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Estudo digerido. Bioquímica TGI – Profs. Julio Mignaco e Rafael da Mata 1. Você consegue descrever como é formada a secreção primária, relacionando as palavras: Na,K-ATPase, NKCC, anidrase carbônica, CFTR, Canais de potássio, NaCl, e aquaporinas? A Na,K-ATPase cria gradiente eletroquímico de sódio que garante a entrada de dois íons cloreto e um íon potássio, junto com um sódio pelo NKCC, através de transporte ativo secundário. Isso permite acúmulo de cloreto no citosol, podendo ser secretado para a luz acinar por canais CFTR. O potássio que se acumula pelo mesmo processo retorna ao interstício por meio de canais de potássio. Além de cloreto, o canal CFTR também pode transportar outros ânions, como bicarbonato, oriundo da ação da anidrase carbônica, enzima que também se torna mais ativa com estímulo para secreção e que converte CO2 e H2O em ácido carbônico, que se dissocia em próton H+ e bicarbonato. O bicarbonato também pode ir para o interstício por trocador Cl-/HCO3-, favorecendo a secreção de cloreto. Já o próton é transportado por trocador Na+/H+ na MBL, repondo sódio no citosol e exportando o próton excedente. A saída de cloreto para a luz atrai sódio via paracelular, devido ao gradiente elétrico negativo, formando NaCl. Isso faz aumentar o potencial osmótico na luz do ácino, atraindo água para o local, via aquaporinas ou via paracelular. 2. Segundo a revista “Casa Claustro”, a furosemida, um fármaco inibidor do transportador NKCC1, causa a sensação de boca seca devido à grande diurese induzida pelo fármaco. Você, com seu conhecimento de bioquímica da secreção salivar, sabe que não é bem assim. Qual seria a explicação? A explicação para isso é que a furosemida inibe NKCC, com isso, diminui a entrada de cloreto no citosol da célula acinar, impedindo sua entrada na luz da glândula. Com isso, não há gradiente elétrico para atrair sódio e, consequentemente, não se aumenta a pressão osmótica para atrair água. Isso faz com que se reduza a secreção salivar e haja sensação de boca seca. 3. A furosemida teria consequências em outros sistemas secretores do TGI? Sim, pois o NKCC também está presente nas células acinares pancreáticas, sendo importantes para a formação do fluido primário secretado nos ácinos. Além disso, estudos mais recentes relatam a presença do cotransportador NKCC1 na membrana basolateral de células intestinais, bem como sua participação nos mecanismos de secreção de K+ no cólon e de Cl- nas células das criptas intestinais 4. Quais são os agonistas fisiológicos da secreção salivar? Qual é o mais importante deles? Os agonistas fisiológicos para a secreção salivar são a norepinefrina, VIP e acetilcolina. A norepinefrina atua sob receptores beta 2, levando ao aumento de AMPc, induzindo a exocitose de proteínas, especialmente a mucina, induzindo produção de saliva mais viscosa. Já o VIP produz o mesmo efeito, além de relaxar o músculo circular e vascular do TGI, aumentando a chegada de sangue. A acetilcolina, por sua vez, se liga a receptores M1 e induz aumento da concentração de cálcio no citosol, via IP3, levando à exocitose e ativação de canais por cálcio, aumentando o volume da secreção salivar, devido aos mecanismos já descritos. Além disso, a acetilcolina induz a contração de células mioepiteliais, aumentando a secreção da saliva pré-formada, via receptores M3. Ademais, ela aumenta a produção de calicreína pelas células epiteliais das glândulas salivares, induzindo a proteólise dealfa-2-globolina, produzindo bradicinina, um potente vasodilatador, como o VIP. Isso induz maior aporte de água e íons para o aumento da secreção. Já a norepinefrina apresenta efeito dual, visto que induz vasoconstricção, reduzindo o aporte de água e íons, diminuindo a secreção. Desta forma, o principal agonista é a acetilcolina (parassimpático). 5. Qual é o efeito esperado, por um dentista ou cirurgião bucomaxilofacial, da aplicação tópica de um spray de atropina na boca? Como a atropina é um antagonista colinérgico muscarínico, o efeito esperado é uma redução da secreção salivar, visto que a acetilcolina é o principal agonista dessa secreção. 6. O que é o CFTR, e qual a sua relevância para a produção das secreções gastrintestinais (e, em ultima instância, de outras secreções exócrinas)? O CFTR (regulador transmembrana da fibrose cística) é um canal para cloreto e outros ânions muito importante para a formação de diversas secreções. Sua disfunção faz com que as secreções que dependem do mesmo (ex.: salivar, pancreática) fiquem pouco fluidas e que o muco fique viscoso e pegajoso, se acumulando nos ductos e alvéolos. Assim, considerando o TGI, as secreções salivar e pancreática ficam menos fluidas e reduzidas. No caso da pancreática, há o risco da precipitação de proteínas e ativação das enzimas pancreáticas no ducto, causando pancreatite. Outras secreções, como o muco do trato respiratório ficam acumuladas. Nesse caso, o enrijecimento do muco impede sua movimentação pelo epitélio ciliado, funcionando como meio de crescimento para diversos microrganismos, permitindo infecções recorrentes. No caso do suor, observa-se que a reabsorção de cloreto, que se dá por CFTR, fica debilitada, fazendo com que sódio e cloreto se acumulem sobre a pele, conferindo à mesma um sabor salgado. Desta forma, conclui-se que pacientes com FC podem apresentar infecções pulmonares recorrentes, obstrução dos dutos pancreáticos, prejuízo nas funções digestivas, e aumento da incidência de pancreatite. 7. Na produção da saliva secundária, há variações de composição e de volume da secreção? Sim, durante a passagem da saliva primária pelos ductos estriados e excretores, há reabsorção de sódio e cloreto, além de secreção de potássio e bicarbonato, tornando a saliva hipotônica em relação ao plasma. Nos ductos há trocadores de cloreto e bicarbonato, que aumentam a concentração de bicarbonato na saliva e retiram dela o cloreto. Este é enviado para o interstício por canais de cloreto. O sódio e reabsorvido por trocadores Na+/H+ e retorna ao interstício via bomba de sódio e potássio. O H+ colocado na luz retorna à celúla por trocador K+/H+, o que permite secreção de potássio e recirculação do próton na ML. 8. Como é secretado o HCl no estômago, e qual a diferença de localização da H,K-ATPase nas células parietais, nos estados basal e ativado de secreção? Para a secreção de HCl, há canal de potássio na ML que permite que potássio saia da célula (oriundo da bomba de sódio e potássio) e retorne ao citosol por H+/K+ ATPase, permitindo a saída de H+ para a luz da glândula, facilitando o transporte, evitando que o mesmo se processe contra gradiente elétrico. O próton é oriundo da ação da anidrase carbônica, que também é ativada pelos agonistas que serão descritos. O cloreto entra na célula por trocador Cl-/HCO3- e sai pela ML por canal Parchorina, formando HCl. No estado basal, a célula parietal possui invaginações na membrana e diversas vesículas no citosol (elementos túbulovesiculares - ETV). Após a ativação, os ETV se fundem à membrana luminal, formando microinvaginações, expondo a H+/K+ ATPase para a luz da glândula. 9. Você consegue descrever sucintamente a modulação pelos três principais agonistas de secreção gástrica de HCl? Qual deles tem ação mais importante na célula parietal? O principal agonista para a secreção de HCl é a histamina, produzida por células ECL, presentes nas glândulas oxínticas. A acetilcolina e a gastrina também estimulam a secreção. Estas duas substâncias estimulam as células ECL a secretarem histamina, especialmente a gastrina, além disso, elas inibem a produção de somatostatina pelas células D. Desta forma, a secreção gástrica e sua regulação podem ser divididas em três fases: na fase cefálica, estímulos de reflexos condicionados e incondicionados levam a aumento da secreção via neurônios eferentes do nervo vago. Alguns desses circuitos envolvem a Ach como neurotransmissor, ativando células ECLe parietais diretamente; na fase gástrica, a distensão do estômago ativa mecano e quimiorreceptores, que ativam reflexos longos e curtos, induzindo secreção por Ach e gastrina, quando o alimento atinge a região antropilórica, induzindo a secreção de gastrina pelas células G, devido à presença de fragmentos protéicos; na fase intestinal, a presença de alimento na porção superior do intestino delgado, continua estimulando o estômago a secretar pequenas quantidades de suco gástrico, devido às pequenas quantidades de gastrina que são liberadas pela mucosa duodenal em resposta à distensão e presença de peptídeos. A chegada do quimo ácido ao intestino estimula a produção de CCK, devido a produtos de hidrólise lipídica. A CCK se liga a receptores nas células parietais e ECL, funcionando como agonista fraco, reduzindo o estímulo via gastrina e Ach, diminuindo a secreção. 10. O que é o fator intrínseco, quem o produz, e para que ele serve? É uma glicoproteína produzida pelas células parietais ou oxÍnticas. É necessário para a absorção da vitamina B12 no íleo. De todas as secreções do estômago, a única essencial é a do fator intrínseco. Na sua ausência, desenvolvem-se a anemia megaloblástica ou perniciosa e alterações neurológicas. A vitamina descrita é ingerida ligada a proteínas e, no estômago, por ação da pepsina e do baixo pH, é liberada, ligando-se a uma proteína conhecida como proteína do tipo R, a haptocorrina. No ambiente gástrico, a vitamina B12 apresenta maior afinidade com a haptocorrina do que com o FI. A haptocorrina é secretada tanto pelas glândulas salivares como pelas gástricas; ela protege a vitamina da ação proteolítica da pepsina e do pH ácido na luz gástrica. No duodeno, onde o ambiente luminal é alcalino (devido às secreções pancreática e biliar), a haptocorrina é digerida pelas enzimas proteolíticas pancreáticas, liberando a vitamina, que então se complexa com o FI. Este complexo, vitamina B12-FI, é altamente resistente à ação proteolítica. Os ileócitos distais apresentam um carregador para a B12 que só a reconhece quando complexada ao FI. O dímero, complexado ao FI, liga-se ao receptor, e a B12 e o FI são endocitados. No meio intracelular, o FI é dissociado da vitamina B 1 2, que se liga a uma outra proteína, a transcobalamina II. O FI é degradado nos lisossomas, juntamente com o receptor e com a vitamina não ligada à transcobalamina. A vitamina ligada à transcobalamina II é, provavelmente, exocitada através da MBL do ileócito, entrando na circulação porta. Então, é liberada nos hepatócitos e armazenada em quantidades relativamente elevadas. 11. Por que a vitamina B12 é tão importante para o organismo? Essa vitamina participa na transferência de metila no ciclo do folato, sendo muito importante para a síntese de bases nitrogenadas, desempenhando papel fundamental na síntese de DNA e replicação celular. Sendo assim, é essencial para células que possuem alta taxa de replicação, como no caso de precursores hematopoéticos. Por isso, sua falta causa anemia ameloblástica ou perniciosa. Além disso, a deficiência dessa vitamina causa diversas desordens neurológicas, como demência, depressão e enfraquecimento da memória. 12. Quais são as estratégias terapêuticas, e os fármacos que você conheceu em aula, disponíveis para a redução da secreção gástrica? Uma das estratégias era o uso de análogos da PGE1 (misoprostol), inibidor fraco da secreção de HCl. Além disso, essa prostaglandina induz a produção de muco e bicarbonato pelas células epiteliais gástricas, aumentando a proteção. Ademais, aumenta o fluxo sanguíneo da região, garantindo maior aporte de bicarbonato. Ele é utilizado para reverter a ação de AINEs, os quais reduzem a produção de prostaglandinas. As estratégias principais envolvem o uso de antiácidos, antagonistas de secreção e inibidores da bomba de próton (PPI’s). No caso dos antiácidos, destacam-se bases fracas, capazes de neutralizar diretamente o ácido estomacal. Já no caso dos inibidores, encontram-se os antagonistas muscarínicos (ex.: atropina) e o inibidores de receptores H2 (ex.: cimetidina e ranitidina). Já os inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, são absorvidos e secretados como pró-fármacos na luz dos canalículos intracelulares. Quando há o estímulo para secreção (tomar antes ou durante refeição), há a produção de ácido, induzindo a protonação dessas substãncias, causando seu rearranjo e ativação. Após isso, ela se ligam irreversivelmente a cisteínas da H+/K+ ATPase, impedindo a síntese de mais HCl na luz do estômago. 13. De que forma a utilização de anti-inflamatórios não-esteroidais, como a aspirina, afeta a mucosa do TGI? Por que esse efeito é relevante para o surgimento de gastrites e úlceras gástricas ou duodenais? Esses medicamentos inibem as cicloxigenases, enzimas que catalisam a síntese de precursores de tromboxanos, leucotrienos e protaglandinas. Estas últimas funcionam como inibidores fracos da secreção de HCl. Além disso, essas prostaglandinas induzem a produção de muco e bicarbonato pelas células epiteliais gástricas, aumentando a proteção. Ao haver inibição da sua produção, a secreção de ácido aumenta e as defesas (barreira mucosa gástrica) diminuem. Com isso, o ataque ácido e das proteases se torna possível à mucosa estomacal, causando úlceras gástricas. Devido ao aumento da secreção de HCl, há a possibilidade de úlceras duodenais também. 14. O que é misoprostol, qual era sua ação esperada, e por que ele foi retirado do mercado? Ele é um análogo da protaglandia E1, funcionando como inibidor fraco da secreção de HCl. Além disso, essa prostaglandina induz a produção de muco e bicarbonato pelas células epiteliais gástricas, aumentando a proteção. Ademais, aumenta o fluxo sanguíneo da região, garantindo maior aporte de bicarbonato. Ele foi criado para reverter a ação de AINEs, os quais reduzem a produção de prostaglandinas. Esse produto foi retirado do mercado por causa das suas propriedades abortivas. 15. Quais são, e como funcionam os antiácidos? Eles reduzem a secreção gástrica? Os antiácidos são bases fracas que atuam neutralizando o HCl. Eles não reduzem a secreção gástrica, apresentando efeito curto e transitório. 16. Quem o secreta, o que é, e como o pepsinogênio é ativado? Em que pH a pepsina é ativa? O pepsinogênio é uma proteína precursora da pepsina secretada pelas células principais das glândulas oxínticas gástricas. Ele é ativado em função do pH. Quando o pH decresce abaixo de 5, uma ligação peptídica ácido-lábil se desfaz, soltando um fragmente protéico, formando a tripsina ativa. Em valores de pH < 3 , o pepsinogênio é rapidamente ativado à pepsina. Após isso, a própria tripsina é capaz de ativar mais pepsinogênio em tripsina. A ação proteolítica da pepsina ocorre em meio ácido. Os valores ótimos de pH para a ação da pepsina estão entre 1 ,8 e 3,5. 17. Como, e por quem, é modulada a secreção dos zimogênios pancreáticos? Os zimogênios ficam armazenados em vesículas na porção apical da células acinares da porção exócrina do pâncreas. A secreção acinar é estimulada por CCK e acetilcolina. Na fase cefálica, estímulos oriundos de reflexos condicionados, principalmente, ativam a secreção via acetilcolina. Esse neurotransmissor também atua nas células G, induzindo a produção de gastrina, que é capaz de se ligar em receptores de CCK nas células acinares, induzindo fracamente a secreção. O mesmo acontece na fase gástrica, resultante da ação de reflexos curtos e longos. Nessa fase, há produção de gastrina na região antral. Por fim, na fase intestinal, a presença de produtos de hidrólise lipídica no duodeno estimula a produção de CCK, que induz a secreção acinar. Além disso, a distensão da parede induz reflexos via acetilcolina. 18. Por que as proteases pancreáticas são produzidas e armazenadas na forma de zimogênios? Para que as mesmas não sejam capazes de degradar os componentes proteicos das células pancreáticas, impedindoa pancreatite. Essa condição é muito dolorosa e causa perda da função do órgão, dependendo da sua extensão. 19. Como, e onde os zimogênios pancreáticos são ativados em condições fisiológicas (normais)? Eles são ativados no duodeno. Isso porque, o tripsinogênio é clivado a tripsina por meio da enteroquinase da borda em escova. Essa tripsina catalisa a própria ativação e também ativa todos os demais precursores enzimáticos. 20. Por que algumas famílias apresentam a patologia chamada de pancreatite hereditária? Nessas pessoas ocorre uma mutação em uma arginina na posição 117, sendo alterada por histidina. Essa região é sítio para hidrólise pela própria tripsina, que é capaz de se autodegradar. Com a mutação, a tripsina não consegue realizar a autodegradação e a enzima permanece ativa, podendo ocorrer ativação no próprio pâncreas de forma desenfreada, gerando pancreatite. 21. Por que na fibrose cística as secreções do TGI são, de um modo geral, reduzidas? E por que nesse caso há aumento do risco de pancreatite? Isso ocorre porque essas pessoas apresentam mutações no canal CFTR. Isso faz com que o transporte de ânions, especialmente o cloreto fique dificultado. Dessa forma, os íons não são eficientemente transportados para a luz das glândulas secretórias, o que causa redução do gradiente osmótico e consequente diminuição do aporte de água, tornando a secreção menos fluida. No caso do pâncreas, os canais CFTR são importantes para o retorno do cloreto no ducto para a recirculação do mesmo por trocador de cloreto e bicarbonato. Sem esse canal funcionando adequadamente, o aporte de bicarbonato e fluido nos ductos é reduzido e pode ocorrer precipitação de proteínas, obstruindo os mesmos. Com isso, as enzimas pancreáticas podem ser ativadas no próprio ducto, causando pancreatite. 22. Quais são as estratégias que impedem a auto-digestão do pâncreas? Em primeiro lugar, há a compartimentalização dos zimogênios em vesículas, funcionando como barreira física. Em segundo lugar, há o próprio fato dessas enzimas serem produzidas na forma inativa. Além disso, por meio de V ATPases, o pH no interior dos grânulos é muito ácido, impedindo sua ativação e reduzindo a sua atividade, em caso de ativação aleatória. Ademais, há um inibidor de tripsina – SPINK1- no interior dos grânulos. Por fim, há um gradiente de pressão hidrostática que impulsiona a secreção no sentido anterógrado, impedindo o acúmulo nos ductos. 23. Além de ajudar na emulsificação, digestão, e absorção de lipídeos no TGI, quais são as funções da bile? Lembre-se: não vale a resposta da revista “Super-impressionante”... A função principal da bile é excreção. Muitas substâncias lipofílicas endógenas e exógenas precisam se tornar mais lipofílicas, a fim de se tornarem passíveis de excreção por via fecal. Dessa forma, os hepatócitos realizam reações de fase I e fase II para converter essas substâncias em compostos mais solúveis. Após as reações, esses produtos vão para a vesícula biliar e são lançados com a bile no duodeno após estímulo de CCK e acetilcolina. É notória a importância da excreção de pigmentos biliares (biliverdina e bilirrubina), visto que esses são oriundos da degradação de heme-proteínas, como hemoglobina, mioglobina e CYP450. Além disso, a bile é a principal via de excreção de colesterol do organismo, seja na forma livre ou em uma forma mais solúvel (sais biliares). 24. Bile e sais biliares são a mesma coisa? Não. A bile é a secreção produzida nos hepatócitos, que é armazenada e concentrada na vesícula biliar. Ela é composta por diversas substâncias, dentre elas, os sais biliares, que são produtos da conversão de colesterol em moléculas mais hidrofílicas. 25. O que você encontra na bile, além dos sais biliares? Ácidos graxos, fosfolipídeos, pigmentos biliares e compostos inorgânicos (cálcio, sódio, cloreto, bicarbonato, etc.). 26. Qual é a relação metabólica entre colesterol e ácidos (sais) biliares? Ou, o que são os sais biliares? Os sais biliares são oriundos do colesterol. Primeiramente, em uma reação de fase I, a enzima 7α-hidorxilase adiciona uma hidroxila ao colesterol, formando 7- hidrocolesterol. Esse, por sua vez, passa por diversas etapas, as quais incluem a adição de CoA na molécula e retirada de grupos apolares, como o proprionato. Isso dá origem ao colil-CoA e ao quenodesoxicolil-CoA. Em seguida, os produtos são conjugados com aminoácidos como glicina e taurina, finalmente formando os sais biliares primários. 27. A administração por via oral de resinas quelantes (seqüestradoras) de sais biliares, que impedem a reabsorção (e consequentemente a circulação entero-hepática) desses sais, contribui para reduzir significativamente o colesterol plasmático dos pacientes. Como você explicaria essa redução do colesterol? Qual é a resposta dos hepatócitos, neste contexto? Os sais biliares, como descrito, são produzidos a partir do colesterol. Sendo assim, o uso de resinas catiônicas que complexam com os sais biliares impede sua reabsorção. Isso faz com que o fígado aumente a produção de sais biliares em resposta à diminuição da quantidade dos mesmos que retorna até ele, consumindo mais colesterol, reduzindo o colesterol plasmático. 28. Como o colesterol é mantido solúvel na bile humana normal? O colesterol se mantém solúvel devido a presença de substâncias anfipáticas também presentes na bile, como os fosfolipídeos, ácidos graxos e sais biliares. 29. Quais são os fatores que podem levar à formação de cálculos biliares? Diversos são os fatores que podem levar à litíase biliar. Um deles é a desidratação, pois isso faz com que a bile seja cada vez mais concentrada, permitindo a precipitação de seus componentes, que naturalmente já se encontram no limite de saturação. Um segundo fator é o excesso de colesterol ou outros componentes da bile, visto que o seu acúmulo na vesícula leva à precipitação, já que as suas concentrações já são naturalmente elevadas. O mesmo se aplica em casos de hipercalcemia, já que cálcio coordena com carboxilas, formando cristais. Outro fator é o jejum prolongado, visto que a bile só é lançada no duodeno em resposta à CCK e acetilcolina durante a digestão. Sem o sinal, a bile vai sendo cada vez mais concentrada no interior da vesícula biliar. 30. De acordo com o discutido em sala de aula, quais são as semelhanças metabólicas, bioquímicas, e de finalidade, dos processos de formação de sais biliares (colato, quenodesoxicolato, etc.) e dos pigmentos biliares (bilirrubina conjugada)? Por que a síntese de sais biliares pode ser considerada uma via de excreção? 31. O que é a proteína NPC1L1, e onde está localizada? É um transportador para esteróis, como o colesterol. Está localizado na membrana apical dos enterócitos e na membrana canalicular dos hepatócitos. Controla a absorção intestinal e a excreção hepatobiliar de colesterol. 32. Como funciona o fármaco Ezetimibe, e qual sua ação esperada? Esse fármaco inibe a NPC1l1, impedindo a absorção de colesterol, a fim de reduzir os níveis de colesterol plasmático.
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