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1 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO TRATAMENTO DE EFLUENTES E EMISSÕES 2 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, des- tacando-se pela oferta de cursos de gradua- ção, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimen- to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem- pre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com cons- ciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui- ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. missÃo Formar profissionais com consciência cida- dã para o mercado de trabalho, com ele- vado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VisÃo Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. GRUPO MULTIVIX 3 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO BiBlioTeCa mulTiViX (dados de publicação na fonte) As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com Tratamento de Efluentes e Emissões / . – Serra: Multivix, 2019. ediTorial faCuldade CaPiXaBa da serra • mulTiViX Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra 2019 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina Diretor Administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga Diretor Geral Helber Barcellos da Costa Diretor da Educação a Distância Pedro Cunha Conselho Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão de Língua Portuguesa Leandro Siqueira Lima Revisão Técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix Educação a Distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD 4 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Aluno (a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei- ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo- dalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprova- da pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo en- tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa- -se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, pro- cura fazer a sua parte, investindo em projetos so- ciais, ambientais e na promoção de oportunida- des para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina diretor executivo do Grupo multivix 5 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO lisTa de Quadros > QUADRO 1 - Categorias de poluentes atmosféricos 21 > QUADRO 2 - Limites estabelecidos por CONAMA n°8/90 31 > QUADRO 3 - Distribuição de partículas em um decantador 42 > QUADRO 4 - Resultados dos cálculos do decantador proposto. 42 > QUADRO 5 - Composto químico e sua aplicação na oxidação química 52 > QUADRO 8 - Crescimento populacional da cidade de São Paulo. 106 6 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO lisTa de fiGuras > FIGURA 1 - Constituição de efluentes além da água 14 > FIGURA 4 - Grau de degradação de resíduos sólidos 25 > FIGURA 5 - Métodos de preservação e armazenagem de amostras 28 > FIGURA 6 - Exemplo de norma técnica de amostragem 30 > FIGURA 7 - Fases de uma sedimentação 41 > FIGURA 8 - Decantador para tratamento de efluente 43 > FIGURA 9 - Esboço de uma curva de crescimento celular 48 > FIGURA 10 - Esquema de um reator UASB 51 > FIGURA 11 - Etapas fundamentais da logística reversa 60 > FIGURA 12 - Coletor gravitacional de materiais particulados 72 > FIGURA 13 - Coletor do tipo ciclone de uma planta metalúrgica 74 > FIGURA 14 - Possibilidades sobre uso de resíduos sólidos. 93 > FIGURA 15 - Crescimento populacional da cidade de São Paulo entre 1970 e 2018. 106 > FIGURA 17 - Ilustração de descontaminação da água por membrana. 129 > FIGURA 18 - Esquema simplificado de osmose reversa. 133 > FIGURA 20 - Representação simplificada da fotossíntese. 139 > FIGURA 21 - Materiais recicláveis. 141 7 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO sumÁrio 2UNIDADE 1UNIDADE 1 ConCeiTos e leGislaÇÃo Brasileira referenTes aos resÍduos sÓlidos, efluenTes e emissões 13 1.1 EFLUENTES 14 1.1.1 EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE COURO 17 1.1.2 EFLUENTES DE INDÚSTRIA TÊXTIL 18 1.1.3 EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE LATICÍNIO 19 1.2 EMISSÕES GASOSAS 20 1.2.1 DISPERSÃO ATMOSFÉRICA 22 1.3 RESÍDUOS SÓLIDOS 23 1.4 AMOSTRAGEM 27 1.5 LEGISLAÇÃO APLICADA AOS EFLUENTES E ÀS EMISSÕES 30 ConClusÃo 33 2 TeCnoloGias aPliCadas ao TraTamenTo de efluenTes 36 2.1 ASPECTOS GERAIS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES 36 2.2 TRATAMENTO FÍSICO DE EFLUENTES 38 2.2.1 GRADEAMENTO, REDUÇÃO DE SÓLIDOS E PENEIRAMENTO 38 2.2.2 SEDIMENTAÇÃO, DESARENAÇÃO E FILTRAÇÃO 40 2.2.3 COAGULAÇÃO, FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO 45 2.3 TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTES 46 2.3.1 PROCESSOSBIOLÓGICOS AERÓBIOS 47 2.3.2 PROCESSOS BIOLÓGICOS ANAERÓBIOS 50 2.4 TRATAMENTO QUÍMICO DE EFLUENTES 52 2.4.1 OXIDAÇÃO QUÍMICA E OXIDAÇÃO AVANÇADA 52 2.5 DESCRIÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS 54 ConClusÃo 56 8 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3 TeCnoloGias aPliCadas ao TraTamenTo de emissões Gasosas 59 3.1 TÉCNICAS DE CONTROLE DE EMISSÕES GASOSAS 59 3.1.1 CONTROLE DE EMISSÕES DE GÁS DE CARBONO 62 3.1.2 CONTROLE DE EMISSÕES DE COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS 63 3.1.3 CONTROLE DE EMISSÕES CONTENDO ÓXIDOS DE NITROGÊNIO 64 3.1.4 CONTROLE DE EMISSÕES DE COMPOSTOS CONTENDO ENXOFRE 65 3.2 TÉCNICAS DE ABATIMENTO DE EMISSÕES GASOSAS 65 3.2.1 ABATIMENTO DE MONÓXIDO DE CARBONO VIA OXIDAÇÃO 66 3.2.2 MÉTODOS DE ABATIMENTO DE ÓXIDOS DE NITROGÊNIO 67 3.2.3 MÉTODOS DE ABATIMENTO DE ÓXIDOS DE ENXOFRE 69 3.2.4 MÉTODOS DE ABATIMENTO DE MATERIAIS PARTICULADOS 70 ConClusÃo 79 4 TeCnoloGias aPliCadas ao TraTamenTo de resÍduos sÓlidos 81 4.1 MECANISMOS PARA A DISPOSIÇÃO E DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 81 4.2 DISPOSIÇÃO FINAL 83 4.3 DESTINAÇÃO FINAL 92 4.3.1 TRATAMENTO DO RSI POR SOLIDIFICAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO (S/E) 93 4.3.2 TRATAMENTO DO RSI POR INCINERAÇÃO 94 4.3.3 TRATAMENTO DO RSI POR PIRÓLISE 94 4.3.4 TRATAMENTO DO RSI POR PLASMA TÉRMICO 95 4.3.5 TRATAMENTO DO RSI POR COMPOSTAGEM 95 4.3.6 TRATAMENTO DO RSI POR LANDFARMING 96 4.3.7 TRATAMENTO DO RSI POR DIGESTÃO ANAERÓBIA 97 4.4 GESTÃO DE CADEIA DE SUPRIMENTOS VERDE 97 ConClusÃo 99 sumÁrio 3UNIDADE 4UNIDADE 9 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO sumÁrio 5 dimensionamenTo de uma esTaÇÃo de TraTamenTo de efluenTes 102 5.1 CARACTERÍSTICAS E PARÂMETROS GERAIS DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES 102 5.1.1 ESTIMATIVA POPULACIONAL NO TEMPO DE OPERAÇÃO DA ETE 105 5.1.2 VAZÕES DOS EFLUENTES 107 5.1.3 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ETE 111 5.1.4 PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA DO CORPO HÍDRICO RECEPTOR 111 5.2 PROJETO E DIMENSIONAMENTO DE UMA ETE 114 5.3 TRATAMENTO PRELIMINAR 115 5.3.1 GRADEAMENTO 115 5.3.2 DESARENADORES 117 5.4 TRATAMENTO PRIMÁRIO 118 5.4.1 DECANTAÇÃO 118 5.5 TRATAMENTO SECUNDÁRIO 119 5.5.1 LODOS ATIVADOS 120 5.5.2 FILTROS BIOLÓGICOS 122 ConClusÃo 123 6 aTualidades em TraTamenTo de efluenTes, emissões e resÍduos sÓlidos 125 6.1 BIODEGRADAÇÃO 126 6.2 FILTRAÇÃO POR MEMBRANAS 127 6.2.1 MICROFILTRAÇÃO 131 6.2.2 ULTRAFILTRAÇÃO 131 6.2.3 NANOFILTRAÇÃO 132 6.2.4 OSMOSE REVERSA 132 6.3 ADSORÇÃO E BIOSSORÇÃO 134 6.4 NEUTRALIZAÇÃO DE CO2 138 6.5 CAPTURA E ARMAZENAMENTO DE CO2 140 6.6 RECICLAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS 141 6.6.1 RECICLAGEM DE VIDRO 141 5UNIDADE 6UNIDADE 10 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 6.6.2 RECICLAGEM DO PLÁSTICO 142 6.6.3 RECICLAGEM DE METAIS 142 6.6.4 RECICLAGEM DE PAPEL 143 6.7 LOGÍSTICA REVERSA 144 ConClusÃo 146 referÊnCias 147 11 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO iConoGrafia ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS 12 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Definir e classificar resíduos sólidos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos. > Interpretar as legislações aplicadas aos resíduos industriais. > Selecionar a técnica de amostragem mais adequada para o sistema investigado. UNIDADE 1 13 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO 1 CONCEITOS E LEGISLAÇÃO BRASILEIRA REFERENTES AOS RESÍDUOS SÓLIDOS, EFLUENTES E EMISSÕES Você certamente ligou, hoje, equipamentos eletrônicos, está calçando algum sapa- to e vestindo roupa de tecidos variados, ingeriu alimentos, ou seja, utilizou produtos advindos de diversos segmentos industriais, mas, possivelmente, não se questionou como eles foram fabricados. É de se imaginar que uma operação unitária de uma indústria alimentícia seja diferente de uma petroquímica. Contudo, independente- mente das especificidades, todos os processos possuem entradas, transformações e saídas. As entradas são compostas por matérias-primas, colaboradores e maqui- nários, que, submetidos a uma ação externa, provocam ou sofrem modificações físi- cas ou químicas. Como resultado, temos produtos desejados com valor agregado que serão comercializados, ou indesejados na forma de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, que, se não descartados segundo legislações vigentes elaboradas por órgãos governamentais competentes, representam risco ou impactos negativos ao meio ambiente. Por isso, é fundamental compreender os principais conceitos relaciona- dos aos resíduos líquidos (efluentes), gasosos (emissões) e sólidos, assim como as leis brasileiras que fornecem classificações, parâmetros, técnicas de amostragem e condi- ções para os seus destinos e disposições. Para começar, vamos conhecer as definições relacionadas aos efluentes. 14 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1.1 EFLUENTES “Efluente é o resíduo líquido proveniente dos processos produtivos e que adquirem características próprias em função das atividades e dos produtos utilizados” (BITTEN- COURT; PAULA, 2014, p. 78). Em outras palavras, define-se efluente como um resíduo líquido qualquer oriundo de um processo industrial ou uma atividade doméstica, constituído por, predominantemente, água, além de sólidos suspensos ou dissolvi- dos, material inorgânico e orgânico, de origem química, física ou biológica, conforme mostra a figura. FIGURA 1 - CONSTITUIÇÃO DE EFLUENTES ALÉM DA ÁGUA FÍSICO Temperatura, pH, radioatividade BIOLÓGICO Bactérias, vírus, fungos QUÍMICO (INORGÂNICO) Ácidos, sais, metais, bases QUÍMICO (ORGÂNICO) Proteínas, gorduras, solventes Fonte: Elaborada pela autora. O efluente doméstico, também conhecido como esgoto sanitário, advém de estabe- lecimentos comerciais, industriais e residenciais e refere-se aos dejetos de banhei- ros ou cozinhas, que podem ser do tipo fossas sépticas, efluentes sanitários e caixas de gordura. Devido à sua origem, possui alta carga de matéria orgânica (proteínas, açúcares, óleos e sais) e a sua composição é dependente das necessidades fisiológi- cas, hábitos higiênicos e alimentares de quem o produziu. Já os efluentes industriais possuem propriedades físicas, químicas e biológicas próprias do segmento da indústria que os originou e da água de abastecimento utili- zada. Por isso, adotam-se alguns parâmetros para determinar, quantitativamente, as suas características, que são: 15 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO • Parâmetros para a determinação das características físicas: sólidos totais, sólidos totais voláteis, sólidos totais fixos, sólidos suspensos totais, sólidos suspensos voláteis, sólidos suspensos fixos, sólidos dissolvidos totais, sólidos dissolvidos voláteis, sólidos dissolvidos fixos, curva de distribuição granulomé- trica, turbidez, cor, temperatura, massa específica, condutividade, transmitân- cia, entre outros. A distribuição granulométrica correspondea um procedimento destina- do para a classificação de partículas. Ela é determinada utilizando-se uma sequência de peneiras, dispostas em série (figura), com abertura decrescen- te, que fraciona o material alimentado e permite calcular a porcentagem acumulada de material que fica ou passa pelas peneiras. FIGURA 2 - PENEIRAS UTILIZADAS PARA DETERMINAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019. • Parâmetros para a determinação das características químicas inorgânicas: nitrogênio amoniacal, nitrogênio orgânico, nitritos, nitratos, nitrogênio total, fósforo inorgânico, fósforo orgânico, fósforo total, alcalinidade total, cloreto, fluoreto, metais tóxicos, oxigênio dissolvido, sulfetos, sulfatos, entre outros; 16 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO • Parâmetros para a determinação das características químicas orgânicas: carbono orgânico total, demanda química de oxigênio, demanda bioquímica de oxigênio, índice de fenóis, surfactantes, hidrocarbonetos, pesticidas, entre outros; • Parâmetros para a determinação das características biológicas: protozoários, helmintos, toxicidade aguda e crônica, entre outros. A diversidade de composição dos efluentes aliada à expressiva quantidade de substâncias químicas inéditas ofertadas no mercado fazem com que a comple- ta caracterização dos efluentes industriais seja ineficaz. Porém, é sabido que os principais geradores são aqueles relacionados à produção e à limpeza, tais como tanques de lavagem, torres de resfriamento (figura), geradores de vapor, extratores e reatores químicos. FIGURA 3 - TORRES DE RESFRIAMENTO INSTALADAS NUMA PLANTA DE POTÊNCIA NA BÉLGICA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019. Devido ao expressivo volume de efluente gerado e a sua impossibilidade ou invia- bilidade de armazenamento, especialistas do meio ambiente alertam sobre o seu descarte correto a fim de evitar poluição e interferências negativas no ecossistema aquático, como eutrofização e hipóxia, e a proliferação de doenças em seres huma- nos, entre elas destacam-se malária, leptospirose, hepatite e as verminoses. 17 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Assim, compreender os aspectos qualitativos e a quantidade de efluente gerada por uma indústria é fundamental para propor técnicas de tratamento, que dependerão das especificidades de cada processo produtivo. Verificaremos, nos tópicos que se seguem, as características de importantes indústrias brasileiras, que são: couro, têxtil e de laticínios. A hipóxia acontece quando há uma diminuição do oxigênio dissolvido devi- do à proliferação de algas. Como consequência, observam-se danos ou morte de peixes e outros invertebrados aquáticos. A eutrofização é gerada devido a um descarte inadequado de efluentes conten- do nitrogênio e fósforo, o que estimula o crescimento desenfreado de algas e provoca o aumento de turbidez na água. Como efeito, tem-se uma barreira para que a luz solar irradie nas profundezas de um lago; assim, os organismos fotossintetizantes e outras espécies aquáticas ali existentes morrem. 1.1.1 EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE COURO O curtimento de peles destaca-se entre os processos mais antigos do mundo e utiliza um volume considerável de água, cerca de 30 a 80 m³ por tonelada de pele proces- sada proveniente da cadeia de carne (SCHRANK, 2003). Contudo, não apenas por isso a indústria de couro é lembrada, mas, também, pelo uso expressivo de reagentes químicos de baixa biodegradabilidade e pela produção de efluentes líquidos de alto teor de carga orgânica e inorgânica, emissões atmosféricas de compostos orgânicos voláteis e amônia, responsáveis por odores desagradáveis, e resíduos sólidos tóxicos, dentre eles o cromo (DIAS; CARLONI; MELO JÚNIOR, 2014). 18 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO É essencial que você compreenda quais são as operações de transforma- ção da matéria envolvidas num processo industrial, pois isso o auxiliará na proposta de melhoria das ações já realizadas ou sugestão para a inserção de alguma atividade, visando otimizar o lucro da empresa ou reduzir o impacto por ela gerado. No caso de um curtume, recomenda-se a leitura da disserta- ção de Carla Núbia de Souza, intitulada “Tratamento primário de efluentes brutos de curtume quimicamente aprimorado por sedimentação”, disponí- vel na internet. A Resolução n° 430/2011 do CONAMA estabeleceu que não é permitido o lançamen- to de efluentes contendo concentrações de cromo trivalente e hexavalente superio- res a 1 mg/L e 0,1 mg/L, respectivamente, especificando, então, que esses metais se comportam de modo diferente quanto a disponibilidade e toxicidade, o que foi uma correção importante da Resolução n°357/2005. Por outro lado, Souza (2007, p. 16) destaca que a indústria de curtume dá desti- no a “900 mil toneladas de material putrescível por ano”. Por isso, muitos trabalhos científicos de mestrado e doutorado ou de setores relacionados a pesquisa e desen- volvimento são desenvolvidos para alcançar uma produção de couro verde, ou seja, um couro desenvolvido através da promoção de técnicas de produção mais limpa e destino adequado aos resíduos gerados. 1.1.2 EFLUENTES DE INDÚSTRIA TÊXTIL A indústria têxtil contribui com 4,9% do Produto Interno Bruto brasileiro, que corres- ponde a um expressivo percentual para a colaboração do crescimento econômico nacional (ALMEIDA, 2013). Essa indústria necessita de um volume considerável de água para a realização de suas atividades; estima-se que sejam consumidas cerca de 270 toneladas de água para a produção de 1 tonelada de produto têxtil. Isso é alar- mante frente a um cenário de escassez de água enfrentado por, aproximadamente, 16% dos municípios brasileiros (GRIGORI, 2018). 19 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Contudo, essa não é a única preocupação dos responsáveis pelas indústrias têxteis, mas também o efluente gerado nas etapas de tingimento de fios, engomagem, desengomagem e lavagem, purga e lavagem alvejamento e lavagem, mercerização, tinturaria, acabamento, que contêm 90% dos insumos químicos empregados na transformação de fibras naturais (seda, lã, algodão, linho, sisal e amianto) ou sintéti- cas (acrílico, poliéster, elastano) em tecido (BELTRAME, 2000). Os corantes ácidos, sulforosos, dispersos e catiônicos empregados para tingir tais fibras representam um dos principais fatores para o sucesso na comercialização dos produtos das indústrias têxteis (GUARATINI; ZANONI, 2000). Por outro lado, eles são os principais poluentes das indústrias têxteis, sendo formados por chumbo, alumínio, ferro, cobre e moléculas de tamanho relativamente pequeno, estáveis e de degra- dação difícil, sendo necessário o desenvolvimento de alternativas de tratamento de efluente específicas. 1.1.3 EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE LATICÍNIO O Brasil ocupou, em 2015, o quinto lugar no ranking mundial de produção de leite, com um volume anual superior a 15 bilhões de litros, trazendo reflexos econômicos e sociais positivos (USDA, 2015). Mas, para que grandes capacidades sejam obtidas, as indústrias de laticínios acabam gerando mais de 40 bilhões de litros de efluen- tes por ano, sendo que esse valor pode oscilar devido ao processo adotado, produto produzido, qualidade da água utilizada e das ferramentas de gestão implementadas (BEGNINI; RIBEIRO, 2014). Adulkar e Rathod (2014) mencionam que os efluentes dessas indústrias são de alta carga orgânica e compostos por hidratos de carbono, gordura,desinfetante, detergen- te e águas de limpezas de maquinários, tubulações ou pisos, que acabam se contami- nando com os resíduos industriais e gerando efluentes de elevada demanda bioquí- mica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO). Além disso, tem-se que considerar a formação do soro de leite, que, se não reaproveitado, por exemplo, na alimentação de animais, torna o efluente ainda mais poluente, contemplando uma carga orgânica na ordem de 200 vezes superior à de um esgoto doméstico. 20 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Reconhecendo a importância nutricional do leite para a saúde humana e a relevante variedade de produtos laticínios existentes, necessita-se atentar às alternativas para tratamento dos efluentes gerados, lembrando que elas precisam ser aplicadas por produtores de todo porte. 1.2 EMISSÕES GASOSAS As emissões gasosas, também ditas emissões atmosféricas, correspondem às libera- ções de gases e material particulado para a atmosfera, podendo ser classificadas de acordo com o responsável pelo seu lançamento, que, de forma simplificada, temos as fontes naturais, por exemplo, as queimadas espontâneas/não intencionais ou ativida- des vulcânicas, e as fontes antropogênicas, como as emissões industriais (queima de combustível, secagem, processos de calcinação e separação) e veiculares. As fontes antropogênicas são organizadas em grupos conforme a sua natureza, isto é, são consideradas fontes móveis aquelas emissões provenientes de um agente que se desloca no espaço, como veículos e aviões. Já as fontes estacionárias são aquelas que se encontram fixas, como a maioria das indústrias existentes e a queima de resí- duos sólidos, sendo que ainda podem ser subdivididas em fontes pontuais se partem de um processo específico onde há um pré-direcionamento do fluxo gasoso, e, em fontes difusas, contemplando as emissões inesperadas (ECYCLE, s/d). O material particulado (MP) em suspensão pode ser entendido como uma mistura de sólido e líquido ou substâncias sólidas de tamanho relativamente pequeno que se encontram suspensas na atmosfera. Andrade (2013) sugere que a classificação do MP seja realizada conforme a sua formação, poden- do ser: poeiras (partículas sólidas oriundas de desintegração mecânica), fumo (partículas sólidas advindas de condensação), fumaça (partículas sólidas e líquidas produzidas pela queima de combustíveis fósseis e materiais asfálti- cos) e névoas (partículas líquidas formadas pela atomização e a condensação). 21 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Existe uma extensa quantidade de substâncias que causam o desequilíbrio e a perda da qualidade da atmosfera terrestre, conhecida como poluentes atmosféricos, que representam qualquer forma de matéria em quantidade, concentração, tempo ou outras características, que tornem ou possam tornar o ar impróprio ou nocivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade ou às atividades normais da comunidade (BRASIL, 2018). Esses poluentes podem ser primários, quando oriundos da fonte emissora, ou secun- dários, quando se formam pela reação química entre os componentes naturais da atmosfera e os poluentes primários. Andrade (2013) cita como exemplos de poluentes primários: particulados, dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx) e hidrocar- bonetos, aldeídos, metano (CH4); e secundários: ozônio (O3), ácido sulfúrico (H2SO4) e trióxido de enxofre (SO3). Entretanto, é comum especificá-los quanto às propriedades químicas e aos efeitos sobre o meio ambiente e danos à saúde, conforme descrições apresentadas no quadro. QUADRO 1 - CATEGORIAS DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS POLUENTES ATMOSFÉRICOS ORIGEM CONSEQUÊNCIAS Aldeídos Produto da oxidação parcial de álcoois ou reações fotoquímicas de hidrocarbonetos. Irritação das mucosas e poten- ciais carcinogênicos. Dióxido de enxofre Fontes naturais e oriundo da queima de combustíveis fósseis. Chuva ácida e agravamento de asma. Óxidos de nitrogênio Fontes naturais, motores de combus- tão interna e siderúrgicas. Problemas respiratórios, precur- sor de oxidantes fotoquímicos e chuva ácida. Hidrocarboneto Processos industriais e queima de combustíveis fósseis. Potencial causador do efeito estufa. Materiais particulados Todos os tipos de queima, obras e pavimentação de vias. Câncer de pulmão, bronquite crônica e doenças cardiovascu- lares. Metais, destaque para o chumbo Regiões próximas a fundições e in- dústrias de fabricação de baterias. Diversos problemas de saúde, entre eles danos cerebrais. Fonte: Ministério do Meio Ambiente, s/d. 22 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A concentração de poluentes depende de uma série de fatores, dentre eles destacamos as condições meteorológicas do local. Se tiver interesse, você pode monitorar a qualidade do ar em qualquer região do território brasileiro. Basta utilizar um software disponibilizado gratuitamente pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos. Pesquise sobre essa ferramenta digital e veri- fique que, em dias com ventos fortes e na ausência de inversões térmicas, as regiões de baixa altitude apresentam menores índices de poluição. 1.2.1 DISPERSÃO ATMOSFÉRICA A atmosfera limpa é composta por 78,08% de nitrogênio, 20,95% de oxigênio, 0,93% de argônio, 0,035% de dióxido de carbono e outros gases como hélio, metano e hidrogênio, representando 0,003% da composição total. Esses valores têm sofrido alterações devido a uma intensa e crescente extração dos recursos naturais pelas indústrias, o que geralmente é acompanhada de uma degradação ambiental, como a poluição atmosférica. Nesse contexto, ocorre o desenvolvimento de procedimentos e métodos para avaliar o impacto ambiental e monitorar a qualidade do ar, como é o caso da modelagem de dispersão, que se utiliza de equações matemáticas para descrever a atmosfera e calcular as concentrações das diversas fontes de poluentes em locais distintos; por isso, ela é considerada como uma importante ferramenta para o gerenciamento da qualidade do ar. A dispersão é uma terminologia usada para se referir aos efeitos de transferência de massa combinados que ocorrem na superfície da Terra, ou seja, difusão (devido ao movimento turbulento) e advecção (devido ao vento, ou seja, um agente externo promove a mudança espacial de concentração), que se utiliza de equações empíricas 23 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO ou técnicas de fluidodinâmica computacional. A sua modelagem permite observar se é necessário o monitoramento das emissões atmosféricas, o que reduz o custo de uma avaliação de qualidade do ar, identificar zonas próprias à instalação de comple- xos industriais, prever e analisar eventos de poluição atmosférica. Em sites de buscas, podemos encontrar uma diversidade de trabalhos acadê- micos a respeito de execução e propostas para a simulação da dispersão dos poluentes atmosféricos industriais. Sugerimos a leitura da tese de Yara de Souza Tadano, “Simulação da dispersão dos poluentes atmosféricos para aplicação em análise de impacto”, disponível na internet, que sintetiza os modelos existentes, detalhando as equações necessárias para o cálculo da distribuição espacial de poluentes e realiza um estudo de caso para cálculo da dispersão de NOx, SO2, CO e MP10 na Região Metropolitana de Campinas. 1.3 RESÍDUOSSÓLIDOS Os resíduos sólidos correspondem aos “restos sólidos” provenientes do consumo humano ou não humano, contemplando as sobras de alimentos, embalagens plás- ticas ou metálicas, que não são mais úteis para os fins que foram produzidas, mas podem possuir um potencial energético ou ser reutilizadas em outras atividades, sejam elas industriais ou domésticas. Com essa definição, certamente você se lembrou do recipiente que acabou de descartar no lixo após ter consumido um iogurte ou do papel retirado para comer o chocolate ali embalado. É claro que todas essas recordações lhe trouxeram exemplos de resíduos sólidos, mas precisamos nos aprofundar um pouco mais sobre as carac- terísticas que são capazes de descrevê-los. 24 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Os resíduos sólidos possuem composição variada, que depende de estilo de vida, índice demográfico, desenvolvimento econômico, estações do ano, fatores climáti- cos, economia local e épocas festivas. Por exemplo, no Carnaval e no Natal, é comum encontrar um volume considerável de garrafas de vidro ou latas de alumínio e sacolas plásticas em lixeiras. Em virtude dessa diversidade de variáveis, foi definido pela lei 12.305/2010 e Norma Brasileira – NBR – 10.004: 2004 que resíduos sólidos são: Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularida- des tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004, p. 1). Ainda assim essa definição é ampla e, por isso, a referida norma agrupou os resíduos quanto aos riscos potenciais de contaminação ambiental e à população, sendo esta- belecidas as classes: • resíduos classe i – Perigosos: possuem características físicas, químicas e infec- tocontagiosas que expressam risco considerável à saúde pública e ao meio ambiente. Deve-se atentar às propriedades: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. Exemplos: latas de tinta, óleos mine- rais, pastilhas de freio, ácidos e combustíveis. • resíduos Classe ii – Não Perigosos: São divididos em dois grupos, a saber: • Resíduos Classe II A – Não Inertes: podem ser biodegradáveis, combustí- veis ou solúveis em água. Exemplos: papéis, vidros e lamas de sistemas de tratamento de águas. • Resíduos Classe II B – Inertes: reagem com dificuldade e são melhor descri- tos quando se usam métodos recomendados pela NBR 10.005: 2004 e 10.006: 2004, para verificação de alterações em componentes, aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. Exemplos: entulhos e aço. A lei 12.305/2010 classifica os resíduos sólidos de acordo com a sua origem, destacan- do as possibilidades: resíduos industriais, de serviços públicos de saneamento básico, de serviços de saúde, de construção civil, agrossilvopastoris, de serviços de transpor- tes, de mineração, resíduos domiciliares, resíduos de limpeza urbana, resíduos sólidos urbanos e resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços. 25 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO A lei 12.305/2010 classifica os resíduos em perigosos quando possuem risco à saúde pública ou ao meio ambiente, seja por serem inflamáveis, corro- sivos, reativos, patogênicos ou mutagênicos. Além disso, conhecer o grau de degradabilidade dos resíduos pode ser importante para verificar os seus destinos e disposições. A figura a seguir mostra os níveis de degradação e seus exemplos. FIGURA 4 - GRAU DE DEGRADAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS FÁCIL Restos de comida, folhas, animais mortos MODERADA Produtos contendo celulose: papel DIFÍCIL Couro, madeira, borra- cha, plástico NÃO DEGRADÁVEL Pedras, areia, cerâmica Fonte: Elaborada pela autora. Destacaremos, nos nossos estudos, os resíduos industriais, que são recicláveis se podem ser direcionados a um processo de transformação para gerar um produto igual ou diferente, ou não recicláveis, caso não seja possível sua reciclagem devido a limitantes orçamentários, técnicos ou sociais. Diante disso, observamos que os resí- duos industriais são 26 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO aqueles provenientes das atividades industriais e que constam na relação da Resolução Conama n° 313/2002 para a elaboração do Inventário Nacional dos Resíduos Sólidos, como indústrias de preparação de couro, combustíveis, pro- dutos de metal, refino de petróleo, metalurgia, produção de álcool, fabricação de produtos químicos, entre outros (BARBOSA; IBRAHIN, 2014, p. 31). Além da classificação, é necessário compreender os atributos dos resíduos sólidos, pois elas auxiliarão na escolha de seus tratamentos ou disposição. Em termos de características físicas, Monteiro et al. (2001) destacam: • Geração per capita: quantifica a massa que uma pessoa gera de resíduos sóli- dos por dia. • Composição gravimétrica: corresponde ao percentual de todos os compo- nentes existentes nos resíduos (matéria orgânica, papel, metal, madeira, vidro, borracha, ossos, etc). • Peso específico aparente: razão entre a massa dos resíduos e o volume ocupa- do livremente, isto é, espaço anterior à compactação do material. • Teor de umidade: quantifica a massa percentual de água presente nos resí- duos. • Compressividade: representa qual a redução do volume do resíduo que é conseguida ao ser submetido à ação de uma força de compressão. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), apoiada pelas indústrias da Bahia, Pernambuco, Sergipe, Pará, Goiás, Minas Gerais e Paraná, patrocina o Sistema Inte- grado de Bolsas de Resíduos, que consiste numa “promoção da livre negociação entre indústrias, conciliando ganhos econômicos com ganhos ambientais, através do anúncio de resíduos para compra, venda, troca ou doação” (SIBR, s/d). Essa ação é um instrumento utilizado para o gerenciamento de resíduos industriais que objetiva agregar valor aos resíduos através do reuso e da reciclagem, possibilitan- do a formação de insumos para a fabricação, a um menor custo, de produtos desti- nados ao mercado consumidor industrial ou final. 27 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Monteiro et al. (2001) ainda destacam os seguintes parâmetros para a caracterização química dos resíduos sólidos: • Poder calorífico: potencial de um resíduo liberar energia na forma de calor ao sofrer um processo de queima. Ele é classificado em poder calorífico superior, caso o vapor de água, produto da combustão, esteja na fase líquida, e poder calorífico inferior, cuja água formada se encontra no estado vapor. • Potencial hidrogeniônico: especifica o teor ácido ou alcalino do resíduo e auxilia na determinação do grau de corrosividade. • Composição química: quantifica os teores de carbono, nitrogênio, enxofre, potássio, cálcio, fósforo, gorduras, etc. • relação carbono-nitrogênio: auxilia na determinação do grau de decomposi- ção da matéria orgânica. Por último, é necessário caracterizar biologicamente os resíduos sólidos, ou seja, determinar a existência de microrganismos e agentes patológicos, que auxiliam na estimativa da degradabilidade e na verificação do risco à população.1.4 AMOSTRAGEM Frequentemente, é necessário conhecer a composição e as propriedades físico-quími- cas de efluentes, emissões e resíduos, seja para atender a uma legislação de descarte ou reaproveitá-los segundo algum método de tratamento disponível ou em processo de desenvolvimento. Suponha que você deseja otimizar o funcionamento de uma estação de tratamento de efluentes da indústria em que seu amigo é um colabo- rador. Através de pesquisas, você encontrou que o lodo gerado pode ser emprega- do para a fabricação de tijolos, mas você necessita verificar se isso de fato é possível. Ciente de que seria necessário estudar esse rejeito e fazer testes laboratoriais, você se questiona se é necessário utilizar todo o lodo ou se parte dele lhe garante resultados confiáveis. Seria inviável ou até mesmo impossível o estudo do todo e, por isso, são necessárias técnicas de amostragem, a partir das quais será selecionada uma amos- tra e testes experimentais serão realizados sobre ela, de tal modo que seja possível generalizar os resultados obtidos segundo parâmetros estatísticos, como margem de erro e nível de confiança. 28 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Em termos gerais, para a realização da amostragem, são requeridos certos itens, dentre eles destacam-se: listagem de matéria-prima, fluxograma do processo produtivo e definição do plano de amostragem, que é amparado pela NBR 10.007: 2004 e necessita conter respostas para a uma série de perguntas, tais como: • Para que realizar uma amostragem? • Qual o número de amostras é necessário? • Que tipo de amostra deve-se usar? • Onde será realizada a amostragem? • Como preservar a amostra de modo a desconsiderar, o máximo possível, a ação de agentes externos, que interferem nas conclusões a serem tiradas? Todas essas informações auxiliarão na elaboração de uma norma técnica de amostra- gem específica ao resíduo estudado, para posterior interpretação e aplicação industrial. Como mencionado, um plano de amostragem deve pontuar o procedimen- to para preservar e armazenar uma amostra. No anexo A.1 da NBR 10.007: 2004, citam-se casos de amostra sólida e líquida, conforme mostra a tabela. FIGURA 5 - MÉTODOS DE PRESERVAÇÃO E ARMAZENAGEM DE AMOSTRAS AMOSTRA SÓLIDA PARÂMETRO PRESERVAÇÃO ARMAZENAMENTO Acidez Refrigeração a 4°C Nada consta Dioxinas e furanos Refrigeração a 4°C, na ausência de luz 14 dias Metais totais Nada consta 180 dias Amostra líquida Acidez Refrigeração a 4°C 14 dias Fenóis Refrigeração a 4°C, adição de ácido sulfúrico até pH<2 7 dias Salinidade Análise imediata ou uso de frasco selado 180 dias Fonte: Adaptado de Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004b. 29 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Ademais, cuidados necessitam ser tomados durante a amostragem. Com relação ao amostrador, destaca-se que ele necessita ser de um material que não reage com a amostra e, caso seja reutilizável, deve-se garantir que houve a sua correta e completa limpeza, bem como se encontra isento de resquícios de amostras anteriores. A NBR 10.007: 2004 indica tipos de amostradores em função do tipo de resíduo, tais como: • Para lodos ou líquidos em reservatórios abertos, recomenda-se um balde de inox e a realização de amostragem superficial; • Para lodos ou líquidos em tambores ou barris, sugestiona-se um amostrador de vidro ou polietileno e uma profundidade inferior a 1,5 m, sendo que não se deve utilizar o amostrador de vidro nos casos em que os resíduos contenham ácido fluorídrico; • Para granulados contidos em tambores, aponta-se um amostrador de grãos caso as partículas tenham um diâmetro inferior a 0,6 cm; • Para resíduos secos em tanques rasos e sobre o solo, sugere-se o uso de uma pá com profundidade inferior a 8 cm. Com relação ao número de amostras, é factível que devam ser coletadas uma ou duas amostras compostas para que se obtenha uma média da concentração do resí- duo. Caso seja de interesse calcular uma faixa de variação de concentração, é neces- sária a coleta de, no mínimo, três amostras simples. Uma amostra simples pode ser definida como aquela porção estudada no momento; logo, ela é representativa se o resíduo estudado não sofre alte- rações temporais significativas. Em contrapartida, a amostra composta contempla uma diversidade de pequenas alíquotas preestabelecidas ou variáveis, que são retiradas ao longo do tempo. 30 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Vale ressaltar que a periodicidade da realização da amostragem é, usualmente, esta- belecida pelo órgão ambiental responsável, em consonância com a produção indus- trial, uma vez que a sazonalidade e a variabilidade dos processos produtivos interfe- rem nos resíduos gerados (GIORDANO, 2004). Todas essas informações são registradas em normas técnicas específicas, por exem- plo, a norma NT-001 do Departamento de Água e Esgoto de Jundiaí, para a amos- tragem e a caracterização de esgoto industrial, apresenta como conteúdo os dados resumidos e organizados na figura. FIGURA 6 - EXEMPLO DE NORMA TÉCNICA DE AMOSTRAGEM NORMA TÉCNICA LOGO AMOSTRAGEM E CARACTERIZAÇÃO DE ESGOTO Aplicação: DIM – GTE – SFE Objetivo: (Deve responder para que serve essa norma) Estabelecer as metodologias para a realização da amostragem e caracterização de esgoto industrial Autoridades e responsabilidades: (Quem são os envolvidos para a aprovação, manutenção e aplicação da norma) Gerente de tratamento de esgoto Anexos: (Quais são os instrumentos usados na amostragem e caracterização) Fotos dos amostradores e seus croquis Procedimento: (Descrição da terminologia adotada na norma e detalhamento dos métodos usados na amostragem e caracterização) Método de obtenção da DBO; Especificação da frequência de amostragem; Meios de análise de concentração; Instrução para os cálculos de DBO NT – XXX Versão X Página X de XX Data de emissão: xx/xx/xx Fonte: Adaptado de DAE, 2015. Agora que você já conhece a definição e a classificação de efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões atmosféricas, além de ter noções sobre suas técnicas de amostra- gem, acompanhe, a seguir, as legislações aplicadas aos efluentes e às emissões. 1.5 LEGISLAÇÃO APLICADA AOS EFLUENTES E ÀS EMISSÕES O controle da poluição do ar, do solo e da água no Brasil é regido por legislações em esferas federal, estadual e municipal. A partir delas, são ditos os limites aceitáveis de contaminantes nos efluentes industriais, padrões de emissão e qualidade do ar. 31 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Perceba que, se fôssemos especificar todas essas leis, certamente seria um trabalho oneroso e desnecessário, pois, além de sofrerem constantes atualizações, a realida- de das indústrias no interior de São Paulo é diferente das localizadas no sul brasilei- ro. Então, focaremos nas legislações federais, mas lembre-se de que as demais leis não devem ser negligenciadas pelas indústrias em seus descartes e emissões e que sempre se optará pela lei mais restritiva para o contaminante em questão. As resoluções de destaque criadas para garantir o controle sobre o padrão de quali- dade do ar atmosférico são: • resolução Conama n°5 de 15/06/1989: Instituiu o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (PRONAR); visando ao desenvolvimento sustentá- vel, adotou como estratégia a especificação de limites para as emissões atmos- féricas de acordo com o tipo de fontes e poluentes. Atualmente, o PRONAR atua como um suporte para programasmunicipais e estaduais no estabelecimento de estratégias para que seja alcançada a manutenção da qualidade do ar. • resolução Conama n°3 de 28/06/1990: Especifica as metodologias de deter- minação e amplia os padrões de qualidade do ar anteriormente previstos na resolução em que foi criado o PRONAR, aplicados para partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de enxo- fre e ozônio (Revogada pela Resolução n° de 19/11/2018, em que se adotou os valores de qualidade do ar em conformidade às recomendações da Organiza- ção Mundial da Saúde). • resolução Conama n° 8 de 06/12/1990: Fornece os limites de emissão de fontes fixas relacionada com óxidos de enxofre, material particulado de carvão, processos de combustão externa, conforme mostra a tabela. QUADRO 2 - LIMITES ESTABELECIDOS POR CONAMA N°8/90 NOVAS FONTES FIXAS DE POTÊNCIA NOMINAL TOTAL IGUAL OU INFERIOR A 70 MW Classe i* Áreas a serem atmosfericamente preservadas Proibida qualquer atividade econômica que gere polui- ção do ar. Áreas a serem atmosfericamente conservadas 120 g/Mkcal de partículas totais; inferior a 20% de densi- dade colorimétrica, com exceções; 2.000 g/Mkcal de SO2. Classes ii e iii 350 g/Mkcal (para óleo combustível) de partículas totais; inferior a 20% de densi- dade colorimétrica, com exceções; 5.000 g/Mkcal de SO2. 32 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO PARA NOVAS FONTES FIXAS COM POTÊNCIA NOMINAL TOTAL SUPERIOR A 70 MW Classe i Nestas áreas não será permitida a instalação de novas fontes fixas com este porte. Classes ii e iii 120 g/Mkcal (para óleo combustível) de partículas totais; inferior a 20% de densi- dade colorimétrica, com exceções; 2.000 g/Mkcal de SO2 Fonte: Adaptado de BRASIL, 1990b. • resolução Conama n° 382 de 26/12/2006: Especifica os limites superiores de emissão de poluentes atmosféricos, que são advindos de processos com geração de calor e combustão de óleo combustível, gás natural, bagaço de cana-de-açúcar, ou derivados de madeira, atividades em refinarias de petró- leo, fabricação de celulose, fusão secundária de chumbo, entre outras fontes fixas que foram instaladas após 02 de janeiro de 2007. • resolução Conama n° 436 de 22/12/2011: Complementa os critérios e os limites estabelecidos pela Resolução n° 382/2006. Quando se trata do descarte de efluentes, temos os limites de concentração dos contaminantes e a classificação dos corpos hídricos conforme a qualidade e sua utili- zação especificados em legislação federal. No que tange aos efluentes industriais, existem padrões para os vários segmentos, que podem ser diferentes para cada esta- do brasileiro. O teor de carga orgânica nos efluentes industriais é estabelecido por: • no rio de Janeiro: carga orgânica bruta com 100 kg DBO/dia com eficiência mínima de remoção de 70%; acima de 100 DBO/dia a eficiên- cia é 90% e DQO especificada de acordo com o tipo de indústria. • em são Paulo e Goiás: especificação apenas de DBO, com eficiência de 80% ou alcance da máxima DBO em 60 mgO2/L. • em minas Gerais: limite de DBO em 60 mgO2/L e DQO equivalente a 90 mgO2/L, independentemente das atividades industriais desenvolvidas. 33 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO Destacamos algumas resoluções e normas federais relativas aos efluentes: • lei n° 9443 de 08/01/97: Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, regu- lamentando seus objetivos, instrumentos, finalidades da cobrança pela utili- zação dos recursos hídricos, atribuições do Poder Executivo Federal, estabe- lecimento e justificativa do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e infrações relacionadas à temática. • resolução Conama n° 357 de 17/03/2005: Classifica e caracteriza os corpos d’água em águas doces, águas salinas e águas salobras, dita os padrões quanti- tativos de qualidade e os padrões de lançamento de efluentes segundo espe- cificações de concentração dos parâmetros inorgânicos (antimônio, boro total, cádmio total, etc.), orgânicos (benzeno, diclorometano, estireno, simazina, etc.), entre outros. • resolução Conama n° 430 de 13/05/2011: Complementa e altera a resolução CONAMA n° 357/2005. CONCLUSÃO A partir do conteúdo exposto, foi definido e caracterizado um efluente, cuja composi- ção é majoritária de água, podendo estar presentes sólidos suspensos, sólidos dissol- vidos, matéria orgânica ou inorgânica, entre outros, classificados como componentes químicos, físicos ou biológicos. A compreensão disso é útil para a definição das ações que devem ser tomadas pelas indústrias para o seu correto descarte, evitando, assim, danos ao meio ambiente, como a ocorrência de eutrofização e hipóxia. Destacamos as indústrias de tecido, laticínio e couro para que você perceba o quão poluidoras elas podem ser e que são necessárias tecnologias próprias e, cada vez mais, inovadoras e de baixo custo de operação/implantação para tratar os seus efluentes. Citamos o significado de emissões gasosas, comumente chamadas por emissões atmosféricas, e as classificamos em fontes naturais e antropogênicas, as quais são objeto de estudo de pesquisadores relacionados ao meio ambiente interessados em controlar e monitorar a qualidade do ar a partir do conhecimento e aplicação de técni- cas próprias envolvendo cálculos matemáticos, alicerçados pelos equacionamentos 34 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO conhecidos da dispersão atmosférica com variáveis expressas por concentração de poluentes. Devido à complexidade envolvida nessas análises, as fontes antropogêni- cas foram divididas em fontes móveis e estacionárias, que podem ser do tipo pontuais ou difusas. Os resíduos sólidos também foram definidos e um destaque foi dado para os resí- duos sólidos industriais, pois, assim, compreende-se que uma indústria, independen- temente do segmento em que é classificada, gera os três estados físicos da matéria (sólido, líquido e gasoso) e suas composições são determinadas fazendo-se uso de técnicas de amostragem, que são determinadas por normas vigentes, como é o caso da NBR 10.007: 2004. Finalizamos esta Unidade destacando as principais legislações federais, estaduais e municipais, as quais devem ser constantemente consultadas, já que podem sofrer atualizações. Lembrando que sempre deve-se optar pela que contiver caráter mais restritivo, uma vez que se o pior cenário já for atendido, os demais também serão. Com isso, você estará apto para verificar se uma indústria está contribuindo para que se alcance o desenvolvimento sustentável. 35 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Definir as principais tecnologias de tratamento de efluentes industriais. > Distinguir os fundamentos envolvidos nas etapas físicas, químicas e biológicas. > Planejar as etapas necessárias para remover substâncias indesejáveis de efluentes. UNIDADE 2 36 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2 TECNOLOGIAS APLICADAS AO TRATAMENTO DE EFLUENTES Você já parou para se questionar para onde a água que você acabou de descartar em sua residência é encaminhada? A resposta para essa questão certamente depende das estratégias adotadas pela companhia responsável pelo tratamento de água de sua região. Mas, em geral, é sabido que parte do volume de água suja proveniente do uso em residências,indústrias e estabelecimentos comerciais é descartada nos cursos de água. Como consequência, temos um desperdício de água que poderia ser útil para outras atividades, como a irrigação, e que causa problemas ambientais, como a morte de seres aquáticos e a liberação de gases de mau odor. Diante dessa problemática, há anos vêm sendo estudadas tecnologias para garantir que a legislação ambiental seja cumprida, assim os impactos ambientais negativos são minimizados e pode-se ter alternativas para a reutilização das águas. Nesse contexto, surgem os sistemas de tratamento de efluentes, que são compostos por procedimen- tos que ocorrem em etapas descritas e explicadas por operações unitárias. Mas, lembre-se de que o fator “custo” sempre será uma preocupação alarmante para os responsáveis pela gestão do tratamento de efluentes, por isso, recomenda-se dar atenção a dois pontos. O primeiro ponto está relacionado com a possibilidade de diminuir a vazão de água utilizada no processo, isto é, priorizar a concepção de proje- tos otimizados e controlados, que resultam em menores quantidades de efluentes, ou verificar se a sua reutilização (reciclo) é possível. O segundo se refere ao cuidado para não misturar os efluentes gerados, pois pode ser que em uma determinada ativi- dade não há geração de efluente contaminado, mas em outra sim, e misturar esses efluentes significa aumentar a vazão a ser tratada. Atento a esses fatores, você dará início ao estudo das alternativas para conhecer as principais formas de tratamento de efluentes e suas definições. 2.1 ASPECTOS GERAIS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES Para facilitar o entendimento do projeto ou a implementação de melhorias de uma estação de tratamento de efluentes, realiza-se a caracterização e o agrupamento de 37 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO seus processos em etapas, denominadas primária, secundária e terciária, que se diferenciam pela natureza dos resíduos ou contaminantes e processos empregados. Segundo MetCalf e Eddy (2016), temos: • etapa primária de tratamento de efluentes: caracterizada por processos físi- cos para a retirada de sólidos grosseiros, sólidos em suspensão sedimentáveis ou flutuantes, areia, matéria orgânica e inorgânica. • etapa secundária de tratamento de efluentes: descrita por processos biológi- cos para a remoção ou estabilização da matéria orgânica por bactérias, fungos ou outro microrganismo. • etapa terciária de tratamento de efluentes: baseia-se em processos químicos para a remoção de contaminantes e purificação do efluente. Assim, precisamos elucidar sobre cada uma dessas fases para que você compreenda como elas se relacionam. Alguns estudiosos apontam em literaturas específicas da área ambiental que os processos de tratamento de efluentes são agrupados em quatro etapas: • preliminar, para promover a eliminação de materiais grosseiros presentes no efluente, abarcando processos físicos de peneiramento e sedimentação; • primário, em que ocorre a retirada de sólidos sedimentáveis por processo físico de decantação; • secundário, que remove sólidos suspensos por processo biológico; e • terciário ou pós tratamento, que elimina nutrientes, organismos pato- gênicos, substâncias não biodegradáveis e outras que não foram removidas nas etapas anteriores, a partir do uso de processos biológi- cos e químicos. 38 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.2 TRATAMENTO FÍSICO DE EFLUENTES Os processos físicos de tratamento de efluentes são compostos basicamente por operações mecânicas, uma vez que a intenção dessa etapa é remover sólidos gros- seiros, os quais são visualmente detectados por flutuarem ou sedimentarem, fenô- menos esses também observados em efluentes que contenham espumas, gorduras e diversos óleos. Dentre as operações aqui envolvidas, destacam-se: gradeamento, redução de sólidos, peneiramento, desarenação, sedimentação e filtração. Adicio- nalmente, pode ser que seja necessário empregar técnicas físico-químicas para a reti- rada de partículas coloidais suspensas na água, utilizando a coagulação, floculação, flotação e desinfecção por radiação ultravioleta. A aplicação de radiação ultravioleta (UV) em sistemas de tratamento de efluentes é útil para inativar as atividades de bactérias, protozoários e vírus, com a vantagem de não formar subprodutos tóxicos, além de poder combi- nar com outras formas de tratamento, como a cloração. Para a compreensão de como se dá esse processo, leia o capítulo 12 “Processos de desinfecção”, do livro “Tratamento De Efluentes e Recuperação De Recursos”, dos autores MetCalf e Eddy, disponível em Minha Biblioteca. Assim você compreenderá quais são as fontes, configurações e eficiência dessa alternativa de desinfec- ção de efluentes. 2.2.1 GRADEAMENTO, REDUÇÃO DE SÓLIDOS E PENEIRAMENTO A operação de gradeamento consiste na passagem do efluente em uma sequência de grades com orifícios de variados formatos, sendo que suas dimensões, sua disposição e seus métodos de limpeza dependem da eficiência de remoção requerida e do tipo de sólido que se deseja reter, já que o fluido pode conter organismos patogênicos ou 39 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO possuir odor desagradável. Essa retenção de materiais grosseiros é importante para impedir danos e obstruções de equipamentos das estações de tratamento de efluen- tes, aumentar a eficiência de separações físicas ou químicas, e reduzir a ocorrência de contaminação nos dutos devido à deposição de materiais suspensos. É de se esperar que o efluente contenha uma diversidade de tamanho de materiais para serem removidos por gradeamento, por isso emprega-se grades em série, orga- nizadas em ordem decrescente de abertura, sendo que: uma grade composta de barras ou de varas paralelas é comumente chamada de grade grosseira e é utilizada para a remoção de sólidos grosseiros. As gra- des finas são equipamentos construídos com placas perfuradas, elementos de arame em quadro, e tecidos de arame com aberturas menores. Os materiais removidos por esses equipamentos são denominados material gradeado (ME- TCALF; EDDY, 2016, p. 299). Alguns exemplos de grades empregadas para a remoção de sólidos são: • Grades grosseiras: material gradeado possui diâmetro superior a 6 mm (pedras, galhos, folhas, latas, etc.), que pode ser removido manual- mente. Sua instalação é geralmente localizada antes das caixas de areia, levando-se em consideração alguns critérios para o seu projeto, como distanciamento entre as barras, diâmetro de abertura e perda de energia mecânica. • Grades finas: abertura de 0,5 a 6 mm, capaz de reter, por exemplo, areia, matéria putrescível, plásticos e pequenos trapos, que são mate- riais com teor de líquido superior àqueles materiais retidos nas grades grosseiras. As grades finas podem ser: estruturas de arame estática, tambores rotativos, bandas contínuas e telas de passos. Para esse tipo de grade, recomenda-se evitar a coleta manual e optar por uma limpeza mecânica, utilizando, por exemplo, esteiras fechadas. 40 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Sólidos contendo elevado teor de carga orgânica ou com diâmetros maiores que 1 mm necessitam passar por peneiras para a sua remoção. Existe uma variedade de tipos de malhas, sendo que comumente empregam-se as malhas compostas por barras triangulares de espaçamento entre 0,5 e 2 mm. O peneiramento é primordial para tratar efluentes de indústria alimentícia, principal-mente as produtoras de bebidas (refrigerantes, suco de fruta, cerveja), além de indús- trias têxteis, curtume e frigoríficos (GIORDANO, 2004). Para otimizar a separação de sólidos grosseiros do efluente, pode-se empregar frag- mentadores, trituradores (moinhos de martelo) ou maceradores em conjunto com o sistema de gradeamento. Esses equipamentos provocam o corte de sólidos, o que inibe o entupimento de bombas e minimiza o manuseamento e a deposição do material gradeado. Os fragmentadores são empregados em estações de tratamento com baixas vazões de efluentes, aproximadamente 0,2 m³/s. A sua instalação se dá junto aos canais de esgoto, permitindo a trituração de resíduos de 6 a 20 mm. Quando esses equipamentos são operados, há a retenção dos sólidos tritu- rados da corrente de esgoto e, por isso, necessitam sofrer manutenção contí- nua (METCALF; EDDY, 2016). 2.2.2 SEDIMENTAÇÃO, DESARENAÇÃO E FILTRAÇÃO Existem duas finalidades para a realização do processo de sedimentação, que são relacionadas à remoção de areia, flocos biológicos ou químicos, e sólidos suspensos totais não retidos por peneiras ou grades, resultando em um efluente clarificado, e a concentração de sólidos, a qual é útil para facilitar o manuseamento e tratamento do lodo gerado. Esses objetivos são conseguidos devido à interação entre partículas de sólido e a ação da força de campo gravitacional, formando um fluido límpido de massa específica inferior à lama depositada no sistema. A figura 6 apresenta as fases formadas durante um processo de sedimentação de um efluente genérico. 41 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO FIGURA 7 - FASES DE UMA SEDIMENTAÇÃO Zona clarificada Zona de concentração uniforme Zona de concentração não-uniforme Zona de transição Zona com sólidos sedimentados Fonte: elaborada pela autora. A sedimentação em estações de tratamento de efluentes se processa em tanques de decantação, também conhecidos como decantadores, que são projetados em formato circular ou retangular, dependendo do tipo de efluente a ser tratado e da necessidade de remoção do lodo, a qual pode ser manual ou mecânica. Para que você compreenda como um decantador realiza a separação de materiais, é necessário conceituar velocidade terminal de sedimentação, conhecida como velocidade terminal ou taxa de escoamento superficial (VTs), que corresponde a um parâmetro utilizado para prever quais são os materiais que serão removidos total ou parcialmente no decantador, sendo que: Todas as partículas com velocidade de sedimentação igual ou superior a VTs serão removidas pelo decantador. Entretanto, partículas de velocidades de se- dimentação inferiores a VTs poderão ser removidas ou não, dependendo da profundidade útil em que se encontrarem ao entrarem na zona de sedimen- tação (CUNHA, 2004, p. 51). Suponha uma situação em que é conhecido o número de partículas (N) em função da faixa de velocidade de sedimentação (Vs), conforme mostra a tabela 3, em um sistema em que VTs equivale a 3 m³/m².h. 42 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO QUADRO 3 - DISTRIBUIÇÃO DE PARTÍCULAS EM UM DECANTADOR VS (M/H) N POR LITRO (X 10-4) 0 – 1 50 1 – 2 70 2 – 3 100 3 – 4 130 4 – 5 60 5 – 6 40 Fonte: elaborada pela autora. Podemos estimar o número de partículas removidas pelo decantador (Ne) da seguin- te forma: I. Calcula-se a velocidade média de sedimentação (Vms), dada pela média arit- mética da faixa de velocidade de sedimentação. II. Determina-se a fração de partículas removidas (X) pela divisão de velocidade média de sedimentação. III. Multiplica-se o resultado de fração de partículas removidas pelas partículas remanescentes no efluente. A tabela 4 mostra os resultados para cada um desses passos. QUADRO 4 - RESULTADOS DOS CÁLCULOS DO DECANTADOR PROPOSTO. VS (M/H) N POR LITRO (X 10-4) VMS (M/H) X NE (X 10-4) 0 – 1 50 0,5 0,17 8,5 1 – 2 70 1,5 0,50 35 2 – 3 100 2,5 0,83 83 3 – 4 130 3,5 1 130 4 – 5 60 4,5 1 60 5 – 6 40 5,5 1 40 Fonte: elaborada pela autora. Então, inicialmente o sistema continha 450 10 4⋅ − partículas por litro e, desse total, 356 5 10 4 , ⋅ − foram removidos, o que representa uma eficiência de remoção equiva- lente a 79%. 43 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO É importante citar que as dimensões dos decantadores são específicas para condição de concentração, vazão e tipo de efluente tratado. Assim, caso haja algum aumento na taxa de carga hidráulica, deve-se observar se há arraste de lodo não sedimentado, pois a presença desse fenômeno indica que o projeto da estação está subestimado e são necessárias modificações para que o tratamento seja realizado sem comprome- timento da eficiência. Tomiello (2008) classificou os tipos de desarenadores conforme a forma (prismática ou cilíndrica), separação (gravitacional ou centrífuga), modo de remoção (manual, mecanizada por raspador ou ar comprimido - air lift) e fundo (plano, inclinado ou cônico). A figura 7 ilustra um exemplo de decantador cilíndrico gravitacional. FIGURA 8 - DECANTADOR PARA TRATAMENTO DE EFLUENTE Fonte: SHUTTERSTOCK, 2019. No que diz respeito à operação, é necessário manter a atenção em algumas possíveis ocorrências: • turbulências provocadas pelo vento na superfície dos decantadores, pois isso dificultaria a compactação do lodo e promoveria o seu arraste. Essa conse- quência também é provocada pela ausência de placa defletora no sistema; 44 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO • anaerobiose e geração de gases pelos longos tempos de residência de lodos orgânicos; • liberação de forte odor devido à redução do sulfato, gerando gás sulfídrico. A areia sedimentável é removida por desarenação utilizando-se caixas de areia que operam em três etapas, em que se observa que a areia é separada da matéria orgâ- nica presente no efluente. Em seguida, essa areia é submetida a uma lavagem até que, por fim, ocorra o seu descarte, com isso facilita-se a redução e a destinação do volume de resíduos. Recomenda-se que as caixas de areia sejam instaladas antes dos trituradores, bem como entre as seções de gradeamento e decantação, garantindo a: • minimização da deposição de material pesado em equipamentos posteriores (tanques de aeração, digestores aeróbicos, dutos, etc.); • diminuição da necessidade de limpeza de biodigestores; • proteção contra abrasão e obstrução de partes móveis de equipamentos; • operação segura de bombas; • condução do efluente com menor massa específica para a próxima fase de tratamento. A filtração é uma operação unitária em que no transporte do efluente composto por uma mistura de sólido e líquido ocorre a retenção de partículas de acordo com a capacidade e especificidade dos filtros, que podem ser compostos por meios filtran- tes (onde as impurezas são retidas) do tipo carvão ativado, argila, entre outros de diversos materiais e configurações, que dependem das propriedades do fluido a ser tratado, como viscosidade, massa específica, concentração e temperatura. Nas indús- trias, tem-se preferido o uso de filtração por membranas em reatores de lodos ativa- dos (membranas de microfiltração) e de polimento (membranas de ultra ou nanofil- tração) (BRASIL, 2017). Essas membranas são classificadas de acordo com a porosidade apresentada, que por sua vez determina a separação de compostos sólidos conforme a distribuição granulométrica. Então, segundo Mierzwa (2018) temos: • membrana densa: promove a nanofiltração e são reconhecidascomo um meio denso. 45 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO • membrana porosa: realiza a microfiltração e a ultrafiltração, classificada pela International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) em função do diâmetro dos poros e conhecidos como microporos (diâmetro menor que 2 nm), mesoporos (diâmetro entre 2 e 50 nm) e macroporos (diâmetro superior a 50 nm). A microfiltração é promovida aplicando-se uma pressão hidráulica de 0,3 a 1,7 bar para a clarificação de bebidas, tratamento de emulsão com óleo e processos de concentração de indústria alimentícia. A ultrafiltração requer pressões entre 0,7 a 6,9 bar, já que o diâmetro dos poros é inferior ao utilizado na microfiltração. Como consequência, pode-se separar coloides e macromoléculas com massa molecular em torno de 1.000 g/mol, que incluem partículas de indústrias alimentícias e metalúrgicas. Caso seja necessário separar partículas com massa molecular inferior a 200 g/mol e íons bivalentes, utiliza-se a nanofiltração com pressão operacional de 5 a 35 bar. 2.2.3 COAGULAÇÃO, FLOCULAÇÃO E FLOTAÇÃO A tendência de união entre partículas existentes em uma suspensão aquosa é deno- minada coagulação. Os conhecimentos em cinética de reações químicas e em funda- mentos de transferência de massa descrevem esse processo físico-químico. De forma simplificada, a remoção de turbidez e matéria orgânica pode ser realizada por coagu- lação quando se procede o conjunto sequencial de etapas descrito por: “transforma- ção do coagulante, tomada das espécies adsorvidas, desestabilização de partículas e colisões entre as partículas” (GUIMARÃES, 2017, p. 17). Em outras palavras, na coagu- lação, os agentes coagulantes, que podem ser sais de alumínio e de ferro ou naturais, interagem química e fisicamente com a água e impurezas do efluente em função da temperatura, pH e concentração de coagulante, por “compressão de camada difu- sa, adsorção e neutralização, varredura e adsorção e formação de pontes” (FERRARI, 2015, p.17). 46 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Compreender os fenômenos envolvidos na coagulação requer um certo empenho e tempo de estudo. Leia a dissertação de Crislaine Trevisan da Rocha Ribeiro Ferrari, intitulada “Uso de coagulantes naturais para o trata- mento de efluente da indústria de alimentos”, disponível na internet, e elabore um mapa conceitual com as principais definições e esquemas apre- sentados. No momento dessa construção, tenha em mente que é necessário conhecer as propriedades químicas do material que se deseja remover bem como do coagulante. Os mecanismos de interação entre partículas regidos pela coagulação são fundamen- tais para explicar e prever a floculação, ou seja, a formação de partículas maiores e mais densas, ditas flocos, a partir de partículas pequenas e quimicamente desestabilizadas, e do auxílio de um floculante mineral (sílica ativada, bentonita, sulfato de alumínio), natural (polímeros aniônicos, catiônicos) e sintético (polímeros de poliacrilamida). Caso a separação de partículas sólidas, principalmente aquelas compostas por sóli- dos de elevado teor de óleo e graxa, seja realizada por inserção de bolhas de um gás, temos o que caracterizamos por flotação. Essa operação requer uma pequena área de instalação e se baseia na aderência de bolhas ao material que deseja ser remo- vido do efluente e nos cálculos envolvendo força de empuxo, uma vez que ela será a responsável por expressar matematicamente como se dá a ascensão de partículas com massa específica superior ao do líquido em flotadores de ar dissolvido, ejetado e induzido. 2.3 TRATAMENTO BIOLÓGICO DE EFLUENTES O tratamento biológico de efluentes é realizado por microrganismos para a captura de sólidos suspensos não sedimentáveis, remoção de substâncias orgânicas e inorgâ- nicas, e transformação de matéria orgânica biodegradável dissolvida em aglomera- dos sólidos (lodos) e gases, como gás carbônico e metano. 47 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO O dimensionamento e a escolha dos equipamentos necessários nas seções biológicas dependem das condições ótimas para o crescimento e desenvolvimento dos micror- ganismos, sejam eles bactérias, fungos, nematoides, rotíferos, pedunculados ou proto- zoários, tais como temperatura, pH, existência de metal pesado ou material tóxico, e concentração de nutrientes. Assim, podemos ter processos aeróbios ou anaeróbios, representados por lagoas anaeróbias e fotossintéticas, lodos ativados convencionais, lagoas aeradas facultativas, lodos ativados com membranas, entre outros. 2.3.1 PROCESSOS BIOLÓGICOS AERÓBIOS Os processos biológicos aeróbicos, como o próprio nome diz, envolvem uma reação de degradação (consumo) de matéria orgânica na presença de oxigênio (oxigênio puro ou ar atmosférico) e algum microrganismo, conforme mostra a reação química apresentada, em que COHNS identifica a carga orgânica do efluente a ser tratado, que corresponde ao agente redutor e o oxigênio como receptor de elétrons (METCALF; EDDY, 2016). microrganismo Matéria orgânica novas células COHNS O nutrientes CO NH C H NO outros produtos2 2 3 5 7 2 A reação do processo biológico aeróbico pode ser melhor compreendida com o auxílio de fundamentos da engenharia bioquímica, em específico o assunto de desenvolvimento celular, englobando as fases: lag, crescimento acelerado, exponencial, desacelerado, estacionária e declínio, como mostra a figura 8. 48 TraTamenTo de efluenTes e emissões FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO FIGURA 9 - ESBOÇO DE UMA CURVA DE CRESCIMENTO CELULAR A B C D E F tempo ln (C o n ce n tr aç ão ) A – lag B – crescimento acelerado C – exponencial D – desacelerado E – estacionária F - declínio Fonte: elaborada pela autora. Pesquise na internet artigos sobre essa temática para que você compreenda a neces- sidade de inserção do reagente “nutrientes” e do produto “novas células” na reação mencionada. A reação descrita ocorre em lagoas facultativas, lagoas aeradas, valos de oxidação ou lodos ativados, sendo os últimos os mais empregados nas estações de tratamento de efluentes brasileiras, uma vez que possibilitam tratar os fluidos contendo compos- tos tóxicos e diferentes teores de carga orgânica, possuem uma operação estável e requerem pequeno espaço para a sua acomodação. Contudo, geram uma quantida- de expressiva de lodo e requerem alto consumo de energia elétrica e robustos siste- mas de instrumentação. De forma simplificada, as operações envolvendo lodos ativados são: • Entrada do efluente em um tanque de areação provido de um sistema de agitação e aeração para auxiliar na redução de demanda bioquímica de 49 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 TraTamenTo de efluenTes e emissões SUMÁRIO oxigênio (DBO) do sistema, promovida pela degradação da matéria orgânica e ação de microrganismos. • Migração do efluente do tanque de aeração para o tanque de sedimentação, onde ocorre a separação entre o material decomposto e os flocos de microrga- nismo (lodo) da água, motivada pela diferença de massa específica. • Divisão do lodo do tanque de sedimentação em duas partes, sendo que uma será destinada para o descarte ou outro tratamento para o seu aproveitamen- to, e a segunda parte é reciclada para o tanque de aeração. Essa ação contribui para o aumento da velocidade de formação de microrganismo e, consequen- temente, o aprimoramento da eficiência
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