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Aspectos Psiciológicos do Envelhecimento Aula 4

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Aspectos Psiciológicos do Envelhecimento – Aula 4 
 
 
 
 
DEFINIÇÃO 
Envelhecimento e suas questões pelo olhar da Psicanálise. Atemporalidade do inconsciente. Noção de 
desamparo como condição humana. Constituição do sujeito a partir do cuidado do Outro. Psicanalistas e suas 
denominações da velhice: terceira idade, maior idade etc. Condição desejante da pessoa idosa como saída 
para o desamparo estrutural. 
PROPÓSITO 
Compreender as noções de desamparo estrutural, de inconsciente e de estranho-familiar para 
aprofundamento sobre o tema da velhice e suas peculiaridades. 
OBJETIVOS 
MÓDULO 1 
Identificar a velhice sob o olhar da Psicanálise 
MÓDULO 2 
Distinguir a visão de alguns autores psicanalistas sobre o tema da velhice 
 
INTRODUÇÃO 
Para iniciarmos esta discussão, é importante lembrar de que sonhos nunca envelhecem, já nosso corpo. 
MAS COMO LIDAR COM O AVANÇO DA IDADE, CONSIDERANDO QUE ELE MODIFICA NOSSA VIDA, NOSSA 
CONDIÇÃO FÍSICA E TAMBÉM NOSSA REPRESENTATIVIDADE SOCIAL? 
Para responder a essa pergunta e entrar no clima desse assunto, vamos entender os sentimentos envolvidos 
no processo de envelhecimento do ser humano. 
No vídeo, a psicanalista Gilda Pitombo contextualiza e problematiza a relação entre velhice e Psicanálise. 
 
Nossa proposta nesse tema será de aprofundar a noção do desamparo, que Freud nos ensinou sobre o ser 
estrutural humano: nascemos, em essência, desamparados. 
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SIGMUND FREUD 
Autor considerado o pai da Psicanálise e um dos sujeitos que mais contribuiu com o desenvolvimento da 
Psicologia e sua relação com a sociedade na obra O Mal Estar da Civilização. 
 
 
 
Sendo assim, dependemos dos recursos que vêm do Outro, pois necessitamos dos cuidados e do amor de 
nossos familiares para enfrentar esse desamparo estrutural. 
A literatura analítica, dentro da Psicanálise, é bastante limitada quanto ao tema do envelhecimento e da 
velhice. Trata-se, contudo, de uma questão contemporânea, e não podemos recuar. A Psicanálise se propõe a 
escutar os seres falantes, com seus afetos, suas angústias, suas inibições e seus sintomas, independente da 
idade cronológica. 
 
MÓDULO 1 
Identificar a velhice sob o olhar da Psicanálise
 
APRESENTANDO A PSICANÁLISE 
Para falar de psicanálise, começamos com seu ponto fundamental: o inconsciente. Não é algo material, pelo 
contrário; o inconsciente se apresenta em um ato, uma ideia do sujeito. O que podemos fazer é demonstrar 
sua presença a partir dos atos falhos, dos tropeços, da produção onírica(dos sonhos) e dos sintomas. Aquilo 
que descobrimos sobre ele em qualquer psicanálise está no nível do saber, e não do conhecimento. 
 
Fonte: jcomp/Freepik 
Mas para tratar desse assunto, é preciso conhecer como funciona, na prática, a psicanálise iniciada por Freud. 
É relevante saber que: 
NEM TODO SOFRIMENTO, AINDA QUE SEJA UM SOFRIMENTO PSÍQUICO, ESTÁ NA ORDEM DE 
COMPETÊNCIA DA INTERVENÇÃO DE UM ANALISTA. 
(MAURANO, 2010, p. 29-30) 
Às vezes, surgem algumas dúvidas acerca do alcance da psicanálise: 
SERÁ QUE ELA SERVE PARA O TRATAMENTO DOS PACIENTES PSICÓTICOS E TAMBÉM PARA OS OBSESSIVOS 
COMPULSIVOS? SERVE PARA O TRATAMENTO DE PACIENTES COM CÂNCER E OUTRAS ENFERMIDADES EM 
ESTÁGIO TERMINAL? 
 
Fonte: Freepik/Freepik 
São muitas as indagações que podemos responder com a contribuição de Maurano, psicanalista freudiana. 
Por suas características, a psicanálise “trata” todo tipo de doença, uma vez que, na prática, não trata doença 
alguma. Ela proporciona um diálogo com o agente que sofre, com as demandas, os sofrimentos, as dúvidas 
e doenças desse sujeito. 
DENISE MAURANO MELLO 
Professora Titular da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), no Curso de Direito e no 
Programa de Pós-Graduação em Memória Social. É membro da Associação Corpo Freudiano – Escola de 
Psicanálise, seção Rio de Janeiro. 
Um termo técnico importante é “analítico”, ou seja, envolve o exercício de estudar, promover análise do 
sujeito imerso em seus problemas. Assim conseguimos perceber que a velhice, o envelhecimento, não é uma 
doença, mas uma característica com a qual todos os seres precisam lidar. 
Todos os humanos, imersos em sua vida, em sua criação de responsabilidades, em suas lógicas sociais, 
sofrem, vivem, transformam-se. 
O que muda é como isso funciona, quais questões estão explícitas e implícitas e como elas podem ser 
tratadas. 
Um sintoma analítico é aquele que causa estranheza ao sujeito, levando-o a questionar-se. Assim, o sintoma 
passa a ser analisável, e o analista deve dar conta disso junto com o paciente, como um suporte. Trata-se de 
uma técnica que promove questionamentos, em que o sujeito que domina a psicanálise, ou se 
instrumentaliza com seus subsídios, passa a entender a necessidade de promover uma aposta, de encontrar 
alguma esfera psíquica do sujeito, um saber que age neste, através de outra lógica que não aquela que o 
indivíduo reconhece conscientemente, conforme afirma Maurano (2010, p. 30). 
A PSICANÁLISE NOS AJUDA A ESCAPAR DA REPETIÇÃO CEGA QUE NOS FAZ MERGULHAR TODA HORA NOS 
MESMOS IMPASSES, MAS NÃO DIZEMOS QUE ELA É NECESSÁRIA, E SIM QUE DEPENDE DO DESEJO DO 
SUJEITO. 
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Na psicanálise, o indivíduo é fundamental. Ela não é um remédio que agirá no sujeito de forma independente, 
ela é um mergulho no íntimo, então precisa da ação da pessoa, da vontade de encontrar as lógicas que ela 
não tem coragem, caminhos ou conhecimento para encontrar. 
Vamos à velhice, uma vez mais, para entender essa relação: 
FORA DA FICÇÃO, VOCÊ CONHECE ALGUM SUJEITO QUE NÃO ENVELHECE? 
 
Fonte: freepic.diller/Freepik 
Repare que vivemos há séculos buscando formas de retardar o inevitável caminho do envelhecimento, mas 
nós todos viveremos esse caminho. Logo, sendo natural, não deveria ser um problema psicanalítico, pois é 
recorrente, não é dor, não é sofrimento. 
Ao mesmo tempo, envelhecer não é uma doença. Não há um padrão único e repetido de forma a combater 
seu ciclo: todas as pílulas, tônicos, cremes, procedimentos são criados para enganar, melhorar a qualidade de 
vida, nunca para deter o envelhecimento. 
 
Fonte: cookie_studio/Freepik 
ENTÃO, ONDE ENTRA A PSICANÁLISE? 
Na maneira como o sujeito lida com esse processo, o quanto de dores, sofrimentos, problemas ele tem 
associado a isso. O sujeito sempre estará imerso no mundo, mas a forma como ele lê esse mundo é o ponto 
de análise que tratamos. 
ATENÇÃO 
Vale lembrar que o inconsciente não é uma bagunça, ele é estruturado como linguagem. Ele tem uma lógica, e 
seu tempo não é cronológico: o que aconteceu há 20 anos interfere ainda hoje. O entendimento do fenômeno 
do inconsciente é vital para o nascimento da Psicanálise freudiana e em toda a história dessa ciência. Trajetos 
que levam a anseios, traumas, significações, ressignificações são marcados pela história, pelo coletivo 
cotidiano, por discursos pelos quais os indivíduos se relacionam, e ninguém está livre. O que varia é o 
ordenamento disso, a construção da lógica individual. 
O mergulho no inconsciente aqui proposto não visa formar psicanalistas ou garantir uma habilitação para que 
você execute essa técnica. Claro que não! A Psicanálise é um campo científico e transdisciplinar. Aqui, visamos 
oferecer instrumentos para que você perceba, ao lidar com a velhice e o envelhecimento, como esse campo 
pode fortalecer sua atuação. 
PSICANÁLISE E ENVELHECIMENTO 
 
Fonte: Freepik/Freepik 
AO ABORDARMOS A VELHICE, PODEMOS DIZER QUE O INCONSCIENTE NÃO ENVELHECE, JÁ QUE É 
ATEMPORAL? 
Sim, o inconsciente é atemporal. Essa é uma questão fundamental para tratar desse tema tão complexo e 
silencioso, que é a velhice. 
 
Fonte: Max Halberstadt/Wikipedia 
O inconsciente não se ordena, portanto, em conformidade com um tempo cronológico, como uma história 
linear. Podemos deduzir que o sujeito “em si” não existe para a psicanálise; ele somente existe enquanto 
representado e como representação; um sujeito que surge pelas formaçõesdo inconsciente comete atos 
falhos, faz piadas, apresenta sintomas. Assim, a velhice existe, as pessoas idosas existem; e mesmo que o 
sujeito do inconsciente não envelheça, há um real do corpo que envelhece e nos coloca frente ao nosso 
desamparo diante de tantas perdas a partir de certa idade. 
A questão do desamparo é estrutural e, nesse sentido, nunca o ultrapassamos. Freud nos ensina que já 
nascemos desamparados e que somos constituídos por algumas questões, como: 
 
 
Qual é o meu lugar no desejo do Outro? Desejaram que eu nascesse ou não? 
 
E isso se repete na velhice, pois o sujeito fica no desamparo, “nas mãos” do Outro. 
 
 
Eu sou um peso para minha família? Por que eu não morro logo? E o que vão fazer essas pessoas que 
dependem de mim? Ninguém me escuta ou presta atenção ao que eu digo? No meu tempo, as coisas não 
eram assim. 
Vamos ver um exemplo: 
 
 
 
Imagine uma senhora pobre, nascida em 1920. A vida inteira precisou transgredir para se afirmar e guardou 
com ela anos dessa luta. Teve dois filhos, sem pais presentes, os criou e educou da melhor forma que podia. 
 
Trabalhou em fábrica, se aposentou, continuou a trabalhar, construiu um pequeno comércio. Ajudou a criar 
os netos, financeira e emocionalmente. 
 
 
 
 
Aos 80 anos, ela se recusava a olhar o espelho, sua força não correspondia às rugas que via. A força ia 
falhando, mas ela não aceitou. A família exigia que ficasse em casa. 
 
Mas como? A vida inteira foi trabalho, fez tudo o que fez, contra todos, pois trabalhava e muito! O corpo foi 
cruel... Uma queda, a impossibilidade de voltar a andar, as lágrimas... Agora depende do outro para as coisas 
mais simples... Em suas orações, quer saber o que teria feito de mal para viver aquilo... 
 
 
Essa história acontece muitas vezes... Não podemos evitar, nem é esse o fim, mas de quantas maneiras essas 
formulações são feitas e refeitas. Não é o fenômeno que a psicanálise irá evitar, é com o indivíduo que ela vai 
se relacionar. 
Vamos entender melhor. O infantil é parte constituinte da neurose, e o desamparo é reinscrito sob 
diferentes formas, de acordo com o perigo em questão. Assim, a questão do idoso é muito parecida com a da 
criança: na velhice, o infantil continuará a impor seus efeitos, pois essas marcas traumáticas sempre se 
atualizam diante do perigo da perda do amor. 
COMENTÁRIO 
Freud nunca formulou o desamparo como um conceito. No entanto, essa noção perpassa toda a obra dele, 
assume diferentes dimensões e ocupa um lugar central na formulação de alguns conceitos fundamentais na 
teoria psicanalítica, como angústia, por exemplo. Em Inibição, Sintoma e angústia (1996), Freud compara o 
estado de absoluto desamparo psicomotor em que nasce o bebê com o surgimento do sentimento de 
angústia, localizado no ego, cuja finalidade seria simbolizar uma situação de perigo. 
Assim como o bebê depende do amparo e do cuidado do Outro ao nascer para construir uma imagem própria, 
uma unidade ao que antes era só dispersão ilimitada, sem contornos, nos primeiros meses de vida, o idoso 
também necessita desse amparo para lidar com o desamparo que se atualiza diante da possibilidade da 
morte. 
 
 
 
A MESMA PESSOA, À QUAL A CRIANÇA DEVEU SUA EXISTÊNCIA, O PAI (OU, MAIS CORRETAMENTE, SEM 
DÚVIDA, A INSTÂNCIA PARENTAL COMPOSTA DO PAI E DA MÃE) TAMBÉM PROTEGEU E CUIDOU DA 
CRIANÇA EM SUA DEBILIDADE E DESAMPARO, EXPOSTA COMO ESTAVA A TODOS OS PERIGOS QUE A 
ESPERAVAM NO MUNDO EXTERNO, SOB A PROTEÇÃO DO PAI, A CRIANÇA SENTIU-SE SEGURA. QUANDO 
UM SER HUMANO SE TORNA ADULTO, ELE SABE, NA VERDADE, QUE POSSUI UMA FORÇA MAIOR, MAS SUA 
COMPREENSÃO INTERNA (INSIGHT) DOS PERIGOS DA VIDA TAMBÉM SE TORNOU MAIOR, E COM RAZÃO 
CONCLUI QUE FUNDAMENTALMENTE AINDA PERMANECE TÃO DESAMPARADO E DESPROTEGIDO COMO 
ERA NA INFÂNCIA; ELE SABE QUE, NA SUA CONFRONTAÇÃO COM O MUNDO, AINDA É UMA CRIANÇA. 
Freud (1976, p. 198-9) 
ENTÃO, QUAL É O LUGAR DO IDOSO NO DESEJO E NO AMOR DE QUEM ELE DEPENDE PARA SOBREVIVER? 
A velhice pode ser, inclusive, o momento no qual o sujeito vive seu desamparo de maneira mais aguçada. 
Incentivar o sujeito idoso a contar suas histórias nesse momento de reclusão social é da maior importância. 
Pode ser uma saída para esse desamparo social assim como a ressignificação de seus traumas. A teoria 
freudiana ajuda a explicar essa questão. 
Freud aborda uma concepção de tempo bastante original, um tempo que tem efeitos no “só depois”, a 
posteriori. Trata-se de uma temporalidade retroativa com efeitos de significação. 
EXEMPLO 
Ao sofrer um assalto, no momento da cena agressiva, você a enfrenta e muitas vezes se sai bem. No instante 
seguinte, quando percebe o ocorrido, é que se instala o trauma. Só num momento posterior poderá elaborar, 
pela fala, os sentimentos vividos. 
Tal ideia nos ensina que o tempo passa, mas que podemos atualizar esse tempo quando o ressignificamos no 
presente. Daí a importância de o idoso poder contar sua história, já que a tendência da cultura atual é 
despojá-lo de sua posição desejante. Em seu texto Sobre a transitoriedade (1974b), Freud conta que fazia 
uma caminhada com dois amigos enquanto refletiam sobre os ciclos da natureza que os cercava. Ele chegou à 
seguinte conclusão: 
 
SOBRE A TRANSITORIEDADE 
Um pequeno ensaio construído de forma dialógicas em que o centro do debate é sobre a percepção humana 
do próprio tempo. 
 
 
Nesse texto, Freud nos ensina sobre a dimensão do tempo, o instante de ver a beleza de uma flor 
desabrochando apesar de seu tempo efêmero e o valor da existência humana, independente da morte como 
uma certeza. Para o autor, a beleza da vida está, pois, na travessia desta. 
Conforme Simone de Beauvoir, no livro A Velhice (BEAUVOIR, 1986), essa fase da vida é descrita em função 
da queda do desejo, da decrepitude e da doença; todas as reduções são tratadas como perdas irreparáveis, e 
o idoso é descrito como um morto-vivo. A autora afirma que a sexualidade e o amor são também caminhos 
interditados ao idoso. 
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Escritora filósofa e ativista política Simone de Beauvoir 
SIMONE DE BEAUVOIR 
Uma das principais intelectuais do século XX. Construiu textos sobre questões do feminismo e existencialismo. 
Em sua obra o O segundo Sexo, oferece vitais compreensões sobre a estrutura do machismo e fundamento 
para as lutas feministas. 
Vamos entender isso melhor. A velhice é um fato e, como tal, foi tratada em diversas sociedades, mesmo com 
variações profundas, existindo diferenças importantes – regionais, temporais e de gênero. Aqui buscamos não 
essas diferenças, mas a semelhança, aquilo que tende a ser recorrente, para que possamos entender melhor a 
relação com o indivíduo. Dessa forma, elegemos três características emblemáticas: 
O processo de exclusão social. 
A ideia de que o amor romântico foi superado. 
O desejo “carnal” entendido como um desvio. 
Vamos voltar a Beauvoir ao construir e detalhar seu conceito de velhice e a análise decorrente. Partindo de 
dados históricos e etnográficos importantes, a autora traça diferentes momentos em diversas culturas, 
passando pela literatura, pelas artes e pela filosofia, buscando recolher traços daquilo que definiria a velhice. 
Em uma arqueologia da percepção do velho, ela tenta validar o que observa, de forma empírica, na sua 
leitura. 
COMENTÁRIO 
Na busca do entendimento, nota que, quando as dificuldades são muito latentes, os velhos tendem a ser 
abandonados, mas também detalha que essa não é uma forma recorrente, mas extrema, de uma tendência. 
Como o velho tem dificuldade de “acompanhar” o bando, ele é deixado de lado, daí o quadro de exclusão 
social. Se ele não anda na mesma velocidade, se não acompanha a tecnologia, se não dá mais conta das 
demandas mínimas que o “bando” exige, é excluído socialmente, ainda que com conforto, se possível. 
O semblante potente não dá mais conta, e a verdade do sujeito se impõe com a decrepitude do corpo. Freud 
já nos ensinava que as mulheres maisbonitas são as que mais sofrem na velhice, pois perdem o semblante da 
beleza e se deparam com um grande vazio. Num caso clínico, escutou-se de uma senhora idosa que, à medida 
que envelhecia, foi ficando invisível, e ninguém mais a escutava. Ela ocupava uma posição de “sua majestade 
o bebê”, tudo girava em torno de seu narcisismo, e na velhice viveu com muita dor essa perda de lugar em 
relação ao olhar do outro. 
Em O mal-estar na civilização, Freud acentua três fontes de infelicidade: 
 
O nosso corpo 
 
O mundo externo 
 
 
As nossas relações com os outros 
 
Ele sinaliza que a sublimação opera flexibilizando o mal-estar com o mundo externo. O trabalho freudiano 
propõe que a busca psicanalítica máxima é produzida quando conseguimos intensificar suficientemente a 
produção de prazer a partir de fontes de trabalho psíquico e intelectual. O próprio trabalho psíquico pode 
ser fonte sublimatória juntamente com outras atividades, como a criação artística, a criação científica etc.. 
Freud não deixa de assinalar, no entanto, o efeito temporário da sublimação; ela não é forte o suficiente para 
que o sujeito esqueça a origem e os sentimentos de sua aflição. 
Ele relata uma experiência sui generis que viveu ao fazer uma viagem de trem: ele deparou-se com um 
estranhamento, ao ver-se refletido no espelho a sua frente após o solavanco do trem. Tomando um grande 
susto por não reconhecer a própria imagem no espelho, indagou-se: 
“QUEM É ESSE VELHO QUE ME OLHA?” 
No texto O estranho, traduzido posteriormente do alemão Unheimliche para Infamiliar, Freud relata a 
seguinte cena: 
 
“Estava eu sentado sozinho no meu compartimento no carro-leito, quando um solavanco do trem, mais 
violento do que o habitual, fez girar a porta do toalete anexo, e um senhor de idade, de roupão e boné de 
viagem entrou. Presumi que ao deixar o toalete, que havia entre os dois compartimentos, houvesse tomado a 
direção errada e entrado no meu compartimento por engano. Levantando-me com a intenção de fazer-lhe ver 
o equívoco, compreendi imediatamente, para espanto meu, que o intruso não era senão o meu próprio reflexo 
no espelho da porta aberta. Recordo-me ainda que antipatizei totalmente com sua aparência (FREUD, 2019, p. 
309).” 
 
 
A VELHICE: O ESTRANHO-FAMILIAR 
 
 
A velhice pode ser vivida como o estranho-familiar. O sujeito não tem palavras para simbolizar o horror diante 
de algo que o assusta, mas que é familiar para ele. A imagem refletida no espelho pode remeter a algo que 
sempre odiou e procurou afastar, defendendo-se desse intruso ameaçador que é ele próprio, o estranho-
familiar, esse estrangeiro que nos habita, mas que não queremos assumir como pertencente a nós. 
Pode ser uma experiência de despedaçamento, de fragmentação de sua imagem. O sujeito velho não se 
reconhece naquela imagem no espelho, e isso causa uma vivência angustiante, como ocorreu com o pai da 
psicanálise. 
ADENTRANDO UM POUCO MAIS ESSA NOÇÃO, O ESTRANHO PROVOCA, AO MESMO TEMPO E DE FORMA 
AMBÍGUA, UM SENTIMENTO DE FAMILIARIDADE E DE ESTRANHAMENTO, COMBINADO A HORROR E 
AVERSÃO. O QUE NÃO ESTÁ INSCRITO NA ORDEM SIMBÓLICA PERMITE A CONFUSÃO DO IMAGINÁRIO 
COM O REAL, TAL QUAL OCORRE NA EXPERIÊNCIA DA ESTRANHEZA INQUIETANTE. E ESSE SENTIMENTO DE 
ESTRANHEZA PODE CAUSAR O DESAMPARO. 
O estranho relaciona-se, ainda, ao que é terrível, ao que desperta angústia e horror. E também está claro que 
o termo não é usado sempre num sentido determinado, de modo que, geralmente, equivale simplesmente ao 
angustiante. O estranho é aquela espécie de coisa assustadora que remonta ao que é muito conhecido e 
bastante familiar. 
Em 1936, com 80 anos, numa carta à Lou-Andreas, psicanalista russa que muito o encantou como mulher e 
inteligência, Freud escreveu que não se habituava com as misérias e o desamparo da velhice, como se fosse 
uma maldição, um sentimento marcado por nostalgia e que representava para o ateu Freud somente a espera 
de sua passagem para o nada. 
A definição de Mal-estar na civilização demonstra que temos mecanismos de defesa contra o sofrimento, em 
especial contra a perda, mas estes são limitados, deixam vazios e dores que criam uma contínua sensação 
de sofrimento. 
 
As mudanças acarretadas na imagem pessoal devido ao tempo, geram angustias e sofrimento. 
É algo parecido com a dor incontrolável da perda de um amor, ou de um ente querido; ainda que os 
indivíduos busquem o controle de forma diferente, que alguns transpareçam a amargura e outros a blindem 
em formas sociais, o sofrimento sempre é vivo. A velhice pessoal expressa pelo “pai” da psicanálise é a 
perfeita compreensão de que não adianta a ampla leitura, o conhecimento do processo; somente a vivência e 
a relação do indivíduo permitirão a relação com o objeto envelhecimento. 
COMENTÁRIO 
Diversos autores afirmam que a percepção da velhice em Freud coincide com o aparecimento do câncer. Em 
1919, quando ele tinha 63 anos, sua filha Sophie faleceu de gripe espanhola, com 26 anos. Em 1923, perdeu o 
neto mais amado, com apenas quatro anos e meio, de meningite tuberculosa. Em 1926, Freud escreveu uma 
carta tratando do seu luto: “ele representava para mim todos os meus filhos e meus netos e, desde a sua 
morte, não amo mais os meus netos e não tenho mais prazer em viver” (FREUD, 1975 apud MUCIDA, 2019, p. 
42). 
LUTO DE FREUD: 
Apesar de ter vivido muitas dores, muitas perdas, Freud não deixou de apostar no desejo de levar a 
Psicanálise adiante. Ele foi responsável pelas escolhas que fez e foi até o limite na sustentação do seu desejo 
como fundador da Psicanálise e grande escritor. O grande prêmio que recebeu foi de literatura, o prêmio 
Goethe. 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. NA OBRA O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO (2010), FREUD AFIRMA QUE A INFELICIDADE TEM TRÊS FONTES: 
A) O nosso próprio corpo, o mundo externo e as nossas relações com outros seres humanos. 
B) A espiritualidade, a relação familiar e o mundo externo. 
C) A questão do amor, as perdas e o fracasso profissional. 
D) A desonestidade, a covardia e o ódio. 
E) As paixões do ser, o ódio e a ignorância. 
2. O QUE DIFERENCIA O SINTOMA ANALÍTICO DO SINTOMA MÉDICO? 
A) Todo sintoma é analítico. 
B) Para ser um sintoma analítico, o sujeito precisa levar uma demanda ao analista. 
C) Não existe diferença entre os dois sintomas. 
D) O sintoma analítico diz respeito à estranheza que causa dor e desejo de deciframento. 
GABARITO 
1. Na obra O mal-estar na civilização (2010), Freud afirma que a infelicidade tem três fontes: 
A alternativa "A " está correta. 
A relação com o corpo é imaginária. À medida que envelhecemos, algo como uma fratura do imaginário vai 
causando sofrimento “narcísico” na relação com a própria imagem corporal (como o estranhamento na 
imagem refletida no espelho, por exemplo). 
2. O que diferencia o sintoma analítico do sintoma médico? 
A alternativa "D " está correta. 
O sujeito precisa estar implicado em seu sintoma, despertando para o desejo de saber sobre si. A Psicanálise é 
um campo científico de conhecimento, estuda os sujeitos, trata os sujeitos imersos em processos sociais 
complexos, sendo fundamental para o entendimento da velhice por causa desses debates 
 
 
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MÓDULO 2 
Distinguir a visão de alguns autores psicanalistas sobre o tema da velhice
A VELHICE SOB DIFERENTES ÓTICAS 
Para iniciarmos a nossa discussão, veja o vídeo da Psicanalista Gilda Pitombo sobre a velhice na perspectiva de 
diferentes autores que discursam sobre esse tema. 
Neste vídeo, iremos fazer uma breve contextualização sobre o assunto Envelhecer e Desejar. 
 
Como vimos no vídeo, o psicanalista Joel Birman nos presenteia com o texto “A terceira idade em questão”, 
publicado na revista A terceira idade, onde ele alerta para a grande transformação pela qual vêm passando os 
idosos do Ocidente a partir dos anos 1970 e 1980. 
 
 
O autor declara que a velhice foi retirada do campo do silêncio e inscrita no campo do discurso. E nos lembra 
que: 
A POSITIVAÇÃODA FIGURA DO IDOSO FOI O CORRELATO DO QUE OCORREU IGUALMENTE, NO MESMO 
CONTEXTO HISTÓRICO, COM AS FIGURAS DA MULHER E DO HOMOSSEXUAL, QUE FORAM POSITIVADAS E 
SAÍRAM ASSIM DEFINITIVAMENTE DO LIMBO E DA OBSCURIDADE SOCIAL. 
(Birman, 2013, p. 57) 
No século XX, tanto nas obras ficcionais quanto nas narrativas, a imagem da pessoa idosa esperando o fim da 
existência passou a ser apresentada em associação com o desejo, a busca imperativa de aproveitar o que não 
tinha sido oportunizado pela vida. Sem amarras, a busca seria viver intensamente. Uma terceira idade – por 
que não? – vigorosa o quanto possível. 
O IDOSO NÃO EXISTE 
 
 
Seguimos com contribuições do psicanalista Contardo Calligaris. No artigo para a Folha de São Paulo, 
intitulado “O idoso não existe”, Calligaris (2016) trata do tema da velhice enquanto relembra uma conversa 
que teve com o psicanalista Jean Bergès nos anos 1980, no hospital Sainte-Anne, em Paris. 
O assunto era um paciente idoso que sofria de alexitimia (dificuldade de identificação e verbalização dos 
sentimentos e das emoções). Advindo do grego, o termo traduz justamente a falta de palavras para a emoção. 
Calligaris entendia esse comportamento como um traço sintomático relacionado à idade do paciente, mas 
Bergès acreditava que o paciente já poderia ter apresentado condição similar na juventude. 
CONTARDO CALLIGARIS 
O autor é colunista da folha e conferencista, sendo um psicanalista que debate as questões do mundo 
contemporâneo como fundamento. 
JEAN BERGÈS 
A psicanalista francesa autora de diversos livros, tem como objeto de pesquisa o desenvolvimento, e neste 
ponto debate o visível e invisível como impactantes para a construção dos sujeitos. 
PARA O AUTOR, A VELHICE NÃO PODE SER VISTA COMO UM TIPO DE PERSONALIDADE. O MODO COMO O 
IDOSO REAGE ÀS PERDAS E AOS MOVIMENTOS NATURAIS DESSA ETAPA DA VIDA (COMO A 
APOSENTADORIA, ALGUMAS DOENÇAS E MESMO O LUTO) ESTARIA MUITO MAIS RELACIONADO À 
DEFINIÇÃO DE VELHICE AVANÇADA DO QUE À IDADE PROPRIAMENTE. 
 
Fonte: Pxhere/Pxhere 
Há o idoso que se deprime, há aquele que se angustia, e quase todos começam a delirar. O idoso tem boas 
razões para ser paranoico. Começa com a constatação de que, em tese, ele vai morrer antes dos outros. 
 
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Passa pela sensação de que ele está sendo roubado por aqueles que ficarão com suas coisas (a casa e o 
relógio, por exemplo). E acaba na necessidade de se mostrar sempre desconfiado: não me deixo enganar 
significa, no caso, “ainda não estou morto”. 
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Fonte: Pxhere/Pxhere 
As mesmas razões que alimentam a paranoia do idoso produzem sua falta de interesse na vida dos outros. 
Frequentemente, conversar com um idoso é um exercício de humildade. O que a gente diz tem pouca 
importância, e o interesse do idoso é fingido – como se nada pudesse se comparar ao drama da vida dele que 
está acabando. (CALLIGARIS, 2016) 
Vamos entender melhor essa situação. O psicanalista nos ajuda provocando um importante olhar: é 
importante se relacionar com o idoso – ainda que possa haver um gosto pessoal –, é uma posição 
estratégica do sujeito. Um jovem que procura promover uma velhice “melhor” está preparando o campo para 
ele mesmo. Afinal, se der tudo certo, ele será o futuro idoso. Fomentar esses “bons sentimentos” servirá à 
esperança que ele tem de ser amado e amável no futuro. Afinal, o idoso somos nós amanhã. Essa provocação 
é vital para se perceber o que a psicanálise está trazendo. 
É RECORRENTE O PENSAMENTO DE QUE TODOS DESEJAMOS QUE AS CRIANÇAS SEJAM O QUE NÃO 
CONSEGUIMOS SER, QUE TENHAM O QUE NÃO PUDEMOS ALCANÇAR, AO PASSO QUE O IDOSO É O QUE 
NÃO QUEREMOS NOS TORNAR (ENQUANTO AINDA JOVENS). ESSA VISÃO PRECISA SER REVISTA COM 
URGÊNCIA, POIS ESSE SENTIMENTO RELATIVO À CRIANÇA É NOSTÁLGICO, MAS A MARCHA PARA A VELHICE 
É PRÁTICA E, PRINCIPALMENTE, INEVITÁVEL. 
INEVITAVEL 
Será que a grande idade, então, não traz nada de bom? O que há de interessante na experiência do idoso? [...] 
Há um clichê que pergunta sempre como podemos viver sabendo que logo iremos morrer. A velhice avançada 
poderia ser o momento em que a gente descobre que talvez esse clichê possa e deva ser subvertido, com a 
sabedoria que a grande velhice traz: saber que vamos morrer não impede de viver – ao contrário, só é 
possível viver com leveza quando sabemos que logo a vida vai acabar. Essa é a sabedoria do idoso. 
(CALLIGARIS, 2016) 
O envelhecimento não precisa ser uma maldição, uma certeza absoluta de que a morte está na próxima 
esquina. A morte sempre esteve presente, mas ao longo da vida ela é surpresa e despreparo. A velhice pode 
ser a oportunidade de se entender esse equivocado sentimento de forma diversa, tendo a leveza de viver 
intensamente o possível, pois limitações sociais, financeiras e físicas sempre existiram. Saber lidar e tirar o 
mais importante disso é, sim, um desafio. Se aprendido, a velhice pode ser experimentada como um grande 
exemplo para toda a vida. 
A VELHICE E O CORPO 
 
Fonte: Pxhere/Pxhere 
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Talita Baldin e Paulo Eduardo Viana Vidal nos ajudam a refletir sobre a velhice à luz da psicanálise em Sobre 
aquilo que se pode viver aos 80: um estudo de caso acerca da velhice institucionalizada (BALDIN; VIDAL, 
2017a) e Uma análise da velhice sob a ótica da Psicanálise em “Memórias de minhas putas tristes” (BALDIN; 
VIDAL, 2017b). 
Neste último título, os autores tratam da obra de Gabriel Garcia Márques naquilo que diz respeito à velhice e 
às relações dos idosos com a sociedade que os cerca. Baldin e Vidal lembram que o protagonista, chegando 
aos 90 anos, ainda não se sente como tal, mas quem o vê já observa: “do ponto de vista orgânico, a idade e o 
corpo velho. Do ponto de vista psíquico, as vivências de alguém que chegou aos 90 anos”. Com as palavras 
desse senhor, explicam: 
TALITA BALDIN 
Pesquisadora e atriz na Cia. Coletivo Sem Órgãos - RJ desde 2016 e docente no curso de graduação em 
Psicologia na Universidade Salgado de Oliveira, unidade Niterói - RJ, desde 2019. Atua principalmente no que 
compete à escuta clínica psicanalítica em instituições de saúde e assistência com interesse especial pelos 
processos relacionados ao envelhecimento e à velhice, bem como na interseção entre psicanálise e arte. 
Fonte: Lattes. 
PAULO EDUARDO VIANA VIDAL 
Psicanalista, movido e interrogado pelo real da clínica e pela atividade de ensino, faz pesquisas nas dobras 
entre psicanálise e filosofia, psicanálise e "cultura", tematizando os fundamentos da psicanálise, a clínica das 
psicoses, a história e a epistemologia da psicanálise, as relações desta com a psicologia clínica. Fonte Lattes. 
GABRIEL GARCIA MÁRQUES 
Um dos grandes autores da literatura latino- americana, autor do livro Memórias de minhas putas tristes. 
ACONTECE QUE A GENTE NÃO SENTE POR DENTRO, MAS DE FORA TODO MUNDO VÊ. 
(MÁRQUEZ, 2005, apud BALDIN; VIDAL, 2017b, p. 9) 
Isso nos leva a refletir sobre o envelhecimento e sobre um modo de tratá-lo com o olhar da psicanálise. A 
reflexão mostra que esse é um termo criado pela Biologia, referente ao desgaste celular e da energia vital dos 
seres vivos com o passar dos anos. 
SERIA, PORTANTO, UM PROCESSO CRONOLÓGICO PELO QUAL NOS TORNAMOS MAIS VELHOS, SEM 
QUALQUER REPRESENTATIVIDADE DO PONTO DE VISTA DO INCONSCIENTE. SOZINHA, ESTA DEFINIÇÃO É 
DEMASIADO SIMPLISTA, POIS NÃO ABARCA QUALQUER SINGULARIDADE NAS VIVÊNCIAS, AO MESMO 
TEMPO EM QUE ESSE PROCESSO ESTÁ LONGE DE SER LINEAR E UNIVERSAL. DA MESMA FORMA, A PARTIR 
DA PSICANÁLISE, E POR CONSIDERAMOS O INCONSCIENTE ATEMPORAL, NÃO FAZ SENTIDO ATRIBUIR A 
IDEIA DE ENVELHECIMENTO AO EU DO SUJEITO, MAS APENAS A SEU CORPO [...] (BALDIN; VIDAL, 2017B, P. 
9). 
A relação com o corpo é da ordem do imaginário, e o modo como o idoso é visto também está associado a 
esse registro imaginário que cada sociedade estabelece em suas leis e regras. 
Quando o foco se volta à velhice institucional, é recorrente perceber que o velho é objeto e fim dasações, 
uma vez que é pelos erros, demandas e relações estruturadas. As práticas e a relação dos sujeitos com a 
velhice são tomadas pela observação dos outros sobre a própria velhice, uma vez que aqueles que estão 
imersos a vivem pelas ações tomadas e decididas temporalmente antes deles. 
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A vida passa a ser regida por sujeitos externos a velhice e não por aqueles que a vivem. 
 
As marcas físicas demonstram o que vivemos, mas não como nos sentimos. 
Legal e convencionalmente, existe uma demarcação feita pelos Estatutos do Idoso, da ONU e de outros órgãos 
mundiais. A velhice tem dia, hora e local, uma vez que é estabelecida em torno dos 60 anos. Contudo, é 
pensamento frequente que a pessoa idosa é a que está em uma etapa da vida que necessita de mais 
cuidados, justo “por apresentar mais fortemente sintomas ligados a perdas, incapacidades e doenças. Isso é 
tão disseminado no imaginário de nossa sociedade que é difícil pensar em aspectos positivos da velhice” 
(BALDIN; VIDAL, 2017a). 
As marcas muito visíveis e bem definidas com as quais se tem contato na velhice e que essa etapa da vida 
possui representações muito recorrentes quando vista pelo outro, mas também quando o sujeito é 
questionado a falar sobre o que ele pensa de si mesmo que abrem-se campos de abordagens. 
Isso nos leva a buscar algum exemplo sobre o desejo humano, que supera a limitação do corpo e perdura até 
mesmo na velhice. Caetano Veloso, uma figura do mundo artístico, bastante visível em nossa sociedade, nos 
ajuda nesse raciocínio ao dizer como se sente: 
A VELHICE TRAZ UMA ESPÉCIE DE TEIMOSIA. MAS EM MIM PERCEBO MAIS UM DESCOMPROMISSO. 
QUANDO SE É MAIS JOVEM, SE TOMA CUIDADO PARA NÃO SER DESAPROVADO. ESTÁ SE COLOCANDO NA 
VIDA, NO MUNDO. TEM UM ESFORÇO INSTINTIVO PARA NÃO ESTRAGAR ESSA INSERÇÃO. A APROVAÇÃO 
DOS OUTROS ERA IMPORTANTE, AINDA É. PORÉM, NA VELHICE, É AQUELE PARADIGMA DE A VELHA DAMA 
INDIGNA, DO BRECHT: UMA SENHORA DIREITA, COM FILHOS E NETOS, QUE RESOLVE NÃO TER LIMITAÇÃO E 
COMEÇA A FAZER O QUE QUER. JÁ VIVI TUDO, NÃO DEVO MAIS NADA A NINGUÉM, O QUE VOU ESCONDER 
AGORA? NADA. 
(VELOSO, 2009, p. 19) 
MAS E AGORA JOSÉ? 
 
 
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JOSÉ 
Referência ao Poema de Carlos Drummond de Andrade, de tom pessimista, e a provocação é pensar na poesia 
e como os caminhos podem ser diversos. 
Defendemos a ideia de novos discursos em relação à visão contemporânea do idoso e percebemos também 
novas possibilidades de subjetivações na sociedade. Algo se move em direção ao olhar do sujeito na terceira 
idade em relação a sua própria vida e também como ele se vê sendo visto pelo outro. 
Com tudo o que estudamos, vimos que a noção de desamparo pode ser lida numa dimensão relativa não 
apenas à história do sujeito, mas inerente à condição humana, e que nos constituímos a partir do cuidado e 
do amor do Outro, que nos salva da morte. A aposta no desejo de vida, independente da idade, tira-nos 
dessa condição de desamparados, levando-nos a buscar potência para enfrentar a vida. 
 
O desejo de viver supera a condição de desamparo. 
O DESEJO É ALGO QUE NOS LANÇA PARA FORA DE NÓS MESMOS, CRIANDO UMA BARREIRA AO EMPURRÃO 
NA DIREÇÃO À MORTE. NA TERCEIRA IDADE, NOS DEPARAMOS FREQUENTEMENTE COM A EXPERIÊNCIA DA 
INQUIETANTE ESTRANHEZA, EM FUNÇÃO DAS MUDANÇAS CORPORAIS INEVITÁVEIS. POR OUTRO LADO, O 
INCONSCIENTE É ATEMPORAL, OU SEJA, NÃO ENVELHECE. 
Retomamos Simone de Beauvoir, no livro A mulher desiludida, em que ela descreve sua visão da velhice: 
 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. JOEL BIRMAN, NO TEXTO “A TERCEIRA IDADE EM QUESTÃO”, CHAMA-NOS ATENÇÃO PARA A 
TRANSFORMAÇÃO CRUCIAL QUE A FIGURA DO VELHO SOFREU DESDE OS ANOS 1970 E 1980 NO MUNDO 
OCIDENTAL. SOBRE ESSA AFIRMAÇÃO, PODEMOS DIZER QUE: 
A) A velhice ganhou o novo termo “terceira idade”, que aponta para novas potencialidades na idade avançada 
da vida. 
B) Essa premissa não se sustenta, uma vez que a figura do velho se mantém muito depreciada nos dias de 
hoje. 
C) O significante “terceira idade” não promove nenhuma alteração no comportamento das pessoas. 
D) A velhice impossibilita o sujeito de exercer sua potencialidade. 
 
 
2. O PSICANALISTA CALLIGARIS, NO ARTIGO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO, FALOU SOBRE A VELHICE. PARA 
O AUTOR, O QUE ACONTECE NA VELHICE AVANÇADA? 
A) Os idosos nos revelam muitas experiências que interessam a sociedade, de modo geral. 
B) Alguns idosos se interessam muito pelos assuntos alheios, uma vez que estão mais desocupados. 
C) Alguns idosos se deprimem, outros se angustiam; e a maioria deles começa a ter delírios. 
D) Os idosos adquirem muitos saberes ao longo da vida, enriquecendo a existência. 
GABARITO 
1. Joel Birman, no texto “A terceira idade em questão”, chama-nos atenção para a transformação crucial 
que a figura do velho sofreu desde os anos 1970 e 1980 no mundo ocidental. Sobre essa afirmação, 
podemos dizer que: 
A alternativa "A " está correta. 
O significante criado alterou a conotação depreciativa de velho/idoso para “terceira idade”, trazendo mais 
dignidade. O objetivo é provocar a ideia de uma nova fase de permissões, de trocas. A contribuição do 
psicanalista Joel Birman deve ser destacada como uma importante chave de modificação do entendimento 
sobre a velhice em tempos atuais. 
2. O psicanalista Calligaris, no artigo para a Folha de São Paulo, falou sobre a velhice. Para o autor, o que 
acontece na velhice avançada? 
A alternativa "C " está correta. 
A realidade se torna, muitas vezes, tão intolerável que o idoso passa a delirar, ou seja, constrói um mundo à 
parte. É muito comum que ele se transporte para o tempo passado da juventude. 
CONCLUSÃO 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Resumidamente, vimos que a velhice existe, as pessoas idosas existem, e mesmo que o sujeito do 
inconsciente não envelheça, há um real do corpo que envelhece. Mas isso não implica num encontro com a 
morte. 
Há o real do corpo traçado por imagens que despertam a experiência do estranho-familiar, que gera angústias 
e desconforto próprios da nossa condição humana de desamparados diante da vida e da morte. 
O que defendemos é a perspectiva do desejo. Estimular o idoso a recontar sua história para os familiares e 
despertar os interesses intelectuais e artísticos deste no sentido sublimatório são um excelente destino de 
pulsão de vida. A aposta da psicanálise é no dizer, é na fala. A linguagem é a nossa ferramenta diante do 
silêncio da morte. 
 
 
	Aspectos Psiciológicos do Envelhecimento – Aula 4
	DEFINIÇÃO
	MÓDULO 1 Identificar a velhice sob o olhar da Psicanálise
	MÓDULO 2 Distinguir a visão de alguns autores psicanalistas sobre o tema da velhice
	MAS COMO LIDAR COM O AVANÇO DA IDADE, CONSIDERANDO QUE ELE MODIFICA NOSSA VIDA, NOSSA CONDIÇÃO FÍSICA E TAMBÉM NOSSA REPRESENTATIVIDADE SOCIAL?
	SIGMUND FREUD
	NEM TODO SOFRIMENTO, AINDA QUE SEJA UM SOFRIMENTO PSÍQUICO, ESTÁ NA ORDEM DE COMPETÊNCIA DA INTERVENÇÃO DE UM ANALISTA.
	SERÁ QUE ELA SERVE PARA O TRATAMENTO DOS PACIENTES PSICÓTICOS E TAMBÉM PARA OS OBSESSIVOS COMPULSIVOS? SERVE PARA O TRATAMENTO DE PACIENTES COM CÂNCER E OUTRAS ENFERMIDADES EM ESTÁGIO TERMINAL?
	DENISE MAURANO MELLO
	A PSICANÁLISE NOS AJUDA A ESCAPAR DA REPETIÇÃO CEGA QUE NOS FAZ MERGULHAR TODA HORA NOS MESMOS IMPASSES, MAS NÃO DIZEMOS QUE ELA É NECESSÁRIA, E SIM QUE DEPENDE DO DESEJO DO SUJEITO.
	FORA DA FICÇÃO, VOCÊ CONHECE ALGUM SUJEITO QUE NÃO ENVELHECE?
	ENTÃO, ONDE ENTRA A PSICANÁLISE?
	ATENÇÃO
	PSICANÁLISE E ENVELHECIMENTO
	AO ABORDARMOS A VELHICE, PODEMOS DIZER QUE O INCONSCIENTE NÃO ENVELHECE, JÁ QUE É ATEMPORAL?
	COMENTÁRIO
	A MESMA PESSOA, À QUAL A CRIANÇA DEVEU SUA EXISTÊNCIA, O PAI (OU, MAIS CORRETAMENTE, SEM DÚVIDA, A INSTÂNCIA PARENTAL COMPOSTA DO PAI E DA MÃE) TAMBÉM PROTEGEU E CUIDOU DA CRIANÇA EM SUA DEBILIDADE E DESAMPARO, EXPOSTA COMO ESTAVA A TODOS OS PERIGOS Q...
	ENTÃO, QUAL É O LUGAR DO IDOSO NO DESEJO E NO AMOR DE QUEM ELE DEPENDE PARA SOBREVIVER?
	EXEMPLO
	COMENTÁRIO (1)
	A VELHICE: O ESTRANHO-FAMILIARADENTRANDO UM POUCO MAIS ESSA NOÇÃO, O ESTRANHO PROVOCA, AO MESMO TEMPO E DE FORMA AMBÍGUA, UM SENTIMENTO DE FAMILIARIDADE E DE ESTRANHAMENTO, COMBINADO A HORROR E AVERSÃO. O QUE NÃO ESTÁ INSCRITO NA ORDEM SIMBÓLICA PERMITE A CONFUSÃO DO IMAGINÁRIO CO...
	COMENTÁRIO
	1. NA OBRA O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO (2010), FREUD AFIRMA QUE A INFELICIDADE TEM TRÊS FONTES:
	2. O QUE DIFERENCIA O SINTOMA ANALÍTICO DO SINTOMA MÉDICO?
	MÓDULO 2
	A POSITIVAÇÃO DA FIGURA DO IDOSO FOI O CORRELATO DO QUE OCORREU IGUALMENTE, NO MESMO CONTEXTO HISTÓRICO, COM AS FIGURAS DA MULHER E DO HOMOSSEXUAL, QUE FORAM POSITIVADAS E SAÍRAM ASSIM DEFINITIVAMENTE DO LIMBO E DA OBSCURIDADE SOCIAL.
	O IDOSO NÃO EXISTE
	JEAN BERGÈS
	PARA O AUTOR, A VELHICE NÃO PODE SER VISTA COMO UM TIPO DE PERSONALIDADE. O MODO COMO O IDOSO REAGE ÀS PERDAS E AOS MOVIMENTOS NATURAIS DESSA ETAPA DA VIDA (COMO A APOSENTADORIA, ALGUMAS DOENÇAS E MESMO O LUTO) ESTARIA MUITO MAIS RELACIONADO À DEFINIÇ...
	É RECORRENTE O PENSAMENTO DE QUE TODOS DESEJAMOS QUE AS CRIANÇAS SEJAM O QUE NÃO CONSEGUIMOS SER, QUE TENHAM O QUE NÃO PUDEMOS ALCANÇAR, AO PASSO QUE O IDOSO É O QUE NÃO QUEREMOS NOS TORNAR (ENQUANTO AINDA JOVENS). ESSA VISÃO PRECISA SER REVISTA COM U...
	INEVITAVEL
	PAULO EDUARDO VIANA VIDAL
	GABRIEL GARCIA MÁRQUES
	ACONTECE QUE A GENTE NÃO SENTE POR DENTRO, MAS DE FORA TODO MUNDO VÊ.
	SERIA, PORTANTO, UM PROCESSO CRONOLÓGICO PELO QUAL NOS TORNAMOS MAIS VELHOS, SEM QUALQUER REPRESENTATIVIDADE DO PONTO DE VISTA DO INCONSCIENTE. SOZINHA, ESTA DEFINIÇÃO É DEMASIADO SIMPLISTA, POIS NÃO ABARCA QUALQUER SINGULARIDADE NAS VIVÊNCIAS, AO MES...
	A VELHICE TRAZ UMA ESPÉCIE DE TEIMOSIA. MAS EM MIM PERCEBO MAIS UM DESCOMPROMISSO. QUANDO SE É MAIS JOVEM, SE TOMA CUIDADO PARA NÃO SER DESAPROVADO. ESTÁ SE COLOCANDO NA VIDA, NO MUNDO. TEM UM ESFORÇO INSTINTIVO PARA NÃO ESTRAGAR ESSA INSERÇÃO. A APRO...
	MAS E AGORA JOSÉ?
	JOSÉ
	O DESEJO É ALGO QUE NOS LANÇA PARA FORA DE NÓS MESMOS, CRIANDO UMA BARREIRA AO EMPURRÃO NA DIREÇÃO À MORTE. NA TERCEIRA IDADE, NOS DEPARAMOS FREQUENTEMENTE COM A EXPERIÊNCIA DA INQUIETANTE ESTRANHEZA, EM FUNÇÃO DAS MUDANÇAS CORPORAIS INEVITÁVEIS. POR ...
	1. JOEL BIRMAN, NO TEXTO “A TERCEIRA IDADE EM QUESTÃO”, CHAMA-NOS ATENÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO CRUCIAL QUE A FIGURA DO VELHO SOFREU DESDE OS ANOS 1970 E 1980 NO MUNDO OCIDENTAL. SOBRE ESSA AFIRMAÇÃO, PODEMOS DIZER QUE:
	2. O PSICANALISTA CALLIGARIS, NO ARTIGO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO, FALOU SOBRE A VELHICE. PARA O AUTOR, O QUE ACONTECE NA VELHICE AVANÇADA?
	CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS

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