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2017
PAULO LÉPORE
LEANDRO BORTOLETO
4.ª edição 
revista e atualizada
Coleção 
TRIBUNAIS e MPU
Coordenador 
HENRIQUE CORREIA
Noções de
DIREITO CONSTITUCIONAL e
de DIREITO ADMINISTRATIVO
PARA OS CONCURSOS DE TÉCNICO DOS TRIBUNAIS E MPU
27
CAPÍTULO I
Sumário: 1. Conceito de Constituição e supremacia constitucional: 1.1. Constituição sociológica; 1.2. 
Constituição política; 1.3. Constituição jurídica; 1.4. Constituição culturalista; 1.5. Constituição aberta 
– 2. Poder constituinte: 2.1. Ideia ou teoria clássica de poder constituinte; 2.2. Espécies de poder 
constituinte: 2.2.1. Poder constituinte originário (também denominado como genuíno, primário ou 
de primeiro grau); 2.2.2. Poder constituinte derivado reformador (também denominado de reforma, 
secundário, de segundo grau, instituído ou constituído); 2.2.3. Poder constituinte derivado decorrente; 
Quanto à origem; 3.2. Quanto ao conteúdo; 3.3. Quanto à forma; 3.4. Quanto à estabilidade/muta
elaboração; 3.8. Quanto à ideologia; 3.9. Quanto ao valor ou ontologia (Karl Loewestein); 4. Máximas 
do Brasil de 1988 – 6. Componentes e elementos da Constituição: 6.1. Componentes da Constituição: 
e aplicabilidade das normas constitucionais.
1. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO E SUPREMACIA CONSTITUCIONAL
norma suprema que rege a orga-
nização de um Estado Nacional.
tituição devem ser estudadas.
1.1. Constituição sociológica 
soma dos fatores reais de poder que rege determinada na
Constituição real.
1.2. Constituição política 
corre de uma decisão política fundamental
dos Poderes e na presença de um rol de direitos fundamentais. As normas que não 
mas meras leis constitucionais. 
28
Parte I • NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore
de Constituição material
da ordem política.
1.3. Constituição jurídica
Fundada nas lições de Hans Kelsen, nos idos de 1934, Constituição jurídica é 
aquela que se constitui em norma hipotética fundamental pura
se constituir no conjunto de normas com mais alto grau de validade, deve servir 
de pressuposto para a criação das demais normas que compõem o ordenamento 
da pirâmide normativa, servindo como paradigma máximo de validade para todas 
as demais normas do ordenamento jurídico. Em outras palavras: as leis e os atos 
válidos se não contrariarem as normas da Constituição.
PIRÂMIDE NORMATIVA
Constituição
Leis
Atos infralegais
1.4. Constituição culturalista 
representa o fato cultural, ou seja, que disciplina as relações e direitos fundamentais 
pertinentes à cultura, tais como a educação, o desporto e a cultura em sentido estrito.
1.5. Constituição aberta 
interpreta-
da por todo o povo e em qualquer espaço, e não apenas pelos juristas nos bojos 
dos processos.
29
Cap. I • TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
2. PODER CONSTITUINTE 
2.1. Ideia ou teoria clássica de poder constituinte 
A mais famosa obra sobre o poder constituinte se intitula “Que é o terceiro Es-
tado?”
o povo é o verdadeiro titular e detentor do 
poder na sociedade. 
nação. O fato é que, apesar de titular do poder político, o 
a força ge-
ral da nação1 fundamenta o povo a, no exercício do poder constituinte, criar uma 
Constituição
exercido em uma determinada sociedade, notadamente por meio de instituições, 
órgãos e representantes políticos. 
energia ou forma 
política que se funda em si mesma, expressando a sublime vontade de um povo 
quanto à organização de um Estado.2
Ao legitimar e participar da criação de uma Constituição, o povo atribui parcelas 
(Executivo, Legislativo e Judiciário). Portanto, o poder constituinte é de titularidade 
do povo, mas é o Estado, por meio de seus órgãos especializados, que o exerce.
Sobre o tema, é esclarecedora a redação do art. 1º, parágrafo único, da CF: 
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos 
ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
2.2. Espécies de poder constituinte
Três são as espécies de poder constituinte: originário, derivado reformador e 
derivado decorrente.
2.2.1. Poder constituinte originário (também denominado como genuíno, pri-
mário ou de primeiro grau) 
É aquele que cria a primeira ou a nova Constituição de um Estado. 
Para atingir seu objetivo, ele é inicial (não existe outro poder anterior ou su
perior a ele) autônomo (o poder constituinte determina a estrutura da nova Cons
tituição), ilimitado
1. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 
Manual de direito constitucional. 4 ed. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 101.
30
Parte I • NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore
incondicionado (é dotado 
de liberdade quanto aos procedimentos adotados para a criação da Constituição, 
permanente 
(“[...] já que o poder constituinte originário não se esgota com a edição da nova 
Constituição, sobrevivendo a ela e fora dela como forma de expressão da liberdade 
3).
2.2.2. Poder constituinte derivado reformador (também denominado de re-
forma, secundário, de segundo grau, instituído ou constituído)
É o responsável pela reforma da Constituição, que no Brasil se dá via emenda 
constitucional (art. 60 da CF) ou por meio da incorporação de tratados internacionais 
Vale notar que a CF de 1988 não prevê expressamente o poder constituinte 
derivado, mas este se encontra implícito e se extrai, por exemplo, da norma cons
titucional que prevê a edição de emendas à Constituição (art. 60 da CF).
2.2.3. Poder constituinte derivado decorrente
construção das Constituições Es-
taduais, consoante art. 25 da CF.
dos, mas que sempre está limitada pelo dever de respeito às normas contidas na 
Constituição Federal.
Encerrando a disciplina das espécies de poder constituinte, destacamos que 
Municípios, pois estes têm sua estruturação jurídica dada por meio de Lei orgânica, 
não de Constituição (art. 29 da CF).
2.3. Limitações ao poder constituinte derivado reformador
O poder constituinte derivado reformador é o que merece ser estudado com mais 
gerando vasta produção doutrinária e inúmeras manifestações judiciais sobre o tema.
Um dos tópicos mais importantes é aquele referente às limitações ao poder 
constituinte derivado reformador. Segundo a doutrina, as limitações se subdividem 
em: 1. temporais; 2. circunstanciais; 3. formais; 4. Materiais e 5. Implícitas.
1. Temporais: são as que impedem a alteração da Constituição por um determi
2. Circunstanciais: são aquelas que impedem a alteração da Constituição em 
momentos de extrema gravidade, nos quais a livre manifestação do poder 
3. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 186.
31
Cap. I • TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
reformador possa estar ameaçada, o que se dá, por exemplo, na intervenção 
 CUIDADO!
Não confunda as limitações circunstancias com as temporais!
3. Formais/processuais/procedimentais: podem ser de duas espécies: subjetiva 
ou objetiva
3.1. Formal subjetiva: 
propositura de emendas constitucionais, consoante art. 60, caput, da CF.
3.2. Formal objetiva: 
quintos, em dois turnos, em cada Casa do Congresso Nacional, com pro
mulgação pelas mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, 
4. Materiais/substanciais: versam sobre matérias que não podem ser objeto 
de emenda, o que a doutrina denomina de cláusulas pétreas.
forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a 
separação dos Poderes; IV – os direitos e garantias individuais. Não será objeto de 
Vale ressaltar que o STF entende que os direitos e garantias individuais consi
derados cláusulas pétreas não se restringem àqueles expressos no elenco do art. 
5º da CF, ou seja, estão presentes também em outros dispositivos constitucionais. 
Isso porque o Supremo Tribunal Federal admitiu interpretação extensiva para 
direitos análogos
e garantias individuais mesmo estando fora do art. 5º da CF, o que restou claro na 
Ademais, o STF considera que os limites materiais ao poder constituinte de 
reforma 
Constituição originária, mas sim a proteção do núcleo essencialdos princípios e 
institutos protegidos pelas cláusulas pétreas, consoante ADI 2.024, julgada em 2007 
e relatada pelo Ministro Sepúlveda Pertence.
5. Implícitas: são aquelas que se referem à vedação para alteração das regras 
se pode alterar a titularidade do poder constituinte (art. 1º, parágrafo único, 
c.c. art. 60, caput, ambos da CF) e nem revogar o dispositivo constitucional 
32
Parte I • NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore
 LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DERIVADO
1. Temporais
2. Circunstanciais
3. Formais
Formal subjetiva
Formal objetiva
4. Materiais
5. Implícitas
 ATENÇÃO!
A Esaf
diferente. Para essa banca examinadora existem limitações explícitas (que englobam as 
circunstanciais e as materiais) e implícitas (que se confundem com as formais/processu
ais/procedimentais).
3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
das Constituições. Estudaremos cada critério separadamente e depois faremos a 
3.1. Quanto à origem
Quanto à origem, a Constituição pode ser: a) democrática ou promulgada ou 
popular; b) outorgada; ou c) cesarista, bonapartista, plebiscitária ou referendária. 
a) Democrática, promulgada, popular ou votada: elaborada por legítimos repre
Constituinte.
 
b) Outorgada: é aquela elaborada sem a presença de legítimos representan
constituinte originário.
 
c) Cesarista, bonapartista, plebiscitária ou referendária: é aquela criada por 
um ditador ou imperador e posteriormente submetida à aprovação popular 
por plebiscito ou referendo.
 
d) Pactuada ou dualista: formada a partir de um acordo de vontades entre 
33
Cap. I • TEORIA DA CONSTITUIÇÃO
algumas Constituições da Idade Média, em que, diante de disputas de poder 
um texto constitucional, de modo a restarem atendidos os interesses de 
todos os grupos socialmente privilegiados, com a vantagem de se manter 
uma aparente estabilidade política.4
 
3.2. Quanto ao conteúdo
Quanto ao conteúdo a Constituição pode ser: a) formal/procedimental; ou b) 
material/substancial.
a) Formal/procedimental:
independentemente do conteúdo.
 
b) Material/substancial:
suas normas são aquelas essencialmente constitucionais, mas que podem 
ser escritas ou costumeiras, pois a forma tem importância secundária.
 -
 
 ATENÇÃO!
As Constituições formais normalmente estão repletas de normas materialmente consti
em que os títulos I (princípios fundamentais), II (direitos e garantias fundamentais), III 
constitucionais.
3.3. Quanto à forma
Quanto à forma, a Constituição pode ser: a) Escrita/Instrumental; ou b) Não 
escrita.
a) Escrita/instrumental: formada por um texto.
a.i) Escrita legal: formada por texto oriundo de documentos esparsos ou 
fragmentados.
 
4. BULOS, Uadi Lammêgo. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 114.
5. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 44.
34
Parte I • NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Paulo Lépore
 formada por texto inscrito em documento único.
 
b) Não escrita/costumeira/consuetudinária: formada pela reunião dos costu
mes, da jurisprudência predominante e até mesmo por documentos escritos 
Constituição inglesa, por exemplo, compreende importantes textos escritos, 
mas esparsos no tempo e no espaço, como a Magna Carta (1215), o Petition 
outros”.6
 
3.4. Quanto à estabilidade/mutabilidade/alterabilidade
Quanto à estabilidade/mutabilidade/alterabilidade, a Constituição pode ser: a) 
mista.
a) Imutável: 
 
 
b) Fixa: só pode ser alterada pelo poder constituinte originário, “[...] circuns
tância que implica, não em alteração, mas em elaboração, propriamente, 
de uma nova ordem constitucional [...]”.8
 
c) Super-rígida: aquela que conta com uma parte imutável e outra parte rígida. 
 
Curso de direito constitucional. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 120. 
Op. Cit. p. 122.
Op. Cit.,
329
CAPÍTULO I
Sumário • 1. Introdução; 2. Princípios da Administração Pública; 2.1. Regime jurídico administrativo; 2.1.1. 
Princípio da supremacia do interesse público; 2.1.2. Princípio da indisponibilidade do interesse público; 
2.1.3. Princípio da legalidade; 2.1.4. Princípio da impessoalidade; 2.1.5. Princípio da moralidade; 2.1.6. 
2.1.9. Princípio da autotutela; 2.1.10. Princípio da tutela ou do controle; 2.1.11. Princípio da especialidade; 
2.1.12. Princípio da presunção de legitimidade; 2.1.13. Princípio do controle judicial dos atos administrativos; 
2.1.14 2.1.15. Princípio da motivação; 
1. INTRODUÇÃO
O estudo dos princípios da Administração Pública é indispensável para a devida 
compreensão do Direito Administrativo, mas antes de se adentrar ao tema é neces
sária a abordagem de conceitos introdutórios.
De início, já que os princípios da Administração Pública têm relação com o Direito 
Administrativo, não pode pairar dúvida sobre o conceito desse ramo do direito. 
Direito Administrativo é o ramo do direito 
que, em essência, é compreendido como o “conjunto de normas e princípios que 
regem a Administração Pública”1.
Por outro lado, também não pode restar dúvida quanto ao sentido que deve 
ser dado à expressão Administração Pública, já que ela é o objeto de regulação do 
Direito Administrativo e, para tanto, é necessário, de maneira preliminar, que se 
compreenda a amplitude da expressão função administrativa.
Isso é importante porque é errada a concepção que atrela, exclusivamente, o 
sividade deste. Na verdade, a função administrativa é realizada, de forma típica 
pelo Poder Executivo, mas, de maneira atípica, é exercida pelo Poder Legislativo e 
pelo Poder Judiciário. Esses dois poderes têm como tarefa principal a execução de 
suas atividades típicas, próprias, e, dessa forma, o Poder Legislativo deve legislar e 
1. MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. 
p. 36. Original sem destaque. 
330
Parte II • NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO – Leandro Bortoleto
dores de serviço e, para tanto, necessitam praticar atos administrativos e celebrar 
contratos administrativos, por exemplo.
Em consequência, é indevido considerar Administração Pública como expressão 
sinônima de Poder Executivo, exclusivamente.
A Administração Pública é o “conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos 
quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado”, que consiste na 
“atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico total 
ou parcialmente público, para a consecução dos interesses coletivos”2. 
2. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os princípios constitucionais da Administração Pública são normas e, assim, 
dizem o que deve ser. Isso implica que a interpretação jurídica deve ser feita a 
partir dos princípios constitucionais para os demais atos normativos. Dessa maneira, 
da compatibilidade de determinada lei.
Conforme a síntese de Paulo Bonavides, os princípios são a “norma das nor-
mas”, a “fonte das fontes” e o “penhor da constitucionalidade das regras de uma 
Constituição”3.
Qual a aplicação dessa normatividade dos princípios constitucionais no direito 
administrativo?
Se os princípios constitucionais são normas, a consequência direta é que a Ad-
ministração Pública direta e indireta deve obedecer a eles os princípios 
constitucionais vinculam a atuação administrativa
“nepotismo não depende de lei formal para coibir a prática. Proibição que decorre 
diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal”. 
dentemente disso, o nepotismo continua proibido em decorrência dos princípios 
constitucionais – em especial, os princípios da moralidade e da impessoalidade – e 
a Súmula Vinculante nº 13 consagra essa vedação.
2.1. Regime jurídico administrativo
O direito administrativo é movido por dois opostos. De um lado, tem como função 
a tutela dos direitos fundamentais, impondo restrições à atuação administrativa e, 
Direito administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 57. 
3. BONAVIDES. Paulo. Curso de direito constitucional
331
Cap. I • PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
de outro lado,tem como missão a concretização do interesse público e, para tanto, 
possui a autoridade para tornar essa tarefa possível. 
A Administração Pública, portanto, tem força, prerrogativas, autoridade para 
sujeições em suas atividades. 
São dois polos opostos, que se contrapõem e interagem, conferindo a sustentação 
ao direito administrativo. Por isso, o uso das expressões bipolaridade do direito 
administrativo4 ou binômio5 do direito administrativo.
Nesse sentido, o regime jurídico administrativo é o conjunto de princípios que 
atribuem à Administração Pública, em um extremo, prerrogativas e, no outro, sujeições.
Deve ser ressaltado que a Administração Pública só pode exercer a autoridade 
que possui na busca do interesse público e nada mais. Isto é, só pode usar suas 
pedras angulares ou pedras de toque6 do 
direito administrativo, quais sejam, o princípio da supremacia do interesse público 
privado – e o princípio da indisponibilidade do interesse público
atividade administrativa nunca deve se afastar do interesse público. Desses dois prin
cípios decorrem todos os demais que integram o regime jurídico administrativo. São 
supraprincípios ou superprincípios do direito administrativo7.
Além desses princípios de maior relevo para o regime jurídico administrativo 
– supremacia e indisponibilidade –, existem outros princípios que determinam a 
moldura dentro da qual deve se dar a atuação administrativa. 
Nem todos os princípios da Administração Pública estão expressos na Constitui
princípios implícitos) e, nem por isso, podem 
ser desrespeitados, dos quais são exemplos o princípio da supremacia do interes
se público e o princípio da indisponibilidade do interesse público. Ao revés, estão 
expressamente consagrados no art. 37, caput, da Constituição Federal, os princípios 
(princípios explícitos). Em relação à legislação infraconstitucional, pode ser apontada 
a Lei nº 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal), que, em seu art. 2º, de 
maneira expressa, determina a observância dos seguintes princípios: legalidade, 
Direito administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 61. 
5. Fernando Garrido Fala apud Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso de direito administrativo. 27. 
6. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo
p. 55 e 57. 
7. MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 71. 
332
Parte II • NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO – Leandro Bortoleto
2.1.1. Princípio da supremacia do interesse público
e o administrador, pois deve ser observado tanto “no momento da elaboração da 
lei como no momento de sua execução em concreto pela Administração Pública. Ele 
inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em toda a sua atuação”8. 
prevalecer. É o princípio que confere autoridade à Administração Pública.
Um ponto de grande relevo é a divisão entre interesse público primário e 
interesse público secundário. O interesse público primário é o interesse público 
propriamente dito; é o interesse da coletividade; está estabelecido na Constituição 
Federal. O interesse público secundário é o interesse do ente estatal (União, Estados, 
etc.); é o interesse individual do Estado, como pessoa jurídica9.
É o interesse público primário que -
ca restringindo um interesse particular e não o secundário, pois este só pode ser 
perseguido na atividade administrativa se for coincidente com o interesse primário. 
de um Estado da Federação exigir em licitação, para a aquisição de veículo, que a 
Outra situação ilustrativa pode ser vista em uma desapropriação em que o 
que o Município está agindo em prol do interesse público, pois, por exemplo, irá 
patrimonial do ente político e não o verdadeiro interesse público – o primário – que 
está estabelecido no texto constitucional, o qual, no caso, determina que o valor da 
São exemplos de manifestação do princípio da supremacia do interesse público: inter-
venção na propriedade privada (desapropriação, tombamento, requisição administrativa, 
etc.), cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos, atos de polícia administrativa 
(interdição de estabelecimento, embargo de obra, apreensão de mercadoria, etc.). 
2.1.2. Princípio da indisponibilidade do interesse público
Este princípio é o que impõe limites à atuação administrativa. Estabelece as 
sujeições a que se submete o administrador público e representa a proibição da 
renúncia ao interesse público, a impossibilidade de se dispor do interesse público. 
Isso é o que acontece na gestão pública, porque o administrador tem o dever de 
9. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo
333
Cap. I • PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 e não seus interesses 
pessoais ou de terceiros.
Nesse sentido, é incompatível com esse princípio, por exemplo, a renúncia a uma 
multa, sem a respectiva previsão legal ou, ainda, a alienação de imóvel público sem 
a observância da legislação
e, em regra, licitação). 
Na Lei nº 9.784/99, o art. 2º, parágrafo único, estabelece que um dos critérios 
interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, 
obediência ao interesse público, que deve sempre prevalecer, sendo vedada, inclu
sive, sua renúncia, demonstrando a correlação com os princípios da supremacia do 
interesse público e da indisponibilidade do interesse público.
2.1.3. Princípio da legalidade
O princípio da legalidade não apresenta conteúdo idêntico para o particular e 
permitido; vigora a autonomia da vontade. Ao contrário, na seara pública, a atuação 
administrativa deve se dar em conformidade com a lei, com o direito. Ao adminis
trador somente é permitido agir de acordo com a lei, não vigorando a autonomia 
Esses são os dois principais aspectos do princípio da legalidade: seguir a lei e 
reserva 
legal” e da “supremacia da lei
expressões “nada sem lei” e “nada contra a lei”10.
É o princípio que, de maneira mais íntima, representa o Estado de Direito, reve
forma de tutela dos direitos fundamentais.
Está previsto, expressamente, na Constituição Federal e, também, pode ser 
encontrado na Lei nº 9.784/99, pois a atuação conforme a lei e o direito é um dos 
critérios a serem observados (art. 2º, parágrafo único).
2.1.4. Princípio da impessoalidade
Esse princípio pode ser visto sob dois aspectos: em relação aos administrados 
e em relação à própria Administração11.
10.
RIBEIRO, Carlos Vinicius Alves (coord.). Supremacia do interesse público e outros temas relevantes do 
direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 232. 
11. Direito administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 67. 
334
Parte II • NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO – Leandro Bortoleto
Em relação aos administrados a atuação administrativa deve ser 
Assim, por exemplo, é possível remover, de ofício, um servidor público federal, desde 
de destino. Por outro lado, se essa remoção é feita, apenas, porque a autoridade 
administrativa é inimiga do servidor, ocorrerá violação ao princípio da impessoalidade. 
É importante frisar que o princípio da impessoalidade, no aspecto em análise, 
12. O sentido é que a atuação admi
nistrativa não pode se dar de forma a privilegiar ou prejudicar ninguém em espe
de efetivação, também, do princípio da isonomia, já que, nas mesmas condições, 
todos terão o mesmo tratamento. 
concursos públicos, nas licitações, na proibição, em relação aos precatórios, de 
designação de pessoas ou casos nas dotações orçamentárias (art. 100, caput, CF), 
bem como na proibição de dar nome de pessoa viva a bem público (art. 1º, Lei nº 
6.454/77) ou, ainda, conforme decidido pelo STJ, no Resp 615432, viola o princípio da 
impessoalidade o relacionamento afetivo entre a sócia da empresa contratada e o 
Prefeito do Município licitante.
No outro sentido, a Administração Pública deve ser impessoal em relação a 
ela mesma
Assim, quando um ato é praticado por um agente público, na verdade, quem o faz 
é a pessoa jurídica, à qual pertence o órgão em que o servidor está lotado. Porque se refere aos atos praticados por funcionário de fato
teoria da imputação. 
Funcionário de fato é aquele servidor que está irregularmente investido no 
cargo
ele praticou diversos atos. Todos devem ser anulados? 
Na verdade, pela teoria da imputação, os atos praticados pelo servidor público 
são imputáveis, atribuídos, à pessoa jurídica que ele integra. Dessa forma, no exem
princípio da aparência, já 
que o funcionário aparentava ser um servidor regularmente investido, não serão 
12. Direito administrativo brasileiro. 36. ed. 
335
Cap. I • PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
prejudicados. Os atos por ele praticados devem ser imputados à pessoa jurídica 
de que ele fazia parte e, assim, devem ser considerados válidos.
Outra anotação relevante relacionada à imputação dos atos praticados pelo 
servidor à pessoa jurídica é a proibição 
Federal – de que ocorra menção a nomes, símbolos ou imagens que caracterizem 
promoção pessoal
prédios públicos com as cores do partido do Prefeito, divulgar outdoor com a foto 
O administrador deixará o cargo, e a Administração Pública continuará. As obras 
pois, na verdade, é seu dever como administrador. 
Na Lei nº 9.784/99, os artigos 18 a 20 podem ser apontados como exemplos de 
dispositivos legais destinados à tutela do princípio da impessoalidade, pois regulam 
Em síntese, pelo princípio da impessoalidade , 
a atuação da Administração Pública deve ser dirigida a todos, sem discriminação, 
quando atua, quem, na verdade, pratica o ato é a 
própria Administração Pública 
. 
2.1.5. Princípio da moralidade
A atuação administrativa além de ser legal tem que ser moral. Tem que estar 
de acordo com a boa-fé, com a moral, com a ética, com a honestidade, com a le-
aldade, com a probidade.
Mesmo que determinada situação seja respaldada pelo ordenamento jurídico, 
o ato pode ser considerado viciado por afrontar o princípio da moralidade.
De acordo com o art. 2º, parágrafo único, IV, da Lei nº 9.784/99, a atuação da Ad
A moralidade representa o respeito aos padrões morais e éticos que predominam 
na sociedade.
dade é a vedação ao nepotismo
parentes para cargos comissionados na Administração Pública. Entretanto, essa prática 
Nesse sentido, o STF aprovou a Súmula Vinculante nº 1313 e, por ela, está proibida 
a nomeação para cargo em comissão do cônjuge ou companheiro e dos parentes, em 
13. Súmula Vinculante nº 13
336
Parte II • NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO – Leandro Bortoleto
ou de servidor que já é ocupante de cargo em comissão na mesma pessoa jurídica. 
Assim, não podem ser nomeados o cônjuge/companheiro(a) e os seguintes pa
rentes: a) em linha reta: b) 
em linha colateral: sogro(a), genro/
. Por outro lado, por exemplo, 
podem ser nomeados: 
juridicamente, não é parente).
De acordo com a súmula em análise, as referências são a autoridade nomeante 
– que é quem nomeia – e, também, o servidor que já ocupa cargo em comissão ou 
de Saúde – cargo em comissão – não pode ser nomeado para cargo comissionado 
no Município, pois seu irmão já é ocupante de cargo de direção. 
 ocu-
pantes de cargo em comissão, não atingindo o ingresso por concurso público, 
investido no cargo.
a vedação não se estende aos 
agentes políticos, sendo restrita a cargos administrativos. Portanto, por exemplo, 
o Presidente da República pode nomear sua esposa como Ministra, o Governador 
irmão como Secretário Municipal. Entretanto, é importante registrar que o próprio 
STF, posteriormente a essa decisão, vem se posicionando no sentido de que tal 
exceção não é absoluta, ou seja, o entendimento de que a Súmula Vinculante nº 13 
política não se aplica no caso de nomeação de parente para o cargo em comissão 
de nomeação decorrente de “comprovada troca de favores ou de evidente inaptidão 
do nomeado para seu exercício”, conforme decidido no RE 825.86214.
indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com
preendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal”. 
14 Nesse julgado, inclusive, são apontados outros processos em que as decisões foram proferidas no 
mesmo sentido, quais sejam, Rcl 7.590 e Rcl 18.644.

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