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Sobre a luz violeta do entardecer ele sabia que não era perfeito

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Sobre a luz violeta do entardecer ele sabia que não era perfeito. Sabia que para a garota que amava jamais seria um Superman, apenas um Clark Kent desajeitado. Os óculos pretos e quadrados ajudavam na composição comum, assim como a dificuldade de dizer uma frase completa sem escorregar sobre elas.
Mas como conseguiria? Como manter a concentração, como encontrar as palavras, quando se está completamente surdo pelo som alto e acelerado de seu coração.
O som de sua paixão.
Ele sabia que a amizade era a maior idealização que poderia ter. É melhor serem amigos do que nada, certo? Apenas olhar para ela todos os dias já era o suficiente para ele. Apenas ver seu sorriso, o sorriso genuíno e incandescente em seu rosto, era mais do que suficiente.
Ter sua companhia, mesmo que fosse um contato breve e que a palavra “amigo” estivesse implícito em cada gesto. 
Pelo menos era alguma coisa. 
Significava alguma coisa. 
Ele ajeitou a alça longa e preta do violão em suas costas. Era o único instrumento que sabia tocar. O único que sentia que poderia ou que tinha alguma conexão. Adoraria saber cantar também, mas isso estava muito além da sua capacidade ou qualquer habilidade.
Tudo que sabia era compor as notas e poemas que se encaixavam
. Mesmo sendo péssimo em textos longos, escrevia pequenos
poemas para recordar o que sentia por ela naquele verão.
Sim, ele estava apaixonado, mesmo que os lábios pronunciassem em um suspiro a palavra
“amiga”.
Ele, ás vezes, pensava em entregar tudo que sentia. Entregar as fitas numa caixinha feita a mão
e um buque de rosas, mesmo aquilo parecendo tão incrivelmente cafona. Queria chorar uma
poesia em seus cabelos, conquanto sua consciência negasse essa ação.
Ele não poderia.
Não perguntava sobre suas paixões e garotos, pois temia as respostas. E se ela amasse outra
pessoa?Seu peito seria destroçado...
Eram apenas amigos.
Ele se afogava com seus sentimentos. Afogava em suas palavras. Afogava em seu sorriso. Mas
tinha medo de perdê-lo para sempre. Medo que confessar os seus sentimentos poderia matar
aquilo que tinham sua proximidade.
Sua amizade.
Então ele permanecia. Sentado ao seu lado no ônibus, observando-a enquanto atravessava a
rua, conversando e rindo junto com amigas que pareciam sem vida quando ela estava ali.
Escrevendo poemas que ela jamais leria. Esperando, esperando que um dia ela perceberia o
que estava em seu coração... Que um dia ela sentisse o que ele sentia por ela.
Enquanto isso, ainda usava a palavra amiga, mesmo que o que sentia fosse amor.

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