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Capítulo 7 Operadores em espaços normados Neste capítulo vamos introduzir uma série de operadores em espaços normados os quais são muito úteis, nomeadamente, na resolução de equações envolvendo operadores. Vamos dar especial atenção aos operadores (auto)-adjuntos definidos num espaço de Hilbert. 7.1 Operadores adjuntos. Definição e propriedades Nesta secção vamos considerar X, Y espaços normados quaisquer, T : X → Y um operador linear limitado e g ∈ Y ′ um funcional. É claro que g está definido sobre todo Y . Definimos a aplicação f em X por f : X → R, x $→ f (x) := g(T x). A aplicação f possui as seguintes propriedades: X T !! f ""! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Y g ## R 1. f é linear, visto que, g e T o são. 2. f é limitada, pois | f (x)| = |g(T x)| ≤ ‖g‖ |T x| ≤ ‖g‖ ‖T‖ |x|, assim, tomando o supremo sobre todos os x com norma 1, obtemos ‖ f ‖ ≤ ‖g‖ ‖T‖ < ∞. (7.1) 155 Portanto, f ∈ X′, isto é, f é um funcional em X. Deste modo, a cada funcional g ∈ Y ′ corresponde um funcional f ∈ X′ o qual é chamado operador adjunto de T e denotado por T ∗. Definição 7.1 (Operador adjunto) Sejam X, Y dois espaços normados e T : X → Y um operador linear limitado dado. Então o operador adjunto T ∗ : Y ′ → X′ é definido por f (x) = (T ∗g)(x) := g(T x). (7.2) O operador adjunto está bem definido, isto é, a correspondência Y ′ ) g $→ T ∗g ∈ X′ é uma aplicação. De facto, já vimos que f = T ∗g ∈ X′. Assim, só falta verificar que, para cada g ∈ Y ′ existe uma única imagem T ∗g. Suponhamos que g ∈ Y ′ está associado a dois funcionais distintos f1 e f2 em X′. Como f1 ! f2, então existe x ∈ X tal que f1(x) ! f2(x). Mas, ao mesmo tempo, por (7.2) temos f1(x) = f2(x) = g(T x), ∀x ∈ X. Assim, f1 = f2. Proposição 7.2 (Norma do operador adjunto) O operador adjunto T ∗ do ope- rador T definido em (7.2) é linear, limitado e ‖T ∗‖ = ‖T‖ . (7.3) Prova. Vamos verificar a linearidade de T ∗. Para quaisquer g1, g2 ∈ Y ′, !, " ∈ K e x ∈ X temos (T ∗(!g1 + "g2))(x) := (!g1 + "g2)(T x) = !g1(T x) + "g2(T x) = !(T ∗g1)(x) + "(T ∗g2)(x). Da arbitrariedade de x ∈ X resulta T ∗(!g1 + "g2) = !T ∗g1 + "T ∗g2, ou seja, T ∗ é linear. Para mostrar que T ∗ é limitado procedemos do seguinte modo. De (7.2) e (7.1) resulta ‖T ∗g‖ = ‖ f ‖ ≤ ‖g‖ ‖T‖ e, tomando o supremo sobre todos g ∈ Y ′ com norma 1, obtemos a desigualdade ‖T ∗‖ ≤ ‖T‖ . 156 Para provar a desigualdade contrária consideramos x ∈ X\ {0} um elemento arbi- trário dado e denotamos y = T x. Usamos o seguinte resultado: existe um elemento g ∈ Y ′ tal que ‖g‖ = 1 e g(T x) = |T x|. Portanto, temos |T x| = |g(T x)| = (T ∗g)(x) ≤ ‖T ∗g‖ |x| ≤ ‖T ∗‖ ‖g‖ |x| = ‖T ∗‖ |x|, pelo que |T x| ≤ ‖T ∗‖ |x|, para qualquer x ∈ X\ {0}. Como temos sempre |T x| ≤ ‖T‖ |x|, sendo ‖T‖ a menor constante tal que |T x| ≤ ‖T‖ |x|, então terá de ser ‖T‖ ≤ ‖T ∗‖. Em resumo X T !! $$ Y X′ Y ′, T ∗ %% ‖T ∗‖ = ‖T‖ Exemplo 7.3 Sejam X = Y = Rn e T o operador associado à matriz T : A = ! """""""""""""""# a11 a12 . . . a1n a21 a22 . . . a2n ... ... . . . ... an1 an2 . . . ann $ %%%%%%%%%%%%%%%& relativamente à base canónica (ei)ni=1 em R n. A forma geral de um funcional em Rn é f (x) = n' i=1 xi fi, fi := f (ei), f ∈ (Rn)′. Para cada x ∈ Rn y = T x é dado por y1 = a11x1 + a12x2 + . . . + a1nxn y2 = a21x1 + a22x2 + . . . + a2nxn ... ... ... yn = an1x1 + an2x2 + . . . + annxn. 157 Seja (ei)n i=1 a base dual de (ei) n i=1, assim, se g ∈ (R n)′, então g = n' i=1 gie i. Portanto, temos f (x) = g(T x) = g(y) = n' i=1 giyi = n' i=1 gi n' j=1 ai jx j = n' j=1 ! """""# n' i=1 ai jgi $ %%%%%& x j. Deste modo, f é um funcional em X dado em termos de g. Tendo em conta que f = T ∗g, então (T ∗g)(x) = n' j=1 bjx j, bj = n' i=1 ai jgi, ou seja b1 = a11g1 + a21g2 + . . . + an1gn b2 = a12g1 + a22g2 + . . . + an2gn ... ... ... bn = a1ng1 + a2ng2 + . . . + anngn. Assim, a matriz associada a T ∗ é da forma T ∗ : ! """""""""""""""# a11 a21 . . . an1 a12 a22 . . . an2 ... ... . . . ... a1n a2n . . . ann $ %%%%%%%%%%%%%%%& = A!. Vemos, pois, que a matriz associada a T ∗ não é mais do que a matriz transposta A! da matriz A associada a T . Exemplo 7.4 Seja K : [0, 1] × [0, 1] → R uma aplicação contínua dada e con- sideremos o espaço de Hilbert real X = Y = L2([0, 1], ds) =: L2(ds). Seja T o operador integral, com núcleo K, definido em L2(ds) por T : L2(ds)→ L2(ds), x $→ (T x)(t) := ( 1 0 K(t, s)x(s)ds. (7.4) 158 A forma geral de um funcional linear contínuo f em L2(ds) é dada em termos do produto interno em L2(ds), isto é, (x, h) = ( 1 0 x(s)h(s)ds, x, h ∈ L2(ds). Assim, se x ∈ L2(ds) é tal que y = T x, então para todo g ∈ L2(ds), temos f (x) = g(T x) = ( 1 0 (T x)(s)g(s)ds = ( 1 0 ( 1 0 K(s, t)x(t)dtg(s)ds = ( 1 0 )( 1 0 K(s, t)g(s)ds * x(t)dt = (x, T ∗g), onde (T ∗g)(t) := ( 1 0 K(s, t)g(s)ds. Assim, vemos que T ∗ é um operador integral definido em L2(ds) com núcleo K∗(t, s) = K(s, t). Note a troca das variáveis s e t. Observação 7.5 No exemplo anterior, se o espaço de Hilbert considerado L2(ds) for sobre o corpo dos complexos C, então todo o funcional linear contínuo em L2(ds) é da forma h(x) = (x, h) = ( 1 0 x(s)h(s)ds, x, h ∈ L2(ds). Neste caso o adjunto do operador T definido em (7.4) é dado por (T ∗g)(t) := ( 1 0 K(s, t)g(s)ds, ou seja, T ∗ é um operador integral, com núcleo K∗, onde K∗(t, s) = K(s, t). Vamos de seguida apresentar algumas propriedades dos operadores adjuntos sobre espaços normados. Proposição 7.6 Sejam X, Y espaços normados e S , T ∈ B(X, Y) dados. Então 159 1. (S + T )∗ = S ∗ + T ∗. 2. (!T )∗ = !T ∗. Prova. 1. Seja g ∈ Y ′ um funcional arbitrário com vista a mostrar que (S +T )∗g = (S ∗ + T ∗)g. De acordo com a definição, para todo x ∈ X, usando a linearidade de g, obtemos ((S + T )∗g)(x) := g((S + T )x) = g(S x) + g(T x) = (S ∗g)(x) + (T ∗g)(x). Isto implica que (S + T )∗g = S ∗g + T ∗g, ∀g ∈ Y ′, pelo que (S + T )∗ = S ∗ + T ∗. 2. Do mesmo modo, se g ∈ Y ′, então ((!T )∗g)(x) := g((!T )x) = g(!T x) = !g(T x) = !(T ∗g)(x), ∀x ∈ X. De onde resulta que (!T )∗g = !T ∗g, para todo g ∈ Y ′, assim temos (!T )∗ = !T ∗. Proposição 7.7 Sejam X, Y, Z espaços normados, T ∈ B(X, Y) e S ∈ B(Y, Z) da- dos. Então 1. o adjunto do produto S T é dado por (S T )∗ = T ∗S ∗. (7.5) 2. Se T−1 existe e T−1 ∈ B(Y, X), então (T ∗)−1 também existe, (T ∗)−1 ∈ B(X′, Y ′) e (T ∗)−1 = (T−1)∗. Prova. 1. Seja g ∈ Z′ um elemento dado com vista a mostrar que (S T )∗g = (T ∗S ∗)g. Então para todo x ∈ X, temos ((S T )∗g)(x) = g((S T )x) = g(S (T x)) = (S ∗g)(T x), como S ∗g ∈ X′, então o último termo é igual a T ∗(S ∗g)(x). Assim, mostramos que (S T )∗g = T ∗(S ∗g), ∀g ∈ Z′. Da arbitrariedade de g resulta a igualdade (7.5). 2. Queremos mostrar que (T ∗)−1 = (T−1)∗, ou seja que T ∗(T−1)∗ = (T−1)∗T ∗ = I, pois temos a seguinte composição de aplicações: 160 X′ (T−1)∗ !! Y ′ T ∗ !! X′ Assim, sejam h ∈ X′ e x ∈ X dados. Então temos (T ∗(T−1)∗h)(x) := ((T−1)∗h)(T x) := h(T−1T x) = h(x) = (Ih)(x). Inversamente ((T−1)∗T ∗h)(x) := (T ∗h)(T−1x) := h(TT−1x) = h(x) = (Ih)(x). Proposição 7.8 Sejam X, Y espaços normados reflexivos e T ∈ B(X, Y) dados. Então (T ∗)∗ = T. Prova. Sendo T : X → Y , então o seu adjunto T ∗ é um operador de Y ′ em X′, isto é, T ∗ : Y ′ → X′. Deste modo, concluímos que (T ∗)∗ será um operador linear limitado de X′′ em Y ′′: T ∗∗ : X′′ → Y ′′. Pela reflexividade dos espaços X e Y , temos T ∗∗ ∈ B(X, Y). Assim, resta mostrar que os operadores T ∗∗ e T coincidem. Recordemos o operador canónico de X em X′′: C : X → X′′, x $→ C(x) = Fx, onde Fx é definido por Fx(l) := l(x), para qualquer l ∈ X′. Assim, para qualquer g ∈ Y ′ e x ∈ X, temos ((T ∗)∗Fx)(g) = Fx(T ∗g) = (T ∗g)(x) = g(T x), e, por outro lado C◦T◦C−1(Fx)(g) = (C(T x))(g) = FTx(g) = g(T x). X′′ T ∗∗ !! Y ′′ X C && T !! Y C && Exemplo 7.9 Consideremos o espaço de Hilbert complexo X = Y = L2([0, 1]) e ! : [0, 1]→ C uma função mensurável limitada. Definimos T ∈ B(X, Y) por (T x)(t):= !(t)x(t). Mostre que o operador adjunto T ∗ de T é definido por (T ∗g)(t) = !(t)g(t). 161 Prova. Sabemos, pelo teorema de Riesz, que o dual de qualquer espaço de Hilbert é isomorfo a si próprio, assim T ∗ ∈ B(X, Y). Temos ainda que, qualquer funcional linear limitado é representável pelo produto interno, isto é, (x, h) = ( 1 0 x(t)h(t)dt, h, x ∈ L2([0, 1]). Assim, para quaisquer g, x ∈ L2([0, 1]) obtemos f (x) = (T x, g) = ( 1 0 (T x)(t)g(t)dt = ( 1 0 !(t)x(t)g(t)dt = ( 1 0 x(t)!(t)g(t)dt = (x, !̄g) = (x, T ∗g). Portanto, o operador adjunto é dado por (T ∗g)(t) = !(t)g(t). No caso de ! ser real, isto é !(t) = !(t), então teríamos (T ∗g)(t) = !(t)g(t) = (Tg)(t), ou seja, T ∗ = T . Na próxima secção vamos estudar este tipo particular de operadores, chamados auto-adjuntos. Exemplo 7.10 Seja X = Y = #2(R) o espaço de Hilbert real das sucessões cujo quadrado do módulo é somável. Em #2(R) definimos o operador de deslocamento direito U da forma usual, isto é, para cada x = (x1, x2, . . .) ∈ #2(R) Ux = (0, x1, x2, . . .). Prove que o operador adjunto U∗ de U é o operador de deslocamento esquerdo V . Qual será o adjunto do operador V? Prova. Os funcionais lineares limitados em #2(R) são da forma (x, y) = ∞' i=1 xiyi, x, y ∈ #2(R). Portanto, se g ∈ #2(R), então para qualquer x ∈ #2(R) temos f (x) = (Ux, g) = ∞' i=1 (Ux)igi = ∞' i=1 gi+1xi = (x,U ∗g), onde U∗g = (g2, g3, · · · ), ou seja, o adjunto do operador de deslocamento direito é o operador de deslocamento esquerdo V . Usando o Proposição 7.8 temos U∗∗ = V∗ = U, ou seja, o operador dual de V é U. 162 Exercícios Exercício 7.1 Calcule o adjunto de cada um dos seguintes operadores definidos sobre #p(R), p ≥ 1: 1. T x := (x1, x2, . . . , x j, 0, . . .), j ≥ 1. 2. T x := (0, . . . , 0, x1, 0 . . .), onde x1 está na posição j. 3. T x := (!1x1,!2x2, . . .), onde (!i)∞i=1 ∈ # ∞(R) é uma sucessão fixa. 4. T x := (0, 0,!1x1,!2x2, . . .). 5. T x := (! j x j,! j+1x j+1, . . .), j ≥ 1. Exercício 7.2 Seja T ∈ B(X), onde X é um espaço normado. Mostre que para qualquer n ∈ N temos (T ∗)n = (Tn)∗. 7.2 Operador adjunto num espaço de Hilbert Nesta secção vamos analisar o caso particular em que os espaços normados X e Y são espaços de Hilbert. Assim, sejam H1,H2 espaços de Hilbert e T : H1 → H2 um operador linear limitado. O operador adjunto T ∗ de T é, depois dos resultados da secção anterior, tal que T ∗ : H ′2 → H ′ 1, g $→ (T ∗g)(x) := g(T x) = f (x). (7.6) Mas como sabemos, pelo teorema de Riesz, os funcionais g ∈ H ′2, f ∈ H ′ 2 admi- tem representantes, digamos x0, y0, isto é, f (x) = (x, x0)1, (7.7) g(y) = (y, y0)2. (7.8) Vamos denotar por R1,R2 os operadores que realizam estes operadores R1 : H ′1 → H1, f $→ R1( f ) = x0, R2 : H ′2 → H2, g $→ R2(g) = y0. Os operadores R1,R2 possuem as seguintes propriedades: 163 1. bijectivos, 2. preservam a norma, isto é, |R1( f )|1 = |x0|1 = ‖ f ‖, 3. são lineares conjugados, isto é, se f (x) = (x, x0)1 e h(x) = (x, x̂0)1, então para qualquer x ∈ H1, !, " ∈ K temos (! f + "g)(x) = ! f (x) + "g(x) = !(x, x0)1 + "(x, x̂0)1 = (x, !̄h0 + "̄x̂0)1, pelo que !̄x0 + "̄x̂0 é o representante de ! f + "g, de onde resulta que R1(! f + "g) = !̄x0 + "̄x̂0. O mesmo raciocínio para R2. Consideremos o operador T ′ definido por T ′ : H2 → H1, T ′ := R1 ◦ T ∗ ◦ R−12 . Temos T ′y0 = R1(T ∗g) = R1( f ) = x0. T ′ é linear, pois envolve dois operadores lineares conjugados e o operador linear T ∗. H1 T !! T ′ %% H2 H ′1 R1 && H ′2 R2 && T ∗ %% Por outro lado, de (7.6)-(7.8) resulta (T x, y0)2 = g(T x) = f (x) = (x, x0)1 = (x, T ′y0)1, ou seja (T x, y)2 = (x, T ′y)1. Definição 7.11 Seja T : H1 → H2 um operador linear limitado. Então o adjunto T ∗ de T é um operador T ∗ : H2 → H1 definido por (T x, y)2 = (x, T ∗y)1, ∀x ∈ H1, y ∈ H2. Os exemplos apresentados até agora, foram todos sobre espaços de Hilbert. Vamos em seguida coleccionar algumas das propriedades e relações típicas do operador adjunto de um operador linear limitado definido num espaço de Hilbert. 164 Proposição 7.12 Sejam T,U ∈ B(H1,H2) operadores lineares limitados. Mostre que 1. (T + U)∗ = T ∗ + U∗. 2. T ∗∗ = T, 3. (!T )∗ = !̄T ∗, ! ∈ K. 4. N(T ) = R(T ∗)⊥. 5. N(T ∗) = R(T )⊥. 6. R(T ) = N(T ∗)⊥. 7. R(T ∗) = N(T )⊥. TH1 H2 H2H1 N(T!) R(T )"R(T ) T ! N(T )" R(T!) R(T!)" N(T!)" N(T ) Prova. Ver Exercício 7.7. Exercícios Exercício 7.3 Seja X = Y = L2(R, dt) o espaço de Hilbert das funções comple- xas mensuráveis de quadrado integrável. Para cada constante k ∈ R definimos o operador T ∈ B(X, Y) por (T x)(t) := x(t − k) o qual é chamado operador de deslocamento ou operador de translação. Calcule o operador adjunto T ∗ do operador T . Exercício 7.4 Calcule o adjunto de cada um dos seguintes operadores definidos sobre L2(R): 1. (T x)(t) := !(t)x(t + k), onde ! é uma função limitada e k ∈ R está fixo. 2. (T x)(t) := 12(x(t) + x(−t)). Exercício 7.5 Seja H um espaço de Hilbert e y, z ∈ H fixos. Definimos T ∈ B(H) por T x := (x, y)z. Calcule o adjunto de T . 165 Exercício 7.6 Seja H um espaço de Hilbert e (en)∞n=1 uma base ortonormada em H . Definimos o operador T por T : H → H , en $→ Ten := en+1. 1. Calcule o núcleo, a imagem e a norma de T . 2. Encontre o operador adjunto T ∗ de T . Exercício 7.7 Prove a Proposição 7.12. Exercício 7.8 Prove que se (Tn)∞n=1 é uma sucessão de operadores lineares limita- dos num espaço de Hilbert tais que Tn → T , então T ∗n → T ∗. 7.3 Operadores auto-adjuntos De entre os operadores definidos num espaço de HilbertH existem algumas clas- ses de especial interesse, uma delas vamos estudar nesta secção. Assim, nesta secção vamos supor queH1 = H2 = H e o espaço linear dos operadores lineares limitados sobreH B(H). Definição 7.13 Seja operador T ∈ B(H) um operador dado. Então T chama-se 1. auto-adjunto se e só se T ∗ = T, isto é, (T x, y) = (x, Ty), ∀x, y ∈ H , 2. unitário se e só se T é bijectivo e T ∗ = T−1, isto é, (T x, y) = (x, T−1y), ∀x, y ∈ H , 3. normal se e só se TT ∗ = T ∗T. Observação 7.14 1. Se T ∈ B(H) é um operador unitário, então T preserva o produto interno, pois (T x, Ty) = (x, T ∗Ty) = (x, T−1Ty) = (x, y), ∀x, y ∈ H . 166 2. Por seu lado, se T é auto-adjunto ou unitário, então T é normal. De facto, suponhamos que T é auto-adjunto, então temos T ∗ = T e evidentemente que TT ∗ = T ∗T = T 2. Se T é unitário, então T ∗ = T−1, pelo que TT ∗ = T ∗T = I. 3. Do Exemplo 7.3 resulta que T é auto-adjunto se e só se ai j = aji, ∀i, j = 1, . . . , n, ou seja a matriz é simétrica. Se a matriz (ai j)ni, j=1 for complexa, então o operador é auto-adjunto se e só se a matriz for Hermiteana, isto é, ai, j = ā j,i, ∀i, j = 1, . . . , n. Já no Exemplo 7.4 o operador T será auto- adjunto se e só se a função K for simétrica, isto é, K(s, t) = K(t, s), ∀s, t ∈ [0, 1]. No caso complexo teríamos K(s, t) = K(t, s). 4. Se T ∈ B(H) é um operador auto-adjunto, então H = N(T ) ⊕ R(T ∗). De facto, como N(T ) é fechado, então pelo teorema sobre a decomposição de um espaço de Hilbert na soma directa de espaços mutuamente ortogonais, temos H = N(T ) ⊕ (N(T ))⊥. Mas pela Proposição 7.12-7, temos (N(T ))⊥ = R(T ∗), de onde o resultado. Teorema 7.15 (critério T ∗ = T ) Seja T : H → H um operador linear limitado no espaço de HilbertH . Então 1. se T é auto-adjunto, (T x, x) é real para todos x ∈ H , 2. se H é complexo e (T x, x) é real para todos x ∈ H , o operador T é auto- adjunto. Prova. 1. Por hipótese T ∗ = T e (T x, x) = (x, T x) = (T x, x), ou seja, (T x, x) é igual ao seu conjugado, pelo que (T x, x) ∈ R, ∀x ∈ H . 2. Como (T x, x) ∈ R ∀x ∈ H , então (T x, x) = (T x, x) = (x, T ∗x) = (T ∗x, x). Deste modo temos ((T − T ∗)x, x) = 0, ∀x ∈ H . Em particular para x = !y + z, obtemos ((T − T ∗)(!y + z),!y + z) = |!|2((T − T ∗)y, y) + !((T − T ∗)y, z) +!̄((T − T ∗)z, y) + ((T − T ∗)z, z), 167 tendo em atenção que ((T − T ∗)y, y) = ((T − T ∗)z, z) = 0, obtemos ((T − T ∗)(!y + z),!y + z) = !((T − T ∗)y, z) + !̄((T − T ∗)z, y) = 0.Escolhendo ! = 1 e ! = i obtemos + ((T − T ∗)y, z) + ((T − T ∗)z, y) = 0 ((T − T ∗)y, z) − ((T − T ∗)z, y) = 0 ⇔ ((T − T ∗)y, z) = 0, ∀y, z ∈ H , fazendo z = (T − T ∗)y resulta (T − T ∗)y = 0, ∀y ∈ H , ou seja T − T ∗ = 0. Isto prova que T é auto-adjunto. Exemplo 7.16 Sejam (!n)∞n=1, ("n) ∞ n=1, ($n) ∞ n=1 ∈ # ∞(R) sucessões fixas e T ∈ B(#2(R)) um operador definido de seguintemodo: para cada x ∈ #2(R) T x = ((T x)1, (T x)2, . . .), onde (T x)1 = !1x1 + "1x2, (T x)n = $n−1xn−1 + !nxn + "nxn+1, n ≥ 2. Que condições devem verificar os números !n, "n e $n, n ≥ 1 para que T ∗ = T . Prova. Temos de ver em que condições sobre os coeficientes das sucessões dadas temos (T x, y)#2(R) = (x, Ty)#2(R). Assim, temos (T x, y)#2(R) = ∞' n=1 (T x)nyn = (!1x1 + "1x2)y1 + ∞' n=2 ($n−1xn−1 + !nxn + "nxn+1)yn = (!1y1 + $1y2)x1 + ∞' n=n ($nyn+1 + !nyn + "n−1yn−1)xn = (x, T ∗y)#2(R). Assim, T ∗y é dado por (T ∗y)1 = !1y1 + $1y2, (T ∗y)n = $nyn+1 + !nyn + "n−1yn−1, n ≥ 2. Portanto, para que T ∗ = T , isto é T ∗x = T x, ∀x ∈ H terá de ser !1x1 + $1x2 = !1x1 + "1x2 ⇒ $1 = "1, $nxn+1 + !nxn + "n−1xn−1 = $n−1xn−1 + !nxn + "nxn+1, ⇒ $n = "n, n ≥ 2. Assim, concluímos que a sucessão (!n)∞n=1 ∈ # ∞(R) é qualquer e ("n)∞n=1 = ($n) ∞ n=1. 168 Exercícios Exercício 7.9 Sejam T,U ∈ B(H) dois operadores dados. Mostre que 1. se T,U são auto-adjuntos e !, " ∈ K, então !T + "U é auto-adjunto, 2. se T,U são auto-adjuntos, então o operador TU é auto-adjunto se e só se T e U comutam, isto é, [T, S ] = TU − UT = 0, 3. os operadores R = 12(T +T ∗) eC = 12i(T −T ∗) são auto-adjuntos. T = R+ iC e T ∗ = R− iC, o operador R chama-se a parte real do operador T e C a parte imaginária de T , 4. se T é um operador normal, então RC = CR, onde R,C são os operadores definidos em 3. Exercício 7.10 Seja (Tn)∞n=1 uma sucessão de operadores lineares limitados auto- adjuntos definidos Tn : H → H sobre um espaço de HilbertH . Suponhamos que (Tn)∞n=1 converge uniformemente para o operador T , isto é, ‖Tn − T‖ → 0, n→∞. Prove que o operador limite T é linear limitado e auto-adjunto. Exercício 7.11 Seja Tn : H → H , n ∈ N uma sucessão de operadores normais (TnT ∗n = T ∗ nTn) tais que Tn → T . Mostre que T é um operador linear normal. Exercício 7.12 Mostre que se T : H → H é um operador isométrico, isto é, |T x| = |x|, ∀x ∈ H , então T ∗T = I. 7.4 Operadores de projecção Recordemos que, dado um espaço de HilbertH e um subespaço L deH , entãoH pode representar-se como soma directa de L e o seu ortogonal L⊥, isto é, H = L ⊕ L⊥. Assim, dado x ∈ H existem y ∈ L e z ∈ L⊥ tais que x = y + z. 169 Dado que a soma é directa, y é único para qualquer x ∈ H . Portanto, a cada x ∈ H associamos um único elemento y ∈ L, isto é, definimos um operador linear P : H → H , x $→ Px = y, o qual é chamado projecção ortogonal ou projecção em H . Mais precisamente, P é chamado projecção de H sobre L. É claro que P está definido sobre todoH e a sua imagem é exactamente o subespaço L. Por outro lado, se x ∈ H é da forma x = y + z, com y ∈ L e z ∈ L⊥, então Px = P(y + z) = Py + Pz = y, isto é, Py = y, ∀y ∈ L e Pz = 0, ∀z ∈ L⊥. Concluímos, pois, que N(P) = L⊥. Temos a seguinte definição. Definição 7.17 Um operador linear P : H → H é uma projecção emH se existe um subespaço L deH tal que R(P) = L, N(P) = L⊥ e P|L é o operador identidade em L. O próximo teorema dá um critério para caracterizar os operadores de projecção emH o qual pode ser usado como definição. Teorema 7.18 Um operador linear limitado P : H → H num espaço de Hilbert H ! {0} é uma projecção se e só se P é auto-adjunto e idempotente, isto é, P2 = P. Temos ainda que ‖P‖ = 1. Prova. Suponhamos que P é uma projecção em H e denotemos P(H) = L com vista a mostrar que P é auto-adjunto, idempotente com norma 1. Para qualquer x ∈ H com Px = y ∈ L temos P2x = P(Px) = Py = y = Px, logo P é idempotente. Sejam x1, x2 ∈ H tais que x1 = y1 + z1, y1 ∈ L, z1 ∈ L⊥, x2 = y2 + z2, y2 ∈ L, z2 ∈ L⊥. É claro que (y1, z2) = (y2, z1) = 0. Por outro lado (Px1, x2) = (y1, y2 + z2) = (y1, y2) + (y1, z2) = (y1 + z1, y2) = (x1, Px2), e, portanto, P é auto-adjunto. 170 A norma de P pode calcular-se do seguinte modo: para todo x ∈ H com x = y+ z, Px = y e de acordo com o teorema de Pitágoras, temos |x|2 = |y|2 + |z|2 ⇒ |y| ≤ |x|⇔ |Px| ≤ |x|. Tomando o supremo sobre todos os x com norma 1, obtemos ‖P‖ ≤ 1. Para mostrar a desigualdade contrária notemos que se x ∈ L e x ! 0, então Px = x, pelo que |x| = |Px| ≤ ‖P‖ |x| de onde resulta que ‖P‖ ≥ 1. Das duas desigualdades obtemos ‖P‖ = 1. Inversamente, suponhamos que P2 = P = P∗ e denotamos P(H) = L com vista a mostrar que P é uma projecção. Cada x ∈ H pode escrever-se como x = Px + (I − P)x. Vamos mostrar que L = P(H) ⊥ (I − P)(H). De facto, temos (Px, (I − P)y) = (x, P(I − P)y) = (x, Py − P2y) = (x, Py − Py) = (x, 0) = 0. Com vista a mostrar que L = P(H) é um subespaço de H vamos provar que L = N(I − P) e usar o resultado que diz: o núcleo de um operador linear limitado é fechado. Assim, seja x ∈ L, então (I − P)x = x − Px = x − x = 0, logo x ∈ N(I − P), logo L ⊂ N(I − P). Por outro lado, se y ∈ N(I − P), então Py = y, pelo que y ∈ P(H) = L. Deste modo obtemos L = N(I − P). Portanto, L é um subespaço de H . Notemos que L⊥ = N(P), pois, se z ∈ L⊥, então para qualquer y ∈ L temos (z, y) = 0, mas como L = P(H), então y = Px, x ∈ H . Assim, (z, y) = (z, Px) = (Pz, x) = 0⇒ Pz = 0⇒ z ∈ N(P). Finalmente P|L é o operador identidade em L, pois se x ∈ L = P(H), então x = Py, y ∈ H . Pelo que Px = P2y = Py = x, ou seja P|L = I. 171 Exemplo 7.19 Sejam P1 e P2 projecções em H sobre L1 e L2, respectivamente, tais que P1P2 = P2P1. Mostre que P = P1 + P2 − P1P2 é uma projecção de H sobre L1 + L2. Prova. Temos de mostrar que P é auto-adjunto e idempotente. De facto, aten- dendo a que P1 e P2 são projecções e P1P2 = P2P1, então P∗ = P∗1 + P ∗ 2 − P ∗ 2P ∗ 1 = P1 + P2 − P2P1 = P1 + P2 − P1P2 = P. logo P é auto-adjunto. Falta mostrar que P2 = P. Mas, para qualquer x ∈ H , temos P2x = (P1 + P2 − P1P2)2x = (P21 + P1P2 − P 2 1P2 + P2P1 + P 2 2 − P2P1P2 − P1P2P1 − P1P 2 2 +P1P2P1P2)x. Usando o facto de P21 = P1, P 2 2 = P2 e P1P2 = P2P1 a última igualdade dá lugar a (P1 + P 2 2 − P1P2)x = Px, logo P é idempotente. É fácil ver que P é uma projecção deH sobre L1+L2, pois, se x ∈ H , então Px = (P1 + P2 − P1P2)x = P1(x − P2x) + P2x ∈ L1 + L2. Exercícos Exercício 7.13 Seja T = S −1PS : H → H , onde S , T ∈ B(H) tais que P é uma projecção e S unitário. Prove que T é uma projecção. Exercício 7.14 Sejam P1, P2 ∈ B(H) projecções emH . Mostre que P = P1 + P2 é uma projecção se e só se P2P1 = 0. 172 7.5 Operadores compactos O estudo dos operadores compactos foi motivado pelo uso das equações inte- grais como tentativa para resolver os problema com valores de fronteira da Física- Matemática, também chamado problema de Dirichlet. Este problema consiste no seguinte. Consideremos uma região D aberta de R3 com uma fronteira %D dife- renciável. O problema de Dirichlet para a equação de Laplace é: dada uma função contínua f sobre %D, encontrar uma função u ∈ C2(D) e contínua em D̄ tal que !u(x) = 0, x ∈ D, u(x) = f (x), x ∈ %D. Recordemos que um conjuntoM diz-se compacto se qualquer sucessão (xn)∞n=1 ⊂ M tem uma subsucessão (xnk) ∞ k=1 convergente em M, isto é, xnk → x ∈ M, k → ∞. Definição 7.20 (Operador compacto) Sejam X, Y espaços normados e T : X → Y um operador linear. Então T chama-se compacto (ou completamente contínuo) se e só se para qualquer sucessão limitada (xn)∞n=1 ⊂ X a sucessão (T xn) ∞ n=1 ⊂ Y possui uma subsucessão convergente em Y. Proposição 7.21 Sejam X, Y espaços normados. Então 1. todo o operador linear compacto T : X → Y é limitado, logo contínuo. 2. Se dimX = ∞, então nem todo o operador limitado é compacto. Prova. 1. Seja (xn)∞n=1 ⊂ X uma sucessão limitada tal que |xn| = 1 e (xnk) ∞ k=1 uma subsucessão qualquer da sucessão (xn)∞n=1. Suponhamos por absurdo que T não é limitado, isto é, |T xnk | → ∞, k → ∞.Mas isto implica que (T xnk)∞k=1 não é convergente em Y , pelo que T não é compacto, absurdo. Assim, T é limitado. Como T é linear limitado T é contínuo. 2. Consideremos X = Y = #2(R), (en)∞n=1 a base canónica em # 2(R) e o operador identidade I. É claro que a sucessão (en)∞n=1 é limitado, pois, |en| = 1, ∀n ∈ N e ‖I‖ = 1. Temos |Ien − Iem| = √ 2, pelo que (Ien)∞n=1 não é uma sucessão de Cauchy, logo (Ien) ∞ n=1 não possui uma subsucessão convergente. 173 Observação 7.22 A última proposição diz que a compactidade (continuidade com- pleta) de um operador é uma propriedade mais forte do que a continuidade habi- tual, a limitação. A próxima proposição dá a relação entre operadores compactos e a dimensão do domínio e imagem. Proposição 7.23 Sejam X, Y espaços normados e T : X → Y um operador linear dado. Então 1. se T é limitado e dimT (X) < ∞, o operador T é compacto, 2. Se dimX < ∞, o operador é compacto. Prova. 1. Seja (xn)∞n=1 uma sucessão limitada qualquer em X com vista a mostrar que (T xn)∞n=1 possui uma subsucessão convergente. Como T é limitado assim como (xn)∞n=1, então a desigualdade |T xn| ≤ ‖T‖ |xn| mostra que a sucessão (T xn)∞n=1 é limitada. Atendendo a que dimT (X) < ∞, então, digamos T (X) é isomorfo a Ck, k ∈ N. Assim, de acordo com o teorema de Bolzano a sucessão limitada (T xn)∞n=1 possui uma subsucessão convergente. Portanto T é compacto por definição. 2. Como dim X < ∞, então todo o operador linear é limitado e temos sempre dimT (X) < dim X < ∞, pelo Teorema 4.3-3. O resultado é uma consequência de 1. Teorema 7.24 (Sucessão de operadores compactos) Seja X um espaço normado, Y um espaço de Banach e (Tn)∞n=1 ∈ B(X, Y) uma sucessão de operadores li- neares compactos. Se Tn converge uniformemente para o operador T (isto é, ‖Tn − T‖ → 0, n→∞), então o operador T é compacto. Prova. Seja (xn)∞n=1 uma sucessão qualquer limitada em X com vista a mostrar que (T xn)∞n=1 possui uma subsucessão convergente. Como T1 é compacto, existe uma subsucessão (x1 k )∞ k=1 de (xn) ∞ n=1 tal que (T1x 1 k )∞ k=1 é convergente, em particular de Cauchy. Do mesmo modo, existe uma subsucessão (x2j) ∞ j=1 de (x 1 k )∞ k=1 tal que 174 (T2x2j) ∞ j=1 é convergente, logo de Cauchy. Continuando este processo obtemos o seguinte diagrama T1x1 T1x2, . . . , T1xn, . . . T1x 1 1 T1x 1 2, . . . , T1x 1 n, . . . −→ x 1 T2x 2 1 T2x 2 2, . . . , T2x 2 n, . . . −→ x 2 ... ... ... Tmx m 1 Tmx m 2 , . . . , Tmx m m, . . . −→ xm ... ... ... Consideremos a sucessão “diagonal” (ym)∞m=1, ym = x m m, m ∈ N e vamos mostrar que a sucessão (Tym)∞m=1 é de Cauchy e, portanto, convergente, pois Y é completo. Notemos que a sucessão (ym)∞m=k é uma subsucessão da sucessão (x k m) ∞ m=1 e que (Tkxkn) ∞ n=1 é convergente, pelo que (Tkym) ∞ m=1 é convergente para qualquer k ∈ N. Por outro lado, como a sucessão inicial (xn)n∈N é limitado, digamos |xn| ≤ C para todos n ∈ N, então também |ym| ≤ C, para todos m ∈ N. Seja & > 0 dado. Então como Tn → T existe uma ordem n = p tal que , , ,Tp − T , , , < & 3C . Por outro lado, como (Tpym)m∈N é de Cauchy, logo existe N tal que |Tpym − Tpym′ | < & 3 , m,m′ > N. Assim, para m,m′ > N obtemos |Tym − Tym′ | ≤ |Tpym − Tym| + |Tpym − Tpym′ | + |Tpym′ − Tym′ | ≤ , , ,Tp − T , , , |ym| + & 3 + , , ,Tp − T , , , |ym′ | < & 3C C + & 3 + & 3C C = &. Isto mostra que (Tym)m∈N é uma sucessão de Cauchy a qual é convergente, pois Y é um espaço de Banach. Da arbitrariedade da sucessão (xn)n∈N e visto que (Tym)m∈N é uma subsucessão de (T xn)n∈N, resulta a compactidade de T . 175 Exemplo 7.25 Seja X = Y = #2(R) e T ∈ B(#2(R)) definido por T x = - x1 1 , x2 2 , x3 3 , . . . , xn n , . . . . . Então T é compacto. Prova. É fácil verificar que T está bem definido, pois |T x|2 = ∞' i=1 / / / / / xi i / / / / / 2 ≤ ∞' i=1 |xi|2 = |x|2 < ∞. Para cada n ∈ N definimos a sucessão (Tn)n∈N por Tn : # 2(R) → #2(R), x $→ Tnx := - x1 x2 2 , x3 3 , . . . , xn n , 0, . . . . . É claro que os operadores Tn são lineares e limitados. Como dimTn(#2(R)) < ∞, então pelo Proposição 7.23-1, Tn é compacto. Temos ainda que |(Tn − T )x|2 = ∞' i=n+1 / / / / / xi i / / / / / 2 ≤ 1 n + 1 ∞' i=n+1 |xi|2 ≤ 1 n + 1 |x|2. Tomando o supremo sobre todos os x com norma 1, obtemos ‖Tn − T‖ ≤ 1 n + 1 , portanto Tn → T e T é compacto pelo Teorema 7.24 dado que #2(R) é um espaço de Hilbert, logo de Banach. O próximo teorema é muito importante em aplicações da análise funcional. Teorema 7.26 Seja X um espaço normado e T, S : X → X dois operadores lineares tais que T é compacto e S é limitado. Então TS e S T são compactos. Prova. Seja (xn)∞n=1 ⊂ X uma sucessão limitada qualquer com vista a mostrar que a sucessão (TS xn)∞n=1 possui uma subsucessão convergente. De facto, como S é limitado, então a sucessão (S xn)∞n=1 é limitada. Assim, dado que T é compacto, a sucessão (TS xn)∞n=1 possui uma subsucessão convergente. Isto mostra que TS é compacto. 176 Inversamente, a sucessão (T xn)∞n=1 possui uma subsucessão (T xnk) ∞ k=1 convergente, digamos lim n→∞ T xn = y ∈ X por T ser compacto. Da continuidade de S vem que a sucessão (S T xnk) ∞ k=1 é convergente lim k→∞ S T xnk = S lim k→∞ T xnk = S y ∈ X. Portanto, o operador S T é compacto. Na Proposição 7.21-2. vimos que o operador identidade num espaço de dimen- são infinita não é compacto. Usando este resultado e o teorema anterior obtemos o seguinte corolário. Corolário 7.27 Seja X um espaço normado com dimensão infinita. Então se T ∈ B(X) é um operador compacto o seu inverso T−1 não pode ser limitado. Teorema 7.28 SejaH um espaço de Hilbert e A ∈ B(H). Então A é compacto se e só se o seu adjunto A∗ é compacto. Prova. Seja A um operador compacto com vista a mostrar que A∗ é compacto. Pelo Teorema 7.26 o operador AA∗ é compacto. Então se (xn)∞n=1 ⊂ H é uma su- cessão limitada qualquer, a sucessão (AA∗xn)∞n=1 possui uma subsucessão (AA ∗xnk) ∞ k=1 convergente. Vamos mostrar que a sucessão (A∗xnk) ∞ k=1 é de Cauchy e, portanto, converge emH . De facto, temos |A∗xnk − A ∗xnl | 2 = (AA∗(xnk − xnl), xnk − xnl) ≤ |AA∗(xnk − xnl)||xnk − xnl | ≤ 2C|AA∗(xnk − xnl)|, pois |xnk − xnl | ≤ |xnk | + |xnl | ≤ 2C, por (xn)∞n=1 ser limitada. Como a sucessão (AA∗xnk) ∞ k=1 é convergente ela é de Cauchy emH , portanto, (A ∗xnk) ∞ k=1 é de Cauchy. Como H é completo (A∗xnk)∞k=1 converge em H . De acordo com a definição de operador compacto (ver Definição 7.20) A∗ é compacto. Inversamente, suponhamos que A∗ é compacto com vista a mostrar que A é com- pacto. De acordo com a prova anterior (A∗)∗ = A∗∗ é compacto. Mas pela Propo- sição 7.12-2 temos A∗∗ = A, logo A é compacto. 177 Exercícios Exercício 7.15 Seja H um espaço de Hilbert separável e (en)∞n=1 uma base orto- normada de H . Um operador T : H → H diz-se de Hilbert-Schmidt se e só se |T |HS < ∞, onde |T |2HS := ∞' n=1 |Ten|2 = ∞' n=1 ∞' k=1 |(Ten, ek)|2. Prove que se T ∈ B(H) é de Hilbert-Schmidt, então T é compacto. Sugestão: prove que T é o limite de uma sucessão (Tn)∞n=1 de operadores compac- tos e use o facto de ‖Tn − T‖ ≤ |Tn − T |HS . Exercício 7.16 Mostre que o operador T : #2(R)→ #2(R) definido por T x := - x1 2 , x2 22 , . . . , xn 2n , . . . . é compacto. Sugestão: use um processo análogo ao Exemplo 7.25. Exercício 7.17 Mostre que o operador T : #p(R) → #p(R), 1 ≤ p ≤ ∞ definido por T x := - x1 1 , x2 2 , . . . , xn n , . . . . é compacto. Exercício 7.18 Sejam X, Y espaços de Banach e (B(X, Y), ‖·‖) o espaço de Banach dos operadores lineares limitados de X em Y . Denotamos por C(X, Y) o conjunto dos operadores compactos de X em Y . Mostre que C(X, Y) é um subespaço fe- chado de B(X, Y). Exercício 7.19 Seja H um espaço de Hilbert e y, z ∈ H fixos. Mostre que o operador T : H → H , x $→ T x := (x, y)z é compacto. 178
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