contas e eficácia aos mercados financeiros mundiais. 1.1 Relatório Contábil Financeiro de Propósito Geral A Estrutura Conceitual para Relatórios Financeiros apresenta os objetivos e os conceitos para a elaboração dos relatórios financeiros para fins gerais que, aliás, não são elaborados apenas para se chegar ao valor da entidade que reporta a informação; mas a rigor, fornecem informação para auxiliar investidores, credores por empréstimo e outros credores, existentes e em potencial (Capítulo 1, OB7, Resolução 1.374/2011). 5 Quanto aos objetivos dos relatórios contábeis-financeiros de propósito (fim) geral, eles estão previstos no Capítulo 1, na OB2 da Resolução 1.374/2011, que são: • Fornecer informações contábil-financeiras tempestivas acerca da entidade que reporta essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes e em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando da tomada decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade. • Fornecer, tempestivamente, informações suficientes para a tomada de decisões que envolvem comprar, vender ou manter participações em instrumentos patrimoniais e em instrumentos de dívida, e oferecer ou disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito. • Apresentar a performance financeira das empresas que estará refletida pelo regime de competência e pelos fluxos de caixa. O regime de competência reflete a situação econômica da entidade em dado momento, mesmo que os pagamentos e recebimentos à vista resultantes ocorram em período diferente. Já o fluxo de caixa indica quais foram as saídas e entradas de dinheiro no caixa durante o período e o resultado desse fluxo. Ele “permite identificar informações sobre empréstimos e resgates de títulos de dívidas, dividendos e outras distribuições para seus investidores, além da possibilidade de prever problemas de liquidez e solvência.” (Müller; Scherer; Cordeiro, 2019). Como se observa na Resolução 1.374/2011, e o próprio nome indica – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro –, a finalidade da Estrutura Conceitual não se restringe a meras demonstrações contábeis, mas engloba também as divulgações financeiras como um todo. Nesse sentido, é possível aos interessados (investidores e credores) obterem informações sobre a Posição Patrimonial e Financeira, ou seja, quais são os recursos e as obrigações da empresa que indicam a disponibilidade ou a ausência de recursos financeiros; e sobre o Desempenho, que indica como está sendo feita a administração e a utilização dos recursos financeiros e que refletem na eficiência da gestão e na prestação de contas. Por meio dos relatórios contábeis e financeiros, é possível aos usuários fazer projeções dos fluxos de caixa futuros da empresa (função preditiva) e 6 analisar a atuação dos gestores (função confirmatória), de modo a reduzir as incertezas quanto aos resultados do negócio no momento de investir. 1.2 Características qualitativas da informação contábil-financeira útil No Capítulo 3 da Estrutura Conceitual – Resolução 1.374/2011 – estão contidas as características qualitativas consideradas mais úteis e que devem estar presentes nas Demonstrações Contábeis. Elas distinguem as informações mais úteis aos credores e aos investidores para que tomem as decisõesbaseadas nos dados contidos nas informações financeiras (QC 1 – Resolução 1.374/2011). Nesse sentido, há dois tipos de características que os relatórios devem obrigatoriamente apresentar: • Fundamentais ou obrigatórias, relacionadas à relevância e à representação fidedigna. Informação contábil-financeira relevante é aquela capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários. A informação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão mesmo no caso de alguns usuários decidirem não a levar em consideração, ou já tiverem tomado ciência de sua existência por outras fontes (QC6). As Informações financeiras são capazes de fazer diferença em decisões se tiverem valor preditivo, com a projeção de resultados futuros que auxiliem na tomada de decisões sobre o futuro da entidade, ou valor confirmatório que fornecem feedback sobre (confirmam ou alteram) avaliações anteriores, ou ambos (QC7 à QC10). Quanto à informação, para ser representação perfeitamente fidedigna, a realidade retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro. O objetivo é maximizar referidos atributos na extensão que seja possível (QC12). 1.3 Características qualitativas de melhoria As características qualitativas de melhoria completam as informações fundamentais e aperfeiçoam a utilidade da informação que é relevante e que é representada com fidedignidade. Essas características são divididas em quatro itens: 1. Comparabilidade: as decisões de usuários implicam escolhas entre alternativas, como, por exemplo, vender ou manter um investimento, ou investir em uma entidade ou noutra. Consequentemente, a informação 7 acerca da entidade que reporta informação será mais útil caso possa ser comparada com informação similar sobre outras entidades e com informação similar sobre a mesma entidade para outro período ou para outra data. A comparação requer no mínimo dois itens (QC20). 2. Verificabilidade: ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa fidedignamente o fenômeno econômico que se propõe representar. A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa verificar um montante ou outra representação por meio de observação direta, como, por exemplo, por meio da contagem de caixa. Verificação indireta significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um exemplo é a verificação do valor contábil dos estoques por meio da checagem dos dados de entrada (quantidades e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques utilizando a mesma premissa adotada no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS) (QC 26 e 27). 3. Tempestividade: significa ter informação disponível para tomadores de decisão a tempo de poder influenciá-los em suas decisões. Quanto mais antiga a informação for, menos útil ela será para o tomador de decisões, por isso, os relatórios contábeis devem refletir as situações econômica e financeira atuais (QC29). 4. Compreensibilidade: significa classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza e concisão torna-a compreensível. 1.4 Restrição de custo na elaboração e divulgação de relatório contábeis- financeiro O custo de gerar a informação é uma restrição sempre presente na entidade no processo de elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. O processo de elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro impõe custos, sendo importante que ditos custos sejam justificados pelos benefícios gerados pela divulgação da informação (QC35). 8 1.5 Estrutura Conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis: texto remanescente O Capítulo 4 da Estrutura Conceitual em vigor ainda está em processo de revisão, mas atualmente está dividido nos seguintes tópicos: • Premissa Subjacente – Continuidade: as demonstrações contábeis normalmente são elaboradas tendo como premissa que a entidade está em atividade (going concern assumption) e irá manter-se em operação por um futuro previsível. Desse modo, parte-se do pressuposto de que a entidade não tem a intenção, nem tampouco a necessidade, de entrar em processo de liquidação ou de reduzir materialmente a escala de suas operações (Item 4, Resolução 1.374/2011). • Elementos das demonstrações contábeis: as demonstrações contábeis retratam os efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos, por meio do grupamento dos mesmos em classes amplas de acordo com as suas características econômicas. Estes são os elementos das demonstrações contábeis, relacionados à mensuração da posição patrimonial e financeira no balanço patrimonial e na Demonstração do Resultado do Exercício que são os ativos, os passivos e o patrimônio líquido, as Receitas e as Despesas, respectivamente (4.2). • Reconhecimento dos elementos das demonstrações contábeis: reconhecimento é o processo que consiste na incorporação ao balanço patrimonial ou à demonstração do resultado de item que se enquadre na definição de elemento e que satisfaça os critérios de reconhecimento. Envolve a descrição do item, a mensuração do seu montante monetário e a sua inclusão no balanço patrimonial ou na demonstração do resultado. Os itens que satisfazem os critérios de reconhecimento devem ser reconhecidos no balanço patrimonial ou na demonstração do resultado (4.37). • Mensuração dos elementos das demonstrações contábeis (4.55). Mensurar os elementos significa que, nas demonstrações contábeis, eles são quantificados em termos monetários. A base de mensuração é uma característica identificada e pode ser realizada pelos seguintes critérios: 9 • Custo histórico – fornece informações monetárias sobre ativos, passivos e respectivas receitas e despesas, utilizando informações oriundas do preço da transação ou outro evento que deu origem a eles. • Custo corrente – Indicam os valores dos elementos do Patrimônio à época da elaboração das demonstrações contábeis, independentemente da data da aquisição ou pagamento. • Valor realizável – Valor de realização ou de liquidação. Os ativos são mantidos pelos montantes em caixa ou equivalentes de caixa que poderiam ser obtidos pela sua venda em forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos seus montantes de liquidação. • Valor presente – Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado dos fluxos futuros de entradas líquidas de caixa que se espera que sejam gerados pelo item no curso normal das operações. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado dos fluxos futuros de saídas líquidas de caixa que se espera que serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações. Com relação ao conceito de Capital e de manutenção do Capital, a Estrutura Conceitual traz dois conceitos de capital: (4.57) 1. Capital financeiro ou monetário – Refere-se aos Ativos Líquidos da entidade ou o Patrimônio Líquido de acordo com o conceito de capital financeiro. Nesse sentido, tal como o dinheiro investido ou o seu poder de compra investido, o capital é sinônimo de ativos líquidos ou patrimônio líquido da entidade. 2. Capital físico – Refere-se à capacidade operacional da entidade e indica o lucro a partir da capacidade operacional da entidade. Segundo o conceito de capital físico, tal como a capacidade operacional, o capital é considerado como a capacidade produtiva da entidade baseada, por exemplo, nas unidades de produção diária. TEMA 2 – AJUSTE AO VALOR PRESENTE A contabilidade, em regra, registra os fatos contábeis de acordo com os valores transcritos nos documentos fiscais que deram origem às operações. Porém, com o advento da Lei n. 11.638/2007, passou a ser obrigatória a necessidade de realizar os ajustes dos itens patrimoniais a valor presente na 10escrituração contábil para demonstrar o valor real da operação na data de emissão do demonstrativo financeiro. Art. 183, VIII - os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. Art. 184, III - as obrigações, encargos e riscos classificados no passivo exigível a longo prazo serão ajustados ao seu valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante. (Brasil, 2007) O Comitê de Pronunciamentos Contábeis publicou, em 2008, o Pronunciamento Técnico CPC n. 12, que trata de Ajuste a Valor Presente, cujo documento foi aprovado pela Deliberação CVM 564/2008 e determina que o Ajuste ao Valor Presente – AVP deve ser feito em todos os elementos do ativo e do passivo de longo prazo e todos os demais elementos patrimoniais de curto prazo, caso tais ajustes tenham efeito relevante nas demonstrações levantadas. O Pronunciamento faz distinção entre valor presente e valor justo, indicando que o valor presente – present value – é utilizado para atualizar o valor do dinheiro no tempo, considerando inflação, juros e desvalorização da moeda, por exemplo. Já o valor justo – fair value – é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado ou uma dívida ser quitada pelo seu valor real, por acordo entre as partes interessadas. TEMA 3 – CÁLCULOS DE AJUSTE A VALOR PRESENTE Este ajuste tem como objetivo trazer para o valor atual os direitos e as obrigações – Ativo e Passivo – da empresa que serão realizados ou exigidos em uma data futura. Para se determinar o valor presente de um fluxo de caixa, é necessário o conhecimento de três informações: 1. O valor futuro do item patrimonial (considerando todos os termos e as condições contratados); 2. A data do referido fluxo financeiro (data futura) e 3. A taxa de desconto aplicável à transação. 3.1 Exemplos de cálculos e contabilização de ativos Vamos analisar um fato calculando e demonstrando sua contabilização do Ajuste a Valor Presente de Ativos, que é a venda de mercadorias, com prazo de 11 recebimento de 2 meses para o recebimento, pelo valor de R$ 120.000,00, com juros inclusos de 8 %. Após o cálculo financeiro, foi apurado um valor presente de R$ 102.882,58 (120.000,00 PV; 8 i; 2 n) Na fórmula M = P/ (1 + i)n , onde: P = Principal ou Valor Presente (PV = present value) M = Montante ou Valor Futuro (FV = future value). i = Taxa n = tempo Pela transação de venda: D – Contas a receber R$ 120.000,00 C – Receita de venda R$ 120.000,00 Pelo registro do Ajuste a Valor Presente: D – Ajuste a Valor Presente (conta de resultado) R$ 17.117,42 C – AVP – Juros a Transcorrer (redutora das contas a receber) R$ 17.117,42 Pela apropriação mensal: D – AVP Juros a Transcorrer R$ 8.558,71 C – Receita Financeira AVP R$ 8.558,71 3.2 Exemplos de cálculos e contabilização de passivos Neste exemplo, analisaremos o cálculo e a Contabilização de Ajuste a Valor Presente de Passivos, com a compra de mercadoria com prazo de 2 meses para o pagamento, pelo valor de R$ 150.000,00, com juros inclusos de 10 %. Após o cálculo financeiro, foi apurado um valor presente de R$ 128.602,75 (150.000,00 PV; 8 i; 2 n; PV) na fórmula M = P/ (1 + i)n , onde: P = Principal ou Valor Presente (PV = present value) M = Montante ou Valor Futuro (FV = future value). i = Taxa n = tempo Pela transação de compra: D – Estoque R$ 150.000,00 C – Fornecedores R$ 150.000,00 12 Pelo registro do Ajuste a Valor Presente: D – AVP Juros a Incorrer (conta redutora de Fornecedores) R$ 21.397,25 C – Ajuste a Valor Presente (conta de resultado) R$ 21.397,25 Pela apropriação mensal: D – Despesas Financeiras AVP R$ 10.698,63 C – AVP Juros a Incorrer R$ 10.698,63 As informações quanto ao ajuste a valor presente devem ser divulgadas em notas explicativas para que os usuários das demonstrações contábeis tenham total entendimento quanto à mensuração do ajuste de ativos e passivos. Elas devem seguir os requisitos conforme consta no NBC TG 12 (CFC, 2008): • Descrição pormenorizada do item objeto da mensuração a valor presente, natureza de seus fluxos de caixa (contratuais ou não) e, se aplicável, o seu valor de entrada cotado a mercado; • Premissas utilizadas pela administração, taxa de juros decompostas por prêmios incorporados e por fatores de riscos (risk-free, risco de crédito, etc.), montantes dos fluxos de caixa estimados ou séries de montantes dos fluxos de caixa estimados, horizontes temporal ou esperado, expectativas em termos de montante e temporalidade dos fluxos (probabilidades associadas); • Modelos utilizados para cálculo de riscos e imputs dos modelos; • Breve descrição do método de alocação dos descontos e do procedimento adotado para acomodar mudanças de premissas da administração; • Propósito da mensuração a valor presente, se para reconhecimento inicial ou nova medição e motivação da administração para levar a efeito tal procedimento; • Outras informações consideradas relevantes. O Ajuste a Valor Presente viabiliza para a organização vantagens, tais como: correção de julgamento referente a eventos passados já registrados; melhor forma de reconhecimento de eventos presentes e demonstrações contábeis com maior grau de relevância (CFC, 2008b). De acordo com Iudícibus et al. (2010), os procedimentos de ajustar ativos e passivos a valor presente contribuem para a elaboração de demonstrações 13 contábeis, com maior valor preditivo, contribuindo para o aumento da relevância das informações. TEMA 4 – VALOR JUSTO Um dos principais pilares das normas internacionais de contabilidade, que gerou a introdução dos padrões contábeis internacionais no Brasil, foi a mensuração do Valor Justo, cujo objetivo maior foi determinar a forma de cálculo do Valor Justo e de divulgar as informações. Esse assunto está previsto na NBC – TG n. 46 (Normas Brasileiras de Contabilidade – Gerais), Pronunciamento Técnico CPC 46. O valor justo – fair value – é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado ou uma dívida ser quitada pelo seu valor real, por acordo entre as partes interessadas baseado em valores de mercado, ou, de acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, em seu Pronunciamento Técnico n. 46, Valor Justo é: “O preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo, em uma transação não forçada, entre os envolvidos na data da mensuração”. 4.1 Aplicação do Valor Justo A aplicação do Valor Justo ocorre quando as partes contratantes decidem, entre si, negociar valores do ativo ou de uma dívida a ser quitada pelo seu valor real. A NBC 46 prevê algumas situações em que pode ser utilizada a negociação pelo valor justo, tais como: • Títulos e Valores Mobiliários; • Derivativos; • Combinações de negócios; • Reavaliação de Ativos; • Reconhecimento de receitas; • Propriedades para investimentos; • Ativos Biológicos. 14 4.2 Métodos de mensuração O item 7 da NBC-TG 46 especifica que a mensuração do valor justo se destina a um ativo ou passivo em particular, de acordo com as características de cada um, tais como: a condição e a localização do ativo, e restrições, se houver, para a venda ou o uso do ativo. Para a mensuração, utilizam-se o ativo ou passivo individuais (exemplo: instrumento financeiro ou ativo não financeiro) e ativo ou passivo em grupos (exemplo: unidade geradora de caixa ou um negócio). Para o cálculo do valor justo, deve-se levar em consideração o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada no mercado principal na data de mensuração nas condições atuais de mercado. Para estabelecer o valor justo, utilizam-se três métodos, quais sejam: 1. Abordagem de Mercado: este método utiliza-sede preços que foram observados e outras informações relevantes ao produto, em transações no mercado que envolvem ativos ou passivos considerados semelhantes (CPC 46, B5). 2. Abordagem de Receita: também conhecida por Fluxo de Caixa Descontado, mediante a uma taxa de desconto, essa técnica traz a valor presente montantes futuros (CPC 46, B10). 3. Abordagem de Custo: é também conhecida por custo de reposição do ativo. O CPC 46, B diz: “o custo de reposição geralmente utilizados para ativos e passivos tangíveis”. Esse método usa como base o custo de reposição ou de substituição. Nos casos de ativos obsoletos, o valor deve ser depreciado no seu valor final. Além destes, há outros aspectos importantes na CPC 46 e que devem ser levados em consideração, tais como: • Valor Justo: hierarquia de Divulgação, que trata da forma como a divulgação dos resultados deve ser realizada, levando em consideração as Técnicas de avaliação utilizadas, as variáveis utilizadas e os dados de entrada. • Mercado Principal ou Mais Vantajoso, que trata da forma como se faz a avaliação de Valor Justo, a qual deve se dar no mercado em que os bens do ativo e passivo sejam transacionados. O CPC 46, no parágrafo 17, 15 determina: “A entidade não necessita empreender uma busca exaustiva de todos os possíveis mercados para identificar o mercado principal ou, na ausência de mercado principal, o mercado mais vantajoso, mas ela deve levar em consideração todas as informações que estejam disponíveis”. • Participantes do mercado: o CPC 46, parágrafo 42, determina as suas necessárias características: “A entidade deve mensurar o Valor Justo de um ativo ou passivo utilizando as premissas que os participantes do mercado utilizariam ao precificar o ativo ou o passivo, presumindo-se que os participantes do mercado ajam em seu melhor interesse econômico”. • Quando não houver transações no mercado, a CPC 46 estabeleceu que, se na data da mensuração não forem conhecidas transações para o ativo ou passivo, o avaliador se utilizará de outras possibilidades, tais como: dados históricos, taxa de depreciação, valor do bem novo e valor daquele ativo ou passivo no mercado, na data da avaliação. • Quanto ao Preço, o CPC 46 especifica que, dentro de um mercado previamente determinado, em que o ativo ou passivo é negociado, o valor recebido pela venda é o preço a ser usado, e podem incluir-se nesse preço os custos de transporte, mas não os custos de transação. • Aplicação a ativos não financeiros: neste caso, o CPC 46 determina que: “a mensuração do valor justo de um ativo não financeiro leva em consideração a capacidade do participante do mercado de gerar benefícios econômicos utilizando o ativo em seu melhor uso possível (highest and best use) ou vendendo-o a outro participante do mercado que utilizaria o ativo em seu melhor uso.” • Dificuldade da avaliação de Valor Justo. É difícil para o avaliador, na avaliação dos ativos e passivos, trabalhar com a subjetividade de muitos critérios ditados pelo CPC 46, tais como o avanço tecnológico e a aceitação do mercado. Por isso, o técnico avaliador especialista deve considerar que o valor justo reflete um ativo ou um passivo em um dado momento específico, mas que poderá sofrer mudanças em um período curto de tempo. 16 TEMA 5 – ESTOQUES A Norma Reguladora que trata desse tema é a IAS 2 (CPC 16) – Avaliação e Apresentação de Estoques no Contexto do Sistema de Custo Histórico, que estabelece o tratamento contábil para os estoques. Essa norma, que criou um padrão internacional de relatório financeiro para o tratamento dos estoques, define como os custos de estoque devem ser reconhecidos. Ao mesmo tempo, orienta sobre as técnicas de mensuração e as fórmulas dos custos, além do reconhecimento das receitas e despesas relacionados aos estoques e, ainda, quais são os critérios utilizados para a atribuição dos custos aos estoques. Nas instituições, independentemente do ramo de negócio, os estoques são ativos que elas têm para o desenvolvimento de sua atividade, e cada um deles funcionam de acordo com o tipo de empresa, mas em todas elas, a movimentação dos produtos e mercadorias reflete significativamente nas demonstrações financeiras. O estoque nada mais é do que um conjunto de produtos armazenados dentro das empresas, sejam eles insumos para o processo de produção, produtos em elaboração (em produção) ou produtos finais, prontos para a venda. A gestão dos estoques é de fundamental importância, pois ela reflete nos resultados, positivos ou negativos, da instituição. Segundo a IAS 2, os estoques são ativos e são assim denominados: • Mantidos para venda no curso normal dos negócios; • Em processo de produção para venda; ou • Na forma de materiais ou suprimentos a serem consumidos ou transformados no processo de produção ou na prestação de serviços. 5.1 Custo dos estoques Os estoques, objetos do Pronunciamento IAS 2 (CPC 16), devem ser mensurados pelo valor de custo ou pelo valor realizável líquido, dos dois o menor. Os itens que compõem o estoque são: • Custos de aquisição; • Custos de transformação; dguimaraes Realce dguimaraes Realce 17 • Custos fixos indiretos que devem ser alocados às unidades produzidas baseada na capacidade normal de produção. Os custos de aquisição são compostos pelo preço de compra, mas também dos impostos, de importação (se for o caso), tributos não sujeitos à recuperação. Adiciona-se ao custo do produto, todos os desembolsos relacionados com a aquisição do produto, como transportes. Já os custos de produção envolvem mais situações, pois além do custo de aquisição dos insumos, agrega-se o custo com a mão de obra, custos variáveis e custos fixos. (IAS 2) 5.2 Mensuração de custos A mensuração pode ser feita por meio de dois métodos, que são o custo- padrão e o método de varejo. O custo-padrão considera os níveis de materiais, suprimentos, mão de obra, enquanto o método de varejo é utilizado quando há um grande volume de itens, com giro rápido, com margens similares, o que dificulta o uso de outros métodos de custo. (IAS2). 5.3 Fórmulas de custeio Há três métodos de mensurar o valor do estoque e dos custos nas empresas. O PEPS – Primeiro que entra, primeiro que sai –, a MPM – Custo Médio (Média Ponderável) Ponderável – e o UEPS – Último que entra, primeiro que sai. Esse último método não é permitido para fins fiscais e contábeis, mas apenas para fins gerenciais, eis que supervaloriza o custo no momento da baixa dos estoques, o que pode diminuir o resultado tributável. Na maioria dos casos, os estoques devem ser baixados utilizando-se o método PEPS (primeiro que entra, primeiro que sai), mas também é aceita a baixa pelo Custo médio ponderado, sendo que a entidade deve usar o mesmo critério de custeio para todos os estoques que tenham natureza e uso semelhantes dentro da instituição. Com a utilização do método da média ponderada móvel, os custos dos produtos em estoque são alterados por meio de novas compras realizadas, que normalmente acontecem com preços diferentes e, assim, ao final, tem-se o estoque valorado a um preço médio. 18 5.4 Valor realizável líquido É comum nas empresas que possuem um grande número de itens perceber-se a necessidade de baixar alguns itens de seu estoque, seja porque esses ativos têm pouca rotatividade ou são produtos fora de linha, obsoletos, avariados. Esses itens devem ser baixados ao seu valor realizável líquido e o ajuste para esse valor deve ser feito item por item. O valor realizável líquido é o preço de venda estimado no curso normal dos negócios deduzido dos custos estimados para sua conclusão e dos gastos estimados necessários para se concretizar a venda (IAS 2). O reconhecimento dos custos de estoque só deve ser realizado no momento da venda, ou seja, no mesmo períodoem que a respectiva receita é reconhecida. As movimentações dos estoques, bem como o reconhecimento das receitas e despesas, devem ser divulgadas nas demonstrações financeiras que obedeçam às normas internacionais de contabilidade. 19 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.374, de 8 de dezembro de 2011. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 dez. 2011. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 46 – mensuração do valor justo. Disponível em: < http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/395_CPC_46_rev%2006.pdf>. IUDÍCIBUS, S. de. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Editora Atlas, 2010. MÜLLER, A. N.; SCHERER, L. M.; CORDEIRO, C. M. R. Contabilidade Avançada e Internacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. AULA 3 CONTABILIDADE INTERNACIONAL Profª Ivanes da Glória Mattos 2 INTRODUÇÃO Nesta aula vamos analisar sobre o tratamento dado aos Ativos das empresas, de acordo com as normas internacionais de contabilidade. A partir de agora, começaremos a nos envolver com as normas específicas de cada um dos itens do patrimônio e dos resultados das empresas e, assim, veremos: 1. Ativos biológicos e produtos agrícolas 2. Ativo não circulante mantido para venda e operações descontinuadas 3. Propriedade para investimentos 4. Ativo imobilizado: aspectos conceituais 5. Cálculos de depreciação e exaustão Vamos, então, seguir com a nossa trajetória! Crédito: zmicier kavabata/Shutterstock. TEMA 1 – ATIVOS BIOLÓGICOS E PRODUTOS AGRÍCOLAS Pelo pronunciamento CPC 29 (IAS 41) foi normatizado o tratamento a ser dado pela contabilidade aos ativos biológicos e aos produtos agrícolas sua mensuração a valor justo e das avaliações contábeis. Seu contexto mais relevante tem por finalidade o reconhecimento contábil dos ativos biológicos e sua passagem para produtos agrícolas após a colheita. Segundo a norma, o CPC 29 aplica-se nos seguintes casos: a) ativos biológicos, exceto plantas portadoras; b) produção agrícola no ponto de colheita e certas subvenções governamentais. A planta portadora é uma planta viva que: i. é utilizada na produção ou no fornecimento de produtos agrícolas; ii. é cultivada para produzir frutos por mais de um período; e 3 iii. tem uma probabilidade remota de ser vendida como produto agrícola, exceto para eventual venda como sucata. Já na produção agrícola, produção é o produto colhido de ativo biológico da entidade; o ativo biológico, por sua vez, é um animal e/ou uma planta, vivos. Porém, as regras do CPC 29 não são aplicáveis para: a) terras relacionadas com atividades agrícolas; b) plantas portadoras relacionadas com a atividade agrícola; c) subvenção e assistência governamentais relacionadas às plantas portadoras; d) ativos intangíveis relacionados com atividades agrícolas. São exemplos de atividade agrícola: i. aumento de rebanhos; ii. silvicultura; iii. colheita anual ou constante; iv. cultivo de pomares e de plantações; v. floricultura; e vi. cultura aquática (incluindo criação de peixes). 1.1 Conceitos Ativos biológicos são seres vivos (plantas e animais), que passado seu processo de colheita, tornam-se produtos agrícolas, que estão sujeitos, conforme as normas, a uma avaliação de valor justo. Estes ativos são transformados, e neste momento, quando a vida de um ser vivo chega ao seu final, estes passam a ter outra característica contábil. Eles podem ser classificados como: maduros (consumíveis e prontos para a colheita) ou imaturos (sustentam colheitas regulares e são próprios para a produção), ou ainda, como consumíveis ou de produção. São exemplos de ativos biológicos: a) carneiro; b) plantação de árvores para madeira; c) gado de leite; d) cana-de-açúcar; e) videira; f) porcos; 4 g) plantações de algodão e de fumo; h) seringueira. Um exemplo de fácil entendimento são as árvores que fornecem madeiras; ainda na plantação, são ativos biológicos. À medida que são cortadas, tornam-se produtos agrícolas, mas ainda poderão se transformar em madeira serrada, quando, então, não fará mais parte do reconhecimento do CPC 29. A cana-de- açúcar é outro exemplo de um ativo biológico que, após transformado biologicamente, passa a ser um produto agrícola, e após, açúcar, quando então não fará mais parte do reconhecimento do CPC 29. De acordo com o CPC 29, produção agrícola é a colheita de ativos biológicos. Já a transformação biológica compreende as várias mudanças físicas que ocorrem nos ativos em função dos processos que passam, como crescimento, degeneração, procriação e produção. Esses processos geram alterações de qualidade e quantidade no ativo biológico, o que consequentemente, altera o seu valor justo. Os produtos agrícolas são aqueles que servem de alimento às pessoas e podem ser vegetais e animais. Valor justo, por sua vez, é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. 1.2 Valoração de ativos biológicos: fatores que influenciam Para calcular esses benefícios é utilizado o método do valor justo e custo desse ativo, naturalmente sempre considerando a depreciação e riscos de perda. É necessário entender particularidades de cada região em que o ativo estiver instalado, já que essas variáveis são influências para valores praticados em determinados ativos biológicos, o que pode afetar uma decisão. Há vários fatores que podem influenciar a valoração do produto, tais como: • oferta e demanda; • situação climática; • possíveis produtos substitutos; • tratamentos culturais; • economia. Para definir o valor justo é necessário análise profunda da estrutura do agronegócio no país, pois as características elencadas podem gerar distorções, 5 por exemplo, de região para região. Por exemplo, a condição da terra onde o ativo está e o clima. 1.3 Reconhecimento, mensuração e ganhos e perdas A entidade deve reconhecer um ativo biológico ou produto agrícola quando, e somente quando (CPC 29, item 10): a) controla o ativo como resultado de eventos passados; b) for provável que benefícios econômicos futuros associados ao ativo fluirão para a entidade; e c) o valor justo ou o custo do ativo puder ser mensurado confiavelmente. A mensuração do ativo biológico deve ser feita pelo valor justo menos a despesa de venda no momento do reconhecimento inicial e no final de cada período de competência. Já o produto agrícola colhido de ativos biológicos da entidade deve ser mensurado ao valor justo, menos a despesa de venda, no momento da colheita. O ganho ou a perda proveniente da mudança no valor justo menos a despesa de venda de ativo biológico reconhecido no momento inicial até o final de cada período deve ser incluída no resultado do exercício em que tiver origem. Já o ganho ou a perda proveniente do reconhecimento inicial do produto agrícola ao valor justo menos a despesa de venda deve ser incluído no resultado do período em que ocorrer. Quando for possível obter de forma confiável o valor justo, o ativo biológico deve ser mensurado ao custo menos qualquer depreciação e perda por irrecuperabilidade acumulada. Quando aos ativos biológicos que estão fisicamente amarrados à terra, como as árvores, devem ser mensurados separadamente da terra em que se encontram. Por outro lado, o CPC 29 informa que na avaliação de um ativo biológico, quando o preço de mercado não está disponível e as alternativas para mensurá-lo não são confiáveis, o ativo biológico seja avaliado ao custo. 1.4 A Lei n. 11.638/07 e os ativos biológicos A Lein 11.638, de 28 de dezembro de 2007, trouxe mudanças na Lei das sociedades Anônimas (Lei n. 6.4040/76), revogando, alterando e introduzindo alguns dispositivos, mais especificamente sobre assuntos que envolvem a 6 contabilidade. A partir dela, houve integração das demonstrações financeiras das companhias nacionais e as internacionais, devendo ambas se adequarem ao padrão IFRS (International Financial Reporting Standards). Para a avaliação de ativos biológicos, a Lei n. 11.638/2007 exige que os produtores apresentem a divulgação contábil correta dos seus ativos biológicos, seguindo o IFRS, e estando sujeitos a penalidades caso não a sigam da maneira devida. TEMA 2 – ATIVO NÃO CIRCULANTE MANTIDO PARA VENDA E OPERAÇÕES DESCONTINUADAS Esse tema é tratado pelo Pronunciamento CPC 31 (IFRS 5), que fornece subsídios para o reconhecimento e a evidenciação das operações de descontinuidade de operações. Uma operação em descontinuidade é qualquer operação negocial diversa da área em que a empresa atua regularmente. Já um elemento indissociável da operação em descontinuidade é o ativo não circulante mantido para venda. A norma informa que a operação descontinuada é o componente da entidade que tenha sido alienado ou esteja classificado como mantido para venda e: a) represente importante linha separada de negócios ou área geográfica de operações; b) seja parte integrante de um único plano coordenado para vender uma importante linha separada de negócios ou área geográfica de operações; ou c) seja uma controlada adquirida exclusivamente com o objetivo de revenda. Operações descontinuadas são bens do ativo não circulante postos à venda; logo, as receitas e despesas decorrentes são as operações descontinuadas. O Pronunciamento também trata da classificação de ativo não circulante como mantido para venda: i. A entidade deve classificar um ativo não circulante como mantido para venda se o seu valor contábil for recuperado, principalmente, por meio de transação de venda em vez do uso contínuo; ii. Para que esse seja o caso, o ativo ou o grupo de ativos mantido para venda deve estar disponível para venda imediata em suas condições atuais, sujeito apenas aos termos que sejam habituais e costumeiros para venda 7 de tais ativos mantidos para venda. Com isso, a sua venda deve ser altamente provável; é considerada provável a venda quando: a) o nível hierárquico de gestão apropriado esteja comprometido com o plano de venda do ativo; b) a entidade tenha iniciado um programa firme para localizar um comprador; e c) o ativo seja colocado para a venda por preço que seja razoável em relação ao seu valor justo corrente. 2.1 Mensuração e apresentação Quanto à mensuração e apresentação, a norma (CPC 31) dispõe que os ativos que satisfaçam aos critérios de classificação como não circulantes mantidos para venda sejam: a) mensurados pelo menor: entre o valor contábil e o valor justo menos as despesas de venda, e que a depreciação ou a amortização desses ativos cesse; b) apresentados separadamente no balanço patrimonial e que os resultados das operações descontinuadas sejam apresentados separadamente na demonstração do resultado. O ativo não circulante será considerado para distribuição aos sócios quando a entidade está comprometida para distribuir esse ativo (ou grupo de ativos) aos proprietários. O critério para essa classificação é que os ativos estejam disponíveis para imediata distribuição na sua condição atual e que a distribuição seja altamente provável. A forma da sua mensuração será pelo menor valor entre seu valor contábil e seu valor justo diminuído das despesas de distribuição. O bem mantido no ativo não circulantes para venda não deverá ser depreciado (nem amortizado) enquanto estiver classificado como mantido para venda ou enquanto fizer parte de grupo de ativos classificado como mantido para venda. A entidade deve apresentar e divulgar informação que permita aos usuários das demonstrações contábeis avaliarem os efeitos financeiros das operações descontinuadas e das baixas de ativos não circulantes mantidos para venda (CPC 31). 8 TEMA 3 – PROPRIEDADE PARA INVESTIMENTOS O tratamento contábil sobre a propriedade para investimento está previsto no Pronunciamento Técnico CPC 28, em correlação às Normas Internacionais de Contabilidade IAS 40. Segundo a regra do Pronunciamento Contábil do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), um bem para investimento é a propriedade (terreno ou edifício, ou parte de edifício, ou ambos) mantida pelo proprietário ou arrendatário (em arrendamento financeiro) para auferir aluguel ou para valorização do capital ou para ambas. Não são consideradas para investimento as propriedades: a) usadas na produção ou fornecimento de bens/serviços ou para finalidades administrativas; b) destinadas para venda no curso ordinário do negócio. As propriedades para investimento são mantidas para obter rendas e/ou para valorização do capital ou para ambas, e por isso são classificadas no subgrupo Investimentos, dentro do ativo não circulante. Como essas propriedades geram fluxos de caixa independentes dos outros ativos mantidos pela entidade, são distintos das demais propriedades ocupadas pelos proprietários que são classificadas como ativo imobilizado. 3.1 Exemplos de propriedade para Investimento De acordo com o Pronunciamento CPC 28 (IAS 40) são exemplos de propriedades para investimentos: a) terrenos mantidos para valorização de capital a longo prazo e não para venda a curto prazo no curso ordinário dos negócios; b) terrenos mantidos para futuro uso correntemente indeterminado (se a entidade não tiver determinado que usará o terreno como propriedade ocupada pelo proprietário ou para venda a curto prazo no curso ordinário ATIVO Circulante Não Circulante Realizável a Longo Prazo Investimentos Imobilizado 9 do negócio, o terreno é considerado como mantido para valorização do capital); c) edifício que seja propriedade da entidade (ou ativo de direito de uso relativo a edifício mantido pela entidade) e que seja arrendado sob um ou mais arrendamentos operacionais; d) edifício que esteja desocupado, mas mantido para ser arrendado sob um ou mais arrendamentos operacionais; e) propriedade que esteja sendo construída ou desenvolvida para futura utilização como propriedade para investimento. 3.2 Exemplos de propriedades são consideradas como propriedades para investimento pelo pronunciamento 28 a) propriedade destinada à venda no decurso ordinário das atividades ou em vias de construção ou desenvolvimento para tal venda, como propriedade adquirida exclusivamente com vista à alienação subsequente no futuro próximo ou para desenvolvimento e revenda; b) propriedade ocupada pelo proprietário, incluindo (entre outras coisas) propriedade mantida para uso futuro como propriedade ocupada pelo proprietário, propriedade mantida para desenvolvimento futuro e uso subsequente como propriedade ocupada pelo proprietário, propriedade ocupada por empregados (paguem ou não aluguéis a taxas de mercado) e propriedade ocupada pelo proprietário ao aguardo de alienação; c) propriedade que é arrendada a outra entidade sob arrendamento financeiro. 3.3 Reconhecimento A propriedade para investimento deve ser reconhecida como ativo quando, e apenas quando (CPC 28): a) for provável que os benefícios econômicos futuros associados à propriedade para investimento fluirão para a entidade; e b) o custo da propriedade para investimento possa ser mensurado confiavelmente. O Princípio do Reconhecimento contido na IAS 40 determina que se deve considerar como custo todos os valores da propriedade para investimento no momento em que eles são incorridos, incluindo custos inicialmente incorridos para 10 adquirir uma propriedade para investimento e custosincorridos subsequentemente para adicionar a, substituir partes de, ou prestar manutenção à propriedade, excluindo, no entanto, os custos de reparos e manutenção diários do bem. 3.4 Valor justo Com a implantação do Pronunciamento Contábil (CPC 28), as propriedades para investimento podem ser mensuradas por dois métodos distintos e que devem ser aplicados à todas as suas propriedades para investimento: método de custo e método de valor justo. O valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. No reconhecimento é obrigatório que a mensuração desse ativo seja feita pelo método de custo, mas a partir da mensuração subsequente, ou seja, após o reconhecimento, esse ativo pode ser mensurado tanto pelo método de custo quanto pelo método de valor justo. Porém, se for adotado o método de custo a entidade deverá mensurar o bem pelo seu valor justo e divulga-lo nas Notas Explicativas. É o que determina o item 32 da CPC 28: Este Pronunciamento Técnico exige que todas as entidades mensurem o valor justo de propriedades para investimento para a finalidade de mensuração (se a entidade usar o método do valor justo) ou de divulgação (se usar o método do custo). Após o reconhecimento inicial, a entidade que escolhe o método do valor justo deve mensurar todas as suas propriedades para investimento pelo valor justo, exceto em casos excepcionais, quando não for possível determinar tal valor, cujo o método para a mensuração do valor justo da propriedade para investimento está previsto no Pronunciamento Técnico CPC 46. O ganho ou a perda proveniente de alteração no valor justo de propriedade para investimento deve ser reconhecido no resultado do período em que ocorra (item 35, CPC 28). 3.5 Transferência As transferências para/ou de propriedades para investimento devem ser feitas quando, e apenas quando, houver alteração de uso evidenciada nas seguintes situações (item 57, CPC 28): 11 1. início de ocupação pelo proprietário: transferência de propriedade para investimento para propriedade ocupada pelo proprietário (imobilizado); 2. início de desenvolvimento com objetivo de venda: transferência de propriedade para investimento para estoque. Aqui a entidade deve transferir a propriedade de propriedade para investimento para estoque quando, e apenas quando, houver uma alteração no uso, evidenciada pelo começo de desenvolvimento com ao objetivo de venda. 3. fim de ocupação pelo proprietário: transferência de propriedade ocupada pelo proprietário para propriedade para investimento. Aqui a entidade deverá aplicar o CPC 27 (imobilizado) para propriedade própria e o CPC 06 (arrendamento) para propriedade mantida por arrendatário como ativo de direito de uso até a data da alteração do uso. 4. começo de arrendamento operacional para outra entidade: para transferência de estoques para propriedade para investimento. 3.6 Contabilização das diferenças contábeis decorrentes da transferência De acordo com a regra estabelecida no Pronunciamento 28, até a data em que o imóvel ocupado pelo proprietário se torne propriedade para investimento escriturada pelo valor justo, a entidade deverá depreciar a propriedade e reconhecer quaisquer perdas por redução no valor recuperável (impairment) que tenham ocorrido. Mas, após classificação como investimento, (a valor justo) não haverá necessidade da continuidade da depreciação. As regras para a contabilização das diferenças entre o valor contábil e o seu valor justo, nos casos de transferência do imobilizado para o investimento a valor justo, estão estabelecidas no pronunciamento CPC 27, quais sejam: a) qualquer diminuição resultante no valor contábil da propriedade será reconhecida no resultado. Porém, até o ponto em que a quantia esteja incluída em reavaliação anteriormente procedida nessa propriedade, a diminuição é debitada contra esse excedente de reavaliação; b) qualquer aumento resultante no valor contábil até o ponto em que o aumento reverta perda anterior por impairment dessa propriedade, o aumento será reconhecido no resultado; c) qualquer parte remanescente do aumento será creditada diretamente no patrimônio líquido, em ajustes de avaliação patrimonial, como parte dos outros resultados abrangentes. 12 Já nos casos de transferência do estoque para o investimento a valor justo qualquer diferença entre o valor justo da propriedade nessa data e o seu valor contábil anterior deve ser reconhecida no resultado. Veja, a seguir, o esquema para o tratamento contábil das transferências das propriedades contabilizadas no ativo não circulante – investimento. *Ajuste de avaliação patrimonial Fonte: Mattos, 2021. TEMA 4 – ATIVO IMOBILIZADO: ASPECTOS CONCEITUAIS O tratamento contábil para ativos imobilizados está previsto no pronunciamento contábil CPC 27 (IAS 16), para que os usuários das demonstrações contábeis possam diferenciar a informação sobre o investimento da entidade em seus ativos imobilizados, bem como suas mutações. As regras contidas neste pronunciamento devem ser aplicadas na contabilização de ativos imobilizados, exceto quando outro pronunciamento exija ou permita tratamento contábil diferente, tais como: CPC 29, 30 e 31). O Pronunciamento CPC 27 traz as definições dos componentes do ativo imobilizado, tais como: Transferência Diferença Contábil Estoque Imobilizado Propriedade para Investimento Propriedade para Investimento Resultado Diminuição Aumento Resultado *AAP (PL) ATIVO Circulante Não Circulante Realizável a Longo Prazo Investimentos Imobilizado 13 • Valor contábil é o valor pelo qual um ativo é reconhecido após a dedução da depreciação e da perda por redução ao valor recuperável acumuladas; • planta portadora é uma planta viva que: é utilizada na produção ou no fornecimento de produtos agrícolas; é cultivada para produzir frutos por mais de um período; e tem probabilidade remota de ser vendida como produto agrícola, exceto para eventual venda como sucata. • Custo é o montante de caixa ou equivalente de caixa pago ou o valor justo de qualquer outro recurso dado para adquirir um ativo na data da sua aquisição ou construção. • Valor depreciável é o custo de um ativo ou outro valor que substitua o custo, menos o seu valor residual. • Depreciação é a alocação sistemática do valor depreciável de um ativo ao longo da sua vida útil. • Valor específico para a entidade (valor em uso) é o valor presente dos fluxos de caixa que a entidade espera: obter com o uso contínuo de um ativo e com a alienação ao final da sua vida útil ou incorrer na liquidação de um passivo. • Valor justo é o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma transação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração. • Perda por redução ao valor recuperável é o valor pelo qual o valor contábil de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa excede seu valor recuperável. • Ativo imobilizado é o item tangível que: é mantido para uso na produção ou fornecimento de mercadorias ou serviços, para aluguel a outros, ou para fins administrativos e se espera utilizar por mais de um período. • Os ativos imobilizados correspondem aos direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da entidade ou exercidos com essa finalidade. • Valor recuperável é o maior valor entre o valor justo menos os custos de venda de um ativo e seu valor em uso. • Valor residual de um ativo é o valor estimado que a entidade obteria com a venda do ativo após deduzir as despesas estimadas de venda, caso o ativo já tivesse a idade e a condição esperadas para o fim de sua vida
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