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CASO - PRÁTICA TRABALHISTA A empresa LUA Ltda., procurou seu escritório de advocacia com um caso em que uma ex-funcionária, Sra. Paula Moura, faxineira, foi empregada da empresa no período de 10/10/2010 a 20/05/2019, e que ajuizou reclamação trabalhista em 20/06/2019, cumprindo-se com os requisitos iniciais da exordial e valor. O processo tramita na 9ª Vara do Trabalho de Salvador, ora identificado sob o número 2000/2019. A reclamante requereu o pagamento de indenização por dano moral, alegando ser vítima de doença profissional, já que o mobiliário da empresa, segundo diz, não respeitava as normas de ergonomia. Disse, ainda, que a empresa fornecia plano odontológico gratuitamente, o que a levou a requerer a sua integração, para todos os fins, como salário utilidade. Afirma que, nos últimos dois anos, a sociedade empresária fornecia, a todos os empregados, uma cesta básica mensal, suprimida a partir de 20/03/2019, violando direito adquirido, pelo que requer o seu pagamento nos meses até a sua saída da empresa. Relata que, no ano de 2019, permanecia, duas vezes na semana, por mais uma hora na sede da sociedade empresária para participar de um culto ecumênico, caracterizando tempo à disposição do empregador, que deve ser remunerado como hora extra, o que requereu. Paula afirma que foi coagida moralmente a pedir demissão, porém não trouxe qualquer elemento de prova neste sentido. Assim, requer a anulação do pedido de demissão e o pagamento dos direitos como sendo uma dispensa sem justa causa. Por fim, formulou um pedido de adicional de periculosidade, mas não o fundamentou na causa de pedir. Paula juntou, com a petição inicial, os laudos de ressonância magnética da coluna vertebral, com o diagnóstico de doença degenerativa, e a cópia do cartão do plano odontológico, que lhe foi entregue pela empresa na admissão. Juntou, ainda, a cópia da convenção coletiva, que vigorou de julho de 2016 a janeiro de 2019, na qual consta a obrigação de os empregadores fornecerem uma cesta básica aos seus colaboradores a cada mês, e, como não foi entabulada nova convenção desde então, entende que a anterior se prorrogou automaticamente. Por fim, juntou a circular da empresa que informava a todos os empregados que eles poderiam participar de um culto na empresa, que ocorreria todos os dias ao fim do expediente. A empresa entregou em seu escritório todos os documentos do caso, inclusive os comprovantes de pagamentos feitos à ex-funcionária para adotar a medida cabível. Considere ainda que nos casos em que a lei exigir liquidação de valores, não será necessário que se apresente os cálculos, admitindo-se que o escritório possui setor próprio ou contratado especificamente para essa finalidade. Estrutura da peça 1. Peça com formato de contestação dirigida ao juízo da 9ª Vara do Trabalho de Salvador 2. Qualificação das partes: identificação do réu e da autora 3. Indicação do Art. 847, CLT Preliminar 4. De inépcia quanto ao pedido de adicional de periculosidade. Indicação Art. 330, § 1º, inciso I, OU Art. 485, I, ambos do CPC Prescrição parcial 5. Prescrição das pretensões anteriores a 20/06/2014 OU prescrição das pretensões anteriores a cinco anos do ajuizamento da ação. Indicação Art. 7º, XXIX, CRFB/88, OU Art. 11, CLT OU Súmula 308, I, TST Indenização doença profissional 6. Indevida porque doença degenerativa não é considerada doença profissional ou do trabalho. Indicação Art. 20, § 1º, “a”, Lei 8.213/91 Salário in natura 7. Plano odontológico não integra o salário por vedação legal. Indicação Art. 458, § 2º, IV ou § 5º, CLT Ultratividade norma coletiva 8. Cesta básica é indevida porque a norma coletiva não tem ultratividade. Indicação Art. 614, § 3º, CLT OU suspensão da súmula 277 do TST. Tempo à disposição 9. Período dedicado a culto não é considerado tempo à disposição por vedação legal. Indicação Art. 4º, § 2º, I, CLT Pedido de demissão 10. Negar a existência de prova da coação, cujo ônus pertence à autora. Indicação Art. 818, I, CLT OU Art. 373, I, CPC. OU Negar a prática de qualquer ato ilícito capaz de provocar danos. Indicação Art. 186 ou 927 CCB Acúmulo funcional 11. Indevido o plus salarial porque a atividade é compatível com a sua condição pessoal. Indicação Art. 456, parágrafo único, CLT Encerramento 12. Renovação da preliminar de inépcia 13. Renovação da prejudicial de prescrição parcial 14. Requerimento de improcedência dos pedidos do autor e indicação das provas a serem produzidas Fechamento 15. Data, local, advogado e OAB EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 9ª VARA DO TRABALHO DE SALVADOR – BA. Processo nº 2000/2019 LUA Ltda., já qualificada nos autos da presente RECLAMAÇÃO TRABALHISTA, que lhe move PAULA MOURA, por sua procuradora signatária que junta neste ato instrumento de procuração com endereço profissional completo para receber notificações/intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, no prazo legal e com os documentos acostados, apresentar sua CONTESTAÇÃO, com fundamento no artigo 847 CLT, combinando com o artigo 335 do CPC, consubstanciados nos motivos de fato e de direito a seguir articulados: I. SÍNTESE DA INICIAL Trata-se, em síntese, de Reclamação Trabalhista proposta pela Sra. Paula Moura, que laborou para esta Reclamada na função de faxineira no período compreendido entre 10/10/2010 e 20/05/2019. Requer a Reclamante o pagamento de indenização por dano moral, alegando ser vítima de uma doença profissional devido ao mobiliário inadequado da empresa, que não seguia as normas de ergonomia. Além disso, ela menciona que a empresa fornecia um plano odontológico gratuito e solicita que esse benefício seja considerado parte de seu salário. Relata também que nos últimos dois anos de seu emprego, a empresa fornecia uma cesta básica mensal para todos os funcionários, mas que esse benefício foi suprimido a partir de 20/03/2019, o que ela considera uma violação de seu direito adquirido, assim, requer o pagamento da cesta básica pelos meses restantes até sua saída da empresa. A reclamante também menciona que, no ano de 2019, era obrigada a permanecer na sede da empresa duas vezes por semana, por mais uma hora, para participar de um culto ecumênico, assim, alega que esse tempo deve ser considerado como hora extra e remunerado pelo empregador. Ademais, afirma ter sido moralmente coagida a pedir demissão, portanto, solicita a anulação de seu pedido de demissão e o pagamento dos direitos como se tivesse sido dispensada sem justa causa. Por fim, a reclamante faz um pedido de adicional de periculosidade. Como documentos anexados à petição inicial, incluiu laudos de ressonância magnética de sua coluna vertebral, que indicam um diagnóstico de doença degenerativa, cópia do cartão do plano odontológico fornecido pela empresa quando foi admitida e, além disso, anexou uma cópia da convenção coletiva que esteve em vigor de julho de 2016 a janeiro de 2019, na qual constava a obrigação dos empregadores de fornecerem uma cesta básica mensal aos colaboradores. Por fim, incluiu uma circular da empresa informando aos funcionários sobre a possibilidade de participar de um culto na empresa, que ocorreria diariamente após o expediente. A partir da análise de todas as alegações, provas e fundamentos apresentados pela Reclamante, se contestará com os fundamentos que seguem, levando em consideração as leis trabalhistas vigentes e precedentes jurisprudenciais. II. DA PRELIMINAR DE INÉPCIA AO PEDIDO DE ADICIONAL DE PERICULOSIDADE A Reclamante formulou um pedido de adicional de periculosidade, mas não o fundamentou na causa de pedir. Ora, incumbe à parte reclamante realizar pedido certo e determinado, pois, ainda que haja o princípio da informalidade nesta justiçaespecializada, a parte deverá atender aos requisitos mínimos da petição inicial, nos termos dos artigos 319 do CPC e 840 da CLT, de forma a garantir a observância dos princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa. Considerando que a reclamante não delimitou as parcelas a sofrerem as repercussões do adicional de periculosidade pretendido, e tendo em vista tratar-se de matéria de ordem pública, requer o reconhecimento da inépcia da petição inicial, no particular, nos termos do artigo 337, IV e § 5º do CPC e, por consequência, a extinção do processo sem resolução do mérito, com fundamento nos artigos 485, I e 330, § 1º, inciso I do CPC. III. DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL A Reclamante, Sra. Paula Moura, laborou para a Reclamada no período de 10/10/2010 a 20/05/2019, tendo distribuído a presente ação aos 20/06/2019. Nesse sentido, a Constituição Federal, em seu art. 7º, XXIX, prevê a prescrição nas relações trabalhistas, tanto no que se relaciona ao prazo para a ação, bem como para a cobrança dos créditos trabalhistas, nestes termos: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 2000)” Deste modo, não há de se incorporar no pleito a análise das verbas trabalhistas que excedam o período de 05 (cinco) anos contados da data do ajuizamento da ação, em conformidade, ainda, com a Súmula 308, do Tribunal Superior do Trabalho: “SÚMULA Nº 308 - PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL I. Respeitado o biênio subsequente à cessação contratual, a prescrição da ação trabalhista concerne às pretensões imediatamente anteriores a cinco anos, contados da data do ajuizamento da reclamação e, não, às anteriores ao quinquênio da data da extinção do contrato.” Requer, assim, o reconhecimento da prescrição quinquenal dos pedidos anteriores a 20/06/2014 extinguindo o processo com resolução do mérito no concernente a esses pedidos. IV. DO MÉRITO a. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Requer a reclamante o pagamento de indenização por dano moral, alegando ser vítima de doença profissional, já que o mobiliário da empresa, segundo diz, não respeitava as normas de ergonomia. Ocorre que, os laudos de ressonância magnética da coluna vertebral, juntados pela mesma, constam com diagnóstico de doença degenerativa. As doenças degenerativas não são consideradas doença do trabalho, porquanto não há nexo causal direto com o trabalho, ou seja, independem do fator laboral e podem aparecer ainda que o trabalhador esteja desempregado ou aposentado, conforme legislação: “Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - Doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa;” Nestes termos, de rigor a improcedência do pedido de indenização por danos morais, por não haver nexo causal entre a doença e a atividade exercida. b. DO PLANO ODONTOLÓGICO - SALÁRIO UTILIDADE Alega a Reclamante que a empresa fornecia plano odontológico gratuitamente, o que a levou a requerer a sua integração, para todos os fins, como salário utilidade. Razão não lhe assiste, senão vejamos: Artigo 458 da CLT - Decreto Lei nº 5.452 de 01 de Maio de 1943 Art. 458 - Além do pagamento em dinheiro, compreende-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações "in natura" que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/CLT-Decreto-Lei-n-5.452-de-01-de-Maio-de-1943#art-458 será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas. [...] § 2º Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: [...] IV – Assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; [...] § 5º O valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio ou não, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, próteses, órteses, despesas médico-hospitalares e outras similares, mesmo quando concedido em diferentes modalidades de planos e coberturas, não integram o salário do empregado para qualquer efeito nem o salário de contribuição, para efeitos do previsto na alínea q do § 9o do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991. Restando clara a vedação legal para o pleito da Reclamante, requer seja o pedido no que tange a integração do valor pago a título de plano odontológico como salário utilidade. c. DA CESTA BÁSICA Afirma a Reclamante que, nos últimos dois anos, esta Reclamada fornecia a todos os empregados, uma cesta básica mensal, a qual foi suprimida a partir de 20/03/2019, violando direito adquirido, requerendo, assim, o seu pagamento nos meses até a sua saída da empresa. Infere-se da cópia da convenção coletiva, que esta vigorou de julho de 2016 a janeiro de 2019, na qual consta a obrigação de os empregadores fornecerem uma cesta básica aos seus colaboradores a cada mês. Ocorre que, ao fim da vigência do acordo ou convenção coletiva do Trabalho, as normas pactuadas perdem sua validade, não sendo possível o prolongamento de seus efeitos no tempo, conforme se observa do 3º do artigo 614 da CLT: “Não será permitido estipular duração de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017)” Posto isso, não há que se falar em direito adquirido, tendo em vista que a empregadora cumpriu estritamente o estipulado em convenção coletiva, que se findou sem que fosse implantada uma nova convenção desde então. De rigor a improcedência do pedido de pagamento da cesta básica de 20/03/2019 até a saída da obreira (20/05/2019). d. DAS HORAS EXTRAS - PRÁTICAS RELIGIOSAS NA EMPRESA Relata a obreira que, no ano de 2019, permanecia, duas vezes na semana, por mais uma hora na sede da Reclamada para participar de um culto ecumênico, caracterizando tempo à disposição do empregador, que deve ser remunerado como hora extra, o que requereu. Razão não lhe assiste, senão vejamos: “Artigo 4 do Decreto Lei nº 5.452 de 01 de maio de 1943 (CLT) Art. 4º - Considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada. [...] § 2º [...]. permanecer nas dependências da empresa para exercer atividades particulares, entre outras: I - Práticas religiosas; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)” Observa-se que a circular da empresa, juntada pela própria Reclamante, informava apenas que os funcionários poderiam participar de um culto que ocorreria todos os dias ao fim do expediente. Portanto, tratava-se de um convite, e não de uma obrigação, evidenciando-se que a Reclamante comparecia ao culto voluntariamente, não configurando tempo à disposição da empresa, razão pela qual requer o indeferimento do pedido de remuneração comohora extra do tempo em prática religiosa. e. DO PEDIDO DE DEMISSÃO A Reclamante afirma que foi coagida moralmente a pedir demissão, requerendo a anulação do pedido de demissão e o pagamento dos direitos como sendo uma dispensa sem justa causa. Ocorre que a obreira não corroborou suas alegações. O ônus da prova em torno da nulidade do pedido de demissão por vício do consentimento pertence ao empregado, senão vejamos: “Artigo 818 do Decreto Lei nº 5.452 de 01 de maio de 1943 Art. 818. O ônus da prova incumbe: (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) I - Ao reclamante, quanto ao fato constitutivo de seu direito; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) II - Ao reclamado, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do reclamante. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)” A Reclamante não provando, de forma inequívoca, a prática de atos ilícitos pela reclamada que afetassem a sua livre manifestação da vontade, não há falar em nulidade do pedido de demissão, tampouco em sua conversão em demissão sem justa causa, devendo ser julgado o pedido improcedente. V. PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS Diante o exposto, requer: a) O recebimento da presente contestação; b) Seja acolhida a preliminar de inépcia da inicial em razão de haver pedido genérico, com consequente extinção do processo sem resolução de mérito; c) Seja acolhida a prejudicial de mérito, no que tange a prescrição parcial do período anterior a 20/06/2014, com base no art. 7º, inciso XXIX, CF e na Súmula 308 do TST; d) a improcedência dos pedidos listados abaixo, condenando o Reclamante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios: a. indenização por dano moral baseada na doença ocupacional alegada pela Reclamante, uma vez que não houve qualquer dano ocasionado a Reclamante que ensejasse esse pagamento, observado que a doença dela é degenerativa; b. integração plano odontológico ao salário utilidade, que por expressa vedação legal do art. 458, § 2º, inciso IV e § 5º, não pode ser feita; c. pagamento do valor referente as cestas básicas, por ter ficado demonstrado que a norma coletiva juntada estava sem vigência e sua ultratividade não é permitida, na forma do art. 614, § 3º da CLT; d. tempo à disposição, pois a permanência na empresa pela Reclamante era voluntária para prática religiosa; e. anulação do pedido de demissão, uma vez que não houve comprovação do vício alegado pela Reclamante; e) Provar o alegado por todos os meios admitidos em direito, especialmente o depoimento da Reclamante, oitiva de testemunha e juntada de novos documentos. Nestes termos, Pede deferimento. Local, DIA de MÊS de ANO ADVOGADO - OAB/UF nº XXX
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