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É indevida a manutenção de medidas protetivas na hipótese de conclusão do inquérito policial sem indiciamento do acusado

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É indevida a manutenção de medidas protetivas na hipótese 
de conclusão do inquérito policial sem indiciamento do 
acusado 
segunda-feira, 21 de novembro de 2022 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Regina manteve relacionamento afetivo com João por 6 meses. 
Durante este período, alega ter sofrido abuso emocional e agressões. 
Afirma que o companheiro fez com que ela se afastasse de amigos e pessoas do seu 
convívio. Narra que ele demonstrou ciúmes excessivos e que lhe pediu elevadas somas 
em dinheiro. 
Relata que, por fim, ele a agrediu fisicamente com puxões e empurrões, além de tê-la 
jogado no chão. 
Diante disso, ela procurou uma Delegacia de Polícia e pediu medidas protetivas com 
base na Lei de Violência Doméstica (Lei nº 11.340/2006). 
A juiz decretou, pelo prazo de 6 meses, medidas protetivas de urgência em desfavor de 
João. 
O inquérito policial foi concluído, sem que João tenha sido indiciado pela Delegada. 
Mesmo assim, a magistrada afirmou que ainda havia um clima de animosidade entre 
João e Regina e, como ela se encontra grávida, deferiu a prorrogação das medidas 
protetivas por mais 6 meses. 
A defesa de João impetrou habeas corpus e a questão chegou até o STJ. 
 
As medidas protetivas foram mantidas? 
NÃO. 
No caso, foram deferidas medidas protetivas pelo prazo de seis meses. Ao término desse 
prazo, as medidas foram prorrogadas por mais seis meses. Todavia, apesar de as 
medidas protetivas terem sido devidamente fundamentadas, ocorreu a conclusão do 
inquérito policial sem indiciamento do investigado. 
Diante disso, não faz mais sentido a manutenção dessas medidas diante da sua 
cautelaridade. Nesse sentido: 
As medidas de urgência, protetivas da mulher, do patrimônio e da relação familiar, 
somente podem ser entendidas por seu caráter de cautelaridade - vigentes de 
imediato, mas apenas enquanto necessárias ao processo e a seus fins. 
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.769.759/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 
07/05/2019. 
 
A imposição das restrições de liberdade ao recorrente, por medida de caráter cautelar, 
de modo indefinido e desatrelado de inquérito policial ou processo penal em 
andamento, significa, na prática, infligir lhe verdadeira pena sem o devido processo 
legal, resultando em constrangimento ilegal. 
STJ. 5ª Turma. RHC 94.320/BA, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 09/10/2018. 
 
Em suma: 
É indevida a manutenção de medidas protetivas na hipótese de conclusão do 
inquérito policial sem indiciamento do acusado. 
STJ. 6ª Turma. RHC 159.303/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 
20/09/2022 (Info 750).

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